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Preconceito Mascarado

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Preconceito mascarado 
 A desigualdade de gênero em profissões predominantemente masculinas. 
 Por: Brena Queiroz e Isabel Jales 
 Nos últimos anos, tornou-se comum a presença de mulheres em áreas 
profissionais que antes eram ocupadas, em quantia esmagadora, por homens. 
Pouco a pouco, as mulheres vêm quebrando paradigmas e se mostrando capazes 
de exercer essas funções, mas boa parte delas ainda sofre preconceito – muitas 
vezes de forma tão camuflada que nem elas conseguem enxergar. Em 2008, 
segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira 
(INEP), o número do público feminino em graduações das engenharias atingia 
índice de 21%. Para 2017, a previsão é de que seja 23%. Mesmo com o visível 
aumento, não há garantia de equiparação salarial com o sexo oposto que, de 
acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ganha 27,7% a 
mais. 
 Para conhecer o comportamento dessas mulheres, Brunilla Thaís Queiroz de 
Melo (26), assistente social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte 
(UFRN), está coletando dados, distribuindo questionários e entrevistando 
graduandas de cursos como Engenharia Elétrica, Ciências da Computação e 
Engenharia Mecânica, uns dos mais masculinizados da Instituição. Ela, que desde 
sua graduação se interessa pela temática dos gêneros, conta que a indignação ao 
pensar em “Por que existem ‘coisas de homem’ e ‘coisas de mulher’?” a inquieta 
muito. Tal inquietude resultou em sua tese de mestrado, intitulada: Os desafios e 
as dificuldades de mulheres em cursos predominantemente masculinos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Brunilla formou-se em Serviço Social na UFRN em 2008.2 e é funcionária da Instituição desde 
 2011. (Foto: Isabel Jales) 
 
 
 Cerca de 37 estudantes, de até no máximo 25 anos, já participaram da 
pesquisa da mestranda. Desse total, 46% informaram ter passado por alguma 
situação de discriminação e preconceito, e 22% afirmam ter dificuldades de 
relacionamento com docentes. Ana Clara Nobre Mendes (21), aluna do segundo 
período de Ciências da Computação, diz: “já sofri preconceito por um professor que 
desde o primeiro dia de aula me tratou com desdém. Fui até chamada a atenção 
pela minha forma de sentar! Era bem desagradável". Já no ambiente de trabalho, o 
medo de Ana Clara é em relação ao assédio sexual. Falou também que, certa vez, 
um cliente não deu crédito à sua explicação, sendo preciso chamar o chefe para 
reafirmar sua fala. Só assim ele aceitou. 
 Para Brunilla, essa desigualdade de gênero é algo complexo e difícil de ser 
superado, por ter sido criado culturalmente ao longo do tempo. Ela conta que, para 
suas entrevistadas, a maior dificuldade de reconhecimento não foi dentro do 
ambiente acadêmico, mas no mercado, onde muitas das vagas oferecidas às 
mulheres são em áreas que não exijam força física. “Muitas falam que dentro de 
um escritório homens e mulheres são iguais, mas fora desse espaço, a preferência 
ainda é masculina”. 
 Outra forma de preconceito são as piadas. Bárbara Silva de Souza (20), 
estudante do quarto período de Engenharia Elétrica numa turma onde apenas 6 
entre 45 pessoas são mulheres, diz que as piadas são de que as meninas levam 
vantagem por serem meninas, ou seja, por sua supervalorização. Mesmo que não 
seja de forma explícita, a discriminação está embutida. “É como se a garota só 
tirasse nota máxima por ser bonita, atraente ou frágil, mas nunca por seu próprio 
mérito. Enquanto a mulher não se destaca naquele universo masculino, a situação 
fica como está. Mas a partir do momento em que o desempenho feminino é mais 
alto que o masculino, os homens usam desses artifícios para diminuírem a condição 
alcançada por ela”, complementa a assistente social. Relação parecida pode ser 
feita com os erros. Se o homem erra, não há problema. Caso o mesmo erro seja 
cometido por uma figura feminina, ela é tratada com aversão. 
 Um grande estereótipo que designa as áreas das engenharias como 
masculinas é o “mulher bonita não se mela nem coloca a mão na massa”. Para 
desmistificar isso, Débora Augusta Oliani Caravina (18), estudante de Ciências e 
Tecnologia e futura engenheira mecânica, fala de sua participação no projeto Car-
Kará Baja. Visando a aplicação dos conhecimentos adquiridos em sala de aula e 
incremento do preparo para o mercado de trabalho, fornece ao aluno a 
oportunidade de planejar, projetar e executar a construção do protótipo Off Road. 
Débora é a única menina da equipe e não recebe tratamento diferenciado por isso. 
“Tenho que trabalhar na mesma quantidade que eles. Carregar coisas, apertar 
parafuso, sujar as mãos de graxa”, conta. 
 De modo geral, Brunilla Queiroz aposta que, para o problema ser combatido, 
é necessário implantar ações socioeducativas, tanto com homens quanto com 
mulheres. Acredita também que, se essa desigualdade de gênero foi adquirida pela 
construção de valores ao longo da história, o trabalho mais eficaz seria um que 
pudesse desconstruir os já impostos e reconstruir outros novos.

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