Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
APOSTILA DE MÁQUINAS ELÉTRICAS 1 MÁQUINAS SÍNCRONAS MÓDULO 2 CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA IFG – Campus ITUMBIARA Fev/2016 Máquinas Elétricas 1 2 2. MÁQUINA C.A. – MÁQUINAS SÍNCRONAS 2.1 CAMPO MAGNÉTICO GIRANTE Uma das possibilidades básicas para a operação de uma máquina elétrica de corrente alternada, é produzir um campo magnético que se movimenta em relação ao enrolamento que o produz, isto é, produzir um campo magnético girante. Um estator monofásico não produz um campo magnético rotativo, mas um campo pulsante. Duas ou mais bobinas, defasadas convenientemente, produzem campos magnéticos girantes. Onda de Fmm de um enrolamento monofásico Seja um enrolamento de uma única bobina de N espiras, com seus lados compreendendo uma distância de 180𝑜 mecânicos, como podemos observar na figura 2.1a. a) b) Figura 2.1 – a) Fluxo produzido por um enrolamento concentrado de passo pleno em uma máquina de entreferro uniforme; b) Fmm de entreferro e a componente fundamental representada. Máquinas Elétricas 1 3 Uma bobina que se estende por 180𝑜 mecânicos, é conhecida como bobina de passo pleno. Os pontos indicam fluxos de corrente saindo da página e as cruzes indicam fluxos de corrente entrando na página. A natureza bipolar do campo magnético produzido pela corrente na bobina está mostrada pelas linhas de fluxo e pelas polaridades N e S do campo. Como as permeabilidades do ferro da armadura e do ferro do rotor são muito maiores que a do ar, podemos assumir com exatidão suficiente que toda a relutância do circuito magnético encontra-se no entreferro, portanto as quedas de Fmm (= 𝑁. 𝑖) no ferro podem ser desprezadas e toda a queda de Fmm aparecerá no entreferro. Pela simetria da estrutura, é evidente que a Fmm de entreferro na posição angular 𝜃𝑎, sob um dos polos, é a mesma em valor que aquela localizada no ângulo 𝜃𝑎 + 𝜋, sob o polo oposto. Entretanto, as Fmms apresentam sentidos opostos. Ao longo de qualquer um dos caminhos fechados mostrados pelas linhas de fluxo na figura 2.1a, temos que a Fmm é 𝑁. 𝑖. Por simetria, podemos dizer que a Fmm no entreferro, nos lados opostos do rotor, é igual em valor, mas opostas em sentido. Como cada linha de fluxo cruza o entreferro duas vezes, a queda de Fmm no entreferro deve ser igual à metade do total ou 𝑁. 𝑖/2. A figura 2.1b mostra o entreferro e o enrolamento dispostos em forma plana. A distribuição de Fmm no entreferro está mostrada pela distribuição de amplitude 𝑁. 𝑖/2 semelhante a degraus. Supondo que as aberturas das ranhuras sejam estreitas, a Fmm faz um salto 𝑁. 𝑖 ao passar de um lado a outro da bobina. A análise de Fourier pode mostrar que a Fmm produzida no entreferro por uma única bobina, consiste em uma componente espacial harmônica fundamental, mais uma série de componentes harmônicas de ordem mais elevada. No projeto de máquinas AC, sérios esforços são feitos para distribuir as bobinas construindo os enrolamentos de modo a minimizar as componentes harmônicas de ordem mais elevada e a produzir uma onda de Fmm de entreferro, constituída predominantemente pela componente fundamental senoidal no espaço. A componente fundamental da onda retangular da Fmm representada na figura 2.1b é dada pela equação (01): ℱ𝑔1 = 4 𝜋 . ( 𝑁.𝑖 2 ) . 𝑐𝑜𝑠𝜃𝑎 (01) Onde 𝜃𝑎 é medida a partir do eixo magnético da bobina do estator, e seu pico ( 4 𝜋 . ( 𝑁.𝑖 2 )) está alinhado com o eixo magnético da bobina. Considerando ainda o enrolamento monofásico, mostrado na figura 2.1a, este enrolamento transporta uma corrente alternada 𝑖 = 𝐼𝑚á𝑥.. cos(𝜔𝑡). A corrente AC produz, portanto, uma Fmm igual a: 𝐹𝑚𝑚1 = 4 𝜋 . ( 𝑁 2 ) . 𝐼𝑚á𝑥.. cos(𝜔𝑡) . 𝑐𝑜𝑠𝜃𝑎 = 𝐹𝑚𝑚𝑚á𝑥.. 𝑐𝑜𝑠𝜃𝑎 . cos(𝜔𝑡) (02) Esta distribuição de 𝐹𝑚𝑚1 permanece fixa no espaço com uma amplitude que varia de forma senoidal no tempo com frequência 𝜔, como podemos ver na figura 2.2. Máquinas Elétricas 1 4 Figura 2.2 – Fmm fundamental espacial de entreferro para um enrolamento monofásico, mostrada em diversos instantes. Quando usamos uma identidade trigonométrica, podemos escrever a equação (02) na forma: 𝐹𝑚𝑚1 = 𝐹𝑚𝑚𝑚á𝑥.. [ 1 2 . 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑎 − 𝜔𝑡) + 1 2 . 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑎 + 𝜔𝑡)] (03) Esta equação (03) mostra que a Fmm de um enrolamento monofásico pode ser decomposta em duas ondas girantes de Fmm, cada uma de amplitude igual à metade da amplitude máxima de 𝐹𝑚𝑚1, com uma delas girando no sentido de +𝜃𝑎 e a outra, girando no sentido de −𝜃𝑎, como podemos ver representado na figura 2.3. 𝐹+ = 𝐹𝑚𝑚𝑚á𝑥.. 1 2 . 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑎 −𝜔𝑡) 𝐹− = 𝐹𝑚𝑚𝑚á𝑥.. 1 2 . 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑎 +𝜔𝑡) Figura 2.3 – Fmm total decomposta em duas ondas progressivas. Máquinas Elétricas 1 5 A figura 2.4 mostra a Fmm resultante, conforme as Fmms horária e anti-horária se movimentam no tempo. A 𝐹𝑚𝑚1 é pulsante, como podemos ver. Esta 𝐹𝑚𝑚1 vai causar igualmente um campo pulsante, conforme podemos ver na figura 2.4c. a) b) c) Figura 2.4 – a) Resultante da Fmm pulsante em cada instante; b) 𝐹𝑚𝑚1 pulsante; c) Representação senoidal e fasorial do campo pulsante. Máquinas Elétricas 1 6 Como podemos criar um campo magnético no estator e fazê-lo rodar ? De forma geral, pode ser mostrado que um enrolamento de m fases distribuído (𝑚 ≥ 2), excitado por m correntes de fase balanceadas, produzirá um campo girante senoidalmente distribuído de amplitude constante, quando os enrolamentos de fase são separados de 2/m graus elétricos no espaço. Note que um campo magnético girante é produzido sem a rotação física de um ímã. Tudo o que é necessário é que correntes polifásicas passem através dos enrolamentos polifásicos da máquina. Se de alguma forma pudermos conseguir um segundo enrolamento com defasagem de 90° em relação ao primeiro, se terá um sistema bifásico, com a consequente formação de um campo girante, como mostra a figura 2.5. Para o caso em questão: 𝑖1 = 𝐼𝑚á𝑥.. 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡) 𝑖2 = 𝐼𝑚á𝑥.. 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 − 90 𝑜) Estas correntes produzirão densidades de campo magnético defasadas de 90°, as quais estão representadas senoidal e fasorialmente na figura 2.5, onde podemos ver que o campo magnético resultante, desta vez, gira no entreferro. Figura 2.5 – Campo magnético bifásico girante. O princípio fundamental de operação de máquinas CA trifásicas é que, se um conjunto de correntes trifásicas com igual magnitude e defasadasde 120o uma da outra fluírem em um enrolamento trifásico, então isto produzirá um campo magnético girante de magnitude constante. Os três enrolamentos de fase consistem de três enrolamentos separados e espaçados de 120o elétricos em torno da superfície da máquina. A figura 2.6a mostra os enrolamentos defasados 120o e a forma de onda correspondente das tensões induzidas em cada fase. A figura 2.6b mostra como a bobina está inserida na ranhura do estator e a figura 2.6c a defasagem no espaço das bobinas inseridas no estator. Máquinas Elétricas 1 7 a) b) c) Figura 2.6 – a) Três enrolamentos defasados de 120o e forma de onda da tensão induzida; b) Bobina inserida no estator; c) Defasagem no espaço das bobinas inseridas no estator. Máquinas Elétricas 1 8 Para compreender o conceito do campo magnético girante produzido por bobinas trifásicas, vamos imaginar três bobinas defasadas 120o no espaço e inseridas nas ranhuras de um estator, conforme podemos ver na figura 2.7. Figura 2.7 – Enrolamento trifásico, com bobinas dispostas 120o uma da outra, no estator de uma máquina AC. Aplicando-se correntes nas bobinas: 𝑖𝑎𝑎′ = 𝐼𝑚á𝑥.𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡) 𝑖𝑏𝑏′ = 𝐼𝑚á𝑥.𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 − 120 𝑜) 𝑖𝑐𝑐′ = 𝐼𝑚á𝑥.𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 + 120 𝑜) aparecerá uma força magnetomotriz em cada bobina, dada por: 𝐹𝑚𝑚𝑎 = 𝐹𝑚á𝑥.. 𝑐𝑜𝑠𝜔𝑡 𝐹𝑚𝑚𝑏 = 𝐹𝑚á𝑥.. 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 − 120 𝑜) 𝐹𝑚𝑚𝑐 = 𝐹𝑚á𝑥.. 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 − 240 𝑜) A 𝐹𝑚𝑚 resultante é dada pelo somatório das 𝐹𝑚𝑚′𝑠 de cada fase: 𝐹(𝜃, 𝑡) = ℱ𝑎 + ℱ𝑏 + ℱ𝑐 𝐹(𝜃, 𝑡) = 𝐹𝑚𝑚𝑎 . 𝑐𝑜𝑠𝜃𝑎 + 𝐹𝑚𝑚𝑏. 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑎 − 120 𝑜) + 𝐹𝑚𝑚𝑐 . 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑎 + 120 𝑜) Portanto, substituindo, teremos: 𝐹(𝜃, 𝑡) = 𝐹𝑚á𝑥.. 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡). 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑎) + 𝐹𝑚á𝑥.. 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 − 120 𝑜). 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑎 − 120 𝑜) + 𝐹𝑚á𝑥.. 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 + 120 𝑜). 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑎 + 120 𝑜) = 𝐹𝑚á𝑥.[𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡). 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑎) + 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 − 120 𝑜). 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑎 − 120 𝑜) + 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 + 120𝑜). 𝑐𝑜𝑠(𝜃𝑎 + 120 𝑜)] Máquinas Elétricas 1 9 Fazendo uso da identidade trigonométrica: 𝑐𝑜𝑠𝐴. 𝑐𝑜𝑠𝐵 = 1 2 . [𝑐𝑜𝑠(𝐴 − 𝐵) + 𝑐𝑜𝑠(𝐴 + 𝐵)] A equação se torna: 𝐹(𝜃, 𝑡) = 3 2 . 𝐹𝑚á𝑥.𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 − 𝜃𝑎) + 𝐹𝑚á𝑥. 2 [𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 + 𝜃𝑎) + 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 + 𝜃𝑎 − 120 𝑜) + 𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 + 𝜃𝑎 + 120 𝑜)] As três somas entre colchetes representam três fasores simétricos defasados 120𝑜, e sua soma é nula. A força magnetomotriz total 𝐹(𝜃, 𝑡) é, portanto, dada por: 𝐹(𝜃, 𝑡) = 3 2 . 𝐹𝑚á𝑥.𝑐𝑜𝑠(𝜔𝑡 − 𝜃𝑎) (04) Esta expressão representa a onda de Fmm resultante no entreferro girando à velocidade angular constante 𝜔(= 2𝜋𝑓). Observe que em um único ponto do espaço (𝜽𝒂) a 𝑭𝒎𝒎𝒎 varia em função do tempo segundo uma senóide de amplitude 𝟑 𝟐 . 𝑭𝒎á𝒙. e no mesmo instante de tempo está distribuída de forma senoidal no entreferro. Em consequência a equação (04) tem um caráter de uma onda que se move em volta do entreferro, ou seja, uma 𝐹𝑚𝑚 giratória. A figura 2.8 mostra a força magnetomotriz girante no sentido anti-horário em três instantes distintos. A figura 2.9 mostra que em um dado instante de tempo t1, a onda é distribuída senoidalmente no entreferro com o pico positivo na direção 𝜃 = 𝜔. 𝑡1. Num instante posterior t2, o pico positivo da onda senoidalmente distribuída está na direção 𝜃 = 𝜔. 𝑡2, isto é, a onda se moveu 𝜃 = 𝜔(𝑡2 − 𝑡1) ao longo do entreferro. Observe que esta força magnetomotriz irá produzir um campo magnético (𝐵) girante com velocidade e intensidade constantes (𝐻 = 𝐹(𝜃,𝑡) 𝑙 e 𝐵 = 𝜇𝑚 . 𝐻). Esta velocidade depende da frequência das correntes aplicadas ao conjunto de bobinas trifásicas. Figura 2.8 – Força magnetomotriz girante no estator. Máquinas Elétricas 1 10 Figura 2.9 – Movimento da Fmm resultante. Se ocorrer a inversão de duas fases quaisquer, o campo irá girar no sentido contrário. Vantagens do uso de potência trifásica 1º) Potência trifásica é usada primariamente em aplicações industriais e comerciais. Muitos tipos de equipamentos industriais usam corrente alternada trifásica porque a potência produzida por uma fonte de tensão alternada é menos pulsante que uma fonte de tensão monofásica. Este efeito é observado pelo comportamento do pico de tensão que ocorre a cada 120o na forma de onda trifásica. Uma forma de onda monofásica tem um pico de tensão somente uma vez a cada 360o. O efeito do desenvolvimento de uma potência mais suave na operação de motores elétricos (com tensão trifásica aplicada) é que ela produz um conjugado mais uniforme no motor. Este fator é particularmente importante para grandes motores utilizados na indústria. 2º) Três tensões monofásicas separadas podem derivar de uma linha de transmissão de potência trifásica. É mais econômico distribuir energia trifásica alternada de usinas de energia para os consumidores que estão localizados a uma distância considerável. Menor número de condutores são requeridos para distribuir tensão trifásica que três tensões monofásicas separadas; 3º) Equipamentos que usam potência trifásica são fisicamente menores em tamanho em comparação com equipamentos monofásicos. 2.1.1 SEQUÊNCIA DE FASE Um sistema trifásico tem uma importante propriedade chamada sequência de fase. Ela determina a direção de rotação dos motores trifásicos e também determina se um sistema trifásico pode ser conectado em paralelo com outro. Portanto, em um sistema trifásico, sequência de fase é tão importante quanto a frequência e a tensão do sistema. Sequência de fase significa a ordem na qual as tensões de linha trifásicas tornam-se sucessivamente positivas. Sequência direta: RSTRSTRSTRST.... Sequência inversa: SRTSRTSRT.... ou RTSRTSRTS.... ou TSRTSRTSR.... Máquinas Elétricas 1 11 2.1.2 GRAUS ELÉTRICOS E GRAUS MECÂNICOS Para uma máquina de dois polos, enquanto o rotor gira 360o (2𝜋 radianos mecânicos), o ângulo elétrico, ou seja, a senóide do campo elétrico também executa 2𝜋 radianos elétricos. Veja a figura 2.10. Figura 2.10 – Ângulos elétrico e mecânico para máquina de 2 polos. Para uma máquina de quatro polos, enquanto o rotor gira 360o (2𝜋 radianos mecânicos), o ângulo elétrico, ou seja, a senóide do campo elétrico executa 4𝜋 radianos elétricos. Veja a figura 2.11. Figura 2.11 – Ângulos elétrico e mecânico para máquina de 4 polos. Máquinas Elétricas 112 Em geral, se o número de polos de uma máquina CA é 𝑝, então o ângulo elétrico é dado por: 𝜃𝑒𝑙. = 𝑝 2 . 𝜃𝑚 (06) e a frequência é dada por: 𝑓𝑒𝑙. = 𝑝 2 . 𝑓𝑚 (07) onde: 𝜃𝑒𝑙. - ângulo elétrico; 𝜃𝑚 - ângulo mecânico; 𝑓𝑒𝑙. - frequência elétrica (rad/s); 𝑓𝑚 – frequência mecânica (rad/s); 1𝐻𝑍 = 1𝑐𝑝𝑠 = 1𝑟𝑝𝑠 = 2𝜋𝑟𝑎𝑑/𝑠 𝑑𝜃𝑒𝑙. 𝑑𝑡 = 𝑝 2 . 𝑑𝜃𝑚 𝑑𝑡 𝜔𝑒𝑙. = 𝑝 2 . 𝜔𝑚 𝜔𝑒𝑙. – velocidade elétrica em rad/s - 2𝜋𝑓𝑒𝑙. 𝜔𝑚 - velocidade mecânica em rad/s - 2𝜋𝑓𝑚 2𝜋𝑓𝑒𝑙. = 𝑝 2 . 2𝜋𝑓𝑚 2𝜋𝑓𝑒𝑙. = 𝑝 2 . 2𝜋. 𝑛 60 𝑛 = 120.𝑓𝑒𝑙. 𝑝 rpm As máquinas síncronas recebem esse nome porque nelas a velocidade de rotação do rotor é proporcional à frequência das tensões induzidas na armadura. Sendo 𝑓 a frequência em Hz, 𝑝 o número de polos da máquina e 𝑛𝑆 a velocidade do rotor em rpm, também denominada “velocidade síncrona”, teremos a seguinte relação: 𝑛𝑆 = 120.𝑓 𝑝 (08) Nos geradores síncronos comerciais, a frequência é fixa. No Brasil e em boa parte das Américas, a frequência comercial padrão é 60 Hz. Obs.: 1) Existe um sentido de rotação para os geradores que é dado pelo fabricante, em função dos aparatos de ventilação (ventoinhas para pequenos geradores); 2) O rotor possui freio a partir de 30% da velocidade nominal da máquina, para fazer parar totalmente o rotor; a prática moderna executa a frenagem de forma contínua a partir da velocidade de 10 %. Máquinas Elétricas 1 13 Exemplo: Uma turbina hidráulica com 200rpm é conectada em um gerador síncrono. Se a tensão induzida tem uma frequência de 60Hz, quantos polos o rotor tem ? Solução: Utilizando a equação que relaciona velocidade síncrona com frequência e número de polos da máquina, teremos: 𝑝 = 120.𝑓 𝑛𝑆 = 120.60 200 = 36 polos. 2.2 MÁQUINAS SÍNCRONAS Máquinas síncronas são conversores rotativos que transformam energia mecânica em elétrica, ou vice-versa, utilizando-se dos fenômenos da indução e conjugados eletromagnéticos. Assim, podem exercer uma ação motora ou geradora. Um motor síncrono apresenta aspectos construtivos similares ao do gerador e, sendo assim, diferem apenas na forma de serem empregados. A máquina atuando como motor absorve energia elétrica de uma fonte de tensão alternada para desenvolver um conjugado que poderá acionar uma carga mecânica em seu eixo. O gerador, por outro lado, tem a velocidade de seu eixo estabelecida por uma máquina primária, fornecendo energia elétrica com tensões e correntes alternadas. Naturalmente, para que ambas as operações sejam possíveis, é necessário que a máquina seja excitada utilizando-se de uma fonte de energia elétrica contínua. Observe-se que as máquinas elétricas, de uma forma geral, são reversíveis, ou seja, um gerador síncrono sob determinadas condições pode agir como motor, ou vice-versa. Quanto às aplicações dos geradores síncronos, também conhecidos por alternadores, são óbvias, pois praticamente toda a geração de energia elétrica mundial ocorre empregando este tipo de máquina elétrica. Os motores síncronos são aplicados em acionamentos onde a velocidade deve-se manter constante e/ou com cargas de grande porte. Além disto, pode-se utilizá-los como compensadores síncronos, atuando no nível de reativo do sistema ao qual está ligado. Os principais tipos de máquinas síncronas são: a) Monofásicas e polifásicas; b) Bipolares e multipolares; c) De polos salientes e de polos não salientes (lisos); d) De indutor girante e de induzido girante; e) De excitação independente e auto excitados; f) De baixa frequência e de alta frequência. Vamos nos restringir às máquinas polifásicas (especificamente as trifásicas) para baixas frequências (as usuais 50Hz e 60Hz, preferencialmente), de indutor girante, de polos lisos e salientes, auto excitadas ou com excitação independente. Máquinas Elétricas 1 14 2.2.1 CONSTRUÇÃO DAS MÁQUINAS SÍNCRONAS Na figura 2.12 podemos ver a vista em corte de uma máquina síncrona simplificada para dar ênfase às partes principais. Figura 2.12 - Vista em corte de uma máquina síncrona. As partes principais são: Carcaça – serve como estrutura da máquina. É feita de aço fundido ou de chapas de aço que possuem resistência mecânica; Polos – são geralmente feitos de chapas de aço silício. A forma dos polos influi na forma da fem induzida no tempo. Veja figuras 2.13. Figura 2.13 – Forma do polo influenciando na forma de onda da tensão induzida. Núcleo da armadura – como ele está sujeito a um fluxo alternado, é construído de chapas de aço silício; Nas máquinas modernas a laminação do aço é de cerca de 0,45 milímetros de espessura, o que é cerca de duas vezes a espessura daquela utilizada nos transformadores. Bobinas de campo – é construído de bobinas de fio de cobre isolado com algodão, verniz ou seda, colocadas em cada peça polar. Estas bobinas são alimentadas em CC; Máquinas Elétricas 1 15 Enrolamento amortecedor – é construído em ranhuras nas faces polares curto- circuitados nas suas extremidades. Algumas das finalidades deste enrolamento é amortecer as oscilações do rotor durante variações bruscas de carga (mantém a tensão trifásica balanceada sob condições de carga desbalanceada) e permitir a partida da máquina síncrona funcionando como motor síncrono. Veja as figuras 2.14. a) b) Figura 2.14 – Enrolamento amortecedor: a) em rotor de polos salientes; b) em rotor de polos lisos. Máquinas Elétricas 1 16 Turbo geradores normalmente não tem este enrolamento amortecedor (exceto em casos especiais para ajudar na sincronização), porque os polos não salientes agem como amortecedores eficientes. Enrolamento de armadura – o circuito elétrico do induzido é o enrolamento principal da máquina síncrona e é montado sobre ranhuras abertas na periferia do núcleo do induzido. Na figura 2.15 podemos ver como as bobinas são ligadas. Figura 2.15 – Ligação dos enrolamentos da máquina síncrona. Escovas e anéis coletores – são os órgãos destinados a conduzir a corrente da fonte de CC às bobinas de campo. Os anéis são feitos de bronze ou aço e fixados ao eixo da máquina por uma peça de material isolante. As escovas são de carvão. Vejam as figuras 2.16. a) Alimentação do campo do rotor. b) Anéis coletores Figura 2.16 – Campo do rotor e anéis coletores. 2.2.2 ENROLAMENTOS DO ROTOR O gerador tem enrolamentos no rotor ou enrolamentos de campo e no estator ou enrolamentos de armadura. No rotor os enrolamentos podem ser instalados emdois tipos de máquinas: a) Máquinas de polos salientes: é melhor adaptada aos geradores multipolares de baixa velocidade, e à maioria dos motores síncronos. Utilizados em máquinas geralmente acima Máquinas Elétricas 1 17 de 10 polos, baixa velocidade entre 50 e 300rpm. Acionadas por um motor ou através de turbinas hidráulicas (hidrogeradores), se caracterizando fisicamente por ter polos salientes, um grande diâmetro e pequeno comprimento axial. Veja a figura 2.17. a) b) Figura 2.17 – a) Máquina de polos salientes; b) Enrolamentos do rotor de polos salientes. No caso dos hidrogeradores, é muito mais comum que se adote a construção em “polos salientes”. Em vez de se construir os enrolamentos de campo na superfície do rotor, eles são montados em sapatas polares, as quais são fixadas ao rotor, formando saliências. Os aspecto final é bastante compacto, conforme mostrado na figura 2.18. Máquinas Elétricas 1 18 Figura 2.18 – Rotor de máquinas síncronas de polos salientes. b) Máquinas de polos lisos: utilizados em máquinas de 2 ou 4 polos, alta velocidade. Apropriados para o uso com turbinas à vapor (turbogeradores) como máquina primária, se caracterizando fisicamente por ter polos lisos, pequeno diâmetro e longo comprimento axial. A construção com polos salientes é abandonada nestes casos de grandes velocidades em favor do rotor liso porque a construção com polos protuberantes cria solicitações mecânicas perigosamente elevadas. Veja a figura 2.19. Figura 2.19 – Máquina de polos lisos. No caso dos turbogeradores, dá-se preferência à construção do rotor em forma de um cilindro. Dizemos então que o rotor é de “polos lisos” ou de “polos cilíndricos”. Nesse caso, o enrolamento do campo do rotor (CC) é alojado em ranhuras construídas sobre a própria superfície do rotor, conforme figura 2.20. a) Máquinas Elétricas 1 19 b) Figura 2.20 – a) Rotor de um turbogerador; b) Enrolamentos do rotor de polos lisos. A máquina de rotor cilíndrico oferece alguns benefícios: - Provê melhor equilíbrio que a de polos salientes; - Reduz as perdas por ventilação. 2.2.3 ENROLAMENTOS DO ESTATOR Exemplos de enrolamentos do estator podem ser vistos na figura 2.21. Figura 2.21 – Enrolamento estatórico de um hidrogerador. Os enrolamentos do estator podem ser: a) Concentrados Os enrolamentos em que todos os lados de bobina de uma dada fase estão concentrados numa única ranhura sob um dado pólo são chamados de enrolamentos concentrados. A figura 2.22 apresenta este tipo de enrolamento. Máquinas Elétricas 1 20 Figura 2.22 – Enrolamento concentrado. b) Distribuidos – 𝑘𝑑 Os enrolamentos concentrados não são comercialmente usados, porque eles não conseguem usar eficientemente toda a periferia interna do núcleo do estator e torna-se então necessário o uso de ranhuras profundas, aumentando a dispersão e a reatância da armadura. É mais eficiente distribuir as ranhuras da armadura em volta da periferia interna do estator usando um espaçamento uniforme entre ranhuras do que concentrar os enrolamentos em poucas ranhuras profundas. Numa máquina real, portanto, cada enrolamento de fase é distribuído em um número de ranhuras para melhor uso do ferro e do cobre e para melhorar a forma de onda. Para um enrolamento distribuído, as fems induzidas nas várias bobinas colocadas em diferentes ranhuras não estão em fase, e, portanto, a soma fasorial das fems é menor que sua soma numérica quando elas são conectadas em série para constituir o enrolamento de fase. Um fator de redução 𝑘𝑑, denominado fator de distribuição (ou de enrolamento), deve ser aplicado. Para a maioria das máquinas trifásicas, 𝑘𝑑 está entre 0,85 e 0,95. Exemplo de enrolamento distribuído está na figura 2.23. a) Máquinas Elétricas 1 21 b) Figura 2.23 – Enrolamento distribuído. É feita uma tentativa para utilizar todas as ranhuras disponíveis sob um polo para o enrolamento, o que torna a natureza da fem induzida mais senoidal. Como exemplo, considere 18 ranhuras no estator de um alternador trifásico de 2 polos. Vejamos algumas definições: 𝑛- ranhuras por polo (𝑛 = 9); 𝑚 – ranhura por pólo por fase (𝑚 = 3); 𝛽- ângulo da ranhura (𝛽 = 180𝑜 𝑛 = 180𝑜 9 = 20𝑜). Seja 𝐸 = fem induzida por bobina e existe três bobinas por fase. No caso de bobinas concentradas todos os lados de bobinas serão colocados em uma ranhura sobre um polo. Assim a fem induzida em todas as bobinas alcançarão máximos e mínimos ao mesmo tempo, isto é, todas elas estarão em fase. A fem resultante depois da conexão das bobinas será a soma algébrica de todas as fems. No tipo distribuído, as bobinas serão distribuídas, uma em cada ranhura das 3 ranhuras por fase disponível sobre um polo, como apresentado na figura 2.24. a) b) Figura 2.24 – a) Enrolamento distribuído; b) Diferença de fase entre fems induzidas. Máquinas Elétricas 1 22 Embora a magnitude da fem em cada bobina será a mesma 𝐸, como cada ranhura contribui com uma diferença de fase de 𝛽 = 20𝑜 neste caso, existirá uma diferença de fase 𝛽 uns em relação aos outros, como mostrado na figura 2.24b. A fem resultante será uma soma fasorial de todas elas, como mostra a figura 2.25. Assim, devido ao enrolamento distribuído a fem induzida diminui. Figura 2.25 – Soma fasorial das fems. O fator pelo qual a fem será multiplicada devido a distribuição de bobinas é chamado fator de distribuição - 𝑘𝑑. Em geral há 𝑛 ranhuras por polo e 𝑚 ranhuras por polo por fase. Portanto haverá 𝑚 bobinas distribuídas sobre um pólo por fase, conectadas em série. Seja 𝐸 a fem induzida por bobina. Então todas as 𝑚 fems induzidas nas bobinas terão sucessivos ângulos de fase de 𝛽 = 180𝑜 𝑛 . Ao encontrar a soma fasorial de todas elas, o diagrama fasorial vai tomar a forma de um polígono com lados iguais a ‘𝑚’ (fems) circunscrito por um semicírculo de raio R, como podemos ver na figura 2.26. Figura 2.26 – Soma fasorial das ‘𝑚’ fems. O ângulo subentendido por cada fasor na origem ‘𝑂’ é 𝛽. Sabemos disto, porque todos os triângulos são isósceles, portanto ∠𝑂𝐴𝐵 = ∠𝑂𝐵𝐴 = ⋯ = 𝑥. Assim, 2𝑥 + 𝑦 = 180𝑜 e ∠𝑂𝐵𝐴 + ∠𝑂𝐵𝐶 + 𝛽 = 180𝑜, portanto 𝑦 = 𝛽. Se 𝑀 é o último ponto do último fasor, então ∠𝐴𝑂𝑀 = 𝑚𝑋𝛽 e 𝐴𝑀 = 𝐸𝑅 = resultante da soma fasorial de todas as fems 𝐸. Considere um triângulo 𝑂𝐴𝐵 dividido, como mostrado na figura 2.27. MáquinasElétricas 1 23 Figura 2.27 – Triângulo isósceles dividido ao meio. 𝑂𝐹 é a perpendicular traçada em 𝐴𝐵, os ângulos em ‘𝑂’ serão 𝛽 2 . Assim, 𝑙(𝐴𝐵) = 𝐸 e 𝑙(𝐴𝐹) = 𝐸 2 , assim como 𝑙(𝑂𝐴) = 𝑅. Portanto, 𝑠𝑒𝑛 ( 𝛽 2 ) = 𝐴𝐹 𝑂𝐴 = 𝐸 2⁄ 𝑅 e 𝐸 = 2𝑅. 𝑠𝑒𝑛 ( 𝛽 2 ). Agora considere o triângulo 𝑂𝐴𝑀 como vemos na figura 2.27 e 𝑂𝐺 é a perpendicular de ‘𝑂’ até a base 𝐴𝑀. Podemos verificar que: ∠𝐴𝑂𝐺 = ∠𝐺𝑂𝑀 = 𝑚𝛽 2 e 𝑙(𝐴𝑀) = 𝐸𝑅 e 𝑙(𝐴𝐺) = 𝐸𝑅 2 . Também podemos ver que: 𝑠𝑒𝑛 ( 𝑚𝛽 2 ) = 𝐴𝐺 𝑂𝐴 = 𝐸𝑅 2⁄ 𝑅 , assim 𝐄𝐑 = 𝟐𝐑. 𝐬𝐞𝐧 ( 𝐦𝛃 𝟐 ). Esta é a fem resultante quando as bobinas são distribuídas (soma vetorial das fems). Se todas ‘𝑚’ bobinas são concentradas, todas estariam em fase dando 𝐸𝑅 como uma soma algébrica de todas as fems: 𝐸𝑅 = 𝑚𝑋𝐸 e 𝐸 = 2𝑅. 𝑠𝑒𝑛 ( 𝛽 2 ), assim 𝐄𝐑 = 𝟐.𝐦.𝐑. 𝐬𝐞𝐧 ( 𝛃 𝟐 ), este é o resultado para a fem resultante quando as bobinas são concentradas (soma algébrica das fems). O fator de distribuição é definido como a taxa da fem resultante quando as bobinas são distribuídas, pela fem resultante quando as bobinas são concentradas. Este valor será sempre menor do que um: 𝑘𝑑 = 𝐸𝑅𝑏𝑜𝑏𝑖𝑛𝑎𝑠𝑑𝑖𝑠𝑡𝑟𝑖𝑏𝑢𝑖𝑑𝑎𝑠 𝐸𝑅 𝑏𝑜𝑏𝑖𝑛𝑎𝑠𝑐𝑜𝑛𝑐𝑒𝑛𝑡𝑟𝑎𝑑𝑎𝑠 = 2𝑅.𝑠𝑒𝑛( 𝑚𝛽 2 ) 2.𝑚.𝑅.𝑠𝑒𝑛( 𝛽 2 ) (09) Finalmente, 𝑘𝑑 = 𝑠𝑒𝑛( 𝑚𝛽 2 ) 𝑚.𝑠𝑒𝑛( 𝛽 2 ) (10) Para o exemplo dado: 𝑘𝑑 = 𝑠𝑒𝑛( 3.20𝑜 2 ) 3.𝑠𝑒𝑛( 20𝑜 2 ) = 0,9598 ≅ 0,96. O enrolamento distribuído pode ser de dois tipos: Máquinas Elétricas 1 24 c) Passo pleno Em geral, as bobinas da armadura cobrem 180o elétricos, isto é, do centro de um dado pólo até o centro de um pólo de polaridade oposta, o qual pode ser fisicamente adjacente. Se a bobina cobre um espaço de 180o elétricos, ela é chamada de bobina de passo inteiro ou pleno. A figura 2.28 mostra o enrolamento de passo pleno. a) Passo pleno Figura 2.28 – Enrolamento de passo pleno. d) Passo fracionário – 𝑘𝑝 Se a bobina cobre menos do que 180o elétricos, é denominada de bobina de passo fracionário. Uma bobina que abrange 160o elétricos terá um fator de passo 𝑘𝑃 = 160𝑜 180𝑜 = 0,888 ou 88,8%. Em geral fatores de passo menores que 80% são evitados. Utiliza-se passo fracionário porque ele requer uso de menos cobre e reduz as harmônicas das forças magnetomotrizes produzidas pelo enrolamento da armadura. Veja a figura 2.29. a) Passo fracionário Figura 2.29 – Enrolamento de passo fracionário. Na prática passos fracionários são preferidos. A bobina é formada por conexões de seus lados, os quais cobrem menos que um passo polar, ou seja menos do que 180º. A bobina é geralmente encurtada por uma ou duas ranhuras. O ângulo pelo qual a bobina é encurtada é chamado ângulo de encurtamento de passo 𝛼, conforme podemos ver na figura 2.29. Máquinas Elétricas 1 25 Se a bobina é de passo pleno a tensão induzida em cada lado da bobina é dado por 𝐸, e a tensão nos terminais da bobina será: 𝐸𝑅 = 𝐸 + 𝐸 = 2𝐸 No caso da bobina de passo fracionário as duas tensões em cada lado da bobina não estão mais em fase do ponto de vista de seu terminal. A soma das tensões não é mais uma soma algébrica, mas sim uma soma fasorial como podemos ver na figura 2.30. Figura 2.30 – Fasor resultante da soma de duas fem’s. Obviamente que o valor desta resultante é menor que no caso da bobina de passo pleno. Da geometria da figura 2.30, podemos escrever: AC é perpendicular a OB, assim 𝑙(𝑂𝐶) = 𝑙(𝐶𝐵) = 𝐸𝑅 2 ; ∠𝐵𝑂𝐴 = 𝛼 2 ; cos(𝛼 2⁄ ) = 𝑂𝐶 𝑂𝐴 = 𝐸𝑅 2𝐸 ; 𝐸𝑅 = 2𝐸 cos( 𝛼 2⁄ ) Este resultado mostra que a fem induzida é reduzida por um fator 𝐾𝑝 igual a: 𝐾𝑝 == 𝐸𝑅 𝑝𝑎𝑠𝑠𝑜𝑓𝑟𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛á𝑟𝑖𝑜 𝐸𝑅𝑝𝑎𝑠𝑠𝑜𝑝𝑙𝑒𝑛𝑜 = 2𝐸 cos(𝛼 2⁄ ) 2𝐸 = cos(𝛼 2⁄ ) (11) O enrolamento de passo fracionário apresenta como vantagens: a) Melhor forma de onda, pela redução dos harmônicos; b) Economia de cobre pelo encurtamento das conexões externas; c) Maior rigidez mecânica pelo mesmo motivo dado em b); d) Menores perdas no cobre, pela mesma razão apresentada em b); O efeito do uso de um enrolamento distribuído ou de passo fracionário é o de criar uma fem resultante com forma de onda diferente da forma de onda da densidade de fluxo. 2.2.4 MÁQUINA CC e CA com ARMADURA GIRANTE Uma armadura estacionária, utilizada nas máquinas CA, a primeira vista, pode parecer estranho, afinal não seria difícil conduzir-se a corrente alternada gerada na armadura móvel (MCC) para fora da máquina, através de anéis coletores num lado do eixo, e a corrente contínua gerada pela mesma armadura girante para as barras do comutador no outro lado do eixo. Mas uma série de razões nos levam a abandonar a idéia da máquina tendo uma armadura CA girante. Uma vez que ela seja estacionária, não mais conseguiremos o chaveamento automático de CA para CC por comutação e então somente geraremos CA, Máquinas Elétricas 1 26 assim as máquinas CC tem algumas restrições de utilização. Algumas vantagens significativas da construção com armadura estacionária e campo girante são as seguintes: Resistência aumentada dos dentes da armadura Máquinas de alta capacidade requerem mais cobre na armadura e renhuras mais profundas no ferro da mesma. Em uma armadura estacionária, conforme as ranhuras se tornam mais profundas, os dentes da armadura se tornam mais largos e fortes. Numa armadura girante, conforme as ranhuras se tornam mais profundas, os dentes da armadura se tornam mais estreitos e, portanto, mais fracos. Observa-se em ambas as figuras 2.31(a) e 2.31(b) que o topo da ranhura deve ser mais estreito que a base, a fim de evitar que o enrolamento “salte fora” da ranhura devido a vibração. Figura 2.31 – Enfraquecimento dos dentes produzidos por ranhuras mais profundas na armadura girante. Melhoria do isolamento Alternadores comerciais de alta velocidade e alta tensão, carregam correntes apreciáveis em tensões apreciáveis, requerendo pois, isolamento eficiente. É mais fácil isolar um membro estacionário que um rotativo, uma vez que, para este último, o peso, o tamanho e a quantidade de isolamento não são tão críticos como para o primeiro. Isolar o campo CC de baixa tensão num rotor constitui problema menor do que isolar uma armadura rotativa de alta tensão CA. Vantagens construtivas Em grandes estatores polifásicos, o enrolamento da armadura é mais complexo que o enrolamento de campo. As várias bobinas e interligações entre as fases podem ser construídas mais facilmente numa estrutura estacionáriarígida que num rotor, e o enrolamento da armadura é calçado mais firmemente quando construído numa carcaça rígida. Número necessário de anéis coletores isolados Se se construísse alternadores com armadura girante, um alternador trifásico requereria três anéis coletores, um alternador hexafásico, seis anéis, etc. O problema de se transferir altas tensões induzidas em altas correntes, dos anéis coletores da armadura para escovas estacionárias em contato com estes anéis, não é solucionado sem dificuldade. Isolar do eixo os anéis coletores é um problema. Outro é espaçar os anéis coletores suficientemente, de Máquinas Elétricas 1 27 modo a evitar-se o faiscamento entre eles. Uma armadura estacionária não apresenta nenhum destes problemas e a tensão por fase é isolada mais facilmente, e mais facilmente trazida para fora da máquina. Peso e inércia do rotor reduzidos É óbvio que um enrolamento de campo de baixa tensão, que utiliza muitas espiras de fio fino para produzir a fmm de campo, dificilmente requerirá o peso do cobre e o isolamento equivalente necessários a um enrolamento de armadura de alta tensão. É mais fácil construir rotores para uma operação eficiente a alta velocidade usando o enrolamento de campo de baixa tensão como o elemento girante. A inércia do rotor desempenha um papel importante na operação de colocar o alternador na sua velocidade de regime; em alternadores de capacidade elevada, mesmo com o campo CC como rotor, podem ser necessárias várias horas para que a máquina atinja sua velocidade e tensão nominais. Vantagens na ventilação A maior parte do calor é produzida no enrolamento da armadura e o ferro que o cerca. Com uma armadura estacionária, o enrolamento pode ser resfriado mais eficientemente, porque o núcleo do estator e seu tamanho periférico têm poucas limitações. Assim, o núcleo do estator pode ser algo aumentado para permitir dutos de ar radiais e orifícios para ventilação forçada por meio de ar, hidrogênio, ou outras formas de resfriamento. Além do que foi exposto anteriormente, tratando-se da mesma capacidade, as máquinas de campo girante apresentam vantagem quanto ao peso total e ao tamanho, com relação às máquinas de armadura girante. 2.2.5 GERADOR SÍNCRONO O gerador síncrono é usado universalmente pelas concessionárias de energia elétrica para fornecer potência trifásica e monofásica aos seus consumidores. A potência monofásica, que é fornecida a residências, lojas e escritórios, se origina de uma fase de um sistema trifásico. A figura 2.32 mostra o esquema básico de ligações de um gerador trifásico. a) Máquinas Elétricas 1 28 Figura 2.32 – a) Gerador síncrono trifásico de dois polos ligado em estrela; b) Gerador síncrono alimentando carga ligada em estrela aterrada.. 2.2.5.1 TENSÃO INDUZIDA EM UM CONJUNTO TRIFÁSICO DE BOBINAS Antes de começar a ler sobre tensão induzida em uma espira, leia o Anexo C. O alternador elementar idealizado na figura 2.33 tem um enrolamento concentrado de N espiras rodando em uma velocidade uniforme de 𝑛𝑠 rps em um campo magnético uniforme produzido pelos polos N e S. Um campo uniforme implica que a densidade de fluxo através do plano diametral ab da figura é: 𝐵𝑚 = Φ 𝐷.𝑙 (12) Onde: Φ – é o fluxo total atravessando a bobina (Wb); 𝐷𝑒𝑙 – são o diâmetro da bobina e o seu comprimento axial. Figura 2.33 – Alternador elementar. No instante que a bobina ocupa a posição definida pelo ângulo 𝜃, o fluxo que atravessa a bobina é dado por: ∅ = Φ𝑚á𝑥.. 𝑐𝑜𝑠𝜃 E a fem instantânea correspondente induzida no enrolamento é: 𝑒 = −𝑁. 𝑑∅ 𝑑𝑡 = 𝑁.Φ𝑚á𝑥.. 𝑠𝑒𝑛𝜃. 𝑑𝜃 𝑑𝑡 (13) Máquinas Elétricas 1 29 Na figura 2.34 podemos ver a defasagem entre a tensão e o campo. Figura 2.34 – Distribuição de densidade de fluxo no entreferro e fem no enrolamento de fase para máquinas de 2 e 4 polos. Mas 𝑑𝜃 𝑑𝑡 é a velocidade angular da bobina e pode ser escrita como 𝜔 = 2𝜋𝑛𝑠 = 2𝜋𝑓 e 𝜃 pode ser trocado por seu equivalente 𝜔𝑡. Assim, finalmente: 𝑒 = 2𝜋𝑓. 𝑁.Φ𝑚á𝑥.. 𝑠𝑒𝑛𝜔𝑡 (14) ou 𝑒𝑖𝑛𝑑. = 𝐸𝑚á𝑥.. 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡) Onde: 𝑁 – é o número total de espiras em série por fase; Φ𝑚á𝑥. - fluxo máximo ou fluxo por pólo da máquina (Wb); 𝐸𝑚á𝑥. = 2𝜋𝑓.𝑁.Φ𝑚á𝑥. O valor eficaz será: 𝐸𝑟𝑚𝑠 = 𝐸𝑚á𝑥. √2 = √2. 𝜋. 𝑓. 𝑁.Φ𝑚á𝑥. Onde considerando os fatores de passo e distribuição, ficamos com o valor final para a tensão gerada eficaz por fase de um gerador síncrono: 𝐸𝑔 = 4,44. 𝑓.𝑁. Φ𝑚á𝑥.. 𝑘𝑑 . 𝑘𝑝 Ou 𝐸𝑔 = 4,44. 𝑓.𝑁. Φ𝑚á𝑥.. 𝑘𝑤 (15) Máquinas Elétricas 1 30 Onde 𝑘𝑤 = 𝑘𝑑. 𝑘𝑝 é chamado de fator de enrolamento. Ou ainda, �̅�𝑎𝑎 = 4,44.𝑓. 𝑁.Φ𝑚á𝑥.. 𝑘𝑤 . 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡) �̅�𝑏𝑏 = 4,44.𝑓. 𝑁.Φ𝑚á𝑥.. 𝑘𝑤 . 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡 − 120 𝑜) �̅�𝑐𝑐 = 4,44. 𝑓. 𝑁.Φ𝑚á𝑥.. 𝑘𝑤 . 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡 + 120 𝑜) A seguir, a título de exemplo, as figuras 2.35a e 2.35b apresentam as formas de onda de Tensão e de Corrente de um Gerador de Usina Hidroelétrica. Figura 2.35a – Forma de onda de Corrente de um Gerador de Usina Hidroelétrica. Figura 2.35b – Forma de onda de Tensão de um Gerador de Usina Hidroelétrica. Geradores novos tem de 4,5 à 5% de distorção harmônica nas tensões. A norma exige máximo de 4,5%; Como exemplo, segue a tabela 1.1 fornecida pela Eletrobrás que serve como orientação para a seleção da tensão de geração. Máquinas Elétricas 1 31 Tabela 1.1 – Valores orientativos de tensão nominal de geradores Desbalanceamento de tensão: é a diferença entre as tensões de linha mais alta e mais baixa. Pode ser expresso em percentagem da tensão média de fase. Exemplo: Fase U-V:208V Fase V-W: 204V Fase W-U: 202V Média: 204,67V Fase U-V: 1,6% acima da média Fase V-W: 0,33% abaixo da média Fase W-U: 1,3% abaixo da média Variação: 6V (2,9%) Limites: 4, 6, e 8 polos: 20% entre fases; 2 polos: 10% entre fases. Exemplo: Um gerador trifásico de dois polos tem um fluxo por pólo de 0,03176Wb, o rotor roda a 3600rpm e as bobinas do estator tem 15 espiras cada. Sabendo que este gerador está conectado em estrela, determine: a) A tensão por fase em valores rms; b) A tensão terminal do gerador em valores rms. Solução: a) A tensão por fase é: 𝐸𝑔𝐹 = 𝑁.∅.𝜔. 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡) = 15.0,03176.377. 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡) = 179,6. 𝑠𝑒𝑛(𝜔𝑡)𝑉 Onde 1𝑟𝑝𝑠= 2𝜋𝑟𝑎𝑑/𝑠 A tensão rms é de: 𝐸𝑔𝐹 = 𝐸𝑚á𝑥. √2 = 179,6𝑉 √2 = 127𝑉 b) Desde que o gerador é conectado em estrela a tensão terminal (ou de linha) é de: 𝐸𝑔 = 𝑉𝐿 = √3.𝐸𝑔𝐹 = √3. 120𝑉 = 220𝑉 Máquinas Elétricas 1 32 Observação: a NBR 5117 diz que: Todo gerador deve ser capaz de fornecer uma tensão compreendida entre 95% e 105% de sua tensão nominal, sob a velocidade de rotação, potência e fator de potência nominais. Todo motor deve ser capaz de fornecer a sua potência nominal, quando alimentado com tensão que varia entre 90% e 110% da sua tensão nominal, sob frequência nominal. Também deve ser capaz de fornecer a sua potência nominal, quando alimentado com tensão nominal, em frequência compreendida entre 95% e 105% da sua frequência nominal. Quando houver variação simultânea de tensão e frequência não superior a 10%, o motor deve fornecer sua potência nominal, desde que não sejam excedidos os limites individuais. Desvios da frequência da rede (60 Hz no Brasil) caracterizam este distúrbio. A frequência da rede está diretamente ligada à velocidade de rotação dos geradores e as ligeiras variações estão relacionadas à resposta do controle dos geradores à variações de carga. Variações fora dos limites aceitáveis são relativamente raras e estão ligadas a severas faltas no corpo principal do sistema de transmissão - grandes blocos de carga sendo desligados (um bairro inteiro, por exemplo) ou queda de geradores. Essas variações são mais facilmente encontradas em sistemas que possuem grupos geradores que assumem o fornecimento de energia, na falta da rede pública. A resposta inadequada do controle desses equipamentos geradores às abruptas mudanças de carga pode conduzir a desvios sensíveis na frequência de saída, afetando principalmente circuitos que utilizam cruzamento de zero da rede para contagem de tempo. Segundo as normas IEC 61000-2-2, são aceitáveis variações de até +/- 1Hz. Fontes chaveadas costumam conviver bem com grandes variações de frequência da rede o que não ocorre com fontes lineares, pois o transformador pode sofrer um sobreaquecimento e até mesmo queimar. 2.2.5.2 CIRCUITO EQUIVALENTE DA MÁQUINA SÍNCRONA – PONTO DE VISTA DOS CAMPOS MAGNÉTICOS A tensão gerada por fase 𝐸𝑔 é a tensão interna da máquina produzida em uma das fases, quando o rotor varre os condutores da armadura. Contudo, esta tensão não é a que aparece nos terminais do gerador com carga. Somente quando a máquina está em vazio é que a tensão 𝐸𝑔 é igual a tensão nos terminais 𝑉𝑡. Existem uma série de fatores que causam a diferença entre 𝐸𝑔 e 𝑉𝑡: a) A distorção do fluxo de entreferro (fluxo principal de campo) pela corrente fluindo nos condutores do estator, chamada reação da armadura; b) A indutância de dispersão das bobinas da armadura; c) A resistência das bobinas da armadura; d) O efeito da forma do rotor de polos salientes. Máquinas Elétricas 1 33 Exploraremos os três primeiros efeitos e derivaremos um modelo de máquina deles. Neste primeiro momento consideraremos a máquina como de polos lisos. Num segundo momento analisaremos os efeitos de uma máquina com polos salientes. O primeiro efeito mencionado, e normalmente o maior deles, é a reação da armadura. Quando o rotor de um gerador síncrono está girando, uma tensão 𝑬𝒈 é induzida nos enrolamentos do estator. Se uma carga é ligada nos terminais da máquina, uma corrente 𝑰𝑨 flui. Mas uma corrente trifásica no estator produzirá, como já vimos, um campo magnético girante. Este campo magnético girante distorce o campo original do rotor, mudando o valor da tensão de fase resultante. Este efeito é chamado Reação da Armadura porque a corrente de armadura afeta o campo magnético principal. Veja figura 2.36 para uma melhor visualização do efeito. a) Distribuição de fluxo polar numa máquina sem carga. b) Distribuição de fluxo criado pela carga nominal da armadura. c) Distribuição de fluxo resultante numa máquina com carga nominal. Figura 2.36 - Reação da armadura apresentando os fluxos a) polar, b) da armadura e c) resultante. Para entendermos melhor a reação da armadura veja a figura 2.37. A figura 2.37a mostra um rotor de dois polos girando dentro de um estator trifásico. Não há carga conectada no estator. O campo magnético do rotor 𝑩𝑹 produz uma tensão interna gerada 𝑬𝒈 cujo valor de pico coincide com a direção de 𝑩𝑹. Agora suponha que o gerador alimenta uma carga indutiva. Devido ao tipo de carga o pico de corrente ocorrerá de um certo ângulo atrás do pico de tensão (veja figura 2.37b). Esta corrente 𝑰𝑨 fluirá no estator e produzirá um campo magnético próprio (campo girante). Este campo magnético é chamado de 𝑩𝑨 e seu sentido é dado pela regra da mão direita como mostrado na figura 2.37c. O campo magnético do estator 𝑩𝑨 produz uma tensão própria de estator chamada 𝑬𝒆𝒔𝒕. como podemos ver na figura 2.37c. Com as duas tensões presentes nos enrolamentos do estator, a tensão total é a soma vetorial das duas, assim como o campo magnético total é a soma dos campos magnéticos do estator e rotor, como podemos ver na figura 2.37d. Máquinas Elétricas 1 34 Figura 2.37 – a) Campo do rotor; b) Tensão gerada e corrente defasada no estator; c) Campo do rotor e estator; d) Campo do rotor, estator e de entreferro (total) e tensão total. Observe que a tensão 𝑬𝒆𝒔𝒕. atrasa de um ângulo de 90º a máxima corrente 𝑰𝑨. A tensão 𝑬𝒆𝒔𝒕.é diretamente proporcional a corrente 𝑰𝑨. Se 𝑋 é uma constante de proporcionalidade, então a tensão de reação de armadura (𝑬𝑟𝑎) pode ser representada como: 𝑬𝑒𝑠𝑡. = 𝑬𝑟𝑎 = −𝑗𝑋𝑟𝑎 . 𝑰𝐴 = −𝑗𝑋𝑚 . 𝑰𝐴 (16) Onde 𝑋𝑚 é uma constante de proporcionalidade conhecida como reatância de magnetização. E o sinal de menos mostra o atraso da tensão de reação de armadura em relação a corrente. A tensão de fase para o caso da máquina funcionando como gerador é dada por: 𝑬𝑒𝑓 = 𝑬𝑔 − 𝑗𝑋𝑚 . 𝑰𝐴 = 4,44. 𝑓. 𝑁.Φ𝑒𝑓 . 𝑘𝑤 (17) Ou 𝑬𝑔 = 𝑬𝑒𝑓 + 𝑗𝑋𝑚 . 𝑰𝐴 = 4,44. 𝑓. 𝑁.Φ𝑓 . 𝑘𝑤 (18) Máquinas Elétricas 1 35 Onde: 𝑬𝑒𝑓 - é a chamada tensão de entreferro; 𝑬𝑔 - é a tensão gerada internamente (também chamada de tensão de excitação – força eletro motriz – fem - induzida pelo campo do rotor); Φ𝑒𝑓 – fluxo máximo de entreferro; Φ𝑓 – fluxo máximo de campo (rotor). Observe o circuito da figura 2.38. A lei de Kirchhoff das tensões para este circuito é: 𝑽2 = 𝑽1 − 𝑗𝑋. 𝑰𝐴 Figura 2.38 – Circuito simples representando uma fonte de tensão senoidal em série com uma reatância indutiva. A equação do circuito é exatamente a mesma da equação que descreve a tensão de reação da armadura, portanto,a tensão de reação da armadura pode ser modelada com um indutor em série com uma tensão alternada. Podemos ver nas figuras 2.39, que o fluxo produzido pela armadura é composto pelo fluxo mútuo 𝐵𝑟𝑎 (que produz a reação da armadura) e o fluxo de dispersão, ou seja: 𝐵𝐴 = 𝐵𝑟𝑎 + 𝐵𝑑 (18) Máquinas Elétricas 1 36 Figura 2.39 – Decomposição da distribuição de indução produzida pela armadura em duas componentes: a) a primeira corresponde ao fluxo mútuo entre induzido e indutor; b) a segunda é referente ao fluxo disperso no estator. Assim, em adição aos efeitos de reação da armadura, as bobinas do estator tem uma indutância de dispersão e uma resistência. Se a indutância de dispersão da bobina é chamada de 𝐿𝑑 (e sua correspondente reatância 𝑋𝑑), enquanto a resistência do estator (ou de armadura) é chamada 𝑅𝑎, então a diferença entre 𝐸𝑔 e 𝑉𝑡 (tensão nos terminais da máquina) é dada por: 𝑉𝑡 = 𝐸𝑔 − 𝑗𝑋𝑚 . 𝐼𝑎 − 𝑗𝑋𝑑 . 𝐼𝑎 − 𝑅𝑎 . 𝐼𝑎 (19) A fem de entreferro, é dada como: 𝐸𝑒𝑓 = 𝐸𝑔 − 𝑗𝑋𝑚 . 𝐼𝑎 (20) Ou 𝑉𝑡 = 𝐸𝑒𝑓 − 𝐼𝑎 . (𝑅𝑎 + 𝑗𝑋𝑑) (21) Obs.: a literatura sugere valores usuais para a reatância de dispersão entre 10% a 20% do valor da impedância base da máquina. A figura 2.40 esclarecem melhor, o resultado final do circuito equivalente correspondente. b) Figura 2.40 – Circuito equivalente da máquina síncrona, funcionando como gerador, mostrando as componentes de entreferro e de dispersão e a resistência de armadura. Máquinas Elétricas 1 37 Para esclarecermos melhor, veja o esquema da figura 2.41. Como sabemos, existe um fluxo único no entreferro que, como vemos, é produzido pela ação conjunta das Fmms de estator e rotor. Contudo, resulta mais cômodo considerar que cada Fmm produz um fluxo independente que cria por sua vez a sua correspondente fem induzida. Desta forma se trabalha unicamente com fems e magnitudes elétricas, deixando de lado as magnitudes magnéticas. Figura 2.41 – Relação funcional das diversas variáveis de uma máquina síncrona. Nas figura 2.42 podemos ver que as fems induzidas, de acordo com a Lei de Faraday, estão atrasadas 90𝑜 dos seus respectivos fluxos (𝐸𝑔 de ∅𝑓; 𝐸𝑟𝑎 de ∅𝑟𝑎; 𝐸𝑒𝑓 de ∅𝑒𝑓). As respectivas Fmms, são consideradas com a mesma direção dos fluxos e podemos definir como: 𝐹𝑒𝑓 = 𝐹𝑓 + 𝐹𝑟𝑎 (22) As figuras 2.42 retratam o diagrama fasorial para o efeito da reação da armadura para os fatores de potência unitário, indutivo e capacitivo para a máquina funcionando como gerador. São retratados também os fluxos, onde Φ𝑓 é o fluxo do rotor, Φ𝑟𝑎 o fluxo de reação da armadura (ou mútuo do estator) e Φef o de entreferro. a) Máquinas Elétricas 1 38 b) c) Figura 2.42 – Diagrama fasorial de um gerador síncrono, retratando o efeito da reação da armadura quando o Fator de potência é: a) resistivo; b) indutivo e c) capacitivo. Reatância Síncrona O efeito da reação da armadura e a indutância de dispersão na máquina são ambas representadas por reatâncias. É costume combinar elas em uma simples reatância chamada Reatância Síncrona da máquina: 𝑋𝑆 = 𝑋𝑚 + 𝑋𝑑 (23) Assim, a equação final da máquina é descrita como: 𝑉𝑡 = 𝐸𝑔 − 𝑗𝑋𝑆. 𝐼𝑎 − 𝑅𝑎 . 𝐼𝑎 = 𝐸𝑔 − 𝑍𝑆. 𝐼𝑎 - Gerador (24) 𝑉𝑡 = 𝐸𝑐 + 𝑗𝑋𝑆. 𝐼𝑎 + 𝑅𝑎 . 𝐼𝑎 = 𝐸𝑔 + 𝑍𝑆. 𝐼𝑎 – Motor (25) Onde: 𝑍𝑆 - é chamada de impedância síncrona; 𝐸𝑐 - é a tensão gerada internamente (também chamada de tensão de excitação – força contra eletro motriz – fcem - induzida pelo campo do rotor); Máquinas Elétricas 1 39 O circuito equivalente final de um gerador síncrono trifásico pode ser visto na figura 2.43. Figura 2.43 – O circuito equivalente completo de um gerador síncrono trifásico. Estas três fases do gerador podem ser conectadas em Y ou ∆ como mostra a figura 2.44. Figura 2.44 – Conexões de um gerador síncrono em estrela ou delta. O fato das três fases de um gerador síncrono serem idênticas em todos os aspectos, com exceção para os ângulos de fase, e considerando a máquina equilibrada e balanceada, normalmente utiliza-se de um circuito equivalente por fase. O circuito equivalente por fase é mostrado na figura 2.45. Máquinas Elétricas 1 40 Figura 2.45 – Circuito equivalente do gerador síncrono por fase. Agora estamos prontos para detalhar o circuito equivalente e diagrama fasorial da máquina de polos lisos. A tensão de excitação ou tensão gerada 𝐸𝑔(gerador) e 𝐸𝑐(motor), é representada como uma fonte senoidal, como mostrado nas figuras 2.46 e 2.47. A impedância síncrona 𝑍𝑠 está em série com a fonte. Está claro que a equação 24 satisfaz o circuito equivalente da figura 2.46. Figura 2.46 – Circuito equivalente e diagrama fasorial da máquina síncrona de polos lisos funcionando como gerador. O circuito equivalente para o caso da máquina operando como gerador é mostrado na figura 2.47. e satisfaz a equação 25. Figura 2.47 – Circuito equivalente e diagrama fasorial convencional da máquina síncrona de polos lisos funcionando como motor. Onde: ∅ −É o ângulo do Fator de Potência da carga; 𝛿 −Ângulo elétrico de potência ou de carga (também pode ser chamado de ângulo de conjugado). Máquinas Elétricas 1 41 É importante verificar que os circuitos das figuras 2.46 e 2.47 são circuitos equivalentes monofásicos, entre linha e neutro, de uma máquina trifásica que opera em condições de equilíbrio trifásico. Diagrama fasorial da máquina síncrona funcionando como motor Conforme se pode constatar pelo diagrama fasorial da figura 2.47, a variação da posição entre 𝐸 e 𝑉 quando da mudança de gerador para motor altera a direção de 𝑗𝐼𝑎𝑋𝑠, de forma que a corrente tem uma direção invertida. No caso do gerador a corrente Ia tem uma componente em fase com 𝑉𝑡, e, isto representa um fluxo de potência da máquina para o barramento. No caso do motor, a componente de Ia está em oposição a 𝑉𝑡 e isto representa um fluxo de potência na direção reversa. Veja as figuras 2.48a e 2.48b.Figura 2.48 – Diagrama fasorial para Ra = 0: a) Gerador; b) Motor. Isto significa que quando −𝜋 2⁄ < ∅ < 𝜋 2⁄ a máquina síncrona opera como GERADOR e quando 𝜋 2⁄ < ∅ < 𝜋 e 𝜋 < ∅ < −𝜋 2⁄ a potência ativa é invertida e a máquina síncrona opera como MOTOR. Quando / 2 ou / 2 a potência ativa é nula e a máquina opera no circuito como se fosse uma indutância ou uma capacitância. Nesta situação ( / 2 ) tem-se o denominado "COMPENSADOR SÍNCRONO". O diagrama fasorial como motor, da forma como se apresenta na figura 2.48b não é interessante para as análises subsequentes. Como principal inconveniente tem-se que, de acordo com o ilustrado nesta figura, o ângulo / 2 e, portanto, a máquina está operando com fator de potência negativo. Para evitar isto, é comum, para o caso de motores, substituir o diagrama fasorial correto (o da figura 2.48b: 𝜋 2⁄ < ∅ < 𝜋) por um outro diagrama, denominado “Diagrama Fasorial Convencional”. Máquinas Elétricas 1 42 A figura 2.49 mostra os dois diagramas para um motor síncrono: (a) o correto (𝜋 < ∅ < −𝜋 2⁄ ) e (b) o convencional. Este último diagrama, conforme ilustrado na figura 2.49b é traçado substituindo Ia por −Ia e conservando em mente que a máquina está operando como motor, isto é, na realidade a corrente tem sentido oposto ao indicado no diagrama. De acordo com o diagrama da figura 2.49b tem-se que a relação entre as tensões é: 𝑉�̇� = 𝐸�̇� + 𝑍�̇�. 𝐼�̇� A forma da equação acima já é clássica e é largamente empregada para motores de indução. Figura 2.49 – Diagramas fasoriais para um motor síncrono: a) Correto; b) Convencional. 2.2.5.4 PERDAS, RENDIMENTO E VALORES POR UNIDADE PERDAS: As perdas dos geradores e motores consistem de perdas no cobre dos circuitos elétricos, no ferro da máquina, perdas mecânicas devido a rotação e as perdas suplementares. As perdas incluem: 1) Perdas no Cobre (Joule): da armadura (induzido) e do campo (indutor). É costume incluir neste grupo também as perdas que se originam da passagem de corrente através de contatos deslizantes entre escovas e comutadores e entre escovas e anéis coletores. 2) Perdas no ferro: dos circuitos magnéticos, provenientes de variações de indução nas diferentes porções desses circuitos. As perdas conhecidas são as por correntes parasitas (Foucault) e as por Histerese. Máquinas Elétricas 1 43 3) Perdas rotacionais: provenientes de atritos em mancais (rolamentos) e em contatos deslizantes entre escovas e coletores. Delas também fazem parte as perdas por ventilação, natural ou forçada. Além das perdas citadas nos itens anteriores, existem as perdas suplementares. As perdas no cobre (𝑅. 𝐼2) como calculamos nas máquinas em carga são efetivamente inferiores aos valores reais, tendo em vista o efeito pelicular presente em condutores submetidos a correntes alternadas. Condutores em ranhuras amplificam o efeito pelicular. Outra perda não considerada são as perdas Foucault nos seios das massas de cobre dos condutores. As perdas no ferro quando a máquina está sob carga é diferente das perdas no ferro em vazio. O cálculo das perdas suplementares com aproximação satisfatória é praticamente irrealizável. Para efeito de cálculo de rendimento de máquinas rotativas, é costume admiti- las iguais a 1% de suas potências úteis. RENDIMENTO: Rendimento de uma máquina é a taxa da potência de saída (ou útil) pela potência total de entrada (recebida ou absorvida). O rendimento define a eficiência com que a máquina transforma energia elétrica em mecânica (motor) ou energia mecânica em elétrica (gerador), ela é apresentada como uma percentagem: 𝜂% = 𝑃𝑆 𝑃𝐸 . 100 (26) Onde: 𝑃𝑆 - Potência de saída (em HP ou CV do motor ou em Watts do gerador); 𝑃𝐸 - Potência de entrada (idem). As máquinas elétricas girantes servem como dispositivos de conversão de energia, convertendo energia mecânica em elétrica e vice-versa. Uma máquina é um dispositivo dinâmico, não desenvolverá uma conversão de potência (ou energia) quando não há movimento. É incapaz de armazenar energia, por esta razão, de acordo com a lei da conservação de energia, a potência total recebida por uma máquina a qualquer instante deve igualar a potência por ela entregue naquele instante. A potência total de entrada de uma máquina deve igualar sua potência de saída e sua perda total de potência. 𝑃𝐸 = 𝑃𝑆 + 𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠𝑇𝑜𝑡𝑎𝑖𝑠 Onde: Perdas Totais = P.Cobre + P.Ferro + P.Rotacionais + P.Suplementares Utilizando as perdas totais, teremos ainda: 𝜂% = 𝑃𝑆 𝑃𝑆+𝑃𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠𝑇𝑜𝑡𝑎𝑖𝑠 . 100 (27) As perdas totais ainda podem se dividir em Perdas constantes e perdas variáveis. Perdas constantes: 𝑃𝑐 = 𝑃𝑟𝑜𝑡. + 𝑃𝑓𝑒𝑟𝑟𝑜 + 𝑃𝑠𝑢𝑝𝑙. + 𝑃𝑐𝑎𝑚𝑝𝑜 Perdas variáveis: 𝑃𝑣 = 𝑃𝑐𝑜𝑏𝑟𝑒𝑑𝑎𝑎𝑟𝑚𝑎𝑑𝑢𝑟𝑎 Máquinas Elétricas 1 44 Assim, substituindo, teremos: 𝜂 = 3.𝑉𝑡.𝐼𝑎.𝑐𝑜𝑠𝜙 3.𝑉𝑡.𝐼𝑎.𝑐𝑜𝑠𝜙+𝑃𝑐+3.𝑅𝑎 .𝐼𝑎 2 (28) Desta equação nós obtemos a condição para o máximo rendimento da máquina ( 𝑑𝜂 𝑑𝐼𝑎 ⁄ = 0), isto ocorre quando: 𝑃𝑣 = 𝑃𝑐 Na tabela 1.2, podemos ter uma ideia de rendimento de geradores. Tabela 1.2 – Rendimento de geradores. VALORES POR UNIDADE: O emprego de valores por unidade (ou percentuais) é muito frequente na solução de problemas relacionados com a eletrotécnica e, em particular, com as máquinas elétricas; correntes, tensões e quedas de tensão, potências e perdas, resistências e impedâncias em geral, podem ser expressas sob a forma de frações de grandezas da mesma espécie, a serem adotadas como grandezas de referência ou valores base. Pode-se ganhar algumas vantagens com esta prática: 1) A representação em valores por unidade tem mais significado pois relaciona as grandezas com os valores nominais do sistema em estudo; 2) Há menos confusões entre tensões simples e compostas, potências por fase e totais, e no caso de transformadores, entre as grandezas do primário e secundário; Para um sistema trifásico, conexão estrela, estando definidos dois valores de base 𝑆𝑏 e 𝑉𝑏, tem-se: 𝑆𝑏 = √3.𝑉𝑏 . 𝐼𝑏 e 𝐼𝑏 = 𝑆𝑏 √3.𝑉𝑏 , assim 𝑍𝑏𝑓 = 𝑉𝑏𝑓 𝐼𝑏𝑓 = 𝑉𝑏 √3.𝐼𝑏 = 𝑉𝑏 2 𝑆𝑏 (𝑉𝑏 , 𝐼𝑏 − 𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜𝑒𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒𝑑𝑒𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎) Para o estudo de uma máquina elétrica, normalmente os valores de base fazem-se coincidir com os valores nominais. Os valores por unidade (ou pu) são obtidos: 𝐼𝑝𝑢 = 𝐼 𝐼𝑏 , 𝑍𝑝𝑢 = 𝑍 𝑍𝑏 , 𝑉𝑝𝑢 = 𝑉 𝑉𝑏 , 𝑆𝑝𝑢,3∅ = 𝑆 𝑆𝑏 = 𝑉𝑝𝑢 . 𝐼𝑝𝑢, 𝑃𝑝𝑢,3∅ = 𝑃 𝑆𝑏 = 𝑉𝑝𝑢 . 𝐼𝑝𝑢 . 𝑐𝑜𝑠∅, 𝑄𝑝𝑢,3∅ = 𝑄 𝑆𝑏 = 𝑉𝑝𝑢 . 𝐼𝑝𝑢 . 𝑠𝑒𝑛∅, Máquinas Elétricas 145 Valores típicos de resistência de armadura, reatância síncrona e reatância de dispersão podem ser verificados na tabela 1.3. Tabela 1.3 – Valores orientativos de parâmetros de máquinas síncronas em pu. MÁQUINAS PEQUENAS (DEZENAS DE KVA) - PU MÁQUINAS GRANDES (DEZENAS DE MVA) - PU 𝐑𝐚 0,05 – 0,02 0,01 – 0,005 𝐗𝒅 0,05 – 0,08 0,1 – 0,15 𝐗𝒔 0,5 – 0,8 1,0 – 1,5 2.2.5.5 CONJUGADO ELETROMAGNÉTICO E POTÊNCIA MÁQUINA SÍNCRONA FUNCIONANDO COMO GERADOR Para grandes geradores síncronos, o valor de 𝑋𝑠 é tipicamente de 10 a 100 vezes maior que 𝑅𝑎, consequentemente podemos desprezar 𝑅𝑎, a menos que estejamos interessados em definir mais precisamente a eficiência ou os efeitos de aquecimento da máquina. Assim a equação do circuito por fase pode ser escrita como: 𝑉𝑡 = 𝐸𝑔 − 𝑗𝑋𝑆. 𝐼𝑎 (29) O diagrama fasorial correspondente é mostrado na figura 2.50. Figura 2.50 – Diagrama fasorial do gerador alimentando carga indutiva. Quando uma máquina síncrona é utilizada como um gerador, uma turbina é necessária para acionar o gerador (Veja a figura 2.51). Figura 2.51 – Gerador acionado por turbina. Máquinas Elétricas 1 46 Onde: 𝐶𝑡 − Conjugado de turbina (N.m); 𝐶𝑝 − Conjugado de perdas (N.m); 𝐶𝑔 − Conjugado eletromagnético (ou interno) (N.m); 𝜔𝑚 − Velocidade mecânica (rad/s). 𝛿 – Ângulo elétrico de potência; ∅ – Ângulo do fator de potência. O diagrama de fluxo de potência da máquina síncrona funcionando como gerador está representado na figura 2.52. Este diagrama mostra a transformação de energia mecânica (potência de entrada −𝑃𝑒 – produzida pela turbina) em energia elétrica trifásica (potência de saída −𝑃𝑠). Qualquer que seja a fonte de potência de entrada (hidro, térmica, diesel, etc.) ela deve ter a propriedade básica de ter sua velocidade praticamente constante, independente da demanda de potência, a fim de não variar a frequência da tensão de saída. Observe que a diferença entre a entrada de potência mecânica e a saída de potência elétrica são as perdas da máquina. Figura 2.52 – Diagrama de fluxo de potência de um gerador síncrono. Logo que a máquina é colocada para girar, através do acionamento da turbina, a mesma através do escorvamento atinge sua tensão nominal - 𝑉𝑡 = 𝐸𝑔. Neste momento não existe corrente no estator e o único fluxo atuante é o produzido pelo rotor. Desta maneira, sem corrente no estator, não existe Conjugado eletromagnético (𝐶𝑒𝑚. = − 1 2 . 𝐿𝑒𝑟. 𝐼𝑟 . 𝐼𝑒 . 𝑠𝑒𝑛𝜃𝑜) produzido pela máquina para contrapor o conjugado de turbina (𝐶𝑡). O Conjugado de turbina, neste momento, está equilibrando apenas as perdas por atrito e ventilação, ou seja, as perdas rotacionais - 𝐶𝑡 = 𝐶𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠𝑟𝑜𝑡.. Quando o gerador está com carga, o conjugado mecânico da turbina (𝐶𝑡) deve agora equilibrar o conjugado eletromagnético produzido pelo gerador (𝐶𝑔) e mais as perdas elétricas de conjugado devido as perdas joule e as perdas mecânicas de conjugado devido as perdas no ferro, suplementares e perdas rotacionais (atrito e ventilação), ou seja: 𝐶𝑡 = 𝐶𝑔 + 𝐶𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 (N.m) (30) Máquinas Elétricas 1 47 Multiplicando pela velocidade mecânica ambos os lados da equação de conjugado, nós temos a equação do balanço de potência, ou seja: 𝑃𝑒 = 𝑃𝑔 + 𝑃𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 (Watts) (31) Onde: 𝑃𝑥 = 𝜔𝑚 . 𝐶𝑥 (W) 𝑃𝑒 − potência mecânica de entrada (turbina) (W); 𝑃𝑔 − potência gerada internamente (eletromagnética) (W); 𝑃𝑝𝑒𝑟𝑑𝑎𝑠 − potência de perdas (W). Estamos desconsiderando neste modelo as perdas no cobre do enrolamento de campo (𝑅𝑓. 𝐼𝑓 2 ou 𝑉𝑓 . 𝐼𝑓). Estas perdas se somam as perdas 𝑃𝑝 para compor a potência mecânica de entrada no cálculo do rendimento. Para o cálculo da potência de turbina as perdas no cobre do enrolamento de campo devem ser desconsideradas. A potência eletromagnética é a potência que está sendo convertida em energia elétrica nos três enrolamentos de fase do estator, isto é: 𝑃𝑔 = 𝐶𝑔. 𝜔𝑚 = 3.𝑉𝐹 . 𝐼𝐹 . 𝑐𝑜𝑠𝛾 = 3. 𝐸𝑔. 𝐼𝑎 . 𝑐𝑜𝑠𝛾 (32) Onde 𝛾 = ∅ + 𝛿 − é o ângulo entre a tensão gerada 𝐸𝑔 e a corrente de fase 𝐼𝑎 (Ver figura 2.50). A partir do diagrama fasorial da figura 2.50, pode-se facilmente obter: 𝐸𝑔 . 𝑠𝑒𝑛𝛿 = 𝑋𝑆. 𝐼𝑎 . 𝑐𝑜𝑠∅ (33) Quando a resistência do enrolamento de fase da armadura (𝑅𝑎) é ignorada, a potência eletromagnética é igual a potência de saída, como podemos constatar observando o diagrama de fluxo de potência, figura 2.52, ou: 𝑃𝑔 = 𝑃𝑆 = 3.𝑉𝐹 . 𝐼𝐹 . 𝑐𝑜𝑠∅ = 3. 𝑉𝑡 . 𝐼𝑎 . 𝑐𝑜𝑠∅ (34) A potência reativa de saída também pode ser expressa como: 𝑄𝑔 = 3. 𝑉𝑡 . 𝐼𝑎 . 𝑠𝑒𝑛∅ (var) (35) Substituindo (33) em (34), teremos: 𝑃𝑔 = 3.𝐸𝑔.𝑉𝑡 𝑋𝑆 . 𝑠𝑒𝑛𝛿 (36) Esta equação, representando a máxima potência entregue por uma máquina síncrona, é um caso especial da característica do ângulo de potência para uma transferência de potência através de uma impedância série 𝑗𝑋 de 𝐸1 para 𝐸2 (Veja apêndice F). E o Conjugado eletromagnético, 𝐶𝑔 = 𝑃𝑔 𝜔𝑚 = 3.𝐸𝑔.𝑉𝑡 𝜔𝑚.𝑋𝑆 . 𝑠𝑒𝑛𝛿 (37) Máquinas Elétricas 1 48 MÁQUINA SÍNCRONA FUNCIONANDO COMO MOTOR Quando funcionando como motor (e desprezando a resistência de armadura) a equação da máquina síncrona por fase pode ser escrita como: 𝑉𝑡 = 𝐸𝑐 + 𝑗𝑋𝑆. 𝐼𝑎 (39) O diagrama fasorial correspondente é mostrado na figura 2.53. Figura 2.53 – Diagrama fasorial do motor acionando carga mecânica. Quando uma máquina síncrona é utilizada como motor, uma rede elétrica (𝑉𝑡) é necessária para acionar o motor (Veja a figura 2.54). Figura 2.54 – Motor acionado pela rede elétrica. Onde: 𝐶𝑐 − Conjugado de carga; 𝐶𝑝 − Conjugado de perdas; 𝐶𝑔 − Conjugado gerado internamente; 𝜔𝑚 − Velocidade mecânica. O diagrama de fluxo de potência da máquina síncrona funcionando como motor está representado na figura 2.55. Este diagrama mostra a transformação de energia elétrica (potência de entrada −𝑃𝑒 – rede elétrica) em energia mecânica (potência de saída −𝑃𝑠). A fonte de potência de entrada deve ter a propriedade básica de ter sua frequência praticamente constante, independente da demanda de potência, a fim de não variar a velocidade mecânica de saída. Observe que a diferença entre a entrada de potência elétrica e a saída de potência mecânica são as perdas da máquina. Máquinas Elétricas 1
Compartilhar