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ESCOLA DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS CURSO DE DIREITO Direito Civil Direito das Coisas Prof. M.Sc. Andrei Sicsú Manaus 2016 1 Parte I Histórico da Propriedade No início da civilização a propriedade era coletiva. Este modelo de propriedade foi dando lugar à propriedade individual, apresentando a seguinte evolução: Período Romano Lei das XII Tábuas – primeiro diploma legal oficialmente constituído. Corpus Júris Civile – imperador romano Justiniano – mundo romano-helênico (527 a 565 da era cristã). Este último dispositivo influenciou a legislação europeia, as nações do ocidente ao oriente, até a Idade Média. No Brasil Colônia chegou por via das Ordenações do Reino (Afonsinas, Manuelinas e Filipinas). Idade média Existia uma diferença entre os fundos dos nobres e os do povo. Estes deveriam contribuir onerosamente em favor daqueles. Na era contemporânea – a propriedade é determinada pelo regime político. Regime da propriedade na antiga URSS A Propriedade era exclusiva somente sobre os bens de consumo pessoal; Havia a propriedade usufrutuária de bens de utilização direta; Os bens de produção eram socializados. Países do ocidente A propriedade individual possui restrições voluntárias e legais, para que seja possível o desempenho da função social da propriedade. DIREITO DAS COISAS Conceito de Direito das Coisas Propriedade individual sobre os objetos necessários à existência de cada um. Propriedade individual sobre os bens de uso particular suscetíveis de serem trocados com outras pessoas. Propriedade dos meios de trabalho e de produção. Propriedade individual nos moldes capitalistas; seu titular podia explorá-la de modo absoluto. 2 “É conjunto de normas que regem as relações jurídicas concernentes aos bens materiais ou imateriais suscetíveis de apropriação pelo homem.” Sendo assim, visa regular as relações entre os homens e as coisas, traçando normas tanto para aquisição, exercício, conservação e perda do poder dos homens sobre esses bens como para os meios de utilização econômica. Nem todos os bens são interessantes ao Direito das Coisas, pois o homem só se apropria de bens úteis à satisfação de suas necessidades. Se uma coisa é inesgotável ou extremamente abundante, destinada ao uso da coletividade, como a luz solar, o ar atmosférico, a água do mar, etc., não há razão para ser regulado pelo Direito, uma vez que não há interesse econômico. Só são incorporadas ao patrimônio do homem as coisas úteis e raras, que podem ser objeto de disputa entre os homens. A apropriação gera um vínculo jurídico denominado domínio. O Direito das Coisas compreende tanto os bens materiais (móveis, imóveis e semoventes) como os bens imateriais (direitos autorais – propriedade imaterial, literária, científica e artística). Trata-se de bem imaterial de caráter patrimonial. Alguns doutrinadores consideram os bens imateriais como direitos da personalidade, de cunho moral. Classificação do Direito das Coisas Direito das coisas clássico é oriundo do direito romano, tendo por objetivo estudar a propriedade, as servidões, a superfície, a enfiteuse, o penhor e a hipoteca. Direito das coisas científico compreende a mesma matéria do clássico, porém com âmbito bem mais amplo, graças ao trabalho da doutrina. Direito das coisas legal é aquele regulado pela legislação, que se preocupa com a situação jurídica da propriedade numa dada época e lugar. Conteúdo do Direito das Coisas A) Posse B) Propriedade C) Direitos Reais sobre coisas alheias Gozo: enfiteuse, servidão, usufruto, uso, habitação, rendas constituídas 3 sobre imóveis. Garantia: penhor, anticrese, hipoteca e alienação fiduciária. Aquisição: promessa irrevogável de compra e venda. Distinção entre Direitos Reais e Pessoais Teorias sobre a distinção entre Direitos Reais e Pessoais A) Teses Unitárias ou Monistas 1. Teoria personalista Todo direito é uma relação entre pessoas, sendo o direito real uma obrigação passiva universal, onde o direito real passa a ser absoluto e o direito pessoal relativo. 2. Teoria Monista-objetivista ou Impersonalista Despersonaliza e patrimonializa o direito. A obrigação tem um valor econômico que independe do devedor, sendo que o direito real extrai seu valor patrimonial dos bens materiais. Enquanto o direito pessoal é retirado da subordinação de uma vontade que se obriga a fazer ou não fazer. B) Teoria Clássica ou Realista (adotada pelo Código Civil) 1. Direito Real possui três elementos fundamentais: sujeito ativo + coisa + inflexão imediata do sujeito ativo sobre a coisa 2. Direito Pessoal - relação entre pessoas: sujeito ativo + passivo + prestação Diferenças entre o Direito Real e o Direito Pessoal Diferenças Direito Pessoal Direito Real A) quanto ao sujeito de direito possuem sujeito ativo e passivo possuem apenas o ativo B) quanto à ação ação pessoal contra determinado indivíduo ação real contra quem detiver a coisa, sendo oponível erga omnes C) quanto ao objeto prestação coisas corpóreas e 4 incorpóreas D) quanto ao limite é ilimitado é limitado E) quanto ao modo de gozar o direito exige intermediário exercício direto entre o titular e a coisa F) quanto ao abandono impossibilidade é característico do direito real G) quanto à extinção extingue-se pela inércia permanece até que haja uma situação contrária em proveito de outro titular H) quanto ao direito de sequela impossibilidade prerrogativa do direito real I) quanto à usucapião impossibilidade modo de aquisição de direito real J) quanto à posse impossibilidade suscetibilidade do direito real K) quanto ao direito de preferência impossibilidade restritos aos direitos reais de garantia DIREITOS REAIS Conceito de Direitos Reais “É a relação jurídica em virtude da qual o titular pode retirar da coisa, de modo exclusivo e contra todos, as utilidades que ela é capaz de produzir.” Características dos Direitos Reais A) oponibilidade erga omnes; B) direito de sequela e preferência do titular; C) aderência imediata ao bem; D) obedece ao numerus clausus; E) passível de abandono e posse; e F) usucapião é modo aquisitivo de Direito Real. Classificação dos Direitos Reais Propriedade posse, uso, gozo e disposição. Enfiteuse direito de posse, uso, gozo e disposição, sujeitos a restrição oriunda de direito alheio. Direitos Reais de Garantia penhor, hipoteca, alienação fiduciária, propriedade fiduciária e cessão fiduciária de direitos creditórios oriundos de contratos de alienação de imóveis. Direito Real de Aquisição promessa irrevogável de compra e venda. Direitos Reais de usar e gozar do bem servidão, uso, usufruto, habitação e superfície. 5 Objeto do direito real A) Pressupostos Representação através de um objeto capaz de satisfazer interesses econômicos; Suscetíveis de gestão econômica autônoma; Passíveis de subordinação jurídica. B) Bens Presentes e futuros; Corpóreos e incorpóreos. POSSE Origem da posse A) Teoria de Niebuhr A posse surgiu com a distribuição, a título precário, de terras conquistadas pelos romanos, passando a ser um estado de fato protegido pelo interdito possessório.Terras loteadas – denominadas de possessiones – cedidas a título precário – destinadas a construção de novas cidades. Os beneficiários não eram proprietários dessas terras – não admitia a ação reivindicatória para defender as terras das invasões. Criação de procedimento especial – interdito possessório – proteger juridicamente o estado de fato. B) Teoria de Ihering A posse é consequência do processo reivindicatório. Medida arbitrária tomada pelo pretor. Ações reivindicatórias outorgavam, discricionariamente, a guarda ou a detenção da coisa litigiosa. Situação provisória – inércia das partes. Medida provisória – desinteresse no prosseguimento da ação – assegurava o domínio. Parte contrária – pretensão de ver decidida a reivindicatória – meios de prova praticamente inoperantes. Mais tarde, houve a substituição da medida discricionária do pretor por critérios mais justos e lógicos beneficiando quem oferecesse as melhores 6 provas na fase inicial da ação reivindicatória, outorgando-lhe a coisa litigiosa até o julgamento definitivo da ação. A robustez da prova produzida tornava quase definitiva a decisão provisória – desestimulando a produção de novas provas e de outras diligências – consolidando a decisão e a retenção jurídica do bem. A propriedade ficava em suspenso. Processo preliminar da ação reivindicatória – caráter de ação de mérito – autêntico processo declaratório do estado de fato – declarar – garantir – defender juridicamente. A posse, simples estado de fato, passou a merecer proteção jurídica por meio de ação própria. A) Teoria Subjetiva de Savigny Posse é o poder imediato que tem a pessoa de dispor fisicamente de um bem com a intenção de tê-lo para si e de defendê-lo contra a agressão de quem quer que seja. Elementos: 1. Corpus: elemento material que se traduz no poder físico sobre a coisa ou na mera possibilidade de exercer esse contato – na detenção do bem ou no fato de tê- lo à sua disposição; 2. Animus domini: intenção de exercer sobre a coisa o direito de propriedade. Se houver apenas o animus – fenômeno de natureza psíquica que não interessa ao direito. Se existir só o corpus – mera detenção – posse natural e não jurídica. A teoria é subjetiva porque acentua o elemento intencional como caracterizador da posse. O locatário, o comodatário, o depositário, o mandatário, e todos que exercem o poder físico sobre certos bens – não gozam de uma proteção direta. B) Teoria Objetiva de Ihering Posse é a exteriorização do domínio, ou seja, a relação exterior intencional, existente, normalmente, entre o proprietário e sua coisa. Elemento: Corpus para que haja posse basta o corpus; o animus já está ínsito no poder de fato exercido sobre a coisa; o que importa é a destinação econômica do bem. Objeto da posse 7 A) Coisas corpóreas, salvo as que estiverem fora do comércio, ainda que gravadas com cláusula de inalienabilidade. B) Coisas acessórias se puderem ser destacadas da principal sem alteração de sua substância. C) Coisas coletivas. D) Direitos reais de fruição: uso, usufruto, habitação e servidão (há dúvidas quanto à enfiteuse). E) Direitos reais de garantia: penhor, anticrese, excluída a hipoteca. F) Direitos pessoais patrimoniais ou de crédito. Natureza da posse Há bastante controvérsia na doutrina pátria no que se refere à natureza da posse. A doutrina divide-se em três correntes distintas: Posse é um fato Posse é um fato e um direito Posse é um direito A posse existe de fato. Quando considerada em si mesma, ou seja, em sua essência, a posse seria um fato. Mas, quanto aos efeitos produzidos, tais como - a usucapião e os interditos, seria um direito. Assim, teria uma dupla natureza e seria considerada um direito pessoal. Pois, para a Escola Subjetivista os interditos possessórios pertencem à Teoria das Obrigações, com ações ex delicto, que têm a posse como fundamento. Essas ações só existem por causa da posse. Para Ihering, a posse é um direito juridicamente prote- gido porque é condição da utilização econômica da propriedade. A posse é a instituição jurídica que tende à proteção do direito de propriedade. Por isso, pertence ao direito das coisas e aos direitos reais. A grande maioria de nossos civilistas considera a posse um direito. Porém, quanto à sua natureza, há divergências entre real ou pessoal. Para Clóvis Beviláqua, a posse é um estado de fato protegido pela lei em razão da propriedade, da qual é manifestação exterior. Não se pode considerar a posse como Direito Real, pois ela não está inclusa no rol do art. 1.225, CC, que é taxativo em virtude do numerus clausus. Diz ainda, que a posse é um direito especial, pois o CPC, art. 10, § 1°, exige a citação de ambos os cônjuges para as ações envolvendo Direitos Reais imobiliários, enquanto que o § 2°, que trata das possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nos casos de composse ou de ato praticado em conjunto. Isto prova a natureza especial da posse, visto que, se fosse Direito Real, a presença dos cônjuges seria obrigatória. 8 Para Maria Ligia Coelho Mathias, a posse não é Direito Pessoal, porque não estabelece nenhum liame obrigacional entre o possuidor e terceiros ou o proprietário; nem Direto Real por não gerar efeito erga omnes, visto que sucumbe frente ao proprietário. Para Ebert Vianna Chamoun, a posse é poder ou estado de fato que alguém exerce sobre uma coisa cujo conteúdo é exclusivamente econômico, pois se refere ao aproveitamento do bem, considerado como objeto de satisfação das necessidades humanas. Mas, é considerado um estado de fato apenas no sentido de prescindir da existência de um título jurídico. Acrescenta ainda, que há um direito à proteção da posse, pela simples aparência de uma situação jurídica regular, pois o possuidor tem um comportamento semelhante ao de quem exerce poder peculiar ao domínio, comportando-se como se fosse titular de um Direito Real. Maria Helena Diniz e Daibert, defendem que a posse é um Direito Real, posto que é a visibilidade ou desmembramento da propriedade. Aplica-se o princípio de que o acessório segue o principal, sendo a propriedade o principal e a posse o acessório, já que não há propriedade sem a posse. Por isso, integra-se a posse na mesma categoria jurídica da propriedade, concedendo ao possuidor a tutela jurídica. O nosso legislador civil adotou a tese de Ihering, porque não há propriedade sem posse; dar proteção à posse é proteger indiretamente a propriedade. Nessa lógica, se a propriedade é Direito Real, a posse também é; se a posse for ofendida, o domínio também será; por este motivo deve-se proteger a posse na defesa da propriedade. De acordo com os arts. 1.197, 1.210 e 1.212 do CC e os arts. 920 e seguintes do CPC percebe-se que o caráter jurídico da posse decorre do próprio ordenamento jurídico, que confere ao possuidor ações específicas para defender-se de quem quer que o ameace, perturbe ou esbulhe. Caio Mário da Silva Pereira diz que é por esta razão que a nossa jurisprudência aceita a opinião de Ihering ao considerar a posse como um Direito Real, quando exige a outorga uxória nas ações de interditos referentes aos bens imóveis. Concluímos, então, que a posse detém todos os caracteres do Direito Real: A) exercício direto, sem intermediário; B) oponibilidade erga omnes; e C) incidência em objeto obrigatoriamente determinado. Assim, pela sua posição dentro do sistema do nosso Código Civil, a posse não encontra obstáculo à sua qualificação como Direito Real. Por fim, Enneccerus, Kipp e Wolff qualificama posse de “Direto Real provisório” e a propriedade como “Direito Real definitivo”. 9 Modalidades da posse Caráter da posse: é a modalidade pela qual a relação possessória se representa na vida jurídica. CC, art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. Classificação das modalidades da posse 1) Quanto à extensão da garantia possessória A) Posse direta B) Posse indireta Essa classificação tem por escopo determinar, em relação às pessoas, a extensão da garantia possessória e suas consequências jurídicas. Há uma natureza exclusiva da posse, ou seja, não pode haver mais de uma posse sobre uma mesma coisa. No entanto, com base na Teoria de Ihering, permite-se que o desdobramento da relação possessória no que tange ao seu exercício, não gera a perda da posse para o proprietário, pois o proprietário ao conceder a posse a outrem conserva o direito de exercer poderes inerentes ao domínio. CC, art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto. O domínio ou a propriedade possui vários poderes. Estes poderes geralmente estão concentrados na pessoa de um titular. Entretanto, estes mesmos poderes podem estar distribuídos entre diversas pessoas. Então, podemos concluir que: 1. Não se trata de posse do fâmulo; 2. Existem duas posses paralelas e reais: primeira, a do possuidor indireto que transfere o uso do bem e, segundo, a do possuidor direto que recebe o bem, em razão de Direito Real, ou Pessoal, ou Contratual. A posse direta – se apossou da coisa materialmente. A posse indireta é exercida pelo proprietário (posse mediata ou autônoma), possuindo a substância da coisa. 3. Abrange todos os casos em que a posse de uma coisa passa a outra pessoa em virtude de obrigação ou Direito Real ou Pessoal. 4. Relação jurídica entre o possuidor direto e o indireto. 10 5. Coexistência da posse direta e da indireta. Posse direta é sempre temporária – relação transitória de direito. É derivada (imediata ou subordinada), pois procede de alguém, exigindo sempre um intermediário. 6. O possuidor direto pode defender a sua posse através dos interditos possessórios, até mesmo contra o proprietário. Da mesma forma, o proprietário – possuidor indireto - também goza da proteção possessória, podendo defender-se contra turbações de terceiros, assim como, contra o próprio possuidor direto. 2) Quanto à simultaneidade do exercício da posse A) Composse pro diviso (divisão de fato, mas não de direito). B) Composse pro indiviso (cada um tem uma parte ideal, sem saber qual). CC, art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores. 3) Quanto aos vícios objetivos A) Posse justa B) Posse injusta CC, art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária. Violenta: uso da força física ou violência moral; Clandestina: feita às ocultas; Precária: abuso de confiança. 4) Quanto à subjetividade A) Posse de boa-fé B) Posse de má-fé CC, art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção. CC, art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente. 5) Quanto aos seus efeitos 11 A) Posse ad interdicta (amparada nos interditos, em caso de ameaça, turbação, esbulho ou quando perdida). B) Posse ad usucapionem (dá origem à usucapião, respeitando os requisitos legais). 6) Quanto à sua idade A) Posse nova (menos de ano e dia) B) Posse velha (mais de ano e dia) CPC, art. 924. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da seção seguinte, quando intentado dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho; passado esse prazo, será ordinário, não perdendo, contudo, o caráter possessório. (...) CPC, art. 927. Incumbe ao autor provar: (...) III - a data da turbação ou do esbulho. 7) Quanto à atividade laborativa A) Posse produtiva (respeita a função social) B) Posse improdutiva (não respeita a função social) Princípio geral sobre a continuidade do caráter da posse CC, art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida. CC, art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. Excluído está o vício da precariedade. Diferença entre Possuidor e detentor CC, art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.(...) CC, art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em 12 cumprimento de ordens ou instruções suas. Parágrafo único. Aquele que começou a comportar- se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário. Utilização econômica do bem – manifestação externa do direito. Ter exercício do direito é poder usá-lo, gozando de suas vantagens. Disponibilidade é o ato mais característico da exteriorização do domínio. Modos de aquisição da Posse 1. Aquisição originária 2. Aquisição derivada 1. Aquisição originária: é a que independe de translatividade. Modos aquisitivos originários a) a apropriação e apreensão do bem Unilateral – coisa abandonada (res derelictae) / coisa de ninguém (res nullius) Apreensão de bens móveis (ocupação) Apropriação de bens imóveis (uso) CC, art. 1.263. Quem se assenhorear de coisa sem dono para logo lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei. b) o exercício do direito CC, art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.(...) CC, art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. 2. Aquisição derivada: é a que requer a existência de uma posse anterior, ou seja, que é transmitida ao adquirente. Bilateral – translatividade – transferência do antigo para o novo possuidor. Pode-se adquirir a posse por todos os modos aquisitivos de direito – atos jurídicos onerosos ou gratuitos, inter vivos (compra e venda) ou causa mortis (testamento). Esse tipo de posse submete-se aos requisitos do art. 104, CC. 13 CC, art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei. Modos aquisitivos derivados 1) Tradição 2) Constituto possessório 3) Acessão 1) Tradição: entrega ou transferência da coisa. A) Efetiva ou real (material) B) Simbólica ou ficta C) Consensual A) Efetiva ou real (material): entrega real do bem – vendedorpassa a coisa para o comprador. B) Simbólica ou ficta: forma espiritualizada da tradição – substituição da entrega material do bem por atos indicativos do propósito de transmitir a posse. Ex: entrega das chaves do apartamento. C) Consensual (tradictio longa manu e tradictio brevi manu): não é preciso que o adquirente ponha a mão na própria coisa, basta que ela esteja à sua disposição. Ex: uma fazenda de grande extensão. Tradictio longa manu a posse se realiza sem que ninguém detenha a coisa. Tradictio brevi manu quando uma pessoa já tem a posse direta da coisa, como o locatário que adquire o domínio – basta a demissão voluntária da posse pelo transmitente. 2) Constituto Possessório (cláusula constituti) CC, art. 1.267, parágrafo único. Subentende-se a tradição quando o transmitente continua a possuir pelo constituto possessório; quando cede ao adquirente o direito à restituição da coisa, que se encontra em poder de terceiro; ou quando o adquirente já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico. É o contrário da tradictio brevi manu – o possuidor em nome próprio, de um bem móvel, imóvel ou semovente, passa a possuí-lo em nome alheio. Inversão entre proprietário e possuidor – transmutação de sujeitos. 14 Modalidade de transferência convencional da posse. Conversão da posse mediata em direta ou desdobramento da posse. Ocorrem dois atos jurídicos simultâneos – um, transferência da posse de um possuidor antigo a um novo possuidor – outro, conservação da posse pelo antigo possuidor em nome do novo adquirente. O objetivo é evitar ao possuidor o ônus de uma nova tradição. Deve ser expressa ou resultar logicamente das cláusulas estipuladas, isto é, não pode se presumida. No entanto, excepcionalmente, admite-se o constitutum tacitum de acordo com o caso concreto. O Código Civil admite apenas a cláusula constituti como forma aquisitiva da posse de bem móvel. Segundo Maria Helena Diniz, pode-se acatar, em caráter excepcional, o constituto tácito em relação aos bens imóveis, por aplicação analógica do art. 1.267, § único, CC, combinado com o art. 1.196, CC, pois não se trata de translatividade de propriedade, mas de tradição ficta de posse. O enunciado n. 77 do Conselho da Justiça Federal (aprovado nas jornadas de Direito Civil de 2002) esclarece que: “a posse das coisas móveis e imóveis também pode ser transmitida pelo constituto possessório”. Para solucionar definitivamente a questão, o projeto de Lei n. 276/2007 propõe a seguinte redação para o art. 1.204, CC: “adquire-se a posse de um bem quando sobre ele o adquirente obtém poderes de ingerência, inclusive pelo constituto possessório”, alcança-se, então, tanto os bens móveis como os imóveis. A posse é um fenômeno dialético - a posse não se adquire pelo “exercício” do poder, mas pela obtenção do poder de fato ou poder de ingerência socioeconômica sobre um determinado bem da vida, além disso, acarreta a abstenção de terceiros em relação a este bem. Portanto, para se adquirir a posse não precisa o exercício do poder, basta a possibilidade de exercício. Isto é, a existência do poder de ingerência é imprescindível para a aquisição da posse. 3) Acessão A posse pode ser continuada pela soma do tempo do atual possuidor com o de seus antecessores. Conhecida também como conjunção de posses. 15 Acessão A) Sucessão B) União A) Sucessão CC, art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres. CC, art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. Nessa transmissão causa mortis os herdeiros ou legatários tomam o lugar do de cujus, continuando a sua posse, com os mesmos caracteres, vícios ou qualidades. CC, art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida. Essa espécie de sucessão de posses é necessária ou imperativa, de acordo com o CC, art. 1.207, 1ª parte, que diz: “o sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor”. É uma aquisição a título universal, pois o objeto da transferência é uma universalidade, como o patrimônio, alíquota-parte de uma universalidade. B) União Sucessão singular (compra e venda, doação, dação, legado). O objeto adquirido constitui coisa certa ou determinada. Nessa espécie de posse o adquirente constitui uma nova posse, embora receba uma posse de outrem. A posse do sucessor singular é pessoal, isto é, nasce desligada da posse anterior. Entretanto, o CC, art. 1.207, 2ª parte, autoriza a união da posse: “e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais”. Portanto, a união da posse é facultativa. O direito de somar posses visa adquirir a propriedade pela usucapião. CC, art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes (que tratam sobre as espécies de usucapião), acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa-fé. 16 Quem pode adquirir a Posse? CC, art. 1.205. A posse pode ser adquirida: I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante; II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação. 1) A própria pessoa que a pretende Tem que ter pleno gozo de sua capacidade de exercício ou de fato e praticar o ato gerador da relação possessória – exteriorização do domínio. 2) Representante legal ou procurador de quem quer possuir Representação legal: pais, tutor ou curador. Procurador – representação convencional – munido de mandato com poderes especiais. Concorrência de vontades. É necessário que o representante queira adquirir a posse para o representado e que este tenha o intuito de possuir a coisa que o outro se apoderou. Na representação legal ou na procuração geral ínsita está a vontade do representado. 3) Terceiro sem procuração Essa situação equipara-se à gestão de negócio. CC, art. 861. Aquele que, sem autorização do interessado, intervém na gestão de negócio alheio, dirigi-lo-á segundo o interesse e a vontade presumível de seu dono, ficando responsável a este e às pessoas com que tratar. Neste caso a aquisição da posse feita pelo gestor, fica na dependência da ratificação, confirmação, anuência, concordância, da pessoa para quem a posse foi adquirida. A partir da ratificação, há a obrigação do ato. A ratificação tem efeito ex tunc: CC, art. 873. A ratificação pura e simples do dono do negócio retroage ao dia do começo da gestão, e produz todos os efeitos do mandato. 17 Se não houver ratificação o gestor responderá, pessoalmente, por perdas e danos: CC, art. 862. Se a gestão foi iniciada contra a vontade manifesta ou presumível do interessado, responderá o gestor até pelos casos fortuitos, não provando que teriam sobrevindo, ainda quando se houvesse abatido. Presunção juris tantum da posse de bens móveis Quem adquirir a posse de bens imóveis há a presunção de adquirir também a posse dos bens móveis que nele estiverem. CC, art. 1.209. A posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a das coisas móveis que nele estiverem. De acordo com Orozimbo Nonato, trata-se de fenômeno da extensão da posse. CC, art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. Efeitos jurídicosda Posse Silvio Rodrigues diz que os efeitos da posse são as consequências jurídicas por ela produzidas, em virtude de lei ou norma jurídica. 1) Uso dos interditos possessórios; 2) Percepção dos frutos; 3) Retenção por benfeitorias; 4) Responsabilidade pelas deteriorações; 5) Conduz à usucapião; 6) Ônus da prova cabe à parte adversa; 7) Privilégio na defesa da posse. 1) Invocar interditos possessórios Propor ações possessórias quando for ameaçado, molestado ou esbulhado em sua posse, para repelir tais agressões e continuar na posse. CC, art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado. CPC, art. 82, III e Lei n. 9.099/95, art. 3°, IV. 18 CPC, art. 82. Compete ao Ministério Público intervir: (...) III - nas ações que envolvam litígios coletivos pela posse da terra rural e nas demais causas em que há interesse público evidenciado pela natureza da lide ou qualidade da parte. Lei n. 9.099/95, art. 3º: “o Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas: (...) IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no inciso I deste artigo.” Para Ihering são três os fundamentos dos interditos: I) proteção da posse por ser ela a exteriorização do domínio; II) proteção da posse por meio de ações especiais para facilitar a defesa da propriedade – o proprietário não precisa provar o seu direito em cada caso; III) proteção da posse quando favorece o não-proprietário – não se pode abrir mão dessa proteção – inconveniente necessário – possui muitas vantagens resultantes da instituição – caso excepcional, pois o normal é estar a posse a serviço do legítimo proprietário. Protegendo-se a posse por via direta, assegura-se a propriedade por via indireta. Portanto, o Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, tais como as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente a 40 vezes o salário mínimo. Julgado do Tribunal de Justiça de São Paulo n. 78.236, de 1981, e n. 86.380, de 1982: “sem a desconstituição do negócio jurídico celebrado não se pode buscar a reintegração de posse sob o fundamento de esbulho, pois, apoiada a posse em pré-contrato, enquanto não rescindido este, dita posse deve ser havida como embasada em justo título, não havendo amparo legal para a reintegração”. O direito pátrio admite as seguintes ações para a defesa da relação possessória: a) ações possessórias típicas (stricto sensu) interdito proibitório, manutenção de posse e reintegração de posse. b) ações possessórias atípicas (latu sensu) nunciação de obra nova, dano infecto, embargos de terceiro e imissão de posse. A) Ação de Manutenção de Posse Meio pelo qual o possuidor ao sofrer a turbação utiliza-o para manter-se na sua posse. 19 Orlando Gomes define turbação declarando que “é todo ato que embaraça o livre exercício da posse, haja, ou não, tenha, ou não, o turbador melhor direito sobre a coisa”. A turbação pode ser de fato ou de direito, direta e indireta, positiva ou negativa. Turbação de fato e turbação de direito A) Turbação de fato – agressão material dirigida contra a posse (ex. rompimento de cercas, aberturas de picadas, etc). B) Turbação de direito – é aquela que opera-se, administrativamente ou judicialmente, quando o réu contesta a posse do autor (ex. uma decisão prejudica a utilização da coisa – fixa a largura de uma estrada). Turbação direta e turbação indireta A) Turbação direta – é aquela que se exerce imediatamente sobre o bem que é o objeto da posse (ex. o réu abre um caminho no terreno do autor). B) Turbação indireta – é praticada fora da coisa, mas recai sobre ela, produzindo efeitos nocivos à sua posse (ex. o turbador divulga notícias que depreciam o imóvel e impede que o possuidor consiga inquilino). Turbação positiva e turbação negativa A) Turbação positiva – prática de atos materiais equivalentes ao exercício da posse (ex. cortes de árvores ou implantação de marcos). B) Turbação negativa – atos que impedem o possuidor de praticar certos atos, dificultando a sua posse. CC, art. 1.210, 1ª, parte: o possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação... CPC, arts. 926 a 931. Fundamentação legal para a defesa da posse contra a turbação CPC, art. 926. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado no de esbulho. Ônus da prova nas ações possessórias CPC, art. 927. Incumbe ao autor provar: I - a sua posse; II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; III - a data da turbação ou do esbulho; IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção; a perda da posse, na ação de reintegração. Medida liminar para a defesa da posse 20 CPC, art. 928. Estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração; no caso contrário, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada. Obrigatoriedade da audiência prévia CPC, art. 928, parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais. Efeito da procedência da justificação CPC, art. 929. Julgada procedente a justificação, o juiz fará logo expedir mandado de manutenção ou de reintegração. Prazo para promoção da citação do réu CPC, art. 930. Concedido ou não o mandado liminar de manutenção ou de reintegração, o autor promoverá, nos 5 (cinco) dias subseqüentes, a citação do réu para contestar a ação. Parágrafo único. Quando for ordenada a justificação prévia (art. 928), o prazo para contestar contar-se-á da intimação do despacho que deferir ou não a medida liminar. CPC, art. 931. Aplica-se, quanto ao mais, o procedimento ordinário. É direito do autor da ação possessória receber indenização dos danos sofridos e obter a cominação da pena para o caso de reincidência, CPC, art. 921. Também, se o turbador, de má-fé, remover ou demolir construção ou plantação feita em detrimento de sua posse. Cumulação de pedidos nas ações possessórias CPC, art. 921. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de: I - condenação em perdas e danos; II - cominação de pena para caso de nova turbação ou esbulho; III - desfazimento de construção ou plantação feita em detrimento de sua posse. 21 Então, o possuidor que sofre embaraço na sua posse sem, contudo, perdê-la, propõe a ação de manutenção de posse. Entretanto, deve provar a existência da posse e a turbação (CPC, art. 927). Não precisa discutir a qualidade do direito do turbador nem a natureza ou profundidade do dano. Deve requerer ao juiz a expedição do competente mandado de manutenção (CPC, arts. 928 e 929). Quando a turbação é nova (menos de ano e dia), concede-se a manutenção de forma liminar, sem audiência da outra parte. Porém, contra as pessoas jurídicas de direito público não será deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos representantes judiciais (CPC, art. 928, § ún.). A regra geral é a concessão liminar da ação possessória. Na ação de força velha apenas admite-se a tutela antecipada (CPC, art. 273). O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar,total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. No caso de ação de força velha – o rito é comum; ordinário – sumário – (CPC, art. 275, I) ou especial (LJE, art. 3º, IV), sendo a ação de força nova (CPC, 924). Observar-se-á o procedimento sumário: I - nas causas cujo valor não exceda a 60 (sessenta) vezes o valor do salário mínimo. Ou, sumaríssimo - Lei n. 9.099/95, art. 3º, o Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas: (...) IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no inciso I deste artigo. No caso de ação de força nova – rito especial (CPC, art. 924). Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da seção seguinte (liminarmente), quando intentado dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho; passado esse prazo, será ordinário, não perdendo, contudo, o caráter possessório. Donaldo Armelin leciona que: “o autor implementando os requisitos do art. 273 do CPC poderá fazer jus a uma antecipação de tutela com a mesma amplitude daquela que lhe adviria mediante a liminar inserida no rito especial da possessória”. Enunciado n. 238 do Conselho de Justiça Federal, aprovado na III Jornada de Direito Civil - Pontes de Miranda e Joel Dias Figueira Jr. Dizem: “ainda que a ação possessória seja intentada além de ‘ano e dia’ da turbação ou esbulho, e, em razão disso, tenha seu trâmite regido pelo procedimento ordinário (CPC, art. 924), nada impede que o juiz conceda a tutela possessória liminarmente, 22 mediante antecipação de tutela, desde que presentes os requisitos autorizadores do art. 273, I ou II, bem como aqueles previstos no art. 461-a e parágrafos, todos do CPC”. Enunciado n. 239 do Conselho da Justiça Federal, aprovado na III Jornada de Direito Civil: “na falta de demonstração inequívoca de posse que atenda à função social, deve-se utilizar a noção de ‘melhor posse’, com base nos critérios previstos no parágrafo único do art. 507 do CC/1916”. Regra do CC/1916 - posse com menos de ano e dia – vencia quem tinha a melhor posse – havia uma disputa de preferência – melhor posse: A) fundada em justo título; B) a mais antiga na falta de título, ou sendo os títulos iguais; C) sendo o título da mesma data, a atual. Caso fosse impossível verificar a melhor posse, o juiz determinava o sequestro do bem, até que em decisão definitiva, ficasse comprovada a melhor posse (CC, art. 507, § ún.). Manutenção provisória judicial CC, art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-se-á provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifesto que a obteve de alguma das outras por modo vicioso. A posse em disputa garante a posse provisória e gera obrigações de depositário ao possuidor, desde que este não tenha conseguido a posse com violência, precariedade ou clandestinidade. Ações possessórias e servidões não aparentes Clóvis Beviláqua esclarece que não cabe a manutenção de posse para proteger servidões não aparentes, devido à ausência de sinais visíveis, exceto quando os títulos provierem do possuidor do prédio serviente ou daquele de quem este o houve – não podem ser confundidos com atos de mera tolerância – caberá a ação de manutenção de posse quando as servidões se apresentarem de modo ostensivo. CC, art. 1.213. O disposto nos artigos antecedentes não se aplica às servidões não aparentes, salvo quando os respectivos títulos provierem do possuidor do prédio serviente, ou daqueles de quem este o houve. Súmula 415, STF – “servidão de trânsito não titulada, mas tornada permanente, sobretudo pela natureza das obras realizadas, considera-se aparente, conferindo direito à proteção possessória”. 23 Divergência na doutrina quanto à contagem do prazo de ano e dia quando os atos turbativos forem múltiplos: Regra geral conta o primeiro ato turbativo. a) a partir de um ato que importe realmente em privação da posse; b) quando os atos forem distintos, sem nexo de causalidade entre eles, cada um será autônomo, para efeito de contagem; c) quando se tratar de atos sucessivos, ligados entre si, há apenas uma turbação, então, conta-se o último ato para efeito de prazo para ser admitido o rito sumário. Legítima defesa da posse O possuidor direto e indireto – pessoalmente ou por sua própria força – reação incontinenti ou sem demora, contra ato turbativo real e atual – emprego de meios estritamente necessários para manter sua posse. CC, art. 188. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido. A autodefesa só pode ser exercida contra o próprio turbador e não contra terceiro. Se a assistência do Estado for tardia ou inoportuna, o possuidor pode agir em defesa da sua posse, mas deve evitar excessos, seguindo o princípio da moderação da legítima defesa. É considerada resquício de justiça privada. Legítima defesa da posse (CC, art. 1. 210, § 1°) – autorização expressa para reconquistar a posse – desforço imediato – dever de agir pessoalmente, assumindo toda a responsabilidade – pode contar com a ajuda de amigos ou serviçais – empregar todos os meios necessários, inclusive armas, até conseguir recuperar a sua posse – reação imediata ou assim que for possível agir – reação proporcional não podendo ir além do indispensável à restituição da posse. Carvalho Santos traz o seguinte exemplo: “se alguém encontrar o ladrão de sua capa, dias depois do furto, apesar do lapso de tempo decorrido, assiste-lhe o direito de fazer justiça pelas próprias mãos, se a polícia não estiver presente. Entretanto, se após a consumação do esbulho já transcorreu certo prazo o melhor mesmo é se socorrer das vias judiciais”. CC, art. 1.210, § 1°. O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. 24 b) Ação de Reintegração de Posse (Esbulho) Esbulho: é o ato pelo qual o possuidor se vê despojado da posse, injustamente, por violência, por clandestinidade e por abuso de confiança. CPC, art. 926. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e reintegrado no de esbulho. CPC, art. 921 – o possuidor tem direito a pleitear indenização pelas perdas e danos, pedir cominação de pena e exigir o desfazimento de obra ou plantação. Então, é esbulhador: o estranho que invade a casa deixada pelo inquilino; o comodatário que deixa de entregar a coisa no final do contrato; o locador de serviço dispensado que não restitui a casa que recebeu para morar. CC, art. 1.212. O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, contra o terceiro, que recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era. O possuidor pode intentar ação de reintegração ou de indenização contra o esbulhador ou contra terceiro sabedor do esbulho – receptador de bem esbulhado – aquisição de má-fé do esbulhador. Enunciado n. 80 do Conselho da Justiça Federal: “é inadmissível o direcionamento de uma demanda possessória ou ressarcitória contra terceiro de boa-fé, por ser parte passiva ilegítima, diante do disposto no art. 1.212, CC. Contra o terceiro de boa-fé cabe tão-somente a propositura de demanda de natureza real”. Deve restituira coisa, mas não terá o dever de indenizar qualquer prejuízo. Espécies de esbulho: A) Ação de Força Nova Espoliativa – recebe este nome por ser impetrada dentro do prazo de ano e dia; B) Ação de Força Velha Espoliativa – ação ajuizada além do prazo de ano e dia. Ação de Força Nova Espoliativa – inicia-se com a expedição do mandado liminar para reintegrar o possuidor imediatamente. Ação de Força Velha Espoliativa – o magistrado instaura o contraditório, mandando citar o réu para que este apresente a sua defesa, confrontando as provas produzidas pelas partes, decidindo quem terá a posse. Cabe, também, a tutela antecipada (CPC, art. 273), de acordo com o Enunciado n. 238 do Conselho da Justiça Federal. 25 CPC, art. 931. Aplica-se, quanto ao mais, o procedimento ordinário. Tanto a ação de força nova espoliativa quanto a ação de força velha espoliativa seguem o rito ordinário depois da contestação. No entanto, vale lembrar que só na ação de força nova espoliativa cabe o mandado liminar (CPC, arts. 924 e 928). Julgado do Tribunal de Justiça da Bahia: “não sendo a possessória ação real, improcede a alegação de prescrição pelo decurso do prazo entre o ato esbulhativo e sua propositura”. CC, art. 1.210, § 2°. Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa. Súmula n. 487, STF: “será deferida a posse a quem evidentemente tiver domínio, se com base neste for disputada”. O Código Civil volta a sua atenção para a posse nas ações possessórias. Entretanto, outros direitos poderão ser alegados, como por exemplo, o direito de propriedade, porém a decisão deve ser fundamentada na posse. O julgamento da posse não pode ser prejudicado pela alegação de propriedade, se a posse for disputada a título de domínio. Quando as partes não conseguem provar satisfatoriamente sua posse na disputa a título de domínio, admite-se a exceção de domínio. Exemplo, o réu esbulhador, em sua defesa, alega que é dono da coisa esbulhada, neste caso, o seu argumento não será válido, mesmo sob a alegação de propriedade, pois o esbulhador não tem direito de molestar a posse alheia (CC, art. 1.210, § 2°; CPC, art. 923). CPC, art. 923. Na pendência do processo possessório, é defeso, assim ao autor como ao réu, intentar a ação de reconhecimento do domínio. Cabe ao proprietário do bem defender o seu domínio contra quem, injustamente, o possua mediante ação de reivindicação. O projeto de Lei 276/2007 alterará o art. 1.210, o § 2° será o § 3°, e terá a seguinte redação: “se a coisa móvel ou título ao portador houverem sido furtados ou perdidos, o possuidor poderá reavê-los da pessoa que o detiver, ressalvado a esta o direito de regresso contra quem lhos transferiu. Sendo o objeto comprado em leilão público, feira ou mercado, o dono, que pretende a restituição, é obrigado a pagar ao possuidor o preço pelo qual o comprou”. Trata-se de sugestão de Joel Dias Figueira Jr. para manter no ordenamento jurídico a proteção das vindicatórias da posse, colocando-as como efeitos da posse. 26 A alegação de propriedade nas ações possessórias deve ser apreciada como prejudicial da pretensão ajuizada, através da declaração incidental para a solução da controvérsia que surgiu durante o processo (CPC, arts. 5º, 325). CPC, art. 5º. Se, no curso do processo, se tornar litigiosa relação jurídica de cuja existência ou inexistência depender o julgamento da lide, qualquer das partes poderá requerer que o juiz a declare por sentença. CPC, art. 325. Contestando o réu o direito que constitui fundamento do pedido, o autor poderá requerer, no prazo de 10 (dez) dias, que sobre ele o juiz profira sentença incidente, se da declaração da existência ou da inexistência do direito depender, no todo ou em parte, o julgamento da lide (art. 5º). A posse não é apenas o poder físico e imediato sobre a coisa, mas a exterioridade do exercício de um direito. O proprietário tem a posse em decorrência do exercício do direito de propriedade, exceto se a perdeu ou transferiu a terceiro por um dos modos previstos em lei. O esbulhador tem o dever de restituir a coisa – esta regra deve informar a decisão da lide em sede possessória. Direito Luso – Ordenações Philipinas – inadmitia a exceção de domínio em matéria possessória. A posse merece proteção por si mesma, independente da alegação da propriedade. Colisão entre o jus possessionis e o jus possidendi. A) jus possessionis – juízo possessório - pelo qual o possuidor pretende exercer o direito de posse. B) jus possidendi – juízo petitório – pelo qual o proprietário requer o respeito ao seu direito de possuir. O juízo possessório independe do juízo petitório, pois é um instituto jurídico autônomo protegido por ações especiais. Donaldo Armelin observa que a supressão da exceptio proprietatis evita a procrastinação da pretensão da tutela jurisdicional em matéria possessória dando maior efetividade à tutela possessória. Enunciado n. 78 do Conselho da Justiça Federal: “tendo em vista a não recepção, pelo novo Código Civil, da exceptio proprietatis (art. 1.210, § 2°), em caso de ausência de prova suficiente para embasar decisão liminar ou sentença final ancorada, exclusivamente, no ius possessionis, deverá o pedido ser indeferido e julgado improcedente, não obstante eventual alegação e demonstração de direito real sobre bem litigioso”. 27 Enunciado n. 79 do Conselho da Justiça Federal: “a exceptio proprietatis, como defesa oponível às ações possessórias típicas, foi abolida pelo Código Civil de 2002, que estabeleceu a absoluta separação entre os juízos possessório e petitório”. O esbulhador ainda pode responder penalmente de acordo com os arts. 161, 163 e 168 do Código Penal. C) Ação de Interdito Proibitório É a proteção preventiva da posse ante a ameaça de turbação ou esbulho (CC, art. 1.210, 2ª parte; CPC arts. 927 a 933). CPC, art. 932. O possuidor direto ou indireto, que tenha justo receio de ser molestado na posse, poderá impetrar ao juiz que o segure da turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório, em que se comine ao réu determinada pena pecuniária, caso transgrida o preceito. Para propor a ação basta provar que o autor tenha um receio fundado ou justo de que a violência virá – pouco importa a intenção do réu em praticar ou não a turbação ou esbulho – com isso, evita-se a consumação do fato não querido (ex. regiões muito violentas, como o sul do Pará, onde o risco de perder a posse é muito grande, pode justificar o interdito proibitório). O interdito proibitório só produz seus efeitos depois de julgado por sentença. Sendo procedente a ação, o juiz proíbe que o réu pratique a turbação ou esbulho, sob pena de pagar multa pecuniária, inclusive perdas e danos, em favor do próprio autor ou de terceiro (ex. uma instituição filantrópica). Súmula n. 228, STJ: “é inadmissível o interdito proibitório para proteção de direito autoral”. D) Ação de Nunciação de Obra Nova É ação que visa impedir que o domínio ou a posse de um bem imóvel seja prejudicado em sua natureza, substância, servidão ou afins, por obra nova no prédio vizinho (CPC, arts. 934 a 940). CPC, art. 934. Compete esta ação: I - ao proprietário ou possuidor, a fim de impedir que a edificação de obra nova em imóvel vizinho lhe prejudique o prédio, suas servidões ou fins a que é destinado; II - ao condômino, para impedir que o co-proprietário execute alguma obra com prejuízo ou alteração da 28 coisa comum; III - ao município, a fim de impedir que o particular construa em contravenção da lei, do regulamento ou de postura.Legitimados para propor a Ação de Nunciação de Obra Nova A) O proprietário ou o possuidor; B) O condômino; C) O município. Washington de Barros Monteiro: “por obra nova se deve entender não só a construção, mas qualquer ato material prejudicial ao proprietário ou possuidor”. Orlando Gomes, Pinto Ferreira e Rita Gianesini entendem que: “a ação de nunciação de obra nova não é ação real imobiliária. Sua natureza é de ação pessoal, e não real, uma vez que, de igual modo, são conceituados os direitos subjetivos de vizinhança que ela visa assegurar numa de suas manifestações”. Direito de construir – regulado pelos artigos 1.299 até o 1.313 do CC. CC, art. 1.301. É defeso abrir janelas, ou fazer eirado, terraço ou varanda, a menos de metro e meio do terreno vizinho. Por exemplo, o dono de um prédio superior não pode desviar a água de um córrego que há anos é utilizada pelo proprietário de imóvel rural. Esta ação só caberá quando se tratar de obra contígua em vias de construção. Não caberá esta ação quando a obra já estiver concluída ou na fase final de conclusão, ex. fase de pintura e acabamento final. Embargo extrajudicial CPC, art. 935. Ao prejudicado também é lícito, se o caso for urgente, fazer o embargo extrajudicial, notificando verbalmente, perante duas testemunhas, o proprietário ou, em sua falta, o construtor, para não continuar a obra. Parágrafo único. Dentro de 3 (três) dias requererá o nunciante a ratificação em juízo, sob pena de cessar o efeito do embargo. Esta ação tem por objetivo principal suspender ou embargar a obra, até que haja sua demolição, se realmente prejudicar a posse ou a propriedade do nunciante. Impede a construção, mesmo que a obra não acarrete dano atual – basta que haja a possibilidade de algum ato turbativo que possa acontecer. 29 CPC, art. 936. Na petição inicial, elaborada com observância dos requisitos do art. 282 (requisitos da petição inicial), requererá o nunciante: I - o embargo para que fique suspensa a obra e se mande afinal reconstituir, modificar ou demolir o que estiver feito em seu detrimento; II - a cominação de pena para o caso de inobservância do preceito; III - a condenação em perdas e danos. Parágrafo único. Tratando-se de demolição, colheita, corte de madeiras, extração de minérios e obras semelhantes, pode incluir-se o pedido de apreensão e depósito dos materiais e produtos já retirados. Há cominação de multa para o caso de reinício ou de reconstrução, bem como condenação em perdas e danos. CPC, art. 937. É lícito ao juiz conceder o embargo liminarmente ou após justificação prévia. CPC, art. 938. Deferido o embargo, o oficial de justiça, encarregado de seu cumprimento, lavrará auto circunstanciado, descrevendo o estado em que se encontra a obra; e, ato contínuo, intimará o construtor e os operários a que não continuem a obra sob pena de desobediência e citará o proprietário a contestar em 5 (cinco) dias a ação. CPC, art. 939. Aplica-se a esta ação o disposto no art. 803. CPC, art. 803. Não sendo contestado o pedido, presumir-se-ão aceitos pelo requerido, como verdadeiros, os fatos alegados pelo requerente (arts. 285 e 319); caso em que o juiz decidirá dentro em 5 (cinco) dias. CPC, art. 285. Estando em termos a petição inicial, o juiz a despachará, ordenando a citação do réu, para responder; do mandado constará que, não sendo contestada a ação, se presumirão aceitos pelo réu, como verdadeiros, os fatos articulados pelo autor. CPC, art. 319. Se o réu não contestar a ação, reputar-se-ão verdadeiros os fatos afirmados pelo autor. O nunciado pode, prestando caução, continuar a obra, mas desde que esta não contrarie o Código de Postura do município, por exemplo. CPC, art. 940. O nunciado poderá, a qualquer tempo e em qualquer grau de jurisdição, requerer o 30 prosseguimento da obra, desde que preste caução e demonstre prejuízo resultante da suspensão dela. § 1º a caução será prestada no juízo de origem, embora a causa se encontre no tribunal. § 2º em nenhuma hipótese terá lugar o prosseguimento, tratando-se de obra nova levantada contra determinação de regulamentos administrativos. Princípio da supremacia do interesse público sobre o particular (CPC, art. 940, § 2º). E) Ação de Dano Infecto É uma medida preventiva utilizada pelo possuidor ou pelo proprietário, que tenha fundado receio de que a ruína ou demolição ou vício de construção de prédio vizinho ao seu venha causa-lhe prejuízo, para obter, por sentença, do dono do imóvel contíguo caução que garanta a indenização de danos futuros (CPC, arts. 826 a 838). Essa ação não é uma ação tipicamente possessória, mas sim cominatória em razão da sua finalidade acautelatória. A doutrina a considera uma medida possessória, tendo em vista que compreende a proteção do possuidor. CC, art. 1.280. O proprietário ou o possuidor tem direito a exigir do dono do prédio vizinho a demolição, ou a reparação deste, quando ameace ruína, bem como que lhe preste caução pelo dano iminente. CC, art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha. Para proteger o seu direito o possuidor poderá valer-se do rito ordinário, do rito sumário nos casos não excedentes a 60 vezes o salário mínimo, de acordo com o CPC, art. 275, I, e ainda, do rito sumaríssimo nos casos de valor até 40 salários mínimos, conforme Lei n. 9.099/95, art. 3°, I, II e IV. F) Ação de Imissão de Posse É a que tem por escopo a aquisição da posse pela via judicial. Exemplo: se “a” compra um imóvel de “b” e este nega-lhe o ingresso no prédio adquirido, “a” poderá propor contra aquele imissão de posse, pois no instante que adquiriu o bem, passou a ter direito à posse, e como não tinha posse 31 anterior, não poderá mover a reintegração de posse. Tal ação é própria para os que pretenderem haver a posse dos bens que adquiriram, contra quem os detiver. Se tem como pressuposto a titularidade do direito à posse, que foi violado, então é ação possessória. O antigo CPC contemplava em seu art. 381 a ação de imissão de posse. O CPC atual não prevê a ação de imissão de posse de modo específico. Washington de Barros Monteiro acredita que esta ação não desapareceu, sendo que o autor poderá propô-la desde que utilize o rito comum – ação ordinária de imissão de posse – objetivando a posse nos casos legais. Julgado do Tribunal de Justiça de Santa Catarina: “a ação de imissão na posse muito embora o atual CPC a tenha retirado de entre as possessórias, é cabível como ação específica do proprietário adquirente que pleiteia a posse direta”. Rito da ação: A) bens móveis – se o valor for maior de 60 salários mínimos = rito ordinário/comum; se o valor for menor de 60 salários mínimos = rito sumário (art. 275, I, CPC); e se a causa for até 40 salários mínimos = rito sumaríssimo (art. 3°, I, Lei n. 9.099/95). B) bens imóveis – se o valor não exceder a 40 salários mínimos = rito sumaríssimo (procedimento da Lei n. 9.099/95, art. 3°, I e IV); se for superior = rito ordinário (arts. 282 e seguintes do CPC). Esta ação não se confunde com a ação de imissão da posse ou imissão na posse (art. 625 e 879, I, CPC). CPC, art. 625. Não sendo a coisa entregue ou depositada, nem admitidos embargos suspensivos da execução, expedir-se-á, em favor do credor, mandado de imissão na posse ou de busca e apreensão, conforme se tratar de imóvel ou de móvel. CPC, art. 879. Comete atentado a parte que no curso do processo: I- viola penhora, arresto, seqüestro ou imissão na posse. Também não se confunde com a imissão de posse da coisa expropriada e com a imissão de posse em favor do locador para retomada do prédio locado (Decreto-lei n. 9.669/1946, art. 10, § 2°). Na lei n. 8.245/91 (atual Lei do Inquilinato) já há uma previsão para tal situação que é a ação de despejo. G) Ação de Embargos de Terceiro Senhor e Possuidor 32 É a ação que visa proteger a posse violada por ato judicial. CPC, art. 1.046. Quem, não sendo parte no processo, sofrer turbação ou esbulho na posse de seus bens por ato de apreensão judicial, em casos como o de penhora, depósito, arresto, seqüestro, alienação judicial, arrecadação, arrolamento, inventário, partilha, poderá requerer lhe sejam manutenidos ou restituídos por meio de embargos. § 1º os embargos podem ser de terceiro senhor e possuidor, ou apenas possuidor. É um processo acessório. CPC, art. 1.047. Admitem-se ainda embargos de terceiro: I - para a defesa da posse, quando, nas ações de divisão ou de demarcação, for o imóvel sujeito a atos materiais, preparatórios ou definitivos, da partilha ou da fixação de rumos; II - para o credor com garantia real obstar alienação judicial do objeto da hipoteca, penhor ou anticrese. CPC, art. 1.048. Os embargos podem ser opostos a qualquer tempo no processo de conhecimento enquanto não transitada em julgado a sentença, e, no processo de execução, até 5 (cinco) dias depois da arrematação, adjudicação ou remição, mas sempre antes da assinatura da respectiva carta. Provado em juízo a procedência dos embargos, o juiz expedirá o mandado de manutenção ou reintegração de posse. 2. Direito à percepção dos frutos São utilidades que a coisa periodicamente produz, cuja percepção se dá sem detrimento de sua substância. Percepção: ato material pelo qual o possuidor se torna proprietário dos frutos. Classificação dos frutos 1. Quanto à origem A) Naturais – se renovam periodicamente devido à força da própria natureza (ex. crias de animais, colheitas, etc). B) Industriais – existem em virtude do engenho humano (ex. produção de uma fábrica). 33 C) Civis – rendas oriundas de coisa frugífera (ex. juros, dividendos e aluguéis). 2. Quanto à percepção A) Pendentes – quando unidos à coisa principal. B) Percebidos – quando colhidos. C) Estantes – quando armazenados para venda. D) Percipiendos – quando deveriam ter sido, mas ainda não foram colhidos. E) Consumidos – quando já utilizados pelo possuidor. Possuidor de boa-fé e os frutos CC, art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos. O possuidor equipara-se ao dono uma vez que possui o bem – tem a convicção do proprietário, pois tem em mãos um título jurídico, como compra e venda, ocupação ou direito hereditário, ainda que viciado. Pode usar e gozar da coisa, retirando dela todas as vantagens. A boa-fé deve existir no momento da percepção. CC, art. 1.214. Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação. O demandante não pode locupletar-se à custa alheia. Orlando Gomes leciona que o possuidor de boa-fé não tem direito aos frutos pendentes, no momento em que cessa a sua boa-fé, porque eles são parte integrante da coisa principal e que não pode adquirir os frutos colhidos com antecipação porque seriam pendentes no momento em que cessou sua boa-fé. Portanto, o possuidor de boa-fé somente tem direito aos frutos percebidos e às despesas da produção e custeio dos frutos pendentes e dos colhidos antecipadamente. Silvio Rodrigues ensina que há dois interesses conflitantes: de um lado, o do possuidor de boa-fé, que, na persuasão de ser sua a coisa, a explorou dando- lhe o destino econômico a que estava afetada; e, de outro, o interesse do proprietário negligente, que permitiu a subtração daquilo que lhe pertencia e levou mais de ano e dia para reagir. Ante tais posições antagônicas preferiu amparar o interesse do possuidor de boa-fé, por ser mais próximo do interesse social. 34 CC, art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos, logo que são separados; os civis reputam-se percebidos dia por dia. A renda obtida com a fruição do bem é calculada proporcionalmente aos dias de duração na posse. A citação inicial ou a litiscontestação transformam a posse de boa-fé em posse de má-fe. A partir desse instante, ante os elementos probatórios apresentados pela parte contrária, o demandado passa a ter a ciência dos vícios que maculam a sua posse, perdendo o direito aos frutos (CC, art. 1.214, § ún.). Possuidor de má-fé e os frutos CC, art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção e custeio. O CC pune o dolo, a malícia e a má-fé – o possuidor de má-fé não tem direito a quaisquer frutos. Entretanto, o CC veda o enriquecimento sem causa. Tabela demonstrativa da diferença de tratamento entre o possuidor de boa-fé e o de má-fé em relação aos frutos e ao direito de retenção. Boa-fé Má-fé Direito aos frutos. Não tem direito aos frutos. Direito às acessões. Deverá indenizar por perdas e danos pelas acessões artificiais. Direito às benfeitorias necessárias, úteis e voluptuárias (ou de levantá-las). Só terá direito às benfeitorias necessárias. Não responde pelas deteriorações, exceto se der causa a elas. Responde até pelas deteriorações acidentais, mas pode provar o contrário. Direito de retenção. Não tem direito à retenção. (CC, arts. 1.214, 1.217, 1.219 e 1.254 e segs.) (CC, arts 1.216, 1.218, 1.220 e 1.254 e segs.) 3. Direito à indenização das benfeitorias e direito de retenção 35 Benfeitorias: obras ou despesas efetuadas pelo possuidor para conservar, melhorar e embelezar a coisa. Direito a receber de volta o que foi investido na coisa. CC, art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. Classificação das benfeitorias Benfeitorias necessárias – visam conservar a coisa ou evitar a sua deterioração (CC, art. 96, § 3°). Benfeitorias úteis – pretendem aumentar ou facilitar o uso do bem (CC, art. 96, § 2°). Benfeitorias voluptuárias – são as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual da coisa, ainda que se tornem mais agradável, ou sejam de elevado valor (CC, art. 96, § 1°). Direito de retenção Direito que tem o devedor de uma obrigação de reter o bem alheio em seu poder, para haver do credor da obrigação as despesas feitas em benefício da coisa. CPC, art. 745. Nos embargos, poderá o executado alegar: IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de título para entrega de coisa certa (art. 621); § 1º nos embargos de retenção por benfeitorias, poderá o exeqüente requerer a compensação de seu valor com o dos frutos ou danos considerados devidos pelo executado, cumprindo ao juiz, para a apuração dos respectivos valores, nomear perito, fixando-lhe breve prazo para entrega do laudo. Jus retencionis: é um meio de defesa que a lei, excepcionalmente,concede ao possuidor para, por meio de embargos de retenção, conservar em seu poder coisa alheia além do momento em que a deveria devolver, como garantia de pagamento das despesas feitas com o bem. Permissão legal para que o possuidor se oponha à restituição da coisa até ser pago, o que é justo em razão da equidade, que não se compraz com o fato de o possuidor devolver o bem para somente depois ir reclamar o que lhe é devido. 36 Possuidor de boa-fé e o direito à retenção Tem direito às benfeitorias úteis e necessárias e pode levar as voluptuárias desde que não danifique a coisa. Tem o direito de reter até os valores das benfeitorias úteis e necessárias. Súmula n. 158, STF: salvo estipulação contratual averbada no registro imobiliário, não responde o adquirente pelas benfeitorias do locatário. O meio processual para o exercício da retenção é o embargo de retenção. No curso da ação possessória devem ser alegadas e provadas as benfeitorias. Caso contrário, os embargos ficam prejudicados. Prejudicados os embargos, pode-se recorrer às vias ordinárias através de ação autônoma pedindo indenização com fundamento no enriquecimento sem causa. Washington de Barros Monteiro apresenta alguns casos em que nossa jurisprudência tem aceitado o jus retentionis: A) em favor do empreiteiro-construtor; B) em favor do locatário contra o senhorio, caso não haja cláusula contratual em contrário – exige-se o expresso consentimento do locador para as benfeitorias úteis – o direito de retenção não pode ser oposto ao adquirente do imóvel locado – reconhecido o direito de retenção por benfeitorias realizadas pelo inquilino, a notificação para desocupar o imóvel, dentro do prazo estipulado pela sentença, deve ser precedida do depósito do quantum arbitrado. C) em favor do credor a título de conserto do objeto vendido com reserva de domínio, mesmo com relação ao vendedor. De acordo com a Lei n. 4.504/64, art. 95 e Decreto n. 59.566/66, art. 25 – no arrendamento rural, o arrendatário, no término do contrato, tem direito às benfeitorias úteis e necessárias. Quanto às voluptuárias, terá direito desde que tenham sido autorizadas pelo arrendador. É dado o direito de retenção até o recebimento da indenização. Enunciado n. 81 do Conselho da Justiça Federal: “o direito de retenção previsto no art. 1.219, CC, decorrente da realização de benfeitorias necessárias e úteis, também se aplica às acessões (construções e plantações), nas mesmas circunstâncias”. Possuidor de má-fé e o direito à retenção CC, art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela 37 importância destas, nem o de levantar as voluptuárias. Tem direito ao ressarcimento somente das benfeitorias necessárias, executadas para conservar a coisa, tendo em vista que o proprietário na posse da coisa seria obrigado a fazer as benfeitorias – princípio do enriquecimento sem causa. É justo que se pague pelas obras realizadas. O possuidor de má-fé não faz jus à indenização das benfeitorias úteis – perde- as em favor do proprietário, o qual as recebe gratuitamente como compensação pelo tempo em que ficou privado de sua posse. Não tem direito às voluptuárias, nem de levantá-las. Não pode reter o bem para forçar o pagamento da indenização. CC, art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo da evicção ainda existirem. CC, art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual. Clóvis Beviláqua e a jurisprudência entendiam que o possuidor deveria receber exatamente o que despendeu. Para Carvalho Santos – seria mais justa a indenização pelo valor atual. Pelo critério legal – o devedor da indenização pode optar pelo valor atual ou pelo seu custo. A perícia fixará o quantum a ser pago, exceto acordo entre as partes nesse sentido. O possuidor de boa-fé deve ser indenizado pelo valor atual, corrigido até a data do pagamento. Logo, o possuidor de boa-fé fará jus ao valor atualizado e não apenas ao que despendeu. Assim sendo, o proprietário não poderá optar pelo valor de custo. Jones Figueirêdo Alves e Mário Luiz Delgado: “se por algum motivo, o valor atual de mercado for comprovadamente inferior ao valor gasto pelo possuidor de boa-fé na edificação das benfeitorias, poderá ele exigir que o proprietário lhe indenize pelo custo.” O direito de opção de que trata o art. 1.222 do CC deve ser interpretado a favor do possuidor de boa-fé. Nem sempre esta tese é aceita, logo o possuidor de boa-fé não terá o reembolso total das despesas feitas. 38 4. Responsabilidade pela deterioração e perda da coisa CC, art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa. Possuidor de boa-fé - o possuidor agindo como proprietário não deve prestar contas de seus atos, salvo se concorreu propositalmente para a deterioração ou perda da coisa. Possuidor de má-fé CC, art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante. 5. Posse conduz à usucapião O possuidor pode adquirir a posse continuada pela usucapião. Um dos efeitos mais importantes da posse é a garantia legal de adquirir a propriedade daquilo que possui pela usucapião. 6. Ônus da prova compete ao adversário do possuidor. Quando for contestado o direito deste. Não provando o autor o seu direito, a posse deve ser mantida com o réu. 7. O possuidor goza, processualmente, de posição mais favorável. Exerce um dos direitos de propriedade que é a posse – por isso, deve ser mantido na posse até a resolução da questão. 8. Presunção de posse das coisas móveis. CC, art. 1.209: a posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a das coisas móveis que nele estiverem. 9. Vantagem da melhor posse CC, art. 1.211. Quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-se-á provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifesto que a obteve de alguma das outras por modo vicioso. 39 Melhor posse – posse provisória – obrigações de depósito – função social da posse. PERDA DA POSSE Formas de perda da Posse 1. Perda da posse da coisa 2. Perda da posse dos direitos 3. Perda da posse para o possuidor que não presenciou o esbulho Perde-se a posse sempre que o possuidor não exerça ou não possa exercer poder inerente à exteriorização da propriedade. CC, art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196. O legislador achou por bem deixar ao aplicador da lei a tarefa de determinar a perda da posse. De acordo com Orlando Gomes, podemos adaptar a perda da posse com o art. 1.275, CC: CC, art. 1.275. Além das causas consideradas neste código, perde-se a propriedade: I - por alienação; II - pela renúncia; III - por abandono; IV - por perecimento da coisa; V - por desapropriação. No entanto, didaticamente, podemos dizer que se perde a posse da coisa a partir das formas apresentadas adiante. 1. Perda da posse da coisa Perda da posse da coisa A) Abandono B) Tradição C) Perda da própria coisa D) Destruição da coisa E) Inalienabilidade F) Posse de outrem G) Constituto possessório A) Abandono Ocorre quando o possuidor
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