Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Direito Civil I Nota de aula 1ª AP Monitora: Brenda Barros Freitas Profª: Maria José Fontenelle Barreira Código Civil de 2002 | Parte Geral Atenção!! A nota de aula não substitui a leitura combinada da doutrina, do código, das legislações complementares, da jurisprudência, bem como a resolução de questões. A Parte Geral do Código Civil trata das pessoas, naturais e jurídicas, como sujeitos de direitos; dos bens, como objeto das relações jurídicas que se formam entre referidos sujeitos; e dos fatos jurídicos, disciplinando a forma de criar, modificar e extinguir direitos, tornando possível a aplicação da Parte especial do CC. Acepções da palavra direito: Direito objetivo: norma agendi, norma de agir, a conduta social-padrão regulamentada, complexo de normas (regras e princípios) impostas a todos por terem sido valoradas juridicamente como relevantes. É o ordenamento jurídico vigente. Direito subjetivo: facultas agendi, faculdade de titularizar uma determinada relação jurídica, sendo inerente à pessoa, que, em tese, pode exercitá-lo a qualquer tempo, a depender de sua vontade, isto, em se tratando de direito potestativo, qual seja, aquele que tem exercício discricionário. É que, em se tratando de direitos subjetivos, quando sejam confrontados, podem ensejar prazo de reação, dando então lugar ao curso da prescrição, diante da inação (art. 189 do CC). É o poder de direito, poder que o titular tem de fazer valerem os seus direitos individuais. Há dever correspondente e, se o dever correlato não for cumprido, surge para o titular do direito a possibilidade de exigir em juízo o cumprimento dele, o que se chama de pretensão. OBS: Efeito do tempo sobre o direito subjetivo: a pretensão que nasce para o sujeito do direito violado, que, se não a exerce dá lugar à prescrição. Veja que o que se extingue é a possibilidade de exigir o direito, mas não o direito em si é extinto. Ex: dívida prescrita. Direito potestativo: atribuem ao titular a possibilidade de produzir efeitos em determinadas situações projetando-se sobre a esfera jurídica de interesses do outro, por ato próprio de vontade do titular, inclusive atingindo terceiros interessados nessa situação, que não poderão se opor. É poder de ação, que se limita pela vontade discricionária do titular. Ex: direito assegurado ao empregador de dispensar um empregado (no contexto do direito do trabalho); cabe a ele apenas aceitar esta condição; como também num caso de divórcio, uma das partes aceitando ou não, o divórcio será processado. 2 OBS: Efeito do tempo sobre o direito potestativo: o poder de ação conferido ao sujeito que não exerce se extingue – decadência. Veja que nessa situação há em verdade a extinção do próprio direito. Direito positivo: norma escrita, positivada e que está em vigor. Direito natural: reconhecimento da existência de um direito, de uma justiça, anterior e acima do direito positivo vigente. Ideia abstrata do fenômeno jurídico, pretendendo corresponder a uma justiça superior (que pode estar até mesmo em confronto com o texto de lei). Jusnaturalismo. Direito consuetudinário: resultante dos usos e costumes, como no exemplo do commom law inglês. Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB: Características: - Tem caráter universal, aplica-se a todos os ramos do direito, ou seja, é anexa ao CC, mas é autônoma, não fazendo parte dele; - Se destina a facilitar a aplicação do CC e de quaisquer leis; - Conjunto de normas que disciplina as próprias normas jurídicas (de direito público, de direito privado e de direito internacional privado – arts. 7º ao 11, LINDB), determinando o seu modo de aplicação e entendimento no tempo e no espaço; - Dirige-se a todos os ramos do direito, salvo naquilo que for legislado de maneira diferente em legislação específica. Funções: 1. Regular a vigência e a eficácia das normas jurídicas (arts. 1º e 2º, LINDB), apresentando soluções ao conflito de normas no tempo (art. 6º, LINDB) e no espaço (arts. 7º ao 19, LINDB); 2. Fornecer critérios de hermenêutica (art. 5º, LINDB); 3. Estabelecer mecanismos de integração de normas, quando houver lacunas (art. 4º, LINDB); 4. Garantir não só a eficácia global da ordem jurídica, não admitindo o erro de direito (art. 3º, LINDB), mas também a certeza, a segurança e a estabilidade do ordenamento, preservando as situações consolidadas em que o interesse individual prevalece (art. 6º, LINDB). Fontes do direito: “É o meio técnico de realização do direito objetivo” – Caio Mário da Silva Pereira. - Formais (art, 4º, LINDB): lei (fonte principal), analogia, princípios gerais do direito (trata-se de enunciações normativas de valor genérico, como: “ninguém pode se beneficiar da própria torpeza”; “falar e não provar é o mesmo que não 3 falar”) e costumes (certas regras consolidadas pelo tempo e revestidas de autoridade). - Não formais: a doutrina e a jurisprudência (tem-se revelado como fonte criadora do direito, a exemplo das súmulas vinculantes). Lei: Conjunto ordenado de regras que se apresenta como texto escrito; precisa ser promulgada e publicada no diário oficial. - Principais características: a) Generalidade: não personaliza o destinatário. Ex: Estatuto dos funcionários públicos; b) Imperatividade: impõe, proíbe; c) Autorizamento: autoriza e legitima o uso da faculdade de coagir, segundo Goffredo da Silva Telles, o que a diferencia das normas meramente éticas; d) Permanência: até que outra a modifique ou a revogue, salvo no caso das temporárias (como as disposições transitórias, leis orçamentárias...); e) Emanação de autoridade competente: ato do Estado pelo seu Poder Legislativo (se exorbitar as atribuições o ato é nulo e o Poder Judiciário tem o poder-dever de recusar a aplicação). - Classificação: 1. Quanto à imperatividade: a) cogentes (que não podem ser derrogadas pela vontade dos interessados; há interesse fundamental do Estado); b) não cogentes (permissivas, supletivas; são normas dispositivas; de imperatividade relativa; ex: regime de bens). 2. Quanto à intensidade da sanção: a) mais que perfeitas (2 sanções; ex: na esfera cível e penal, como no caso da bigamia ou pensão alimentícia; b) perfeitas (impõe nulidade do ato; ex: negócio jurídico realizado por absolutamente incapaz); c) menos que perfeitas (são há nulidade, apenas sofrem sanções); d) imperfeitas (sem consequência, como a dívida de jogo e as dívidas prescritas; cabe a ressalva que apesar de não terem natureza jurídica, adquirem eficácia jurídica quando cumpridas). 3. Quanto à natureza (classificação imprópria): a) substantivas/ materiais (definem direitos e deveres); b) adjetivas/ processuais/ formais (traçam meios de realização dos direitos). 4. Quanto à hierarquia: a) normas constitucionais; b) leis complementares; c) leis ordinárias; d) leis delegadas; e) medidas provisórias (que não são propriamente leis). 5. Quanto à competência ou extensão territorial: a) federais; b) estaduais; c) municipais. 4 6. Quanto ao alcance: a) gerais; b) especiais. Vigência da lei: Vigência é o prazo que determina o período de incidência, o período de força vinculante da lei. Nasce com a promulgação e começa a vigorar com a publicação (art. 3º, LINDB) – até que seja revogada ou se conclua o “prazo de validade”. - Regra geral: (quando a lei não determina prazo diverso) 45 dias após oficialmente publicada. - Estados Estrangeiros: quando é admitida a obrigatoriedade da lei brasileira, começa a valer 3 meses após a publicação oficial. OBS: 1) vocatio legis é o intervalo de tempo entre a data de publicação e sua entrada em vigor; tem prazo único em todo o território brasileiro; 2) vigência (tempo de duraçãoda lei) x vigor (força vinculante) x eficácia (adequação em vista da produção concreta dos efeitos). - Erros materiais: (art. 1º, §3º, LINDB) falha de ortografia. O novo prazo só corre para a parte corrigida ou emendada. Os direitos adquiridos na sua vigência têm de ser resguardados e não atingidos pela publicação do texto corrigido. - Contagem do prazo: inclui o primeiro e o último dia, entra em vigor no dia subsequente à sua consumação integral. Revogação da lei: Consiste na supressão da força obrigatória da lei (retirando-lhe a eficácia) e só pode ser efetivada por outra lei da mesma hierarquia ou de hierarquia superior. Não ocorre por costume, jurisprudência, regulamento, decreto, portaria ou simples avisos. OBS: a perda da eficácia pode se dá por revogação, caducidade ou declaração de inconstitucionalidade. Atenção! É diferente da caducidade, que ocorre quando a lei se torna sem efeito por superveniência de causa prevista em sue próprio texto, como nos casos de termo, condição resolutiva e consecução de seus fins. - Classificação: 1. Quanto à extensão: revogação total (ab-rogação) x revogação parcial (derrogação). 5 2. Quanto à forma de execução: expressa x tácita (quando há publicação de lei incompatível ou que regula inteiramente a matéria trazida pela anterior – por via oblíqua ou indireta). Critérios para solucionar antinomias aparentes ou conflitos normativos: 1. Cronológico; 2. Hierárquico; 3. Especialidade. Especialidade > Cronologia | Hierarquia > Cronologia - Classificação das antinomias: De primeiro grau: envolvendo apenas um critério; De segundo grau: envolvendo dois critérios; Aparente: aquela que é solucionada pelos critérios acima explicitados; Real: conflito que não pode ser resolvido mediante a utilização desses critérios. Ex: superior-geral x inferior-especial – nesse caso deve-se fazer uso dos mecanismos para suprir lacunas. Vedação à repristinação: A repristinação ocorre quando a eficácia da lei revogada retorna pelo fato da lei revogadora ter perdido sua vigência. É vedada, regra geral, pelo ordenamento jurídico brasileiro (cabe disposição legal em contrário). Art. 2º, §3º, LINDB. Obrigatoriedade das leis: Não é um princípio absoluto | A eficácia global da ordem jurídica. Não afasta a relevância do “erro de direito”, que consiste no conhecimento falso da lei, sendo causa de anulação dos negócios jurídicos (arts. 139 e 171, II, CC) e na esfera penal, por exemplo, é causa de atenuação da pena (art. 65, II Código Penal). Ex: alguém que compra um terreno para construir sem ter conhecimento da existência de proibição para tanto. Perpassa pelas leis impositivas e não pelas dispositivas. Integração da norma: Legislador não tem como disciplinar juridicamente tudo, assim, fatalmente, haverá leis omissas. Há no direito brasileiro a vedação ao non liquet (juiz deixar de julgar), visto que o monopólio da jurisdição impõe ao Estado a solução dos conflitos jurídicos, papel de “dizer o direito”. 6 No caso de lacunas deve o intérprete na norma realizar o que Norberto Bobbio chamou de “colmatação de lacunas” que pode ocorrer por meio dos instrumentos/ fontes abaixo explicitadas: 1. Analogia: recurso de integração da norma que é classificada em: a) legis: ocorre através da utilização de uma regra semelhante (que tenha sido aplicada em caso análogo); ex: compra e venda entre cônjuges, art. 499, CC – compra e venda entre companheiros; b) juris: utilização de um sistema jurídico semelhante que se aplica; ex: união homoafetiva com equiparação ao casamento e à união estável. Parte-se da premissa de que causas semelhantes têm decisões semelhantes. Mesma razão ~ Mesmo direito (mutatis mutantis – guardadas as devidas proporções). 2. Costumes: usos habituais. a) secundum legem: já está previsto na lei (mera aplicação); b) praeter legem: integração normativa; c) contra legem: abuso de direito (ato ilícito). 3. Princípios gerais do direito: não vinculam, são meramente integrativos; ex: ninguém pode se beneficiar da própria torpeza, todos devem viver honestamente, deve-se dar a cada um o que é seu. OBS: não confundir com os princípios constitucionais, que tem natureza jurídica de norma e vinculam. Atenção! Pode-se decidir por equidade?? Art. 140, parágrafo único, CPC/15, afirma que o juiz NÃO pode, a não ser nos casos em que a lei o autorize excepcionalmente. Interpretação da norma: Art. 5º, LINDB. - Classificação: a) ampliativa (aplicável na interpretação das garantias fundamentais e dos direitos sociais, por exemplo); b) declaratória (concernente aos atos administrativos, legalidade estrita); c) restritiva (aplicável nos casos de imposição de sanções e restrição ou renúncia de direitos, por exemplo). Aplicação da lei no tempo: - Irretroatividade: em regra as leis têm efeitos ex nunc (não retroativos). Exceções: quando ela própria determine, com a ressalva de que não atingirá o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada (art. 6º, LINDB). - Ultratividade: aplicação dos efeitos da lei vigente à época do “fato gerador do direito”. Continuidade dos efeitos de lei revogada. 7 Aplicação da lei no espaço: Regra geral aplica-se no território nacional lei nacional, mas há exceções que fazem com que esse princípio da territorialidade seja mitigado. Leitura dos arts. 7º ao 19, LINDB, que tratam das regras de direito internacional privado sobre casamento; bens; obrigações; sucessão; organizações destinadas a fins de interesse coletivo (sociedades e fundações); competência da autoridade brasileira para homologar sentenças estrangeiras e conceder exequatur às cartas rogatórias; prova submetida e homologada; e separação e divórcio consular administrativo. Das pessoas Das pessoas naturais Personalidade jurídica: Conceito: aptidão genérica para titularizar direitos e contrair deveres na ordem civil; é pressuposto de direito. Os sujeitos de direito, aqueles dotados de personalidade jurídica, podem ser pessoas físicas ou jurídicas. Lembre-se: no ordenamento jurídico brasileiro os animais não são sujeitos de direito, mas sim bens móveis (semoventes), conforme o art. 82 do Código Civil. O Supremo Tribunal Federal (STF), na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) nº. 3510, afirmou ser a personalidade jurídica um atributo/qualidade inerente a pessoa. Aquisição da personalidade jurídica: existem três teorias, quais sejam: • Natalista: defende que o início da vida começa com o nascimento com vida do embrião – basta respirar. Essa doutrina afirma que o nascituro, por ainda não ter nascido com vida, não é dotado de personalidade civil, não sendo titular de direitos, possuindo apenas uma mera expectativa de direito; • Concepcionista: afirma que a personalidade jurídica começa a partir da concepção e não do nascimento, ou seja, existe uma pessoa com qualidades antes mesmo do nascimento; • Condicionalista ou da personalidade condicional: segundo a qual desde a concepção o nascituro já possui os direitos da personalidade, estando os direitos patrimoniais – decorrentes de herança, legado ou doação – condicionados ao nascimento com vida. Por isso, observando que os direitos patrimoniais estão condicionados, sustenta esta teoria que a própria personalidade jurídica está condicionada, apesar dos direitos da personalidade já serem reconhecidos desde a concepção. OBS: Flávio Tartuce dividia a personalidade jurídica em formal (relativa aos direitos da personalidade, extrapatrimoniais – que existiria desde a concepção) e em material 8 (personalidade jurídica em si, englobando inclusive os direitos patrimoniais – que se condicionaria ao nascimentocom vida). Conclui-se, portanto, que a distinção entre a teoria condicionalista e a teoria concepcionista é, tão somente, relativa à qualificação jurídica: para os concepcionistas, se o nascituro dispõe de direitos da personalidade é porque já tem a própria personalidade jurídica, apesar dos direitos patrimoniais ficarem condicionados; de outra banda, os condicionalistas afirmam que, apesar de já titularizar os direitos da personalidade, se os direitos patrimoniais estão condicionados, a personalidade jurídica, como um todo, está condicionada. Direitos conferidos ao nascituro: - É titular de direito personalíssimos (como o direito à vida e direitos da personalidade). - Pode receber doação aceita pelo seu representante (curador) – art. 542, CC. - Pode ser beneficiado por herança – art. 1798, CC. - Pode ser-lhe nomeado curador para defesa dos seus interesses; OBS: curador de mãe interditada também será o curador do nascituro. - Tem direito à realização do exame de DNA para efeito de aferição de paternidade – vide reclamação constitucional nº 2040 – caso Glória Treves. - Tem direito a danos morais, segundo STJ – ex: perda de uma chance em acidente ferroviário responsável pela morte do pai. Após o nascimento: recebimento de DNV (declaração de nascido vivo) + registro de nascimento: pai reconhece voluntariamente a paternidade – OBS: aqui já havia sido adquirida a personalidade jurídica, sendo este um ato meramente declaratório com efeitos ex tunc. Natimorto: enunciado 01 (jornada de direito civil – CJF)/ art. 2º - a proteção que o código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura. Concepturo: prole eventual (arts. 1.799 e 1.800, CC) Capacidade jurídica: Conceito: é a medida jurídica da personalidade. Classificação: - De direito (de gozo): inerente à pessoa – art. 1º (adquirir, gozar e usufruir). - De fato (atividade ou exercício): possibilidade de pessoalmente praticar os atos da vida civil. A soma da capacidade de direito com a capacidade de fato enseja na capacidade geral ou plena (maior poder de autodeterminação do direito civil). OBS: 1) É da capacidade de fato que decorrem as incapacidades (que representam uma mitigação dessa capacidade civil, podendo ser absoluta ou 9 relativa a depender do caso como veremos mais a frente; 2) Existem casos em que a lei exige para além da capacidade civil, que haja também a chamada legitimação/ capacidade negocial/ privada. Exemplo: necessidade vênia conjugal (outorga uxória e marital, mas hoje se utiliza a expressão uxória para ambos), autorização de um dos cônjuges em decorrência do casamento para prática de determinados atos da vida civil (casos previstos no art. 1647, CC) – exceto no regime de separação absoluta e no de participação final nos aquestos, que tenha convenção de livre disposição dos bens imóveis, desde que particulares, art. 1656, CC, pacto antinupcial. Teoria das incapacidades: A incapacidade pode ser absoluta (que enseja em ato nulo e sobre a qual não corre prescrição ou decadência) e relativa (que enseja em ato anulável). Comparativo entre o que o Código Civil considerava como incapacidade absoluta e relativa e como consta atualmente na lei com a entrada em vigor da Lei nº. 13.146/15 – Estatuto da Pessoa com Deficiência: Antes Depois/ Atualmente Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade; Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV – os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial. Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxicos; III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. OBS: 1) Veja que somente quando a pessoa com deficiência não puder exprimir sua vontade e esteja nessa condição transitória ou permanentemente é que será considerada relativamente incapaz e não absolutamente incapaz; 10 2) A interdição do pródigo impede a prática de atos que envolvam o patrimônio; doutrina minoritária diz que pode haver casamento e a majoritária afirma que o curador do pródigo deve se pronunciar acerca da escolha do regime de bens. Atenção! Absolutamente incapazes são representados e relativamente incapazes são assistidos. Fim da incapacidade: quando findo o “fato gerador” ou quando ocorre a emancipação, antecipação da capacidade plena (irretratável e irrevogável), que pode ser voluntária, judicial (legitimidade do juiz e não do tutor) ou legal, conforme os casos previstos no art. 5º, CC. Pressupostos da emancipação: interesse do menor; concessão dos pais (filho não pode exigir). OBS: 1) Ainda que a guarda unilateral do menor esteja com um dos genitores o outro haverá de concordar no momento da emancipação voluntária, visto que a guarda não retira o poder familiar; 2) Se os pais divergirem a decisão caberá ao juiz, que decidirá conforme a proteção integral do menor; 3) A emancipação voluntária exonera a responsabilidade civil dos pais? Não! Respondem solidariamente por eventuais danos causados; 4) Os atos praticados pelo emancipado, via de regra, não podem ser revistos, salvo em caso de nulidade. Extinção da pessoa física: Quando ocorre: dá-se com a morte, que pode ser: - arts. 6º e 7º, CC. a) Real: quando há um cadáver; b) Presumida: também chamada de morte ficta, aquela em que o juiz atesta o óbito, pode ocorrer com ou sem o procedimento ou declaração de ausência, como será mais a frente explanada. Comoriência: - art. 8º | “co” significa conjunto e “moriência” quer dizer morte. Há aqui mera presunção relativa, juris tantum, ou seja, que comporta prova em contrário. Consequência sucessória: um não herda do outro, comorientes não são herdeiros entre si, haverá necessariamente duas cadeias sucessórias. OBS: Mesma ocasião: mesmo tempo, ainda que não tenha ocorrido no mesmo acidente, no mesmo local. Direitos da personalidade: Arts. 11 ao 21, CC. Introdução: A personalidade como centro do ordenamento jurídico nacional ao revés da pessoa. Permite exercitar os atos da vida civil. Conteúdo da pessoa. 11 Principalmente no direito pós II Guerra Mundial passou-se a traçar mecanismos de proteção a esses direitos para garantir o pleno exercício de sua autonomia, garantir igualdade lato sensu/ isonomia. Há o diálogo entre os institutos dos direitos e garantias fundamentais, direitos da personalidade e dignidade da pessoa humana. Olhar constitucional: art. 5º, rol exemplificativo - §2º, CF. Refletem a infraconstitucionalidade dos direitos e garantias fundamentais. O rol é meramente exemplificativo e não taxativo. Critério de inserção nesse rol: análise sob a ótica da dignidade da pessoa humana – cláusulageral de tutela da personalidade, conforme Enunciado nº 274 do CJF, jornada de direito civil. Conceito: Conclui-se, portanto, que os direitos da personalidade são as qualidades, os atributos de proteção da personalidade da pessoa, consistem em um reflexo infraconstitucional dos direitos e garantias fundamentais, sendo rol exemplificativo e objetivando a promoção da dignidade da pessoa humana. Características: 1. Indisponibilidade: decorre da irrenunciabilidade e da intransmissibilidade e consiste na impossibilidade de limitação voluntária. É relativa - ex: um professor pode dispor da própria imagem em vídeo aulas, basta que a limitação seja temporária e específica – Enunciado 4º do CJF. 2. Absolutos: oponibilidade contra todos, erga omnes, todos devem respeitar. 3. Extrapatrimoniais: não têm conteúdo econômico imediato. 4. Inatos: inerentes à pessoa. Não há como se dissociar. Caráter jusnatural. 5. Imprescritíveis: ausência do exercício não ocasiona a perda. Atenção! não confundir com os casos em que há violação, pois nesse caso a pretensão prescreve em 3 anos – art. 206, §3º, V, CC. 6. Vitalícios: objetivam proteger a personalidade jurídica, que é adquirida com o nascimento e extinta com a morte, assim, esse deve ser o lapso temporal. OBS: 1) Lesão reflexa, oblíqua, ricochete ou indireta: se configura quando na tentativa (já que seria crime impossível) de lesar a personalidade do morto se atinge a de quem está vivo. Ex: pai falecido e filho; 2) O art. 12, parágrafo único, CC, traz um rol de legítimos ordinários, visto que pleitearão em nome próprio direito próprio. Não confundir com substituição processual ou 12 legitimação extraordinária!; 3) Atentar para o rol legal determinado no caso de lesão à imagem, que é mais restrito – art. 20, parágrafo único, CC. Classificação: 1. Pilar da integridade física: 1.1. Tutela do corpo vivo – art. 13, CC. 1.2. Tutela no corpo morto – art. 14, CC. 1.3. Autonomia do paciente ou livre consentimento informado – art. 15. A doutrina majoritária acredita que na ponderação entre autonomia e vida, a última deve prevalecer. OBS: O testamento vital é um documento, redigido por uma pessoa no pleno gozo de suas faculdades mentais, com o objetivo de dispor acerca dos cuidados, tratamentos e procedimentos que deseja ou não ser submetida quando estiver com uma doença ameaçadora da vida, fora de possibilidades terapêuticas e impossibilitado de manifestar livremente sua vontade. Não há regulamentação no Brasil. 2. Pilar da integridade psíquica ou moral: 2.1. Imagem: qualidades identificadoras da pessoa: a) imagem-retrato: fotografia; b) imagem-atributo: qualitativo social; c) imagem-voz. Art. 5º, V, X, CF e art. 20, CC - veiculação deve ser autorizada (expressa ou tacitamente); Exceção legal: para fins de justiça e ordem pública não há necessidade de autorização; Doutrina afirma que sob as pessoas públicas repousa o direito à informação, veja-se pessoa pública em local público ou a quem a acompanhe; Se a imagem for usada para fins comerciais (súmula 403 do STJ) necessita de autorização, senão gera dano moral puro, in re ipsa, de conduta, presumido, aquele em que não há necessidade de comprovação de consequências negativas, podendo haver inclusive positivas. 2.2. Privacidade: art. 5º, XII, CF, e art. 21, CC. Eventualmente cede espaço na ponderação de interesses. 2.3. Honra. 2.4. Nome: etiqueta social. Há liberdade ampla ou restrita? Restrita! Ex: art. 50, Lei nº. 6015/73; art. 109, Lei de Registros Públicos; art. 47 do ECA; Leis nº. 9708/98 e nº. 9807/99. Restrições: 1) art. 55, parágrafo único, Lei de Registros Públicos: nome não pode ser vexatório ou discriminatório, que exponha ao ridículo – suscita-se dúvida e o juiz decide; 2) art. 13, CF: em língua portuguesa – análise subjetiva. Partículas essenciais: art. 16, CC: prenome e sobrenome/ patronímico/ apelido de família. Elemento acessório/ secundário/ acidental/: agnome – serve para evitar a homonímia na mesma família, ex: filho, neto, júnior. Responsabilidade civil objetiva: art. 17, CC. Necessidade de autorização, senão enseja em dano moral puro, in re ipsa – mesmo raciocínio do direito à imagem – art. 18, CC. Apelido: mesma proteção do nome para atividade lícita e é possível seu acréscimo ao nome. 13 OBS: O direito ao esquecimento (Enunciado nº 531, CJF, doutrina e jurisprudência) traduz-se em um direito da personalidade integridade psíquico- moral do indivíduo, em relação ao qual o indivíduo que já cumpriu as penas tem o direito ao esquecimento. Casos em que a sua violação gera indenização, seja do infrator, seja da vítima. 3. Pilar da Integridade Intelectual: Refere-se às criações do intelecto humano que são protegidas pelos direitos da personalidade – direitos autorais e propriedade industrial. Direitos da personalidade da Pessoa Jurídica? Art. 52, CC – Sim! Estende-se a proteção, mas não a titularidade, pois visa a proteção da dignidade da pessoa humana. Há proteção à imagem-atributo (qualitativos sociais), nome e privacidade. Súmula nº 227 do STJ dispõe que a pessoa jurídica pode sofrer dano moral; ex: indevida inscrição no CADIN – Cadastro de Inadimplentes – atinge a honra objetiva. Procedimento da ausência: Previsão nos arts. 22 ao 39, CC. É formado por três fases, sendo elas: 1) Curadoria de bens (arrecadação); 2) Sucessão provisória; e 3) Sucessão definitiva. 1) Curadoria de bens: Art. 22, CC: notícia do desaparecimento (qualquer pessoa, inclusive o Ministério Público, tendo em vista se tratar de questão de ordem pública). Aqui o juiz declara a ausência e nomeia curador para gerenciar os bens do ausente (patrimônio) ~ Rol preferencial para escolha do curado: art. 25, CC. Duração: em regra 1 ano, podendo ser ampliado para 3 anos, caso o ausente tenha deixado procurador que aceite o mister. Vencido o prazo passa-se à segunda fase. 2) Sucessão provisória: Após requerimento dos interessados (rol do art. 27, CC) ou MP (art. 28, §1º), há a conversão em sucessão provisória (precária e devido a esse caráter o sucessor não pode se desfazer do patrimônio, a não ser que decorra de decisão judicial ou de desapropriação, por exemplo). Sentença: 180 dias para produção de efeitos. 14 Sucessor provisório deve dar garantia para ingresso no patrimônio, resguardando 50% dos frutos para hipótese de retorno do indivíduo ausente. Lembre-se: descendente, ascendente e cônjuge estão liberados do dever de caução e da guarda dos frutos. Duração de 10 anos. Passa-se à sucessão definitiva. 3) Sucessão definitiva: Transferência definitiva do patrimônio com devolução de caução, frutos... Observações importantes quanto ao procedimento da ausência: 1) Regra para abrandar prazos: art. 38, CC – ausente com 80 anos e há mais de 5 anos datam as últimas notícias: pode entrar direto na sucessão definitiva. 2) Se retornar? - Durante a fase 1: destitui curador e devolve patrimônio; - Durante a fase 2: recebe o patrimônio no estado em que deixou (50% dos frutos e caução se houver depreciação acima da média) – com a ressalva do art. 33, parágrafo único, de que se a ausência for voluntária e injustificada, perderá ele, em favor do sucessor, sua parte nos frutos e rendimentos; - Durante a fase 3: terá direito ao patrimônio no estado em que se encontra ou o que se substituiu. - 10 anos após sucessão definitiva: não recebe nada. 3) Casamento do ausente: art. 1.571, CC, – término é ocasionado pela ausência; se voltar não renasce o vínculo, mas há possibilidade de se casar novamente. Pessoa Jurídica Conceito: É a soma de esforços humanos, universitas personarum, (corporação – associação e sociedade) com finalidade comum ou a destinaçãode um patrimônio, universitas bonorum, (fundação), constituída na forma da lei, objetivando uma finalidade lícita e de acordo com sua função social. OBS: A estas unidades o ordenamento jurídico empresta autonomia e independência, dotando-as de estrutura própria e personalidade jurídica distinta daqueles que a instituíram. Para Maria Helena Dinis, a pessoa jurídica é verdadeira “unidade de pessoas naturais ou patrimônios, que visa à consecução de certos fins, reconhecida essa unidade como sujeito de direitos e obrigações”. Dessa maneira, os elementos da pessoa jurídica, verdadeiros requisitos para a sua constituição, regra geral, constituem-se em: 15 1) A vontade humana que lhe dá origem (a chamada vontade humana criadora); 2) A organização de pessoas ou destinação de um patrimônio afetado a um fim específico; 3) A licitude de seus propósitos; 4) A capacidade jurídica reconhecida pela norma jurídica; 5) O atendimento das formalidades legais. Características: 1) Personalidade jurídica distinta dos seus instituidores, adquirida a partir do registro de seus estatutos; 2) Patrimônio também distinto dos seus membros (exceto em casos excepcionais, como a fraude ou abuso de direito, configurando a chamada desconsideração da pessoa jurídica, explanada mais adiante); 3) Existência jurídica diversa de seus integrantes (é presentada por eles, não se confundindo a personalidade de cada um); 4) Não podem exercer atos que sejam privativos de pessoas naturais, em razão de sua estrutura biopsicológica (ex: adoção ou casamento); 5) Podem ser sujeito passivo ou sujeito ativo em atos civis e criminais (crimes ambientais). Momento de aquisição da personalidade jurídica: art. 45, CC – com o registro dos atos constitutivos, dotado de efeitos ex nunc. Assim, a aquisição é pautada na teoria da realidade-técnica (entendida ser real a pessoa jurídica, porém dentro de uma realidade técnica, ou seja, dentro de uma realidade que é distinta das pessoas naturais, humanas, tendo em vista a necessidade essencial de registro). Há, portanto, duas diferentes fases: 1) O momento do ato constitutivo, que traz consigo uma parte material (relativa aos atos concretos praticados, como reunião entre os sócios, ajustes entre eles...) e uma parte formal (consistente na elaboração, por escrito, do documento básico da sociedade, ou seja, formação dos seus estatutos ou contrato social); 2) O momento do registro público, referente à inscrição do ato constitutivo no órgão competente. OBS: 1) Existem algumas situações em que há necessidade de autorização do poder executivo antes do registro, veja: as instituições financeiras e seguradoras necessitam respectivamente de autorização do BACEN (Banco Central) e do Conselho Nacional de Registros Privados; 2) Os partidos políticos necessitam de registro, posterior ao registro civil, no Tribunal Superior Eleitoral. Atenção! Dissolução ou cassação - subsiste para fins de liquidação. Princípio da separação/ independência/ autonomia: O art. 46, V, c/c o art. 1.052, ambos do CC, deixa claro que a empresa como pessoa jurídica e seus integrantes são sujeitos de direitos diferentes, inclusive com deveres e responsabilidades diferentes. 16 Regra geral apenas o patrimônio da empresa responde, não os sócios integrantes. Desconsideração da personalidade jurídica da Pessoa Jurídica: Trata-se de medida excepcional, através da qual o patrimônio dos integrantes de determinada pessoa jurídica (sócios ou administrador) será atingido pelas dívidas da empresa. O objetivo do instituto, dessa forma, é atribuir responsabilidade patrimonial aos sócios ou administradores que praticam o ato fraudulento ou abusivo, que passam a responder com o seu patrimônio pessoal por uma obrigação constituída, originalmente, pela pessoa jurídica. Abranda, por assim dizer, o princípio da independência. Atenção! Não é esse instituto capaz de extinguir ou despersonalizar a pessoa jurídica, mas tão somente implica a sua ineficácia episódica. Previsão legal: art. 50, CC. Requisitos legais para fins de decretação da desconsideração: 1) Pedido expresso pela parte ou pelo Ministério Público, tendo em vista não poder o juiz de ofício decretar; 2) Abuso da personalidade, que pode se configurar por meio de desvio de finalidade ou confusão patrimonial, independentemente do animus do sócio. Atenção! - Ambos os requisitos acima explicitados devem ser interpretados restritivamente; - Para que haja a desconsideração da pessoa jurídica não há necessidade de que a empresa esteja insolvente. - O CC adota a teoria maior e objetivista (em que é mais difícil a realização desse instituto por maior quantidade de requisitos e não há exigência de culpa), já o Código de Defesa do Consumidor, CDC, adota a teoria menor (aquela em que basta que a pessoa jurídica seja obstáculo ao ressarcimento de valores). - Não há prazo para requerimento. OBS: 1) Atinge qualquer modalidade de pessoa jurídica, com ou sem finalidade lucrativa; 2) Pode ser arguida pela própria pessoa jurídica? Sim, quando, por exemplo, seja uma hipótese em que só o administrador deverá ser atingido, nesse caso é melhor para empresa que somente o patrimônio deste seja atingido; 3) Pode ser pleiteada na esfera administrativa, desde que haja o devido processo administrativo, segundo o Superior Tribunal de Justiça; 4) Se a pessoa jurídica é de pequeno porte, ex: dois sócios, capital pequeno, se houver desconsideração e apenas um estiver como administrador, mas 17 claramente ambos participarem da administração, o patrimônio de ambos será atingido. Modalidade inversa: Nos casos em que, por exemplo, o indivíduo deposita todo seu patrimônio no da pessoa jurídica com a finalidade de se esquivar da obrigação de partilha no divórcio. Há uma confusão patrimonial que traz consequências ilícitas. Nessa modalidade inversa o que se busca é justamente atingir o patrimônio da pessoa jurídica e não da pessoa física. Desconsideração indireta da personalidade jurídica: Surgiu diante das fraudes e abusos cometidos por empresas controladoras, utilizando da personalidade jurídica da empresa controlada (ou coligada, subsidiária integral...) para prejuízo de terceiros ou para obtenção de vantagens indevidas. Através da qual é permitido o levantamento episódico do véu protetivo da empresa controlada para responsabilizar a empresa controladora por atos praticados com aquela de modo abusivo ou fraudulento. Modalidades de Pessoa Jurídica: Associações: (arts. 53/61, CC) - Consiste em modalidade de corporação (conjunto de pessoas que atuam com objetivo em comum); - São organizadas por estatuto; - A finalidade é ideal (ou seja, não será possível a partilha de lucros entre os associados, tendo em vista o reinvestimento na finalidade precípua para a qual a associação foi criada); - Fins não lucrativos; - Os associados têm direitos e deveres em face da associação e não reciprocamente; - Os associados têm, via de regra, direitos iguais, mas o estatuto pode estabelecer de maneira diversa, ao criar categorias especiais (como a categoria dos diretores) concedendo-lhes maiores vantagens; - A qualidade e associado é intransmissível, a priori, podendo o estatuto dispor de forma diferente. - O quórum de 1/5 dos associados para promoção de convocação dos órgãos deliberativos é garantia do direito da minoria; OBS: 1) Pode haver exclusão de associado, contanto que haja justa causa, possibilidade de exercício de defesa e recurso (princípio do devido processo legal aplicado às relações privadas) – art. 57, CC; 2) O que fazer com o patrimônio quando há dissolução/liquidação da associação? Os recursos remanescentes (ou seja, os valores que sobraram após a quitaçãodas dívidas) são destinados a outras entidades de fins idênticos ou semelhantes – art. 61, CC. 18 Fundações: (arts. 62/69, CC) - Universalidade de bens, destinação patrimonial; O elemento central, portanto, é o patrimônio; - A criação se dá por meio de 1) escritura pública (ato inter vivos), que é irretratável (o Ministério Público pode requerer a transferência do patrimônio ao Judiciário, que pode assim determinar); ou por 2) testamento (ato mortis causa), que é revogável; - O art. 62, parágrafo único, CC, elenca fins aos quais poderá instituir-se fundação (princípio da especialidade); - Se o patrimônio afetado não for suficiente para formação da fundação, não prevendo de modo diverso o instituidor, serão incorporados em outra fundação de fim igual ou semelhante; - Fundação por ato inter vivos - possibilidade de registro patrimonial em nome desta por mandado judicial (art. 64, CC); - O art. 67, CC, traz o rol de requisitos para alteração do estatuto; - A fundação privada deve ser fiscalizada pelo Ministério Público Estadual (art. 66, CC). OBS: Não se esqueça de que as fundações necessitam de prévia aprovação dos seus estatutos pelo Ministério Publico local, contra decisão é cabível impugnação ao Poder Judiciário, consoante garantia constitucional estabelecida no art. 5º, XXXV, e repetida pelo art. 65 do Código Civil. - A destinação do patrimônio em caso de extinção: à fundação que tenha mesmo fim ou fim semelhante (ideia de haver pertinência temática). Extinção da Pessoa Jurídica: Perda da personalidade jurídica. Existem 4 formas diferentes: 1) Voluntária (convencional): feita pelo distrato (vontade inicial que gera extinção), promovida pela maioria absoluta de seus membros; 2) Administrativa: nos casos em que para o registro é necessária autorização e essa autorização é cassada ou não é renovada/atualizada; 3) Judicial: por ato do juiz quando a extinção for pleiteada por motivo de defeito (anulação); 4) Legal: se o término decorre de hipótese contemplada na legislação, ex: morte de todos os sócios. Entes despersonalizados: “Os entes despersonalizados estão elencados no art. 75, CPC/15, sendo eles a massa falida, o espólio, a herança jacente, a herança vacante, a sociedade irregular e o condomínio edilício. 19 Entretanto, tais entes não receberam qualquer denominação legal. A expressão “entes despersonalizados” é criação doutrinária, sendo a mais usual e conhecida. Contudo, não é unânime, havendo ainda várias outras terminologias. Dentre elas, entes atípicos, sujeitos de personalidade reduzida, grupos de personificação anômala. O art. 75 conferiu ao condomínio, à massa falida, ao espólio, à herança vacante e jacente e às sociedades irregulares a faculdade de figurarem como partes na relação processual, tornando evidente o problema dos entes despersonalizados no ordenamento brasileiro. Isso porque, os entes, que anteriormente não eram enquadrados como sujeitos de direitos, passaram a ter a faculdade de participarem da relação processual. Além desse direito de postular a prestação jurisdicional, independentemente da existência de um direito material, alguns entes, como as sociedades irregulares e os condomínios, são titulares de uma série de outras faculdades, participando ativamente do cenário jurídico, na condição de sujeitos das mais variadas relações. De fato, tais entes contratam empregados, emitem cheques, compram, vendem, emprestam e realizam uma série de outros negócios jurídicos.” Domicílio: Conceito: “é a sede jurídica da pessoa, onde ela se presume presente para efeitos de direito e onde pratica habitualmente seus atos e negócios jurídicos”, nos dizeres de Washington de Barros Monteiro. É o local em que a pessoa responde as obrigações. Percebe-se, portanto, que há dois elementos centrais nesse conceito, um de caráter objetivo (residência – estado de fato material) e um de caráter subjetivo (intuito de fixar-se permanentemente). Veja-se que está ligado tanto à ideia de família, lar, repouso (vida íntima como um todo), quanto ao aspecto concernente às relações sociais, ao lado profissional (vida externa em geral). Arts. 70 ao 78, CC/02. Atenção à amplitude dos conceitos! 1) Domicílio > 2) Residência > 3) Morada ou Habitação 1) É uma situação jurídica; 2) É simples estado de fato, sendo apenas um elemento que compõe o conceito de domicílio. É a radicação do indivíduo em determinado lugar; 3) É mera relação de fato. É um local que a pessoa ocupa temporariamente, sem animo de definitividade, como uma casa de praia. 20 O art. 5º, XI, da CF/88 preceitua que “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”. O CC/02 admite a pluralidade domiciliar (domicílio plúrimo), bastando que existam diversas residências onde à pessoa alternadamente viva (art. 71), bem como quando preceitua em seu art. 72, parágrafo único, que exercendo a profissão em diversos locais, cada um deles será considerado domicílio para as relações a eles atreladas. Teoria do domicílio aparente: Busca resguardar direito de 3º de boa-fé nas situações em que de alguma forma o indivíduo criou aparências de que ali seria seu domicílio. Nesses casos o lugar será considerado como verdadeiro domicílio. Ocorre, por exemplo, nos casos em que a pessoa apesar de ter domicílio não possui residência habitual ou tendo é de difícil identificação. Art. 73, CC/02. Mudança do domicílio: Intenção manifesta de mudança (aferida pela conduta, como a matricula dos filhos em escola da nova localidade, abertura de conta bancária, transferência de linha telefônica...) + troca de endereço. Art. 74, CC/02. Espécies: 1) De origem: corresponde ao de seus pais na época do seu nascimento; 2) Voluntário: a) Geral/ comum: depende exclusivamente da vontade do interessado; b) Especial: resultante do estabelecido contratualmente, aquele escolhido onde serão cumpridas as obrigações (art. 78, CC) ou do foro de eleição, onde serão propostas as ações judiciais relativas às referidas obrigações e direitos recíprocos (art. 63, CPC/15). 3) Necessário ou legal: não há liberdade de escolha em decorrência da condição ou da situação de certas pessoais – hipóteses do arts. 76 e 77, CC (incapaz, servidor público, militar, marítimo, preso e agente diplomático do Brasil que citado no estrangeiro alegue extraterritorialidade sem designar onde tem no país seu domicílio) e outras previstas na legislação civil (ex: art. 1.569, CC). OBS: não esquecer a possibilidade já explanada no que concerne ao domicílio plúrimo. Não esqueça! O domicílio, enfim, consiste em uma das formas de individuação da pessoa natural, além do nome e do estado. 21 Domicílio da Pessoa Jurídica: É o local das atividades habituais, veja-se que não se trata propriamente em residência, mas de sede ou estabelecimento (art. 75, CC). É escolhido livremente nos estatutos ou atos constitutivos. É nesses locais em que os credores poderão demandar o cumprimento das obrigações. Pessoa Jurídica de direito publico interno: art. 75, I ao III, CC. Demais PJ: art. 75, IV, CC. Em relação à pessoa jurídica de direito privado: súmula 363 do STF. OBS: também há o reconhecimento da pluralidade de domicílios. (art. 75, §1º, CC). Bens: Conceito: São objeto das relações jurídicas que se formam entre as pessoas, naturais e jurídicas, sujeitos de direito; consistem os bens jurídicos em toda utilidade física ou ideal que possa ser objeto de um direito subjetivo. Existem três correntes que visam distinguir bens e coisas:a) Corrente 1: Silvio Rodrigues, Carlos Roberto Gonçalves, Silvio de Salvo Venosa e Washington de Barros Monteiro defendem ser “coisa” gênero do qual “bem” é espécie, pautando-se no art. 202 do Código Civil de Portugal1. b) Corrente 2: Luiz Edson Fachin, Cristiano Chaves, Nelson Rosenvald e Arnaldo Rizzardo, por sua vez, estabelecem que “bem” é gênero do qual “coisa” é espécie. Bem seria a cristalização de um valor jurídico. Por estar na Parte Geral do CC teria status de gênero, englobando os bens incorpóreos (imateriais, como a ética, a verdade, a propriedade intelectual) e corpóreos (as coisas, que, portanto, seriam tão comente os bens físicos, materiais, corpóreos), presentes apenas na Parte Especial no âmbito dos direitos reais. Atenção! Essa é a corrente mais indicada para a realização de questões objetivas de concursos públicos, visto embasar-se no CC. c) Corrente 3: Defende Caio Mário da Silva Pereira corrente eclética ou mista, segundo a qual existem bens em sentido amplo (todo e qualquer objeto de relação jurídica) e bens em sentido estrito (bens corpóreos). Antes de tecer a classificação dos bens é essencial ter em mente os seguintes conceitos: Bens corpóreos: coisa, objeto material sobre que recai o direito (res corporales), tem existência física e pode ser tangido pelo homem. 1 “Diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objeto de relações jurídicas” 22 OBS: Caio Mário da Silva pereira afirma que hoje também são considerados bens materiais ou corpóreos as diversas formas de energia, como a eletricidade, o gás, o valor. Bens incorpóreos: de existência abstrata ou ideal, mas valor econômico, como o direito autoral, o crédito, a liberdade, a honra, a integridade moral, a imagem, a vida... Apesar de a classificação acima não ter dispositivos específicos no código, visto que as relações jurídicas podem estar pautadas em uma dessas duas categorias de bens, que, a depender do caso, terão institutos próprios, como os direitos reais que têm por objetos, via de regra, os bens corpóreos (que a alienação ocorre por meio de compra e venda, doação, permuta). Já a transferência de bens incorpóreos é efetivada por cessão (ex: cessão de direitos hereditários, cessão de crédito...). Patrimônio: nada mais é do que a projeção econômica da personalidade civil (teoria clássica ou subjetiva - francesa), é formado pelos bens corpóreos e incorpóreos da pessoa, consistindo na atividade econômica de uma pessoa sob as lentes do aspecto jurídico, compreendendo os ativos e passivos (dívidas) dos bens avaliáveis em dinheiro. Nas palavras de Clóvis Beviláqua é “complexo de relações jurídicas de uma pessoa, que tiverem valor econômico”. OBS: 1) não inclui as qualidades pessoais, nem as relações afetivas das pessoas e os direitos não patrimoniais (como direitos personalíssimos, familiares e públicos não economicamente apreciáveis); 2) interessante perceber que sob o viés obrigacional é o patrimônio do devedor que responde por suas dívidas, suas obrigações; 3) a proteção jurídica dada ao patrimônio tem escopo precípuo de garantia da dignidade da pessoa humana, do mínimo existencial para uma vida digna e para o desenvolvimento das atividades humanas, veja-se: proteção ao bem de família (Lei nº. 8.009/90 e CC, arts. 1.711 a 1.722), óbice à prodigalidade mediante a vedação da doação da totalidade do patrimônio, sem que se resguarde um mínimo (art. 548, CC); previsão da impenhorabilidade de determinados bens (arts. 833 e 834, CC)... Classificação dos bens: 1) Dos bens considerados em si mesmos (ou intrinsecamente considerados): (arts. 79 a 84, CC); se funda na natureza dos bens. a) Bens móveis: o art. 82, CC, define os bens móveis por natureza (semoventes – animais, e propriamente ditos – moedas, mercadorias, objetos de uso); por determinação legal (art.83, CC, I: bens imateriais/ II: podem ser de gozo/fruição, como propriedade e usufruto, ou de garantia, como penhor e hipoteca/ III: direitos obrigacionais patrimoniais); por antecipação: aqueles incorporados ao solo, mas com o intuito de oportunamente serem separados e convertidos em imóveis, ex: árvores destinadas ao corte, os frutos ainda não colhidos, imóveis vendidos para demolição – veja que a finalidade econômica define, nesses casos, a natureza. 23 OBS: 1) O legislador leva em consideração a intenção do dono, vide art. 84, CC. Observem que se houver a intenção de reempregá-los na reconstrução do prédio demolido os materiais não perdem o caráter de imóveis; 2) Os navios e as aeronaves são bens móveis propriamente ditos, mas para fins de hipoteca, que é direito real de garantia sobre imóveis, podem ser imobilizados – ou seja, passam a ser tratados como se imóveis fossem. b) Bens imóveis: segundo Clóvis Beviláqua, são aqueles que não se pode transportar de um lugar para o outro sem destruição. Há os imóveis por natureza (ex: solo – arts. 1.230, CC, e art. 176, caput; árvores, espaço aéreo – art. 1.229, CC); por acessão natural (quando a união ou incorporação da coisa acessória à principal advém de acontecimento natural, ex: formação de ilhas e avulsão – arts. 1.249 e 1.251, CC), por acessão artificial (plantações e construções, pois derivam de um comportamento ativo do homem; OBS: devem ter necessariamente o caráter de permanência, senão perde o caráter de imóveis – art. 81 e 84, CC) e por determinação legal (art. 80, CC - há essa determinação legal visando uma maior segurança jurídica, diante do fato de as transações relacionadas aos bens imóveis serem mais burocráticas; ex: exigência de registro competente, art. 1.227, CC, e autorização do cônjuge, art. 1.747, I, CC). Os direitos reais sobre imóveis de que trata o art. 80, CC, podem ser os de gozo, como servidão e usufruto, ou de garantia, como penhor e hipoteca. Quanto à sucessão aberta, ainda que os bens deixados pelo de cujus sejam todos móveis será considerada imóvel, pois esse caráter legal está relacionado apenas ao direito a esta e não às coisas que a compõem, assim, feita a partilha se poderá cuidar dos bens individualmente. Dessa maneira, tanto a renúncia à herança, quanto a sessão de direitos hereditários dar-se-á por meio de escritura pública e não simples tradição, como ocorre com a transferência de bens móveis. Atenção! - As chamadas acessões intelectuais são definidas como pertenças pelo art. 93, CC/02, sendo bens móveis. Ex: lâmpadas, ar condicionados, extintores... (quando o CC/16 considerava-as bens imóveis por acessão intelectual – art. 43, III), - Os bens imóveis e móveis são adquiridos por meios diferentes (os móveis pela simples tradição; enquanto os imóveis precisam de registro no Cartório de Registro de Imóveis – arts. 108, 1.226 e 1.227); após o casamento a alienação de bens imóveis é condicionada à outorga uxória (autorização do cônjuge), quando não há referida exigência na transferência de bens móveis – art. 1.647, I, CC; quanto aos bens imóveis de incapazes – art. 1.748, CC; usucapião com regras e prazos diferenciados, visto que a lei exige prazos mais dilatados quando se trata de bens imóveis. c) Bens Fungíveis: aqueles que podem ser substituídos por outros de mesma espécie, qualidade e quantidade – art. 85, CC; ex: dinheiro e alimentos em geral. Já os infungíveis, em contrapartida são os que não 24 têm essa característica, sendo insubstituíveis, como uma escultura famosa, o quadro de um pintor... OBS: a fungibilidade pode resultar da vontade das partes, ex: boi emprestado para os serviços de lavoura, uma moeda de um colecionador. d) Bens consumíveis: art. 86, CC – de fato: natural ou materialmente consumíveis, ex: alimentos; e de direito: juridicamente consumíveis, ex: mercadorias destinadas àalienação em um supermercado. Já os inconsumíveis são os que o uso não importa destruição imediata ou não estão destinados à alienação. OBS: 1) o destino que é dado aos bens pode fazer com que passem a ser inconsumíveis, ex: os livros nas prateleiras de uma livraria serão consumíveis, por se destinarem à alienação, os mesmos livros nas estantes de uma biblioteca serão inconsumíveis, porque devem ser lidos e conservados; 2) a consuntibilidade pode decorrer da sua destinação econômico-jurídica. Ex: livros, que inicialmente são inconsumíveis de fato, mas podem se tornar juridicamente consumíveis se postos à venda. e) Bens divisíveis: aqueles que podem partir em porções reais e distintas, formando cada qual um todo perfeito (ex: saca de café) – art. 87, CC. Indivisíveis por natureza: relógio, animal; por determinação legal: a hipoteca (art. 1.421, CC) e o direito dos herdeiros quanto à propriedade e posse da herança até a partilha (art. 1.791, CC); por vontade das partes: acordo que torne coisa comum indivisa por prazo não maior que cinco anos (art. 1.320, CC) f) Bens singulares: art. 89, CC. Simples: quando suas partes, da mesma espécie, estão ligadas pela própria natureza, ex: animal, árvore; Compostos: quando suas partes estão ligadas pela indústria humana, ex: edifício. g) Bens coletivos: também chamados de universais ou universalidades, abrangem as universalidades de fato (biblioteca, galeria de quadros) e as universalidades de direito (herança, patrimônio, massa falida). São os que, sendo compostos de várias coisas singulares (bens autônomos), se consideram em conjunto, formando um todo, uma unidade, que passa a ter individualidade própria, ex: floresta, rebanho. 2) Dos bens reciprocamente considerados: arts. 92 ao 97 – leva-se em consideração a relação entre uns e outros. Atenção! A acessoriedade pode existir entre coisas e entre direitos, sejam eles pessoais ou reais. a) Principal: aquele que tem existência própria, autônoma, que existe por si, ex: solo. b) Acessório: é aquele cuja existência depende do principal, ex: árvore. 25 - O acessório acompanha o principal em seu destino (princípio da gravitação jurídica); assim, extinta a obrigação principal, extingue-se também a acessória. - O proprietário do principal é o proprietário do acessório, via de regra (art. 1.209, CC). - Classes de bens acessórios: produtos (Clóvis Beviláqua definia: “são as utilidades que se retiram da coisa, diminuindo-lhe a quantidade, porque não se reproduzem periodicamente, como as pedras e os metais, que se extraem das pedreiras e das minas”); frutos (são utilidades que uma coisa periodicamente produz, nascem e renascem da coisa sem acarretar-lhe a destruição no todo ou em parte, caracterizando-se por três elementos: periodicidade, inalterabilidade da substância da coisa principal e separabilidade desta; podem ser, 1) Quanto à origem: naturais: frutas britadas das árvores, as crias de animais/ industriais: produção de uma fábrica/ civis: juros e aluguéis (rendimentos); 2) Quanto ao seu estado: pendentes: enquanto unidos à coisa que os produziu/ percebidos ou colhidos: depois de separados/ estantes: separados e armazenados para venda/ percipiendos: os que deviam ser, mas não foram colhidos ou percebidos/ consumidos: não existem porque foram utilizados); pertenças (art. 93, CC, bens móveis que apesar de não integram a coisa principal, como os fazem os frutos, produtos e benfeitorias, estão afetados por forma duradoura ao serviço ou ornamentação de outro, ex: objetos de decoração, extintores, tratores). OBS: não se aplica às pertenças a regra do acessório segue o principal, por ela não ser parte integrante – art. 94, CC; benfeitorias (art. 96, CC, despesas ou melhoramentos realizados nas coisas já existentes, que se categorizam em três grupos: 1) Despesas ou benfeitorias necessárias – têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore, ex: conserto de parede rachada, infiltrações; 2) Despesas ou benfeitorias úteis – facilitam ou aumentam o uso do bem, ex: banheiro, garagem; 3) Despesas ou benfeitorias de luxo, chamadas voluptuárias – mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor, ex: piscina – art. 96, CC. OBS: art.97, CC – esses acréscimos de que trata o legislador são as acessões naturais, art. 1.248, I ao IV, CC, acréscimos decorrentes de fatos eventuais e inteiramente fortuitos, assim, não são benfeitorias, não são indenizáveis, pois quem lucra é o proprietário e não o possuidor. 3) Dos bens quanto ao titular do domínio: a) Públicos: art. 98, CC, c/c art. 41, CC; Classificação - art. 99, CC: bens de uso comum do povo: podem ser utilizados por qualquer um do povo, sem formalidades. OBS: o Poder Público pode inclusive regulamentar seu uso ou torna-lo oneroso, instituindo a cobrança de pedágio (art. 103, CC) ou restringindo/vedando temporariamente o uso; bens de uso especial: destinam-se especialmente à execução dos serviços públicos, diz-se estarem afetados a atividade administrativa, ex: secretarias, escolas, ministérios; bens dominicais: consistem no 26 patrimônio disponível das pessoa jurídicas de direito público interno, aqueles que não estão destinados ao serviço público, podendo ser, assim, alienados, ex: terras devolutas, estradas de ferro. Atenção! Art. 99, parágrafo único – Pontes de Miranda: “Na falta de regras jurídicas sobre bens dominicais, incidem as de direito privado, ao passo que, na falta de regras jurídicas sobre bens públicos stricto sensu (os de uso comum e os de uso especial), atender-se-ão os princípios gerais de direito público”. Características dos bens públicos: inalienabilidade – que não é absoluta, conforme destacado infra, (os de usos comum do povo e os de uso especial), imprescritibilidade (não podem ser usucapidos – art. 102, CC, e 183, §3º, CF, Súmula 340 STF), impenhorabilidade e não onerosidade (da utilização concedida). Atenção! Os bens suscetíveis de valoração patrimonial podem perder a inalienabilidade que lhes é peculiar pela desafetação (alteração da destinação do bem, que passa a ser dominical e, por isso, passível de alienação) – art. 100, CC. b) Particulares: o conceito de bens particulares é extraído por exclusão do conceito de bens públicos tendo em vista que o CC/02 limitou-se a definir apenas estes últimos. Assim, bens particulares são os bens pertencentes a qualquer pessoa que não às pessoas jurídicas de direito público interno. OBS: Bem de família – pode ser voluntário: art. 1.711 e seguintes, CC, ou legalmente estabelecido: Lei nº. 8.009/90. Via de regra é impenhorável, mas o art. 3º da citada Lei traz algumas exceções2. 2 Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: I - revogado; II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato; III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem, do seu coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal, observadas as hipóteses em que ambos responderão pela dívida; IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar; V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar; VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens; VII - por obrigaçãodecorrente de fiança concedida em contrato de locação.
Compartilhar