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ATPS 2 16 FAC III BELLINI

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FACULDADE ANHANGUERA CAMPINAS UNIDADE III
RA: 1584971810	ALEXANDRE DOS SANTOS HALLAIS 
RA: 8203921675	ANDERSON ROBERT DA SILVA
ATIVIDADE PRÁTICA SUPERVISIONADA - ATPS
DIREITO PROCESSUAL PENAL I
CAMPINAS – SP
2016
26
FACULDADE ANHANGUERA CAMPINAS UNIDADE III
ALEXANDRE DOS SANTOS HALLAIS
ANDERSON ROBERT DA SILVA
ATPS – Atividades Práticas Supervisionadas
Direito Processual Penal I
Trabalho destinado a obtenção de notas
Da matéria de Direito Processual Penal I da
Faculdade Anhanguera Educacional,
Direito 6° semestre.
prof. Dr. BELLINI
CAMPINAS – SP
2016
SUMÁRIO
4
CONSIDERAÇÕES INICIAIS	4
PRINCIPIO DA IMPARCIALIDADE DO JUIZ	6
PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO	8
PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA..............................................................................................11
PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL.....................................................................13
Princípio da Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos	15
Princípio DO FAVOR REI OU DO IN DUBIO POR REO	17
O CASO DOS IRMÃO NAVES x PRINCÍPIOS..................................................................20
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS..................................................................................27
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O processo penal é o instrumento necessário e suficiente à realização da jurisdição penal. A Constituição brasileira afirma que "ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal" (art. 5º, LIV). Por meio do processo, verifica-se se a ação ou omissão que estão abstratamente descritas na lei penal como proibidas (tipo penal) ocorreram, se sim se houve uma justificação, ou uma exculpante.
Cabe ao processo penal a averiguação das provas apresentadas pelas partes de acordo com suas linhas argumentativas, de modo o juiz seja livremente convencido e julgue o réu de acordo com seu entendimento acerca do fato investigado através das provas a ele trazidas nos autos.
O processo penal segue diversos procedimentos, ou ritos, de acordo com a natureza crime que pretende julgar, ou de acordo com a pena em abstrato prevista para tal delito. Os procedimentos previstos no Código de Processo Penal brasileiro são o rito ordinário, o rito sumário, o rito sumaríssimo (previsto na Lei nº 9.099/95, que estabelece os Juizados Especiais cíveis e criminais) e o rito do Tribunal do Júri.
Os resultados possíveis do processo penal são:
Absolvição, quando resta provado que o acusado não é autor do fato típico ou quando sobre ele incide uma ou mais excludentes de culpabilidade ou antijuridicidade; a absolvição libera o absolvido de quaisquer obrigações com o Estado ou com qualquer parte do processo.
Condenação, quando resta provado que o acusado é autor do fato típico, antijurídico e culpável; a condenação gera, na maior parte das vezes, a aplicação da sanção penal prevista em abstrato para o crime de que o réu foi considerado culpado, além de ensejar a possível responsabilidade civil ex delicto do réu para com a vítima;
Aplicação de medida de segurança, quando se determina que, embora autor da ação ou omissão típica e antijurídica, o réu é inimputável, ou seja, não possuía, no momento do fato, capacidade mental de entender a ilicitude de sua ação ou guiar-se de acordo com este entendimento; para aplicação de medida de segurança entende-se que o réu deve ser considerado perigoso para a sociedade devido ao transtorno mental que o torna inimputável, pelo que delibera-se interná-lo em instituição psiquiátrica para tratamento de sua patologia;
Aplicação de medida educativa, quando o acusado é autor do fato típico e antijurídico, mas, por não ter ainda atingido a idade mínima legal para sujeição à sanção penal (no Brasil, a idade de 18 anos), é submetido a medida educativa (nos termos do Estatuto da Criança e do Adolescente).
PRINCIPIO DA IMPARCIALIDADE DO JUIZ
O princípio da imparcialidade visa que o juiz entregue a sociedade a solução dos conflitos de interesse da forma mais imparcial possível, livre de vícios de interesses, que contaminam e impedem o proferimento de decisões justas, assim também é o pensamento do professor Paulo Rangel, vejamos:
A imparcialidade do juiz, portanto, tem como escopo afastar qualquer possibilidade de influência sobre a decisão que será prolatada, pois o compromisso com a verdade, dando a cada um o que é seu, é o principal objetivo da prestação jurisdicional.
Para o professor Fernando Capez o juiz situa-se na relação processual entre as partes e acima delas (caráter substitutivo), fato que, aliado à circunstância de que ele não vai ao processo em nome próprio, nem em conflito de interesses com as partes, torna essencial a imparcialidade do julgador. Trata-se da capacidade subjetiva do órgão jurisdicional, um dos pressupostos para constituição de uma relação processual válida. Para assegurar essa imparcialidade, a Constituição estipula garantias (art. 95), prescreve vedações (art.95, parágrafo único) e proíbe juízes e tribunais de exceção (art.5º XXXVII). Dessas regras decorre a de que ninguém pode ser julgado por órgão constituído após a ocorrência do fato.
Para Ana Flávia Messa o juiz deve decidir de forma imparcial, mantendo-se equidistante das partes. Quando suspeito ou impedido, não deve atuar no processo, de forma a garantir a imparcialidade.
As garantias da imparcialidade são: inamovibilidade, vitaliciedade e irredutibilidade de subsídios.
A imparcialidade do juiz é um pressuposto processual subjetivo exigido da pessoa do juiz.
Uma vez que o Estado é titular do poder jurisdicional, cabe a ele resolver os conflitos penais. Para tanto, é necessária a presença de um juiz imparcial para conduzir este processo, caso contrário haveria uma distorção no conceito de justiça, equidade e isonomia entre as partes, conforme explica Tourinho: “Não se pode admitir Juiz parcial. Se o Estado chamou a si a tarefa de dar a cada um o que é seu, essa missão não seria cumprida se, no processo, não houvesse imparcialidade do Juiz”.
Contudo, para que um Juiz seja considerado imparcial é preciso que ele se veja livre de influências externas e coações, sendo independente de qualquer outro órgão. Destarte, lhe são conferidas as garantidas constitucionais de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de subsídios. Ademais, se por outro motivo tenha afetada sua imparcialidade, cabe a parte arguir incidente de impedimento ou suspeição, nos termos dos artigos 252, 254 e 112, do Código de Processo Penal, o que tornaria obrigado a se abster do fato. Destarte, conseguimos enxergar de que maneira nosso ordenamento oferece ferramentas para que a imparcialidade do Magistrado seja sempre mantida.
PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO
Conforme artigo 5°, inciso LV, da C. F., temos: “Aos litigantes em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.
Essa participação das partes nos atos processuais tem por escopo colocar autor e réu em situação de igualdade processual, tendo ambos a oportunidade de se pronunciar sobre todos os atos processuais que venham ocorrer no processo.
Para Fernando Capez a bilateralidade da ação gera a bilateralidade do processo, de modo que as partes, em relação ao juiz, não são antagônicas, mas colaboradoras necessárias. O juiz coloca-se, na atividade que lhe incumbe o Estado –Juiz, equidistante das partes, só podendo dizer que o direito preexistente foi devidamente aplicado ao caso concreto se, ouvida uma parte, for dado à outra manifestar-se em seguida. Por isso, o princípio é identificado na doutrina pelo binômio ciência e participação.
Decorre do brocardo romano audiatur et altera pars e exprime a possibilidade, conferida aos contendores, de praticar todos os atos tendentes a influirno convencimento do juiz. Nessa ótica, assumem especial relevo a fase da produção probatória e da valoração das provas. As partes têm o direito não apenas de produzir suas provas e de sustentar suas razões, mas também de vê-las seriamente apreciadas e valoradas pelo órgão jurisdicional.
Compreende, ainda, o direito de serem cientificadas sobre qualquer fato processual ocorrido e a oportunidade de manifestarem-se sobre ele, antes de qualquer decisão jurisdicional (CF, art.5º, LV). A ciência dos atos processuais é dada através da citação, intimação e notificação. Citação é a cientificação a alguém da instauração de um processo, com a consequente chamada para integrar a relação processual. Intimação é a comunicação a alguém de atos do processo, podendo conter um comando para fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Embora nosso código não faça distinção, doutrinariamente a intimação refere-se a atos ou despachos já proferidos no processo, enquanto a notificação consiste em uma comunicação à parte para que faça ou deixe de fazer alguma coisa. Assim, intima-se “de” e notifica-se “para” algum ato processual. A notificação não deve ser empregada como ato de comunicação processual, embora às vezes seja usada nesse sentido,
Em casos de urgência, havendo perigo de perecimento do objeto em face da demora na prestação jurisdicional, admite-se de medidas judiciais inaudita altera parte, permissivo que não configura exceção ao princípio, já que, antes da prolação do provimento final, deverá o magistrado, necessariamente, abrir vista à outra parte para se manifestar sobre a medida, sob pena de nulidade do ato decisório; o contraditório é apenas diferido.
A importância do contraditório foi realçada com a recente reforma do código de processo penal, a qual trouce limitação ao livre convencimento do juiz na apreciação das provas, ao vedar a fundamentação da decisão com base exclusiva nos elementos informativos colhidos na investigação, exigindo-se prova produzida em contraditório judicial, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas (cf. art. 155). O legislador manteve, dessa forma, a interpretação jurisprudencial já outrora sedimentada, no sentido de que a prova do inquérito não bastaria exclusivamente para condenação, devendo ser confirmada por outras provas produzidas em contraditório judicial. Ressalvada a lei as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
Para a professora Ana Flávia Messa o réu deve conhecer da acusação para produzir a defesa e as provas necessárias. Deve existir paridade de armas para as partes, que devem ser ouvidas e ter oportunidade de se manifestar. As partes têm o direito de ser cientificadas do processo. É também conhecido por princípio da bilateralidade da audiência.
Não há contraditório no inquérito policial, salvo no inquérito para expulsão de estrangeiro. Pela sua natureza inquisitorial e informativa, sendo fase investigatória, preparatória da acusação, destinada a subsidiar a atuação do órgão ministerial na persecução penal, a fase do inquérito policial não está sujeita aos princípios do contraditório e da ampla defesa. Há posicionamento minoritário que defende a aplicação do contraditório no inquérito policial, pois a Constituição Federal, ao prever a garantia do contraditório, prevê sua aplicação em qualquer processo judicial ou administrativo.
Na clássica lição de Joaquim	Canuto	 Mendes de Almeida, sempre se compreendeu o princípio do contraditório como a ciência bilateral	dos atos ou termos do	processo e a possibilidade de contrariá-los. De acordo com esse conceito, o núcleo fundamental do contraditório estaria ligado à discussão dialética dos fatos da causa devendo se assegurar a ambas as partes, e não somente à defesa, a oportunidade de fiscalização recíproca dos atos praticados no curso do processo. Eis o motivo pelo qual se	vale a doutrina da expressão “audiência bilateral”, consubstanciada pela expressão em	latim	audiatur et altera pars (seja ouvida	também a parte adversa). Seriam dois, portanto, os elementos do contraditório:	
a) direito à informação;	 
b) direito de participação.
O Contraditório seria assim necessária informação	às partes e a possível	reação	a atos desfavoráveis.
PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA
Para Fernando Capez implica o dever de o Estado proporcionar a todo acusado a mais completa defesa, seja pessoal (autodefesa), seja técnica (efetuada por defensor – CF, art5º, LV), e o de prestar assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados (CF, art5º LXXIV). Desse princípio também decorre a obrigatoriedade de se observar a ordem natural do processo, de modo que a defesa se manifeste sempre em último lugar. Assim, qualquer que seja a situação que dê ensejo a que, no processo penal, o Ministério Público se manifeste depois da defesa (salvo, é óbvio, nas hipóteses de contrarrazões de recurso, de sustentação oral ou de manifestação dos procuradores de justiça, em segunda instância), obriga, sempre, seja aberta vista dos autos à defensoria do acusado, para que possa exercer seu direito de defesa na amplitude que a lei consagra. O pacto internacional de direitos civis e políticos, em seu art. 14, 3, d, assegura a toda pessoa acusada de infração penal o direito de se defender pessoalmente e por meio de um defensor constituído ou nomeado pela justiça, quando lhe faltarem recursos suficientes para contratar algum.
Para a professora Ana Flávia Messa o princípio da ampla defesa é dividido em duas partes: autodefesa e defesa técnica.
A autodefesa é concretizada pelo direito de presença, ou seja, o direito de acompanhar o desenvolvimento do processo e pelo direito de audiência, ou seja, o direito de ser ouvido e de se manifestar. 
Já a defesa técnica é concretizada pela representação de um profissional habilitado, podendo ser constituído (nomeado pela parte) ou dativo (nomeado pelo juiz); a defesa técnica será sempre exercida por meio de manifestação fundamentada.
O art.261 do CPP assegura que nenhum acusado, ainda que ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor.
Para o professor Renato Brasileiro de acordo com	o art. 5º, LV, da Magna Carta, “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. Sob a ótica que privilegia o interesse do acusado, a ampla defesa pode ser vista como um direito; todavia, sob o enfoque publicístico, no qual prepondera o interesse geral de um processo justo, é vista como garantia.
O direito de defesa está ligado diretamente ao princípio do contraditório. A defesa garante o contraditório e por ele se manifesta. Afinal, o exercício da ampla defesa só é possível em virtude de um dos elementos que compõem o contraditório – o direito à informação. Além disso, a ampla	defesa	se exprime por intermédio de seu segundo elemento: a reação. Apesar da influência recíproca entre o direito de defesa e o contraditório, os dois não se confundem. Com efeito por força do princípio do devido processo legal, o processo penal exige partes em posições antagônicas, uma delas obrigatoriamente em posição de defesa (ampla defesa), havendo a necessidade de que cada uma tenha o direito de se contrapor aos atos e termos da parte contrária (contraditório). Como se vê, 	a defesa e o contraditório são manifestações simultâneas, intimamente ligadas pelo processo, sem que daí se possa concluir que uma derive da outra.
Como há distinção, “é possível violar-se o contraditório, sem que se lesione o direito de defesa. Não se pode esquecer que o princípio do contraditório não diz respeito apenas à defesa ou aos direitos do réu. O princípio deve aplicar-se em relação a ambas as partes, além de também ser observado pelo próprio juiz. Deixar	de comunicar um determinado ato processual ao acusador, ou lhe impedir a reação à determinada prova ou alegação da defesa, embora não represente violação do direito de defesa, certamente violará o princípio do contraditório.PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL
Para Fernando Capez consiste em assegurar à pessoa o direito de não ser privada de sua liberdade e de seus bens, sem a garantia de um processo desenvolvido na forma que estabelece a lei (due proecess of law – CF, art 5º, LIV). No âmbito processual garante ao acusado a plenitude de defesa, compreendendo o direito de ser ouvido, de ser informado pessoalmente de todos os atos processuais, de ter acesso à defesa técnica, de ter a oportunidade de se manifestar sempre depois da acusação e em todas as oportunidades, à publicidade e motivação das decisões, ressalvadas as exceções legais, de ser julgado perante o juízo competente, ao duplo grau de jurisdição, à revisão criminal e à imutabilidade das decisões favoráveis transitadas em julgado. Deve ser obedecido não apenas em processos judiciais, civis e criminais, mas também em procedimentos administrativos, inclusive militares, e até nos procedimentos administrativos do Estatuto da Criança e do Adolescente. Na mesma esteira, “o Supremo Tribunal Federal fixou jurisprudência no sentido de que os princípios do contraditório e da ampla defesa, ampliados pela Constituição de 1988, incidem sobre todos os processos, judiciais ou administrativos, não se resumindo a simples direito, da parte, de manifestação e informação no processo, mas também à garantia de que seus argumentos serão analisados pelo órgão julgador, bem assim o der ouvido também em matéria jurídica, Precedentes”(STF, 2ºT., RE-AgR492783/RN, rel. Min Erro Grau, j.3-6-2008). Seguindo esse entendimento, o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula 343, segundo a qual “É obrigatória a presença de advogado em todas as fases do processo administrativo disciplinar”. Entretanto, contrariando a sua própria jurisprudência, o Supremo Tribunal Federal acabou se manifestando novamente sobre a matéria, gerando a Sumula vinculante 5, segundo a qual “A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição”, o que acabou por originar a proposta de cancelamento da referida súmula, apresentada pelo Conselho Federa da Ordem dos Advogados do Brasil, perante o Supremo Tribunal Federal. 
Para a professora Ana Flavia Messa o princípio do devido processo legal é previsto no art.5º, LIV, da Constituição Federal (ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”) e originado da Magna Carta da Inglaterra de 1.215.
O o princípio do devido processo legal possui dois sentidos: o material e o formal. O material é a tutela da vida, liberdade e da propriedade e a edição de normas razoáveis. Na formal o processo deve se desenvolver conforme a lei, com publicidade, justiça e imparcialidade do órgão julgador.
Do princípio do devido processo legal, decorrem as seguintes garantias: desenvolvimento do processo na forma da lei, com ampla defesa, direito de ser ouvido, direito de ser informado dos atos processuais, de ter acesso à defesa técnica, direito de manifestação, publicidade do processo, motivação das decisões judiciais, juiz competente, duplo grau de jurisdição.
Tourinho Filho (2012, p.84) leciona que, no Brasil, anteriormente à Constituição hoje vigente, mesmo sem a expressa previsão legal, já se observava o princípio do due process of law. Contudo, com o advento da Constituição democrática, o princípio foi erigido à categoria de dogma constitucional.
Atraindo as influências do direito constitucional norte-americano, assevera:
A V Emenda da Constituiçãonorte-americanajáproclamaque "no person shall be... Deprived of life, liberty or property without due process of law...”. E esse" due process of law "nada mais representava do que" the law of the land ". Ninguém pode ser privado da sua liberdade senão de acordo com o que estabelecem as nossas leis. (TOURINHO FILHO, 2012, p. 84)
Princípio da Inadmissibilidade das Provas Obtidas por Meios Ilícitos
A nossa Constituição Federal garante que toda e qualquer prova obtida por meios ilícitos não será admitida em juízo. Corrobora com essa premissa o artigo 157, do Código de Processo Penal que prevê que: “São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais”. Destarte, toda prova que afrontar a legislação constitucional ou ordinária, ferindo direitos materiais ou processuais, não será admitida em juízo.
Contudo, para essa regra há uma exceção ditada pelo princípio da proporcionalidade, a qual permite a utilização da prova ilícita se a mês for favorável à defesa. Pois, a pena posta em julgamento atingirá a liberdade do indivíduo e no momento de ponderação entre este direito fundamental que será afetado e o direito sacrificado, prevalece o primeiro, conforme nos explica Fernando da Costa Tourinho Filho:
Na verdade, se a proibição da admissão das provas ilícitas está no capítulo destinado aos direitos fundamentais do homem, parece claro que o princípio visa a resguardar o réu. Sendo assim, se a prova obtida por meio ilícito é favorável à Defesa, seria um não senso sua inadmissibilidade. É que entre a liberdade e o direito de terceiro sacrificado deve pesar o bem maior, no caso a liberdade, pelo menos como decorrência do princípio do favor libertatis.13
Enfim, exceto na hipótese mencionada as provas vedadas no processo não são apenas as ilícitas, mas também aquelas que dela decorrerem, ou seja, quando a prova depender de meios ilícitos para ser produzida (ferimento dispositivos constitucionais ou infraconstitucionais). Este corolário é decorrente da expressão provinda do direito americano: fruits of the poisonous tree e protege a parte da obtenção ilícita de informações que se projetam sobre diligências que aparentam legalidade, mas estão mareadas peço estigma da ilicitude penal.
Contudo, se esta prova pudesse ser produzida por meio probatório completamente desvinculado da ilicitude que se encontra na praxe das investigações penais, a prova não pode nem deve ser desentranhada do processo, conforme demando o artigo 157, § 1º, do Código de Processo Penal. Destarte, enxergamos mais uma vez em nosso procedimento criminal a garantia dada ao indivíduo da legalidade e constitucionalidade que deve reger todo processo, inclusive a fase investigativa.
Para Fernando Capez conforme CF em seu artigo 5º, LVI as provas obtidas por meios ilícitos constituem espécie das chamadas provas vedadas.
Prova vedada é aquela produzida em contrariedade a uma norma legal específica. A vedação pode ser imposta por norma de direito material ou processual. Conforme a natureza desta, a prova poderá ser catalogada como ilícita ou ilegítima, respectivamente.
Assim, ao considerar inadmissíveis todas as provas obtidas por meio ilícitos, a Constituição proíbe tanto a prova ilícita quanto a ilegítima.
Provas ilícitas são aquelas produzidas com violação a regras de direito material, ou seja, mediante a prática de algum ilícito penal, civil ou administrativo. Podemos citar como exemplos: a diligência de busca e apreensão sem previa autorização judicial ou durante a noite; a confissão obtida mediante tortura. A interceptação telefônica sem autorização judicial; o emprego do detector de mentiras; as cartas particulares interceptadas por meios criminosos etc. Provas ilegítimas são as produzidas com violação as regras de natureza meramente processual, tais como: o documento exibido em plenários do Júri, com desobediência ao disposto no art. 479, caput (CPP); o depoimento prestado com violação à regra proibitiva do art.207 (CPP) (sigilo profissional) etc.
As provas ilícitas passaram a ser disciplinadas pela lei n 11.690/2008, a qual modificou a redação do art. 157 do CPP, dispondo que “São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em violação às normas constitucionais ou legais”. Portanto, a reforma processual penal distanciou-se da doutrina e da jurisprudência pátria, que distinguiam as provas ilícitas das ilegítimas, concebendo comoprova ilícita tanto aquela que viole disposições materiais quanto processuais.
Princípio DO FAVOR REI OU DO IN DUBIO POR REO
O princípio da presunção de inocência, hoje convertido em garantia fundamental do indivíduo pela Constituição Federal de 1988, no inciso LVII, do art. 5º, estabelece que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.
A liberdade é um direito transindividual, ou seja, transcende a figura do indivíduo, e como visto o Estado tem o dever de resguardá-la, portanto sempre que o julgador estiver diante de uma dúvida insuperável entre punição e liberdade, deverá prevalecer a liberdade do acusado, utilizando-se para isto do Princípio do Favor rei ou Favor libertatis. 
O Favor Rei deve ser entendido como gênero do qual são espécies o In dubio pro reo, a reserva legal ou princípio da legalidade, a retroatividade da lei penal mais benéfica ou princípio anterioridade da lei penal, proibição da reformatio in pejus, do non bis in idem, entre outros que visam assegurar ao máximo a liberdade do indivíduo perante o poder punitivo do Estado. 
“Inicialmente, faz-se necessário esclarecer que o princípio favor rei, muito embora comumente utilizado como sinônimo de outros princípios do Direito Penal e Processual Penal, é, em verdade, gênero, do qual os princípios do in dubio pro reo, por exemplo, é uma das espécies. (…) O princípio do favor rei, ou favor libertatis, consiste basicamente numa diretriz do Estado Democrático de Direito que dispensa ao réu um tratamento diferenciado, baseando-se precipuamente na predominância do direito de liberdade, quando em confronto com o direito de punir do Estado”. (QUEIROZ, 2014, p.102) 
Explicando melhor o princípio do in dubio pro reo decorre do Favor Rei, porém o in dubio pro reo é uma regra de julgamento, afirma tal mandamento que em caso de dúvidas na sentença o Juiz deve absolver o réu, ou seja, esta regra se apresenta no momento de sentenciar quando ainda restar dúvida ao julgador sobre a culpa do acusado, deverá então absolvê-lo por insuficiência de provas. Logo, é um princípio que resguarda o direito de liberdade, pois, diante de dúvidas relativas aos fatos trazidos ao processo por não conseguir a acusação provar suas teses, deverá o julgador se utilizar do in dubio pro reo e absolver o acusado.
“A dúvida sempre milita em favor do acusado (in dubio pro reo). Em verdade, na ponderação entre o direito de punir do Estado e o status libertatis do imputado, este último deve prevalecer. Como mencionado, este princípio mitiga, em parte, o princípio da isonomia processual, o que se justifica em razão do direito à liberdade envolvido – e dos riscos advindos de eventual condenação equivocada” (TÁVORA; ALENCAR, 2014, p.76).
	Novamente refrisamos que os princípios da presunção de inocência e in dubio pro reo não se confundem, nem são sinônimos. Pode-se, no entanto, estabelecer que o princípio in dubio pro reo é uma decorrência do princípio da presunção de inocência, bem como do princípio do favor rei que proclama que "no conflito entre o jus puniendi do Estado, por um lado, e o jus libertatis do acusado, por outro lado, a balança deve inclinar-se a favor deste último se se quiser assistir ao triunfo da liberdade." (BETIOL apud TOURINHO FILHO, 2003, p. 71). O princípio da presunção de inocência encontra variações em sua definição, alguns chamam-no de princípio do estado de inocência, sendo que a expressão mais utilizada atualmente é princípio da presunção constitucional de não-culpabilidade.
	O princípio da presunção de inocência, como estabelece Capez (2003, p. 39), pode ser dividido em três aspectos ou em três momentos processuais distintos. Como sustenta Gomes Filho, a denominada presunção de inocência constitui princípio informador de todo o processo penal, concebido como instrumento de aplicação de sanções punitivas em um sistema jurídico no qual sejam respeitados; fundamentalmente, os valores inerentes à dignidade da pessoa humana; como tal as atividades estatais concernentes à repressão criminal. (1991, p. 37).
	O primeiro aspecto refere-se que, no curso do processo penal, o tratamento a ser dado ao imputado é o de inocente, pois este será assim presumido até sentença penal irrecorrível que o declare culpado. Dessa forma, impede-se qualquer ato antecipado de juízo condenatório, e, caso isso ocorra, somente será possível se fundamentado em elementos concretos de periculosidade do acusado, por exemplo, a análise de necessidade da prisão como medida cautelar. Ou seja, o acusado somente terá sua liberdade restringida, antes de sentença condenatória definitiva, quando a medida cautelar for necessária e conveniente conforme a lei estabelece. Este aspecto do princípio da presunção de inocência tem como finalidade, segundo René Ariel Dotti, dar garantia ao acusado do exercício dos seus direitos civis e políticos enquanto esses não forem direta e expressamente afetados por sentença penal condenatória com trânsito em julgado ou por medidas cautelares. (apud SOUZA NETTO, 2003, p. 155).
	O segundo aspecto do princípio da presunção de inocência diz respeito ao ônus da prova no momento da instrução processual, pois, devido ao estado de inocência, o acusado não tem necessidade de provar nada, recaindo ao acusador o ônus da prova.
	O terceiro aspecto trata do momento da avaliação da prova. Aqui, quando houver insuficiência de provas para a condenação, o juiz deve prolatar sentença penal absolutória, pois no processo penal de um Estado democrático de direito, tutelador da liberdade, é melhor uma possível absolvição de um culpado, do que uma possível condenação de um inocente. Trata-se do princípio in dubio pro reo que, segundo René Ariel Dotti, aplica-se "sempre que se caracterizar uma situação de prova dúbia, pois a dúvida em relação a existência ou não de determinado fato deve ser resolvida em favor do imputado." (apud SOUZA NETTO, 2003, p. 155). 
O CASO DOS IRMÃO NAVES x PRINCÍPIOS
Em 1937 teve início um dos casos mais célebres de injustiça e erro judiciário de nosso país, o caso dos irmãos Naves. Dois irmãos simples da cidade de Araguari em Minas Gerais são os protagonistas desta triste história. Sebastião José Naves contava com trinta e dois anos, enquanto seu irmão, Joaquim Rosa Naves, vinte e cinco. Ambos trabalhavam na lavoura e comercialização de cereais. Joaquim também era sócio de seu primo, Benedito Pereira Caetano, outra figura notável nesse episódio, em um caminhão Ford V-8, que transportava as mercadorias. Benedito compra muitas sacas de arroz, gasta 136:000$000 (cento e trinta e seis contos de réis), esperando revendê-las e lucrar consideravelmente. Contudo, o preço do arroz cai, e recebe apenas um cheque no valor 90:048$500 por toda mercadoria. Não haveria lucro, aliás, a soma não cobriria todas as suas dívidas. Logo após receber o cheque Benedito resolve sacá-lo e, dois dias depois, desaparece.
	Os irmãos procuram o primo que estava hospedado na casa de Joaquim, visitam sua amante, Floriza, o fornecedor e o comprador das sacas de arroz. Com o passar do tempo, a preocupação aumenta e eles procuram a polícia, relatando, ao delegado Ismael do Nascimento, os últimos fatos. A polícia realiza buscas, porém Benedito não estava na fazenda dos pais, nem em parte alguma.
	O inquérito é instaurado, os irmãos Naves, bem como Floriza, José Lemos (comprador das sacas de café) e outros dois amigos do desaparecido são testemunhas. Eles recontam os últimos momentos com Benedito, na festa de inauguração de uma ponte, entre Araguari e Goiás. Joaquim explica que depois da comemoração, jantaram em casa e o primo resolveu sair para passear no parque de diversões, levando toda a importância de que era portador. Floriza conta que, na verdade, dançou com o desaparecido no cabaré naquela madrugada, mas não haviam passado a noite juntos. 
	Estava difícil resolver o sumiço de Benedito, a polícia não tinha pistas e a pressão popular aumentava.
	Nada. Tudo sem rumo. O povoinquieto. O delegado malvisto. Mole. Mole. Mas não era. Honesto, sensato. Não via, não atirava no escuro. Podia acertar noutro. Não queria ser perigoso, nem injusto.
	Na busca por uma solução do caso, um delegado militar é convocado para conduzir as investigações, Francisco Vieira dos Santos, figura central para a transformação do episódio. No mesmo dia em que assume o posto, intima novas testemunhas. Dentre elas, José Prontidão, que trabalha no mesmo ramo dos irmãos Naves e afirma ter visto e trabalhado com Benedito em Uberlândia, pouco tempo após seu desaparecimento.
	Dona Ana Rosa Naves, mãe dos irmãos e de mais outros 12 filhos, viúva, contava com sessenta e seis anos, foi ouvida pelo delegado e confirmou a versão de Prontidão. Em seguida, o delegado tomou os depoimentos da esposa de Sebastião, Salvina e a de Joaquim, Antônia. Ambas sabiam que na noite anterior ao sumiço do primo, os irmãos estavam nas respectivas casas. Um amigo de Benedito, Orcalino da Costa, em seu testemunho sugeriu que os responsáveis pelo desaparecimento de Benedito eram os irmãos Naves. O delegado preferiu seguir esta última "pista".
	Os Naves e Prontidão são presos, sofrem muitas agressões, passam fome e sede. O último não aguenta a tortura por muito tempo, modifica seu testemunho, diz que os irmãos mandaram-no dizer aquelas coisas em troca de uma gratificação posterior. Deste modo, o delegado consegue a acusação que tanto desejava para revelar aquele "crime", mas ainda espera a confissão. Neste ponto da história temos muitas violações à diversos princípios. Dentre eles podemos citar: 
	- A dignidade da pessoa humana (“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: II - a dignidade da pessoa humana;)
	- O princípio da legalidade é a garantia lícita para se basear nos alicerces codificados no Código Penal. Diz respeito à obediência às leis. Por meio dele, ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude de lei. Tal princípio tem sua previsão expresso no artigo 5º, inciso II da constituição brasileira de 1988. Ao Estado só é permitido fazer aquilo que está descrito em lei. Torturar, não está permitido dentro de nosso ordenamento jurídico.
	- Conforme artigo 5º da CF/88, inciso LVI, são inadmissíveis as provas obtidas por meios ilícitos que fere o princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meio ilícito.
	Os irmãos continuam presos no porão da delegacia, nus, ainda sem receber alimentos ou água, apanhando muito, porém nada diziam. Assim sendo, prendem Dona Ana, retiram-lhe as roupas e mandam os filhos baterem na mãe idosa, e eles, obviamente, recusam-se. Todos são torturados, Dona Ana chega a ser estuprada, porém é solta após alguns dias e procura um advogado. Já não era a primeira vez em que ela procurava o Dr. João Alamy Filho, que, por fim, resolve defender os irmãos.
	Aqui neste ponto da história podemos ver que vários outros princípios foram quebrados:
- O tratamento que receberam é pior que o de um condenado. Aqui foi quebrado o princípio da inocência ou princípio da presunção da não culpabilidade conforme previsão no art5°, LVII, pelo qual ninguém será considerado culpado até o transito em julgado da sentença penal condenatória. O princípio do estado de inocência decorre do devido processo legal.
- Foram ofendidos aqui também os princípios do devido processo legal, do contraditório, da ampla defesa, do in dubio pro reo.
	O primeiro habeas corpus data de janeiro de 1938 e relata a prisão ilegal dos irmãos com a finalidade de que "confessem a sua suposta autoria ou responsabilidade pelo desaparecimento de Benedito Pereira da Silva". 
	Novas testemunhas são ouvidas, como Guilherme Malta Sobrinho, que afirma ter visto o caminhão de Joaquim na madrugada do dia 23 de novembro além de acreditar que os irmãos são os responsáveis pelo desaparecimento de Benedito. Enquanto isso, os irmãos continuam presos, o defensor dos Naves conta:
	Dia a dia, levava os presos pro mato. Longe. Onde ninguém visse. Nos ermos cerradões das chapadas de criar emas. Batia. Despia. Amarrava às árvores. Cabeça pra baixo, pés pra cima. Braços abertos. Pernas abertas. Untados de mel. De melaço. Insetos. Formigas. Marimbondos. Mosquitos. Abelhas. O sol tinia de quente. Árvore rala, sem sombra. Esperava. Esperavam. De noite cadeia. Amarrados. Amordaçados. Água? Só nos corpos nus. Frio. Dolorido. Pra danar. Pra doer. Pra dar mais sede. Pra desesperar.
	Entretanto, a única técnica efetiva de tortura é a separação dos irmãos. Forjam o assassinato de Sebastião, e Joaquim, apavorado, não mais resiste e decide confessar o "crime". Declara, no dia 12 de janeiro de 1938, que ele e seu irmão convidaram Benedito para um passeio a Uberlândia, e no meio do caminho, decidiram tomar água na margem do rio. Neste momento, Sebastião agarrou Benedito pelas costas e ele, Joaquim, introduziu uma corda no pescoço do primo, apertando-o. Deste modo, o primo desfaleceu e os irmãos acharam um pano em sua cintura, contendo a importância de noventa contos de réis, os quais foram postos em uma lata de soda, preparada anteriormente. Em seguida, atiraram o cadáver do primo na cachoeira do Rio das Velhas. No caminho de volta para Araguari, escolheram uma moita de capim-gordura, entre duas árvores, aonde cavaram um buraco e esconderam o dinheiro roubado. A última parte do plano, era procurar Benedito assim que retornassem à cidade, para que não se tornassem suspeitos do delito.
	O delegado levou Joaquim para que pudesse reconstituir o crime. Também houve busca e apreensão, que resultou negativa, já que não foram encontrados o pano que envolvia o dinheiro e muito menos a lata com os noventa contos. Não havia o que procurar, era impossível encontrar objetos que nunca foram usados, pois tal crime não havia ocorrido. Também não se achava o cadáver de Benedito. Destarte, ignora-se o exame do corpo de delito direto ou indireto, e baseia-se somente em uma "confissão".
	Joaquim estava tão desesperado para conferir alguma veracidade a sua confissão falsa que chegou a envolver seu cunhado, Inhozinho, que negou ter recebido os noventa contos de réis. Ele explicou que fazia negócios com o cunhado, mas só havia recebido três contos durante aquele período.
	As autoridades policiais também tentaram dar outro defensor aos irmãos, que inseguros, recusam a oferta e mantém como advogado João Alamy Filho. Também prendem, novamente, Dona Ana, que se recusou a assinar o depoimento e contou:
	Tudo quanto se tem dito contra si é pura mentira, pois está absolutamente inocente (...)que seus filhos e sua nora estão doidos (...) se não estão doidos confessaram-se autores da morte de Benedito de medo de sofrerem espancamentos por parte da polícia.
	O processo é bastante tumultuado, depois da denúncia do Ministério Público, ingressa o pai de Benedito, como assistente de acusação. É importante ressaltar que Dona Ana também é acusada, como cúmplice do latrocínio. Tanto os irmãos Naves, quanto sua mãe, ficam presos durante a instrução do processo. As esposas são presas e até mesmo os filhos de Sebastião são presos, privados de alimentação e agasalho, chegando a falecer o menor deles. Outro habeas corpus é impetrado, mas apesar de ser concedido, em 5 de março de 1938, a ordem não foi cumprida.
	A decisão de pronúncia, de 21 de março de 1938, aponta:
	O crime de que se ocupa esse processo é da espécie daqueles que exigem do julgador inteligência aguda, atenção permanente, cuidado extraordinário no exame das provas, pois, no Juízo Penal, onde estão em perigo à honra e liberdade alheias, deve o julgador preocupar-se com a possibilidade de um tremendo erro judiciário.
	No caso em apreço, em que o cadáver da vítima não apareceu, como não apareceu também o dinheiro furtado, a prova gira em quase que exclusivamente em torno das confissões prestadas pelos indiciados à autoridade policial, sendo notar que o patrono dosacusados, nas razões de fls. 143, informa ao juiz que tais confissões foram extorquidas e são produto da truculência, dos maus tratos e da desumanidade de que fez uso e abuso o delegado nas investigações primárias do delito.
	Apesar da exposição acima, conclui o juiz que é procedente a denúncia em relação aos irmãos Naves, entendendo pela improcedência somente em relação à Dona Ana, pois sua cumplicidade deu-se após o fato. Esquecem de que os noventa contos também não pertenciam integralmente à vítima, aliás, apenas um décimo daquela quantia lhe cabia.
	Os réus recorreram da decisão de pronúncia, mas o Tribunal de Apelação de Minas Gerais negou provimento ao recurso, por conseguinte, foram levados ao Tribunal do Júri. Em junho de 1938, o juiz, Merolino Raimundo de Lima Corrêa pergunta a Sebastião o que ele pode alegar em sua defesa e ele lhe responde:
	O que assinou e consta do processo o fez por medo e devido aos maus tratos recebidos da polícia; que o fizeram tomar purgante de 15 em 15 minutos, sentado sobre tachinhas; que foi amarrado e surrado até falar mentiras embora resistindo durante 38 dias; que apanhou tanto que ficou com o corpo coberto de sangue, sofrendo injustiças e suplícios; que esses suplícios alcançaram sua própria mãe, a qual nua, foi seviciada na polícia, que jura sua inocência em nome de Deus e de seus filhos.
	Já quando o juiz indaga o outro réu, ele responde:
	Que não deve o crime que lhe é imputado; que se falou à polícia o que consta dos autos, foi a poder de pancadas, que se confirmou o que havia dito à polícia no interrogatório feito pelo Juiz do sumário foi devido a insinuação da própria polícia, que lhe fez ameaças extremas caso não confirmasse; que tem sido bastante judiado na polícia e pede intervenção do MM Juiz para que cessem os maus tratos infligidos.
	O júri negou a autoria dos fatos aos acusados, absolvendo-os por seis votos a um. Contudo, os réus deveriam permanecer presos, para o processamento da apelação. A promotoria interpõe recurso devido a decisão do júri não ser unânime, desta forma, os réus vão novamente a julgamento pelo tribunal popular.
	Em março de 1939 ocorre o segundo júri, Joaquim foi absolvido por cinco votos a dois e Sebastião, seis a um. Entretanto, cabe novo recurso do Ministério Público, tendo em vista à falta de unanimidade da decisão. Destarte, em julho de 1939, a Câmara Criminal do Tribunal de Apelação de Minas Gerais dá provimento ao recurso, cassando a decisão do júri. Os irmãos são condenados a cumprir pena de 25 anos e 6 meses de prisão, além de pagar multa de 16 ¼ sobre o valor do objeto roubado.
	A defesa pede revisão criminal, em 1940, que é negada, apesar de a pena ser reduzida para 16 anos e 6 meses. Já em 1942, os réus pedem indulto ao Presidente Getúlio Vargas, que não é atendido. Somente em 1946 conseguem o deferimento do pedido de livramento condicional e voltam para Araguari. Contudo, Joaquim sofre de uma doença grave e morre em 1948 em um asilo da cidade. Cabe a Sebastião provar sua inocência, bem como a do irmão falecido.
	E somente em 24 de julho de 1952 o caso teve uma revira-volta, já que Benedito Pereira Caetano reaparece vivo na fazenda de seus pais, em Nova Ponte. Ele é visto por Prontidão, que avisa sobre a "ressurreição de Benedito" a Sebastião, o qual acompanhado de alguns policiais e de um repórter do Diário de Minas, dirigem-se à fazenda para reencontrar o primo, tido como morto por todos aqueles anos.
	No momento do reencontro Benedito teme, mas Sebastião o abraça e diz: "– Graças a Deus te encontrei para provar a minha inocência. Ninguém te quer matar, vem para a cidade, pro povo ver que você está vivo e que eu sou inocente".
	Assim, Benedito volta a Araguari, onde é quase linchado por conta da ira popular, é preso preventivamente, acusado de apropriação indébita. Fica detido por nove dias, mas já havia decorrido o prazo prescricional da pena do suposto ilícito, e sua prisão é relaxada.
	Após o reaparecimento de Benedito, Sebastião e a viúva de Joaquim pleiteiam a revisão criminal cumulada com indenização, a qual é deferida em 1953. Contudo, o valor só é pago em 1962.
	É importante ressaltar que na época desse triste caso, o Brasil enfrentava um período ditatorial e os cidadãos tinham seus direitos e garantias limitados. A subversão à ordem democrática e jurídica deu ensejo à realização do que pode ser considerado o maior erro judiciário brasileiro. Ao longo do caso, nota-se inúmeros desrespeitos tanto ao direito material de suas vítimas quanto à ordem processual vigente na época. Outro ponto relevante é a utilização da confissão como a "rainha das provas"
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
Messa, Ana Flávia. Curso de direito Processual Penal – Concursos Públicos e OAB. São Paulo: Saraiva, 2014.
 
CAPEZ, Fernando. Curso de Processual Penal. 21 ed., São Paulo: Saraiva, 2014.
 
https://www.dicio.com.br/
https://jus.com.br/
https://jus.com.br/artigos/8513/aspectos-do-principio-da-presuncao-de-inocencia-e-do-principio-in-dubio-pro-reo
http://ambito-juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=17138
http://www.revistaliberdades.org.br/site/outrasEdicoes/outrasEdicoesExibir.php?rcon_id=58

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