Buscar

Evangelho de Judas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 38 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 38 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 38 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

The National Geographic Society 
 
 
THE GOSPEL OF JUDAS 
The National Geographic Society 
 
 
 
 
REPORTAGEM 
 
Perdido durante quase 1.700 anos, um manuscrito em papiro já se 
desfazendo apresenta a história do homem mais odiado da história 
sob nova luz. 
 
AUTOR: Andrew Cockburn 
 
Com um ligeiro tremor nas mãos, causado pela doença de Parkinson, 
o professor Rodolphe Kasser pegou o texto antigo e começou a ler 
com voz firme e clara: "Pe-di-ah-kawn-aus ente plah-nay". Essas 
palavras estranhas eram em copta, a língua fa-lada no Egito no 
alvorecer do cristianismo. Não eram ouvidas desde que a Igreja 
nascente declarara o documento proibido aos cristãos. 
 
Esta cópia, não se sabe como, sobreviveu. Escondida por uma 
eternidade no deserto egípcio, finalmente foi descoberta no fim do 
século 20, para depois novamente desaparecer no submundo dos 
negociantes de antigui-dades. Quando chegou às mãos de Kasser, o 
papiro - um tipo de papel feito de plantas aquáticas desidratadas - 
estava se desfazendo, com sua mensagem prestes a ser perdida para 
sempre. 
 
O erudito professor de 78 anos, um dos maiores especialistas 
mundiais em copta, terminou de ler e cuidadosamente pôs a página de 
volta na mesa. "Bela língua, não? Egípcio escrito em caracteres 
gregos." Sorriu. "Esta é uma passagem em que Jesus explica aos 
discípulos que eles estão no caminho errado." Maravilhara-se com o 
texto, e não era para menos. Na primeira linha da página inicial está 
escrito: "O relato secreto da revelação feita por Jesus em conversa 
com Judas Iscariotes [.]". 
 
Após quase 2 mil anos, o homem mais odiado da história está de 
volta. 
 
Todos se lembram do grande amigo de Jesus Cristo, um dos Doze 
Apóstolos, que o vendeu por 30 moedas de prata, identificando-o com 
um beijo. Depois, enlouquecido de remorso, Judas se enforcou. Ainda 
hoje, ele é o símbolo supremo da traição. Nos abatedouros, o bode 
que conduz os outros animais ao abate é chamado de Judas. Na 
Alemanha, autoridades podem proibir os pais de dar o nome Judas a 
um recém-nascido. Na Igreja Suspensa, um templo cóptico na Cidade 
Velha do Cairo, os guias apontam uma coluna negra na colunata 
branca da igreja - Judas, é claro. O cristianismo não seria o mesmo 
sem o seu traidor. 
 
Um contexto sinistro permeia as descrições tradicionais de Judas. À 
medida que o cristianismo desvinculou-se de suas origens como uma 
seita judaica, os pensadores cristãos foram julgando cada vez mais 
conveniente culpar os judeus, como povo, pela prisão e execução de 
Cristo, e assim pintar Judas como o judeu arquetípico. Os quatro 
evangelhos, por exemplo, tratam com brandura o governador romano 
Pôncio Pilatos, mas condenam Judas e os altos sacerdotes judeus. 
 
O manuscrito secreto mostra-nos um Judas muito diferente. Ele é um 
herói. Ao contrário dos outros discípulos, realmente compreende a 
mensagem de Cristo. Quando entrega Jesus às autoridades, está 
fazendo o que seu mestre pediu, sabendo o destino que irá acarretar 
para si mesmo. Jesus o avisa: "Serás amaldiçoado". 
 
A mensagem é chocante o suficiente para despertar suspeitas de 
fraude, coisa comum em se tratando de artefatos que se dizem 
bíblicos. Foi o caso de uma caixa vazia de calcário que supostamente 
continha os ossos de Tiago, irmão de Jesus. Ela atraiu multidões 
quando foi exibida em 2002, mas logo se revelou uma engenhosa 
falsificação. 
 
Um Evangelho de Judas é obviamente mais atraente do que uma 
caixa vazia, mas até o momento todos os testes confirmam sua 
antiguidade. A National Geographic Society, que está contribuindo 
para financiar a restauração e a tradução do manuscrito, encomendou 
a um renomado laboratório especializado da Universidade do Arizona 
a datação por carbono do livro de papiro, ou códice, que contém o 
evangelho. Testes com cinco amostras separadas do papiro e da sua 
encadernação de couro datam o códice entre 220 e 340 d.C. A tinta 
parece ser uma mistura feita com noz-de-galha, vitríolo, goma e 
fuligem. Especialistas em copta afirmam que modos de expressão 
reveladores encontrados no evangelho indicam que ele foi traduzido 
do grego, língua na qual a maioria dos textos cristãos foi escrita nos 
dois primeiros séculos desta era. "Nós todos nos sentimos à vontade 
situando a origem desse texto no século 4", declarou um especialista. 
 
Uma confirmação adicional vem do passado. Por volta de 180 d.C., 
Irineu, bispo de Lyon na Gália Romana, escreveu um volumoso 
tratado intitulado Contra as Heresias. O livro era uma censura feroz a 
todas as concepções sobre Jesus que diferiam das apresentadas pela 
Igreja tradicional. Entre os que ele criticou estava um grupo que 
reverenciava Judas, "o traidor", e que criara uma "história fictícia" à 
qual "chamam Evangelho de Judas". 
 
Pelo visto, décadas antes de o manuscrito hoje nas mãos de Rodolphe 
Kasser ser escrito, o irado bispo sabia sobre o texto original em grego. 
 
Irineu estava às voltas com uma profusão de heresias. Nos primeiros 
séculos do cristianismo, o que chamamos de Igreja, operando por 
meio de uma hierarquia de padres e bispos, era apenas um de muitos 
grupos inspirados por Jesus. O estudioso da Bíblia Marvin Meyer, da 
Universidade Chapman, que ajudou na tradução do evangelho, 
resume a situação com uma frase: "O cristianismo em busca de seu 
estilo". 
 
Um grupo chamado ebionitas, por exemplo, pregava que os cristãos 
deviam obedecer a todas as leis religiosas judaicas, enquanto outro, 
os marcionitas, rejeitava qualquer relação entre o Deus do Novo 
Testamento e o Deus judaico. Alguns afirmavam que Jesus fora 
inteiramente divino, contradizendo outros, para quem ele fora 
completamente humano. Dizem que uma outra seita, os 
carpocracianos, praticava a troca de casais ritualizada. Muitos desses 
grupos eram gnósticos, seguidores da mesma linha do cristianismo 
nascente refletida no Evangelho de Judas. 
 
"Gnose, em grego, significa conhecimento", explica Meyer. "Os 
gnósticos acreditavam que existe uma fonte suprema de bondade, que 
chamavam de mente divina, fora do universo físico. Os humanos 
trazem uma centelha desse poder divino, mas não a podem acessar, 
impedidos pelo mundo material que os cerca." Esse mundo imperfeito, 
na concepção dos gnósticos, era obra de um criador inferior e não do 
Deus supremo. 
 
Enquanto cristãos como Irineu salientavam que apenas Jesus, o filho 
de Deus, era ao mesmo tempo humano e divino, os gnósticos 
afirmavam que pessoas comuns podiam ligar-se a Deus. A salvação 
requeria despertar aquela centelha divina no espírito humano e 
reconectá-la à mente divina. Para isso era preciso a orientação de um 
mestre, e esse, segundo os gnósticos, era o papel de Cristo. Os que 
compreendessem sua mensagem se tornariam tão divinos quanto 
Cristo. 
 
Eis a razão da hostilidade de Irineu. "Aqueles homens eram místicos", 
diz Meyer. "E os místicos despertam a ira da religião institucionalizada. 
Ouvem a voz de Deus dentro de si e não precisam de um sacerdote 
para interceder por eles." 
 
Irineu começou seu livro após voltar de uma viagem e encontrar seu 
rebanho em Lyon sendo subvertido por um pregador gnóstico 
chamado Marcus, que estava incentivando seus iniciados a 
demonstrar o contato direto com o divino por meio de profecias. Quase 
tão escandaloso era o visível sucesso de Marcus entre as mulheres do 
rebanho. A "iludida vítima" do pregador, escreveu Irineu, irritado, 
"impudentemente profere algumas bobagens" e "então se considera 
profeta!" 
 
Décadas atrás, as doutrinas desse tipo eram vislumbradas sobretudo 
por meio de críticas feitas por antagonistas como Irineu, mas em 1945 
camponeses egípcios encontraram um conjunto de textos gnósticos, 
perdidos havia muito tempo, enterrados em um jarro de cerâmica 
próximo à cidade de Nag Hammadi. Entre eleshavia mais de uma 
dúzia de versões totalmente novas de ensinamentos de Cristo, 
incluindo os evangelhos de Tomé e Felipe e um Evangelho da 
Verdade. Agora temos o Evangelho de Judas. 
 
No passado distante, algumas dessas versões alternativas podem ter 
sido mais divulgadas do que os evangelhos conhecidos, Marcos, 
Mateus, Lucas e João. Mas, hoje, a idéia de textos que contradizem os 
quatro evangelhos canônicos do Novo Testamento é profundamente 
perturbadora para algumas pessoas, como fui lembrado quando 
almoçava com Marvin Meyer em um restaurante em Washington, D.C. 
Transbordante de entusiasmo, o eufórico acadêmico limpou um prato 
de salada de frango enquanto discorria sem parar sobre as crenças 
contidas no Evangelho de Judas. "É sensacional", exclamou. "Explica 
por que Judas é apontado por Jesus como o melhor entre os 
discípulos. Os outros não entenderam." 
 
A multidão da hora do almoço se fora e estávamos sós no restaurante 
quando o maître, hesitante, veio entregar um bilhete a Meyer. Dizia 
simplesmente: "Deus ditou um livro". A mensagem enigmática fora 
passada por telefone, com instruções para que fosse entregue ao 
cliente que pedira salada de frango. Alguém que se sentara perto de 
nós pensou que Meyer estava lançando dúvida acerca da Bíblia como 
a palavra de Deus. 
 
Na verdade, não se sabe se os autores de quaisquer dos evangelhos 
de fato testemunharam os acontecimentos que descreveram. O 
estudioso evangélico da Bíblia Craig Evans diz que os evangelhos 
canônicos acabaram eclipsando os demais porque sua versão dos 
ensinamentos e da Paixão de Cristo era a mais verossímil. "Os 
primeiros grupos cristãos em geral eram pobres; não tinham recursos 
para mandar copiar mais do que alguns livros; por isso, seus membros 
diziam: 'Quero o evangelho do apóstolo João, ou do apóstolo tal' ", 
supõe Evans. "Ou seja, os evangelhos canônicos são os que eles 
próprios consideraram os mais autênticos." 
 
O Evangelho de Judas reflete com clareza a luta travada muito tempo 
atrás pelos gnósticos e pela Igreja hierárquica. Na primeira cena, 
Jesus ri dos discípulos por orarem para "seu deus", referindo-se ao 
desastroso deus que criou o mundo. Compara os discípulos a um 
sacerdote em um templo (uma referência à Igreja preponderante), a 
quem chama de "ministro do erro", plantando "árvores sem frutos, em 
meu nome, vergonhosamente". Desafia os discípulos a olhar para ele 
e compreender o que ele de fato é, mas eles não o olham. 
 
A passagem mais importante é aquela em que Jesus diz a Judas: 
"Sacrificarás o homem que me veste". Em outras palavras, Judas 
matará Jesus - e com isso lhe fará um favor. "Enfim ele se livrará de 
seu invólucro material, a carne de seu corpo, e libertará o verdadeiro 
Cristo, o ser divino que ela contém", diz Meyer. 
 
O fato de essa tarefa ter sido confiada a Judas é um indicador de sua 
posição especial. "Levanta os olhos, vê a nuvem e a luz dentro dela e 
as estrelas ao redor", Jesus lhe diz para encorajá-lo. "A estrela que 
mostra o caminho é a tua estrela." Finalmente, Judas tem uma 
revelação, na qual ele entra em uma "nuvem luminosa". As pessoas 
abaixo ouvem uma voz saída da nuvem, embora o que ela diz possa 
não vir jamais a ser conhecido, pois nesse trecho há um rasgo no 
papiro. O evangelho termina abruptamente com um comentário 
afirmando que Judas "recebeu dinheiro" e entregou Jesus aos que o 
vinham prender. 
 
Para Craig Evans, esse relato é uma ficção, escrita em apoio a um 
sistema de crença que não vingou. "Não há nada no Evangelho de 
Judas que nos diga alguma coisa que possamos considerar 
historicamente confiável", ele declara. Outros estudiosos, contudo, 
acham que o documento é uma nova e importante janela para a mente 
dos primeiros cristãos. "Ele muda a história dos primórdios do 
cristianismo", diz Elaine Pagels, professora de religião na Universidade 
Princeton. "Não procuramos dados históricos nos evangelhos, e sim 
os fundamentos da fé cristã." Bart Ehrman, da Universidade da 
Carolina do Norte, completa: "Isso vai incomodar muita gente". 
 
Opadre Ruwais Antony é um deles. Há 27 anos esse venerável monge 
de barbas brancas vive no Mosteiro de Santo Antônio, um posto 
avançado no deserto oriental egípcio. Em visita ao local, perguntei o 
que ele achava da idéia de que Judas estava apenas agindo a pedido 
de Jesus quando o entregou e que, portanto, era um homem bom. 
Ruwais ficou tão chocado que cambaleou e trombou com a porta que 
estava fechando. Depois, repugnado, murmurou: "Não recomendado". 
 
Sua indignação está em sintonia com a cólera do bispo Irineu - um 
lembrete de que nesse lugar, à sombra das inóspitas montanhas do 
Mar Vermelho, o mundo cristão dos primeiros tempos é algo palpável. 
Um pouco antes, o padre Ruwais me recebera no interior da Igreja dos 
Apóstolos. Sob nossos pés, recém-escavadas, estavam as celas, a 
cozinha e a padaria construídas por Santo Antônio em pessoa no 
século 4, quando fundou sua comunidade. 
 
Na época desse acontecimento, célebre na história da Igreja como o 
início do monasticismo no deserto, um escriba anônimo pegara uma 
pena de junco e uma folha de papiro e começara a copiar o "Relato 
secreto." Não deve ter feito isso muito longe dali; a área onde se 
afirma ter sido encontrado o códice fica 65 quilômetros a oeste do 
mosteiro. O escriba pode ter sido um monge, como aqueles que 
reverenciavam os textos gnósticos e os mantinham em suas 
bibliotecas. 
 
No fim do século 4, porém, possuir livros desse tipo era uma 
imprudência. Em 313, o imperador romano Constantino legalizara o 
cristianismo. Mas sua tolerância abrangia apenas a Igreja organizada, 
a quem ele prodigalizava riquezas e privilégios, sem falar das isenções 
de impostos. Os hereges, cristãos que discordavam das doutrinas 
oficiais, não tiveram apoio, foram punidos e por fim proibidos de reunir-
se. 
 
Irineu indicara os quatro evangelhos canônicos como os únicos que os 
cristãos deveriam ler. Sua lista, por fim, tornou-se a política da Igreja. 
Em 367, Atanásio, o poderoso bispo de Alexandria e admirador de 
Irineu, emitiu uma ordem a todos os cristãos do Egito com uma lista de 
27 textos, entre eles os evangelhos atuais, que deveriam ser 
considerados os únicos livros sagrados do Novo Testamento. Essa 
lista perdura até hoje. 
 
Não há como saber quantos livros foram perdidos à medida que a 
Bíblia tomou forma, mas sabemos com certeza que alguns foram 
escondidos. O achado de Nag Hammadi fora enterrado em um jarro 
de cerâmica de gargalo alongado, talvez por monges dos mosteiros de 
São Pacômio, nas proximidades. Um homem apenas teria bastado 
para esconder o Evangelho de Judas, que estava encadernado junto 
com três outros textos gnósticos. 
 
Os documentos sobreviveram intactos por séculos. Ninguém os leu 
até o começo de maio de 1983, quando Stephen Emmel, estudante de 
pós-graduação em Roma, recebeu um telefonema de um colega 
acadêmico pedindo-lhe que fosse à Suíça examinar alguns 
documentos coptas. Em Genebra, Emmel e dois colegas foram 
encaminhados a um quarto de hotel onde se encontraram com dois 
homens: um egípcio que não falava inglês e um grego que traduzia. 
 
"Tivemos cerca de meia hora para examinar três caixas de sapato. 
Dentro havia papiro embrulhado em jornal", conta Emmel. "Não nos foi 
permitido tirar fotos nem fazer anotações." O papiro já começava a 
esfarelar-se, por isso Emmel não ousou tocá-lo com as mãos. 
Ajoelhou-se ao lado da cama, ergueu algumas das folhas com uma 
pinça e vislumbrou o nome de Judas. Equivocadamente, supôs tratar-
se de Judas Tomé, outro discípulo, mas acertou ao compreender que 
aquela era uma obra de enorme importância. 
 
Um dos colegas de Emmel enfiou-se no banheiro para negociar. 
Emmel estava autorizado a oferecer no máximo 50 mil dólares; os 
vendedores pediam 3 milhões,nem um centavo a menos. "Ninguém 
pagaria tudo aquilo", diz Emmel, hoje professor na Universidade de 
Münster, Alemanha, que recorda, com tristeza, que o papiro estava 
"bonito" e lamenta sua deterioração desde esse encontro. Enquanto 
os dois lados almoçavam, ele saiu de mansinho e anotou tudo o que 
conseguiu lembrar. Foi a última vez que um especialista viu esses 
documentos nos 17 anos seguintes. 
 
O egípcio naquele quarto de hotel em Genebra era um negociante de 
antiguidades do Cairo chamado Hanna. Ele comprara o manuscrito de 
um negociante de aldeia que ganhava a vida procurando material 
desse tipo. Não se sabe exatamente onde ou como a coleção foi parar 
nas mãos desse negociante. Ele está morto agora, e seus parentes, 
no distrito de Maghagha, 150 quilômetros ao sul do Cairo, mostram-se 
reticentes quando são instados a revelar o local da descoberta. 
 
Logo depois de Hanna adquirir o manuscrito, todo o seu estoque 
desapareceu em um roubo. Ele afirma que os produtos roubados 
foram contrabandeados para fora do país e acabaram nas mãos de 
outro negociante. Tempos depois, contudo, Hanna conseguiu 
recuperar parte de suas mercadorias, inclusive o evangelho. 
 
Houve um tempo em que pouca gente indagaria como é que uma 
antiguidade de valor inestimável saiu do país que a abrigava. Qualquer 
visitante podia coletar artefatos e mandá-los para o exterior. Foi assim 
que grandes museus, como o Louvre e o Museu Britânico, adquiriram 
muitos de seus tesouros. Hoje, países ricos em relíquias históricas 
tendem a ter uma atitude de dono, proibindo a propriedade privada e 
controlando as exportações do patrimônio que herdaram. Os 
compradores respeitáveis, como os museus, tentam assegurar-se da 
legitimidade da procedência dos artefatos, ou origem, verificando se 
eles não foram roubados ou exportados ilegalmente. 
 
No início da década de 1980, quando ocorreu o roubo, o Egito já 
proibira a posse de antiguidades não registradas e sua exportação 
sem licença. Não está claro como essa lei se aplica ao códice. Mas, 
devido às questões sobre sua procedência, sua situação vem sendo 
nebulosa desde então. 
 
Hanna, porém, estava decidido a ganhar o máximo de dinheiro 
possível com ele. Como os acadêmicos de Genebra, com sua 
animação, confirmaram que o documento era valioso, Hanna partiu 
para Nova York à procura de um comprador com dinheiro de verdade. 
A incursão foi infrutífera, e Hanna, desanimado, regressou ao Cairo. 
Em 1984, antes de partir de Nova York, alugou um cofre em uma 
agência do Citibank em Hicksville, Long Island, onde guardou o códice 
e outros papiros antigos. Ali eles permaneceram, mofando, enquanto 
Hanna fazia tentativas intermitentes de despertar o interesse de 
compradores. Seu preço, se diz, foi sempre alto demais. 
 
Finalmente, em abril de 2000 ele fez a venda. A compradora foi Frieda 
Nussberger-Tchacos, grega natural do Egito que ascendera ao topo 
do implacável ramo de antiguidades depois de estudar egiptologia em 
Paris. Ela não quer divulgar quanto pagou - apenas admite que a 
quantia estimada nos boatos, 300 mil dólares, está "errada, mas 
próxima". Ocorreu-lhe que talvez a Beinecke Rare Books and 
Manuscript Library, um centro de textos raros na Universidade de 
Yale, poderia querer o texto, e assim ela confiou sua mercadoria a um 
dos especialistas em manuscritos da biblioteca, o professor Robert 
Babcock. 
 
Dias depois, quando ela ia pegar um avião de volta a Zurique, o 
professor telefonou. A notícia que ele lhe deu era explosiva, mas é da 
empolgação do homem, audível até em um celular no trânsito de 
Manhattan na hora do rush, que Frieda mais se lembra. "Ele dizia: 'Isto 
é inacreditável! Acho que é o Evangelho de Judas Iscariotes'. Mas eu, 
na verdade, só registrei a emoção que vibrava em sua voz." Só mais 
tarde, sobrevoando o Atlântico, Frieda começou a se dar conta de que 
era a dona do lendário Evangelho de Judas. 
 
Os gregos falam em moira - destino -, e nos meses seguintes Frieda 
começou a sentir que sua moira enredara-se terrivelmente com a de 
Judas, "como uma maldição". A biblioteca Beinecke ficou com o 
documento por cinco meses, mas no fim se recusou a comprá-lo - 
apesar da empolgação de Babcock -, em parte devido às dúvidas 
sobre sua procedência. Assim, Frieda desistiu dos círculos 
acadêmicos de elite e foi procurar Bruce Ferrini, cantor de ópera que 
virara negociante de manuscritos antigos em Akron, Ohio. 
 
A rejeição de Yale fora desalentadora, e a viagem a Akron, um 
pesadelo. "Meu vôo do aeroporto Kennedy foi cancelado, e precisei 
decolar de La Guardia em um avião pequeno. Eu estava levando o 
material acondicionado em caixas pretas, mas não me deixaram entrar 
com elas na cabine." Judas voou para Ohio no compartimento de 
bagagem. Em troca de Judas e outros manuscritos, Ferrini deu a 
Frieda um contrato de venda com uma empresa chamada Nemo e 
dois cheques pré-datados de 1,25 milhão de dólares cada um. 
 
Ferrini não deu retorno a numerosos telefonemas nos quais foi pedida 
a sua versão da história. Mas pessoas que viram o manuscrito sobre 
Judas nessa época afirmam que ele embaralhou as páginas. "Queria 
fazê-lo parecer mais completo", supõe o especialista em copta Gregor 
Wurst, que está ajudando a restaurar o documento. Mais fragmentos 
estavam se desprendendo. Frieda começara a preocupar-se com a 
transação dias depois de voltar para casa. Suas dúvidas aumentaram 
quando um amigo, Mario Roberty, comentou que nemo, em latim, 
significa "ninguém". 
 
Roberty, um advogado suíço muito perspicaz e simpático, conhece o 
mundo desses negociantes e dirige uma fundação dedicada à arte 
antiga. Ficou "fascinado" com a história de Frieda, declarou, e se 
prontificou a ajudá-la a reaver Judas. Os vultosos cheques de Ferrini 
estavam datados para o início de 2001. Para ajudar a fazer pressão 
sobre o negociante de Akron, Roberty recrutou a arma de destruição 
em massa do ramo das antiguidades: o ex-negociante Michel van Rijn. 
Em Londres, Van Rijn gerencia um site no qual flagela sem piedade 
seus inimigos no meio. 
 
Informado por Roberty, Van Rijn divulgou a notícia do evangelho, 
acrescentando que o manuscrito estava "nas garras de um 
'multitalentoso' negociante, Bruce P. Ferrini", que se encontrava "em 
tremendos apuros financeiros". E, em letras garrafais, alertou 
potenciais compradores: "Você compra? Você põe a mão? Será 
processado!" 
 
Como Roberty relembra alegremente, mobilizar Van Rijn "funcionou, 
foi decisivo". Mas, tempos depois, Van Rijn deu uma guinada e 
começou a fazer críticas ferozes a Roberty e Frieda em seu site. "Acho 
que acabou a munição dele", explica Roberty. Em fevereiro de 2001, 
Frieda recuperou o código de Judas e o levou para a Suíça, onde, 
cinco meses depois, encontrou Kasser. 
 
Naquele momento, ela conta, Judas transformou-se de maldição em 
bênção. Enquanto Kasser ia capturando o significado do código nos 
fragmentos, Roberty atinou com uma solução criativa para o problema 
da procedência: vender os direitos de tradução e de divulgação pela 
mídia, prometendo, ao mesmo tempo, devolver o material original ao 
Egito. A fundação de Roberty, que hoje está em posse do manuscrito, 
assinou um acordo com a National Geographic Society. 
 
Livre agora das preocupações comerciais, a própria Frieda começa a 
parecer um tanto mística. "Tudo é predestinado", murmura. "Eu 
mesma fui predestinada por Judas para reabilitá-lo." 
 
Às margens do lago Genebra, no andar de cima de um prédio 
anônimo, um especialista manipula um pedaço de papiro, coloca-o em 
seu lugar, e parte de uma sentença antiga é restaurada. Judas, 
renascido, está prestes a nos encarar. 
 
 
 
�
 
MANUSCRITO 
 
Retirado das areias do Egito no final do século 20, esta cópia do 
Evangelho Gnóstico de Judas, com data entre o início emeados do 
século 4, foi escrita em cóptico egípcio, mas com caracteres gregos. 
(O original foi composto em grego e traduzido em cóptico egípcio.) 
Escrito a tinta no que é hoje – depois de dois mil anos – um papiro 
perigosamente frágil, este documento de preço incalculável é um 
tesouro por si só. Mas seu verdadeiro valor está no que o texto revela: 
Judas Iscariotes, que se transformou no homem mais odiado da 
cristandade, foi o discípulo mais devoto e o amigo mais fiel do 
Salvador. Ele sacrificou o próprio nome para honrar o pedido de Jesus 
para que o traísse. 
 
ESPECIALISTAS EM CÓDICE: 
 
Códice página 33: 
“O relato secreto…” 
“O relato secreto da revelação que Jesus fez em conversa com Judas 
Iscariotes…” 
 
Lendo da esquerda para a direita, esta passagem encontra-se entre as 
primeiras linhas. “Judas” é a última palavra no final da segunda linha, 
basta seguir o pequeno rasgo vertical que começa na parte superior 
direita da página. Na maior parte de texto fragmentado que se segue, 
lê-se “Iscariotes”. 
 
O Evangelho de Judas contém texto com perspectiva bem diferente da 
exposta nos escritos do cristianismo ortodoxo seguidos hoje. Essas 
idéias pouco convencionais, permeadas de mitologia dos judeus 
gnósticos, refletem-se nos ensinamentos que Jesus compartilhou com 
Judas nos dias anteriores ao pessach: 
 
 
No início, existiu uma deidade infinita tão elevada que nem a palavra 
“Deus” era capaz de fazer-lhe justiça. 
Por meio de uma seqüência complexa de eventos, os céus produziram 
luz divina, radiante. 
Nebro, deus criador mau, responsável pelos problemas do mundo, 
reina sobre o mundo inferior dos seres humanos. 
Alguns humanos carregam dentro de si o espírito do divino. 
 
Códice página 34: 
“… [ele] riu.” 
Estas palavras encontram-se logo abaixo da última palavra da primeira 
linha. Partes faltantes do papiro forçaram os tradutores a inferir certas 
palavras como “ele”, com base em seus conhecimentos e a 
interpretação do restante do texto. 
 
Evangelhos do Novo testamento retratam Jesus como um homem 
reservado, que raramente demonstrava bom humor. Mas, no 
Evangelho de Judas, Jesus ri bastante, especialmente frente aos 
absurdos que ditam as regras da vida humana. Mas ele também ri da 
maneira séria – e sem questionamento – de como os discípulos 
aceitam coisas como preces, oferecendo-a não apenas por terem 
vontade, mas por acreditar que seu Deus realmente quer ser louvado 
desta maneira. É como se Jesus observasse de longe, sacudisse a 
cabeça e pensasse: “O que posso dizer?”. 
 
Por que o filho de Deus riria de algo assim? O Evangelho de Judas é 
considerado um evangelho gnóstico, uma forma primitiva de 
espiritualidade que se foca na gnose, palavra grega que significa 
“sabedoria”. Os gnósticos acreditam em um conhecimento místico, um 
conhecimento de Deus que os permite comungar com ele e 
comunicar-se com ele sem intermediários. Tais crenças entravam em 
conflito direto com integrantes da Igreja Ortodoxa, que estava 
surgindo. “No Evangelho de Judas”, diz Marvin Meyer, estudioso da 
Bíblia a Universidade Chapman da Califórnia (EUA), “esses outros 
cristãos atendem à vontade de um deus criador que controla o mundo 
com severidade. Este deus é o oposto radical da deidade 
transcendente proclamada no Evangelho de Judas.” 
 
Códice página 37: 
Fragmento de Nova York “… outras forças (…) por [meio das quais] 
você governa. Quando os discípulos [dele] ouviram isto, cada um ficou 
com o espírito inquieto. Não podiam dizer palavra. Outro dia, Jesus 
veio a [eles]. Disseram a [ele]: ‘Mestre, vimos o senhor em uma 
[visão], porque tivemos [sonhos] notáveis [à] noite (...)’. [Ele disse:] 
‘Por que foram se esconder?’” 
 
Esta passagem ocupa todo este fragmento, uma porção da página 37 
encontrada em Nova York depois de a descoberta ter sido noticiada 
pela imprensa. Os pesquisadores, que esperam encontrar outros 
fragmentos, foram capazes de traduzi-lo e incorporá-lo à tradução do 
texto maior. 
 
Com base na especulação a respeito do significado possível deste 
texto fragmentário, pesquisadores acreditam que a passagem possa 
descrever os discípulos relatando sua premonição a respeito da prisão 
de Jesus no jardim do Gethsêmani. Por sua vez, ficam atordoados e 
em silêncio quando Jesus prevê ainda que vão fugir aterrorizados 
quando ele for preso, cena descrita nos evangelos de são Mateus e 
são Marcos no Novo Testamento. 
 
Códice página 39: 
“... árvores sem frutos...” 
“E plantaram árvores sem frutos, em meu nome, de maneira 
vergonhosa.” 
 
Conte 14 linhas para cima a partir da parte de baixo da página. Esta 
passagem começa logo antes da grande interrupção em forma de 
curva no centro, à direita, e continua por mais duas linhas até um sinal 
de pontuação grego que se parece com dois pontos. 
 
Jesus parece estar criticando aqueles que pregam em seu nome, mas 
com proclamações sem substância ou conteúdo frutífero. Isto fazia 
parte da polêmica da época entre os gnósticos e a nova Igreja 
Ortodoxa, com um grupo questionando abertamente as opiniões do 
outro. 
 
Códice página 40: 
“… ministro de erros.” 
 
A cinco linhas inteiras a partir da parte de baixo da página, esta 
passagem começa logo à direita da interrupção vertical e continua na 
linha seguinte no símbolo que parece dois pontos, à esquerda do 
rasgo. 
 
O conflito entre os gnósticos e a Igreja Ortodoxa se reflete na maneira 
como Jesus enxerga a igreja e sua doutrina questionável. Os 
discípulos têm uma visão do templo, que Jesus explica em termos 
alegóricos. Ele compara o que eles vêem no templo com a mensagem 
errônea que vem da Igreja dominante em surgimento. Os discípulos, 
ele explica são assemelhados a um sacerdote de templo, ou um 
“ministro de erros”: aquele que expõe ensinamentos imprecisos. 
 
Códice página 56: 
“... você vai se destacar sobre todos eles...” 
“… você vai se destacar sobre todos eles. Porque vai sacrificar o 
homem que me veste.” 
 
Olhe para o segmento mais extenso de texto na parte de baixo desta 
página altamente fragmentada. À direita do pedaço de papiro no topo 
e de um caractere grego que parece um “Y”, está a palavra “você”. A 
linha seguinte diz: “... vai se destacar sobre todos eles”. O restante 
desta passagem continua nas duas linhas seguintes e no início da 
terceira, logo depois do primeiro rasgo em ângulo reto. 
 
As palavras de Jesus a Judas descrevem como ele vai se destacar 
entre os outros discípulos depois de sua morte. De acordo com o 
Evangelho de Judas, o Salvador é o ser espiritual dentro de Jesus, 
que vive na dimensão espiritual. O ser físico de Jesus não passa de 
uma cobertura, assemelhada a uma roupa, que o Salvador espiritual 
usa neste mundo. Jesus, em essência, diz a Judas que, ao traí-lo – 
conscientemente e a seu pedido –, está demonstrando verdadeira 
amizade e permitindo ao homem Jesus morrer para que o Salvador 
possa se libertar para retornar a sua morada no céu. Segundo a 
tradição gnóstica, Jesus não enxerga sua morte como tragédia nem 
como ato necessário para salvar o mundo do pecado. 
 
Códice página 57: 
“Erga seus olhos...” 
“Erga seus olhos e olhe para a nuvem e a luz dentro dela e as estrelas 
que a rodeiam. A estrela que indica o caminho é a nossa estrela. 
Judas ergue os olhos e viu a nuvem luminosa, e entrou nela.” 
 
Esta passagem começa oito linhas ara baixo do fragmento maior e 
continua mais sete linhas até o fim dos dois caracteres gregos que 
parecem “OC” à direita da página. 
 
Ao confiar a Judas a difícil tarefa de cumprir a ordem e entregá-lo às 
autoridades, Jesus confirma a posição de destaque de Judas entre os 
discípulos. 
 
Este exemplo de pensamento gnóstico tem a mesma base da 
premissa de Platão de que o criador da humanidade designou uma 
alma e uma estrela para cada pessoa,e que seguimos esta estrela 
como guia por toda a vida. 
 
Judas é glorificado quando entra na “nuvem luminosa”, que se acredita 
ser uma manifestação de Deus semelhante à transfiguração de Jesus. 
 
Códice página 34: 
“… [ele] riu.” 
Estas palavras encontram-se logo abaixo da última palavra da primeira 
linha. Partes faltantes do papiro forçaram os tradutores a inferir certas 
palavras como “ele”, com base em seus conhecimentos e a 
interpretação do restante do texto. 
 
Evangelhos do Novo testamento retratam Jesus como um homem 
reservado, que raramente demonstrava bom humor. Mas, no 
Evangelho de Judas, Jesus ri bastante, especialmente frente aos 
absurdos que ditam as regras da vida humana. Mas ele também ri da 
maneira séria – e sem questionamento – de como os discípulos 
aceitam coisas como preces, oferecendo-a não apenas por terem 
vontade, mas por acreditar que seu Deus realmente quer ser louvado 
desta maneira. É como se Jesus observasse de longe, sacudisse a 
cabeça e pensasse: “O que posso dizer?”. 
 
Por que o filho de Deus riria de algo assim? O Evangelho de Judas é 
considerado um evangelho gnóstico, uma forma primitiva de 
espiritualidade que se foca na gnose, palavra grega que significa 
“sabedoria”. Os gnósticos acreditam em um conhecimento místico, um 
conhecimento de Deus que os permite comungar com ele e 
comunicar-se com ele sem intermediários. Tais crenças entravam em 
conflito direto com integrantes da Igreja Ortodoxa, que estava 
surgindo. “No Evangelho de Judas”, diz Marvin Meyer, estudioso da 
Bíblia a Universidade Chapman da Califórnia (EUA), “esses outros 
cristãos atendem à vontade de um deus criador que controla o mundo 
com severidade. Este deus é o oposto radical da deidade 
transcendente proclamada no Evangelho de Judas.” 
 
 
 
VOCÊ SABIA? 
 
Os primeiros cristãos, conhecidos como gnósticos, cujas crenças se 
refletem no evangelho de Judas, não eram um grupo homogêneo - 
estudiosos até debatem se as diversas ramificações dos gnósticos 
devem mesmo ser agrupadas sob um só título. A idéia gnóstica de que 
os indivíduos carregam dentro de si uma fagulha divina pode muito 
bem ter existido antes do cristianismo. Mas, depois da época de 
Cristo, vários gnósticos adotaram Jesus como seu salvador - como o 
homem que contou a verdade sobre Deus para a humanidade - e 
portanto passaram a se considerar cristãos. No entanto, eles 
enxergavam o papel e os ensinamentos dele de modo bem distinto 
dos cristãos ortodoxos. 
 
Então, onde Jesus se encaixava na cosmologia gnóstica? 
 
Muitos gnósticos acreditavam que Jesus foi enviado à Terra para falar 
à humanidade sobre um Deus gentil, amoroso e condescendente, 
muito diferente do Deus severo, vingativo e criador do Antigo 
Testamento. Como os gnósticos não conseguiam harmonizar os dois 
aspectos opostos do divino em um único Deus, acreditavam que devia 
existir outro deus além do criador. 
 
Chegaram a enxergar este segundo Deus maior como a mente divina 
que, no início dos tempos, teve idéias que ganharam vida própria e se 
transformaram em entidades divinas conhecidas como Aeons. Os 
Aeons viviam no Pleroma, ou amplidão de Deus, que era um tipo de 
éter celestial ou reino de luz. Uma dessas idéias transformadas em 
substância era a Sabedoria, chamada "Sophia". Ela começou a pensar 
e a ter idéias próprias, então criou um novo ser sem consultar a mente 
divina, e sem sua aprovação. Este ser ficou conhecido como 
Yaldobaoth, e foi chamada de demiurgo, ou criador. 
 
Os gnósticos acreditavam que Yaldobaoth era o responsável por criar 
Adão e Eva a partir do barro de dar-lhes o sopro da vida. O espírito do 
criador, uma aberração no mundo puro da mente divina, introduziu a 
maldade no mundo. Mas também carregava a essência de Sophia, e 
exalou um pouco dessa divindade em Adão e Eva quando os trouxe à 
vida. Toda a humanidade herdou esta fagulha divina. 
 
O papel de Jesus na Terra, de acordo com os cristãos gnósticos, era 
explicar à humanidade sua descendência do divino. Com esta 
informação, e olhando para dentro de si para descobrir a fagulha 
divina, um gnóstico é capaz de ser reunir com o divino e viver na 
amplitude de Deus. 
 
Elizabeth Snodgrass 
 
 
 
 
 
ANOTAÇÕES DE CAMPO DO FOTÓGRAFO KENNETH GARRETT 
 
O MELHOR: 
 
Eu nunca me interessei muito por história bíblica, mas esta 
reportagem me deu uma oportunidade incrível de examinar as origens 
tumultuadas do cristianismo nos primeiros 400 anos depois da morte 
de Cristo. Achei fascinante o fato de as histórias sobre Jesus serem 
transmitidas oralmente e de ninguém ter começado escrevê-las até 
cerca de 30 anos depois de sua morte. Depois, os teólogos da época 
demoraram séculos para destrinchar as histórias durante o processo 
de edição da Bíblia. 
 
Vai ser interessante ver o tipo de debate que nossas descobertas a 
respeito de Judas vão suscitar, porque enxergá-lo como o discípulo 
em que Jesus mais confiava com certeza modifica a história. Eu sei 
que algumas pessoas vão rejeitar a idéia de cara, porque os primeiros 
estudiosos declararam o evangelho uma heresia. Mas quem tem 
curiosidade intelectual vai pensar: "Isto aqui é bacana demais". 
 
O PIOR: 
 
O trabalho nesta reportagem começou em dezembro de 2004, e todos 
os envolvidos tiveram que assinar um termo de sigilo para que a 
informação não vazasse. Além dos integrantes deste pequeno grupo, 
eu não pude conversar sobre o assunto com ninguém - nem com 
meus familiares. Eu só dizia às pessoas que estava trabalhando em 
uma reportagem sobre as origens do cristianismo. Para quem queria 
saber mais, eu tinha que me ater ao bordão: "Se eu contar, vou ter que 
te matar". 
 
O MAIS BIZARRO: 
 
Quando recebemos a primeira tradução do evangelho de Judas, 
ficamos arrepiados ao ler sobre a revelação que Judas teve ao entrar 
em uma nuvem. Dizia assim: "Quem estava no chão ouviu uma voz 
vinda de uma nuvem, dizendo...". Então, quando achamos que iríamos 
descobrir o que a voz disse, lemos "... Lacuna". As palavras estavam 
faltando devido a um fragmento desaparecido do papiro... 
 
 
 
 
 
Fonte: 
http://nationalgeographic.abril.com.br/ngbonline/evangelho/index.shtml 
 
 
 
 
�
 
 
THE GOSPEL OF JUDAS 
[Versão completa em inglês] 
 
Translated by 
Rodolphe Kasser, Marvin Meyer, and Gregor Wurst, 
in collaboration with François Gaudard 
From The Gospel of Judas 
Edited by Rodolphe Kasser, Marvin Meyer, and Gregor Wurst 
with commentary by The National Geographic Society. 
 
 
INTRODUCTION: INCIPIT 
The secret account of the revelation that Jesus spoke in conversation 
with Judas Iscariot during a week three days before he celebrated 
Passover. 
 
THE EARTHLY MINISTRY OF JESUS 
 
When Jesus appeared on earth, he performed miracles and great 
wonders for the salvation of humanity. And since some [walked] in the 
way of righteousness while others walked in their transgressions, the 
twelve disciples were called. 
He began to speak with them about the mysteries beyond the world 
and what would take place at the end. Often he did not appear to his 
disciples as himself, but he was found among them as a child. 
 
SCENE 1: Jesus dialogues with his disciples: The prayer of 
thanksgiving or the eucharist 
 
One day he was with his disciples in Judea, and he found them 
gathered together and seated in pious observance. When he 
[approached] his disciples, [34] gathered together and seated and 
offering a prayer of thanksgiving over the bread, [he] laughed. 
The disciples said to [him], “Master, why are you laughing at [our] 
prayer of thanksgiving? We have done what is right.” 
He answered and said to them, “I am not laughing at you. <You> are 
not doing this because of your own will but because it is through this 
that your god [willbe] praised.” 
They said, “Master, you are […] the son of our god.” 
Jesus said to them, “How do you know me? Truly [I] say to you, no 
generation of the people that are among you will know me.” 
 
THE DISCIPLES BECOME ANGRY 
 
When his disciples heard this, they started getting angry and infuriated 
and began blaspheming against him in their hearts. 
When Jesus observed their lack of [understanding, he said] to them, 
“Why has this agitation led you to anger? Your god who is within you 
and […] [35] have provoked you to anger [within] your souls. [Let] any 
one of you who is [strong enough] among human beings bring out the 
perfect human and stand before my face.” 
They all said, “We have the strength.” 
But their spirits did not dare to stand before [him], except for Judas 
Iscariot. He was able to stand before him, but he could not look him in 
the eyes, and he turned his face away. 
Judas [said] to him, “I know who you are and where you have come 
from. You are from the immortal realm of Barbelo. And I am not worthy 
to utter the name of the one who has sent you.” 
 
JESUS SPEAKS TO JUDAS PRIVATELY 
 
Knowing that Judas was reflecting upon something that was exalted, 
Jesus said to him, “Step away from the others and I shall tell you the 
mysteries of the kingdom. It is possible for you to reach it, but you will 
grieve a great deal. [36] For someone else will replace you, in order 
that the twelve [disciples] may again come to completion with their 
god.” Judas said to him, “When will you tell me these things, and 
[when] will the great day of light dawn for the generation?” 
But when he said this, Jesus left him. 
 
SCENE 2: Jesus appears to the disciples again 
The next morning, after this happened, Jesus [appeared] to his 
disciples again. They said to him, “Master, where did you go and what 
did you do when you left us?” Jesus said to them, “I went to another 
great and holy generation.” His disciples said to him, “Lord, what is the 
great generation that is superior to us and holier than us, that is not 
now in these realms?” 
When Jesus heard this, he laughed and said to them, “Why are you 
thinking in your hearts about the strong and holy generation? [37] Truly 
[I] say to you, no one born [of] this aeon will see that [generation], and 
no host of angels of the stars will rule over that generation, and no 
person of mortal birth can associate with it, because that generation 
does not come from […] which has become […]. The generation of 
people among [you] is from the generation of humanity […] power, 
which [… the] other powers […] by [which] you rule.” 
When [his] disciples heard this, they each were troubled in spirit. They 
could not say a word. 
Another day Jesus came up to [them]. They said to [him], “Master, we 
have seen you in a [vision], for we have had great [dreams …] night 
[…].” [He said], “Why have [you … when] <you> have gone into 
hiding?” [38] 
 
THE DISCIPLES SEE THE TEMPLE AND DISCUSS IT 
 
They [said, “We have seen] a great [house with a large] altar [in it, and] 
twelve men—they are the priests, we would say—and a name; and a 
crowd of people is waiting at that altar, [until] the priests [… and 
receive] the offerings. [But] we kept waiting.” 
[Jesus said], “What are [the priests] like?” 
They [said, “Some …] two weeks; [some] sacrifice their own children, 
others their wives, in praise [and] humility with each other; some sleep 
with men; some are involved in [slaughter]; some commit a multitude of 
sins and deeds of lawlessness. And the men who stand [before] the 
altar invoke your [name], [39] and in all the deeds of their 
deficiency, the sacrifices are brought to completion […].” 
After they said this, they were quiet, for they were troubled. 
 
JESUS OFFERS AN ALLEGORICAL INTERPRETATION OF THE 
VISION OF THE TEMPLE 
 
Jesus said to them, “Why are you troubled? Truly I say to you, all the 
priests who stand before that altar invoke my name. Again I say to you, 
my name has been written on this […] of the generations of the stars 
through the human generations. [And they] have planted trees without 
fruit, in my name, in a shameful manner.” 
Jesus said to them, “Those you have seen receiving the offerings at 
the altar—that is who you are. That is the god you serve, and you are 
those twelve men you have seen. The cattle you have seen brought for 
sacrifice are the many people you lead astray [40] before that altar. […] 
will stand and make use of my name in this way, and generations of 
the pious will remain loyal to him. After hi another man will stand there 
from [the fornicators], and another [will] stand there from the slayers of 
children, and another from those who sleep with men, and those who 
abstain, and the rest of the people of pollution and lawlessness and 
error, and those who say, ‘We are like angels’; they are the stars that 
bring everything to its conclusion. For to the human generations it has 
been said, ‘Look, God has received your sacrifice from the hands of a 
priest’—that is, a minister of error. But it is the Lord, the Lord of the 
universe, who commands, ‘On the last day they will be put to shame.’” 
[41] Jesus said [to them], “Stop sac[rificing …] which you have […] 
over the altar, since they are over your stars and your angels and have 
already come to their conclusion there. So let them be [ensnared] 
before you, and let them go [—about 15 lines missing—] generations 
[…]. A baker cannot feed all creation [42] under [heaven]. And […] to 
them […] and […] to us and […]. Jesus said to them, “Stop struggling 
with me. Each of you has his own star, and every[body—about 17 lines 
missing—] [43] in […] who has come [… spring] for the tree […] of this 
aeon […] for a time […] but he has come to water God’s paradise, and 
the [generation] that will last, because [he] will not defile the [walk of 
life of] that generation, but […] for all eternity.” 
 
JUDAS ASKS JESUS ABOUT THAT GENERATION AND HUMAN 
GENERATIONS 
 
Judas said to [him, “Rabb]i, what kind of fruit does this generation 
produce?” Jesus said, “The souls of every human generation will die. 
When these people, however, have completed the time of the kingdom 
and the spirit leaves them, their bodies will die but their souls will be 
alive, and they will be taken up.” Judas said, “And what will the rest of 
the human generations do?” 
Jesus said, “It is impossible [44] to sow seed on [rock] and harvest its 
fruit. [This] is also the way […] the [defiled] generation […] and 
corruptible Sophia […] the hand that has created mortal people, so that 
their souls go up to the eternal realms above. [Truly] I say to you, […] 
angel […] power will be able to see that […] these to whom […] holy 
generations […].” 
After Jesus said this, he departed. 
 
SCENE 3: Judas recounts a vision and Jesus responds 
Judas said, “Master, as you have listened to all of them, now also listen 
to me. For I have seen a great vision.” 
When Jesus heard this, he laughed and said to him, “You thirteenth 
spirit, why do you try so hard? But speak up, and I shall bear with you.” 
Judas said to him, “In the vision I saw myself as the twelve disciples 
were stoning me and [45] persecuting [me severely]. And I also came 
to the place where […] after you. I saw [a house …], and my eyes 
could not [comprehend] its size. Great people were surrounding it, and 
that house <had> a roof of greenery, and in the middle of the house 
was [a crowd—two lines missing—], saying, ‘Master, take me in along 
with these people.’” 
[Jesus] answered and said, “Judas, your star has led you astray.” He 
continued, “No person of mortal birth is worthy to enter the house you 
have seen, for that place is reserved for the holy. Neither the sun nor 
the moon will rule there, nor the day, but the holy will abide there 
always, in the eternal realm with the holyangels. Look, I have 
explained to you the mysteries of the kingdom [46] and I have taught 
you about the error of the stars; and […] send it […] on the twelve 
aeons.” 
 
JUDAS ASKS ABOUT HIS OWN FATE 
 
Judas said, “Master, could it be that my seed is under the control of the 
rulers?” Jesus answered and said to him, “Come, that I [—two lines 
missing—], but that you will grieve much when you see the kingdom 
and all its generation.” When he heard this, Judas said to him, “What 
good is it that I have received it? For you have set me apart for that 
generation.” Jesus answered and said, “You will become the thirteenth, 
and you will be cursed by the other generations—and you will come to 
rule over them. In the last days they will curse your ascent [47] to the 
holy [generation].” 
 
JESUS TEACHES JUDAS ABOUT COSMOLOGY: THE SPIRIT AND 
THE SELF-GENERATED 
 
Jesus said, “[Come], that I may teach you about [secrets] no person 
[has] ever seen. For there exists a great and boundless realm, whose 
extent no generation of angels has seen, 
[in which] there is [a] great invisible [Spirit], which no eye of an angel 
has ever seen, no thought of the heart has ever comprehended, 
and it was never called by any name. 
“And a luminous cloud appeared there. He said, ‘Let an angel come 
into being as my attendant.’ 
“A great angel, the enlightened divine Self-Generated, emerged from 
the cloud. Because of him, four other angels came into being from 
another cloud, and they became attendants for the angelic Self-
Generated. The Self-Generated said, [48] ‘Let […] come into being 
[…],’ and it came into being […]. And he [created] the first luminary to 
reign over him. He said, ‘Let angels come into being to serve [him],’ 
and myriads without number came into being. He said, ‘[Let] an 
enlightened aeon come into being,’ and he came into being. He 
created the second luminary [to] reign over him, together with myriads 
of angels without number, to offer service. That is how he created the 
rest of the enlightened aeons. He made them reign over them, and he 
created for them myriads of angels without number, to assist them. 
 
ADAMAS AND THE LUMINARIES 
 
“Adamas was in the first luminous cloud that no angel has ever seen 
among all those called ‘God.’ He [49] […] that […] the image […] and 
after the likeness of [this] angel. 
He made the incorruptible [generation] of Seth appear […] the twelve 
[…] the twentyfour 
[…]. He made seventy-two luminaries appear in the incorruptible 
generation, in accordance with the will of the Spirit. The seventy-two 
luminaries themselves made three hundred sixty luminaries appear in 
the incorruptible generation, in accordance with the will of the Spirit, 
that their number should be five for each. 
“The twelve aeons of the twelve luminaries constitute their father, with 
six heavens for each aeon, so that there are seventy-two heavens for 
the seventy-two luminaries, and for each [50] [of them five] firmaments, 
[for a total of] three hundred sixty [firmaments …]. 
They were given authority and a [great] host of angels [without 
number], for glory and adoration, [and after that also] virgin spirits, for 
glory and [adoration] of all the aeons and the heavens and their 
firmaments. 
 
THE COSMOS, CHAOS, AND THE UNDERWORLD 
 
“The multitude of those immortals is called the cosmos— that is, 
perdition—by the Father and the seventy-two luminaries who are with 
the Self-Generated and his seventytwo aeons. In him the first human 
appeared with his incorruptible powers. And the aeon that appeared 
with his generation, the aeon in whom are the cloud of knowledge and 
the angel, is called [51] El. […] aeon […] after that […] said, ‘Let twelve 
angels come into being [to] rule over chaos and the [underworld].’ And 
look, from the cloud there appeared an [angel] whose face flashed with 
fire and whose appearance was defiled with blood. His name was 
Nebro, which means ‘rebel’; others call him Yaldabaoth. Another 
angel, Saklas, also came from the cloud. So Nebro created six 
angels—as well as Saklas—to be assistants, and these produced 
twelve angels in the heavens, with each one receiving a portion in the 
heavens. 
 
THE RULERS AND ANGELS 
 
“The twelve rulers spoke with the twelve angels: ‘Let each of you [52] 
[…] and let them 
[…] generation [—one line lost—] angels’: 
The first is [S]eth, who is called Christ. 
The [second] is Harmathoth, who is […]. 
The [third] is Galila. 
The fourth is Yobel. 
The fifth [is] Adonaios. 
These are the five who ruled over the underworld, and first of all over 
chaos. 
 
THE CREATION OF HUMANITY 
 
“Then Saklas said to his angels, ‘Let us create a human being after the 
likeness and after the image.’ They fashioned Adam and his wife Eve, 
who is called, in the cloud, Zoe. For by this name all the generations 
seek the man, and each of them calls the woman by these 
names. Now, Sakla did not [53] com[mand …] except […] the 
gene[rations …] this […]. And the [ruler] said to Adam, ‘You shall live 
long, with your children.’” 
 
JUDAS ASKS ABOUT THE DESTINY OF ADAM AND HUMANITY 
Judas said to Jesus, “[What] is the long duration of time that the human 
being will live?” Jesus said, “Why are you wondering about this, that 
Adam, with his generation, has lived his span of life in the place where 
he has received his kingdom, with longevity with his ruler?” 
Judas said to Jesus, “Does the human spirit die?” 
Jesus said, “This is why God ordered Michael to give the spirits of 
people to them as a loan, so that they might offer service, but the Great 
One ordered Gabriel to grant spirits to the great generation with no 
ruler over it—that is, the spirit and the soul. Therefore, the 
[rest] of the souls [54] [—one line missing—]. 
 
JESUS DISCUSSES THE DESTRUCTION OF THE WICKED WITH 
JUDAS AND OTHERS 
“[…] light [—nearly two lines missing—] around […] let […] spirit [that 
is] within you dwell in this [flesh] among the generations of angels. But 
God caused knowledge to be [given] to Adam and those with him, so 
that the kings of chaos and the underworld might not lord it over them.” 
Judas said to Jesus, “So what will those generations do?” 
Jesus said, “Truly I say to you, for all of them the stars bring matters to 
completion. When Saklas completes the span of time assigned for him, 
their first star will appear with the generations, and they will finish what 
they said they would do. Then they will fornicate in my name and slay 
their children [55] and they will […] and [—about six and a half lines 
missing—] my name, and he will […] your star over the [thir]teenth 
aeon.” 
After that Jesus [laughed]. 
[Judas said], “Master, [why are you laughing at us]?” 
[Jesus] answered [and said], “I am not laughing [at you] but at the error 
of the stars, because these six stars wander about with these five 
combatants, and they all will be destroyed along with their creatures.” 
 
JESUS SPEAKS OF THOSE WHO ARE BAPTIZED, AND JUDAS’S 
BETRAYAL 
 
Judas said to Jesus, “Look, what will those who have been baptized in 
your name do?” 
Jesus said, “Truly I say [to you], this baptism [56] […] my name [—
about nine lines missing—] to me. Truly [I] say to you, Judas, [those 
who] offer sacrifices to Saklas […] 
God [—three lines missing—] everything that is evil. 
“But you will exceed all of them. For you will sacrifice the man that 
clothes me. Already your horn has been raised, your wrath has been 
kindled, your star has shown brightly, 
and your heart has […]. [57] 
“Truly […] your last […] become [—about two and a half lines 
missing—], grieve [—about two lines missing—] the ruler, since he will 
be destroyed. And then the image of the great generation of Adam will 
be exalted, for prior to heaven, earth, and the angels, that generation, 
which is from the eternal realms,exists. Look, you have been told 
everything. Lift up your eyes and look at the cloud and the light within it 
and the stars surrounding it. The star that leads the way is your star.” 
Judas lifted up his eyes and saw the luminous cloud, and he entered it. 
Those standing on the ground heard a voice coming from the cloud, 
saying, [58] […] great generation […] … image […] [—about five lines 
missing—]. 
 
CONCLUSION: JUDAS BETRAYS JESUS 
 
[…] Their high priests murmured because [he] had gone into the guest 
room for his prayer. But some scribes were there watching carefully in 
order to arrest him during the prayer, for they were afraid of the people, 
since he was regarded by all as a prophet. They approached Judas 
and said to him, “What are you doing here? You are Jesus’ 
disciple.” 
Judas answered them as they wished. And he received some money 
and handed him over to them. 
 
THE END OF GOSPEL OF JUDAS 
 
 
 
 
ANEXO 
"nada há que seja novo debaixo do sol" (Eclesiastes 1:9) 
Resumo : Uma boa análise do "Evangelho de Judas", apócrifo do 
século II recém-traduzido para o inglês, com uma explicação razoável 
sobre o gnosticismo que o produziu, pode ajudar a fazer a diferença 
entre o cristianismo verdadeiro e uma empulhação gnóstica, 
empurrada pela inconseqüente e ignorante mídia mundial como 
"novidade" e "séria ameaça" à 
credibilidade da doutrina cristã. 
Para quem conhece tanto a 
cultura esotérica moderna quanto 
o conteúdo dos quatro 
evangelhos canônicos, o tal 
"evangelho" de Judas, texto 
produzido em meados do século 
II por gnósticos da seita dos 
Cainitas e conhecido como 
evangelho fraudulento por pais da 
Igreja como Irineu, classifica-se 
automática e inapelavelmente no 
primeiro caso – além de ser, para 
quem teve a pachorra de lê-lo (como eu), um texto chatíssimo, no 
limite do insuportável. Em vez da expressividade dos evangelhos, o 
Artefatos do "evangelho" de Judas em 
exibição. 
tom do relato apresenta-se vago, etéreo, cheio de detalhes numéricos, 
remetendo àquele tipo de linguagem pomposa que se quer passar por 
sábia com pouca ou nenhuma aplicabilidade. Está muito mais para 
literatura paulocoelhina que para texto bíblico. Os estudiosos dos 
primeiros séculos fizeram muitíssimo bem em deixá-lo de fora do 
cânon. 
Porém, como chegar a essas conclusões sem conhecer minimamente 
o gnosticismo? Por isso, uma boa análise de texto, com uma 
explicação razoável sobre essas teorias, pode ajudar a fazer a 
diferença entre o cristianismo verdadeiro e uma empulhação gnóstica, 
empurrada pela inconseqüente e ignorante mídia mundial como 
"novidade" e "séria ameaça" à credibilidade da doutrina cristã. 
Gnosticismo vem do grego gnosis , "conhecimento". Enquanto o 
cristianismo se baseia na revelação de Deus ao mundo – que atinge 
seu ápice na vinda de Cristo ("Quem vê a mim vê ao Pai", João 14:9; 
"Eu e o Pai somos um", João 10:30) – , o gnosticismo é um movimento 
muito antigo e de largo alcance até os dias de hoje, sempre de caráter 
esotérico ( eso significa "dentro" em grego, e esoterikos , "iniciados"), 
ou seja, que creditava a uns poucos a iluminação espiritual através de 
estudos ocultistas. Há uma semelhança impressionante entre as 
filosofias gnósticas anteriores ao Cristianismo – que floresceram em 
Babilônia, Egito, Síria e Grécia e procuraram se amalgamar 
posteriormente ao ensino de Cristo (o "evangelho" de Judas é uma 
das muitas provas disso) – e os ensinos de Allan Kardec e Madame 
Blavatsky, ambos nascidos no início do século XIX, que condensaram 
e impulsionaram o espiritismo e o esoterismo modernos, 
respectivamente. De fato, as doutrinas espíritas e esotéricas atuais 
são ramificações do velho tronco gnóstico. 
Um bom ponto de partida para diferenciar 
cristianismo e gnosticismo é uma das 
questões fundamentais de toda religião: a 
origem do mal. Para o gnosticismo, doutrina 
dualista por excelência, a polarização do 
mundo em bem e mal era existente desde o 
começo. Rezava o gnosticismo que Deus, 
pertencente ao mundo espiritual (portanto 
"bom"), cria sucessivos seres finitos 
chamados éons, e um deles (Sofia) dá à luz a 
Demiurgo, deus criador, que fez o mundo 
material (portanto "mau"). Se o mal está na 
matéria, a solução lógica para o mal é a 
libertação deste mundo, que se dá após 
sucessivas passagens da alma na Terra 
(reencarnação). É por isso que, nas doutrinas 
gnósticas modernas, o corpo é invariavelmente visto como prisão do 
espírito. Assim, a solução para o mal no mundo é dada pelo homem, a 
partir do progressivo desenvolvimento espiritual, quando, tendo 
atingido um grau máximo de purificação, não mais precisa "rebaixar-
se" ao mundo material. 
Já no cristianismo, o mal não é criação de algum deus nem atribuído à 
matéria (criada e aprovada por Deus como "boa" em Gênesis), mas 
sim conseqüência da vontade de autonomia do homem, que crê poder 
decidir entre o bem e o mal sem a participação de Deus – de fato, isto 
é o que significa, segundo consenso dos teólogos, "comer da árvore 
do conhecimento do bem e do mal" (Gênesis 2:17) após a proibição 
divina. Desde então, o mal e sua conseqüência direta, a morte, entram 
no mundo, e uma das principais tragédias humanas é que, apesar de 
diferenciar bem e mal, o homem não consegue por si só decidir-se 
sempre a favor do bem – pois sua autonomia é uma condição artificial, 
assim como o mal no mundo, que é temporal e não absoluto. Os que 
reconhecem a necessidade de se arrepender desse desejo de 
autonomia (que é precisamente o pecado original) e recolocar Deus no 
centro de sua vontade para uma vida verdadeira são os salvos, que se 
valem do único meio de fazê-lo: o sacrifício de Jesus, que, sendo 
Deus encarnado – o único ser humano justo, ou seja, não atingido 
pelo pecado original – , pode levar embora todo o mal do mundo ao 
cumprir na cruz a morte que nos era destinada, reconciliando o mundo 
Representação de 
Demiurgo, o deus criador 
segundo os gnósticos. 
com Ele. A solução para o mal, portanto, está em Deus, não no 
homem. 
O imbroglio entre visões religiosas tão diferentes começou já nos 
primórdios da igreja cristã. Na tentativa de conciliação com os 
ensinamentos de Jesus, gnósticos como Marcião (160 d.C.) e 
Valentim ensinavam que Cristo é um desses seres finitos (éons) que 
desceu dos poderes das trevas para transmitir o conhecimento secreto 
( gnosis ) e libertar os espíritos da luz, cativos no mundo material 
terreno, para conduzi-los ao mundo espiritual mais elevado. Nisso 
consistiria, para eles, a salvação. Temos, portanto, o encaixe da figura 
de Cristo, desdivinizada, no dualismo gnóstico, com reconhecíveis 
sinais de mitologia grega (quem deixa de ver Prometeu – aquele que 
rouba o fogo dos deuses para dá-los aos homens – na figura desse 
Cristo gnóstico?). Versões ligeiramente diferentes da mesma tentativa 
de conciliação ocorrem tanto na variação kardecista quanto na 
esotérica. Segundo Kardec, Jesus também não era Deus (afinal, Deus 
jamais se "rebaixaria" à matéria), mas sim o ser mais elevado que já 
passou por esse planeta, deixando-nos um exemplo de amor. E o 
esoterismo, embora não fale de éons, prega a existência de 
excelentes "mestres" espirituais ascensionados, que de tão elevados 
não encarnam mais, cada qual com um raio de atuação. Quem é 
considerado "o mestre do amor"? Cristo! Da mesma forma que no 
gnosticismo e no espiritismo, o esoterismo moderno o "encaixa" na 
fragmentação do governo do mundo, identificando-o apenas como um 
dos seres mais elevados que atuam sobre nós. 
Assim, há uma clara convergência entre o 
esoterismo moderno, o espiritismo e o 
gnosticismo nas seguintes considerações 
centrais: o mal é absoluto e associado à 
matéria, ao corpo físico, à vida na terra; diante 
disso, enquanto estamos no mundo físico, a 
nós pertence a luta contra o male a 
"salvação" (o desenvolvimento do espírito), e 
para isso Cristo está aí para nos ajudar como 
um dos mestres (ou éons, ou espírito 
elevado), transmitindo-nos sabedoria para tal, 
como parte de uma grande hierarquia de 
espíritos prontos para guiar o homem – tão 
grande e tão especializada em diversos 
assuntos que, em meio a tudo isso, Deus se 
torna quase um espectador, uma espécie de 
"força motriz" quieta e silenciosa por trás de 
toda a agitação dos espíritos. A influência de 
Deus sobre o mundo é assim diluída no poder de uma miríade de 
seres angélicos. Em contato com essas doutrinas, o homem não é 
levado, como na Bíblia, a buscar a Deus ("Buscai o Senhor enquanto 
se pode achar", Isaías 55:6), mas a se deixar impressionar com o 
poder de outros seres. 
No entanto, como pode alguém ser considerado apenas mestre, éon 
ou espírito elevado se, em suas próprias palavras, afirma-se Deus? 
Diz Ele: "Eu e o Pai somos um" (João 10:30) e "Eu sou a ressurreição 
e a vida" (João 11:25), entre muitas outras afirmações do mesmo teor. 
Se seus ensinamentos estão corretos, Ele é o que diz ser, senão não 
passaria de uma pessoa perturbada, não um grande mestre. Essa 
contradição não é percebida pelos gnósticos modernos, que deveriam, 
para uma coerência maior, não usar a Bíblia para respaldar suas 
crenças. 
O "evangelho" de Judas traz exemplos flagrantes de muitas dessas 
doutrinas gnósticas. Logo no início, o leitor desse texto encontra uma 
afirmação bombástica: "Quando Jesus surgiu na terra, fez grandes 
milagres e maravilhas para a salvação da humanidade." A Bíblia 
nunca associa a salvação a milagres e maravilhas, que são 
considerados sinais de que Jesus era o Messias esperado pelos 
judeus, mas sim ao sacrifício de Cristo na cruz por nós. Mas o 
Segundo Allan Kardec, 
Jesus não era Deus, mas 
sim o ser mais elevado que 
já passou por este planeta. 
pensamento gnóstico dilui a salvação, atribuindo-a a uma série de atos 
isolados, todos partindo do homem, com uma ênfase no conhecimento 
adquirido pela alma. A maior parte desse evangelho gnóstico consiste 
assim em ensinamentos de "Jesus" a Judas, com uma longa 
explicação sobre hierarquias angélicas em uma nova versão para a 
criação. Diz ele que, primeiro, um grande e invisível espírito está 
sozinho, uma nuvem surge a seu lado e ele pensa: "Que surja um 
grande anjo para assistir diante de mim", e esse anjo, chamado 
"Autogerado", sai da nuvem. A perplexidade do leitor é automática: se 
esse anjo foi gerado por si mesmo, qual foi o papel do grande espírito 
ao dizer aquilo? O relato continua e esse Autogerado (ou gerado com 
uma ajudinha, vá lá) começa a gerar por si inúmeros outros anjos e 
éons. Segue-se uma incompreensível explanação sobre um 
personagem chamado Adamas: "Adamas estava na primeira nuvem 
luminosa que nenhum anjo já vira entre todos aqueles chamados 
'Deus'." Esse Adamas é tão poderoso que cria anjos, luminares e éons 
– de onde a "geração incorruptível de Seth". A partir daí, os números 
se sucedem em um tedioso relato: doze, vinte e quatro, setenta e dois 
luminares que fazem trezentos e sessenta luminares por sua vez, com 
trezentos e sessenta firmamentos – tudo isso para doze éons 
privilegiados. Ufa! Além disso tudo, esses éons, no final, recebem 
autoridade, inúmeros anjos e espíritos virgens (?) "para a glória e 
adoração de todos os éons, céus e firmamentos". Hummm... anjos e 
espíritos adorando éons? Isso contraria a Bíblia de par a par. Porém, 
há mais: Seth, o primeiro da linhagem incorruptível de éons, é 
chamado de... Cristo! Com ele, outros quatro éons governam "o 
mundo dos mortos, e principalmente o caos". (Não há explicação de 
como alguém pode governar o caos .) Enfim, esse universo recheado 
de seres angélicos governando o mundo sem que Deus tenha um 
papel significativo em toda a história é a base do ensino gnóstico, sem 
tirar nem pôr. 
Se, na Bíblia, Jesus fala o tempo inteiro no Pai ("Toda planta que meu 
Pai celestial não plantou será arrancada", Mateus 15:13; "qualquer 
que, entre esta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim 
e das minhas palavras, também dele se envergonhará o Filho do 
homem quando vier na glória de seu Pai", Marcos 8:38; "Todas as 
coisas me foram entregues por meu Pai", Lucas 10:22; "Por isso o Pai 
me ama, pois dou a minha vida para a retomar", João 10:17), esse 
Jesus do evangelho de Judas está muito mais preocupado com anjos, 
éons e luminares, e alguns desses ainda são adorados – algo 
considerado anátema (maldito, condenado) na cultura judaica e 
incorporado pelo cristianismo como um dos princípios básicos: 
adoração, só a Deus. É por isso que em Apocalipse, por exemplo, o 
apóstolo João fica extasiado com a luz do anjo que vem falar com ele 
e se prostra para adorá-lo, mas o anjo imediatamente o faz erguer-se: 
"Não faças isso! Sou conservo teu e dos teus irmãos que mantêm o 
testemunho de Jesus; adora a Deus" (Apocalipse 19:10). 
Além dessa diferença fundamental quanto ao poder de Deus no 
mundo e a adoração, temos também representado no "evangelho" de 
Judas o conhecido dualismo que absolutiza o bem e o mal. A idéia 
gnóstica consiste em que o mal é necessário para que o bem 
sobressaia – e é nisso que se baseia uma pretensa positivação do 
feito de Judas, tão alardeada pela mídia, para que Jesus pudesse ser 
crucificado. No entanto, se no gnosticismo o mal é tão absoluto quanto 
o bem, no cristianismo o mal é um parasita do bem, sujeito a Deus – 
cuja soberania age no sentido de fazer com que os feitos maus dos 
homens acabem cooperando para Seus desígnios. A distinção é clara: 
Deus faz o mal cooperar, mas os homens não são por isso 
inocentados de seus atos maus. As palavras de Jesus na Bíblia são 
inequívocas sobre isso, ao tratar do papel de Judas em sua crucifixão: 
"Pois o Filho do homem vai, conforme está escrito a seu respeito; mas 
ai daquele por quem o Filho do homem é traído! Bom seria para esse 
homem se não houvera nascido" (Marcos 14:21). Essa afirmação é tão 
importante que se repete, com nenhuma variação importante, em 
Mateus 26:24 e Lucas 22:22. Vê-se que o conceito de mal no 
cristianismo não coincide com o pensamento gnóstico, que, levado às 
últimas conseqüências, pode ser utilizado perversamente para 
justificar e desculpabilizar os maiores crimes, ao inocentar o criminoso 
com base no argumento de que "seu mal serviu para algo bom". 
Esse dualismo gnóstico se desdobra na divisão entre corpo (que é 
mau) e espírito (que é bom), dicotomia ausente no cristianismo. Na 
Bíblia, o termo "carne" é usado de maneira apenas metafórica para 
designar a nossa natureza pecadora que milita contra o Espírito de 
Deus recebido por nós na salvação para nos vivificar, regenerar e 
santificar. Isso é patente sobretudo no fato de que Jesus não ressurge 
como espírito, mas ressuscita , ou seja, tem seu corpo reconstituído 
por inteiro a ponto de comer com os discípulos (veja Lucas 41-43, por 
exemplo). Mas no evangelho gnóstico há uma afirmação atribuída a 
Jesus que demonstra o dualismo corpo versus espírito: "Você [Judas] 
irá sacrificar o homem que me aprisiona." Na Bíblia, Jesus jamais se 
referia ao próprio corpo dessa forma. Sua morte não era, para Ele, 
uma libertação pessoal da matéria, mas sim um ato de amor para a 
remissão de pecados daqueles que cressem Nele – ato que será 
relembrado agora, na Páscoa, para a alegria dos que foram feitos 
Filhos de Deus a partir de Seu sacrifício. 
Portanto, você pode até crer no "evangelho" de Judas e lançar fora 
tudo o que está escrito nos evangelhos canônicos. Mas seja coerente: 
não deixe de chamar de "gnosticismo", e não de cristianismo, o 
conjunto dos ensinamentos desse "evangelho". Quanto a mim, fico 
com o que o próprio Jesus disse, "Errais, por não compreender as 
Escrituras nem o poder de Deus" (Mateus 22:29), e com a advertência 
de um de seusapóstolos: "Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do 
céu vos pregue outro evangelho além do que já vos pregamos, seja 
anátema" 
(Gálatas 1:8). (Norma Braga - http://normabraga.blogspot.com/ - 
www.Chamada.com.br ) 
Norma Braga é escritora, doutoranda em literatura francesa 
pela UFRJ, tradutora e professora de francês. Edita o blog 
Flor de Obsessão , em que correlaciona cristianismo, 
filosofia e política, denunciando sobretudo as falácias do 
marxismo cultural. 
 
 
http://www.chamada.com.br/mensagens/evangelho_de_judas.html

Outros materiais

Outros materiais