Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O Psicoterapeuta como Estímulo discriminativo para a normalidade Rodolpho Carbonari Sant’Anna Kohlenberg e Tsai(1991) em sua prosposta da Psicoterapia Analítico Funcional,afirmam: “Tudo que um Terapeuta pode fazer para ajudar seus clientes ocorre durante a sessão. Para o Behaviorismo Radical as ações do Terapeuta afetam o cliente via três funções de estímulo: 1) Discriminativa 2) Eliciadora, 3) Reforçadora. (p.17) A partir do momento que o psicoterapeuta e o cliente passam a interagir em seus respectivos papéis, o psicoterapeuta entra no contexto do cliente e seu poder de controle estará relacionado ao lugar que ele passa a ocupar nas contingências contextuais do cliente. Essa interação é predominantemente verbal e nela o psicoterapeuta participa segundo as regras estabelecidas pela comunidade verbal compartilhada pelo cliente e intervém segundo as regras estabelecidas pelo seu referencial teórico. Esse referencial teórico compreende tanto os conhecimentos disponíveis atualmente na ciência do comportamento, quanto os princípios filosóficos do Behaviorismo denominado por Skinner (1945,p.294) Radical. Trata-se de uma postura frente ao comportamento e, em se tratando de psicoterapia, uma postura frente ao cliente que se comporta. Quando uma pessoa procura psicoterapia ela o faz porque parte de seu repertório comportamental é avaliado por ela própria, e talvez, por pessoas de seu convívio, como inapropriado e portanto deve ser modificado com a ajuda da psicoterapia. Note-se que se trata de uma avaliação social, pois nenhum padrão comportamental traz, intrinsecamente, a característica de apropriado, problemático, anormal ou mesmo psicopatológico. Embora o repertório comportamental total do cliente não se restrinja à parte avaliada como inapropriada, é essa parte que se contitui objeto de análise e intervenção na psicoterapia. Os psicoterapeutas constituem-se em estímulos discriminativos para que comportamentos relacionados à anormalidade sejam reforçados. Os psicoterapeutas reforçam seus clientes quando estes falam de seus problemas, de suas queixas, e reforçam-se mutuamente quando o assunto é a anormalidade. Aquí pode ser colocada a seguinte questão: Quando o psicoterapeuta, com um referencial teórico do Behaviorismo Radical, entra no contexto do cliente, supostamente em benefício deste, sua função discriminativa, eliciadora e reforçadora direciona-se à que parte do repertório comportamental total do cliente? Pois, além da parte avaliada como inapropriada, o repertório comportamental compreende também uma parte avaliada como apropriada, positiva e normal. Para respondermos a essa questão há necessidade de analisarmos com mais detalhes outras duas questões sempre presentes no processo de psicoterapia. 1) A questão da relevância da história de reforçamento quando se trata de intervenção. 2) A questão dos sentimentos (feelings). 1) História de reforçamento: explicação versus controle. Foi em Darwin que Skinner encontrou o modelo causal para explicar o comportamento. Diz Skinner (1974): “Coube a Darwin descobrir a ação seletiva do ambiente, assim como cabe a nós completar o desenvbolvimento da ciência do comportamento com uma análise da ação seletiva (p.68). O modelo causal selecionista , seleção por consequências, serve de critério para se construir tanto a história felogenética quando a história ontogenética. Diz Skinner(1974): “Uma análise Behaviorista repousa nos seguintes pressupostos : uma pessoa é em primeiro lugar, uma membro de uma espécie e de uma sub-espécie, possui uma dotação genética de características anatômicas e fisiológicas que são o produto das contingências de sobrevivência às quais a espécie esteve exposta durante o processo de evolução. O organismo se torna uma pessoa quando adquire um repertório de comportamento nas contingências de reforço a que foi exposto ao longo de sua vida. O comportamento que apresenta em qualquer momento está sob o controle do cenário atual”. (p.177) As “contingências de sobrevivência às quais a espécie esteve exposta” equivalem à história filogenética que é invocada para explicar a dotação genética de uma espécie em um dado momento. Partindo do que a espécie é hoje constrói-se uma história filogenética, pinçando eventos passados, segundo o critério de seleção por consequência. Essa história só pode ser construida inferencialmente porque, embora se diga que a espécie, num dado momento, é o resultado de sua história, a espécie não traz consigo esta história. “As contigências de reforço a que o organismo foi exposto ao longo da sua vida”, equivalem à história ontogenética que é invocada para explicar o repertório comportamental em um dado momento. Partindo-se do repertório atual, constrói-se sua possível história, pinçando eventos no passado, segundo o critério de seleção por consequência - contingência - e utiliza-se essa história como explicação. Essa história também é construida inferencialmente, pois assim como não encontramos, na dotação genética atual a sua história filogenética, também não encontramos no indivíduo que se comporta atualmente a sua história ontogenética. Diz Skinner (1973): “Numa análise operante e no Behaviorismo Radical que se constrói com ela, o ambiente permanece onde está e onde sempre esteve - fora do corpo.”(p.84) Gostaríamos de recolocar que o repertório comportamental atual, se dá no contexto atual e é o resultado de uma história real e que esse repertório pode ser explicaqdo por uma história construida a partir do critério de relações de contingência, porém, nem a história real e muito menos a história construida estão na pessoa que se comporta Skinner (1974) insiste: “Nessa análise comportamental a probabilidade toma o lugar da acessibilidade. As contingências que afetam um organismo não são armazenadas por ele. Elas nunca estão dentro dele simplesmente o modificam” (p.109). Do que foi posto até aquí podemos resaltar que a história de reforçamento, utilizada para explicar o comportamento que se dá no contexto atual, apenas pode servir de subsídio para a previsão do comportamento futuro, não tendo papel relevante quando se trata de alterar a probabilidade futura do comportamento, isto é, do controle, ou da intervenção. Na literatura comportamental, devido sua concepção pragmatista de ciência (Smith, 1986) os termos previsão e controle quase sempre aparecem juntos, de tal forma que facilmente a explicação e previsão parecem ser a condição “sine qua non” para o controle, principalmente quando a previsão vem apoiada na explicação fornecida pela história de contingência. Pode parecer convincente que se conhecermos a história, além de termos os pontos relevantes para explicação, teremos também os pontos relevantes para intervenção. Porém, os termos explicação e controle nos remetem para períodos ou locais diferentes. A explicação nos remete ao passado e o controle, exercido na intervenção com o objetivo de mudança, nos remete ao presente. Se pois adotarmos o modelo causal proposto por Skinner para dar conta do comportamento, e considerarmos que o comportamento que exibimos em qualquer momento está sob o controle de um cenário atual, e assumirmos que o que a pessoa é no momento presente é o resultado da sua história, mas que ela não traz consigo essa história, e entendermos que qualquer intervençaõ só pode se dar se o fator de mudança for inserido no contexto atual de forma que esse novo contexto produza a mudança agora, para em seguida tornar-se também apenas história, concluiremos que a tendência de se trabalhar o passado não decorre do Behaviorismo Radical mas de outras tradições psicoterápicas, pois não se trata de destruir ou reformular o passado, mas sim construir o futuro a partir do presente. Como diz Skinner (1977): “O presente é o que importa.É a única coisa que podemos manipular, pelo menos de maneira científica” (p. 239). 2) Feeling: Substantivo ou Verbo? Kohlemberg e Tsai (1991) assim se expressam quando analisam o uso do termo “feeling”: “o Termo feeling é usado tanto como verbo quanto como substantivo. Quando usado como um verbo é uma atividade, um tipo de ação sensorial como ver ou ouvir.Quando sua função é um substantivo, “feeling” é usado equivalentemente aos termos emoção e afeto. Assim como existem objetos que são vistos, “feeling” como substantivo é um objeto que é sentido, como na expressão “Eu sinto um sentimento” (p.69). Simples: um estado corporal está aquí em meu corpo e eu o identifico como medo, a pouco era um outro estado corporal e que eu identificava como ansiedade, ao final dessa mesa redonda, será um outro estado corporal e eu o identificarei como alívio. Como escreve Wittgenstein (1979, 120).: “Aquí a palavra, aquí a significação. O dinheiro e a vaca que com ele se pode comprar”. Aliás, parece impossível duvidar de que nós, adultos, sejamos capazes de, através dos sistemas proprioceptivo e interoceptivo, discriminar nossos estados corporais que aprendemos a denominar como dor, fome, tristeza, alegria enfim nossos “feelings”. Me desculpem a simplicidade, mas aquí gostaria de descrever um exemplo fictício envolvendo um menino de 8 anos chamado Joãozinho. Joãozinho está assistindo a uma aula em sua escola e responde a uma pergunta da professora num tom quase inaudível. A professora lhe pergunta o que está acontecendo e ele responde, em um tom ainda menos audível: nada. Terminada a aula a professora encontra-se com a diretora e lhe diz que está achando Joãozinho um pouco diferente, parece-lhe muito inseguro. A diretora, solícita, providencia para que Joãozinho seja atendido pela psicopedagoga. Esta, após uma entrevista com um Joãozinho todo sem geito, sendo solicitado a responder perguntas que nunca lhe tinham sido feitas antes, marca uma entrevista com a mãe de Joãozinho. Ele mesmo leva o recado, dizendo para a mãe que não era nada grave. A mãe especula mais detalhes junto ao filho e este lhe diz que na escola estão achando que ele é inseguro. A mãe passa os dias que antecedem sua entrevista preocupada com a insegurança de seu filho. Quando vai para a entrevista já está preparada: De fato, ela se sentia culpada pela insegurança de Joãozinho. Quando a insegurança de Joãozinho passou para o domínio de seus colegas houve um incidente. Joãozinho agrediu um colega por este tê-lo chamado de inseguro. O caso foi parar na sala da diretora, que tendo lido alguns livros de psicologia, ficou preocupada devido o possível envolvimento de algum mecanismo de defesa, tipo formação reativa e resolveu encaminhá-lo para um psicólogo. Diante do psicólogo sua primeira frase foi: “O meu problema é a minha insegurança”. Joãozinho vem de um contexto que é responsável, entre outras coisas, pelo desenvolvimento daquilo que o leva à psicoterapia, inclusive pelo comportamento de procurar ajuda junto a um psicoterapeuta. Nesse contexto estão presentes também palavras, conceitos, regras, explicações, fornecidas pela própria psicologia e, mais especificamente, pela psicopatologia. Assim Joãozinho ao se apresentar ao psicoterapeuta já vem trajando psicologia. Sua linguagem, suas expressões, suas explicações, obedecem critérios contidos em psicodiagnósticos elaborados pela psicologia e presentes em seu contexto. Ao se auto-observar, ou até mesmo, ao se introspeccionar, identifica e sente claramente a insegurança. O psicólogo está agora, diante de produto já substantivado: a insegurança de Joãozinho, que é vista pelo contexto social e sentida por ele como algo, anormal, problemático e de ordem psicológica. Quando pedí desculpas pela simplicidade do caso de Joãozinho, minhas desculpas se referem à não inclusão de detalhes envolvidos nessa contrução e não ao essencial. Poderíamos perguntar: 1º - Como Joãozinho se sente? 2º - O que Joãozinho sente? Poderíamos ter como resposta: 1) Ele se sente inseguro. 2) Ele sente insegurança. Na primeira resposta - Ele se sente inseguro - o enfoque está na ação de sentir e não no objeto sentido. É assim que Skinner o utiliza quando diz que para o “Behaviorismo Radical como as pessoas se sentem frquentemente é tão importante quanto o que elas fazem” (1991, p.69).Gostaria de destacar essa função do sentir, voltando a Kohlenberg e Tsai: “Quando usado como verbo o termo “feeling” é uma atividade, um tipo de ação sensorial como ver e ouvir”(1991,p.69). Na segunda resposta - Ele sente insegurança - o enfoque está no objeto sentido, a insegurança. Vamos voltar novamente a Kohlenberg e Tsai: “Quando sua função é um substantivo “feeling” é utilizado como equivalente aos termos emoção e afeto, como um substantivo é um objeto que é sentido como em “eu sinto um sentimento” (1991, p.69). Não é possível citar Skinner para corroborar essa segunda resposta, pois, Skinner é claro quando chama a atenção dizendo: “Tendemos a transformar em substantivos os adjetivos e verbos e devemos, em seguida, encontrar um lugar para as coisas supostamente representadas pelos substantivos” (1982, p.139). A resposta à primeira pergunta: - Joãozinho se sente inseguro - parece não trazer problemas, pois, o comportamento de sentir está sob o controle de contingências como o comportamento de ver e como diz Skinner: “O ver não exige a coisa vista.” (1982, p.76). A resposta a segunda pergunta: - Joãozinho sente insegurança - é que é problemática, pois, se sua substantivação é o resultado de um processo, como esse produto agora, pode ser algo? E se for algo, qual o seu lugar nas contingências envolvidas no comportamento de sentir? Esse produto substantivado é real, no sentido de que ele está presente na vida de Joãozinho, e, a sua presença é perturbadora para outros e para ele próprio, sendo classificado pelo contexto social como algo anormal, quando não patológico. O produto substantivado é analisado pela psicologia, especificamente pela psicopatologia e tratado na psicoterapia. Enquanto produtos substantivados servem de temas para congressos como esse. É como algo, um objeto, que o contexto social que o produziu, o trata. Como produtos substantivados eles se constituem nos galhos da grande árvore da psicologia. É como produto substantivado, que se mostra tão real, que amedronta não encará- lo como algo. É como produto substantivado que coage e exige atenção. É como produto substantivado que atrai e ao mesmo tempo impede de ser examinado. É como produto substantivado, para citar Wittgenstein, que “caçoa de nós”. (Notes for lectures, 306, apud Tugendhat, 1992, p.51.). Como psicólogo já tive medo de não encará-lo como algo. Tive a impressão de estar me auto-destruindo. Aliás, Wittgenstein já chamava atenção para isso, reconhecendo: “Não devemos cortar o galho em que estamos sentados”. (1979,60). Me apoio em Skinner quando comenta: “Sentimos necessidade de um Deus criativo, porque vemos o mundo, mas vemos muito pouco dos processos que permitiram sua existência; vemos o produto, mas não sua produção”. (1991, p.43). O problema pois é examinar o processo para não ser enganado pelo produto. Essa análise exige certo cuidado, pois, como comenta Wittgenstein: “A atmosfera que cerca esse problema é terrível - Névoas densas da linguagem estão situadas em torno do ponto problemático. É quase impossível avançar em sua direção” ( Notes for Lectures, 306, apud Tugendhat, 1992, p.47.). Trata-se de examinar o produto tendo em vista o processo de sua contrução. Quer se trate da insegurança de Joãozinho, quer se trate da timidez, da fobia, da inassertividade, da depressão, do pânico, etc., esse produto acompanha o cliente e é classificado como algo anormal, de ordem psicológica, é um feeling substantivado,é o “objeto” sentido. Queremos saber como esse “objeto”entra nas contingências envolvidas no sentir? Wittgenstein rompe as névoas densas da linguagem e nos revela: “quando se constrói a gramática da expressão da sensação segundo o modelo “objeto e designação”, então o objeto cai fora de consideração, como irrelevante “. (1979, 293). Se o objeto cai fora de considerção, então esse objeto não é nada? Wittgenstein faz a si mesmo essa objeção: “ - E contudo voce chega sempre ao resultado pelo qual a sensação é um nada”. Ele próprio responde: “- Não! Ela não é algo, mas também não é um nada. O resultado foi apenas que um nada presta os mesmos serviços que um algo sobre o qual não se pode afirmar nada” (1979, 304). Isto é, quando examinamos o produto, interessados no processo de sua construção, vamos além do produto e o vemos diluir-se no processo. A análise do processo esvazia o produto. O produto presta “os serviços” de um algo, assume o lugar na pessoa sem ser um algo. O feeling substantivo é irrelevante para o comportamento de sentir porque são os critérios externos, contidos nas contingências, que balizam o que é sentido. É o ato de sentir que confere existência ao que é sentido. O processo da construção da insegurança se deu no contexto de Joãozinho onde existia a palavra insegurança, os critérios para utilizá-la, o tipo de sentimento correspondente, bem como, pessoas com funções discriminativas, reforçadorase eliciadoras para a sua construção. Uma construção quase expontânea, pois, na medida em que a insegurança foi se constituindo, foi mais enfocada pelo contexto, e consequentemente, mais crsceu. O contexto em que vivemos contém suas regras, suas expectativas, suas exigências, seus critérios para que sintamos os sentimentos disponíveis nesse contexto. Somos capazes de sentir apenas os sentimentos que estejam disponíveis em nosso contexto, pois, com diz Wittgenstein: “Se não existisse a técnica de jogar xadrez, eu não poderia ter a intenção de jogar uma partida de xadrez” (1979, 337). Concluimos pois que, quado se trata de “feeling” a análise e intervenção direciona-se ao verbo e não ao substantivo. A questão que se recoloca aquí é : Quando o psicoterapeuta entra no contexto social do cliente, supostamente me benefício deste, sua função discriminativa, eliciadora e reforçadora direciona-se a que ? Como especialistas tentamos conhecer não só o problema psicológico, por exemplo, algo sentido como depressão, mas também o processo de sua construção. Assumimos, que, embora o alvo da atenção do cliente seja a parte de seu repertório comportamental,considerado problemático, seu repertório é constituido também por comportamentos não problemáticos, considerados normais. Assumimos que o que é sentido não é algo independente do comportamento de sentir, isto é, o ato de sentir é que dá existência ao que é sentido. Não se trata, portanto, de reformular o passado e muito menos de destruir a anormalidade. Isto posto, assumimos que o psicoterapeuta ao entrar no contexto do cliente para ajudá-lo a resolver seu prblema deve fazê-lo caracterizando-se como um estímulo discriminativo, eliciador, reforçador, direcionando-se àquela parte do repertório comportamental não problemática, considerada normal. Seu trabalho focalizará não o problema ou a anormalidade, mas o não problema ou a normalidade. Imagino o psicoterapeuta à busca da normalidade, como um garimpeiro à busca de pedras preciosas, isto é, o psicoterapeuta como um estímulo discriminativo para a normalidade. A seguir relataremos resumidamente um atendimento em que o psicoterapeuta atua dentro desta perspectiva. Identificação do Cliente: Do sexo masculino, 41 anos, corretor de imóveis desempregado, passou recentemente pelo segundo divórcio e mora com irmãos, tem três filhos, sendo dois do primeiro casamento (os quais moram com ele) e o outro do segundo casamento (que mora com a mãe), procurou a Clínica Psicológica da Universidade Estadual de Londrina, acompanhado de um irmão, para submeter-se à psicoterapia. Procedimento 1: O Psicoterapeuto como Sd para a Anormalidade ( 5 primeiras sessões) Postura do Psicoterapeuta: A atenção do psicoterapeuta direcionou-se às queixas do cliente inquirido sobre suas características, suas consequências para o seu dia a dia, sobre a história de vida e eventos relacionados às queixas. Objetivos: a) Responder às expectativas do cliente para quem o psicoterapeuta só poderá ajudá-lo a resolver seus problemas se conhecê-los em detalhes. b) Tomar conhecimento dos contextos, relações, justificativas, regras, sentimentos relacionados às queixas, para selecionar os aspectos incompatíveis com as queixas que irão merecer sua atenção no procedimento 2. Descrição do Procedimento 1: As sessões foram realizadas em uma sala de aproximadamente 8 m, contendo uma escrivaninha, a poltrona do terapeuta e no lado oposto duas cadeiras, em uma das quais sentava-se o cliente. Após a explicação do funcionamento da clínica escola, na primeira sessão, o psicoterapeuta colocou-se a disposição do cliente para ouví-lo. Ao início das sessões o psicoterapeuta recebia o cliente com a saudação: Como vai? Como passou a semana? Nessas cinco sessões as intervenções do psicoterapeuta se limitaram à comentários repetitivos em relação aos conteúdos da fala do cliente e à perguntas relacionadas a esses conteúdos, sempre no sentido de possibilitar que es5te expusesse sua versão. Os aspectos históricos, tanto em relação às queixas, como em relação à vida do cliente, foram abordados a partir de dicas dadas pelo próprio cliente. Sempre que o cliente solicitou a opinião e conselhos por parte do psicoterapeuta, este respondeu que ainda necessitava conhecer mais detalhes sobre ele. Em geral, a partir da saudação inicial do psicoterapeuta, os conteúdos abordados durante toda a sessão, relacionaram-se às queixas. Durante a quinta sessão a fala do cliente passou a ser repetitiva, sobre que4stões já abordadas em outras sessões e notou-se certa dificuldade em encontrar novas queixas a relatar. Questionado, relatou que ao se aproximar o dia da sessão ficava preocupado com o que iria falar. O psicoterapeuta colocou,então, que a partir da próxima sessão, não precisaria se preocupar com o que falar, pois, agora nas sessões iríamos nos concentrar no presente e nas coisas boas e positivas que pudessem acontecer no dia a dia. Resultados do Procedimento 1: O cliente apresentou-se às sessões com uma postura arquerada, cabisbaixo, falava em uma tom de voz baixo e com frequentes tremosres. Queixou-se do medo de altura, medo de sair de casa sozimho , limitando-se a ficar no quarto, mantendo-o sempre com a porta aberta. Achava-se desorientado na busca de solução para seus problemas, apegava-se a várias realizações sem se fixar em nemnuma, estava lendo livros asobre pensamento positivo, buscava algo que o ajudasse a esquecer, solicitava ao terapeuta técnicas para os seus problemas, para tirar o medo e tirar essaas coisas de sua cabeça. Queixava-se frequentemente de um bloqueio, antecipando a possibilidade de lhe acontecer coisas ruins. Dizia-se continuamente ansioso na expectativa de que algo lhe fosse acontecer. Apresentava um quadro depressivo: “o mundo acabou”, não tenho vontade de nada”, “sinto-me incapaz”, sinto-me um inútil, um fracassado”. Sentia-se uma pessoa perseguida, pois, muitas coisas ruins aconteceram em sua vida e muitas pessoas o prejudicaram. A primeira crise de pânico (termo utilizado pelo cliente) ocorreu em 1981, durante um passeio de baarco ao pé da queda d’água em foz do Iguaçú. Em 1994 o cliente se submeteu à psicoterapia, recebendo alta após seis meses, tendo conseguido melhoras significativas. Em dezembreo de 1995 (um ano após o término da psicoterapia) passou por uma crise de pânico,descrevendo-a como uma sensação de impotência, medo, tremor, pressão baixa, sensação der morte imediata, como se tivesse visto um monstro em sua frente. Na época o paciente vinha de um recente processo de divórcio ( o segundo) solicitado pela ex-esposa e não aceito por ele. Então abandonou os amigos, o emprego, passando a morar com os irmãos. Comentário: Levando-se em consideração as descrições contidas nas queixas, bem como os contextos históricos das mesmas, e se adortarmos uma postura de atenção voltada às queixas, poderemos diagnosticá-las, segundo o DSM III, revisado em 1989, como “síndrome de pânico”. Procedimento 2: O Psicoterapêuta como Sd para a Normalidade (15 sessões) Postura do Psicoterapeuta: A atenção do psicoterapeuta direcionou-se para o presente, para aspectos do dia a dia incompatíveis com as queixas, para aspectos comportamentais - postura, olhar, tom de fala, aparência - para levantamento da atividades possíveis de serem realizadas em casa, nos arredores e na própria sessão. Objetivo: Descaracterizar o ambiente psicoterapêutico como propício, apenas, para se falar sobre eventos negativos (queixas), caracterizando-o como o local onde se preocupa primordialmente com eventos (comportamentos: atividades, sentimentos, pensamentos) positivos, segundo os critérios sociais do contexto do cliente, por mínimos que sejam. Descrião do procedimento 2 Ao início das sessões o psicoterapeuta recebia o cliente com saudações do tipo: “Bom dia, você parece melhor hoje”, “Bom dia, pela expressão, você teve uma boa semana” ou “Bom dia,o que faremos hoje?” De forma progressiva o terapeuta passa a pinçar e comentar com o cliente aqueles aspectos de sua fala que sejam incompatíveis com as suas queixas. Quando o cliente mencionava algum evento considerado positivo, por exemplo: sair até o portão de sua casa, explorava-se esse fato, fazendo-se pontes com outros com as mesmas características. Algumas características se evidenciaram nesta fase são: O cliente mostrou uma atenção concentrada em seus problemas, empenhado num confronto, uma espécie de luta, para superá-los, exigindo que o psicoterapeuta fizesse o mesmo. Houve uma forte tendência do cliente ater-se ao passado, buscando explicações para os problemas atuais em eventos de ordem biológica, psicológica ou social, colocando a solução destes problemas na dependência de se trabalhar (destruir ou reformular) esse passado. Houve uma contante descrição de alto nivel de ansiedade associada de forma generalizada às atividades realizadas pelo cliente, bem como uma ansiedade antecipada diante do levantamento de outras atividades incompatíveis com as queixas. Na medida em que os assuntos relacionados ao presente foram sendo enfocados, as atividades da vida diária foram sendo levantadas; o que poderia fazer durante a semana, tais como: ajudar na organização dea casa, travalhar no quintal, andar pela redondeza, visitar alguém, etc. Levantou-se também as atividades e hábitos do cliente anteriores à crise de pânico, bem como as atividades que poderiam ser feitas durante as sessões, no campus ou em outros locais da cidade. Observe-se que ao se levantar as possíveis atividades, não se elaborou nenhuma programação a ser realizada pelo cliente. Exemplificando o Procedimento 2: Durante uma sessão o cliente queixou-se de não conseguir sair do quarto çem função de um medo inexplicável associado a um container de entulhos que estava sendo utilizado pelo seu novo vizinho na reforma da casa. Ao invés de analisar este medo do cliente ou o fato de ele não conseguir sair do quarto, o terapeuta explorou o contato do cliente com o vizinho e a reforma que ele estava fazendo. “-Quer dizer que você tem vizinhos novos?” - Já fez contato com eles? - Que lhe parece, são gente boa? - Como é a reforma que estão fazendo? Estão tirando muito entulho? etc.. Na sessão seguinte o cliente relatou que a caçamba foi buscar o container cheio e deixou outro vazio, relatou ainda que tinha saído do quarto, ficou no quintal e em frente da casa. Resultados do Procedimento 2 Ao longo dos atendimentos foram aparecendo algumas mudanças tais como postura mais ereta aumento do tom de voz e diminuição dos tremores até a sua completa extinção. Após seis meses de psicoterapia, com sessões semanais, o cliente além de não se referir mais às crises de pânicopreenche seu dia com atividades relacionadas à propria casa, sai de casa sozinho com frequência, sobe lances de escada e alguns andares de elevador, dirige mobilete quando vai buscar o filho para o fim de semana, anda de ônibus sozinho e freqüenta lugares antes evitados, tais como: aeroporto, ruas movimentadas, lugares públicos, viadutos, etc. Comentários: Em relação ao procedimento 1, ele se justifica pelo fato de que o cliente vem de um contexto que considera a psicoterapia como técnica direcionada a solucionar distúrbios de ordem psicológica, considerando que esses distúrbios estão na pessoa, como que carregados por ela, daí o pedido do cliente no sentido de que o psicoterapeuta o ajudasse a “tirar o meu medo, tirar essas coisas de minha cabeça”. O critério para se passar do procedimento 1 para o 2 foi contextual, isto é, quando na quinta sessão observou-se uma espécie de saturação em se abordar aspectos relacionados às queixas, julgou-se oportuno o momento para semodificar a estratégia, passando para o procedimento 2 que se constitui, propriamente, no processo psicoterapêutico. O procedimento 2 foi um processo de reforçamento diferencial, via atenção e verbalização, lento e progressivo, pois não é fácil para qualquer pessoa pensar que um psicoterapeuta vai lhe dar a maior atenção quando falar que saiu até o portão de sua casa. Versão modificada de trabalho apresentado no IV Encontro da ABPNC, Campinas, 1995. Endereço: Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento, Campus Universitário, Cx.P.6001, 86055-900, Londrina, Pr. Brasil. Marcio Pinheiro atuou como Psicoterapeuta no presente caso. PÁGINA PÁGINA 14
Compartilhar