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Conduta Básica - Etapas A conduta básica a ser instituída perante uma ocorrência toxicológica pode ser esquematicamente dividida em 4 etapas: 1ª) Verificar risco de vida; 2ª) Estabelecer diagnóstico; 3ª) Confirmar diagnóstico; 4ª) Tratamento da intoxicação aguda confirmada. PRIMEIRA ETAPA: Refere-se à investigação da presença de distúrbios que representam risco iminente de vida deve-se procurar corrigi-los adequadamente. (Quadro I), mantendo o estado geral e as funções vitais. Na verdade, é o primeiro passo a ser dado frente a qualquer paciente que chegue ao serviço de emergência, independente da patologia que apresente. Primeiramente avaliam-se as condições respiratórias do doente (ritmo, ruídos e secreções), devendo-se manter as vias aéreas permeáveis e o ambiente ventilado, além de fornecer respiração artificial, se necessário (aspirar secreções, oxigenar). A seguir, inicia-se a avaliação das condições cardiovasculares (ritmo, seqüência), necessitando manter o paciente aquecido e em decúbito adequado, pesquisar choque e corrigi-lo e iniciar com massagem cardíaca quando houver parada cardiorespiratória. Semiologia abdominal (ruídos, timpanismo, visceromegalia e outros). Cor e perfusão das extremidades. Importante também procurar por odores e hálitos característicos e coloração das secreções, urina e pele. Examinar as características das pupilas, a cor e a integridade das mucosas (cianose, sialorréia, pigmentação, lesões ou ulcerações). Nesta fase é importante certificar- se das condições neurológicas, tratando convulsões, se houver. Se o paciente apresenta-se em estado de coma, é importante que ele permaneça aquecido, com uma via aérea definitiva mantida e com todo suporte necessário. OBS: O paciente deve ser devidamente higienizado, contido e descontaminado, tomando-se o cuidado para não haver contaminação de técnicos e do ambiente. QUADRO I. Avaliação dos distúrbios que representam risco de vida < Condições respiratórias: 1. Manter vias aéreas permeáveis 2. Manter ambiente ventilado 3. Respiração artificial, se necessário < Condições cardiovasculares 1. Manter paciente aquecido e em decúbito adequado 2. Avaliar choque e corrigi-lo. Manter PA 3. Massagem cardíaca, se Parada Cárdio-Respiratória < Condições neurológicas 1. Se convulsões, tratar 2. Se coma: manter via aérea + aquecimento + suporte SEGUNDA ETAPA: A segunda etapa refere-se ao estabelecimento do diagnóstico, que é feito através da história relatada pelo paciente ou pela pessoa que o transportou ao serviço de emergência e de uma boa anamnese. Essa é uma etapa que muitas vezes não é realizada, já que a obtenção da história nem sempre é possível (paciente desacompanhado, inconsciente, lactente). TERCEIRA ETAPA: A terceira etapa consiste na confirmação do diagnóstico. Devemos suspeitar sempre de intoxicação aguda diante de vítimas de trauma ou de incêndio, de pacientes com alteração do estado mental, desenvolvimento súbito de convulsões, arritmias cardíacas, distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-básico graves, choque ou alterações metabólicas aparentemente inexplicáveis. Aqui, devemos analisar duas situações distintas. Na primeira, o paciente ou seu acompanhante têm condições de informar o médico sobre a situação em que ocorreu o acidente e qual o produto envolvido (produtos ou medicamentos de uso ou de parentes e encontrados próximos ao paciente, questionar presença de plantas, terrenos baldios onde depositam lixo, profissão dos pais ou da vítima, outros). A segunda situação ocorre quando é impossível obter as informações sobre a exposição ou então as informações conseguidas são incompletas ou não confiáveis. Neste caso, o médico, através de um exame físico minucioso, pode ter algumas pistas para estabelecer um diagnóstico. Os sinais vitais são de grande valor diagnóstico e qualquer alteração deve ser valorizada. A seguir, relacionamos as variações da respiração, do pulso, da pressão arterial e da temperatura e os principais agentes que as provocam. RESPIRAÇÃO Hipoventilação Hiperventilação sedativos-hipnóticos carbamatos opióides organofosforados imidazolinas salicilatos PRESSÃO ARTERIAL Hipotensão Hipertensão anticolinérgicos antidepressivos cíclicos anticolinérgicos betabloqueadores cocaína PULSO Bradicardia Taquicardia carbamatos adrenérgicos organofosforados anticolinérgicos betabloqueadores antidepressivos cíclicos TEMPERATURA Hipotermia Hipertermia cianeto antidepressivos cíclico hipoglicemiantes anticolinérgicos monóxido de carbono salicilatos Existem outros sinais que podem ajudar na elucidação diagnóstica, além dos dados vitais: ALTERAÇÕES PSÍQUICAS: atropina, HC aromáticos COMA: barbitúricos, sedativos CONVULSÕES: estricnina, cianetos MIDRÍASE: atropina MIOSE: carbamatos, organofosforados COR DA PELE: monóxido (rósea), dapsona (cinza-roseado) HÁLITO: gasolina, cianetos Agrupando os sinais e sintomas, por SÍNDROMES TÓXICAS, tendo a substância química como possível agente etiológico: SÍNDROME DA ACIDOSE METABÓLICA: Quando acompanhada por distúrbios neurológicos e/ou gastrointestinais; o diagnóstico diferencial deve considerar possível intoxicação por metanol, etilenoglicol ou salicilatos. SÍNDROME ALUCINÓGENA: Alterações súbitas do comportamento ou distúrbios psíquicos de aparecimento repentino, particularmente em adolescentes. Sugerem como etiologia bastante provável o abuso de drogas. SÍNDROME ANTICOLINÉRGICA: Sua sintomatologia mais marcante pode indicar intoxicação atropínica, derivados e análogos, vegetais beladonados e medicamentos como anti-histamínicos e anti-depressivos tricíclicos. SÍNDROME CONVULSIVA: Crises convulsivas são complicações comuns de grande número de intoxicações. Além disso, são as principais manifestações na intoxicação por estricnina, inseticidas organoclorados e isoniazida. SÍNDROME DEPRESSIVA: Torpor e coma de aparecimento súbito em crianças sugerem possível intoxicação, especialmente por etanol, barbitúricos diazepínicos. SÍNDROME EXTRAPIRAMIDAL: Em qualquer reação extrapiramidal apresentada por uma criança, é necessário excluir etiologia tóxica, particularmente dose excessiva de fenotiazínicos, butirofenonas e alguns anti-eméticos. SÍNDROME HÉPATO-RENAL: Apesar da etiopatologia complexa das afecções destes órgãos, é conveniente incluir no diagnóstico diferencial a intoxicação, principalmente por acetaminofeno, fósforo inorgânico e tetracloreto de carbono. SÍNDROME METEMOGLOBINÊMICA: Caracterizada por cianose peculiar, distúrbios neurológicos e sangüíneos. A intoxicação deve sempre ser considerada em virtude do grande número e diversificação de substâncias químicas metemoglobinizantes, que podem entrar em contato com a criança. SÍNDROME NARCÓTICA: A tríade sintomática: miose puntiforme, depressão neurológica e respiratória, é sugestiva de intoxicação por opiáceos, principalmente drogas de abuso, sedativos de tosse e alguns antidiarréicos. QUARTA ETAPA: É o tratamento propriamente dito da intoxicação aguda. É importante ressaltar que o sucesso do atendimento está diretamente relacionado com o tempo decorrido entre a exposição e o início do tratamento. Dois conceitos de suma importância para a evolução e para o prognóstico do doente, que são: DL50 e Grau de toxicidade do produto. Revendo: DL50 ou dose letal média de uma substância é a dose mínima necessária para matar metade de uma população de um experimento e baseado nela, tem-se uma idéia do poder tóxico dessa substância na quantidade envolvida no acidente. Grau de Toxicidade revela a capacidade da substânciade causar dano ao organismo. O tratamento de uma intoxicação aguda deve visar três objetivos, sendo eles: impedir a absorção do intoxicante (descontaminação), administrar antídotos e manter estabilizadas as funções vitais. Impedir a absorção do intoxicante (descontaminação) – As medidas de descontaminação cutânea o ocular, podem (e devem) ser realizadas no mesmo local da exposição; já a descontaminação gastrointestinal deve ser feita em hospital, de preferência onde exista uma unidade de emergência ou pronto- socorro. Descontaminação cutânea: Utilizando luvas de proteção, deve-se remover as roupas do paciente cuidadosamente e lavar em água corrente a pele e o couro cabeludo (cortar cabelos, se necessário). A lavagem deve ser abundante, pois muitos produtos apresentam grande absorção cutânea. Descontaminação ocular: Consiste na lavagem dos olhos, com água corrente ou soro fisiológico 0,9%, mantendo as pálpebras abertas, por 10 a 15 minutos, oclusão ocular utilizando sempre uma pomada oftálmica e encaminhar o paciente para avaliação oftalmológica. Descontaminação digestiva: Quando indicada, pode ser feita através da indução de vômitos, lavagem gástrica e com o uso de carvão ativado, que é um potente adsorvente, que além de ser muito útil, é um produto de baixo custo, o que faz com que seja muito usado. Pode ser administrado em água ou através da sonda nasogástrica, após a lavagem gástrica, na dose de 1g/Kg de peso para crianças e 50 g/dose para adultos. Nos casos de intoxicações de natureza desconhecida ou de vários produtos, é importante a análise toxicológica do conteúdo do vômito ou dos primeiros volumes retirados por lavagem. Administrar antídotos ou antagonistas: Antídoto é o medicamento ou produto químico que age sobre o toxicante, diminuindo ou neutralizando os seus efeitos, através de diferentes mecanismos: físicos, químicos ou farmacológicos. Nem todos os toxicantes têm antídotos, mas quando este existir, seu uso será de vital importância para o sucesso do tratamento. Listamos a seguir os antídotos mais comumente utilizados e suas indicações: ANTÍDOTOS INDICAÇÕES Atropina Organofosforados / Carbamatos Azul de Metileno Metahemoglobinemia Biperideno (Akineton) Fenotiazínicos / Metoclopramida Flumazenil Benzodiazepínicos Xarope de Ipeca Emético Naloxona Opióides Pralidoxima Organofosforados Vitamina K1 Cumarínicos Penicilamina Chumbo / Cobre / Mercúrio Deferoxamina Ferro Carvão Ativado Adsorvente N-Acetilcisteína Paracetamol Etanol Metanol / Etilenoglicol OBS: Nos casos de intoxicações de natureza desconhecida ou de vários produtos, é importante a análise toxicológica do conteúdo do vômito ou dos primeiros volumes retirados por lavagem, para determinação do toxicante. Manter estabilizadas as funções vitais: Após instituído o tratamento adequado, o médico deve manter o paciente sob constante observação e reavaliá-lo freqüentemente.
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