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ESTUDOS DESCRITIVOS José Leopoldo Ferreira Antunes leopoldo@usp.br Algoritmo para a classificação dos tipos de pesquisa D. A. Grimes K. F. Schulz Dados agregados Tipos principais de desenhos de estudo Estudos Epidemiológicos Não Experimental Experimental Dados individuais Ensaio clínico randomizado Quase experimento Descritivo Descritivo Analítico Analítico Correlação ecológica Estudo transversal Estudo de coorte Estudo caso – controle Exemplo clássico de estudo descritivo: Pesquisa de Goldberger sobre a pelagra verificou que a doença era mais comum em internos de asilo do que nas enfermarias, onde todos compartilhavam o mesmo ambiente, exceto o tipo de comida. Goldberger J. The etiology of pellagra: the significance of certain epidemiological observations with respect thereto. Public Health Reports 1914; 29:1683-752. Com base nestes resultados, Goldberger formulou hipóteses: era pouco provável que a doença fosse infecciosa, sua etiologia provavelmente seria devida a algum fator da dieta. Então: Goldberger fez um estudo analítico, que demonstrou como causa da pelagra a deficiência de ácido nicotínico, parte do complexo vitamínico B. ESTUDOS TRANSVERSAIS Estudos que examinam a relação entre doenças (ou outras características relacionadas à saúde) e outras variáveis de interesse, como elas se apresentam na população em um momento particular. Estudos que examinam a relação entre saúde e outras variáveis de interesse num momento em particular, sem consideração para condições passadas. Também são conhecidos como estudos de prevalência. Porta M. A Dictionary of Epidemiology, 5th New York: OUP, 2008. Last J. A Dictionary of Public Health. New York: OUP, 2007. John Last Miquel Porta 1) Fornecem informações importantes para alocar recursos financeiros de modo eficiente e para planejar programas de intervenção ou de educação em saúde. 2) Também geram hipóteses sobre os determinantes das doenças. Estas hipóteses devem ser testadas em estudos analíticos. Estudos em que a exposição e a doença são investigadas simultaneamente. • Não é possível equacionar a relação temporal entre os eventos (exposição e doença). • São úteis para sugerir a presença de associação. E D E D N E D E D ED Vantagens: - Têm baixo custo, são simples e rápidos, pois não requerem acompanhamento ao longo do tempo. - Ninguém é exposto a agente causal devido ao estudo; a ninguém é negado uma intervenção com benefício potencial. Desvantagens: - Não se prestam a determinar relação causal entre fatores de exposição e doença. - Não permitem um controle efetivo dos fatores de confusão. - Os grupos de estudo podem ter tamanhos amostrais muito diferentes, resultando em perda da eficiência da análise estatística. Tipos de dados e análise: Mede a prevalência; não mede a incidência. Para poder generalizar, é necessário assumir que a amostra é representativa da população, e que a população é estável ao longo do tempo. Exemplo: Estudo associando câncer e níveis baixos de beta caroteno (precursor de vitamina A), com controle para idade e sexo. Exemplo: Estudo associando câncer e níveis baixos de beta caroteno (precursor de vitamina A), com controle para idade e sexo. Não é possível pelo estudo de prevalência distinguir direção dos eventos: • A exposição (níveis baixos de beta caroteno) pode ocorrer antes do aparecimento da doença, sugerindo contribuição etiológica. • A exposição pode ser resultado da doença, como conseqüência da debilitação geral causada pelo câncer ou por mudança da dieta associada ao tratamento. A. J. L. A. Cunha ESTUDOS ECOLÓGICOS Estudos nos quais a unidade de análise são populações ou grupos de pessoas, em vez de indivíduos; por exemplo, o estudo de associação entre distribuição de renda e taxas de mortalidade em estados ou províncias. Investigações nas quais os grupos de população, em vez dos indivíduos, são a unidade de estudo. Em geral, visam identificar e explicar a associação entre os grupos e seu meio ambiente. Porta M. A Dictionary of Epidemiology, 5th New York: OUP, 2008. Last J. A Dictionary of Public Health. New York: OUP, 2007. John Last Miquel Porta %E %E N(1) %D %D %E %E N(2) %D %D ED • Estudos ecológicos: dados referem-se a grupos de pessoas e não a indivíduos. • Muito usados na pesquisa de câncer em que taxas de câncer de diferentes órgãos são examinadas por áreas geográficas (distrito, cidade, estado, país). • Útil para testar plausibilidade de novas hipóteses ou gerar novas hipóteses. • Resultados interessantes devem ser avaliados em outros estudos com dados individuais. • Pode avaliar eficácia de intervenção. Vantagens: • Barato e rápido: – trabalha com dados secundários (já publicados ou que alguém coletou) SIA-SUS: Sistema de Informações Ambulatoriais SIH-SUS: Sistema de Informações Hospitalares SIAB: Sistema de Informações da Atenção Básica Doenças de Notificação Compulsória Registros de Câncer de Base Populacional Registros de Câncer de Base Hospitalar SIM: Sistema de Informações de Mortalidade SINASC: Sistema de Informações sobre Nascimentos PNAD: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios DATASUS; IBGE; SEADE; PRO-AIM; etc. Desvantagens: • Informações sobre comportamentos, ati- tudes e história clínica não geram registros e não são disponíveis em nível populacional. • Não se leva em conta a variabilidade da característica estudada dentro do grupo. • Sabe-se quantas pessoas foram expostas em cada grupo e quantas tiveram a doença, mas não quantas expostas tiveram a doença. • Correlações encontradas em geral são maiores do que em estudos em que ambas as variáveis (exposição e doença) são medidas no mesmo indivíduo. Problemas metodológicos: • Falácia ecológica: – conclusão errada pode ser obtida quando se infere comportamento ou experiência de indivíduos a partir de comportamento ou experiência de grupos. • Não se presta à determinação de relações temporais entre causa e efeito. • Não se presta ao controle de migração e deslocamentos entre grupos (por exemplo, quem mora em uma área e trabalha em outra). • Nem todas as informações relevantes podem ser levantadas. Antunes JLF, Borrell C, Pérez G, Boing AF, Victor Wünsch-Filho V. Inequalities in mortality of men by oral and pharyngeal cancer in Barcelona, Spain and São Paulo, Brazil, 1995–2003. Int J Equity Health 2008, 7:14. A. F. Boing A n tu n es J L F , B o rr el l C , P ér ez G , B o in g A F , W ü n sc h - F il h o V . In eq u a li ti es in m o rt a li ty o f m en b y o ra l a n d p h a ry n g ea l ca n ce r in B a rc el o n a , S p a in a n d S ã o P a u lo , B ra zi l, 1 9 9 5 – 2 0 0 3 . In t J E q u it y H ea lt h 2 0 0 8 , 7 :1 4 . A.F. Boing Antunes JLF, Borrell C, Pérez G, Boing AF, Wünsch-Filho V. Inequalities in mortality of men by oral and pharyngeal cancer in Barcelona, Spain and São Paulo, Brazil, 1995– 2003. Int J Equity Health 2008, 7:14. A. F. Boing Antunes JLF, Toporcov TN, Biazevic MGH, Boing AF, Bastos JLD. Gender and racial inequalities in oral cancer in São Paulo, Brazil, 2003-2009. InTech Project. Morgenstern H. Ecologic studies in epidemiology: concepts, principles, and methods. Annu Rev Public Health 1995; 16:61-81. Hal Morgenstern Objetivos dos estudos ecológicos: 1. Fazer inferências sobre fatores que afetam a saúde dos indivíduos (riscos individuais). 2. Fazer inferências sobre fatores que afetam a saúde de agregados populacionais (riscos contextuais). Morgenstern H. Ecologic studies in epidemiology: concepts, principles, and methods. Annu Rev Public Health 1995; 16:61-81. Vantagens dos estudos ecológicos: 1. Facilidade operacional para coleta de dados; simplicidade da análise e da apresentação de resultados. 2. Evita o viés de participação e a limitação para a coleta de dados individuais. 3. Interesse em avaliar determinantes contextuais da saúde. 4. É possível avaliar estruturas multiniveis de determinação dos desfechos de saúde. 5. É possível incluir a dimensão temporal nos modelos de análise. Hal Morgenstern Morgenstern H. Ecologic studies in epidemiology: concepts, principles, and methods. Annu Rev Public Health 1995; 16:61-81. Limitações dos estudos ecológicos: 1. Inferência causal é limitada pelo risco de classificação cruzada. 2. Falácia ecológica (correspondência com falácia atomística). 3. Fatores de confusão. 4. Falta de dados adequados. 5. Ambigüidade temporal. 6. Colinearidade. 7. Migração entre os estratos de população. Hal Morgenstern Emile Durkheim Durkheim E. O suicídio. São Paulo: Abril Cultural, 1979. Exemplo famoso de erro associado à falácia ecológica: Comparação de suicídios nos países católicos e protestantes. ESTUDOS ECOLÓGICOS Taxa de mortalidade por causa X • Cidade A: Y • Cidade B: Z • Cidade C: W John Cade (1949) Origem de um estudo ecológico Sais de Lítio PODER SEDATIVO Cade propôs o uso de sais de lítio como medicação para o controle de excitação psicótica Estudos ecológicos Dawson e cols. (1968) DERIVAÇÃO DA HIPÓTESE Sais de lítio teriam a propriedade de controlar estados maníaco-depressivos? Estudos ecológicos Dawson e cols. (1968) DERIVAÇÃO DA HIPÓTESE Se sais de lítio têm a propriedade de controlar a mania, então as internações hospitalares por essa doença devem ser menos frequentes nas regiões onde a água de beber é rica em cátion lítio do que em regiões pobres no referido íon. hipótese Sais de lítio teriam a propriedade de controlar estados maníaco-depressivos? Estudos ecológicos Analisou-se a água de beber (para verificar a concentração de cátion lítio) e foram obtidas informações sobre a prevalência de doenças mentais de: 27 cidades Dawson e cols. (1968) A PESQUISA Estudos ecológicos Conc. Lítio água de beber Cidades Dawson e cols. (1968) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 Estudos ecológicos Conc. Lítio água de beber Cidades Internações hospitalares por psicose maníaco-depressiva Dawson e cols. (1968) O RESULTADO DA PESQUISA 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 Estudos ecológicos O estudo ecológico é o desenho apropriado em determinadas situações Quando o nível da inferência de interesse está na população • Disponibilidade de alimentos • Desigualdades socioeconômicas e saúde • Efeitos de uma intervenção de âmbito coletivo Ex.:aumento do imposto na venda de cigarros Quando a variabilidade da exposição dentro da população é baixa e entre populações é alta • Ingestão de sal e hipertensão • Ingestão de gordura e câncer de mama Estudos ecológicos Tipos de variáveis: 1. Medidas agregadas: sintetizam características individuais dentro de cada grupo proporção de fumantes, taxa de incidência de uma doença, renda familiar média 2. Medidas ambientais: características físicas do ambiente, nível de poluição do ar, qualidade da água, nível de radiação solar 3. Medidas globais: atributos de grupos, organizações ou lugares sem análogo no nível individual densidade demográfica, nível de desigualdade social, existência de determinado tipo de sistema de saúde Estudos ecológicos Vantagens: Baixo custo e execução rápida, devido às fontes de dados secundários disponíveis Conseguem estimar bem os efeitos de uma exposição quando ela varia pouco na área de estudo, pela comparação entre áreas (os estudos individuais não conseguem) Existem efeitos que somente podem ser medidos no nível ecológico, por exemplo: implantação de um novo sistema de saúde Estudos ecológicos Desvantagens: • Informações sobre comportamento, atitudes e história clínica não estão disponíveis. • Não se leva em conta a variabilidade da característica estudada dentro do grupo. Estudos ecológicos Desvantagens: •Difícil estabelecer temporalidade entre causa e efeito. •Migração entre grupos (por exemplo: mora em uma área e trabalha em outra). •Falta de informação relevante Estudos ecológicos Falácia ecológica ou viés de agregação: “Viés que pode ocorrer porque uma associação entre duas variáveis no nível agregado não necessariamente representa uma associação no nível individual” Estudos ecológicos Falácia ecológica ou viés de agregação: “Conclusão errada obtida quando se infere comportamento ou experiência de indivíduos a partir de comportamento ou experiência de grupos” 1. Quais os usos de um estudo transversal? 2. O que diferencia um estudo ecológico de um estudo transversal? 3. Quais as vantagens e limitações de um estudo ecológico? 4. Quais as vantagens e limitações de um estudo transversal? 5. Qual o cuidado para se usar os resultados de um estudo ecológico?
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