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TCC Lenilde vf ago15 Agronegocio na escola

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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TRABALHO, EDUCAÇÃO E MOVIMENTOS SOCIAIS
TURMA TEKOHA GUARANI
LINHA DE PESQUISA ESTADO, POLÍTICA PÚBLICA DE EDUCAÇÃO E LUTA DE CLASSES
Lenilde de Alencar Araujo
A PARTICIPAÇÃO DA FUNDAÇÃO VALE NA EDUCAÇÃO DO MARANHÃO: ESTRATÉGIA DE DOMINAÇÃO E CONSTRUÇÃO DE HEGEMONIA DA CLASSE DOMINANTE
Rio de Janeiro
2015
Lenilde de Alencar Araujo
A PARTICIPAÇÃO DA FUNDAÇÃO VALE NA EDUCAÇÃO DO MARANHÃO: ESTRATÉGIA DE DOMINAÇÃO E CONSTRUÇÃO DE HEGEMONIA DA CLASSE DOMINANTE
Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio como requisito para obtenção do título de Especialista em Trabalho, Educação e Movimentos Sociais.
Orientadora – Profª. Dra. Lizandra Guedes
Rio de Janeiro
2015
Lenilde de Alencar Araujo
A PARTICIPAÇÃO DA FUNDAÇÃO VALE NA EDUCAÇÃO DO MARANHÃO: ESTRATÉGIA DE DOMINAÇÃO E CONSTRUÇÃO DE HEGEMONIA DA CLASSE DOMINANTE
Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio como requisito para obtenção do título de Especialista em Trabalho, Educação e Movimentos Sociais.
Orientadora – Profª. Dra. Lizandra Guedes
Aprovado em 18/06/2015
BANCA EXAMINADORA
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos os trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra pela coragem e firmeza na luta por direitos e justiça social e pelas conquistas, dentre elas a educação do campo que nos possibilita o acesso à educação, da infantil à pós-graduação.
A todos e todas militantes do Movimento Sem Terra, pela grandeza da luta e por fazerem desse Movimento um importante espaço de formação política que nos permite acreditar na transformação da sociedade e na conquista de um mundo melhor.
 Aos os educadores e educadoras da Fundação Oswaldo Cruz e Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, do Curso de Especialização em Trabalho, Educação e Movimentos Sociais, em especial aos integrantes da linha de pesquisa Estado, Política Pública de Educação e Luta de Classes, que muito contribuíram para a compreensão de conceitos fundamentais à pesquisa.
À coordenação político-pedagógica, Diana Daros, Cristina Vargas, Carol Bahniuk, Valéria Carvalho, Anakeila Stauffer, Virgínia Fontes, Marco Antonio pela extraordinária capacidade de articular movimento social e universidade para a imprescindível tarefa de formar intelectuais orgânicos da classe trabalhadora, na perspectiva da construção da contra-hegemonia. 
À companheira Divina Lopes pelo papel fundamental que cumpre no MST e por me motivar, mais que isso, me convencer a participar do curso que foi extremamente significativo para minha formação.
À profª. e companheira Zaira Sabry pela contribuição na definição do objeto.
À Sislene Costa, integrante da rede Justiça nos Trilhos, pelo material e informações sobre a Vale.
 
Ao prof. Roberto Leher, pela importantíssima contribuição na definição do caminho investigativo e da metodologia de trabalho, e à profª. Marcela Pronko, pela contribuição ao projeto durante qualificação.
À prof.ª e companheira Lizandra Guedes por se desafiar e aceitar acompanhar a escrita, em tão curto espaço de tempo, pela disponibilidade, atenção e compromisso com a orientação. 
À minha mãe Lídia, por sempre estar ao meu lado em todas as minhas decisões, meu pai Valmir e meus irmãos, Lene e Lenivaldo, por sempre me apoiarem em momentos difíceis e sempre me incentivarem ao estudo.
À minha família, Elias Araujo, com quem compartilho a vida e a militância, Julia Iara e Vitória Regina pela relação dialógica e amorosa que nos permite ensinar e aprender mutuamente.
O maior trem do mundo 
Leva minha terra
Para a Alemanha
Leva minha terra 
Para o Canadá 
Leva minha terra 
Para o Japão
O maior trem do mundo
Puxado por cinco locomotivas a óleo diesel 
Engatadas geminadas desembestadas 
Leva meu tempo, minha infância, minha vida
Triturada em 163 vagões de minério e destruição 
O maior trem do mundo 
Transporta a coisa mínima do mundo 
Meu coração itabirano 
Lá vai o trem maior do mundo 
Vai serpenteando, vai sumindo 
E um dia, eu sei não voltará 
Pois nem terra nem coração existem mais
(O maior trem do mundo, Carlos Drummond de Andrade, 1984)
RESUMO
Este trabalho aborda a participação da Fundação Vale na Educação no Maranhão, baseado no estudo de seus Programas Educacionais como uma estratégia de dominação e construção de hegemonia da classe dominante. Apresenta uma discussão sobre o empresariamento da Educação no contexto neoliberal, discutindo o que as empresas querem ao interferir na educação e como organizações da sociedade civil organizam o capital em nome do interesse público. Para compreender esta estratégia, utilizou-se de importantes estudos que vêm sendo realizados por Lúcia Neves, André Martins, Rodrigo Lamosa, Roberto Leher, dentre outros. Apresenta o estudo sobre a Vale e seu braço pedagógico, a Fundação Vale, sua criação, seus objetivos, sua missão pedagógica e os seus princípios e valores, projetos e ações desenvolvidas. A análise dos dados se deu à luz das teorias que tratam dos conceitos de hegemonia, Estado integral (ampliado) e intelectual orgânico, com base em autores como Gramsci e Marx. A ação da Fundação Vale é parte de uma estratégia baseada em diretrizes definidas por organismos internacionais para os países subdesenvolvidos e assumida por grandes corporações que se apegam a uma forma específica do capitalismo, o capitalismo dependente, ou seja, o desenvolvimento desigual e combinado, que se sustenta na contradição entre riqueza e miséria, na superexploração da força de trabalho e das riquezas naturais. Tal modelo tem na Educação um instrumento fundamental para a formação de capital humano e de uma cidadania conformada para essa sociabilidade neoliberal.
Palavras-chave: Estado. Hegemonia. Empresariamento da Educação.
SUMÁRIO
8INTRODUÇÃO	�
12I ESTADO E ORGANIZAÇÕES EMPRESARIAIS NA EDUCAÇÃO: CONSTRUINDO A HEGEMONIA DA CLASSE DOMINANTE	�
121.1 No percurso da atitude investigativa: um diálogo necessário com a teoria	�
201.2 As Organizações Empresariais e a Educação: uma relação necessária ao capital	�
29CAPÍTULO II - A FUNDAÇÃO VALE E O COMPROMISSO SOCIAL COM A EDUCAÇÃO	�
292.1 Da Companhia Vale do Rio Doce à transnacional Vale	�
372.2 Histórico e caracterização da Fundação Vale	�
432.3. A ação da Vale na Educação	�
492.4 Abrangência dos programas educacionais da Vale no MA	�
62REFERÊNCIAS	�
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INTRODUÇÃO
Considerando o atual contexto em que vivemos, cujo modo de produção é o capitalista, caracterizado pela contradição entre capital e trabalho e por uma constante luta de classes, impossível não considerar que a classe dominante se utiliza de várias estratégias para manter a sua dominação. 
Dentre elas, destacamos a utilização que as empresas vêm fazendo da educação para construir a hegemonia de classe. Assim, empresas transnacionais, que representam frações dessa classe burguesa, desenvolvem junto à sociedade ações de “compensação social” através das quais fazem um processo de cooptação e convencimento dos trabalhadores de que suas ideias e interesses são também ideias e interesses de toda a sociedade. Fazem isso através de vários projetos e ações, como a instalação de bibliotecas, grupos de teatro, programas educacionais, atividades de educação ambiental. É importante ressaltar que todos esses programas alicerçam a política de responsabilidade social das empresas. 
Frigotto (2010), ao fazer uma leitura da educação na primeira década do século XXI, aponta para o fato de que o governo brasileiro, nesse período, fez a opção pelo projeto societário de expansão do capital sob o manto do desenvolvimentismo, que tem como centro a formação de capital humano, mas que é difundido como políticas e programas voltados para a melhoria da educação do povo.O discurso da democratização da formação para o trabalho objetiva amenizar os conflitos que possam surgir entre as classes, tendo em vista harmonizá-las. 
Essa postura do governo, somada à fragilidade relativa das forças capazes de disputar um projeto educacional antagônico, resultou numa “política de melhoria” pautada pelas parcerias entre os setores público e privado, direcionadas para as necessidades não atendidas pelas políticas públicas, o que induz a entrada empresarial neste campo. Eis o que possibilita formas sutis de atuação das empresas através da criação de programas educacionais que demonstram, por um lado, uma estratégia de hegemonia do capital através de ações educativas e, por outro, a relação de tais empresas com o Estado, através das parcerias público-privadas.
Nossa intenção de pesquisa está calcada nesse contexto e nosso estudo tem o foco na Corporação Vale, uma das maiores mineradoras do mundo, tendo por objetivo analisar a participação da Fundação Vale na educação do Maranhão, baseada no estudo de seus Programas Educacionais, tendo em vista compreender as estratégias de dominação e construção de hegemonia da classe dominante.
Minha inquietação partiu da necessidade de olhar para essa realidade onde a educação está em disputa, sendo utilizada como instrumento de construção de hegemonia pela classe dominante, na perspectiva de compreender as estratégias de dominação utilizadas por uma empresa transnacional, como a Vale. Ela não apenas extrai as riquezas naturais do nosso país, explora força de trabalho, causa sérios impactos ambientais, trabalhistas e sociais, como vende a ideia de desenvolvimento e comprometimento com as causas sociais, por exemplo, com o combate à ineficiência da educação brasileira, por meio da intervenção da empresa na escola. O excerto abaixo, retirado de texto produzido por integrantes do Centro de Estudos e Documentação para a Ação Comunitária da Companhia Vale do Rio Doce, atualmente denominada Vale, é exemplar:
	Paralelamente ao surgimento de novas exigências com relação ao serviço prestado pela escola, vem sendo construído no país um novo consenso a respeito da responsabilidade que a sociedade civil e suas instituições têm para com a educação pública. [...] Sem pretender que substituam o poder público, os diversos tipos de instituições da sociedade civil são também solicitados a participar da criação e implementação desse novo modelo de educação, apoiando-os com suas competências e recursos (CARDOSO; PEREIRA; SOARES, p.2) 
Sabemos que não existe neutralidade na educação e que os processos educativos tanto “podem desvelar como encobrir o sentido real das relações sociais” (SANTOS, 2008, p. 40), de modo que a educação não pode ser analisada descolada do modo como está organizada a sociedade. Neste sentido, na forma social atual compreender a educação significa compreender a divisão das classes sociais, a alienação da força de trabalho, mecanismo pelo qual essa sociedade se reproduz e se perpetua, bem como, compreender o desenvolvimento do capitalismo e suas crises cíclicas, tendo claro de que a cada momento de crise do capital são criadas formas de superação e a educação é um dos instrumentos utilizados em favor da classe dominante para se manter nessa condição.
A escolha deste objeto, para além da inquietação acima descrita, está enraizada na minha participação como militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra que luta por terra, reforma agrária e transformação social. Nessa trajetória de militância tenho participado ativamente da construção da educação do campo, sendo conhecedora dos limites na efetivação da política pública, ou seja, da ausência de uma determinação do Estado em garantir o cumprimento da legislação, induzindo a entrada das empresas privadas atuarem e constituírem espaços hegemônicos no interior da escola.
Fizemos um caminho investigativo que partiu do estudo sobre a atuação das organizações empresariais na educação no contexto neoliberal, iniciando pelo estudo do Plano Diretor da Reforma do Estado, criado no Governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), em 1995, como um instrumento que supostamente iria resolver a crise do Estado e “promover a correção das desigualdades sociais e regionais” (BRASIL. MARE, 1995). Em seguida fizemos um mapeamento das organizações empresariais e sua atuação na educação, discutindo o que estas empresas querem ao interferir na educação e como instituições da sociedade civil organizam o capital em nome do interesse público.
Tendo esse quadro mais geral de atuação das empresas na educação, continuamos nossa investigação fazendo um estudo sobre a Vale, mostrando de forma breve o histórico da mesma, desde sua criação como empresa estatal à sua passagem para empresa privada em 1997. Apresentamos, então, a Fundação Vale, sua criação, seus objetivos, sua missão pedagógica e seus princípios e valores. Identificamos os projetos e ações desenvolvidas, de que forma são definidos e com quais interesses, bem como sua abrangência, como são implantados, que critérios são utilizados para a escolha dos municípios e qual a relação com o poder público.
Partimos de uma leitura mais geral do empresariamento da educação, o que foi possível pelo diálogo com autores que tratam dessa temática como Lúcia Neves (2012), André Martins (2012), Rodrigo Lamosa (2014), Roberto Leher (2014, 2015), dentre outros, e fomos para um objeto específico, a atuação da empresa Vale, por meio de seu braço, Fundação Vale, na educação no Maranhão, conhecendo seu discurso, seus projetos, suas estratégias, pelo estudo e análise dos documentos da própria empresa.
Metodologicamente, o estudo teve como suporte a linha de pesquisa “Estado, políticas públicas de educação e lutas de classes”, do Curso de Especialização em Trabalho, Educação e Movimentos Sociais. Realizamos uma pesquisa bibliográfica e documental, com leitura, análise e interpretação de fontes consultadas em livros, periódicos, material de internet e documentos da empresa Vale.
Em posse de todas essas informações e à luz das teorias que tratam dos conceitos de hegemonia, Estado integral (ampliado) e intelectual orgânico, com base em autores como Gramsci (2011) e Marx (2009), neste trabalho presentes segundo abordagem de Carlos Nelson Coutinho (2002,2011) e José Paulo Netto (2012), e da apropriação de categorias como “corporações”, educação pública, parceria público-privada, terceiro setor, reforma do Estado, procuramos compreender as estratégias neoliberais utilizadas para que o capitalismo mantenha se desenvolvendo, dentre elas o empresariamento dos projetos sociais, mais especificamente da educação, na perspectiva da construção da hegemonia da classe dominante.
I ESTADO E ORGANIZAÇÕES EMPRESARIAIS NA EDUCAÇÃO: CONSTRUINDO A HEGEMONIA DA CLASSE DOMINANTE
Neste capítulo procuramos compreender a atuação das organizações empresariais na educação, partindo da apropriação do Plano Diretor da Reforma do Estado, criado no Governo de FHC (1995), com o propósito de resolver a crise do Estado e “promover a correção das desigualdades sociais e regionais” (BRASIL. MARE, 1995). Em seguida fizemos um mapeamento das organizações empresariais e sua atuação na educação, discutindo como instituições da sociedade civil organizam os interesses particulares do capital supostamente em nome do interesse público.
Para fazer essa abordagem fez-se necessário o diálogo com os conceitos de Estado integral (ampliado), Sociedade Civil, Sociedade Política, hegemonia e intelectual orgânico, a partir do aporte teórico de Gramsci (2011) e Marx (2009) e a compreensão de categorias como corporações e educação pública.
1.1 No percurso da atitude investigativa: um diálogo necessário com a teoria
Partimos da ideia de Marx (2009, p. 244), expressa na Carta a P.V. Annenkov, de que para compreender o desenvolvimento histórico da humanidade, bem como o desenvolvimento econômico, é preciso entender que os homens não podem escolher esta ou aquelaforma de sociedade por vontade própria, pois
A um determinado estágio de desenvolvimento das faculdades produtivas dos homens corresponde determinada forma de comércio e de consumo. A determinadas fases de desenvolvimento da produção, do comércio e do consumo correspondem determinadas formas de constituição social, determinada organização da família, das ordens, ou das classes; numa palavra, uma determinada sociedade civil. A uma determinada sociedade civil corresponde um determinado estado político, que não e mais que é mais que a expressão oficial da sociedade civil. 
Ou seja, a forma de sociedade na qual vivemos, independente de nossa vontade, é a sociedade burguesa, dividida em duas classes sociais fundamentais e antagônicas: a dominada, constituída pelos trabalhadores que produzem as riquezas, e a dominante, detentora dos meios de produção, do capital, da riqueza produzida pelos trabalhadores e do poder econômico, que emprega os trabalhadores e que supostamente promove o “desenvolvimento”.
 O Brasil ocupa o 7º lugar na economia mundial, entretanto, devemos nos perguntar: por que se produz mais minério do que mandioca? Mais soja do que feijão? Quem decide o que é produzido não são os trabalhadores, são as empresas e estas produzem não de acordo com a necessidade da sociedade, mas de acordo com seus interesses particulares, a bem dizer, a acumulação de capital. 
É preciso compreender que nessa sociedade burguesa,
O trabalho produz obras maravilhosas para os ricos, mas produz despojamento para o operário. Produz palácios, mas cavernas para o operário. Produz beleza, mas estropiamento para o operário. Substitui o trabalho por máquinas, mas remete uma parte dos operários para um trabalho bárbaro e faz da outra parte máquinas. Produz espírito, mas produz idiotice, cretinismo para o operário (MARX, in: NETTO, 2012 p. 97).
Esta forma de organização da sociedade apresenta elementos que são de sua natureza: a propriedade privada, a exploração do trabalho, a concentração de riquezas, a violência, elementos estes que vão aparecer claramente na apresentação do nosso objeto de estudo, no item seguinte a este.
	Como dizia Marx, para cada forma de organização da sociedade existe um Estado político, o que indica a necessidade de compreensão do conceito de Estado para avançarmos na leitura da realidade investigada. Igualmente, salientamos a necessidade de nos apropriarmos de outros conceitos como Sociedade Civil, Sociedade Política, hegemonia, intelectual orgânico, diretamente relacionados ao objeto de estudo e fundamentam teoricamente a interpretação dos dados obtidos durante a investigação.
	 Existem várias formas de definir o Estado, mas no senso comum é entendido como agência burocrática ou como administração pública que tem a função de mediação dos conflitos e interesses sociais em nome do bem comum, identificação relacionada com a “coisificação” do conceito que nos impede de compreender em que consiste de fato o Estado. As raízes dessa leitura simplificada do Estado estão fincadas nos séculos XVII e XVIII, mais precisamente na matriz liberal (MENDONÇA, 2012, p. 349), baseada na ideia do direito como fundamento do próprio Estado e pertencente ao domínio da natureza, como os demais fenômenos sociais. Contrapõe-se à ideia do direito divino, sendo o homem responsável pelos seus atos e modo de vida e não mais um Deus absoluto. Apresentamos, de forma breve, os representantes e ideias dessa concepção: a) Maquiavel, em O Príncipe, considera como natureza do homem ser ávido, interesseiro, invejoso, ciumento, insaciável, ingrato, inconsistente, dissimulado, mentiroso e covarde e por este motivo defende regras internas que regem a conquista e a manutenção do poder. Para ele é preciso ter boas leis e boas armas e alguma fonte de legitimidade. O centauro maquiavélico representa o equilíbrio entre coerção e consenso, para ele os fins justificam os meios; b) Thomas Hobbes, em O Leviatã, vê a sociedade como um somatório de indivíduos que vivem em “estado de natureza”, em constante barbárie e guerra. Por isso, defende o contrato social para garantir os direitos naturais fundamentais: a vida e a propriedade; c) John Locke faz a crítica liberal ao absolutismo. Defende que é o direito que confere legitimidade a qualquer sociedade política. Cria o Habeas Corpus e o Estado de Direito�.Para Hegel, o Estado é a resolução da contradição entre família e sociedade civil, sendo esta esfera privada e econômica. Compreende o Estado como realização da história do espírito absoluto, afirmando que os povos que não constituíram Estados não possuem história e que esta é a única instituição capaz de fazer a abstração dos interesses privados por seu caráter omnicompreensivo.
A concepção de Marx e Engels, à qual nos filiamos, contrapõe-se às formulações hegelianas, afirmando que a gênese do Estado está nas relações sociais concretas, por isso, não deve ser compreendido como uma entidade em si. É importante compreender que o Estado (capitalista) resulta da divisão da sociedade em classes antagônicas: proprietários dos meios de produção (burgueses) e trabalhadores que possuem apenas a capacidade de trabalho (proletários) e cumpre a função de manter essa divisão “assegurando que os interesses particulares de uma classe se imponham como o interesse geral da sociedade” (COUTINHO, 2011, p.23). Eles definem o Estado como essência alienada da sociedade civil, de natureza classista e afirmam que a natureza de classe é mantida pela repressão que se dá ou pela forma legal, por aparelhos burocráticos executivos, ou pela coerção e violência através dos aparelhos de repressão. Defendem ainda que as estruturas estatais, tais como existem, têm de ser destruídas num processo de superação do capitalismo, pois não se trata de chegar ao poder, já que aquele poder para a revolução social não serve. O comunismo representa o fim do Estado.
Gramsci, a partir da concepção de Marx e Engels, elabora uma ampliação da teoria marxista do Estado, tendo como pressuposto metodológico a filosofia da práxis, e concebe “de modo novo a relação entre economia e política, entre infraestrutura e superestrutura, destacando sempre o papel da ação humana em face das determinações objetivas” (COUTINHO, 2011, p.20-21).
A concepção defendida por Gramsci de “Estado “ampliado” ou “integral” é a base da tática e da estratégia política para a transição ao socialismo” (COUTINHO, 2011, p. 28), nela não há separação entre o conjunto de relações que estruturam a base da sociedade e as ideias, ou seja, entre estrutura e superestrutura. Trata-se de uma ampliação do conceito em sua morfologia (sociedade política + sociedade civil) e em sua função (coerção + consenso). Ou seja, há junção da sociedade civil e da sociedade política, ambas funcionando de maneira imbricada com um caráter molecular de dominação, mas se encaminhando de formas diferenciadas. Na sociedade civil o principal instrumento utilizado para aparente conquista da adesão voluntária aos interesses dominantes é o convencimento, o consenso, a direção político-intelectual, através da qual as classes buscam aliados para suas posições e vão construindo a hegemonia.
Assim, a sociedade civil é formada por um conjunto de instituições responsáveis pela elaboração e difusão de valores simbólicos, de ideologia, os chamados aparelhos privados de hegemonia (escola, partido político, organizações profissionais, sindicatos, meios de comunicação, instituições de caráter científico e cultural). Organizações que difundem valores de uma classe dominante, que garantem a dominação através do convencimento, a partir dos interesses de frações dessa classe. Já a sociedade política é o conjunto de aparelhos da classe dominante que exerce o domínio legal, através da violência (aparelhos coercitivos do Estado) e que está ligada às forças armadas e às leis, que no seu conjunto são chamados de governo.
Nas sociedades orientais a luta de classes trava-se, predominantemente, ou mesmo exclusivamente, tendo em vista a conquista ouconservação do Estado. O centro da luta de classes é a guerra de movimento, através do choque frontal que levará à conquista do Estado. Nas sociedades ocidentais a luta de classes tem como terreno prévio e decisivo os aparelhos privados de hegemonia, na medida em que essa luta visa a obtenção da direção político-ideológica e do consenso dos grupos subalternos. O centro da luta de classes está na guerra de posição, de modo que a classe vai conquistando espaço e hegemonia na sociedade civil, pois num país cuja “sociedade civil é rica e pluralista, a obtenção da hegemonia deve preceder a tomada de poder; a classe revolucionária já deve ser dirigente antes de ser dominante” (COUTINHO, 2011, p. 28).
Trata-se para Gramsci “de uma arena privilegiada de luta de classes, na qual os diferentes grupos sociais lutam para conservar ou conquistar hegemonia” (COUTINHO, 2011, p.25). Toda relação de hegemonia pressupõe, como possibilidade, a existência de experiências, relações e atividades contra hegemônicas que só podem existir com auto-organização e autoconsciência, pautadas no conjunto das relações sociais de produção. Nessa perspectiva, o intelectual orgânico tem uma função pedagógica e prática de organização da classe, de dar organicidade à classe de acordo com a necessidade de construção da contra hegemonia. Para Gramsci (2011), todos os homens são intelectuais, têm uma compreensão, visão de mundo, têm capacidade de explicar o real. Não é aquele que só produz ideias, mas também é capaz de intervir no real e mudar suas condições de existência. Todos deveriam ser formados para assumir a função de dirigir, de elaborar formas de socialização da visão de mundo e disseminá-las, entretanto, na sociedade capitalista somente alguns poucos cumprem a função de intelectual.
Nesta configuração do Estado atual, várias são as investidas da classe dominante para manter a hegemonia de suas ideias e a educação é um dos instrumentos utilizados pela mesma. Vejamos o exemplo da Vale, uma das maiores mineradoras do mundo, que passou de estatal para transnacional. Ao mesmo tempo em que expropria o Estado brasileiro extraindo suas riquezas naturais, explorando a força de trabalho de centenas de pessoas, causando diversos impactos para as comunidades por onde passam os trilhos de ferro, desenvolve, como forma de acomodação das famílias atingidas, projetos sociais junto aos municípios nos quais estão localizadas tais comunidades. 
Assim, através de projetos sociais de educação, saúde, cultura, infraestrutura, a empresa tenta tornar consensual sua prática de exploração e de dominação, vendendo a ideia de comprometimento com a educação pública e com a vida das comunidades. Essa ideia se expressa, por exemplo, na formulação dos objetivos do Programa “Escola que Vale”:
Colaborar de forma sistemática para a melhoria da qualidade de ensino em escolas que atendam jovens e crianças de famílias pobres [...] o trabalho pedagógico do Programa se estruturará em duas vertentes: a prática da cidadania do ponto de vista das normas, valores e atitudes e, do ponto de vista didático, além do conhecimento da língua, a resolução de problemas (CARDOSO; PEREIRA; SOARES s.d., p. 2).
	
	Fica claramente expresso no citado artigo, o papel do intelectual orgânico da organização social que é o de promover sua hegemonia. Como vimos discutindo, uma classe não mantém seu domínio somente pela força, mas também pelos interesses corporativos estreitos, exercendo uma liderança moral e intelectual sobre o conjunto da população, conformando o conjunto da sociedade segundo as formas de pensar, de sentir e agir da classe dominante. Para isso, se organiza na forma de partido, como grande intelectual orgânico coletivo, com a função de organizar a coesão, dando sentido e direção a esse grupo na conquista de um espaço hegemônico.
Estamos sob a égide de um movo modelo de desenvolvimento, o neoliberal, que, para Boito Jr. (2007), tem como principais características o declínio do papel do Estado como empresário e provedor de serviços; a queda no crescimento econômico; a ampliação da desnacionalização da economia nacional e a redução dos direitos sociais e trabalhistas. Ao descrever o Estado capitalista neoliberal do Brasil, o autor destaca três elementos característicos desse modelo. O primeiro é a desregulamentação do mercado de trabalho e a mercadorização de direitos e de serviços como saúde, educação e previdência, que atende de modo variado a diferentes setores da burguesia e estimula a expansão de negócios de uma fração burguesa denominada “nova burguesia de serviços”. Ao reduzir os gastos sociais tradicionais do Estado, este permite ao grande capital apropriar-se do orçamento público e de novos nichos de mercado. Ambas características foram mantidas pelo governo Lula (período), que não apenas manteve as reformas promovidas por FHC como preparou novas reformas – da previdência, do estatuto do servidor público, trabalhista e sindical, bem como a privatização de hospitais e universidades e outros. 
Um bom exemplo da mercadorização do direito básico à educação, garantido em lei constitucional, porém não efetivado, é o programa PROUNI�, que possibilita a apropriação do orçamento público por empresas capitalistas, que compõem a chamada burguesia de serviços.
O segundo elemento a que Boito Jr. (2007) faz referência é a política de privatização que atende diretamente os interesses dos grandes grupos econômicos privados, excluindo a média burguesia do grande negócio que foram os leilões de empresas estatais, dentre elas a Vale, nosso objeto de estudo. De acordo com o autor, menos de 100 grupos econômicos participaram dos leilões, contando com vários tipos de favorecimento, de modo que grandes empresas industriais como Votorantin, Gerdau e Vicunha e grandes bancos como Itaú Unibanco, Bradesco e Bozzano-Simonsen, ou seja, o capital nacional, industrial ou financeiro, e o capital estrangeiro apropriaram-se da siderurgia, da petroquímica, da indústria de fertilizantes, das empresas de telecomunicações, da administração de rodovias, de bancos públicos, das ferrovias. Vale ressaltar que é vergonhosa a legislação criada pelo governo Lula para as parcerias público-privadas para serviços públicos e de infraestrutura, assegurando às empresas privadas a suplementação de dinheiro público para os empreendimentos que não atingirem “a lucratividade esperada” (BOITO, p. 62).
O terceiro elemento que Boito Jr. (2007, p. 63-64) apresenta é a abertura comercial e a desregulamentação financeira, que atendem 
aos interesses do grande capital financeiro, nacional e internacional, em detrimento mesmo da grande indústria interna que perdeu o mercado cativo para seus produtos, passou a pagar muito mais caro pelo capital que toma emprestado, e sofreu a redução da parte da receita do Estado destinada à infraestrutura e ao fomento da produção.
 A correspondência entre os interesses do capital financeiro e o modelo capitalista neoliberal é a taxa de lucro superior que o sistema financeiro tem obtido ao longo dos últimos anos em detrimento do sistema produtivo. Segundo a ABM Consulting, entre 1994 e 2003 o lucro dos 10 maiores bancos brasileiros cresceu nada menos que 1.039%. Foi nesse contexto, e sob a justificativa de que a crise brasileira instalada não era apenas financeira, mas uma crise de Estado, que foi elaborado o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado�, em 1995, durante governo de FHC, pelo Ministro da Administração Federal e Reforma do Estado, Luis Carlos Bresser Pereira.
O argumento utilizado foi o de que o Estado vinha se desviando de suas funções básicas em função do apoio ao setor produtivo, ocasionando o agravamento da crise fiscal e, por tabela, o aumento da inflação e uma degradação nos serviços públicos destinados principalmente às camadas da população mais desfavorecidas, aumentando as desigualdades sociais. Assim, a reforma estatal seria um instrumento para assegurar o crescimento da economia e corrigir tais desigualdades a partir de uma redefiniçãodo papel do Estado que, ao invés de ser promotor do desenvolvimento econômico e social, através da produção de bens e serviços, passaria apenas a regulador e controlador desse desenvolvimento. Ou seja, diante da suposta incapacidade do Estado de implementar leis e políticas públicas, ocorre um processo em que o mesmo quer transferir para o setor privado as atividades que podem ser controladas pelo mercado, desencadeando o processo generalizado de privatização das empresas estatais. 
Em paralelo, ocorre um outro processo, denominado de publicização, que é a descentralização da execução dos serviços de educação, saúde, cultura e pesquisa científica para o setor público não estatal, porém, sendo subsidiado pelo Estado, conforme explicam Pereira, Cardoso e Soares (1995, p. 13) na sua formulação:
Através desse programa transfere-se para o setor privado a tarefa da produção que, em princípio, este realiza de forma mais eficiente. Finalmente através de um programa de publicização, transfere-se para o setor público não estatal a produção de serviços competitivos ou não exclusivos do Estado, estabelecendo-se um sistema de parceria entre Estado e Sociedade para seu financiamento e controle.
	
Evidenciada a essência dessa definição política, que provocou mudanças extremamente significativas ao país, principalmente no que se refere à privatização das estatais, dentre elas a Vale, no próximo item vamos mostrar como se dá na arena da luta de classes a disputa por hegemonia e como as organizações empresariais se utilizam da educação para construir sua hegemonia diante da classe dominada, oferecendo a esta os bens e serviços que o Estado supostamente não é capaz de oferecer, fazendo-se confundir com o próprio Estado, constituindo uma estrutura social homogênea e gelatinosa. 
1.2 As Organizações Empresariais e a Educação: uma relação necessária ao capital
Diversos são os meios que a burguesia utiliza para educar a classe trabalhadora e construir a hegemonia: no processo de trabalho, disciplinando a cabeça, as mãos e o trabalho; através do Estado, por meio da escola, seja pública ou privada, das regras e valores; através da mídia e ações culturais. 
O processo de construção de hegemonia acontece através da coerção e do consentimento, no amplo e complexo processo pedagógico de disseminação do interesse de uma classe ou de frações de classe sobre a outra. As regras devem ser obedecidas ou sofrem-se processos de represália. Por exemplo, se não votar ou não frequentar a escola, pode-se perder a Bolsa Família.
Martins & Neves (2012) se referem à pedagogia da hegemonia, identificando duas fases históricas. A primeira vai do pós-guerra, 1945, até final dos anos de 1980; a outra da última década do século XX às duas primeiras do século XXI, quando se instala o neoliberalismo. A primeira fase tinha por objetivo sobrepor o capitalismo ao socialismo e convencer as frações da classe trabalhadora organizadas em partidos e sindicatos a não se identificarem com o projeto socialista de sociedade. 
Na segunda fase, o capitalismo aparece como a única forma possível para a humanidade. Não existem mais projetos antagônicos, pois o projeto socialista supostamente fora derrotado com o fim da Guerra Fria. A tese é de que é possível a coexistência entre mercado e justiça social, conquistada a partir da concertação social, ou seja, todos participando para resolver de forma harmônica os conflitos de interesse pessoal ou grupista. 
A pedagogia da hegemonia, segundo Martins & Neves (2012), nada mais é do que uma estratégia de dominação de classe por meio da educação, como mecanismo de reprodução da forma de trabalho e para a educação moral e intelectual da classe trabalhadora. Para tal empreitada, seria necessário contar com um conjunto de intelectuais orgânicos da burguesia, singulares e coletivos, para implementar as políticas sociais, de caráter universal, criadas neste contexto. Intelectuais singulares são indivíduos que difundem na sociedade os valores, ideias e práticas do projeto capitalista; intelectuais coletivos seriam as organizações internacionais, regionais, locais e nacionais que educam o consentimento do conjunto da população ao projeto econômico, político e ideológico da classe dominante como: Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI), Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Outro elemento da pedagogia da hegemonia que Martins & Neves (2012) discutem é o da repolitização da política por meio da reestruturação das práticas governamentais para o crescimento econômico mundial e uma reestruturação da natureza e das práticas dos organismos da sociedade civil voltados para a legitimação da ordem capitalista. O Estado não executa as políticas econômicas, apenas as gerencia e intervém quando é necessário. Essa reestruturação é responsável pela “simbiose entre público e privado, na qual as instituições realizam ações de interesse público” (MARTINS; NEVES, 2012, p. 543). Os valores neoliberais são o empreendedorismo e a colaboração e os aparelhos privados de hegemonia responsáveis por transmitir esses valores são a mídia, a escola e a igreja.
No Brasil, o interesse dos empresários pela educação não é recente, surge junto com o processo de industrialização tardio, na década de 1930. Entretanto, da sua origem até hoje, o seu objetivo é o mesmo: atender às necessidades do capital. Assim, em cada momento histórico, a classe empresarial vai colocando sua demanda para a educação. Na década de 1960, organizados no Movimento Aliança para o Progresso, em articulação com a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, lideraram a contrarreforma da educação, produzindo novos marcos para a Universidade, Lei nº. 5.540, de 28 de novembro de 1968 e Educação de 1º. E 2º. Graus, Lei nº. 5.692, de 11 de agosto de 1971, tendo esta última como marca a profissionalização compulsória no então Ensino de 2º. Grau. As escolas agrotécnicas e a assistência técnica rural estavam pautadas na chamada Revolução Verde, pacote pensado pelo Banco Mundial para desenvolver a agricultura nos países em desenvolvimento, dentre eles o Brasil. (LEHER, 2014, p.72). 
A década de 1980 foi idealizada como o período em que o Brasil seria transformado em um país do “primeiro mundo” e seria uma “economia competitiva” (RODRIGUES, 2007, p.11). Com esse propósito, a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) organiza seu discurso e sua estratégia, que se integram ao conjunto de medidas colocadas pelo novo modelo de organização da produção, o neoliberalismo, absorvidas pelo Governo de FHC, no Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (BRASIL. MARE, 1995), do qual tratamos, e que abre o caminho para as organizações sociais prestarem serviços sociais de educação, saúde, cultura, legitimando a interferência das empresas na educação, através de seus Institutos e ou Fundações. A educação passa a ser pensada a partir de princípios da administração, os diretores passam a gestores das escolas, que devem estar voltadas para o cumprimento de metas, eficiência e qualidade total, definidos de acordo com os interesses da classe dominante, expressos em programas de financiamento dirigidos para as escolas como: o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) e o Sistema de Avalição da Educação Básica(Saeb), que tem como referência o Programa Internacional de Avaliação de Alunos(Pisa). A eficácia da educação passa a ser avaliada pelos resultados da aprendizagem e a “dimensão ensino vai sendo apagada e, com ela, o trabalho docente” (LEHER, 2014, p.74). 
O governo dos períodos seguintes, Lula da Silva (2003 - 2010) e Dilma Roussef (2011 - atualidade), mantiveram essa lógica, ampliada e reforçada inicialmente por Lula, que resolve incorporar à política governamental, através do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), instrumento criado pela classe dominante expressa no Movimento Todos pela Educação (MTPE), sendo continuada pelo governo Dilma, que mantém essa lógica,conforme Decreto nº. 6.094, de 24 de abril de 2007, a Lei nº. 12.695, de 25 de julho de 2012 e a Lei nº. 13.005, de 25 de junho de 2014 (LEHER, 2014, p.74).
O MTPE configura-se como um intelectual orgânico da classe dominante, um poderoso aparelho de hegemonia, guarda-chuva que reúne várias entidades de classe: Confederação Nacional da Indústria (CNI), Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) e corporações como a Vale, Monsanto, Syngenta. Tem por objetivo organizar os setores burgueses para hegemonizar o bloco no poder, através da educação. Trata-se da maior coalisão empresarial atuante nessa área, que vem querendo modificar a função social da escola, direcionando-a para a formação de competências, que combinam capital humano e capital social, implicando num sistema de avaliação complexo responsável pela regulação de todos os passos da escola desde a Educação Infantil à graduação (LEHER, 2015, p.1).
O objetivo do MTPE é formar capital humano, criar mecanismos para que na sala de aula o professor nunca deixe essa perspectiva. Trabalha com a ideia de competência para formar o pensamento científico e cultural para algo que tenha vinculação com a maneira de resolver problemas práticos – pragmatismo, tentando retirar a ciência, a tecnologia, a arte, a cultura, que são os fundamentos da escola omnilateral. A preocupação é formar os descritores da aprendizagem e avaliar se as metas estabelecidas foram ou não cumpridas. A educação é pensada a partir de três pilares: metas, avaliação e qualidade e tem como instrumento de avaliação o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) (fonte), para avaliar se a educação é ou não eficiente, sendo a suposta eficiência recompensada com premiação. É um instrumento que está para além da avaliação, tendo também como fim estabelecer as metas e interferir no planejamento das escolas. Para o fim da avaliação, se esgota dentro da sala de aula e representa para a classe trabalhadora uma derrota estrutural, pois ao aceitar essa forma de avaliação, aplicada para todos de maneira igual, como se a educação fosse ofertada de maneira igual para todos, estamos aceitando que não existem classes sociais nas escolas, quando sabemos que na sociedade capitalista a escola sempre foi dual, uma para os filhos da burguesia, outra para os filhos dos trabalhadores.
Esse Movimento compreende que a educação deve ser objeto de Parcerias Público-Privadas (PPP). Nessa mesma perspectiva, existem várias corporações que atuam na educação, dentre elas está a ABAG que desenvolve, a partir de 2008, o Programa Educacional Agronegócio na Escola (fonte), em escolas municipais do 6º ao 9º ano, na região de Ribeirão Preto, São Paulo, conhecida como “capital do agronegócio”. Esta ação pedagógica foi definida após diagnóstico que identificou uma imagem negativa do agronegócio, vinculada ao trabalho escravo e às queimadas e teve por objetivo mudar essa imagem, associando-a ao tema da sustentabilidade. Ressaltamos que, de 2001 a 2008, o Programa foi desenvolvido em parceria com a rede estadual, destinado aos estudantes do Ensino Médio para lhe ensinar os fundamentos do agronegócio.
O desenvolvimento do Programa requer a adesão de docentes para cumprir a função de intelectuais, na concepção gramsciana, responsáveis pela elaboração dos projetos pedagógicos, a partir da intencionalidade da ABAG expressa no material didático fornecido para o desenvolvimento do trabalho. São sujeitos da classe trabalhadora, introduzindo no seio desta, através da educação de seus filhos, a ideologia da classe dominante (LAMOSA, 2014). 
Nessa mesma linha da ABAG, a Vale, supostamente preocupada com a melhoria da qualidade de vida das comunidades por onde passa a Estrada de Ferro Carajás, através da Fundação Vale, elabora projetos sociais alicerçados em três pilares: Saúde, Educação e Geração de Trabalho e Renda, na perspectiva de fortalecimento das políticas públicas. Esses projetos são realizados através daquilo que a Fundação denomina de Parceria Social Pública-Privada (PSPP) entre a Vale e os atores�: atores locais, gestores públicos, lideranças comunitárias e população. Sua estratégia é de cooperação com parceiros externos, através de termos de cooperação e convênios estabelecidos com os Ministérios da Educação, da Saúde e das Cidades e órgãos do Governo Federal, como a Secretaria Nacional dos Direitos Humanos. Participam Organizações Não Governamentais (ONG), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), e as Universidades (VALE, 2014). 
O conceito Parceria Social Público-Privado foi cunhado pela própria Vale, em 2012, por um Grupo de Trabalho� (GT) multidisciplinar formado por especialistas nacionais e internacionais, nas áreas de desenvolvimento sustentável, planejamento urbano, investimento social corporativo e relação com o poder público, voltado para a produção de conhecimento sobre o novo papel do governo, empresas e sociedade diante das transformações do mundo contemporâneo, expresso no Texto de Referência sobre Parceria Social Público-Privada. Segundo a Fundação, a iniciativa teve como ponto de partida a necessidade de atualização do embasamento de seus investimentos sociais, considerando que o modelo de negócio da Vale está diretamente relacionado ao desenvolvimento territorial (FUNDAÇÃO VALE, 2013).
O documento traz uma leitura de que os municípios por onde passam os grandes empreendimentos empresariais, especificamente no caso da mineração, objeto de estudo do GT, apresentam déficit na infraestrutura urbana, escassez de mão de obra qualificada, fragilidade na gestão pública, baixa oferta de serviços públicos e que são as empresas a única fonte de renda e desenvolvimento nesses territórios. Com base nisso, defendem a necessidade de uma articulação intersetorial para superar as ações fragmentadas e da sociedade, devendo-se estabelecer um “diálogo intragovernamental e intersetorial e, sobretudo, ao diálogo com a comunidade, como sujeito social relevante que atua na esfera pública” (FUNDAÇÃO VALE, 2013, p. 9).
Para o sucesso da PSPP, é necessário entender que o engajamento de todos os atores viabiliza o aperfeiçoamento das políticas e das ações desenvolvidas pelas comunidades. A visão da PSPP, nesse sentido, assenta-se no conceito de esfera pública, entendendo que a cidadania não se restringe ao âmbito do Estado, que “a vida pública” não é feita apenas dos atos do governo, mas também de ações de grupos, instituições e indivíduos que têm por fim atender os objetivos sociais (FUNDAÇÃO VALE, 2013, p. 14).
O diferencial nesse novo conceito de Parceria Social Pública-Privada é o elemento da participação da esfera social e comunitária, ou seja, a participação da comunidade nas decisões sobre os projetos que devem ser desenvolvidos para amenizar as mazelas existentes nos territórios por onde passa ou se instala a empresa, de maneira que o sujeito se sinta responsável pela solução dos problemas que afligem os municípios/comunidades que, aliás, são muito bem descritos pela própria empresa no documento. A sociedade passa a ser agente da parceria, sob sua nova roupagem, a da cooperação.
Além da Fundação Vale, o documento traz vários outros exemplos de empresas e seus braços que estabelecem parcerias intersetoriais, dentre elas, o Instituto Camargo Correa, criado para orientar o investimento social privado das empresas do Grupo Camargo Correa e que, em 2011, assinou um acordo de cooperação técnica e financeira com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para ampliação de seus projetos, num valor de 50 milhões de reais, sendo metade desse valor financiado pelo banco e a outra pelo próprio Instituto. Essa ampliação deverá abranger municípios relacionados ao Programa Territórios da Cidadania�, do Governo Federal que tem como meta superar a pobreza e gerar renda no meio rural (FUNDAÇÃO VALE, 2013, p. 44).
Cita-se também o Instituto Votorantim, criado em 2002, para promover o diálogo entre as empresasdo grupo e as comunidades, partindo da ideia da sustentabilidade e desenvolvimento das comunidades como premissa para desenvolver bem os negócios em regiões de extrema pobreza. Exemplo é o município de Primavera, no Nordeste do Pará, onde a Votorantim Cimentos prevê a produção de 1,3 milhão de toneladas de calcário ao ano, a partir de 2015, enquanto os indicadores sociais enfatizam que metade da população de 10.000 habitantes está abaixo da linha de pobreza e os serviços públicos de saúde, assistência social e sistema de saneamento básico são precários e insuficientes. A partir dessa realidade e dos questionamentos da comunidade e do Ministério Público acerca dos impactos do investimento no município, o Instituto Votorantim entra em ação para fazer um estudo de impacto social e elaborar um plano de desenvolvimento sustentável para Primavera, articulando parcerias intersetoriais e recursos para desenvolver seus projetos sociais (FUNDAÇÃO VALE, 2013, p. 69).
Dentre as ações do plano elaborado pelo Instituto Votorantim está, inclusive, a revisão do Plano de Ações Articuladas (PAR) que permitiu à prefeitura acessar recursos do MEC e governo do Estado para a construção de uma escola de Ensino Fundamental e Educação Infantil, indicando a incidência orgânica da empresa na educação do município (fonte). Foram feitas capacitação de gestão municipal, capacitação de mão de obra, através de cursos de qualificação profissional e cursos técnicos, com possibilidades de ampliação via PRONATEC (FUNDAÇÃO VALE, 2013, p. 72).
Outro exemplo “bem-sucedido” de parceria intersetorial que o relatório da Fundação Vale apresenta é o da empresa Gerdau, uma das principais fornecedoras de aço no mundo. Igualmente às demais, tem como seu braço o Instituto Gerdau que desenvolve seus projetos de responsabilidade social. Logo após sua implantação na região da Serra do Ouro Branco, em Minas Gerais, criou o Programa de Educação e Conservação Ambiental Gerdau Germinar, a partir de uma demanda apresentada pelas comunidades de interesse em conhecer o processo de produção e a relação com o meio ambiente. O Programa é calcado no trinômio educação, ambiente e cidadania (FUNDAÇÃO VALE, 2013, p. 74).
Tivemos a oportunidade de conhecer de forma breve, pelo documento da Fundação Vale, quatro empresas e seus braços criados com o mesmo objetivo, os territórios por ocupados e ações em parcerias com o poder público e demais setores da sociedade. É nessa relação que se dá o processo de convencimento da população de que a empresa, ao desenvolver seus negócios, não está preocupada apenas em obter lucros e seu próprio crescimento econômico, mas, sim, de que está realmente preocupada com a sustentabilidade dos territórios, com a não oferta dos serviços públicos pelo Estado e em minimizar as desigualdades sociais, passando a ideia de que aquele grande empreendimento causa impactos positivos e a empresa, em parceria com todos os atores, pode solucionar as carências dos municípios e melhorar a qualidade de vida da população.
Vimos que para as corporações organizarem seus projetos de responsabilidade social, em que os projetos educacionais sempre estão inseridos, foi necessário criar Institutos e/ou Fundações e formar seus intelectuais orgânicos que vão disseminar suas ideias como as ideias de toda a sociedade. Ou seja, são os empresários educando o conjunto da sociedade e, em particular, a classe trabalhadora na perspectiva da hegemonia da classe dominante.
Outro exemplo que podemos citar nessa arena de luta é a apropriação pelo grande capital dos recursos públicos, através das políticas sociais, como o PRONATEC–CAMPO�, que deveria ter sido elaborado a partir dos princípios da educação do campo, da necessidade e com a participação dos sujeitos do campo, no entanto, foi elaborada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), ligado à CNA, de acordo os interesses da mesma, conforme declara o Manifesto� do Fórum Nacional de Educação do Campo – FONEC: 
Não reconhecemos a proposta do PRONATEC Campo elaborada pelo SENAR/CNA, pelo projeto de campo que representa e porque como política o PRONATEC ignora as experiências de Educação Profissional realizadas por instituições como SERTA, MOC, ITERRA, Escolas Famílias Agrícola – EFAs, Casas Familiares Rurais – CFRs e pelo próprio PRONERA em parceria com os Institutos Federais, entre outras. (2012, p. 3).
O programa não só foi elaborado pela entidade, como tem sido acessado pela CNA, através de seu braço SENAR, com o objetivo de formar rudimentarmente mão de obra barata para o desenvolvimento do agronegócio, como enuncia uma de suas mais ilustres representantes, Kátia Abreu:
 
O Tocantins tem se destacado em todo o país pela qualidade dos cursos oferecidos e também pela demanda atendida. Em 2012, quando o programa foi lançado no nosso estado, inclusive com a presença da presidente Dilma Roussef, idealizadora do programa, conseguimos formar cinco mil alunos, batendo recorde nacional. Em 2013, pela segunda vez também conseguimos o maior número de alunos formados no país, com mais de 11 mil. E para este ano a nossa meta é de 28 mil. Este sim é o verdadeiro salto para um futuro promissor através da educação. 
Vemos não apenas a interferência das empresas na educação, utilizando-a como instrumento para transmitir os valores e interesses de uma classe ou de uma fração de classe como se fossem os de toda a sociedade, como vemos entidades que representam a classe dominante se apropriarem de políticas públicas conquistadas pela classe trabalhadora, dando-lhes outro sentido ou, ainda, políticas que foram construídas com o intuito de fortalecer as parcerias público-privadas, como é o caso do PRONATEC.
No capítulo seguinte vamos tratar especificamente da empresa Vale, traçando um breve histórico, desde sua criação como empresa estatal, o processo de privatização, que se deu em 1997, até os dias atuais, apontando as contradições do chamado “desenvolvimento” na relação com a camada da população atingida pelos trilhos de ferro. Traremos, também, o histórico da Fundação Vale, seus objetivos, sua missão pedagógica, os seus princípios e valores, mapeando os projetos e ações desenvolvidos, mostrando como são definidos, implantados e com quais interesses e a abrangência no Maranhão. 
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CAPÍTULO II - A FUNDAÇÃO VALE E O COMPROMISSO SOCIAL COM A EDUCAÇÃO
Neste capítulo trataremos da Fundação Vale, partindo de uma breve contextualização da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), empresa estatal criada em 1942, sob a égide do desenvolvimento do capitalismo brasileiro, passando pela era da privatização que demarca o novo modelo em que se insere a economia brasileira, o neoliberalismo, ainda perseguindo a mesma meta de décadas atrás, a do desenvolvimento da economia do país e de sua inserção e manutenção no cenário internacional. Em 1997, a empresa passa de estatal à privada e recebe uma nova denominação: Vale. Em seguida, faremos uma apresentação do histórico da Fundação Vale, quando foi criada, com que objetivos, qual sua missão pedagógica, seus princípios e valores, seus projetos e ações desenvolvidas. 
Dedicaremos mais tempo e estudo aos projetos educacionais, identificando a abrangência destes no Maranhão, tendo em vista compreender o cerne da proposta educacional de uma empresa transnacional, considerada a maior mineradora do mundo, através de seu instrumento que é a Fundação Vale, sob a hipótese de que a mesma foi criada com o objetivo de construir o consenso e o consentimento da população em torno das ações destruidoras da empresa. 
2.1 Da Companhia Vale do Rio Doce à transnacional Vale
No Brasil, o período de 1930 a 1950 configurou-se como um momento importante para a história da industrialização do país que teve seu ápice na década de 1970, durante o regime militar com o chamado “milagre econômico”. Esse período foi caracterizado pela interferência do Estado brasileiro na economia nacional, no intuito de transformá-lo em um país desenvolvido. 
Para isso, foram construídasferrovias, portos, rodovias, indústrias de mineração, hidrelétricas e foi criada a Companhia Vale do Rio Doce, em 1942, pelo Decreto Lei nº 4.352, de 1º de junho assinado pelo presidente Getúlio Vargas. A principal motivação era fornecer minérios aos EUA e Inglaterra para a fabricação de armas e, posteriormente, ao Japão que necessitava do minério para se reconstruir no pós II Guerra Mundial.
Essa ideia de transformar o Brasil num país de primeiro mundo, deixando de ser agrário para ser “moderno”, “desenvolvido”, associando a ideia do urbano ao industrial, perseguiu Getúlio Vargas que em seu segundo mandato, de 1951-1954, criou a Petrobrás (1952) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Nesse período, o governo brasileiro assumiu um papel importante de controle e condução da Vale (RIBEIRO JUNIOR, 2011), pois, na década de 1950, o Governo assume de forma definitiva o controle do sistema operacional da mineradora.
Mais especificamente no governo de Juscelino Kubitschek, o processo de industrialização, de produção de máquinas, insumos, ferrovias foi bastante estimulado. A máxima era fazer avançar a industrialização e substituir as importações, tendo como prioridade a entrada do capital estrangeiro através de empréstimos, o que acarretou posteriormente uma enorme dívida externa, problema a ser solucionado pelos governos seguintes.
O Brasil adentra a década de 60 com o modelo econômico industrial definido, com um crescimento de 7% ao ano, porém com uma alta inflação e um descontrole das contas públicas. Nesse período, a Vale representava 69,9% das exportações de minério de ferro do Brasil e, em 1976, é considerada a principal exportadora de minérios do Brasil (IBASE, 2014).
Essa investida no processo de industrialização continua no período da Ditadura Civil-Militar com foco na especialização minério-exportadora e na criação de grandes projetos, entre o final da década de 70 e o início da década de 80 do século XX, como foi o Programa Grande Carajás, que abrange o Maranhão e o Pará, para exploração de jazidas de minério de ferro existentes no estado do Pará. Foi necessário realizar empréstimos junto ao Banco Mundial, aumentando a dívida externa outrora mencionada. Este foi o principal programa criado nesse ramo e o governo de João Figueiredo (1979 – 1985) acreditava que seria fundamental para a negociação da dívida pública.
O projeto da Estrada de Ferro de Carajás é de 892 quilômetros de extensão e transportava anualmente 35 milhões de toneladas de minério da Serra dos Carajás para o Porto de Madeira em São Luís, num trem que mede 3,5 quilômetros de comprimento, composto de 330 vagões, que atravessa 23 municípios no Maranhão e 4 no Pará, passando por mais de 100 povoados, onde habitam os diversos sujeitos do campo: ribeirinhos, quilombolas, indígenas, quebradeiras de coco, assentados da reforma agrária (IBASE, 2014; SILVA, 2013).
Para a implantação do programa foi necessário um trabalho de convencimento da população, através do discurso de desenvolvimento e da geração de emprego e renda. Entretanto, o que correu foi a estruturação de um complexo siderúrgico que se explica em si mesmo e que causou vários impactos, desde a década de 1970, quando foram realizadas as desapropriações nos povoados por onde iria passar a ferrovia. Uma vez instalada, as comunidades sofrem interferências irreparáveis em seu modo de vida: “desde as atividades mais corriqueiras do dia-a-dia, como ir à roça e à escola, até os momentos mais sagrados e reverenciais do existir, como o nascimento e a morte, nesses povoados, dão-se sob os ditames da infraestrutura férrea” (SILVA, 2013, p.11).
Na década de 80, a CVRD destinava 48% de sua produção para o mercado asiático, especialmente o Japão, entretanto, no final dessa década, a empresa tem um prejuízo de 150 milhões de dólares e uma dívida de US$ 3 bilhões, ocasionado pelos sucessivos empréstimos efetuados e pela desvalorização do dólar, entre os anos de 1985 e 1987. Esse foi um dos argumentos utilizados anos depois pelo Governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) (1995 – 2002) para efetivar a privatização da empresa, mesmo que no ano seguinte tenha havido o aumento das exportações e a estabilização do dólar, elevando os rendimentos para 210,5 milhões de dólares e 743,5 milhões, em 1989 (IBASE, 2014).
Em 1997, o governo FHC implantou o Plano Nacional de Desestatização, utilizando-se da justificativa de que com as privatizações seria possível diminuir a dívida pública e dentre as estatais privatizadas estava a CVRD, cujo controle acionário foi repassado para a iniciativa privada por R$ 3,338 bilhões. É válido ressaltar que essa medida não resolveu o problema da dívida pública, que aumentou de 32,84% do PIB (1997), para 39,40% (1998) e 48,50% (1999) (IBASE, 2014).
Quem mais se beneficiou com essa privatização foi o mercado financeiro que entre os anos de 1997 e 2013 totalizam um lucro de US$ 37,286 bilhões, os trabalhadores foram os maiores prejudicados, tendo em vista a demissão em massa de mais de 5.000 trabalhadores, entre 1996 e 1997, e ainda sofreram uma redução no salário. Outros impactos para os trabalhadores foram a ideologia individualista e competitiva adotada pela CVRD e a terceirização que remete à precarização do trabalho, pois as empresas contratadas para prestarem serviços à CVRD precarizam ainda mais o trabalho, pagando valores inferiores aos que eles recebiam anteriormente (IBASE, 2014).
A afirmação de quem mais se beneficiou com a privatização foi o mercado financeiro se evidencia quando constatamos que, no período de 2001 a 2011, as ações da empresa valorizaram em 834%. Período em que se intensificou a internacionalização da empresa, sob a administração de Roger Agneli, ampliando a atuação da Vale no Canadá, Nova Caledônia, Japão, Angola, África do Sul, Argentina, Chile, dentre outros. Em 2007, o supracitado presidente anunciou a mudança no nome da mineradora, de CVRD para Vale, sob a justificativa da necessidade de uma marca global, considerando o contexto da globalização (IBASE, 2014).
Ressaltamos que, atualmente, a política de desenvolvimento do país tem como setor estratégico a mineração, uma vez que detém as maiores reservas mundiais de nióbio, é o segundo maior produtor de minério de ferro, o terceiro de bauxita e o sexto de manganês. Este setor se consolidou nos dois últimos governos federais através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 1 - 2008-2010; PAC 2 - 2011-2014) e tem como referência as grandes corporações internacionalizadas, como a mineradora Vale, que está entre as seis maiores empresas internacionalizadas do setor mineral brasileiro e das mais lucrativas do país (FAUSTINO, 2013). 
Um dado importante para compreendermos o significado deste setor para a economia brasileira, especialmente no que se refere à inserção do país no mercado global, é o aumento da extração do minério de ferro de 212 milhões de toneladas anuais para 390 milhões, no período de 2000 a 2011, sendo que 330 milhões de toneladas foram destinadas à exportação, representando, em 2011, 91,6% das exportações dos bens primários de mineração. Destacamos ainda que a Vale é responsável pela exportação de 84% do minério de ferro produzindo no Brasil (FAUSTINO, 2013). Dada a importância do setor de mineração para a economia brasileira, o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) informou a previsão de um investimento de US$ 75 bilhões para a indústria de minério, principalmente de ferro, no período de 2012-2016, quando, até então, o investimento era de US$ 15 bilhões (FAUSTINO, 2013).
Nessa perspectiva, a Vale pretende aumentar sua produção de 110 milhões de toneladas ao ano para 230 milhões, através do projeto de expansão Ferro Carajás S11D, que consiste na abertura de uma nova mina, a duplicação da Estrada de Ferro Carajás, a expansão do Terminal Portuário de Ponta da Madeira, dentre outras ações. Decerto, a Vale contará com o apoio do Estado, considerando a definição de investimento no setor e a prática que vem acontecendode apoio aos seus projetos, a exemplo do empréstimo de R$ 3,882 bilhões que o BNDES fez para a empresa, em 2012, o maior empréstimo para uma única empresa neste ano (FAUSTINO, 2013).
Faz-se necessário compreender que, nesse contexto de desenvolvimento, tanto na perspectiva do Estado desenvolvimentista, onde os aparatos do Estado são colocados a serviço do desenvolvimento capitalista dos países periféricos, como na perspectiva do Estado neoliberal, onde a iniciativa privada tem total liberdade de atuar e definir o mercado e a economia, é produzida uma enorme desigualdade social, na qual os frutos da modernização econômica são absorvidos pelos proprietários, sendo negada à maioria da população a possibilidade de usufruir desses frutos. Isso pode ser constatado ao analisarmos, por exemplo, a realidade socioeconômica dos municípios por onde passa o maior trem do mundo, transportando toneladas de minério, que se traduzem numa riqueza extraordinária em matéria prima do país. Esta realidade não é, porém, objeto deste estudo, entretanto sabemos que o Maranhão é um dos estados mais pobres, ao mesmo tempo em que sedia o Porto da Madeira que recebe e exporta diariamente o minério produzido no Pará. 
Na verdade, existem enormes contradições entre o desenvolvimento do capital brasileiro e a garantia de direitos humanos, o que se evidencia nesse caso específico da Vale, responsável pelo complexo de extração, beneficiamento e escoamento do minério de ferro de Carajás (PA) ao Porto da Madeira, em São Luís (MA), e pela violação dos direitos decorrentes desse processo. 
O que resta às populações atingidas pela Estrada de Ferro Carajás é a violação dos direitos humanos e sociais, conforme elencam Coelho e Faustino (2014, 2013): a Vale é campeã em conflitos socioambientais pelo mundo, causando desmatamento e perda da biodiversidade; estabelece parcerias com siderúrgicas que utilizam mão de obra escrava para produzir carvão vegetal; causa vários impactos às comunidades do entorno das minas e ferrovias, tais como mortes por atropelamentos nas ferrovias (foram 175 até 2012); remoção forçada das famílias de seus territórios, interferência na sociabilidade das comunidades, migração, poluição sonora, do solo, do ar e da água que causam doenças pulmonares, oftalmológicas e dermatológicas, mortalidade dos peixes e de animais silvestres; provoca rachaduras nas casas; utiliza serviço de espionagem ao movimentos sociais, ativistas políticos e funcionários; tem influência na não regularização da áreas quilombolas e indígenas; tem influência política sobre o sistema educativo, inferindo na autonomia cultural das comunidades; dentre outros casos de violação de direitos. 
O papel do Estado tem sido de apoio à mineradora em nome da inserção e manutenção do país no mercado internacional. Afirmação fundamentada em atitudes do Estado como o apoio ao projeto S11D de expansão do complexo, com a abertura de novas minas na Flonaca�, duplicação da Estrada de Ferro Carajás e ampliação do Porto da Madeira, atendendo ao interesse da empresa em acumular mais capital, sem levar em consideração os problemas ambientais e sociais, que serão acrescidos e as necessidades e direitos coletivos.
Esse apoio se dá tanto do ponto de vista financeiro, com empréstimos bilionários pelo BNDES, conforme tratamos, como através do licenciamento ambiental realizado pelo (IBAMA) de forma fragmentada, como tem ocorrido no processo do S11D. Assim, o Estado dá o suporte político e aprova marco regulatório, tudo com base na ideia de internacionalização da economia brasileira, legitimando a empresa perante a sociedade, sob a justificativa de que está promovendo o desenvolvimento nacional.
Mais que isso, o Estado passa ao setor não estatal o papel de prestação de serviços sociais e de infraestrutura, especialmente educação e saúde, considerando a sua capacidade limitada em oferecer esses serviços, cabendo-lhe apenas o papel de coordenar e regular, juntamente com a sociedade, a implementação das políticas públicas, calcado no aporte legal que é o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (BRASIL. MARE, 1995). Com isso, temos elementos para melhor conhecer e compreender o histórico e atuação da Fundação Vale.
Antes de adentramos nessa questão, ressaltamos que tanto houve uma reação contrária da população à privatização, como há neste momento em relação ao projeto de expansão Ferro Carajás S11D. Em 1997, ano em que ocorreu a privatização, foi realizada uma grande mobilização em todo o país contra a venda fraudulenta da CVRD. Após consolidado o processo, houve um movimento da sociedade civil organizada, movimentos sociais e populares deram entrada em ações populares, chegando ao total de mais de cem ações, alegando o não cumprimento dos aspectos legais previstos na Lei de Licitações. Em 2007, os movimentos pastorais sociais, articulados na Assembleia Popular, organizaram o Plebiscito Nacional sobre a Privatização da Companhia Vale do Rio Doce. A consulta popular teve sua culminância na mobilização do Grito dos Excluídos, neste mesmo ano. Mais de 3,7 milhões de pessoas votaram em 3.200 municípios distribuídos de Norte a Sul do Brasil, com um resultado de 94,5% de votos a favor de que a Vale saísse das mãos do controle privado e voltasse para as mãos do Estado. (THUSWOHL, 2007).
A partir de outros espaços de luta internacional contra o neoliberalismo, de cunho anti-imperialista e anticapitalista foi sendo construída uma Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale com o objetivo de reunir os mais diversos movimentos sociais, ambientalista e sindicalistas dos países onde a Vale está instalada, com a finalidade denunciar e enfrentar os impactos causados pela transnacional. Essa articulação teve como marco importante o I Encontro dos Atingidos pela Vale, em 2010 no Rio de Janeiro. Até 2013, aconteceram mais dois encontros que resultaram num acúmulo de debate entre as várias organizações, encaminhando para a definição de plataformas de lutas em comum sobre três eixos:
o primeiro, relacionado às reinvidicações trabalhistas, contra a precarização do trabalho e por condições dignas de trabalho; o segundo, centrado nas questões territoriais das comunidades e bens da natureza, pela institucionalização de territórios livres da mineração; e o terceiro, articulando uma relação com o conjunto da sociedade (SOUSA, 2013, p.97).
	Em 2014, aconteceu um importante evento, o “Seminário Interacional Carajás: 30 anos”, cuja base de construção se deu com a participação das comunidades atingidas pela Vale e teve como principal objetivo avaliar o significado e os resultados do Programa Grande Carajás após 30 anos de sua implementação e refletir sobre as contradições do ciclo da mineração e siderurgia. O processo de mobilização foi intenso e bastante participativo, com a realização de quatro seminários preparatórios no Maranhão – em Imperatriz e Santa Inez – e no Pará – Marabá e Belém – que contou com a participação dos atingidos pelos grandes projetos, movimentos sociais, pastorais, sindicatos e Universidades, num diálogo necessário para construção de estratégias de luta em defesa da vida desses povos. Não se tratou apenas de um evento, mas de uma importante articulação com os diferentes sujeitos sociais, na perspectiva de uma leitura aprofundada da realidade; tratou-se de um momento ímpar de discussão e divulgação junto à sociedade do significado para a população desse ciclo de produção e dos grandes projetos realizados em nome de um suposto desenvolvimento�. Podemos dizer que se tratou de um espaço importante de construção da contra-hegemonia.
Figura 1: Mística realizada durante o Seminário Internacional. Maio 2014.
Fonte: http://justicanostrilhos.org/
Figura 2 Mobilização em defesa das comunidades impactadas pelo Programa Grande Carajás. Maio 2014.
Fonte: http://justicanostrilhos.org/
Após a contextualização trataremos no item seguinte da Fundação Vale, respondendo às questões: quando foi criada a Fundação Vale? Quais os seus objetivos,sua missão pedagógica, os seus princípios e valores? Quais os seus projetos e ações desenvolvidas?
2.2 Histórico e caracterização da Fundação Vale
A Fundação Vale foi criada em 1968, inicialmente com o objetivo de atender à demanda de habitação de um público específico, que eram os empregados da Vale. Em 1997, ano de sua privatização, passa por uma revisão e ampliação, tendo como base as discussões sobre o papel do Terceiro Setor no desenvolvimento das comunidades e desenvolver ações e programas para que o desenvolvimento local, resultante dos negócios da empresa. Pretendia deixar um legado positivo alicerçado em práticas sustentáveis que beneficiassem tais comunidades e gerassem valor para o território, ou seja, transformando recursos naturais em prosperidade e desenvolvimento sustentável (FUNDAÇÃO VALE, s/d, p.7).
Esse discurso da Vale de práticas sustentáveis, de transformar recursos naturais em prosperidade e desenvolvimento sustentável, de gerar valor para o território não condiz com o quadro que apresentamos acima de impactos negativos causados às comunidades e de violação dos direitos humanos, como exemplo o número expressivo de mortes causadas por atropelamento na ferrovia, lembrando que, segundo depoimento feito durante o Seminário Internacional Carajás 30 anos, a empresa não tem a iniciativa em prestar assistência às famílias das vítimas e utiliza o discurso de que as pessoas estavam alcoolizadas (ANAIS, 2015, p.210). Nem tão pouco, quando analisamos o diagnóstico sócioeconômico dos municípios por onde passa a transnacional e constatamos que o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) é inferior à média do estado, que é inferior à média do país, o que lhe dá o título de um dos estados mais pobres da federação. É o que demonstra a tabela abaixo:
	
			
IDHM MUNICÍPIOS MA POR ONDE PASSA A VALE
	
	Lugar
	2000
	2010
	Brasil
	0,612
	0,727
	Maranhão
	0,476
	0,639
	Açailândia (MA)
	0,498
	0,672
	Alto Alegre do Maranhão (MA)
	0,331
	0,554
	Anajatuba (MA)
	0,397
	0,581
	Arari (MA)
	0,47
	0,626
	Bacabeira (MA)
	0,433
	0,629
	Bom Jardim (MA)
	0,332
	0,538
	Bom Jesus das Selvas (MA)
	0,364
	0,558
	Buriticupu (MA)
	0,342
	0,556
	Cidelândia (MA)
	0,414
	0,6
	Igarapé do Meio (MA)
	0,341
	0,569
	Itapecuru Mirim (MA)
	0,431
	0,599
	Itinga do Maranhão (MA)
	0,48
	0,63
	Miranda do Norte (MA)
	0,471
	0,61
	Monção (MA)
	0,366
	0,546
	Pindaré-Mirim (MA)
	0,459
	0,633
	Santa Inês (MA)
	0,512
	0,674
	Santa Luzia (MA)
	0,33
	0,55
	Santa Rita (MA)
	0,446
	0,609
	São Luís (MA)
	0,658
	0,768
	São Pedro da Água Branca (MA)
	0,415
	0,605
	São Pedro dos Crentes (MA)
	0,365
	0,6
	Tufilândia (MA)
	0,37
	0,555
	Vila Nova dos Martírios (MA)
	0,379
	0,581
	Vitória do Mearim (MA)
	0,438
	0,596
Fonte: PNUD, IPEA, Fundação João Pinheiro. 2013.
O quadro desmistifica a ideia propagada pela empresa que, ao mesmo tempo em que realiza seus negócios com sucesso e lucratividade, investe em ações voltadas para o desenvolvimento sustentável dos territórios e melhoria da qualidade de vida da população.
Compreendendo que o desenvolvimento sustentável não é uma tarefa possível de ser realizada de forma isolada, a Fundação Vale busca realizar alianças intersetoriais estratégicas com base no conceito de Parceria Social Público-Privada (PSPP) e no fortalecimento das políticas públicas nas diversas esferas (FUNDAÇÃO VALE, p. 11). Como afirmamos, esse conceito foi cunhado em 2012 por um grupo de especialistas nacionais e internacionais, e tem seu significado expresso na ideia de somar esforços, recursos e conhecimento em função de metas comuns que visem o desenvolvimento do território. Assim, a partir da PSPP, a Vale enquadra todos os atores locais, gestores públicos, lideranças comunitárias e população numa estratégia de cooperação, com parceiros externos, através de termos de cooperação e convênios estabelecidos com o Governo, Organizações Não Governamentais (ONG) e Universidades, para desenvolver seus projetos sociais (VALE, 2014).
Além de dizer estar preocupada com a sustentabilidade dos territórios, a Vale também afirma estar preocupada com o fortalecimento das políticas públicas que têm sido fragilizadas pela limitação do Estado em implementá-las, sendo necessário, nesta concepção, a interferência do setor privado na prestação dos serviços sociais, na gestão do público conforme estabelece o Plano Diretor do Estado (MARA,1995), em consonância com as definições e medidas neoliberais definidas pelos organismos internacionais. 
Nessa mesma lógica da Fundação Vale, um conjunto de fundações privadas e associações sem fins lucrativos as chamadas Fasfil, que aumentaram em 215,1% no período de 1996 a 2005, entram na arena política e “em troca de isenções fiscais governamentais e de prestígio social, realizam tarefa ético-política de construção e consolidação de um novo padrão de sociabilidade, segundo seus objetivos de classe” (NEVES et.al, 2010, p.187), ou seja: difundir a pedagogia da hegemonia mediante o empresariamento das políticas sociais, cada uma a seu modo, com seu interesse particular, seu discurso, sua missão, seus valores, mas numa atuação que culmina com o interesse geral da burguesia, o de manutenção da ordem do capital.
A Fundação Vale afirma ter como Missão: 
Contribuir para o desenvolvimento integrado – econômico, ambiental e social – dos territórios onde a Vale atua, articulando e potencializando os investimentos sociais, fortalecendo o capital humano nas comunidades e respeitando as identidades �.
Além de afirmar que respeita as identidades culturais locais, a Fundação diz procurar conhecer a realidade local através do diálogo com a comunidade, realizando diagnóstico sócio econômico dos territórios. Ainda segundo a Fundação, trabalha com base em seis valores, os quais fundamentam suas ações: “ética, transparência, comprometimento, corresponsabilidade, respeito à diversidade e accountability (capacidade de prestar contas e de assumir a responsabilidade sobre seus atos e uso de recursos)”�.
Em 2012, passa por uma nova reformulação no seu modelo de atuação, embora continue afirmando que o objetivo principal seja a melhoria da qualidade de vida das comunidades, passa a formular projetos sociais alicerçados em três nos pilares: saúde, educação e geração de trabalho e renda, na perspectiva de fortalecimento das políticas públicas. “Essa estratégia é construída em conjunto e a partir de uma visão compartilhada com o governo, empresas e organizações da sociedade civil”, conforme demonstra o organograma abaixo�:
Figura 3: Organograma da Fundação Vale, julho 2013.
Fonte: http://www.fundacaovale.org. 
	
Essa organização não se dá de forma isolada, faz parte de um programa específico que vem sendo desenvolvido pelo capitalismo brasileiro desde a última década do século passado, a Terceira Via. Tem como estratégia a forte vinculação com o chamado terceiro setor e como características a desresponsabilização do Estado das questões sociais; a responsabilidade social das empresas e organizações; a participação do indivíduo e grupos; o estímulo ao exercício da cooperação em vez da competição e ao voluntariado. 
Ou seja, a Fundação Vale só vai conseguir cumprir sua “Missão” se houver parceria entre o governo, a empresa e a sociedade civil, a denominada Parceria Social Público-Privada em que cada um dos parceiros tem seu papel definido. Tanto não é descolada da estratégia maior, definida, inclusive, por organismos internacionais que, conforme item anterior, o conceito de PSPP foi elaborado por um grupo de trabalho interdisciplinar formado por especialistas de instituições do âmbito nacional e internacional. Cabe ao governo garantir as políticas públicas, à empresa investir nos projetos e à sociedade civil, organizada e fortalecida, promover a qualidade de vida e o desenvolvimento humano, numa ação conjunta, intragovernamental e intersetorial,

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