Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO AULA 5 Profª Karla Knihs 2 CONVERSA INICIAL Bem-vindo(a)! Nesta aula, iremos retomar o estudo de um dos principais atores internacionais – o Estado – tendo em vista a sua relevância para o estudo das relações internacionais. Para esse estudo, vamos esmiuçar os elementos constitutivos do Estado: povo, território e governo soberano, bem como iremos compreender como funciona o reconhecimento do Estado e do governo no plano internacional. TEMA 1 – OS ESTADOS No sentido moderno, a palavra Estado é relativamente nova. Os gregos, por exemplo, utilizavam a palavra polis; os romanos, a palavra civitas ou respublica. O termo Estado, do latim status, que significa estar firme, foi utilizado para designar uma sociedade política, pela primeira vez, na obra O príncipe, de Maquiavel (2010), datada de 1513. Entretanto, a maioria dos autores admite que, independentemente da denominação que recebia, pode ser considerado como Estado todas as sociedades políticas que, com o uso do poder ou autoridade, fixaram regras de convivência entre seus membros. Com relação à época do aparecimento do Estado, a doutrina elenca três teorias principais, quais sejam: 1. De que o Estado existiria desde sempre, assim como a própria sociedade. Para essa corrente, o Estado seria um elemento universal na organização social humana, pois desde sempre o homem teria se organizado em sociedade. 2. A segunda corrente defende que a sociedade humana existiu por um período de tempo sem a presença do Estado, sendo que posteriormente o homem percebeu a necessidade da sua organização/criação para que se pudesse suprir as necessidades e atender aos anseios dos grupos sociais. Assim, conforme foram se desenvolvendo esses grupos humanos, diversos Estados surgiram, cada qual a seu tempo. 3. A terceira corrente é aquela que defende que o Estado só existe quando há uma sociedade política. Alguns autores, inclusive, defendem que só houve a criação do Estado por ocasião da assinatura dos Tratados de Vestfália (1648), que fixaram os limites territoriais resultantes das guerras 3 religiosas movidas pela França contra a Alemanha. Isso porque, para eles, apenas com a Paz de Vestfália houve a confirmação da soberania de um poder sobre um território. Para explicar a formação dos Estados, no aspecto que se refere à causa, existem várias teorias, tanto no que concerne à formação originária, quanto em relação à chamada formação derivada. A formação derivada é aquela que se dá com base em outros Estados já existentes, seja por divisão, seja por união territorial. A formação originária, por sua vez, diz respeito à constituição do Estado baseada em agrupamentos humanos que, ao se estabelecerem como sociedade, adotaram um território e uma vinculação político-jurídica. Assim, em relação à formação originária, a primeira corrente afirma que o Estado teve uma formação natural, espontânea ou não contratual, tendo ele se formado sem coincidência quanto à causa e não voluntariamente. Há quem defenda que a formação do Estado tenha origem familiar ou patriarcal, tendo ele se originado com base no núcleo familiar. A explicação da origem com base em atos de força, violência e/ou conquista também é utilizada, mediante o argumento de que a superioridade, em termos de força, possibilitou que certos grupos sociais prevalecessem sobre outros, sendo o Estado constituído sobre essa dicotomia entre dominantes e dominados. A sua origem em causas econômicas ou patrimoniais é também uma forma de explicação: há teorias segundo as quais o homem, para suprir suas inúmeras necessidades materiais, cria o Estado. Por fim, aqueles que defendem que a criação do Estado se deu em decorrência do desenvolvimento interno da sociedade afirmam que a sociedade pode prescindir do Estado por um certo período de tempo, sendo que sua criação é uma necessidade daquelas sociedades que atingiram um maior grau de complexidade e desenvolvimento. Ainda em relação à formação originária, a segunda corrente defende a formação contratual dos Estados, ou seja, sua formação artificial. Como nós já vimos, a teoria contratualista da origem da sociedade também se aplica ao Estado. Então, em relação à origem do Estado, o contrato social serve de base para uma das explicações. Entretanto, a crítica que se faz a essa teoria é a de que, se o Estado é uma associação voluntária dos homens, decorrente da vontade deles, estes 4 poderiam também, por um ato de vontade, sair da sociedade, sair do Estado, o que é impossível. Com relação à formação derivada, esse é o modo atual de constituição de um Estado. Ela pode se dar sob formação por fracionamento ou união ou formação atípica. Podemos citar como exemplo de formação derivada, por anexação, o Havaí. Esse Estado americano já foi uma monarquia, tornando-se uma república em 1894. Em 1898, foi invadido por militares e anexado pelos Estados Unidos da América, tornando-se um território americano em 1900. Outro exemplo de formação atípica pode ser visto no caso da Alemanha. Sua unificação foi feita pela vontade do povo. Assim, diversos Estados germânicos se integraram e posteriormente se uniram para formar o novo Estado da Alemanha. Ou seja, nem sempre a vontade do povo é determinante para a formação de um Estado. TEMA 2 – ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO São elementos do Estado: o povo e o território (elementos materiais); e o governo soberano (elemento formal). A presença dos elementos materiais distingue Estados de organizações internacionais. Importante também não confundir poder com soberania. A soberania é uma característica do poder do Estado. Assim, a soberania é o grau supremo que pode atingir o poder estatal, para não reconhecer outro poder juridicamente superior na ordem internacional ou igual a ele, dentro do mesmo Estado. Um Estado é soberano quando é capaz de traçar normas para regular as relações dos indivíduos que compõem o seu povo, de forma cogente e sem a interferência de qualquer outro poder ou autoridade. Ou seja, um Estado soberano não pode sofrer qualquer tipo de restrição, a não ser aquelas indispensáveis ao bom convívio das nações soberanas, no plano internacional. Além disso, a soberania pode ser concebida sob três aspectos: o político, o jurídico e o cultural (Veneral; Knihs, 2018). Assim, vejamos: soberania, na sua concepção política, diz respeito ao caráter coercitivo do Estado, à sua capacidade de fixar competências. Na sua concepção jurídica, diz respeito ao poder de decidir, em última instância, acerca da eficácia da normatividade jurídica. Na sua concepção cultural ou político- jurídica, a soberania diz respeito ao poder de organizar-se política e 5 juridicamente e de se fazer valer, no âmbito de um território, a universalidade das decisões, no limite da legitimidade imposta pelo povo. Governo x soberania: ambos são manifestação do poder do Estado. Governo: o poder, via governo, é expressão dinâmica de ordem pública, coordenando o funcionamento do Estado. Soberania: é um poder estatal supremo e independente em relação ao poder dos outros Estados. Diz respeito à relação de um Estado com os outros Estados da sociedade internacional. É quantidade de poder, expressa de três formas: 1. Soberania interna: caracteriza-se pela predominância do poder do Estado sem nenhum contraste e nenhuma limitação por outro poder. Caso haja disputa pela soberania interna (conflito de domínio), teremos uma guerra civil. 2. Soberania externa: caracteriza-se por não haver dependência nem subordinação de um Estado ao outro em suas relações recíprocas, devendo haver igualdade entre eles. Não é o fato de um Estado ser invadido por outro que faz com que deixe de ser um Estado. Nesse caso, ele apenas perde parte de sua soberania externa. 3. Soberanianacional: é o direito do povo de escolher seus próprios governantes, por meio do voto nas eleições. Ainda que uma dessas soberanias sofra alguma restrição, o Estado não deixará de ter seu elemento essencial, o poder. Para Bobbio (2010), a expressão muito genérica poder soberano refere-se àquele conjunto de órgãos pelos quais um ordenamento normativo é posto, conservado e se faz aplicar. Povo x população x nação: População: expressão numérica do conjunto de pessoas que vivem num Estado, incluindo nacionais e estrangeiros. Nação: comunidade de base histórico-cultural, como no caso dos curdos, palestinos e ciganos. Povo: conjunto de pessoas que se unem para constituir um Estado, criando um vínculo jurídico-político de natureza permanente. Nacionalidade x naturalidade x cidadania: Nacionalidade: vínculo jurídico-político que une o indivíduo ao Estado. Naturalidade: vínculo material-geográfico. Nem sempre são naturais do Brasil aqueles que possuem nacionalidade brasileira. 6 Cidadania: refere-se ao exercício de direitos políticos de determinado povo. Nem sempre o nacional poderá exercer plenamente a cidadania, como no caso do naturalizado brasileiro que não poderá, por exemplo, candidatar-se ao cargo de presidente da República. Território: é a porção da superfície do globo terrestre na qual o Estado exerce seus direitos de soberania. Vamos ver, no próximo tema, como funciona a classificação do território. TEMA 3 – CLASSIFICAÇÃO DO TERRITÓRIO O território dos Estados apresenta-se em diversos aspectos físicos, os chamados domínios, que podem ser: terrestre, fluvial, lacustre, aéreo e marítimo, além do domínio público internacional: Domínio terrestre: composto pelo solo e subsolo do Estado. O Estado tem o direito de marcar materialmente ou indicar concretamente os seus limites. Os seus limites poderão ser naturais, que acompanham acidentes geográficos do solo; ou artificiais, também chamados de intelectuais ou matemáticos e que seguem uma linha astronômica. Domínio fluvial: os rios podem ser nacionais ou internacionais, a saber: a. rios nacionais: aqueles cujo leito corre inteiramente dentro do território de determinado Estado; b. rios internacionais: aqueles que cruzam diversos Estados. Podem ser contínuos, quando correm pela fronteira dos Estados, ou sucessivos, quando seu leito atravessa o território de diversos Estados, sucessivamente. Cada Estado exerce plena soberania sobre o leito do rio enquanto este estiver dentro de seu território. Domínio lacustre e sobre mares internos: depende da verificação do diâmetro do lago. Quando maior que seis milhas, cada Estado marginal exercerá sua soberania até três milhas da margem. O restante será domínio comum desses Estados. Domínio aéreo: é constituído pelo espaço aéreo e espaço extra- atmosférico. O espaço aéreo é a massa de ar atmosférica situada acima do território do Estado. 7 Importante ressaltar que não existem normas que concedam direito de passagem inocente a aeronaves, no espaço aéreo estatal. Essa questão pode, contudo, ser tratada por acordos bilaterais ou até mesmo por intermédio de permissões individuais. Na aviação comercial, se deve conceder prévia autorização estatal para que se possa trafegar em um dado espaço aéreo. No caso de aviões militares, não há tratados internacionais que prevejam a possibilidade de tráfego permanente pelo território de outro Estado. Se o avião militar invadir o espaço aéreo de um Estado e for abatido, a responsabilidade será do Estado de sua bandeira, ou seja, do Estado de onde partiu o avião. Domínio marítimo: já foi objeto de uma série de controvérsias que tendem a ser solucionadas pela Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, celebrada em 1982 em Montego Bay e que somente entrou em vigor em 16 de novembro de 1994 (ONU, 1982). O Brasil a ratificou em dezembro de 1988 e, por meio da Lei n. 8.617/1993, já afirmou que, independentemente de entrar em vigor, internacionalmente, tal convenção, já prevaleceriam para o Brasil, desde então, as suas normas (Brasil, 1993). Mar territorial: inclui as águas (leito do mar), mais subsolo e espaço aéreo sobrejacente. A Convenção de Montego Bay estabeleceu um limite uniformemente aceito pelos Estados da sociedade internacional. Para ela, é mar territorial a faixa de 12 milhas marítimas contadas a partir da linha de base da costa, que corresponde à noção de onde termina a terra e começa o mar, contada na maré baixa. Nessas milhas, há direitos soberanos (ONU, 1982). A única restrição é o direito de passagem inocente, que é concessão obrigatória dada pelo Estado aos navios que trafegam. Observe-se que a passagem somente será considerada inocente se ocorrer de forma contínua e rápida. Zona contígua: é a faixa adjacente ao mar territorial, de igual largura. Sobre ela o Estado exerce soberania no que tange à fiscalização sanitária, alfandegária e imigratória. Essa faixa tem limite máximo de 12 milhas (24 milhas, a partir da linha de base). 8 Zona econômica exclusiva: é a faixa adjacente ao mar territorial, distante dele 180 milhas (a 200 milhas da linha de base). Nela, há soberania para exploração, conservação, aproveitamento e gestão de recursos naturais. Antigamente, o Brasil tinha 200 milhas de mar territorial e 300 milhas de zona econômica exclusiva. Tais limites foram estabelecidos unilateralmente e não eram obedecidos pela sociedade internacional. Plataforma continental: é a planície submarina que vai gradativamente se aprofundando até o limite de 200 metros. O Estado tem direito soberano exclusivo de exploração dos recursos, em sua plataforma continental. Há duas formas de fixar o limite dessa plataforma continental, de acordo com a Convenção de Montego Bay (ONU, 1982): 1. Se o Estado atingir o limite de 200 metros de profundidade rapidamente, como é o caso da Oceania, considerar-se-á o limite de 200 milhas. 2. Se o mar se aprofunda lentamente, como é o caso do Brasil, o limite de profundidade continuará sendo de 200 metros, mas a faixa alcançará, no máximo, 350 milhas de largura. A grande importância da plataforma continental reside na garantia de exploração exclusiva dos recursos naturais. Alto-mar: é direito público internacional. Nenhum Estado terá domínio exclusivo sobre o alto-mar. Domínio público: são os espaços cuja utilização suscita interesse de mais de um Estado soberano, na sociedade internacional. Não foi definido ainda a quem pertence a sua jurisdição, sendo relativamente inexplorados. São dois: Polo Norte e Antártica. TEMA 4 – RECONHECIMENTO DE ESTADO E DE GOVERNO O reconhecimento de Estado e de governo é o ato pelo qual os Estados já existentes constatam a existência de um novo membro da sociedade internacional. O reconhecimento de Estado é dado, via de regra, a pedido do Estado que surgiu, o qual notifica as potências da sociedade internacional, requerendo o seu reconhecimento. Tal instituto teve importância fundamental até meados do século passado, sendo considerado imprescindível para a configuração do ente como Estado. 9 Hoje, a maioria dos autores não considera imprescindível o reconhecimento. Bastaria reunir-se as características essenciais (povo, território, soberania) para ser um Estado. Requisitos: possuir governo independente e autônomo na conduta dos negócios estrangeiros (requisito volátil). O governo deve ter autoridade efetiva dentro de seu território, congregando as forças ali existentes. Deve possuir território delimitado. Exemplos: na Palestina, houve grande preocupação de se realizar eleições para que o governo de Yasser Arafat demonstrasse sua autoridade, podendo ela ser reconhecida como um Estado (o reconhecimento da Palestina como Estado é artificial). Reconhecimento por Estado: é ato unilateral (manifestação da vontade de umúnico ente da sociedade internacional); ainda que ato irrevogável, não é perpétuo. Se o Estado perder os elementos que o caracterizam como tal, deixará de sê-lo. Exemplo: a ilha de Nauru não terá mais território daqui a algum tempo, dada a exploração de minerais ali existente. O reconhecimento trata-se de ato discricionário. O Estado faz o reconhecimento quando bem entende. É ato retroativo, tendo em vista a teoria de que o reconhecimento é apenas uma constatação. Formas de reconhecimento: ele pode ser feito de maneira expressa ou tácita, e ambas podem ser individuais ou coletivas. Reconhecimento tácito: Individual: envio ou recepção de agentes diplomáticos. Coletivo: quando diversos Estados assinam um tratado que não aborda o reconhecimento e do qual faça parte o Estado a ser reconhecido, este será reconhecido tacitamente pelos outros, pelo simples fato de assinar o tratado. Reconhecimento expresso: Individual: um Estado, por um ato qualquer, reconhece expressamente a existência de outro Estado. Pode ser feito de três formas: 10 1. por tratado de reconhecimento (exemplo: Portugal, em relação ao Brasil, quando de sua independência); 2. por tratado de amizade (exemplo: a Rússia celebrou tais tratados em relação às repúblicas que surgiram da queda do império soviético, uma vez que as reconhecer como Estados seria inconstitucional. No tratado de amizade celebrado com a Lituânia, em nenhum momento a Rússia a reconhece como Estado. Ressalte-se que, embora tais tratados não tenham sido expressamente de reconhecimento, foram considerados como tais pela sociedade internacional); 3. por notas diplomáticas unilaterais (um exemplo é a nota do Brasil endereçada à Croácia, em 1992, reconhecendo expressamente sua independência e conclamando-a para estabelecer representação diplomática no Brasil). Reconhecimento por imposição de tratado de paz: um exemplo é o Tratado de Versalhes (1919), que impôs o reconhecimento, pela Alemanha, da Polônia e da Tchecoslováquia como Estados. Não surtiu efeitos. Reconhecimento de governo: o Estado já existe e toma-se necessário o reconhecimento de um dado governo quando há ruptura na sua ordem política, ou seja, quando há violação do sistema constitucional do Estado. Para a maioria dos autores, o reconhecimento de governo é obrigatório sempre que há mudança de governo por meios inconstitucionais. TEMA 5 – DIREITOS BÁSICOS DOS ESTADOS Segundo a Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA, 1948), os Estados são juridicamente iguais, desfrutam de iguais direitos e de igual capacidade para exercê-los e têm deveres iguais. Os direitos de cada um não dependem do poder de que dispõem para assegurar o seu exercício, mas sim do simples fato da sua existência como personalidade jurídica internacional. São direitos fundamentais a liberdade e a independência. São direitos derivados a igualdade – jurídica e relativa; o respeito mútuo; a reclamação internacional, segundo a qual, no caso de ofensa, o Estado pode ser reparado por representação internacional. Uma alternativa para isso é recorrer à Corte Internacional de Justiça, o que somente os Estados podem fazer; ou a outra 11 organização internacional. Por fim, os Estados têm direito de defesa e conservação. NA PRÁTICA Um exemplo da aplicação do conceito de soberania no âmbito externo é o Tratado de Assunção (1991). Por meio desse tratado foi criado o Mercado Comum do Sul (Mercosul). O Brasil ratificou tal tratado por meio do Decreto n. 350/1991 (Brasil, 1991). Com a ratificação pelo Brasil, o tratado em comento passou a fazer parte do ordenamento jurídico pátrio, ficando o país, em decorrência dele, obrigado a cumpri-lo. Ou seja, o Brasil, sendo um Estado soberano, fez um acordo formal com outros países para que todos cumprissem o acordado por meio de determinado tratado. Assim, o país se obrigou a cumprir o acordo, perante outros Estados soberanos, uma vez que o Tratado de Assunção produziu direitos e obrigações para todos os signatários. Nesse sentido, podemos citar a Convenção de Havana sobre Tratados, que diz: “Art. 5º - Os tratados não são obrigatórios senão depois de ratificados pelos estados contratantes, ainda que esta cláusula não conste nos plenos poderes dos negociadores, em figure no próprio tratado” (Conferência, 1928). Portanto, não poderia qualquer outro país signatário do tratado, por exemplo, obrigar o Brasil a cumprir qualquer cláusula daquele apenas porque seus demais vizinhos consideram algumas práticas comerciais benéficas para a América Latina. Se assim o fosse, a soberania do país restaria ferida. Por isso, é necessário, antes, que o Brasil confirme sua vontade de tornar um tratado uma norma própria, pelos meios estabelecidos na sua Constituição vigente. FINALIZANDO Nesta aula, estudamos aprofundadamente um dos principais atores internacionais, qual seja, o Estado. Para tanto, vimos o histórico e os principais elementos constitutivos do Estado, bem como compreendemos como se dá o reconhecimento dos Estados e governos. Por fim, estudamos os direitos básicos dos Estados, com base na Carta da OEA (1948). 12 REFERÊNCIAS ACCIOLY, H. Tratado de direito internacional público. 3. ed. São Paulo: Quartier Latin, 2009. BOBBIO, N. Teoria geral do direito. Tradução: Denise Agostinetti. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010. BRASIL. Decreto n. 350, de 21 de novembro de 1991. Diário Oficial da União, Brasília, 22 nov. 1991. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/dec reto/1990-1994/D0350.htm>. Acesso em: 14 mar. 2019. _____. Lei n. 8.617, de 4 de janeiro de 1993. Diário Oficial da União, Brasília, p. 57, 5 jan. 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8 617.htm>. Acesso em: 14 mar. 2019. CONFERÊNCIA INTERNACIONAL AMERICANA, 6, Havana. Convenção de Havana sobre Tratados. Havana, 20 fev. 1928. GUTIER, M. S. Introdução ao direito internacional público. Uberaba, jan. 2011. Disponível em: <http://murillogutier.com.br/wp- content/uploads/2012/02/INTRODU%C3%87%C3%83O-AO-DIREITO- INTERNACIONAL-MURILLO-SAPIA-GUTIER.pdf>. Acesso em: 14 mar. 2019. HUSEK, C. R. Curso de direito internacional público. 10. ed. São Paulo: LTr, 2010. MAQUIAVEL, N. O príncipe. São Paulo: Penguin-Companhia, 2010. MAZZUOLI, V. de O. Curso de Direito Internacional Público. 5. ed., rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011. OEA – Organização dos Estados Americanos. Carta da Organização dos Estados Americanos. Bogotá, 1948. ONU – Organização das Nações Unidas. Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Montego Bay, 10 dez. 1982. REZEK, F. Direito internacional público: curso complementar. São Paulo: Saraiva, 2008. TRATADO de Assunção. Tratado celebrado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai para criação do Mercado Comum do Sul (Mercosul). Assunção, 1991. 13 TRATADO de Versalhes. Tratado de paz celebrado entre os Aliados e potências associadas e a Alemanha. Paris, 1919. TRATADOS de Vestfália. Série de tratados para encerramento da Guerra dos Trinta Anos. Münster, 1648. VENERAL, D.; KNIHS, K. K. Globalização, soberania e os atuais contornos da integração regional no âmbito do Mercosul. Cadernos da Escola Superior de Gestão Pública, Política, Jurídica e Segurança, Curitiba, v. 1, n. 1, 2018.
Compartilhar