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Direito Civil Pessoa Jurídica Conceito e característica A razão de ser da pessoa jurídica está na necessidade ou na conveniência de os indivíduos unires esforços e utilizarem recursos coletivos para a realização de objetivos comuns, que transcendem as possibilidades individuais. Essa constatação motivou a organização de pessoas e bens com o reconhecimento do direito, que atribuiu personalidade ao grupo, distinta da de cada um de seus mentos, passando este a atuar, na vida jurídica, com personalidade própria. Consiste em um conjunto de pessoas ou de bens dotado de personalidade jurídica própria e constituído na forma da lei para a consecução de fins comuns. São sujeitos de direitos e deveres. A principal característica das pessoas jurídicas é a de que atuam na vida jurídica com personalidade diversa da dos indivíduos que as compõem. Há distinção entre o patrimônio da pessoa jurídica e o dos seus instituidores. Não podem, em regra, ser penhorados os bens dos sócios por dívida da sociedade. Teorias 1. Teoria da Ficção Legal (Savigny) – considera a pessoa jurídica uma criação artificial da lei, um ente fictício, pois somente a pessoa natural pode ser sujeito da relação jurídica e titular de direitos subjetivos. Desse modo, só entendida como uma ficção pode essa capacidade jurídica ser estendida às pessoas jurídicas, para fins patrimoniais. 2. Teoria da Realidade Objetiva ou Orgânica (Zitelmann)– sustenta que a pessoa jurídica é uma realidade sociológica, ser com vida própria, que nasce por imposição das formas sociais. Proclama que a vontade, publica ou privada, é capaz de dar vida a um organismo, que passa a ter existência própria, distinta da de seus membros, capaz de tornar-‐se sujeito de direito, real e verdadeiro. 3. Teoria da Realidade Técnica (Planiol e Ripert) (adotada no Brasil) – a forma encontrada pelo direito para reconhecer a existência de grupos de indivíduos que se unem na busca de fins determinados. A personalidade jurídica é, portanto, um atributo que o Estado defere a certas entidades havidas como merecedoras dessa benesse por observares determinados requisitos por ele estabelecidos. Por serem titulares de direitos e deveres, são reais e não ficção. São, inclusive, uteis aos homens ,que se beneficiam delas. Vontade + interesse lícito. 4. Teoria Institucionalista ou da realidade jurídica (Hauriou) – considera as pessoas jurídicas como organizações sociais destinadas a um serviço ou ofício e, por isso, personificadas. Só se torna pessoa jurídica quando a organização está desenvolvida. Requisitos para a constituição de pessoa jurídica A formação da pessoa jurídica exige uma pluralidade de pessoas ou de bens e uma finalidade especifica (elementos de ordem material), bem como um ato constitutivo e respectivo registro no órgão competente (elemento formal). 1. Vontade humana criadora: intenção de criar uma entidade distinta da de seus membros. Materializa-‐se no ato de constituição, que deve ser escrito. São necessárias duas ou mais pessoas com vontades convergentes, ligadas por uma intenção comum. 2. Observância das condições legais: elaboração e registro do ato constitutivo. O ato deve ser levado a registro para que comece, então, a existência legal da pessoa jurídica de direito privado. Antes do registro, não passará de mera sociedade de fato ou sociedade nao personificada. O registro será precedido, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo. O ato é requisito formal exigido pela sei e se denomina: a. Estatuto, em se tratando de associações, que não têm fins lucrativos; b. Contrato social, no caso de sociedades, simples ou empresarias, antigamente denominadas civis e comerciais; c. Escritura pública ou testamento, em se tratando de fundações. 3. Licitude de seu objetivo: a licitude de seu objetivo é indispensável. Deve ele ser, também, determinado e possível. Nas sociedades em geral, civis ou comerciais, o objetivo é o lucro pelo exercício da atividade. Nas fundações, os fins podem ser religiosos, morais, culturais ou de assistência, admitindo-‐se possam elas se prestar a outras finalidades, desde que afastado o caráter lucrativo. E nas associações, de fins não econômicos, os objetivos colimados são de natureza cultural, educacional, esportiva, religiosa, filantrópica, recreativa, moral etc. Objetivos ilícitos ou nocivos constituem causa de extinção da pessoa jurídica. A existência das pessoas jurídicas de direito público decorre, todavia, de outros fatores, como a lei e o ato administrativo, bem como de fatos históricos, de previsão constitucional e de tratados internacionais, sendo regidas pelo direito púbico, e não pelo Código Civil. Classificação quanto à nacionalidade• nacional: a sociedade organizada de conformidade com a lei brasileira e que tenha no País a sede de sua administração. • estrangeira: Qualquer que seja o seu objeto, não pode, sem autorização do Poder Executivo, funcionar no País, ainda que por estabelecimentos subordinados, podendo, todavia, ressalvados os casos expressos em lei, ser acionista de sociedade anônima brasileira. Classificação quanto à estrutura interna • corporação (universitas personarum): caracteriza-‐se pelo seu aspecto eminentemente pessoal. Constitui um conjunto de pessoas, reunidas para melhor consecução de seus objetivos; • fundação (universitas bonorum): o aspecto dominante é o material; além disso, compõe-‐se de um patrimônio personalizado e destinado a determinado fim. Constitui ela um acervo de bens, que recebe personalidade para a realização de fins determinados. Compõe-‐se de dois elementos: o patrimônio e o fim (estabelecido pelo instituidor e não lucrativo). O que as distingue basicamente é que as primeiras visam à realização de fins internos, estabelecidos pelos sócios. Os seus objetivos são voltados para o interesse e o bem-‐estar de seus membros, visando atingir, pois, fins internos e comuns. As fundações, ao contrário, têm objetivos externos, estabelecidos pelo instituidor. Nas corporações, também existe patrimônio, mas é elemento secundário, apenas para a realização de um fim. Nas fundações, o patrimônio é elemento essencial. As corporações dividem-‐se em: • associações: as associações não têm fins lucrativos, mas religiosos, morais, culturais, assistenciais, desportivos ou recreativos. • Sociedades: as sociedades, como dito, podem ser simples e empresárias. As simples têm fim econômico e visam lucro, que deve ser distribuído entre os sócios. São constituídas, em geral, por profissionais de uma mesma área (escritórios de engenharia, de advocacia etc.) ou por prestadores de serviços técnicos. As sociedades empresárias também visam lucro. Distinguem-‐se das sociedades simples porque têm por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito ao registro previsto no art. 967 do Código Civil. Pessoas jurídicas de direito privado “São pessoas jurídicas de direito privado: I — as associações; II — as sociedades; III — as fundações; IV — as organizações religiosas; V — os partidos políticos.” Associações Conceito As associações são pessoas jurídicas de direito privado constituídas de pessoas que reúnem os seus esforços para a realização de finalidade não lucrativa. (não visam lucros). A definição legal ressalta o seu aspecto eminentemente pessoal. Não há, entre os membros da associação, direitos e obrigações recíprocos nem intenção de dividir resultados, sendo os objetivos altruísticos, científicos, artísticos, beneficentes, religiosos, educativos, culturais, políticos, esportivos ou recreativos. A CF garante a liberdade de associação para fins lícitos. Uma associação pode realizar negócios para manter ou aumentar o seu patrimônio sem proporcionar ganhos aos associados. Requisitos para a elaboração dos estatutos O art. 54 do Código Civil dispõe que o estatuto das associações conterá, sob pena de nulidade: “I — a denominação, os fins e a sede da associação; II — os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados; III — os direitos e deveres dos associados; IV — as fontes de recursos para sua manutenção; V — o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; VI — as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução; VII — a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas” (redação dada pela Lei n. 11.127, de 28.6.2005). Exclusão e retirada de associado Destaque especial deve ser dado à previsão da exclusão de associado, que só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto. A quebra da affectio societatis, por ser esta elemento essencial a qualquer associação ou sociedade, pode constituir justa causa para a referida exclusão. A expressão “justa causa” exige demonstração fática, decisão fundamentada tomada pela maioria, conforme quorum estabelecido no estatuto, com respeito ao contraditório e ao direito à ampla defesa. A inovação permite que o estatuto regulamente a exclusão do associado, bem como a defesa deste e o recurso cabível. Eventualmente, a exclusão do associado poderá ser discutida no âmbito judicial, com aplicação do princípio da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, como já reconheceu o Supremo Tribunal Federal. É permitido ao associado retirar-‐se a qualquer tempo, sem necessidade de justificar o pedido, pois ninguém poderá ser compelido a associar-‐se oua permanecer associado. Pode o estatuto impor certas condições para a sua retirada, como o cumprimento de obrigações sociais eventualmente assumidas, mas não poderá obrigar o associado a permanecer filiado à entidade. Destituição dos administradores e alteração dos estatutos O art. 55 do Código Civil estabelece que os associados devem ter direitos iguais, mas acrescenta que o estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais. Poderá este, assim, apesar de os associados deverem ter direitos iguais, criar posições privilegiadas ou conferir direitos preferenciais para certas categorias de membros, por exemplo, a dos fundadores, que não poderão ser alterados sem o seu consenso, mesmo que haja decisão assemblear aprovando tal alteração. A Lei n. 11.127, de 28 de junho de 2005, deu nova redação ao art. 59 do Código Civil, do seguinte teor: “Compete privativamente à assembleia geral: I — destituir os administradores; II — alterar o estatuto. Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da assembleia especialmente convocada para esse fim, cujo quorum será o estabelecido no estatuto, bem como os critérios de eleição dos administradores.” A referida lei adaptou também a redação do art. 60 do aludido diploma, prescrevendo que “a convocação dos órgãos deliberativos far-‐se-‐á na forma do estatuto, garantido a 1/5 (um quinto) dos associados o direito de promovê-‐la”. A intransmissibilidade da qualidade de associado A qualidade de associado, segundo prescreve o art. 56 do Código, “é intransmissível, se o estatuto não dispuser o contrário”. Poderá este, portanto, autorizar a transmissão, por ato inter vivos ou causa mortis, dos direitos dos associados a terceiro. A transferência de quota ou fração ideal do patrimônio da associação, pertencente ao titular, ao adquirente ou ao herdeiro, não importará, de per si, na atribuição a estes da qualidade de associados, salvo disposição diversa do estatuto (art. 56, parágrafo único). Significa dizer que a transmissão patrimonial não importará, em regra, na atribuição da qualidade de associado, sujeita ao preenchimento de determinados requisitos exigidos no estatuto. Este pode, no entanto, permitir a sucessão no quadro associativo, havendo transmissão da quota social. Destino dos bens em caso de dissolução da associação Em caso de dissolução da associação, os bens remanescentes serão destinados “à entidade de fins não econômicos designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, a instituição municipal, estadual ou federal, de fins idênticos ou semelhantes” (CC, art. 61). Podem os associados, pelo estatuto ou por sua própria deliberação, antes da destinação dos referidos bens remanescentes, “receber em restituição, atualizado o respectivo valor, as contribuições que tiverem prestado ao patrimônio da associação” (art. 61, § 1º). As sociedades Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. A atividade pode restringir-‐se à realização de um ou mais negócios determinados (art. 981 e parágrafo único). As sociedades podem ser simples e empresárias: • Sociedades simples: são constituídas, em geral, por profissionais que atuam em uma mesma área ou por prestadores de serviços técnicos (clínicas médicas e dentárias, escritórios de advocacia, instituições de ensino etc.) e têm fim econômico ou lucrativo. Mesmo que eventualmente venham a praticar atos próprios de empresários, tal fato não altera a sua situação, pois o que se considera é a atividade principal por elas exercida. • Sociedades empresárias: também visam ao lucro, mas distinguem-‐se das sociedades simples porque têm por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito ao registro previsto no art. 967 do Código Civil. Considera-‐se empresário, diz o art. 966, “quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”. Como é a própria pessoa jurídica a empresária — e não os seus sócios —, o correto é falar-‐se “sociedade empresária”, e não “sociedade empresarial” (isto é, “de empresários”). Empresa e estabelecimento são conceitos diversos, embora essencialmente vinculados, distinguindo-‐se ambos do empresário ou sociedade empresária, que são os titulares da empresa. As sociedades empresárias assumem as formas de: sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples, sociedade em comandita por ações, sociedade limitada e sociedade anônima ou por ações (arts. 1.039 a 1.092). Equipara-‐se à sociedade empresária a sociedadeque tenha por fim exercer atividade própria de empresário rural, que seja constituída de acordo com um dos tipos de sociedade empresária e que tenha requerido sua inscrição no Registro de Empresas de sua sede (CC, art. 984). Fundações Conceito As fundações constituem um acervo de bens, que recebe personalidade jurídica para a realização de fins determinados, de interesse público, de modo permanente e estável. Na dicção de Clóvis, “consistem em complexos de bens (universitates bonorum) dedicados à consecução de certos fins e, para esse efeito, dotados de personalidade”. Decorrem da vontade de uma pessoa, o instituidor, e seus fins, de natureza religiosa, moral, cultural ou assistencial, são imutáveis. Espécies As fundações podem ser: • particulares: reguladas no Código Civil, arts. 62 a 69. Dispõe o primeiro: “Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-‐la”; • públicas: estas são instituídas pelo Estado, pertencendo os seus bens ao patrimônio público, com destinação especial, regendo-‐se por normas próprias de direito administrativo. Elementos A fundação compõe-‐se, assim, de dois elementos: a) o patrimônio; e b) o fim. O fim é estabelecido pelo instituidor e não pode ser lucrativo, mas, sim, social, de interesse público. A propósito, inovou o Código de 2002 ao prescrever, no parágrafo único do supratranscrito art. 62, que a “fundação somente poderá constituir-‐se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência”. A limitação, inexistente no Código de 1916, tem a vantagem de impedir a instituição de fundações para fins menos nobres ou mesmo fúteis. Registre-‐se que se vem entendendo que a enumeração aparentemente restritiva dos fins de uma fundação no citado dispositivo legal é meramente exemplificativa, admitindo-‐se possa ela se prestar a outras finalidades, desde que afastado o caráter lucrativo. Necessidade de que os bens sejam livres e suficientes A necessidade de que os bens sejam livres é intuitiva, pois a incidência de qualquer ônus ou encargo sobre eles colocaria em risco a própria existência da instituição, na eventualidade de se desfalcarem ou virem a desaparecer, frustrando a realização de seus objetivos. Dispõe o art. 63 do Código Civil que, quando “insuficientes para constituir a fundação, os bens a ela destinados serão, se de outro modo não dispuser o instituidor, incorporados em outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante”. Denota-‐se a intenção de respeitar a vontade do instituidor. Se a fundação por ele idealizada não puder ser concretizada por esse motivo, os bens a ela destinados serão aproveitados em outra instituição de mesmo fim, dando-‐lhe eficácia ou incrementando o seu patrimônio. Constituição da fundação A constituição da fundação se desdobra em quatro fases: • Ato de dotação ou de instituição, que compreende a reserva ou destinação de bens livres, com indicação dos fins a que se destinam e a maneira de administrá-‐los. Far-‐se-‐á por ato inter vivos (escritura pública) ou causa mortis (testamento). O patrimônio há de ser apto a produzir rendas ou serviços que possibilitem a consecução dos fins visados pelo instituidor, sob pena de se frustrar a iniciativa, e pode ser constituído por diversas espécies de bens (imóveis, móveis, créditos etc.). Deve o instituidor, feita a dotação por escritura pública, transferir-‐lhes a propriedade ou outro direito real sobre eles, sob pena de serem registrados em nome dela por mandado. Ocorre que, mesmo com a criação direta da entidade pelo ato de dotação, ficará o bem no patrimônio do instituidor até o momento em que se operar a constituição da pessoa jurídica da fundação, mediante um procedimento complexo. • Elaboração do estatuto, que pode ser: a) direta ou própria (pelo próprio instituidor); ou b) fiduciária (por pessoa de sua confiança, por ele designada). O instituidor podetanto elaborar o estatuto por inteiro como formular-‐lhe somente as bases, ou seja, as cláusulas gerais, que deverão ser desenvolvidas pelo administrador que aceitou a incumbência. Se o instituidor não elabora o estatuto nem indica quem deva fazê-‐lo, o Ministério Público poderá tomar a iniciativa. Isso também acontecerá se a pessoa designada não cumprir o referido encargo no prazo que lhe foi assinalado pelo instituidor ou, não havendo prazo, em cento e oitenta dias. • Aprovação do estatuto: o estatuto é encaminhado ao Ministério Público Estadual da localidade, que é a autoridade competente aque se refere o art. 65 do Código Civil, para aprovação. Antes, verificará se o objeto é lícito, se foram observadas as bases fixadas pelo instituidor e se os bens são suficientes. O Ministério Público, em quinze dias, aprovará o estatuto, indicará modificações que entender necessárias ou lhe denegará a aprovação. O juiz, antes de suprir a aprovação, poderá também fazer modificações no estatuto, a fim de adaptá-‐lo aos fins pretendidos pelo instituidor. Da decisão do juiz também cabe recurso, que é o de apelação, à instância superior. Igualmente compete ao juiz aprovar o estatuto quando este é elaborado pelo órgão do Ministério Público, suprindo a omissão do instituidor ou da pessoa por ele encarregada de cumprir o encargo. • Registro, que se faz no Registro Civil das Pessoas Jurídicas. É indispensável, pois só com ele começa a fundação a ter existência legal. O art. 46 do novo Código exige que o registro declare, dentre outros dados, “o nome e a individualização dos fundadores ou instituidores, e dos diretores” e “as condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do seu patrimônio, nesse caso”. Dispõe o art. 115 da Lei dos Registros Públicos que “não poderão ser registrados os atos constitutivos de pessoas jurídicas, quando o seu objeto ou circunstâncias relevantes indiquem destino ou atividade ilícitos, ou contrários, nocivos ou perigosos ao bem público, à segurança do Estado e da coletividade, à ordem pública ou social, à moral e aos bons costumes”. O desvirtuamento posterior ao registro, passando a fundação a exercer atividade ilícita ou nociva, constitui causa de dissolução, cabendo ao Ministério Público a iniciativa se não o fizerem os sócios ou alguns deles. A função do Ministério Público de velar pelas fundações A fiscalização da fundação compete ao Ministério Público do Estado em que estiver situada. Se a sua atividade se estender por mais de um Estado, a atuação caberá, em cada um deles, ao respectivo Parquet. A função fiscalizatória do Promotor de Justiça evita a indevida utilização da fundação para fins ilícitos e obsta o desvirtuamento de seus objetivos. Poderá ele propor medidas judiciais para remover o improbo administrador da fundação ou lhe pedir contas que está obrigado a prestar e até mesmo para extingui-‐la, se desvirtuar as suas finalidades e tornar-‐se nociva. Alteração no estatuto Qualquer alteração no estatuto da fundação deve ser submetida à aprovação do Ministério Público, devendo-‐se observar os requisitos exigidos no art. 67 do Código Civil. É mister, portanto, que a reforma: “I — seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação; II — não contrarie ou desvirtue o fim desta; III — seja aprovada pelo órgão do Ministério Público, e, caso este a denegue, poderá o juiz supri-‐la, a requerimento do interessado”. Os fins ou objetivos da fundação não podem, todavia, ser modificados, nem mesmo pela vontade unânime de seus dirigentes. São inalteráveis, porque somente o instituidor pode especificá-‐los e sua vontade deve ser prestigiada. Se a alteração estatutária não houver sido aprovada por unanimidade, “os administradores da fundação, ao submeterem o estatuto ao órgão do Ministério Público, requererão que se dê ciência à minoria vencida para impugná-‐la, se quiser, em dez dias”. Permite-‐se, assim, que o Judiciário exerça o controle da legalidade do ato, visto que ao Ministério Público compete apenas o dever de fiscalizar, e não o direito de decidir. Inalienabilidade dos bens Não podem os dirigentes da fundação alienar, de qualquer forma, os bens da fundação, que são inalienáveis, porque sua existência é que assegura a concretização dos fins visados pelo instituidor, salvo determinação em sentido diferente por parte deste. Mas a inalienabilidade não é absoluta. Comprovada a necessidade da alienação, pode ser esta, em casos especiais, autorizada pelo juiz competente, com audiência do Ministério Público, aplicando-‐se o produto da venda na própria fundação, em outros bens destinados à consecução de seus fins, de acordo com a jurisprudência. Feita sem autorização judicial, é nula. Com autorização judicial, pode ser feita, ainda que a inalienabilidade tenha sido imposta pelo instituidor. Extinção das fundações e destino do patrimônio As fundações extinguem-‐se em dois casos, especificados no art. 69 do Código Civil: • Se se tornar ilícita (nociva), impossível ou inútil a sua finalidade: a primeira hipótese é rara, mas poderá ocorrer se houver grave e criminoso desvio de finalidade ou mudança no ordenamento jurídico, tornando ilícito fato que antesnão era. A impossibilidade decorre, via de regra, de problemas financeiros, decorrentes, muitas vezes, de mudanças na política econômica do país ou de má administração. A inutilidade da finalidade pode ocorrer principalmente quando o fim colimado já foi alcançado, como no caso de erradicação de determinada moléstia que a fundação visava combater. • Se vencer o prazo de sua existência: a lei não estabelece prazo para a duração da fundação, mas o instituidor pode fixá-‐lo. Só neste caso se aplica, pois, a hipótese de extinção da fundação em consequência do vencimento do prazo de sua existência. Nos casos mencionados, cabe ao Ministério Público ou a qualquer interessado promover a extinção da fundação e possibilitar, com isso, o atendimento de outras finalidades, com a incorporação do patrimônio a outra fundação de fim semelhante. Dispõe, com efeito, o art. 69 do Código Civil: Art. 69. Tornando-‐se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-‐se o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante. Com a extinção da fundação, nas hipóteses mencionadas, o patrimônio terá o destino previsto pelo instituidor no ato constitutivo. Se não foi feita essa previsão, o art. 69 supratranscrito determina que seja incorporado em outra fundação (municipal, estadual ou federal, aplicando-‐se por analogia o art. 61 do mesmo diploma) designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante. A lei não esclarece qual o destino do patrimônio se não existir qualquer fundação de fins iguais ou semelhantes. Nesse caso, entende a doutrina que os bens serão declarados vagos e passarão, então, ao Município ou ao Distrito Federal se localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-‐se ao domínio da União quando situados em território federal, aplicando-‐se por analogia o disposto no art. 1.288 do Código Civil. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA Conceito O ordenamento jurídico confere às pessoas jurídicas personalidade distinta da dos seus membros. Esse princípio da autonomia patrimonial possibilita que sociedades empresárias sejam utilizadas como instrumento para a prática de fraudes e abusos de direito contra credores, acarretando-‐lhes prejuízos. Pessoas inescrupulosas têm-‐ se aproveitado desse princípio com a intenção de se locupletarem em detrimento de terceiros, utilizando a pessoa jurídica como uma espécie de “capa” ou “véu” para proteger os seus negócios escusos. A reação a esses abusos ocorreu em diversos países, dando origem à teoria da desconsideração da personalidade jurídica. Permite tal teoria que o juiz, em casos de fraude e de má-‐fé, desconsidere o princípio de que as pessoas jurídicas têm existência distinta da de seus membros e os efeitos dessa autonomia para atingir e vincular os bens particulares dos sócios à satisfação das dívidas da sociedade. Como bem esclarece Fábio Ulhoa Coelho, “a decisão judicial que desconsidera a personalidade jurídica da sociedade não desfaz o seu ato constitutivo, não o invalida, nem importa a sua dissolução. Trata, apenas e rigorosamente, de suspensão episódica da eficácia desse ato. Quer dizer, a constituição da pessoa jurídica não produz efeitos apenas no caso em julgamento, permanecendo válida e inteiramente eficaz para todos os outros fins... Em suma, a aplicação da teoria da desconsideração não importa dissolução ou anulação da sociedade”. Cumpre distinguir, pois, despersonalização de desconsideração da personalidade jurídica. A primeira acarreta a dissolução da pessoa jurídica ou a cassação da autorização para seu funcionamento, enquanto na segunda “subsiste o princípio da autonomia subjetiva da pessoa coletiva, distinta da pessoa de seus sócios ou componentes, mas essa distinção é afastada, provisoriamente e tão só para o caso concreto”. A desconsideração no direito brasileiro Rubens Requião foi o primeiro jurista brasileiro a tratar da referida doutrina entre nós, no final dos anos 1960, sustentando a sua utilização pelos juízes, independentemente de específica previsão legal46. E o primeiro diploma a se referir a ela é o Código de Defesa do Consumidor que, no art. 28 e seus parágrafos, autoriza o juiz a desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, “em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social”, bem como nos casos de “falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividadeda pessoa jurídica provocados por má administração”. E, ainda, “sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores”. A Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, que dispõe sobre atividades lesivas ao meio ambiente, também permite a desconsideração da pessoa jurídica “sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente” (art. 4º). Dentre as regras disciplinadoras da vida associativa em geral, previstas no novo Código Civil, destaca-‐se a que dispõe sobre a repressão do uso indevido da personalidade jurídica, quando esta for desviada de seus objetivos socioeconômicos para a prática de atos ilícitos ou abusivos. Prescreve, com efeito, o art. 50: “Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.” Embora o dispositivo transcrito não utilize a expressão “desconsideração da personalidade jurídica”, a redação original do Projeto de Código Civil e as emendas apresentadas demonstram que a intenção do legislador era a de incorporá-‐la ao nosso direito. Domicílio Conceito A noção de domicílio é de grande importância no direito. Como as relações jurídicas se formam entre pessoas, é necessário que estas tenham um local, livremente escolhido ou determinado pela lei, onde possam ser encontradas para responder por suas obrigações. Todos os sujeitos de direito devem ter, pois, um lugar certo no espaço, de onde irradiem sua atividade jurídica. Esse ponto de referência é o seu domicílio. O vocábulo “domicílio” tem significado jurídico relevante em todos os ramos do direito, especialmente no direito processual civil. Domicílio da pessoa natural O novo Código trata conjuntamente do domicílio da pessoa natural e da pessoa jurídica no Título III do Livro I da Parte Geral. Conceito Pode-‐se simplesmente dizer que domicílio é o local onde o indivíduo responde por suas obrigações ou o local em que estabelece a sede principal de sua residência e de seus negócios. É, em última análise, a sede jurídica da pessoa, onde ela se presume presente para efeitos de direito e onde pratica habitualmente seus atos e negócios jurídicos. Nas definições apontadas, sobressaem-‐se duas ideias: a de morada e a de centro de atividade. O Código Civil brasileiro, seguindo o modelo do suíço, define domicílio no art. 70, verbis: “Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.” E, no art. 72, caput, concernente à atividade externa da pessoa, especialmente a de natureza profissional, dispõe: “Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida.” O conceito de domicílio civil é composto, pois, de dois elementos: • Primeiro elemento: residência. A residência é, portanto, apenas um elemento componente do conceito de domicílio, que é mais amplo e com ela não se confunde. Residência, como foi dito, é simples estado de fato, sendo o domicílio uma situação jurídica. Residência, que indica a radicação do indivíduo em determinado lugar, também não se confunde com morada ou habitação, local que a pessoa ocupa esporadicamente, como a casa de praia ou de campo, o hotel em que passa uma temporada ou mesmo o local para onde se mudou provisoriamente até concluir a reforma de sua casa. É mera relação de fato, de menor expressão que residência. Uma pessoa pode ter um só domicílio e mais de uma residência. Pode ter também mais de um domicílio, pois o Código Civil brasileiro, adotando o critério das legislações alemã, austríaca, grega e chilena, dentre outras, e afastando-‐se da orientação do direito francês, admite a pluralidade domiciliar. Para tanto, basta que tenha diversas residências onde, “alternadamente, viva”, como dispõe o art. 71, ou, além do domicílio familiar, tenha também domicílio profissional, como prescreve o art. 72 do Código Civil, verbis: “Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida. Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem.” Admite-‐se também que uma pessoa possa ter domicílio sem possuir residência determinada ou em que esta sejade difícil identificação. Preleciona Orlando Gomes que, nesses casos, para resguardar o interesse de terceiros, vem-‐se adotando a teoria do domicílio aparente, segundo a qual, no dizer de Henri de Page, “aquele que cria as aparências de um domicílio em um lugar pode ser considerado pelo terceiro como tendo aí seu verdadeiro domicílio”. A propósito, preceitua o art. 73 do Código Civil: “Ter-‐se-‐á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada”. É o caso, por exemplo, dos ciganos e andarilhos ou de caixeiros viajantes, que passam a vida em viagens e hotéis e, por isso, não têm residência habitual. Considera-‐se domicílio o lugar onde forem encontrados. Parece-‐nos mais adequada à hipótese a expressão “domicílio ocasional”, empregada por Vicente Ráo, ou ainda “domicílio presumido”. • Segundo elemento: ânimo definitivo. Consiste na intenção de se fixar em determinado local, de forma permanente. As pessoas podem mudar de domicílio. Para que a mudança se caracterize, não basta trocarem de endereço. É necessário que estejam imbuídas da “intenção manifesta de o mudar”, como exige o art. 74 do Código Civil. Essa intenção é aferida por sua conduta e, segundo dispõe o parágrafo único do mencionado dispositivo legal, resultará do que declarar “às municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem”. Essas circunstâncias podem ser, por exemplo: a matrícula dos filhos em escola da nova localidade, a transferência de linha telefônica, a abertura de contas bancárias, posse em cargo público etc. Perde-‐se o domicílio, porém, não só pela sua mudança mas também por determinação de lei (quando venha a ocorrer uma hipótese de domicílio legal que prejudique o anterior) e pela vontade ou eleição das partes, nos contratos, no que respeita à execução das obrigações deles resultantes (CC, art. 78). Espécies O primeiro domicílio da pessoa, que se prende ao seu nascimento, é denominado domicílio de origem e corresponde ao de seus pais, à época. O domicílio pode ser: Domicílio único e domicílio plúrimo: como já dito, uma pessoa pode ter um só domicílio, onde vive com sua família, denominado domicílio único ou familiar, ou mais de um, pois o nosso Código admite a pluralidade domiciliar. Configura-‐se o domicílio plúrimo quando a pessoa natural tem diversas residências, onde alternadamente vive (CC, art. 71), ou, além do domicílio familiar, tem também domicílio profissional, que é o local em que exercita sua profissão. Se a exercitar em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem (art. 72, parágrafo único). Domicílio real e domicílio presumido: também como já mencionado, as pessoas têm, em geral, residência fixa, considerada domicílio real. Algumas, todavia, passam a vida em viagens e hotéis, sem terem residência habitual. Neste caso, ter-‐se-‐á por domicílio o lugar onde forem encontradas (CC, art. 73), presumindo-‐se ser este o seu domicílio (domicílio presumido). Domicílio necessário ou legal e voluntário: o domicílio necessário ou legal é o determinado pela lei, em razão da condição ou situação de certas pessoas. Nesses casos, deixa de existir liberdade de escolha. O art. 76 do Código Civil relaciona tais pessoas, enquanto o parágrafo único indica os respectivos domicílios, conforme quadro a seguir: DOMICÍLIO NECESSÁRIO OU LEGAL O do incapaz É o do seu representante legal O do servidor público É o lugar em que exercer permanentemente suas funções O do militar É onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado O do marítimo É onde o navio estiver matriculado O do preso É o lugar em que cumpre a sentença Observa-‐se, no tocante ao incapaz menor, tutelado ou curatelado, que o domicílio obrigatório lhe é imposto em razão do estado de dependência em que se encontra e, no caso do preso, em decorrência de sua situação especial. Nos demais casos, a atribuição provém da profissão ou atividade exercida. Há outras hipóteses de domicílio necessário na lei civil: • o de cada cônjuge será o do casal (art. 1.569); o agente diplomático do Brasil que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde tem, no país, o seu domicílio poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o teve (art. 77); • o viúvo sobrevivente conserva o domicílio conjugal enquanto, voluntariamente, não adquirir outro (RF, 159/81)112.No sistema da pluralidade domiciliar acolhido pelo nosso direito, as pessoas não perdem automaticamente o domicílio que antes possuíam ao receberem, por imposição legal, o novo. Tal poderá ocorrer se porventura se estabelecerem com residência definitiva no local do domicílio legal. O domicílio voluntário pode ser: a) geral (escolhido livremente); e b) especial (fixado com base no contrato, sendo denominado, conforme o caso, foro contratual ou de eleição). • Domicílio voluntário geral ou comum: é aquele que depende da vontade exclusiva do interessado. Qualquer pessoa, não sujeita a domicílio necessário, tem a liberdade de estabelecer o local em que pretende instalar a sua residência com ânimo definitivo, bem como de mudá-‐lo, quando lhe convier (CC, art. 74). • Domicílio voluntário especial: pode ser o do contrato, a que alude o art. 78 do Código Civil, e o de eleição, disciplinado no art. 111 do Código de Processo Civil. • Foro do contrato: é a sede jurídica ou o local especificado no contrato para o cumprimento das obrigações dele resultantes. • Foro de eleição: é o escolhido pelas partes para a propositura de ações relativas às referidas obrigações e direitos recíprocos. Prescreve o mencionado art. 111 do Código de Processo Civil que as partes “podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde serão propostas as ações oriundas de direitos e obrigações”. Domicílio da pessoa jurídica A rigor, a pessoa jurídica de direito privado não tem residência, mas sede ou estabelecimento, que se prende a determinado lugar. Trata-‐se de domicílio especial, que pode ser livremente escolhido “no seu estatuto ou atos constitutivos”. Não o sendo, o seu domicílio será “o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações” (CC, art. 75, IV). Este será o local de suas atividades habituais, onde os credores poderão demandar o cumprimento das obrigações. A Súmula 363 do Supremo Tribunal Federal proclama que “a pessoa jurídica de direito privado pode ser demandada no domicílio da agência ou estabelecimento em que se praticou o ato”. Com efeito, o art. 75, § 1º, do Código Civil admite a pluralidade de domicílio dessas entidades, prescrevendo: “Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados”. Desse modo, se a pessoa jurídica tiver filiais, agências, departamentos ou escritórios situados em comarcas diferentes, poderá ser demandada no foro em que tiver praticado o ato. Assim também dispõe o art. 100, IV, a e b, do Código de Processo Civil121. Se a administração ou a diretoria tiver a sede no estrangeiro, haver-‐se-‐á por domicílio da pessoa jurídica o lugar do estabelecimento situado no Brasil onde as obrigações foram contraídas, correspondente a cada agência (CC, art. 75, § 2º). As pessoas jurídicas de direito público interno têm por domicílio a sede de seu governo. Assim, dispõe o art. 75 do Código Civil que o domicílio da União é o Distrito Federal; dos Estados, as respectivas capitais; e do Município, o lugar onde funcione a administração municipal. Consoante dispõe o art. 99, I, do Código de Processo Civil, a União aforará as causas na capital do Estado em que tiver domicílio a outra parte. E será demandada, ad libitum do autor, no Distrito Federal ou na capital do Estado em que ocorreu o ato que deu origem à demanda ou em que se situe o bem (CF, art. 109, §§ 1º a 4º). Os Estados têm por sede jurídica as suas capitais (CPC, art. 99, II), e os Municípios, a sede da administração municipal. Atos do registro civil Registro civil é a perpetuação, mediante anotação por agente autorizado, dos dados pessoais dos membros da coletividade e dos fatos jurídicos de maior relevância em suas vidas, para fins de autenticidade, segurança e eficácia. Tem por base a publicidade, cuja função específica é provar a situação jurídica do registrado e torná-‐ la conhecida de terceiros. No registro civil, efetivamente, pode-‐se encontrar a história civil da pessoa, por assim dizer, a biografia jurídica de cada cidadão, na expressão de Nicola e Francesco Stolfi. A matéria é regida pelo Código Civil, que se limitou a determinar o registro dos fatos essenciais ligados ao estado das pessoas, e pela Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973, que dispõe sobre os Registros Públicos. O art. 9º do Código Civil, efetivamente, apenas indica os atos sujeitos a registro público: “I — os nascimentos, casamentos e óbitos; II — a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz; III— a interdição por incapacidade absoluta ou relativa; IV — a sentença declaratória de ausência e de morte presumida.” O registro civil, por sua importância na vida das pessoas, interessa a todos: ao próprio registrado, a terceiros que com ele mantenham relações e ao Estado. Os principais fatos da vida humana, como o nascimento, o casamento, o óbito, a separação judicial e o divórcio, são ali retratados e fixados de forma perene. São averbados em registro público: a) as sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do casamento, o divórcio, a separação judicial e o restabelecimento da sociedade conjugal; b) os atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação (CC, art. 10). A letra c do mencionado art. 10, que impunha a averbação dos atos judiciais ou extrajudiciais de adoção, foi revogada pela Lei Nacional da Adoção (Lei n. 12.010/2009). Averbação é qualquer anotação feita à margem do registro para indicar as alterações ocorridas no estado jurídico do registrado. São obrigados a fazer a declaração de nascimento, pela ordem: a) os pais; b) o parente mais próximo; c) os administradores de hospitais ou os médicos e parteiras; d) pessoa idônea da casa em que ocorrer o parto; e e) as pessoas encarregadas da guarda do menor (LRP, art. 52). O Registro Civil está a cargo de pessoas que recebem delegação do poder público e são denominadas Oficiais do Registro Civil das Pessoas Naturais. Outras pessoas têm, também, competência para exercer essas funções, como o comandante de aeronaves, que pode lavrar certidão de nascimento e dos óbitos que ocorrerem a bordo (Código Brasileiro de Aeronáutica, art. 173), bem como as autoridades consulares (LINDB, art. 18). Bens A parte geral do código civil trata das pessoas, naturais e jurídicas, como sujeitos de direito e dos bens como objeto das relações jurídicas que se formam entre os referidos sujeitos. Objeto da relação jurídica é tudo o que se pode submeter ao poder dos sujeitos de direito, como instrumento de realização de suas finalidades jurídicas. Coisa é o gênero do qual bem é espécie. É tudo que existe objetivamente, com exclusão do homem. Bens são coisas que, por serem úteis e raras, são suscetíveis de apropriação e contém valor econômico. Somente interessam ao direito coisas suscetíveis de apropriação exclusiva pelo homem. Bens são coisas materiais, concretas, uteis aos homens e de expressão econômica, suscetíveis de apropriação, bem como as de existência imaterial economicamente apreciáveis (direitos autorais, de invenção, etc). Dos bens em si mesmos • Bens corpóreos: são os que têm existência física, material e podem ser tangidas pelo homem. (gases, diversas fontes de energia, como o a eletricidade, o gás, o vapor.) • Bens incorpóreos: são os que têm existência abstrata ou ideal e valor econômico, como o direito autoral, o credito, a sucessão aberta, o fundo de comercio, o software, o know-‐how etc. São criações da mente reconhecidas pela ordem jurídica. • Bens imóveis: (bens de raiz) o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente (art. 79). Direitos reais sobre imóveis para os efeitos legais: os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram; o direito à sucessão aberta (art. 80). o Por natureza: somente o solo, com sua superfície, subsolo e espaço aéreo. o Por acessão naturais: árvores e os frutos pendentes, bem como todos os acessórios e adjacências naturais. (pedras, fontes e os cursos de água, superficiais ou subterrâneos, que corram naturalmente) o Por acessão artificial / física: incorporado permanentemente ao solo pelo homem (árvores plantadas pelo homem / edifícios e as construções que não se possa retirar sem destruição, modificação, fratura ou dano) (art. 81) o Por determinação legal: trata-‐se de bens incorpóreos, imateriais (direito), que não são, em si, móveis o imóveis. “os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram; o direito à sucessão aberta (art. 80)”. • Bens móveis: suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da sustância ou da destinação econômico-‐social. o Por natureza / essência: são bens que, sem deterioração na substância, podem ser transportados de um lugar para outro, por força própria ou estranha. § Semoventes: são suscetíveis de movimento próprio, como os animais. § Móveis propriamente ditos: são os que admitem remoção por força alheia, sem dano, como os objetos inanimados, não imobilizados por sua destinação econômico-‐social. (moedas, títulos da dívida pública e de dívida particular, mercadorias, ações de companhias,
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