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TGE e Ciência Política - 1.º Período 1.º semestre/2016 Prof.ª Rachel Távora Unidade II – Estado e Constituição 1 - Introdução: Na história de todas as sociedades, chegou um momento em que os homens sentiram o desejo vago e indeterminado, de um bem que ultrapassasse o seu bem particular e imediato e que ao mesmo tempo, fosse capaz de garanti-los e promove-los. Esse bem é o bem comum ou bem público, e consiste num regime de ordem, de coordenação e esforços e intercooperação organizada. Por isso homem se deu conta de que o meio de realizar tal regime era a reunião de todos em um grupo específico, tendo por finalidade o bem público. Com exceção da família, que pelo nascimento o homem forçosamente pertence, mas de cuja tutela se liberta com a maioridade, em todas as outras sociedades o homem ingressa e se retira quando quiser. Da tutela do Estado, porém, o homem não se emancipa. O Estado envolve o homem antes do seu nascimento, com a proteção dos direitos do nascituro, e se prolonga até depois de sua morte, na execução de suas últimas vontades. O Estado é o depositário da vontade social e fixa a situação de todas as outras organizações. “Todas as demais sociedades têm a organização e a atividade regulados pelo Estado, que pode suprimi-las ou favorecê-las. Nenhuma delas têm poder direto sobre o indivíduo e só conseguem dele o cumprimento das obrigações assumidas se o Estado as reconhece, e somente o Estado possui legitimamente força para tornar efetiva a obediência.” (Darcy Azambuja) Se o indivíduo não cumpre as normas da Igreja a que pertence, fica sujeito a certas conseqüências de natureza moral, se dela se retira, pode sofrer perda de estima de certas pessoas, ou excomunhão, mas nenhuma outra coação efetiva o atinge. Se o indivíduo não cumpre as normas do Estado, ele fica sujeito a uma sanção. Ninguém pode se furtar às decisões do Estado senão a preço de uma penalidade. O Estado é a sociedade política que se distingue de todas as outras formas de sociedade pelo seu caráter obrigatório. De todas as outras o indivíduo se emancipa, necessária e espontaneamente. Do Estado ele não se pode libertar. Em qualquer momento da existência e em qualquer ponto da terra em que se encontre, o homem está sujeito à soberania do Estado, e se foge à soberania de um, é para cair sob o poder e outro Estado. Sob esse aspecto, o Estado aparece aos indivíduos como poder de mando, como governo, como dominação. Suas decisões obrigam a todos que habitam seu território. O Estado procede desta forma para realizar o bem público, por isso e para isso tem autoridade (direito de mandar e ser obedecido) e dispõe de poder (é a força por meio da qual se obriga alguém a obedecer), cuja manifestação concreta é a força. 2 - Conceito de Estado A primeira observação que fazemos é que a palavra Estado, no Brasil, é mais usada para representar uma das unidades da Federação. Chamamos de país o Brasil, e de estados as unidades federadas, Minas Gerais, Rio de Janeiro, etc. Portanto, quando mencionamos a palavra Estado, estaremos falando de uma unidade do mundo político com personalidade de direito público internacional. O Estado apresenta-se como uma forma histórica de organização jurídica de poder peculiar às sociedades civilizadas, que sucede a outras formas de organização política. Como ordenamento democrático, funda-se no reconhecimento da: dignidade da pessoa humana; inviolabilidade dos direitos; livre desenvolvimento da personalidade humana. Citamos vários conceitos de Estado: Kant caracteriza o Estado como a reunião de uma multidão de homens vivendo sob as leis do direito. Jellinek apresenta o Estado juridicamente como a corporação de um povo, assente em um determinado território e dotada de um poder originário de mando. Kelsen sintetiza o conceito de Estado: ordem coativa normativa da conduta humana. O Estado é uma sociedade politicamente organizada porque é uma comunidade constituída por uma ordem coercitiva, e essa ordem coercitiva é o direito. Carré de Malberg observa o Estado como uma comunidade de homens fixada sobre um território próprio e dotada de uma organização de onde emana para certo grupo estabelecido na relação com os seus membros, um poder superior de ação, mando e de coerção. Burdeau entende o Estado como institucionalização do poder. Heller afirma que o Estado é uma unidade de dominação territorial soberana, diferenciando-se dos demais grupos territoriais de dominação por seu caráter de unidade soberana de ação e decisão. O Estado sobrepõe-se às demais unidades do poder existentes em seu território pelo fato de poderem os órgãos estatais capacitados reclamar, com êxito normal, a aplicação, a eles exclusivamente reservada, do poder físico coativo. Dallari analisa o aparato estatal como ordem jurídica soberana que visa o bem comum de um povo situado em determinado território. Para Vedel, o Estado se caracteriza pelo fato de seus governantes deterem o monopólio da força armada e se submeterem aos mecanismos da institucionalização do poder. Vergottini assinala que o Estado, segundo a doutrina dominante, é um ente independente, compreendendo necessariamente a população estabilizada sobre certo território, estando dotado de uma estrutura de governo e respaldado em um complexo homogêneo e auto-suficiente de normas que disciplinam a sociedade e a sua estrutura organizativa. 3- Finalidade do Estado O fim do Estado é o bem comum, ou seja, o conjunto de todas as condições de vida social que consintam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana de um certo povo situado em determinado território. 4 - Objetivo O objetivo do Estado é o desenvolvimento integral da personalidade dos integrantes desse povo, assim, cada Estado tem uma concepção particular de bem comum, em função das peculiaridades de cada povo. 5 - Estado x Nação O conceito de nação apareceu como símbolo da unidade popular com a intenção de obter a adesão do povo por via emocional, à luta contra o absolutismo e ainda de institucionalizar as lideranças. Este conceito (nação) foi uma criação artificial, que foi largamente explorado, no século XVIII, para levar a burguesia economicamente poderosa, à conquista do poder político. Lutava-se contra a monarquia absoluta em nome da nação, dando-se a entender que era justo e necessário que o povo assumisse seu próprio governo. Com as Revoluções Francesa e Americana a nação passa a ser identificada com o próprio Estado, uma vez que o conceito de Estado era de difícil compreensão pelo povo, por ser um conceito científico muito elaborado, enquanto o termo nação, muito vago, e já utilizado com êxito como símbolo de reivindicações populares, era mais eficiente para despertar reações emocionais. Foi assim que, resolvido o problema interno com a derrubada ou enfraquecimento das monarquias absolutas, os novos governantes dos grandes Estados passaram a utilizar a força a expressão “nação” para justificar as tentativas de conquista dos pequenos Estados. No século XIX, houve uma grande corrida imperialista, voltada especialmente contra os territórios da África e da Ásia, em nome da grandeza das nações. No século XX, explorou-se os chamados sentimentos nacionais com grandes e trágicas conseqüências, nas duas guerras mundiais, baseadas, em parte, no pretexto de reunir os componentes da mesma Nação em uma só unidade política, e no desejo de afirmar a existência de Nações superiores. O conceito de nação, surgido como artifício para envolver o povo em conflitos de interesses alheios, nunca teve significação jurídica, não indicando a existência de um vínculo jurídico entre seus componentes.O Estado é considerado uma sociedade e a nação uma comunidade. As sociedades se formam por ato de vontade não exigindo que os seus membros tenham afinidades espirituais ou psicológicas. É possível que pessoas culturalmente diferentes se unam para atingir um objetivo comum e criem uma sociedade, ligando-se reciprocamente por laços jurídicos, atingindo a finalidade desejada sem que desapareçam as diferenças culturais. A comunidade, por sua vez se forma independente da vontade, são criados vínculos sentimentais de forma gradativa e uma vez conscientes deste fato, as pessoas passam a agir de maneira a fortalecer cada vez mais a união, podendo haver inclusive a participação da vontade, mas depois que a comunidade já existe. Nada impede que os membros de uma comunidade resolvam compor uma sociedade para atingir certo objetivo, mas mesmo isso ocorrendo, continuam a ter existência distinta a comunidade e a sociedade, não se transformando uma na outra. Pode ocorrer o sentido inverso, que os membros de uma sociedade, por força de uma convivência prolongada acabem por reduzir e/ou eliminar suas diferenças de sentimentos, criando-se uma comunidade. Tal ocorrência é muito mais difícil e também, neste caso, não há transformação de uma para outra forma de convivência, pois elas existem em planos diversos e têm natureza essencialmente diferente. A coincidência entre Estado e nação vai se tornando cada vez mais rara à medida que aumentam as facilidades de comunicação e a mobilidade dos indivíduos de Estados distintos. O exame superficial dos componentes de qualquer Estado Contemporâneo (com algumas exceções de Estados minúsculos) revela que a regra é o plurinacionalismo, ou seja, em cada povo há indivíduos pertencentes a várias nações. Esse plurinacionalismo influencia a organização do Estado que procura a unidade jurídica respeitando os valores fundamentais do homem devendo, assim, conciliar a igualdade jurídica e a diversidade cultural. Para obter maior integração de seu povo e reduzir as causas de conflitos, os Estados procuram criar uma imagem nacional simbólica e de efeitos emocionais, a fim de que os componentes da sociedade política se sintam mais solidários. 6 - Elementos constitutivos do Estado A TGE tem distinguido três elementos constitutivos do Estado: a população ou povo, o território e a soberania ou poder. É extremamente difundida na literatura jurídica, particularmente nos manuais, a noção de que o Estado é composto por “elementos”. Tais classificações e conceitos possibilitam, de forma didática, a descrição e compreensão da realidade estatal, a qual deve ser observada como uma comunidade de indivíduos, tornados cidadãos, estabelecida em determinado território e com poder político capaz de impor-se a todos os membros dessa comunidade. Há inclusive, certa divergência quanto a quais seriam esses elementos. A maioria dos autores opta por três elementos: povo e território, quase que unanimemente, variando quanto ao terceiro elemento: são citados soberania, governo, poder soberano, poder estatal. Não parece significativa a divergência já que todos os conceitos se referem a uma mesma realidade. Na doutrina luso-brasileira, Jorge Miranda considera o Estado contemporâneo, definido através de três elementos ou condições de existência – povo, território e poder político - como tão-somente um dos tipos possíveis de aparato estatal: o Estado nacional soberano. Dallari acrescenta mais um elemento à concepção clássica de Estado: a finalidade: “O Estado busca o bem comum de certo povo, situado em determinado território”.enumerando quatro elementos do Estado: soberania, território, povo e finalidade. 6.1– O povo O povo é elemento essencial do Estado. É pelo povo que o Estado adquire condições para externar sua vontade. O povo está unido ao Estado por um vínculo jurídico. É unânime a aceitação da necessidade do elemento pessoal para a constituição e a existência do Estado, uma vez que sem ele não é possível haver Estado, e é para ele que o Estado se forma. O povo é o conjunto de indivíduos que se unem para constituir o Estado, estabelecendo com este um vínculo jurídico de caráter permanente, participando da formação da vontade do Estado e do exercício do poder soberano. O vocábulo "povo" deve ser interpretado em dois sentidos: a) jurídico; e b) político. a) sentido jurídico de povo O sentido jurídico de povo é o de um conjunto de pessoas qualificadas pela mesma nacionalidade. Esse conceito exclui, por exemplo, apátridas e estrangeiros. b)sentido político de povo O sentido político de povo é o de um conjunto de cidadãos de determinado Estado. O sentido político de povo é mais restrito, pois, além de excluir apátridas e estrangeiros, exclui indivíduos menores de determinada idade (a de votar), aqueles que têm os direitos políticos cassados, e outros. População O conjunto de todos os indivíduos submetidos em caráter permanente , a uma determinada ordem jurídica”. Compreendidos, portanto, não só os que votam e são votados, mas todos os indivíduos (inclusive menores, incapazes e estrangeiros permanentes) que, com seu trabalho, sua produção, suas manifestações, suas necessidades, suas greves, participam, positivamente ou negativamente, da força do Estado. O conceito de população inclui os estrangeiros vivendo em determinado território, pois envolve a totalidade dos habitantes de determinado território, em um dado momento, independentemente de sua nacionalidade. Nacional – é o brasileiro nato ou naturalizado. Nacionalidade é o vinculo jurídico-político que liga um indivíduo a determinado Estado, fazendo com que esse indivíduo passe a integrar o povo daquele Estado e, por conseqüência, desfrute de direitos e submeta-se a obrigações. A doutrina costuma distinguir a nacionalidade em duas espécies: a) a primária ou originária (involuntária) e b) a secundária ou adquirida (voluntária) A nacionalidade primária é imposta de maneira unilateral, independente da vontade do indivíduo, pelo Estado, no momento do nascimento. Falamos em involuntariedade, pois, de maneira soberana, cada Estado estabelece as regras ou critérios para a outorga da nacionalidade aos que nascerem sob o seu governo. Alguns adotam o critério do Ius sanguinis, ou seja, o que interessa para a aquisição da nacionalidade é o sangue, a filiação, a ascendência, pouco importando o local onde o individuo nasceu. (em geral, este critério é utilizado por países de emigração, a fim de se manter o vínculo com os descendentes, como ocorre com a maioria dos países europeus) Outros adotam o critério do Ius Solis, ou critério da territorialidade, onde o que importa para a aquisição da nacionalidade é o local de nascimento, e não a descendência. (esse critério é normalmente utilizado pelos países de imigração, a fim que os descendentes de imigrantes que venham a nascer no solo do novo pais, sejam nacionais daquele novo país e não do de origem, o que ocorreria se o critério fosse o do sangue.) Brasileiro nato: Como regra geral prevista no art. 12, I da CF, o Brasil, país de Imigração, adotou o critério do Ius solis, ou seja, será brasileiro qualquer pessoa que nascer no território brasileiro, mesmo que seja filho de pais estrangeiros. Esta regra, porém, é atenuada em diversas situações. O art. 12, I traz hipóteses taxativas de previsão de aquisição da nacionalidade Brasileira. Cidadão – é o nacional, nato ou naturalizado que seja titular dos direitos políticos de votar e ser votado. Sufrágio é o direito de votar e ser votado. Voto é o ato por meio do qual se exercita o sufrágio. Capacidade eleitoral ativa: o exercício do sufrágio se dá pelo voto. Capacidade eleitoral passiva: possibilidade de eleger-se concorrendo a um mandato eletivo. Constituição Federal - Art. 12 Título II Dos Direitos e Garantias Fundamentais Capítulo III DaNacionalidade Art. 12. São brasileiros: I - natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; II - naturalizados: a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. § 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição. § 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição. § 3º São privativos de brasileiro nato os cargos: I - de Presidente e Vice-Presidente da República; II - de Presidente da Câmara dos Deputados; III - de Presidente do Senado Federal; IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V - da carreira diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas; VII - de Ministro de Estado da Defesa. § 4º Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. 6.2– O território O território é indispensável para a existência do Estado, com a delimitação territorial, também se estabelece uma determinada ordem de comando – e a este comandar dentro de cada território se deu o nome de soberania interna (que se dirige ao povo, aos cidadãos do Estado em questão) e a soberania externa (endereçada aos outros países – daí a conotação de independência). Porém a soberania interna ou externa só tem sentido se for estabelecida de acordo com a cultura predominante de um povo ou de uma sociedade e, por isso, o povo será o calço desta suposição da soberania: nas democracias populares modernas, chama-se soberania popular (em virtude de seu povo, ou com a adesão da maioria do povo às estruturas do Estado e do poder estabelecido por ele). O território – elemento geográfico A noção de território como componente necessário do Estado só apareceu com o Estado Moderno, embora isso não queira dizer que os Estados anteriores não tivessem território. Não havia, no entanto, a necessidade de uma clara delimitação territorial, pois não havia conflito. A afirmação de soberania sobre determinado território parece, em principio, uma diminuição, pois implica o reconhecimento de que o poder será exercido apenas dentro daqueles limites de espaço. No entanto, foi com essa delimitação que se pôde assegurar a eficácia do poder e a estabilidade da ordem. Com a delimitação territorial, se estabelece uma determinada ordem de comando dentro do território, que se chama soberania: -soberania interna (que se dirige ao povo, aos cidadãos do Estado em questão) -soberania externa (endereçada aos outros países – daí a conotação de independência). Conceito: O território é o palco, “é a base física e geográfica do Estado”, como diz Kelsen O território é parte do globo terrestre sobre a qual certo governo pode exercer seu poder de coação, de organizar e de fazer funcionar os diferentes serviços públicos. Deve ser bem definido, bem delimitado, a fim de que o elemento humano que ali vive saiba a que organização, a que Estado, está submetido, ou melhor, de que poder participa. A condição essencial de todo poder estatal é que o Estado tenha seu próprio território, pois uma comunidade nacional tão-somente está apta a formar um Estado quando possui um solo, isto é, uma superfície de terra sobre a qual possa afirmar-se, simultaneamente: como dona de si mesma (impor o seu próprio poder soberano); e independente (rechaçar a intervenção de todo poder soberano alheio). Nesta perspectiva, não existe Estado sem território. O estabelecimento de limites ao poder territorial do Estado - implica um tríplice significado na vida internacional: é fator de paz; sinal de independência; e elemento de segurança. O território estatal é a base espacial do poder jurisdicional do Estado, i.e., o “locus” onde se exerce o poder coercitivo estatal sobre os indivíduos humanos, sendo materialmente composto pela terra firme, incluindo o subsolo e as águas internas (rios, lagos e mares internos), pelo mar territorial, pela plataforma continental e pelo espaço aéreo. Limites do territorio A delimitação das fronteiras do Estado tem importância por definir os limites do poder estatal, além de dar estabilidade às relações sociais. Para o estudo dos limites da atuação do Estado o território pode ser considerado real e ficto. Território real é aquele que corresponde a uma verdadeira base geográfica, compreendendo: solo: superfície da terra subsolo: camada do solo abaixo da superfície terrestre. Qualquer que seja sua profundidade, ele pertence ao Estado que possui o território do solo correspondente. Águas internas: são rios, lagos, mares internos dentro das fronteiras do Estado. Águas limítrofes: são os lagos, os rios e quaisquer correntes de água que sirvam de limites com outros Estados. Águas litorâneas (ou mar territorial): são águas da faixa costeira, que pertencem juridicamente ao território dos Estados litorâneos. O mar territorial brasileiro é fixado pela Lei 8617/93 com de 12 milhas marítimas de largura. Esta lei previu uma zona econômica exclusiva, compreendendo uma faixa que se estende das 12 às 200 milhas marítimas. O mar aberto (ou alto mar) é a parte do oceano que se acha fora da soberania de qualquer Estado. Espaço aéreo: é aquele compreendido entre as verticais traçadas a partir das linhas de separação do território, envolvendo o mar territorial se existente. Várias teorias foram formuladas sobre o limite vertical da soberania do Estado, sem, contudo, haver um consenso. Dentre elas autores afirmam que o Estado teria soberania até o infinito, outros , que ela se referiria apenas à região onde fosse possível o vôo de aviões. As questões relativas ao espaço aéreo têm sido reguladas por convenções internacionais. Plataforma continental: compreende o leito e o sub-solo das áreas submarinas. Lei do Mar - Lei nº 8.617, de 4 de janeiro de 1993 Dispõe sobre o mar territorial, a zona contígua, a zona econômica exclusiva e a plataforma continental brasileiros, e dá outras providências O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte lei: CAPÍTULO I Do Mar Territorial Art. 1º O mar territorial brasileiro compreende uma faixa de doze milhas marítima de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular, tal como indicada nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas oficialmente no Brasil. Parágrafo único. Nos locais em que a costa apresente recorte profundos e reentrâncias ou em que exista uma franja de ilhas ao longo da costa na sua proximidade imediata, será adotado o método das linhasde base retas, ligando pontos apropriados, para o traçado da linha de base, a partir da qual será medida a extensão do mar territorial. Art. 2º A soberania do Brasil estende-se ao mar territorial, ao espaço aéreo sobrejacente, bem como ao seu leito e subsolo. Art. 3º É reconhecido aos navios de todas as nacionalidades o direito de passagem inocente no mar territorial brasileiro. § 1º A passagem será considerada inocente desde que não seja prejudicial à paz, à boa ordem ou à segurança do Brasil, devendo ser contínua e rápida. § 2º A passagem inocente poderá compreender o parar e o fundear, mas apenas na medida em que tais procedimentos constituam incidentes comuns de navegação ou sejam impostos por motivos de força ou por dificuldade grave, ou tenham por fim prestar auxílio a pessoas a navios ou aeronaves em perigo ou em dificuldade grave. § 3º Os navios estrangeiros no mar territorial brasileiro estarão sujeitos aos regulamentos estabelecidos pelo Governo brasileiro. CAPÍTULO II Da Zona Contígua Art. 4º A zona contígua brasileira compreende uma faixa que se estende das doze às vinte e quatro milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial. Art. 5º Na zona contígua, o Brasil poderá tomar as medidas de fiscalização necessárias para: I - evitar as infrações às leis e aos regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários, no seu territórios, ou no seu mar territorial; II - reprimir as infrações às leis e aos regulamentos, no seu território ou no seu mar territorial. CAPÍTULO III Da Zona Econômica Exclusiva Art. 6º A zona econômica exclusiva brasileira compreende uma faixa que se estende das doze às duzentas milhas marítimas, contadas a partir das linhas de base que servem para medir a largura do mar territorial. Art. 7º Na zona econômica exclusiva, o Brasil tem direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não-vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo, e no que se refere a outras atividades com vistas à exploração e ao aproveitamento da zona para fins econômicos. Art. 8º Na zona econômica exclusiva, o Brasil, no exercício de sua jurisdição, tem o direito exclusivo de regulamentar a investigação científica marinha, a proteção e preservação do meio marítimo, bem como a construção, operação e uso de todos os tipos de ilhas artificiais, instalações e estruturas. Parágrafo único. A investigação científica marinha na zona econômica exclusiva só poderá ser conduzida por outros Estados com o consentimento prévio do Governo brasileiro, nos termos da legislação em vigor que regula a matéria. Art. 9º A realização por outros Estados, na zona econômica exclusiva, de exercícios ou manobras militares, em particular as que impliquem o uso de armas ou explosivas, somente poderá ocorrer com o consentimento do Governo brasileiro. Art. 10. É reconhecido a todos os Estados o gozo, na zona econômica exclusiva, das liberdades de navegação e sobrevôo, bem como de outros usos do mar internacionalmente lícitos, relacionados com as referidas liberdades, tais como os ligados à operação de navios e aeronaves. CAPÍTULO IV Da Plataforma Continental Art. 11. A plataforma continental do Brasil compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial, em toda a extensão do prolongamento natural de seu território terrestre, até o bordo exterior da margem continental, ou até uma distância de duzentas milhas marítimas das linhas de base, a partir das quais se mede a largura do mar territorial, nos casos em que o bordo exterior da margem continental não atinja essa distância. Parágrafo único. O limite exterior da plataforma continental será fixado de conformidade com os critérios estabelecidos no art. 76 da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, celebrada em Montego Bay, em 10 de dezembro de 1982. Art. 12. O Brasil exerce direitos de soberania sobre a plataforma continental, para efeitos de exploração dos recursos naturais. Parágrafo único. Os recursos naturais a que se refere o caput são os recursos minerais e outros não-vivos do leito do mar e subsolo, bem como os organismos vivos pertencentes a espécies sedentárias, isto é, àquelas que no período de captura estão imóveis no leito do mar ou no seu subsolo, ou que só podem mover-se em constante contato físico com esse leito ou subsolo. Art. 13. Na plataforma continental, o Brasil, no exercício de sua jurisdição, tem o direito exclusivo de regulamentar a investigação científica marinha, a proteção e preservação do meio marinho, bem como a construção, operação e o uso de todos os tipos de ilhas artificiais, instalações e estruturas. § 1º A investigação científica marinha, na plataforma continental, só poderá ser conduzida por outros Estados com o consentimento prévio do Governo brasileiro, nos termos da legislação em vigor que regula a matéria. § 2º O Governo brasileiro tem o direito exclusivo de autorizar e regulamentar as perfurações na plataforma continental, quaisquer que sejam os seus fins. Art. 14. É reconhecido a todos os Estados o direito de colocar cabos e dutos na plataforma continental. § 1º O traçado da linha para a colocação de tais cabos e dutos na plataforma continental dependerá do consentimento do Governo brasileiro. § 2º O Governo brasileiro poderá estabelecer condições para a colocação dos cabos e dutos que penetrem seu território ou seu mar territorial. Art. 15. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 16. Revogam-se o Decreto-Lei nº 1.098, de 25 de março de 1970, e as demais disposições em contrário. Brasília, 4 de janeiro de 1993; 172º da Independência e 105º da República ITAMAR FRANCO Território Ficto não corresponde a uma verdadeira base física: O território ficto aparece nas embaixadas, nas legações diplomáticas, nos navios e aviões. jurisdição territorial O Estado está marcado pela jurisdição territorial, i. e., o poder de império do aparato estatal sobre o território, abrangendo a dominação do Estado sobre todas as pessoas e coisas que estão dentro de seu território, a presunção de exclusividade do poder estatal neste território, e o poder de disposição exclusiva do aparato estatal sobre seu território. Um dos princípios que demonstram o poder de império do Estado é o da territorialidade das leis, i.e., o ordenamento jurídico do Estado só tem eficácia e exclusividade em seu próprio território. As normas do ordenamento jurídico de um Estado só podem ser aplicadas no seu território, de acordo com a territorialidade das leis. Entretanto, tal regra admite exceção, podendo o direito de um determinado Estado ser aplicado aos seus nacionais fora do seu território. * Exceções ao princípio da territorialidade, consoante a jurisprudência e a melhor doutrina: a) A imunidade - visa garantir o desempenho das funções dos agentes diplomáticos, os quais, em termos de reciprocidade, são isentos do poder de império dos Estados onde quer que venham a ser acreditados (Bonavides, 1993: 96). Embaixada: é o local de trabalho do embaixador, que representa e defende os interesses do Estado a que pertence junto ao Estado estrangeiro. Os privilégios e imunidades diplomáticos podem se classificados em: -Inviolabilidade (pessoal, residência oficial e particular, carro, papeis, correspondência) -Imunidade de jurisdição civil e criminal e isenção fiscal (do agente diplomático). b) A extraterritorialidade - pressupõe que determinadas coisas, como um navio ou uma aeronave, independentemente de sua localização geográfica, mesmo em águas territoriais estrangeiras, alto-mar e espaço aéreo, estão vinculadas juridicamente ao seu Estado de origem, enquanto extensão do território estatal; Navios e aviões militares: gozam de imunidade em relação ao Estado costeiroe se encontram submetidos à jurisdição do Estado da sua Bandeira, em virtude de seu caráter representativo e o respeito mutuo dos Estados. Assim, necessitam de autorização prévia para navegarem em águas interiores ou sobrevoarem em espaço aéreo de outro Estado. Navios e aviões mercantes: quando em alto-mar e espaço aéreo comum, encontram-se sujeitos à jurisdição de seu Estado nacional, todavia, em território estrangeiro, submetem-se á jurisdição do Estado territorial ( passagem inocente) 6.3– O Poder Soberania: o conceito de soberania é uma das bases do Estado moderno, de excepcional importância para que este se definisse, sendo uma característica fundamental do Estado. Dentro desses limites o poder soberano tem a facilidade de utilizar a coação para impor suas decisões. Alguns autores divergem quanto à forma de se denominar este elemento constitutivo do Estado, utilizando expressões como: Governo, Poder Soberano, Poder Estatal ou Soberania. Consideramos irrelevante tal discussão, pois todas essas expressões se referem a uma mesma realidade. Poder (do latim potere) é o direito de deliberar, agir e mandar. Ter a faculdade ou a possibilidade de algo, de exercer a autoridade, a soberania, ou o império de dada circunstância. Ter o domínio, a influência ou a força. Deter o direito de posse ou de jurisdição. Possuir os recursos e meios. É ter a capacidade ou a aptidão para algo. Poder Estatal é o exercício do governo de um Estado. Poder soberano é o poder supremo, que esta acima de todos os outros poderes. Poder constituinte é a capacidade de criar a ordem jurídica, ou de modificar a ordem jurídica existente do Estado. A titularidade do poder constituinte pertence ao povo. O poder constituinte pode ser originário e derivado. O poder constituinte originário é aquele que instaura uma nova ordem jurídica, rompendo por completo com a ordem jurídica precedente. O poder constituinte derivado reformador: tem a capacidade de reformar a Constituição Federal por meio de um procedimento específico, estabelecido pelo originário, sem que haja uma verdadeira revolução. A manifestação do poder constituinte reformador verifica-se através das emendas constitucionais (arts. 59, I e 60 da CF/88). Título IV Da Organização dos Poderes Capítulo I Do Poder Legislativo Seção VIII Do Processo Legislativo Subseção I Disposição geral Art. 59. O processo legislativo compreende a elaboração de: I - emendas à Constituição; II - leis complementares; III - leis ordinárias; IV - leis delegadas; V - medidas provisórias; VI - decretos legislativos; VII - resoluções. Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das leis. Subseção II Da Emenda à Constituição Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; II - do Presidente da República; III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. § 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. § 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. § 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem. § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I - a forma federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e garantias individuais. § 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa. Governo é a instância máxima de administração executiva, reconhecida como a liderança de um Estado. Soberania: entende-se por soberania a qualidade máxima de poder social através do qual as normas e decisões elaboradas pelo Estado prevalecem sobre as normas e decisões emanadas de grupos sociais intermediários, tais como família, escola, empresa, igreja, etc. A soberania se manifesta, principalmente, através da constituição de um sistema de normas jurídicas capaz de estabelecer as pautas fundamentais do comportamento humano. No âmbito interno, a soberania estatal traduz a superioridade de suas diretrizes na organização da vida comunitária, No âmbito externo, a soberania traduz a idéia de igualdade de todos os Estados na comunidade internacional. Conceito político de soberania: é o poder de organizar-se juridicamente e de fazer valer dentro de seu território a universalidade de suas decisões nos limites dos fins éticos de convivência (compreendidos dentro da noção de bem comum) Concebida em termos puramente políticos, a soberania expressava a plena eficácia do poder, sendo conceituada como o poder incontrastável de querer coercitivamente e de fixar competências. Por esse conceito verifica-se que o Poder Soberano não se preocupa em ser legitimo ou jurídico, importando apenas que seja absoluto, não admitindo confrontações e que tenha meios para impor suas determinações. Conceito jurídico de soberania: é o poder de decidir em última instância sobre a atributividade das normas. Partindo do pressuposto de que todos os atos dos Estados são passiveis de enquadramento jurídico, tem se como aplicável em cada caso, podendo, inclusive, negar a juridicidade da norma. Dentro desses limites o poder soberano tem a facilidade de utilizar a coação para impor suas decisões. Enquanto o conceito meramente político de soberania repousa sobre o exercício do poder pelo mais forte, sem preocupação de legitimidade, o conceito jurídico de soberania implica no exercício do poder independentemente da relação de forças e segundo normas jurídicas legítimas. A soberania é atributo do poder estatal, dignificando que o estado, no plano interno, tem superioridade sobre as demais organizações, e no plano externo, tem independência em relação aos demais Estados. A divisão do poder, em Executivo, Legislativo e Judiciário não implica na divisão da soberania do Estado. A divisão do poder, em Executivo, Legislativo e Judiciário, consiste na distribuição do poder, que será exercido por órgãos do mesmo Estado. Embora indivisível, o exercício do poder pode ser distribuído, por conveniências administrativas e políticas. Os elementos característicos da soberania são: a) unicidade: Unicidade da soberania significa que inexiste no mesmo Estado, simultaneamente, mais de uma soberania; a soberania do Estado é una. b) indivisibilidade: Indivisibilidade da soberania significa que é aplicável a todos os fatos e atos praticados pelo Estado e no Estado; a soberania do Estado é indivisível. c) inalienabilidade: Inalienabilidade da soberania significa que não pode ser transferida a quem legitimamente não a detém; a soberania do Estado é inalienável. d) imprescritibilidade: Imprescritibilidade da soberania significa que não tem prazo de duração determinado, ou seja, o poder não se extingue, exceto se obrigado a desaparecer por força de outro poder a ele superior. A doutrina aponta ainda outras características para a soberania do Estado, que seria um poder: a) coativo: Significa que o Estado dispõe de meios materiais para impor pela força o cumprimento da ordem jurídica vigente. b) exclusivo: Significa que o Estado é a única entidade que dispõe de soberania. c) incondicionado: Significa que o Estado é a única entidade capaz de impor limites à própria soberania. d) originário: Significa que surge no preciso momento em que é criado o Estado, ou seja, é atributodiretamente associado a ele. Os Estados não se sujeitam a normas jurídicas de outros Estados. No entanto, devem se submeter à chamada ordem internacional, estabelecida por meio de organizações internacionais (como a ONU, por exemplo) ou aos tratados internacionais de que são signatários.
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