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Ca´lculo 3 x Q = β(t) yt λ(t) ltλ z x y = x y y2 − x2 = 1 z por Jose´ Adonai Pereira Seixas Maceio´-2010 Conteu´do 1 Func¸o˜es Vetoriais 1 1.1 Func¸o˜es Reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1.1.1 O Caso n = 1 . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1.1.2 O Caso n = 2 . . . . . . . . . . . . . . . . 2 1.1.3 O Caso n = 3 . . . . . . . . . . . . . . . . 6 1.2 Curvas Parametrizadas . . . . . . . . . . . . . . 7 1.2.1 O Caso m = 2: Curvas Planas . . . . . . 7 1.2.2 O Caso m = 3: Curvas no Espac¸o . . . . 9 1.4 Sugesto˜es & Respostas . . . . . . . . . . . . . . 10 2 Ca´lculo das Curvas Parametrizadas 12 2.1 Limite e Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . 13 2.2 Derivadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.2.1 Interpretac¸a˜o Geome´trica . . . . . . . 15 2.3 Derivadas de Ordem Superior . . . . . . . . . . 18 2.4 Interpretac¸a˜o F´ısica . . . . . . . . . . . . . . . 19 2.6 Sugesto˜es & Respostas . . . . . . . . . . . . . . 20 3 Limite e Continuidade 21 3.1 Limite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 3.2 Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 3.4 Sugesto˜es & Respostas . . . . . . . . . . . . . . 29 4 Derivadas Parciais 31 4.1 Derivadas Parciais No Plano . . . . . . . . . . 33 4.2 Derivadas Parciais de Ordem Superior . . . . 37 4.3 Derivadas Parciais no Espac¸o . . . . . . . . . . 40 4.4 Interpretac¸a˜o Geome´trica . . . . . . . . . . . 43 4.6 Sugesto˜es & Respostas . . . . . . . . . . . . . . 44 Refereˆncias Bibliogra´ficas 45 UFAL – EAD – Ca´lculo 3 J. Adonai Parte 1: Func¸o˜es Vetoriais Objetivos Espec´ıficos • Definir func¸o˜es com Mais de uma Varia´vel • • Esboc¸ar Gra´ficos e Conjuntos de N´ıvel • • Estudar Curvas Parametrizadas no Plano e no Espac¸o • Objetivo Geral • Introduzir Func¸o˜es Vetoriais • Maceio´-2010 1 Func¸o˜es Vetoriais (J. Adonai) - 2 Nesta parte, estudaremos as noc¸o˜es ba´sicas relacionadas com fun- c¸o˜es entre os espac¸os R, R2 e R3. Alguns conjuntos especiais associados a estas func¸o˜es sera˜o, tambe´m, estudados. Definic¸a˜o 1.1. Uma func¸a˜o vetorial e´ uma func¸a˜o com domı´nio D contido no Rn e contradomı´nio Rm, isto e´, uma func¸a˜o do tipo f : D ⊂ Rn −−−−−→ Rm X −−−−−→ Y = f(X) , onde X ∈ D e n e m podem assumir os valores 1, 2 ou 3. • Quando m = 1, diremos que f e´ uma func¸a˜o real. • Quando n = 1, f e´ dita uma func¸a˜o vetorial de uma varia´vel real. • A imagem de f , denotada por Im(f), ou por f(D), e´ o conjunto Im(f) = f(D) = {Y ∈ Rm; Y = f(X), X ∈ D}. Dizemos, tambe´m, que f parametriza o conjunto Im(f), ou que Im(f) e´ o conjunto parametrizado por f . 1.1 Func¸o˜es Reais Nesta sec¸a˜o, vamos estudar os casos onde m = 1, isto e´, f : D ⊂ Rn −→ R, onde n = 1, 2, 3. 1.1.1 O Caso n = 1 Este e´ o caso que ja´ estudamos em cursos anteriores. Sa˜o as func¸o˜es reais de uma vara´vel real. Vejamos alguns exemplos. (i) f : R −→ R definida por y = f(x) = x2. O gra´fico desta func¸a˜o e´ a para´bola y = x2. (ii) f : (0,+∞) −→ R definida por y = f(x) = 1 x . O domı´nio de f e´ o intervalo aberto (0,+∞) e o seu gra´fico e´ o ramo de uma hipe´rbole. (iii) f : [−1, 1] −→ R definida por y = f(x) = √1− x2. O domı´nio de f e´ o intervalo fechado [−1, 1] e o seu gra´fico e´ a parte superior do c´ırculo x2 + y2 = 1. 1.1.2 O Caso n = 2 Aqui o domı´nio de f e´ um subconjunto do plano R2 e temos f : D ⊂ R2 −→ R, o que chamaremos func¸a˜o real de duas varia´veis. Por simplicidade, quando o domı´nio de f esta´ bastante claro, escrevemos z = f(x, y), para indicar a func¸a˜o f . Exemplo 1.2. Seja f : R2 −→ R definida por f(x, y) = x2+y2. Temos que f e´ uma func¸a˜o real (de duas varia´veis) cuja imagem coincide com o intervalo [0,∞), pois x2 + y2 ≥ 0 e quando variamos (x, y) em R2 estes preenchem todo intervalo [0,∞). Vamos calcular alguns valores de f : (x, y) f(x, y) = x2 + y2 (0, 0) 02 + 02 = 0 (1, 2) 12 + 22 = 5 (−1, 5) 5 ( √ (2), √ 3) 5 Em muitas ocasio˜es que temos nas ma˜os um func¸a˜o de duas varia´veis, ficamos interessados em estudar os seus conjuntos de n´ıvel, que sa˜o as soluc¸o˜es de equac¸o˜es do tipo f(x, y) = c, onde c ∈ R e x Func¸o˜es Vetoriais (J. Adonai) - 3 e y sa˜o as inco´gnitas. O conjunto das soluc¸o˜es desta equac¸a˜o e´ um subconjunto do domı´nio de f , claro. Vamos indica´-lo por f−1(c), isto e´, f−1(c) = {X = (x, y) ∈ D(f); f(x, y) = c}. Voltemos ao nosso exemplo, onde f(x, y) = x2 + y2. Se c = 1, enta˜o f−1(1) = {X = (x, y) ∈ D(f); f(x, y) = 1} = {X = (x, y) ∈ D(f); x2 + y2 = 1}, que coincide com o c´ırculo centrado na origem e de raio 1. Se c = 2, enta˜o f−1(2) = {X = (x, y) ∈ D(f); f(x, y) = 2} = {X = (x, y) ∈ D(f); x2 + y2 = 2}, que coincide com o c´ırculo centrado na origem e de raio √ 2. Mais geralmente, se c > 0, f−1(c) = {(x, y) ∈ R2; x2 + y2 = c = (√c)2}, que e´ o c´ırculo centrado na origem e de raio √ c. Agora, observe que f−1(c) = ∅, se c < 0, e que f−1(0) = {(0, 0)}. Figura 1: f(x, y) = x2 + y2 x √ c 0 1 1f c y RR2 Conclusa˜o: os conjuntos de n´ıvel de f(x, y) = x2 + y2 sa˜o o conjunto vazio, caso onde o n´ıvel c < 0, e c´ırculos centrados na origem e de raio√ c, caso onde c ≤ 0. No segundo caso, a` medida que o n´ıvel cresce os raios dos respectivos conjuntos de n´ıvel tambe´m crescem. Ainda com este exemplo, vamos entrar no espac¸o tridimensional R3. Marque os n´ıveis c no eixo-z e em cada plano z = c coloque o conjunto de c´ıvel f−1(c), fazendo o seu centro ficar exatamente sobre o ponto (0, 0, c). Imagine agora a unia˜o de todos os conjuntos de n´ıvel. Formaria uma superf´ıcie. O que seria ela? Bem, ela e´ o que chamamos de parabolo´ide de revoluc¸a˜o. Desenhe a para´bola z = x2 no plano-xz (ou z = y2 no plano-yz) e gire-a em torno do eixo-z. Isto produz o citado parabolo´ide, x y 11 √ cc z = y2z = x 2 z que chamaremos parabolo´ide de revoluc¸a˜o z = x2 + y2. Portanto, o parabolo´ide z = x2 + y2, que indicaremos por S, e´ o subconjunto do espac¸o R3 dado pela unia˜o dos c´ırculos {(x, y, z); x2 + y2 = c, z = c}. O gra´fico (que definiremos a seguir) de f(x, y) = x2 + y2 e´ exata- mente esta superf´ıcie, que vemos na figura 1.2 abaixo. Agora, observe Figura 3: Parabolo´ide de Revoluc¸a˜o z = x2 + y2 x y z que os cortes de S por planos paralelos ao plano-xy sa˜o os n´ıveis de f , Func¸o˜es Vetoriais (J. Adonai) - 4 e os cortes, por planos perpendiculares, produzem para´bolas. Definic¸a˜o 1.3. Dada uma func¸a˜o f : D ⊂ R2 −→ R, o conjunto G(f) = {(x, y, z); z = f(x, y), (x, y) ∈ D} e´ chamado gra´fico de f . Exemplo 1.4. [Hipe´rboles] Dados a, b > 0, vamos definir f(x, y) = x2 a2 − y2 b2 , e esboc¸ar os conjuntos de n´ıvel f(x, y) = 1 e f(x, y) = −1, isto e´, os conjuntos f−1(1) e f−1(−1). Este conjuntos sa˜o as hipe´rboles H1(a, b) = {(x, y); x 2 a2 − y 2 b2 = 1} e H2(a, b) = {(x, y); y 2 b2 − x 2 a2 = 1}. A figura 1.4 mostra estas hipe´rboles, juntamente com suas retas ass´ıntotas Figura 4-(a): x 2 a2 − y2 b2 = 1 (a, 0) x (0, b) y Figura 4-(b): y 2 b2 − x2 a2 = 1 (a, 0) x (0, b) y y = ± b a x. Quando b = a, temos as hipe´rboles H1(a, a) e H2(a, a), que sa˜o chamadas hipe´rboles equila´teras. Neste caso, podemos re-escrever H1(a, a) = {(x, y); x2− y2 = a2} e H2(a, a) = {(x, y); y2− x2 = a2}. Exemplo 1.5. [Sela] O parabolo´ide hiperbo´lico ou sela (por parecer com uma sela que usamos para montarias) e´ o gra´fico da func¸a˜o f(x, y) = y2 − x2, (x, y) ∈ R2. Por na˜o ser um subconjunto obtido por rotac¸o˜es, o seu esboc¸o e´ um pouco mais trabalhoso. Comec¸ando com cortes por planos z = c ≥ 0, obtemos as hipe´rboles {(x, y, z); y2 − x2 = c, z = c}, que se degeneram no par de retas y = ±x, quando c =0. Agora, usando planos c ≤ 0, vemos as hipe´rboles {(x, y, z); x2 − y2 = c, z = c}. Ja´ os cortes de G(f) por planos y = c produz para´bolas z = c2 − y2, que o leitor devera´ esboc¸ar. Finalmente, obtemos a sela. Figura 5: Parabolo´ide Hiperbo´lico (sela) x y = x y y2 − x2 = 1 z 1-1 Exerc´ıcio Resposta Esboce o gra´fico de z = f(x, y) = 2x2 + y2, onde (x, y) ∈ R2. Exemplo 1.6. Vamos agora considerar a func¸a˜o g(x, y) = x2 +y2, com (x, y) variando no retaˆngulo D = [0, 1] × [0, 1]. A lei desta func¸a˜o e´ a mesma da func¸a˜o f do exemplo 1.2 . A diferenc¸a entre elas e´ o domı´nio: f esta´ sendo considerada em R2 e g em D = [0, 1]× [0, 1]. Esta diferenc¸a fica bastante clara quando olhamos seus gra´ficos: G(f) = {(x, y, z); z = x2 + y2, (x, y) ∈ R2} e G(g) = {(x, y, z); z = x2 + y2, 0 ≤ x ≤ 1, 0 ≤ y ≤ 1}. Func¸o˜es Vetoriais (J. Adonai) - 5 Portanto, podemos dizer que a superf´ıcie z = g(x, y) e´ a parte da su- perf´ıcie z = f(x, y) que se projeta no retaˆngulo D = [0, 1] × [0, 1]. Em outras palavras, o gra´fico de g e´ a parte do gra´fico de f que se projeta sobre [0, 1]× [0, 1]. Finalmente, esboc¸amos o gra´fico de g. x (1, 1, 0)(1, 0, 0) D y (0, 1, 0) z = g(x, y), 0 ≤ x ≤ 1, 0 ≤ y ≤ 1z 1-2 Exerc´ıcio Resposta Esboce o gra´fico de z = h(x, y) = x2 + y2, onde x2 + y2 ≤ 1. Exemplo 1.7. As superf´ıcies mais simples, que sa˜o gra´ficos de func¸o˜es das varia´veis x e y, sa˜o os planos (ou parte deles). Considere z = f(x, y) = 2− x− y, onde (x, y) varia no triaˆngulo T do plano com ve´rtices (0, 0), (1, 0) e (0, 1). Portanto, o gra´fico de f e´ a parte do x (2, 0, 0) (0, 2, 0)T y (0, 1, 0) (0, 0, 2) z = 2− x− y, (x, y) ∈ T plano z = 2− x− y (ou x + y + z = 2) que se projeta sobre T , olhado como subconjunto do plano-xy. 1-3 Exerc´ıcio Resposta Considere a func¸a˜o constante z = f(x, y) = 2, onde x2 + y2 ≤ 1. O que seria o gra´fico de f? Uma forma bastante eficiente de construir func¸o˜es, juntamente com seus gra´ficos, e´ comec¸ar com uma superf´ıcie definida por uma equac¸a˜o e explicitar de forma u´nica, em tal equac¸a˜o, z em termos de x e y, cuidadosamente escolhidos. Assim, teremos uma func¸a˜o f(x, y) = z e seu gra´fico, que deve ser parte daquela superf´ıcie inicial. Por exemplo, no exemplo anterior t´ınhamos o plano x + y + z = 2 e explicitamos z = 2 − x − y e escolhemos (x, y) variando no triaˆngulo T . Vejamos outro caso a seguir. Exemplo 1.8. Consideremos a esfera x2 + y2 + z2 = 1, que tem raio 1 e centro na origem. Explicitando z nesta equac¸a˜o, obtemos z = ± √ 1− (x2 + y2). Para ter unicidade, vamos considerar apenas z = √ 1− (x2 + y2). E´ claro que devemos considerar (x, y) tais que x2 +y2 ≤ 1, o que garante um bom radicando na definic¸a˜o de z. Portanto, f(x, y) = √ 1− (x2 + y2), x2 + y2 ≤ 1, define uma func¸a˜o f cujo gra´fico e´ parte da esfera. Na verdade, tal gra´fico e´ o hemisfe´rio superior. Figura 8: A Esfera S2 e o Gra´fico de f(x, y) = √ 1− x2 − y2 xx (x, y,− √ 1− x2 − y2) (1, 0, 0) y(x,y,0) (0, 1, 0) y (x, y, √ 1− x2 − y2) zz Func¸o˜es Vetoriais (J. Adonai) - 6 Agora, uma questa˜o simples: por que a esfera toda na˜o pode ser gra´fico de uma func¸a˜o? Bem, da definic¸a˜o 1.3 , os pontos de uma superf´ıcie S que e´ gra´fico de uma func¸a˜o f sa˜o da forma (x, y, z), onde z = f(x, y) e (x, y) varia no domı´nio de f . Como f e´ uma func¸a˜o, para uma ponto (x, y), z assume apenas um valor. Portanto, se trac¸amos uma reta perpendicular ao plano-xy pelo ponto (x, y, 0) ela intercepta S apenas em um ponto, aquele de altura z = f(x, y). Isto na˜o ocorre com a esfera inteira. 1-4 Exerc´ıcio Resposta Considere a func¸a˜o z = f(x, y) = √ −(x2 + 2x+ y2). Determine o (maior) domı´nio de f e esboce o superf´ıcie z = f(x, y), isto e´, o gra´fico de f . 1.1.3 O Caso n = 3 Este e´ o caso em que o domı´nio de f e´ um subconjunto do espac¸o R3: f : D ⊂ R3 −→ R, que chamaremos func¸a˜o real de treˆs varia´veis. A`s vezes, escrevemos apenas w = f(x, y, z). Observac¸a˜o 1.9. Neste caso, a gra´fico de f e´ um subconjunto do espac¸o euclidiano de quatro dimenso˜es, espac¸o que na˜o estudaremos neste curso. Portanto, neste caso, olharemos apenas para os conjuntos de n´ıvel de f : f−1(c) = {(x, y, z) ∈ D; f(x, y, z) = c}, que, claro, sa˜o subconjuntos de R3 e, em geral, sa˜o superf´ıcies. Exemplo 1.10. [Planos] Dados as constantes nem todas nulas a, b, c, os planos da forma ax+ by+ cz = d podem ser olhados como conjuntos de n´ıvel da func¸a˜o f(x, y, z) = ax+ by + cz. Exemplo 1.11. [Cilindros Circulares Retos] Seja w = f(x, y, z) = x2 + y2. Vamos olhar o conjunto de n´ıvel 1 de f : S = f−1(1) = {(x, y, z) ∈ R3; x2 + y2 = 1}. Observe que o ponto (1, 0, 0) pertence a este conjunto. Mais ainda, dado z ∈ R, (1, 0, z) tambe´m pertence a ele. Desta forma, podemos afirmar que todos os pontos do espac¸o que se projetam sobre (1, 0, 0) sa˜o pontos do conjunto S, isto e´, a reta que passa por (1, 0, 0) e e´ paralela ao eixo-z e´ subconjunto da nossa superf´ıcie S. Usando este mesmo racioc´ınio, vemos x (1, 0, 0) (0, 1, 0) y z que a superf´ıcie S e´ composta de todas as retas paralelas a eixo-z e que furam o c´ırculo x2 + y2 = 1 do plano-xy. S e´ o cilindro circular reto de raio 1 e eixo igual ao eixo-z. Neste ponto, o leitor deve notar a diferenc¸a entre os conjuntos S, que sa˜o as triplas (x, y, z) que satisfazem x2+y2 = 1, e o c´ırculo x2+y2 = 1, que sa˜o as duplas (x, y) que satisfazem a mesma equac¸a˜o. Mais geralmente, o leitor deve verificar que f−1(c2) = {(x, y, z) ∈ R3; x2 + y2 = c2} e´ o cilindro circular reto de raio c. Observac¸a˜o 1.12. Generalizando o exemplo acima, o leitor deve esbo- c¸ar o cilindro, {(x, y, z) ∈ R3; x2 + z2 = c2}, de eixo eixo-y, e o cilindro {(x, y, z) ∈ R3; y2 + z2 = c2}, de eixo eixo-x. Exemplo 1.13. [Esferas] Seja w = f(x, y, z) = x2 + y2 + z2. Func¸o˜es Vetoriais (J. Adonai) - 7 Vamos estudar o conjunto de n´ıvel 1 de f : f−1(1) = {(x, y, z) ∈ R3; x2 + y2 + z2 = 1}. Este conjunto, como sabemos e´ a esfera de raio 1 centrada em (0, 0, 0), indicada nos textos de Geometria Diferencial por S2(1) ou, mais sim- plesmente, S2. Mais geralmente, dado a > 0, o conjunto de n´ıvel a2 de f e´ f−1(a2) = {(x, y, z) ∈ R3; x2 + y2 + z2 = a2} e´ a esfera S2(a), de raio a e centro (0, 0, 0). Figura 10: A Esfera S2 x (1, 0, 0) (0, 1, 0) y z Observac¸a˜o 1.14. Generalizando o exemplo anterior, o conjunto S2(a,X0) = {(x, y, z) ∈ R3; (x− x0)2 + (y − y0)2 + (z − z0)2 = a2} e´ a esfera de raio a e centro X0. 1.2 Curvas Parametrizadas Nesta sec¸a˜o, vamos estudar os casos onde n = 1, isto e´, f : D ⊂ R −→ Rm, para m = 2 ou 3, onde, em geral, D sera´ um intervalo. Nesta situac¸a˜o, geralmente, usamos letras gregas para indicar a func¸a˜o, e a varia´vel, chamada paraˆmetro e´ indicada pela letra t, isto e´, trabalharemos assim: α : D ⊂ R −→ R2, ou β : D ⊂ R −→ R3, ou γ : D ⊂ R −→ R3... Neste contexto, a imagem de uma func¸a˜o α recebe o nome de trac¸o. Assim, escrevemos: trα = Im(α). 1.2.1 O Caso m = 2: Curvas Planas Este e´ o caso das curvas parametrizadas planas. Portanto, teremos α : D ⊂ R −−−−−→ R2 t −−−−−→ α(t) = (α1(t), α2(t)). Assim, x = α1(t) e y = α2(t) sera˜o as func¸o˜es coordenadas de α. Exemplo 1.15. As curvas parametrizadas mais simples sa˜o as retas, que sa˜o definidas a partir da equac¸a˜o parame´trica de uma reta. Dados um vetor −→v na˜o-nulo e um poto P , seja α(t) = P + t−→v , t ∈ R, A imagem de α, Im(α) = {X ∈ R2; X = P + t−→v , t ∈ R} e´ a reta que passa por P e e´ paralela a −→v , e temos o seguinte diagrama, que mostra o efeito da func¸a˜o α: parametriza a reta l(P,−→v ). q1p1O x t α p2 MPR −→vq2 lPQ = l(P, −→v ) y Exemplo 1.16. Seja α(t) = (x0 + a cos t, y0+ b sen t), t ∈ [0, 2pi], onde a > 0, b > 0, x0 e y0 sa˜o nu´meros reais fixados. A imagem de α, Im(α) = {(x, y) ∈ R2; x = x0 + a cos t, y = y0 + b sen t, t ∈ R}, coincide com a elipse de semi-eixos a e b, centrada em C = (x0, y0), que denotaremos por E(C, a, b). De fato, se x e y sa˜o como acima, enta˜o (x− x0)2 a2 + (y − y0)2 b2 = cos2 t+ sen2 t = 1. Func¸o˜es Vetoriais (J. Adonai) - 8 Quando a = b, ficamos com α(t) = (x0 + a cos t, y0 + a sen t), t ∈ [0, 2pi] e obtemos o c´ırculo de raio a. Neste caso, vemos facilmente que podemos xx0 0 2pi aαt y0 bR Im(α) R2 y olhar o paraˆmetro t como sendo o aˆngulo entre os vetores −−−→ Cα(t) e −→ CA, a = (x0 + a, y0), indicados na figura abaixo. α1(t) x x0 0 2pi a A = (x0 + a, y0)t y0α t R b Im(α) α(t)α2(t) y R2 Exemplo 1.17. Uma boa maneira de construir curvas parametrizadas e´ a partir de uma func¸a˜o y = f(x), onde x varia num certo intervalo I. A ideia e´ construir uma nova func¸a˜o, agora com imagem em R2, de modo que esta imagem coincida com a curva y = f(x). Para isto definimos α(t) = (t, f(t)), t ∈ I. Logo, a imagem de α e´ a curva y = f(x). Neste caso, dizemos que α parametriza a curva y = f(x). Figura 1.17: Parametrizando o Gra´fico de y = f(x) It x I t α f(t) X = α(t) y = f(x)y Em particular, α(t) = (t, t2), t ∈ R, parametriza a para´bola y = x2. Como exerc´ıcio, repita o diagrama da figura 1.17 para este caso. Exemplo 1.18. [Ciclo´ide] A ciclo´ide e´ o subconjunto γ do plano R2 percorrido por um ponto P preso a um c´ırculo que rola sem deslizar sobre uma reta. Na figura 15 , consideramos a ciclo´ide descrita por P partindo da origem, preso ao c´ırculo centrado em (0, a) e de raio a. Uma parametrizac¸a˜o para a ciclo´ide pode ser obtida usando como paraˆmetro o aˆngulo t que o segmento [C,Q], que liga o centro do c´ırculo em mo- vimento ao ponto de contato deste c´ırculo com o eixo-x, faz com o segmento [C,P ], que liga C ao ponto mo´vel P . O fato que o c´ırculo rola Figura 15: Ciclo´ide a sen t P = O x(t) Q = (at, 0) P = Q = (2pia, 0)‘Q = (pia, 0) x tP y(t) a cos t a C C γ P y sem deslizar e´ usado para garantir que o comprimento do segmento [O,Q] seja igual ao comprimento do arco de c´ırculo que liga P a Q, o qual mede at, como vemos na figura. Portanto, o ponto P , no instante t, vale P = (x(t), y(t)) = (at− a sen t, a− a cos t). Func¸o˜es Vetoriais (J. Adonai) - 9 Logo, α : R −−−−−→ R2 t −−−−−→ α(t) = (at− a sen t, a− a cos t) parametriza a ciclo´ide γ. 1.2.2 O Caso m = 3: Curvas no Espac¸o Aqui, temos as curvas parametrizadas no espac¸o, que teˆm a forma α : D ⊂ R −−−−−→ R2 t −−−−−→ α(t) = (α1(t), α2(t), α3(t)). Suas func¸o˜es coordenadas sa˜o x = α1(t), y = α2(t) e z = α2(t). Exemplo 1.19. Como vimos no caso m = 2, as curvas parametrizadas mais simples sa˜o as retas, que sa˜o definidas a partir da equac¸a˜o pa- rame´trica de uma reta. Agora, dados um vetor −→v 6= 0 no espac¸o e um poto P ∈ R3, a curva parametrizada α(t) = P + t−→v , t ∈ R, parametriza a reta l(P,−→v ). Vamos estudar α(t) = (−3t+ 3, 2, t+ 1), t ∈ R. Observe que podemos re-escrever α como α(t) = t(−3, 0, 1) + (3, 2, 1), t ∈ R e, assim, vemos que α parametriza a reta l(P,−→v ), onde P = (3, 2, 1) x C = (6, 2, 0) (6, 0, 0) (3, 2, 1) P A y B (0, 0, 2) l(A,−→v )z e −→v = −3−→i + −→k . Para determinar o ponto C onde a reta l fura o plano-xy, simplesmente anulamos a terceira coordenada de α, isto e´, determinamos t tal que t + 1 = 0. E claro que t deve ser 1. Logo, C = α(1) = (6, 2, 0). Deixamos que o leitor verifique que B = (0, 2, 2) e´ o ponto onde a reta fura o plano-yz. Note que l e´ uma reta paralela ao plano-xz. Para exercitar a sua intuic¸a˜o geome´trica, o leitor deve calcular (sem fazer muita conta) a a´rea do triaˆngulo 4ABC, onde A = (0, 2, 0). O valor da a´rea e´ 6. 1-5 Exerc´ıcio Resposta Esboce o trac¸o das seguintes curvas parametri- zadas (a) α(t) = (2 cos t, 2 sen t), 0 ≤ t ≤ pi. (b) α(t) = (1 + t, 2− t), t ∈ R. (c) α(t) = (1 + t, 1− t, 3t), t ∈ R. (d) α(t) = (t, t2), −1 ≤ t ≤ 1. Sugesto˜es & Respostas (J. Adonai) - 10 Exemplo 1.20. [He´lice] Uma curva no espac¸o bastante conhecida e´ a he´lice circular de raio a e passo 2pib e que se enrola em torno do eixo-z. Ela e´ para- metrizada por α : R −−−−−→ R3 t −−−−−→ α(t) = (a cos t, a sen t, bt), onde a e´ uma constante positiva e b uma constante na˜o-nula. O seu trac¸o e´ mostrado ao lado. Algumas observac¸o˜es devem ser feitas. Vamos escrever as func¸o˜es coordenada de α: Figura 17: He´lice Circular x (a, 0, 0) (0, a, 0) y (0, 0, 2pib) z x = a cos t, y = a sen t, z = bt. Donde, obtemos x2 + y2 = a2. Esta e´ a equac¸a˜o do cilindro circular reto de raio a (veja o exem- plo 1.11 ), cujo eixo coincide com o eixo-z. Isto implica que a he´lice e´ subconjunto do cilindro, como indicado na figura. Observe tambe´m que se olhamos as triplas (x, y, 0) = (a cos t, a sen t, 0), que sa˜o as projec¸o˜es dos pontos da he´lice sobre o plano-xy, vemos o circulo de raio a, cen- trado na origem. Parte 1 Sugesto˜es & Respostas 1-1 Voltar O gra´fico de f e´ um parabolo´ide el´ıptico. Suas sec¸o˜es por planos paralelos ao plano-xy sa˜o, em geral, elipses. 1-2 Voltar O gra´fico de h e´ a parte do parabolo´ide de revoluc¸a˜o z = x2 + y2 que se projeta sobre o disco de raio 1 centrado na origem. x y z = x2 + y2, x2 + y2 ≤ 1z 1-3 Voltar O gra´fico de f e´ uma co´pia do disco x2 + y2 ≤ 1 posta no plano z = 2. 1-4 Voltar O domı´nio de f e´ dado por x2 + 2x + y2 ≤ 0, o que equivale a (x−1)2 +y2 ≤ 1, que e´ o disco de raio 1 e centro (1, 0). Agora verifique que (x− 1) + +y2 + z2 = 1, o que e´ uma esfera. Agora esboce a superf´ıcie. Sugesto˜es & Respostas (J. Adonai) - 11 1-5 Voltar (a) O trac¸o e´ um semi-c´ırculo. (b) O trac¸o e´ a reta que passa por (1, 2) e e´ paralela ao vetor (1,−1). (c) O trac¸o e´ a reta l que passa por (1, 1, 0) e e´ paralela ao vetor (1,−1, 3). x 2 y 1 3 z l (d) O trac¸o e´ o arco da para´bola y = x2 que se projeta sobre o intervalo fechado [−1, 1]. UFAL – EAD – Ca´lculo 3 J. Adonai Parte 2: Ca´lculo das Curvas Parametrizadas Objetivos Espec´ıficos • Calcular Derivadas de Curvas Parametrizadas • • Interpretar geometricamente a Derivada • • Definir Velocidade e Acelerac¸a˜o • Objetivo Geral • Estender a Noc¸a˜o de Derivada do Ca´lculo 1 para Func¸o˜es Vetoriais • Maceio´-2010 12 Ca´lculo das Curvas Parametrizadas (J. Adonai) - 13 O objetivo principal desta parte e´ estender os conceitos de limite e continuidade que conhecemos para func¸o˜es reais de uma varia´vel real, a`s func¸o˜es vetoriais de uma varia´vel real. Trabalharemos com curvas no R3. O caso no R2 e´ ana´logo e pode ser visto facilmente pelo leitor. 2.1 Limite e Continuidade Definic¸a˜o 2.1. Sejam α : D ⊂ R −→ R3 uma func¸a˜o vetorial com func¸o˜es coordenadas α1, α2, α3, e t0 ∈ R. Se existem l1 = lim t→t0 α1(t), l2 = lim t→t0 α2(t), e l3 = lim t→t0 α3(t), diremos que α possui limite em t0, e a tripla lim t→t0 α(t) = (l1, l2, l3) sera´ chamada limite de α em t0. Exemplo 2.2. Seja α(t) = (cos t, t2 + 2, sen t t ), t 6= 0. Como lim t→0 cos t = 1, lim t→0 (t2 + 2) = 2, e lim t→0 sen t t = 1, segue-se que lim t→0 α(t) = (1, 2, 1). Exemplo 2.3. A func¸a˜o β(t) = (t, sen 2pi t ), definida em R − {0}, na˜o tem limite em t0 = 0, visto que sen( 2pi t ), sua segunda func¸a˜o coordenada na˜o tem limite neste ponto. Um bom modo de ver isso e´ estudar o comportamento de β2 ao longo de dois subconjuntos especiais (duas sequ¨eˆncias) do seu domı´nio, a saber: e X1 = {x ∈ R; x = 1 k , k ∈ N} X2 = {y ∈ R; y = 4 4k + 1 , k ∈ N}, onde N = {1,2, 3, . . .} e´ o conjunto dos nu´meros naturais. Note que tanto os elementos de X1 quanto os de X2 ficam bem pro´ximos de t0 = 0 a` medida que o valor de k cresce. Agora, se x = 1/k e´ um elemento de X1, enta˜o β2(x) = sen(2pi/x) = sen 2kpi = 0. Por outro lado, se y ∈ X2, enta˜o, β2(y) = 1. Logo, β2(t) na˜o pode se aproximar de um valor bem definido quando o paraˆmetro t tende a zero, isto e´, β2 na˜o tem limite em t0 = 0. Definic¸a˜o 2.4. Sejam α : D ⊂ R −→ R3 uma func¸a˜o com func¸o˜es coordenadas α1, α2, α3 e t0 ∈ D. Se α1, α2, α3 sa˜o cont´ınuas em t0, diremos que α e´ cont´ınua em t0. Quando α e´ cont´ınua em todos os pontos de D, dizemos que α e´ cont´ınua em D. Exemplo 2.5. A curva parametrizada no R3, α(t) = (et, cos t+ sen t, 1 + t+ t2), t ∈ R, e´ cont´ınua em R, pois suas func¸o˜es coordenadas sa˜o cont´ınuas a´ı. A seguinte proposic¸a˜o decorre facilmente das propriedades do limite para func¸o˜es reais de uma varia´vel real. Proposic¸a˜o 2.6. [Operac¸o˜es com Limites] Se α, β : D ⊂ R −→ R3 e h : D −→ R teˆm limite em t0 ∈ R, e a ∈ R, enta˜o, valem as seguintes propriedades do limite: (i) lim t→t0 (α + β)(t) = lim t→t0 α(t) + lim t→t0 β(t); (ii) lim t→t0 (hα)(t) = lim t→t0 h(t) lim t→t0 α(t); (iii) lim t→t0 (aα)(t) = a lim t→t0 α(t); (iv) lim t→t0 (α · β)(t) = lim t→t0 α(t) · lim t→t0 β(t); (v) lim t→t0 (α× β)(t) = lim t→t0 α(t)× lim t→t0 β(t). Ca´lculo das Curvas Parametrizadas (J. Adonai) - 14 2-1 Exerc´ıcio Resposta Calcule os seguintes limites. (a) limt→0(t2 + 1, cos t−1t , e t). (b) limt→1(t2 − 1, log tt−1 , et). (c) limx→0( tg x−x x(1−cosx) , log x+1 x , et−1). 2.2 Derivadas Ja´ que dispomos da noc¸a˜o de limite, torna-se bastante natural o conceito de derivada para curvas parametrizadas no R3. A ide´ia e´ trazer esta noc¸a˜o do ca´lculo das func¸o˜es reais de uma varia´vel real, como ja´ fizemos com limite. Mais precisamente, temos a seguinte definic¸a˜o. Definic¸a˜o 2.7. Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada. Dire- mos que α e´ deriva´vel em t ∈ I se existir o limite lim h→0 α(t+ h)− α(t) h . Este limite, quando existe, e´ chamado derivada de α em t, e e´ denotado por α′(t). Se esta derivada existe em todo ponto de I, diremos que α e´ deriva´vel em I. Dados uma curva parametrizada α : I −−−−−→ R3 t −−−−−→ α(t) = (α1(t), α2(t), α3(t)), e t ∈ I, temos, usando as definic¸o˜es de soma de triplas e de produto de uma tripla por escalar, que α(t+ h)− α(t) h = 1 h (α1(t+ h)− α1(t), α2(t+ h)− α2(t), α3(t+ h)− α3(t)) = ( α1(t+ h)− α1(t) h , α2(t+ h)− α2(t) h , α3(t+ h)− α3(t) h ), o que, diante da definic¸a˜o 2.1 , prova a seguinte proposic¸a˜o, bastante u´til nos exerc´ıcios. Proposic¸a˜o 2.8. Uma curva parametrizada α : I −→ R3 e´ deriva´vel em t ∈ I se, e somente se, suas func¸o˜es coordenadas sa˜o deriva´veis em t, e vale a identidade: α′(t) = (α′1(t), α ′ 2(t), α ′ 3(t)). Exemplo 2.9. Agora, usando a proposic¸a˜o 2.8 , vamos calcular as de- rivadas de algumas func¸o˜es. (i) Se α(t) = (cos t, sen t, t) e´ a he´lice de raio 1, sua derivada e´ dada por α′(t) = (− sen t, cos t, 1). Em particular, sua derivada em t = pi/2 e´ α′(pi/2) = (−1, 0, 1). (ii) Se β(t) = (t, t2, t3), enta˜o β′(t) = (1, 2t, 3t2). Em particular, sua deriva em t = 0 e´ β′(0) = (1, 0, 0). (iii) Se γ e´ a reta γ(t) = (1 + 2t, 3 + t), enta˜o γ′(t) = (2, 1), que e´ constante. Ca´lculo das Curvas Parametrizadas (J. Adonai) - 15 2-2 Exerc´ıcio Resposta Calcule as derivadas das seguintes curvas para- metrizadas. (a) limt→0(t2 + 1, cos t−1t , e t). (b) limt→1(t2 − 1, log tt−1 , et). (c) limx→0( tg x−x x(1−cosx) , log x+1 x , et−1). 2.2.1 Interpretac¸a˜o Geome´trica Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada deriva´vel em t ∈ I. Introduzimos aqui o quociente de Newton de α em t, o qual indicaremos por Q, e e´ definido por Q(h) = α(t+ h)− α(t) h , h 6= 0, e t+ h ∈ I. Logo, α′(t) = lim h→0 Q(h). Portanto, a visualizac¸a˜o de Q(h), para h pro´ximo de zero, facilitara´ a visualizac¸a˜o do vetor α′(t). Com efeito, na xq y Im(α) t + ht α α(t) R α(t + h) Q(h) z α ′(t) figura acima, vemos o vetor α(t+ h)−α(t) e seu mu´ltiplo Q(h). Agora e´ so´ deixar a nossa intuic¸a˜o trabalhar, pensando com valores de h pe- quenos. Isto ocorrendo, as retas que passam por α(t) e α(t + h) se aproximam da reta tangente ao trac¸o de α em α(t). Portanto, os ve- tores Q(h) se aproximam de um vetor tangente. Posto isto, podemos interpretar geometricamente o vetor α′(t) como um vetor tangente ao trac¸o de α em α(t). Definic¸a˜o 2.10. Seja α : I −→ R3 uma curva parametrizada deri- va´vel em t. A derivada α′(t) e´ chamado vetor tangente de α em t. Se α′(t) 6= 0, a reta que passa pelo ponto α(t) e e´ paralela ao vetor α′(t) e´ conhecida por reta tangente de α em t. Indicaremos esta reta por ltα. Assim, ltα = α(t) + [α ′(t)] = {X ∈ R3; X = α(t) + uα′(t), u ∈ R}. Observac¸a˜o 2.11. O leitor com pouca experieˆncia deve ficar atento com relac¸a˜o a` forma como foram indicados os pontos da reta ltα: o paraˆmetro que descreve seus pontos esta´ sendo indicado por u. O paraˆmetro t, de α, esta´ fixo e determina um ponto e a direc¸a˜o da reta. Exemplo 2.12. Consideremos a curva parametrizada α(t) = (a cos t, a sen t), t ∈ [0, 2pi], cujo trac¸o e´ o c´ırculo x2 + y2 = a2. Temos que α′(t) = (−a sen t, a cos t), e, fixado t, a reta tangente a α em t e´ dada por ltα = {X = (a cos t, a sen t) + u(−a sen t, a cos t), u ∈ R}. Em particular, a reta tangente de α em t = pi/4 e´ lpi/4α = {X = (a √ 2 2 , a √ 2 2 ) + u(−a √ 2 2 , a √ 2 2 ), u ∈ R}. A curva parametrizada β(t) = (a cos t+ at sen t, a sen t− at cos t), t ∈ [0, 2pi], Ca´lculo das Curvas Parametrizadas (J. Adonai) - 16 e´ a evolvente de α. Seu vetor tangente em ponto arbitra´rio t e´ dado por β′(t) = t(a cos t, a sen t), vetor que e´ perpendicular a α′(t), visto que α′(t) · β′(t) = 0. Observando que s = ‖α(t)− β(t)‖ = at, coincide com o comprimento do arco do c´ırculo ligando P a α(t), como mos- tra a figura ao lado, podemos interpre- tar geometricamente a evolvente da seguinte forma: enrole sobre o c´ırculo x t β(t) s = at α(t) y um corda˜o de modo que a extremidade livre coincida com P . A seguir, segure P e desenrole ocorda˜o, mantendo-o sempre esticado. A trajeto´ria descrita por P e´ exatamente o trac¸o da evolvente. O exemplo que segue exibe um modo surpreendente de se construir a evolvente β. Exemplo 2.13. A he´lice circular λ(t) = (a cos t, a sen t, bt), t ∈ R, e´ uma curva parametrizada deriva´vel em R, visto que suas func¸o˜es co- ordenadas sa˜o deriva´veis. A derivada de λ em t e´ λ′(t) = (−a sen t, a cos t, b). Portanto, a reta tangente de λ, em t, e´ ltλ = {X = (a cos t− ua sen t, a sen t+ ua cos t, bt+ ub), u ∈ R}. Note que estamos usando u como paraˆmetro para esta reta. A terceira coordenada de cada ponto de ltλ e´ z = bt+ ub, a qual se nula para u = −t. Logo, ltλ intercepta o plano-xy no ponto Q = (a cos t+ at sen t, a sen t− at cos t, 0), x Q = β(t) yt λ(t) ltλ z cujas duas primeiras coordenadas sa˜o as coordenadas da evolvente β do exemplo 2.12 , e obtemos, portanto, outro modo de descrever a evolvente do c´ırculo: as retas tangente da he´lice cortam o plano-xy ao longo da evolvente do c´ırculo da he´lice. Proposic¸a˜o 2.14. [Operac¸o˜es com Derivadas] Considere α, β : I ⊂ R −→ Rn, n = 2, ou n = 3, duas curvas parametrizadas deriva´veis em t ∈ I, e h : I −→ R tambe´m deriva´vel em t. Enta˜o, valem as seguintes propriedades: (i) (α + β)′(t) = α′(t) + β′(t); (ii) (hα)′(t) = h′(t)α(t) + h(t)α′(t); (iii) (α · β)′(t) = α′(t) · β(t) + α(t) · β′(t); (iv) (α× β)′(t)= α′(t)× β(t) + α(t)× β′(t). Ca´lculo das Curvas Parametrizadas (J. Adonai) - 17 Demonstrac¸a˜o. Veremos apenas a prova de (iii), para n = 2.. As demais ficam como exerc´ıcio para o leitor. Temos que (α · β)′(t) = (α1β1 + α2β2)′(t) = (α1β1) ′(t) + (α2β2)′(t) = (α′1(t)β1(t) + α1(t)β ′ 1(t)) + (α ′ 2(t)β2(t) + α2(t)β ′ 2(t)) = α′1(t)β1(t) + α ′ 2(t)β2(t) + α1(t)β ′ 1(t) + α2(t)β ′ 2(t) = α′(t)β(t) + α(t)β′(t), onde na passagem da segunda para a terceira equac¸a˜o, usamos a de- rivada do produto de func¸o˜es reais de uma varia´vel real. corola´rio 2.15. Seja α : I ⊂ R −→ R3 uma curva parametrizada de- riva´vel em I. α e´ constante se, e somente se, α′(t) = (0, 0, 0), para todo t ∈ I. Demonstrac¸a˜o. E´ claro que se α e´ constante, enta˜o sua derivada e´ nula sempre. Vejamos a parte que falta. Se α′(t) = (0, 0, 0), enta˜o α′1 = 0, α ′ 2 = 0 e α ′ 2 = 0. Logo, as func¸o˜es coordenadas de α sa˜o constantes. Portanto α e´ constante. O corola´rio 2.15 e a proposic¸a˜o a seguir desempenham papel fundamental em Geometria Diferencial. Proposic¸a˜o 2.16. Seja α : I ⊂ R −→ R3 uma curva parametrizada deriva´vel no intervalo I. Enta˜o, α tem norma constante se, e somente se, α′(t) e´ perpendicular a α(t), para todo t ∈ I. (Geometricamente, isto significa que a curva α esta´ contido em uma esfera centrada na origem, enta˜o o vetor tangente de α tambe´m e´ tangente a` esfera.) Demonstrac¸a˜o. Suponhamos, inici- almente, que ‖α(t)‖ = c, para todo t ∈ I. Isto significa que trα ⊂ S2(c), onde S2(c) = {X ∈ R3; ‖X‖ = c} e´ a esfera de raio c centrada na origem do R3. Logo, ‖α(t)‖2 = c2. x y α(t) α′(t) z Usando o item (iii) da proposic¸a˜o 2.14, obtemos que 2α(t) · α′(t) = 0, o que prova que α′(t) e´ perpendicular a α(t). Reciprocamente, se α′(t) e´ perpendicular a α(t), enta˜o d ‖α(t)‖2 dt = 2α′(t) · α(t) = 0. Isto implica que ‖α(t)‖2 e´ constante, pois I e´ um intervalo. 2-3 Exerc´ıcio Resposta Ache os pontos em que a curva parametrizada α(t) = (2t2, 1 − t, 3 + t2), t ∈ R, intercepta o plano dado por 3x− 14y + z = 10. 2-4 Exerc´ıcio Resposta Encontre a reta tangente de α em t0. (a) α(t) = (2 cos t, 2 sen t, t), t0 = 0. (b) α(t) = t(cos t, sen t, 1), t0 = 0. (c) α(t) = (2t, t2, t3/3), t0 = 1. Ca´lculo das Curvas Parametrizadas (J. Adonai) - 18 2-5 Exerc´ıcio Resposta Considere α(t) = (t, t2, t3), t ∈ R. (a) Se poss´ıvel, ache P = α(t) onde a tangente a` curva dada e´ paralela ao vetor A = (4, 4, 3). (b) Idem, para que a tangente seja ortogonal ao vetor A. (c) Sendo L a reta tangente a` curva dada em um ponto qualquer Q 6= α(0), considere o ponto M(t) em que L intercepta o plano z = 0. Mostre que M(t) = (2t/3, t2/3, 0), t 6= 0, e que tais pontos descrevem a para´bola definida por 4y = 3x2 e z = 0. 2.3 Derivadas de Ordem Superior Seja α : I ⊂ R −→ R3 uma curva parametrizada deriva´vel no in- tervalo I. Posto isto, temos uma nova curva parametrizada definida em I, a primeira derivada de α: α′ : I −−−−−→ R3 t −−−−−→ α′(t) = (α′1(t), α′2(t), α′3(t)). Definic¸a˜o 2.17. Se α′ e´ deriva´vel em t ∈ I, diremos que α e´ duas vezes deriva´vel em t, e o vetor α′′(t) = (α′)′(t) = (α′′1(t), α ′′ 2(t), α ′′ 3(t)) sera´ chamado segunda derivada de α em t. Se α′′(t) existe em todo t ∈ I, diremos que α e´ duas vezes deriva´vel em I. As derivadas de ordem mais alta sa˜o definidas indutivamente, de modo ana´logo ao que se faz para as func¸o˜es reais de uma varia´vel, isto e´, a segunda derivada e´ a derivada da primeira derivada (como ja´ defini- mos); a terceira derivada e´ a derivada da segunda... Mais precisamente, temos a seguinte definic¸a˜o. Definic¸a˜o 2.18. Seja α : I ⊂ R −→ R3 uma curva parametrizada p vezes deriva´vel em I, p ∈ N. Se α(p), a p-e´sima derivada de α, e´ deriva´vel em t, dizemos que α e´ (p+ 1) vezes deriva´vel em t, e o vetor α(p+1)(t) = (α(p))′(t) = ( d(p+1)α1 dt(p+1) (t), d(p+1)α2 dt(p+1) (t), d(p+1)α3 dt(p+1) (t)), t ∈ I e´ a (p+ 1)-e´sima derivada de α em t. Exemplo 2.19. Seja λ(t) = (cos t, sen t, t), t ∈ R, a he´lice circular de raio 1. E´ claro que λ tem derivadas de todas as ordens em R. Suas quatro primeiras derivadas, calculadas em um ponto arbitra´rio t, sa˜o: λ′(t) = (− sen t, cos t, 1) λ′′(t) = λ(2)(t) = (λ′)′(t) = (− cos t,− sen t, 0) λ′′′(t) = λ(3)(t) = (λ′′)′(t) = (sen t,− cos t, 0) λ′′′′(t) = λ(4)(t) = (λ′′′)′(t) = (cos t, sen t, 0). Exemplo 2.20. Se β(u) = (u, u2, u3), u ∈ R, enta˜o β′(u) = (1, 2u, 3u2), β′′(u) = (0, 2, 6u), β′′′(u) = (0, 0, 6) e β(p)(u) = (0, 0, 0), para todo p > 3. Ca´lculo das Curvas Parametrizadas (J. Adonai) - 19 2.4 Interpretac¸a˜o F´ısica Seja α : I ⊂ R −→ R3, α(t) = (α1(t), α2(t), α3(t)), uma curva pa- rametrizada, duas vezes deriva´vel no intervalo I. Neste ponto, passa- remos a olhar o paraˆmetro de α como o tempo e o vetor α(t) como o vetor-posic¸a˜o de uma determinada part´ıcula P , que se move no espac¸o. Neste caso, os vetores α′(t) e α′′(t) recebem nomes especiais, a saber: o vetor tangente de α em t, α′(t), e´ cha- mado vetor velocidade de P no tempo t, e a segunda derivada de α em t, α′′(t), e´ chamada vetor acelerac¸a˜o de P em t. As normas destes vetores sa˜o conheci- das por velocidade escalar e acelerac¸a˜o escalar de α (ou P ) em t, respectiva- mente. A velocidade escalar de α em t e´ indicada por v(t), e acelerac¸a˜o e´ indi- cada por a(t). Assim, x y α′′(t) P α′(t) z v(t) = ‖α′(t)‖ e a(t) = ‖α′′(t)‖ , t ∈ I. Exemplo 2.21. [Movimento Circular Uniforme] Suponha que uma part´ıcula P se mova ao longo do c´ırculo x2 + y2 = a2, a partir de (a, 0), no sentido anti-hora´rio, a uma velocidade angular constante ω rad/seg. Enta˜o, decorridos t segundos, sua posic¸a˜o α(t) deve fazer um aˆngulo θ(t) = ωt com o eixo-x. Logo, α(t) = (a cos θ(t), a sen θ(t)) = (a cosωt, a senωt), t ≥ 0. Portanto, a velocidade e acelerac¸a˜o de P sa˜o α′(t) = (−aω senωt, aω cosωt) α′′(t) = (−aω2 cosωt,−aω2 senωt). Donde, segue-se que o movimento e´ cen- tral, isto e´, α′′(t) aponta para o centro do c´ırculo. Ale´m disto, obtemos que cos θ x θ = ωt sen θ P y v(t) = ‖α′(t)‖ = ωa e a(t) = ‖α′′(t)‖ = ω2a, que sa˜o as conhecidas expresso˜es da velocidade escalar e da acelerac¸a˜o escalar de uma part´ıcula em movimento circular uniforme. Exemplo 2.22. [Movimento Uniforme] Suponhamos que uma par- t´ıcula P , partindo do ponto Q = (q1, q2, q3), se mova com acelerac¸a˜o constante −→a = (a1, a2, a3) e que, no momento de sua partida (t = 0), sua velocidade seja −→v = (v1, v2, v3). O nosso obje- tivo agora e´, a partir destas informac¸o˜es, determinar a posic¸a˜o de P num instante t qualquer. Indiquemos, enta˜o, por α(t) a posic¸a˜o de P no tempo t. Logo, α(0) = Q = (q1, q2, q3) α′(0) = −→v = (v1, v2, v3) α′′(t) = −→a = (a1, a2, a3), ∀t ≥ 0. Integrando duas vezes a terceira equac¸a˜o acima, vem que α(t) = C1 + tC2 + t2 2 −→a , t ≥ 0, onde C1 = α(0) e C2 = α ′(0). Logo, α(t) = Q+ t−→v + t2 2 −→a = (q1 + tv1 + t2 2 a1, q2 + tv2 + t2 2 a2, q3 + tv3 + t2 2 a3), (E1) para t ≥ 0. Em particular, se −→v e −→a na˜o sa˜o colineares, resulta que a trajeto´ria de P (ou o trα) e´ plana. Mais precisamente, ela e´ uma para´bola no plano que passa por Q e e´ paralelo aos vetores −→v e −→a . (O que ocorre com tal trajeto´ria se −→v e −→a sa˜o colineares?) Em parti- cular, podemos deduzir a equac¸a˜o do movimento de uma part´ıcula que e´ lanc¸ada para cima, a partir de Q = (0, 0, h0) com velocidade inicial−→v = (0, 0, v0). Neste caso, ela se movera´ ao longo do eixo-z e sua ace- lerac¸a˜o constante e´ −→a = (0, 0,−g), onde, como sabemos, g ' 9.8 m/s2 e´ a acelerac¸a˜o da gravidade. Usando a equac¸a˜o (E1) , vemos que α(t) = (0, 0, h0 + tv0 − t 2 2 g), t ≥ 0. Sugesto˜es & Respostas(J. Adonai) - 20 Portanto, sua posic¸a˜o no eixo-z e´ dada por z = z(t) = h0 + tv0 − t 2 2 g, que o leitor, certamente, reconhecera´ do seus estudos de cinema´tica elementar. 2-6 Exerc´ıcio Resposta Uma objeto e´ lanc¸ado de uma altura de 2 m verticalmente para cima com velocidade v0 = 10 m/s. Calcule a altura em que o objeto estara´ decorridos 2 s. Qual o tempo que ele levara´ para tocar o solo? 2-7 Exerc´ıcio Suponha que uma part´ıcula P se mova no espa- c¸o segundo a parametrizac¸a˜o α(t), t ≥ 0. Ad- mita que α(0) = (−4,−4, 0), α′(0) = (1,−1,−1) e que sua acelerac¸a˜o e´ constante α′′(t) = (2, 2, 0). (a) Mostre que α(t) = (−4 + t+ t2,−4− t+ t2,−t), t ≥ 0. (b) Considere B1 = {u1, u2, u3} ⊂ R3, onde u1 = (1,−1,−1), u2 = (−1,−1, 0) e u3 = (−1, 1,−2). Mostre que B1 e´ uma base ortogonal do R3. (c) Mostre que α(t) = tu1 + (4− t2)u2. (d) Conclua que α e´ um arco de para´bola contido no plano x− y + 2z = 0. (e) Esboce a trajeto´ria. Parte 2 Sugesto˜es & Respostas 2-1 Voltar (a) (1, 0, 1). (b) (0, 1, e). (c) (2 3 , 1, 1). 2-2 Voltar (a) (1, 0, 1). (b) (0, 1, e). (c) (2 3 , 1, 1). 2-3 Voltar (2, 0, 4) e (18, 4, 12). 2-4 Voltar (a) X(u) = (2, 2u, u), u ∈ R. (b) X(u) = (u, 0, u), u ∈ R. (c) X(u) = (2 + 2u, 1 + 2u, (1/3) + u), u ∈ R. 2-5 Voltar (a) Estude a equac¸a˜o α′(t) = λA e obtenha t = 1/2. Portanto, P = α(1/2). (b) Mostre que α′(t) · A = 0 e´ imposs´ıvel. 2-6 Voltar h = 7.1 m e t ' 2.22. UFAL – EAD – Ca´lculo 3 J. Adonai Parte 3: Limite e Continuidade Objetivos Espec´ıficos • Definir Limite e Continuidade para Func¸o˜es Vetoriais • • Calcular Limites • Objetivo Geral • Identificar Func¸o˜es Cont´ınuas • Maceio´-2010 21 Limite e Continuidade (J. Adonai) - 22 O objetivo aqui e´ estender os conceitos de limite e continuidade que conhecemos para func¸o˜es reais de uma varia´vel real, como vimos na parte 2 do nosso curso de Ca´lculo 1, para as func¸o˜es vetoriais de mais de uma varia´vel real. 3.1 Limite O significado intuitivo da notac¸a˜o lim X→X0 f(X) = l, onde f : D ⊂ R2 −→ R, X0 ∈ R2 e l ∈ R, e´ o de proximidade arbitra´ria entre f(X) e o nu´mero real l, para X = (x, y) ∈ D suficientemente pro´ximo de X0. Indicando a noc¸a˜o de proximidade entre dois pontos pela ordem de grandeza de sua distaˆncia, podemos reformular a inter- pretac¸a˜o inicial: damos uma medida arbitra´ria de proximidade entre f(X) e l, representada por � > 0, e exigimos que ‖f(X)− l‖ < �, se X ∈ D, e 0 < ‖X −X0‖ < δ, para algum nu´mero positivo δ. A condic¸a˜o 0 < ‖X −X0‖ < δ indica que estamos preocupados com o comportamento de f perto de X0, mesmo que este ponto na˜o pertenc¸a a D. O que e´ preciso, isto sim, e´ que existam pontos de D suficientemente pro´ximos de X0 ou, em outras palavras, que os pontos de D se acumulem em torno de X0. Neste caso, chamaremos X0 de ponto de acumulac¸a˜o de D. Definic¸a˜o 3.1. [Limite] Sejam f : D ⊂ Rn −→ R, n = 2 ou n = 3, e X0 ∈ Rn um ponto de acumulac¸a˜o de D. Um numero real l e´ dito limite de f em X0 (ou quando X tende a X0) quando para cada � > 0, dado arbitrariamente, for poss´ıvel achar δ > 0 —o qual pode depender de � e X0— tal que se X ∈ D, 0 < ‖X −X0‖ < δ, enta˜o ‖f(X)− l‖ < �. Em outras palavras, ∀� > 0, ∃δ > 0 : X ∈ D, 0 < ‖X −X0‖ < δ =⇒ ‖f(X)− l‖ < �. Um numero real l que satisfaz esta condic¸a˜o, quando existe, e´ u´nico e, portanto, sera´ indicada por lim X→X0 f(X). Figura 26: limX→X0 = l x X0 l− � δ lf D l + � y Observac¸a˜o 3.2. A definic¸a˜o de limite em nenhum momento indica como calcular limites. O que ela faz, e´ estabelecer se l, determinado geralmente por nossa sensibilidade aritme´tica, e´ ou na˜o o limite de f . O seguinte lema da´ mais uma propriedade da norma de um vetor (veja o nosso Curso de Geometria Anal´ıtica) que sera´ u´til na tarefa de computar limites. Lema 3.3. Se X = (x1, x2, x3) ∈ R3, enta˜o |xi| ≤ ‖X‖, para i = 1, 2, 3. Demonstrac¸a˜o. Fixando i = 1, i = 2 ou i = 3, temos que |xi| = √ x2i ≤ √ x21 + x 2 2 + x 2 3 = ‖X‖ . o que prova o lema. Exemplo 3.4. Sejam f : R2 −→ R, f(x, y) = 2x+ y, e X0 = (2, 1). O nosso bom senso sugere que tomemos como candidato a limite de f em Limite e Continuidade (J. Adonai) - 23 X0, o nu´mero l = 5, posto que 2x+ y se aproxima de 5, quando x esta´ perto de 2, e y perto de 1. Inicialmente, observamos que |f(x, y)− 5| = |2x+ y − 5| = |2(x− 2) + (y − 1)| ≤ 2|x− 2|+ |y − 1|. Nesta desigualdade, usando o lema 3.3 , fazemos surgir ‖X −X0‖, onde X = (x, y). De fato, como X −X0 = (x− 2, y − 1), segue-se que |x− 2| ≤ ‖X −X0‖ e |y − 1| ≤ ‖X −X0‖ . Logo, |f(x, y)− 5| ≤ 2|x− 2|+ |y − 1| ≤ 3 ‖X −X0‖ , que e´ menor do que �, se ‖X −X0‖ < δ, onde δ = �/3. Logo, lim (x,y)→(2,1) (2x+ y) = 5. Figura 27: lim(x,y)→(2,1) = 5 2 x X01 l− � �/3 5f D = R2 l + � y 3-1 Exerc´ıcio Resposta Mostre que lim (x,y)→(1,2) (3x+ y) = 5. 3-2 Exerc´ıcio Resposta Obtenha um nu´mero infinito de soluc¸o˜es para as inequac¸o˜es abaixo. (a) |2x+ y − 5| < 1. (b) |2x+ y − 5| < 0, 5. Exemplo 3.5. Seja f(x, y) = xy, (x, y) ∈ R2. Verificaremos que o limite de f em X0 = (2, 1) e´, como a nossa sensibilidade indica, 2. Como no exemplo anterior, a ide´ia e´ fazer aparecer em |xy − 2| as expresso˜es |x − 2| e |y − 1|, e depois, via lema 3.3 , fazer aparecer ‖X −X0‖, o que permitira´ a escolha de um δ conveniente, para um � > 0 dado. Isto e´ feito assim: |xy − 2| = |(x− 2 + 2)(y − 1 + 1)− 2| = |(x− 2)(y − 1) + (x− 2) + 2(y − 1)| ≤ |(x− 2)||(y − 1)|+ |(x− 2)|+ 2|(y − 1)| ≤ ‖X −X0‖2 + ‖X −X0‖+ 2 ‖X −X0‖ ≤ ‖X −X0‖2 + 3 ‖X −X0‖ . Isto implica que |xy − 2| ≤ 4 ‖X −X0‖ , se ‖X −X0‖ ≤ 1, pois, neste caso, ‖X −X0‖2 ≤ ‖X −X0‖. Portanto, dado � > 0, somos levados a considerar δ = min{�/4, 1}. Com esta escolha, se ‖X −X0‖ < δ, obtemos ‖X −X0‖ ≤ 1 e ‖X −X0‖ ≤ �4 , o que implica |xy − 2| ≤ ‖X −X0‖2 + 3 ‖X −X0‖ ≤ 4 ‖X −X0‖ < 4 � 4 = �. Portanto, lim (x,y)→(2,1) xy = 2. 3-3 Exerc´ıcio Resposta Mostre que lim (x,y)→(1,2) (xy) = 2. Limite e Continuidade (J. Adonai) - 24 3-4 Exerc´ıcio Resposta Mostre que lim (x,y)→(2,1) (2x+ y + xy) = 7. Exemplo 3.6. Seja f : R2 −→ R definida por f(x, y) = xy x2+y2 , se (x, y) 6= (0, 0) 0, se (x, y) = (0, 0). Se f tem limite em (0, 0), este deve ser zero, porque f se anula, por exemplo, ao logo do eixo-x. Vamos verificar que f na˜o possui limite em (0, 0). Para isto, estudaremos o comportamento de f ao longo da reta y = x, que, claro, passa pela origem. Ao longo desta reta, para x 6= 0, temos que f(x, y) = f(x, x) = xx x2 + x2 = x2 2x2 = 1 2 . Isto implica que f na˜o pode ter limite em (0, 0), pois se nos aproximamos da origem ao longo de y = x, f vale 1/2. Proposic¸a˜o 3.7. [Sandu´ıche] Se f, g, h : D ⊂ Rn −→ R (n = 2, 3) sa˜o func¸o˜es reais tais que f(X) ≤ g(X) ≤ h(X), ∀X ∈ D − {X0}, e f e h teˆm o mesmo limite l em X0 ∈ D′, enta˜o l tambe´m e´ o limite de g em X0. (Nas aplicac¸o˜es, este resultado sera´ usado na forma do seguinte diagrama: f ≤ g ≤ h ? ? X −→ X0.) l l ? l Demonstrac¸a˜o. Seja � > 0. Temos que existe δ > 0 tal que X ∈ D, 0 < ‖X −X0‖ < δ =⇒ |f(X)− l| < � e |h(X)− l| < �. Logo, para X ∈ D, 0 < ‖X −X0‖ < δ, temos f(X) ∈ (l − �, l + �) e h(X) ∈ (l − �, l + �). Como f(X) ≤ g(X) ≤ h(X), para todo X ∈ D − {X0}, vem que X ∈ D, 0 < ‖X −X0‖ < δ =⇒ g(X) ∈ (l − �, l + �) e, portanto, limX→X0 g(X) = l. Exemplo 3.8. Seja f : R2 −→ R definida por f(x, y) = xy√ x2+y2 , se (x, y) 6= (0, 0) 0, se (x, y) = (0, 0). Estudaremos o limite de f em (0, 0). Tal limite, se existir, deve ser zero, porque f se anula, por exemplo, ao longo do eixo-x. Logo, devemos estudar o comportamento de |f(x, y)|, para valores de (x,y) pro´ximos de (0, 0). Se X = (x, y) 6= (0, 0), enta˜o |f(X)| = ∣∣∣∣∣ xy√x2 + y2 ∣∣∣∣∣ = |x| |y|‖X‖ ≤ ‖X‖ ‖X‖‖X‖ = ‖X‖ . Portanto, temos o “sandu´ıche”: 0 ≤ f ≤ ‖X‖ ? ? X −→ 0. 0 0 ? 0 Donde lim(x,y)→(0,0) f(x, y) = 0. Compare com o exemplo 3.6 . Limite e Continuidade (J. Adonai) - 25 Teorema 3.9. [Operac¸o˜es com Limites] Sejam f, g : D ⊂ Rn −→ R (n = 2, 3). Se limX→X0 f(X) = l1 e limX→X0 g(X) = l2, enta˜o (i) limX→X0(f(X) + g(X)) = l1 + l2; (ii) limX→X0 f(X)g(X) = l1l2; (iii) limX→X0 f(X) g(X) = l1 l2 , se l2 6= 0 e g(X) 6= 0, para X perto de X0. Demonstrac¸a˜o. Faremos apenas a prova de (i). Seja � > 0. Temos que existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que X ∈ D, 0 < ‖X −X0‖ < δ1 =⇒ ‖f(X)− l1‖ < � 2 , e X ∈ D, 0 < ‖X −X0‖ < δ2 =⇒ ‖g(X)− l2‖ < � 2 . (Note que aplicamos simplesmente a definic¸a˜o de limite para f e g, obtendo δ1 e δ2, a partir de �/2.) Tomando δ = min{δ1, δ2} as duas implicac¸o˜es obtidas ocorrem simultaneamente, isto e´, 0 < ‖X −X0‖ < δ ⇒ ‖f(X)− l1‖ < � 2 e ‖g(X)− L2‖ < � 2 . Logo, para X ∈ D, 0 < ‖X −X0‖ < δ, obtemos ‖f(X) + g(X)− (l1 + l2)‖ ≤ ‖f(X)− l1‖+ ‖g(X)− l2‖ < � 2 + � 2 = �. Isto significa que limX→X0(f(X) + g(X)) = l1 + l2. 3-5 Exerc´ıcio Resposta Usando o item (i) do teorema 3.9 e os exem- plos 3.4 e 3.5 , reobtenha que lim (x,y)→(2,1) (2x+ y + xy) = 7. 3-6 Exerc´ıcio Resposta Verifique os seguintes limites: (a) lim(x,y)→(0,2) x+y x−y = −1. (b) lim(x,y)→(1,1) x2−y2 x2+y2 = 0. (c) lim(x,y)→(1,a) (x−1)2(y+1)2 (x−1)4+(y+1)2 = 0. (d) lim(x,y)→(2,1) xy−x−2y+2√ x2+y2−4x−2y+5 = 0. (e) lim(x,y)→(0,0) x sen y√ x2+y2 = 0; (f) lim(x,y)→(0,0) ex cos y−1−x√ x2+y2 = 0. (g) lim(x,y)→(1,2,3)(x+ y + z) = 6. 3.2 Continuidade Sejam f : D ⊂ Rn −→ R (n = 2, 3) e X0 ∈ D. No estudo que faremos agora, ale´m de nossa preocupac¸a˜o com o comportamento de f em pontos pro´ximos de X0, teremos, tambe´m, nossa atenc¸a˜o voltada para o valor que ela assume neste ponto. Definic¸a˜o 3.10. Func¸a˜o Cont´ınua Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm e X0 ∈ D. Dizemos que f e´ cont´ınua em X0 se uma das seguintes alternativas ocorrer: (i) X0 e´ ponto isolado de D; (ii) X0 e´ ponto de acumulac¸a˜o de D e lim X→X0 f(X) = f(X0). (A condic¸a˜o (i) na˜o e´ de grande interesse. Ela e´ posta a´ı para que a noc¸a˜o de continuidade fac¸a sentido em qualquer ponto de D, mesmo naqueles isolados.) Dizemos que f e´ cont´ınua em D se ela for cont´ınua em todos os pontos de D. Exemplo 3.11. Os exemplos mais simples de func¸o˜es cont´ınuas sa˜o Limite e Continuidade (J. Adonai) - 26 as func¸o˜es constantes. Se f(X) = c ∈ R, X ∈ Rn (n = 2, 3), enta˜o limX→X0 f(X) = limX→X0 c = c = f(X). Exemplo 3.12. Seja f : R2 −→ R definida por f(x, y) = 2x + y. No exemplo 3.4 vimos que lim(x,y)→(2,1) f(x, y) = 5 e, como o leitor pode verificar facilmente, f(2, 1) = 5. Logo, f e´ cont´ınua em (2, 1). Na verdade, f e´ cont´ınua em todo ponto do R2. Exemplo 3.13. Seja f : R2 −→ R definida por f(x, y) = xy. No exem- plo 3.5 vimos que lim(x,y)→(2,1) f(x, y) = 2 e, claro, f(2, 1) = 2. Logo, f e´ cont´ınua em (2, 1). Na verdade, f e´ cont´ınua em todo ponto do R2. Exemplo 3.14. [Continuidade da Norma] A norma euclidiana e´ uma func¸a˜o real cont´ınua. Para o R3, no´s temos que a func¸a˜o f : R3 −−−−−→ R X −−−−−→ f(X) = ‖X‖ = √ x2 + y2 + z2 e´ cont´ınua. De fato, a desigualdade triangular | ‖X‖−‖X0‖ | ≤ ‖X −X0‖ produz o seguinte “sandu´ıche”: 0 ≤ | ‖X‖ − ‖X0‖ | ≤ ‖X −X0‖ ? ? X −→ X0. 0 0 ? 0 Logo, se X0 = (a, b, c), devemos ter lim (x,y,z)→(a,b,c) √ x2 + y2 + z2 = √ a2 + b2 + c2 = ‖X0‖ = f(X0) e, portanto, f e´ cont´ınua. Exemplo 3.15. [Continuidade das func¸o˜es lineares] Dadas as con- tantes c1, c2 e c3, a func¸a˜o real definida em R3 por f : R3 −−−−−→ R (x, y, z) −−−−−→ f(x, y, z) = c1x+ c2y + c3z e´ cont´ınua. Inicialmente, observe que, para X = (x, y, z), f(X) = C ·X, onde C = (c1, c2, c3). Logo, usando a desigualdade de Cauchy-Schawarz, obtemos, pondo X0 = (a, b, c), |f(X)− f(X0)| = |C · (X −X0)| ≤ ‖C‖ ‖X −X0‖ , o que da´ o seguinte “sandu´ıche”: 0 ≤ |f(X)− f(X0)| ≤ ‖C‖ ‖X −X0‖ ? ? X −→ X0. 0 0 ? 0 Logo, lim (x,y,z)→(a,b,c) (c1x+ c2y + c3z) = c1a+ c2b+ c3c = f(X0) e, portanto, f e´ cont´ınua. Em particular, as treˆs projec¸o˜es p1(x, y, z) = x, p2(x, y, z) = y e p3(x, y, z) = z, (x, y, z) ∈ R3, sa˜o func¸o˜es cont´ınuas (por queˆ?). As condic¸o˜es (i) e (ii) na definic¸a˜o de continuidade (definic¸a˜o 3.10 ) podem ser agrupadas em uma so´ condic¸a˜o, na linguagem de �’s e δ’s, como mostra a seguinte proposic¸a˜o, a qual conte´m a forma que alguns textos adotam para definir continuidade. Proposic¸a˜o 3.16. Sejam f : D ⊂ Rn −→ Rm e X0 ∈ D. f e´ cont´ınua em X0 se, e somente se, para cada � > 0, dado arbitrariamente, for poss´ıvel obter δ > 0 —o qual pode depender de � e X0— tal que X ∈ D, ‖X −X0‖ < δ =⇒ ‖f(X)− f(X0)‖ < �. Em outras palavras, ∀� > 0, ∃δ > 0 : ‖X −X0‖ < δ ⇒ ‖f(X)− f(X0)‖ < �. (E2) (Trocando f(X0) por L, ha´ apenas uma pequena diferenc¸a entre (E2) e a definic¸a˜o 3.1 : la´ e´ exigido que 0 < ‖X −X0‖ < δ.) Limite e Continuidade (J. Adonai) - 27 Demonstrac¸a˜o. Suponhamos, inicialmente, que f e´ cont´ınua em X0. Temos dois casos a considerar: (i) X0 e´ ponto isolado de D; (ii) X0 ∈ D′ e limX→X0 f(X) = f(X0). Seja � > 0, arbitra´rio. Se X0 e´ ponto isolado de D, vem que existe δ > 0 tal que D∩B(X0, δ) = {X0}. Logo, ‖X −X0‖ < δ ⇒ X = X0 ⇒ ‖f(X)− f(X0)‖ = 0 < �, e (E2) e´ satisfeita trivialmente. Se ocorre (ii), usamos a definic¸a˜o 3.1 para obter δ > 0 tal que X ∈ D, 0 < ‖X −X0‖ < δ =⇒ ‖f(X)− f(X0)‖ < �. Mas para X = X0, ‖f(X)− f(X0)‖ = 0 < �. Logo, X ∈ D, ‖X −X0‖ < δ =⇒ ‖f(X)− f(X0)‖ < �, e obtemos outra vez (E2) . Suponhamos, agora, que (E2) seja verificada. Se X0 e´ ponto isolado, f e´ cont´ınua em X0, por definic¸a˜o. Suponhamos, enta˜o, que X0 ∈ D′, e seja � > 0 um nu´mero positivo arbitra´rio. Como (E2) esta´ valendo, existe δ > 0 tal que X ∈ D, ‖X −X0‖ < δ =⇒ ‖f(X)− f(X0)‖ < �. Por maior raza˜o, X ∈ D, 0 < ‖X −X0‖ < δ =⇒ ‖f(X)− f(X0)‖ < �, isto e´, lim X→X0 f(X) = f(X0). Teorema 3.17. [Operac¸o˜es com Func¸o˜es Cont´ınuas] Se D ⊂ Rn (n = 2, 3) e f, g : D −→ R sa˜o func¸o˜es cont´ınuas no ponto X0 ∈ D, enta˜o as seguintes aplicac¸o˜es sa˜o cont´ınuas em X0. (i) [Soma] f + g : D −−−−−→ R X −−−−−→ (f + g)(X) = f(X) + g(X); (ii) [Produto] fg : D −−−−−→ Rm X −−−−−→ (fg)(X) = f(X)g(X); (iii) [Quociente] f g : D −−−−−→ R X −−−−−→ f g (X) = f(X) g(X) , se g(X) 6= 0, para todo X ∈ D. Demonstrac¸a˜o. Se X0 e´ isolado, na˜o ha´ o que fazer. Suponha- mos, enta˜o, X0 ∈ D′. Como f e g sa˜o cont´ınuas em X0, vem que limX→X0 f(X) = f(X0) e limX→X0 g(X) = g(X0). Usando o item (i) do teorema 3.9 , obtemos que lim X→X0 (f + g)(X) = lim X→X0 f(X) + lim X→X0 g(X) = f(X0) + g(X0). Como (f + g)(X0) = f(X0) + g(X0), segue-se a continuidade de f + g em X0. Fazendo uso dos demais itens do citado teorema, resultam (ii) e (iii). Exemplo 3.18. Uma func¸a˜o polinomial em R2 e´ uma func¸a˜o real do tipo p(x, y) = a00+a10x+a01y+a20x 2+a11xy+a02y 2+· · ·+ad0xd+· · ·+a0dyd, Limite e Continuidade (J. Adonai) - 28 onde (x, y) ∈ R2 e aij ∈ R sa˜o constantes, para 1 ≤ i, j ≤ d, com i, j, d ∈ N. Abreviadamente, p pode ser posto sob a seguinte forma: p(x, y) = d∑ k=1 (∑ i+j=k aijx iyj ) , (x, y) ∈ R2. Usando as duas projec¸o˜es do R2, dadas por p1(x, y) = x e p2(x, y) = y, podemos reescrever p como p(x, y) = d∑ k=1 (∑ i+j=k aij(p1(x, y)) i(p2(x, y)) j ) . Esta forma de olhar p mostra que p e´ uma soma de produtos envolvendo as projec¸o˜es p1 e p2, que sa˜o func¸o˜es cont´ınuas em todo R2, como vimos no exemplo 3.15 . Logo, p tambe´m e´ cont´ınuoem R2, o que resulta do teorema 3.17 . Em R3, uma func¸a˜o polinomial e´ dada por p(x, y, z) = d∑ k=1 ( ∑ i1+i2+i3=k ai1i2i3x i1yi2zi3 ) , (x, y, z) ∈ R3, para constantes ai1i2i3 ∈ R e 1 ≤ i1, i2, i3 ≤ d, com i1, i2, i3, d ∈ N. Usando argumentos ana´logos a`queles que usamos para as func¸o˜es poli- nomiais em R2, segue-se que p e´ cont´ınua em todo R3. Em particular, p(x, y, z) = x2 − xy2z + 4z3 − 2x7y3z e´ cont´ınua. Exemplo 3.19. Seja f(x, y) = xy−x−2y+2 x2+y2−4x−2y+5 . Temos que f(x, y) = (x− 2 + 2)(y − 1 + 1)− (x− 2 + 2)− 2(y − 1 + 1) + 2 (x− 2)2 − 4 + (y − 1)2 − 1 + 5 = (x− 2)(y − 1) (x− 2)2 + (y − 1)2 Logo, f esta´ bem definida em todo R2, exceto no ponto (2, 1). Definindo f(2, 1) = 0, f fica bem definida em R2. De x2 + y2 − 4x− 2y + 5 > 0, se (x, y) 6= (2, 1), resulta do teorema 3.17 que f e´ cont´ınua no conjunto R2 − {(2, 1)}. Agora, estudaremos o comportamento de f ao longo de duas retas que passam por (2, 1). Ao longo de x = 2, f se anula, e ao longo da reta y = x− 1, f(x, y) = f(x, x− 1) = (x− 2)(x− 2) (x− 2)2 + (x− 2)2 = (x− 2)2 2(x− 2)2 = 1 2 . Logo, f na˜o tem limite em (2, 1) e, portanto, na˜o e´ cont´ınua a´ı. Vejamos mais uma pec¸a u´til para a verificac¸a˜o da continuidade de certas func¸o˜es, a partir do conhecimento da continuidade de outras. Com antes, n assumira´ os valores 2 ou 3. Proposic¸a˜o 3.20. Sejam f : D ⊂ Rn −→ R e g : J ⊂ R −→ R, J um intervalo, tais que f(D) ⊂ J . Sejam X0 ∈ D e y0 = f(X0) ∈ J . Se f e´ cont´ınua em X0 e g e´ cont´ınua em y0, enta˜o g ◦ f e´ cont´ınua em X0. Demonstrac¸a˜o. Usaremos a caracterizac¸a˜o de continuidade dada pela proposic¸a˜o 3.16 . Para isto, seja � > 0. Como g e´ cont´ınua em y0 = f(X0), existe δ1 > 0 tal que y ∈ J, |y − y0| < δ1 =⇒ |g(y)− g(y0)| < �. (E3) Ja´ a continuidade de f em X0 produz δ > 0 tal que X ∈ D, ‖X −X0‖ < δ =⇒ ‖f(X)− f(X0)‖ = ‖f(X)− y0‖ < δ1. Logo, se y = f(X), para X ∈ D e ‖X −X0‖ < δ, vale ‖y − y0‖ = ‖f(X)− f(X0)‖ < δ1, a qual, via (E3) , implica que |g(y)− g(y0)| = |(g ◦ f)(X)− (g ◦ f)(X0)| < �. Sugesto˜es & Respostas (J. Adonai) - 29 Em resumo, temos que, para � > dado, existe δ > 0 tal que X ∈ D, ‖X −X0‖ < δ =⇒ |(g ◦ f)(X)− (g ◦ f)(X0)| < �, isto e´, g ◦ f e´ cont´ınua em X0. Exemplo 3.21. A func¸a˜o f(x, y) = xy√ x2+y2 , se (x, y) 6= (0, 0) 0, se (x, y) = (0, 0). Do exemplo 3.6 , segue-se que f e´ cont´ınua na origem. Agora, note que ela e´ cont´ınua nos demais pontos de R2, De fato, fora da origem f e´ o quociente (com denominador na˜o-nulo) de duas func¸o˜es cont´ınuas, a saber: a func¸a˜o polinomial p(x, y) = xy e a norma g(x, y) = ‖(x, y)‖, que sa˜o cont´ınuas, o que vem de 3.18 e 3.14 , respectivamente. Exemplo 3.22. Seja h(x, y, z) = √ 1 + x2 + y2 + z2, (x, y, z) ∈ R3. Note que h = g◦p, onde g : [0,+∞) −→ [0,+∞) e´ dada por g(t) = √t, e p : R3 −→ R e´ a func¸a˜o polinomial p(x, y, z) = 1+x2+y2+z2 > 0. Como g e p sa˜o cont´ınuas, segue-se que h e´ cont´ınua, de acordo com a proposi- c¸a˜o 3.20 . A continuidade de g e´ conhecida do curso de Ca´lculo 1. 3-7 Exerc´ıcio Resposta Usando o teorema 3.20 , motre que h(x, y, z) = log(1 + x2 + y2 + z2), (x, y, z) ∈ R3, e´ uma func¸a˜o cont´ınua. Parte 3 Sugesto˜es & Respostas 3-1 Voltar Inicialmente mostre que |3x+ y − 4| ≤ 3|x− 1|+ |y − 2| ≤ 4 ‖X −X0‖ , onde X = (x, y) e X0 = (1, 2). Portanto, para � > 0 dado, tome δ = �/4. 3-2 Voltar (a) Como lim(x,y)→(2,1)(2x+y) = 5, de acordo com o exemplo 3.4 , podemos garantir que todo elemento do disco aberto centrado em (2, 1) e de raio 1/3 e´ soluc¸a˜o. 3-3 Voltar Use os argumentos do exemplo 3.5 . 3-4 Voltar Mostre inicialmente que, para X = (x, y) e X0 = (2, 1), vale |2x+ y + xy − 7| ≤ 6 ‖X −X0‖+ ‖X −X0‖2 . Agora use os argumentos do exemplo 3.5 , usando δ = min{1, �/6}. 3-5 Voltar De fato, lim (x,y)→(2,1) (2x+y+xy) = lim (x,y)→(2,1) (2x+y)+ lim (x,y)→(2,1) (xy) = 5+2 = 7. Sugesto˜es & Respostas (J. Adonai) - 30 3-6 Voltar (a) Voceˆ pode usar o limite de quociente. Se voceˆ prefere montar um “sandu´ıche” perto de (0, 2), ponha X = (x, y) e X0 = (0, 2). Temos que |x+y x−y − (−1)| = | 2xx−y | < |2x|, se 1 < |x− y|, o que e´ poss´ıvel ser feito, para X perto de X0, pois lim X→X0 (y − x− 2) = 0. De fato, existe δ0 > 0 tal que se ‖X −X0‖ < δ0, enta˜o, |y − x− 2| < 1. Donde 2− |y − x| ≤ |2− y + x| = |y − x− 2| < 1 e, portanto, |y − x| > 1. (b) Mostre ∣∣∣x2−y2x2+y2 ∣∣∣ ≤ 2√x2+y2 |x−y|, e trabalhe numa bola centrada em (1, 1) onde ‖X‖ > √2/2 (que bola e´ essa?). Logo, nesta bola, ∣∣∣x2−y2x2+y2 ∣∣∣ ≤ √2 |x−y|. Donde segue-se o limite procurado. (c) Mostre que ∣∣∣ (x−1)2(y+1)2(x−1)4+(y+1)2 ∣∣∣ ≤ (x− 1)2. (d) A ide´ia e´ fazer aparecer |x − 2| e |y − 1| na expressa˜o dada, o que por sua vez forc¸a o aparecimento de ‖(x, y)− (2, 1)‖. Temos que∣∣∣∣ xy−x−2y+2√x2+y2−4x−2y+5 ∣∣∣∣ = ∣∣∣∣ (x−2+2)(y−1+1)−(x−2+2)−2(y−1+1)+2√(x−2)2−4+(y−1)2−1+5 ∣∣∣∣ = ∣∣∣∣ (x−2)(y−1)√(x−2)2+(y−1)2 ∣∣∣∣ = |(x−2)||(y−1)|√ (x−2)2+(y−1)2 ≤ ‖(x,y)−(2,1)‖2‖(x,y)−(2,1)‖ ≤ ‖(x, y)− (2, 1)‖ . (e) Ponha X = (x, y). Basta mostrar que | x sen y√ x2+y2 | ≤ | sen y|. (Lembre que |x| ≤ ‖X‖.) (f) ∣∣∣∣ ex cos y−1−x√x2+y2 ∣∣∣∣ ≤ ∣∣∣∣ ex−1−x√x2+y2 ∣∣∣∣+ ex ∣∣∣∣ y seny√x2+y2 ∣∣∣∣ ≤ ∣∣ ex−1−x x ∣∣+ ex ∣∣∣∣ y seny√x2+y2 ∣∣∣∣ , onde 0 < |y| < |y|. (Voceˆ lembra do teorema do valor me´dio?) 3-7 Voltar De fato, h e´ a composta de g(t) = log t, t > 0, com o polinoˆmio f(x, y, z) = 1 + x2 + y2 + z2. Voceˆ poderia explicar por que a composta esta´ bem definida? UFAL – EAD – Ca´lculo 3 J. Adonai Parte 4: Derivadas Parciais Objetivos Espec´ıficos • Definir Derivadas Parciais • • Calcular Derivadas Parciais • • Interpretar Geometricamente as Derivadas Parciais • • Construir o Vetor Gradiente • Objetivo Geral • Estender a Noc¸a˜o de Derivada para Func¸o˜es de Va´rias Varia´veis • Maceio´-2010 31 Derivadas Parciais (J. Adonai) - 32 Nesta parte, estudaremos derivadas parciais de uma func¸a˜o real de va´rias varia´veis reais. Tudo sera´ feito a partir da noc¸a˜o de derivada que estudamos no nosso curso de Ca´lculo 1. Pariremos com um exemplo, para mostra como fazemos isto. Consideremos a func¸a˜o de duas varia´veis f(x, y) = x2 + xy2 + 1, (x, y) ∈ R2. Fixemos X0 = (1, 2), e vamos estudar o comportamento de f quando variamos (x, y) saindo de X0, paralelamente ao eixo-x. Isto significa es- tudar o comportamento de f em pontos da forma X = (x, 2). Portanto, devemos estudar a func¸a˜o de uma varia´vel g1(x) = f(x, 2) = x 2 + 4x+ 1, x ∈ R. Observe que dg1 dx = g′1(x) = 2x+ 4. Em particular, em x = 1, obtemos dg1 dx (1) = g′1(1) = 6. 1 x (x, 2) 2 (1, y) y Bem, ja´ que esta derivada em x = 1 foi obtida a partir de f(x, y), com y = 2, vamos indica´-la da seguinte forma: ∂f ∂x (1, 2) = 6, o que leremos: a derivada parcial de f com relac¸a˜o a x em (1, 2) e´ igual a seis. (Note o novo s´ımbolo ∂, popularmente chamado “d redondo (round)”, no lugar do d para indicar a derivac¸a˜o.) Da mesma forma, calculamos a derivada parcial de f com relac¸a˜o a y em (1, 2). Ainda olhando para f , fazemos g2(y) = f(1, y) = 2 + y 2, derivamos g2 em y = 2 e obtemos dg2 dy (2) = g′2(2) = 4 Portanto, ∂f ∂y (1, 2) = 4. Mais geralmente, se queremos as derivadas parciais num ponto qualquer (x, y), simplesmente olhamos uma das varia´veis como constante e deri- vamos a func¸a˜o de uma varia´vel resultante. Assim, ainda trabalhando com f , teremos ∂f ∂y (x, y) = d(x2 + xy2 + 1) dx = 2x+ y2 ∂f ∂y (x, y) = d(x2 + xy2 + 1) dy = 2xy. Observe que podemos reobter as derivadas parciais em (1, 2), a partir destas fo´rmulas. Fac¸a-o. 4-1 Exerc´ıcio Resposta Considere de f(x, y) = x2 sen(y) + ex + 2, (x, y) ∈ R2. (a) Calculeas derivadas parciais em X0 = (1, 0). (b) Calcule as derivadas parciais em X0 = (x, y). As func¸o˜es g1 e g2, postas acima, sa˜o as func¸o˜es auxiliares associ- adas a f . Como, a func¸a˜o f que estudamos esta´ definida em todo R2, suas func¸o˜es auxiliares esta˜o definidas em todo R. Como vimos no nosso Curso de Ca´lculo 1, para derivarmos um func¸a˜o em um ponto, precisamos conhecer a func¸a˜o, apenas, perto de tal Derivadas Parciais (J. Adonai) - 33 ponto, o que permite fazer o limite de seu quociente de Newton naquele ponto. Portanto, para o ca´lculo das derivadas parciais de uma certa func¸a˜o f de mais de uma varia´vel em um ponto X0, basta conhecermos a func¸a˜o perto de X0, dentro de um pequeno disco centrado nele, por exemplo. Na verdade, basta conhecermos f em pequenos segmentos de reta, paralelos aos eixos coordenados e centrados em X0. Na exposic¸a˜o que faremos a seguir, sempre admitiremos que o domı´nio D, de f : D ⊂ R2 −→ R, conte´m um disco de raio δ > 0 centrado em X0 = (a, b), ponto onde sera´ efetuada a derivada parcial. xaa− δ a + δ b− δ δb f(X0)X0 f b + δ D Ry 4.1 Derivadas Parciais em R2 Seja g : I ⊂ R −→ R uma func¸a˜o real de uma varia´vel real defi- nida no intervalo I. A derivada de g em a ∈ I e´ definida por g′(a) = lim ∆x→0 g(a+ ∆x)− g(a) ∆x = lim h→0 g(a+ h)− g(a) h , quando o limite existe. Nesta definic¸a˜o, supomos que o acre´scimo h e´ tal que a + h ∈ I. Satisfeita esta hipo´tese, h e´ arbitra´rio, podendo ser positivo ou negativo, a menos que a seja uma das extremidades de I. Observac¸a˜o 4.1. Neste curso, adotaremos, tambe´m, a letra h, no lu- gar de ∆x, para indicar o acre´scimo na definic¸a˜o de derivada. Formalizaremos, agora, a noc¸a˜o de derivada parcial. Seja f : D ⊂ R2 −→ R uma func¸a˜o definida em D. Fixemos X0 = (a, b) ∈ D. Como combina- mos, existe algum disco de raio δ > 0 e centro X0 contido em D. Assim, podemos escrever os quocientes de Newton de f , relativos a x e y, em torno de X0: Q1(h) = f(a+ h, b)− f(a, b) h , 0 < |h| < δ, e Q2(k) = f(a, b+ k)− f(a, b) k , 0 < |k| < δ. Para verQ1 eQ2 como quocientes de Newton de func¸o˜es de uma varia´vel, introduzimos duas func¸o˜es auxiliares, as quais indicaremos por g1 e g2, definidas da seguinte forma: g1 : (a− δ, a+ δ) −−−−−→ R x −−−−−→ g1(x) = f(x, b) (E4) e g2 : (b− δ, b+ δ) −−−−−→ R y −−−−−→ g2(y) = f(a, y). (E5) Logo, Q1 e´ o quociente de Newton de g1 em a, e Q2 e´ o quociente de Newton de g2 em b. Isto posto, podemos definir derivada parcial. Definic¸a˜o 4.2. Se Q1 tem limite quando h tende a zero, dizemos que f tem derivada parcial com relac¸a˜o a x em X0 = (a, b). O valor do limite, indicado por ∂f ∂x (a, b), por fx(a, b), ou por D1f(a, b), e´ chamado derivada parcial de f com relac¸a˜o a x em X0. Em outras palavras, ∂f ∂x (a, b) = lim h→0 f(a+ h, b)− f(a, b) h , quando o limite existe. Derivadas Parciais (J. Adonai) - 34 Definic¸a˜o 4.3. Se Q2 tem limite quando k tende a zero, dizemos que f tem derivada parcial com relac¸a˜o a y em X0 = (a, b). O valor do limite, indicado por ∂f ∂y (a, b), por fy(a, b), ou por D2f(a, b), e´ chamado derivada parcial de f com relac¸a˜o a y em X0. Em outras palavras, ∂f ∂y (a, b) = lim k→0 f(a, b+ k)− f(a, b) k , quando o limite existe. E´ claro que o ca´lculo expl´ıcito destes limites pode ser evitado com o uso das derivadas de g1 e g2, como vimos no nosso exemplo inicial. Estabeleceremos este fato com uma proposic¸a˜o. Proposic¸a˜o 4.4. Sejam f : D ⊂ R2 −→ R, D aberto, e X0 = (a, b) ∈ D. Se g1 e g2 sa˜o como em (E4) e (E5) , enta˜o ∂f ∂x (a, b) = g′1(a) e ∂f ∂y (a, b) = g′2(b), desde que as derivadas parciais de f existam em X0. Demonstrac¸a˜o. De g1(x) = f(x, b), x ∈ (a− δ, a+ δ), vem que g1(a+ h)− g1(a) h = f(a+ h, b)− f(a, b) h = Q1(h), isto e´, Q1 coincide com o quociente de Newton de g1 em x = a. Logo, g′1(a) = lim h→0 g1(a+ h)− g1(a) h = lim h→0 f(a+ h, b)− f(a, b) h = ∂f ∂x (a, b). A afirmac¸a˜o com respeito a` derivada de f com relac¸a˜o a y sera´ deixada como exerc´ıcio. Proposic¸a˜o 4.5. [Operac¸o˜es com Derivadas Parciais] Se duas func¸o˜es f, g : D ⊂ R2 −→ R teˆm derivada com relac¸a˜o a x em X0 ∈ D, enta˜o f + g, fg e f g , esta u´ltima se g(X0) 6= 0, tambe´m teˆm derivada parcial com relac¸a˜o a x em X0, e valem as seguintes identidades: (i) ∂(f+g) ∂x (X0) = ∂f ∂x (X0) + ∂g ∂x (X0); (ii) ∂(fg) ∂x (X0) = ∂f ∂x (X0)g(X0) + f(X0) ∂g ∂x (X0); (iii) ∂( fg ) ∂x (X0) = ∂f ∂x (X0)g(X0)−f(X0) ∂g∂x (X0) g2(X0) . Demonstrac¸a˜o. Segue-se facilmente das propriedades da derivada das func¸o˜es reais de uma varia´vel real. Exemplo 4.6. Seja z = f(x, y) = xy2 + e2x+y +3, (x, y) ∈ R2, e con- sideremos o ponto X0 = (2,−1). As func¸o˜es auxiliares, g1 e g2, neste caso, sa˜o dadas porg1(x) = f(x,−1) = x+ e 2x−1 +3, x ∈ R g2(y) = f(2, y) = 2y 2 + e4+y +3, y ∈ R. Em particular, dg1 dx (2) = g′1(2) = 1 + 2 e 3 e dg2 dy (−1) = g′2(−1) = −4 + e3 . Portanto, ∂z ∂x (2,−1) = ∂f ∂x (2,−1) = 1 + 2 e3 e ∂z ∂y (2,−1) = ∂f ∂y (2,−1) = −4 + e3 . Mais geralmente, em um ponto arbitra´rio X = (x, y), obtemos ∂f ∂x (x, y) = y2 + 2 e2x+y ∂f ∂y (x, y) = 2xy + e2x+y . (E6) Derivadas Parciais (J. Adonai) - 35 A partir de (E6) , podemos reobter as derivadas parciais em (2,−1), por simples substituic¸a˜o. Exemplo 4.7. Se f(x, y) = xy, (x, y) ∈ (0,+∞)× R, enta˜o pensando em y como constante, obtemos ∂f ∂x (x, y) = yxy−1. Agora, para x cons- tante, vem que ∂f ∂y (x, y) = xy log x. Em particular, ∂f ∂x (1, 2) = 2 · 12−1 = 2 e ∂f ∂y (1, 2) = 12 log 1 = 0. O procedimento adotado no exemplo anterior, onde calculamos as derivadas parciais no ponto (1, 2), a partir do ca´lculo destas derivadas em um ponto qualquer, pode na˜o ser o mais aconselha´vel, como vemos no exemplo a seguir. Exemplo 4.8. Seja f : R × (0,+∞) −→ R definida por f(x, y) = x2 + y2 + ( arctg27(x3 + y) + sen(x2 + y2) x2 + y2 + 1 + exy+cos(x+y+2) ) log y. Para calcular, por exemplo, ∂f ∂x (3, 1), observamos que a func¸a˜o g1 asso- ciada a f , neste ponto, toma uma forma bastante simples, a saber: g1(x) = f(x, 1) = x 2 + 1, cuja derivada e´ g′1(x) = 2x. Logo, ∂f ∂x (3, 1) = 6. O leitor deve observar, entretanto, que este mesmo ca´lculo, a partir da expressa˜o geral de ∂f ∂x , deve ser bem mais trabalhoso. 4-2 Exerc´ıcio Resposta Calcule as derivadas parciais, com relac¸a˜o a x e com relac¸a˜o a y, das func¸o˜es abaixo. (a) f(x, y) = sen(y/x). (b) f(x, y) = log(x+ √ x2 + y2). (c) f(x, y) = logx y. (d) f(x, y) = ex √ y. 4-3 Exerc´ıcio Resposta Seja f(x, y) = y2x y + (log x)7(arctg(arctg(sen(cosxy)))), x > 0. Dado b ∈ R, calcule ∂f ∂y (1, b), Exemplo 4.9. Seja f : R2 −→ R definida por z = f(x, y) = √ x2 + y2. Se X = (x, y) 6= (0, 0), enta˜o ∂z ∂x (x, y) = x√ x2 + y2 e ∂z ∂y (x, y) = y√ x2 + y2 . Entretanto, f na˜o tem derivadas parciais com relac¸a˜o a x nem com relac¸a˜o a y em X0 = (0, 0). De fato, Q1(h) = f(h, 0)− f(0, 0) h = √ h2 h = |h| h = { 1, se h > 0 −1, se h < 0 . Logo, na˜o existe limh→0Q1(h) e, portanto, na˜o existe ∂f ∂x (0, 0). Ana- logamente, na˜o existe ∂f ∂y (0, 0). Note que o gra´fico de f , a superf´ıcie Derivadas Parciais (J. Adonai) - 36 z = √ x2 + y2, coincide com a folha superior do cone de duas folhas x2 + y2 = z2 (desenhe este cone). O ve´rtice deste cone corresponde ao ponto (0, 0), onde f na˜o possui derivadas parciais. Exemplo 4.10. Consideremos, agora, f : R2 −→ R definida assim: f(x, y) = xy x2−y2 x2+y2 , se (x, y) 6= (0, 0) 0, se (x, y)= (0, 0). Um ca´lculo direto, via proposic¸a˜o 4.5 , mostra que em (x, y) 6= (0, 0) valem ∂f ∂x (x, y) = y x2 − y2 x2 + y2 + 4 x2y3 (x2 + y2)2 e ∂f ∂y (x, y) = x x2 − y2 x2 + y2 − 4 x 3y2 (x2 + y2)2 . Para calcular as derivadas parciais de f em (0, 0), usaremos os quocien- tes de Newton de f a´ı: Q1(h) = f(h, 0)− f(0, 0) h = 0− 0 h = 0 e Q2(k) = f(0, k)− f(0, 0) k = 0− 0 k = 0. Logo, ∂f ∂x (0, 0) = limh→0Q1(h) = 0 e ∂f ∂y (0, 0) = limk→0Q2(k) = 0. Em resumo, temos que ∂f ∂x (x, y) = y x2−y2 x2+y2 + 4 x 2y3 (x2+y2)2 , se (x, y) 6= (0, 0) 0, se (x, y) = (0, 0) ∂f ∂y (x, y) = x x2−y2 x2+y2 − 4 x3y2 (x2+y2)2 , se (x, y) 6= (0, 0) 0, se (x, y) = (0, 0). (E7) Observac¸a˜o 4.11. Algumas palavras sobre as notac¸o˜es usadas para derivadas parciais. O s´ımbolo ∂f ∂x (X0) (ou fx(X0)) conte´m duas informa- c¸o˜es: (i) calculamos o limite quando h tende a zero do quociente de New- ton Q1; (ii) estamos indicando a primeira varia´vel de f por x. Portanto, se indicamos por u e v as coordenadas de um ponto qualquer do domı´nio de f , a notac¸a˜o adequada para o limite limh→0Q1(h) e´ ∂f ∂u (X0), o que deve ser chamado derivada parcial de f com relac¸a˜o a u em X0. Note, entretanto, que a notac¸a˜o D1f(X0) na˜o depende da escolha da letra que usamos para indicar a primeira varia´vel de f . O exemplo a seguir indica os pontos do domı´nio de f por (s, t), e calcula, claro, as derivadas parciais de f com relac¸a˜o a`s varia´veis s e t. Exemplo 4.12. Se f(s, t) = A sen(ks−wt), (s, t) ∈ R2 e A, k, w cons- tantes, enta˜o fs = ∂f ∂s (s, t) = kA cos(ks− wt) e ft = ∂f ∂t (s, t) = −wA cos(ks− wt). 4-4 Exerc´ıcio Resposta Discuta a existeˆncia das derivadas parciais das func¸o˜es dadas abaixo. (a) f(x, y) = |xy|, nos pontos (1, 0) e (0, 0). (b) f(x, y) = { x3/(x2 + y2), se (x, y) 6= (0, 0) 0, se (x, y) = (0, 0) , na origem. Derivadas Parciais (J. Adonai) - 37 4-5 Exerc´ıcio Em cada caso, verifique que a func¸a˜o f dada e´ soluc¸a˜o da equac¸a˜o diferencial parcial (EDP) dada ao lado, na tabela abaixo. f EDP log(x2 + xy + y2) x ∂f ∂x +y ∂f ∂y = 2 xy + x ey/x x ∂f ∂x +y ∂f ∂y = xy + f ax2 + 2bxy + cy2 (a, b, c ∈ R) x ∂f ∂x +y ∂f ∂y = 2f 4.2 Derivadas Parciais de Ordem Superior Seja f : D ⊂ R2 −→ R. Suponhamos que as derivadas parciais de f , com relac¸a˜o a x e a y, existam em D. Isto da´ origem a duas novas func¸o˜es definidas em D: ∂f ∂x : D −→ R e ∂f ∂y : D −→ R. Se estas func¸o˜es teˆm derivadas parciais em X = (x, y), dizemos que f tem derivadas parciais de segunda ordem em X. Usaremos as seguintes notac¸o˜es para indicar estas derivadas: ∂2f ∂x2 (x, y) = ∂ ( ∂f ∂x ) ∂x (x, y), ∂2f ∂y∂x (x, y) = ∂ ( ∂f ∂x ) ∂y (x, y), ∂2f ∂x∂y (x, y) = ∂ ( ∂f ∂y ) ∂x (x, y) e ∂2f ∂y2 (x, y) = ∂ ( ∂f ∂y ) ∂y (x, y). Alternativamente, com a notac¸a˜o que indica a derivac¸a˜o parcial por um ı´ndice, fxx(x, y) = (fx)x(x, y), fxy(x, y) = (fx)y(x, y), fyx(x, y) = (fy)x(x, y) e fyy(x, y) = (fy)y(x, y). Observe que em ∂ 2f ∂y∂x a ordem de derivac¸a˜o, indicada no “denominador”, se da´ da direita para esquerda: primeiro com relac¸a˜o a x, e depois com relac¸a˜o a y. Ja´ na notac¸a˜o alternativa fxy esta ordem, indicada no “´ındice”, se da´ da esquerda para a direita. Em resumo, ∂2f ∂y∂x = fxy, significando: derivar primeiro com relac¸a˜o a x, e depois com relac¸a˜o a y. As derivadas parciais de terceira ordem sa˜o definidas a partir da existeˆncia daquelas de segunda ordem. Caso existam em D as quatro derivadas parciais de segunda ordem, obtemos oito derivadas parciais de terceira ordem, conforme tabela que segue. ∂ ∂x ∂ ∂y ∂2f ∂x2 ∂3f ∂x3 = ∂ ( ∂2f ∂x2 ) ∂x ∂3f ∂y∂x2 = ∂ ( ∂2f ∂x2 ) ∂y ∂2f ∂y∂x ∂3f ∂x∂y∂x = ∂ ( ∂2f ∂y∂x ) ∂x ∂3f ∂y2∂x = ∂ ( ∂2f ∂y∂x ) ∂y ∂2f ∂x∂y ∂3f ∂x2∂y = ∂ ( ∂2f ∂x∂y ) ∂x ∂3f ∂y∂x∂y = ∂ ( ∂2f ∂x∂y ) ∂y ∂2f ∂y2 ∂3f ∂x∂y2 = ∂ ( ∂2f ∂y2 ) ∂x ∂3f ∂y3 = ∂ ( ∂2f ∂y2 ) ∂y Mais geralmente, podemos definir as derivadas parciais de ordem k para f , a partir, e´ claro, da informac¸a˜o de que f tenha, em D, aquelas de ordem k − 1. Neste caso, por exemplo, se k1, k2, k3 ∈ N sa˜o tais que k1 + k2 + k3 = k, o s´ımbolo ∂fk ∂xk3∂yk2∂xk1 = fxk1xk2xk3 Derivadas Parciais (J. Adonai) - 38 indicara´ que a k-e´sima derivada parcial de f obtida derivando f , k1 vezes com relac¸a˜o a x, k2 vezes com relac¸a˜o a y e, por fim, k3 vezes com relac¸a˜o a x, outra vez. Exemplo 4.13. Seja f(x, y) = y x + x log y, onde y > 0 e x 6= 0. As derivadas parciais de f , ate´ terceira ordem, sa˜o mostradas na tabela abaixo. ∂f ∂x = − y x2 + log y ∂f ∂y = x y + 1 x ∂2f ∂x2 = 2y x3 ∂2f ∂y∂x = 1 y − 1 x2 ∂2f ∂x∂y = 1 y − 1 x2 ∂2f ∂y2 = − x y2 ∂3f ∂x3 = −6y x4 ∂3f ∂y∂x2 = 2 x3 ∂3f ∂x∂y∂x = 2 x3 ∂3f ∂y2∂x = − 1 y2 ∂3f ∂x2∂y = 2 x3 ∂3f ∂y∂x∂y = − 1 y2 ∂3f ∂x∂y2 = − 1 y2 ∂3f ∂y3 = 2x y3 Note, nesta tabela, as seguintes coincideˆncias: (i) ∂2f ∂y∂x = ∂2f ∂x∂y = 1 y − 1 x2 ; (ii) ∂3f ∂x2∂y = ∂3f ∂x∂y∂x = ∂3f ∂y∂x2 = 2 x3 ; (iii) ∂3f ∂y2∂x = ∂3f ∂y∂x∂y = ∂3f ∂x∂y2 = − 1 y2 , que mostra, neste caso, que o resultado na˜o depende da ordem que executamos a derivac¸a˜o parcial mista: as derivadas segundas mistas coincidem; as terceiras, obtidas derivando f duas vezes com relac¸a˜o a x coincidem; e as terceiras obtidas derivando f duas vezes com relac¸a˜o a y tambe´m sa˜o iguais. Infelizmente, em geral, isto na˜o e´ verdadeiro, como verificaremos no pro´ximo exemplo. Exemplo 4.14. Retomemos o exemplo 4.10 , pa´gina 36 , a saber: f(x, y) = xy x2−y2 x2+y2 , se (x, y) 6= (0, 0) 0, se (x, y) = (0, 0), cujas primeiras derivadas parciais sa˜o, conforme (E7) , ∂f ∂x (x, y) = y x2−y2 x2+y2 + 4 x 2y3 (x2+y2)2 , se (x, y) 6= (0, 0) 0, se (x, y) = (0, 0) ∂f ∂y (x, y) = x x2−y2 x2+y2 − 4 x3y2 (x2+y2)2 , se (x, y) 6= (0, 0) 0, se (x, y) = (0, 0). Temos que ∂2f ∂y∂x = lim k→0 ∂f ∂x (0, 0 + k)− ∂f ∂x (0, 0) k = lim k→0 ∂f ∂x (0, k)− ∂f ∂x (0, 0) k = − lim k→0 k k = −1 e ∂2f ∂x∂y = lim h→0 ∂f ∂y (0 + h, 0)− ∂f ∂y (0, 0) h = lim h→0 h h = 1. Resulta da´ı que fxy(0, 0) 6= fyx(0, 0). Entretanto, fora da origem es- tas derivadas parciais coincidem, como podemos verificar diretamente, Derivadas Parciais (J. Adonai) - 39 usando a proposic¸a˜o 4.5 . O resultado e´ o seguinte: ∂2f ∂x∂y (x, y) = x2−y2 x2+y2 + 8x2y2 x 2−y2 (x2+y2)3 , se (x, y) 6= (0, 0) 1, se (x, y) = (0, 0) ∂2f ∂y∂x (x, y) = x2−y2 x2+y2 + 8x2y2 x 2−y2 (x2+y2)3 , se (x, y) 6= (0, 0) −1, se (x, y) = (0, 0). Estudando o comportamento de ∂ 2f ∂x∂y ao longo de eixo-y−{(0, 0)}, vemos que, a´ı, esta derivada e´ constante e vale −1, o que, em particular, mostra que ∂ 2f ∂x∂y na˜o e´ cont´ınua na origem. O mesmo argumento, agora consi- derando o eixo-x, mostra que ∂ 2f ∂y∂x tambe´m na˜o e´ cont´ınua em (0, 0). E´ exatamente este o defeito de f que e´ responsa´vel pela na˜o-coincideˆncia destas derivadas em (0, 0). Pensando na situac¸a˜o geral, isto sugere que devemos pedir pelo menos a continuidade das derivadas parciais ate´ or- dem dois, para obter uma poss´ıvel igualdade entre fxy e fyx. O pro´ximo teorema, que admitiremos sem prova, se encarregara´
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