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1 AULA 11 : FIRMA I : Tecnologias e Produçao 1. O que é a firma ?; 2. Tecnologias e Conjuntos de Produçao; 3. Funções de Produçao; 4. Substituiçao Técnica; 5. Retornos à Escala; 6. Bibliografia e Exercícios sugeridos. 1. O que é a firma ? A maneira mais simples de definir a firma é de considerá-la com uma entidade criada por pessoas com propósito comum de adquirir fatores de produçao e insumos, combiná-los de uma certa maneira, para criar produtos vendáveis no mercado. Os insumos e fatores de produção são adquiridos em seus mercados próprios, e a despesa realizada pela firma nestes mercados constituem o seu custo de produção. A produção da firma é vendida no mercado do produto, e o valor destas vendas constituem a sua receita final. Uma pergunta relevante feita pelos primeiros economistas que pensaram a origem da firma é a seguinte: por que é necessário criar uma entidade, uma instituição como a firma, para comprar os fatores e insumos, combiná-los na fabricaçao de produtos para vender estes no mercado ? Não seria a atividade produtiva factível a agentes individuais que demandariam regularmente no mercado todos os insumos e fatores necessários à produção ? Sim, isto seria factível, os agentes demandantes e ofertantes de fatores e insumos se dirigiriam ao 2 mercado e, mediante contratos bilaterais, poderiam acertar as quantidades e preços convenientes para as partes. Todavia, deve-se convir que, neste caso, a atividade produtiva seria bem menos eficiente e, em alguns casos, inviável. Este é o principal argumento levantado por R.Coase, no seu importante artigo The Nature of Firm, de 1937, para explicar a emergência das firmas. O fato da firma ser uma entidade social e jurídica, permite que suas atividades façam objeto de uma organização. As atividades desta organização, desde que bem planejadas e geridas, permitirão à firma reduzir sensívelmente os custos das suas transações, tanto de compra quanto de venda. Por exemplo, a organização permitirá à firma ganhos de escala na compra de insumos, como as matérias- primas: a firma poderá obter reduções no preço pago por estes insumos se demandá-los em quantidades maiores, não apenas para atender à produção corrente, mas também a produção planejada no futuro. Outras economias internas relacionadas à racionalização de processos de produção e que requerem estabilidade e treinamento da mao de obra, por exemplo, sòmente podem ser alcançados por organizações. A organização também permite a internalizaçao dos ganhos de produtividade do trabalho tanto na produção quanto nas atividades de suporte. Enfim, as vendas e a garantia dos serviços pós-venda são implementadas mais facilmente quando o produto é identificado à uma organização antes que à uma pessoa. 3 Além da economia nos custos de transação e a internalizaçao dos ganhos de produtividade, a organização da firma permite também a redução da incerteza inerente aos repetidos contratos bilaterais que deveriam ser firmados entre agentes individuais. Como organização, entidade social e jurídica, a firma pode obter melhores contratos, tanto na compra de insumos ou fatores como na venda de produtos, e poderá também gerenciá-los de modo mais efetivo e eficiente do que o faria um agente individual. Em conseqüência, os riscos associados aos contratos da firma são sensivelmente menores que os riscos associados aos contratos bilaterais feitos por indivíduos, diretamente no mercado. O Objetivo da firma O principal objetivo das firmas é a maximizaçao do lucro. O lucro é a diferença entre a receita monetária auferida pela firma na venda do produto no mercado e as despesas incorridas na compra dos insumos e do serviço dos fatores utilizados na produção. O lucro é renda disponível aos proprietários da empresa e estes, como consumidores, também extraem satisfação dos bens e serviços que sua renda permite adquirir. Quanto maior o lucro, maior o poder de compra e de escolha dos proprietários da firma, sobre os bens e serviços disponíveis no mercado. Assim, é natural que os proprietários procurem orientar a produção da firma no sentido da maximizaçao do lucro, que é a renda que eles finalmente poderão dispor. 4 Obviamente, a maximizaçao do lucro pode não ser a única motivação a orientar o comportamento da firma: A maximizaçao da receita, a maximizaçao da parcela de mercado (“market share”) ou mesmo a maximizaçao do prestígio são também outras possibilidades que devem ser consideradas. Entretanto, a percepção majoritária dos economistas é de que estes outros motivos não tem o respaldo empírico e a consistência teórica da maximizaçao do lucro. Antes, estas motivações alternativas são percebidas pela maioria dos teóricos como estratégias de curto prazo inseridas em uma perspectiva de maximizaçao do lucro no longo prazo, antes que objetivos últimos em si mesmos. Na economia real, existem forças de mercado identificáveis que coagem a firma para a maximizaçao do lucro, ainda quando seus proprietários ou executivos não estejam naturalmente inclinados naquela direção. Com efeito, suponha que uma firma dada não gere lucros. Se a razão disso está na gerencia e a maioria dos proprietários da firma é composta por consumidores insaciados, estes pressionarão a diretoria para que o gerente seja demitido e substituído por outro que faça a firma gerar lucros. Por outro lado, se a causa da firma ser deficitária for atribuída aos proprietários, entao haverá espaço para que outros empresários externos adquiram o controle do capital da firma e mudem o seu curso, maximizando o lucro. Quais estratégias melhor servem ao objetivo maior da maximizaçao do lucro isto depende das circunstancias que a firma faz face: 5 a) primeiramente com relaçao à tecnologia de produção que lhe é disponível; b) segundo, com relaçao às condiçoes de compra no mercado de insumos e fatores de produção; c) terceiro, com relaçao às condiçoes concorrênciais de venda no mercado do produto. Ao considerarmos o comportamento da firma nesta e nas aulas posteriores, devemos distinguir claramente seu objetivo, que é a maximizaçao do lucro, das suas restrições, as quais são múltiplas e mutantes, evoluindo de acordo com uma realidade do mercado que está acima do seu controle. 2. Tecnologias e Conjuntos de Produção Em uma economia com bens, um plano de produção é um vetor m ( ),...,, 21 myyyy = no qual, por convenção, os elementos positivos são considerados produtos, e os elementos negativos são considerados insumos ou fatores de produçao, segundo os casos. )0( >iy )0( <jy Um plano de produção é um vetor de bens possível. y Se o bem i do plano de produçao for tal que y 0=iy , então este bem não está presente neste plano. Por exemplo, se )5,1,0,2( −−=y , temos um plano de produção no qual 5 unidades do bem 4 podem ser produzidas com unidades do bem 1 e 1 unidade do bem 3, sem o uso do bem 2. 2 6 O conjunto dos planos de produção que são factíveis para a firma é notado Y e é chamado Conjunto de produção. Formalmente: { }factíveléyRyY m :∈= . Para delimitar este conjunto de planos de produção factíveis, devemos referir, em primeiro lugar, as restrições tecnológicas da firma. De fato, muitos planos de produção que utilizam insumos disponíveis em abundancia não são factíveis por razóes técnicas ou tecnológicas (vide o carro movido a hidrogênio). Por outro lado, outros planos são técnicamenteaccessíveis para a firma, mas não são factíveis porque, por exemplo, a tecnologia está protegida por uma patente de propriedade de outra firma. Podemos teóricamente caracterizar o conjunto Y por uma funçao cujos valores definirão os limites deste conjunto. (.)F Esta função é dita funçao de transformação. )(:: yFyRRF m →→ Óbviamente, a funçao dependerá do conjunto dos fatores, insumos e das técnicas de produção disponíveis para a firma. F Com a funçao de transformação, o conjunto de produção ganhará uma contorno mais preciso, uma vez que os planos factíveis à firma ficam assim definidos: { }0)(: ≤∈= yFRyY m e se e sòmente se é um elemento da fronteira de Y . 0)( =yF y 7 Fronteira de Transformação O conjunto dos planos que estão sobre a fronteira de Y é chamado de fronteira da transformação: { }0)(:)( =∈≡ yFRyYfront m Na Figura 1 abaixo representamos um conjunto de produção com a sua fronteira, no caso de uma tecnologia reversível e dois bens: pasta de papel e papelão . )( 1y )( 2y Fig.1: Conjunto e Fronteira de Transformação: Tecnologia reversível. y1 (pasta de papel) y2 (papeláo) { }0)(: ≤∈= yFRyY m -5 4 1 -2 F(y1,y2)=0 p y0 Na figura acima, o conjunto de produção é a região abaixo da fronteira de transformação de equação . 0),( 21 =yyF Conforme indicado na figura, pode-se transformar eficientemente 5 unidades de pasta de papel em 4 unidades de papelão. O ponto “p” não é um ponto de produção eficiente pois com as 5 unidades de pasta de papel pode-se 8 obter um maior volume de papelão do que a ordenada do ponto “p” indica. Por outro lado, sendo a tecnologia reversível, pode-se tranformar 2 unidades de papelão em 1 unidade de pasta de papel reciclado. Definição 1: (Plano eficiente) Um plano de produção Yy ∈ é eficiente se ele pertencer à fronteira de transformação, isto é, se 0)( =yF . Taxa marginal de Transformação Considere um plano de produção eficiente, como na Figura 1 acima. 0y Diferenciando totalmente a equação no ponto teremos: 0),( 21 =yyF 0yy = 0))(())((0)0(),( 2 2 0 1 1 0 21 =∂∂+∂∂⇒== dyyyFdyyyFdyydF Ou: 2 0 1 0 1 2 )( )( y yF y yF dy dy ∂∂ ∂∂=− Definição 2: (Taxa Marginal de Transformaçao) No plano de produçao eficiente , a Taxa 0y Marginal de Transformação do bem 1 no bem 2 (TMT12) é definida por: 2 0 1 0 0 12 )( )( )( y yF y yF yTMT ∂∂ ∂∂= 9 Por exemplo, se TMT12(y0)= 3, no plano de produção eficiente y0, posso sacrificar 1 unidade do bem 1 para obter eficientemente 3 unidades adicionais do bem 2. Geométricamente, a TMT é a inclinação da reta tangente à fronteira de transformação no ponto na Figura 1. 0y Produto, Fatores e Insumos Por razoes práticas, os bens que são insumos ou fatores de produção são notados distintamente dos produtos própriamente ditos. Por exemplo, o açúcar é um produto cuja fabricação depende de um insumo principal, a cana de açúcar, e de fatores como o trabalho, a maquinaria e a terra. Estes podem fazer objeto de um processo de produção em si mesmos, mas na fabricaçao do açúcar eles entram como insumo ou fatores. Os fatores de produção distinguem-se dos insumos porque são bens que não se exaurem no processo de fabricação, eles podem ser usados em outros processos. Uma conseqüência disso é que, no processo da fabricaçao, nenhuma técnica será capaz de reverter o produto nos fatores de produçao utilizados. Já os insumos são bens que se consomem no processo da fabricação, na medida que são transformados para que o produto possa ser criado. Os insumos sim, podem ser técnicamente reversíveis, no sentido que, uma vez transformados no produto, podem muitas vezes ser reconstituídos, mediante a transformação reversa do produto. Na sequencia distinguiremos produtos de insumos ou fatores notando as quantidades dos produtos 1, 2, ... 10 por e, as quantidades de insumos ou fatores 1, 2, ... por , . ,..., 21 yy x ,..., 21 x 0, ≥ii xy O processo de produção mais frequentemente analisado, pela sua simplicidade, é o de um único produto, produzido na quantidade com o uso de y s insumos ou fatores de produçao . sx ,...,1 x Neste caso, podemos, podemos escrever a funçao de transformação em uma forma separável, distinguindo o produto dos fatores e insumos, da seguinte maneira: ),...,(),...,,( 11 ss xxfyxxyF −= onde f é uma funçao não negativa só dos insumos e fatores de produçao. Neste caso, o conjunto de produção fica: { }0)....,(:)....,,( 111 ≤−∈= ++ sss xxfyRxxyY e a fronteira da transformação: { }0)....,(:)....,,()( 111 =−∈= ++ sss xxfyRxxyYfront Como vimos anteriormente, os pontos que se situam sobre a fronteira de transformação são pontos de eficiência produtiva, de modo que ),...,( 1 sxxfy = é a produção máxima que pode ser alcançada com os insumos e fatores nas quantidades . sxx ,...,1 Na próxima seção definiremos como a funçáo de produção. ),...,( 1 sxxf Por ora, vejamos algumas propriedades que um conjunto de produção pode usualmente exibir. 11 Propriedades dos conjuntos de produção (i) Y não é vazio: ∅≠Y A firma deve ao menos planejar produzir algo, do contrário não há razão para estudá-la. (ii) Y é fechado. Esta é uma condiçao técnica: todo limite de planos de produção factíveis deve ser um plano factível. (iii) Não há almoço grátis (no free lunch) Com esta hipótese se estabelece que nenhuma produção é possível sem o uso de algum insumo ou fator. Geométricamente, esta condiçao requer: . { }0=∩ +mRY (iv) Possibilidade de inação A inatividade é possível, de modo que Y∈0 . Esta condiçao, bem plausível para uma firma ainda não operante, é relaxada para uma firma operante que, por exemplo, tem contrato em vigor com o fornecedor de um fator usado pela firma em quantidade fixa. Assim, violações desta hipótese estão associadas à existência de custos irrecuperáveis (sunk costs), incorridos pela firma em operaçao. (v) Livre disponibilidade (free disposal) Fatores, insumos e produtos podem ser incorporados ou eliminados do processo produtivo sem custos pela mudança. 12 (vi) Irreversibilidade Se YyyYy ∉−⇒≠∈ 0, . Não é possível fazer a reversao completa de uma tecnologia. Isto significa, por exemplo, que se k unidades de insumo produzem q unidades de produto, não será possível fazer a reversão destas q unidades de produto e produzir com elas as k unidades de insumo originais. (vii) Retornos à escala não crescentes O conjunto de produção Y exibe retornos à escala não crescentes se qualquer vetor produto-fator factível pode sofrer contrações uniformes das suas dimensões. Formalmente, se Yy ∈ , então Yy ∈α para todo [ ]1,0∈α . (viii) Retornos à escala não decrescentes O conjunto de produção Y exibe retornos à escala não decrescentes se qualquer vetor produto- fator factível pode sofrer expansões uniformes das suas dimensões. Formalmente, se Yy ∈ , então Yy ∈α para todo 1≥α . (ix) Retornos à escala constantes O conjunto de produção Y exibe retornos à escala constantes se qualquer vetor produto-fator factível pode sofrer tanto contrações como expansoes uniformes das suas dimensões.Formalmente, se Yy ∈ , então Yy ∈α para todo 0≥α . Este caso é a conjunção dos dois casos anteriores. 13 Nas Figuras 2a, 2c, 2d, ilustramos graficamente conjuntos de produção exibindo estas três últimas propriedades. Fig 2a: Tecnologia exibindo retornos à escala não crescentes. y1 y2 { }0)(: ≤∈= yFRyY m y .αy Na figura abaixo, o conjunto de produção não exibe retornos à escala não decrescentes, pois uma contração uniforme do vetor de produção y não é factível. Fig.2b: Retornos à escala não decrescentes violados y1 y2 { }0)(: ≤∈= yFRyY m y .αy 14 Fig.2c: Tecnologia exibindo retornos à escala não decrescentes y1 y2 { }0)(: ≤∈= yFRyY m y .αy Custos de instalaçao Quando há custos de instalação recuperáveis, o fator 1 é utilizado sem que haja produção. Esta só ocorre uma vez cobertos estes custos, com o emprego de fatores adicionais. Fig.2c: Tecnologia exibindo retornos à escala constantes y1 y2 { }0)(: ≤∈= yFRyY m 15 (x) Aditividade (free entry) Se temos dois planos de produção factíveis, Yy ∈ e e existe livre entrada de novos produtores, entao a aditividade requer Yy ∈′ Yyy ∈′+ , isto é, que o plano de produção agregado yy ′+ também seja factível. (xi) Convexidade Esta é uma das mais importantes propriedades em microeconomia. A convexidade assegura que se Yyy ∈′, e [ 1,0∈ ]α então Yyy ∈′−+ )1( αα . Os conjuntos de produção representados nas figuras 2a e 2d são convexos; os das figuras 2b e 2c não. A convexidade tem duas implicações para a tecnologia da produção: a) retornos à escala não crescentes; Para ver isso, basta invocar a hipótese (iv) e colocar na definição acima. 0=′y b) combinações não balanceadas de fatores ( 10 == αα ou ) não são mais produtivas que combinações balanceadas ( 10 << α ). (xii) Y é um cone convexo Por definição, Y é um cone convexo se , Yyy ∈′∀ , +∈ Rβα , , Yy y ∈′+ βα . Esta propriedade é a conjunção das propriedades (ix) retornos à escala constantes e (x) aditividade. 16 Pode-se mostrar que o conjunto de produção é aditivo e satisfaz a condiçao de retornos à escala não crescentes se e sòmente se Y Y é um cone convexo. 3. Funções de Produção Vimos anteriormente que se a funçao de transformação permite que se possa separar o produto dos insumos e fatores, como por exemplo , ),...,(),...,,( 11 ss xxfyxxyF −= f será uma funçao não negativa de insumos e fatores. Os planos de produção sobre a fronteira da transformação { }0)....,(:)....,,( 111 =−∈ ++ sss xxfyRxxy são eficientes, no sentido que dão a produção máxima que é técnicamente possível obter com os insumos e fatores . sxx ,...,1 Definição 3: (Funçao de Produçao) Uma funçao de produção ),...,(),...,(:: 11 ss s xxfxxRRf →→ ++ é a quantidade máxima de produto que pode ser obtida com os insumos e fatores . sxx ,...,1 OBS.: Doravante, designaremos os argumentos da funçao de produçao simplesmente como fatores de produçao, muito embora alguns deles possam ser insumos. sxx ,...,1 Propriedades gerais da funçao de produçao 1) Continuidade Assume-se que pequenas variações nas quantidades dos fatores utilizados geram variações sensíveis nas quantidades do bem produzido. 17 2) Crescimento estrito Aumentos nas quantidades empregadas dos fatores geram aumentos nas quantidades produzidas. 3) Quaseconcavidade Formalmente, a quaseconcavidade de f implica que, para dois vetores 1x e 2x e 2)1( xttxxt −+= , , temos sempre: [ ]1,0∈t{ })( 2x,)( ffxf t ≥ )( 1xmin . Esta propriedade implica na presença de alguma complementaridade entre os fatores, pois ela nos garante que a produção obtida com o balanceamento dos fatores de produção será superior ou igual à produçao que se pode obter com o emprego não balanceado destes fatores. Se a funçao de produção é quase côncava, sempre pode-se produzir mais combinando adequadamente os fatores de produção. Como vimos no Teorema 5 da Aula 1, uma outra forma de identificar a quaseconcavidade de f é pelo formato convexo dos seus conjuntos contorno superior: { }00 )(:)( yxfRxyCS s ≥∈= + ; 00 ≥y 4) Não há almoço grátis Como supomos que não há produção sem o uso de algum fator, temos 0)0( =f 18 Produto Médio e Produto Marginal O produto médio, por unidade do fator i utilizado na produção, é definido por: i s x xxf ),...,( 1 ; si ,...,1= Se f for diferenciável, temos um indicador local do rendimento físico do fator de produção. O produto marginal do fator i é dado por: i s x xxf ∂ ∂ ),...,( 1 O produto marginal nos dá o acréscimo obtido na produção com o emprego adicional de uma unidade do fator. Trabalho e Capital Por razoes de conveniência didática, a análise da produção é usualmente feita considerando dois fatores de produção: o trabalho, notado e o capital, notado . Lx ≡1 Kx ≡2 Trata-se de dois fatores básicos que estão presentes em quase todos os processos produtivos reais. Se a produção é medida em unidades/mës, por exemplo, o fator trabalho será medido em horas totais de trabalho empregadas nesta produção ao longo do mës. O fator trabalho é normalmente heterogêneo: processos produtivos complexos requerem o exercício de várias funções, das mais simples como a mao-de- 19 obra não qualificada, as mais complexas, que exigem maior habilidade e conhecimento. Dentro de uma mesma funçao, os trabalhadores também podem se diferenciar de acordo com suas formações, tempos de experiência, aptidões ou motivações pessoais. Assim, a agregação das horas de trabalhadores distintos é de fato uma simplificação, pois ela pressupõe que o trabalho seja um fator homogêneo longitudinalmente, entre os indivíduos. O fator capital também apresenta uma grande heterogeneidade, pois que pode incluir máquinas e equipamentos de gerações tecnológicas distintas e que são utilizados conjuntamente, como também os aportes monetários permanentes que dão suporte financeiro à produçao. Normalmente este fator é medido por um índice de capital, medindo o estoque dos recursos de capital empregados na produção. Exemplo 1: Cobb-Douglas Considere a funçao 0,;),( ≥== βαβα KLKLfy . Temos unidades do produto sendo fabricadas com o uso de y L unidades de trabalho e K unidades de capital. Pode-se facilmente checar que esta funçao atende às 4 propriedades listadas acima para as funções de produção. O produto médio do trabalho é: α β −= 1/ L KLy e o produto marginal do trabalho: α β α −=∂∂ 1/ L KLy . 20 Conjuntos e Funções de Produção Pode-se mostrar dois resultados relacionando diretamente a funçao de produção ao conjun to de produção Y da seção anterior. ),...,( 1 sxxf Proposição 1: (i) O conjunto de produção Y exibe retornos à escala constantes se e sòmente se a funçao de produção é homogênea de grau 1; ),...,( 1 sxxf (ii) O conjunto de produção Y é convexo se e sòmente se a funçao de produção é ),...,( 1 sxxf côncava. A demonstração desta proposição é deixada como exercício. Pelo item (i) da proposição, vemos do exemplo anterior, que a funçao de produçao Cobb-Douglas é homogênea de grau 1 se e somentese 1=+ βα . 4. Substituiçao Técnica Análogamente às superfícies de indiferença da teoria da consumidor, definiremos na teoria da produçao as Isoquantas. Definição 4: (Isoquantas) O isoquanta de nível é o conjunto das técnicas de 0y produçao alternativas que sao necessárias e suficientes para produzir unidades do produto. 0y Formalmente: { }00 :)( yfRxyI s )(x =∈= + . 21 Obviamente, existe um isoquanta para cada nível de produçao . 0y O isoquanta de nível não é outro que o limite inferior do conjunto contorno superior de 0y f , . )( 0yCS No caso de dois fatores, o isoquanta é uma curva. Sendo o conjunto de produçao Y convexo, pelo item (ii) da Proposição 1 a funçao de produçao f será côncava, de modo que o isoquanta será um conjunto convexo. Substituiçao Técnica e Elasticidade Análogo à taxa marginal de substituiçao (TMS) da teoria do consumidor, definimos sobre o isoquanta a Taxa Marginal de Substituiçao Técnica (TMST). Definição 5: (TMST) A Taxa Marginal de Substituiçao Técnica do fator i pelo fator j mede a quantidade adicional do fator j que compensa o sacrifício de uma unidade adicional do fator i de modo a manter o nível da produçao constante. Matemáticamente, esta taxa é calculada pela razão entre os produtos marginais do fator i e do fator j, sobre um ponto x da isoquanta de nível )(xf : j i ij x xf x xf xTMST ∂∂ ∂∂= )( )( )( 22 No caso de dois fatores, trabalho L e capital K , por exemplo, em que a isoquanta é uma curva, a TMST mede o negativo da inclinação da tangente à isoquanta, como mostrado na Figura 3 abaixo: Fig.3: Taxa Marginal de Substituiçao Técnica do Trabalho pelo Capital L K θ . x0 L0 K0 0 I(y0) Geométricamente, a TMSTLK é avaliada como a tangente do ângulo θ, que mede a inclinação da tangente à isoquanta de nível de produçao y0 constante, no ponto (L0, K0): )tan(|)( 0),( 0 θ=−= = yKLfLK dL dKxTMST Assim por exemplo, se TMSTLK=1/2, com o sacrifício de uma unidade de trabalho pode-se manter a produçao constante adicionando ½ unidade de capital ao processo produtivo. No caso da Cobb-Douglas do exemplo 1 temos: 23 0 00 )( L KxTMSTLK β α= A TMST é uma medida local da substituiçao possível entre os fatores, a qual depende das unidades de medida dos fatores. Para obter uma medida independente das unidades de medida os economistas definem a elasticidade de substituiçao. Definição 6: (Elasticidade de Substituiçao Técnica) A Elasticidade de Substituiçao Técnica do fator i pelo fator j é uma medida adimensional da facilidade com a qual o fator i pode ser substituído pelo fator j no processo da produçao. Matemáticamente, esta medida é calculada como: )ln( )/ln( )( IJ ij ij TMSTd xxd x ≡σ Geométricamente, ijσ é a elasticidade da tangente do ângulo φ formado pela reta passando pela origem que mantém fixa a proporção dos fatores j e empregados na produçao ( ), com relaçao à tangente do ângulo i ij xx / θ da TMST. A Figura 4 ilustra este fato. 24 Fig.4: Elasticidade de Substituiçao Técnica do Fator i com relaçao ao Fator j xi xj θ . x0 0 I(y0) . x1 φ Temos os seguintes resultados com relaçao à elasticidade de substituiçao técnica ijσ : (i) Se f é quasecôncava, 0≥ijσ . Neste caso, sendo os isoquantas convexos, os ângulos φ e θ são comonotonicos isto é, eles aumentam e diminuem conjuntamente; (ii) Quanto mais próxima de 0 for o valor de ijσ , mais difícil é a substituiçao do fator i pelo fator j. No caso extremo em que os fatores são complementares, p.ex. se { }jiji xaxxxf ,min),( = , temos 0=ijσ , pois os fatores são empregados em proporções fixas e o numerador da fórmula da elasticidade se anula; (iii) Quanto mais próxima de ∞ for o valor de ijσ , mais fácil é a substituiçao do fator i pelo fator j. 25 No caso extremo em que os fatores são substitutos perfeitos, p.ex. se ijji axxxxf +=),( , temos ∞=ijσ , pois neste caso a TMST é constante e o denominador da fórmula da elasticidade se anula; (iv) O caso intermediário, em que ∞<< ijσ0 é o da substituiçao imperfeita, como ilustrado na Figura 4. (v) Elasticidade de Substituiçao Constante Alguns casos notáveis em que ijσ é constante ao longo do isoquanta são obtidos com funções de produçao homotéticas, muito embora esta última propriedade não garanta a constancia da elasticidade de substituiçao em todos os casos. O caso mais evidente é o da Cobb-Douglas, do exemplo 1: Neste caso, temos da TMST calculada à pg. 23: )ln()/ln()/ln( LKTMSTLK += αβ de modo que 1=LKσ . Exemplo 2: Constant Elasticity Substitution (CES) Esta funçao, já conhecida da teoria do consumidor, é uma funçao homotética e, no caso de dois fatores, KL, tem a forma: 10;)( /1 <≠+= ρρρρ KLy . Neste caso, obtemos: ( ) ρ ρρρρ ρρρρ ρρ ρρ − −− −− = + + = 1 11/1 11/1 / )(1 )(1 LK KKL LKL TMSTLK 26 Logo, )ln() 1 1()/ln( LKTMSTLK ρ−= , de modo que ρσ −= 1 1 LK é constante ao longo do isoquanta. Para diferentes valores do seu parämetro ρ , a CES apresenta-se como uma funçao bastante flexível, e isto pode ser constatado pelos valores extremos que podem ser gerados em sua elasticidade de substituiçao: Se 0→ρ obtemos 1=LKσ , que é o caso Cobb-Douglas; Se −∞→ρ vem 0=LKσ , os fatores são complementares; Se 1→ρ temos +∞=LKσ e a tecnologia é linear. Exercício 1: A funçao 2/1)(2),( LKKLKLf ++= expressa o compromisso entre um tecnologia linear e a tecnologia Cobb-Douglas. Mostre que 2=LKσ . 5. Retornos à Escala Introduzimos até aqui algumas medidas locais da produtividade dos fatores, tais como o produto marginal e o produto médio. As medidas acima são medidas unilaterais, pois envolvem a variação de um fator apenas, mantidos os outros constantes. Os retornos à escala são medidas de produtividade globais, no sentido que dizem respeito à resposta do produto face à uma variação uniforme em um grupo de fatores ou em todos os fatores, simultaneamente. 27 Para ilustrarmos melhor isto, consideramos o caso de 2 fatores, L (trabalho) e K (capital). No curto prazo, quando um dos fatores é fixo, digamos o capital KK = , o produto varia de acordo com as variações do fator variável apenas, o trabalho L , pois )(),( LLKfy ϕ== . Neste caso, à medida que aumenta-se a quantidade de trabalho, a razão capital/trabalho LK / diminui, de modo que os aumentos eventuais da produçao LLy Δ′≈Δ )(ϕ são chamados retornos com proporções variáveis. No longo prazo, quando todos os fatores de produçao variam uniformemente, falamos de retornos à escala globais. Neste caso, se os fatores variam uniformemente, não há variação na proporção dos fatores empregados na produçao, de modo que os retornos à escala são retornos com proporções fixas. A idéia por trás desta designação é a da ampliaçao da escala de produçao: quando a quantidade de todos os fatores dobra por exemplo, emprega-se o dobro do pessoal e o dobro do capital, é o tamanho da firma que aumenta, é a escala de produçao que aumenta. É claro que, quando todos os fatores aumentam,espera-se aumentos no produto maiores do que quando apenas um grupo destes fatores aumenta. Em outras palavras, retornos com proporções variáveis sempre são menores que retornos com proporções fixas equivalentes. Para vermos isto algébricamente, suponha que a firma aumente as quantidades K e L empregados mantendo a proporção LK / fixa, isto é, tal que K K L L Δ=Δ . 28 Temos entao: K K KLf L L KLf y Δ∂ ∂+Δ∂ ∂≈Δ ),(),( L L K K KLfLL L K K KLf L KLf Δ∂ ∂+′=Δ∂ ∂+∂ ∂≈ )),()(()),(),(( ϕ Como 0),( >∂ ∂ K KLf esta última expressão é maior que o aumento equivalente LL Δ′ )(ϕ obtido anteriormente, mantendo-se o capital fixo. Este fato é também ilustrado na Figura 5 abaixo: Fig.5 : Retornos com proporções fixas e variáveis L K . x0 L00 I(y0) K L0 +ΔL K+ ΔΚ I(y2) I(y1) x2 K/L=const. Quando todos os fatores são variáveis e o aumento no emprego dos fatores (ΔL,ΔK) mantém a proporção fixa, passa-se do isoquanta I(y0) ao isoquanta I(y2), ao longo do eixo radial passando por x0 e x2. Se o capital é mantido fixo no nível K , o nível máximo de produçao que poderá ser alcançado com o do trabalho será dado por )( 21 yy < , nível de aumento LΔ 29 produçao epresentado pelo isoquan is baixo I(y1). r ta ma etornos à escala globais á caracterizamos os retornos à escala globais quando sual de se caracterizar nçao R J descrevemos as propriedades que os conjuntos de produçao podem apresentar. o entanto, a forma mais uN estes retornos é através da funçao de produçao. onsidere uma tecnologia representada pela fuC de produçao )(xfy = , onde ),...,( 1 sxxx = é o vetor dos fatores de prod uçao utilizados. Definição 7: (Retornos à Escala Globais) Seja 0>λ um real positivo. Se s : Rx +∈ (i) )()( xfxf λλ < temos retornos decrescentes; (ii) )()( xfxf λλ > temos retornos crescentes; (iii) )()( xfxf λλ = temos retornos constantes; Observações: exibe retornos à escala constantes se ) A tecnologiaa e sòmente se a funçao de produçao é homogênea linear (grau 1); 30 b) Se a funçao de produçao f for homogênea de grau 0>α , isto é, se ))( xf α (xfλλ = entao, para 1>λ a tecnologia exibe retornos à escala decrescentes se 1<α e crescentes se 1>α . c) Os retornos à escala globais não são fácilmente encontrados no mundo real, pois eles supõem que a produtividade dos fatores não depende da escala da produçao. Muitas tecnologias não se inserem de fato nesta categoria. Com freqüência, para baixos níveis de produçao, o rendimento dos fatores é inicialmente crescente; depois, para níveis de produçao intermediários o rendimento estaciona e, para níveis de produçao superiores, requerendo um emprego ainda maior dos fatores, o rendimento passa a ser decrescente. Esta é uma conseqüência da chamada lei dos rendimentos marginais decrescentes dos fatores de produçao, sobre a qual retornaremos nas próximas aulas. Retornos à escala locais Em razão das limitações ao uso prático dos retornos à escala globais, o que não lhes retira valor do ponto de vista conceitual, os economistas consideram os retornos à escala locais, sendo estes definidos para cada vetor de fatores de produçao. ),...,( 1 nxxx = 31 Definição 8: (Retornos à Escala Locais) Se defina por ),...,(;)( 1 nxxxxfy == )(xμ a soma das elasticidades do produto com relaçao aos fatores de produçao, no ponto x , isto é: ∑ = ∂ ∂= si i i y x x xfx 1 )()(μ Entao, no ponto : ),...,( 1 nxxx = (i) Se 1)( <xμ temos retornos locais decrescentes; (ii) Se 1)( >xμ temos retornos locais crescentes; (iii) Se 1)( =xμ temos retornos locais constantes; Exemplo 3: Tecnologia com retornos variáveis Considere a funçao de produçao com dois fatores, trabalho L e capital K : , com ( 11 −−−+= βα KLAy ) Ay ≤>+> ;1;0, βαβα Temos: =),( KLμ y K K KLf y L L KLf ∂ ∂+∂ ∂ ),(),( ++= −− −− βα βαα KL KL 1 βα βαβ −− −− + KL KL 1 )1)(( A y−+= βαμ 32 Logo, para níveis de produçao )11( βα +−< Ay , teremos 1>μ , de modo que os retornos à escala serao crescentes; Para o nível de produçao )11( βα +−= Ay , temos 1=μ , de modo que o retorno à escala é constante; Finalmente, para níveis de produçao )11( βα +−> Ay , teremos 1<μ , de modo que os retornos à escala serao decrescentes. 5. Bibliografia e Exercícios sugeridos Bibliografia: [SN] Cap. 9 ; [N] Cap. 7; [VO] Cap. 11; [PR] Cap. 6; [JR] Sec.3.1; Sec.3.2. Exercícios Sugeridos (Específicos). Anpec: 2012/ Q04,Q06 ; 2011/ Q03; 2008/Q05; 2007/ Q05; 2006/ Q03; 2005/Q05; 2003/Q03. [SN]: 9.2/9.3/9.5/9.6/9.8 e 9.9-9.11 (Analytical)
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