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Apostila de Direito Civil V Direito das Coisas Parte I

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ESCOLA DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS 
CURSO DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
Direito Civil 
 
Direito das Coisas 
 
 
 
 
 
 
Prof. M.Sc. Andrei Sicsú 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Manaus 
 
2016 
 1
Parte I 
 
Histórico da Propriedade 
 
No início da civilização a propriedade era coletiva. Este modelo de propriedade 
foi dando lugar à propriedade individual, apresentando a seguinte evolução: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Período Romano 
Lei das XII Tábuas – primeiro diploma legal oficialmente constituído. 
 
Corpus Júris Civile – imperador romano Justiniano – mundo romano-helênico 
(527 a 565 da era cristã). 
 
Este último dispositivo influenciou a legislação europeia, as nações do ocidente 
ao oriente, até a Idade Média. No Brasil Colônia chegou por via das 
Ordenações do Reino (Afonsinas, Manuelinas e Filipinas). 
 
Idade média 
Existia uma diferença entre os fundos dos nobres e os do povo. Estes deveriam 
contribuir onerosamente em favor daqueles. 
 
Na era contemporânea – a propriedade é determinada pelo regime político. 
 
Regime da propriedade na antiga URSS 
A Propriedade era exclusiva somente sobre os bens de consumo pessoal; 
Havia a propriedade usufrutuária de bens de utilização direta; 
Os bens de produção eram socializados. 
 
Países do ocidente 
A propriedade individual possui restrições voluntárias e legais, para que seja 
possível o desempenho da função social da propriedade. 
 
 
DIREITO DAS COISAS 
 
Conceito de Direito das Coisas 
 
 
Propriedade 
individual 
sobre os 
objetos 
necessários à 
existência de 
cada um. 
 
Propriedade 
individual 
sobre os 
bens de uso 
particular 
suscetíveis 
de serem 
trocados 
com outras 
pessoas. 
 
Propriedade 
dos meios 
de trabalho 
e de 
produção. 
 
Propriedade 
individual 
nos moldes 
capitalistas; 
seu titular 
podia 
explorá-la de 
modo 
absoluto. 
 
 2
“É conjunto de normas que regem as relações 
jurídicas concernentes aos bens materiais ou 
imateriais suscetíveis de apropriação pelo homem.” 
 
Sendo assim, visa regular as relações entre os homens e as coisas, traçando 
normas tanto para aquisição, exercício, conservação e perda do poder dos 
homens sobre esses bens como para os meios de utilização econômica. 
 
Nem todos os bens são interessantes ao Direito das Coisas, pois o homem só 
se apropria de bens úteis à satisfação de suas necessidades. 
 
Se uma coisa é inesgotável ou extremamente abundante, destinada ao uso 
da coletividade, como a luz solar, o ar atmosférico, a água do mar, etc., não há 
razão para ser regulado pelo Direito, uma vez que não há interesse econômico. 
 
Só são incorporadas ao patrimônio do homem as coisas úteis e raras, que 
podem ser objeto de disputa entre os homens. 
 
A apropriação gera um vínculo jurídico denominado domínio. 
 
O Direito das Coisas compreende tanto os bens materiais (móveis, imóveis e 
semoventes) como os bens imateriais (direitos autorais – propriedade imaterial, 
literária, científica e artística). Trata-se de bem imaterial de caráter patrimonial. 
 
Alguns doutrinadores consideram os bens imateriais como direitos da 
personalidade, de cunho moral. 
 
Classificação do Direito das Coisas 
 
Direito das coisas clássico 
é oriundo do direito romano, tendo por 
objetivo estudar a propriedade, as 
servidões, a superfície, a enfiteuse, o 
penhor e a hipoteca. 
Direito das coisas científico 
compreende a mesma matéria do 
clássico, porém com âmbito bem mais 
amplo, graças ao trabalho da 
doutrina. 
Direito das coisas legal 
é aquele regulado pela legislação, 
que se preocupa com a situação 
jurídica da propriedade numa dada 
época e lugar. 
 
 
Conteúdo do Direito das Coisas 
 
A) Posse 
B) Propriedade 
C) Direitos Reais sobre coisas 
alheias 
Gozo: enfiteuse, servidão, usufruto, 
uso, habitação, rendas constituídas 
 3
sobre imóveis. 
Garantia: penhor, anticrese, hipoteca 
e alienação fiduciária. 
Aquisição: promessa irrevogável de 
compra e venda. 
 
 
Distinção entre Direitos Reais e Pessoais 
 
Teorias sobre a distinção entre Direitos Reais e Pessoais 
 
A) Teses Unitárias ou Monistas 
 
1. Teoria personalista 
Todo direito é uma relação entre 
pessoas, sendo o direito real uma 
obrigação passiva universal, onde o 
direito real passa a ser absoluto e o 
direito pessoal relativo. 
2. Teoria Monista-objetivista ou 
Impersonalista 
Despersonaliza e patrimonializa o 
direito. A obrigação tem um valor 
econômico que independe do 
devedor, sendo que o direito real 
extrai seu valor patrimonial dos bens 
materiais. Enquanto o direito pessoal 
é retirado da subordinação de uma 
vontade que se obriga a fazer ou não 
fazer. 
 
 
B) Teoria Clássica ou Realista (adotada pelo Código Civil) 
 
1. Direito Real possui três elementos fundamentais: 
 
sujeito ativo + coisa + inflexão imediata do sujeito ativo sobre a coisa 
 
2. Direito Pessoal - relação entre pessoas: 
 
sujeito ativo + passivo + prestação 
 
 
Diferenças entre o Direito Real e o Direito Pessoal 
 
Diferenças Direito Pessoal Direito Real 
A) quanto ao sujeito 
de direito 
possuem sujeito ativo e 
passivo 
possuem apenas o ativo 
B) quanto à ação ação pessoal contra 
determinado indivíduo 
ação real contra quem 
detiver a coisa, sendo 
oponível erga omnes 
C) quanto ao objeto prestação coisas corpóreas e 
 4
incorpóreas 
D) quanto ao limite é ilimitado é limitado 
E) quanto ao modo de 
gozar o direito 
exige intermediário exercício direto entre o 
titular e a coisa 
F) quanto ao 
abandono 
impossibilidade é característico do direito 
real 
G) quanto à extinção extingue-se pela inércia permanece até que haja 
uma situação contrária 
em proveito de outro 
titular 
H) quanto ao direito 
de sequela 
impossibilidade prerrogativa do direito 
real 
I) quanto à usucapião impossibilidade modo de aquisição de 
direito real 
J) quanto à posse impossibilidade suscetibilidade do direito 
real 
K) quanto ao direito 
de preferência 
impossibilidade restritos aos direitos 
reais de garantia 
 
 
DIREITOS REAIS 
 
Conceito de Direitos Reais 
 
“É a relação jurídica em virtude da qual o titular pode 
retirar da coisa, de modo exclusivo e contra todos, 
as utilidades que ela é capaz de produzir.” 
 
Características dos Direitos Reais 
 
A) oponibilidade erga omnes; 
B) direito de sequela e preferência do titular; 
C) aderência imediata ao bem; 
D) obedece ao numerus clausus; 
E) passível de abandono e posse; e 
F) usucapião é modo aquisitivo de Direito Real. 
 
Classificação dos Direitos Reais 
 
Propriedade posse, uso, gozo e disposição. 
Enfiteuse direito de posse, uso, gozo e disposição, sujeitos 
a restrição oriunda de direito alheio. 
Direitos Reais de 
Garantia 
penhor, hipoteca, alienação fiduciária, 
propriedade fiduciária e cessão fiduciária de 
direitos creditórios oriundos de contratos de 
alienação de imóveis. 
Direito Real de Aquisição promessa irrevogável de compra e venda. 
Direitos Reais de usar e 
gozar do bem 
servidão, uso, usufruto, habitação e superfície. 
 5
Objeto do direito real 
 
A) Pressupostos 
Representação através de um objeto capaz de satisfazer interesses 
econômicos; 
Suscetíveis de gestão econômica autônoma; 
Passíveis de subordinação jurídica. 
 
B) Bens 
Presentes e futuros; 
Corpóreos e incorpóreos. 
 
 
POSSE 
 
Origem da posse 
 
A) Teoria de Niebuhr 
A posse surgiu com a distribuição, a título precário, de terras conquistadas 
pelos romanos, passando a ser um estado de fato protegido pelo interdito 
possessório.Terras loteadas – denominadas de possessiones – cedidas a título 
precário – destinadas a construção de novas cidades. 
 
Os beneficiários não eram proprietários dessas terras – não admitia a ação 
reivindicatória para defender as terras das invasões. 
 
Criação de procedimento especial – interdito possessório – proteger 
juridicamente o estado de fato. 
 
B) Teoria de Ihering 
A posse é consequência do processo reivindicatório. 
 
Medida arbitrária tomada pelo pretor. 
 
Ações reivindicatórias outorgavam, discricionariamente, a guarda ou a 
detenção da coisa litigiosa. 
 
Situação provisória – inércia das partes. 
 
Medida provisória – desinteresse no prosseguimento da ação – assegurava 
o domínio. 
 
Parte contrária – pretensão de ver decidida a reivindicatória – meios de 
prova praticamente inoperantes. 
 
Mais tarde, houve a substituição da medida discricionária do pretor por 
critérios mais justos e lógicos beneficiando quem oferecesse as melhores 
 6
provas na fase inicial da ação reivindicatória, outorgando-lhe a coisa 
litigiosa até o julgamento definitivo da ação. 
 
A robustez da prova produzida tornava quase definitiva a decisão provisória 
– desestimulando a produção de novas provas e de outras diligências – 
consolidando a decisão e a retenção jurídica do bem. A propriedade ficava 
em suspenso. 
 
Processo preliminar da ação reivindicatória – caráter de ação de mérito – 
autêntico processo declaratório do estado de fato – declarar – garantir – 
defender juridicamente. 
 
A posse, simples estado de fato, passou a merecer proteção jurídica por 
meio de ação própria. 
 
A) Teoria Subjetiva de Savigny 
Posse é o poder imediato que tem a pessoa de dispor fisicamente de um 
bem com a intenção de tê-lo para si e de defendê-lo contra a agressão de 
quem quer que seja. 
 
Elementos: 
 
1. Corpus: 
elemento material que se traduz no poder físico 
sobre a coisa ou na mera possibilidade de exercer 
esse contato – na detenção do bem ou no fato de tê-
lo à sua disposição; 
2. Animus domini: 
intenção de exercer sobre a coisa o direito de 
propriedade. Se houver apenas o animus – 
fenômeno de natureza psíquica que não interessa ao 
direito. Se existir só o corpus – mera detenção – 
posse natural e não jurídica. 
 
 
A teoria é subjetiva porque acentua o elemento intencional como caracterizador 
da posse. 
 
O locatário, o comodatário, o depositário, o mandatário, e todos que exercem o 
poder físico sobre certos bens – não gozam de uma proteção direta. 
 
B) Teoria Objetiva de Ihering 
Posse é a exteriorização do domínio, ou seja, a relação exterior intencional, 
existente, normalmente, entre o proprietário e sua coisa. 
 
Elemento: 
 
Corpus 
para que haja posse basta o corpus; o animus já está ínsito 
no poder de fato exercido sobre a coisa; o que importa é a 
destinação econômica do bem. 
 
Objeto da posse 
 7
A) Coisas corpóreas, salvo as que estiverem fora do comércio, ainda que 
gravadas com cláusula de inalienabilidade. 
B) Coisas acessórias se puderem ser destacadas da principal sem alteração de 
sua substância. 
C) Coisas coletivas. 
D) Direitos reais de fruição: uso, usufruto, habitação e servidão (há dúvidas 
quanto à enfiteuse). 
E) Direitos reais de garantia: penhor, anticrese, excluída a hipoteca. 
F) Direitos pessoais patrimoniais ou de crédito. 
 
Natureza da posse 
Há bastante controvérsia na doutrina pátria no que se refere à natureza da 
posse. 
 
A doutrina divide-se em três correntes distintas: 
 
Posse é um fato Posse é um fato e um direito Posse é um direito 
A posse existe de 
fato. 
Quando considerada em si 
mesma, ou seja, em sua 
essência, a posse seria um 
fato. Mas, quanto aos efeitos 
produzidos, tais como - a 
usucapião e os interditos, seria 
um direito. Assim, teria uma 
dupla natureza e seria 
considerada um direito 
pessoal. Pois, para a Escola 
Subjetivista os interditos 
possessórios pertencem à 
Teoria das Obrigações, com 
ações ex delicto, que têm a 
posse como fundamento. 
Essas ações só existem por 
causa da posse. 
Para Ihering, a posse 
é um direito 
juridicamente prote-
gido porque é 
condição da utilização 
econômica da 
propriedade. A posse 
é a instituição jurídica 
que tende à proteção 
do direito de 
propriedade. Por isso, 
pertence ao direito 
das coisas e aos 
direitos reais. 
 
 
A grande maioria de nossos civilistas considera a posse um direito. Porém, 
quanto à sua natureza, há divergências entre real ou pessoal. 
 
Para Clóvis Beviláqua, a posse é um estado de fato protegido pela lei em razão 
da propriedade, da qual é manifestação exterior. Não se pode considerar a 
posse como Direito Real, pois ela não está inclusa no rol do art. 1.225, CC, que 
é taxativo em virtude do numerus clausus. Diz ainda, que a posse é um direito 
especial, pois o CPC, art. 10, § 1°, exige a citação de ambos os cônjuges para 
as ações envolvendo Direitos Reais imobiliários, enquanto que o § 2°, que trata 
das possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é 
indispensável nos casos de composse ou de ato praticado em conjunto. Isto 
prova a natureza especial da posse, visto que, se fosse Direito Real, a 
presença dos cônjuges seria obrigatória. 
 
 8
Para Maria Ligia Coelho Mathias, a posse não é Direito Pessoal, porque não 
estabelece nenhum liame obrigacional entre o possuidor e terceiros ou o 
proprietário; nem Direto Real por não gerar efeito erga omnes, visto que 
sucumbe frente ao proprietário. 
 
Para Ebert Vianna Chamoun, a posse é poder ou estado de fato que alguém 
exerce sobre uma coisa cujo conteúdo é exclusivamente econômico, pois se 
refere ao aproveitamento do bem, considerado como objeto de satisfação das 
necessidades humanas. Mas, é considerado um estado de fato apenas no 
sentido de prescindir da existência de um título jurídico. Acrescenta ainda, que 
há um direito à proteção da posse, pela simples aparência de uma situação 
jurídica regular, pois o possuidor tem um comportamento semelhante ao de 
quem exerce poder peculiar ao domínio, comportando-se como se fosse titular 
de um Direito Real. 
 
Maria Helena Diniz e Daibert, defendem que a posse é um Direito Real, posto 
que é a visibilidade ou desmembramento da propriedade. Aplica-se o princípio 
de que o acessório segue o principal, sendo a propriedade o principal e a 
posse o acessório, já que não há propriedade sem a posse. 
 
Por isso, integra-se a posse na mesma categoria jurídica da propriedade, 
concedendo ao possuidor a tutela jurídica. 
 
O nosso legislador civil adotou a tese de Ihering, porque não há propriedade 
sem posse; dar proteção à posse é proteger indiretamente a propriedade. 
Nessa lógica, se a propriedade é Direito Real, a posse também é; se a posse 
for ofendida, o domínio também será; por este motivo deve-se proteger a posse 
na defesa da propriedade. 
 
De acordo com os arts. 1.197, 1.210 e 1.212 do CC e os arts. 920 e seguintes 
do CPC percebe-se que o caráter jurídico da posse decorre do próprio 
ordenamento jurídico, que confere ao possuidor ações específicas para 
defender-se de quem quer que o ameace, perturbe ou esbulhe. 
 
Caio Mário da Silva Pereira diz que é por esta razão que a nossa jurisprudência 
aceita a opinião de Ihering ao considerar a posse como um Direito Real, 
quando exige a outorga uxória nas ações de interditos referentes aos bens 
imóveis. 
 
Concluímos, então, que a posse detém todos os caracteres do Direito Real: 
A) exercício direto, sem intermediário; 
B) oponibilidade erga omnes; e 
C) incidência em objeto obrigatoriamente determinado. 
 
Assim, pela sua posição dentro do sistema do nosso Código Civil, a posse não 
encontra obstáculo à sua qualificação como Direito Real. 
 
Por fim, Enneccerus, Kipp e Wolff qualificama posse de “Direto Real 
provisório” e a propriedade como “Direito Real definitivo”. 
 
 9
Modalidades da posse 
 
Caráter da posse: é a modalidade pela qual a relação possessória se 
representa na vida jurídica. 
 
CC, art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele 
que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum 
dos poderes inerentes à propriedade. 
 
Classificação das modalidades da posse 
 
1) Quanto à extensão da garantia possessória 
 
A) Posse direta B) Posse indireta 
 
Essa classificação tem por escopo determinar, em relação às pessoas, a 
extensão da garantia possessória e suas consequências jurídicas. 
 
Há uma natureza exclusiva da posse, ou seja, não pode haver mais de uma 
posse sobre uma mesma coisa. 
 
No entanto, com base na Teoria de Ihering, permite-se que o desdobramento 
da relação possessória no que tange ao seu exercício, não gera a perda da 
posse para o proprietário, pois o proprietário ao conceder a posse a outrem 
conserva o direito de exercer poderes inerentes ao domínio. 
 
CC, art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a 
coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de 
direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de 
quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto 
defender a sua posse contra o indireto. 
 
O domínio ou a propriedade possui vários poderes. Estes poderes geralmente 
estão concentrados na pessoa de um titular. Entretanto, estes mesmos 
poderes podem estar distribuídos entre diversas pessoas. 
 
Então, podemos concluir que: 
 
1. Não se trata de posse do fâmulo; 
2. Existem duas posses paralelas e reais: primeira, a do possuidor indireto 
que transfere o uso do bem e, segundo, a do possuidor direto que 
recebe o bem, em razão de Direito Real, ou Pessoal, ou Contratual. A 
posse direta – se apossou da coisa materialmente. A posse indireta é 
exercida pelo proprietário (posse mediata ou autônoma), possuindo a 
substância da coisa. 
3. Abrange todos os casos em que a posse de uma coisa passa a outra 
pessoa em virtude de obrigação ou Direito Real ou Pessoal. 
4. Relação jurídica entre o possuidor direto e o indireto. 
 10
5. Coexistência da posse direta e da indireta. Posse direta é sempre 
temporária – relação transitória de direito. É derivada (imediata ou 
subordinada), pois procede de alguém, exigindo sempre um 
intermediário. 
6. O possuidor direto pode defender a sua posse através dos interditos 
possessórios, até mesmo contra o proprietário. Da mesma forma, o 
proprietário – possuidor indireto - também goza da proteção 
possessória, podendo defender-se contra turbações de terceiros, assim 
como, contra o próprio possuidor direto. 
 
2) Quanto à simultaneidade do exercício da posse 
 
A) Composse pro diviso 
(divisão de fato, mas não de 
direito). 
B) Composse pro indiviso 
(cada um tem uma parte ideal, 
sem saber qual). 
 
CC, art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem 
coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela 
atos possessórios, contanto que não excluam os dos 
outros compossuidores. 
 
3) Quanto aos vícios objetivos 
 
A) Posse justa B) Posse injusta 
 
CC, art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, 
clandestina ou precária. 
 
Violenta: uso da força física ou violência moral; 
Clandestina: feita às ocultas; 
Precária: abuso de confiança. 
 
4) Quanto à subjetividade 
 
A) Posse de boa-fé B) Posse de má-fé 
 
CC, art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor 
ignora o vício, ou o obstáculo que impede a 
aquisição da coisa. Parágrafo único. O possuidor 
com justo título tem por si a presunção de boa-fé, 
salvo prova em contrário, ou quando a lei 
expressamente não admite esta presunção. 
CC, art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este 
caráter no caso e desde o momento em que as 
circunstâncias façam presumir que o possuidor não 
ignora que possui indevidamente. 
 
 
5) Quanto aos seus efeitos 
 11
 
A) Posse ad interdicta 
(amparada nos interditos, em caso 
de ameaça, turbação, esbulho ou 
quando perdida). 
B) Posse ad usucapionem 
(dá origem à usucapião, 
respeitando os requisitos legais). 
 
 
6) Quanto à sua idade 
 
A) Posse nova 
(menos de ano e dia) 
B) Posse velha 
(mais de ano e dia) 
 
CPC, art. 924. Regem o procedimento de 
manutenção e de reintegração de posse as normas 
da seção seguinte, quando intentado dentro de ano 
e dia da turbação ou do esbulho; passado esse 
prazo, será ordinário, não perdendo, contudo, o 
caráter possessório. (...) 
CPC, art. 927. Incumbe ao autor provar: (...) III - a 
data da turbação ou do esbulho. 
 
 
7) Quanto à atividade laborativa 
 
A) Posse produtiva 
(respeita a função social) 
B) Posse improdutiva 
(não respeita a função social) 
 
 
Princípio geral sobre a continuidade do caráter da posse 
 
CC, art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se 
manter a posse o mesmo caráter com que foi 
adquirida. 
CC, art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera 
permissão ou tolerância assim como não autorizam 
a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, 
senão depois de cessar a violência ou a 
clandestinidade. 
 
Excluído está o vício da precariedade. 
 
Diferença entre Possuidor e detentor 
 
CC, art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele 
que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum 
dos poderes inerentes à propriedade.(...) 
CC, art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, 
achando-se em relação de dependência para com 
outro, conserva a posse em nome deste e em 
 12
cumprimento de ordens ou instruções suas. 
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-
se do modo como prescreve este artigo, em relação 
ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até 
que prove o contrário. 
 
Utilização econômica do bem – manifestação externa do direito. 
 
Ter exercício do direito é poder usá-lo, gozando de suas vantagens. 
 
Disponibilidade é o ato mais característico da exteriorização do domínio. 
 
 
Modos de aquisição da Posse 
 
1. Aquisição originária 2. Aquisição derivada 
 
1. Aquisição originária: é a que independe de translatividade. 
 
Modos aquisitivos originários 
 
a) a apropriação e apreensão do bem 
Unilateral – coisa abandonada (res derelictae) / coisa de ninguém (res nullius) 
Apreensão de bens móveis (ocupação) 
Apropriação de bens imóveis (uso) 
 
CC, art. 1.263. Quem se assenhorear de coisa sem 
dono para logo lhe adquire a propriedade, não sendo 
essa ocupação defesa por lei. 
 
b) o exercício do direito 
 
CC, art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele 
que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum 
dos poderes inerentes à propriedade.(...) 
CC, art. 1.204. Adquire-se a posse desde o 
momento em que se torna possível o exercício, em 
nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à 
propriedade. 
 
2. Aquisição derivada: é a que requer a existência de uma posse anterior, ou 
seja, que é transmitida ao adquirente. 
Bilateral – translatividade – transferência do antigo para o novo possuidor. 
Pode-se adquirir a posse por todos os modos aquisitivos de direito – atos 
jurídicos onerosos ou gratuitos, inter vivos (compra e venda) ou causa mortis 
(testamento). 
 
Esse tipo de posse submete-se aos requisitos do art. 104, CC. 
 
 13
CC, art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I 
- agente capaz; II - objeto lícito, possível, 
determinado ou determinável; III - forma prescrita ou 
não defesa em lei. 
 
Modos aquisitivos derivados 
 
 
1) Tradição 
 
2) Constituto possessório 3) Acessão 
 
 
1) Tradição: entrega ou transferência da coisa. 
 
 
A) Efetiva ou real (material) 
 
B) Simbólica ou ficta C) Consensual 
 
A) Efetiva ou real (material): entrega real do bem – vendedorpassa a coisa 
para o comprador. 
 
B) Simbólica ou ficta: forma espiritualizada da tradição – substituição da 
entrega material do bem por atos indicativos do propósito de transmitir a posse. 
Ex: entrega das chaves do apartamento. 
 
C) Consensual (tradictio longa manu e tradictio brevi manu): não é preciso 
que o adquirente ponha a mão na própria coisa, basta que ela esteja à sua 
disposição. Ex: uma fazenda de grande extensão. 
 
Tradictio longa manu a posse se realiza sem que ninguém detenha a coisa. 
Tradictio brevi manu 
quando uma pessoa já tem a posse 
direta da coisa, como o locatário que 
adquire o domínio – basta a demissão 
voluntária da posse pelo transmitente. 
 
2) Constituto Possessório (cláusula constituti) 
 
CC, art. 1.267, parágrafo único. Subentende-se a 
tradição quando o transmitente continua a possuir 
pelo constituto possessório; quando cede ao 
adquirente o direito à restituição da coisa, que se 
encontra em poder de terceiro; ou quando o 
adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do 
negócio jurídico. 
 
É o contrário da tradictio brevi manu – o possuidor em nome próprio, de um 
bem móvel, imóvel ou semovente, passa a possuí-lo em nome alheio. 
 
Inversão entre proprietário e possuidor – transmutação de sujeitos. 
 14
 
Modalidade de transferência convencional da posse. 
 
Conversão da posse mediata em direta ou desdobramento da posse. 
 
Ocorrem dois atos jurídicos simultâneos – um, transferência da posse de um 
possuidor antigo a um novo possuidor – outro, conservação da posse pelo 
antigo possuidor em nome do novo adquirente. 
 
O objetivo é evitar ao possuidor o ônus de uma nova tradição. 
 
Deve ser expressa ou resultar logicamente das cláusulas estipuladas, isto é, 
não pode se presumida. 
 
No entanto, excepcionalmente, admite-se o constitutum tacitum de acordo com 
o caso concreto. 
 
O Código Civil admite apenas a cláusula constituti como forma aquisitiva da 
posse de bem móvel. 
 
Segundo Maria Helena Diniz, pode-se acatar, em caráter excepcional, o 
constituto tácito em relação aos bens imóveis, por aplicação analógica do art. 
1.267, § único, CC, combinado com o art. 1.196, CC, pois não se trata de 
translatividade de propriedade, mas de tradição ficta de posse. 
 
O enunciado n. 77 do Conselho da Justiça Federal (aprovado nas jornadas de 
Direito Civil de 2002) esclarece que: “a posse das coisas móveis e imóveis 
também pode ser transmitida pelo constituto possessório”. 
 
Para solucionar definitivamente a questão, o projeto de Lei n. 276/2007 propõe 
a seguinte redação para o art. 1.204, CC: “adquire-se a posse de um bem 
quando sobre ele o adquirente obtém poderes de ingerência, inclusive pelo 
constituto possessório”, alcança-se, então, tanto os bens móveis como os 
imóveis. 
 
A posse é um fenômeno dialético - a posse não se adquire pelo “exercício” do 
poder, mas pela obtenção do poder de fato ou poder de ingerência 
socioeconômica sobre um determinado bem da vida, além disso, acarreta a 
abstenção de terceiros em relação a este bem. 
 
Portanto, para se adquirir a posse não precisa o exercício do poder, basta a 
possibilidade de exercício. Isto é, a existência do poder de ingerência é 
imprescindível para a aquisição da posse. 
 
3) Acessão 
A posse pode ser continuada pela soma do tempo do atual possuidor com o de 
seus antecessores. 
 
Conhecida também como conjunção de posses. 
 
 15
Acessão A) Sucessão B) União 
 
A) Sucessão 
 
CC, art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros 
ou legatários do possuidor com os mesmos 
caracteres. 
CC, art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança 
transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e 
testamentários. 
 
Nessa transmissão causa mortis os herdeiros ou legatários tomam o lugar do 
de cujus, continuando a sua posse, com os mesmos caracteres, vícios ou 
qualidades. 
 
CC, art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se 
manter a posse o mesmo caráter com que foi 
adquirida. 
 
Essa espécie de sucessão de posses é necessária ou imperativa, de acordo 
com o CC, art. 1.207, 1ª parte, que diz: “o sucessor universal continua de 
direito a posse do seu antecessor”. 
 
É uma aquisição a título universal, pois o objeto da transferência é uma 
universalidade, como o patrimônio, alíquota-parte de uma universalidade. 
 
B) União 
Sucessão singular (compra e venda, doação, dação, legado). 
 
O objeto adquirido constitui coisa certa ou determinada. 
 
Nessa espécie de posse o adquirente constitui uma nova posse, embora 
receba uma posse de outrem. 
 
A posse do sucessor singular é pessoal, isto é, nasce desligada da posse 
anterior. Entretanto, o CC, art. 1.207, 2ª parte, autoriza a união da posse: “e ao 
sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos 
legais”. Portanto, a união da posse é facultativa. 
 
O direito de somar posses visa adquirir a propriedade pela usucapião. 
 
CC, art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de 
contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes 
(que tratam sobre as espécies de usucapião), 
acrescentar à sua posse a dos seus antecessores 
(art. 1.207), contanto que todas sejam contínuas, 
pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título 
e de boa-fé. 
 16
Quem pode adquirir a Posse? 
 
CC, art. 1.205. A posse pode ser adquirida: I - pela 
própria pessoa que a pretende ou por seu 
representante; II - por terceiro sem mandato, 
dependendo de ratificação. 
 
1) A própria pessoa que a pretende 
 
Tem que ter pleno gozo de sua capacidade de exercício ou de fato e praticar o 
ato gerador da relação possessória – exteriorização do domínio. 
 
2) Representante legal ou procurador de quem quer possuir 
 
Representação legal: pais, tutor ou curador. 
 
Procurador – representação convencional – munido de mandato com poderes 
especiais. 
 
Concorrência de vontades. 
 
É necessário que o representante queira adquirir a posse para o representado 
e que este tenha o intuito de possuir a coisa que o outro se apoderou. 
 
Na representação legal ou na procuração geral ínsita está a vontade do 
representado. 
 
3) Terceiro sem procuração 
 
Essa situação equipara-se à gestão de negócio. 
 
CC, art. 861. Aquele que, sem autorização do 
interessado, intervém na gestão de negócio alheio, 
dirigi-lo-á segundo o interesse e a vontade 
presumível de seu dono, ficando responsável a este 
e às pessoas com que tratar. 
 
Neste caso a aquisição da posse feita pelo gestor, fica na dependência da 
ratificação, confirmação, anuência, concordância, da pessoa para quem a 
posse foi adquirida. 
 
A partir da ratificação, há a obrigação do ato. 
 
A ratificação tem efeito ex tunc: 
 
CC, art. 873. A ratificação pura e simples do dono do 
negócio retroage ao dia do começo da gestão, e 
produz todos os efeitos do mandato. 
 
 17
Se não houver ratificação o gestor responderá, pessoalmente, por perdas e 
danos: 
 
CC, art. 862. Se a gestão foi iniciada contra a 
vontade manifesta ou presumível do interessado, 
responderá o gestor até pelos casos fortuitos, não 
provando que teriam sobrevindo, ainda quando se 
houvesse abatido. 
 
Presunção juris tantum da posse de bens móveis 
Quem adquirir a posse de bens imóveis há a presunção de adquirir também a 
posse dos bens móveis que nele estiverem. 
 
CC, art. 1.209. A posse do imóvel faz presumir, até 
prova contrária, a das coisas móveis que nele 
estiverem. 
 
De acordo com Orozimbo Nonato, trata-se de fenômeno da extensão da posse. 
 
CC, art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera 
permissão ou tolerância assim como não autorizam 
a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, 
senão depois de cessar a violência ou a 
clandestinidade. 
 
 
Efeitos jurídicosda Posse 
 
Silvio Rodrigues diz que os efeitos da posse são as consequências jurídicas 
por ela produzidas, em virtude de lei ou norma jurídica. 
 
1) Uso dos interditos possessórios; 
2) Percepção dos frutos; 
3) Retenção por benfeitorias; 
4) Responsabilidade pelas deteriorações; 
5) Conduz à usucapião; 
6) Ônus da prova cabe à parte adversa; 
7) Privilégio na defesa da posse. 
 
1) Invocar interditos possessórios 
Propor ações possessórias quando for ameaçado, molestado ou esbulhado em 
sua posse, para repelir tais agressões e continuar na posse. 
 
CC, art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido 
na posse em caso de turbação, restituído no de 
esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver 
justo receio de ser molestado. 
 
CPC, art. 82, III e Lei n. 9.099/95, art. 3°, IV. 
 18
 
CPC, art. 82. Compete ao Ministério Público intervir: 
(...) III - nas ações que envolvam litígios coletivos 
pela posse da terra rural e nas demais causas em 
que há interesse público evidenciado pela natureza 
da lide ou qualidade da parte. 
 
Lei n. 9.099/95, art. 3º: “o Juizado Especial Cível tem competência para 
conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, 
assim consideradas: (...) IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de 
valor não excedente ao fixado no inciso I deste artigo.” 
 
Para Ihering são três os fundamentos dos interditos: 
 
I) proteção da posse por ser ela a exteriorização do domínio; 
II) proteção da posse por meio de ações especiais para facilitar a defesa da 
propriedade – o proprietário não precisa provar o seu direito em cada caso; 
III) proteção da posse quando favorece o não-proprietário – não se pode abrir 
mão dessa proteção – inconveniente necessário – possui muitas vantagens 
resultantes da instituição – caso excepcional, pois o normal é estar a posse a 
serviço do legítimo proprietário. 
 
Protegendo-se a posse por via direta, assegura-se a propriedade por via 
indireta. 
 
Portanto, o Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo 
e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, tais como as ações 
possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente a 40 vezes o salário 
mínimo. 
 
Julgado do Tribunal de Justiça de São Paulo n. 78.236, de 1981, e n. 86.380, 
de 1982: “sem a desconstituição do negócio jurídico celebrado não se pode 
buscar a reintegração de posse sob o fundamento de esbulho, pois, apoiada a 
posse em pré-contrato, enquanto não rescindido este, dita posse deve ser 
havida como embasada em justo título, não havendo amparo legal para a 
reintegração”. 
 
O direito pátrio admite as seguintes ações para a defesa da relação 
possessória: 
 
a) ações possessórias típicas 
(stricto sensu) 
interdito proibitório, manutenção de 
posse e reintegração de posse. 
b) ações possessórias atípicas 
(latu sensu) 
nunciação de obra nova, dano infecto, 
embargos de terceiro e imissão de 
posse. 
 
A) Ação de Manutenção de Posse 
Meio pelo qual o possuidor ao sofrer a turbação utiliza-o para manter-se na sua 
posse. 
 
 19
Orlando Gomes define turbação declarando que “é todo ato que embaraça o 
livre exercício da posse, haja, ou não, tenha, ou não, o turbador melhor direito 
sobre a coisa”. 
 
A turbação pode ser de fato ou de direito, direta e indireta, positiva ou 
negativa. 
 
Turbação de fato e turbação de direito 
A) Turbação de fato – agressão material dirigida contra a posse (ex. 
rompimento de cercas, aberturas de picadas, etc). 
B) Turbação de direito – é aquela que opera-se, administrativamente ou 
judicialmente, quando o réu contesta a posse do autor (ex. uma decisão 
prejudica a utilização da coisa – fixa a largura de uma estrada). 
 
Turbação direta e turbação indireta 
A) Turbação direta – é aquela que se exerce imediatamente sobre o bem que 
é o objeto da posse (ex. o réu abre um caminho no terreno do autor). 
B) Turbação indireta – é praticada fora da coisa, mas recai sobre ela, 
produzindo efeitos nocivos à sua posse (ex. o turbador divulga notícias que 
depreciam o imóvel e impede que o possuidor consiga inquilino). 
 
Turbação positiva e turbação negativa 
A) Turbação positiva – prática de atos materiais equivalentes ao exercício da 
posse (ex. cortes de árvores ou implantação de marcos). 
B) Turbação negativa – atos que impedem o possuidor de praticar certos atos, 
dificultando a sua posse. 
 
CC, art. 1.210, 1ª, parte: o possuidor tem direito a 
ser mantido na posse em caso de turbação... 
 
CPC, arts. 926 a 931. 
 
Fundamentação legal para a defesa da posse contra a turbação 
 
CPC, art. 926. O possuidor tem direito a ser mantido 
na posse em caso de turbação e reintegrado no de 
esbulho. 
 
Ônus da prova nas ações possessórias 
 
CPC, art. 927. Incumbe ao autor provar: I - a sua 
posse; II - a turbação ou o esbulho praticado pelo 
réu; III - a data da turbação ou do esbulho; IV - a 
continuação da posse, embora turbada, na ação de 
manutenção; a perda da posse, na ação de 
reintegração. 
 
Medida liminar para a defesa da posse 
 
 20
CPC, art. 928. Estando a petição inicial devidamente 
instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a 
expedição do mandado liminar de manutenção ou de 
reintegração; no caso contrário, determinará que o 
autor justifique previamente o alegado, citando-se o 
réu para comparecer à audiência que for designada. 
 
Obrigatoriedade da audiência prévia 
 
CPC, art. 928, parágrafo único. Contra as pessoas 
jurídicas de direito público não será deferida a 
manutenção ou a reintegração liminar sem prévia 
audiência dos respectivos representantes judiciais. 
 
Efeito da procedência da justificação 
 
CPC, art. 929. Julgada procedente a justificação, o 
juiz fará logo expedir mandado de manutenção ou 
de reintegração. 
 
Prazo para promoção da citação do réu 
 
CPC, art. 930. Concedido ou não o mandado liminar 
de manutenção ou de reintegração, o autor 
promoverá, nos 5 (cinco) dias subseqüentes, a 
citação do réu para contestar a ação. Parágrafo 
único. Quando for ordenada a justificação prévia (art. 
928), o prazo para contestar contar-se-á da 
intimação do despacho que deferir ou não a medida 
liminar. 
 
CPC, art. 931. Aplica-se, quanto ao mais, o 
procedimento ordinário. 
 
É direito do autor da ação possessória receber indenização dos danos sofridos 
e obter a cominação da pena para o caso de reincidência, CPC, art. 921. 
 
Também, se o turbador, de má-fé, remover ou demolir construção ou plantação 
feita em detrimento de sua posse. 
 
Cumulação de pedidos nas ações possessórias 
 
CPC, art. 921. É lícito ao autor cumular ao pedido 
possessório o de: I - condenação em perdas e 
danos; II - cominação de pena para caso de nova 
turbação ou esbulho; III - desfazimento de 
construção ou plantação feita em detrimento de sua 
posse. 
 
 21
Então, o possuidor que sofre embaraço na sua posse sem, contudo, perdê-la, 
propõe a ação de manutenção de posse. Entretanto, deve provar a existência 
da posse e a turbação (CPC, art. 927). 
 
Não precisa discutir a qualidade do direito do turbador nem a natureza ou 
profundidade do dano. 
 
Deve requerer ao juiz a expedição do competente mandado de manutenção 
(CPC, arts. 928 e 929). 
 
Quando a turbação é nova (menos de ano e dia), concede-se a manutenção de 
forma liminar, sem audiência da outra parte. Porém, contra as pessoas 
jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a reintegração 
liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais (CPC, art. 
928, § ún.). 
 
A regra geral é a concessão liminar da ação possessória. 
 
Na ação de força velha apenas admite-se a tutela antecipada (CPC, art. 273). 
O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar,total ou parcialmente, os 
efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova 
inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I - haja fundado 
receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou II - fique caracterizado o 
abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. 
 
No caso de ação de força velha – o rito é comum; ordinário – sumário – (CPC, 
art. 275, I) ou especial (LJE, art. 3º, IV), sendo a ação de força nova (CPC, 
924). Observar-se-á o procedimento sumário: I - nas causas cujo valor não 
exceda a 60 (sessenta) vezes o valor do salário mínimo. Ou, sumaríssimo - Lei 
n. 9.099/95, art. 3º, o Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, 
processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim 
consideradas: (...) IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não 
excedente ao fixado no inciso I deste artigo. 
 
No caso de ação de força nova – rito especial (CPC, art. 924). Regem o 
procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da seção 
seguinte (liminarmente), quando intentado dentro de ano e dia da turbação ou 
do esbulho; passado esse prazo, será ordinário, não perdendo, contudo, o 
caráter possessório. 
 
Donaldo Armelin leciona que: “o autor implementando os requisitos do art. 273 
do CPC poderá fazer jus a uma antecipação de tutela com a mesma amplitude 
daquela que lhe adviria mediante a liminar inserida no rito especial da 
possessória”. 
 
Enunciado n. 238 do Conselho de Justiça Federal, aprovado na III Jornada de 
Direito Civil - Pontes de Miranda e Joel Dias Figueira Jr. Dizem: “ainda que a 
ação possessória seja intentada além de ‘ano e dia’ da turbação ou esbulho, e, 
em razão disso, tenha seu trâmite regido pelo procedimento ordinário (CPC, 
art. 924), nada impede que o juiz conceda a tutela possessória liminarmente, 
 22
mediante antecipação de tutela, desde que presentes os requisitos 
autorizadores do art. 273, I ou II, bem como aqueles previstos no art. 461-a e 
parágrafos, todos do CPC”. 
 
Enunciado n. 239 do Conselho da Justiça Federal, aprovado na III Jornada de 
Direito Civil: “na falta de demonstração inequívoca de posse que atenda à 
função social, deve-se utilizar a noção de ‘melhor posse’, com base nos 
critérios previstos no parágrafo único do art. 507 do CC/1916”. 
 
Regra do CC/1916 - posse com menos de ano e dia – vencia quem tinha a 
melhor posse – havia uma disputa de preferência – melhor posse: 
A) fundada em justo título; 
B) a mais antiga na falta de título, ou sendo os títulos iguais; 
C) sendo o título da mesma data, a atual. 
 
Caso fosse impossível verificar a melhor posse, o juiz determinava o sequestro 
do bem, até que em decisão definitiva, ficasse comprovada a melhor posse 
(CC, art. 507, § ún.). 
 
Manutenção provisória judicial 
 
CC, art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se 
disser possuidora, manter-se-á provisoriamente a 
que tiver a coisa, se não estiver manifesto que a 
obteve de alguma das outras por modo vicioso. 
 
A posse em disputa garante a posse provisória e gera obrigações de 
depositário ao possuidor, desde que este não tenha conseguido a posse com 
violência, precariedade ou clandestinidade. 
 
Ações possessórias e servidões não aparentes 
 
Clóvis Beviláqua esclarece que não cabe a manutenção de posse para 
proteger servidões não aparentes, devido à ausência de sinais visíveis, exceto 
quando os títulos provierem do possuidor do prédio serviente ou daquele de 
quem este o houve – não podem ser confundidos com atos de mera tolerância 
– caberá a ação de manutenção de posse quando as servidões se 
apresentarem de modo ostensivo. 
 
CC, art. 1.213. O disposto nos artigos antecedentes 
não se aplica às servidões não aparentes, salvo 
quando os respectivos títulos provierem do 
possuidor do prédio serviente, ou daqueles de quem 
este o houve. 
 
 
Súmula 415, STF – “servidão de trânsito não titulada, mas tornada permanente, 
sobretudo pela natureza das obras realizadas, considera-se aparente, 
conferindo direito à proteção possessória”. 
 
 23
Divergência na doutrina quanto à contagem do prazo de ano e dia quando os 
atos turbativos forem múltiplos: 
Regra geral conta o primeiro ato turbativo. 
 a) a partir de um ato que importe realmente em privação da posse; 
 b) quando os atos forem distintos, sem nexo de causalidade entre eles, 
cada um será autônomo, para efeito de contagem; 
 c) quando se tratar de atos sucessivos, ligados entre si, há apenas uma 
turbação, então, conta-se o último ato para efeito de prazo para ser admitido o 
rito sumário. 
 
Legítima defesa da posse 
 
O possuidor direto e indireto – pessoalmente ou por sua própria força – reação 
incontinenti ou sem demora, contra ato turbativo real e atual – emprego de 
meios estritamente necessários para manter sua posse. 
 
CC, art. 188. Não constituem atos ilícitos: I - os 
praticados em legítima defesa ou no exercício 
regular de um direito reconhecido. 
 
A autodefesa só pode ser exercida contra o próprio turbador e não contra 
terceiro. 
 
Se a assistência do Estado for tardia ou inoportuna, o possuidor pode agir em 
defesa da sua posse, mas deve evitar excessos, seguindo o princípio da 
moderação da legítima defesa. 
 
É considerada resquício de justiça privada. 
 
Legítima defesa da posse (CC, art. 1. 210, § 1°) – autorização expressa para 
reconquistar a posse – desforço imediato – dever de agir pessoalmente, 
assumindo toda a responsabilidade – pode contar com a ajuda de amigos ou 
serviçais – empregar todos os meios necessários, inclusive armas, até 
conseguir recuperar a sua posse – reação imediata ou assim que for possível 
agir – reação proporcional não podendo ir além do indispensável à restituição 
da posse. 
 
Carvalho Santos traz o seguinte exemplo: “se alguém encontrar o ladrão de 
sua capa, dias depois do furto, apesar do lapso de tempo decorrido, assiste-lhe 
o direito de fazer justiça pelas próprias mãos, se a polícia não estiver presente. 
Entretanto, se após a consumação do esbulho já transcorreu certo prazo o 
melhor mesmo é se socorrer das vias judiciais”. 
 
CC, art. 1.210, § 1°. O possuidor turbado, ou 
esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua 
própria força, contanto que o faça logo; os atos de 
defesa, ou de desforço, não podem ir além do 
indispensável à manutenção, ou restituição da 
posse. 
 
 24
 
b) Ação de Reintegração de Posse (Esbulho) 
Esbulho: é o ato pelo qual o possuidor se vê despojado da posse, 
injustamente, por violência, por clandestinidade e por abuso de confiança. 
 
CPC, art. 926. O possuidor tem direito a ser mantido 
na posse em caso de turbação e reintegrado no de 
esbulho. 
 
CPC, art. 921 – o possuidor tem direito a pleitear 
indenização pelas perdas e danos, pedir cominação 
de pena e exigir o desfazimento de obra ou 
plantação. 
 
 
 
Então, é esbulhador: o estranho que invade a casa deixada pelo inquilino; o 
comodatário que deixa de entregar a coisa no final do contrato; o locador de 
serviço dispensado que não restitui a casa que recebeu para morar. 
 
CC, art. 1.212. O possuidor pode intentar a ação de 
esbulho, ou a de indenização, contra o terceiro, que 
recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era. 
 
O possuidor pode intentar ação de reintegração ou de indenização contra o 
esbulhador ou contra terceiro sabedor do esbulho – receptador de bem 
esbulhado – aquisição de má-fé do esbulhador. 
 
Enunciado n. 80 do Conselho da Justiça Federal: “é inadmissível o 
direcionamento de uma demanda possessória ou ressarcitória contra terceiro 
de boa-fé, por ser parte passiva ilegítima, diante do disposto no art. 1.212, CC. 
Contra o terceiro de boa-fé cabe tão-somente a propositura de demanda de 
natureza real”. Deve restituira coisa, mas não terá o dever de indenizar 
qualquer prejuízo. 
 
Espécies de esbulho: 
A) Ação de Força Nova Espoliativa – recebe este nome por ser impetrada 
dentro do prazo de ano e dia; 
B) Ação de Força Velha Espoliativa – ação ajuizada além do prazo de ano e 
dia. 
 
Ação de Força Nova Espoliativa – inicia-se com a expedição do mandado 
liminar para reintegrar o possuidor imediatamente. 
 
Ação de Força Velha Espoliativa – o magistrado instaura o contraditório, 
mandando citar o réu para que este apresente a sua defesa, confrontando as 
provas produzidas pelas partes, decidindo quem terá a posse. Cabe, também, 
a tutela antecipada (CPC, art. 273), de acordo com o Enunciado n. 238 do 
Conselho da Justiça Federal. 
 
 25
CPC, art. 931. Aplica-se, quanto ao mais, o 
procedimento ordinário. 
 
Tanto a ação de força nova espoliativa quanto a ação de força velha espoliativa 
seguem o rito ordinário depois da contestação. 
 
No entanto, vale lembrar que só na ação de força nova espoliativa cabe o 
mandado liminar (CPC, arts. 924 e 928). 
 
Julgado do Tribunal de Justiça da Bahia: “não sendo a possessória ação real, 
improcede a alegação de prescrição pelo decurso do prazo entre o ato 
esbulhativo e sua propositura”. 
 
CC, art. 1.210, § 2°. Não obsta à manutenção ou 
reintegração na posse a alegação de propriedade, 
ou de outro direito sobre a coisa. 
 
Súmula n. 487, STF: “será deferida a posse a quem evidentemente tiver 
domínio, se com base neste for disputada”. 
 
O Código Civil volta a sua atenção para a posse nas ações possessórias. 
Entretanto, outros direitos poderão ser alegados, como por exemplo, o direito 
de propriedade, porém a decisão deve ser fundamentada na posse. 
 
O julgamento da posse não pode ser prejudicado pela alegação de 
propriedade, se a posse for disputada a título de domínio. 
 
Quando as partes não conseguem provar satisfatoriamente sua posse na 
disputa a título de domínio, admite-se a exceção de domínio. Exemplo, o réu 
esbulhador, em sua defesa, alega que é dono da coisa esbulhada, neste caso, 
o seu argumento não será válido, mesmo sob a alegação de propriedade, pois 
o esbulhador não tem direito de molestar a posse alheia (CC, art. 1.210, § 2°; 
CPC, art. 923). 
 
CPC, art. 923. Na pendência do processo 
possessório, é defeso, assim ao autor como ao réu, 
intentar a ação de reconhecimento do domínio. 
 
Cabe ao proprietário do bem defender o seu domínio contra quem, 
injustamente, o possua mediante ação de reivindicação. 
 
O projeto de Lei 276/2007 alterará o art. 1.210, o § 2° será o § 3°, e terá a 
seguinte redação: “se a coisa móvel ou título ao portador houverem sido 
furtados ou perdidos, o possuidor poderá reavê-los da pessoa que o detiver, 
ressalvado a esta o direito de regresso contra quem lhos transferiu. Sendo o 
objeto comprado em leilão público, feira ou mercado, o dono, que pretende a 
restituição, é obrigado a pagar ao possuidor o preço pelo qual o comprou”. 
Trata-se de sugestão de Joel Dias Figueira Jr. para manter no ordenamento 
jurídico a proteção das vindicatórias da posse, colocando-as como efeitos da 
posse. 
 26
 
A alegação de propriedade nas ações possessórias deve ser apreciada como 
prejudicial da pretensão ajuizada, através da declaração incidental para a 
solução da controvérsia que surgiu durante o processo (CPC, arts. 5º, 325). 
 
CPC, art. 5º. Se, no curso do processo, se tornar 
litigiosa relação jurídica de cuja existência ou 
inexistência depender o julgamento da lide, qualquer 
das partes poderá requerer que o juiz a declare por 
sentença. 
 
CPC, art. 325. Contestando o réu o direito que 
constitui fundamento do pedido, o autor poderá 
requerer, no prazo de 10 (dez) dias, que sobre ele o 
juiz profira sentença incidente, se da declaração da 
existência ou da inexistência do direito depender, no 
todo ou em parte, o julgamento da lide (art. 5º). 
 
A posse não é apenas o poder físico e imediato sobre a coisa, mas a 
exterioridade do exercício de um direito. 
 
O proprietário tem a posse em decorrência do exercício do direito de 
propriedade, exceto se a perdeu ou transferiu a terceiro por um dos modos 
previstos em lei. 
 
O esbulhador tem o dever de restituir a coisa – esta regra deve informar a 
decisão da lide em sede possessória. 
 
Direito Luso – Ordenações Philipinas – inadmitia a exceção de domínio em 
matéria possessória. A posse merece proteção por si mesma, independente da 
alegação da propriedade. Colisão entre o jus possessionis e o jus 
possidendi. 
A) jus possessionis – juízo possessório - pelo qual o possuidor pretende 
exercer o direito de posse. 
B) jus possidendi – juízo petitório – pelo qual o proprietário requer o respeito 
ao seu direito de possuir. 
 
O juízo possessório independe do juízo petitório, pois é um instituto jurídico 
autônomo protegido por ações especiais. 
 
Donaldo Armelin observa que a supressão da exceptio proprietatis evita a 
procrastinação da pretensão da tutela jurisdicional em matéria possessória 
dando maior efetividade à tutela possessória. 
 
Enunciado n. 78 do Conselho da Justiça Federal: “tendo em vista a não 
recepção, pelo novo Código Civil, da exceptio proprietatis (art. 1.210, § 2°), em 
caso de ausência de prova suficiente para embasar decisão liminar ou 
sentença final ancorada, exclusivamente, no ius possessionis, deverá o pedido 
ser indeferido e julgado improcedente, não obstante eventual alegação e 
demonstração de direito real sobre bem litigioso”. 
 27
 
Enunciado n. 79 do Conselho da Justiça Federal: “a exceptio proprietatis, como 
defesa oponível às ações possessórias típicas, foi abolida pelo Código Civil de 
2002, que estabeleceu a absoluta separação entre os juízos possessório e 
petitório”. 
 
O esbulhador ainda pode responder penalmente de acordo com os arts. 161, 
163 e 168 do Código Penal. 
 
 
C) Ação de Interdito Proibitório 
 
É a proteção preventiva da posse ante a ameaça de turbação ou esbulho (CC, 
art. 1.210, 2ª parte; CPC arts. 927 a 933). 
 
CPC, art. 932. O possuidor direto ou indireto, que 
tenha justo receio de ser molestado na posse, 
poderá impetrar ao juiz que o segure da turbação ou 
esbulho iminente, mediante mandado proibitório, em 
que se comine ao réu determinada pena pecuniária, 
caso transgrida o preceito. 
 
Para propor a ação basta provar que o autor tenha um receio fundado ou justo 
de que a violência virá – pouco importa a intenção do réu em praticar ou não a 
turbação ou esbulho – com isso, evita-se a consumação do fato não querido 
(ex. regiões muito violentas, como o sul do Pará, onde o risco de perder a 
posse é muito grande, pode justificar o interdito proibitório). 
 
O interdito proibitório só produz seus efeitos depois de julgado por sentença. 
 
Sendo procedente a ação, o juiz proíbe que o réu pratique a turbação ou 
esbulho, sob pena de pagar multa pecuniária, inclusive perdas e danos, em 
favor do próprio autor ou de terceiro (ex. uma instituição filantrópica). 
 
Súmula n. 228, STJ: “é inadmissível o interdito proibitório para proteção de 
direito autoral”. 
 
D) Ação de Nunciação de Obra Nova 
 
É ação que visa impedir que o domínio ou a posse de um bem imóvel seja 
prejudicado em sua natureza, substância, servidão ou afins, por obra nova no 
prédio vizinho (CPC, arts. 934 a 940). 
 
CPC, art. 934. Compete esta ação: I - ao proprietário 
ou possuidor, a fim de impedir que a edificação de 
obra nova em imóvel vizinho lhe prejudique o prédio, 
suas servidões ou fins a que é destinado; II - ao 
condômino, para impedir que o co-proprietário 
execute alguma obra com prejuízo ou alteração da 
 28
coisa comum; III - ao município, a fim de impedir que 
o particular construa em contravenção da lei, do 
regulamento ou de postura.Legitimados para propor a Ação de Nunciação de Obra Nova 
 
A) O proprietário ou o possuidor; 
B) O condômino; 
C) O município. 
 
Washington de Barros Monteiro: “por obra nova se deve entender não só a 
construção, mas qualquer ato material prejudicial ao proprietário ou possuidor”. 
 
Orlando Gomes, Pinto Ferreira e Rita Gianesini entendem que: “a ação de 
nunciação de obra nova não é ação real imobiliária. Sua natureza é de ação 
pessoal, e não real, uma vez que, de igual modo, são conceituados os direitos 
subjetivos de vizinhança que ela visa assegurar numa de suas manifestações”. 
 
Direito de construir – regulado pelos artigos 1.299 até o 1.313 do CC. 
 
CC, art. 1.301. É defeso abrir janelas, ou fazer 
eirado, terraço ou varanda, a menos de metro e 
meio do terreno vizinho. 
 
Por exemplo, o dono de um prédio superior não pode desviar a água de um 
córrego que há anos é utilizada pelo proprietário de imóvel rural. 
 
Esta ação só caberá quando se tratar de obra contígua em vias de construção. 
 
Não caberá esta ação quando a obra já estiver concluída ou na fase final de 
conclusão, ex. fase de pintura e acabamento final. 
 
Embargo extrajudicial 
 
CPC, art. 935. Ao prejudicado também é lícito, se o 
caso for urgente, fazer o embargo extrajudicial, 
notificando verbalmente, perante duas testemunhas, 
o proprietário ou, em sua falta, o construtor, para 
não continuar a obra. Parágrafo único. Dentro de 3 
(três) dias requererá o nunciante a ratificação em 
juízo, sob pena de cessar o efeito do embargo. 
 
Esta ação tem por objetivo principal suspender ou embargar a obra, até que 
haja sua demolição, se realmente prejudicar a posse ou a propriedade do 
nunciante. 
 
Impede a construção, mesmo que a obra não acarrete dano atual – basta que 
haja a possibilidade de algum ato turbativo que possa acontecer. 
 
 29
CPC, art. 936. Na petição inicial, elaborada com 
observância dos requisitos do art. 282 (requisitos da 
petição inicial), requererá o nunciante: I - o embargo 
para que fique suspensa a obra e se mande afinal 
reconstituir, modificar ou demolir o que estiver feito 
em seu detrimento; II - a cominação de pena para o 
caso de inobservância do preceito; III - a 
condenação em perdas e danos. Parágrafo único. 
Tratando-se de demolição, colheita, corte de 
madeiras, extração de minérios e obras 
semelhantes, pode incluir-se o pedido de apreensão 
e depósito dos materiais e produtos já retirados. 
 
Há cominação de multa para o caso de reinício ou de reconstrução, bem como 
condenação em perdas e danos. 
 
CPC, art. 937. É lícito ao juiz conceder o embargo 
liminarmente ou após justificação prévia. 
CPC, art. 938. Deferido o embargo, o oficial de 
justiça, encarregado de seu cumprimento, lavrará 
auto circunstanciado, descrevendo o estado em que 
se encontra a obra; e, ato contínuo, intimará o 
construtor e os operários a que não continuem a 
obra sob pena de desobediência e citará o 
proprietário a contestar em 5 (cinco) dias a ação. 
CPC, art. 939. Aplica-se a esta ação o disposto no 
art. 803. 
 
CPC, art. 803. Não sendo contestado o pedido, 
presumir-se-ão aceitos pelo requerido, como 
verdadeiros, os fatos alegados pelo requerente (arts. 
285 e 319); caso em que o juiz decidirá dentro em 5 
(cinco) dias. 
 
CPC, art. 285. Estando em termos a petição inicial, o 
juiz a despachará, ordenando a citação do réu, para 
responder; do mandado constará que, não sendo 
contestada a ação, se presumirão aceitos pelo réu, 
como verdadeiros, os fatos articulados pelo autor. 
 
CPC, art. 319. Se o réu não contestar a ação, 
reputar-se-ão verdadeiros os fatos afirmados pelo 
autor. 
 
O nunciado pode, prestando caução, continuar a obra, mas desde que esta não 
contrarie o Código de Postura do município, por exemplo. 
 
CPC, art. 940. O nunciado poderá, a qualquer tempo 
e em qualquer grau de jurisdição, requerer o 
 30
prosseguimento da obra, desde que preste caução e 
demonstre prejuízo resultante da suspensão dela. § 
1º a caução será prestada no juízo de origem, 
embora a causa se encontre no tribunal. § 2º em 
nenhuma hipótese terá lugar o prosseguimento, 
tratando-se de obra nova levantada contra 
determinação de regulamentos administrativos. 
 
Princípio da supremacia do interesse público sobre o particular (CPC, art. 940, 
§ 2º). 
 
E) Ação de Dano Infecto 
 
É uma medida preventiva utilizada pelo possuidor ou pelo proprietário, que 
tenha fundado receio de que a ruína ou demolição ou vício de construção de 
prédio vizinho ao seu venha causa-lhe prejuízo, para obter, por sentença, do 
dono do imóvel contíguo caução que garanta a indenização de danos futuros 
(CPC, arts. 826 a 838). 
 
Essa ação não é uma ação tipicamente possessória, mas sim cominatória em 
razão da sua finalidade acautelatória. 
 
A doutrina a considera uma medida possessória, tendo em vista que 
compreende a proteção do possuidor. 
 
CC, art. 1.280. O proprietário ou o possuidor tem 
direito a exigir do dono do prédio vizinho a 
demolição, ou a reparação deste, quando ameace 
ruína, bem como que lhe preste caução pelo dano 
iminente. 
 
CC, art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um 
prédio tem o direito de fazer cessar as interferências 
prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos 
que o habitam, provocadas pela utilização de 
propriedade vizinha. 
 
Para proteger o seu direito o possuidor poderá valer-se do rito ordinário, do rito 
sumário nos casos não excedentes a 60 vezes o salário mínimo, de acordo 
com o CPC, art. 275, I, e ainda, do rito sumaríssimo nos casos de valor até 40 
salários mínimos, conforme Lei n. 9.099/95, art. 3°, I, II e IV. 
 
F) Ação de Imissão de Posse 
 
É a que tem por escopo a aquisição da posse pela via judicial. 
 
Exemplo: se “a” compra um imóvel de “b” e este nega-lhe o ingresso no prédio 
adquirido, “a” poderá propor contra aquele imissão de posse, pois no instante 
que adquiriu o bem, passou a ter direito à posse, e como não tinha posse 
 31
anterior, não poderá mover a reintegração de posse. Tal ação é própria para os 
que pretenderem haver a posse dos bens que adquiriram, contra quem os 
detiver. 
 
Se tem como pressuposto a titularidade do direito à posse, que foi violado, 
então é ação possessória. 
 
O antigo CPC contemplava em seu art. 381 a ação de imissão de posse. 
 
O CPC atual não prevê a ação de imissão de posse de modo específico. 
 
Washington de Barros Monteiro acredita que esta ação não desapareceu, 
sendo que o autor poderá propô-la desde que utilize o rito comum – ação 
ordinária de imissão de posse – objetivando a posse nos casos legais. 
 
Julgado do Tribunal de Justiça de Santa Catarina: “a ação de imissão na posse 
muito embora o atual CPC a tenha retirado de entre as possessórias, é cabível 
como ação específica do proprietário adquirente que pleiteia a posse direta”. 
 
Rito da ação: 
A) bens móveis – se o valor for maior de 60 salários mínimos = rito 
ordinário/comum; se o valor for menor de 60 salários mínimos = rito sumário 
(art. 275, I, CPC); e se a causa for até 40 salários mínimos = rito sumaríssimo 
(art. 3°, I, Lei n. 9.099/95). 
B) bens imóveis – se o valor não exceder a 40 salários mínimos = rito 
sumaríssimo (procedimento da Lei n. 9.099/95, art. 3°, I e IV); se for superior = 
rito ordinário (arts. 282 e seguintes do CPC). 
 
Esta ação não se confunde com a ação de imissão da posse ou imissão na 
posse (art. 625 e 879, I, CPC). 
 
CPC, art. 625. Não sendo a coisa entregue ou 
depositada, nem admitidos embargos suspensivos 
da execução, expedir-se-á, em favor do credor, 
mandado de imissão na posse ou de busca e 
apreensão, conforme se tratar de imóvel ou de 
móvel. 
 
CPC, art. 879. Comete atentado a parte que no 
curso do processo: I- viola penhora, arresto, 
seqüestro ou imissão na posse. 
 
Também não se confunde com a imissão de posse da coisa expropriada e com 
a imissão de posse em favor do locador para retomada do prédio locado 
(Decreto-lei n. 9.669/1946, art. 10, § 2°). 
 
Na lei n. 8.245/91 (atual Lei do Inquilinato) já há uma previsão para tal situação 
que é a ação de despejo. 
 
G) Ação de Embargos de Terceiro Senhor e Possuidor 
 32
 
É a ação que visa proteger a posse violada por ato judicial. 
 
CPC, art. 1.046. Quem, não sendo parte no 
processo, sofrer turbação ou esbulho na posse de 
seus bens por ato de apreensão judicial, em casos 
como o de penhora, depósito, arresto, seqüestro, 
alienação judicial, arrecadação, arrolamento, 
inventário, partilha, poderá requerer lhe sejam 
manutenidos ou restituídos por meio de embargos. § 
1º os embargos podem ser de terceiro senhor e 
possuidor, ou apenas possuidor. 
 
É um processo acessório. 
 
CPC, art. 1.047. Admitem-se ainda embargos de 
terceiro: I - para a defesa da posse, quando, nas 
ações de divisão ou de demarcação, for o imóvel 
sujeito a atos materiais, preparatórios ou definitivos, 
da partilha ou da fixação de rumos; II - para o credor 
com garantia real obstar alienação judicial do objeto 
da hipoteca, penhor ou anticrese. 
 
CPC, art. 1.048. Os embargos podem ser opostos a 
qualquer tempo no processo de conhecimento 
enquanto não transitada em julgado a sentença, e, 
no processo de execução, até 5 (cinco) dias depois 
da arrematação, adjudicação ou remição, mas 
sempre antes da assinatura da respectiva carta. 
 
Provado em juízo a procedência dos embargos, o juiz expedirá o mandado de 
manutenção ou reintegração de posse. 
 
 
2. Direito à percepção dos frutos 
 
São utilidades que a coisa periodicamente produz, cuja percepção se dá sem 
detrimento de sua substância. 
 
Percepção: ato material pelo qual o possuidor se torna proprietário dos frutos. 
 
Classificação dos frutos 
 
1. Quanto à origem 
A) Naturais – se renovam periodicamente 
devido à força da própria natureza (ex. crias de 
animais, colheitas, etc). 
B) Industriais – existem em virtude do 
engenho humano (ex. produção de uma 
fábrica). 
 33
C) Civis – rendas oriundas de coisa frugífera 
(ex. juros, dividendos e aluguéis). 
 
 
 
2. Quanto à percepção 
A) Pendentes – quando unidos à coisa 
principal. 
B) Percebidos – quando colhidos. 
C) Estantes – quando armazenados para 
venda. 
D) Percipiendos – quando deveriam ter sido, 
mas ainda não foram colhidos. 
E) Consumidos – quando já utilizados pelo 
possuidor. 
 
 
Possuidor de boa-fé e os frutos 
 
CC, art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, 
enquanto ela durar, aos frutos percebidos. 
 
O possuidor equipara-se ao dono uma vez que possui o bem – tem a convicção 
do proprietário, pois tem em mãos um título jurídico, como compra e venda, 
ocupação ou direito hereditário, ainda que viciado. 
 
Pode usar e gozar da coisa, retirando dela todas as vantagens. 
 
A boa-fé deve existir no momento da percepção. 
 
CC, art. 1.214. Parágrafo único. Os frutos pendentes 
ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser 
restituídos, depois de deduzidas as despesas da 
produção e custeio; devem ser também restituídos 
os frutos colhidos com antecipação. 
 
O demandante não pode locupletar-se à custa alheia. 
 
Orlando Gomes leciona que o possuidor de boa-fé não tem direito aos frutos 
pendentes, no momento em que cessa a sua boa-fé, porque eles são parte 
integrante da coisa principal e que não pode adquirir os frutos colhidos com 
antecipação porque seriam pendentes no momento em que cessou sua boa-fé. 
 
Portanto, o possuidor de boa-fé somente tem direito aos frutos percebidos e às 
despesas da produção e custeio dos frutos pendentes e dos colhidos 
antecipadamente. 
 
Silvio Rodrigues ensina que há dois interesses conflitantes: de um lado, o do 
possuidor de boa-fé, que, na persuasão de ser sua a coisa, a explorou dando-
lhe o destino econômico a que estava afetada; e, de outro, o interesse do 
proprietário negligente, que permitiu a subtração daquilo que lhe pertencia e 
levou mais de ano e dia para reagir. Ante tais posições antagônicas preferiu 
amparar o interesse do possuidor de boa-fé, por ser mais próximo do interesse 
social. 
 34
 
CC, art. 1.215. Os frutos naturais e industriais 
reputam-se colhidos e percebidos, logo que são 
separados; os civis reputam-se percebidos dia por 
dia. 
 
A renda obtida com a fruição do bem é calculada proporcionalmente aos dias 
de duração na posse. 
 
A citação inicial ou a litiscontestação transformam a posse de boa-fé em posse 
de má-fe. A partir desse instante, ante os elementos probatórios apresentados 
pela parte contrária, o demandado passa a ter a ciência dos vícios que 
maculam a sua posse, perdendo o direito aos frutos (CC, art. 1.214, § ún.). 
 
Possuidor de má-fé e os frutos 
 
CC, art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por 
todos os frutos colhidos e percebidos, bem como 
pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde 
o momento em que se constituiu de má-fé; tem 
direito às despesas da produção e custeio. 
 
O CC pune o dolo, a malícia e a má-fé – o possuidor de má-fé não tem direito a 
quaisquer frutos. Entretanto, o CC veda o enriquecimento sem causa. 
 
Tabela demonstrativa da diferença de tratamento entre o possuidor de boa-fé e 
o de má-fé em relação aos frutos e ao direito de retenção. 
 
Boa-fé Má-fé 
Direito aos frutos. Não tem direito aos frutos. 
Direito às acessões. Deverá indenizar por perdas e danos pelas acessões artificiais. 
Direito às benfeitorias necessárias, 
úteis e voluptuárias (ou de levantá-las). 
Só terá direito às benfeitorias necessárias. 
Não responde pelas deteriorações, 
exceto se der causa a elas. 
Responde até pelas deteriorações 
acidentais, mas pode provar o contrário. 
Direito de retenção. Não tem direito à retenção. 
(CC, arts. 1.214, 1.217, 1.219 e 1.254 e 
segs.) 
(CC, arts 1.216, 1.218, 1.220 e 1.254 e 
segs.) 
 
 
3. Direito à indenização das benfeitorias e direito de retenção 
 
 35
Benfeitorias: obras ou despesas efetuadas pelo possuidor para conservar, 
melhorar e embelezar a coisa. 
 
Direito a receber de volta o que foi investido na coisa. 
 
CC, art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à 
indenização das benfeitorias necessárias e úteis, 
bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem 
pagas, a levantá-las, quando o puder sem 
detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de 
retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e 
úteis. 
 
Classificação das benfeitorias 
 
Benfeitorias necessárias – visam conservar a coisa ou evitar a sua 
deterioração (CC, art. 96, § 3°). 
Benfeitorias úteis – pretendem aumentar ou facilitar o uso do bem (CC, art. 
96, § 2°). 
Benfeitorias voluptuárias – são as de mero deleite ou recreio, que não 
aumentam o uso habitual da coisa, ainda que se tornem mais agradável, ou 
sejam de elevado valor (CC, art. 96, § 1°). 
 
 
Direito de retenção 
 
Direito que tem o devedor de uma obrigação de reter o bem alheio em seu 
poder, para haver do credor da obrigação as despesas feitas em benefício da 
coisa. 
 
CPC, art. 745. Nos embargos, poderá o executado 
alegar: IV - retenção por benfeitorias necessárias ou 
úteis, nos casos de título para entrega de coisa certa 
(art. 621); § 1º nos embargos de retenção por 
benfeitorias, poderá o exeqüente requerer a 
compensação de seu valor com o dos frutos ou 
danos considerados devidos pelo executado, 
cumprindo ao juiz, para a apuração dos respectivos 
valores, nomear perito, fixando-lhe breve prazo para 
entrega do laudo. 
 
Jus retencionis: é um meio de defesa que a lei, excepcionalmente,concede 
ao possuidor para, por meio de embargos de retenção, conservar em seu 
poder coisa alheia além do momento em que a deveria devolver, como garantia 
de pagamento das despesas feitas com o bem. 
 
Permissão legal para que o possuidor se oponha à restituição da coisa até ser 
pago, o que é justo em razão da equidade, que não se compraz com o fato de 
o possuidor devolver o bem para somente depois ir reclamar o que lhe é 
devido. 
 36
 
Possuidor de boa-fé e o direito à retenção 
 
Tem direito às benfeitorias úteis e necessárias e pode levar as voluptuárias 
desde que não danifique a coisa. 
 
Tem o direito de reter até os valores das benfeitorias úteis e necessárias. 
 
Súmula n. 158, STF: salvo estipulação contratual averbada no registro 
imobiliário, não responde o adquirente pelas benfeitorias do locatário. 
 
O meio processual para o exercício da retenção é o embargo de retenção. 
 
No curso da ação possessória devem ser alegadas e provadas as benfeitorias. 
Caso contrário, os embargos ficam prejudicados. 
 
Prejudicados os embargos, pode-se recorrer às vias ordinárias através de ação 
autônoma pedindo indenização com fundamento no enriquecimento sem 
causa. 
 
Washington de Barros Monteiro apresenta alguns casos em que nossa 
jurisprudência tem aceitado o jus retentionis: 
A) em favor do empreiteiro-construtor; 
B) em favor do locatário contra o senhorio, caso não haja cláusula contratual 
em contrário – exige-se o expresso consentimento do locador para as 
benfeitorias úteis – o direito de retenção não pode ser oposto ao adquirente do 
imóvel locado – reconhecido o direito de retenção por benfeitorias realizadas 
pelo inquilino, a notificação para desocupar o imóvel, dentro do prazo 
estipulado pela sentença, deve ser precedida do depósito do quantum 
arbitrado. 
C) em favor do credor a título de conserto do objeto vendido com reserva de 
domínio, mesmo com relação ao vendedor. 
 
De acordo com a Lei n. 4.504/64, art. 95 e Decreto n. 59.566/66, art. 25 – no 
arrendamento rural, o arrendatário, no término do contrato, tem direito às 
benfeitorias úteis e necessárias. Quanto às voluptuárias, terá direito desde que 
tenham sido autorizadas pelo arrendador. É dado o direito de retenção até o 
recebimento da indenização. 
 
Enunciado n. 81 do Conselho da Justiça Federal: “o direito de retenção previsto 
no art. 1.219, CC, decorrente da realização de benfeitorias necessárias e úteis, 
também se aplica às acessões (construções e plantações), nas mesmas 
circunstâncias”. 
 
Possuidor de má-fé e o direito à retenção 
 
CC, art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão 
ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; 
não lhe assiste o direito de retenção pela 
 37
importância destas, nem o de levantar as 
voluptuárias. 
 
Tem direito ao ressarcimento somente das benfeitorias necessárias, 
executadas para conservar a coisa, tendo em vista que o proprietário na posse 
da coisa seria obrigado a fazer as benfeitorias – princípio do enriquecimento 
sem causa. 
 
É justo que se pague pelas obras realizadas. 
 
O possuidor de má-fé não faz jus à indenização das benfeitorias úteis – perde-
as em favor do proprietário, o qual as recebe gratuitamente como 
compensação pelo tempo em que ficou privado de sua posse. 
 
Não tem direito às voluptuárias, nem de levantá-las. 
 
Não pode reter o bem para forçar o pagamento da indenização. 
 
CC, art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com 
os danos, e só obrigam ao ressarcimento se ao 
tempo da evicção ainda existirem. 
CC, art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar 
as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito 
de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao 
possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual. 
 
Clóvis Beviláqua e a jurisprudência entendiam que o possuidor deveria receber 
exatamente o que despendeu. Para Carvalho Santos – seria mais justa a 
indenização pelo valor atual. Pelo critério legal – o devedor da indenização 
pode optar pelo valor atual ou pelo seu custo. 
 
A perícia fixará o quantum a ser pago, exceto acordo entre as partes nesse 
sentido. 
 
O possuidor de boa-fé deve ser indenizado pelo valor atual, corrigido até a data 
do pagamento. Logo, o possuidor de boa-fé fará jus ao valor atualizado e não 
apenas ao que despendeu. Assim sendo, o proprietário não poderá optar pelo 
valor de custo. 
 
Jones Figueirêdo Alves e Mário Luiz Delgado: “se por algum motivo, o valor 
atual de mercado for comprovadamente inferior ao valor gasto pelo possuidor 
de boa-fé na edificação das benfeitorias, poderá ele exigir que o proprietário lhe 
indenize pelo custo.” 
 
O direito de opção de que trata o art. 1.222 do CC deve ser interpretado a favor 
do possuidor de boa-fé. 
 
Nem sempre esta tese é aceita, logo o possuidor de boa-fé não terá o 
reembolso total das despesas feitas. 
 
 38
4. Responsabilidade pela deterioração e perda da coisa 
 
CC, art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde 
pela perda ou deterioração da coisa, a que não der 
causa. 
 
Possuidor de boa-fé - o possuidor agindo como proprietário não deve prestar 
contas de seus atos, salvo se concorreu propositalmente para a deterioração 
ou perda da coisa. 
 
Possuidor de má-fé 
 
CC, art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela 
perda, ou deterioração da coisa, ainda que 
acidentais, salvo se provar que de igual modo se 
teriam dado, estando ela na posse do reivindicante. 
 
 
5. Posse conduz à usucapião 
 
O possuidor pode adquirir a posse continuada pela usucapião. Um dos efeitos 
mais importantes da posse é a garantia legal de adquirir a propriedade daquilo 
que possui pela usucapião. 
 
6. Ônus da prova compete ao adversário do possuidor. 
 
Quando for contestado o direito deste. Não provando o autor o seu direito, a 
posse deve ser mantida com o réu. 
 
7. O possuidor goza, processualmente, de posição mais favorável. 
 
Exerce um dos direitos de propriedade que é a posse – por isso, deve ser 
mantido na posse até a resolução da questão. 
 
8. Presunção de posse das coisas móveis. 
 
CC, art. 1.209: a posse do imóvel faz presumir, até 
prova contrária, a das coisas móveis que nele 
estiverem. 
 
 
9. Vantagem da melhor posse 
 
CC, art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se 
disser possuidora, manter-se-á provisoriamente a 
que tiver a coisa, se não estiver manifesto que a 
obteve de alguma das outras por modo vicioso. 
 
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Melhor posse – posse provisória – obrigações de depósito – função social da 
posse. 
 
 
PERDA DA POSSE 
 
Formas de perda da Posse 
 
1. Perda da posse da 
coisa 
2. Perda da posse dos 
direitos 
3. Perda da posse para 
o possuidor que não 
presenciou o esbulho 
 
Perde-se a posse sempre que o possuidor não exerça ou não possa exercer 
poder inerente à exteriorização da propriedade. 
 
CC, art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, 
embora contra a vontade do possuidor, o poder 
sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196. 
 
O legislador achou por bem deixar ao aplicador da lei a tarefa de determinar a 
perda da posse. 
 
De acordo com Orlando Gomes, podemos adaptar a perda da posse com o art. 
1.275, CC: 
 
CC, art. 1.275. Além das causas consideradas neste 
código, perde-se a propriedade: I - por alienação; II - 
pela renúncia; III - por abandono; IV - por 
perecimento da coisa; V - por desapropriação. 
 
No entanto, didaticamente, podemos dizer que se perde a posse da coisa a 
partir das formas apresentadas adiante. 
 
 
1. Perda da posse da coisa 
 
Perda da posse da coisa 
A) Abandono 
B) Tradição 
C) Perda da própria coisa 
D) Destruição da coisa 
E) Inalienabilidade 
F) Posse de outrem 
G) Constituto possessório 
 
A) Abandono 
 
Ocorre quando o possuidor

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