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708-P02 O C T O B E R 1 6 , 2 0 0 6 ________________________________________________________________________________________________________________________________ Caso LACC # 708-P02 é a versão traduzida para Português do caso # 9-706-041 da HBS. Os casos da HBS são desenvolvidos somente como base para discussões em classe. Casos não devem servir como aprovação, fonte primária de dados ou informação, ou como ilustração de um gerenciamento eficaz ou ineficaz. Copyright 2008 President and Fellows of Harvard College. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em um sistema de dados, usada em uma tabela de dados, ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio - eletrônico, mecânico, fotocopiada, gravada, ou qualquer outra - sem a permissão da Harvard Business School. D E B O R A S P A R J E A N O I China: Construindo um "Capitalismo com Características Socialistas" Não devemos agir como mulheres de mãos atadas! Se quisermos que o socialismo triunfe sobre o capitalismo, não deveríamos hesitar em nos inspirar nas realizações de todas as culturas. Temos que aprender com os outros países, inclusive os países capitalistas desenvolvidos. ⎯ Deng Xiaoping, 19921 Em novembro de 2005, o Comitê Central do Partido Comunista Chinês publicou seu 11.° plano qüinqüenal. Como era característico de tais pronunciamentos, o plano fazia alusão a muitos aspectos da economia chinesa, inclusive sua situação fiscal, seu superávit no balanço de pagamentos e seu desejo de equiparar as rendas das áreas rurais e urbanas. Porém o tema central foi o crescimento. A China, conforme anunciava o plano, continuaria a crescer 8% ao ano entre 2006 e 2011. Ele também tentaria não apenas pensar na expansão em termos de exportações e investimentos, mas também contemplar os mais pobres, aumentando o gasto público para este segmento da sociedade.2 A China já era o país que crescia mais rapidamente no mundo, uma posição que já ocupara, exceto em breves intervalos, por aproximadamente 30 anos. Embora uma série de outros países (como Japão, Cingapura e Botswana) também tivesse sustentado índices de crescimento médio de mais de 9% ao ano por mais de uma década, o crescimento com tamanha intensidade e rapidez, experimentado pela China, havia durado mais do que seus semelhantes e não demonstrava sinais de desaceleração.3 Além do mais, na China, o crescimento estava atingindo uma população de cerca de 1,3 bilhão de pessoas, libertando milhões delas da pobreza e abrindo enormes segmentos de demanda. Em 2004, a China foi responsável por 12% do consumo de energia de todo o mundo e por 15% do consumo total de água doce. Ela também consumiu 50% da produção mundial de cimento.4 Baseando-se exclusivamente em aspectos econômicos, a China havia se tornado, portanto, um fenômeno. Era a terceira maior economia do mundo e freqüentemente era descrita como tendo toda a probabilidade de, dentro de uma década, ultrapassar tanto a União Européia quanto os Estados Unidos em termos de PIB. Contudo, diferentemente destes outros países, a China era de forma distinta e explícita, um estado comunista. Sob a liderança do presidente Hu Jintao, o partido comunista chinês deteve o controle completo das questões do país e permaneceu firmemente comprometido com muitos dos princípios-chave do socialismo. Por exemplo, todos os principais bancos do país permaneceram fortemente ligados ao Estado, assim como setores-chave como Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 708-P02 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 2 petróleo, petroquímica e aço. Agências estatais forneciam a maioria dos serviços financeiros ainda limitados do país e empresas estatais produziam mais de um terço da produção total. De fato, o Estado ⎯ e o Partido ⎯ eram peças centrais em quase todos os aspectos da economia da China, guiando uma trajetória de desenvolvimento freqüentemente rotulada como "capitalismo com características socialistas". Não foi um caminho óbvio para o crescimento. Porém, por quase 30 anos a China vinha de fato crescendo, inserindo seus cidadãos na prosperidade e seus produtos no resto do mundo. Entre 1978 e 2005, o PIB per capita da China havia crescido de US$ 153 para US$ 1284, enquanto seu superávit no balanço de pagamentos crescera mais de doze vezes entre 1982 e 2004, passando de US$ 5,7 bilhões para US$ 70 bilhões. Durante este período, a China também havia se tornado uma potência industrial, indo além do sucesso inicial em setores com baixos salários como os de vestuário e de calçados e passando para a produção cada vez mais sofisticada de computadores, produtos farmacêuticos e automóveis. Contudo, não estava claro por quanto tempo exatamente esta trajetória poderia continuar. De acordo com o 11.º plano qüinqüenal, a China precisava sustentar um índice de crescimento anual de 8% no futuro próximo. Somente com tais níveis de crescimento, argumentavam seus líderes, a China poderia continuar a desenvolver sua capacidade industrial, aumentar o padrão de vida de seus cidadãos e reduzir as desigualdades que estavam surgindo através do país. Nenhum país havia mantido anteriormente o tipo de crescimento que a China estava prevendo. Além do mais, a China, até certo ponto, já havia passado pelas etapas mais fáceis do desenvolvimento. Na década de 1980, havia transformado seu setor agrícola, enorme e ineficiente, libertando seus agricultores dos confins do planejamento central e conquistando sua simpatia para a causa da reforma. De modo semelhante, na década de 1990 a China havia começado a reestruturar seu setor industrial estagnado, persuadindo os investidores estrangeiros pela primeira vez e canalizando fundos de investimento para as companhias estatais. Estas políticas haviam catalisado o crescimento fenomenal do país, mas não se poderia mais depender delas para impulsionar a economia muito mais adiante. Em vez disso, a China teria que dar, o que muitos consideraram, o último passo em direção à economia de mercado, liberalizando o setor bancário e dando início a um verdadeiro mercado de capitais. Este passo, entretanto, não seria fácil. A partir de 2004, as empresas estatais chinesas ainda estavam apenas parcialmente reorganizadas e seus bancos estavam lidando com o encargo de mais de US$ 205 bilhões (1,7 trilhões RMB [Rennimbi iuanes]) em empréstimos vencidos, dinheiro que tinha pouquíssima chance de ser recuperado. O país tinha uma taxa de câmbio fixa e rígidos controles sobre o balanço de pagamentos e as contas de capital. Ele tinha, sobretudo, um governo comunista que permanecia cauteloso para não perder as rédeas da situação, mesmo com o aumento cada vez maior de protestos por parte de trabalhadores e agricultores. E, portanto, perdurava o dilema: a China seria capaz de manter sua taxa de crescimento frenética sem abraçar um regime totalmente liberal? E caso optasse por fazer uma transição radical para a economia de mercado, como ela poderia garantir que a tão valorizada estabilidade do país não seria abandonada no processo? Histórico: Ascensão e Decadência do Reino Central Muito antes da China emergir como uma potência econômica, ela já havia sido considerada uma potência de pleno direito, além de ser uma força, ainda que silenciosa, na arena internacional. A civilização chinesa surgiu inicialmente no vale do rio Amarelo em torno de 2200 a.C. Pelo fato do solo Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright.Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 708-P02 3 do vale ser rico mas o rio traiçoeiro, o povo da região desenvolveu sofisticadas técnicas de "agricultura permanente" que permitiram a eles controlar as águas inconstantes e cultivar variedades de arroz com alta produção.5 Assentando-se nestas bases agrícolas, a população da China aumentou rapidamente e uma estrutura social durável e única se desenvolveu. O núcleo da sociedade era o clã familiar, várias gerações de filhos que, juntos, cultivavam o pedaço de terra da família. As filhas tradicionalmente se mudavam para as famílias de seus maridos e eram subservientes às suas sogras. Acima do nível familiar, os pequenos agricultores se agrupavam em aldeias, que existiam como unidades quase auto-suficientes. Por volta do ano 1120 a.C. o povo do vale do rio Amarelo havia se reunido sob a autoridade flexível da dinastia Zhou, uma família de sacerdotes guerreiros que arrecadavam impostos e organizavam exércitos, mas que, afora isso, ficavam distantes da vida cotidiana das aldeias. Por outro lado, os imperadores e seus burocratas se dedicavam a atividades artísticas e eruditas, cultivando uma civilização que produziu obras clássicas de arte e literatura, assim como os grandes filósofos Confúcio e Lao Zi. Quando o poder da família real Zhou finalmente declinou em 403 a.C., irromperam guerras entre, aproximadamente, 170 senhores feudais, mergulhando a China em uma era de anarquia política hoje denominada Período dos Estados em Guerra. O caos imperou por aproximadamente 100 anos, até que uma única família finalmente conseguisse derrotar os senhores feudais rivais e colocasse a China novamente sob um governo comum. O novo imperador, Qin Shi Huang, propôs-se então a estabelecer um império universal e duradouro. Durante seu reino tirânico de 11 anos, Qin matou milhares de estudiosos confucianos, dividiu os estados de outros senhores em quinhões de terra privados menores, e empreendeu projetos públicos grandiosos tais como a reconstrução da Grande Muralha da China. Para garantir que seu Império permanecesse intacto, Qin também estabeleceu um sistema formal de governo que ligava as aldeias a províncias centrais e, a partir destas, diretamente ao imperador. Entre o imperador e o povo ele criou uma burocracia imperial elaborada que iria dominar a China pelos dois milênios seguintes. Ao longo deste período, a unidade da China permaneceu extraordinariamente estável. Ela era, em grande parte, uma sociedade agrícola, ligada e praticamente definida pelo confucianismo, um corpo de filosofia moral e política que mostrava a importância suprema da estabilidade social. Começando no nível do indivíduo, descrevia uma hierarquia complexa de obediência, ligando a criança a seus pais, a família a seus ancestrais e o súdito ao seu governante. Em todas estas relações, o pai patriarcal era o centro da autoridade e a devoção filial era a virtude mais admirada. Devido ao fato dos padrões de autoridade serem repetidos ao longo de toda a hierarquia, o imperador e seus representantes simplesmente assumiram o papel de um verdadeiro pai. Enquanto isso, no dia-a-dia, a ordem era mantida pelos burocratas imperiais, funcionários públicos que eram, simultaneamente, uma manifestação da ordem confuciana e o meio físico pelo qual esta ordem era preservada. Não surpreendentemente, a política externa da China também manteve a marca desta ordem. Desde os tempos mais remotos, os chineses haviam considerado sua terra o "Reino Central”, um centro da civilização cercado por todos os lados pelos "quatro bárbaros". Todos os povos não-chineses eram considerados inferiores, e os imperadores chineses ⎯ com algumas exceções ⎯ não tinham interesse em explorar o mundo além de suas fronteiras.6 Segundo eles, a China era o centro do mundo e o imperador chinês o elo entre o céu e a terra. Simplesmente não havia razão para buscar qualquer outro lugar. Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 708-P02 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 4 Inevitavelmente, chegou um momento em que outros povos chegaram à China. Os mongóis invadiram a China em 1280 e os manchus em 1644. Estas duas dinastias estrangeiras, contudo, governaram a China de maneira muito semelhante àquela feita pelos chineses, com uma hierarquia centralizada, uma burocracia imperial e uma firme propensão para se concentrar em si mesmo. Portanto, para todos os propósitos práticos, a China permaneceu uma civilização fechada até meados do século XIX, quando os bárbaros vieram para ficar. Invasão e Revolução Com início em 1840, o isolamento da China foi abalado expressivamente por uma série de derrotas militares conhecidas coletivamente como as "Guerras do Ópio". A origem aparente destes conflitos era o ópio, que os mercadores britânicos vinham contrabandeando para a China numa tentativa de reduzir seus crônicos déficits comerciais. Quando as autoridades chinesas apreenderam 20.000 baús de ópio britânico em Guangzhou, os britânicos atacaram para defender seus direitos de praticar o comércio. Os chineses revidaram e tentaram negociar, mas em 1842 o imperador, de forma relutante, capitulou. A China cedeu Hong Kong aos britânicos e concordou em abrir outros cinco portos de comércio. Este foi o primeiro do que ficou conhecido como os "Tratados Injustos". Nas décadas seguintes, potências ocidentais entraram na China sob o rótulo benigno de uma política americana de "Portas Abertas". Grã-Bretanha, França, Rússia, Alemanha e Japão, em conjunto, repartiram a China em esferas de influência estrangeira e forçadamente abriram as cidades costeiras chinesas ao comércio exterior. Em muitas cidades, as autoridades estrangeiras chegaram a ponto de reivindicar direitos de extraterritorialidade que os tornaram, efetivamente, imunes à legislação chinesa. O sucesso das potências estrangeiras foi um tremendo golpe para o orgulho e a complacência da China. Em 1898, o jovem imperador Guang Xu fez uma tentativa final no sentido da reforma, esperando, como os imperadores Meiji do Japão, mudar seu país sem destruí-lo. Contudo, sua iniciativa teve apenas o efeito de ofender seus inimigos e ele foi rapidamente deposto pela Imperatriz Dowager Ci Xi, que se declarou regente e revogou todas as reformas. Como conseqüência, em seguida, a China mergulhou novamente no caos enquanto os reformistas e reacionários lutavam pelo controle. Quando a Imperatriz Dowager morreu, em 1908, o poder do governo central desintegrou, com os últimos vestígios do império. Nos 40 anos seguintes, a China foi ostensivamente governada pelo Kuomintang (KMT), um partido revolucionário lançado por Sun Yatsen e depois liderado (após a morte de Sun) pelo General Chiang Kaishek. Durante este período, o controle do poder por parte do KMT foi extremamente débil. Caudilhos controlavam a maioria das províncias longínquas e o governo central exercia pouco poder militar ou autoridade política. Enquanto isso, no interior, um líder carismático, chamado Mao Zedong, estava angariando apoio para o Partido Comunista chinês, desenvolvendo táticas de combate de guerrilha e encorajando os camponeses a tumultuar totalmente a ordem social ⎯ exigindo reforma agrária e lutando pelo socialismo. Em 1931, forças japonesas invadiram a Manchúria, destruindo qualquer aparência de um estado chinês unificado. O KMT e os comunistas continuaram suas lutas internas, tentando apenas, de forma relutante, reunir forças em 1937, quando os japoneses lançaram um ataque maciço. Durante o Do N ot Co py or Post This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 708-P02 5 desenrolar da luta subseqüente, as forças do KMT foram empurradas de volta para o interior do oeste da China, onde estabeleceram a capital na outrora pacata cidade de Chongqing. A esta altura, contudo, o partido havia sido significativamente enfraquecido pela sua relativa falta de fervor antinipônico e pela corrupção que havia se disseminado entre seus oficiais. Os comunistas, pelo contrário, foram capazes de arrebatar tanto a autoridade moral como a vantagem militar. Sua forma de operar através de ações de guerrilha colocava as tropas de Mao em contato direto com a classe camponesa, que ficou impressionada com a disciplina dos comunistas e rapidamente passou a considerá-los como os defensores do país. Quando os japoneses se renderam em 1945, o Partido Comunista Chinês de Mao (PCC), apoiado por forças milicianas e milhões de militantes políticos, expandiu seu controle para as áreas anteriormente sob ocupação japonesa. Por volta do ano de 1949, os comunistas haviam capturado um número tão grande de equipamentos e recrutado tantos soldados do KMT que Chiang Kaishek não teve outra opção a não ser fugir para a ilha de Formosa (Taiwan), levando consigo todas as reservas de ouro da China e prometendo um dia liberar a China continental dos "bandidos comunistas". Em 1.º de outubro de 1949, Mao Zedong proclamou o estabelecimento da República Popular da China (RPC) e tornou Beijing a capital do país novamente. O novo governo desfrutava de amplo apoio do povo chinês, que estava determinado a recuperar seu país após aproximadamente um século de invasão estrangeira e caos interno. Parecia que a China se encontrava novamente pronta para ocupar seu lugar de direito entre as nações. O Leste é Vermelho: a China sob o Regime Comunista, 1949-1978 A proclamação da RPC transformou instantaneamente Mao e seus seguidores, que passaram de revolucionários a administradores. Com pouca experiência de governo realizado em tempo de paz ou em administração econômica, eles se depararam com duas tarefas desafiadoras: organizar e administrar a maior sociedade do mundo e reconstruir uma economia devastada por décadas de guerra. Surpreendentemente, ambas as tarefas foram realizadas nos primeiros cinco anos do governo comunista. A filiação ao partido comunista cresceu rapidamente nesta época e, numa estrutura remanescente da antiga burocracia imperial, uma estrutura hierarquizada de órgãos partidários foi estendida desde os altos escalões do PCC até chegar a mais de um milhão de comitês-filiais estabelecidos em cada aldeia, fábrica, escola e órgão do governo. O novo governo nacionalizou o sistema bancário do país e submeteu todo o dinheiro em circulação e o crédito a um controle central. O governo regulou os preços estabelecendo associações comerciais e aumentou suas receitas através da arrecadação, em espécie, de impostos agrícolas (a parte principal de suas receitas). Em meados de 1950, os comunistas haviam reconstruído e expandido os sistemas ferroviário e rodoviário do país, aumentando as produções industrial e agrícola para níveis anteriores à guerra e deixado grande parte do comércio e da indústria da China sob o controle direto do Estado.7 Enquanto isso, em cumprimento de suas promessas revolucionárias, os líderes comunistas chineses completaram a reforma agrária num prazo de dois anos após ter assumido o poder. Quadros do partido visitavam vilarejos e, em "reuniões de luta" públicas, incitavam os camponês a eliminar seus senhorios e que estes redistribuíssem suas terras e outras posses para famílias camponesas. Pouco depois, o PCC encorajou famílias rurais a formarem equipes de ajuda mútua, e depois as Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 708-P02 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 6 cooperativas de produtores agrícolas que o governo viu como o melhor meio para incrementar a produtividade agrícola. Ainda não satisfeito, em 1958 Mao tentou impulsionar a economia chinesa para novos patamares. Sob seu amplamente divulgado "Um Grande Salto Adiante", as cooperativas agrícolas foram reorganizadas em enormes comunidades onde foram atribuídas a homens e mulheres, à maneira militar, tarefas específicas. Foi dito aos camponeses que parassem de depender da família e, em vez disso, adotassem um sistema de cozinhas, refeitórios e creches comunitários. Os salários foram calculados de acordo com o princípio comunista "para cada um de acordo com suas necessidades" e a produção suplementar foi banida por ser considerada uma forma incipiente de capitalismo. Todos os cidadãos chineses foram exortados a aumentar a produção de aço do país construindo "fornos de fundo de quintal para fabricação de aço" para ajudar a ultrapassar o ocidente. Contudo, enquanto Mao acreditava que a efusão de esforços dirigida politicamente e realizada pela imensa população da China resultaria em desenvolvimento econômico e aumentos de produção milagrosos, o programa "Um Grande Salto Adiante" rapidamente se revelou como um gigantesco passo para trás. Foram estabelecidas metas inatingíveis, estatísticas de produção falsificadas foram convenientemente relatadas e funcionários do governo viviam num mundo irreal de aumentos de produção miraculosos. A produção de aço aumentou muitíssimo, porém a maior parte do aço era praticamente inútil. Pior que isso, rapidamente ficou evidente que os camponeses haviam feito seu aço derretendo qualquer metal que conseguissem achar. Por volta de 1960, a produção agrícola no interior havia desacelerado de forma alarmante e o PNB caiu aproximadamente um terço.8 As pessoas estavam exaustas e grandes áreas da China foram dominadas por uma fome devastadora. Por volta de 1960, a situação havia se tornado tão grave que nem Mao pôde ignorá-la. Calmamente e sem alarde, Mao manteve-se à margem da vida pública e pragmatistas do PCC, inclusive Deng Xiaoping, começaram a fazer o que era necessário para restaurar incentivos e produção. Nos anos seguintes, a China experimentou um período de relativa estabilidade. As produções industrial e agrícola voltaram a níveis normais e a produtividade no trabalho começou a subir.9 Mais à frente, em 1966, Mao reafirmou seu poder e novamente lançou um plano que levou a China à beira do desastre. Com medo de que Deng e outros burocratas levassem a China para muito longe do espírito de sua revolução socialista, Mao proclamou uma Revolução Cultural para "colocar a China novamente nos trilhos". Sob ordens de "Destrua os Quatro Antigos" (pensamentos, cultura, costumes e hábitos antigos), universidades e escolas fecharam suas portas e os alunos, que se tornaram os "Guardas Vermelhos" de Mao, foram enviados para percorrer todo o país para fazer a revolução, batendo e torturando qualquer um cujo posto ou pensamento político fosse contrário ao regime. Os intelectuais foram insultados e chamados de "a nojenta nona classe" e qualquer sinal de "capitalismo", como usar uma gravata, era suficiente para condenar alguém como inimigo do Partido Comunista. O próprio Deng foi expurgado como um "incursor ao capitalismo" e enviado para trabalhar numa fábrica de tratores. Em 1969, a anarquia se abateu sobre o país e facções dos Guardas Vermelhos começaram a lutar entre si. Finalmente, Mao convocou o exército para restaurar a ordem e enviou seus guardas jovens para o interior,onde muitos se tornaram uma geração "perdida", mal-educada e amargurada. Em 1973, Mao discretamente chamou Deng Xiaoping de volta para Beijing. Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 708-P02 7 As Reformas de Deng Xiaoping Após a morte de Mao em 1976, o poder passou rapidamente para a facção reformista do PCC, liderado por Deng Xiaoping. Diferentemente de Mao, Deng era um homem pragmático, conhecido menos por seu comprometimento ideológico do que por seu lema: "Não importa saber se o gato é preto ou branco, contanto que ele pegue o rato". Uma vez consolidado seu poder, ele começou a pôr suas políticas em prática, determinado a fazer a China renascer após a devastação causada pela Revolução Cultural. Fase Um: Reforma no Interior Quando Deng assumiu seu cargo, a grande classe camponesa da China ainda estava organizada em comunidades, grupos de trabalho e equipes de produção. Os preços dos produtos eram muito baixos até mesmo para cobrir custos de produção e os preços máximos eram estabelecidos conforme a quantidade de grãos que os produtores podiam armazenar para consumo. Deng mudou tudo isso. Ele permitiu que os agricultores produzissem por conta própria e sancionou lei permitindo a venda da produção excedente e outras culturas que não fossem de subsistência mas sim para a venda em mercados recentemente liberados. Os preços de aquisição pelo Estado foram aumentados e os preços para muitos produtos agrícolas foram deixados para os ditames do mercado. Começando com as áreas montanhosas pobres de Anhui e depois espalhando através do país, Deng e seus representantes dissolveram as comunidades estabelecidas por Mao e as substituíram por um complicado sistema de arrendamento que, no final, trouxe a posse efetiva da terra para o nível familiar (embora a propriedade da terra permanecesse coletiva). O Sistema de Responsabilidade Familiar permitia que os lavradores arrendassem a terra da cooperativa por um período fixo, contanto que eles entregassem para a cooperativa uma cota mínima de produtos, geralmente grãos essenciais; eles poderiam então vender qualquer excedente que produzissem, quer para o Estado pelos preços de aquisição estabelecidos pelo governo ou no mercado recentemente liberado. Eles também estavam livres para reter quaisquer lucros que pudessem auferir. Em uma década, a produção de grãos havia crescido, a grosso modo, em 30%, e a produção de algodão, cana de açúcar, tabaco e frutas havia dobrado.10 Deng também atacou a falta crônica de comida da China encorajando as famílias a adotar a política de filho único. Sempre controversa, a política foi implementada com graus variáveis de entusiasmo através das províncias da China. Geralmente, era exigido que as mulheres pedissem permissão para ter mais de um filho e a aprovação era dada somente se o primeiro filho tivesse apresentado um defeito congênito ou se a mãe tivesse casado novamente11. Dizia-se que algumas províncias foram até mais além e relatos de infanticídio, esterilização forçada e abortos no terceiro mês de gravidez foram amplamente difundidos. Como resultado, o índice de crescimento populacional da China começou a diminuir. Juntamente com estas mudanças radicais no interior, as primeiras reformas de Deng também começaram a abrir a China para o mundo exterior. Em 1979, a China criou quatro "Zonas Econômicas Especiais" (SEZs, em inglês) ao longo de sua costa ⎯ três em Guangdong, província vizinha de Hong Kong e uma na província de Fujian atravessando o estreito de Taiwan. As SEZs eram totalmente abertas aos investimentos e procuravam atrair possíveis investidores através de incentivos fiscais, provisões de divisas e uma propositada falta de regulamentação. Inicialmente, os investimentos nas SEZs decolaram de uma forma mais lenta que aquela esperada pela liderança: entre 1982 e 1988, o total de investimentos estrangeiros diretos na RPC atingiu apenas US$ 8,5 bilhões, grande parte proveniente das indústrias têxteis e de vestuário sediadas em Hong Kong com o intuito de tirar proveito da mão-de-obra barata. Desta forma, o governo, da metade até o final da década de 1980, começou a abrir suas portas mais agressivamente. Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 708-P02 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 8 Ele tomou providências no sentido de dar aos investidores estrangeiros controle mais direto sobre as fábricas, ofereceu arrendamentos de terrenos com prazos de 50 a 70 anos e introduziu um sistema dual de taxas de câmbio, permitindo que empresas estrangeiras (ao contrário das empresas nacionais) convertessem recebimentos em moeda estrangeira a uma taxa de câmbio de mercado. A China abriu quatro cidades costeiras, incluindo Shanghai e Guangzhou, para o comércio exterior em 1985; em 1988, transformou a província insular de Hainan em uma SEZ e depois abriu toda a costa de 3.000 milhas do país para o comércio. Por volta de 1992, estes estratagemas haviam valido a pena. O investimento direto estrangeiro atingiu US$ 11,2 bilhões, subindo em relação aos US$ 4,4 bilhões do ano anterior e firmas estrangeiras ⎯ desde a Nike até a Squibb, GE e Honda ⎯ haviam estabelecido operações no país. Fase Dois: Industrialização Rural e Reforma de Empresas À medida que as reformas promoviam aumentos na produção que surpreenderam até mesmo aqueles que a idealizaram, o grau de mudança cresceu mais ainda e, em meados da década de 1980, a liderança do partido começou a executar a tarefa mais complicada e politicamente delicada, qual seja, a de transformar o intrincado sistema de planejamento central e empresas estatais do país. Antes de 1978, as empresas eram, de uma forma ou de outra, quase todas estatais. No topo de cada setor estavam as empresas estatais (SOEs, em inglês), que se reportavam ao governo nacional. Abaixo destas estavam outras empresas que se reportavam a autoridades do condado, municipais ou provinciais. Empresas privadas, ou seja, pequenos negócios familiares, não eram permitidos até 1978 e, mesmo depois, eram limitadas a sete funcionários.12 As SOEs chinesas eram típicas de grandes firmas industriais numa economia com planejamento centralizado. Ineficientes, com excesso de funcionários e tecnologia antiquada, elas atuavam não só como unidades industriais mas também como agências sociais, fornecendo habitação, creche diurna, educação e assistência médica para os trabalhadores e suas famílias. As empresas maiores tinham centenas de milhares de funcionários, onde apenas uma pequena parcela estava diretamente envolvida na produção. Apesar de seu tamanho, contudo, as empresas usufruíam muito pouca autonomia, já que o Estado determinava preços, insumos e produção bem como retinha quaisquer lucros que viessem a ser auferidos. As empresas produziam meramente suas cotas de produção estabelecidas e a repassavam para compradores predeterminados a preços estabelecidos pelo governo. Lucros e prejuízos não eram significativos, a contabilidade era primitiva e a maximização do lucro não tinha importância alguma. O aspecto positivo deste sistema era que os trabalhadores chineses poderiam contar tanto com um emprego vitalício como com um amplo sistema de assistência social baseado na firma, o assim chamado "tigela de arroz de ferro". Todos os direitos neste sistema eram computados como custos de produção e deduzidos dasreceitas antes do cálculo dos lucros, que deviam ser remetidos para o Estado. Não havia um sistema de previdência social nacional, pois este não era necessário. Em 1983, contudo, o governo decidiu introduzir uma variante do sistema de responsabilidade que havia funcionado tão bem nas áreas rurais. Sob o Sistema de Responsabilidade Contratual, a empresa e seu ministério controlador negociavam contratos que especificavam a meta de desempenho da empresa, cotas de produção e obrigações financeiras para com o Estado ⎯ geralmente uma combinação de impostos e dividendos. Afora ter que atingir estas metas, as empresas eram livres para administrar seus negócios como elas achassem melhor podendo, inclusive, produzir acima da cota estabelecida, produção esta para venda a preços de mercado. Pela primeira vez, os gerentes puderam determinar salários, tomar decisões em relação a investimentos e reter lucros. Após 1988 as empresas estavam, Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 708-P02 9 teoricamente, também sujeitas à falência. Na prática, entretanto, elas permaneceram estreitamente ligadas às autoridades centrais e um tanto fora do alcance usual de uma economia de mercado. Apesar das reformas, as empresas ainda exerciam uma grande variedade de funções sociais e, freqüentemente, vendiam a preços controlados em vez de preços de mercado. Elas também podiam obter financiamento na base de laços políticos locais ⎯ os infames guanxi da China ⎯ e não através de um conceito real de capacidade de pagamento. Não obstante, elas eram claramente mais orientadas ao mercado que em qualquer outro momento da história da China. Um impulso ainda maior em direção ao mercado veio com o estabelecimento das TVEs (empresas municipais e de aldeias), pequenas fábricas lideradas, freqüentemente, por representantes comunistas locais. Enquanto estas TVEs eram explicitamente coletivas em termos de sua estrutura de propriedade, elas eram também, em grande parte, capitalistas; as aldeias levantavam dinheiro do modo que podiam (lucros acumulados, lucros agrícolas e empréstimos de bancos locais) e depois usavam estes fundos para fazer tudo, desde artesanato típico até a produção de equipamentos industriais13. Elas pagavam impostos para o Estado em vez de produzirem qualquer lote contratado e compravam seus insumos diretamente do mercado. As autoridades locais facilitaram os empréstimos; porém, a ausência dos recursos financeiros em abundância do governo central fez com que elas tendessem a ser menos tolerantes a prejuízos. Ao longo do tempo, as TVEs passaram a concorrer de maneira cada vez mais acirrada entre si e, depois, com as empresas estatais (SOES, em inglês). Elas também se tornaram extremamente bem-sucedidas, reinvestindo seus lucros para financiar seu crescimento. Ao longo da década de 1980, sua produção cresceu a uma taxa média de aproximadamente 30% ao ano e as exportações aumentaram a uma taxa de 65%14. Finalmente, a segunda fase da reforma chinesa também tentou direcionar o país no sentido de ficar mais próximo a um sistema de fixação de preços baseado no mercado. Antes desta mudança, os preços na China haviam permanecido inalterados por vários anos e guardavam apenas uma vaga semelhança com os preços internacionais ou com o princípio da oferta e demanda. Embora alguns preços fossem fixados pelo mercado livre, a maior parte deles ainda era fixado ou "orientado" pelo Estado, significando que eles flutuavam dentro de uma faixa predeterminada. Após 1984, o Estado adotou uma versão do sistema dual de preços que havia funcionado tão bem na agricultura e começou a aplicá-la a um número cada vez maior de produtos industriais. Ainda era exigido que as empresas vendessem suas cotas de produção ao Estado a preços por ele fixados, porém agora eles também poderiam vender qualquer excesso de produção no mercado livre. Esta "via dupla" forçou as SOEs para o mercado, sujeitando suas decisões de investimento marginais à disciplina das forças do mercado. Porém, os preços duais também deixaram todo o sistema vulnerável à corrupção, já que o caminho mais fácil para os lucros era usar insumos a preços fixos para produzir bens vendidos a preços de mercado. Rebelião e Retração Em 1988, a economia da China estava em plena atividade. Agindo com grande rapidez para tirar proveito dos atrativos de mercado inerentes às reformas, os capitalistas nascentes chineses impulsionaram tanto a produção agrícola quanto a industrial a novos patamares. A agricultura crescia de forma firme e consistente a uma taxa de 3,2% ao ano, ao passo que a produção industrial aumentava a uma espantosa taxa de 20,7% ao ano. Entretanto, à medida que a economia crescia vertiginosamente, o mesmo acontecia com a inflação. Durante a primeira metade de 1988, o índice de preços ao consumidor elevou-se para 19,2%, ao passo Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 708-P02 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 10 que os preços em algumas cidades haviam aumentado em até 30%. Livre das restrições do planejamento central, as SOEs estavam numa corrida alucinada para colocar sua produção excedente no mercado livre ao passo que as TVEs estavam aumentando suas receitas locais, avolumando fundos extra-orçamentários que pertenciam exclusivamente a governos locais. Para financiar sua expansão, tanto as SOEs quanto as TVEs estavam solicitando grandes volumes de empréstimo das instituições financeiras locais, muitas das quais eram sucursais dos quatro bancos estatais e operadas por funcionários públicos locais, ávidos por estender o crédito a empresas de suas regiões. Enquanto isso, para evitar o possível risco de desemprego, o orçamento central continuava a dar apoio às muitas SOEs geradoras de prejuízos. Conseqüentemente, as SOEs poderiam usar fundos do Estado para sustentar sua expansão sem praticamente correr risco algum. E neste processo, as pressões inflacionárias se acumularam e a autoridade financeira fugia cada vez mais do poder central, indo para as províncias. Em 1989, com a economia à beira de uma espiral inflacionária, as autoridades do governo central, de repente, entraram em ação, lançando um amplo corte nos gastos que, basicamente, congelava o crédito fornecido pelos bancos estatais. Órgãos do governo apertaram os controles administrativos sobre as importações e o crédito, cortaram os investimentos estatais, elevaram as taxas de juros e desvalorizaram a moeda em 21%. De forma quase que imediata a economia resfriou, com a inflação caindo para 2% em 199015. Durante o percurso, entretanto, o programa de "retificação" desencadeou uma violenta seqüência de eventos políticos. Ao adotar medidas severas em relação à economia, o governo acabou se indispondo com alguns de seus mais vitais aliados: os produtores agrícolas recebiam, por seus produtos, promessas por escrito de pagamento de dívidas (IOUs, em inglês) em vez de dinheiro em espécie; empresas neófitas perderam seu acesso ao crédito e os trabalhadores urbanos tiveram uma queda em seu padrão de vida. Esta insatisfação eclodiu durante o segundo trimestre de 1989 na histórica praça Tiananmen, em Beinjing. Logo após a morte do Secretário-Geral Hu Yaobang (um homem aberto a mudanças), os estudantes se mobilizaram para expressarem seu apoio à ala pró- reformas da liderança do partido. Por cerca de um mês,centenas de milhares de estudantes fizeram manifestações públicas pacíficas nesta praça enquanto os líderes do país discutiam internamente sobre qual seria a resposta mais apropriada a tais manifestações. No final, a velha guarda triunfou. Nas primeiras horas do dia 4 de junho, um comboio de 50 tanques assaltou as ruas abarrotadas dirigindo-se para a praça Tiananmen e 10.000 soldados avançaram, partindo da Cidade Proibida, atirando de forma arbitrária contra os protestantes que estivessem pelo caminho. No final do dia, centenas, quiçá mais de mil pessoas, foram mortas (o número exato permanece desconhecido até hoje). Inequivocadamente, o Partido Comunista Chinês havia sinalizado que não tinha a menor intenção de perder as rédeas da situação. Reforma na Década de 1990 A década de 1990 foi um divisor de águas que consolidou as ações reformistas da China e estabeleceu firmemente a trajetória no sentido de uma economia de mercado capitalista, mesmo ainda tendo características socialistas. Ela começou em bases incertas logo após os incidentes de Tiananmen, quando a China entrou num breve período de isolamento, com a comunidade internacional condenando o PCC por ter disparado contra seus cidadãos. Embora as reformas jamais tivessem parado, houve um momento em que o rumo das coisas poderia ter mudado e alguns líderes Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 708-P02 11 questionaram a sensatez de ir adiante. Porém, a reforma retomou aos trilhos após as visitas de Deng Xiaoping ao sul, em 1992, quando ele deu seu aval às recém-estabelecidas Bolsas de Valores em Shanghai e Shenzhen. Ao longo da década, o regime desempenhou um papel institucional decisivo para recuperar o terreno perdido ⎯ modernizando ou abolindo agências reguladoras e políticas herdadas da era Maoísta e criando novas instituições para cada vez mais se tornar uma economia voltada para o mercado. O governo central reforçou seus cofres e reassumiu o controle dos ballooning funds (fundos onde a última parcela era muito maior que as demais) que as autoridades locais haviam conseguido reter na década de 1980. Eles usaram instrumentos monetários para oprimir as associações de crédito semi-oficiais e informais que haviam surgido durantes os primeiros estágios da reforma e começaram a atacar o problema da privatização, iniciando pelas TVEs e avançando ⎯ de forma lenta e mais cautelosa ⎯ para as SOEs. Em 2001, Jiang Zemin, sucessor de Deng, até começou a diminuir a lacuna ideológica que ainda afrontava seu país: para consternação de seus colegas mais conservadores, ele argumentava que os novos capitalistas chineses deveriam ter permissão para se afiliar ao PCC. Uma peça de fundamental importância na estratégia do governo era estabelecer um novo sistema de tributação nacional, um que permitisse ao governo central aumentar suas receitas bem como aperfeiçoar seu controle em relação às autoridades provinciais. Em 1994, ele anunciou um "sistema tributário dividido" (fenshui zhi), que reclassificava todas as categorias de impostos em: centrais, locais ou compartilhados (onde as receitas eram divididas entre o governo central e as localidades). Esta classificação eliminou de forma eficaz a categoria de receitas extra-orçamentárias e aumentou rapidamente os impostos do governo central. Para garantir que os impostos fossem arrecadados de forma apropriada, foi estabelecido um sistema de arrecadação de impostos nacional juntamente com o órgão arrecadador existente, cuja atribuição agora seria a de arrecadar impostos locais. Por volta da mesma época, o governo também começou a ajustar seu sistema dual de taxas de câmbio, um arranjo incômodo que, desde 1986, havia permitido às firmas estrangeiras converter seus recibos de moeda estrangeira a uma taxa "de mercado", ao passo que ainda exigia das empresas nacionais a conversão de seus lucros no estrangeiro à taxa (quase sempre mais alta) estabelecida pelo seu Banco Central. Em 1994, com a diferença entre as taxas "oficial" e de "mercado" aumentando cada vez mais, o governo uniu as duas numa única taxa de câmbio, prevalecendo a taxa de mercado. De fato, a moeda foi desvalorizada, passando de 5,75 iuanes por dólar (a antiga taxa "oficial") para 8,7 (a taxa de "mercado"). Vários meses depois, a taxa de câmbio foi estabilizada oficialmente em 8,28. Durante este período, a China acelerou o processo de privatização também. Ela leiloou várias TVEs ⎯ normalmente para ex-gerentes de fábrica ou governos locais que permaneciam como acionistas ⎯ e, em seguida, sob a política de "agarre primeiro as grandes, deixe escapar as pequenas", passou a ir atrás de SOEs de pequeno e médio porte. Na maioria dos casos, o produto destas vendas ia para as localidades que controlavam anteriormente a empresa. Em contraste gritante com a Rússia e partes da Europa Oriental, a reestruturação da China na década de 1990 foi gradual, tanto em termos de desemprego quanto em mudanças na forma de propriedade. Em vez de seguir uma abordagem radical, liquidando ativos e gerando acionistas de forma imediata por meio de privatizações onde o gestor adquire a empresa do Estado, a China procurou sistemas de participação acionária mais limitados. Apenas uma pequena porcentagem de firmas foi transformada em entidades totalmente privadas na década de 1990 e o Estado continuou a ser um acionista majoritário nas firmas maiores e mais importantes. Em alguns casos, firmas sólidas foram direcionadas para grupos empresariais com entidades em dificuldades. E, em outros, Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 708-P02 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 12 divisões de antigas SOEs foram desmembradas, tornando-se entidades auto-suficientes e criando novas firmas "privadas" para competir no sempre crescente mercado chinês. A Próxima Onda Em 2003, a liderança política havia passado, sem sofrer descontinuidade, de Jiang Zemin a Hu Jintao, deixando o Partido Comunista com controle praticamente incontestável sobre as questões da China. Internacionalmente, a China estava exercendo um papel cada vez mais importante. Ela se associou à OMC em 2001, sinalizando sua entrada para a categoria dos protagonistas do comércio internacional e, no ano de 2004, ficou atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha, ou seja, o terceiro maior exportador do mundo16. Ela também estava emergindo como uma importante força diplomática no Pacífico e além dele, tendo intermediado um acordo entre seis partes em setembro de 2005 que viu a Coréia do Norte concordar em encerrar suas atividades nucleares17. Contudo, tanto em termos econômicos como políticos, a China ainda tinha muitas características de um país em desenvolvimento. O setor bancário permaneceu inextricavelmente ligado ao Estado, as SOEs continuavam a produzir uma parte significativa da produção industrial total e os mercados de capitais eram excessivamente escassos. O sistema bancário estatal permanecia, em grande parte, sem reformas e continuava a extenuar-se sob uma torrente de dívidas incobráveis. Em 2004, os quatro maiores bancos estatais detinham, conjuntamente, mais de 1,7 trilhões RMB em empréstimos vencidos (não pagos), uma quantia igual a aproximadamente 13% do PIB daquele ano18. A não ser que fosse dado baixa nestes empréstimos ou eles fossem reduzidos de alguma maneira, a China aindaestaria sem um setor bancário vital e operante, incapaz de prosseguir com a próxima fase da reforma: a liberalização financeira. Alguns dos obstáculos a esta reforma, contudo, revelaram brechas políticas mais profundas. Muitos dos empréstimos vencidos, por exemplo, provinham do crédito em excesso ofertado pelos bancos às SOEs, que juntas ainda empregavam mais de 75 milhões de cidadãos chineses. Se fosse exigido o pagamento imediato destes empréstimos vencidos, muitas SOEs deixariam de existir e milhões de chineses ficariam, subitamente, desempregados. Tal resultado era simplesmente inaceitável para os líderes políticos chineses, comprometidos que estavam com a manutenção da estabilidade econômica e social. Da mesma forma, em 2005 a China estava se deparando com a crescente pressão dos Estados Unidos com relação à sua taxa de câmbio, fixada desde 1994 em 8,28 iuanes para um dólar.19 De acordo com os representantes do governo dos EUA, o iuane estava decididamente subvalorizado, contribuindo para os contínuos superávits no balanço de pagamentos da China e sua estável formação de reservas cambiais. Contudo, os funcionários do governo chinês tinham pouco interesse na valorização, já que um iuane mais alto significaria momentos econômicos mais difíceis para os exportadores da China e maior pressão no sentido de diminuir as oportunidades de emprego. O que tornou esta avaliação particularmente crítica foi a conscientização crescente de que o crescimento na China não estava sendo igualmente distribuído. De fato, desde 2005, o coeficiente de Gini da China havia atingido um nível sem precedentes para o país e estava em forte contraste com a ideologia, ainda socialista, da liderança. Por aproximadamente 30 anos, o crescimento explosivo da China havia sido distribuído relativamente de forma ampla: embora os ricos tivessem se tornado mais ricos, os pobres também melhoraram de vida. Mas em 2005, pela primeira vez, o Banco Mundial Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 708-P02 13 relatou que algumas das pessoas mais pobres da China haviam começado a ver seus rendimentos declinarem em termos absolutos, assim com em termos relativos20. Para a liderança, estas notícias eram preocupantes. Desde os tempos de Mao, apesar de tudo, a ideologia da China havia permanecido profundamente comprometida com a igualdade e sua estratégia havia dependido de ganhar o apoio da classe camponesa ⎯ exatamente as mesmas pessoas que agora estavam, indiscutivelmente, perdendo por causa das reformas. Se a classe camponesa se afastasse da causa da reforma, a legitimidade dos líderes da China sofreria. Além do mais, se este descontentamento enveredasse para a agitação, poderia, muito provavelmente, ameaçar a commodity mais estimada da China: a estabilidade. Portanto, à medida que o inverno de 2005 se aproximava, os líderes da China se viram enfrentando uma série de questões delicadas. De modo a gerar índices de crescimento contínuos de 8% ao ano, eles acreditavam que tinham que prosseguir com a próxima fase da reforma, liberalizando o setor financeiro e permitindo que surgisse um verdadeiro mercado de capitais. Contudo, ao mesmo tempo, eles tinham que assegurar que a liberalização do setor financeiro não permitisse o desencadeamento de uma série de efeitos indesejados. Eles não queriam, por exemplo, a destruição em larga escala das SOEs nem um grande aumento no índice de desemprego da China. Eles não queriam que as desigualdades aumentassem mais ainda do que já haviam aumentado; e eles, acompanhados por um coro crescente de críticas vindas de fora, estavam ficando cada vez mais preocupados com o preço que o crescimento estava impondo ao meio ambiente21. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, por exemplo, 80% dos rios da China estavam tão poluídos que eles não continham mais peixes e as mulheres em certas áreas industriais apresentaram os maiores índices de câncer de pulmão jamais registrados. Como resultado da industrialização, o desflorestamento havia atingido 0,7% ao ano na década de 1980 e, desde 1949, o país havia perdido um quinto de sua área agrícola22. O PCC também estava lutando para banir a corrupção, que de acordo com a opinião geral era generalizada e não poupava nem mesmo as próprias fileiras do partido. Em 2005 o governo anunciou uma campanha de educação moral que prometia "preservar a natureza progressista" dos membros do PCC e planejava fazer com que cerca de 44 milhões de seus quadros passassem por este programa ainda naquele ano23. Finalmente, embora a China em 2005 fosse uma sociedade consideravelmente mais aberta do que havia sido 20 ou até 10 anos antes, ainda não era, de modo algum, uma democracia24. Com uma força ativa de 2,3 milhões, o Exército de Liberação Popular (PLA, em inglês) era a maior força militar do mundo e desde a década de 1990 vinha estabelecendo avidamente sua capacidade de ganhar guerras de curta duração e de grande intensidade ao longo de suas fronteiras terrestres e marítimas. Dentro da China, ele também exerceu um papel desmesuradamente grande, administrando não só empresas industriais militares mas também civis, inclusive minas e indústrias farmacêuticas25. De modo mais crítico, grupos seletos junto à sociedade chinesa, como o Falungong, ainda eram freqüentemente, e às vezes violentamente, reprimidos. Não havia eleições nacionais no país e políticas ao estilo ocidental e liberdades civis eram praticamente inexistentes. Os líderes da China tinham a intenção de manter sua marca exclusiva de controle político e sua estratégia extremamente bem-sucedida de reforma econômica gradual. Mas será que esta combinação funcionaria tão bem no futuro como havia funcionado no passado? Ou será que uma economia mais aberta exigiria um sistema político mais aberto também? Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 708-P02 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 14 Reforma no Sistema Bancário Desde o lançamento das reformas na China, seus bancos vinham sendo uma espécie de carta fora do baralho. Sem qualquer uma das medidas liberalizadoras aprovadas em algum ponto do sistema, os bancos conservavam quase todos os vestígios do planejamento central, com um banco — o Banco Popular da China (PBOC, em inglês) — executando toda a gama de funções monetárias e financeiras. Não havia nenhum banco de investimento independente na China, nenhuma agência de classificação creditícia e apenas uma frágil rede de cooperativas de crédito autônomas. Em vez disso, o PBOC presidia uma imensa rede de filiais regionais e agências bancárias locais. Os quatro principais bancos estatais dentro do sistema — o Banco da China, o Banco para Construção da China, o Banco Industrial e Comercial da China e o Banco Agrícola da China — operavam de forma independente, porém cada um deles tinha como foco um determinado segmento de empréstimos e era, em última instância, subordinado ao PBOC. Cada município tinha sua própria cooperativa de crédito e poupança rural, que oferecia crédito a agricultores e TVEs locais. Durante os primeiros anos das reformas implantadas na China, este sistema funcionou relativamente bem. Os bancos forneciam às empresas recém-criadas o capital necessário, garantiam o fluxo de caixa para as SOEs que atravessavam dificuldades e faziam vista grossa quando os empréstimos venciam e nãoeram pagos. Enquanto isso, o PBOC trabalhava com o Ministro da Fazenda para administrar a macroeconomia do país com considerável cautela. O acesso à moeda estrangeira foi drasticamente limitado e o iuane ficou totalmente atrelado ao dólar norte-americano. No final, entretanto, começaram a surgir "rachaduras" no sistema. A mais óbvia delas era o crescimento contínuo na quantidade de empréstimos vencidos (não pagos), resultado de mais de uma década de crédito fácil para as SOEs. Associado a isso, porém, e em certos aspectos até mais problemático para o regime era o nível para o qual os bancos provinciais, anteriormente subordinados ao PBOC, haviam expandido suas próprias esferas de poder, empregando contatos locais para ofertar bilhões de iuanes naquilo que havia rapidamente se tornado empréstimos incobráveis. O que tornou esta situação particularmente preocupante foi a falta de qualquer alternativa para tal: sem um setor financeiro liberalizado e com problemas profundamente arraigados nos bancos locais, a única maneira para a China financiar seu crescimento era através do setor bancário estatal. E, assim, no início da década de 1990, o Estado começou lentamente a reformar os bancos. As primeiras etapas, sem grandes surpresas, foram graduais. Amparado nas orientações do Banco Mundial e de grandes firmas de investimento globais, o PBOC começou a fazer experimentos com instrumentos monetários como operações no mercado aberto e controles nas taxas de juros. Eles eliminaram todas as cotas de crédito bancário e reestruturaram seus próprios sistemas de gestão internos. Em seguida eles se voltaram para os bancos provinciais, substituindo-os — pelo menos formalmente — por uma nova estrutura de nove "escritórios regionais maiores". Estes escritórios foram dotados de pessoal: banqueiros enviados de Beijing, bem como gerentes que haviam sido treinados na nova maneira de pensar do PBOC e que não tinham vínculos pessoais com as províncias. O próprio PBOC saiu do mercado de empréstimos diretos e a responsabilidade pela supervisão bancária passou para uma nova agência, a Comissão Reguladora de Bancos da China (CBRC, em inglês). Estas reformas foram parcialmente no sentido de centralizar novamente o poder no PBOC e de deixá-lo mais próximo do mercado. Porém, as reformas mal arranharam a pilha que se acumulava de Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 708-P02 15 empréstimos vencidos (NPLs, em inglês), que até 1999 ficaram entre 1,65 e 1,8 trilhões RMB (Rennimbi iuanes)26. Neste nível eles representavam uma ameaça considerável, tanto em termos da estabilidade interna do setor bancário chinês quanto de sua credibilidade externa com outras entidades financeiras. E assim, em 1999, o governo tomou medidas extraordinárias. Primeiramente, ele tomou emprestado 1,4 trilhões RMB do PBOC e dos bancos comerciais estatais, usando capital para adquirir uma quantia equivalente de NPLs dos principais bancos estatais. Em seguida, em 2004, o PBOC retirou US$ 60 bilhões das reservas cambiais do país e os injetou, através de uma nova instituição chamada China SAFE (Huijin), diretamente nestes bancos. Esta última tranche foi usada para dar baixa numa quantia correspondente dos NPLs de maior risco e para transformar os bancos — idealmente — em empresas cotadas em bolsa, prontas para receber investimentos estrangeiros. Ao mesmo tempo, o governo estabeleceu quatro novas empresas de gestão de ativos (AMCs, em inglês) — sociedades por ações nas quais o governo detinha 100% das ações. Estas companhias receberam 1,4 trilhões RMB em NPLs que o governo havia recentemente adquirido e foram incumbidas com a intimidadora tarefa de reestruturar ou transferir o débito que remanescia, criando no processo o potencial para se converter em um mercado de capitais moderno. Em 2005, funcionários do governo chinês anunciaram que as AMCs estavam caminhando bem. Elas haviam vendido um valor estimado de 60%–70% dos NPLs que elas haviam recebido em 1999 e haviam reestruturado grande parte do restante27. Em muitos casos, as AMCs haviam assumido o controle dos ativos que estavam por trás dos NPLs, seja vendendo-os para fazer caixa, seja convertendo-os em empreendimentos mais lucrativos28. Como conseqüência destas medidas, associadas a análises normativas cada vez mais minuciosas e revisões mais rígidas de novos empréstimos, os lucros operacionais nos principais bancos haviam começado a subir: em 2004, tanto o Banco da China como o Banco para Construção da China haviam aumentado seus lucros em 15% e visto suas proporções de NPLs declinarem, respectivamente, para 5% e 3,9%29. A maioria destes NPLs foi resultado de novos empréstimos, oferecidos no período entre 1999 e 2004. Mesmo assim, o mercado que a China estava construindo ainda não se assemelhava a seus equivalentes ocidentais. Embora uma das metas da reforma bancária fosse vender ações dos bancos saneados para investidores estratégicos e, particularmente, para estrangeiros, os avanços neste sentido foram mínimos. As AMCs ainda eram de propriedade total do Estado e a participação estrangeira no setor bancário, através do crescimento, era mínima30. As cooperativas rurais permaneciam afundadas em dívidas e muitas das SOEs não mostravam nenhum sinal de progresso lento, muito menos de rápida transição, para o mercado. Entretanto, funcionários do governo chinês, insistiam que esta reforma lenta, porém estável, era o único caminho a seguir. “O segredo todo”, afirmou um destes funcionários ao CBRC, “está em atingir um equilíbrio adequado”31. Valorizando o Iuane Um segundo problema da liberalização financeira dizia respeito ao iuane, ainda atrelado firmemente ao dólar americano. Desde 2003, o governo dos EUA reclamava veementemente em relação a este atrelamento, argumentando que a moeda da China estava subvalorizada em cerca de 30% a 35% e que esta subvalorização estava contribuindo para o crescente superávit no balanço de pagamentos da China em relação aos Estados Unidos32. Funcionários do governo norte-americano também afirmavam que a entrada da China, em 2001, na Organização Mundial do Comércio, significava que o país não poderia usar mais sua moeda como instrumento de política comercial: em Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 708-P02 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 16 vez disso, como uma das principais nações dedicadas ao comércio internacional, ela precisava eliminar este atrelamento ao longo do tempo e permitir que o iuane flutuasse. A China, entretanto, não demonstrou o mínimo interesse em adotar esta prática. Ao contrário, os funcionários do governo chinês sustentavam que um iuane fixo era crucial para o crescimento e a estabilidade econômica da China e que ele oferecia às firmas nativas uma de suas poucas vantagens internacionais. Ou como explicara o Premier Wen Jiabao, a China migraria para um regime cambial flutuante baseado nos “princípios da iniciativa independente, controlabilidade e avanço gradual para determinar, de forma independente, a modalidade, o conteúdo e o momento oportuno para execução da reforma de acordo com as necessidades da China em termos de reformas e desenvolvimento”33. Funcionários do governo também observaram que os Estados Unidos não se encontravam realmente numa posição confortável para fazer tais exigências. A partir de 2004,a China tinha US$ 174,4 bilhões em Obrigações do Tesouro americano e um total em reservas cambiais de US$ 609,9 bilhões34. Conseqüentemente, uma disputa em relação a moedas claramente não era conveniente agora para os Estados Unidos. Não obstante, no terceiro trimestre de 2005 os chineses fizeram uma pequena concessão. Eles permitiram que o iuane flutuasse por um breve período e então o atrelaram novamente ao dólar num patamar de 8,11 iuanes para cada dólar, um pequeno, porém perceptível, aumento de 2,1%.35 Funcionários do governo chinês descreveram esta medida como um experimento bem-sucedido, um passo, mais uma vez, em seu lento, porém estável, avanço no sentido da liberalização financeira. Porém, a administração Bush era mais circunspecta. “Nossos pontos de vista em relação a este assunto já são de pleno conhecimento de todos”, disse o Secretário do Tesouro, John Snow, durante sua visita a Beijing em outubro de 2005. “A China, bem como a economia global, se beneficiarão de uma flexibilidade monetária maior”36. Lidando com a Desigualdade Se os líderes chineses estavam relativamente indiferentes em relação à política cambial de seu país, estavam extremamente preocupados em relação à crescente questão da desigualdade, em 2005, e à extensão com que os ganhos do desenvolvimento não eram mais distribuídos de forma uniforme. Na década de 1970, quando se iniciou a reforma, o coeficiente de Gini da China se encontrava, geralmente, na faixa de 0,21–0,2437. Neste período, a China era um país muito pobre (o consumo per capita era, em 1970, apenas US$ 70), mas também um país relativamente sem diferenças. Parte desta igualdade era natural — resultado, em grande parte, da agricultura em pequena escala realizada sob condições austeras. Mas isto era reflexo, em grande parte, da imposição da ideologia dominante do Maoísmo, uma ideologia que pregava a igualdade acima de tudo e de um regime que praticava — muitas vezes de forma severa — aquilo que pregava. Entretanto, por volta de 2005, três décadas de crescimento muito intenso haviam erodido a igualdade que uma vez prevalecera. O coeficiente de Gini do país oscilava entre 0,4 e 0,5 e pequenos segmentos da pobreza rural estavam, pela primeira vez em 30 anos, passando por um declínio real em sua renda38. Em outras circunstâncias, estas disparidades não teriam um aspecto extraordinário nem preocupante. De fato, diferenças de renda cada vez maiores eram uma conseqüência conhecida que Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 708-P02 17 vinha com o crescimento econômico e haviam surgido de forma semelhante em países como Coréia e Taiwan durante o período em que passaram por suas próprias fases de desenvolvimento. Na China, entretanto, a persistência do comunismo tornou particularmente difícil a justificativa de tais diferenças. A China, afinal de contas, ainda era dirigida pelo Partido Comunista e ainda estava comprometida — pelo menos teoricamente — com a criação de um estado socialista que, nas palavras do Presidente Hu Jintao, “integra[va] os princípios fundamentais do Marxismo às práticas concretas de nosso país e aos tempos de hoje”39. Enquanto isso, a estrutura política do comunismo na China também dificultou a correção destas diferenças. Isto porque embora o poder ainda emanasse irrestrito do governo central, o verdadeiro conteúdo deste poder muitas vezes estava gravemente comprometido quando chegava à população pobre rural. Durante as celebrações do Ano Novo de 2004, tanto o Presidente Hu como o Premier Wen Jiabao fizeram questão de serem mostrados comendo bolinhos de massa junto com os camponeses. Em seguida, eles anunciaram a abolição de impostos agrícolas bem como de todas as sobretaxas para os pequenos agricultores. Teoricamente, isto deveria servir para redistribuir a renda, se afastando das regiões mais ricas e industrializadas da China e indo em direção às regiões mais pobres do interior. Na prática, porém, o efeito teve intensidade consideravelmente menor. As comunidades rurais perderam sua principal fonte de renda e, necessitadas de dinheiro, fizeram cortes nas despesas com serviços tradicionalmente fornecidos a seus participantes. Tentativas para corrigir estes desequilíbrios através de transferências de renda muitas vezes se mostraram ineficazes também, já que os funcionários do governo local poderiam facilmente redirecionar estes pagamentos para fins próprios40. Em 2005, portanto, as autoridades do governo central em Beijing estavam determinadas em enfrentar o problema da desigualdade com instrumentos mais potentes. Elas pretendiam oferecer um subsídio que garantisse um padrão de vida mínimo para cidadãos de baixa renda vivendo em cidades e criar seguro-desemprego para certas categorias de trabalhadores. Elas pretendiam criar programas de seguro-saúde e de pensão bem como revitalizar o antiquado sistema previdenciário do país41. A eficácia destas medidas, entretanto, ainda estava por ser comprovada. O Partido Comunista não estava disposto a desacelerar o crescimento para corrigir a desigualdade como também não estava disposto a deixar que o equilíbrio fosse alcançado naturalmente através das forças de mercado. Ele dependia de funcionários do governo local para implementar suas políticas, mas estavam receosos de ceder demasiado poder a estes funcionários, com medo que eles começassem a minar progressivamente a cuidadosa estratégia de reforma de Beijing que emanava do poder central para só depois chegar aos níveis hierárquicos mais baixos. Os responsáveis pela formulação de políticas da China também não estavam dispostos a eliminar o infame sistema hukou chinês, que ditava onde os trabalhadores poderiam residir legalmente. A mobilidade ocupacional não era afetada de forma grave, porém, muitos migrantes ilegais, em conseqüência de sua migração, eram inelegíveis para a assistência social. O resultado final destas tensões era previsível: revoltas esporádicas, disseminadas por toda a China no início do século XXI. Somente em 2004, foram relatados 74.000 incidentes42. Protestos referentes à ocupação ilegal de terras foram particularmente graves em 2005, inclusive manifestações violentas na província de Hebei (na China central) e em Guangdong (nas proximidades de Hong Kong)43. Cada um destes incidentes foi, por si só, relativamente sem importância. Juntos, entretanto, sugeriam um nível crescente de insatisfação popular na China e uma ameaça — muito embora ainda distante — de instabilidade política. Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 708-P02 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 18 Os líderes do país estavam cientes desta ameaça e totalmente comprometidos para evitá-la através de quaisquer meios. Mas estes meios, novamente, não estavam totalmente claros. Se a China quisesse realmente atacar o problema da desigualdade, teria que se engajar num programa de distribuição gigantesco, construindo uma infra-estrutura administrativa ao longo do caminho e, quase que certamente, desacelerando o ritmo de crescimento no processo. Se ela, ao contrário, quisesse estimular o crescimento contínuo e gerar os milhões de novos empregos que o país necessitava a cada ano, teria que continuar a seguir em direção à economia de mercado e aceitar as desigualdades que provavelmente este movimento iria perpetuar. No passado, a Chinahavia equilibrado estas pressões através de uma estratégia excepcionalmente cuidadosa de reforma controlada, conduzida e monitorada pela autoridade incontestada do Partido Comunista Chinês. Poderia uma estratégia destas sobreviver às fases finais da reforma de mercado? Ou, no final das contas, a China precisaria de uma democracia para fazer com que seu mercado funcionasse? Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 708-P02 19 Quadro 1 Mapa da China Fonte: Universidade do Texas, Biblioteca Perry-Castañeda. Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 708-P02 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 20 Quadro 2 Posição ocupada pela China entre os Países em Desenvolvimento Investimento em termos de % do PIB Comércio Exterior em termos de % do PIBa Dívida Externa em termos de % do PIB 1985 1995 2005b 1985 1995 2005b 1985 1995 2005b Argentina 17 18 21 9 10 23 57 38 78 Brasil 19 21 20 10 9 14 46 23 28 Chile 17 25 23 27 28 37 124 31 41 China 30 35 44 11 20 39 6 17 13 Colômbia 18 23 20 13 18 22 41 27 27 Egito 28 16 16 23 26 29 151 53 37 Índia 21 24 25 7 12 18 18 27 16 Indonésia 20 26 21 20 25 32 38 56 52 Korea 29 37 31 32 29 42 57 18 19 Malásia 30 44 21 52 96 115 65 39 40 México NA 16 21 29 32 50 58 19 Nigéria 10 16 24 14 43 50 23 142 39 Paquistão 19b 19 b 15 14 15 18 36 41 36 Filipinas 18 22 16 23 40 48 87 53 69 Taiwan 19 25 22 47 47 60 13 10 23 Tailândia 27 41 31 25 45 72 45 60 29 Turquia NA 24 19 NA 22 30 NA 44 46 Venezuela 18 17 20 21 24 30 59 46 30 Fonte: Compilado a partir de Dados de Países da Economist Intelligence Unit, http://www.eiu.com, janeiro de 2006. a Média das exportações e importações. bEstimado. Quadro 3 Principais Indicadores Macroeconômicos, 1980–2004 1980 1985 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004 Taxa de inflação (%) NA NA 3,1 17,1 0,3 0,7 -0,8 1,2 3,9 Taxa de juros sobre empréstimos (%) 5,0 7,9 9,4 12,1 5,8 5,8 5,3 5,3 5,6 Taxa de juros sobre depósitos (%) 5,4 7,2 8,6 11,0 2,3 2,3 2,0 2,0 2,3 Oferta monetária (M1, bilhões de RMB [Rennimbi iuanes]) 114,9 301,7 701,0 2.308,3 5,454.1 6.168,9 7.266,5 8.644,9 9.930,6 Índice de poupança nacional (%) 32,4 35,9 39,0 40,8 37,6 37,8 39,1 41,9 44,5 Índice de desemprego (%) 4,9 1,8 2,5 2,9 3,1 3,6 4,0 4,3 4,2 Fonte: Dados de Países da Economist Intelligence Unit, http://www.eiu.com, acessado em fevereiro de 2006; Indicadores de Desenvolvimento Mundial do Banco Mundial; Asian Development Bank, Key Indicators 2005. Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 708-P02 21 Quadro 4A Contas da Renda Nacional da China: Produto Interno Bruto, 1980–2004 (em bilhões de RMB, preços constantes [1990]) 1980 1984 1988 1992 1996 2000 2001 2002 2003 2004 Consumo do Governo 93,6 143,6 199,6 305,2 395,3 583,5 645,0 690,2 728,4 773,6 Consumo Privadoa 412,9 605,4 861,2 1.220,6 1.843,3 2.499,0 2.569,2 2.665,6 2.654,7 2.899,2 Investimento interno bruto 281,7 391,9 666,6 787,2 1.416,9 1.764,3 2.009,8 2.277,2 2.735,6 3.107,7 Exportações 106,3 158,7 233,7 408,9 614,6 1.216,6 1.333,7 1.726,0 2.188,2 2.748,2 Importações 131,3 180,5 244,6 408,9 690,0 1.206,6 1.336,6 1.704,5 2.126,6 2.761,3 PIB 763,2 1.119,1 1.716,5 2.313,0 3.580,1 4.856,8 5.221,1 5.654,4 6.180,3 6.767,4 PIB (em bilhões de US$ 2006) 188,2 256,1 307,2 418,2 816,5 1.080,7 1.175,7 1.270,7 1.416,6 1.649,3 Fonte: Banco de dados de Indicadores de Desenvolvimento Mundial do Banco Mundial, janeiro de 2006; Dados de Países da Economist Intelligence Unit, http://www.eiu.com, janeiro de 2006. a No ano 2000, o Banco Mundial modificou seu método para informar o consumo privado para justificar discrepâncias estatísticas no uso de recursos relativos ao fornecimento de recursos. Os números referentes a consumo privado para o período 1980–1996 e para o ano de 2004 são estimados para manter a consistência. Quadro 4B Contas da Renda Nacional da China: Produto Interno Bruto, 1980–2004 (em bilhões de RMB, preços correntes) 1980 1984 1988 1992 1996 2000 2001 2002 2003 2004 Consumo do Governo 65,9 102,0 172,7 349,2 785,2 1.170,5 1.302,9 1.391,7 1.480,8 1.644,5 Consumo Privado 231,7 367,5 763,3 1.246,0 3.215,2 4.289,6 4.589,8 4.888,2 5.268,6 5.899,5 Investimento doméstico bruto 131,8 212,6 462,4 831,7 2.333,6 3.262,4 3.681,3 4.191,8 5.130,4 6.235,1 Exportações 27,1 58,1 176,7 467,6 1.257,6 2.063,4 2.202,4 2.694,8 3.628,8 4.910,3 Importações 29,9 62,1 205,5 444,3 1.155,7 1.863,9 2.015,9 2.443,0 3.419,6 4.643,6 PIB 426,6 678,1 1.369,6 2.450,2 6.435,9 8.922,0 9.760,5 10.723,5 12.089,0 14.045,8 Fonte: China Statistical Yearbook, 2005; China External Economic Statistical Yearbook, 2004. Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 708-P02 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 22 Quadro 5 Riqueza, Tamanho e Crescimento Comparativos de Mercados Regionais Selecionados da China, 2004 Renda per Capita Familiar Anual (US$) Crescimento Anual Médio do PNB (2000–04) População (milhões) Cidade de Shanghai 2.234,50 11,5% 13,5 Cidade de Beijing 2.067,21 12,8 11,6 Província de Zhejiang 1.918,07 14,4 45,7 Província de Guangdong 1.805,96 11,9 77,6 Cidade de Tianjin 1.483,06 13,5 9,4 Província de Liaoning 1.051,50 9,1 41,1 Província de Guizhou 908,06 11,1 39,0 Fonte: China Statistical Yearbook, 2005. Quadro 6 Emprego por Setor, 1978–2004 (em termos de % do total) 1978 1980 1985 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004 Total de empregos (milhões) 401,5 423,6 498,7 647,5 680,7 720,9 730,3 737,4 744,3 752,0 Agricultura 70,5% 68,7% 62,4% 60,1% 52,2% 50,0% 50,0% 50,0% 49,1% 46,9% Indústria 17,3 18,2 20,8 21,4 23,0 22,5 22,3 21,4 21,6 22,5 Serviços 12,2 13,1 16,8 18,5 24,8 27,5 27,7 28,6 29,3 30,6 Fonte: China Statistical Yearbook, vários anos. Quadro 7 Valor Agregado por Setor, 1978–2004 (em termos de % do PIB) 1978 1980 1985 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004 Agricultura 28,1 30,1 28,4 27,0 20,5 16,4 15,8 15,4 14,6 14,6 Indústria 48,2 48,5 43,1 41,6 48,8 50,2 50,1 51,1 52,3 50,8 Serviços 23,7 21,4 28,5 31,3 30,7 33,4 34,1 33,5 33,1 34,5 Fonte: China Statistical Yearbook, 2005. Do N ot Co py or Po st This document is authorized for educator review use only by Ronald Paschoal, Universidade Est?cio de S? until October 2016. Copying or posting is an infringement of copyright. Permissions@hbsp.harvard.edu or 617.783.7860 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 708-P02 23 Quadro 8 Estrutura do Gasto Público na China, 1980–2004 (em termos de % do gasto público total) 1980 1985 1990 1995 1999 2000 2001 2002 2003 2004 Administração pública 6,1 8,5 13,4 14,6 15,3 17,4 18,6 18,6 19,0 19,4 Defesa Nacional 15,8 9,6 9,4 9,3 8,2 7,6 7,6 7,7 7,7 7,7 Cultura, educação,
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