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David Ricardo - Aula 2

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David Ricardo 
Aula 2: Teoria do valor
História do Pensamento Econômico 
Prof. Bruno Aidar
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Onde estudar?
COUTINHO, Maurício. Lições de economia política clássica. São Paulo: Hucitec, 1995. 
Cap. 5: “Ricardo: um sistema dedutivo completo de Economia Política”. p. 179-215.
RICARDO, David. Princípios de economia política e tributação. São Paulo: Abril Cultural, 1982. 
Cap. 1: “Sobre o valor”. Seção 1, p. 43-47.
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Objetivo da economia política
“O produto da terra tudo o que se obtém de sua superfície pela aplicação combinada de trabalho, maquinaria e capital – se divide entre três classes da sociedade, a saber: o proprietário da terra, o dono do capital necessário para seu cultivo e os trabalhadores cujos esforços são empregados no seu cultivo.
Em diferentes estágios da sociedade, no entanto, as proporções do produto total da terra destinadas a cada uma dessas classes, sob os nomes de renda, lucro e salário, serão essencialmente diferentes (...)
Determinar as leis que regulam essa distribuição é a principal questão da Economia Política: embora esta ciência tenha progredido muito com as obras de Turgot, Stuart, Smith, Say, Sismondi e outros, eles trouxeram muito pouca informação satisfatória a respeito da trajetória natural da renda, do lucro e do salário”. 
(RICARDO, Princípios de economia política e tributação, p. 39). 
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Objetivo da teoria do valor
Se o objeto da economia política é o estudo da distribuição do produto, qual é a sua relação com a teoria do valor?
Tese de Ricardo: distribuição do produto e suas variações não afetam o valor das mercadorias.
Separação produção de valor/relações de troca x distribuição de salários, lucros e renda da terra.
Objetivo de construir teoria objetiva de valor baseada nas condições de produção (diferentes, portanto, das condições da utilidade ou do mercado).
Conforme veremos, teoria ricardiana de valor é desenvolvida em oposição à análise de Smith.
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Crítica de Ricardo a Smith
Indefinição da relação entre salários, lucros e renda da terra (teoria da soma) abre possibilidade para que variações nesses rendimentos afetem o preço. Logo, é uma questão central em Ricardo.
Círculo vicioso: salários afetam preço, que afeta a renda da terra, que afeta preço... 
Pela teoria de Smith, seria impossível chegar a uma determinação precisa das relações entre salários, lucros e renda da terra.
Na visão de Ricardo, ao utilizar o conceito de trabalho comandado Smith pressupõe uma relação prévia de troca entre a própria mercadoria e o trabalho.
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Confusão entre quantidade de trabalho e trabalho disponível/comandado na teoria de valor de Smith.
Smith não faz a distinção entre quantidade de trabalho necessário para a produção (o certo para Ricardo) e salário pago por esse trabalho.
Smith (assim como Malthus) aceita o salário real como medida de valor, quando na verdade ele também varia.
Confusão em Smith entre a quantidade de trabalho necessária para produzir mercadorias x quantidade de valor obtido no mercado com esse trabalho contido nas mercadorias.
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Ponto de partida
Valor de uma mercadoria depende da quantidade relativa de trabalho necessário para sua produção
Valor de uma mercadoria não depende da remuneração do trabalho pago para produzi-la
Busca de medida de valor invariável e que reflita as condições de produção (e não as de troca)
Se é mais fácil produzir um bem (= menor número de horas de trabalho)  valor menor
Se é mais difícil produzir um bem (= maior número de horas de trabalho)  valor maior
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Smith
Valor depende do trabalho comandado
Valor depende da distribuição do produto
Inter-relação valor x distribuição
Variações nos salários, lucros e renda da terra afetam o valor de troca
Leis distintas do valor de troca conforme o tipo de sociedade (primitiva ou mercantil).
Acumulação de capital e propriedade fundiária afetam lei do valor.
Ricardo
Valor depende do trabalho dispendido na produção das mercadorias
Valor depende do trabalho contido (mesmo com a existência dos lucros e salários)
Independência entre valor e distribuição
Variações nos salários, lucros e renda da terra não afetam o valor de troca.
Uma única lei de valor, independente da sociedade.
Acumulação de capital e propriedade fundiária não afetam o funcionamento da lei de valor.
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Smith: na sociedade mercantil (capitalista), as mercadorias não são trocadas segundo a quantidade de trabalho contido nas mercadorias, pois trabalho comandado > trabalho contido.
Ricardo: na sociedade mercantil (capitalista), as mercadorias são trocadas segundo o trabalho contido, mas apenas parte do produto retorna aos trabalhadores sob a forma de salários. O restante é transformado em lucro ou renda da terra.
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Teoria do valor por eliminação
Valor de uso não é importante para teoria do valor
Utilidade não é a medida do valor de troca
Ouro possui pouca utilidade (comparado à água e ao ar), mas pode ser trocado por grande quantidade de bens
Valor de troca depende da:
Escassez
Oferta inelástica: trabalho não pode aumentar a quantidade desses bens.
Obras de arte, livros e moedas raras, vinhos especiais
Parte muito pequena das mercadorias produzidas
Quantidade de trabalho necessária para produzi-lo
Oferta elástica: trabalho humano pode aumentar a quantidade desses bens.
Compõem a maior parte das mercadorias produzidas
Pressupõe concorrência sem obstáculos (perfeita)
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Trabalho empregado na produção das mercadorias é o fundamento do valor de troca de todas as coisas (salvo as exceções apontadas).
Aumento do trabalho contido  Aumento do valor de troca
Redução do trabalho contido  Redução do valor de troca
Crítica à ideia de trabalho comandado de Smith como fundamento do valor de troca. Para Ricardo, apenas trabalho empregado na produção era fundamento do valor.
O aumento da produção (trabalho contido) não corresponde a um aumento do trabalho comandado pelo salário do trabalhador.
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Distinção entre quantidade de trabalho empregada na mercadoria (trabalho contido) x quantidade de trabalho comprada pela mercadoria (trabalho comandado)
Trabalho contido: é padrão invariável de valor
Trabalho comandado: é sujeito a flutuações de valor, não pode ser padrão de referência
Moeda, trigo e preço do trabalho estão sujeitos a diversas flutuações. Logo não podem ser padrão de valor.
Moeda é apenas uma mercadoria qualquer, com custos próprios.
Preço do trabalho: é afetado pela oferta e demanda e pelo preço dos alimentos e dos gêneros de primeira necessidade.
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Causas na alteração do valor
Causa 1: Quantidade de trabalho aplicada na produção.
Causa 2: Diferentes proporções de capital fixo
Contradição de Ricardo?
Abandono da teoria do valor trabalho?
Bases para teoria dos custos de produção  interpretação refutada por Sraffa
Para Ricardo, causa 2 apenas modificava o princípio geral da causa 1, que era considerada a principal.
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“Efeito curioso”
O que ocorre com a teoria do valor quando há diferentes proporções de capital fixo/capital variável?
Se houver um aumento da taxa de lucro (ocasionando uma redução dos salários): 
Bens produzidos com elevada proporção capital fixo/capital variável (=mais capital do que trabalho) irão aumentar de valor
Bens produzidos com baixa proporção capital fixo/capital variável (= menos capital do que trabalho) irão reduzir de valor
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Restrições à teoria do valor de Ricardo
Para que variação do valor relativo das mercadorias seja igual ao trabalho dispendido exige condições de produção iguais entre diferentes mercadorias.
Se condições de produção variam, então não há medida invariável de valor.
Teoria ricardiana do valor só é válida para proporções iguais de capital fixo/capital variável e para capitais com durabilidade idêntica.
Crítica de Malthus: análise de Ricardo abarca número limitado de mercadorias, logo teoria do valor como trabalho contido é uma teoria parcial e nãogeral.
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Outro problema: a medida invariável
Se duas mercadorias mudam de valor relativo, qual das duas efetivamente teve seu valor alterado?
Necessidade de uma terceira mercadoria para saber se a variação das duas outras mercadorias.
Medida invariável permite referir as alterações do valor relativo entre duas mercadorias a uma única causa (o trabalho dispendido).
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Desafios da teoria ricardiana de valor
Busca de um padrão de medida invariável
Cálculo para diferentes proporções de capital fixo/capital variável
Ricardo morre sem solucionar as duas questões, que serão resolvidas somente um século e meio depois com o trabalho “Produção de mercadorias por meio de mercadorias” (1960) do economista italiano Piero Sraffa, editor das obras completas de Ricardo.
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Bibliografia utilizada
COUTINHO, Maurício. Lições de economia política clássica. São Paulo: Hucitec, 1995. Cap. 5, seção 4.
DOBB, Maurice. Teorias do valor e distribuição desde Adam Smith. Lisboa: Editorial Presença, 1977. Cap. 3, seção 2.
NAPOLEONI, Claudio. Smith, Ricardo, Marx. Rio de Janeiro: Graal, 1988. Cap. 4.
RICARDO, David. Princípios de economia política e tributação. São Paulo: Abril Cultural, 1982. Cap. 1, seção 1.

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