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Notas de aula Origens Conceituação e ênfases da ergonomia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO 
CENTRO DE CIENCIAS EXATAS E TECNOLOGIA 
DEPARTAMENTO DE DESENHO E TECNOLOGIA 
 
 
 
 
 
 
 
NOTAS DE AULA: 
ORIGENS CONCEITUAÇÃO E ÊNFASES DA ERGONOMIA 
Profª. Dra. Lívia Albuquerque 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
2 
SUMÁRIO 
 
 
1. Origens Conceituação e ênfases da ergonomia .................................................................. 3 
1.1. Introdução .................................................................................................................... 3 
1.2. Origens da Ergonomia ................................................................................................... 6 
1.2.1. A pré-história da Ergonomia ...................................................................................... 7 
1.2.2. Da Antiguidade ao século XX ...................................................................................... 9 
1.2.3. O século XX e o nascimento oficial da Ergonomia ..................................................... 21 
1.3. Conceituação e distinções da Ergonomia ..................................................................... 24 
1.3.1. Ergonomia Física ...................................................................................................... 25 
1.3.2. Ergonomia Cognitiva ................................................................................................ 27 
1.3.3. Ergonomia Organizacional ....................................................................................... 29 
1.4. A ergonomia no mundo .................................................... Error! Bookmark not defined. 
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................... 32 
 
 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
3 
1. Origens Conceituação e ênfases da ergonomia 
1.1. Introdução 
 
Houve um tempo em que o homem fabricava suas próprias ferramentas e como sua 
sobrevivência dependia do bom funcionamento dos seus utensílios, estes deveriam ser 
perfeitamente adequados às suas capacidades e necessidades. 
Enquanto a produção se dava de modo artesanal, era possível obter formas úteis, 
funcionais e ergonômicas sem excessivos requisitos projetuais. No entanto, a produção em 
série – em larga escala ou mesmo, em poucas unidades – impossibilita técnica e 
economicamente a compatibilização e adequação de produtos a partir do uso e de adaptações 
sucessivas (MORAES; MONT’ALVÃO, 2012, p. 11). 
A revolução tecnológica, advinda da industrialização desencadeada a partir do século 
XIX, trouxe inúmeros benefícios ao estilo de vida contemporâneo. Introduziram-se, em escala 
crescente, a‟ informática, a robótica, as experimentações genéticas e as telecomunicações; as 
quais proporcionaram diversas transformações na maneira de viver das pessoas. Inúmeras 
vantagens tornaram-se assim possíveis e acessíveis, o que incitou o desenvolvimento de novos 
produtos que correspondessem a um novo “padrão” de consumo de uma população. 
Sudjic (2010, p.5 - 6) analisa a relação do contexto Homem x Objeto citando que: 
 “Nunca possuímos tantas coisas como hoje, mesmo que a utilizemos cada 
vez menos. As casas que passamos tão pouco tempo são repletas de 
objetos. Temos uma tela de plasma [LCD ou LED] em cada aposento, 
substituindo os televisores de raios catódicos que há apenas cinco anos 
eram de última geração. Temos armários cheios de lençóis; acabamos de 
descobrir o interesse obsessivo pelo ‘número de fios’. Temos guarda roupas 
com pilhas de sapatos. Temos prateleiras de CDs e salas cheias de jogos 
eletrônicos e computadores. Temos jardins equipados com carrinhos de 
mão, tesouras, podões e cortadores de grama. Máquinas de ginastica que 
nuca nos exercitamos, mesas de jantar onde não comemos, e fornos triplos 
onde não cozinhamos. São os nossos brinquedos: consolos às pressões 
incessantes por conseguir dinheiro para compra-los e que em nossa busca 
deles nos infantilizam.” 
“A classe média tem cozinhas repletas de aparelhos elétricos comprados 
com a esperança de que nos tragam a sonhada realização doméstica. 
Exatamente como quando as marcas da moda põem seus nomes em roupas 
infantis, uma cozinha nova de aço inoxidável nos concede o álibi do 
altruísmo quando a compramos. Sentimo-nos seguros, acreditando não se 
tratar de caprichos, mas de investimentos na família. E os nossos filhos 
possuem brinquedos de verdade, caixas e caixas de brinquedos que eles 
deixam de lado em questão de dias. E, com a infância cada vez mais curta, a 
natureza dos brinquedos também mudou. O McDonald’s se tornou o maior 
distribuidor mundial de brinquedos, quase todos usados para fazer 
merchandising de marcas ligadas a filmes.” 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
4 
“Os bens que possuímos também nunca foram tão grandes, Incharam para 
combinar com a epidemia de obesidade que assola a maioria das culturas 
ocidentais. Em parte isso decorre do fenômeno conhecido como a 
maturidade do produto. Quando todo mundo que for comprar um televisor 
já tiver feito isso, só resta os fabricantes convencer os proprietários a 
substituir seus aparelhos antigos inventando uma categoria nova. As vezes é 
uma mini versão, mas de depender do fabricante será maior, e portanto 
melhor do que os modelos anteriores. Assim, as telas de Tv passaram de 28 
para 60 polegadas. Os fornos domésticos se tornaram conjuntos de forno e 
fogão. As geladeiras viraram guarda-roupas abarrotados.” 
“Os objetos, muitos acreditam, são uma realidade indiscutível do dia a dia.” 
Entretanto, este tipo de desenvolvimento vem demonstrando alguns atritos na 
relação Usuário x Tecnologia, especialmente nas interfaces de uso dos produtos e sistemas – 
que nem sempre são projetados com vistas a atender aos aspectos da facilidade de uso, 
desempenho e segurança. 
Os ambientes de trabalho também são abarrotados de mesas, cadeiras e 
computadores, maquinário pesado que se contrastam, às vezes, com condições desfavoráveis 
de trabalho que geram stress, baixo desempenho e até acidentes. 
As situações do cotidiano das pessoas, seja no ambiente pessoal doméstico, no 
ambiente público, ou profissional, sejam homens ou mulheres, adultos ou crianças, sãos ou de 
mobilidade reduzida, seja temporária ou permanente, não é composta de tarefas simples e 
envolve a inter-relação com uma série de produtos, ambientes e sistemas. Estas inter-relações 
necessitam de elaborados estudos e são objeto de investigação de diversas ciências e 
disciplinas, a Ergonomia é uma delas. 
Segundo Vidal (2000) é papel da Ergonomia produzir conhecimento para que as 
mudanças possam ser feitas, os projetos mais bem elaborados e as decisões tecnológicas 
melhor assentadas. A saúde das pessoas, a eficiência dos serviços e a segurança dos produtos 
e ambientes estarão, a partir daí, sendo efetivamente incorporados. 
A ergonomia estuda os diversos fatores que influem no desempenho do sistema 
produtivo (ou usuário x produto) e procura reduzir as suas consequências nocivas sobre o 
trabalhador (ou usuário). Assim, ela busca reduzir a fadiga, o estresse, o número de erros e 
acidentes, proporcionando segurança, satisfação e saúde aos trabalhadores (ou usuários), 
durante o seu relacionamento com esse sistema produtivo (ou produto) (Figura 1) (IIDA, 2005, 
p.4). 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
5 
 
Figura 1 – Fatores que influenciam na relação Usuário x Produto. Fonte: Adaptado de Iida (2005, p.4) 
Em sua atividade de trabalho o ser humanointerage com os diversos componentes 
do sistema de trabalho (Figura 2): com os equipamentos, instrumentos e mobiliários, 
formando interfaces sensoriais, energéticas e posturais; com a organização e o ambiente 
formando interfaces ambientais, cognitivas e organizacionais. O ser humano, com seu 
organismo, sua mente e sua psique, realiza essas interações de forma sistêmica, cabendo à 
Ergonomia modelar essas interações e buscar formas de adequação para o desempenho 
confortável, eficiente e seguro face às capacidades, limitações e demais características da 
pessoa em atividade (VIDAL, 2000, p. 4). 
Cognitiva
Postural
Auditiva
Térmica
Visual
Organizacional
Tátil
Energética
 
Figura 2 – Fatores de interface com os produtos. 
A Ergonomia é, portanto, uma disciplina cientifica de caráter interdisciplinar que reúne 
conhecimentos de disciplinas como Fisiologia, a Psicologia, a Sociologia, a Linguística, e 
práticas e profissionais como a Medicina do Trabalho, o Design, a Sociotécnica e as Tecnologias 
de estratégia e organização. Como apresentado na Figura 3, a ergonomia como 
interdisciplinaridade interage com várias disciplinas no campo das ciências da vida, técnicas, 
humanas e sociais. Seus conteúdos se orientam para o design, arquitetura e engenharia, cuja 
inserção nesses quadrantes é basicamente a mesma (VIDAL, 2000). 
 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
6 
 
Figura 3 – A interdisciplinaridade da Ergonomia. Fonte: Adaptado de Hubault (1992, apud VIDAL, 2000). 
 
1.2. Origens da Ergonomia 
 
Por muito tempo uma dupla preocupação se manifestou: melhorar a eficiência do 
trabalho humano por um lado, e por outro lado diminuir o sofrimento do homem no 
trabalho e prevenir riscos à saúde. Assim, bem antes do nascimento oficial da Ergonomia, 
aqueles que se preocuparam em adaptar os meios de trabalho ao homem foram (FALZON, 
2007, p. 21): 
 Os próprios usuários, com frequência de forma empírica; e isso sobretudo 
quando o usuário fabricava ele mesmo seus objetos, ou era muito próximo 
daqueles que fabricavam. 
 Médicos e sanitaristas que procuraram desde a Antiguidade descrever as 
consequências do trabalho para a saúde, e então compreender seus 
mecanismos e identificar suas causas para encontrar os meios de as prevenir; 
 Engenheiros e organizadores do trabalho que se interessaram em definir qual 
a quantidade de trabalho “mecânico” pode ser exigido de um homem, em 
comparação ao trabalho animal, sem o fatigar ou desgastar excessivamente; 
começaram a estabelecer normas e inventaram meios técnicos para 
substituir por máquinas o trabalho físico do homem ou para aumentar sua 
eficiência; 
 Por fim, pesquisadores, físicos, fisiologistas e, mais recentemente no século 
XX, psicólogos interessados em compreender o funcionamento do organismo 
humano no trabalho: suas propriedades, suas capacidades e, em alguns 
casos, suas aptidões, tendo em vista uma seleção de acordo com as 
características de trabalho; 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
7 
1.2.1. A pré-história da Ergonomia 
 
Se o nascimento "oficial" da ergonomia pode ser definido com precisão, a mesma foi 
precedida de um longo período de gestação, que remonta à pré-história. Começou 
provavelmente com o primeiro homem pré-histórico que escolheu uma pedra de formato que 
melhor se adaptasse à forma e movimentos de sua mão, para usá-la como arma. As 
ferramentas proporcionavam poder e facilitavam as tarefas como caçar, cortar e esmagar 
(IIDA, 2005, p.5). 
Ao longo das eras, o homem evoluiu fisicamente e se espalhou pelos diferentes 
continentes. Sendo assim obrigado a se adaptar aos mais diversos ambientes e climas. Childe 
(1975) explica que a espécie humana não é fisiologicamente adaptável a qualquer meio físico, 
portanto esta foi assegurada pelo desenvolvimento de equipamentos extracorpóreos como 
ferramentas, roupas e abrigos (MENIN, et al, 2010, p. 9). 
Assim a trajetória do desenvolvimento de produtos se inicia junto com a história do 
próprio homem, quando este buscou aliar conforto, segurança, manuseabilidade e facilidade 
na construção de suas ferramentas para a realização de atividades cotidianas com caçar, 
cortar, raspar, moer, costurar, quebrar sementes e frutos e também para sua defesa (MENIN, 
et al, 2010, p. 9). 
Uma das características mais notáveis do homem, e que o distingue dos animais, é a 
sua capacidade de fazer e de utilizar utensílios. O trabalho com as mãos foi sofisticando a 
capacidade de manipulação do homem, estimulando seu cérebro e sua capacidade intelectual. 
Napier (1985) completa que é perfeitamente lógico que os primeiros hominídeos eram 
usuários de instrumentos e que a fabricação de instrumentos é decorrente do uso destes 
durante milhões de anos (MENIN, et al, 2010, p. 9). 
As primeiras ferramentas foram construídas de pedaços de madeira, osso e pedra 
(Figura 4), levemente aguçados ou acomodados à mão pela quebra ou lascagem. Heskett 
(2008) diz que sem dúvidas essas ferramentas era uma extensão das mãos com a finalidade de 
complementar ou reforçar as habilidades destas como, por exemplo, a força ou a sutileza. 
 
Figura 4 – Exemplos de instrumentos líticos confeccionados pelo homem. Fonte: Menin et al (2010, p. 
9). 
Os humanos começaram a produzir e utilizar ferramentas de pedra, também 
chamadas de instrumentos líticos (lithos – palavra grega que significa pedra), há cerca de 2,5 
milhões de anos (CHILDE, 1973; LEAKEY e LEWIN 1981; LEAKEY, 1995; COOK, 2005, apud 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
8 
MENIN et al, 2010, p. 9). Leakey (1995, apud MENIN et al, 2010, p. 9) e Cook (2005, apud 
MENIN, et al, 2010, p. 9) afirmam que estes produziam utensílios batendo uma pedra contra a 
outra. Para Leakey (1995) foi assim o início de uma trilha de atividades tecnológicas que 
destaca a pré-história humana (MENIN, et al, 2010, p. 9). 
Cook (2005 apud MENIN, et al, 2010, p. 9) destaca que os instrumentos de pedra 
eram de fundamental importância para os nossos ancestrais. O autor afirma que fazer 
instrumentos de pedra é algo muito trabalhoso e, portanto nossos ancestrais não se dariam a 
esse trabalho se não trouxesse benefícios (MENIN et al, 2010, p. 10). 
O homem primitivo teve de aprender quais as pedras eram mais adequadas à 
manufatura de ferramentas e como lascá-las corretamente (Figura 5). Assim construíram uma 
tradição científica sobre quais eram as melhores pedras, onde podiam ser encontradas e como 
deveriam ser tratadas (CHILDE, 1975 apud MENIN et al, 2010, p. 10). Essas técnicas eram 
transmitidas culturalmente, o que para Cook (2005, apud MENIN et al, 2010, p. 10) prova que 
o homem não é geneticamente programado para fabricar instrumentos de pedra, que estes 
tinham que aprender com outros seres humanos. Childe (1973, apud MENIN et al, 2010, p. 10) 
destaque que o ato criador em seu primeiro momento foi individual, mas que este foi passado 
geração após geração o que caracteriza a transmissão de cultura (MENIN, et al, 2010, p. 10). 
 
Figura 5 - Técnica de lascamento para confecção de artefatos líticos. Fonte: MENIN et al (2010, p. 11) 
A partir da declaração de Leakey (1995, apud MENIN et al, 2010, p. 11) que por volta 
de 1,4 mil anos o homem começa a desenvolver um modelo mental do objeto que desejava 
produzir e que assim impunha uma forma à matéria prima, a pedra, é possível afirmar que 
estes estavam empregando critérios do design e da ergonomia em suas ferramentas com o 
objetivo de facilitar seu trabalho cotidiano (MENIN et al, 2010, p. 11). 
Moraes e Mont’Alvão (2000) afirmam que desde as civilizações antigas o homem se 
preocupa em adequar a formadas pegas dos instrumentos a forma da mão humana, como 
pode ser observado na Figura 6. Mineiro (2009, apud MENIN et al, 2010, p. 11) destaca que o 
que difere o homem dos outros animais não é sua capacidade de fazer artefatos e sim de fazer 
design (MENIN, et al, 2010, p. 11). 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
9 
 
Figura 6 - Exemplo de pega de instrumento lítico brasileiro (com aproximadamente 5.000 anos). 
Adaptado de foto: Robson Rodrigues. Fonte: Menin et al (2010, p. 11). 
Tais hipóteses corroboram com os autores anteriormente citados que afirmam que a 
ergonomia e o design têm suas origens na pré-história ou como denomina Sander e 
McCormick (1993) com o “design de ferramentas manuais” dos homens pré-históricos 
(MENIN, et al, 2010, p. 11). 
Portanto, inconscientemente, os homens pré-históricos buscavam aprimorar itens 
oferecidos pela natureza manufaturando suas primeiras ferramentas e utensílios buscando 
uma forma mais confortável, segura e eficaz de realizar suas atividades cotidianas (MENIN, et 
al, 2010, p. 11). 
Assim, a preocupação em adaptar o ambiente natural e construir objetos artificiais 
para atender às suas conveniências, sempre esteve presente nos seres humanos desde os 
tempos remotos (IIDA, 2005, p.5). 
1.2.2. Da Antiguidade ao século XX 
 
Desde a antiguidade a atividade de trabalho é motivo de motivo de preocupação 
para a sociedade. A simplificação e a preparação do trabalho provavelmente foram de grande 
importância, sem as quais possivelmente não existiriam grandiosas realizações dos egípcios, 
persas, gregos e romanos (SILVA, et al, 2010). 
Possivelmente o primeiro estudo realizado sobre o assunto foi o do general e filósofo 
ateniense Xenofonte, por volta de 427 a 355 a.C., que preconizou a divisão do trabalho de 
maneira que cada operário efetuasse apenas uma operação, durante a fabricação de coturnos 
da armada grega (SILVA, et al, 2010). 
Na Idade Média, a Armada de Villeneuve se interessou pelas condições de trabalho e, 
em particular pelos fatores ambientais, tais como o calor, a umidade, as poeiras, as 
substâncias tóxicas, para os vidreiros, ferreiros, fundidores, tintureiros, e a iluminação e o 
sedentarismo para os notários (FALZON, 2007, p. 22). 
Leonardo da Vinci redesenhou o a figura do “Homem Vitruviano” de Marcos Pollio 
(75 – 25 a.C.). Descreveu que o ponto de partida da arquitetura para a construção de 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
10 
ambientes deveria ser a natureza das proporções perfeitas. A principal relevância da ação de 
Leonardo da Vinci ao juntar o homem canônico ao quadrado e à circunferência em seus 
centros geradores em uma só figura, foi manter o homem fixo em um lugar, girar ou articular 
os membros inferiores e superiores ainda conectados ao tronco e alterar a posição das formas, 
o quadrado e a circunferência, neste caso o que viria a ser um princípio da ergonomia, isto é, o 
posto de trabalho, o ambiente, a roupa, e as questões, periféricas devem se adaptar ao 
homem e não o homem a eles. Leonardo combinou em um mesmo desenho o homem inserido 
em um quadrado e um círculo, promovendo estudos a cerca das dimensões e movimentos 
humanos, atualmente o conhecimento das formas e medidas corporais aplicado a projetos é 
denominado antropometria (LIMA et al, 2010). 
Na Renascença Ramazzini, médico italiano, descreveu as relações entre problemas de 
saúde e condições de trabalho em 52 ocupações: por exemplo, as úlceras nas pernas e a 
hipertermia nos mineiros, o rompimento de pequenos vasos da garganta em cantores, 
problemas visuais em ourives, dentre outros (FALZON, 2007, p. 23). 
Assim, Vauban, no século XVII, estudando a escavação, definiu cargas a transportar 
que levassem em conta distâncias, as inclinações do terreno, a qualidade dos solos e até 
mesmo as estações (FALZON, 2007, p. 24). 
Aconteceu na Europa, entre os séculos 18 e 19, uma série de transformações nos 
meios de fabricação, tão profundas e tão decisivas que costuma ser conceituada como o 
acontecimento econômico mais importante desde o desenvolvimento da agricultura. Essas 
mudanças acabaram ficando conhecidas como a Revolução Industrial, justamente como forma 
de chamar atenção para o impacto tremendo que exerceram sobre a sociedade, o qual só 
encontrava eco na ruptura radical com o passado efetuado pela Revolução Francesa. O termo 
se refere essencialmente à criação de um sistema de fabricação que produz em quantidades 
tão grandes e a um custo que vai diminuindo tão rapidamente que passa a não depender mais 
da demanda existente, mas gera o seu próprio mercado (HOBSBAWN, 1964, p. 50). Hoje em 
dia praticamente todos vivem nesse sistema, em que quase tudo que se consome é produzido 
por indústrias, e é justamente o longo processo de transição global do sistema anterior para o 
atual que se entende por industrialização (CARDOSO, 2004, p. 18). 
A primeira revolução industrial ocorreu na Inglaterra por volta de 1750. O motivo 
pelo qual esta revolução ocorreu na Inglaterra tende a ser considerado como devido a uma 
conjunção de fatores, demográficos, sociais, tecnológicos, geográficos, culturais e ideológicos, 
nenhum dos quais explica por si só a precedência inglesa. Sabe-se que foi na fabricação de 
tecidos de algodão que o grande surto industrial primeiro se verificou, com o aumento de 
5000% da produção entre as décadas de 1780 a 1850. Um crescimento tão impressionante 
pressupõe duas coisas: um mercado suficientemente grande para absorver todo esse volume e 
um retorno crescente que justifique a expansão rápida da oferta, ambos os fatores que 
existiam na época. A Grã-Bretanha deteve quase todo monopólio do comércio exterior 
europeu entre 1789 e 1815, em função do seu claro domínio naval e bloqueio que impôs à 
Europa continental durante as guerras napoleônicas. Os seus comerciantes passaram portanto 
a intermediar praticamente sozinhos a compra e a venda de produtos nos quatro cantos do 
planeta, comprando todas as mercadorias pelo menor preço e vendendo-as pelo maior 
(CARDOSO, 2004, p. 18). 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
11 
Gerou-se assim um ciclo em que os tecidos, chás e louças comprados na China e na 
Índia eram trocados por escravos na África, usados para plantar algodão barato nos Estados 
Unidos e no Brasil, o qual era utilizado para pela indústria Britânica para fabricar tecidos que 
por sua vez eram exportados de volta para todos os lugares, gerando a cada etapa novos 
lucros por intermediários. Não por acaso o grande centro da indústria têxtil que despontou em 
torno da cidade de Manchster ficava a uma curta distância de Liverpool, o porto principal para 
o comércio de escravos (CARDOSO, 2004, p. 19). 
O retorno desse monopólio era imenso e proporcionou a acumulação de capital para 
financiar a transição de pequenas oficinas artesanais para grandes fábricas, no sentido 
moderno da palavra, equipadas com as ultimas novidades mecânicas. A mecanização do 
trabalho é outro grande fator que define a industrialização, e uma série de inovações 
tecnológicas entre o final do século 18 e o inicio do século 19 foi permitido o aumento 
constante da produtividade na indústria têxtil a custos cada vez menores em função da rapidez 
da produção e da diminuição da mão-de-obra (CARDOSO, 2004, p. 19). 
Tudo isso ocorreu, pois, entre os séculos 16 e 17 o eixo do comercio central 
transferiu-se do Mediterrâneo para o Atlântico. Uma dos principais resultados dessa 
transformação foi a consolidação dos estados nacionais na Europa, organizados não mais de 
forma feudal, mas a partir de uma política centralizada e voltada para competição com outras 
nações,sobretudo no que diz respeito à colonização do resto do mundo. O sistema 
mercantilista ora implantado, em que cada nação procurava defender os seus interesses 
comerciais pelo domínio de mercados estrangeiros, acabou levando os estados a investirem 
diretamente na produção de bens de consumo, em escala inédita até então. Quase todos os 
países europeus fundaram nos séculos 17 e 18 manufaturas reais, ou da coroa, para fabricação 
de determinados tipos de produtos, principalmente artigos considerados de luxo como louças, 
têxteis e móveis. Porém, as primeiras manufaturas a serem assim monopolizadas foram as 
fabricas de armas e de construção naval, indústrias estratégicas para garantir a própria 
sobrevivência do estado-nação (CARDOSO, 2004, p. 20). 
A partir do século 18 começaram a surgir na Europa importantes indústrias da 
iniciativa privada. Estas tenderam a se organizar inicialmente em regiões em que havia uma 
forte tradição oficial de produção com algum tipo de matéria-prima (CARDOSO, 2004, p. 21). 
Fica claro então que tanto no setor estatal quanto na iniciativa privada ocorreram ao 
longo do século 18 pelo menos quatro transformações fundamentais na forma de organização 
industrial. Primeiramente, a escala de produção começava a aumentar de modo significativo, 
atendendo aos mercados maiores e cada vez mais distantes do centro fabril. Em segundo 
lugar aumentava também o tamanho das oficinas e das fábricas, as quais reuniram um numero 
maior de trabalhadores e passavam a concentrar um investimento maciço de capital em 
instalações e equipamentos. Terceiro, a produção se tornava mais seriada através do uso de 
recursos técnicos como moldes, tornos e até uma incipiente mecanização de alguns processos, 
todos contribuindo para reduzir a variação individual de entre produtos. Por ultimo, crescia a 
divisão de tarefas com uma especialização cada vez maior de funções, inclusive na divisão 
entre fases de planejamento e execução (CARDOSO, 2004, p. 24). 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
12 
A expansão da industrialização se deu com base nas novas estratégias de organização 
de trabalho e o crescente ritmo de inovação tecnológica. Assim, grandes fábricas foram 
tomando aos poucos o lugar das pequenas oficinas. Um dos aspectos mais interessantes da 
transição da fabricação oficinal para a industrial está no uso crescente de projetos ou modelos 
como base para a produção em série. Já existia uma convicção clara de que a divisão de tarefas 
permitia acelerar a produção através da economia de tempo gasto em cada etapa (CARDOSO, 
2004, p. 25). 
O economista escocês Adam Smith criou o exemplo da fábrica de alfinetes imaginária 
que ele usou para ilustrar os méritos do trabalho dividido. A divisão de tarefas franqueava 
ainda ao fabricante um maior controle sobre a mão de obra. Separando os processos de 
concepção e execução, e desdobrando esta ultima em uma multidão de pequenas etapas de 
alcance extremamente restrito, eliminava-se a necessidade de empregar trabalhadores com 
alto grau de capacitação técnica (CARDOSO, 2004, p. 25). 
Em vez de contratar muitos artesãos habilitados, bastava um bom designer para 
gerar o projeto, um bom gerente para supervisionar a produção e um grande número de 
operários sem qualificação nenhuma para executar as etapas, de preferência como meros 
operadores de máquinas. A remuneração alta dos dois primeiros era mais do que compensada 
pelos salários aviltantes pagos aos últimos, com a vantagem adicional de que eles podiam ser 
demitidos sem riscos em épocas de baixa demanda (CARDOSO, 2004, p. 26). 
As primeiras fábricas surgidas não tinham nenhuma semelhança com uma fábrica 
moderna. Eram sujas, escuras, barulhentas e perigosas. As jornadas de trabalho chegavam a 
até 16 horas diárias, sem férias, em regime de semiescravidão, impostas por empresários 
autoritários, que aplicavam castigos corporais (IIDA, 2005, p.5). Paradoxalmente, a evolução 
tecnológica, com suas maravilhosas máquinas voadoras, informacionais e inteligentes, exigiu e 
enfatizou a necessidade de conhecer o homem (MORAES; MONT’ALVÃO, 2012, p. 11). 
Nesse contexto surgem os estudos dos pesquisadores, físicos e químicos, os quais 
estabeleceram os fundamentos da transformação da energia química em energia mecânica 
(Lavoisier no século XVIII). Estudaram o gasto de energia em diferentes tarefas (Chauveau no 
século XIX) e desenvolveram técnicas de registro dos movimentos (Marey no século XIX) 
(FALZON, 2007, p. 24). 
Laville (1977) é um dos poucos autores que cita alguns pesquisadores que 
interessaram-se pela compreensão do desempenho do corpo humano em atividade: 
 Lavoisier, químico francês descobriu os primeiros elementos da fisiologia 
respiratória e da calorimetria. Fez ainda as primeiras tentativas de avaliação 
do custo do trabalho muscular. 
 Coulomb, físico francês, introduziu a noção de duração do esforço. Estudou 
os ritmos de trabalho em inúmeras tarefas e procurou determinar uma carga 
ótima que considerasse as diferentes condições de execução do trabalho. 
Villermé, em 1832 foi encarregado pela Academia das ciências morais e políticas para 
fazer um relatório sobre as condições de vida operária. Ele percorreu as regiões industriais da 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
13 
França e da Suíça, observando, interrogando. Estudou postos de trabalho: registrou operações 
efetuadas as condições nas quais elas eram executadas. Ampliou o campo das condições de 
trabalho aos horários, aos salários ligados ao rendimento, aos adiantamentos sobre salários e 
ao abuso destes. Procurou saber como viviam os operários, como era sua habitação e 
alimentação. Interessou-se pelos fenômenos coletivos através dos estudos das taxas de 
mortalidade por classe social e por ocupação (FALZON, 2007, p. 23). 
Seu relatório desencadeou uma série de ações. Sobretudo pelas vias regulamentares 
e legislativas, quanto às condições de trabalho: de 1841 a 1892 serão aprovadas leis referentes 
à idade mínima para o emprego das crianças, à duração do trabalho, à indenização por 
acidentes de trabalho e à criação de um corpo de fiscais do trabalho (FALZON, 2007, p. 23). 
Entretanto a interpretação dos fatos foram as vezes influenciadas por escolhas 
políticas: ao fazer uma descrição da condição operária, Villermé relacionou-a não só ao 
trabalho e aos baixos salários, mas também ao comportamento dos operários, às 
consequências na higiene saúde dessa classe social a partir de interpretações errôneas de 
resultados estatísticos de mortalidade diferencial que começaram a ser estabelecidos, certos 
responsáveis pelas administrações sanitárias negaram a influência das condições de trabalho 
na saúde dos operários (FALZON, 2007, p. 23). 
A resistência contra as medidas de proteção da saúde no trabalho se manifestou com 
frequência a partir da argumentação relativa ao seu custo e portanto a uma perda de 
competitividade que dela decorreria. A intoxicação pelo chumbo era conhecida desde a 
Antiguidade, e no entanto, foi só em 1904 que a proibição do carbonato de chumbo (a 
cerusita) foi debatida no parlamento. Os patrões das empresas de pintura se opuseram a essa 
interdição; atribuíram a responsabilidade das intoxicações aos operários que não usavam os 
meios de proteção (FALZON, 2007, p. 23). 
O estudo da carga física foi realizado pelos engenheiros e até o final do século XIX, 
apenas o trabalho físico era reconhecido e o operário era considerado como um sistema de 
transformação de energia química em energia física. Os engenheiros procuravam definir 
normas, e depois propor técnicas para diminuir a carga (FALZON, 2007, p. 24). 
Outras pesquisas em fisiologia surgiramno século XIX, com Jean Baptiste Auguste 
Chauveau, responsável por definir as primeiras leis do dispêndio energético no trabalho 
muscular e Étiènne Jules Marey, médico e fisiologista, que desenvolveu técnicas de medida e 
de registro, e foi responsável pelo desenvolvimento das primeiras aparelhagens experimentais 
para mensuração da respiração e de fenômenos musculares. Ele estudou os movimentos, bem 
como o andar. 
Jean Baptiste Auguste Chauveau (1827-1917) (Figura 7) nasceu em 1827, em 
Villeneuve-la-Guyard, que atualmente é uma comuna francesa na região administrativa da 
Borgonha, no departamento de Yonne na França. Entrou para a Escola Nacional de Veterinária 
de Alfort em 1844 e tornou-se professor da Escola Veterinária de Lyon em 1863, na disciplina 
anatomia e fisiologia comparada. Em 1875 torna-se diretor desta instituição (BORNAREL, 
2008). 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
14 
 
Figura 7 - Jean Baptiste Auguste Chauveau (1827-1917). Fonte: Bornarel (2008). 
Com tese defendida em março de 1877, recebeu o título de Doutor em Medicina pela 
Faculdade de Medicina de Paris. Foi membro da Academia de Medicina, e em 1886 da 
Academia de Ciências. Foi ainda inspetor geral das escolas de Veterinária e professor de 
Patologia Experimental no Museu de História Natural de Paris. 
No início de sua carreira, em Lyon, Chauveau teve atuação destacada em anatomia 
comparada. Realizou importantes trabalhos de microbiologia e uma ampla gama de pesquisas 
em fisiologia, que por meio de suas experiências levaram a conclusões capazes de estabelecer, 
por exemplo, as bases do moderno entendimento do funcionamento do coração 
(GERMINIANI, 2001). 
Junto com o médico Étiènne Jules Marey, Chauveau elucidou a atividade cardíaca, a 
lei da variação periódica da excitabilidade cardíaca e a lei da uniformidade do trabalho do 
coração (SOARES, 2002). Desenvolveram também em conjunto, um aparelho que fornecia 
dados a partir da colocação dos sensores no interior dos animais através de intervenções 
cirúrgicas, chamado Cardiógrafo (Figura 5) por meio do qual era possível obter dados 
(frequência, força e velocidade do fluxo sanguíneo) sobre o funcionamento do coração. 
Evidentemente esse método não era utilizado em seres humanos, somente em cavalos, por 
serem mais resistentes a tais procedimentos cirúrgicos necessários para a instalação dos 
sensores (SOUZA, 2001). 
 
Figura 8 - Cardiógrafo. Fonte: Souza (2001) 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
15 
Como consequência de tais esforços para ver o interior do corpo a partir de dados 
obtidos no exterior, Marey desenvolverá posteriormente outro aparelho denominado 
Polígrafo. 
Étiènne Jules Marey (Figura 6) foi médico, fisiologista, inventor e fotógrafo. Marey, 
como foi mais conhecido, era francês nascido em Beaune, no ano de 1830. Iniciou seus 
estudos em medicina, na Faculdade de Medicina de Paris por volta de 1850 e, em 1855, 
começou sua carreira como cirurgião estagiário, direcionando seu interesse às pesquisas em 
fisiologia humana e animal (INVENTOR BIOGRAPHIES, 2008). 
 
Figura 9 - Étiènne Jules Marey (1830 – 1904). Fonte: Souza (2001) 
As pesquisas de Marey em fisiologia vêm de encontro à ergonomia devido a estudos, 
como o de sua tese de doutorado defendida em 1859 e que versava sobre circulação 
sanguínea, mas especificamente sobre métodos que registram mecanicamente a circulação de 
sangue nos indivíduos, além de seus estudos posteriores que desenvolveram métodos de 
monitoração do sistema cardiovascular. Marey passou a rejeitar os métodos de análise de 
sintomas que utilizasse apenas dos sentidos, segundo ele, o ideal seria que as máquinas 
registrassem mecanicamente os dados coletados, ‘que deixam sua própria escrita, que 
produzem seus próprios signos, signos da própria natureza’. Estes ‘signos’ seriam analisados 
pelo médico para a apreensão do funcionamento do organismo (SOUZA, 2001). 
Em 1868 foi nomeado professor no Collège de France e ficou conhecido como um 
dos precursores do cinema em virtude de seus estudos fotográficos sobre movimentos animais 
e humanos (INVENTOR BIOGRAPHIES, 2008). 
Um de seus trabalhos de maior relevância aconteceu em parceria com o já citado 
Jean Baptiste Auguste Chauveau. Após finalizá-lo, Marey continuou a desenvolver vários 
instrumentos de medição gráfica. O primeiro deles foi o esfigmógrafo (Figura 10) em 1860, 
para a medição da pulsação arterial (SOUZA, 2001). 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
16 
 
Figura 10 - Figura 04: Esfigmógrafo. Fonte: http://www.uc.pt/fpce/cientificas/labpe/museum 
Este aparelho permitia o registro das ondas de compressão sanguínea da pulsação 
humana. O aparelho era composto por um captador sensível que apoiava-se sobre o pulso que 
era ligado a uma alavanca de metal leve. Essa alavanca deixava seu rastro inscrito sobre um 
papel esfumaçado que era tracionado por um mecanismo de relógio (SOUZA, 2001). 
Outro dispositivo de sua autoria, utilizado por fisiologistas até 1950, é o Tambor de 
Marey (Figura11), que foi responsável por rastrear movimentos sutis e gravá-los sem a mínima 
interferência (HEART RYTHM SOCIETY). 
 
Figura 11 - Tambor de Marey. Fonte: http://www.uc.pt/fpce/cientificas/labpe/museum 
Outro instrumento desenvolvido por Marey denominou-se Polígrafo (Figura12) que 
diferentemente do Cardiógrafo desenvolvido com Chauveau, não necessitava de técnicas 
cirúrgicas para ser usado e podia fornecer signos que registravam o funcionamento de vários 
órgãos internos que pudessem produzir algum tipo de vibração à qual a cápsula fosse sensível 
(SOUZA, 2001). 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
17 
 
Figura 12 – Polígrafo. Fonte: Souza (2001) 
As invenções de Marey abriram caminho para a padronização de instrumentos 
médicos de forma tal que eles poderiam ser usados sem dificuldade em diagnósticos clínicos 
em qualquer lugar do mundo. Nos últimos 20 anos de sua vida, Marey uniu o gosto pela 
fotografia ao interesse pelos movimentos humanos e animais por meio da cinematografia. 
Nesta fase ele desenvolveu, em 1882, o Fuzil Cronofotográfico (Figura 10), com o objetivo de 
gravar várias fases do movimento humano numa mesma superfície fotográfica (Figura 11), 
desta forma, ele estudou movimentos de inúmeros animais e igualmente a locomoção 
humana, publicando o livro Le Mouvement em 1894 (SOUZA, 2001). 
 
Figura 13 - Fuzil Cronofotográfico. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tienne-Jules_Marey 
 
Figura 14 - Experimentos em cronofotografia. Fonte: SOUZA (2001). 
Outro pesquisador foi Jules Amar que nasceu na Tunísia no ano de 1879. Ele se 
formou na Sorbonne, em Paris. Foi diretor do Laboratório de Física na Faculdade de Medicina 
de Paris. Mais tarde ele se tornou diretor do Laboratório de Investigação sobre o trabalho no 
CNAM (Concervatoire National des Arts et Métiers) realizando atividades científicas, obteve 
doutorado em 1909 (WITAJ W ENCYKLOPEDII). 
Durante a Primeira Guerra Mundial, trabalhou com a reeducação dos feridos e com a 
concepção de próteses. Publicou em 1914 o livro “O motor humano” (Figura 12), que é 
considerada a primeira obra de ergonomia, pois descreve os métodos de avaliação e as 
técnicas experimentais, fornecendo as bases fisiológicas do trabalho muscular e relacionando-
as com as atividades profissionais (LAVILLE, 1977). 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
18 
 
Figura 15 - “O motor humano”. Fonte: 
http://books.google.com.br/books?id=uycKAAAAIAAJ&q=the+human+motor+1914+jules+amar&dq=the
+ human+mo tor+1914+jules+amar&lr=&as_brr=0&pgis=1O trabalho de Jules Amar é um verdadeiro clássico sobre a fisiologia experimental do 
trabalho, e suas formulações constituem-se no primeiro dos paradigmas da ergonomia: o 
homem como transformador de energia, ou, como o próprio autor denominou ‘O Motor 
Humano’, que subentende um modelo termodinâmico: o homem como transformador de 
energia (VIDAL, 1994). 
Os aumentos obtidos no volume produzido durante o século 19 devem-se tanto – 
senão mais – à organização e racionalização dos métodos de fabricação e distribuição quanto à 
introdução de novas tecnologias. A ideia de racionalizar os movimentos do produto e do 
operário era inerente à ideia de concepção de divisão das tarefas preconizada por Smith e foi 
sendo destacada aos poucos até culminar nas décadas de 1880 e 1890 nas pesquisas do 
engenheiro americano Frederick W. Taylor sobre gerenciamento da produção através do 
planejamento do tempo e dos movimentos envolvidos na execução da tarefa específica 
(CARDOSO, 2004, p. 35). 
Os estudos mais sistemáticos sobre o trabalho começaram a ser realizados a partir do 
final do século XIX. Nessa época surge, nos Estados Unidos, o movimento da administração 
científica, que ficou conhecido como taylorismo (IIDA, 2005, p.5). 
Taylorismo é um termo que se deriva de Frederick Winslow Taylor (1856-1915), um 
engenheiro norte-americano que iniciou, no final do século XIX, o movimento de 
"administração científica" do trabalho e se notabilizou pela sua obra Princípios de 
Administração Científica, publicada originalmente em 1912 (edição em português da Editora 
Atlas, 1976) (IIDA, 2005, p.8). 
Taylor considerava que o trabalho deveria ser cientificamente observado de modo 
que, para cada tarefa, fosse estabelecido o método correto de executá-la, com um tempo 
determinado, usando as ferramentas corretas. Haveria uma divisão de responsabilidades entre 
os trabalhadores e a gerência da fábrica, cabendo a esta determinar os métodos e os tempos, 
de modo que o trabalhador pudesse se concentrar unicamente na execução da atividade 
produtiva (IIDA, 2005, p.8). 
Os trabalhadores deveriam ser controlados, medindo-se a produtividade de cada um 
e pagando-se incentivos salariais àqueles mais produtivos. Ele se justifica, dizendo que até uma 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
19 
simples tarefa como carregamento com uma pá, deve ser cuidadosamente estudado de modo 
a determinar o tamanho adequado para cada tipo de material (antes utilizava-se a mesma pá 
para se carregar materiais de diferentes densidades, como o carvão e a cinza). Para cada tipo 
de tarefa deveria ser desenvolvido o melhor método de realizar o trabalho, de modo que nada 
fosse deixado ao livre arbítrio do operário. Esse método era implantado como um padrão, a 
ser seguido por todos. Para cada tarefa era determinado o seu respectivo tempo padrão (IIDA, 
2005, p.8). 
As ideias de Taylor difundiram-se rapidamente nos Estados Unidos. As atividades 
eram cronometradas e os trabalhadores recebiam incentivos salariais, proporcionais às 
produtividades de cada um. Em praticamente todas as fábricas foram criados departamentos 
de análise do trabalho para fazer cronometragens e desenvolver métodos racionais de 
trabalho. Isso provavelmente contribuiu para a grande hegemonia mundial das indústrias 
norte-americanas na produção massificada de bens, mas também gerou outros problemas, 
como veremos a seguir (IIDA, 2005, p.8). 
Pelo lado dos trabalhadores, houve, desde o início, certa resistência à aceitação da 
cronometragem e dos métodos definidos pela gerência. Isso provocou uma nítida separação. 
De um lado, a gerência da fábrica determinava os métodos e os tempos padrões para 
execução das tarefas. Do outro, o trabalhador precisava executá-las de forma impositiva. De 
fato, o taylorismo provocou a desapropriação do conhecimento do trabalho, dominado pelos 
trabalhadores, e isso gerou desinteresse e não comprometimento com os resultados. O 
trabalho prescrito pela gerência nem sempre considerava as condições reais onde o trabalho 
era executado e nem as características individuais do trabalhador (IIDA, 2005, p.9). 
Os trabalhadores achavam que isso os oprimia. Diante disso, reagiam, descumprindo 
regras estabelecidas, desregulando máquinas e prejudicando intencionalmente a qualidade. 
Partindo do nível de resistência individual, chegavam-se aos movimentos coletivos e sindicais 
que questionavam, em menor ou maior grau, o poder gerencial dentro das fábricas, para 
determinar-lhes o que deve ser feito, nos mínimos detalhes, sem dar-lhes a menor 
satisfação(IIDA, 2005, p.9). 
Dessa forma, os trabalhadores sentiam-se moralmente desobrigados a seguir esses 
padrões, que eram estabelecidos unilateralmente, sem a mínima participação deles e, muitas 
vezes, sem considerar as reais condições de trabalho. Em muitos casos, os tempos padrões 
estabelecidos eram completamente irreais. Isso se agravava nas linhas de produção, onde o 
ritmo é determinado mecanicamente pela velocidade da esteira, sem o menor respeito às 
diferenças individuais ou disposição momentânea ao trabalho (IIDA, 2005, p.9). 
Evidentemente, decorrido quase um século a partir das ideias de Taylor, muita coisa 
modificou-se. Os trabalhadores de hoje são mais instruídos, mais informados e mais 
organizados e não aceitam tão passivamente as determinações impostas de "cima para baixo" 
pela gerência. A partir disso, muitas mudanças foram introduzidas para adaptar as ideias 
originais de Taylor (IIDA, 2005, p.8). 
Depois de contínuos avanços de engenharia onde o homem se adaptou mal ou bem 
às condições impostas pelos maquinismos, evidenciou-se que os fatores humanos são 
primordiais. Mais ainda, em sistemas complexos, onde parte das funções classicamente 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
20 
executadas pelos homens pode ser alocada às máquinas, uma incorreta adequação às 
capacidades humanas pode invalidar a confiabilidade de todo o sistema. Assim faz-se 
necessário conhecer a priori os fatores determinantes da melhor adaptação de produtos 
máquinas, equipamentos, trabalho e ambiente, aos usuários, operadores, operários, 
indivíduos (MORAES; MONT’ALVÃO, 2012, p. 12). 
Na Europa, principalmente na Alemanha, França e países escandinavos, por volta de 
1900, começaram a surgir pesquisas na área de fisiologia do trabalho, na tentativa de 
transferir, para o terreno prático, os conhecimentos de fisiologia gerados em laboratórios. Os 
pesquisadores daquela época estavam preocupados com as condições árduas de trabalho e 
gastos energéticos nas minas de carvão, fundições e outras situações muito insalubres (IIDA, 
2005, p.8). 
A fisiologia é o ramo das Ciências Biológicas que estuda os processos físico-químicos 
que acontecem em um organismo vivo. Ou, sob outra perspectiva, estuda o funcionamento 
integrado dos tecidos e dos órgãos que constituem um corpo (PAULINO, 1999). 
Segundo Jan Dul e Bernard Weerdmeester: “A fisiologia pode estimar a demanda 
energética do coração e dos pulmões exigida para um esforço muscular. (...) o fator limitante 
neste caso é a energia que o coração e os pulmões podem fornecer aos músculos, para manter 
uma postura ou realizar movimentos” (DUL; WEERDMEESTER, 2004, p. 9). 
Um grande número de princípios importantes na ergonomia da postura vem, dentre 
outros, da fisiologia. Para Guimarães (1999), em uma situação de trabalho é necessário 
verificar se a tarefa está sendo executada pelo indivíduo dentro de suas capacidades física e 
mental, pois quando as exigências do trabalho excedem a capacidade fisiológica do 
trabalhador, geram sobrecarga, podendo aumentar a frequência de acidentes e baixar a 
produtividade e qualidade dotrabalho. 
Os métodos, técnicas e equipamentos desenvolvidos pelos fisiologistas do trabalho, 
permitiram mensurar efetivamente o desempenho físico do ser humano e, além disso, foram 
realizadas grandes pesquisas teóricas sobre o desgaste fisiológico e a respeito da energética 
muscular (VIDAL, 2000). 
Na Alemanha, em 1913, Max Ruber cria, dentro do Instituto Rei Guilherme, um 
centro dedicado aos estudos de fisiologia do trabalho, que evoluiu mais tarde para o atual 
Instituto Max Plank de Fisiologia do Trabalho, situado em Dortmund. Esse Instituto é 
responsável por notáveis contribuições para o avanço da fisiologia do trabalho, principalmente 
sobre gastos energéticos no trabalho, tendo desenvolvido metodologias e instrumentos para a 
medida dos mesmos. 
Nos países nórdicos, em Estocolmo e Copenhagem, foram criados laboratórios para 
estudar os problemas de treinamento e coordenação muscular para o desenvolvimento de 
aptidões físicas. Nos Estados Unidos surgiu o Laboratório de Fadiga da Universidade de 
Harvard, que tornou-se célebre pelos estudos sobre a fadiga muscular e aptidão física. 
Na Inglaterra, durante a I Guerra Mundial (1914-1917), com a criação da Comissão de 
Saúde dos Trabalhadores na Indústria de Munições, em 1915, fisiologistas e psicólogos foram 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
21 
chamados para colaborar no esforço para aumentar a produção de armamentos. Ao final 
daquela guerra, a mesma foi transformada no Instituto de Pesquisa da Fadiga Industrial, que 
realizou diversas pesquisas sobre o problema da fadiga nas minas de carvão e nas indústrias. 
A interpretação dos fisiologistas serviu de paradigma científico do início do século até 
o início da segunda metade deste século, portanto o período de expansão da base material da 
produção industrial no planeta. Ela se consolida a partir de 1915 quando, na Inglaterra, foi 
formado um comitê destinado a estudar a saúde dos trabalhadores empregados na indústria 
de guerra, uma espécie de assistência técnica ao fator humano na indústria. Esse comitê, 
formado por médicos, fisiologistas e engenheiros, atacou, na época, uma ampla variedade de 
questões de inadaptação entre trabalho e trabalhadores envolvidos nessa produção. Estes 
resultados se mantiveram nos tempos (breves) de paz entre as duas grandes guerras (VIDAL, 
2000). 
O Instituto de Pesquisa da Fadiga Industrial foi reformulado em 1929 para 
transformar-se no Instituto de Pesquisas sobre Saúde no Trabalho. Com o seu campo de 
atuação ampliado, realizou pesquisas sobre posturas no trabalho, carga manual, seleção, 
treinamento, iluminação, ventilação e outras. Entretanto, o maior mérito desse Instituto foi a 
introdução de trabalhos interdisciplinares, agregando novos conhecimentos de fisiologia e 
psicologia ao estudo do trabalho. 
No oriente, o pesquisador japonês K. Tanaka publicou um livro sobre "Engenharia 
Humana" em 1921 e, no mesmo ano, fundou-se, naquele país, o Instituto de Ciência do 
Trabalho. 
1.2.3. O século XX e o nascimento oficial da Ergonomia 
 
Com a eclosão da II Guerra Mundial (1939-1945), os conhecimentos científicos e 
tecnológicos disponíveis foram utilizados ao máximo, para construir instrumentos bélicos 
relativamente complexos como submarinos, tanques, radares, sistemas contra incêndios e 
aviões. Estes exigiam muitas habilidades do operador, em condições ambientais bastante 
desfavoráveis e tensas, no campo de batalha. Os erros e acidentes, muitos com consequências 
fatais, eram frequentes. Tudo isso fez redobrar o esforço de pesquisa para adaptar esses 
instrumentos bélicos às características e capacidades do operador, melhorando o desempenho 
e reduzindo a fadiga e os acidentes (IIDA, 2005). 
Durante a II Guerra mundial o impulso acelerativo das mudanças tecnológicas – 
aviões cada vez mais velozes e radares para detectar aviões inimigos, submarinos e sonares – 
colocam o homem em situações de extrema pressão ambiental, física e psicológica. 
Exacerbaram-se as incompatibilidades entre o homem e o tecnológico, já que os 
equipamentos militares exigiam dos operadores decisões rápidas e execução de atividades 
novas em condições críticas, que implicavam em uma quantidade de informações, novidade, 
complexidade e riscos de decisões que envolvem possibilidade de erros fatais (MORAES; 
MONT’ALVÃO, 2012, p, 13). 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
22 
Ressaltem-se, então as incompatibilidades entre o progresso humano e técnico. 
Como diz Chapanis (1959, apud MORAES; MONT’ALVÃO, 2012, p, 13): 
“Uma importante lição de engenharia, proveniente da II Guerra Mundial é 
que as máquinas não lutam sozinhas. A guerra solicitou e produziu e 
produziu maquinismos complexos, porém, geralmente, essas inovações não 
faziam o que se esperava delas. Tal ocorria porque excediam ou não se 
adaptavam às características e capacidades humanas. Por exemplo, o radar 
foi chamado olho da armada, mas o radar não vê. Por mais rápido e preciso 
que seja, será quase inútil, se o operador não puder interpretar as 
informações apresentadas na tela e decidir a tempo. Similarmente, um 
avião de caça, por mais veloz e eficaz que seja, será um fracasso se o piloto 
não puder conduzi-lo com rapidez, segurança e eficiência”. 
Cabe ao homem avaliar a informação, decidir e agir. Pois se desconsiderarmos os 
fatores humanos, isso resulta em falhas dos sistemas. O projeto de engenharia é eficaz, mas o 
desempenho não é eficiente (MORAES; MONT’ALVÃO, 2012, p, 13). 
Buscam-se explicações e a solução mais fácil é afirmar que a culpa é do homem – o 
erro humano, a falha humana, o ato inseguro. Acusar o homem de negligência, descaso, 
desobediência ou ignorância, no entanto, não resolve o problema (MORAES; MONT’ALVÃO, 
2012, p, 13). 
A falha humana propicia perdas para o sistema: aviões atingidos pelos inimigos que 
não cumprem sua missão de bombardear os alvos programados, ou cidades inteiras expostas a 
ataques por não se detectarem a tempo as informações sobre violações no espaço aéreo 
(MORAES; MONT’ALVÃO, 2012, p, 13). 
Na II guerra mundial, a falta de compatibilidade entre o projeto das máquinas e 
dispositivos e os aspectos mecânico-fisiológicos do ser humano se agravou com o 
aperfeiçoamento técnico dos motores. Foram registradas situações terríveis, agora atingindo 
tropas e material bélico em pleno uso. Os aviões, por exemplo, passaram a voar mais alto e 
mais rápido. Os pilotos, porém, sofriam da falta de oxigênio nas grandes altitudes, perda de 
consciência nas rápidas variações de altitude exigidas pelas manobras aéreas, e vários outros 
"defeitos" no sub-sistema fisiológico (VIDAL, 2000). 
Os projetistas não consideraram o funcionamento do organismo em diversas 
altitudes e submetidos a acelerações importantes! Como consequência, muitos aviões se 
perderam. A perda do material bélico era importante, vultosa e por si só justificaria esforços. 
No entanto, dado que o treinamento de um piloto levava dois a quatro anos, a perda de um 
piloto treinado se constituía em perda irreversível na duração da guerra (VIDAL, 2000). 
Nessas novas circunstâncias foram formados, tanto na Inglaterra como nos Estados 
Unidos, novos grupos interdisciplinares, agora com a participação de psicólogos somados aos 
engenheiros e médicos. Os objetivos eram os de "elevar a eficácia combativa, a segurança e o 
conforto dos soldados, marinheiros e aviadores". Os trabalhos desses grupos foram voltados 
para a adaptação de veículos militares, aviões e demais equipamentos militares às 
características físicas e psicofisiológicas dos soldados, sobretudo em situações de emergência e 
de pânico. E o que nos interessa particularmente, estes estudosse baseavam na análise e nos 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
23 
estudos dos materiais que retornavam e no relato de seus problemas operacionais. Assim 
sendo, em seu nascedouro, a Ergonomia se alimentou profundamente de dados e estudos de 
manutenção bélica (VIDAL, 2000). 
Engenheiros juntaram-se aos psicólogos e fisiólogos para adequar operacionalmente 
equipamentos, ambiente e tarefas aos aspectos neuro-psicológicos da percepção sensorial 
(visão, audição e tato), aos limites psicológicos da memória, atenção e processamento de 
informações, resolução de problemas e tomada de decisões, a capacidade fisiológica de 
esforço, adaptação ao frio ou ao calor, e de resistência às mudanças de pressão, temperatura e 
biorritmo (MORAES; MONT’ALVÃO, 2012, p. 14). 
Como "sub-produto" do esforço bélico, seguiram-se as reuniões na Inglaterra, já 
mencionadas, e que marcaram o início da Ergonomia, agora em tempo de paz. Os seus 
conhecimentos passaram a ser aplicados na vida "civil" a fim de melhorar as condições de 
trabalho e a produtividade dos trabalhadores e da população em geral. 
É na Inglaterra, em 1949, portanto após a Segunda Guerra Mundial, que Murrell, 
engenheiro e psicólogo, cria a primeira sociedade de Ergonomia (Ergonomics Research 
Society); ela reúne de imediato engenheiros, psicólogos, fisiologistas, arquitetos, designers e 
mesmo economistas. Ela se afirma portanto, como pluridisciplinar. O termo “Ergonomics” foi 
escolhido porque, vindo do grego, pode ser transferido diretamente para outras linguagens. 
Sem saber os ingleses retomavam um termo de um cientista polonês, Jastrzebowski, que 
publicaria uma série de artigos científicos em 1857 sob o título “Esboço da ergonomia, ou a 
ciência do trabalho fundada nas verdades da ciência da natureza (FALZON, 2007, p. 26).” 
Ao contrário de muitas outras ciências cujas origens se perdem no tempo, a 
ergonomia tem uma data "oficial" de nascimento: 12 de julho de 1949. Nesse dia, reuniu-se, 
pela primeira vez, na Inglaterra, um grupo de cientistas e pesquisadores interessados em 
discutir e formalizar a existência desse novo ramo de aplicação interdisciplinar da ciência. Na 
segunda reunião desse mesmo grupo, ocorrida em 16 de fevereiro de 1950, foi proposto o 
neologismo ERGONOMIA, formado pelos termos gregos ergon que significa trabalho e nomos, 
que significa regras, leis naturais (MURRELL, 1965, apud IIDA, 2005, p. 5). 
Num sentido amplo, todavia, o termo trabalho aplica-se a qualquer atividade 
humana com propósito, particularmente se ela envolve algum grau de experiência ou esforço. 
Ao definir Ergonomia em relação ao trabalho humano, em geral utiliza-se a palavra trabalho 
com este significado (MORAES; MONT’ALVÃO, 2012, p. 15). 
Buscava-se um termo de fácil tradução para outros idiomas, que permitisse 
derivação de outras palavras – ergonomista, ergonômico, etc. – e que não implicasse que uma 
disciplina fosse mais importante do que outra. O neologismo Ergonomia, compreende os 
termos ergo (trabalho) e nomos (normas, regras). Entretanto, a etimologia do vocabulário, não 
define precisamente, o objeto desta disciplina. A origem do termo Ergonomia, no entanto 
remota a 1857, quando o polonês W. Jastrzebowski deu como título para uma de suas obras 
Esboço da Ergonomia ou ciência do trabalho baseada nas verdadeiras avaliações das ciências 
da natureza. Define-se então a Ergonomia como a ciência de utilização das forças e das 
capacidades humanas (MORAES; MONT’ALVÃO, 2012, p. 15). 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
24 
O termo ergonomia foi adotado nos principais países europeus, substituindo antigas 
denominações como fisiologia do trabalho e psicologia do trabalho. Nos Estados Unidos 
adotou-se a denominação human factors (fatores humanos), mas ergonomia já é aceita como 
seu sinônimo, naquele país. 
O termo ergonomia é utilizado nos países europeus, incluindo a Grã-Bretanha. Já nos 
Estados Unidos e Canadá, as expressões que mais se aproximam são: human factores (fatores 
humanos), human factors engineering (engenharia dos fatores humanos), engineering 
(engenharia dos fatores humanos), engineerring psychology (esta expressão poderia ser 
traduzida por ergopsicologia), man-machine engineering (engenharia do desempenho 
humano). Embora seja possível fazer distinções entre os termos Egonomia e Fatores Humanos 
(Montmollin; Bainbridge, 1984), existe uma tendência para adoção do termo Ergonomia – este 
e empregado em todo mundo, exceto nos Estados Unidos e Canadá (MORAES; MONT’ALVÃO, 
2012, p. 15). 
No Brasil adotou-se o uso do termo Ergonomia, consolidado com a difusão dos 
primeiros livros aqui escritos: Iida e Wierzzbicki, Ergonomia (1969); Verdussen, Ergonomia: a 
racionalização humanizada do trabalho (1978) (MORAES; MONT’ALVÃO, 2012, p. 16). 
1.3. Conceituação e distinções da Ergonomia 
 
Existem diversas definições de ergonomia. Todas procuram ressaltar o caráter 
interdisciplinar e o objeto de seu estudo, que é a interação entre o homem e o trabalho, no 
sistema homem-máquina-ambiente. Ou, mais precisamente, as interfaces desse sistema, 
onde ocorrem trocas de informações e energias entre o homem, máquina e ambiente, 
resultando na realização do trabalho (IIDA, 2005). 
Diversas associações nacionais de ergonomia apresentam as suas próprias definições. 
Aquela mais antiga é a da Ergonomics Society (www.ergonomics.org.uk), da Inglaterra (IIDA, 
2005): 
''Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho, 
equipamento, ambiente e particularmente, a aplicação dos conhecimentos 
de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas que surgem 
desse relacionamento." 
No Brasil, a Associação Brasileira de Ergonomia (www.abergo.org.br) adota a 
seguinte definição (IIDA, 2005): 
"Entende-se por Ergonomia o estudo das interações das pessoas com a 
tecnologia, a organização e o ambiente, objetivando intervenções e projetos 
que visem melhorar, de forma integrada e não-dissociada, a segurança, o 
conforto, o bem-estar e a eficácia das atividades humanas." 
No âmbito internacional, a International Ergonomics Association (www.iea.cc) 
aprovou urna definição, em 2000, conceituando a ergonomia e suas especializações: 
"Ergonomia (ou Fatores Humanos) é a disciplina científica, que estuda as interações entre os 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
25 
seres humanos e outros elementos do sistema, e a profissão que aplica teorias, princípios, 
dados e métodos, a projetos que visem otimizar o bem estar humano e o desempenho global 
de sistemas." 
Os praticantes da ergonomia são chamados de ergonomistas e realizam o 
planejamento, projeto e avaliação de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e 
sistemas, tornando-os compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas. 
Os ergonomistas devem analisar o trabalho de forma global, incluindo os aspectos físicos, 
cognitivos, sociais, organizacionais, ambientais e outros. Frequentemente, os ergonomistas 
trabalham em domínios especializados, abordando certas características específicas do 
sistema, tais como (IIDA, 2005): 
 
1.3.1. Ergonomia Física 
 
Ocupa-se das características da anatomia humana, antropometria, fisiologia e 
biomecânica, relacionados com a atividade física. Os tópicos relevantes incluem a postura no 
trabalho, manuseio de materiais, movimentos repetitivos, distúrbios musculoesqueléticos 
relacionados ao trabalho, projeto de postos de trabalho, segurança e saúde do trabalhador 
(IIDA, 2005). 
Numa primeira simplificação, consideremos que o corpo tem um sistema 
musculoesquelético movimentado por uma central energética. Osistema esquelético confere 
ao corpo suas dimensões antropométricas: estatura, comprimento dos membros, capacidades 
de movimentação limitadas, alcances mínimos e máximos. Por óbvio que possa parecer, um 
dos aspectos mais importantes da Ergonomia é que o posto de trabalho, seus utensílios e 
elementos estejam de acordo com as dimensões do ocupante do posto de trabalho. Nisto 
consiste o capitulo da antropometria como disciplina fundamental da ergonomia. A 
inadequação antropométrica produz o desequilíbrio postural estático, fator causal das 
LER/DORT, mas igualmente a de lombalgias, ciáticas e outros problemas fisiátricos (VIDAL, 
2000). 
Para que o sistema esquelético se movimente e se mantenha em determinadas 
posições, a ele está acoplado o sistema muscular que pode ser primariamente assimilado a um 
conjunto de cabos extensores em oposição. O sistema muscular tem a propriedade de poder 
se contrair e inversamente se distender e essa propriedade requer consumo de energia, 
provida ao corpo pelo metabolismo, que é a maravilha da natureza que transforma alimento e 
ar em energia no interior do organismo. A atividade de trabalho deve estar adequada às 
possibilidades musculares e do metabolismo humano e nisto consiste o segundo capítulo da 
ergonomia física, a saber a fisiologia do trabalho. Retomando um exemplo já citado, o 
desconhecimento da fisiologia produziu problemas para os aviadores, mas o mesmo se deu 
com mineiros, empregados em linhas de montagem e mais recentemente no pessoal de 
escritório. As inadequações fisiológicas agravam e ampliam os problemas de inadequação 
antropométrica já aludidos (VIDAL, 2000). 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
26 
Finalmente este organismo músculo-esquelético e dotado de um sistema de 
transformação de energia, um metabolismo interage com o ambiente em que se encontra 
realizando uma homeostase, suando no caso de temperaturas elevadas, sentindo odores e 
sabores, sendo facilitado ou dificultado nessa integração ao locus da atividade pela qualidades 
acústicas e lumínicas deste ambiente. Estabelece-se um domínio de conhecimentos de 
ergonomia ambiental, também podendo ser chamado de ecologia humana (VIDAL, 2000). 
 
Figura 16 – O “Caldeirão” da fadiga de Grandjean. Fonte: Vidal (2000). 
Trata-se de um grande capítulo da ergonomia e que responde pela maior parte dos 
trabalhos e livros até hoje publicados. Exatamente por isso é uma tarefa quase impossível 
sintetizar este campo. Neste sentido nossa opção é de, neste momento, ilustrar o campo com 
o esquema global proposto por Grandjean (1977). Os temas mais freqüentemente estudados 
pela ergonomia física têm sido: (a) Posturas desfavoráveis (b) Força excessiva demandada (c) 
Movimentos repetitivos (d) Transporte de cargas (VIDAL, 2000). 
A utilidade da ergonomia física está na contribuição decisiva que fornece a muitos 
problemas verificados nos sistemas de trabalho. No campo dos postos de trabalho, problemas 
antropométricos e posturais efetivamente se verificam numa grande quantidade sejam eles 
industriais, agrícolas ou de serviços. Nos dois primeiros a atividade é em geral agravada pelo 
fato das tarefas comportarem igualmente uma importante parcela de manuseio de materiais. 
As contribuições da ergonomia física, nesse aspecto, têm sido muito grandes, tanto que o 
Governo dos EUA acaba de promulgar um vasto programa de ação ergonômica a nível 
governamental, com uma série de incentivos para as empresas que adotarem programas de 
ergonomia com uma forte conotação neste campo da ergonomia física (VIDAL, 2000). 
No campo ambiental, aqui significando o meio-ambiente de trabalho, a ergonomia 
tem igualmente grandes contribuições para o agenciamento adequado desses ambientes. A 
mais importante delas está em que ao se colocar as mudanças necessárias a partir de seu 
ponto de vista - o da atividade - e com sua orientação tecnológica - adequação das interfaces , 
pode prevenir problemas decorrentes das mudanças apenas parciais e por isso mesmo seus 
efeitos se situam entre insuficientes e inócuos (VIDAL, 2000). 
 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
27 
1.3.2. Ergonomia Cognitiva 
 
 Ocupa-se dos processos mentais, como a percepção, memória, raciocínio e resposta 
motora, relacionados com as interações entre as pessoas e outros elementos de um sistema. 
Os tópicos relevantes incluem a carga mental, tomada de decisões, interação homem-
computador, estresse e treinamento (IIDA, 2005). 
A cognição trata da ergonomia dos aspectos mentais da atividade de trabalho de 
pessoas e indivíduos, homens e mulheres. O olhar do ergonomista não se contenta em apontar 
características humanas pertinentes aos projetos de postos de trabalho ou de se limitar a 
entender a atividade humana nos processos de trabalho de uma ótica puramente física. Nesse 
movimento de déias apreende-se - o que os filósofos gregos já discutiam - a importância dos 
atos de pensamento do trabalhador na consecução de suas tarefas. E com isso, apreendemos 
que os trabalhadores não são apenas simples executantes, são capazes de detectar sinais e 
indícios importantes, são operadores competentes e são organizados entre si para trabalhar. E 
que, nesse contexto, podem até cometer erros (VIDAL, 2000, p. 19). 
Errar é humano ! Mas...de quem é o erro? Que erro é esse? Como é que se produziu 
e como evitá-lo? São as questões para as quais a Ergonomia Contemporânea, particularmente 
a Ergonomia Cognitiva tenta produzir para eles alguns elementos de respostas (VIDAL, 2000, p. 
19). 
A figura 17 esquematiza o processo cognitivo. Em termos cognitivos o ser humano 
transforma as informações de natureza física em informações de natureza simbólica e a partir 
desta em ações sobre as interfaces. Sua concepção nos é trazida pelo campo das ciências 
cognitivas, que visa ao estudo do conhecimento virtual, ou seja , foca o conjunto das condições 
estruturais e funcionais mínimas que permitem perceber, se representar, recuperar e usar a 
informação (VIDAL, 2000, p. 19). 
 
Figura 17 – Processo perceptivo, cognitivo e motor (Gagné, 1966, modificado por Vidal, 2000). Fonte: 
Vidal (2000, p. 20). 
A ergonomia tem uma interdisciplinaridade com as ciências cognitivas, mas não é a 
mesma coisa. As ciências cognitivas tem como foco e objetivo estudar a capacidade e os 
processos de formação e produção de conhecimento em sistemas em geral, sejam eles 
naturais ou artificiais (humanos, formigas…). Já a ergonomia se alimenta de estudos de 
inteligência natural e busca trazê-los para a tecnologia de interfaces homem-máquina (VIDAL, 
2000, p. 20). 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
28 
A ergonomia cognitiva tem como assunto a mobilização operatória das capacidades 
mentais do ser humano em situação de trabalho. Este campo da ergonomia tem como 
programa mínimo (VIDAL, 2000, p. 20): 
 Inovações nos equipamentos, sobretudo que no que tange à usabilidade das 
interfaces entre o operador e os equipamentos; 
 Confiabilidade humana na condução de processos, prevenindo as conseqüências dos 
erros humanos no controle de sistemas complexos e perigosos; 
 Otimização na operação de equipamentos informatizados e seus softwares, 
prevenindo seu funcionamento inadequado ou bloqueios; 
 A construção da formação de novos empregados na implantação de novas tecnologias 
e/ou novos sistemas organizacionais; 
 Estabelecimento e manutenção de sistemas seguros, confiáveis e eficientes de 
comunicação e de cooperação. 
A ergonomia cognitiva se subdivide em dois campos: a cognição individual e a 
cognição coletiva ou social. No campo da cognição individual se reúnem os vários estudos 
sobreo raciocínio e tomada de decisão que têm serventia na elaboração de procedimentos e 
normas operacionais (VIDAL, 2000, p. 20). 
Muitos desses estudos se voltam para a formação profissional, sobretudo nos 
processos de qualificação e requalificação tão necessários num mundo em sobressalto pela 
constante introdução de novas tecnologias. No que tange as interfaces, a ergonomia cognitiva 
tem produzido resultados bastante convincentes na engenharia de softwares (amigabilidade) 
nas interfaces de instrumentação e controle (usabilidade). De forma mais ampla as 
modelagens cognitivas têm possibilitado a elaboração de sistemas de controle mais confiáveis. 
Um bom exemplo da usabilidade de softwares de extrema utilidade são os aplicativos JAVA 
que identificam os ícones das barras de ferramenta, nem sempre tão evidentes como 
gostariam que o fossem seus criadores (VIDAL, 2000, p. 20). 
No entanto os avanços mais recentes têm sido registrado no âmbito da cognição 
coletiva, especialmente nos sistemas de interconecção de múltiplos agentes. Os sistemas de 
controle em rede que envolvem a intervenção simultânea de vários operadores comuns, por 
exemplo no controle de trafego aéreo, têm se disseminado em outras situações industriais e 
de serviços, numa tendência de integração que parece substituir a filosofia de centralização 
em voga há bem pouco tempo atrás. Esses dispositivos de cognição compartilhada e 
distribuída têm se revelado bastante mais eficazes para o tratamento de situações anormais e 
de emergência. Um exemplo disso nos é dado por Pavard e col. (1998) que desenvolveu um 
sistema de escuta mútua e de bases informatizadas para a defesa civil o município de Essonne, 
na região metropolitana sul de Paris, França (VIDAL, 2000, p. 20). 
Com este sistema os diferentes agentes - médicos, auxiliares e bombeiros - podem 
acompanhar chamadas recebidas por qualquer dos colegas e ir tratando coletivamente o 
problema : enquanto o médico aprofunda informações sobre o estado do acidentado, uma 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
29 
ambulância já é deslocada pelo bombeiro, conquanto o auxiliar providencia uma internação 
hospitalar adequada ao caso (VIDAL, 2000, p. 21). 
Um bom exemplo de aplicação da ergonomia cognitiva nos é dado pelo Prof. Maurice 
de Montmollin (1991) 14. Imaginemos, por exemplo, um trabalhador diante de um terminal 
numa refinaria. Seu trabalho consiste em monitorar, através do sistema de instrumentação, o 
andamento do processo de refino e, se necessário, fazer as regulações necessárias, ou seja, 
acionar os dispositivos adequados, através do sistema de controle. Como uma refinaria não 
pode parar, ela funciona em turnos de trabalho e não esqueçamos, ali são processados 
materiais combustíveis de alto risco. O terminal em foco, permite monitorar pela tela de vídeo 
o processo e agir através de comandos do teclado do terminal (VIDAL, 2000, p. 21). 
Este trabalhador não está sentado ali, sem fazer nada: ele exerce uma atividade. Ele 
percebe, identifica e interpreta as informações que aparecem no monitor e tenta resolver os 
problemas do processo que aparecem. Por vezes ele comete erros de julgamento, 
freqüentemente se comunica com outros colegas da sala e de campo. O ergonomista pode 
aprender, através da análise de sua atividade, muitas coisas sobre os raciocínios empregados 
por este trabalhador. Ele pode, então, ajudar a melhor apresentar as informações no monitor, 
a melhor formular os problemas de diagnóstico e de regulação da planta, a conceber uma 
organização mais condizente com as necessidades de períodos calmos e períodos perturbados, 
a estruturar uma formação e um treinamento mais adequados, a estabelecer meios e métodos 
de comunicação entre os diversos operadores (VIDAL, 2000, p. 22). 
Vamos agora supor um grupo de operadores numa central de atendimento de um 
cartão de crédito. E o que dizermos da atividade de controladores de vôo, de mergulhadores 
em manutenção subaquática, de pedreiros na construção civil. Enfim, sem alguma forma de 
raciocínio estas pessoas poderiam realizar suas tarefas? Me parece que não. E não poderíamos 
ajudá-las a raciocinarem em melhores condições? Eis o desafio da ergonomia cognitiva (VIDAL, 
2000, p. 22). 
1.3.3. Ergonomia Organizacional 
 
Ocupa-se da otimização dos sistemas sócio técnicos, abrangendo as estruturas 
organizacionais, políticas e processos. Os tópicos relevantes incluem comunicações, projeto de 
trabalho, programação do trabalho em grupo, projeto participativo, trabalho cooperativo, 
cultura organizacional, organizações em rede, teletrabalho e gestão da qualidade (IIDA, 2005). 
O campo da ergonomia organizacional se constrói a partir de uma constatação óbvia, 
que toda a atividade de trabalho ocorre no âmbito de organizações. Esse campo que tem tido 
uma formidável desenvolvimento é conhecido internacionalmente como ODAM 
(Organizational Design and Management), para alguns significando um sinônimo de 
macroergonomia (VIDAL, 2000, p. 22). 
Como já pude assinalar anteriormente (Vidal, 1997), ao se falar de trabalho e 
organização deve-se distinguir o plano da organização geral da organização do trabalho. A 
organização geral tem como bases teóricas a teoria das organizações e a logística, buscando 
Notas de aula: Origens conceituação e ênfases da Ergonomia 
 
30 
especificar a organização produtiva tal como um organismo com vistas à sua atuação no 
contexto mais geral: social, econômico, geográfico, cultural (VIDAL, 2000, p. 22). 
A organização do trabalho, se prosseguirmos na metáfora biológica, trata dos 
aparelhos funcionais internos de uma organização produtiva e que lhe dão sentido motor. Em 
termos concretos o plano é o da troca de energia entre as pessoas da organização, repartidas 
entre as energias de execução e de controle, ou antes, de como estruturam-se os aparelhos 
para manusear tais energias (Vidal e al., 1976). A ideia motriz é a de compreender as formas 
como se dá a cada uma das unidades funcionais as disposições necessárias para a consecução 
das funções que lhes são imputadas pela organização geral e o conceito subsidiário é o 
estabelecimento de métodos de trabalho (VIDAL, 2000, p. 22). 
Como conteúdo concreto a organização do trabalho envolve ao menos seis aspectos 
interdependentes, quais sejam (VIDAL, 2000, p. 22): 
 A repartição de tarefas no tempo (estrutura temporal, horários, cadencias de 
produção) e no espaço (arranjo físico); 
 Os sistemas de comunicação, cooperação e interligação entre atividades, 
ações e operações; 
 As formas de estabelecimento de rotinas e procedimentos de produção; 
 A formulação e negociação de exigências e padrões de desempenho 
produtivo, aí incluídos os sistemas de supervisão e controle; 
 Os mecanismos de recrutamento e seleção de pessoas para o trabalho; 
 Os métodos de formação, capacitação e treinamento para o trabalho. 
Simplificadamente, como é possível neste texto, vamos considerar uma organização 
compreendendo três níveis: operacional, tático e estratégico. De acordo com o fluxo de 
decisões e comunicações podemos distinguir dois tipos de decisórios: os de cima para baixo – 
top-down – e os de baixo para cima (bottom-up). 
Seja em processos top-down, seja em processos bottom-up, a utilidade da ergonomia 
é imensa. Ela vai permitir uma efetiva modelagem organizacional, sobretudo em processos 
chave da organização, onde a modelagem gerencial não seja suficiente para assegura o 
sucesso da empreitada de reestruturação. É o caso dos sistemas complexos, dos sistemas 
perigosos e dos sistemas de demanda flutuante (VIDAL, 2000, p. 22). 
Portanto, a ergonomia estuda tanto as condições prévias como as consequências do 
trabalho e

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