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A PAIDEIA GREGA COMO CONTRIBUIÇÃO PARA A REALIZAÇÃO DA JUSTIÇA ATRAVÉS DE UMA EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA E OS DIREITOS HUMANOS LA PAIDEIA GRECQUE COMME CONTRIBUTION À LA RÉALISATION DE LA JUSTICE AU MOYEN D’UNE ÉDUCATION POUR LA CITOYENNETÉ ET LES DROITS DE L'HOMME Nathália Lipovetsky e Silva RESUMO A História da Educação ocidental como a conhecemos atualmente começa na Grécia. O modelo grego clássico de educação, a paideia, visava à preparação do cidadão para a vida adulta, uma formação completa, um processo de educação que se perpetuava por toda a vida. A legislação sobre educação no Brasil hoje objetiva que a escola forme a pessoa para o trabalho e o exercício pleno da cidadania, o que poderia com sucesso ser feito seguindo o modelo grego de formação do homem para a vida na polis. Um projeto educacional que cumprisse os ditames da legislação e se apoiasse no modelo grego de paideia se prestaria, efetivamente, a realizar a justiça na contemporaneidade. PALAVRAS -CHAVES: Direito e Educação; Educação em Direitos Humanos; Educação na Grécia Antiga. RESUME L'histoire de l'éducation occidentale telle que nous la connaissons aujourd'hui commence en Grèce. Le modele grec classique, la « paideia », avait pour but la préparation des citoyens à la vie adulte, une formation complète, un processus d'éducation qui se perpétuait pour toute la vie. Aujourd’hui, la législation sur l'éducation au Brésil vise à former la personne pour le travail et le plein exercice de la citoyenneté, ce qui pourrait, avec succès, être correctement fait en suivant le modèle grec de formation de l'homme pour la vie dans la « polis ». Un projet éducationnel qui satisfasse les préceptes de la législation et au même temps qui s’appuie sur le modèle grec, servirait, effectivement, à réaliser la justice dans la contemporanéité. MOT-CLES: Droit et Éducation; Éducation en Droits Humains ; Éducation dans la Grèce Antique. Sumário: 1. Introdução; 2. Uma notícia sobre a paideia grega; 3. A educação em Atenas; 4. Os conceitos de educação e justiça em Platão; 5. A legislação brasileira para a educação formadora de cidadãos; 6. Conclusão: a potencialidade do modelo Antigo de formação para fundar a justiça universal concreta; 7. Referências bibliográficas. 1. Introdução 2896 * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 O presente trabalho busca demonstrar como o modelo grego de formação, a paideia, mantém até os dias de hoje a sua atualidade e como, sob uma perspectiva de educação em e para os direitos humanos, deveria ser adaptadamente adotado com vistas a garantir que a escola brasileira forme pessoas para o efetivo e concreto exercício da cidadania no lugar de apenas educar (ou pelo menos pretender, tendo em vista a qualidade do ensino oferecido na maioria das escolas públicas) as crianças com uma instrução meramente técnica. O direito à educação é um direito social garantido na Constituição, essencial para a dignidade humana, educação que, para Claude: "é valiosa por ser a mais eficiente ferramenta para crescimento pessoal. E assume o status de direito humano, pois é parte integrante da dignidade humana e contribui para ampliá-la com conhecimento, saber e discernimento. Além disso, pelo tipo de instrumento que constitui, trata-se de um direito de múltiplas faces: social, econômica e cultural. Direito social porque, no contexto da comunidade, promove o pleno desenvolvimento da personalidade humana. Direito econômico, pois favorece a auto-suficiência econômica por meio do emprego ou do trabalho autônomo. E direito cultural, já que a comunidade internacional orientou a educação no sentido de construir uma cultura universal de direitos humanos. Em suma, a educação é o pré-requisito fundamental para o indivíduo atuar plenamente como ser humano na sociedade moderna."[2] Para Hegel, a educação proporciona um segundo nascimento ao homem (uma vez que antes de ser educado este se encontra em estado de natureza), tornando-o autônomo, senhor de si. É na educação que o homem, racional em si, faz-se racional, sem perder de vista o estado de natureza que pretende superar, pois precisa ter uma referência para realizar tal superação[3]. Não se pode deixar de lado que "Hegel recebeu muita influência do mundo grego e identifica este com a realização do humano. Portanto, o estudo da cultura grega expressa nas línguas, na Filosofia, parece um procedimento natural. O homem derivado do mundo grego é aquele que se embrenha pela eticidade, pela razão, pelo espírito despojado de suas contingências. Saber e conhecer o que os gregos sabiam e conheciam significava garantir a formação de homens guiados pela razão e pelo espírito."[4] Afirma-se que a teoria da educação no ocidente já passou por três grandes revoluções, cada qual com seu elemento-chave: numa, destaca-se a emergência da mente, em seguida, da democracia, por último, do oprimido, sendo seus principais expoentes, respectivamente, Herbart, Dewey e Paulo Freire. Uma quarta revolução, em torno da emergência da metáfora, teria acontecido (e estaria acontecendo) nesta transição do século XX para o XXI, uma revolução pós-moderna, "acoplada a uma maneira de conversar, em termos técnicos de filosofia e filosofia da educação, que desloca as filosofias da educação que justificavam as teorias educacionais modernas, nomeadas aqui por Herbart, Dewey e Freire."[5] Não se pretende, aqui, traçar uma completa linha Histórica da Educação ou da Filosofia da Educação, motivo pelo qual autores como Aristóteles, Agostinho, Rousseau, Schleiermacher, Fichte ou Schelling, dentre outras possibilidades, não serão tratados. Como o objetivo é demonstrar que a paideia do período grego clássico[6] é um ideal a ser adotado para se alcançar a excelência na formação dos cidadãos brasileiros a partir de uma educação para os direitos humanos, serão brevemente analisados os conceitos de paideia grega, de educação e justiça em Platão, bem como um pouco da história da educação em Atenas e o atual contexto da legislação * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2897 brasileira em se tratando da educação e de suas finalidades, para que seja possível uma aproximação entre a formação Antiga do cidadão para a vida na polis e o que está positivado na legislação vigente no Brasil como objetivos da educação, e para que essa aproximação possa ser afirmada como elemento fundamental para a realização da idéia de justiça. 2. Uma notícia sobre a paideia A História da Educação, com o sentido que tem a educação na contemporaneidade, começa na Grécia. A educação é ínsita a todo povo que atinge certo grau de desenvolvimento e permite a perpetuação de sua forma de existência social e espiritual através da vontade consciente e da razão. A educação, por essência, pertence à comunidade, que se une e a seus membros por meio de leis e normas escritas e não escritas[7]. Cabe lembrar que a palavra paideia, que, inicialmente, significava "criação dos meninos", aparece apenas no século V a.C., mas as idéias educacionais que representa se baseiam em práticas anteriores[8] cujas raízes podem ser vislumbradas já nas obras de Homero, em quem começa a tradição da cultura grega, com os mais antigos relatos sobre a educação e o importante papel que já representava[9]. O conceito do ideal aristocrático de formação dos gregos até o século V a.C. se fundamenta no conceito de arete, que é retratada nos poemas homéricos como um atributo da nobreza, como um conjunto de qualidades espirituais, morais e físicas desejáveis em um homem. A arete é o heroísmo, no seu sentido de ação moral e intimamente ligada à força, contendo em si a bravura, a coragem e a honra.Na arete se baseava a educação da nobreza, cuja "força educadora" reside no "fato de despertar o sentimento do dever em face do ideal, que deste modo o indivíduo tem sempre diante dos olhos"[10]. O herói é o modelo a ser seguido, como ensina Marrou: "Tal é o segredo da pedagogia homérica: o exemplo heróico, παρ?δειγμα [paradigma]. Assim como a idade média terminou por nos legar a Imitação de Jesus, a idade média helênica nos transmitiu, por Homero, à Grécia clássica esta imitação de herói. É neste sentido profundo que Homero foi o educador da Grécia: como Fênix, como Nestor ou Atena, ele apresenta ininterruptamente ao espírito de seu discípulo modelos idealizados de ?ρετ? [areté] heróica; ao mesmo tempo, pela perenidade de sua obra, ele manifesta a realidade desta recompensa suprema que é a glória."[11] Esse conceito de educação pode ser expresso pelos ideais de beleza e bondade como realização da excelência física e moral. A ginástica e a música, para o desenvolvimento do corpo e da alma, são os elementos fundamentais do projeto educativo de então[12]. A partir do fenômeno dos Sofistas (ou, ainda, em conseqüência deste) a educação se torna um problema filosófico para os gregos e passa-se a buscar que a educação forme não apenas o homem, mas também o cidadão, exatamente quando o termo paideia começa a ser empregado como sentido da mais alta arete humana: educação no sentido estrito da palavra[13]. Paideia é, então, além da técnica de ensino que prepara a criança para a vida adulta, o resultado de um processo de educação que se perpetua por toda a vida. Não há em língua portuguesa uma palavra que * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2898 abarque o significado que davam os gregos para paideia, como explica Jaeger: "Não se pode evitar o emprego de expressões modernas como civilização, cultura, tradição, literatura ou educação; nenhuma delas, porém, coincide realmente com o que os Gregos entendiam por paidéia. Cada um daqueles termos se limita a exprimir um aspecto daquele conceito global, e, para abranger o campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los todos de uma só vez."[14] 3. A educação em Atenas O estudo da educação Antiga nos leva diretamente à nossa própria tradição pedagógica, tudo que há de essencial na nossa civilização já se encontrava presente na Grécia[15]. Em algum momento do século VI a. C., a educação em Atenas deixou de ser essencialmente militar[16], embora o serviço militar não tenha sido de todo abolido, e passou a se voltar mais à formação do caráter e do gosto, a ser mais individualista, momento em que passa a interessar mais estreitamente a este trabalho. Há relatos da existência de escolas por volta do início do século V a. C., quando já existia um sistema uniforme de educação que não era, no entanto, imposto por leis e nem regulado pelo Estado[17]. A educação era parte da iniciativa privada, e se submetia apenas a regulações como, por exemplo, as leis de Sólon sobre o horário de funcionamento das escolas e o número de alunos que cada uma podia abrigar[18]. A educação em Atenas, embora voluntária, era quase universal, o conhecimento da literatura era tradicional nas famílias aristocráticas e os ofícios manuais eram considerados indignos de um homem livre, por constituírem obstáculo ao desenvolvimento mental e corporal[19]. O dia escolar começava ao amanhecer e as crianças tinham aulas todos os dias, sem descanso semanal à exceção apenas dos feriados religiosos. No horário de almoço, as crianças faziam a refeição em casa, mas retornavam à escola na parte da tarde. O acompanhante das crianças durante todo o dia era um escravo de confiança, o pedagogo (παιδαγωγ?ς), que as levava à escola, transportava seus materiais e era responsável pelo comportamento e pela conduta moral das crianças que estavam sob sua confiança, mas não tinha nenhuma tarefa diretamente relacionada à aprendizagem propriamente dita. A metodologia de ensino era bastante avançada, tratando primeiramente das letras, depois das combinações de consoantes, vogais e os sons que delas resultavam, em seguida aprendia-se as formas das letras e as partes da oração. Posteriormente eram introduzidos a leitura e o ditado, e era obrigatório que as crianças soubessem recitar poesias. Ademais, haviam lições de aritmética com o uso do ábaco; as lições de música, que tinha não só valor moral em si mesma, mas era indispensável para a inteligência e interpretação adequada dos poetas; e o treinamento físico, composto por corrida, salto, luta, natação e até dança[20]. "Este plan de estudios, que consistía sólo en lectura y escritura, un poco de aritmética sencilla y mucha repetición de poesía, combinada con la necesaria cantidad de música sencilla y ejercicios físicos graduados, proseguía en la mayoría de los casos hasta los catorce años, poco más o menos, y se consideraba suficiente para todas las clases en los primeros tiempos de la historia ateniense."[21] As escolas superiores foram criadas por volta do ano 480 a. C., um dos motivos tendo sido a necessidade * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2899 dos jovens de famílias abastadas de se ocupar com alguma coisa no período entre o término dos estudos e o momento em que o Estado exigia seus serviços, demanda que foi em grande parte suprida pelos sofistas durante o século V a. C., e pelas escolas filosóficas do século IV a. C. em diante[22]. Não se pode deixar de lado que, neste período, a pederastia é um fator importante para a educação, considerava-se que o mais nobre amor é aquele da relação passional entre homens, mais precisamente, entre um mais velho, educador por essência, e um adolescente[23]. O amor grego, que é do tipo militar, contribuiu para a formação do ideal moral que sustenta a prática da educação helênica: "o desejo, do mais velho, de se afirmar aos olhos de seu amado, de brilhar diante dele, o desejo simétrico no mancebo de se mostrar digno de seu amante, apenas reforçam, num e noutro, este amor de glória que todo o espírito agonístico exaltava por toda parte: a ligação amorosa é o terreno de escolha onde se expõe uma generosa equiparação. De outro lado, é toda a ética cavaleresca fundada no sentimento da honra, que reflete o ideal de uma camaradagem de combate. A tradição antiga é unânime em ligar a prática da pederastia à valentia e à coragem."[24] A pederastia é, assim, uma forma de sensibilidade, de sentimentalidade, um ideal misógeno de virilidade total[25], questão assaz complexa que não deve ser anacronicamente interpretada, posto que se integra ao conjunto que constitui a vida Antiga: "De fato, os modernos perderam muito tempo examinando com malícia os testemunhos antigos relacionados aos 'amores entre rapazes' sem se interessar por nada além do aspecto sexual da coisa: uns quiseram fazer da antiga Hélade um paraíso para os homossexuais, o que é exagerado: o próprio vocabulário da língua grega e a legislação da maior parte das cidades atestam que a homossexualidade não deixou de ser considerada como um fato 'anormal'; outros procuraram se enganar por uma apologia ingênua da pederastia pura, oposta à inversão carnal, o que despreza os testemunhos mais formais"[26] Essa ligação amorosa é parte de um trabalho de formação e maturação do jovem, que se exerce pela freqüentação cotidiana, através de exemplos, conversas, vida comum e iniciação progressiva às atividades sociais do mais jovem pelo mais velho. A família não podia ser responsável pela educação dos filhos. A mulher só tinha competência para criar o filho bebê, até a idade máxima de sete anos. Depois disso, ele deve se tornar discípulo da formação dada por um homem sábio e experiente, pois seu pai nãopode se ocupar dessa tarefa, ocupado que está com os afazeres da vida pública. Não se pode deixar de lado o fato de que se trata de um meio aristocrático e que o homem é, antes de ser pai de família, cidadão, homem político[27]. Platão, no Banquete, chega a afirmar que a ligação pederástica estabelece entre o casal de amantes uma comunhão muito mais estreita que aquela que liga os pais às crianças[28]. 4. Os conceitos de educação e justiça em Platão Platão (427 - 347 a. C), discípulo de Sócrates que nasceu em Atenas, tinha origem aristocrática e pertencia a uma das mais nobres famílias atenienses. Deixou obra vasta, de grande profundidade e repercussão[29]. Para os propósitos deste trabalho, os diálogos d'A República serão a principal referência, embora haja conexões a * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2900 serem feitas com relação a outros textos, como o Banquete ou o Fédro. Educação e justiça para Platão são termos intimamente ligados, complementares, pois "a determinação do Estado justo e de suas instituições notadamente educativas é em si uma educação, uma constituição da justiça na alma"[30]. N'A República temos uma visão de homem construída em paralelo à noção de cidade justa, que seria dividida, assim como a alma humana, em três eixos fundamentais: temperança, coragem e sabedoria. Assim, o justo seria cada um dos indivíduos desempenhar na cidade sua aptidão natural, tendo sua alma sido educada para a vida justa, em suas partes, em nome da harmonia da polis[31]. O problema da justiça está no centro da reflexão platônica, em virtude de toda a injustiça que atingiu cidade de Atenas durante grande parte de sua vida: "Platão estava bem posicionado para calcular a gravidade: 'O período estava repleto de problemas, relembra Auguste Diès: de sua adolescência à casa dos trinta anos, de que espetáculos ele foi testemunha! A partida triunfal da expedição da Sicília e seu desastroso destino; o inimigo às portas de Atenas; a democracia revertida na Oligarquia dos Quatrocentos pronta a tratar com Lacedemono; a energia de Atenas se revelando por cassar os Quatrocentos e deixar o poder para uma sábia combinação de oligarquia e democracia; Alcebíades, Terameno e Tirasbulo reconquistando o Helesponto, depois o Bósforo, e o império ateniense se reconstituindo ao mesmo tempo que a concórdia interior; depois a derrota naval de Notium, o novo exílio de Alcebíade, a vitória dos Arginusos desonrados pelo vergonhoso processo dos generais, a frota ateniense aniquilada por surpresa em Aegospotamoi e Lisandra entrando à plenas asas no Pireu à frente da frota espartana, enfim, sob as astúcias de Lisandra, o estabelecimento do governo dos Trinta Tiranos numa Atenas desmantelada.'"[32] A República é um tratado da justiça e do Estado, em que Platão mostra que cada função deve se exercer pela virtude que lhe é própria, de modo que ao regular os apetites inferiores, a temperança condiciona a coragem, que ordena as paixões, o que, em conjunto, possibilita o exercício da sabedoria[33], e que, por sua vez, só pode ser alcançado através da educação. A educação, em Platão, deve formar homens de espírito direito, capazes de identificar o Bem e se guiar conforme os preceitos do mundo das Idéias[34]. A justiça é, então, harmonia, é um Bem em si mesma, que nasce do conhecimento, da educação, da formação. Para Deschoux "A justiça (dikaiosyne) é a virtude que convém a tudo, aquela que assegura a especialização das funções e impede a usurpação de uma pela outra. A justiça no indivíduo é feita da temperança dos desejos, da coragem das paixões, da sabedoria da razão; a justiça na sociedade, da temperança dos produtores e comerciantes, da coragem dos soldados, da sabedoria dos governantes."[35] A concepção platônica de educação serve de modelo, concomitantemente ao modelo grego de educação que o precedeu, para uma formação em sua plenitude e não mera instrução técnica, como demonstra Jaeger: "A palavra alemã Bildung (formação, configuração) é a que designa do modo mais intuitivo a essência da educação no sentido grego e platônico. Contém ao mesmo tempo a configuração artística e plástica, e a imagem, 'idéia', ou 'tipo' normativo que se descobre na intimidade do artista. Em todo lugar onde esta idéia * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2901 reaparece mais tarde na História, ela é uma herança dos Gregos, e aparece sempre que o espírito humano abandona a idéia de um adestramento em função de fins exteriores e reflete na essência da própria educação."[36] 5. A legislação brasileira para a educação formadora de cidadãos A educação no Brasil passou a ter legislação própria após a proclamação da independência, tendo sido promulgada a primeira lei regulamentando o ensino primário, a remuneração dos professores e a gratuidade do ensino ainda no ano de 1827, mas apenas oito anos depois foi entregue às províncias a responsabilidade pela educação básica e a educação só voltaria a ter extensão nacional um século mais tarde[37]. Na década de 1930 houve uma grande discussão sobre o ensino no país, a partir da qual foi produzido o "Manifesto dos Pioneiros da Nova Educação", assinado por nomes como Anísio Teixeira[38], Fernando Azevedo e Lourenço Filho. A proposta dos pioneiros era a de "tornar os homens capazes de se conduzirem racionalmente", além de trazer idéias como a laicização do ensino, introdução de uma base cientifica e a atuação do Estado na escola[39], do que se depreende que a luta por uma escola capaz de tratar de direitos humanos e de formar cidadãos data de antes mesmo do tema dos direitos humanos estar tão em voga a ponto de beirar o lugar comum e ter suas finalidades sobremaneira desvirtuadas, como tem acontecido nos últimos anos. Em se tratando de legislação para a educação em direitos humanos, temos, primeiramente, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu artigo XXVI, dispõe que: "2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz."[40] Já na Constituição Federal de 1988, a educação é tratada como formação cidadã: "Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.(grifos nossos)"[41] A Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional, do ano de 1996, além de repetir em seu artigo 2º o texto do artigo 205 da Constituição da República, dispõe ainda que: "Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as seguintes diretrizes: * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2902 I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática; Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, datecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. § 5o O currículo do ensino fundamental incluirá, obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do Adolescente, observada a produção e distribuição de material didático adequado. Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, com duração mínima de três anos, terá como finalidades: III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; Art. 36. O currículo do ensino médio observará o disposto na Seção I deste Capítulo e as seguintes diretrizes: I - destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de transformação da sociedade e da cultura; a língua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania; (grifos nossos)"[42] A Lei nº 15.476 do Estado de Minas Gerais determina sejam incluídos conteúdos referentes à cidadania nos currículos de ensino fundamental e médio: "Art. 1° - As escolas de ensino fundamental e médio integrantes do Sistema Estadual de Educação incluirão em seu plano curricular conteúdos e atividades relativos à cidadania, a serem desenvolvidos de forma interdisciplinar. Art. 2° - Integram os conteúdos a que se refere o art. 1° os seguintes temas: I - direitos humanos, compreendendo: a) direitos e garantias fundamentais; b) direitos da criança e do adolescente; * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2903 c) direitos políticos e sociais. II - noções de direito constitucional e eleitoral; III - organização político-administrativa dos entes federados; IV - (Vetado); V - educação ambiental; VI - direitos do consumidor; VII - direitos do trabalhador; VIII - formas de acesso do cidadão à justiça."[43] A respeito dessa lei comenta Brochado: "é de inequívoca expressão, dentro do próprio sistema jurídico, de sua fase mais avançada: a que pretende retornar o conhecimento do direito para o próprio indivíduo, o que parece evidente, pois ele é o receptor último dessa normatividade. Trata-se de uma preocupação política desse início de século: a formação de uma consciência ética mais sólida, na forma complementar de consciência jurídica, de modo que o direito deixou de ser um tema de juristas, advogados, autoridades; ele, enfim, passa a ser um tema de interesse de toda a coletividade, de seus destinatários finais."[44] 5.1. A Paideia Jurídica Paideia Jurídica[45] é um projeto pedagógico que visa oferecer, concretamente, através da capacitação de professores de ensino básico, o ensino jurídico direcionado ao cidadão, ao leigo, numa perspectiva que lhe permita o exercício efetivo da cidadania através do conhecimento de seus direitos e dos instrumentos de que dispõe para deles usufruir efetivamente. Não se trata, portanto, de submeter todos os cidadãos ao estudo do Direito na perspectiva técnica ofertada nas faculdades, pois o objetivo não é formar juristas e operadores práticos desse ramo do conhecimento. Trata-se, apenas, de se colocar em prática o disciplinado pela legislação supracitada, oferecendo nas escolas uma formação ética do cidadão, a partir de um diálogo entre juristas e profissionais do ensino que resulte no pleno desenvolvimento dos alunos, cotidianamente em salas de aula, para o exercício da cidadania sempre sob a ótica dos direitos humanos e do Estado de Direito. Diante da eticidade do Direito[46], afirma Brochado: "Se assumirmos essa onticidade ética do direito, abandonando em certa medida sua clássica definição coercibilista, parece se tornar mais plausível e necessária (e por que não dizer útil?) a formação de uma consciência jurídica, viabilizada por um processo pedagógico de inclusão da formação jurídica, como condição essencial para a tão reivindicada formação para a cidadania. E para isso, para a projeção e * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2904 implementação de uma educação jurídica, nós, juristas, podemos oferecer nossa parcela de contribuição (do conhecimento e experiência do jurista enquanto pensador e operador do direito mesmo). Sobre a efetivação desse tipo de educação, temos algo a dizer e a ensinar, desde que consigamos nos despir da capa técnica e positivista do direito (tão assimilada e ratificada por tantos anos nos bancos da Academia e na operacionalidade forense) e ensaiemos uma compreensão mais elaborada dessa forma de vida ética que é a experiência jurídica (o direito, enfim, que atribui direitos) para daí, então, passarmos a ensiná-lo ao seu real destinatário, o cidadão."[47] A proposta, então, é a de se realizar a educação para a cidadania a partir de uma pedagogia jurídica, "precisamos apresentar a essência ética do direito, ou o direito como realidade ética constitutiva do modo de vida da sociedade, especialmente de uma sociedade livre e igual em direitos"[48]. Para isso, comparece como pré-requisito essencial a capacitação dos professores e demais profissionais do ensino para a educação em direitos humanos, que "é uma estratégia de longo prazo direcionada para as necessidades das gerações futuras"[49]. Desse modo, pode-se afirmar, com Claude, que: "O ponto de vista compartilhado pelos envolvidos [no apoio ao ensino dos direitos humanos] focaliza a construção de uma "cultura universal de direitos humanos", não mais uma utopia fantasiosa, e sim um desafio atual para um mundo globalizado, que precisa compartilhar valores positivos. Estamos diante da obrigação, em nível internacional, nacional, local e pessoal, de adotar programas eficazes de ensino de direitos humanos e empregar metodologias que possam garantir que a tarefa seja bem feita, de forma consistente com os objetivos de paz mundial e respeito aos direitos humanos por toda parte. Para reforçar nossas responsabilidades de apoiar a educação para os direitos humanos, vale refletir sobre um tocante comentário de Eleanor Roosevelt. Como se estivesse falando agora conosco, ela disse, em 1948: Vai demorar um bom tempo até que a história faça seu julgamento sobre o valor da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e esse julgamento dependerá, penso eu, do que os povos de diferentes nações farão para tornar esse documento conhecido por todos. Se o conhecerem muito bem, irão se esforçar para conquistar alguns dos direitos e liberdades anunciados nele,e esse esforço irá torná-lo valioso no sentido de deixar claro o significado do documento, no que se refere aos direitos humanos e às liberdades fundamentais." (grifos no original)[50] 6. Conclusão: a potencialidade do modelo Antigo de formação para fundar a justiça universal concreta Para Hegel, a totalidade do real engloba a educação, de forma que cabe cogitar a dialetização da educação como método, o que pode contribuir para uma mais ampla compreensão da educação, dada a atualidade de seu sistema filosófico[51]. "Hegel afirma que o homem é resultado da intencionalidade e isto o caracteriza. O homem é o que ele faz de si mesmo. Obviamente não há o controle ou a consciência absoluta de tudo o que o homem possa ser e fazer. As conseqüências de um ato humano não podem ser absolutamentedeterminadas. Assim mesmo o homem é * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2905 sua própria atividade, a formação empreendida e recebida, em outras palavras, a sua educação."[52] Tanto quanto se pode falar em uma pedagogia em Hegel, pode-se afirmar que "A pedagogia hegeliana remete muito mais a uma antropologia, ou seja, a compreensão do que é e como vem a ser o homem. O homem, em Hegel, é contínua passagem, contínuo vir-a-ser sempre filho de seu tempo, do que o precedeu e do que está por vir enquanto resultado de sua própria atividade. Certamente é dessa concepção de homem que se deve erguer toda uma proposta pedagógica que tão somente viabilize esse homem."[53] Assim como em Platão a educação e a justiça andavam lado a lado para a manutenção do equilíbrio no Estado (pois se não fossem educados os cidadãos segundo suas aptidões naturais para exercerem sua função no Estado não poderia haver harmonia, e, portanto, não haveria justiça), é possível afirmar que a realização da justiça na contemporaneidade depende estreitamente da realização efetiva dos direitos humanos, o que pode satisfatoriamente ser construído a partir de um projeto pedagógico que proporcione ao aluno uma formação para a cidadania, voltada, portanto, para a luta constante (e consciente) pelos direitos de que é titular e precisa saber exercer. A idéia de justiça no mundo contemporâneo, segundo Salgado, "é, pois, entendida como a processualidade histórica da inteligibilidade do direito, o resultado dessa processualidade que se acumula no presente histórico do nosso tempo, e se expressa na efetividade do direito na ordem social justa com sentido universal, vale dizer, que efetiva a legitimidade do poder mediante a procedimentalidade democrática, enquanto esse poder tem origem na vontade popular e se estrutura na divisão da competência para o exercício do poder, com vistas ao seu núcleo (a declaração de direitos) e conteúdo axiológico, como processo historicamente revelado, constituído dos valores fundamentais da cultura, então formalizados conscientemente na declaração dos direitos fundamentais, na constituição, para a sua plena efetivação"[54]. A justiça, então, só pode ser realizada numa sociedade de cidadãos, pois a justiça só existe para um sujeito de direitos diante de outro sujeito de direitos. Faz-se necessário que o projeto educacional seja compatível com o Estado de Direito em que se insere e proporcione a formação de cidadãos para o pleno exercício de seus direitos histórico e culturalmente conquistados, assim como a paideia grega formava o homem para a vida ética na polis. Os gregos foram os primeiros a ver que a educação deve ser um processo de construção consciente[55] e "O fato de os Gregos terem sentido esta tarefa como algo grandioso e difícil e se terem consagrado a ela com ímpeto sem igual não se explica nem pela sua visão artística nem pelo seu espírito 'teórico'. Desde as primeiras notícias que temos deles, encontramos o homem no centro do seu pensamento. A forma humana dos seus deuses, o predomínio evidente do problema da forma humana na sua escultura e na sua pintura, o movimento conseqüente da filosofia desde o problema do cosmos até o problema do homem, que culmina em Sócrates, Platão e Aristóteles; a sua poesia, cujo tema inesgotável desde Homero até os últimos séculos é o homem e o seu duro destino no sentido pleno da palavra; e, finalmente, o Estado grego, cuja essência só pode ser compreendida sob o ponto de vista da formação do homem e da sua vida inteira: tudo são raios de uma única e mesma luz, expressões de um sentimento vital antropocêntrico que não pode ser explicado nem * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2906 derivado de nenhuma outra coisa e que penetra todas as formas do espírito grego. Assim, entre os povos, o grego é o antropoplástico."[56] O Direito, enquanto experiência histórico-cultural permeada por uma concepção humanista, em que a pessoa humana é o mais alto dos valores[57], deve estar incluído na formação pedagógica dessa mesma pessoa humana em cidadão, deve retornar ao seu destinatário final, de maneira que a legislação mencionada e outras várias, se cumpridas, possam ser não um desconhecido para a população, e sim um instrumento em favor dos direitos humanos e da realização da justiça. 7. Referências bibliográficas ASSEMBLÉIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos de 10 de dezembro de 1948, adotada e proclamada pela resolução 217 A (III). Disponível em < http://portal.mj.gov.br /sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm >. Acesso em 21 de março de 2010. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm >. 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[1] É Mestranda em Direito pela (gentileza incluir na publicação o nome da instituição, não mencionado por questões de não identificação). * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2908 [2] CLAUDE, Richard Pierre. Direito à educação e educação para os direitos humanos. Sur, Rev. int. direitos human. [online]. 2005, vol.2, n.2, pp. 36-63. ISSN 1806-6445. Disponível em < http://www.scielo.br /pdf/sur/v2n2/a03v2n2.pdf >. Acesso em 10 de abril de 2010, p. 37. [3] NOVELLI, Pedro Geraldo. O conceito de Educação em Hegel. Interface (Botucatu) [online]. 2001, vol.5, n.9, pp. 65-88. ISSN 1414-3283. Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/icse/v5n9/05.pdf >. Acesso em 10 de abril de 2010, p. 72-3 e 79. V. SALGADO, Joaquim Carlos. A idéia de justiça em Hegel. São Paulo: Loyola, 1996. [4] NOVELLI, O conceito..., cit., p. 83. [5] GHIRALDELLI JR., Paulo. A teoria educacional no Ocidente: entre modernidade e pós-modernidade. São Paulo Perspec. [online]. 2000, vol.14, n.2, pp. 32-36. ISSN 0102-8839. Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/spp/v14n2/9785.pdf >. Acesso em 10 de abril de 2010, p. 32 et seq. [6] Cabe esclarecer que se trata da paideia socrática, pois "a paideia dos sofistas era uma colorida mistura de materiais de origem vária. O seu objetivo era a disciplina do espírito, mas não existia entre eles unanimidade quanto ao saber mais indicado para atingi-la, pois cada um deles seguia estudos especializados e, naturalmente, considerava a sua disciplina como a mais conveniente de todas. Sócrates não negava o valor que havia em ocupar-se de todas as coisas que eles ensinavam, mas o seu apelo ao cuidado da alma continha já potencialmente um critério de limitação dos conhecimentos recomendados por aqueles educadores." JAEGER, Werner. Paidéia - A formação do homem grego. Trad. Artur Parreira. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 538. [7] JAEGER, Paidéia..., cit., p. 3-5. [8] JAEGER, Paidéia..., cit., p. 25. [9] MARROU, Henri-Irénée. Histoire de l'éducation dans l'antiquité. Paris: Éditions Du Seuil, 1965, p. 31. [10] JAEGER, Paidéia..., cit., p. 25-34. [11] MARROU, Histoire..., cit., p. 44, no original: "Tel est le secre de la péadgogie homérique : l'exemple héroïque, παρ?δειγμα. Comme le moyen âge finissant nous a légué l'Imitation de Jésus, le moyen âge hellénique a transmis, pas Homére, à la Grèce classiquecette Imitation du Héros. C'est en ce sens profond qu'Homére a été l'éducateur de la Grèce : comme Phoinix, comme Nestor ou Athèna, sans cesse il présente à l'ésprit de son disciple des modèles idéalises d' ?ρετ? héroïque ; em même temps, par la pérennité de son ouvre, il manifesta la reálité de cette récompense suprême qu'est la gloire." [12] DOBSON, J. F. La educación antigua y su significado actual. Trad. Vicente Quintero. Beunos Aires: Editorial Nova, 1947, p. 40. [13] JAEGER, Paidéia..., cit., p. 335. [14] JAEGER, Paidéia..., cit., p. 1. [15] MARROU, Histoire..., cit., p. 18. * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2909 [16] MARROU, Histoire..., cit., p. 76. Mesmo quando voltado a essa finalidade, o treinamento militar em Atenas era laxo e de pouca disciplina, nada que pudesse ser comparado ao de Esparta, por exemplo. DOBSON, La educación..., cit., p. 37-8. [17] DOBSON, La educación..., cit., p. 31-2. Vale lembrar que a educação era restrita aos homens, únicos que podiam ser cidadãos. As mulheres não eram analfabetas, é sabido, mas não havia, no entanto, nenhum tipo de organização da educação feminina, visto que as mulheres se destinavam apenas ao matrimônio. DOBSON, La educación..., cit., p. 39. [18] DOBSON, La educación..., cit., p. 32-5. "Solón, si hemos de creer a Esquines, había prohibido que las escuelas abriesen antes de la salida del sol o que permaneciesen abiertas después de la caída de la tarde, pues sostenía que en las horas nocturnas los jóvenes podían encontrarse con personas desagradables y estaban expuestos a influencias corruptoras." DOBSON, La educación..., cit., p. 41. [19] DOBSON, La educación..., cit., p. 38. [20] DOBSON, La educación..., cit., p. 40-5. A escola, para Hegel, "é uma particularidade do absoluto que aparece na totalidade da história humana, porém toda parte constrói a totalidade ainda que não o queira. A missão da escola é a de ser mediação entre a família e o mundo e isto implica na preparação para a vida pública. A família já é o convívio entre diferentes, mas, na sociedade, os laços que unem as diferenças superam as determinações particulares pelos elos da razão e do espírito. Contudo, a escola concilia o envolvimento com o mundo e o necessário isolamento do mesmo para que a reflexão e a investigação tenham vez. NOVELLI, O conceito..., cit., p. 85. [21] DOBSON, La educación..., cit., p. 46. [22] DOBSON, La educación..., cit., p. 46-7 e 56-7. Nessa época, logo após a queda de Atenas (404 a. C.), o maior esforço intelectual se dava no sentido de buscar a construção de uma nova comunidade, esforços que se concentraram primeiramente em como formar os governantes e apenas secundariamente em como estes dirigentes poderiam formar o conjunto do povo. "É este desvio de enfoque que no fundo parte já dos sofistas, que distingue o novo século do anterior. E marca também o início de uma época histórica. É precisamente este novo objetivo que faz surgir as academias e escolas superiores." JAEGER, Paidéia..., cit., p. 490-1. [23] MARROU, Histoire..., cit., p. 62. [24] MARROU, Histoire..., cit., p. 64-5, no original: "Le désir, chez l'aîné, de sáffirmer aux yeux de son aimé, de briller devant lui, le désir symétrique chez le cadet de se montrer digne de son amant, n'ont pu que refonrcer, chez l'un et l'autre, cet amour de la gloire que tout l'esprit agonistique exlatait par ailleurs : la liaison amoureuse est le terrain de choix oùs'affronte une généreuse émulation. D'autre part, c'est toute l'éthique chevaleresque, fondée sur le sentiment de l'honneur, qui reflète l'idéal d'une camaraderie de combat. La tradition antique est unanime à lier la pratique de la pédérastie à la vaillance et au courage." [25] MARROU, Histoire..., cit., p. 66. [26] MARROU, Histoire..., cit., p. 61, no original: "En fait, les modernes ont perdu beaucoup de temps à * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2910 scruter avec malignité les témoignages antiques relatifs aux 'amours garçonnières' en ne s'intéressant qu'à l'aspect sexuel de la chose : les uns ont voulu faire de l'ancienne Hellade un paradis pour les invertis, ce qui est excessif : le vocabulaire même de la langue grecque et la législations de la plupart des cités attestent que l'inversion n'a pas cessé d'y être consideé\e comme un fait 'anormal' ; d'autres ont cherché à se duper par une apologie naïve de la pédérastie pure, opposée à l'inversion charnelle, ce qui fait fi des témoignagesles plus formels." [27] MARROU, Histoire..., cit., p. 67. [28] PLATÂO. Banquete, [209 c] apud MARROU, Histoire..., cit., p. 67. [29] COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia - História e grandes temas. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 97. "Nas célebres palavras do filósofo norte-americano Alfred North Whitehead: 'A melhor caracterização geral da tradição filosófica européia é que ela consiste em uma série de notas de pé de página a Platão' (Process and Reality, 1929)" MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 9. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005, p. 286. [30] DESCHOUX, Marcel. Platon ou le jeu philosophique. Paris: Faculté des Lettres et des Sciences Humaines, 1980, p. 253, no original: "La détermination de l'État juste et de ses institutions notamment éducatives est elle-même une éducation, une construction de la justice dans l'âme." [31] "Devemos recordar-nos que também cada um de nós, no qual cada uma das suas partes desempenha a sua tarefa, será justo e executará o que lhe cumpre", PLATÃO. A República. Trad. Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2006, p. 138 [441]. [32] DESCHOUX, Platon..., cit., p. 249, no original: "Platon était bien placé pour en mesurer la gravité : « L'époque était peine de troubles, rappelle Aguste Diès : de son adolescence à sa trentième année, de quels spectacles il fut témoin ! Le départ triomphal de l'expédition de Sicile et son issue désastreuse ; l'ennemi aux portes d'Athènes ; la démocratie renversée et l'oligrachie des Quatre-Cents prête à traiter avec Lacédémone ; l'énergie d'Athènes se réveillant pour chasser les Quatre-Cents et laisser le pouvoir à une sage combinaison d'oligarchie et de démocratie ; Alcibiade, Théramène et Thrasybule reconquérant l'Hellespont, puis le Bosphore, et l'empire athénien se reconstituant en même temps que la concorde intérieure ; puis la défaite navale de Notium, le nouvel temps exil d'Alcibiade, la victoire des Arginuses déshonorée pas le honteux procès des généraux, la flotte athénienne anéantie par surprise à Aegospotamoï et Lisandre entrant à pleine voiles dans le Pyrée à la tête de la flotte spartiate, enfin, sous les auspices de Lysandre, l'établissement d gouvernement des Trente dans Athènes démantelée." [33] DESCHOUX, Platon..., cit., p. 250. [34] HERSCH, Jeanne. L'étonnement philosophique; Une histoire de la philosophie. Paris: Gallimard, 2007, p. 78. [35] DESCHOUX, Platon..., cit., p. 250-1, no original: "La justice (dikaiosynè) est la vertu qui convient au tout, celle qui assure la spécialisation des fonctions et interdit l'usurpation de l'une sur l'autre. La justice de l'individu est faite de la tempérance des désirs, du courage des passions, de la sagesse de la raison ; la justice de la société, de la tempérance des producteurs et commerçants, du courage des soldats, de la sagesse des * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2911 gouvernants." [36] JAEGER, Paidéia..., cit., p. 13-4. [37] CURY, Carlos Roberto Jamil; HORTA, José Silvério Baia; BRITO, Vera Lúcia Ferreira Alves de. Medo à liberdade e compromisso democrático: LDB e plano nacional da educação. São Paulo: Ed. do Brasil, 1997. [38] Anísio Teixeira viveu entre 1900 e 1971 e foi um dos grandes nomes da educação no Brasil. Na década de 1930 foi um dos maiores difusores do movimento Escola Nova e foi conselheiro na UNESCO, diretor da atual CAPES, idealizador e reitor da UnB, entre outros importantes feitos. V. NUNES, Clarice. Anísio Teixeira entre nós: a defesa da educação como direito de todos. Educ. Soc. [online]. 2000, vol.21, n.73, pp. 9-40. ISSN 0101-7330. Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/es/v21n73/4203.pdf >. Acesso em 10 de abril de 2010. [39] CURY, Carlos Roberto Jamil. Comemorando o "Manifesto dos pioneiros da educação nova". Educação e Sociedade, v.4, n.12 , p.5-13, set. 1982. [40] ASSEMBLÉIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos Humanos de 10 de dezembro de 1948, adotada e proclamada pela resolução 217 A (III). Disponível em < http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm >. Acesso em 21 de março de 2010. [41] BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 5 de outubro de 1988. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm >. Acesso em 21 de março de 2010. [42] BRASIL. Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/LEIS/l9394.htm >. Acesso em 21 de março de 2010. [43] MINAS GERAIS. Lei 15.476 de 12 de abril de 2005. Determina a inclusão de conteúdos referentes à cidadania nos currículos das escolas de ensino fundamental e médio. Disponível em < http://hera.almg.gov.br /cgi-bin/nph-brs?d=NJMG&f=G&l=20&n=&p=1&r=1&u=http:// www.almg.gov.br/njmg /chama_pesquisa.asp&SECT1=IM AGE&SECT2=THESOFF&SECT3=PLUROFF&SECT6=HITIMG& SECT7=LINKON&SECT8=DIRINJMG&SECT9=TODODOC&co1=E&co2=E&co3=E&co4=E& s1=&s2=15476&s3=2005&s4=&s5= >. Acesso em 22 de março de 2010. [44] BROCHADO, Mariá. Paideia Jurídica: ideal contemporâneo de formação ético-jurídica do cidadão. In: Revista da Faculdade de Direito. Belo Horizonte, nº 48, p. 159-188, 2006, p. 164. [45] O projeto existe desde 2006, na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais e pode ser encontrado no site www.direito.ufmg.br/paideiajuridica. [46] V. BROCHADO, Mariá . Direito e Ética: a eticidade do fenômeno jurídico. São Paulo: Landy, 2005. [47] BROCHADO, Paideia Jurídica..., cit., p. 165. * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2912 [48] BROCHADO, Paideia Jurídica..., cit., p. 173. [49] CLAUDE, Direito à educação...cit., p. 37-8. [50] CLAUDE, Direito à educação...cit., p. 62. [51] NOVELLI, O conceito..., cit., p. 67. [52] NOVELLI, O conceito..., cit., p. 70. [53] NOVELLI, O conceito..., cit., p. 75. [54]SALGADO, Joaquim Carlos. A Idéia de Justiça no Mundo Contemporâneo: Fundamentação e aplicação do Direito como Maximum Ético. Belo Horizonte: Del Rey, 2007, p. 257. [55] JAEGER, Paidéia..., cit., p. 13. [56] JAEGER, Paidéia..., cit., p. 14. [57] REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 219-221. * Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 2913
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