Buscar

Nota de aula 1 ap

Prévia do material em texto

1 
 
Direito Civil I 
Nota de aula 1ª AP 
Monitora: Brenda Barros Freitas 
Profª: Maria José Fontenelle Barreira 
 
Código Civil de 2002 | Parte Geral 
 
Atenção!! A nota de aula não substitui a leitura combinada da doutrina, do 
código, das legislações complementares, da jurisprudência, bem como a 
resolução de questões. 
 
A Parte Geral do Código Civil trata das pessoas, naturais e jurídicas, como 
sujeitos de direitos; dos bens, como objeto das relações jurídicas que se 
formam entre referidos sujeitos; e dos fatos jurídicos, disciplinando a forma de 
criar, modificar e extinguir direitos, tornando possível a aplicação da Parte 
especial do CC. 
 
Acepções da palavra direito: 
 
Direito objetivo: norma agendi, norma de agir, a conduta social-padrão 
regulamentada, complexo de normas (regras e princípios) impostas a todos por 
terem sido valoradas juridicamente como relevantes. É o ordenamento jurídico 
vigente. 
 
Direito subjetivo: facultas agendi, faculdade de titularizar uma determinada 
relação jurídica, sendo inerente à pessoa, que, em tese, pode exercitá-lo a 
qualquer tempo, a depender de sua vontade, isto, em se tratando de direito 
potestativo, qual seja, aquele que tem exercício discricionário. É que, em se 
tratando de direitos subjetivos, quando sejam confrontados, podem ensejar 
prazo de reação, dando então lugar ao curso da prescrição, diante da inação 
(art. 189 do CC). 
É o poder de direito, poder que o titular tem de fazer valerem os seus direitos 
individuais. Há dever correspondente e, se o dever correlato não for cumprido, 
surge para o titular do direito a possibilidade de exigir em juízo o cumprimento 
dele, o que se chama de pretensão. 
 
OBS: Efeito do tempo sobre o direito subjetivo: a pretensão que nasce para o 
sujeito do direito violado, que, se não a exerce dá lugar à prescrição. Veja que 
o que se extingue é a possibilidade de exigir o direito, mas não o direito em si é 
extinto. Ex: dívida prescrita. 
 
Direito potestativo: atribuem ao titular a possibilidade de produzir efeitos em 
determinadas situações projetando-se sobre a esfera jurídica de interesses do 
outro, por ato próprio de vontade do titular, inclusive atingindo terceiros 
interessados nessa situação, que não poderão se opor. É poder de ação, que 
se limita pela vontade discricionária do titular. Ex: direito assegurado ao 
empregador de dispensar um empregado (no contexto do direito do trabalho); 
cabe a ele apenas aceitar esta condição; como também num caso de divórcio, 
uma das partes aceitando ou não, o divórcio será processado. 
 
2 
 
OBS: Efeito do tempo sobre o direito potestativo: o poder de ação conferido ao 
sujeito que não exerce se extingue – decadência. Veja que nessa situação há 
em verdade a extinção do próprio direito. 
 
Direito positivo: norma escrita, positivada e que está em vigor. 
 
Direito natural: reconhecimento da existência de um direito, de uma justiça, 
anterior e acima do direito positivo vigente. Ideia abstrata do fenômeno jurídico, 
pretendendo corresponder a uma justiça superior (que pode estar até mesmo 
em confronto com o texto de lei). Jusnaturalismo. 
 
Direito consuetudinário: resultante dos usos e costumes, como no exemplo do 
commom law inglês. 
 
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB: 
 
Características: 
 
 - Tem caráter universal, aplica-se a todos os ramos do direito, ou seja, é anexa 
ao CC, mas é autônoma, não fazendo parte dele; 
- Se destina a facilitar a aplicação do CC e de quaisquer leis; 
- Conjunto de normas que disciplina as próprias normas jurídicas (de direito 
público, de direito privado e de direito internacional privado – arts. 7º ao 11, 
LINDB), determinando o seu modo de aplicação e entendimento no tempo e no 
espaço; 
- Dirige-se a todos os ramos do direito, salvo naquilo que for legislado de 
maneira diferente em legislação específica. 
 
Funções: 
 
1. Regular a vigência e a eficácia das normas jurídicas (arts. 1º e 2º, LINDB), 
apresentando soluções ao conflito de normas no tempo (art. 6º, LINDB) e no 
espaço (arts. 7º ao 19, LINDB); 
2. Fornecer critérios de hermenêutica (art. 5º, LINDB); 
3. Estabelecer mecanismos de integração de normas, quando houver lacunas 
(art. 4º, LINDB); 
4. Garantir não só a eficácia global da ordem jurídica, não admitindo o erro de 
direito (art. 3º, LINDB), mas também a certeza, a segurança e a estabilidade do 
ordenamento, preservando as situações consolidadas em que o interesse 
individual prevalece (art. 6º, LINDB). 
 
Fontes do direito: 
“É o meio técnico de realização do direito objetivo” – Caio Mário da Silva 
Pereira. 
 
- Formais (art, 4º, LINDB): lei (fonte principal), analogia, princípios gerais do 
direito (trata-se de enunciações normativas de valor genérico, como: “ninguém 
pode se beneficiar da própria torpeza”; “falar e não provar é o mesmo que não 
3 
 
falar”) e costumes (certas regras consolidadas pelo tempo e revestidas de 
autoridade). 
- Não formais: a doutrina e a jurisprudência (tem-se revelado como fonte 
criadora do direito, a exemplo das súmulas vinculantes). 
 
Lei: 
 
Conjunto ordenado de regras que se apresenta como texto escrito; precisa ser 
promulgada e publicada no diário oficial. 
 
- Principais características: 
 
a) Generalidade: não personaliza o destinatário. Ex: Estatuto dos funcionários 
públicos; 
b) Imperatividade: impõe, proíbe; 
c) Autorizamento: autoriza e legitima o uso da faculdade de coagir, segundo 
Goffredo da Silva Telles, o que a diferencia das normas meramente éticas; 
d) Permanência: até que outra a modifique ou a revogue, salvo no caso das 
temporárias (como as disposições transitórias, leis orçamentárias...); 
e) Emanação de autoridade competente: ato do Estado pelo seu Poder 
Legislativo (se exorbitar as atribuições o ato é nulo e o Poder Judiciário tem o 
poder-dever de recusar a aplicação). 
 
- Classificação: 
 
1. Quanto à imperatividade: a) cogentes (que não podem ser derrogadas pela 
vontade dos interessados; há interesse fundamental do Estado); b) não 
cogentes (permissivas, supletivas; são normas dispositivas; de imperatividade 
relativa; ex: regime de bens). 
 
2. Quanto à intensidade da sanção: a) mais que perfeitas (2 sanções; ex: na 
esfera cível e penal, como no caso da bigamia ou pensão alimentícia; b) 
perfeitas (impõe nulidade do ato; ex: negócio jurídico realizado por 
absolutamente incapaz); c) menos que perfeitas (são há nulidade, apenas 
sofrem sanções); d) imperfeitas (sem consequência, como a dívida de jogo e 
as dívidas prescritas; cabe a ressalva que apesar de não terem natureza 
jurídica, adquirem eficácia jurídica quando cumpridas). 
 
3. Quanto à natureza (classificação imprópria): a) substantivas/ materiais 
(definem direitos e deveres); b) adjetivas/ processuais/ formais (traçam meios 
de realização dos direitos). 
 
4. Quanto à hierarquia: a) normas constitucionais; b) leis complementares; c) 
leis ordinárias; d) leis delegadas; e) medidas provisórias (que não são 
propriamente leis). 
 
5. Quanto à competência ou extensão territorial: a) federais; b) estaduais; c) 
municipais. 
 
4 
 
6. Quanto ao alcance: a) gerais; b) especiais. 
 
Vigência da lei: 
 
Vigência é o prazo que determina o período de incidência, o período de força 
vinculante da lei. 
 
Nasce com a promulgação e começa a vigorar com a publicação (art. 3º, 
LINDB) – até que seja revogada ou se conclua o “prazo de validade”. 
 
- Regra geral: (quando a lei não determina prazo diverso) 45 dias após 
oficialmente publicada. 
- Estados Estrangeiros: quando é admitida a obrigatoriedade da lei brasileira, 
começa a valer 3 meses após a publicação oficial. 
 
OBS: 1) vocatio legis é o intervalo de tempo entre a data de publicação e sua 
entrada em vigor; tem prazo único em todo o território brasileiro; 2) vigência 
(tempo de duraçãoda lei) x vigor (força vinculante) x eficácia (adequação em 
vista da produção concreta dos efeitos). 
 
- Erros materiais: (art. 1º, §3º, LINDB) falha de ortografia. O novo prazo só 
corre para a parte corrigida ou emendada. Os direitos adquiridos na sua 
vigência têm de ser resguardados e não atingidos pela publicação do texto 
corrigido. 
 
- Contagem do prazo: inclui o primeiro e o último dia, entra em vigor no dia 
subsequente à sua consumação integral. 
 
Revogação da lei: 
 
Consiste na supressão da força obrigatória da lei (retirando-lhe a eficácia) e só 
pode ser efetivada por outra lei da mesma hierarquia ou de hierarquia superior. 
 
Não ocorre por costume, jurisprudência, regulamento, decreto, portaria ou 
simples avisos. 
 
OBS: a perda da eficácia pode se dá por revogação, caducidade ou declaração 
de inconstitucionalidade. 
 
Atenção! É diferente da caducidade, que ocorre quando a lei se torna sem 
efeito por superveniência de causa prevista em sue próprio texto, como nos 
casos de termo, condição resolutiva e consecução de seus fins. 
 
- Classificação: 
 
1. Quanto à extensão: revogação total (ab-rogação) x revogação parcial 
(derrogação). 
 
5 
 
2. Quanto à forma de execução: expressa x tácita (quando há publicação de lei 
incompatível ou que regula inteiramente a matéria trazida pela anterior – por 
via oblíqua ou indireta). 
 
Critérios para solucionar antinomias aparentes ou conflitos normativos: 
 
1. Cronológico; 
2. Hierárquico; 
3. Especialidade. 
 
Especialidade > Cronologia | Hierarquia > Cronologia 
 
- Classificação das antinomias: 
 
De primeiro grau: envolvendo apenas um critério; 
De segundo grau: envolvendo dois critérios; 
 
Aparente: aquela que é solucionada pelos critérios acima explicitados; 
Real: conflito que não pode ser resolvido mediante a utilização desses critérios. 
Ex: superior-geral x inferior-especial – nesse caso deve-se fazer uso dos 
mecanismos para suprir lacunas. 
 
Vedação à repristinação: 
 
A repristinação ocorre quando a eficácia da lei revogada retorna pelo fato da lei 
revogadora ter perdido sua vigência. É vedada, regra geral, pelo ordenamento 
jurídico brasileiro (cabe disposição legal em contrário). Art. 2º, §3º, LINDB. 
 
Obrigatoriedade das leis: 
 
Não é um princípio absoluto | A eficácia global da ordem jurídica. 
 
Não afasta a relevância do “erro de direito”, que consiste no conhecimento 
falso da lei, sendo causa de anulação dos negócios jurídicos (arts. 139 e 171, 
II, CC) e na esfera penal, por exemplo, é causa de atenuação da pena (art. 65, 
II Código Penal). Ex: alguém que compra um terreno para construir sem ter 
conhecimento da existência de proibição para tanto. 
 
Perpassa pelas leis impositivas e não pelas dispositivas. 
 
Integração da norma: 
 
Legislador não tem como disciplinar juridicamente tudo, assim, fatalmente, 
haverá leis omissas. 
 
Há no direito brasileiro a vedação ao non liquet (juiz deixar de julgar), visto que 
o monopólio da jurisdição impõe ao Estado a solução dos conflitos jurídicos, 
papel de “dizer o direito”. 
 
6 
 
No caso de lacunas deve o intérprete na norma realizar o que Norberto Bobbio 
chamou de “colmatação de lacunas” que pode ocorrer por meio dos 
instrumentos/ fontes abaixo explicitadas: 
 
1. Analogia: recurso de integração da norma que é classificada em: a) legis: 
ocorre através da utilização de uma regra semelhante (que tenha sido aplicada 
em caso análogo); ex: compra e venda entre cônjuges, art. 499, CC – compra e 
venda entre companheiros; b) juris: utilização de um sistema jurídico 
semelhante que se aplica; ex: união homoafetiva com equiparação ao 
casamento e à união estável. Parte-se da premissa de que causas 
semelhantes têm decisões semelhantes. Mesma razão ~ Mesmo direito 
(mutatis mutantis – guardadas as devidas proporções). 
 
2. Costumes: usos habituais. a) secundum legem: já está previsto na lei (mera 
aplicação); b) praeter legem: integração normativa; c) contra legem: abuso de 
direito (ato ilícito). 
 
3. Princípios gerais do direito: não vinculam, são meramente integrativos; ex: 
ninguém pode se beneficiar da própria torpeza, todos devem viver 
honestamente, deve-se dar a cada um o que é seu. 
OBS: não confundir com os princípios constitucionais, que tem natureza 
jurídica de norma e vinculam. 
 
Atenção! Pode-se decidir por equidade?? 
 
Art. 140, parágrafo único, CPC/15, afirma que o juiz NÃO pode, a não ser nos 
casos em que a lei o autorize excepcionalmente. 
 
Interpretação da norma: 
 
Art. 5º, LINDB. 
 
- Classificação: 
 
a) ampliativa (aplicável na interpretação das garantias fundamentais e dos 
direitos sociais, por exemplo); 
b) declaratória (concernente aos atos administrativos, legalidade estrita); 
c) restritiva (aplicável nos casos de imposição de sanções e restrição ou 
renúncia de direitos, por exemplo). 
 
Aplicação da lei no tempo: 
 
- Irretroatividade: em regra as leis têm efeitos ex nunc (não retroativos). 
Exceções: quando ela própria determine, com a ressalva de que não atingirá o 
ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada (art. 6º, LINDB). 
 
- Ultratividade: aplicação dos efeitos da lei vigente à época do “fato gerador do 
direito”. Continuidade dos efeitos de lei revogada. 
 
 
7 
 
Aplicação da lei no espaço: 
 
Regra geral aplica-se no território nacional lei nacional, mas há exceções que 
fazem com que esse princípio da territorialidade seja mitigado. 
 
Leitura dos arts. 7º ao 19, LINDB, que tratam das regras de direito internacional 
privado sobre casamento; bens; obrigações; sucessão; organizações 
destinadas a fins de interesse coletivo (sociedades e fundações); competência 
da autoridade brasileira para homologar sentenças estrangeiras e conceder 
exequatur às cartas rogatórias; prova submetida e homologada; e separação e 
divórcio consular administrativo. 
 
Das pessoas 
Das pessoas naturais 
 
Personalidade jurídica: 
 
Conceito: aptidão genérica para titularizar direitos e contrair deveres na ordem 
civil; é pressuposto de direito. 
 
Os sujeitos de direito, aqueles dotados de personalidade jurídica, podem ser 
pessoas físicas ou jurídicas. 
 
Lembre-se: no ordenamento jurídico brasileiro os animais não são sujeitos de 
direito, mas sim bens móveis (semoventes), conforme o art. 82 do Código Civil. 
 
O Supremo Tribunal Federal (STF), na Ação Direta de Inconstitucionalidade 
(ADIN) nº. 3510, afirmou ser a personalidade jurídica um atributo/qualidade 
inerente a pessoa. 
 
Aquisição da personalidade jurídica: existem três teorias, quais sejam: 
 
• Natalista: defende que o início da vida começa com o nascimento com vida do 
embrião – basta respirar. Essa doutrina afirma que o nascituro, por ainda não 
ter nascido com vida, não é dotado de personalidade civil, não sendo titular de 
direitos, possuindo apenas uma mera expectativa de direito; 
 
• Concepcionista: afirma que a personalidade jurídica começa a partir da 
concepção e não do nascimento, ou seja, existe uma pessoa com qualidades 
antes mesmo do nascimento; 
 
• Condicionalista ou da personalidade condicional: segundo a qual desde a 
concepção o nascituro já possui os direitos da personalidade, estando os 
direitos patrimoniais – decorrentes de herança, legado ou doação – 
condicionados ao nascimento com vida. Por isso, observando que os direitos 
patrimoniais estão condicionados, sustenta esta teoria que a própria 
personalidade jurídica está condicionada, apesar dos direitos da personalidade 
já serem reconhecidos desde a concepção. OBS: Flávio Tartuce dividia a 
personalidade jurídica em formal (relativa aos direitos da personalidade, 
extrapatrimoniais – que existiria desde a concepção) e em material 
8 
 
(personalidade jurídica em si, englobando inclusive os direitos patrimoniais – 
que se condicionaria ao nascimentocom vida). 
 
Conclui-se, portanto, que a distinção entre a teoria condicionalista e a teoria 
concepcionista é, tão somente, relativa à qualificação jurídica: para os 
concepcionistas, se o nascituro dispõe de direitos da personalidade é porque já 
tem a própria personalidade jurídica, apesar dos direitos patrimoniais ficarem 
condicionados; de outra banda, os condicionalistas afirmam que, apesar de já 
titularizar os direitos da personalidade, se os direitos patrimoniais estão 
condicionados, a personalidade jurídica, como um todo, está condicionada. 
 
Direitos conferidos ao nascituro: 
 
- É titular de direito personalíssimos (como o direito à vida e direitos da 
personalidade). 
- Pode receber doação aceita pelo seu representante (curador) – art. 542, CC. 
- Pode ser beneficiado por herança – art. 1798, CC. 
- Pode ser-lhe nomeado curador para defesa dos seus interesses; 
OBS: curador de mãe interditada também será o curador do nascituro. 
- Tem direito à realização do exame de DNA para efeito de aferição de 
paternidade – vide reclamação constitucional nº 2040 – caso Glória Treves. 
- Tem direito a danos morais, segundo STJ – ex: perda de uma chance em 
acidente ferroviário responsável pela morte do pai. 
 
Após o nascimento: recebimento de DNV (declaração de nascido vivo) + 
registro de nascimento: pai reconhece voluntariamente a paternidade – OBS: 
aqui já havia sido adquirida a personalidade jurídica, sendo este um ato 
meramente declaratório com efeitos ex tunc. 
 
Natimorto: enunciado 01 (jornada de direito civil – CJF)/ art. 2º - a proteção que 
o código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos 
da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura. 
 
Concepturo: prole eventual (arts. 1.799 e 1.800, CC) 
 
Capacidade jurídica: 
 
Conceito: é a medida jurídica da personalidade. 
 
Classificação: 
 
- De direito (de gozo): inerente à pessoa – art. 1º (adquirir, gozar e usufruir). 
- De fato (atividade ou exercício): possibilidade de pessoalmente praticar os 
atos da vida civil. 
 
A soma da capacidade de direito com a capacidade de fato enseja na 
capacidade geral ou plena (maior poder de autodeterminação do direito civil). 
 
OBS: 1) É da capacidade de fato que decorrem as incapacidades (que 
representam uma mitigação dessa capacidade civil, podendo ser absoluta ou 
9 
 
relativa a depender do caso como veremos mais a frente; 2) Existem casos em 
que a lei exige para além da capacidade civil, que haja também a chamada 
legitimação/ capacidade negocial/ privada. Exemplo: necessidade vênia 
conjugal (outorga uxória e marital, mas hoje se utiliza a expressão uxória para 
ambos), autorização de um dos cônjuges em decorrência do casamento para 
prática de determinados atos da vida civil (casos previstos no art. 1647, CC) – 
exceto no regime de separação absoluta e no de participação final nos 
aquestos, que tenha convenção de livre disposição dos bens imóveis, desde 
que particulares, art. 1656, CC, pacto antinupcial. 
 
Teoria das incapacidades: 
 
A incapacidade pode ser absoluta (que enseja em ato nulo e sobre a qual não 
corre prescrição ou decadência) e relativa (que enseja em ato anulável). 
 
Comparativo entre o que o Código Civil considerava como incapacidade 
absoluta e relativa e como consta atualmente na lei com a entrada em vigor da 
Lei nº. 13.146/15 – Estatuto da Pessoa com Deficiência: 
 
Antes Depois/ Atualmente 
Art. 3º São absolutamente incapazes de 
exercer pessoalmente os atos da vida 
civil: 
 
I - os menores de dezesseis anos; 
II - os que, por enfermidade ou 
deficiência mental, não tiverem o 
necessário discernimento para a prática 
desses atos; 
III - os que, mesmo por causa transitória, 
não puderem exprimir sua vontade; 
Art. 3o São absolutamente incapazes de 
exercer pessoalmente os atos da vida civil 
os menores de 16 (dezesseis) anos. 
 
Art. 4º São incapazes, relativamente a 
certos atos, ou à maneira de os exercer: 
 
I - os maiores de dezesseis e menores de 
dezoito anos; 
II - os ébrios habituais, os viciados em 
tóxicos, e os que, por deficiência mental, 
tenham o discernimento reduzido; 
III - os excepcionais, sem 
desenvolvimento mental completo; 
IV – os pródigos. 
Parágrafo único. A capacidade dos índios 
será regulada por legislação especial. 
Art. 4o São incapazes, relativamente a 
certos atos ou à maneira de os exercer: 
 
I - os maiores de dezesseis e menores de 
dezoito anos; 
II - os ébrios habituais e os viciados em 
tóxicos; 
III - aqueles que, por causa transitória ou 
permanente, não puderem exprimir sua 
vontade; 
IV - os pródigos. 
Parágrafo único. A capacidade dos 
indígenas será regulada por legislação 
especial. 
 
OBS: 1) Veja que somente quando a pessoa com deficiência não puder 
exprimir sua vontade e esteja nessa condição transitória ou permanentemente 
é que será considerada relativamente incapaz e não absolutamente incapaz; 
10 
 
2) A interdição do pródigo impede a prática de atos que envolvam o patrimônio; 
doutrina minoritária diz que pode haver casamento e a majoritária afirma que o 
curador do pródigo deve se pronunciar acerca da escolha do regime de bens. 
 
Atenção! Absolutamente incapazes são representados e relativamente 
incapazes são assistidos. 
 
Fim da incapacidade: quando findo o “fato gerador” ou quando ocorre a 
emancipação, antecipação da capacidade plena (irretratável e irrevogável), que 
pode ser voluntária, judicial (legitimidade do juiz e não do tutor) ou legal, 
conforme os casos previstos no art. 5º, CC. 
 
Pressupostos da emancipação: interesse do menor; concessão dos pais (filho 
não pode exigir). 
 
OBS: 1) Ainda que a guarda unilateral do menor esteja com um dos genitores o 
outro haverá de concordar no momento da emancipação voluntária, visto que a 
guarda não retira o poder familiar; 2) Se os pais divergirem a decisão caberá ao 
juiz, que decidirá conforme a proteção integral do menor; 3) A emancipação 
voluntária exonera a responsabilidade civil dos pais? Não! Respondem 
solidariamente por eventuais danos causados; 4) Os atos praticados pelo 
emancipado, via de regra, não podem ser revistos, salvo em caso de nulidade. 
 
Extinção da pessoa física: 
 
Quando ocorre: dá-se com a morte, que pode ser: - arts. 6º e 7º, CC. 
 
a) Real: quando há um cadáver; 
b) Presumida: também chamada de morte ficta, aquela em que o juiz atesta o 
óbito, pode ocorrer com ou sem o procedimento ou declaração de ausência, 
como será mais a frente explanada. 
 
Comoriência: - art. 8º | “co” significa conjunto e “moriência” quer dizer morte. Há 
aqui mera presunção relativa, juris tantum, ou seja, que comporta prova em 
contrário. 
 
Consequência sucessória: um não herda do outro, comorientes não são 
herdeiros entre si, haverá necessariamente duas cadeias sucessórias. 
 
OBS: Mesma ocasião: mesmo tempo, ainda que não tenha ocorrido no mesmo 
acidente, no mesmo local. 
 
Direitos da personalidade: 
 
Arts. 11 ao 21, CC. 
 
Introdução: 
 
A personalidade como centro do ordenamento jurídico nacional ao revés da 
pessoa. Permite exercitar os atos da vida civil. Conteúdo da pessoa. 
11 
 
 
Principalmente no direito pós II Guerra Mundial passou-se a traçar mecanismos 
de proteção a esses direitos para garantir o pleno exercício de sua autonomia, 
garantir igualdade lato sensu/ isonomia. 
 
Há o diálogo entre os institutos dos direitos e garantias fundamentais, direitos 
da personalidade e dignidade da pessoa humana. 
 
Olhar constitucional: art. 5º, rol exemplificativo - §2º, CF. 
 
Refletem a infraconstitucionalidade dos direitos e garantias fundamentais. O rol 
é meramente exemplificativo e não taxativo. 
 
Critério de inserção nesse rol: análise sob a ótica da dignidade da pessoa 
humana – cláusulageral de tutela da personalidade, conforme Enunciado nº 
274 do CJF, jornada de direito civil. 
 
Conceito: 
 
Conclui-se, portanto, que os direitos da personalidade são as qualidades, os 
atributos de proteção da personalidade da pessoa, consistem em um reflexo 
infraconstitucional dos direitos e garantias fundamentais, sendo rol 
exemplificativo e objetivando a promoção da dignidade da pessoa humana. 
 
Características: 
 
1. Indisponibilidade: decorre da irrenunciabilidade e da intransmissibilidade e 
consiste na impossibilidade de limitação voluntária. É relativa - ex: um 
professor pode dispor da própria imagem em vídeo aulas, basta que a limitação 
seja temporária e específica – Enunciado 4º do CJF. 
 
2. Absolutos: oponibilidade contra todos, erga omnes, todos devem respeitar. 
 
3. Extrapatrimoniais: não têm conteúdo econômico imediato. 
 
4. Inatos: inerentes à pessoa. Não há como se dissociar. Caráter jusnatural. 
 
5. Imprescritíveis: ausência do exercício não ocasiona a perda. 
Atenção! não confundir com os casos em que há violação, pois nesse caso a 
pretensão prescreve em 3 anos – art. 206, §3º, V, CC. 
 
6. Vitalícios: objetivam proteger a personalidade jurídica, que é adquirida com o 
nascimento e extinta com a morte, assim, esse deve ser o lapso temporal. 
 
OBS: 1) Lesão reflexa, oblíqua, ricochete ou indireta: se configura quando na 
tentativa (já que seria crime impossível) de lesar a personalidade do morto se 
atinge a de quem está vivo. Ex: pai falecido e filho; 2) O art. 12, parágrafo 
único, CC, traz um rol de legítimos ordinários, visto que pleitearão em nome 
próprio direito próprio. Não confundir com substituição processual ou 
12 
 
legitimação extraordinária!; 3) Atentar para o rol legal determinado no caso de 
lesão à imagem, que é mais restrito – art. 20, parágrafo único, CC. 
 
Classificação: 
 
1. Pilar da integridade física: 
 
1.1. Tutela do corpo vivo – art. 13, CC. 
1.2. Tutela no corpo morto – art. 14, CC. 
1.3. Autonomia do paciente ou livre consentimento informado – art. 15. A 
doutrina majoritária acredita que na ponderação entre autonomia e vida, a 
última deve prevalecer. 
 
OBS: O testamento vital é um documento, redigido por uma pessoa no pleno 
gozo de suas faculdades mentais, com o objetivo de dispor acerca dos 
cuidados, tratamentos e procedimentos que deseja ou não ser submetida 
quando estiver com uma doença ameaçadora da vida, fora de possibilidades 
terapêuticas e impossibilitado de manifestar livremente sua vontade. Não há 
regulamentação no Brasil. 
 
2. Pilar da integridade psíquica ou moral: 
 
2.1. Imagem: qualidades identificadoras da pessoa: a) imagem-retrato: 
fotografia; b) imagem-atributo: qualitativo social; c) imagem-voz. Art. 5º, V, X, 
CF e art. 20, CC - veiculação deve ser autorizada (expressa ou tacitamente); 
Exceção legal: para fins de justiça e ordem pública não há necessidade de 
autorização; Doutrina afirma que sob as pessoas públicas repousa o direito à 
informação, veja-se pessoa pública em local público ou a quem a acompanhe; 
Se a imagem for usada para fins comerciais (súmula 403 do STJ) necessita de 
autorização, senão gera dano moral puro, in re ipsa, de conduta, presumido, 
aquele em que não há necessidade de comprovação de consequências 
negativas, podendo haver inclusive positivas. 
 
2.2. Privacidade: art. 5º, XII, CF, e art. 21, CC. Eventualmente cede espaço na 
ponderação de interesses. 
 
2.3. Honra. 
 
2.4. Nome: etiqueta social. Há liberdade ampla ou restrita? Restrita! Ex: art. 50, 
Lei nº. 6015/73; art. 109, Lei de Registros Públicos; art. 47 do ECA; Leis nº. 
9708/98 e nº. 9807/99. Restrições: 1) art. 55, parágrafo único, Lei de Registros 
Públicos: nome não pode ser vexatório ou discriminatório, que exponha ao 
ridículo – suscita-se dúvida e o juiz decide; 2) art. 13, CF: em língua portuguesa 
– análise subjetiva. Partículas essenciais: art. 16, CC: prenome e sobrenome/ 
patronímico/ apelido de família. Elemento acessório/ secundário/ acidental/: 
agnome – serve para evitar a homonímia na mesma família, ex: filho, neto, 
júnior. Responsabilidade civil objetiva: art. 17, CC. Necessidade de 
autorização, senão enseja em dano moral puro, in re ipsa – mesmo raciocínio 
do direito à imagem – art. 18, CC. Apelido: mesma proteção do nome para 
atividade lícita e é possível seu acréscimo ao nome. 
13 
 
 
OBS: O direito ao esquecimento (Enunciado nº 531, CJF, doutrina e 
jurisprudência) traduz-se em um direito da personalidade integridade psíquico-
moral do indivíduo, em relação ao qual o indivíduo que já cumpriu as penas 
tem o direito ao esquecimento. Casos em que a sua violação gera indenização, 
seja do infrator, seja da vítima. 
 
3. Pilar da Integridade Intelectual: 
 
Refere-se às criações do intelecto humano que são protegidas pelos direitos da 
personalidade – direitos autorais e propriedade industrial. 
 
Direitos da personalidade da Pessoa Jurídica? 
 
Art. 52, CC – Sim! Estende-se a proteção, mas não a titularidade, pois visa a 
proteção da dignidade da pessoa humana. Há proteção à imagem-atributo 
(qualitativos sociais), nome e privacidade. 
 
Súmula nº 227 do STJ dispõe que a pessoa jurídica pode sofrer dano moral; 
ex: indevida inscrição no CADIN – Cadastro de Inadimplentes – atinge a honra 
objetiva. 
 
Procedimento da ausência: 
 
Previsão nos arts. 22 ao 39, CC. 
 
É formado por três fases, sendo elas: 1) Curadoria de bens (arrecadação); 2) 
Sucessão provisória; e 3) Sucessão definitiva. 
 
1) Curadoria de bens: 
 
Art. 22, CC: notícia do desaparecimento (qualquer pessoa, inclusive o 
Ministério Público, tendo em vista se tratar de questão de ordem pública). 
 
Aqui o juiz declara a ausência e nomeia curador para gerenciar os bens do 
ausente (patrimônio) ~ Rol preferencial para escolha do curado: art. 25, CC. 
 
Duração: em regra 1 ano, podendo ser ampliado para 3 anos, caso o ausente 
tenha deixado procurador que aceite o mister. 
 
Vencido o prazo passa-se à segunda fase. 
 
2) Sucessão provisória: 
 
 Após requerimento dos interessados (rol do art. 27, CC) ou MP (art. 28, §1º), 
há a conversão em sucessão provisória (precária e devido a esse caráter o 
sucessor não pode se desfazer do patrimônio, a não ser que decorra de 
decisão judicial ou de desapropriação, por exemplo). 
 
Sentença: 180 dias para produção de efeitos. 
14 
 
 
Sucessor provisório deve dar garantia para ingresso no patrimônio, 
resguardando 50% dos frutos para hipótese de retorno do indivíduo ausente. 
 
Lembre-se: descendente, ascendente e cônjuge estão liberados do dever de 
caução e da guarda dos frutos. 
 
Duração de 10 anos. Passa-se à sucessão definitiva. 
 
3) Sucessão definitiva: 
 
Transferência definitiva do patrimônio com devolução de caução, frutos... 
 
Observações importantes quanto ao procedimento da ausência: 
 
1) Regra para abrandar prazos: art. 38, CC – ausente com 80 anos e há mais 
de 5 anos datam as últimas notícias: pode entrar direto na sucessão definitiva. 
 
2) Se retornar? 
- Durante a fase 1: destitui curador e devolve patrimônio; 
- Durante a fase 2: recebe o patrimônio no estado em que deixou (50% dos 
frutos e caução se houver depreciação acima da média) – com a ressalva do 
art. 33, parágrafo único, de que se a ausência for voluntária e injustificada, 
perderá ele, em favor do sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos; 
- Durante a fase 3: terá direito ao patrimônio no estado em que se encontra ou 
o que se substituiu. 
- 10 anos após sucessão definitiva: não recebe nada. 
 
3) Casamento do ausente: art. 1.571, CC, – término é ocasionado pela 
ausência; se voltar não renasce o vínculo, mas há possibilidade de se casar 
novamente. 
 
Pessoa Jurídica 
 
Conceito: É a soma de esforços humanos, universitas personarum, (corporação 
– associação e sociedade) com finalidade comum ou a destinaçãode um 
patrimônio, universitas bonorum, (fundação), constituída na forma da lei, 
objetivando uma finalidade lícita e de acordo com sua função social. 
 
OBS: A estas unidades o ordenamento jurídico empresta autonomia e 
independência, dotando-as de estrutura própria e personalidade jurídica distinta 
daqueles que a instituíram. 
 
Para Maria Helena Dinis, a pessoa jurídica é verdadeira “unidade de pessoas 
naturais ou patrimônios, que visa à consecução de certos fins, reconhecida 
essa unidade como sujeito de direitos e obrigações”. 
 
Dessa maneira, os elementos da pessoa jurídica, verdadeiros requisitos para a 
sua constituição, regra geral, constituem-se em: 
 
15 
 
1) A vontade humana que lhe dá origem (a chamada vontade humana 
criadora); 
2) A organização de pessoas ou destinação de um patrimônio afetado a um fim 
específico; 
3) A licitude de seus propósitos; 
4) A capacidade jurídica reconhecida pela norma jurídica; 
5) O atendimento das formalidades legais. 
 
Características: 
 
1) Personalidade jurídica distinta dos seus instituidores, adquirida a partir do 
registro de seus estatutos; 
2) Patrimônio também distinto dos seus membros (exceto em casos 
excepcionais, como a fraude ou abuso de direito, configurando a chamada 
desconsideração da pessoa jurídica, explanada mais adiante); 
3) Existência jurídica diversa de seus integrantes (é presentada por eles, não 
se confundindo a personalidade de cada um); 
4) Não podem exercer atos que sejam privativos de pessoas naturais, em 
razão de sua estrutura biopsicológica (ex: adoção ou casamento); 
5) Podem ser sujeito passivo ou sujeito ativo em atos civis e criminais (crimes 
ambientais). 
 
Momento de aquisição da personalidade jurídica: art. 45, CC – com o registro 
dos atos constitutivos, dotado de efeitos ex nunc. Assim, a aquisição é pautada 
na teoria da realidade-técnica (entendida ser real a pessoa jurídica, porém 
dentro de uma realidade técnica, ou seja, dentro de uma realidade que é 
distinta das pessoas naturais, humanas, tendo em vista a necessidade 
essencial de registro). 
 
Há, portanto, duas diferentes fases: 
1) O momento do ato constitutivo, que traz consigo uma parte material (relativa 
aos atos concretos praticados, como reunião entre os sócios, ajustes entre 
eles...) e uma parte formal (consistente na elaboração, por escrito, do 
documento básico da sociedade, ou seja, formação dos seus estatutos ou 
contrato social); 
2) O momento do registro público, referente à inscrição do ato constitutivo no 
órgão competente. 
 
OBS: 1) Existem algumas situações em que há necessidade de autorização do 
poder executivo antes do registro, veja: as instituições financeiras e 
seguradoras necessitam respectivamente de autorização do BACEN (Banco 
Central) e do Conselho Nacional de Registros Privados; 2) Os partidos políticos 
necessitam de registro, posterior ao registro civil, no Tribunal Superior Eleitoral. 
Atenção! Dissolução ou cassação - subsiste para fins de liquidação. 
 
Princípio da separação/ independência/ autonomia: 
 
O art. 46, V, c/c o art. 1.052, ambos do CC, deixa claro que a empresa como 
pessoa jurídica e seus integrantes são sujeitos de direitos diferentes, inclusive 
com deveres e responsabilidades diferentes. 
16 
 
 
Regra geral apenas o patrimônio da empresa responde, não os sócios 
integrantes. 
 
Desconsideração da personalidade jurídica da Pessoa Jurídica: 
 
Trata-se de medida excepcional, através da qual o patrimônio dos integrantes 
de determinada pessoa jurídica (sócios ou administrador) será atingido pelas 
dívidas da empresa. 
 
O objetivo do instituto, dessa forma, é atribuir responsabilidade patrimonial aos 
sócios ou administradores que praticam o ato fraudulento ou abusivo, que 
passam a responder com o seu patrimônio pessoal por uma obrigação 
constituída, originalmente, pela pessoa jurídica. 
 
Abranda, por assim dizer, o princípio da independência. 
 
Atenção! Não é esse instituto capaz de extinguir ou despersonalizar a pessoa 
jurídica, mas tão somente implica a sua ineficácia episódica. 
 
Previsão legal: art. 50, CC. 
 
Requisitos legais para fins de decretação da desconsideração: 
 
1) Pedido expresso pela parte ou pelo Ministério Público, tendo em vista não 
poder o juiz de ofício decretar; 
 
2) Abuso da personalidade, que pode se configurar por meio de desvio de 
finalidade ou confusão patrimonial, independentemente do animus do sócio. 
 
Atenção! 
 
- Ambos os requisitos acima explicitados devem ser interpretados 
restritivamente; 
- Para que haja a desconsideração da pessoa jurídica não há necessidade de 
que a empresa esteja insolvente. 
- O CC adota a teoria maior e objetivista (em que é mais difícil a realização 
desse instituto por maior quantidade de requisitos e não há exigência de culpa), 
já o Código de Defesa do Consumidor, CDC, adota a teoria menor (aquela em 
que basta que a pessoa jurídica seja obstáculo ao ressarcimento de valores). 
- Não há prazo para requerimento. 
 
OBS: 1) Atinge qualquer modalidade de pessoa jurídica, com ou sem finalidade 
lucrativa; 2) Pode ser arguida pela própria pessoa jurídica? Sim, quando, por 
exemplo, seja uma hipótese em que só o administrador deverá ser atingido, 
nesse caso é melhor para empresa que somente o patrimônio deste seja 
atingido; 3) Pode ser pleiteada na esfera administrativa, desde que haja o 
devido processo administrativo, segundo o Superior Tribunal de Justiça; 4) Se 
a pessoa jurídica é de pequeno porte, ex: dois sócios, capital pequeno, se 
houver desconsideração e apenas um estiver como administrador, mas 
17 
 
claramente ambos participarem da administração, o patrimônio de ambos será 
atingido. 
 
Modalidade inversa: 
 
Nos casos em que, por exemplo, o indivíduo deposita todo seu patrimônio no 
da pessoa jurídica com a finalidade de se esquivar da obrigação de partilha no 
divórcio. Há uma confusão patrimonial que traz consequências ilícitas. Nessa 
modalidade inversa o que se busca é justamente atingir o patrimônio da pessoa 
jurídica e não da pessoa física. 
 
Desconsideração indireta da personalidade jurídica: 
 
Surgiu diante das fraudes e abusos cometidos por empresas controladoras, 
utilizando da personalidade jurídica da empresa controlada (ou coligada, 
subsidiária integral...) para prejuízo de terceiros ou para obtenção de 
vantagens indevidas. 
 
Através da qual é permitido o levantamento episódico do véu protetivo da 
empresa controlada para responsabilizar a empresa controladora por atos 
praticados com aquela de modo abusivo ou fraudulento. 
 
Modalidades de Pessoa Jurídica: 
 
Associações: (arts. 53/61, CC) 
 
- Consiste em modalidade de corporação (conjunto de pessoas que atuam com 
objetivo em comum); 
- São organizadas por estatuto; 
- A finalidade é ideal (ou seja, não será possível a partilha de lucros entre os 
associados, tendo em vista o reinvestimento na finalidade precípua para a qual 
a associação foi criada); 
- Fins não lucrativos; 
- Os associados têm direitos e deveres em face da associação e não 
reciprocamente; 
- Os associados têm, via de regra, direitos iguais, mas o estatuto pode 
estabelecer de maneira diversa, ao criar categorias especiais (como a 
categoria dos diretores) concedendo-lhes maiores vantagens; 
- A qualidade e associado é intransmissível, a priori, podendo o estatuto dispor 
de forma diferente. 
- O quórum de 1/5 dos associados para promoção de convocação dos órgãos 
deliberativos é garantia do direito da minoria; 
 
OBS: 1) Pode haver exclusão de associado, contanto que haja justa causa, 
possibilidade de exercício de defesa e recurso (princípio do devido processo 
legal aplicado às relações privadas) – art. 57, CC; 2) O que fazer com o 
patrimônio quando há dissolução/liquidação da associação? Os recursos 
remanescentes (ou seja, os valores que sobraram após a quitaçãodas dívidas) 
são destinados a outras entidades de fins idênticos ou semelhantes – art. 61, 
CC. 
18 
 
 
Fundações: (arts. 62/69, CC) 
 
- Universalidade de bens, destinação patrimonial; O elemento central, portanto, 
é o patrimônio; 
- A criação se dá por meio de 1) escritura pública (ato inter vivos), que é 
irretratável (o Ministério Público pode requerer a transferência do patrimônio ao 
Judiciário, que pode assim determinar); ou por 2) testamento (ato mortis 
causa), que é revogável; 
- O art. 62, parágrafo único, CC, elenca fins aos quais poderá instituir-se 
fundação (princípio da especialidade); 
- Se o patrimônio afetado não for suficiente para formação da fundação, não 
prevendo de modo diverso o instituidor, serão incorporados em outra fundação 
de fim igual ou semelhante; 
- Fundação por ato inter vivos - possibilidade de registro patrimonial em nome 
desta por mandado judicial (art. 64, CC); 
- O art. 67, CC, traz o rol de requisitos para alteração do estatuto; 
- A fundação privada deve ser fiscalizada pelo Ministério Público Estadual (art. 
66, CC). 
 
OBS: Não se esqueça de que as fundações necessitam de prévia aprovação 
dos seus estatutos pelo Ministério Publico local, contra decisão é cabível 
impugnação ao Poder Judiciário, consoante garantia constitucional 
estabelecida no art. 5º, XXXV, e repetida pelo art. 65 do Código Civil. 
 
- A destinação do patrimônio em caso de extinção: à fundação que tenha 
mesmo fim ou fim semelhante (ideia de haver pertinência temática). 
 
Extinção da Pessoa Jurídica: 
 
Perda da personalidade jurídica. 
 
Existem 4 formas diferentes: 
 
1) Voluntária (convencional): feita pelo distrato (vontade inicial que gera 
extinção), promovida pela maioria absoluta de seus membros; 
2) Administrativa: nos casos em que para o registro é necessária autorização e 
essa autorização é cassada ou não é renovada/atualizada; 
3) Judicial: por ato do juiz quando a extinção for pleiteada por motivo de defeito 
(anulação); 
4) Legal: se o término decorre de hipótese contemplada na legislação, ex: 
morte de todos os sócios. 
 
Entes despersonalizados: 
 
“Os entes despersonalizados estão elencados no art. 75, CPC/15, sendo eles a 
massa falida, o espólio, a herança jacente, a herança vacante, a sociedade 
irregular e o condomínio edilício. 
 
19 
 
Entretanto, tais entes não receberam qualquer denominação legal. A expressão 
“entes despersonalizados” é criação doutrinária, sendo a mais usual e 
conhecida. Contudo, não é unânime, havendo ainda várias outras 
terminologias. Dentre elas, entes atípicos, sujeitos de personalidade reduzida, 
grupos de personificação anômala. 
 
O art. 75 conferiu ao condomínio, à massa falida, ao espólio, à herança 
vacante e jacente e às sociedades irregulares a faculdade de figurarem como 
partes na relação processual, tornando evidente o problema dos entes 
despersonalizados no ordenamento brasileiro. Isso porque, os entes, que 
anteriormente não eram enquadrados como sujeitos de direitos, passaram a ter 
a faculdade de participarem da relação processual. 
 
Além desse direito de postular a prestação jurisdicional, independentemente da 
existência de um direito material, alguns entes, como as sociedades irregulares 
e os condomínios, são titulares de uma série de outras faculdades, participando 
ativamente do cenário jurídico, na condição de sujeitos das mais variadas 
relações. De fato, tais entes contratam empregados, emitem cheques, 
compram, vendem, emprestam e realizam uma série de outros negócios 
jurídicos.” 
 
Domicílio: 
 
Conceito: “é a sede jurídica da pessoa, onde ela se presume presente para 
efeitos de direito e onde pratica habitualmente seus atos e negócios jurídicos”, 
nos dizeres de Washington de Barros Monteiro. É o local em que a pessoa 
responde as obrigações. 
 
Percebe-se, portanto, que há dois elementos centrais nesse conceito, um de 
caráter objetivo (residência – estado de fato material) e um de caráter subjetivo 
(intuito de fixar-se permanentemente). 
 
Veja-se que está ligado tanto à ideia de família, lar, repouso (vida íntima como 
um todo), quanto ao aspecto concernente às relações sociais, ao lado 
profissional (vida externa em geral). 
 
Arts. 70 ao 78, CC/02. 
 
Atenção à amplitude dos conceitos! 
 
1) Domicílio > 2) Residência > 3) Morada ou Habitação 
 
1) É uma situação jurídica; 
2) É simples estado de fato, sendo apenas um elemento que compõe o 
conceito de domicílio. É a radicação do indivíduo em determinado lugar; 
3) É mera relação de fato. É um local que a pessoa ocupa temporariamente, 
sem animo de definitividade, como uma casa de praia. 
20 
 
O art. 5º, XI, da CF/88 preceitua que “a casa é asilo inviolável do indivíduo, 
ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em 
caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, 
por determinação judicial”. 
O CC/02 admite a pluralidade domiciliar (domicílio plúrimo), bastando que 
existam diversas residências onde à pessoa alternadamente viva (art. 71), bem 
como quando preceitua em seu art. 72, parágrafo único, que exercendo a 
profissão em diversos locais, cada um deles será considerado domicílio para as 
relações a eles atreladas. 
 
Teoria do domicílio aparente: 
 
Busca resguardar direito de 3º de boa-fé nas situações em que de alguma 
forma o indivíduo criou aparências de que ali seria seu domicílio. Nesses casos 
o lugar será considerado como verdadeiro domicílio. 
 
Ocorre, por exemplo, nos casos em que a pessoa apesar de ter domicílio não 
possui residência habitual ou tendo é de difícil identificação. Art. 73, CC/02. 
 
Mudança do domicílio: 
 
Intenção manifesta de mudança (aferida pela conduta, como a matricula dos 
filhos em escola da nova localidade, abertura de conta bancária, transferência 
de linha telefônica...) + troca de endereço. Art. 74, CC/02. 
 
Espécies: 
 
1) De origem: corresponde ao de seus pais na época do seu nascimento; 
 
2) Voluntário: a) Geral/ comum: depende exclusivamente da vontade do 
interessado; b) Especial: resultante do estabelecido contratualmente, aquele 
escolhido onde serão cumpridas as obrigações (art. 78, CC) ou do foro de 
eleição, onde serão propostas as ações judiciais relativas às referidas 
obrigações e direitos recíprocos (art. 63, CPC/15). 
 
3) Necessário ou legal: não há liberdade de escolha em decorrência da 
condição ou da situação de certas pessoais – hipóteses do arts. 76 e 77, CC 
(incapaz, servidor público, militar, marítimo, preso e agente diplomático do 
Brasil que citado no estrangeiro alegue extraterritorialidade sem designar onde 
tem no país seu domicílio) e outras previstas na legislação civil (ex: art. 1.569, 
CC). 
 
OBS: não esquecer a possibilidade já explanada no que concerne ao domicílio 
plúrimo. 
 
Não esqueça! 
 
O domicílio, enfim, consiste em uma das formas de individuação da pessoa 
natural, além do nome e do estado. 
21 
 
 
Domicílio da Pessoa Jurídica: 
 
É o local das atividades habituais, veja-se que não se trata propriamente em 
residência, mas de sede ou estabelecimento (art. 75, CC). É escolhido 
livremente nos estatutos ou atos constitutivos. É nesses locais em que os 
credores poderão demandar o cumprimento das obrigações. 
 
Pessoa Jurídica de direito publico interno: art. 75, I ao III, CC. 
Demais PJ: art. 75, IV, CC. 
Em relação à pessoa jurídica de direito privado: súmula 363 do STF. 
 
OBS: também há o reconhecimento da pluralidade de domicílios. (art. 75, §1º, 
CC). 
 
Bens: 
 
Conceito: São objeto das relações jurídicas que se formam entre as pessoas, 
naturais e jurídicas, sujeitos de direito; consistem os bens jurídicos em toda 
utilidade física ou ideal que possa ser objeto de um direito subjetivo. 
 
Existem três correntes que visam distinguir bens e coisas:a) Corrente 1: Silvio Rodrigues, Carlos Roberto Gonçalves, Silvio de Salvo 
Venosa e Washington de Barros Monteiro defendem ser “coisa” gênero 
do qual “bem” é espécie, pautando-se no art. 202 do Código Civil de 
Portugal1. 
b) Corrente 2: Luiz Edson Fachin, Cristiano Chaves, Nelson Rosenvald e 
Arnaldo Rizzardo, por sua vez, estabelecem que “bem” é gênero do qual 
“coisa” é espécie. Bem seria a cristalização de um valor jurídico. Por 
estar na Parte Geral do CC teria status de gênero, englobando os bens 
incorpóreos (imateriais, como a ética, a verdade, a propriedade 
intelectual) e corpóreos (as coisas, que, portanto, seriam tão comente os 
bens físicos, materiais, corpóreos), presentes apenas na Parte Especial 
no âmbito dos direitos reais. 
Atenção! Essa é a corrente mais indicada para a realização de questões 
objetivas de concursos públicos, visto embasar-se no CC. 
c) Corrente 3: Defende Caio Mário da Silva Pereira corrente eclética ou 
mista, segundo a qual existem bens em sentido amplo (todo e qualquer 
objeto de relação jurídica) e bens em sentido estrito (bens corpóreos). 
 
Antes de tecer a classificação dos bens é essencial ter em mente os seguintes 
conceitos: 
 
Bens corpóreos: coisa, objeto material sobre que recai o direito (res 
corporales), tem existência física e pode ser tangido pelo homem. 
 
 
1
 “Diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objeto de relações jurídicas” 
22 
 
OBS: Caio Mário da Silva pereira afirma que hoje também são considerados 
bens materiais ou corpóreos as diversas formas de energia, como a 
eletricidade, o gás, o valor. 
Bens incorpóreos: de existência abstrata ou ideal, mas valor econômico, como 
o direito autoral, o crédito, a liberdade, a honra, a integridade moral, a imagem, 
a vida... 
 
Apesar de a classificação acima não ter dispositivos específicos no código, 
visto que as relações jurídicas podem estar pautadas em uma dessas duas 
categorias de bens, que, a depender do caso, terão institutos próprios, como os 
direitos reais que têm por objetos, via de regra, os bens corpóreos (que a 
alienação ocorre por meio de compra e venda, doação, permuta). Já a 
transferência de bens incorpóreos é efetivada por cessão (ex: cessão de 
direitos hereditários, cessão de crédito...). 
 
Patrimônio: nada mais é do que a projeção econômica da personalidade civil 
(teoria clássica ou subjetiva - francesa), é formado pelos bens corpóreos e 
incorpóreos da pessoa, consistindo na atividade econômica de uma pessoa 
sob as lentes do aspecto jurídico, compreendendo os ativos e passivos 
(dívidas) dos bens avaliáveis em dinheiro. Nas palavras de Clóvis Beviláqua é 
“complexo de relações jurídicas de uma pessoa, que tiverem valor econômico”. 
 
OBS: 1) não inclui as qualidades pessoais, nem as relações afetivas das 
pessoas e os direitos não patrimoniais (como direitos personalíssimos, 
familiares e públicos não economicamente apreciáveis); 2) interessante 
perceber que sob o viés obrigacional é o patrimônio do devedor que responde 
por suas dívidas, suas obrigações; 3) a proteção jurídica dada ao patrimônio 
tem escopo precípuo de garantia da dignidade da pessoa humana, do mínimo 
existencial para uma vida digna e para o desenvolvimento das atividades 
humanas, veja-se: proteção ao bem de família (Lei nº. 8.009/90 e CC, arts. 
1.711 a 1.722), óbice à prodigalidade mediante a vedação da doação da 
totalidade do patrimônio, sem que se resguarde um mínimo (art. 548, CC); 
previsão da impenhorabilidade de determinados bens (arts. 833 e 834, CC)... 
 
Classificação dos bens: 
 
1) Dos bens considerados em si mesmos (ou intrinsecamente considerados): 
(arts. 79 a 84, CC); se funda na natureza dos bens. 
 
a) Bens móveis: o art. 82, CC, define os bens móveis por natureza 
(semoventes – animais, e propriamente ditos – moedas, mercadorias, 
objetos de uso); por determinação legal (art.83, CC, I: bens imateriais/ 
II: podem ser de gozo/fruição, como propriedade e usufruto, ou de 
garantia, como penhor e hipoteca/ III: direitos obrigacionais 
patrimoniais); por antecipação: aqueles incorporados ao solo, mas com 
o intuito de oportunamente serem separados e convertidos em imóveis, 
ex: árvores destinadas ao corte, os frutos ainda não colhidos, imóveis 
vendidos para demolição – veja que a finalidade econômica define, 
nesses casos, a natureza. 
 
23 
 
OBS: 1) O legislador leva em consideração a intenção do dono, vide art. 84, 
CC. Observem que se houver a intenção de reempregá-los na reconstrução 
do prédio demolido os materiais não perdem o caráter de imóveis; 2) Os 
navios e as aeronaves são bens móveis propriamente ditos, mas para fins 
de hipoteca, que é direito real de garantia sobre imóveis, podem ser 
imobilizados – ou seja, passam a ser tratados como se imóveis fossem. 
 
b) Bens imóveis: segundo Clóvis Beviláqua, são aqueles que não se pode 
transportar de um lugar para o outro sem destruição. Há os imóveis por 
natureza (ex: solo – arts. 1.230, CC, e art. 176, caput; árvores, espaço 
aéreo – art. 1.229, CC); por acessão natural (quando a união ou 
incorporação da coisa acessória à principal advém de acontecimento 
natural, ex: formação de ilhas e avulsão – arts. 1.249 e 1.251, CC), por 
acessão artificial (plantações e construções, pois derivam de um 
comportamento ativo do homem; OBS: devem ter necessariamente o 
caráter de permanência, senão perde o caráter de imóveis – art. 81 e 84, 
CC) e por determinação legal (art. 80, CC - há essa determinação legal 
visando uma maior segurança jurídica, diante do fato de as transações 
relacionadas aos bens imóveis serem mais burocráticas; ex: exigência 
de registro competente, art. 1.227, CC, e autorização do cônjuge, art. 
1.747, I, CC). Os direitos reais sobre imóveis de que trata o art. 80, CC, 
podem ser os de gozo, como servidão e usufruto, ou de garantia, como 
penhor e hipoteca. Quanto à sucessão aberta, ainda que os bens 
deixados pelo de cujus sejam todos móveis será considerada imóvel, 
pois esse caráter legal está relacionado apenas ao direito a esta e não 
às coisas que a compõem, assim, feita a partilha se poderá cuidar dos 
bens individualmente. Dessa maneira, tanto a renúncia à herança, 
quanto a sessão de direitos hereditários dar-se-á por meio de escritura 
pública e não simples tradição, como ocorre com a transferência de 
bens móveis. 
 
Atenção! 
 
- As chamadas acessões intelectuais são definidas como pertenças pelo art. 
93, CC/02, sendo bens móveis. Ex: lâmpadas, ar condicionados, extintores... 
(quando o CC/16 considerava-as bens imóveis por acessão intelectual – art. 
43, III), 
- Os bens imóveis e móveis são adquiridos por meios diferentes (os móveis 
pela simples tradição; enquanto os imóveis precisam de registro no Cartório de 
Registro de Imóveis – arts. 108, 1.226 e 1.227); após o casamento a alienação 
de bens imóveis é condicionada à outorga uxória (autorização do cônjuge), 
quando não há referida exigência na transferência de bens móveis – art. 1.647, 
I, CC; quanto aos bens imóveis de incapazes – art. 1.748, CC; usucapião com 
regras e prazos diferenciados, visto que a lei exige prazos mais dilatados 
quando se trata de bens imóveis. 
 
c) Bens Fungíveis: aqueles que podem ser substituídos por outros de 
mesma espécie, qualidade e quantidade – art. 85, CC; ex: dinheiro e 
alimentos em geral. Já os infungíveis, em contrapartida são os que não 
24 
 
têm essa característica, sendo insubstituíveis, como uma escultura 
famosa, o quadro de um pintor... 
 
OBS: a fungibilidade pode resultar da vontade das partes, ex: boi emprestado 
para os serviços de lavoura, uma moeda de um colecionador. 
 
d) Bens consumíveis: art. 86, CC – de fato: natural ou materialmente 
consumíveis, ex: alimentos; e de direito: juridicamente consumíveis, ex: 
mercadorias destinadas àalienação em um supermercado. Já os 
inconsumíveis são os que o uso não importa destruição imediata ou não 
estão destinados à alienação. 
 
OBS: 1) o destino que é dado aos bens pode fazer com que passem a ser 
inconsumíveis, ex: os livros nas prateleiras de uma livraria serão 
consumíveis, por se destinarem à alienação, os mesmos livros nas estantes 
de uma biblioteca serão inconsumíveis, porque devem ser lidos e 
conservados; 2) a consuntibilidade pode decorrer da sua destinação 
econômico-jurídica. Ex: livros, que inicialmente são inconsumíveis de fato, 
mas podem se tornar juridicamente consumíveis se postos à venda. 
 
e) Bens divisíveis: aqueles que podem partir em porções reais e distintas, 
formando cada qual um todo perfeito (ex: saca de café) – art. 87, CC. 
Indivisíveis por natureza: relógio, animal; por determinação legal: a 
hipoteca (art. 1.421, CC) e o direito dos herdeiros quanto à propriedade 
e posse da herança até a partilha (art. 1.791, CC); por vontade das 
partes: acordo que torne coisa comum indivisa por prazo não maior que 
cinco anos (art. 1.320, CC) 
 
f) Bens singulares: art. 89, CC. Simples: quando suas partes, da mesma 
espécie, estão ligadas pela própria natureza, ex: animal, árvore; 
Compostos: quando suas partes estão ligadas pela indústria humana, 
ex: edifício. 
 
g) Bens coletivos: também chamados de universais ou universalidades, 
abrangem as universalidades de fato (biblioteca, galeria de quadros) e 
as universalidades de direito (herança, patrimônio, massa falida). São 
os que, sendo compostos de várias coisas singulares (bens autônomos), 
se consideram em conjunto, formando um todo, uma unidade, que passa 
a ter individualidade própria, ex: floresta, rebanho. 
 
2) Dos bens reciprocamente considerados: arts. 92 ao 97 – leva-se em 
consideração a relação entre uns e outros. 
 
Atenção! A acessoriedade pode existir entre coisas e entre direitos, sejam eles 
pessoais ou reais. 
 
a) Principal: aquele que tem existência própria, autônoma, que existe por 
si, ex: solo. 
b) Acessório: é aquele cuja existência depende do principal, ex: árvore. 
 
25 
 
- O acessório acompanha o principal em seu destino (princípio da 
gravitação jurídica); assim, extinta a obrigação principal, extingue-se 
também a acessória. 
- O proprietário do principal é o proprietário do acessório, via de regra 
(art. 1.209, CC). 
 
- Classes de bens acessórios: produtos (Clóvis Beviláqua definia: “são 
as utilidades que se retiram da coisa, diminuindo-lhe a quantidade, 
porque não se reproduzem periodicamente, como as pedras e os 
metais, que se extraem das pedreiras e das minas”); frutos (são 
utilidades que uma coisa periodicamente produz, nascem e renascem da 
coisa sem acarretar-lhe a destruição no todo ou em parte, 
caracterizando-se por três elementos: periodicidade, inalterabilidade da 
substância da coisa principal e separabilidade desta; podem ser, 1) 
Quanto à origem: naturais: frutas britadas das árvores, as crias de 
animais/ industriais: produção de uma fábrica/ civis: juros e aluguéis 
(rendimentos); 2) Quanto ao seu estado: pendentes: enquanto unidos à 
coisa que os produziu/ percebidos ou colhidos: depois de separados/ 
estantes: separados e armazenados para venda/ percipiendos: os que 
deviam ser, mas não foram colhidos ou percebidos/ consumidos: não 
existem porque foram utilizados); pertenças (art. 93, CC, bens móveis 
que apesar de não integram a coisa principal, como os fazem os frutos, 
produtos e benfeitorias, estão afetados por forma duradoura ao serviço 
ou ornamentação de outro, ex: objetos de decoração, extintores, 
tratores). OBS: não se aplica às pertenças a regra do acessório segue o 
principal, por ela não ser parte integrante – art. 94, CC; benfeitorias 
(art. 96, CC, despesas ou melhoramentos realizados nas coisas já 
existentes, que se categorizam em três grupos: 1) Despesas ou 
benfeitorias necessárias – têm por fim conservar o bem ou evitar que se 
deteriore, ex: conserto de parede rachada, infiltrações; 2) Despesas ou 
benfeitorias úteis – facilitam ou aumentam o uso do bem, ex: banheiro, 
garagem; 3) Despesas ou benfeitorias de luxo, chamadas voluptuárias – 
mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, 
ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor, ex: 
piscina – art. 96, CC. OBS: art.97, CC – esses acréscimos de que trata 
o legislador são as acessões naturais, art. 1.248, I ao IV, CC, 
acréscimos decorrentes de fatos eventuais e inteiramente fortuitos, 
assim, não são benfeitorias, não são indenizáveis, pois quem lucra é o 
proprietário e não o possuidor. 
 
3) Dos bens quanto ao titular do domínio: 
 
a) Públicos: art. 98, CC, c/c art. 41, CC; Classificação - art. 99, CC: bens 
de uso comum do povo: podem ser utilizados por qualquer um do 
povo, sem formalidades. OBS: o Poder Público pode inclusive 
regulamentar seu uso ou torna-lo oneroso, instituindo a cobrança de 
pedágio (art. 103, CC) ou restringindo/vedando temporariamente o uso; 
bens de uso especial: destinam-se especialmente à execução dos 
serviços públicos, diz-se estarem afetados a atividade administrativa, ex: 
secretarias, escolas, ministérios; bens dominicais: consistem no 
26 
 
patrimônio disponível das pessoa jurídicas de direito público interno, 
aqueles que não estão destinados ao serviço público, podendo ser, 
assim, alienados, ex: terras devolutas, estradas de ferro. 
 
Atenção! 
 
Art. 99, parágrafo único – Pontes de Miranda: “Na falta de regras 
jurídicas sobre bens dominicais, incidem as de direito privado, ao passo 
que, na falta de regras jurídicas sobre bens públicos stricto sensu (os de 
uso comum e os de uso especial), atender-se-ão os princípios gerais de 
direito público”. 
 
Características dos bens públicos: inalienabilidade – que não é absoluta, 
conforme destacado infra, (os de usos comum do povo e os de uso 
especial), imprescritibilidade (não podem ser usucapidos – art. 102, CC, 
e 183, §3º, CF, Súmula 340 STF), impenhorabilidade e não onerosidade 
(da utilização concedida). 
 
Atenção! 
 
Os bens suscetíveis de valoração patrimonial podem perder a 
inalienabilidade que lhes é peculiar pela desafetação (alteração da 
destinação do bem, que passa a ser dominical e, por isso, passível de 
alienação) – art. 100, CC. 
 
b) Particulares: o conceito de bens particulares é extraído por exclusão do 
conceito de bens públicos tendo em vista que o CC/02 limitou-se a 
definir apenas estes últimos. Assim, bens particulares são os bens 
pertencentes a qualquer pessoa que não às pessoas jurídicas de direito 
público interno. 
 
OBS: Bem de família – pode ser voluntário: art. 1.711 e seguintes, CC, ou 
legalmente estabelecido: Lei nº. 8.009/90. Via de regra é impenhorável, mas 
o art. 3º da citada Lei traz algumas exceções2. 
 
2
 Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, 
previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: I - revogado; II - pelo titular 
do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no 
limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato; III – pelo credor 
da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem, do seu coproprietário que, com 
o devedor, integre união estável ou conjugal, observadas as hipóteses em que ambos 
responderão pela dívida; IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e 
contribuições devidas em função do imóvel familiar; V - para execução de hipoteca sobre o 
imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar; VI - por ter sido 
adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a 
ressarcimento, indenização ou perdimento de bens; VII - por obrigaçãodecorrente de fiança 
concedida em contrato de locação.

Continue navegando