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HISTORIA JOGOS OLIMPICOS

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Fortaleza - CE
2016
História dos jogos 
OlímpicOs
Airton de Farias
Editora
Albanisa Lúcia Dummar Pontes
Administrativo
Veridiana Silva
Projeto gráfico, capa e editoração eletrônica
Suzana Paz
Assessora de Comunicação
Mariana Dummar Pontes
Ilustrações
Mario Sanders
Revisão 
Vessillo Monte
(Proibida a reprodução total ou parcial deste livro, por qualquer meio ou sistema, sem prévio consentimento da editora)
tExto EstAbElEcido conformE o novo Acordo ortográfico dA línguA portuguEsA
Copyright ©2016 by Editora Armazém da Cultura
Todos os direitos desta edição reservados a Editora Armazém da Cultura
Rua Jorge da Rocha, 154 – Aldeota 
Fortaleza – Ceará – Brasil
CEP: 60150.080
Fone/Fax: (85) 3224.9780
Skype: armazem.da.cultura 
Site: www.armazemcultura.com.br
E-mail: armazemdacultura@armazemcultura.com.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
APreSentAção
CAPítuLo 1 
oS JogoS oLíMPiCoS DA AntiguiDADe
1.1 A importância das práticas físicas para os 
gregos ......................................................11
1.2 origens dos Jogos olímpicos..................15
1.3 As modalidades .........................................18
1.4 A glória de vencer ....................................22
1.5 Mulheres e os Jogos olímpicos 
1.6 A proibição dos jogos .............................. 25
CAPítuLo 2 
o nASCiMento DoS JogoS 
oLíMPiCoS MoDernoS
2.1 o contexto ..................................................31
2.2 o Senhor dos Anéis .................................34
2.3 Amadorismo e fair-play ..........................37
2.4 Verão e inverno ........................................39
2.5 os pioneiros (Atenas, 1896; Paris, 1900) ....41
2. 6 os “jogos antropológicos” (St. Louis, 
1904) .......................................................46
CAPítuLo 3
JogoS De guerrA
3.1 olimpíadas e i guerra (Londres, 1908; 
estocolmo, 1912) ....................................51
3.2 Carruagem de fogo (Antuérpia, 1920) ...... 56
3.3 A despedida de Coubertin (Paris, 1924) ....61
3.4 Poder feminino (Amsterdã, 1928) ..............65
CAPítuLo 4
JogoS De MeDo
4.1 A olimpíada da grande Depressão (Los 
Angeles, 1932) ................................... 71
4.2 os Jogos de Hitler (Berlim, 1936) ..........74
4.3 o Brasil olímpico ......................................80
4.4 o estado se aproxima dos esportes .....84
4.5 Coi versus FiFA .........................................87
CAPítuLo 5 
JogoS De guerrA FriA
5.1 A fase de conflitos (1948-1964) ...............91
5.2 A inglaterra triunfa (Londres, 1948) .....92
5. 3 guerra Fria, Jogos quentes (Helsinque, 
1952) .................................................. 95
5.4 Sangue na água (Melbourne, 1956) ......99
5.5 África: pés nus e dourados (roma, 
1960) .................................................. 103
sumáriO
CAPítuLo 6 
JogoS reBeLDeS 
6.1 um novo Japão (tóquio, 1964) ..............111
6.2 Saltos de ouro ...........................................115
6.3 Além da guerra Fria ................................120
6.4 Caixa de ressonância do mundo 
(México, 1968) ......................................120
CAPítuLo 7
JogoS De terror
7.1 Jogos mortais (Munique, 1972) ...............131
7.2 Conta salgada (Montreal, 1976) .............137
7.3 os Jogos Vermelhos (Moscou, 1980) ....142
CAPítuLo 8 
JogoS e DitADurA 
8.1 o showbiz olímpico (Los Angeles, 1984) .. 151
8.2 Ditadura Militar e esportes ...................157
8.3 o difícil sonho olímpico brasileiro ......163 
CAPítuLo 9 
JogoS ProFiSSionAiS 
9.1 esporte S.A. ................................................171
9.2 o senhor das cifras ..................................175
9.3 o último euA x urSS (Seul, 1988) ........181
CAPítuLo 10 
JogoS DA noVA orDeM 
10.1 Muitos sonhos (Barcelona, 1992) .........191
10.2 não tão perfeito (Atlanta, 1996) .........197
10.3 A aborígini de ouro (Sidney, 2000) ....201
10.4 “os Jogos voltam para casa” (Atenas, 
2004) .......................................................205
CAPítuLo 11 
JogoS DA ContrAorDeM 
11.1 Dragão olímpico (Pequim, 2008) .........211
11.2 Cidade “tri olímpica” (Londres, 2012) ..216
11.3 o País do vôlei ..........................................220
11.4 idas e vindas .............................................224
11.5 rio de Janeiro, 2016 .................................229
reFerÊnCiAS
ApresentAçãO
Não bastasse a monumental Uma História das Copas do Mundo com que o historiador Airton de Farias nos brindou às vésperas do tor-
neio no Brasil, em 2014, eis que, agora, os Jogos Olímpicos do Rio de 
Janeiro são precedidos por outra obra do mesmo valor e do mesmo autor.
Digna de três medalhas de ouro, para Farias, para o ilustrador Mario 
Sanders e para a Editora Armazém da Cultura, esta brava casa cearense 
que não teme obstáculos.
A maratona histórica aqui descrita não se confunde com a história 
da humanidade.
É a própria história, da Grécia Antiga aos dias de hoje, de Atenas à 
Barra da Tijuca.
Da bem intencionada e milenar observação do poeta romano Juve-
nal, “mente sã em corpo são”, hoje politicamente incorreta, aos Jogos 
Paraolímpicos.
De Hércules a Usain Bolt!
Alguém dirá, e estará certo, que o ideal olímpico do velho francês 
criador dos Jogos Olímpicos Modernos, o Barão de Coubertin, historia-
dor, como Farias, “O importante não é vencer, é competir. Com digni-
dade” – jamais foi posta em prática – além de a frase não ser dele, como 
você verá aqui e ele mesmo nunca omitiu.
É claro que a imensa maioria dos atletas que participa de uma Olim-
píada sabe que não subirá ao pódio, muito menos receberá a medalha 
dourada ouvindo o hino de seu país e vendo subir a sua bandeira. Mas o 
simples fato de estar nos Jogos é uma vitória inestimável.
Vitória que tantas vezes transcendeu a conquista meramente esportiva.
De certa forma, o atleta é o gladiador moderno e as Olimpíadas fo-
ram por muitos anos palcos de disputas políticas, antes e depois da Se-
gunda Grande Guerra.
Ora porque um maluco sanguinário queria provar a superioridade 
ariana, e deu com os burros n'água, ora porque os Estados Unidos e 
antiga União Soviética lutavam para demonstrar que seus regimes eco-
nômicos eram os melhores.
Por Juca Kfouri
Se havia alternância no quadro de medalhas, mesmo à custa de expe-
dientes desonestos como o doping, a sentença sobre qual sistema preva-
leceria não se deu nas pistas, nas quadras ou nas piscinas, mas na queda 
de um muro infame, o de Berlim, em novembro de 1989. 
Por acaso, ou não, na mesma cidade que sediara os Jogos de 1936, 
quando o atleta negro estadunidense, Jessie Owens, calou Adolf Hitler e 
seus acólitos arianos.
Seja como for, e está muito bem documentado nesta História dos Jogos 
Olímpicos, a Guerra Fria feriu mortalmente duas edições das Olimpíadas, 
a de Moscou, em 1980, e a de Los Angeles, quatro anos depois, com boico-
tes, primeiramente de dezenas de países liderados pelos Estados Unidos, e 
depois, como represália, dos países da órbita da Soviética.
Os Jogos Olímpicos, no entanto, sobreviveram.
Se conseguiram ultrapassar a fronteira do amadorismo para o profis-
sionalismo, não seriam as questões ideológicas que os sepultariam.
E chegaram, quem diria, ao Rio de Janeiro.
País sem nenhuma tradição olímpica, embora capaz de produzir, qua-
se por geração espontânea, alguns heróis olímpicos de valor indiscutível, 
o Brasil, no curto intervalo de dois anos, receberá o mundo novamente.
Não deveria, mas receberá.
Farias não discute, Farias conta e conta bem,como poucos seriam 
capazes de contar, uma história.
Este prefaciador, contudo, embora reconheça que o livro está à altura 
da festa que vamos fazer e viver, precisa dizer que antes de receber a maior 
festa do esporte mundial, deveríamos olhar para o esporte como fator de 
saúde pública, prioridade em relação a ganhar ou não medalhas olímpicas.
Porque, a partir do momento em que fizermos as escolhas certas, seja 
no Esporte, seja na Educação,não só seremos capazes de tirar qualidade da 
quantidade para fazer campeões, como teremos um país saudável e educado, 
que produzirá mais autores de obras como a que você tem em mãos.
De minha parte, modesto ex-jogador de basquete que sonhou em 
disputar uma Olimpíada porque sonhar nunca foi proibido, fica o orgu-
lho por apresentar este novo livro de Airton de Farias, cuja capacidade 
de trabalho, de pesquisa e de envolver o leitor é admirável.
Na Grécia antiga, região fragmentada em várias pólis e cercada por não poucos 
inimigos, surgiram os Jogos Olímpicos. Havia um objetivo definido nos Jogos: 
o de preparar fisicamente cidadãos para a guerra. Somavam-se a isso a paixão 
por competições e o profundo sentimento religioso dos gregos, que tinham 
nos Jogos um festival religioso. As disputas não deixavam de denotar a unidade 
cultural da Hélade e suas contradições sociais: eram Jogos para cidadãos, ho-
mens livres, deles não podendo participar mulher, escravo ou estrangeiro. As 
Olimpíadas foram sofrendo mudanças em sua estrutura ao longo dos séculos, 
sendo alvo dos enfrentamentos entre Esparta e Atenas, Império Macedônico e 
Império Romano. Sob o domínio dos césares e com a expansão do cristianismo, 
os jogos pagãos foram proibidos. 
11
1.1 A ImpORtâncIA dAS pRátIcAS 
fíSIcAS pARA OS gRegOS
É neceSSáRIO certa prudência ao se afirmar que os Jogos 
Olímpicos, tal como os entendemos hoje, têm suas origens 
na Antiguidade Clássica. Deve-se evitar anacronismos e uma 
concepção de história linear e evolutiva, de que as atuais 
Olimpíadas são a continuação e um “aperfeiçoamento” das 
que havia na civilização greco-romana. Pode-se até dizer que 
os Jogos de nossa época se inspiraram nas Olimpíadas helê-
nicas, entretanto, estudando-se o tema em detalhe ficam evi-
dentes as diferenças de sentidos daquilo que era praticado na 
Grécia Antiga, antes de Cristo. 
Inicialmente conhecidos como Festival Olímpico, os jogos 
eram, em sua origem, um evento religioso, embora, depois, 
esse princípio tenha também sido desvirtuado, 
como veremos adiante. Tradicionalmente, afir-
ma-se que sua primeira edição teria se dado em 
776 a.C., passando a acontecer de quatro em qua-
tro anos em Olímpia, numa homenagem a Zeus.
Controlados pela cidade-estado de Élis ou Éli-
de, distante cinco quilômetros de Olímpia (hoje, 
Amaliada), os Jogos Olímpicos faziam parte dos 
quatro grandes festivais religiosos celebrados na 
Grécia Antiga. Tais festivais, chamado de Jogos 
Pan-Helênicos, contavam também com os jogos 
Píticos (em Delfos, homenageando o deus Apo-
lo), os jogos Ístmicos (em Coríntio, festejando-se 
Os Jogos Olímpicos 
da Antiguidade
capítulo
1
“Tradicionalmente, 
afirma-se que sua 
primeira edição 
teria se dado em 
776 a.C., passando 
a acontecer de 
quatro em quatro 
anos, em Olímpia, 
numa homenagem a 
Zeus.”
12
Poseidon) e jogos Nemeus (em Nêmea, 
dedicados a Hércules). Afora os Jogos 
Pan-Helênicos, havia outras celebra-
ções: os Jogos Heranos (dedicados à 
deusa Hera, esposa de Zeus, com a par-
ticipação apenas de mulheres), os Jogos 
Fúnebres (tidos como os mais antigos 
e, possivelmente, precursores dos Jo-
gos Olímpicos, dedicados aos mortos, 
como descreve Homero na Ilíada) e as 
Panateias (evento realizado em honra a 
Pala Atena). As origens dessas e outras 
competições se perderam no tempo e 
nas versões. Fala-se que, nos primór-
dios, os jogos eram parte de rituais em 
consagração de deusas da fertilidade ou 
em agradecimento às divindades por 
proteção ou, ainda, que fizessem par-
te de cerimoniais fúnebres ou mesmo 
puro entretenimento. Eram manifes-
tações esporádicas, apenas depois ga-
nhando periodicidade definida e um 
enorme prestígio e importância sociais. 
Existiam várias razões para os gregos 
darem tanta atenção às práticas atléti-
cas. A Grécia antiga (que ocupava um 
território bem maior que o país atual) 
tinha seu centro situado na península 
Balcânica, área de grande importância 
estratégica e comercial e, portanto, sus-
cetível de sofrer ataques de povos con-
quistadores. Os helenos, por sua vez, 
apesar da unidade sociocultural, não 
apresentavam uma unidade política, 
estando divididos em várias cidades-
-estados ou pólis. Não eram poucas as 
rivalidades, os choques de interesses e 
as disputas por territórios entre as pe-
quenas cidades, gerando conflitos san-
guinários. A Grécia era uma civilização 
magistral, sem dúvidas, mas estava es-
truturada com base na escravidão – em 
geral, aqueles derrotados e capturados 
nas batalhas tornavam-se escravos do 
vencedor. Era uma sociedade dirigida 
por uma aristocracia hereditária, que 
apresentava uma organização de poder 
na qual se exaltavam a virtude militar 
e a força física. Era dever cívico do ci-
dadão lutar por sua cidade. Percebe-se 
que a guerra ou a possibilidade dela 
fazia parte do cotidiano grego, sendo 
necessário, pois, cidadãos/soldados em 
boas condições físicas e capazes de de-
fender seus territórios contra qualquer 
ameaça externa. 
Assim, as atividades físicas relacio-
navam-se intimamente com as atitudes 
que a pólis esperava de um cidadão. Es-
tavam também vinculadas a todo um 
conjunto de valores que regiam a socie-
dade grega, envolvendo preocupações 
higiênicas e médicas, estéticas e éticas 
a um só tempo. Não surpreende que a 
preocupação com o corpo fizesse parte 
da Paideia, a educação integral dos gre-
gos, sendo um dos pilares, ao lado da 
música e da poesia. O desenvolvimento 
do intelecto e do físico era importante 
ferramenta educativa, pois levaria o ho-
mem a melhor explorar seu potencial 
na relação corpo/alma e em relação à 
natureza. Acreditavam que era impor-
tante a purificação do espírito, não sen-
do possível a perfeição sem a estética do 
corpo. Apenas o homem educado fisi-
13
camente era verdadeiramente civilizado 
e, portanto, belo e bom. Dessa forma, o 
ideal de beleza e perfeição, tão exaltado 
pelos gregos, passava pelo culto ao cor-
po. Também consideravam o exercício 
físico como meio de conservar a saúde 
ou de recuperá-la. 
Não se pode esquecer também o es-
pírito de competição, um traço impor-
tante da cultura grega. Essa paixão por 
disputas e pelos concursos estava não 
apenas no atletismo, mas também no 
campo da literatura, da arte, da política, 
etc. Assim, não foi por acaso que os gre-
gos inventaram os enfrentamentos com-
petitivos do estádio para satisfazer seu 
gosto de luta e de rivalidade. Em rigor, 
não conheciam a palavra esporte. Para 
alguns teóricos, como Pierre Bourdieu, 
esporte é uma construção da contem-
poraneidade, de nossa época. Se o termo 
esporte era desconhecido pela Antiguida-
de, o mesmo não se pode afirmar para o 
seu conteúdo. Os gregos antigos, assim 
como os romanos, certamente vivencia-
ram o conteúdo que nós teorizamos como 
esporte. Os historiadores da Antiguidade 
ao trabalhar com as práticas esportivas 
gregas se esforçam em discutir as especifi-
cidades entre dois termos que frequente-
mente aparecem associados ao campo da 
disputa atlética, a saber: athlètes (da raiz 
de aethlosou athlos, a guerra) e agonistès 
(deriva da palavra agôn, luta, disputa). 
O primeiro termo diz respeito ‘àqueles 
que exercem um esporte’, já o segundo, 
faz alusão ‘àqueles que participam dos 
concursos” (LESSA, 2008: 4) .
O caso mais conhecido dessa exalta-
ção do físico, na Grécia, é o de Esparta, 
pólis situada no Peloponesos, sempre 
lembrada por seu militarismo extrema-
do. “A educação espartana desenvolvia 
uma ampla gama de jogos gímnicos e, ao 
mesmo tempo, devia manter e observar 
a mais severa disciplina. Os espartanos 
deviam mostrar-se indiferentes ao frio, 
à fome, à sede e a todo tipo de fadiga. A 
prática de exercícios físicos tinha uma 
importância extraordinária, tanto que a 
história indica como sendo os espartanos 
os primeiros vencedores de muitos jogos 
competitivos e também como criadores de 
alguns deles como, por exemplo, o pugi-
lato e o pancrácio (competição que com-
preendia a luta e o pugilato)” (CHIÉS, 
2006:103).Praticados dentro do gimnásio, um 
dos principais prédios da pólis, a ginás-
tica e outros esportes eram ensinados 
conforme os preceitos da Paideia. As 
atividades físicas em Atenas eram res-
tritas aos cidadãos, os homens livres, 
filhos de pais atenienses, os únicos 
com direitos a possuir terras e partici-
par do sistema democrático da cidade. 
Os estrangeiros (metecos), pessoas de 
outras pólis autorizadas a morar em 
Atenas, pagando impostos e servindo 
no exército, mas sem direitos políticos, 
poderiam praticar esporte, mas em 
outros ginásios. Os únicos excluídos 
eram os escravos (derrotados em guer-
ra ou filhos de escravos) e as mulheres.
Frequentar o gimnásio fazia parte do 
cotidiano dos gregos, sendo mesmo um 
14
FIG 1 Os gregos exaltavam o físico e a competição, como se percebe nos desenhos feitos em seus jarros. 
local de encontros e sociabilidades – ali 
os homens se exercitavam, se banhavam 
e tomavam massagens. Em geral, as pólis 
tinham um gimnásio equipado em seu 
centro. O objetivo era cuidar do cor-
po masculino. Comportavam termas, 
vestiários e até áreas onde os atletas se 
banhavam e eram untados com óleo de 
oliva. Havia espaços para luta livre, mus-
culação e arremesso de dardo e disco. As 
atividades do ginásio se baseavam nas 
eventuais exigências das batalhas. Por 
exemplo, o arremesso de disco fortalecia 
o braço que segurava o escudo. O dardo 
era uma variante do arremesso de lan-
ças. A luta livre era um preparativo para 
os embates corpo a corpo, comuns nas 
batalhas de então. Foram dessas ativida-
des praticadas nos ginásios que surgiram 
as modalidades dos Jogos Olímpicos. 
Chegou a haver nos Jogos uma corri-
da chamada hoplitodromia, na qual os 
atletas competiam em trajes de solda-
do (com capacete e portando um pesa-
do escudo).
Os jogos Olímpicos da antiguidade 
tinham um caráter elitista e aristocráti-
co. A participação exigia uma longa e 
árdua preparação e, salvo a situação em 
que encontrasse um patrono abastado 
ou um treinador que acreditasse em seu 
futuro promissor, um jovem que não 
pertencesse a uma família rica jamais 
conseguiria competir.
15
1.2 ORIgenS dOS JOgOS 
OlímpIcOS 
Há váRIAS versões sobre como surgi-
ram os Jogos Olímpicos, origens essas, 
não raro, envolvidas na rica mitologia 
grega. Uma delas credita os Jogos a Hér-
cules. No quinto de seus doze trabalhos, 
Hércules deveria limpar os estábulos de 
Augias, rei da cidade de Élis – os estábu-
los, onde viviam três mil bois, não eram 
limpos há 30 anos, exalando um odor 
tão insuportável que causava a infertili-
dade dos solos da região. O herói grego 
desviou um rio para limpar os estábu-
los, mas o rei não deu o trabalho como 
executado, pois a limpeza teria sido fei-
ta pelo rio, e não por Hércules. Furio-
so, Hércules vingou-se armando uma 
emboscada e matando os sobrinhos de 
Augias, dirigindo-se a seguir para con-
quistar Élis. Em agradecimento a Zeus 
pelo triunfo, realizou um ritual em 
Olímpia, dando origem, então aos Jogos.
Na mitologia grega, Hércu-
les era um semideus, filho 
de uma mortal com Zeus. 
Seu nascimento provocou a 
ira de Hera, esposa de Zeus. 
Este era conhecido por se-
duzir mulheres mortais, o 
que provocava ciúmes em 
Hera. Quando Hércules ainda era 
um bebê, Hera mandou duas serpen-
tes para matá-lo. O semideus, mos-
trando toda sua força excepcional, 
estrangulou as cobras. A esposa de 
Zeus continuaria perseguindo Hér-
cules. Em certa ocasião, Hércules 
acabou tento um surto de loucura 
provocado por Hera, matando sua 
própria mulher e filhos. Ao recobrar 
a razão, abalado, Hércules procurou 
o famoso Oráculo de Delfos na in-
tenção de achar uma maneira de re-
cuperar a honra perdida com aquela 
tragédia. O Oráculo determinou que 
Hércules servisse a Euristeus, rei da 
cidade de Micenas. Euristeus, então, 
mandou que ele realizasse façanhas 
perigosas, proezas que não podiam 
ser feitas por pessoas comuns – o que 
ficou conhecido como “Os 12 Traba-
lhos de Hércules”. Hércules cumpriu 
as tarefas e ao terminá-las, obteve a 
imortalidade (BULFINCH, 2002). 
 Uma outra versão mitológica conta que 
os jogos teriam sido criados por Pélope, 
avô de Hércules. Pélope era uma figura 
mística na Grécia, tanto que seu nome 
foi atribuído à Península do Pelopone-
so (Pélope e Nesos, a “Ilha de Pélope”). 
Pélope havia se apaixonado pela filha de 
Enómao, rei de Pisa, que, entretanto, não 
aprovava a relação: um oráculo afirmava 
que o monarca seria morto pelas mãos 
do próprio genro. Não obstante, para sa-
tisfazer o desejo dos muitos pretenden-
tes à mão da filha, Enómao concordou 
em realizar uma prova de corrida de 
carros, com a promessa de que o ganha-
dor se casaria com a moça. Na verdade, 
16
desejava assassinar os pretendentes,a 
fim de que não fosse concretizada a 
profecia. Durante a corrida, Enómao 
foi eliminando um a um os concorren-
tes a golpes de lanças, até sobrar apenas 
Pélope. Este, porém, teria subornado o 
cocheiro real para afrouxar as rédeas do 
carro de Enómao (outra versão diz que 
foram adulterados os pinos da roda). 
Assim, as rédeas se soltaram, causando 
a morte de Enómao. Como forma de 
agradecimento pela vitória obtida, Pélo-
pe organizou os jogos.
Olímpia, localizada na região de Éli-
da, no extremo noroeste do Pelopone-
so, era um santuário sagrado, em meio 
ao bosque de Áltis, diante do Monte 
Cronos,  entre as confluências dos rios 
Alfeu e Cladeu. Segundo a mitologia, 
fora neste lugar que Zeus derrotara 
seu pai, Cronos, daí o nomedo monte. 
Há registros de pequenos jogos já nos 
séculos XII e XI a.C., em culto à Gea 
(Terra), exaltando a natureza e a ferti-
lidade, algo importante numa região 
montanhosa e de poucos solos férteis 
como a Grécia. Os cultos e jogos seriam 
retomado no final do século IX a.C., 
em honra de Zeus, por designação do 
famoso Oráculo de Delfos. Uma peste 
assolara a Grécia e profetizou-se que 
apenas uma cerimônia em homena-
gem a Zeus resolveria o problema. Os 
gregos eram muito supersticiosos e o 
Oráculo de Delfos constituía-se a gran-
de referência para governantes e sacer-
dotes, com isso, Olímpia foi declarada 
solo sagrado. Inclusive, os jogos só fo-
ram chamados de “Olímpicos” depois 
de serem associados a Zeus – no caso, 
uma referência mitológica ao local do 
trono dessa divindade, uma montanha 
com três mil metros de altura, situada 
na região da baía de Salônica. A crença 
de que os vencedores das competições 
olímpicas eram sancionados pelos deu-
ses seria uma das características dos Jo-
gos da antiguidade. 
Havia, pois, uma ligação íntima en-
tre esportes e religião entre os gregos. 
Os jogos colocariam os homens em 
contato com as divindades. Os atletas 
compareciam aos jogos para competir 
e adorar os deuses – não por acaso, as 
Olimpíadas aconteciam num santuá-
rio sagrado como Olímpia. Ali, em 440 
a.C., seria construído, pelo famoso es-
cultor Fídias, uma gigantesca estátua de 
ouro e marfim em homenagem a Zeus, 
com cerca de 12 metros de altura e que 
seria, posteriormente, considerada uma 
das “Sete Maravilhas” do mundo antigo. 
Os Jogos Olímpicos eram abertos 
por uma grande cerimônia, quando os 
olimpiônicos (participantes dos jogos) 
chegavam a Olímpia, vindos de Élis, 
ao fim de dois dias de caminhada e um 
trajeto de 58 quilômetros.Era feito um 
sacrifício ritual no altar de Zeus, de-
vendo os competidores realizarem um 
juramento solene diante da estátua do 
deus, em cujo pedestal estava gravado 
inscrições e versos elegíacos destina-
dos aos perjuros e a todos os que ou-
sassem transgredir a lei. Além de ora-
ções e sacrifícios de animais, o culto ao 
17
deus supremo do Olimpo apresentava, 
como ápice, acender-se uma pira em 
sua homenagem. O fogo era sagrado e 
estava comumente associado à religião 
grega – todo templo possuía uma tocha 
acesa em seu interior. Tendo a chama o 
significado de um elemento dinâmico de 
uma vida ereta, às vezes deformada pelo 
vento, embora sempre retornando à sua 
posição inicial, representa todas as lutas 
paramanter sua unidade, em constante 
desafio com os outros elementos desen-
cadeados, luta para expandir calor e luz 
e reencontrar em paz seu destino e as-
censão (MACHADO, 2006: 87). Aque-
le que acenderia a chama deveria ser 
especial, eleito pelos deuses. Os sacer-
dotes escolhiam dentre os presentes os 
mais ágeis e fortes, e estes participavam 
de uma corrida. O vencedor recebia 
da mão de um dos sacerdotes de Élis a 
“tocha sagrada”, acesa com o calor pro-
duzido pela luz do sol incidindo sobre 
uma lente côncava, e tinha a honra de 
atear fogo à pira, a qual não se apaga-
ria até o ritual seguinte, representando 
a eterna juventude.
Conforme a tradição, afirma-se que 
a cerimônia e os jogos em homenagem 
a Zeus passaram a ocorrer com perio-
dicidade definida, de quatro em quatro 
anos, a partir de 776 a.C. – estudiosos, 
entretanto, afirmam a possibilidade de 
que as disputas já existissem antes, com 
origens que se perderam no tempo. O 
intervalo estabelecido entre os jogos te-
ria sido indicação também do Oráculo 
de Delfos, bem como o dia de sua re-
alização: (...) no dia da Lua cheia após 
o solstício de verão. A escolha desse dia 
devia-se ao fato de esse ser o momento 
em que o Sol, atingindo o ponto mais 
elevado de sua carreira no hemisfério 
Norte, resplandecendo em todo o brilho, 
mostrava-se vitorioso aos seus inimigos 
mais temíveis (RUBIO, 2001: 132). Há 
polêmica entre os historiadores sobre 
qual período no calendário atual os jo-
gos aconteciam – versões apontam en-
tre meados do mês de julho e início de 
setembro. Nas 13 primeiras edições, o 
evento consistia em apenas uma corrida 
do stadion (um estádio, 192.28 metros), 
não passando de lenda a afirmação de 
que Maratona foi o primeiro esporte 
olímpico1. Corebo (em grego, Kóroibos, 
latim, Coroebus), da polis de Élis, tra-
dicionalmente é tido como o primeiro 
vencedor olímpico, ao deixar para trás 
seis adversários. A partir daquela data, 
seriam contadas 293º edições dos Jogos 
de Olímpia na Antiguidade, em 1169 
anos, 12 séculos aproximadamente, até 
serem abolidos pelo imperador roma-
no Teodósio, em 393 da Era Cristã. No 
calendário grego, contavam-se os anos 
pelas olimpíadas, o que dá uma ideia da 
importância atribuída a elas.
1. Segundo uma versão tradicional, a corrida de Maratona teria começado em 490 a.C., quando das Guerras 
Médicas, entre gregos e persas. Um mensageiro, chamado Fidípides, teria percorrido 42 quilômetros entre 
o campo de Maratona e Atenas para levar a notícia da vitória grega. Ao concluir o duro percurso, o soldado 
anunciou: “vencemos a batalha (“vitória”, nike em grego)” tendo, em seguida, morrido de exaustão.
18
1.3 AS mOdAlIdAdeS
A prINcípIO, a participação nos Fes-
tivais Olímpicos estava restrita aos ha-
bitantes de Pisa e de Élis, cidades-es-
tados da região de Élida, onde ficava 
Olímpia. Mais tarde, as demais cidades 
da região do Peloponeso, entre as quais 
Esparta, começaram a enviar seus atle-
tas para Élida – o primeiro espartano 
sagrou-se vencedor em 720 a.C. De-
pois, o restante da Grécia continental 
pôde participar e, a partir do século 
V a.C., foi franqueada a participação 
de qualquer cidadão que falasse grego 
(mulheres, escravos e estrangeiros, es-
tes últimos tidos como “bárbaros” pe-
los helenos, estavam excluídos). 
Inicialmente, o festival durava ape-
nas um dia, com uma só disputa, a pro-
va do estádio. Novas categorias foram 
incluídas ao longo dos mais de mil anos 
dos jogos, sendo ampliadas a quanti-
dades de dias de disputa. Por volta dos 
séculos VI a.C ou V a.C, os jogos já du-
ravam cinco dias, com 18 modalidades. 
No primeiro, aconteciam as ceri-
mônias de abertura; no segundo, as 
provas eliminatórias de corrida a pé: a 
prova do estádio, o diaulos (prova de 
dois estádios) e o daulichos (a corrida 
de longa distância, de cerca de 4700 
metros). Um dos grandes nomes des-
sa modalidade, e considerado um dos 
maiores atletas do mundo antigo, foi 
Leônidas de Rodes, que conquistou vá-
rias vitórias consecutivas, de 164 a 152 
a.C.. Cerca de 40 mil pessoas pode-
riam se acomodar nas arquibancadas 
(encostas ao redor das pistas) para as-
sistir às competições. Havia uma grita-
ria intensa dos presentes, que torciam 
por suas cidades e atletas favoritos. 
Possivelmente acontecia uma ou outra 
briga no calor da torcida. Mercadores e 
artesãos atendiam as necessidades dos 
visitantes de Olímpica. Entretanto, re-
latos dão conta de que, durante os jo-
gos, a fome, a falta de água, a precarie-
dade das acomodações e o excesso de 
público provocavam relativa desordem 
no santuário. 
No terceiro dia acontecia o penta-
tlo, série de cinco provas (lançamento 
de disco, lançamento de dardo, sal-
to em distância, corrida do estádio e 
luta grega). Não se sabe como eram 
pontuadas as provas para que fosse 
conhecido o vencedor. Plutarco (50-
124 d.C), cronista da vida grega, clas-
sificava o pentatlon como o exercício 
mais artístico de todos.
Antes das competições e mesmo 
durante os treinamentos, era normal 
que atletas tivessem os corpos unta-
dos com óleos perfumados ou azeite. 
O óleo perfumado objetivava anular 
algum odor desagradável dos atletas, 
salientar a musculatura e dar brilho ao 
corpo. Não havia uniformes; os con-
correntes ficavam nus, ou apenas com 
alguns acessórios, como as tiras de 
couro usadas nas mãos dos pugilistas. 
Não se sabe exatamente o porquê da 
nudez – há quem afirme que era asso-
ciada à valorização do corpo perfeito 
pela cultura grega, de ver o físico em 
forma como uma “obra de arte”, es-
19
Em fases mais remotas da 
História grega, não se co-
nhecia a equitação. A cor-
rida de cavalos criada pelos 
antigos persas, nas festas 
dedicadas ao deus Sol (Mi-
tra), teria sido introduzi-
da na Grécia por Hércules, 
conforme a mitologia. Os 
gregos não conheciam a sela, os es-
tribos, nem o freio, como demonstra 
um dos baixos-relevos do friso do 
Parthenon. Com o passar do tempo, 
a equitação tornou-se valorizada pe-
las elites de Atenas, passando a fazer 
parte de toda boa educação de um 
jovem. Dessa forma, entre as classes 
mais altas, as corridas equinas adqui-
riram maior predileção, ao contrário 
da luta, do pentatlon e demais provas 
que não necessitassem de meios es-
peciais (cavalos, carros) e que foram, 
progressivamente, relegadas a cama-
das sociais mais baixas. 
Nas corridas de cavalos, as distân-
cias variavam. Os cavaleiros monta-
vam geralmente nus e sem sela, e as 
provas eram programadas de acordo 
com a idade dos mesmos. As corridas 
de bigas inauguraram um novo espa-
ço de competições, o hipódromo, em 
680 a.C., data da 25ª edição dos jogos. 
O carro era uma caixa de madeira 
baixa sobre duas rodas, muito leve e 
frágil, puxada por cavalos. Cabia ao 
proprietário do cavalo ou do carro 
os louros da vitória – os proprietários 
não arriscariam suas vidas nas corri-
das, pois eram comum acontecerem 
mortes de participantes, geralmente 
garotos, cuja vida era tão valorizada. 
Diversos personagens históricos pro-
tagonizaram embates nessa modali-
dade. O político Alcibíades, amigo e 
entusiasta do filósofo Sócrates, parti-
cipou da corrida de 416 a.C. com nada 
menos que sete bigas. Segundo o his-
toriador Tucídides, conquistou o pri-
meiro, o segundo e o quarto lugares. 
Em 67 d.c., já sob domínio romano, os 
gregos assistiram ao imperador Nero 
ser coroado vencedor mesmo sem ter 
cruzado a linha de chegada com seu 
carro puxado por dez cavalos!
pecialmente o masculino musculoso 
(são, por exemplo, raras as estátuas 
gregas de nu feminino, em compa-
ração às de nu masculino). Também 
não se pode esquecer que o fato de 
os homens competirem nus se liga ao 
próprio machismo helênico, já que o 
bissexualismo e a homossexualidade 
eram aceitos sem restrições pela so-
ciedade. A própria palavra “ginástica” 
traz o termo “nudismo” em seu radical 
grego gymnos – nos ginásios, os gregos 
treinavam nus. 
No terceiro dia também ocorriam 
as competições equestres (introduzi-
das somente a partir da 25° Olimpía-
da,em 680 a.C.). Estas incluíam pro-
vas montadas e competições de carros 
– bigas, quando eram puxados por 
dois cavalos, e quadrigas, por quatro.
20
As competições de luta era atrações de destaque dos jogos antigos.
No quarto dia, tinham-se as compe-
tições de luta (palé, espécie de anteces-
sora do que hoje é chamado luta greco-
-romana ou luta olímpica), pugilato e 
pancrácio. Nas três modalidades, não 
havia limites de tempo – os atletas lu-
tavam até a exaustão ou a derrota do 
adversário. Na luta grega e pugilato, 
eram proibidos golpes contra a genitá-
lia, mordidas ou ataques visando dire-
tamente os olhos do oponente. Apesar 
disso, era comum os atletas fraturarem 
dedos, braços, pernas ou perderem a 
vida. Não havia divisão dos lutadores 
por peso ou idade, sendo possível que 
adversário enfrentasse um contendor 
bem mais alto e pesado do que ele. O 
maior lutador da antiguidade foi Milon, 
da cidade de Crotona, cujos feitos eram 
cantados por toda a Grécia – ganhou 
por seis vezes os Jogos Olímpicos. Há 
sobre ele uma lenda segundo a qual era 
tão forte que chegou a carregar um boi 
sobre as costas, correndo com o animal 
uns 120 passos, matando-o posterior-
mente com um golpe das próprias mãos.
Na luta greco-romana, desenrolada 
em uma cova de areia chamada skamma 
(a mesma em que era realizada a com-
petição de salto em distancia), os atletas 
se banhavam em óleo, mas depois utili-
zavam um pó para garantir uma melhor 
aderência. No pugilato, os competido-
res usavam tiras de couro nas mãos, o 
que poderia causar graves ferimentos 
(o alvo principal era o rosto do adversário). 
21
O pancrácio era a prova considerada 
mais violenta e mortífera, em que tudo 
era permitido, à exceção de golpes nos 
olhos, aranhões e mordidas, apesar dos 
espartanos admitirem tais “golpes”. O 
estrangulamento era permitido. Na 
prática, constituía-se uma espécie de 
vale-tudo. O nome vem da palavra gre-
ga pankratòs, que significa “com toda a 
força”. O combate se encerrava somente 
quando um dos competidores se ren-
dia, levantando o indicador da mão 
direita para o alto. Não havia limite de 
tempo: Callia, de Atenas, em 472 a.C., 
foi declarado vencedor depois de um 
combate que durou um dia inteiro. 
No quinto dia, realizavam-se as ce-
rimônias de encerramento. Um cortejo, 
composto pelos juízes, os vencedores 
das provas, as autoridades de Élis e de 
Olímpia e as delegações das cidades 
dirigia-se ao templo de Zeus. A seguir, 
vinham estátuas dos deuses carregadas 
ao som de flautas e cânticos. Um arauto 
anunciava o nome, a pólis e o desem-
penho dos vencedores diante da está-
tua de Zeus. Os juízes entregavam uma 
coroa de ramos entrançados da oliveira 
silvestre. Realizava-se uma hecatombe, 
sacrifício de 100 bois, degolados, em 
oferecimento a Zeus. Um banquete era 
ofertado às autoridades, aos vencedores 
e às personalidades. Os olimpiônicos 
ofereciam sacrifícios também a Zeus. 
A partir do dia seguinte, as delegações 
e os visitantes começavam a ir embora. 
Durante os Jogos Olímpicos, era de-
cretada a “Trégua Sagrada” (Ekhekhei-
ria). Aponta-se como origem desta 
um tratado firmado entre três reis em 
884 a.C. — Ífito, de Elis; Cleóstenes, 
de Pisa; e Licurgo, de Esparta —, que 
depois se ampliou para todo o mundo 
helênico. A Trégua Sagrada acontecia 
não apenas pelo ideal de paz em si, 
mas para que os jogos ocorressem sem 
a interferência de guerras ou disputas 
políticas. A princípio, essa trégua era 
de um mês antes e um mês depois dos 
jogos. Posteriormente, esse período foi 
aumentado para três meses e depois 
dez meses, antes e após as disputas. 
Essa alteração se deu em virtude do 
crescimento da influência dos jogos 
em territórios cada vez mais amplos da 
Grécia, de modo que houvesse tempo 
para que todos, atletas e públicos, dos 
locais mais próximos aos mais lon-
gínquos, pudesse, com tranquilidade 
e segurança, chegar em Olímpia para 
assistir às celebrações. Nesse período, 
os soldados não podiam pegar em ar-
mas ou participar de batalhas, mesmo 
contra invasores, isso para que os atle-
tas e o público pudessem se dirigir à 
Olímpia sem riscos. Nenhum exército 
podia pisar o solo de Olímpia. Consi-
derava-se um sacrilégio contra Zeus 
não respeitar a trégua. Em 420 a.C., 
por exemplo, nos 90º jogos olímpicos, 
não foi permitida a participação de Es-
parta. Esta teria invadido Lêpreon du-
rante a trégua, se recusando, a seguir, 
a pagar uma multa e a pedir desculpas 
publicamente. Houve um clima tenso 
durante as disputas, mas os espartanos 
22
acataram a decisão dos organizado-
res. Vale observar, porém, que muitas 
vezes as tréguas eram usadas para os 
guerreiros visitarem os territórios ini-
migos e conhecer suas defesas e estra-
tégias para as guerras em curso.
Pelo que sabe-se, no século V a.C, du-
rante o intervalo dos Jogos e festividades, 
cantores, dançarinos, poetas, filósofos 
realizavam apresentações para visitantes. 
Havia mesmo locais para competições de 
canto, música, poesia e, talvez, pintura, o 
que não era estranho, em virtude do espí-
rito de competição dos gregos. 
Os Jogos eram importantes igual-
mente por facilitar o encontro de auto-
ridades das pólis, pois cada cidade en-
viava seus representantes oficiais para 
assistir e marcar presença. Assim, ao 
em vez de de obrigados a viajar para 
cada cidade, podiam todos se encontrar 
em Olímpia durante os jogos. Os gover-
nantes e representantes das cidades-es-
tados se reuniam para tratar de questões 
sobre guerra, política, comércio, paz, 
alianças militares, etc. (...) Essas compe-
tições foram responsáveis pela criação de 
um sentimento de unidade pan-helênica 
e serviriam como palco para resolução 
de muitos entraves políticos. A escolha 
deles como referência para esses assuntos 
mostra sua relevância para os povos da 
antiguidade (MACHADO, 2006: 24).
1.4 A glóRIA de venceR
pARA evItAR eventuais protestos du-
rante as provas dos Jogos Olímpicos, os 
atletas faziam juramento se comprome-
tendo a aceitar as decisões dos helanó-
dicas, espécies de árbitros. Estes fiscali-
zavam todas as provas a fim de evitar 
trapaças e fraudes e também eram in-
cumbidos de manter a ordem e a paz 
durante o evento, evitando que brigas 
e confusões acontecessem em Olímpia. 
Os helanódicas eram escolhidos atra-
vés de sorteio entre as famílias nobres 
da Élis. A trapaça era algo mal visto, 
considerando-se uma desonra não só 
para o indivíduo, mas igualmente para 
a pólis que ele representava. Há vários 
relatos de fraudes e subornos nos Jogos. 
Ao ser declarado o vencedor, a plateia 
atirava flores e folhas frescas, e mesmo 
oferecia ao ganhador maçãs e romãs, 
frutos tidos como símbolos de fertili-
dade. Relatos dão conta de que até os 
6º jogos, o prêmio pela vitória era uma 
maçã. Por recomendação do Oráculo de 
Delfos, o prêmio teria passado a ser uma 
coroa com ramos de oliveira (o kótinos). 
Esta possuía valor especial para os gre-
gos – a oliveira era uma árvore símbolo 
da vitória e teria sido trazida para o vale 
do rio Alfeu por Hércules, como forma 
de proteger o Monte Cronos do sol e 
calor da região, conforme a mitologia. 
Numa outra versão, afirma-se que a oli-
veira silvestre exerceu grande influência 
nas crenças, usos e costumes dos gregos, 
pois se acreditava que a árvore possuía 
uma alma e mesmo um significado sagra-
dos, além de ser considerada como árvore 
da civilização, da vitória e da paz (COR-
NELSEN, 2006: 200). As coroas, prepa-
23
radas antecipadamente, eram guardadas 
no Heraion, o templo de Hera, um pos-
sível sinal da manutenção dos valores 
de fertilidade e fecundidade que tinham 
dado origem aos jogos.
Os vencedores portavam à cabeça, 
braços e pernas fitas de lã vermelhas 
(usadas para indicar que um objeto era 
sagrado), ganhavam o direito de ter uma 
estátua erguida em sua homenagem em 
Olímpia e o nome registrado numa pla-
ca, afora o privilégio de participar do 
banquete do último dia. Acreditava-se 
que tinham o apreço dos deuses. Não por 
acaso, os gregoscriam que os atletas ven-
cedores tinham qualidades semidivinas. 
Os jogos Olímpicos tinham grande 
aceitação por toda a Grécia. Para os atle-
tas, era uma glória vencer – também para 
sua família e pólis. De início, os indiví-
duos competiam quase exclusivamente 
por sua própria transcendência. Para o 
grego, a dignidade e o valor de uma com-
petição não residiam no resultado. O fato 
determinante era o brilho e o ardor que 
penetrava nos corpos e espíritos durante o 
jogo das possibilidades, dominando o ins-
tante supremo (RUBIO: 2002: 134). 
Depois, sobremaneira, a partir do 
século V a.C., o atleta passou a com-
petir também como representante de 
sua pólis, o que transformou os Jogos 
numa grande competição entre as ci-
dades-estados, destacadamente, entre 
as arquirrivais Esparta e Atenas. Nesse 
contexto, os Jogos ganharam uma im-
portância política, além da religiosa. 
Ali, mostravam-se poderio das pólis e 
a eficiência que seus cidadãos teriam 
nas batalhas, intimidando os rivais. 
Não por acaso, os jogos passaram a 
ser vistos e disputados com tanto ar-
dor. As cidades-estados começaram a 
apoiar e a pressionar os atletas por vi-
tórias intesivamente. Os competidores 
passaram a treinar e a se especializar 
em uma modalidade para aumentar 
as chances de triunfo, contrariando o 
ideal inicial do atleta integral. 
Principalmente a partir do século V 
a. C., atletas passaram a ser profissio-
nalizados, remunerados, e quando as 
pólis não conseguiam formar nenhum 
campeão, atraíam um do forasteiro com 
vantagens materiais. O cretense Sota-
des, que venceu a corrida de daulichos 
(4.700 metros) nos 99º Jogos Olímpi-
cos (384 a.C.), aceitou correr pela ci-
dade de Éfeso quatro anos mais tarde. 
Os cretenses o puniram e o exilaram. 
Diante do desenvolvimento do profis-
sionalismo, as escolas de esporte e os 
ginásios multiplicaram-se nas cidades. 
Os pedótribas (professores de educação 
física) recrutavam garotos a partir dos 
12 anos. Esses treinadores particulares, 
às vezes ex-atletas, eram cada vez mais 
bem remunerados. Havia acusações de 
subornos. Assim, em 388 a.C., durante 
a 98ª Olimpíada, constatou-se o primei-
ro caso de corrupção: o boxeador Eupo-
los subornou três adversários, entre os 
quais o detentor do título. Os organiza-
dores dos jogos impuseram uma multa 
aos quatro homens e, com a quantia ob-
tida, mandaram erigir seis estátuas de 
24
Zeus, em bronze. Em 332 a.C., um atle-
ta ateniense, Calipo, também subornou 
seus adversários. Como a delegação de 
Atenas se recusou a pagar a multa, foi 
excluída dos jogos.
O segundo lugar não resultava em 
qualquer mérito – não havia nenhuma 
premiação para este ou reconhecimen-
to. A glória era dos vencedores, que 
ficavam famosos, recebendo benesses 
e privilégios para si e família, a exem-
plo de ter toda a alimentação paga por 
sua pólis pelo resto da vida, quanti-
dades enorme de óleo de oliva (valio-
síssimo), assentos na primeira fila do 
teatro, a dispensa de pagar impostos e 
garantindo uma pensão vitalícia. Tudo 
financiado pela cidade-estado, como si-
nal de respeito e gratidão. O conhecido 
legislador ateniense, Sólon, aprovou lei 
na qual concedia a cada atleta atenien-
se vitorioso nas Olimpíadas uma pen-
são vitalícia de cinco dracmas. Além de 
serem homenageados com estátuas e 
pinturas, os ganhadores eram exaltados 
pelos poetas com versos, sendo compa-
rados aos heróis e, algumas vezes, até 
mesmo a semideuses. Ganhar os jogos 
era também uma forma de ascender, da 
maneira mais rápida, socialmente – os 
atletas se tornavam homens ricos. En-
tretanto, quanto mais ganhassem as dis-
putas, maior a pressão sobre os atletas, 
que tinham uma reputação a conservar. 
A Deusa Niké era a personifi-
cação que os Gregos fizeram 
para a vitória, ou para as 
conquistas. Ela era conferida 
pelos deuses Zeus e Atena, 
onde estas divindades são 
frequentemente vistas com 
pequenas Nikés em suas 
mãos.Não há mitos ligados a sua ori-
gem, mas ela é uma deusa antiga, nas-
cida antes do Olimpo. Lurker, em seu 
Dicionário Simbólico refere que esta 
deusa condecorava os vencedores 
com coroa de louros, ramos de pal-
meira e venda, que eram interpreta-
dos como símbolos de vitória e fama 
na Grécia antiga. No período romano, 
a Niké grega teve seu nome mudado 
para Vitória, que não precisa ser vista 
agora como um ser alado. Este autor 
argumenta que as várias imagens da 
Niké são representadas de diferentes 
maneiras: como escrevendo sobre um 
escudo, ou de pé sobre o globo. Estas 
imagens são transpostas na arte cris-
tã, também em imagens de anjos.
(...) A imagem da deusa Niké é uti-
lizada na atualidade para relacionar 
sucesso esportivo e glória. Exemplos 
disto são as imagens nas modernas 
medalhas olímpicas. Segundo Gre-
ensfelder, a imagem da deusa Niké 
esta presente desde as medalhas 
que foram entregues na primei-
ra Olimpíada, realizada em Atenas 
no ano de 1896. A partir dos Jogos 
Olímpicos de Amsterdã, em 1928, 
teve início uma padronização dos 
25
desenhos das medalhas, nas quais 
uma das faces mostra a Niké seguran-
do uma coroa de louros e uma palma, 
com o Coliseu ao fundo. Esta face da 
medalha continua sendo utilizada até 
hoje (...). O nome Niké, segundo Katz 
(1997), inspirou o nome da empresa 
de materiais esportivos Nike, tão po-
pular na cultura esportiva mundial 
(MIRANDA, 2002: 418 - 423).
1.5 mulHeReS e OS JOgOS 
OlímpIcOS 
EM OlíMpIA ocorriam, igualmente, 
os jogos Heranos, nome derivado do 
culto à deusa Hera, mulher de Zeus, 
venerada como protetora das esposas e 
da família. Os jogos Heranos eram res-
tritos ao gênero feminino. Embora não 
fizessem parte do grupo dos grades 
jogos pan-helênicos, contavam com 
o mesmo tipo de honraria dos Jogos 
Olímpicos, acontecendo um mês antes 
ou depois dos masculinos (CABRAL, 
2004). Consistia apenas de uma mo-
dalidade, uma corrida adaptada de um 
stadion, diminuída em um sexto do ta-
manho original. As mulheres corriam 
de cabelos soltos, com uma túnica co-
locada um pouco acima da cintura e o 
ombro direito nu até a altura do seio. 
Para as vencedoras, entregavam-se as 
coroas de oliveiras e uma parte da car-
ne da vaca sacrificada à Hera.
Quanto à presença das mulheres nos 
Jogos Olímpicos, havia uma situação 
contraditória. As mulheres não podiam 
participar das disputas, sequer entrar 
nos estádios e até mesmo em Áltis du-
rante os jogos. Tal proibição, entretanto, 
não se aplicava às virgens, que poderiam 
assistir às árduas competições olímpi-
cas. Não deixava de ser curioso: eram, 
em geral, meninas que iam à Olímpia 
(na Grécia, as moças casavam por volta 
dos 16 anos), enquanto as mães e espo-
sas dos competidores estavam impedi-
das. A contradição aparentemente se 
liga ao antigo aspecto dos jogos como 
ritual religioso de fertilidade. Somente-
as virgens eram consideradas suficien-
temente puras para estarem presentes. 
As casadas sofriam ameaças de pena 
de morte, o que porém, nunca foi posto 
em prática. Tradicionalmente se diz que 
apenas uma mulher casada teria sido 
flagrada assistindo aos jogos. No ano de 
404 a.C., durante a 94ª Olimpíada, Kalli-
patira entrou no estádio disfarçada de 
treinador e não conteve a alegria ao ver 
o filho, Psirodos, vencer o pugilato na 
categoria infantil. Ao adentrar à arena, 
deixou roupa cair revelando-se a todos 
os presentes. Por ser mãe, irmã e esposa 
de vencedores olímpicos foi poupada.
Tal episódio teria servido de motivo 
para, daí em diante, os treinadores tam-
bém se apresentarem despidos. 
Entretanto, há alguns registros de 
mulheres vencedoras nos Jogos Olím-
26
picos, no caso, as proprietárias de ca-
valos (nos jogos, considerava-se ven-
cedor os donos dos animais, não o 
cavaleiro). Foi o caso da princesa Ky-
niska, em 392 a.C.Os cavalos dessa es-
partana, famosa em seu tempo em toda 
a Hélade, venceram a prova de quadri-
gas das 96ª e 97ª Olimpíadas (396 e 392 
a.C.). Muitos estudiosos da história da 
participação feminina no esporte não 
acreditam que a vitória de Kyniska nosJogos represente alguma evolução nes-
se aspecto. Na verdade sugere-se que a 
sua participação foi impulsionada por 
seu irmão, Agesilaus, por motivos es-
tritamente políticos, havendo ainda, a 
supremacia dos interesses dos homens 
nesses eventos. Agesilaus buscava com-
provar através do sucesso de sua irmã 
que a prova de corrida de cavalos podia 
ser vencida apenas por uma questão de 
saúde e não, prioritariamente, pela ex-
celência das características masculinas 
(CHIES, 2006:11).
 Igualmente nas provas de corrida 
com cavalos, destacou-se Bélistiche, 
da Macedônia (amante do imperador 
egípcio Tolomeo Filadelfo), vencedora 
na prova de quadrigas de potros da 128ª 
Olimpíada (268 a.C.) e na de biga de 
potros da 129ª Olimpíada, modalidade 
equestre introduzida, então, nos Jogos. 
A atuação da mulher na sociedade 
grega restringia-se às aplicações da 
vida doméstica, o que envolvia, fun-
damentalmente, a geração de filhos, 
futuros cidadãos. Em total submissão 
aos homens, não gozavam de direitos 
políticos. Verdade que em Esparta a 
mulher apresentava maior liberdade e 
respaldo social. As jovens de Esparta 
eram treinadas, na maioria das vezes, 
junto aos homens, fato que provoca-
va zombarias por parte das mulheres 
atenienses. Os espartanos acreditavam 
que a prática das atividades físicas tor-
naria as mulheres mais capazes e com 
plenas condições de cuidarem dos as-
suntos da família quando da ausência 
dos maridos em casos de guerra, ou 
mesmo, de prepararem os corpos fe-
mininos para a fertilidade, para gera-
rem filhos fortes e saudáveis, os futu-
ros guerreiros da pólis. 
Não obstante, havia outras mulhe-
res em Olímpia e imediações duran-
te os Jogos. Tinham-se escravas que 
cuidavam do preparo 
das refeições, da faxi-
na, da arrumação (ha-
via igualmente escravos 
encarregados de tarefas 
semelhantes). Haviam 
cantoras, dançarinas e 
poetisas contratadas ou 
levadas nas delegações 
ou por particulares. Al-
guns dos visitantes con-
duziam suas esposas ou 
amantes para lhes fazer 
companhia durante o 
evento. Possivelmente, 
havia prostitutas que se 
estabeleciam em Olím-
pia e cercanias durante a 
celebração dos jogos. 
27
1.6 A pROIbIçãO dOS 
JOgOS 
OS JOgOS Olímpicos acompanharam 
os percalços políticos da Grécia anti-
ga. Após viver seu apogeu na primeira 
metade do século V a.C., depois de der-
rotar os persas nas Guerras Médicas, 
a Hélade entrou em decadência, en-
fraquecida pelas guerras entre as pólis 
(cujo exemplo maior foi a Guerra do 
Peloponeso, devastador conflito envol-
vendo Esparta e Atenas). As olimpía-
das entraram igualmente em decadên-
cia com a luta entre as duas principais 
cidades-estados, o que culminou com a 
expulsão de Esparta dos jogos em 420 
a.C. Olímpia se tornou alvo das guerras 
entre as cidades gregas, a ponto de, em 
365 a.C., os habitantes de Élis chegarem 
a interromper a cronologia tradicional 
nos 104º Jogos Olímpicos.
Em 338 a.C., a Grécia acabou con-
quistada por Felipe da Macedônia, que, 
por sinal, era um admirador dos jogos. 
Felipe governaria pouco, pois seria mor-
to dois anos depois. O trono da Mace-
dônia passou, então, para um dos mais 
importantes conquistadores do mundo 
antigo, Alexandre, o Grande. Este le-
vou as fronteiras do pequeno reino até 
a Ásia, dominando um território jamais 
visto até ali, e possibilitando a interação 
da cultura grega com culturas orientais 
– ocasionando o fênomeno denomina-
do pelos historiadores de helenismo. 
Com isso, as pólis perderam sua auto-
nomia, passando a fazer parte de um 
28
império gigantesco. Agora, os gregos, 
em vez de cidadãos, eram súditos de um 
poder universal. Os exércitos passaram 
a ser composto de mercenários e não 
mais por soldados-cidadãos como na 
época da autonomia das pólis. A reli-
giosidade também foi mudando, sem 
mais tanta ênfase no corpo. Com isso, a 
formação guerreira e as crenças religio-
sas nas olimpíadas foram se alterando, 
se diluindo. O espetáculo em si dos jo-
gos se tornou mais predominante que a 
religiosidade. Não por acaso, neste mo-
mento helenístico (séculos IV a II a.C.), 
o profissionalismo dos atletas tornou-se 
quase que a regra, não mais a exceção. 
Alexandre, entretanto, morreria pre-
cocemente em 323 a.C., tendo o impé-
rio macedônico se fragmentado 
nas disputas posteriores entre 
seus generais. A parte ocidental, 
na qual estava a Grécia, acabaria 
conquistada por outra grande 
potência da antiguidade, Roma, 
em 146 a.C. Com isso, os roma-
nos passaram a participar dos 
Jogos. No século I d.C., até im-
peradores como Tibério e Nero 
estiveram entre os competido-
res. Os romanos, ao saquearem 
cidades e santuários gregos, le-
varam de Olímpia centenas de 
estátuas de atletas e deuses.
Com o domínio romano so-
bre os gregos, os Jogos Olímpicos 
foram perdendo cada vez mais a 
identidade. Em vez da religiosidade, en-
fatizava-se a diversão, o entretenimento, 
bem de acordo com a política do panis 
et circenses2 romana. O profissionalismo 
entre os atletas e a violência (daí o gran-
de interesse pelo pugilato) aumentaram. 
Na verdade, os romanos não davam 
tanta atenção às olimpíadas – os jogos 
de gladiadores eram o grande espetácu-
lo no “mundo romano” –, salvo alguns 
imperadores. Na época do Imperador 
Nero, no lugar de cidadãos livres, escra-
vos passaram a competir por suas vidas 
contra animais selvagens. Tornaram-se 
mais comuns os casos de fraudes. Não 
raro, aconteciam mortes ou lesões graves 
dos participantes.
FIG 3 Com o domínio romano, os Jogos se tornaram 
ainda mais violentos.
2. Panem et circenses, Política de Pão e Circo, é uma expressão famosa na historiografia para designar a 
postura dos governos romanos em oferecer divertimentos (destacadamente os conhecidos combates de 
gladiadores) e alimentos em troca de apoio da população.
29
A decadência do Império Romano, a 
partir do século III da Era Cristã, com 
a crise do escravismo (sustentáculo da-
quela sociedade) e a expansão do cris-
tianismo dariam o golpe fatal nos jogos 
olímpicos. Além de verem as Olimpía-
das como uma abominável festividade 
pagã, os cristãos condenavam sua essên-
cia, pois acreditavam que o importante 
era a alma, não o corpo, tão exaltado nos 
jogos, conforme a tradição helênica.
Durante o domínio do imperador 
Teodósio, em 380, com o Edito de Tes-
salônica, o cristianismo foi adotado 
como religião oficial do Império Roma-
no. Logo depois, em 393, por sugestão 
de Ambrósio, Bispo de Milão, o mesmo 
imperador Teodósio aboliu os jogos, 
em um esforço para acabar com to-
das as celebrações pagãs. Apesar disso, 
houve resistência da população, sendo 
os jogos realizados extraoficialmente 
ainda por alguns anos (não se sabe exa-
tamente quando as olimpíadas acaba-
ram). Em 408, o imperador bizantino, 
Teodósio II, determinou a destruição 
dos templos de adoração de outros 
deuses. Com a proibição dos jogos, as 
pessoas deixaram de ir para Olímpia e 
o santuário foi abandonado às  intem-
péries. Os gregos se converteram igual-
mente ao cristianismo, e deixaram de 
adorar seus antigos deuses. Isso contri-
buiu também para o encerramento das 
Olimpíadas e dos outros jogos. Sabe-
-se que no século V uma inundação 
do rio Alfeu alagou parte de Olímpia 
e ainda, no mesmo século, um incên-
dio danificou a Estátua de Zeus e a 
estrutura de seu templo. Os restos da 
estátua acabaram sendo levados para 
Bizâncio (Constantinopla, capital do 
Império Bizantino, atual cidade turca 
de Istambul), onde houve uma tentati-
va fracassada de reorganizar os jogos. 
Em Bizâncio, a estátua de Zeus foi mais 
uma vez incendiada. Sofrendo ataques 
de povos “bárbaros”, como visigodos e 
vândalos, por volta de 550, um terre-
moto destruiu Olímpia. Aluviões co-
meçaram a cobrir a área e Olímpia só 
seria descoberta pelos arqueólogos no 
século XIX. Era o fim dos Jogos Olím-
picos da Antiguidade.■
Os chamadOs Jogos Olímpicos modernos surgem num momento de cresci-
mento dos nacionalismos e das tensões entre as grandes potências europeias do 
século XIX.A preocupação com o corpo passou a fazer parte dos interesses dos 
Estados, fosse nas escolas, ou nos embates esportivos. Não por acaso, a primeira 
metade do século seria marcada com duas guerras mundiais. O esporte também 
era visto como forma de disciplinar os trabalhadores, mergulhados na Revolução 
Industrial. Um nobre nacionalista francês, barão de Coubertin, seria o grande ar-
ticulador da criação das Olimpíadas e, conforme sua concepção de mundo, delas 
não poderiam participar pobres, mulheres e profissionais. As primeiras edições 
dos Jogos foram caracterizadas pelas desconfianças dos participantes e falta de 
melhor estrutura. Muitas vezes, passavam despercebidas ante outros eventos. 
Chegaram mesmo a servir de experiências cientificistas. A partir dos Jogos de 
1908, em Londres, as disputas se estabilizaram, ganhando um padrão. 
31
capítulo
2
“ O importante nessas olímpiadas é menos ganhá-las do que participar nelas. O 
importante na vida não é o triunfo, mas o combate” 
Pierre de Coubertin, em discurso no Banquete Olímpico.
2.1 O CONtEXtO
Em 1829, após sete anos de sangrenta guerra, a Grécia, cristã-
-ortodoxa, conseguiu se tornar independente do Império Turco-
-Otomano, decadente potência islâmica senhora de amplos terri-
tórios no norte da África, sudeste da Europa e Oriente Médio. A 
guerra de independência da Grécia atraiu simpatia de boa parte 
da sociedade europeia, a qual via no conflito a luta pela liberdade 
da pátria tida como “berço da civilização ocidental”. Mesmo livre, 
a Grécia continuou a ter no Império Turco uma ameaça cons-
tante. Na intenção de ampliar os laços com o Ocidente e forta-
lecer a identidade nacional, associando-a à antiga 
civilização helênica, o governo grego permitia e 
apoiava a visita de inúmeros arqueólogos ao país 
para pesquisas, estudos e escavações. Assim, foram 
feitas inúmeras descobertas, entre as quais, as do 
antigo santuário de Olímpia, em 1852. Tal desco-
berta permitiu desvendar vários acontecimentos 
relacionados aos Jogos Olímpicos da Antiguidade.
Aumentou ainda mais na intelectualidade euro-
peia a fascinação pela cultura helênica. Não foi coin-
cidência o fato de os governantes gregos começarem 
a propor a “reativação” dos Jogos Olímpicos nesse 
período. Apesar de terem sido realizadas algumas 
O nascimento dos 
Jogos Olímpicos 
Modernos
“A guerra de 
independência da 
Grécia atraiu simpatia 
de boa parte da 
sociedade europeia, a 
qual via no conflito 
a luta pela liberdade 
da pátria tida como 
berço da civilização 
ocidental”
32
competições apenas com cidadãos gre-
gos, na segunda metade do século XIX, a 
ideia não foi adiante, por falta de recur-
sos financeiros. Em 1894, um professor 
apaixonado por História, o barão francês, 
Pierre de Coubertin, igualmente defen-
deu a ideia de “retomada” das Olimpía-
das. Em 1896, a mesma Grécia realizaria 
a primeira edição do que ficou conhecido 
como os Jogos Olímpicos Modernos. 
Para compreender o “renascimento” 
das Olimpíadas faz-se necessário enten-
der a rica conjuntura histórica europeia 
dos séculos XVIII e XIX, marcada por 
mudanças políticas, econômicas e sociais. 
O capitalismo consolidou-se com a Revo-
lução Industrial. As ideias liberais e ilumi-
nistas fundamentaram ideologicamente a 
ascensão da burguesia, como deu-se na 
Revolução Francesa de 1789. O naciona-
lismo se expandiu e verificou-se a forma-
ção de Estados nacionais, a exemplo do 
alemão, unificado por meio de guerras. 
Cresceram também as disputas entre as 
nações europeias por mercados e territó-
rios coloniais na África e Ásia, o que era 
feito sob discursos cientificistas e racistas, 
da superioridade do branco europeu so-
bre os africanos ameríndios e asiáticos. A 
cultura europeia, sobremaneira da França 
e da Inglaterra, expandiu-se pelo mundo 
ainda mais – autores chamariam o final 
do século XIX e início do século XX de 
belle époque, um período de otimismo e 
de supremacia mundial do capitalismo 
europeu. Apesar da prosperidade, havia 
tensões políticas e os antagonismos entre 
as potências europeias levariam à I Guer-
ra Mundial (1914-18). 
Foi no século XIX que efetivamen-
te estruturaram-se melhor na Europa os 
sistemas educacionais nacionais, que, por 
sua vez, deram atenção à “educação do fí-
sico”. Se chocariam, então, dois modelos, 
o sistema ginástico, do continente, e o do 
movimento esportivo, da Inglaterra. Gi-
nástica e esporte se diferenciavam tanto 
por seus meios como pelos fins.
Semelhante à Grécia antiga, os sis-
temas ginásticos modernos teriam sua 
origem ligada à educação, com tendên-
cias funcionalista e racionalista, na me-
dida em que buscavam responder a uma 
demanda advinda da defesa dos Estados 
nacionais. Países como Alemanha, Fran-
ça, Suécia e Dinamarca foram o berço de 
movimentos ginásticos vinculados a pro-
cessos de afirmação da nacionalidade, 
cuja preocupação maior era a preparação 
para a guerra e a defesa do Estado (RU-
BIO, 2002: 134).
Na Prússia, por exemplo, Estado 
que lideraria a unificação da Alemanha, 
Friedrich Ludwig Jahn foi mentor de um 
método de educação nacional, no qual a 
Educação Física, com a ginástica clássi-
ca (turn), tinha um papel fundamental, 
na medida em que favorecia uma vida 
ativa e saudável, além de tornar os ho-
mens capazes de combater o inimigo e o 
invasor. “Principalmente em Berlim, mas 
em vários outros locais da Alemanha, os 
parques públicos, clubes, fábricas e escolas 
tinham suas associações de turn (...). Tra-
tava-se de uma prática coletiva, profun-
damente hierarquizada e buscando ideias 
estéticos de harmonia e disciplina” (SILVA, 
2006: 17). Era uma prática bem mais co-
33
letiva, massiva e menos competitiva que a 
do esporte. A ginástica se colocava como 
o instrumento capaz de criar indivíduos 
fortes, saudáveis e livres de vícios, porque 
preocupados com a saúde física e moral, 
e bons soldados, pois a ameaça de guerra 
estava sempre presente. 
Na Inglaterra, berço da Revolução 
Industrial, grande potencia capitalista 
do século XIX e começo do século XX, a 
questão da “educação do físico” foi singu-
lar em relação aos países continentais da 
Europa. A ênfase não foi no campo da gi-
nástica, mas do esporte. Não deixava, po-
rém, de haver também interesses outros 
nessas práticas esportivas. Nas escolas e 
universidades inglesas, onde estudavam 
os filhos da nobreza e da burguesia em as-
censão, havia já toda uma gama de jogos 
e competições físicas, a exemplo do arco 
e flecha, esgrima, tiro e caça. Tais práticas 
eram vistas como maneiras de controlar 
o tempo livre e os impulsos da juventude, 
preparando as futuras lideranças do vasto 
império colonial britânico, propagando 
valores como virilidade, disciplina, com-
panheirismo, honra, boa conduta, hones-
tidade e cavalheirismo, dentre outros. Os 
alunos das public schools se apropriaram 
e buscaram sistematizar com regras jo-
gos populares, como os praticados com 
bolas (redondas ou ovais), cujas origens 
remontavam à Idade Média, de grande 
deleite para a massa, apesar de violentos, 
perseguidos e depreciados pelas autori-
dades. Desses jogos nasceriam o football 
association e o rugby.
Com a padronização de regras uni-
versais e a submissão e controle de enti-
dades responsáveis pelo seu cumprimen-
to e administração das competições entre 
as equipes, os jogos viraram esportes. Pa-
ralelamente, em meio às lutas e conquis-
tas dos trabalhadores por jornadas de tra-
balho reduzidas e de um tempo maior de 
descanso e lazer, o esporte também se ex-
pandiu entre a massa. Deu-se, então, uma 
grande proliferação de clubes populares, 
com destaque para o futebol, a ponto de 
o historiador inglês Eric Hobsbawm di-
zer que a modalidade virou uma espécie 
de “religião leiga” para os ingleses de ori-
gem operária. Os ingleses teriam grande 
importância na propagação internacional 
dos esportes. Embaixadores, administra-
dores coloniais, missionários, comercian-
tes, marinheiros e colonos encarregaram-
-se de difundir os esportes ingleses pelo 
mundo,onde o Império Britânico apre-
sentava interesses econômicos ou políti-
cos. “Muitas das modalidades esportivas 
praticadas na contemporaneidade tiveram 
origem na Inglaterra nos séculos de XVIII 
e XIX e de lá, juntamente com o imperia-
lismo britânico, se propagaram para outros 
países, principalmente no final do sécu-
lo XIX e primeiras décadas do século XX 
(OLIVEIRA, 2012: 42). 
Afora isso, havia ainda questões ra-
ciais, tratadas à época como verdades 
cientificas, estimulando a “educação do 
físico”. A eugenia foi uma corrente de 
pensamento que dominou os círculos 
ocidentais de poder no final do século 
XIX e começo do século XX. Os euge-
nistas apropriaram de alguns pontos da 
teoria defendida por Charles Darwin so-
bre o evolucionismo e a seleção natural, 
34
enfatizando a necessidade de aperfeiçoar 
as raças, pois apenas os mais aptos e ca-
pazes sobreviveriam, devendo haver o de-
saparecimento dos mais fracos – viam os 
brancos como superiores, racial e intelec-
tualmente. Buscava explicar as diferenças 
sociais, o racismo e a dominação colonial 
europeia com um discurso pseudocien-
tificio. A eugenia tinha muitos seguido-
res nos Estados Unidos, na Alemanha (o 
pensamento nazista tem fundamento eu-
genista) e no Brasil. Acreditavam os euge-
nistas que a ginástica e o esportes seriam 
formas de aprimorar a raça. 
Não se pode esquecer que, na Socie-
dade Industrial, o trabalho tornara-se 
mecânico e desumanizado. Instrumen-
tos e máquinas coisificaram o homem. 
A divisão do trabalho, essencial para a 
maior produtividade, impõe movimen-
tos repetitivos. O trabalhador deixa de 
ser o dono de seu trabalho para tornar-se 
apenas uma peça substituível do proces-
so produtivo. O tempo de não-trabalho, 
a despeito dos impressionantes avanços 
tecnológicos ocorridos, diminuiu. Essa 
mecanização do homem seria magistra-
mente enfocada e criticada por Charles 
Chaplin no filme Tempos Modernos. 
O esporte moderno se desenvolveu 
paralelamente ao processo de industriali-
zação herdando dele a racionalização, sis-
tematização e a orientação ao resultado. 
A burguesia industrial inglesa usou habil-
mente os princípios educativos do esporte 
para desenvolver junto à classe proletá-
ria valores como disciplina, hierarquia, 
rendimento. Assim, a regulamentação 
da prática esportiva dos trabalhadores 
atendeu aos interesses de doutrinação da 
burguesia, sob o pretexto da higienização 
e consequentemente da melhora da saúde 
(SIGOLI, DE ROSE, 2004: 111).
A Revolução Industrial, o uso de má-
quinas e a necessidade de “movimentar” 
o corpo e evitar o sedentarismo e proble-
mas de saúde; os interesses em disciplinar 
os trabalhadores; melhorar a “raça” con-
forme os ideais da eugenia; a importân-
cia da boa condição física para defesa da 
pátria e/ou manter as conquistas territo-
riais e interesses econômicos e políticos. 
Foi nessas condições, portanto, que se fo-
mentaria o movimento que veio a criar os 
Jogos Olímpicos da Era Moderna.
2.2 O SENhOR dOS ANéIS 
Em rigOr, não é correto afirmar 
que os atuais jogos olímpicos sejam 
uma continuidade ou um “renascimen-
to” de competições atléticas que exis-
tiam na Antiguidade. Como vimos no 
capítulo anterior, os Jogos Olímpicos 
da Grécia antiga apresentavam carac-
terísticas próprias e se desenvolveram 
em condições históricas específicas 
(eram festivais religiosos, aconteciam 
apenas em Olímpia, só envolvia os gre-
gos, etc.). “(...) As Olimpíadas Modernas 
nasceram sem vínculo religioso, idealiza-
da por Pierre de Coubertin, seguidor da 
teoria darwinista, e que teve início na 
Inglaterra logo após a Revolução Indus-
trial, surgindo como um evento laico e 
sem nenhuma relação com a divindade” 
(HELAL, 1990, p. 35). Ainda se podem 
35
estabelecer outras caracterís-
ticas típicas do esporte mo-
derno: igualdade (todos são 
aceitos nos jogos), especia-
lização (atletas dedicam-se a 
uma única atividade esporti-
va), racionalização (adoção 
de regras específicas e o uso 
de equipamentos tecnológi-
cos), burocracia (organização 
institucional que estabelece 
e decide as regras e fiscaliza os jogos), 
quantificação (um mundo de números 
que é extremamente enfatizado e men-
surável no esporte moderno) e busca 
pela quebra de recordes (a superação do 
superado). Tais características não eram 
encontradas nos “esportes primitivos”. 
O movimento olímpico moderno, 
inspirado no modelo grego, nasceu com 
a preocupação de universalizar o espor-
te e harmonizar povos, numa conjuntu-
ra em que as tensões políticas já aflora-
vam na Europa, o que, posteriormente, 
levaria à I Guerra Mundial (1914-18). 
(...) O estabelecimento do Movimento 
Olímpico nos idos de 1894 coincide com 
a criação e proliferação de um amplo 
espectro de organizações de cunho inter-
nacionalista, cujo principal objetivo era 
a promoção da paz. Isso porque, embo-
ra durante o século XIX tivesse ocorrido 
um grande desenvolvimento das ciências 
humanas e da produção de ideias, os 
conflitos ainda eram resolvidos de forma 
brutal por meio da guerra. As organiza-
ções internacionalistas buscavam a reso-
lução de conflitos, tanto de ordem inter-
na como externa, pelo uso da 
razão e das leis, e não pelas 
armas. Dentro dessa lógica 
a competição esportiva era 
uma forma racionalizada 
de conflito, sem o uso da 
violência (RUBIO, 2011: 83). 
O grande exponencial 
desse movimento, inicialmen-
te seria o francês Charles Fre-
ddye Pierre, posteriormente 
conhecido pelo título nobiliárquico de 
barão de Coubertin. Educador e histo-
riador, Coubertin se empenhou na orga-
nização dos Jogos Olímpicos, objetivan-
do valorizar os aspectos pedagógicos do 
esporte, com efeitos educativos, morais 
e sociais sobre indivíduos e sociedades, 
muito mais do que em exaltar a con-
quista de marcas e quebra de recordes. 
É daí que viria a máxima “importante é 
competir”, repetida constantemente pelo 
barão –, embora o mote tenha sido, na 
verdade, criado em 1908 pelo bispo da 
Pensilvânia, Ethelbert Talbot, num ser-
mão para os atletas norte-americanos 
que participariam da Olimpíada de Lon-
dres (o barão, por sinal, sempre atribuiu 
o crédito da frase ao bispo). 
A preocupação de Coubertin era va-
lorizar a competição leal e sadia, o culto 
ao corpo e à atividade física, reflexo de 
sua concepção humanista. Inspirado nos 
jogos da Grécia helênica e no modelo 
educativo das escolas públicas britâni-
cas, esse aristocrata francês via o esporte 
como um fator indireto para o equilíbrio 
entre as qualidades físicas e intelectuais 
– mens sana in corpore sano (mente sã 
Barão Pierre de Coubertin, 
o “pai” dos Jogos 
Olímpicos modernos 
36
em corpo são) –, e assegurar a paz uni-
versal (RUBIO, 2002: 137).
Não se pode deixar de observar, po-
rém, que Coubertin também buscou 
“renovar” os antigos Jogos Olímpicos 
na intenção de colaborar com o desen-
volvimento da força nacional francesa e 
sua expansão colonial. O jovem barão 
era um patriota, bastante preocupado 
com a situação de seu país. Para ele, a 
França do final do século XIX estava en-
fraquecida pelas disputas políticas inter-
nas e derrotas militares – como ocorreu 
em 1872, na Guerra Franco-Prussiana 
(conflito que culminou na a formação 
do Estado alemão), quando os germâni-
cos humilharam os franceses, que per-
deram parte das províncias de Alsácia e 
Lorena e tiveram que pagar uma pesada 
indenização ao vencedor. Coubertin 
desejava “arrancar os jovens indolentes 
dos bares e torná-los pessoas de caráter 
e fisicamente em forma”. O ideal seria 
um equilíbrio entre treino corporal e 
formação intelectual. Para concretizar 
suas ideias, Coubertin criou um Comi-
tê de Propagação dos Exercícios Físicos 
na Educação. O futuro da França esta-
va em jogo e os esportes –, e os Jogos 
Olímpicos –, teriam sua importância na 
“redenção nacional”. 
Nascido em Paris, no ano de 1863, 
Coubertin herdou do pai o título de barão 
e uma enorme fortuna. Dinâmico, desde 
cedo se interessou pelo esporte, pratican-
do equitação, remo, esgrima, tênis enata-
ção durante a adolescência – entretanto, 
não seria um atleta quando adulto. Estu-
dara na Academia de Saint Cyr, o colégio 
militar de Paris, mas ao em vez de se tor-
nar um militar, como desejava o pai e era 
tradição na família, se tornou um educa-
dor, historiador. Um humanista. 
Encarregado pelo governo da Fran-
ça de formular um projeto de educação 
escolar para o país, Coubertin viajou por 
várias nações, em busca de novas ideias 
e modelos a serem usados. Em 1883, 
Pierre esteve na Inglaterra e ficou entu-
siasmado com o lugar de destaque que o 
esporte ocupava no sistema educacional 
britânico. Em 1889, partiu para os Esta-
dos Unidos, então uma jovem potência 
capitalista em ascensão – queria conhe-
cer o emergente modelo educacional 
norte-americano. Em quatro meses visi-
tou escolas e universidades de Chicago, 
New York, New Orleans, entre outras 
cidades. O fascínio pelo esporte e a moti-
vação pelo que vira nas viagens estimula-
ram-no na ideia de pretender a “restaura-
ção” do mais fascinante festival esportivo 
da História, os Jogos Olímpicos. 
De volta à França, o barão empe-
nhou-se em promover as práticas es-
portivas nas escolas. Em 1891, assu-
miu a direção da União das Sociedades 
Francesas de Esportes Atléticos. No 
ano seguinte, palestrando na Sorbonne, 
Coubertin concluiu o discurso sobre os 
exercícios e os tempos modernos com o 
surpreendente anúncio de sua intenção 
de restabelecer os Jogos Olímpicos. No 
objetivo de obter apoio internacional, 
viajou no ano seguinte novamente aos 
Estados Unidos e Inglaterra, mas não 
conseguiu despertar muito entusias-
mo. Coubertin não desistiu. Em junho 
37
de 1894, num congresso internacional 
para discutir os princípios do amado-
rismo, o barão induziu os representan-
tes de 12 países a discutir a renovação 
dos Jogos Olímpicos. Tão marcante e 
entusiasmada foi a discussão que aca-
bou sendo aprovada por todos a pro-
posta de “recriar” os Jogos Olímpicos. 
Coubertin não se iludiu com a re-
ceptividade de seus interlocutores que 
encobria a falta de compreensão da im-
portância do evento sobre o qual esta-
vam discutindo, deliberando e recriando. 
Chegou a escrever em suas memórias ‘a 
plateia aplaudiu e aprovou a proposta, 
me desejou sucesso, no entanto ninguém 
compreendeu nada. Era uma incompre-
ensão geral e duraria um longo tempo 
(RUBIO, 2010: 58).
A ideia inicial de Coubertin era re-
alizar os jogos na capital francesa em 
1900, como parte das comemorações 
da virada do século. A “reativação” da 
competição foi calorosamente recebida 
pela aristocracia grega, pois enquadra-
va-se, como vimos, em sua estratégia 
de firmação da identidade nacional 
(vinculando-a à antiga civilização helê-
nica) e de aproximação com o Ocidente 
– o príncipe grego, Constantino, com a 
anuência do rei George I, imediatamen-
te endossou o evento. Foi tão bem acei-
ta a proposta que a competição acabou 
sendo antecipada para 1896, com reali-
zação na Grécia, como uma deferência 
aos criadores dos jogos originais e pelo 
apoio que o governo grego se dispôs a 
dar (o que, como se verá, não evitou 
problemas financeiros.) 
2.3 AMAdORISMO 
E FAIRpLAy 
Os JOgOs Olímpicos, concebidos 
como disputa entre representações 
atléticas de Estados nacionais, exigiam 
a criação de uma instituição que nor-
matizasse a participação de atletas e 
escolhesse as modalidades disputadas, 
muitas delas, não custa lembrar, recém-
-criadas e sem um corpo de regras ain-
da claramente consolidado. Assim, em 
1894, surgiu o COI – Comitê Olímpico 
Internacional –, com representantes de 
vários países. O primeiro presidente 
seria o poeta grego Dimitrios Bikelas, 
com Coubertin assumindo a secretaria 
geral da instituição. Após as Olimpía-
das gregas, Coubertin passou a ser seu 
presidente até 1925. Ainda hoje, o COI 
controla todo o mundo olímpico.
Foi estabelecido, e continua em vi-
gor em nossos dias, que os membros do 
COI seriam indicados pela própria enti-
dade, sendo considerados embaixadores 
dos ideais olímpicos em seus países e não 
delegados desses países junto ao Comitê. 
Tal medida, que, se por um lado, era an-
tidemocrática, por outro, visava, em tese, 
garantir a independência da organização 
e evitar interferências políticas dos gover-
nantes. Coubertin pressupunha a “neu-
tralidade” do campo esportivo, defenden-
do a independência dos Jogos em relação 
a governos nacionais. O COI historica-
mente teria uma estrutura conservado-
ra, liderada por um corpo autoelegível, 
composta esmagadoramente por homens 
38
(apenas a partir de 1981 poucas mulhe-
res começaram a fazer parte da entidade), 
ricos ou vindos de famílias tradicionais e 
poderosas. A entidade se propunha inter-
nacional, apolítica e apartidária, apresen-
tando como missão a organização dos Jo-
gos Olímpicos bem como a normatização 
das modalidades disputadas. 
Os Jogos Olímpicos seriam regidos 
por princípios contidos na Carta Olím-
pica, valores que ainda fundamentam 
o Movimento Olímpico na atualidade. 
O conceito fundamental nº 2 da Carta 
define o Olimpismo como uma filosofia 
de vida que exalta e combina em equi-
líbrio as qualidades do corpo, espírito e 
mente, combinando esporte com cultura 
e educação. O Olimpismo visa criar um 
estilo de vida baseado no prazer encon-
trado no esforço, no valor educacional do 
bom exemplo e no respeito aos princípios 
éticos fundamentais universais (apud 
RUBIO, 2002: 138). 
Os ideais mais arduamente defendi-
dos pelo olimpismo ao longo do tempo 
foram o amadorismo e o fairplay. Tais 
valores, vistos aparentemente hoje como 
“puros e idealistas”, devem ser entendi-
do melhor observando-se a conjuntura 
histórica da criação dos Jogos. Não eram 
tão nobres assim – havia um viés classis-
ta e de forte preconceito. Vinculavam-se 
aos interesses de aristocratas e burgue-
ses, de afastar os setores sociais menos 
abastados. Para os grupos dominantes, 
o esporte era visto como uma prática 
refinada, um sinal de distinção e de boa 
condição econômica. Deveria ser reser-
vado a quem pudesse praticá-lo inte-
gralmente, sem nenhum outro interesse. 
Não lhes interessava que trabalhadores, 
pobres e outros estratos sociais distor-
cessem esses valores. Os clubes de remo 
mais fechados da Inglaterra, por exem-
plo, não aceitavam em hipótese alguma 
em suas competições “operários braçais 
ou assalariados”. 
Os Jogos Olímpicos seriam dispu-
tados apenas por amadores e o espetá-
culo do esporte moderno deveria ser 
patrimônio das classes aristocrata e bur-
guesa. O financiamento dos Jogos pelas 
elites, através do patrocínio de alguns 
aristocratas e da arrecadação da venda 
de ingressos, garantiria, acreditavam, a 
independência política e econômica do 
evento em relação aos Estados. Barão de 
Coubertin, sutilmente queria, de fato, 
manter o esporte ligado a um ideal aris-
tocrático, a partir do discurso do ama-
dorismo, mas também associar a prática 
esportiva com à ideologia do liberalismo, 
por meio do modelo burguês de educa-
ção, valorizando a igualdade de oportu-
nidades (PRONI, 2004, p. 03).
 Seria inaceitável que alguém recebes-
se dinheiro para praticar uma atividade 
esportiva – constitur-se-ia na negação 
do ideal cavalheiresco. O atleta deveria 
ser detentor de posses o suficiente para 
dispor de todo o tempo e meios neces-
sários ao treino e à prática da modalida-
de esportiva, sem depender de nenhum 
ganho relacionado à atividade. Qualquer 
pessoa que tivesse trabalhado recebendo 
remuneração até o momento da compe-
tição não poderia participar, enquanto 
competidor, dos Jogos Olímpicos. Dessa 
39
forma, os pobres ficavam excluídos do 
mundo esportivo olímpico. Os inventores 
do amadorismo queriam, em primeiro lu-
gar, afastar da arena os trabalhadores. O 
esporte estava reservado a quem pudesse 
se dedicar a ele em tempo integral e desin-
teressadamente, enquanto o comum dos 
mortais suava para garantir o pão de cada 
dia. Este era o motivo oculto. Abertamen-
te se temia que o dinheiro transformasse 
a competição

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