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Ética e Cidadania nas Olimpíadas

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Ética e Cidadania nas Olimpíadas
As olimpíadas estão presentes na humanidade há muito tempo e tiveram início na cidade de Olímpia, na Grécia, onde o os homens participavam de jogos em honra do deus Zeus e as mulheres em honra da deusa Hera. Atualmente, de quatro em quatro anos, atletas de centenas de países se encontram em um para competir entre si. 
A própria bandeira olímpica representa essa união de povos e raças, pois é formada por cinco anéis entrelaçados, representando os cinco continentes e suas cores (sendo o anel azul correspondente a Europa, o anel amarelo a Ásia, o preto a África, o verde a Oceania e o vermelho as Américas). Apesar do ideal fraterno e o objetivo de promover a paz e amizade entre os países e seus atletas, houveram momentos em que os Jogos Olímpicos ficaram longe da perfeição ou de cumprir por inteiro seus objetivos.
Verão de 1936
Os jogos olímpicos da época ficaram conhecidos oficialmente como Jogos da XI Olimpíada e foram realizados em Berlim, capital e um dos 16 estados da Alemanha, entre 1 e 16 de agosto, com a participação de 3963 atletas, sendo 328 mulheres, representando 49 países, em 22 modalidades esportivas, tornando-se até então o mais grandioso, bem realizado, rico e politicamente explorado evento poliesportivo mundial. Além da capital alemã, apenas Barcelona se candidatou para sediar as olimpíadas de 1936, e a escolha foi feita no ano de 1931, ou seja, antes da chegada de Adolf Hitler ao poder que se consolidou em janeiro de 1933. Devido ao governo Nazista, os jogos claramente forneceram um palco para a propagação tanto da estética denominada “Ariana” quanto o regime totalitário e seus ideais. 
Por meio da celebração com um sino gigante no qual se lia “Ich rufe die Jugend der Welt” (Eu chamo os jovens do mundo) na chegada da tocha na cidade e um belíssimo discurso de seu governante nazista Julius Lippert ao comitê olímpico que dizia: “Berlim saúda os guerreiros olímpicos do todo o mundo. Saúda ainda, nos senhores e com os senhores, os representantes de mais de 50 nações, com as quais toda a Alemanha deseja conviver como num reduto de paz no espírito da compreensão mútua." O regime nazista tentava, pois, se apresentar como pacífico e aberto para o mundo. Ademais, por ordens de Hitler, foram retiradas dos arredores da cidade olímpica todas as referências antissemitas ou que pudessem manchar a imagem da Alemanha pacífica que ele pretendia apresentar aos visitantes.
Apesar das tentativas do governo Hitleriano de “esconder poeira debaixo do tapete”, o racismo (algo completamente antiético) veio à tona ao longo dos resultados dos jogos e quadro de medalhas. Dentre os 49 países e 19 modalidades esportivas, a Alemanha ficou em primeiro lugar com 33 medalhas de ouro, 26 de prata e 30 de bronze, enquanto os Estados Unidos da América ficaram em segundo lugar ao conquistar 24 medalhas de ouro, 20 de prata e 12 de bronze. 
Adolf Hitler obviamente esperava que todos os arianos ganhassem, porém, um pequeno grupo de atletas negros norte-americanos conquistou a maioria das medalhas do atletismo que até então era a modalidade mais importante dos jogos. O grupo foi liderado por Jesse (James) Owens que ganhou nada menos do que um total de quatro medalhas de ouro nos 100 metros, 200 metros, revezamento 4x100 e salto em distância. Em um documentário alemão chamado “Olympia” de Leni Riefenstahl, é possível ver a expressão de desconforto e desaprovação de Adolf Hitler. Por várias décadas foi dito como verdade o fato de que o chanceler não teria cumprimentado o atleta negro pelo o mesmo ter superado o alemão Lutz Long, todavia, isso teria sido apenas a mídia com o objetivo de glorificar ainda mais o americano, já que em sua biografia (publicada nos EUA em 1970) afirma que Adolf Hitler teria acenado para ele depois da vitória.
O retorno do medalhista olímpico ao seu pais de origem
A ironia dessa história é o fato de que os Estados Unidos discriminava seus atletas negros de maneira brusca de modo que levou Jesse Owens a afirmar que: “Quando eu passei, o chanceler se ergueu, e acenou com a mão para mim, eu respondi ao aceno. Não foi Hitler que me ignorou, quem o fez foi Franklin Delano Roosevelt. O presidente nem sequer me mandou um telegrama. ” E também: “(...) não fui convidado para ir à Casa Branca receber os cumprimentos do presidente do meu país. ” 
Ao longo de sua carreira, Jesse Owens bateu oito recordes mundiais em diversas modalidades, mas nunca superou o estigma de negro pobre. De acordo com sua biografia, ao voltar de Berlim o atleta era privado de diversas conquistas como por exemplo entrar pela porta da frente do ônibus ou morar onde quisesse, além de não poder fazer propaganda de alcance nacional, já que não seria aceito no Sul, onde a sociedade escravista se instalou na Guerra de Secessão e o racismo ainda era fortemente presente.
Em 1980, Owens faleceu de câncer e o então presidente dos EUA, o sulista Jimmy Carter, divulgou mensagem oficial de condolências à família e ao povo americano: 
“Talvez nenhum outro atleta em todo o mundo, em todos os tempos, tenha simbolizado melhor a luta humana contra a tirania, a miséria e o racismo.”
Bibliografia
Leni Riefenstahl: Olympia - Festival of Nations (1936) – YouTube
https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_pol%C3%ADtica_dos_Jogos_Ol%C3%ADmpicos_de_1936
http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/atleta-negro-americano-jesse-owens-vence-hitler-nos-jogos-olimpicos-de-1936-9859599
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_de_Secess%C3%A3o
http://www.implicante.org/blog/a-historia-de-jesse-owens-nunca-foi-bem-contada-e-na-rio-2016-nao-foi-diferente/

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