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ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

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ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS – CURSOS LIVRES
Período: 25/06/16 - 15/07/16 23
Atualmente somos envolvidos pelas contradições do mundo globalizado. Um dos grandes desafios apresentados à educação diz respeito à atenção que deve ser dada à Educação de Jovens e Adultos. Seguindo inclusive a legislação, alguns entendem a EJA como processo compensatório, no qual, muitas vezes, se desqualifica seus freqüentadores, alunos trabalhadores que trazem para o ambiente da escola a marca da destituição de direitos e luta pela vida. Não podemos considerar a EJA ignorando sua história e sua riqueza de experiências.
A Educação de Jovens e Adultos, caracterizada na LDB 9.394/96 como uma modalidade de ensino, oportuniza aos adolescentes e adultos, inclusive da terceira idade (pessoas que não tiveram acesso ou continuidade aos estudos em idade própria), a oportunidade de iniciar ou regressar à escola para dar continuidade aos estudos, nos Anos Iniciais ou Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio.
A organização da EJA - Educação de Jovens e Adultos se apresenta motivada pela interação de fatores que historicamente influenciaram e influenciam essa modalidade de ensino, ganhando relevância a possibilidade de se oferecer um programa de educação que atenda às diferentes necessidades do cidadão a partir de seu contexto sociocultural. Dessa perspectiva também surge á urgência de formação de professores para atuarem nessa área do ensino.
Proposta Dialógica
O analfabetismo no Brasil. A alfabetização e a democratização da cultura como ato de criação e recriação; construção reflexiva do pensamento.
Conteúdos de Ensino: Temas Geradores. Leitura da palavra e Leitura de mundo.
Pretendemos tratar sobre o analfabetismo em nosso país a partir de um recorte histórico que nos permite conhecer algumas contribuições de Paulo Freire para a Educação de Jovens e Adultos no Brasil. Com Paulo Freire podemos entender como a alfabetização e a democratização da cultura podem favorecer a criticidade, ou seja, a construção reflexiva do pensamento. Iniciamos por indicar os conceitos e relações existentes entre os processos de alfabetização e letramento no contexto escolar. A partir dessa intencionalidade, mais especificamente pretendemos identificar o conceito de analfabetismo, alfabetização e letramento seguindo a proposta de Paulo Freire para com a alfabetização de jovens e adultos.
Ao sistematizar tais práticas, ligadas à alfabetização, indicadas por Paulo Freire, o educador/professor terá maior possibilidade de escolhas metodológicas capazes de atender às demandas vivenciadas no contexto da EJA – Educação de Jovens e Adultos, além de procurar reconhecer como essas especificidades conceituais articulam-se com o trabalho pedagógico realizado no espaço educativo.
Questão para reflexão
Caro aluno, ao iniciarmos nosso estudo, convido você à Colocar-se no lugar do outro..., esse exercício nos auxilia na compreensão de algumas situações. Muitas vezes carregamos conosco alguns resquícios de uma educação informal que contribui sem percebermos para a Discriminação e Preconceito sobre outra pessoa ou grupo social.
1 - Você já foi abordado por um Analfabeto, que lhe solicitou uma informação?
2 - Aquele que não lê e nem escreve, e vive em meio à uma sociedade letrada, sobretudo em espaços urbanos, ainda é considerado por muitos como ANALFABETO.
3 - Você já imaginou como deve ser a sensação, perante as demais pessoas, de alguém que não consegue realizar a leitura de uma frase, de um texto, ou de uma carta?
4 - Como expressar o sentimento da pessoa que não consegue escrever um bilhete, não consegue realizar a leitura do letreiro do ônibus que indica um caminho, uma parada?
 
Dando continuidade a nossa REFLEXÃO:
Ao participar da construção da história, penso que você já tenha encontrado em seu caminho pessoas analfabetas. Eu, como pedagoga em instituição de ensino, tenho essa oportunidade constantemente. A convivência com analfabetos ou com aqueles que por algum motivo tiveram que se afastar da escola, em determinada fase da vida, nos convida a refletir sobre “como as marcas dessa desigualdade os marginaliza”.
O contato com essas pessoas nos permite refletir sobre a importância e a valorização da caminhada escolar em idade adequada. Sendo assim, fico feliz em poder compartilhar com você esse nosso tempo de estudo, como possibilidade de maior compromisso, diante da promoção da aprendizagem dos alunos da EJA.
ANALFABETO X ALFABETIZADO
	1 CONCEITO DE ANALFABETISMO/ANALFABETO X ALFABETIZADO
	De acordo com Soares (2001, p. 33), em termos gerais, analfabetismo passa a ser “o estado ou condição” de analfabeto. E analfabeto é o que não sabe ler e escrever. A ação de alfabetizar – ensinar a ler é designada por alfabetização, e alfabetizado é aquele que sabe ler e escrever.
	Concepção de analfabeto, seguindo pesquisa elaborada por Madeira (1984, p. 25):
	Seio lê... Seio lê uma coisinha... Conheço as letras... não sei ajuntá. Bom... Letra, letra memo num conheço não.  Só um “a” de vez em quando... mai letra memo, num fui apresentado. (Pausa longa). Eu num leio, num escrevo, mai já fui na escola, as vez. Foi todo meu estudo, foi esse. (Pausa). Foi esse dois, três mês, de noite.
	O não saber ler é verbalizado num contexto de desvalorização de si (pessoal e social).
Podemos considerar Analfabeto, segundo Moll (2005), aquele que não sabe algo, ou seja, aquele que apresenta a negação de um saber e que, por isso, se encontra excluído de um determinado universo de saberes e poderes. A autora considera que na sociedade atual, caracterizada pela necessidade de diferentes leituras de mundo, não existem analfabetos na acepção da palavra. Existem, sim, sujeitos mergulhados em variadas situações de letramento. Situações que os identificam como não possuidores de escolaridade, mas que se encontram iniciados em outros diferentes processos de alfabetização. A qualidade desta aprendizagem naturalmente se relaciona com a capacidade que cada um possui em movimentar-se de forma reflexiva pelo universo dos códigos produzidos pelo mundo da escrita. De acordo com Moll (2005, p. 13):
O analfabetismo, encarado como problema pessoal, de falta de capacidade ou de vontade de quem o detém, é também um elemento que leva as pessoas a construírem estratégias para decodificar o básico sem que sejam notadas nesta condição de analfabetos.
Alfabetização: Apropriação da língua escrita: “um saber que pode ser saboreado na medida em que sua construção passa pelas dobras da vida”. (MOLL, 2005).
2 CONCEPÇÃO DE ALFABETIZADO
Soares (2001), ao tratar sobre o conceito de “adultos em processo de alfabetização”, os apresenta como: homens e mulheres marcados por experiências de infância que os tornaram impossibilitados de permanecer na escola - por contingências alheias à sua vontade. A autora ainda argumenta que durante o tempo de permanência desses no espaço escolar, tais pessoas adquiriram apenas os rudimentos da escrita.
Letramento é o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como conseqüência de ter se apropriado da escrita e se inserir nas práticas sociais de leitura e escrita. Letramento é muito mais que a aquisição da habilidade de codificar o próprio nome. Passou-se a verificação da capacidade de usar a leitura e escrita para a prática social, saber ler e escrever e interpretar um bilhete (SOARES, 2001).
LETRAMENTO não significa aprender a fazer algo por repetição. Sua prática implica em entendê-lo como uma maneira cultural de utilização da escrita, ou seja, o que se pode fazer com a escrita. A prática do letramento envolve valores, atitudes, sentimentos e relacionamento social. São definidos por regras sociais que regulam o uso e a distribuição de textos, determinando quem pode produzi-los e quem tem acesso a eles. Assim, o texto, de acordo com a comunidade, acaba por determinar sua própria situação ou função.
Terzi (2001, p. 16),considera que o letramento, como fenômeno social, está sujeito a diversas influências. “A prática social de venda de um imóvel, por exemplo, adquire uma diferente leitura (interpretação), de acordo com a comunidade participante”. Enquanto em uma comunidade a escritura de um terreno é parte de uma situação de compra, venda e registro de um imóvel envolvendo mais de um proprietário, em outra comunidade a venda de um terreno é garantida pela palavra empenhada (palavra de honra). Note que em algumas comunidades as relações de poder são estabelecidas através de ofícios, em outras a palavra empenhada basta; entretanto, uma alteração no uso convencional da língua pode representar uma quebra dos padrões culturais a ponto de causar conflitos.Citamos como exemplo o que acontece em algumas regiões durante o período de eleições governamentais, formação de uma cooperativa, entre outros.
Saiba Mais: Para aprofundar a discussão sobre Letramento, sugiro uma bibliografia – texto publicado no periódico “Presença Pedagógica”, v. 2, n. 10, jul/ago 1996, na seção “Dicionário Crítico da Educação”. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
Diferença entre Analfabeto e Letrado:
Soares (2001), apresenta sob forma de exemplo, a existência do que indica como fenômeno: considera que um adulto pode ser analfabeto quando é marginalizado social e economicamente, sem contato com a leitura e escrita; mas se vive em um meio em que a leitura e a escrita têm presença forte, se se interessa em ouvir a leitura de jornais feita por um alfabetizado, se recebe cartas que outros leem para ele, se dita cartas para que um alfabetizado as escreva (dita textos pequenos usando vocabulário e estruturas próprias da língua escrita), se pede a alguém que lhe leia avisos ou indicações afixados em um lugar, esse analfabeto é, de certa forma, letrado, porque faz uso da escrita, envolve-se em práticas sociais de leitura e de escrita.
Saiba Mais
A autora Soares (2001, p. 39) chama atenção para uma observação importante: “ter-se apropriado da escrita é diferente de ter aprendido a ler e a escrever”: aprender a ler e escrever significa adquirir uma tecnologia, codificar e decodificar a língua escrita. Apropriar-se da escrita é tornar a escrita própria, ou seja, é assumi-la como sua propriedade.
Letramento, segundo Soares (2001, p. 43),
[...] é ler em diferentes lugares e sob condições diferentes, não só na escola, em exercícios de aprendizagem. Letramento é informar-se através da leitura, é buscar notícias e lazer nos jornais, é interagir com a imprensa diária, fazer uso dela, selecionando o que desperta interesse, divertindo-se com as tiras em quadrinhos.
Questão para reflexão: Quem pode ser considerado o Jovem e o Adulto na EJA?
Caro aluno leia com atenção e analise em seguida a Diversidade sociocultural presente na EJA... Quando pensamos na composição e no atendimento escolar disponibilizado a jovens, adultos e idosos da EJA, nos referimos também a características ligadas à sua faixa etária e diversidade sociocultural.
De acordo com o Conselho Nacional de Juventude (Brasil, 2006), são considerados jovens os sujeitos com idade compreendida entre os 15 e 29 anos, podendo ser percebidos como categoria social que expressa, através de suas atitudes: valores, comportamentos, visão de mundo, interesses, necessidades singulares, ansiedades, ou seja, expressa uma fase de transição para a vida adulta.
Questão para reflexão: Quem é o Jovem e o Adulto da EJA?  Muitos profissionais da área da educação, sem ao menos analisar a história de vida desse aluno(a), consideram-no inculto, preguiçoso, ignorante e incapaz, entre outros. Porém, muitas vezes, são trabalhadores que chegam à escola cansados, pelo dia de trabalho estafante em ofício mal remunerado.
Marta Kohl (1999), ao descrever o jovem participante da EJA, e ao refletir sobre como esses pensam e aprendem, afirma que três campos devam ser considerados para se chegar à sua identificação e definição de seu lugar social: primeiro: a condição de “não criança”, segundo: a condição de excluído da escola, e terceiro: a condição de membro de determinado grupo social e cultural.
O jovem, em muitos casos, seguindo sua história de vida, pode ser identificado como: inculto, preguiçoso, ignorante e incapaz ou um excluído da escola, e que posteriormente venha se incorporar a um curso supletivo em fases mais adiantadas de escolaridade, com maiores chances de concluir o Ensino Fundamental ou o Ensino Médio. O jovem é bem mais ligado ao mundo urbano, geralmente envolvido em atividades de trabalho e lazer mais relacionadas com a sociedade letrada, escolarizada.
Seguindo nossa reflexão, de acordo com Marta Kohl (1999), o adulto participante da EJA é geralmente o migrante que chega às grandes metrópoles proveniente de áreas rurais empobrecidas. Muitos são filhos de trabalhadores rurais, com uma passagem curta e não sistemática pela escola. Geralmente são trabalhadores que participam, atualmente, de ocupações urbanas não valorizadas pela sociedade elitizada. Após experiência no trabalho rural na infância e na adolescência, buscam a escola tardiamente para alfabetizar-se ou dar continuidade aos estudos.
Para estes educandos, o domínio da palavra escrita deve ser um exercício provindo do exercício da palavra falada, ou seja, falar de si mesmo, dos seus anseios e desejos, dos sonhos e das utopias, deve ser o caminho a ser percorrido como abertura inicial do aprender a ler e escrever. (FERREIRA, 2007, p. 34).
Atualmente, outra demanda atendida pela EJA centra-se na participação das pessoas idosas que buscam na escola o desenvolvimento ou ampliação de seus conhecimentos, oportunidade de convivência social e realização pessoal. Também se apresentam como alunos da EJA mulheres que sofrem as consequências de uma sociedade desigual e patriarcal, o que as impede de participar das práticas educativas no espaço escolar.
As pessoas com necessidades educacionais especiais e os privados de liberdade também são atendidas pela EJA, inclusive através de metodologias educacionais específicas que viabilizam o acesso, permanência e o êxito do aluno na escola.
Ao focar a educação do campo, o reconhecimento das peculiaridades de quem vive no campo, iniciando pelas etnias, gêneros, crenças, diferentes formas de se organizar, lutar, resistir ou diferentes modos de trabalho, tais como: assalariados rurais temporários, posseiros, meeiros, arrendatários, acampados, assentados, reassentados, agricultores, vilas rurais, povos da floresta, indígenas, descendentes negros provenientes de quilombos, pescadores ribeirinhos e outros, percebemos a diversidade que deve ser considerada, pois que retrata a questão sociocultural presente na EJA, com suas histórias de vida, sua cultura, seus conhecimentos.
É importante buscarmos na história alguns recortes que auxiliam no entendimento de como a EJA vai conquistando seu espaço no Brasil.
3 O ANALFABETISMO NO BRASIL
Convite: Caro(a) aluno(a), a história da EJA no Brasil se encontra envolta em um processo sistemático de exclusão das classes populares do direito à educação, principalmente em se tratando de adultos representados pela raça negra, indígenas, mulheres e população economicamente menos favorecida. Não pretendemos, aqui, aprofundar o tema - porém, convido você a analisar fragmentos da história que contribuem para o entendimento sobre o trabalho de Paulo Freire e a realidade atual que envolve a EJA.
No Brasil, desde a Colônia, posteriormente Império e primeira República, vê-se, através da história, a marginalização do atendimento às classes populares. Por volta de 1920, durante a República, o panorama educacional brasileiro apontava que mais de 72% de sua população era composta de sujeitos analfabetos. Nessa mesma época, também se caracterizava a diferença entre trabalho manual e trabalho intelectual, sustentado pelos interesses da elite na formação econômica e cultural do país.
As preocupações doEstado privilegiando seus fins políticos, ideológicos e quantitativos, bem como a preocupação dos educadores interessados em organizar um sistema de ensino, favoreceram sua busca. Os educadores começaram a pensar em um sistema de ensino que, além de atender às verdadeiras necessidades pedagógicas da época, ainda contribuísse para a conscientização das pessoas sobre sua “real condição de exploração”.
O modelo de ensino que, desde então, começou a perpassar a história educacional carrega em seus princípios a segregação, o que deixa restrita aos pobres a oferta de uma educação elementar e profissional, enquanto a elite é privilegiada com o Ensino Médio e Ensino Superior.
Nessa perspectiva, a concepção de EJA foi sendo estruturada dentro de um pensamento hegemônico de complementaridade. Caberia ao professor da EJA, a princípio, suprir conteúdos educacionais dos quais os adultos foram privados durante sua infância. Desse pensamento concebeu-se o adulto não escolarizado como um ser humano desprovido de saberes e, portanto, de cultura.
Historicamente, seguindo as políticas educacionais da década de 1940, expressa nas campanhas de “erradicação do analfabetismo”,  fica o entendimento de que o adulto analfabeto representava uma doença e uma vergonha a ser banida da sociedade.
Já nos anos de 1950 a EJA foi tratada como uma educação de base, através do desenvolvimento comunitário. Duas tendências significativas despontaram no final desta década: uma que entendia a Educação de Adultos como uma educação libertadora (conscientizadora) e outra que a via como educação funcional (profissional). O avanço com relação ao pensamento hegemônico sobre a condição do sujeito analfabeto pode ser identificado posteriormente com as ideias de Paulo Freire. De 1946 a 1958, campanhas nacionais de iniciativa oficial foram levadas a efeito com vistas a erradicar o analfabetismo no Brasil, porém sem muito sucesso.
Caracterizada pela busca da conscientização das classes populares, a proposta de Paulo Freire demarcou uma revolução conceitual para a Educação de Adultos. Em 1958, o 2º Congresso Nacional de Educação de Adultos foi marcado pela Organização do Plano Nacional de Alfabetização de Adultos, dirigido por Paulo Freire. Esse plano foi extinto pelos militares que assumiram o governo após o golpe de 1964.
Sintetizadas durante os anos de 1950 e durante a primeira metade de 1960, as experiências populares de alfabetização, inicialmente no Nordeste brasileiro e posteriormente em todo o Brasil, ganharam o mundo com a iniciativa de Paulo Freire, ficando mais conhecidas por ocasião de seu exílio imposto pela ditadura militar. Imbuído de experiências práticas, Paulo Freire conferiu à Educação de Jovens e Adultos referências teórico-metodológicas próprias, permitindo a inserção da EJA no debate político-educacional brasileiro.
Caro aluno, desejo que tenha entendido nosso propósito até aqui. Convido você para participar de nossa Teleaula nº 2, nesse momento.
De acordo com Brandão (2005), poucas vezes, no Brasil, um método de alfabetização provocou tantas discussões por várias décadas depois de sua criação. A proposta, diante do trabalho da educação popular, foi imaginada como um instrumento contra a educação bancária. Uma nova forma de ensinar e aprender. 
4 O LEGADO DE PAULO FREIRE
EDUCAÇÃO BANCÁRIA X EDUCAÇÃO PROBLEMATIZADORA
 
Em meio à descontinuidade e fragilidade do poder público, a Educação de Jovens e Adultos toma maior fôlego na política educacional brasileira no final da década de 1940, com o grande avanço da industrialização, as exigências da elite e as pressões sociais dos movimentos em defesa da educação das massas. Nesse tempo já se observavam experiências representativas apoiadas pelo Estado, pelas organizações sociais e pela Igreja Católica.
Freire, por volta de 1950, ao realizar um estudo sobre a sociedade brasileira, qualificou-a de fechada. Uma sociedade em que grande parte da população parecia domesticada, alienada, reduzida ao silêncio, incapaz de tomar decisões ou apresentar uma postura mais crítica. Assim, Freire propôs uma educação enquanto prática democrática da liberdade, fundamentada no diálogo e na formação de um julgamento. (BERTRAND, 1998)
A partir da realidade concreta, idealizou a possibilidade de uma educação transformadora, emancipatória e humanizadora. Segundo Vale (2005), Freire assumiu o risco de lutar contra diferentes formas de opressão e de degradação da dignidade humana. Freire (1986) argumentava que antes a educação era realizada de forma autoritária. Os professores, até mesmo diante da leitura de um texto oferecido aos alunos, não propiciavam o desvelamento daquilo que se encontrava oculto, à sombra da realidade. Para Freire, a alfabetização entendida como ato criador, ato político, problematizador, permite a leitura do mundo e da realidade transformada em palavra.
A educação deveria sensibilizar o estudante para seu papel de agente social. (BERTRAND, 1998). Segundo Freire (1986), na Educação Bancária os alunos se tornavam depositários dos conteúdos transmitidos a eles, pois a prática bancária implicava em uma espécie de anestesia, que acaba por inibir o poder criador dos educandos. Já a educação problematizadora, de caráter autenticamente reflexivo, implica num constante ato de desvelamento da realidade.
Para Freire, a educação se torna “libertadora na medida em que incentiva a reflexão e a ação consciente e criativa das classes oprimidas em relação ao seu próprio processo de libertação”. (FREIRE, 1986, p. 20) Suas reflexões anunciavam um debate que hoje em dia ainda se faz presente: o conflito das culturas face aos problemas que devem ser superados quando se pensa na possibilidade de uma qualidade de vida melhor e, simultaneamente, a necessidade de formar pessoas para uma cultura crítica. (BERTRAND, 1998).
 
Quem participou com Paulo Freire da proposta de trabalho?
Agentes de Pastoral, professores, padres, médicos, religiosas, estudantes, agentes da base: lavradores(as), lavadeiras, migrantes subempregados, pedreiros, entre outros. Apoiavam e ajudavam no esforço popular de se organizarem comunitariamente. Desempenhavam ações de serviço à organização de grupos e movimentos nas comunidades, através de mutirões. A participação envolvia presença, criação de espaços de reflexão da ação popular, troca de conhecimentos e informações necessárias ao povo. (BRANDÃO, 2005, p. 61)
Saiba mais: O trabalho idealizado por Paulo Freire contou com grande participação dos Movimentos Populares.  O que entendemos por Movimento Popular?
De acordo com Brandão (2005, p. 57), Movimentos Populares podem ser entendidos como todas as formas de mobilização e organização de pessoas das classes populares diretamente vinculadas ao processo produtivo, tanto na cidade quanto no campo. Os Movimentos Populares também são lugares de educação política do povo.
Podem ser considerados  movimentos populares as associações de bairros da periferia, os clubes de mães, os grupos de loteamentos clandestinos, as comunidades de base, os grupos organizados em função da luta pela terra e outras formas de organização. Também é parte do Movimento Popular o Movimento Sindical, que, pela sua natureza, possui um caráter de classe definido por determinada categoria profissional.
Questão para reflexão: Paulo Freire incitou o início de um grande projeto que acabou por se constituir em importante teoria do conhecimento. Suas ideias e experiências ligadas à prática educacional tornaram-se referência para inúmeros educadores comprometidos com a formação humana.
Convido você a refletir sobre as palavras de Paulo Freire:
A Alfabetização implica não uma memorização visual e mecânica de sentenças, de palavras, de sílabas, desgarradas de um universo existencial, mas uma atitude de criação e recriação. Implica uma autoformação de que possa resultar uma postura interferente sobre seu contexto. (FREIRE, 1983, p. 111)
Antes a alfabetização era tratada e realizada de forma autoritária, centradana compreensão mágica da palavra, palavra doada pelo educador aos analfabetos; se antes os textos oferecidos como leitura aos alunos escondiam muito mais que desvelavam a realidade, agora, a alfabetização como ato de conhecimento, como ato criador e como ato político, é um esforço de leitura do mundo e da palavra. (FREIRE, 1981, p. 18)
Acho que o papel de um educador conscientemente progressista é testemunhar a seus alunos, constantemente, sua competência, amorosidade, sua clareza política, a coerência entre o que diz e o que faz, sua tolerância, isto é, sua capacidade de conviver com os diferentes para lutar com os antagônicos. É estimular a dúvida, a crítica, a curiosidade, a pergunta, o gosto do risco, a aventura de criar. (FREIRE, 2003, p. 54)
5 O TRABALHO DE PAULO FREIRE
O método tornou-se um convite para se repensar a relação do homem com a história, o trabalho, a cultura, a educação e a liberdade.
Método de Alfabetização: A CARTILHA?
Freire idealizou uma educação que acreditava na transformação do homem e do mundo em que ele vive. Brandão (2005) argumenta que geralmente os métodos de alfabetização chegam prontos. A cartilha, nessa perspectiva, pode ser entendida como um saber abstrato, pré-fabricado e imposto. Uma espécie de roupa de tamanho único que serve para todos ou para ninguém. Aparecem prontos os cadernos de exercício, supondo um vazio para aquele que ainda não sabe. O método Paulo Freire, pelo contrário, indica uma construção, inclusive do material a ser utilizado, a partir do diálogo e da história de vida de educador e educando.
Brandão (2005) indica que para Paulo Freire a essência da alfabetização não devia consentir que quem apresenta a palavra apresente o tema, pois muitas vezes quem apresenta o tema dirige o pensamento, e quem dirige o pensamento pode ter o poder de guiar a consciência.
Dessa maneira, a prática pedagógica fundamentada em embasamento político acabou por obrigar aqueles que se preocupavam com a educação a repensar e reconhecer em cada sujeito um agente da história. A prática pedagógica assim é apresentada seguindo cinco características. (BERTRAND, 1998).
Como primeira característica indicamos o Diálogo, nele o professor constrói o conhecimento de modo permanente com o aluno, longe da prática de dominação. O diálogo é comunicação democrática que favorece a participação, implica responsabilidade social e política do homem. Afirma a liberdade dos participantes para construção da própria cultura.
A educação dialógica parte das experiências de vida, do concreto, do senso comum, enfim, do cotidi	ano, para posteriormente relacioná-la com o conhecimento científico.
A terceira característica expõe a noção de alfabetização social, ou seja, uma alfabetização que dê sentido a quem dela participa, desencadeando um debate (Círculo de Cultura). Portanto, não se trata de aprender apenas a repetir palavras e frases sem sentido, sem estarem ligadas à realidade social e cultural das pessoas.
Segundo Bertrand (1998), a prática do professor consiste em encontrar e representar palavras e situações que pertençam ao cotidiano do aluno. Nessa prática o aluno trabalhador torna-se o agente da sua própria aprendizagem, aprendendo inclusive a falar sobre seu mundo.
Assim chegamos à quarta característica, que é a formação do espírito crítico. Nela a alfabetização torna-se um processo de conscientização sociocultural, no qual os participantes tomam consciência sobre os problemas da sociedade em que vivem. Momento em que pode problematizar criticamente a partir de suas próprias experiências, assumindo o controle sobre sua cultura e sua história; desmistificando a ideologia dominante, além de procurar libertar-se dos valores indicados pela classe dominante.
A quinta característica fundamenta-se em formação através da intervenção social. Se educar significa dar uma direção, aqui a educação pode ser entendida como tempo de formação do agente social. Aquele que tem como função libertar-se e libertar os outros da dominação.
Segundo Bertrand (1998), educação não deve servir para domesticar, através da transferência de conhecimento. Educação deve estar unida à prática social, ao controle da própria vida, à liberdade de pensamento e de atitude. Enfim, educação deve servir para analisar os valores ocultos nas interfaces do conhecimento.
6 O CÍRCULO DA CULTURA:  PRÁTICA INICIADA EM ANGICOS
Por volta de 1960, Brandão (2005) confirma que havia uma equipe de professores nordestinos, da qual ele mesmo era integrante, trabalhando no Serviço de Extensão Universitária da Universidade Federal de Pernambuco. Dentre eles, alguns eram participantes do Movimento de Cultura Popular do Recife.
A proposta de se pensar uma educação “não domesticadora”, primeiramente surgiu como experiência do MCP - Movimento de Cultura Popular, envolvendo cinco alfabetizandos (adultos), na periferia de Recife. Posteriormente a experiência seguiu para Angicos e Mossoró, também no Rio Grande do Norte, e em João Pessoa, na Paraíba, com o pessoal da CEPLAR.
Questão para reflexão: O autor trata sobre “Educação Domesticadora”. Você já sabe sobre qual modelo de educação ele se refere? Você se lembra do Ensino Tradicional? Entenda os argumentos de uma educação proposta como Educação Libertadora?
O Círculo da Cultura acolheu os lavradores do Nordeste para vivenciarem a experiência de serem os primeiros alfabetizados, através de seu próprio trabalho. Posteriormente, o método foi levado por muitas mãos ao Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.
Paralelo a esse trabalho ligado à alfabetização de adultos, surgiu no Brasil a criação dos Movimentos Populares de Cultura (MCP), os Centros de Cultura Popular do Movimento Estudantil (CPC), o Movimento de Educação de Base da Igreja Católica (MEB), e a campanha “De Pé no Chão também se Aprende a Ler”, organizado pela Prefeitura de Natal, com participação de estudantes, professores e profissionais de outras áreas, cujo objetivo centrava-se em valorizar a educação e a cultura popular. Dentre os resultados obtidos, nessa época destacou-se a alfabetização de 300 trabalhadores  em 45 dias, impressionando  profundamente a opinião pública.
Após grande comemoração, entre o mês de junho de 1963 e março de 1964, com o apoio do Governo Federal, decidiu-se aplicar o método em todo o território nacional. Nesse período foram realizados cursos de formação de coordenadores com o intuito de organizar o trabalho na maior parte das capitais dos Estados brasileiros. Cabe destacar que somente no Estado da Guanabara, nessa época, se inscreveram mais de 6.000 pessoas para atuarem como educadores. O plano previa a instalação de 20 mil Círculos de Cultura, com o objetivo de atender, no mesmo ano, por volta de dois milhões de pessoas. Cada Círculo propunha alfabetizar, em dois meses, uma média de 30 alunos.
As primeiras experiências, segundo Brandão (2005), não conseguiram se concretizar, pois nos primeiros dias do mês de abril de 1964, a Campanha Nacional de Alfabetização, idealizada sob direção de Paulo Freire, foi denunciada publicamente como “perigosamente subversiva”. Nesse período foram apreendidos milhares de exemplares da cartilha do Movimento de Educação de Base: Viver é Lutar.
7 O PRINCÍPIO DO MÉTODO: PROPOSTA DIALÓGICA
7.1 LEVANTAMENTO DO UNIVERSO VOCABULAR
Paulo Freire, seguindo a ideia de que ninguém educa ninguém e ninguém se educa sozinho, sugeriu que o trabalho fosse construído a partir do diálogo entre educador e educando. Nada  deve ser apresentado “pronto”, de forma solitária ou impositiva. 
Segundo Brandão (2005), Paulo Freire considerava que nas cartilhas e livros de leitura para adultos, os textos escolhidos acabavam por propor uma leitura longe da realidade social. Assim, o estudo que desvelava o segredo da escrita velava a experiência da vida. Apenas existia a repetição de frases tais como: “Eva viu a uva”, “A ave é do Ivo”, “O Ivo vai na roça”.
O método indicado por Freire sugere uma construção coletiva na qual o repertório dos símbolos da alfabetizaçãojá é o começo do trabalho de aprender. Esta primeira etapa pedagógica de construção do método foi apresentada por Paulo Freire com vários nomes semelhantes: “levantamento do universo vocabular” (em Educação como Prática da Liberdade), “descoberta do universo vocabular” (em Conscientização), “pesquisa do universo vocabular” (em Conscientização e Alfabetização), “investigação do universo temático” (em Pedagogia do Oprimido).
De livro para livro algumas palavras mudaram, mas permaneceu viva a ideia de que há um universo de fala da cultura da gente do lugar, que deve ser: investigada, pesquisada e descoberta.
Tempo de Pesquisa - A Força da Palavra Vivida
Iniciando o trabalho de construção do material a ser utilizado posteriormente, em primeiro plano realizava-se a pesquisa do universo vocabular. Nesse momento, a realidade social entrelaça a vida e o pensamento dos participantes. A pesquisa se torna um ato criativo, um momento de descoberta que traduz a visão de mundo colhido através das falas, da palavra, do desenho, das fotos, da música, da poesia, entre outros.
“Através da pesquisa simples, de procura das palavras geradoras, na comunidade, chega-se ao objetivo imediato que centra-se na obtenção dos vocábulos mais usados pela população a se alfabetizar” (Conscientização e Alfabetização). Nesse momento torna-se importante saber explorar com a comunidade as situações de vida e trabalho com a terra, saber de que modo as mulheres guardam a sabedoria do cuidado de seus filhos. Enfim, o vivido e o pensado, as palavras, frases, provérbios, modos peculiares de dizer e cantar o mundo e traduzir a vida, as rezas, as festas e as discussões no sindicato permitem o desvelamento do mundo particular que se transforma posteriormente em Tema Gerador.
Nessa perspectiva, alfabetizar deixa de ser um ato mecânico de ensino de uma habilidade necessária, para se tornar ato individual e coletivo de reflexão sobre o vivido.
Questão para reflexão: Caro aluno, a partir do levantamento das “palavras”, segundo Brandão (2005), a pesquisa descobre as pistas para as etapas seguintes do aprendizado coletivo e solidário de uma dupla leitura: a da realidade social e a da palavra escrita que a traduz. Assim, o método indica algumas regras, que em momento algum predominam através da imposição de uma forma única sobre o “como fazer”. Existe a liberdade constante de recriação e inovação do método e dos procedimentos de trabalho.
8 PALAVRAS GERADORAS
Brandão (2005), reportando-se ao pensamento de Paulo Freire, indica que o idealizador de uma cartilha de alfabetização, ao escolher as palavras para o ensino da leitura, lança mão de critérios linguísticos que, muitas vezes, de forma neutra, se submetem ao pedagógico. No método indicado por Freire, das falas registradas, escritas, gravadas, guardadas na memória que recontam a vida do lugar, valorizava-se as palavras que posteriormente se transformavam em Tema Gerador. Alfabetizar deixava de ser um trabalho mecânico.
As palavras deixam de ser apenas um instrumento de leitura da língua para se tornarem instrumento de releitura coletiva da realidade social, da relação construída entre os homens. Leva-se em consideração, para o critério de escolha das palavras geradoras, aquela riqueza fonêmica, dificuldade fonética da língua (conjunto de sinais e sílabas) e densidade pragmática de seu sentido (conjunto de reações socioculturais gerado pela palavra nas pessoas que a utilizam).
 
As palavras geradoras deixavam de ser apenas um instrumento de leitura da língua; eram símbolos concretos do cotidiano das pessoas e, posteriormente, instrumentos de releitura coletiva da realidade social, da compreensão de mundo.
Como todo o trabalho de alfabetização era então feito em comunidades de lavradores (camponeses, agregados, peões de lavoura), a ordem das palavras procurava seguir de perto a sequência do ciclo do trabalho agrícola do plantio de cereais: o preparo do solo, a aração, o plantio, a colheita, o armazenamento, a comercialização e o beneficiamento da colheita.
As palavras geradoras não precisavam ser muitas. De 16 a 23 era o bastante. Precisavam, em conjunto, responder aos critérios de escolha.
Interessante observar que as palavras codificam o modo de vida das pessoas e dos lugares, para serem decodificadas num outro momento de descoberta, ou seja, o do círculo de cultura-debate. Cada palavra associava um núcleo de questões: existenciais (ligadas à vida) e políticas (ligadas aos determinantes sociais das condições da vida).  Como exemplo, a palavra “batuque” imprimia como aspectos de discussão: “cultura do povo, folclore, cultura erudita, alienação cultural”, enquanto que a palavra “governo” expressava: “plano político, o poder político, o papel do povo na organização e participação popular”.
Veja alguns exemplos indicados por Brandão (2005): Para uma comunidade em Cajueiro Seco, no Recife, a equipe escolheu as seguintes: tijolo, voto, siri, palha, biscate, cinza, doença, chafariz, máquina, emprego, engenho, mangue, terra, enxada, classe. Para uma colônia agrícola da cidade do Cabo, em Pernambuco: tijolo, voto, roçado, abacaxi, cacimba, fome, feira, milho, planta, lombriga, engenho, guia, barracão, charque, cozinha, sal, enquanto que as palavras geradoras escolhidas para uma campanha de alfabetização nos morros e favelas do Rio de Janeiro foram estas: favela, chuva, arado, terreno, comida, batuque, poço, bicicleta, trabalho, salário, profissão, governo, mangue, engenho, enxada, tijolo, riqueza.
Quase concluindo a UNIDADE 1 de nossa webaula, apresento para você um resumo biográfico – Cronologia sobre Paulo Reglus Neves Freire. É importante que você tome conhecimento, pois alguns detalhes tratados durante nossas discussões ainda podem ser esclarecidos. Também indicamos alguns trabalhos desenvolvidos por ele, inclusive fora do Brasil, que merecem maior aprofundamento...
Paulo Reglus Neves Freire. (Vale, 2005, p. 64)
1921-Nascido: 19 de setembro de 1921 Local: Recife – Pernambuco.
1927- Aos 6 anos é alfabetizado pelos pais. Paulo Freire perdeu seu pai aos 13 anos de idade e teve que interromper seus estudos, pois a renda familiar não era suficiente para o sustento de todos e a permanência na escola.
1937 – Ingressa no Colégio Osvaldo Cruz, em Recife, como bolsista.
1941 – Assume a docência: Língua Portuguesa no mesmo colégio onde estudou - Colégio Osvaldo Cruz.
1943 – Inicia Curso de Direito na Faculdade de Direito do Recife.
1947/1957 – Freire desistiu da profissão de advogado e aceitou o convite de um amigo para incorporar-se ao recém-criado Serviço Social da Indústria – SESI, na Divisão de Educação e Cultura. Assume a função de diretor do Setor de Educação e Cultura do SESI.
1954/1964 – Professor da Escola de Belas Artes da Universidade do Recife. Com os operários do Recife, Paulo Freire e Ariano Suassuna desenvolveram uma experiência pioneira no SESI: lançaram as bases para a prática de um teatro popular autêntico, participante e comunicativo. Teatro como canal de conscientização, de leitura de mundo e comunicação entre palco e plateia, sob a mediação de um coordenador de debates, na figura de um personagem fantástico ou mítico, cuja função seria de apresentar comentários e diálogos com a plateia. Nessa experiência o teatro foi linguagem artística fundamental, aplicada à educação. Teve atuação importante nos quadros do SESI.
1958 - Apresenta “A Educação de Adultos e as populações marginais: o problema dos mocambos”, no II Congresso Nacional de EJA.
1959/1960 - Defende a tese: “Educação e Atualidade Brasileira”, obtém o título de Doutor em Filosofia e História da Educação.
Na década de 1960, como outros jovens brasileiros, Paulo Freire, já adulto, engajou-se no movimento transformador e participou da fundação do Movimento de Cultura Popular, lançado pelas forças progressistas de Recife, e coordenou, nessa ocasião, o Projeto de Educação de adultos. Impressionado com os resultados alcançados pelo Método Paulo Freire, na alfabetizaçãode camponeses de Angicos, o então Ministro da Educação convida Paulo Freire para coordenar o Programa Nacional de Alfabetização.
A meta era alfabetizar cinco milhões de brasileiros em dois anos, e implantar, em 1964, mais de 20 mil Círculos de Cultura. Mesmo que alguns governantes utilizassem a alfabetização apenas com objetivos eleitorais, o Método Paulo freire ia muito além, buscando apoiar a transformação dos alfabetizados em sujeitos de sua própria aprendizagem, de seu próprio processo de conscientização, de seu protagonismo político, de seu próprio projeto de vida. O golpe de 1964 interrompeu o governo João Goulart e todas as suas propostas. O Programa Nacional de Alfabetização foi oficializado em janeiro de 1964 e extinto, pelo governo militar, em abril do mesmo ano.
Desenvolve as primeiras experiências de Alfabetização de Adultos.
1962/1963 - Estende a experiência com seu Método para a cidade de Natal, João Pessoa e Angicos. Em Angicos alfabetiza 300 trabalhadores. Este trabalho obteve grande repercussão nacional e internacional.
Compromisso com a Educação transformadora, emancipatória e humanizadora.
Propõe um Método de Alfabetização, no qual a leitura de mundo precede a leitura da palavra.
Lutou através da palavra contra diversas formas de opressão e de degradação da dignidade humana.
1963/1964 - Inicia o Projeto que se chamaria, em 1964, Programa Nacional de Alfabetização, alfabetizando adultos no Gama, Brasília, DF.
Coordena o “Programa Nacional de Alfabetização”, no governo de João Goulart.
1964 - Golpe militar no Brasil: instaura-se a ditadura militar. O golpe de Estado, instaurado no Brasil, levou ao poder as forças armadas. Foi então decretado o AI-1       (Ato Institucional 1), que cassou mandatos,  suspendeu a imunidade parlamentar e os direitos políticos e acabou com as garantias de vitaliciedade dos magistrados  e a estabilidade dos funcionários públicos. O Brasil, então, passou a viver sob séria censura, aos meios de comunicação e aos chamados “de esquerda”, tidos como comunistas.
Foi nesse contexto que o método de alfabetização de adultos, criado pelo educador Paulo Freire, foi considerado uma ameaça ao sistema, pois buscava a conscientização, o protagonismo político e a transformação de cada alfabetizando em sujeito de sua própria aprendizagem e de sua história. Por isso Paulo Freire foi preso no 14º Regimento de Infantaria em Recife, acusado de atividades subversivas.
Depois de 70 dias na prisão, conseguiu a liberdade, mas não a segurança de poder continuar o seu trabalho de educador e filósofo da educação sem ser novamente preso. Assim, contra a sua vontade, parte para o exílio. Foi para a Bolívia. Pressionado pelas tensões políticas do golpe militar também na Bolívia, onde permaneceu em torno de um mês, Paulo Freire parte para o Chile. No Chile integrou o Ministério da Reforma Agrária e coordenou campanha de alfabetização dos camponeses chilenos. Nesse país ele conseguiu pôr em prática as suas ideias e experimentou a sua metodologia em um ambiente diferente daquele em que foi concebido.
O Movimento Brasileiro de Alfabetização – Mobral foi criado em 1969 com a proposta de erradicar o analfabetismo do Brasil em 10 anos. Enquanto o objetivo do programa Nacional de Alfabetização, elaborado por Paulo Freire, em 1963, era alfabetizar despertando no jovem e no adulto um processo de conscientização sobre a realidade vivida, pela transformação dessa mesma realidade, o Mobral propunha um programa de alfabetização funcional, visando à aquisição de técnicas de leitura, escrita e cálculo.
O método de alfabetização empregado pelo Mobral fez uso do Método Paulo Freire, esvaziando seu teor politizador. Palavras geradoras também estavam presentes nos procedimentos de alfabetização do Mobral, mas não no sentido dado por Paulo Freire: palavras selecionadas dentre os vocábulos mais usados pela população a ser alfabetizada. O Mobral utilizava, contraditoriamente, palavras geradoras padronizadas para todo o Brasil, desconsiderando a realidade local. Foi extinto em 1985 com o fim do regime militar.
1966 - Como professor convidado, Freire esteve no México, Estados Unidos, viveu por 10 anos em Genebra, Suíça, Ásia, Oceania, e para países de língua portuguesa na África – Cabo Verde, Angola, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau.  
1969 - Lecionou na Universidade de Harvard.
1970 – Trabalha como consultor do Departamento de Educação do Conselho Mundial de Igrejas.
1971 – Funda o IDAC - Instituto de Ação Cultural.
1975/1979 - Atua na África, com a equipe do IDAC nos programas de Educação e de Alfabetização da Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola, São Tomé e Príncipe.
1979/1980 - Governo militar brasileiro concede anistia aos exilados.
Paulo Freire volta definitivamente, do exílio, ingressando como docente na PUC – São Paulo e  UNICAMP – Campinas.
1986 – Recebe o prêmio “Educação para a Paz” da Unesco, em Paris-França.
1989 – Assume a Secretaria de Educação do Município de São Paulo, na gestão de Luíza Erundina. De 1989 a 1991, atuou no sentido de “mudar a cara da escola”, na política popular de educação. Implementou o projeto MOVA – Movimento de Alfabetização de Adultos.
1997 - Falece Paulo Freire aos 75 anos, no dia 2 de maio, de infarto agudo do miocárdio, na cidade de São Paulo.
Importante: Se você sentiu-se atraído no sentido de aprofundar seus estudos sobre o tema, acesse: Dissertação de Mestrado de Cláudia Moraes de Souza, intitulada “Nenhum Brasileiro sem Escola”, orientada pela Profa. Dra. Zilda Marcia Gricoli Iokoi, concluída em 1999 na Universidade de São Paulo.
Para concluir o Estudo da Unidade I
RESUMO:
Nessa primeira unidade tivemos a oportunidade de refletir sobre a trajetória de Paulo Freire frente à organização do processo educacional ligado à modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos. Identificamos sua participação ainda durante a fundação do Movimento de Cultura Popular (MCP), em Recife, estando à frente do projeto de “Educação de Adultos”.
No final da década de 1950 e início da década de 1960, juntamente com uma equipe de profissionais e lideranças da comunidade nordestina, assumiu o risco de lutar contra diferentes formas de opressão e de degradação da dignidade humana.
Seu projeto visava, através da alfabetização, conscientizar a população oprimida, dentre eles os operários e camponeses analfabetos, sobre a possibilidade de conquista de uma maior autonomia e liberdade de expressão. Suas ideias, aliadas à sua prática educacional, tornaram-se, posteriormente, referência para os educadores comprometidos com a causa dos oprimidos.
Paulo Freire, Adriano Nogueira e Dermeval Saviani participaram de um debate (Caderno Pedagógico. A Educação no século XXI, Pr. APP Sindicato, 2003) no qual se buscava desenhar o perfil do educador do século XXI. Nesse colóquio, Paulo Freire destaca que a continuidade da história se torna fundamento para a compreensão e a explicação sobre o “agir humano”. Uma continuidade que se conquista não pela repetição, mas pela ação; pois o homem segue como ser histórico – historicizando até em meio à fome, à miséria e à degradação humana.
1º Passo: Assim, observe um recorte de texto em que Paulo Freire (2003, p. 45) argumenta sobre Educação atualmente:
Para Paulo Freire, diante da ciência se torna impossível propor que a educação deve ser apenas adaptação do homem a um novo paradigma. Educar é bem mais do que capacitar técnica e cientificamente. Nesses termos - capacitar significa adestrar. No passado, muitos pensavam que educar era apenas politizar sem preocupar-se com a formação técnica, instrumental. Hoje ambas são importantes: a formação técnico-científica e a leitura de mundo tornaram-se leituras necessárias. A leitura de mundo e a competência técnica vão se incorporando à natureza do “ser homem”, contribuindo para que a história continue sendo historicamente constituída.
2º Passo: Após a leitura desse recorte, observe as figuras indicadas abaixo, que lhe foram apresentadasdurante a elaboração dessa Unidade 1, e analise: Qual relação você consegue esquematizar associando o pensamento de Paulo Freire e as imagens?
De que forma a leitura de mundo e a competência técnica podem contribuir para que o homem produza história?
Av 1 - Alfabetização de Jovens e Adultos
Período: 27/06/16 - 15/07/16
1) Assinale a alternativa que corresponde a uma visão equivocada ligada a EJA, podendo assim ser considerada como INCORRETA.
Alternativas:
a) A EJA, entendida como modalidade educacional que atende principalmente a elite, classe mais abastada, tem como finalidade o compromisso com a formação geral, acesso à cultura mais erudita, aprimoramento da consciência, atitudes submissas e compromisso alienante, visando a manutenção das relações de poder autoritárias.sinalada
b) A educação de jovens e adultos também deve voltar-se a uma formação na qual os educandos possam aprender, refletir de modo crítico, agir com responsabilidade, participar do trabalho e da vida coletiva, comportar-se de forma solidária, acompanhar as mudanças sociais, enfrentar problemas apresentando soluções originais com agilidade e rapidez, utilizando-se de metodologias adequadas e envoltas em conhecimento científico e tecnológico.
c) A escola voltada à educação de jovens e adultos, é ao mesmo tempo local de ensino e aprendizagem e local de confronto de culturas.
d) De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, no que concerne ao Ensino Médio, a educaçãose consolida através da escolarização. Além de apresentar-se como um direito do cidadão, a educação deve auxiliar o aluno, em seu preparo para a prática social.
e) Uma concepção mais ampliada de EJA - Educação de Jovens e Adultos, deve ser a de entender educação como direito de aprender, de ampliar conhecimentos ao longo da vida, e não apenas de se escolarizar.
2) Na Web Aula I, procuramos indicar os conceitos e relações existentes entre o processo de Alfabetização e Letramento indicados pelos autores que se debruçam em pesquisas envolvendo especificidades e características da Educação de Jovens e Adultos. Assim é Correto afirmar que uma das principais diferenças entre Alfabetização e Letramento é:
Alternativas:
a) Alfabetização é aprender a ler, enquanto que Letramento é aprender a escrever.
b) Alfabetização significa adquirir uma tecnologia e Letramento significa codificar a língua escrita.
c) Alfabetização é apropriar-se da escrita e torná-la própria é entendê-la como fenômeno social, Letramento é memorização das palavras.
d) Alfabetização pode ser entendida como apropriação da língua, da leitura e da escrita enquanto que, Letramento pode ser entendido como a utilização da leitura e escrita para a prática social.assinalada
e) Alfabetização é poder codificar a língua escrita e Letramento é poder decodificar a língua escrita.
3) Assinale a alternativa INCORRETA.
Historicamente, quando analisamos a preocupação do governo brasileiro para com a Educação de Jovens e Adultos, podemos notar que:
I)Durante a República o panorama educacional brasileiro apontava que apenas 35% de sua população era composta de sujeitos analfabetos,
II)Era visível a valorização/desvalorização existente entre o trabalho manual e o trabalho intelectual,
III)Existia interesses camuflados - da elite, no que concerne a formação econômica e cultural do país,
IV) A marginalização do atendimento às classes populares, indicava a preocupação do governo com a alfabetização de toda população,
V) Existia a preocupação do governo, em buscar formas de conscientizar as pessoas através da alfabetização, sobre sua real condição de explorada pela "elite",
Seguindo leitura e análise identifique a alternativa INCORRETA:
Alternativas:
a) Todas as afirmações são Incorretas.
b) Somente a afirmativa II é Incorreta.
c) As afirmativas I e IV, V são Incorretas.
d) Somente a afirmativa IV é Incorreta.
e) Somente a afirmativa V é Incorreta.
4) Paulo Freire conferiu à Educação de Jovens e Adultos um novo patamar. Muito embora alguns educadores não concordem, Paulo Freire, com a ajuda de outros profissionais, acabou por indicar referências teórico-metodológicas próprias para a EJA, o que permitiu posteriormente, a inserção dessa modalidade de ensino, no debate político educacional brasileiro. Assim, seguindo o texto da Web Aula, indique o período em que campanhas nacionais de iniciativa oficial, sem muito sucesso; foram levadas a efeito, com vistas a erradicar o analfabetismo no Brasil:
Alternativas:
a) De 1946 a 1958.a assinalada
b) De 1965 a 1968, com o MOVA.
c) De 1926 a 1935, com o MOBRAL.
d) De 1946 a 1948, com o Letramento.
e) Nenhuma das anteriores.
5) As experiências populares de alfabetização, inicialmente no nordeste brasileiro e posteriormente em todo o Brasil, ganharam o mundo. O método de alfabetização caracterizado pela busca da conscientização das classes populares demarcou uma revolução conceitual para a Educação de Adultos. O mais célebre educador brasileiro, com atuação e reconhecimento internacional, que participou como idealizador e organizador dessa proposta de alfabetização foi:
Alternativas:
a) Moacir Gadotti.
b) Paulo Freire.
c) Francisco Weffort.
d) Thiago de Mello.
e) Dermeval Saviani.
Alfabetização de Jovens e Adultos
Período: 25/06/16 - 15/07/16
Redimensionamento da Educação de Jovens e Adultos
As teorias de Freire para a Alfabetização e as fases do seu Método.
Fases do Método - Levantamento do universo vocabular; escolha das palavras selecionadas do universo vocabular pesquisado; criação de situações existenciais e apresentação de fichas com a decomposição das famílias fonéticas.
Questão para reflexão: Será que a  Educação na visão do analfabeto tem a ver com as relações de poder estabelecidas pela sociedade?
1 INTRODUÇÃO
No início dos anos de 1960, a juventude resolveu se assumir como sujeito da história e construir seu mundo. O entusiasmo da época idealizava que a participação de todos em projetos sociais pudesse contribuir para que a população conquistasse maior liberdade de expressão e um futuro mais feliz.
A União Nacional dos Estudantes (UNE) discutia questões nacionais e perspectivas de transformação que sugeriam a mobilização de todos os envolvidos.  O Centro Popular de Cultura (CPC), ligado à UNE, se espalhava pelo país, travando contato com bases universitárias, operárias e camponesas. Seu ideal era a construção de uma cultura nacional, popular e democrática, através de atividades que possibilitassem a conscientização das classes populares, restituindo-lhes a consciência de si mesmas.
De acordo com Vale (2005), o movimento estudantil abalava os alicerces do mundo adulto, envolvendo principalmente áreas ligadas à cultura e à política. A participação radical de estudantes era estabelecida através de teatro popular, shows de música, cinema, produção de livros, revistas e panfletagem, entre outros. A efervescência cultural e política em pouco tempo acabou por provocar uma transformação social.
Paulo Freire, jovem da época, engajou-se na cidade de Recife, em um dos grupos que buscavam transformação social. Participou da fundação do Movimento de Cultura Popular (MCP), coordenando, nessa ocasião, o Projeto de Educação de Adultos.
De acordo com Vale (2005), o pensamento dos entusiastas da época era o de que, mesmo que alguns governantes utilizassem a alfabetização apenas para fins eleitorais, haja vista que os analfabetos não podiam votar, o Método Paulo Freire ia muito além. O método buscava apoiar a transformação dos alfabetizados em sujeitos de sua própria aprendizagem, de seu processo de conscientização, de seu protagonismo político e de seu próprio projeto de vida.
O então Ministro da Educação, Paulo de Tarso, impressionado com os resultados alcançados pelo Método Paulo Freire, na alfabetização de camponeses de Angicos (RN), convida Paulo Freire, em1963, para coordenar o Programa Nacional de Alfabetização. A meta era alfabetizar cinco milhões de brasileiros em dois anos, e implantar, em 1964, mais de 20 mil Círculos de Cultura em cidades brasileiras.
Posteriormente, o golpe de 1964 interrompeu o governo de João Goulart, com todas as suas propostas. O Programa Nacional de Alfabetização oficializado em 21 de janeiro de 1964 foi extinto, pelo governo militar, em 14 de abril do mesmo ano.
Assim, como já indicamos anteriormente na Unidade 1, as primeiras experiências com a alfabetização em massa, segundo Brandão (2005), não conseguiram se concretizar, pois nos primeiros dias do mês de abril de 1964 a Campanha Nacional de Alfabetização, idealizada sob direção de Paulo Freire, foi denunciada publicamente como “perigosamente subversiva”. Tempo em que foram apreendidos milhares de exemplares da cartilha do Movimento de Educação de Base: “Viver é Lutar”.
Questão para reflexão: Indique a partir do texto e de suas análises, uma resposta para nossa pergunta:
1-    A Educação na visão do analfabeto tem a ver com as relações de poder estabelecidas pela sociedade?
Madeira (1984) aborda, em uma de suas pesquisas, como o homem analfabeto entende a Educação:
“Cabra educado”, aquele que sabe viver dentro de uma ordem preestabelecida que é de origem divina, sem colocá-la em questão ou contestá-la. As qualidades morais enfatizadas estão sempre a serviço da dependência. Privilegia-se assim a submissão a uma ordem simbólica pela ratificação da dependência.
“Ser educado”, significa saber viver dentro de seus limites e se opõe a “ser revoltado”, ou seja, se condena a atitude de questionamento à ordem estabelecida por Deus, de contestação aos patrões e às leis. A contestação é associada à falta de educação e ao pecado, enquanto que a submissão é valorizada.
2 CONCEITO DE CULTURA NA VISÃO DE PAULO FREIRE
A proposta de trabalho indicada por Paulo Freire caracteriza que a apropriação do conhecimento se concretiza pela relação dialética entre a leitura de mundo aliada à leitura do código escrito, sempre respeitando os saberes populares. Saberes que se constituem fundamentados no princípio da dialogicidade, ou seja, a valorização do diálogo entre aqueles que participam do processo.
Para Paulo Freire, a Leitura de Mundo se encontra atrelada à cultura. A cultura pode ser entendida como o resíduo que o trabalho humano deixa sobre o mundo. Passa a ser todas as formas visíveis ou comunicáveis da significação do diálogo entre os homens e seu efeito sobre o mundo. (BRANDÃO, 2005).
Seguindo as primeiras discussões envolvendo o conceito de cultura, o analfabeto descobriria que cultura é toda ação humana. Tanto é cultura o boneco de barro feito pelo artista do campo, como também é cultura o trabalho do grande escultor, pintor ou pensador da cidade grande. Cultura tanto pode ser a poesia dos poetas letrados como também a poesia do cancioneiro popular. (VALE, 2005).
Reportando-se ao livro de Paulo Freire intitulado “A importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam” (2003), a autora Vale (2005, p. 26) confirma que todos os povos têm cultura porque trabalham, transformam o mundo e, ao transformá-lo, todos se transformam.
A dança, o ritmo, a ginga dos corpos, a música e a poesia do povo são manifestações de cultura, como também é cultura o cultivo da terra. A maneira que o povo tem de se expressar, sorrir, cantar, andar, falar, os instrumentos que o povo usa para produzir, tudo é cultura. Enfim, é cultura a forma como o povo entende e expressa o seu mundo e como o povo entende e compreende suas relações com o mundo.
 
3 ALFABETIZAÇÃO
As diferentes formas de linguagem são uma invenção da humanidade, uma construção social e histórica do homem, um conjunto sistemático e estruturado de recursos cuja função principal centra-se na comunicação e na interação. 
A conquista quanto à utilização das diferentes formas de linguagem significa conhecer os seus elementos básicos, os modos do seu funcionamento e suas dimensões em um determinado contexto cultural. Assim, segundo Colello (1995), a alfabetização e o letramento no contexto escolar devem significar para o educando a possibilidade de lidar com a linguagem e a produção do discurso.
Assim, de acordo com Colello (1995), o domínio sobre a linguagem enquanto produto histórico e social representa participação em sociedade. Ao mesmo tempo em que o homem se apropria da linguagem, ele também age sobre ela, reinventando-a enquanto participa efetivamente da construção de seu espaço e do seu tempo.
A Escola no contexto
No contexto, é dada à escola, “instituição social”, a incumbência de transmitir e possibilitar à comunidade que a procura, acesso a todas as manifestações da linguagem, buscando sua formação plena.
Cabe aqui um questionamento: O que a escola favorece ao sujeito quando o ensina a ler e escrever de forma intencional e sistemática?
Colello (1995) argumenta que a leitura e escrita, enquanto produto cultural e social, deve ser apropriada e adquirida também no contexto escolar. Em contraponto, Freire argumenta sobre a importância da leitura de mundo, aquela conseguida enquanto sujeito participante de todos os espaços. Assim, a leitura e interpretação ultrapassa  o mero ato de decodificação, torna-se uma atividade extremamente complexa, que se relaciona com situações culturais, ideológicas, filosóficas, entre outras.
Nessa perspectiva, a leitura se torna a realização do objetivo da escrita. Alguns preferem entender a língua escrita como um código que se estrutura pela relação entre sons e letras, enquanto outros concordam que a língua escrita se dá por meio das relações, envolvida em um processo de criação e recriação, nunca esgotado em si mesmo.  Fundamentado nessas observações, podemos dizer que há múltiplas formas do sujeito se alfabetizar, ou seja,  de dominar os códigos da leitura e da escrita, em um determinado contexto.
Para alguns autores, a escola, ao didatizar a linguagem, não valorizando a realidade vivida,  acaba tornando o processo de ensinar a ler e a escrever em uma atividade desvinculada do seu objetivo maior, que é proporcionar a formação do sujeito competente no uso da língua.  Assim, a realidade atual, vivenciada pelos professores no espaço escolar, conclama-os para que reflitam sobre sua própria postura enquanto formadores de sujeitos.
Questão para reflexão
Seria tarefa do professor “apenas reproduzir o conhecimento sistematizado”, ou auxiliar o aluno a realizar uma “leitura de mundo”, capacitá-lo para participar ativamente da transformação social, valorizando seu tempo, seu espaço e sua cultura?
Será que a metodologia utilizada pelo professor em sala de aula  influencia diretamente no sucesso ou fracasso da relação que o aluno poderá ter com as diversas manifestações da linguagem?
Qual prática seria ideal ao professor, no sentido de superar o ensino da escrita como código e promovê-lo à condição de diálogo, assumindo o seu caráter também político”?
Segundo Colello (1995), tornar o ensino da língua escrita em simples conteúdos escolares, sem qualquer relação com os contextos social e cultural, torna-o superficial, sem conexão com a realidade.
De acordo com a autora, ensinar a ler e a escrever significa ensinar a especificidade do elemento simbólico da língua em seu contexto histórico, assim como os usos e práticas sociais em seus contextos de produção e de interpretação.
Assim, caro aluno, esse momento de estudo também torna-se um convite à tentativa de superar o didatismo artificial da escola, que acaba por aprisionar a língua escrita.
O ensino da língua escrita, de acordo com Colello (1995),  deve estar a serviço da inserção social, da participação democrática do sujeito na sociedade e do livre trânsito linguístico em face das múltiplas possibilidades de se comunicar, ler o mundo e interpretá-lo. Seguindo Colello (1995), a escrita contribui para a promoção  do contato sistemático e intencional no qual a língua deve se fazer presentecomo algo vivo e enraizada nos usos socioculturais.
O ato de ler e escrever deve INDICAR a busca pelos sentidos que um texto possui.  Ler e escrever deve ser ação destinada a textos reais, deve ser concebido como ação dinâmica e não meramente mecânica, deve ser concebido como processo de resolução de problemas enfrentados pelo sujeito quando se coloca diante de um texto a ser lido ou produzido.  Nessa perspectiva, o ato de alfabetizar torna-se uma atividade de ensino e aprendizagem muito complexa a ser mediada pelo professor.
4 O MÉTODO DE ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS
De acordo com Brandão (2005), o método de alfabetização proposto por Paulo Freire representa apenas a fase inicial do longo processo determinado pelo sistema de educação, que foi elaborado levando em conta algumas etapas, destacadas abaixo:
1 - O método a princípio foi elaborado e testado por uma equipe da Universidade Federal de Pernambuco, coordenada por Paulo Freire, e posteriormente foi disseminado para outras regiões do Brasil.
2 - O método de alfabetização de adultos proposto por Paulo Freire pode ser entendido como um processo que busca acelerar a aprendizagem da leitura e da escrita ainda em nível elementar.
3 - A introdução da técnica de trabalho em grupo possibilita maior ênfase no processo de conscientização dos adultos a partir de sua participação e integração.
4 - O processo sistematizado correspondente ao nível elementar de aprendizagem buscou a funcionalidade na leitura e na escrita, além de aprofundamento no que concerne à conscientização e ampliação do campo de estudos, além da introdução de outros elementos necessários à educação de adultos.
De acordo com Brandão (2005), o método foi a matriz construída e testada de um Sistema de Educação, tendo como objetivo inverter a direção e as regras da educação tradicional. Um método que valorizou a ação da grande massa oprimida, sem voz nem vez. Um método que procurou instrumentalizar os sujeitos participantes para o exercício de conscientização sobre seu papel no mundo, no trabalho e na sociedade. Sua integração como sujeito social com perspectiva de mudança.
A tarefa do educador centra-se em contribuir para a “reinvenção de uma outra educação”. Nesse trabalho, enquanto os educadores se reeducam, exercitam o “ato político” que começa com a afirmação de que a educação é um trabalho político que procura desvelar o oculto, que procura indicar libertação através do ensino, ou seja, da educação. (BRANDÃO, 2005, p. 51).
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Para Paulo Freire, educação não é apenas um trabalho técnico e pedagógico, a alfabetização de adultos não é algo neutro. Toda educação se apresenta carregada de intenção política. O trabalho de alfabetizar (parte do trabalho de educar) prepara o sujeito político, instrumentalizando-o através da leitura e escrita.
5 PALAVRA GERADORA: CONTRIBUI PARA O DESVELAMENTO DA REALIDADE
Na escolha das palavras geradoras incluíam-se, além dos fonemas da Língua Portuguesa, todas as dificuldades gramaticais, ligadas à pronúncia e escrita, tais como: s, ss, ch, x, lh. Também eram escolhidas as palavras que davam sentido à vida e ao trabalho cotidiano das pessoas. Para o lavrador, as palavras enxada, chuva e lavoura têm um sentido de pertencimento tanto quanto as palavras favela, tijolo e salário têm para o operário.
Tais critérios determinavam a própria apresentação das palavras durante as reuniões de alfabetização, em ordem crescente de dificuldade de leitura e escrita, além da lógica de linguagem na explicação progressiva destas dificuldades. A cada palavra era associado um núcleo de questões existenciais e políticas, fatos ligados à vida e aos seus determinantes sociais.
Ao se utilizarem da palavra, muitas vezes não denunciam o discurso ideológico, omitindo sua causalidade política, além de tratar o analfabeto como seres incapazes e preguiçosos. Destacamos abaixo algumas observações que podem fazer parte do contexto: As pessoas continuam analfabetas pela condição ou pelas circunstâncias, ou seja, foi-lhe negado um direito – o direito de ler e escrever.
Ainda hoje podemos verificar como causa do analfabetismo no Brasil a ausência de políticas públicas consistentes de educação no campo, penalizando assim minorias étnicas, indígenas e quilombolas. Além do abandono das classes mais pobres, oferta insuficiente para a educação infantil, baixo investimento na formação e valorização de alfabetizadores, entre outros.
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Mais que escrever e ler que “a asa é da ave”, os alfabetizandos necessitam perceber a necessidade de um outro aprendizado: o de escrever a sua vida, ler sua realidade, o que não é possível se não tomarem sua história nas mãos. (FREIRE, 1981, p. 11).
6 CÍRCULO DE LEITURA
Segundo Paulo Freire (1983), em lugar de sala de aula tradicional e aulas exclusivamente expositivas, devemos dar lugar ao diálogo e à participação de todos.
Em lugar de treinar pessoas para simplesmente se adaptarem, devemos buscar a formação de agentes sociais de mudança.
O Círculo de Cultura não substitui turma de alunos em sala de aula, porém, durante as atividades, os envolvidos posicionam-se em círculo, em um determinado espaço organizado com antecedência para que o encontro aconteça. Nesse espaço, de forma planejada, um animador (nem sempre professor) coordena e anima o trabalho, orientando e incentivando a participação de todos ao debate e demais atividades propostas.
De acordo com Brandão (2005), muito mais do que o aprendizado individual de “saber ler e escrever”, o que o círculo da cultura produz são modos próprios e novos, solidários, coletivos, de pensar. E todos juntos aprendem e constroem a cultura que os faz sentirem-se homens, sujeitos, ou seja, seres da história.
As Fichas de Cultura – Maneira de reler o mundo
Conforme vimos na Unidade 1, segundo Brandão (2005), dentre as finalidades das Fichas de Cultura, a partir de situações existenciais, era dada ao grupo a possibilidade de discussão. Momento em que todos os participantes eram incitados a “pensar o mundo e sua participação crítica nele”.
7 AS FICHAS DE CULTURA: PRINCÍPIO DO APRENDIZADO
As Fichas de Cultura eram criadas na própria comunidade, com desenhos sugeridos pelos participantes ou indicados durante o período de pesquisa. No princípio da alfabetização, as fichas, representadas em cartazes ou projetadas em slides, partiam sempre de situações existenciais, provocando as primeiras trocas de idéias, os primeiros debates.
Além da possibilidade de apreensão coletiva do conceito de cultura, as discussões conduziam a outros conceitos fundamentais apresentados durante o trabalho de alfabetização
De acordo com as condições e peculiaridades de cada lugar, as fichas de cultura passavam de desenhos imaginados para seqüência de fotos em que as idéias sugeridas eram imagens concretas da vida das pessoas.
De acordo com Brandão (2005), a finalidade máxima das fichas de cultura sugeria debates a partir de imagens de situações existenciais, dando ao grupo a possibilidade de rever criticamente conceitos fundamentais para pensar o mundo e sua participação crítica nele.
Com o pessoal já organizado em Círculo de Cultura, a atividade se inicia. O animador apresenta um cartaz, ou seja, “A Ficha de Cultura”.
 
A elaboração das Fichas de Cultura criadas pela própria comunidade, a partir de desenhos e fotos sugeridas pelos participantes, é agora representada, no momento da alfabetização, em cartazes ou projetadas em slides, partindo sempre de situações existenciais, provocando assim os primeiros debates.
A ficha, segundo Brandão (2005, p. 27), retrata o homem no mundo, sua relação com a natureza e a cultura. O animador chama a atenção de todos para a gravura, sugerindo que cada um descreva o que a figura retrata, quais são os elementos da figura, o que o desenho deixa transparecer.
Tal discussão toma quase todo o tempo do encontro, provocando um debate no qual se sustenta a relação do homem com a natureza e a cultura. O homem entendido como criadore recriador da realidade através de seu próprio trabalho. Através de seu trabalho, ele altera sua relação com a natureza de acordo com suas necessidades.
Questão para reflexão: A indicação do desenho de uma figura retratando o poço de água e a relação do homem com a água, inclusive para sua subsistência, faz emergir conceitos básicos. O homem cavou o poço porque necessitou da água. Seu trabalho permitiu relacionar-se com o mundo fazendo dele objeto de seu conhecimento, ao mesmo tempo em que transformou sua realidade. Assim construiu uma casa, preparou suas roupas e seus instrumentos de trabalho.
A análise simples, crítica e objetiva da relação do homem com seu mundo o faz entender que a educação pode ser utilizada como “Prática da Liberdade”. Como consequência da reflexão, os homens percebem sua própria capacidade de refletir sobre o tema abordado, partindo sempre do que são e do que fazem, não do que pensam e querem os poderosos.
O homem pensa sobre sua posição no mundo, sobre seu trabalho, sobre seu poder em transformar sua realidade, seu pequeno mundo. A alfabetização deixa de ser algo externo ao homem para ser dele mesmo – alfabetização e letramento. A cultura passa a ser debatida como forma de aquisição sistemática do conhecimento e democratização.
A finalidade das Fichas de Cultura sugere que os debates se realizem a partir das imagens e de situações existenciais, levando o grupo a rever criticamente conceitos fundamentais que incentivem a motivação para que cada um assuma crítica e ativamente o trabalho de alfabetizar-se. As Fichas de Cultura indicavam o fundamento do método que estava centrado em apresentar conceitos e convidar a refletir coletivamente.
Considerações sobre o Método de Alfabetização
Agora convido você a aprofundar seus conhecimentos a respeito do Tema Gerador. É através dessa proposta de trabalho, indicada após o tempo de Alfabetização, que seus participantes encontram a possibilidade de problematizar situações rotineiras, buscar maior criticidade e autonomia para participar na sociedade.
8 TEMA GERADOR
A tradição oral, ou seja, o relato de histórias que as pessoas conhecem e contam, as músicas que cantam, versos, poemas, receitas culinárias, receitas de remédio e chás caseiros, opiniões e problemas, após serem aproximados da forma escrita; também podem ser exploradas suas relações entre o oral e o escrito, transformando-se em tema gerador. Esse é só um exemplo, dentre muitos outros ligados à realidade do aluno da EJA.
Em princípio, as palavras geradoras se tornavam instrumento que conduzia o debate durante o trabalho de alfabetização. O objetivo principal centrava-se em melhorar a compreensão de mundo dos integrantes do grupo. Posteriormente, o Tema Gerador sustentava o debate integrando ou associando palavras geradoras à novas situações reais, que contribuíam para a compreensão de mundo. (BRANDÃO, 2005)
Brandão (2005) indica que, tal como no caso das palavras geradoras, uma série de temas geradores foram estruturados, seguindo o resultado da pesquisa realizada preliminarmente, entre os futuros participantes do Círculo da Cultura. Observe abaixo alguns temas indicados a partir da pesquisa:
1) A natureza e o homem: O ambiente;
2) Relações do homem com a natureza: O trabalho;
3) O processo produtivo: O trabalho como questão;
4) Relações de trabalho (operário ou camponês);
5) Formas de expropriação: Relações de poder;
6) A produção social do migrante;
7) Formas populares de resistência e de luta.
 
Saiba Mais: Tema Gerador é utilizado na fase de Pós-Alfabetização
Posteriormente, a partir das palavras articuladoras e tema gerador, o animador conduzia a problematização, como se tudo fosse um jogo de adivinhação. O grupo sentia o exercício do diálogo, ao problematizar situações sugeridas a partir do contexto de sua própria realidade.
Exemplo de Palavra Geradora (Brandão, 2005, p. 31- 41): Salário.
A partir da palavra geradora surgiam idéias para provocar discussão, tais como:
• a valorização do trabalho e a recompensa.
• finalidade do salário: manutenção do trabalhador e de sua família.
• o horário do trabalho segundo a lei.
• o salário mínimo e o salário justo.
• repouso semanal — férias — décimo terceiro mês.
Finalidades da conversa:
• levar o grupo a discutir sobre a situação do salário dos camponeses.
• discutir o porquê dessa situação.
• discutir com o pessoal sobre o valor e a recompensa do trabalho.
• despertar no grupo o interesse de conhecer as leis do salário.
• levar o grupo a descobrir o dever que cada um tem de exigir o salário justo.
Encaminhamento da conversa:
• o que é que vocês estão vendo neste quadro?
• como é que está a situação do salário dos camponeses? por quê?
• o que é o salário?
• como deve ser o salário? por quê?
• o que é que a gente sabe das leis sobre o salário?
• o que podemos fazer para conseguir um salário justo?”
Posteriormente, o monitor apresentava aos participantes do Círculo da Cultura um outro cartaz com o nome de um de seus participantes, desdobrado em seus fonemas-partes. Exemplo: BENEDITO:
Be-ne-di-to
be bi ba bu bo
ne ni na nu no
di de da du do
to te ta tu ti
A partir dessa apresentação fazia a seguinte indicação: assim como uma casa tem as suas partes: quarto, cozinha; sala, varanda, os nomes próprios também os têm: Be - ne - di - to.” O monitor, ao ler, acompanhava com as mãos as sílabas, os fonemas, na medida em que os pronunciava, repetindo-os de acordo com as necessidades. Ainda indicava que cada pedaço do nome do Benedito tem a sua família. Ex: Be do Benedito, a família do Be: be, bi, ba, bu, bo. A família do ne: ne, ni, na, nu.
Quando alguém sugeria a ideia das vogais, o animador chamava a atenção sobre elas, até chegar o momento mais criativo do trabalho, quando era colocada diante de todos a ficha de descoberta, momento em que o grupo começa a criar, separar, juntar, compor famílias, formando inclusive palavras ou frases.
Primeiro os participantes liam os fonemas em todas as direções possíveis:
a) na horizontal — ba, be, bi, bo, bu;
b) na vertical — ba, na, da, ta;
c) em diagonais livres — ba, ne, di, to; bu, no, di, te;
d) salteadas, ao acaso — be, to, di, na, du.
A passagem de uma maneira de ler para uma outra era realizada quando o monitor sentia que cada ordem já estava bem reconhecida. Quando alguém no Círculo se animava a criar qualquer palavra, isso era muito incentivado. O coordenador do círculo construía apenas algumas poucas palavras. Apenas mostrava o processo de reconstrução de palavras.
Brandão (2005) comenta que os educandos eram incentivados a escrever em casa todas as palavras que fossem capazes de formar, iguais ou não às que foram formadas na reunião.
As dificuldades - o monitor trabalhava mais tempo – até quando o grupo já se sentisse pronto para enfrentá-las. Exemplo, para a palavra geradora casa a ficha de descoberta foi escrita assim: ca _ _ _ _ co cu;  sa se si so su e a questão de ce, ci, que, qui foi apresentada mais tarde, quando o grupo teve que conhecer a palavra: máquina. Entrepalavras geradoras os alunos formavam não só frases curtas, ou pequenas falas escritas, mas períodos: “ideias completas”.
As folhas que recebiam sugeriam incentivo todo o tempo para fazerem os seus próprios escritos: bilhetes aos companheiros, pequenas “redações”, notícias de fatos do lugar, jornal do grupo.
9 ALFABETIZAÇÃO E PÓS-ALFABETIZAÇÃO
De acordo com Brandão (2005), vencida a primeira etapa do processo de alfabetização, em alguns lugares abriu-se a possibilidade de se dar sequência aos trabalhos através de um projeto de Pós-Alfabetização. Entendido como exercício de aperfeiçoamento de leitura-escrita e cálculo, nesse momento não se trabalha mais com as Palavras Geradoras, mas sim com Temas Geradores.
Nessa etapa os alunos trabalham com análise de textos simples, retratando a leitura da realidade social, bem como as dificuldades da língua. Os alunos que apresentavam maior dificuldade em acompanhar o grupo

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