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Caso China

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708-P02
O C T O B E R 1 6 , 2 0 0 6 
 
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Caso LACC # 708-P02 é a versão traduzida para Português do caso # 9-706-041 da HBS. Os casos da HBS são desenvolvidos somente como base 
para discussões em classe. Casos não devem servir como aprovação, fonte primária de dados ou informação, ou como ilustração de um 
gerenciamento eficaz ou ineficaz. 
 
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ou qualquer outra - sem a permissão da Harvard Business School. 
 
D E B O R A S P A R 
J E A N O I 
China: Construindo um "Capitalismo com 
Características Socialistas" 
 
Não devemos agir como mulheres de mãos atadas! Se quisermos que o socialismo triunfe sobre o capitalismo, 
não deveríamos hesitar em nos inspirar nas realizações de todas as culturas. Temos que aprender com os outros 
países, inclusive os países capitalistas desenvolvidos. 
⎯ Deng Xiaoping, 19921 
 
Em novembro de 2005, o Comitê Central do Partido Comunista Chinês publicou seu 11.° plano 
qüinqüenal. Como era característico de tais pronunciamentos, o plano fazia alusão a muitos aspectos 
da economia chinesa, inclusive sua situação fiscal, seu superávit no balanço de pagamentos e seu 
desejo de equiparar as rendas das áreas rurais e urbanas. Porém o tema central foi o crescimento. A 
China, conforme anunciava o plano, continuaria a crescer 8% ao ano entre 2006 e 2011. Ele também 
tentaria não apenas pensar na expansão em termos de exportações e investimentos, mas também 
contemplar os mais pobres, aumentando o gasto público para este segmento da sociedade.2 
A China já era o país que crescia mais rapidamente no mundo, uma posição que já ocupara, exceto 
em breves intervalos, por aproximadamente 30 anos. Embora uma série de outros países (como 
Japão, Cingapura e Botswana) também tivesse sustentado índices de crescimento médio de mais de 
9% ao ano por mais de uma década, o crescimento com tamanha intensidade e rapidez, 
experimentado pela China, havia durado mais do que seus semelhantes e não demonstrava sinais de 
desaceleração.3 Além do mais, na China, o crescimento estava atingindo uma população de cerca de 
1,3 bilhão de pessoas, libertando milhões delas da pobreza e abrindo enormes segmentos de 
demanda. Em 2004, a China foi responsável por 12% do consumo de energia de todo o mundo e por 
15% do consumo total de água doce. Ela também consumiu 50% da produção mundial de cimento.4 
Baseando-se exclusivamente em aspectos econômicos, a China havia se tornado, portanto, um 
fenômeno. Era a terceira maior economia do mundo e freqüentemente era descrita como tendo toda a 
probabilidade de, dentro de uma década, ultrapassar tanto a União Européia quanto os Estados 
Unidos em termos de PIB. Contudo, diferentemente destes outros países, a China era de forma 
distinta e explícita, um estado comunista. Sob a liderança do presidente Hu Jintao, o partido 
comunista chinês deteve o controle completo das questões do país e permaneceu firmemente 
comprometido com muitos dos princípios-chave do socialismo. Por exemplo, todos os principais 
bancos do país permaneceram fortemente ligados ao Estado, assim como setores-chave como Do
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708-P02 China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 
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petróleo, petroquímica e aço. Agências estatais forneciam a maioria dos serviços financeiros ainda 
limitados do país e empresas estatais produziam mais de um terço da produção total. De fato, o 
Estado ⎯ e o Partido ⎯ eram peças centrais em quase todos os aspectos da economia da China, 
guiando uma trajetória de desenvolvimento freqüentemente rotulada como "capitalismo com 
características socialistas". 
Não foi um caminho óbvio para o crescimento. Porém, por quase 30 anos a China vinha de fato 
crescendo, inserindo seus cidadãos na prosperidade e seus produtos no resto do mundo. Entre 1978 e 
2005, o PIB per capita da China havia crescido de US$ 153 para US$ 1284, enquanto seu superávit no 
balanço de pagamentos crescera mais de doze vezes entre 1982 e 2004, passando de US$ 5,7 bilhões 
para US$ 70 bilhões. Durante este período, a China também havia se tornado uma potência 
industrial, indo além do sucesso inicial em setores com baixos salários como os de vestuário e de 
calçados e passando para a produção cada vez mais sofisticada de computadores, produtos 
farmacêuticos e automóveis. 
Contudo, não estava claro por quanto tempo exatamente esta trajetória poderia continuar. De 
acordo com o 11.º plano qüinqüenal, a China precisava sustentar um índice de crescimento anual de 
8% no futuro próximo. Somente com tais níveis de crescimento, argumentavam seus líderes, a China 
poderia continuar a desenvolver sua capacidade industrial, aumentar o padrão de vida de seus 
cidadãos e reduzir as desigualdades que estavam surgindo através do país. Nenhum país havia 
mantido anteriormente o tipo de crescimento que a China estava prevendo. Além do mais, a China, 
até certo ponto, já havia passado pelas etapas mais fáceis do desenvolvimento. Na década de 1980, 
havia transformado seu setor agrícola, enorme e ineficiente, libertando seus agricultores dos confins 
do planejamento central e conquistando sua simpatia para a causa da reforma. De modo semelhante, 
na década de 1990 a China havia começado a reestruturar seu setor industrial estagnado, 
persuadindo os investidores estrangeiros pela primeira vez e canalizando fundos de investimento 
para as companhias estatais. Estas políticas haviam catalisado o crescimento fenomenal do país, mas 
não se poderia mais depender delas para impulsionar a economia muito mais adiante. Em vez disso, 
a China teria que dar, o que muitos consideraram, o último passo em direção à economia de mercado, 
liberalizando o setor bancário e dando início a um verdadeiro mercado de capitais. 
Este passo, entretanto, não seria fácil. A partir de 2004, as empresas estatais chinesas ainda 
estavam apenas parcialmente reorganizadas e seus bancos estavam lidando com o encargo de mais 
de US$ 205 bilhões (1,7 trilhões RMB [Rennimbi iuanes]) em empréstimos vencidos, dinheiro que 
tinha pouquíssima chance de ser recuperado. O país tinha uma taxa de câmbio fixa e rígidos 
controles sobre o balanço de pagamentos e as contas de capital. Ele tinha, sobretudo, um governo 
comunista que permanecia cauteloso para não perder as rédeas da situação, mesmo com o aumento 
cada vez maior de protestos por parte de trabalhadores e agricultores. E, portanto, perdurava o 
dilema: a China seria capaz de manter sua taxa de crescimento frenética sem abraçar um regime 
totalmente liberal? E caso optasse por fazer uma transição radical para a economia de mercado, como 
ela poderia garantir que a tão valorizada estabilidade do país não seria abandonada no processo? 
Histórico: Ascensão e Decadência do Reino Central 
Muito antes da China emergir como uma potência econômica, ela já havia sido considerada uma 
potência de pleno direito, além de ser uma força, ainda que silenciosa, na arena internacional. A 
civilização chinesa surgiu inicialmente no vale do rio Amarelo em torno de 2200 a.C. Pelo fato do solo Do
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China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 708-P02 
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do vale ser rico mas o rio traiçoeiro, o povo da região desenvolveu sofisticadas técnicas de 
"agricultura permanente" que permitiram a eles controlar as águas inconstantes e cultivar variedades 
de arroz com alta produção.5 Assentando-se nestas bases agrícolas, a população da China aumentou 
rapidamente e uma estrutura social durável e única se desenvolveu. O núcleo da sociedade era o clã 
familiar, várias gerações de filhos que, juntos, cultivavam o pedaço de terra da família. As filhas 
tradicionalmente se mudavam para as famílias de seus maridos e eram subservientes às suas sogras. 
Acima do nível familiar, os pequenos agricultores se agrupavam em aldeias, que existiam como 
unidades quase auto-suficientes. 
Por volta do ano 1120 a.C. o povo do vale do rio Amarelo havia se reunido sob a autoridade 
flexível da dinastia Zhou, uma família de sacerdotes guerreiros que arrecadavam impostos e 
organizavam exércitos, mas que, afora isso, ficavam distantes da vida cotidiana das aldeias. Por outro 
lado, os imperadores e seus burocratas se dedicavam a atividades artísticas e eruditas, cultivando 
uma civilização que produziu obras clássicas de arte e literatura, assim como os grandes filósofos 
Confúcio e Lao Zi. 
Quando o poder da família real Zhou finalmente declinou em 403 a.C., irromperam guerras entre, 
aproximadamente, 170 senhores feudais, mergulhando a China em uma era de anarquia política hoje 
denominada Período dos Estados em Guerra. O caos imperou por aproximadamente 100 anos, até 
que uma única família finalmente conseguisse derrotar os senhores feudais rivais e colocasse a China 
novamente sob um governo comum. O novo imperador, Qin Shi Huang, propôs-se então a 
estabelecer um império universal e duradouro. Durante seu reino tirânico de 11 anos, Qin matou 
milhares de estudiosos confucianos, dividiu os estados de outros senhores em quinhões de terra 
privados menores, e empreendeu projetos públicos grandiosos tais como a reconstrução da Grande 
Muralha da China. Para garantir que seu Império permanecesse intacto, Qin também estabeleceu um 
sistema formal de governo que ligava as aldeias a províncias centrais e, a partir destas, diretamente 
ao imperador. Entre o imperador e o povo ele criou uma burocracia imperial elaborada que iria 
dominar a China pelos dois milênios seguintes. 
Ao longo deste período, a unidade da China permaneceu extraordinariamente estável. Ela era, em 
grande parte, uma sociedade agrícola, ligada e praticamente definida pelo confucianismo, um corpo 
de filosofia moral e política que mostrava a importância suprema da estabilidade social. Começando 
no nível do indivíduo, descrevia uma hierarquia complexa de obediência, ligando a criança a seus 
pais, a família a seus ancestrais e o súdito ao seu governante. Em todas estas relações, o pai patriarcal 
era o centro da autoridade e a devoção filial era a virtude mais admirada. Devido ao fato dos padrões 
de autoridade serem repetidos ao longo de toda a hierarquia, o imperador e seus representantes 
simplesmente assumiram o papel de um verdadeiro pai. Enquanto isso, no dia-a-dia, a ordem era 
mantida pelos burocratas imperiais, funcionários públicos que eram, simultaneamente, uma 
manifestação da ordem confuciana e o meio físico pelo qual esta ordem era preservada. 
Não surpreendentemente, a política externa da China também manteve a marca desta ordem. 
Desde os tempos mais remotos, os chineses haviam considerado sua terra o "Reino Central”, um 
centro da civilização cercado por todos os lados pelos "quatro bárbaros". Todos os povos não-chineses 
eram considerados inferiores, e os imperadores chineses ⎯ com algumas exceções ⎯ não tinham 
interesse em explorar o mundo além de suas fronteiras.6 Segundo eles, a China era o centro do 
mundo e o imperador chinês o elo entre o céu e a terra. Simplesmente não havia razão para buscar 
qualquer outro lugar. Do
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Inevitavelmente, chegou um momento em que outros povos chegaram à China. Os mongóis 
invadiram a China em 1280 e os manchus em 1644. Estas duas dinastias estrangeiras, contudo, 
governaram a China de maneira muito semelhante àquela feita pelos chineses, com uma hierarquia 
centralizada, uma burocracia imperial e uma firme propensão para se concentrar em si mesmo. 
Portanto, para todos os propósitos práticos, a China permaneceu uma civilização fechada até meados 
do século XIX, quando os bárbaros vieram para ficar. 
Invasão e Revolução 
Com início em 1840, o isolamento da China foi abalado expressivamente por uma série de 
derrotas militares conhecidas coletivamente como as "Guerras do Ópio". A origem aparente destes 
conflitos era o ópio, que os mercadores britânicos vinham contrabandeando para a China numa 
tentativa de reduzir seus crônicos déficits comerciais. Quando as autoridades chinesas apreenderam 
20.000 baús de ópio britânico em Guangzhou, os britânicos atacaram para defender seus direitos de 
praticar o comércio. Os chineses revidaram e tentaram negociar, mas em 1842 o imperador, de forma 
relutante, capitulou. A China cedeu Hong Kong aos britânicos e concordou em abrir outros cinco 
portos de comércio. Este foi o primeiro do que ficou conhecido como os "Tratados Injustos". 
Nas décadas seguintes, potências ocidentais entraram na China sob o rótulo benigno de uma 
política americana de "Portas Abertas". Grã-Bretanha, França, Rússia, Alemanha e Japão, em 
conjunto, repartiram a China em esferas de influência estrangeira e forçadamente abriram as cidades 
costeiras chinesas ao comércio exterior. Em muitas cidades, as autoridades estrangeiras chegaram a 
ponto de reivindicar direitos de extraterritorialidade que os tornaram, efetivamente, imunes à 
legislação chinesa. 
O sucesso das potências estrangeiras foi um tremendo golpe para o orgulho e a complacência da 
China. Em 1898, o jovem imperador Guang Xu fez uma tentativa final no sentido da reforma, 
esperando, como os imperadores Meiji do Japão, mudar seu país sem destruí-lo. Contudo, sua 
iniciativa teve apenas o efeito de ofender seus inimigos e ele foi rapidamente deposto pela Imperatriz 
Dowager Ci Xi, que se declarou regente e revogou todas as reformas. Como conseqüência, em 
seguida, a China mergulhou novamente no caos enquanto os reformistas e reacionários lutavam pelo 
controle. Quando a Imperatriz Dowager morreu, em 1908, o poder do governo central desintegrou, 
com os últimos vestígios do império. 
Nos 40 anos seguintes, a China foi ostensivamente governada pelo Kuomintang (KMT), um 
partido revolucionário lançado por Sun Yatsen e depois liderado (após a morte de Sun) pelo General 
Chiang Kaishek. Durante este período, o controle do poder por parte do KMT foi extremamente 
débil. Caudilhos controlavam a maioria das províncias longínquas e o governo central exercia pouco 
poder militar ou autoridade política. Enquanto isso, no interior, um líder carismático, chamado Mao 
Zedong, estava angariando apoio para o Partido Comunista chinês, desenvolvendo táticas de 
combate de guerrilha e encorajando os camponeses a tumultuar totalmente a ordem social ⎯ 
exigindo reforma agrária e lutando pelo socialismo. 
Em 1931, forças japonesas invadiram a Manchúria, destruindo qualquer aparência de um estado 
chinês unificado. O KMT e os comunistas continuaram suas lutas internas, tentando apenas, de forma 
relutante, reunir forças em 1937, quando os japoneses lançaram um ataque maciço. Durante o Do
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China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 708-P02 
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desenrolar da luta subseqüente, as forças do KMT foram empurradas de volta para o interior do oeste 
da China, onde estabeleceram a capital na outrora pacata cidade de Chongqing. A esta altura, 
contudo, o partido havia sido significativamente enfraquecido pela sua relativa falta de fervor 
antinipônico e pela corrupção que havia se disseminado entre seus oficiais. Os comunistas, pelo 
contrário, foram capazes de arrebatar tanto a autoridade moral como a vantagem militar. Sua forma 
de operar através de ações de guerrilha colocava as tropas de Mao em contato direto com a classe 
camponesa, que ficou impressionada com a disciplina dos comunistas e rapidamente passou a 
considerá-los como os defensores do país. Quando os japoneses se renderam em 1945, o Partido 
Comunista Chinês de Mao (PCC), apoiado por forças milicianas e milhões de militantes políticos, 
expandiu seu controle para as áreas anteriormente sob ocupação japonesa. Por volta do ano de 1949, 
os comunistas haviam capturado um número tão grande de equipamentos e recrutado tantos 
soldados do KMT que Chiang Kaishek não teve outra opção a não ser fugir para a ilha de Formosa 
(Taiwan), levando consigo todas as reservas de ouro da China e prometendo um dia liberar a China 
continental dos "bandidos comunistas". 
Em 1.º de outubro de 1949, Mao Zedong proclamou o estabelecimento da República Popular da 
China (RPC) e tornou Beijing a capital do país novamente. O novo governo desfrutava de amplo 
apoio do povo chinês, que estava determinado a recuperar seu país após aproximadamente um 
século de invasão estrangeira e caos interno. Parecia que a China se encontrava novamente pronta 
para ocupar seu lugar de direito entre as nações. 
O Leste é Vermelho: a China sob o Regime Comunista, 1949-1978 
A proclamação da RPC transformou instantaneamente Mao e seus seguidores, que passaram de 
revolucionários a administradores. Com pouca experiência de governo realizado em tempo de paz ou 
em administração econômica, eles se depararam com duas tarefas desafiadoras: organizar e 
administrar a maior sociedade do mundo e reconstruir uma economia devastada por décadas de 
guerra. Surpreendentemente, ambas as tarefas foram realizadas nos primeiros cinco anos do governo 
comunista. 
A filiação ao partido comunista cresceu rapidamente nesta época e, numa estrutura remanescente 
da antiga burocracia imperial, uma estrutura hierarquizada de órgãos partidários foi estendida desde 
os altos escalões do PCC até chegar a mais de um milhão de comitês-filiais estabelecidos em cada 
aldeia, fábrica, escola e órgão do governo. O novo governo nacionalizou o sistema bancário do país e 
submeteu todo o dinheiro em circulação e o crédito a um controle central. O governo regulou os 
preços estabelecendo associações comerciais e aumentou suas receitas através da arrecadação, em 
espécie, de impostos agrícolas (a parte principal de suas receitas). Em meados de 1950, os comunistas 
haviam reconstruído e expandido os sistemas ferroviário e rodoviário do país, aumentando as 
produções industrial e agrícola para níveis anteriores à guerra e deixado grande parte do comércio e 
da indústria da China sob o controle direto do Estado.7 
Enquanto isso, em cumprimento de suas promessas revolucionárias, os líderes comunistas 
chineses completaram a reforma agrária num prazo de dois anos após ter assumido o poder. Quadros 
do partido visitavam vilarejos e, em "reuniões de luta" públicas, incitavam os camponês a eliminar 
seus senhorios e que estes redistribuíssem suas terras e outras posses para famílias camponesas. 
Pouco depois, o PCC encorajou famílias rurais a formarem equipes de ajuda mútua, e depois as Do
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cooperativas de produtores agrícolas que o governo viu como o melhor meio para incrementar a 
produtividade agrícola. 
Ainda não satisfeito, em 1958 Mao tentou impulsionar a economia chinesa para novos patamares. 
Sob seu amplamente divulgado "Um Grande Salto Adiante", as cooperativas agrícolas foram 
reorganizadas em enormes comunidades onde foram atribuídas a homens e mulheres, à maneira 
militar, tarefas específicas. Foi dito aos camponeses que parassem de depender da família e, em vez 
disso, adotassem um sistema de cozinhas, refeitórios e creches comunitários. Os salários foram 
calculados de acordo com o princípio comunista "para cada um de acordo com suas necessidades" e a 
produção suplementar foi banida por ser considerada uma forma incipiente de capitalismo. Todos os 
cidadãos chineses foram exortados a aumentar a produção de aço do país construindo "fornos de 
fundo de quintal para fabricação de aço" para ajudar a ultrapassar o ocidente. Contudo, enquanto 
Mao acreditava que a efusão de esforços dirigida politicamente e realizada pela imensa população da 
China resultaria em desenvolvimento econômico e aumentos de produção milagrosos, o programa 
"Um Grande Salto Adiante" rapidamente se revelou como um gigantesco passo para trás. Foram 
estabelecidas metas inatingíveis, estatísticas de produção falsificadas foram convenientemente 
relatadas e funcionários do governo viviam num mundo irreal de aumentos de produção 
miraculosos. A produção de aço aumentou muitíssimo, porém a maior parte do aço era praticamente 
inútil. Pior que isso, rapidamente ficou evidente que os camponeses haviam feito seu aço derretendo 
qualquer metal que conseguissem achar. Por volta de 1960, a produção agrícola no interior havia 
desacelerado de forma alarmante e o PNB caiu aproximadamente um terço.8 As pessoas estavam 
exaustas e grandes áreas da China foram dominadas por uma fome devastadora. Por volta de 1960, a 
situação havia se tornado tão grave que nem Mao pôde ignorá-la. Calmamente e sem alarde, Mao 
manteve-se à margem da vida pública e pragmatistas do PCC, inclusive Deng Xiaoping, começaram a 
fazer o que era necessário para restaurar incentivos e produção. 
Nos anos seguintes, a China experimentou um período de relativa estabilidade. As produções 
industrial e agrícola voltaram a níveis normais e a produtividade no trabalho começou a subir.9 Mais 
à frente, em 1966, Mao reafirmou seu poder e novamente lançou um plano que levou a China à beira 
do desastre. Com medo de que Deng e outros burocratas levassem a China para muito longe do 
espírito de sua revolução socialista, Mao proclamou uma Revolução Cultural para "colocar a China 
novamente nos trilhos". Sob ordens de "Destrua os Quatro Antigos" (pensamentos, cultura, costumes 
e hábitos antigos), universidades e escolas fecharam suas portas e os alunos, que se tornaram os 
"Guardas Vermelhos" de Mao, foram enviados para percorrer todo o país para fazer a revolução, 
batendo e torturando qualquer um cujo posto ou pensamento político fosse contrário ao regime. Os 
intelectuais foram insultados e chamados de "a nojenta nona classe" e qualquer sinal de "capitalismo", 
como usar uma gravata, era suficiente para condenar alguém como inimigo do Partido Comunista. O 
próprio Deng foi expurgado como um "incursor ao capitalismo" e enviado para trabalhar numa 
fábrica de tratores. 
Em 1969, a anarquia se abateu sobre o país e facções dos Guardas Vermelhos começaram a lutar 
entre si. Finalmente, Mao convocou o exército para restaurar a ordem e enviou seus guardas jovens 
para o interior,onde muitos se tornaram uma geração "perdida", mal-educada e amargurada. Em 
1973, Mao discretamente chamou Deng Xiaoping de volta para Beijing. 
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As Reformas de Deng Xiaoping 
Após a morte de Mao em 1976, o poder passou rapidamente para a facção reformista do PCC, 
liderado por Deng Xiaoping. Diferentemente de Mao, Deng era um homem pragmático, conhecido 
menos por seu comprometimento ideológico do que por seu lema: "Não importa saber se o gato é 
preto ou branco, contanto que ele pegue o rato". Uma vez consolidado seu poder, ele começou a pôr 
suas políticas em prática, determinado a fazer a China renascer após a devastação causada pela 
Revolução Cultural. 
Fase Um: Reforma no Interior 
Quando Deng assumiu seu cargo, a grande classe camponesa da China ainda estava organizada 
em comunidades, grupos de trabalho e equipes de produção. Os preços dos produtos eram muito 
baixos até mesmo para cobrir custos de produção e os preços máximos eram estabelecidos conforme 
a quantidade de grãos que os produtores podiam armazenar para consumo. Deng mudou tudo isso. 
Ele permitiu que os agricultores produzissem por conta própria e sancionou lei permitindo a venda 
da produção excedente e outras culturas que não fossem de subsistência mas sim para a venda em 
mercados recentemente liberados. Os preços de aquisição pelo Estado foram aumentados e os preços 
para muitos produtos agrícolas foram deixados para os ditames do mercado. Começando com as 
áreas montanhosas pobres de Anhui e depois espalhando através do país, Deng e seus representantes 
dissolveram as comunidades estabelecidas por Mao e as substituíram por um complicado sistema de 
arrendamento que, no final, trouxe a posse efetiva da terra para o nível familiar (embora a 
propriedade da terra permanecesse coletiva). O Sistema de Responsabilidade Familiar permitia que 
os lavradores arrendassem a terra da cooperativa por um período fixo, contanto que eles entregassem 
para a cooperativa uma cota mínima de produtos, geralmente grãos essenciais; eles poderiam então 
vender qualquer excedente que produzissem, quer para o Estado pelos preços de aquisição 
estabelecidos pelo governo ou no mercado recentemente liberado. Eles também estavam livres para 
reter quaisquer lucros que pudessem auferir. Em uma década, a produção de grãos havia crescido, a 
grosso modo, em 30%, e a produção de algodão, cana de açúcar, tabaco e frutas havia dobrado.10 
Deng também atacou a falta crônica de comida da China encorajando as famílias a adotar a 
política de filho único. Sempre controversa, a política foi implementada com graus variáveis de 
entusiasmo através das províncias da China. Geralmente, era exigido que as mulheres pedissem 
permissão para ter mais de um filho e a aprovação era dada somente se o primeiro filho tivesse 
apresentado um defeito congênito ou se a mãe tivesse casado novamente11. Dizia-se que algumas 
províncias foram até mais além e relatos de infanticídio, esterilização forçada e abortos no terceiro 
mês de gravidez foram amplamente difundidos. Como resultado, o índice de crescimento 
populacional da China começou a diminuir. Juntamente com estas mudanças radicais no interior, as 
primeiras reformas de Deng também começaram a abrir a China para o mundo exterior. Em 1979, a 
China criou quatro "Zonas Econômicas Especiais" (SEZs, em inglês) ao longo de sua costa ⎯ três em 
Guangdong, província vizinha de Hong Kong e uma na província de Fujian atravessando o estreito 
de Taiwan. As SEZs eram totalmente abertas aos investimentos e procuravam atrair possíveis 
investidores através de incentivos fiscais, provisões de divisas e uma propositada falta de 
regulamentação. Inicialmente, os investimentos nas SEZs decolaram de uma forma mais lenta que 
aquela esperada pela liderança: entre 1982 e 1988, o total de investimentos estrangeiros diretos na 
RPC atingiu apenas US$ 8,5 bilhões, grande parte proveniente das indústrias têxteis e de vestuário 
sediadas em Hong Kong com o intuito de tirar proveito da mão-de-obra barata. Desta forma, o 
governo, da metade até o final da década de 1980, começou a abrir suas portas mais agressivamente. Do
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Ele tomou providências no sentido de dar aos investidores estrangeiros controle mais direto sobre as 
fábricas, ofereceu arrendamentos de terrenos com prazos de 50 a 70 anos e introduziu um sistema 
dual de taxas de câmbio, permitindo que empresas estrangeiras (ao contrário das empresas nacionais) 
convertessem recebimentos em moeda estrangeira a uma taxa de câmbio de mercado. A China abriu 
quatro cidades costeiras, incluindo Shanghai e Guangzhou, para o comércio exterior em 1985; em 
1988, transformou a província insular de Hainan em uma SEZ e depois abriu toda a costa de 3.000 
milhas do país para o comércio. Por volta de 1992, estes estratagemas haviam valido a pena. O 
investimento direto estrangeiro atingiu US$ 11,2 bilhões, subindo em relação aos US$ 4,4 bilhões do 
ano anterior e firmas estrangeiras ⎯ desde a Nike até a Squibb, GE e Honda ⎯ haviam estabelecido 
operações no país. 
Fase Dois: Industrialização Rural e Reforma de Empresas 
À medida que as reformas promoviam aumentos na produção que surpreenderam até mesmo 
aqueles que a idealizaram, o grau de mudança cresceu mais ainda e, em meados da década de 1980, a 
liderança do partido começou a executar a tarefa mais complicada e politicamente delicada, qual seja, 
a de transformar o intrincado sistema de planejamento central e empresas estatais do país. Antes de 
1978, as empresas eram, de uma forma ou de outra, quase todas estatais. No topo de cada setor 
estavam as empresas estatais (SOEs, em inglês), que se reportavam ao governo nacional. Abaixo 
destas estavam outras empresas que se reportavam a autoridades do condado, municipais ou 
provinciais. Empresas privadas, ou seja, pequenos negócios familiares, não eram permitidos até 1978 
e, mesmo depois, eram limitadas a sete funcionários.12 
As SOEs chinesas eram típicas de grandes firmas industriais numa economia com planejamento 
centralizado. Ineficientes, com excesso de funcionários e tecnologia antiquada, elas atuavam não só 
como unidades industriais mas também como agências sociais, fornecendo habitação, creche diurna, 
educação e assistência médica para os trabalhadores e suas famílias. As empresas maiores tinham 
centenas de milhares de funcionários, onde apenas uma pequena parcela estava diretamente 
envolvida na produção. Apesar de seu tamanho, contudo, as empresas usufruíam muito pouca 
autonomia, já que o Estado determinava preços, insumos e produção bem como retinha quaisquer 
lucros que viessem a ser auferidos. As empresas produziam meramente suas cotas de produção 
estabelecidas e a repassavam para compradores predeterminados a preços estabelecidos pelo 
governo. Lucros e prejuízos não eram significativos, a contabilidade era primitiva e a maximização 
do lucro não tinha importância alguma. 
O aspecto positivo deste sistema era que os trabalhadores chineses poderiam contar tanto com um 
emprego vitalício como com um amplo sistema de assistência social baseado na firma, o assim 
chamado "tigela de arroz de ferro". Todos os direitos neste sistema eram computados como custos de 
produção e deduzidos dasreceitas antes do cálculo dos lucros, que deviam ser remetidos para o 
Estado. Não havia um sistema de previdência social nacional, pois este não era necessário. Em 1983, 
contudo, o governo decidiu introduzir uma variante do sistema de responsabilidade que havia 
funcionado tão bem nas áreas rurais. Sob o Sistema de Responsabilidade Contratual, a empresa e seu 
ministério controlador negociavam contratos que especificavam a meta de desempenho da empresa, 
cotas de produção e obrigações financeiras para com o Estado ⎯ geralmente uma combinação de 
impostos e dividendos. Afora ter que atingir estas metas, as empresas eram livres para administrar 
seus negócios como elas achassem melhor podendo, inclusive, produzir acima da cota estabelecida, 
produção esta para venda a preços de mercado. Pela primeira vez, os gerentes puderam determinar 
salários, tomar decisões em relação a investimentos e reter lucros. Após 1988 as empresas estavam, Do
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China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 708-P02 
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teoricamente, também sujeitas à falência. Na prática, entretanto, elas permaneceram estreitamente 
ligadas às autoridades centrais e um tanto fora do alcance usual de uma economia de mercado. 
Apesar das reformas, as empresas ainda exerciam uma grande variedade de funções sociais e, 
freqüentemente, vendiam a preços controlados em vez de preços de mercado. Elas também podiam 
obter financiamento na base de laços políticos locais ⎯ os infames guanxi da China ⎯ e não através 
de um conceito real de capacidade de pagamento. Não obstante, elas eram claramente mais 
orientadas ao mercado que em qualquer outro momento da história da China. 
Um impulso ainda maior em direção ao mercado veio com o estabelecimento das TVEs (empresas 
municipais e de aldeias), pequenas fábricas lideradas, freqüentemente, por representantes comunistas 
locais. Enquanto estas TVEs eram explicitamente coletivas em termos de sua estrutura de 
propriedade, elas eram também, em grande parte, capitalistas; as aldeias levantavam dinheiro do 
modo que podiam (lucros acumulados, lucros agrícolas e empréstimos de bancos locais) e depois 
usavam estes fundos para fazer tudo, desde artesanato típico até a produção de equipamentos 
industriais13. Elas pagavam impostos para o Estado em vez de produzirem qualquer lote contratado e 
compravam seus insumos diretamente do mercado. As autoridades locais facilitaram os 
empréstimos; porém, a ausência dos recursos financeiros em abundância do governo central fez com 
que elas tendessem a ser menos tolerantes a prejuízos. Ao longo do tempo, as TVEs passaram a 
concorrer de maneira cada vez mais acirrada entre si e, depois, com as empresas estatais (SOES, em 
inglês). Elas também se tornaram extremamente bem-sucedidas, reinvestindo seus lucros para 
financiar seu crescimento. Ao longo da década de 1980, sua produção cresceu a uma taxa média de 
aproximadamente 30% ao ano e as exportações aumentaram a uma taxa de 65%14. 
Finalmente, a segunda fase da reforma chinesa também tentou direcionar o país no sentido de 
ficar mais próximo a um sistema de fixação de preços baseado no mercado. Antes desta mudança, os 
preços na China haviam permanecido inalterados por vários anos e guardavam apenas uma vaga 
semelhança com os preços internacionais ou com o princípio da oferta e demanda. Embora alguns 
preços fossem fixados pelo mercado livre, a maior parte deles ainda era fixado ou "orientado" pelo 
Estado, significando que eles flutuavam dentro de uma faixa predeterminada. Após 1984, o Estado 
adotou uma versão do sistema dual de preços que havia funcionado tão bem na agricultura e 
começou a aplicá-la a um número cada vez maior de produtos industriais. Ainda era exigido que as 
empresas vendessem suas cotas de produção ao Estado a preços por ele fixados, porém agora eles 
também poderiam vender qualquer excesso de produção no mercado livre. Esta "via dupla" forçou as 
SOEs para o mercado, sujeitando suas decisões de investimento marginais à disciplina das forças do 
mercado. Porém, os preços duais também deixaram todo o sistema vulnerável à corrupção, já que o 
caminho mais fácil para os lucros era usar insumos a preços fixos para produzir bens vendidos a 
preços de mercado. 
Rebelião e Retração 
Em 1988, a economia da China estava em plena atividade. Agindo com grande rapidez para tirar 
proveito dos atrativos de mercado inerentes às reformas, os capitalistas nascentes chineses 
impulsionaram tanto a produção agrícola quanto a industrial a novos patamares. A agricultura 
crescia de forma firme e consistente a uma taxa de 3,2% ao ano, ao passo que a produção industrial 
aumentava a uma espantosa taxa de 20,7% ao ano. 
Entretanto, à medida que a economia crescia vertiginosamente, o mesmo acontecia com a inflação. 
Durante a primeira metade de 1988, o índice de preços ao consumidor elevou-se para 19,2%, ao passo Do
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que os preços em algumas cidades haviam aumentado em até 30%. Livre das restrições do 
planejamento central, as SOEs estavam numa corrida alucinada para colocar sua produção excedente 
no mercado livre ao passo que as TVEs estavam aumentando suas receitas locais, avolumando 
fundos extra-orçamentários que pertenciam exclusivamente a governos locais. Para financiar sua 
expansão, tanto as SOEs quanto as TVEs estavam solicitando grandes volumes de empréstimo das 
instituições financeiras locais, muitas das quais eram sucursais dos quatro bancos estatais e operadas 
por funcionários públicos locais, ávidos por estender o crédito a empresas de suas regiões. Enquanto 
isso, para evitar o possível risco de desemprego, o orçamento central continuava a dar apoio às 
muitas SOEs geradoras de prejuízos. Conseqüentemente, as SOEs poderiam usar fundos do Estado 
para sustentar sua expansão sem praticamente correr risco algum. E neste processo, as pressões 
inflacionárias se acumularam e a autoridade financeira fugia cada vez mais do poder central, indo 
para as províncias. 
Em 1989, com a economia à beira de uma espiral inflacionária, as autoridades do governo central, 
de repente, entraram em ação, lançando um amplo corte nos gastos que, basicamente, congelava o 
crédito fornecido pelos bancos estatais. Órgãos do governo apertaram os controles administrativos 
sobre as importações e o crédito, cortaram os investimentos estatais, elevaram as taxas de juros e 
desvalorizaram a moeda em 21%. De forma quase que imediata a economia resfriou, com a inflação 
caindo para 2% em 199015. 
Durante o percurso, entretanto, o programa de "retificação" desencadeou uma violenta seqüência 
de eventos políticos. Ao adotar medidas severas em relação à economia, o governo acabou se 
indispondo com alguns de seus mais vitais aliados: os produtores agrícolas recebiam, por seus 
produtos, promessas por escrito de pagamento de dívidas (IOUs, em inglês) em vez de dinheiro em 
espécie; empresas neófitas perderam seu acesso ao crédito e os trabalhadores urbanos tiveram uma 
queda em seu padrão de vida. Esta insatisfação eclodiu durante o segundo trimestre de 1989 na 
histórica praça Tiananmen, em Beinjing. Logo após a morte do Secretário-Geral Hu Yaobang (um 
homem aberto a mudanças), os estudantes se mobilizaram para expressarem seu apoio à ala pró-
reformas da liderança do partido. Por cerca de um mês,centenas de milhares de estudantes fizeram 
manifestações públicas pacíficas nesta praça enquanto os líderes do país discutiam internamente 
sobre qual seria a resposta mais apropriada a tais manifestações. 
No final, a velha guarda triunfou. Nas primeiras horas do dia 4 de junho, um comboio de 50 
tanques assaltou as ruas abarrotadas dirigindo-se para a praça Tiananmen e 10.000 soldados 
avançaram, partindo da Cidade Proibida, atirando de forma arbitrária contra os protestantes que 
estivessem pelo caminho. No final do dia, centenas, quiçá mais de mil pessoas, foram mortas (o 
número exato permanece desconhecido até hoje). Inequivocadamente, o Partido Comunista Chinês 
havia sinalizado que não tinha a menor intenção de perder as rédeas da situação. 
Reforma na Década de 1990 
A década de 1990 foi um divisor de águas que consolidou as ações reformistas da China e 
estabeleceu firmemente a trajetória no sentido de uma economia de mercado capitalista, mesmo 
ainda tendo características socialistas. Ela começou em bases incertas logo após os incidentes de 
Tiananmen, quando a China entrou num breve período de isolamento, com a comunidade 
internacional condenando o PCC por ter disparado contra seus cidadãos. Embora as reformas jamais 
tivessem parado, houve um momento em que o rumo das coisas poderia ter mudado e alguns líderes Do
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questionaram a sensatez de ir adiante. Porém, a reforma retomou aos trilhos após as visitas de Deng 
Xiaoping ao sul, em 1992, quando ele deu seu aval às recém-estabelecidas Bolsas de Valores em 
Shanghai e Shenzhen. 
Ao longo da década, o regime desempenhou um papel institucional decisivo para recuperar o 
terreno perdido ⎯ modernizando ou abolindo agências reguladoras e políticas herdadas da era 
Maoísta e criando novas instituições para cada vez mais se tornar uma economia voltada para o 
mercado. O governo central reforçou seus cofres e reassumiu o controle dos ballooning funds (fundos 
onde a última parcela era muito maior que as demais) que as autoridades locais haviam conseguido 
reter na década de 1980. Eles usaram instrumentos monetários para oprimir as associações de crédito 
semi-oficiais e informais que haviam surgido durantes os primeiros estágios da reforma e começaram 
a atacar o problema da privatização, iniciando pelas TVEs e avançando ⎯ de forma lenta e mais 
cautelosa ⎯ para as SOEs. Em 2001, Jiang Zemin, sucessor de Deng, até começou a diminuir a lacuna 
ideológica que ainda afrontava seu país: para consternação de seus colegas mais conservadores, ele 
argumentava que os novos capitalistas chineses deveriam ter permissão para se afiliar ao PCC. 
Uma peça de fundamental importância na estratégia do governo era estabelecer um novo sistema 
de tributação nacional, um que permitisse ao governo central aumentar suas receitas bem como 
aperfeiçoar seu controle em relação às autoridades provinciais. Em 1994, ele anunciou um "sistema 
tributário dividido" (fenshui zhi), que reclassificava todas as categorias de impostos em: centrais, 
locais ou compartilhados (onde as receitas eram divididas entre o governo central e as localidades). 
Esta classificação eliminou de forma eficaz a categoria de receitas extra-orçamentárias e aumentou 
rapidamente os impostos do governo central. Para garantir que os impostos fossem arrecadados de 
forma apropriada, foi estabelecido um sistema de arrecadação de impostos nacional juntamente com 
o órgão arrecadador existente, cuja atribuição agora seria a de arrecadar impostos locais. Por volta da 
mesma época, o governo também começou a ajustar seu sistema dual de taxas de câmbio, um arranjo 
incômodo que, desde 1986, havia permitido às firmas estrangeiras converter seus recibos de moeda 
estrangeira a uma taxa "de mercado", ao passo que ainda exigia das empresas nacionais a conversão 
de seus lucros no estrangeiro à taxa (quase sempre mais alta) estabelecida pelo seu Banco Central. Em 
1994, com a diferença entre as taxas "oficial" e de "mercado" aumentando cada vez mais, o governo 
uniu as duas numa única taxa de câmbio, prevalecendo a taxa de mercado. De fato, a moeda foi 
desvalorizada, passando de 5,75 iuanes por dólar (a antiga taxa "oficial") para 8,7 (a taxa de 
"mercado"). Vários meses depois, a taxa de câmbio foi estabilizada oficialmente em 8,28. 
Durante este período, a China acelerou o processo de privatização também. Ela leiloou várias 
TVEs ⎯ normalmente para ex-gerentes de fábrica ou governos locais que permaneciam como 
acionistas ⎯ e, em seguida, sob a política de "agarre primeiro as grandes, deixe escapar as pequenas", 
passou a ir atrás de SOEs de pequeno e médio porte. Na maioria dos casos, o produto destas vendas 
ia para as localidades que controlavam anteriormente a empresa. 
Em contraste gritante com a Rússia e partes da Europa Oriental, a reestruturação da China na 
década de 1990 foi gradual, tanto em termos de desemprego quanto em mudanças na forma de 
propriedade. Em vez de seguir uma abordagem radical, liquidando ativos e gerando acionistas de 
forma imediata por meio de privatizações onde o gestor adquire a empresa do Estado, a China 
procurou sistemas de participação acionária mais limitados. Apenas uma pequena porcentagem de 
firmas foi transformada em entidades totalmente privadas na década de 1990 e o Estado continuou a 
ser um acionista majoritário nas firmas maiores e mais importantes. Em alguns casos, firmas sólidas 
foram direcionadas para grupos empresariais com entidades em dificuldades. E, em outros, Do
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divisões de antigas SOEs foram desmembradas, tornando-se entidades auto-suficientes e criando 
novas firmas "privadas" para competir no sempre crescente mercado chinês. 
A Próxima Onda 
Em 2003, a liderança política havia passado, sem sofrer descontinuidade, de Jiang Zemin a Hu 
Jintao, deixando o Partido Comunista com controle praticamente incontestável sobre as questões da 
China. Internacionalmente, a China estava exercendo um papel cada vez mais importante. Ela se 
associou à OMC em 2001, sinalizando sua entrada para a categoria dos protagonistas do comércio 
internacional e, no ano de 2004, ficou atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha, ou seja, o 
terceiro maior exportador do mundo16. Ela também estava emergindo como uma importante força 
diplomática no Pacífico e além dele, tendo intermediado um acordo entre seis partes em setembro de 
2005 que viu a Coréia do Norte concordar em encerrar suas atividades nucleares17. 
Contudo, tanto em termos econômicos como políticos, a China ainda tinha muitas características 
de um país em desenvolvimento. O setor bancário permaneceu inextricavelmente ligado ao Estado, 
as SOEs continuavam a produzir uma parte significativa da produção industrial total e os mercados 
de capitais eram excessivamente escassos. O sistema bancário estatal permanecia, em grande parte, 
sem reformas e continuava a extenuar-se sob uma torrente de dívidas incobráveis. Em 2004, os quatro 
maiores bancos estatais detinham, conjuntamente, mais de 1,7 trilhões RMB em empréstimos 
vencidos (não pagos), uma quantia igual a aproximadamente 13% do PIB daquele ano18. A não ser 
que fosse dado baixa nestes empréstimos ou eles fossem reduzidos de alguma maneira, a China aindaestaria sem um setor bancário vital e operante, incapaz de prosseguir com a próxima fase da reforma: 
a liberalização financeira. 
Alguns dos obstáculos a esta reforma, contudo, revelaram brechas políticas mais profundas. 
Muitos dos empréstimos vencidos, por exemplo, provinham do crédito em excesso ofertado pelos 
bancos às SOEs, que juntas ainda empregavam mais de 75 milhões de cidadãos chineses. Se fosse 
exigido o pagamento imediato destes empréstimos vencidos, muitas SOEs deixariam de existir e 
milhões de chineses ficariam, subitamente, desempregados. Tal resultado era simplesmente 
inaceitável para os líderes políticos chineses, comprometidos que estavam com a manutenção da 
estabilidade econômica e social. 
Da mesma forma, em 2005 a China estava se deparando com a crescente pressão dos Estados 
Unidos com relação à sua taxa de câmbio, fixada desde 1994 em 8,28 iuanes para um dólar.19 De 
acordo com os representantes do governo dos EUA, o iuane estava decididamente subvalorizado, 
contribuindo para os contínuos superávits no balanço de pagamentos da China e sua estável 
formação de reservas cambiais. Contudo, os funcionários do governo chinês tinham pouco interesse 
na valorização, já que um iuane mais alto significaria momentos econômicos mais difíceis para os 
exportadores da China e maior pressão no sentido de diminuir as oportunidades de emprego. 
O que tornou esta avaliação particularmente crítica foi a conscientização crescente de que o 
crescimento na China não estava sendo igualmente distribuído. De fato, desde 2005, o coeficiente de 
Gini da China havia atingido um nível sem precedentes para o país e estava em forte contraste com a 
ideologia, ainda socialista, da liderança. Por aproximadamente 30 anos, o crescimento explosivo da 
China havia sido distribuído relativamente de forma ampla: embora os ricos tivessem se tornado 
mais ricos, os pobres também melhoraram de vida. Mas em 2005, pela primeira vez, o Banco Mundial Do
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relatou que algumas das pessoas mais pobres da China haviam começado a ver seus rendimentos 
declinarem em termos absolutos, assim com em termos relativos20. Para a liderança, estas notícias 
eram preocupantes. Desde os tempos de Mao, apesar de tudo, a ideologia da China havia 
permanecido profundamente comprometida com a igualdade e sua estratégia havia dependido de 
ganhar o apoio da classe camponesa ⎯ exatamente as mesmas pessoas que agora estavam, 
indiscutivelmente, perdendo por causa das reformas. Se a classe camponesa se afastasse da causa da 
reforma, a legitimidade dos líderes da China sofreria. Além do mais, se este descontentamento 
enveredasse para a agitação, poderia, muito provavelmente, ameaçar a commodity mais estimada da 
China: a estabilidade. 
Portanto, à medida que o inverno de 2005 se aproximava, os líderes da China se viram 
enfrentando uma série de questões delicadas. De modo a gerar índices de crescimento contínuos de 
8% ao ano, eles acreditavam que tinham que prosseguir com a próxima fase da reforma, liberalizando 
o setor financeiro e permitindo que surgisse um verdadeiro mercado de capitais. Contudo, ao mesmo 
tempo, eles tinham que assegurar que a liberalização do setor financeiro não permitisse o 
desencadeamento de uma série de efeitos indesejados. Eles não queriam, por exemplo, a destruição 
em larga escala das SOEs nem um grande aumento no índice de desemprego da China. Eles não 
queriam que as desigualdades aumentassem mais ainda do que já haviam aumentado; e eles, 
acompanhados por um coro crescente de críticas vindas de fora, estavam ficando cada vez mais 
preocupados com o preço que o crescimento estava impondo ao meio ambiente21. 
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, por exemplo, 80% dos rios da China estavam 
tão poluídos que eles não continham mais peixes e as mulheres em certas áreas industriais 
apresentaram os maiores índices de câncer de pulmão jamais registrados. Como resultado da 
industrialização, o desflorestamento havia atingido 0,7% ao ano na década de 1980 e, desde 1949, o 
país havia perdido um quinto de sua área agrícola22. O PCC também estava lutando para banir a 
corrupção, que de acordo com a opinião geral era generalizada e não poupava nem mesmo as 
próprias fileiras do partido. Em 2005 o governo anunciou uma campanha de educação moral que 
prometia "preservar a natureza progressista" dos membros do PCC e planejava fazer com que cerca 
de 44 milhões de seus quadros passassem por este programa ainda naquele ano23. 
Finalmente, embora a China em 2005 fosse uma sociedade consideravelmente mais aberta do que 
havia sido 20 ou até 10 anos antes, ainda não era, de modo algum, uma democracia24. Com uma força 
ativa de 2,3 milhões, o Exército de Liberação Popular (PLA, em inglês) era a maior força militar do 
mundo e desde a década de 1990 vinha estabelecendo avidamente sua capacidade de ganhar guerras 
de curta duração e de grande intensidade ao longo de suas fronteiras terrestres e marítimas. Dentro 
da China, ele também exerceu um papel desmesuradamente grande, administrando não só empresas 
industriais militares mas também civis, inclusive minas e indústrias farmacêuticas25. De modo mais 
crítico, grupos seletos junto à sociedade chinesa, como o Falungong, ainda eram freqüentemente, e às 
vezes violentamente, reprimidos. Não havia eleições nacionais no país e políticas ao estilo ocidental e 
liberdades civis eram praticamente inexistentes. Os líderes da China tinham a intenção de manter sua 
marca exclusiva de controle político e sua estratégia extremamente bem-sucedida de reforma 
econômica gradual. Mas será que esta combinação funcionaria tão bem no futuro como havia 
funcionado no passado? Ou será que uma economia mais aberta exigiria um sistema político mais 
aberto também? 
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Reforma no Sistema Bancário 
Desde o lançamento das reformas na China, seus bancos vinham sendo uma espécie de carta fora 
do baralho. Sem qualquer uma das medidas liberalizadoras aprovadas em algum ponto do sistema, 
os bancos conservavam quase todos os vestígios do planejamento central, com um banco — o Banco 
Popular da China (PBOC, em inglês) — executando toda a gama de funções monetárias e financeiras. 
Não havia nenhum banco de investimento independente na China, nenhuma agência de classificação 
creditícia e apenas uma frágil rede de cooperativas de crédito autônomas. Em vez disso, o PBOC 
presidia uma imensa rede de filiais regionais e agências bancárias locais. Os quatro principais bancos 
estatais dentro do sistema — o Banco da China, o Banco para Construção da China, o Banco 
Industrial e Comercial da China e o Banco Agrícola da China — operavam de forma independente, 
porém cada um deles tinha como foco um determinado segmento de empréstimos e era, em última 
instância, subordinado ao PBOC. Cada município tinha sua própria cooperativa de crédito e 
poupança rural, que oferecia crédito a agricultores e TVEs locais. 
Durante os primeiros anos das reformas implantadas na China, este sistema funcionou 
relativamente bem. Os bancos forneciam às empresas recém-criadas o capital necessário, garantiam o 
fluxo de caixa para as SOEs que atravessavam dificuldades e faziam vista grossa quando os 
empréstimos venciam e nãoeram pagos. Enquanto isso, o PBOC trabalhava com o Ministro da 
Fazenda para administrar a macroeconomia do país com considerável cautela. O acesso à moeda 
estrangeira foi drasticamente limitado e o iuane ficou totalmente atrelado ao dólar norte-americano. 
No final, entretanto, começaram a surgir "rachaduras" no sistema. A mais óbvia delas era o 
crescimento contínuo na quantidade de empréstimos vencidos (não pagos), resultado de mais de uma 
década de crédito fácil para as SOEs. Associado a isso, porém, e em certos aspectos até mais 
problemático para o regime era o nível para o qual os bancos provinciais, anteriormente 
subordinados ao PBOC, haviam expandido suas próprias esferas de poder, empregando contatos 
locais para ofertar bilhões de iuanes naquilo que havia rapidamente se tornado empréstimos 
incobráveis. O que tornou esta situação particularmente preocupante foi a falta de qualquer 
alternativa para tal: sem um setor financeiro liberalizado e com problemas profundamente arraigados 
nos bancos locais, a única maneira para a China financiar seu crescimento era através do setor 
bancário estatal. 
E, assim, no início da década de 1990, o Estado começou lentamente a reformar os bancos. As 
primeiras etapas, sem grandes surpresas, foram graduais. Amparado nas orientações do Banco 
Mundial e de grandes firmas de investimento globais, o PBOC começou a fazer experimentos com 
instrumentos monetários como operações no mercado aberto e controles nas taxas de juros. Eles 
eliminaram todas as cotas de crédito bancário e reestruturaram seus próprios sistemas de gestão 
internos. Em seguida eles se voltaram para os bancos provinciais, substituindo-os — pelo menos 
formalmente — por uma nova estrutura de nove "escritórios regionais maiores". Estes escritórios 
foram dotados de pessoal: banqueiros enviados de Beijing, bem como gerentes que haviam sido 
treinados na nova maneira de pensar do PBOC e que não tinham vínculos pessoais com as 
províncias. O próprio PBOC saiu do mercado de empréstimos diretos e a responsabilidade pela 
supervisão bancária passou para uma nova agência, a Comissão Reguladora de Bancos da China 
(CBRC, em inglês). 
Estas reformas foram parcialmente no sentido de centralizar novamente o poder no PBOC e de 
deixá-lo mais próximo do mercado. Porém, as reformas mal arranharam a pilha que se acumulava de Do
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China: Construindo um “Capitalismo com Características Socialistas” 708-P02 
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empréstimos vencidos (NPLs, em inglês), que até 1999 ficaram entre 1,65 e 1,8 trilhões RMB 
(Rennimbi iuanes)26. Neste nível eles representavam uma ameaça considerável, tanto em termos da 
estabilidade interna do setor bancário chinês quanto de sua credibilidade externa com outras 
entidades financeiras. E assim, em 1999, o governo tomou medidas extraordinárias. Primeiramente, 
ele tomou emprestado 1,4 trilhões RMB do PBOC e dos bancos comerciais estatais, usando capital 
para adquirir uma quantia equivalente de NPLs dos principais bancos estatais. Em seguida, em 2004, 
o PBOC retirou US$ 60 bilhões das reservas cambiais do país e os injetou, através de uma nova 
instituição chamada China SAFE (Huijin), diretamente nestes bancos. 
Esta última tranche foi usada para dar baixa numa quantia correspondente dos NPLs de maior 
risco e para transformar os bancos — idealmente — em empresas cotadas em bolsa, prontas para 
receber investimentos estrangeiros. Ao mesmo tempo, o governo estabeleceu quatro novas empresas 
de gestão de ativos (AMCs, em inglês) — sociedades por ações nas quais o governo detinha 100% das 
ações. Estas companhias receberam 1,4 trilhões RMB em NPLs que o governo havia recentemente 
adquirido e foram incumbidas com a intimidadora tarefa de reestruturar ou transferir o débito que 
remanescia, criando no processo o potencial para se converter em um mercado de capitais moderno. 
Em 2005, funcionários do governo chinês anunciaram que as AMCs estavam caminhando bem. 
Elas haviam vendido um valor estimado de 60%–70% dos NPLs que elas haviam recebido em 1999 e 
haviam reestruturado grande parte do restante27. Em muitos casos, as AMCs haviam assumido o 
controle dos ativos que estavam por trás dos NPLs, seja vendendo-os para fazer caixa, seja 
convertendo-os em empreendimentos mais lucrativos28. Como conseqüência destas medidas, 
associadas a análises normativas cada vez mais minuciosas e revisões mais rígidas de novos 
empréstimos, os lucros operacionais nos principais bancos haviam começado a subir: em 2004, tanto 
o Banco da China como o Banco para Construção da China haviam aumentado seus lucros em 15% e 
visto suas proporções de NPLs declinarem, respectivamente, para 5% e 3,9%29. A maioria destes NPLs 
foi resultado de novos empréstimos, oferecidos no período entre 1999 e 2004. 
Mesmo assim, o mercado que a China estava construindo ainda não se assemelhava a seus 
equivalentes ocidentais. Embora uma das metas da reforma bancária fosse vender ações dos bancos 
saneados para investidores estratégicos e, particularmente, para estrangeiros, os avanços neste 
sentido foram mínimos. As AMCs ainda eram de propriedade total do Estado e a participação 
estrangeira no setor bancário, através do crescimento, era mínima30. As cooperativas rurais 
permaneciam afundadas em dívidas e muitas das SOEs não mostravam nenhum sinal de progresso 
lento, muito menos de rápida transição, para o mercado. Entretanto, funcionários do governo chinês, 
insistiam que esta reforma lenta, porém estável, era o único caminho a seguir. “O segredo todo”, 
afirmou um destes funcionários ao CBRC, “está em atingir um equilíbrio adequado”31. 
Valorizando o Iuane 
Um segundo problema da liberalização financeira dizia respeito ao iuane, ainda atrelado 
firmemente ao dólar americano. Desde 2003, o governo dos EUA reclamava veementemente em 
relação a este atrelamento, argumentando que a moeda da China estava subvalorizada em cerca de 
30% a 35% e que esta subvalorização estava contribuindo para o crescente superávit no balanço de 
pagamentos da China em relação aos Estados Unidos32. Funcionários do governo norte-americano 
também afirmavam que a entrada da China, em 2001, na Organização Mundial do Comércio, 
significava que o país não poderia usar mais sua moeda como instrumento de política comercial: em Do
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vez disso, como uma das principais nações dedicadas ao comércio internacional, ela precisava 
eliminar este atrelamento ao longo do tempo e permitir que o iuane flutuasse. 
A China, entretanto, não demonstrou o mínimo interesse em adotar esta prática. Ao contrário, os 
funcionários do governo chinês sustentavam que um iuane fixo era crucial para o crescimento e a 
estabilidade econômica da China e que ele oferecia às firmas nativas uma de suas poucas vantagens 
internacionais. Ou como explicara o Premier Wen Jiabao, a China migraria para um regime cambial 
flutuante baseado nos “princípios da iniciativa independente, controlabilidade e avanço gradual para 
determinar, de forma independente, a modalidade, o conteúdo e o momento oportuno para execução 
da reforma de acordo com as necessidades da China em termos de reformas e desenvolvimento”33. 
Funcionários do governo também observaram que os Estados Unidos não se encontravam realmente 
numa posição confortável para fazer tais exigências. A partir de 2004,a China tinha US$ 174,4 bilhões 
em Obrigações do Tesouro americano e um total em reservas cambiais de US$ 609,9 bilhões34. 
Conseqüentemente, uma disputa em relação a moedas claramente não era conveniente agora para os 
Estados Unidos. 
Não obstante, no terceiro trimestre de 2005 os chineses fizeram uma pequena concessão. Eles 
permitiram que o iuane flutuasse por um breve período e então o atrelaram novamente ao dólar num 
patamar de 8,11 iuanes para cada dólar, um pequeno, porém perceptível, aumento de 2,1%.35 
Funcionários do governo chinês descreveram esta medida como um experimento bem-sucedido, um 
passo, mais uma vez, em seu lento, porém estável, avanço no sentido da liberalização financeira. 
Porém, a administração Bush era mais circunspecta. “Nossos pontos de vista em relação a este 
assunto já são de pleno conhecimento de todos”, disse o Secretário do Tesouro, John Snow, durante 
sua visita a Beijing em outubro de 2005. “A China, bem como a economia global, se beneficiarão de 
uma flexibilidade monetária maior”36. 
Lidando com a Desigualdade 
Se os líderes chineses estavam relativamente indiferentes em relação à política cambial de seu 
país, estavam extremamente preocupados em relação à crescente questão da desigualdade, em 2005, e 
à extensão com que os ganhos do desenvolvimento não eram mais distribuídos de forma uniforme. 
Na década de 1970, quando se iniciou a reforma, o coeficiente de Gini da China se encontrava, 
geralmente, na faixa de 0,21–0,2437. Neste período, a China era um país muito pobre (o consumo per 
capita era, em 1970, apenas US$ 70), mas também um país relativamente sem diferenças. Parte desta 
igualdade era natural — resultado, em grande parte, da agricultura em pequena escala realizada sob 
condições austeras. Mas isto era reflexo, em grande parte, da imposição da ideologia dominante do 
Maoísmo, uma ideologia que pregava a igualdade acima de tudo e de um regime que praticava — 
muitas vezes de forma severa — aquilo que pregava. 
Entretanto, por volta de 2005, três décadas de crescimento muito intenso haviam erodido a 
igualdade que uma vez prevalecera. O coeficiente de Gini do país oscilava entre 0,4 e 0,5 e pequenos 
segmentos da pobreza rural estavam, pela primeira vez em 30 anos, passando por um declínio real 
em sua renda38. 
Em outras circunstâncias, estas disparidades não teriam um aspecto extraordinário nem 
preocupante. De fato, diferenças de renda cada vez maiores eram uma conseqüência conhecida que Do
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vinha com o crescimento econômico e haviam surgido de forma semelhante em países como Coréia e 
Taiwan durante o período em que passaram por suas próprias fases de desenvolvimento. Na China, 
entretanto, a persistência do comunismo tornou particularmente difícil a justificativa de tais 
diferenças. A China, afinal de contas, ainda era dirigida pelo Partido Comunista e ainda estava 
comprometida — pelo menos teoricamente — com a criação de um estado socialista que, nas palavras 
do Presidente Hu Jintao, “integra[va] os princípios fundamentais do Marxismo às práticas concretas 
de nosso país e aos tempos de hoje”39. Enquanto isso, a estrutura política do comunismo na China 
também dificultou a correção destas diferenças. Isto porque embora o poder ainda emanasse irrestrito 
do governo central, o verdadeiro conteúdo deste poder muitas vezes estava gravemente 
comprometido quando chegava à população pobre rural. 
Durante as celebrações do Ano Novo de 2004, tanto o Presidente Hu como o Premier Wen Jiabao 
fizeram questão de serem mostrados comendo bolinhos de massa junto com os camponeses. Em 
seguida, eles anunciaram a abolição de impostos agrícolas bem como de todas as sobretaxas para os 
pequenos agricultores. Teoricamente, isto deveria servir para redistribuir a renda, se afastando das 
regiões mais ricas e industrializadas da China e indo em direção às regiões mais pobres do interior. 
Na prática, porém, o efeito teve intensidade consideravelmente menor. As comunidades rurais 
perderam sua principal fonte de renda e, necessitadas de dinheiro, fizeram cortes nas despesas com 
serviços tradicionalmente fornecidos a seus participantes. Tentativas para corrigir estes desequilíbrios 
através de transferências de renda muitas vezes se mostraram ineficazes também, já que os 
funcionários do governo local poderiam facilmente redirecionar estes pagamentos para fins 
próprios40. 
Em 2005, portanto, as autoridades do governo central em Beijing estavam determinadas em 
enfrentar o problema da desigualdade com instrumentos mais potentes. Elas pretendiam oferecer um 
subsídio que garantisse um padrão de vida mínimo para cidadãos de baixa renda vivendo em 
cidades e criar seguro-desemprego para certas categorias de trabalhadores. Elas pretendiam criar 
programas de seguro-saúde e de pensão bem como revitalizar o antiquado sistema previdenciário do 
país41. 
A eficácia destas medidas, entretanto, ainda estava por ser comprovada. O Partido Comunista não 
estava disposto a desacelerar o crescimento para corrigir a desigualdade como também não estava 
disposto a deixar que o equilíbrio fosse alcançado naturalmente através das forças de mercado. Ele 
dependia de funcionários do governo local para implementar suas políticas, mas estavam receosos de 
ceder demasiado poder a estes funcionários, com medo que eles começassem a minar 
progressivamente a cuidadosa estratégia de reforma de Beijing que emanava do poder central para só 
depois chegar aos níveis hierárquicos mais baixos. Os responsáveis pela formulação de políticas da 
China também não estavam dispostos a eliminar o infame sistema hukou chinês, que ditava onde os 
trabalhadores poderiam residir legalmente. A mobilidade ocupacional não era afetada de forma 
grave, porém, muitos migrantes ilegais, em conseqüência de sua migração, eram inelegíveis para a 
assistência social. 
O resultado final destas tensões era previsível: revoltas esporádicas, disseminadas por toda a 
China no início do século XXI. Somente em 2004, foram relatados 74.000 incidentes42. Protestos 
referentes à ocupação ilegal de terras foram particularmente graves em 2005, inclusive manifestações 
violentas na província de Hebei (na China central) e em Guangdong (nas proximidades de Hong 
Kong)43. Cada um destes incidentes foi, por si só, relativamente sem importância. Juntos, entretanto, 
sugeriam um nível crescente de insatisfação popular na China e uma ameaça — muito embora ainda 
distante — de instabilidade política. Do
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Os líderes do país estavam cientes desta ameaça e totalmente comprometidos para evitá-la através 
de quaisquer meios. Mas estes meios, novamente, não estavam totalmente claros. Se a China quisesse 
realmente atacar o problema da desigualdade, teria que se engajar num programa de distribuição 
gigantesco, construindo uma infra-estrutura administrativa ao longo do caminho e, quase que 
certamente, desacelerando o ritmo de crescimento no processo. Se ela, ao contrário, quisesse 
estimular o crescimento contínuo e gerar os milhões de novos empregos que o país necessitava a cada 
ano, teria que continuar a seguir em direção à economia de mercado e aceitar as desigualdades que 
provavelmente este movimento iria perpetuar. No passado, a Chinahavia equilibrado estas pressões 
através de uma estratégia excepcionalmente cuidadosa de reforma controlada, conduzida e 
monitorada pela autoridade incontestada do Partido Comunista Chinês. Poderia uma estratégia 
destas sobreviver às fases finais da reforma de mercado? Ou, no final das contas, a China precisaria 
de uma democracia para fazer com que seu mercado funcionasse? 
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Quadro 1 Mapa da China 
 
Fonte: Universidade do Texas, Biblioteca Perry-Castañeda. 
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Quadro 2 Posição ocupada pela China entre os Países em Desenvolvimento 
 Investimento em termos de % 
do PIB 
Comércio Exterior em termos de % 
do PIBa 
Dívida Externa em termos de % do 
PIB 
 1985 1995 2005b 1985 1995 2005b 1985 1995 2005b 
Argentina 17 18 21 9 10 23 57 38 78 
Brasil 19 21 20 10 9 14 46 23 28 
Chile 17 25 23 27 28 37 124 31 41 
China 30 35 44 11 20 39 6 17 13 
Colômbia 18 23 20 13 18 22 41 27 27 
Egito 28 16 16 23 26 29 151 53 37 
Índia 21 24 25 7 12 18 18 27 16 
Indonésia 20 26 21 20 25 32 38 56 52 
Korea 29 37 31 32 29 42 57 18 19 
Malásia 30 44 21 52 96 115 65 39 40 
México NA 16 21 29 32 50 58 19 
Nigéria 10 16 24 14 43 50 23 142 39 
Paquistão 19b 19 b 15 14 15 18 36 41 36 
Filipinas 18 22 16 23 40 48 87 53 69 
Taiwan 19 25 22 47 47 60 13 10 23 
Tailândia 27 41 31 25 45 72 45 60 29 
Turquia NA 24 19 NA 22 30 NA 44 46 
Venezuela 18 17 20 21 24 30 59 46 30 
Fonte: Compilado a partir de Dados de Países da Economist Intelligence Unit, http://www.eiu.com, janeiro de 2006. 
a Média das exportações e importações. 
bEstimado. 
 
Quadro 3 Principais Indicadores Macroeconômicos, 1980–2004 
 1980 1985 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004 
Taxa de inflação (%) NA NA 3,1 17,1 0,3 0,7 -0,8 1,2 3,9 
Taxa de juros sobre empréstimos (%) 5,0 7,9 9,4 12,1 5,8 5,8 5,3 5,3 5,6 
Taxa de juros sobre depósitos (%) 5,4 7,2 8,6 11,0 2,3 2,3 2,0 2,0 2,3 
Oferta monetária (M1, bilhões de 
RMB [Rennimbi iuanes]) 
114,9 301,7 701,0 2.308,3 5,454.1 6.168,9 7.266,5 8.644,9 9.930,6 
Índice de poupança nacional (%) 32,4 35,9 39,0 40,8 37,6 37,8 39,1 41,9 44,5 
Índice de desemprego (%) 4,9 1,8 2,5 2,9 3,1 3,6 4,0 4,3 4,2 
Fonte: Dados de Países da Economist Intelligence Unit, http://www.eiu.com, acessado em fevereiro de 2006; Indicadores de 
Desenvolvimento Mundial do Banco Mundial; Asian Development Bank, Key Indicators 2005. 
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Quadro 4A Contas da Renda Nacional da China: Produto Interno Bruto, 1980–2004 (em bilhões de 
RMB, preços constantes [1990]) 
 1980 1984 1988 1992 1996 2000 2001 2002 2003 2004 
Consumo do Governo 93,6 143,6 199,6 305,2 395,3 583,5 645,0 690,2 728,4 773,6 
Consumo Privadoa 412,9 605,4 861,2 1.220,6 1.843,3 2.499,0 2.569,2 2.665,6 2.654,7 2.899,2 
Investimento interno bruto 281,7 391,9 666,6 787,2 1.416,9 1.764,3 2.009,8 2.277,2 2.735,6 3.107,7 
Exportações 106,3 158,7 233,7 408,9 614,6 1.216,6 1.333,7 1.726,0 2.188,2 2.748,2 
Importações 131,3 180,5 244,6 408,9 690,0 1.206,6 1.336,6 1.704,5 2.126,6 2.761,3 
PIB 763,2 1.119,1 1.716,5 2.313,0 3.580,1 4.856,8 5.221,1 5.654,4 6.180,3 6.767,4 
PIB (em bilhões de US$ 2006) 188,2 256,1 307,2 418,2 816,5 1.080,7 1.175,7 1.270,7 1.416,6 1.649,3 
Fonte: Banco de dados de Indicadores de Desenvolvimento Mundial do Banco Mundial, janeiro de 2006; Dados de Países da 
Economist Intelligence Unit, http://www.eiu.com, janeiro de 2006. 
a No ano 2000, o Banco Mundial modificou seu método para informar o consumo privado para justificar discrepâncias 
estatísticas no uso de recursos relativos ao fornecimento de recursos. Os números referentes a consumo privado para 
o período 1980–1996 e para o ano de 2004 são estimados para manter a consistência. 
 
Quadro 4B Contas da Renda Nacional da China: Produto Interno Bruto, 1980–2004 (em bilhões de 
RMB, preços correntes) 
 1980 1984 1988 1992 1996 2000 2001 2002 2003 2004 
Consumo do Governo 65,9 102,0 172,7 349,2 785,2 1.170,5 1.302,9 1.391,7 1.480,8 1.644,5 
Consumo Privado 231,7 367,5 763,3 1.246,0 3.215,2 4.289,6 4.589,8 4.888,2 5.268,6 5.899,5 
Investimento doméstico bruto 131,8 212,6 462,4 831,7 2.333,6 3.262,4 3.681,3 4.191,8 5.130,4 6.235,1 
Exportações 27,1 58,1 176,7 467,6 1.257,6 2.063,4 2.202,4 2.694,8 3.628,8 4.910,3 
Importações 29,9 62,1 205,5 444,3 1.155,7 1.863,9 2.015,9 2.443,0 3.419,6 4.643,6 
PIB 426,6 678,1 1.369,6 2.450,2 6.435,9 8.922,0 9.760,5 10.723,5 12.089,0 14.045,8 
Fonte: China Statistical Yearbook, 2005; China External Economic Statistical Yearbook, 2004. 
 
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Quadro 5 Riqueza, Tamanho e Crescimento Comparativos de Mercados Regionais Selecionados da 
China, 2004 
 Renda per Capita Familiar 
Anual (US$) 
Crescimento Anual Médio 
do PNB (2000–04) 
População 
(milhões) 
Cidade de Shanghai 2.234,50 11,5% 13,5 
Cidade de Beijing 2.067,21 12,8 11,6 
Província de Zhejiang 1.918,07 14,4 45,7 
Província de Guangdong 1.805,96 11,9 77,6 
Cidade de Tianjin 1.483,06 13,5 9,4 
Província de Liaoning 1.051,50 9,1 41,1 
Província de Guizhou 908,06 11,1 39,0 
Fonte: China Statistical Yearbook, 2005. 
 
 
Quadro 6 Emprego por Setor, 1978–2004 (em termos de % do total) 
 1978 1980 1985 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004 
Total de empregos (milhões) 401,5 423,6 498,7 647,5 680,7 720,9 730,3 737,4 744,3 752,0 
Agricultura 70,5% 68,7% 62,4% 60,1% 52,2% 50,0% 50,0% 50,0% 49,1% 46,9% 
Indústria 17,3 18,2 20,8 21,4 23,0 22,5 22,3 21,4 21,6 22,5 
Serviços 12,2 13,1 16,8 18,5 24,8 27,5 27,7 28,6 29,3 30,6 
Fonte: China Statistical Yearbook, vários anos. 
 
 
Quadro 7 Valor Agregado por Setor, 1978–2004 (em termos de % do PIB) 
 1978 1980 1985 1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004 
Agricultura 28,1 30,1 28,4 27,0 20,5 16,4 15,8 15,4 14,6 14,6 
Indústria 48,2 48,5 43,1 41,6 48,8 50,2 50,1 51,1 52,3 50,8 
Serviços 23,7 21,4 28,5 31,3 30,7 33,4 34,1 33,5 33,1 34,5 
Fonte: China Statistical Yearbook, 2005. 
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Quadro 8 Estrutura do Gasto Público na China, 1980–2004 (em termos de % do gasto público total) 
 1980 1985 1990 1995 1999 2000 2001 2002 2003 2004 
Administração pública 6,1 8,5 13,4 14,6 15,3 17,4 18,6 18,6 19,0 19,4 
Defesa Nacional 15,8 9,6 9,4 9,3 8,2 7,6 7,6 7,7 7,7 7,7 
Cultura, educação,

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