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PROCESSO CIVIL 3.doc

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Processo Civil V 
- Consignação em Pagamento
- Exigir Contas
- Ação Monitória
Consignação em Pagamento
Consignação de Aluguéis
A consignação de pagamento em caso de aluguéis está prevista no art. 67 da Lei 8.245/91.
Art. 67 da Lei 8.245/91 (Lei do Inquilinato):
Art. 67. Na ação que objetivar o pagamento dos aluguéis e acessórios da locação mediante consignação, será observado o seguinte:
I - a petição inicial, além dos requisitos exigidos pelo art. 282 do Código de Processo Civil [observar o art. 319 do CPC/2015], deverá especificar os aluguéis e acessórios da locação com indicação dos respectivos valores;
II - determinada a citação do réu, o autor será intimado a, no prazo de vinte e quatro horas, efetuar o depósito judicial da importância indicada na petição inicial, sob pena de ser extinto o processo;
III - o pedido envolverá a quitação das obrigações que vencerem durante a tramitação do feito e até ser prolatada a sentença de primeira instância, devendo o autor promover os depósitos nos respectivos vencimentos;
IV - não sendo oferecida a contestação, ou se o locador receber os valores depositados, o juiz acolherá o pedido, declarando quitadas as obrigações, condenando o réu ao pagamento das custas e honorários de vinte por cento do valor dos depósitos;
V - a contestação do locador, além da defesa de direito que possa caber, ficará adstrita, quanto à matéria de fato, a:
a) não ter havido recusa ou mora em receber a quantia devida;
b) ter sido justa a recusa;
c) não ter sido efetuado o depósito no prazo ou no lugar do pagamento;
d) não ter sido o depósito integral;
VI - além de contestar, o réu poderá, em reconvenção, pedir o despejo e a cobrança dos valores objeto da consignatória ou da diferença do depósito inicial, na hipótese de ter sido alegado não ser o mesmo integral;
VII - o autor poderá complementar o depósito inicial, no prazo de cinco dias contados da ciência do oferecimento da resposta, com acréscimo de dez por cento sobre o valor da diferença. Se tal ocorrer, o juiz declarará quitadas as obrigações, elidindo a rescisão da locação, mas imporá ao autor-reconvindo a responsabilidade pelas custas e honorários advocatícios de vinte por cento sobre o valor dos depósitos;
VIII - havendo, na reconvenção, cumulação dos pedidos de rescisão da locação e cobrança dos valores objeto da consignatória, a execução desta somente poderá ter início após obtida a desocupação do imóvel, caso ambos tenham sido acolhidos.
Parágrafo único. O réu poderá levantar a qualquer momento as importâncias depositadas sobre as quais não penda controvérsia.
Percebe-se que este procedimento é muito parecido com aquele previsto no CPC, ressalvando-se pequenas diferenças.
No prazo das prestações periódicas há diferença, pois enquanto o procedimento especial do CPC estabelece a possibilidade de depositar em até 5 dias após o vencimento, o procedimento do art. 67 da Lei do Inquilinato prevê apenas o depósito no dia do vencimento e a 1ª parcela em até 24hs. 
Prazo: a 1ª em até 24hs (depósito da 1ª parcela).
Diferenças entre o procedimento do CPC e o previsto no art. 67 da Lei 8.245/91:
O depósito vem no mesmo despacho da citação (art. 67, II, da Lei 8.245/91);
No procedimento do CPC, primeiro o juiz manda autor fazer o depósito (em 5 dias) e depois manda citar o réu. Na Lei 8.245/91, o juiz manda citar e fazer o depósito ao mesmo tempo, ou seja, no mesmo despacho (em 24hs). A pena para o “não depósito” é a extinção do processo. 
Prazo para depósito dos aluguéis é a data de prolação da sentença (art. 67, III, da Lei 8.245/91);
Ao contrário do procedimento do CPC, na Lei 8.245/91 não há dúvida até quando é possível realizar o depósito. No procedimento geral do CPC há uma dúvida se é possível fazer o depósito até o trânsito em julgado ou só até a sentença de 1º grau (professor João Marcelo é partidário do entendimento “até a sentença de 1º grau”). No caso dos aluguéis, há especificação para o depósito ser feito até a sentença de 1º grau. 
Se o autor precisar continuar depositando após a sentença de primeiro grau, deverá ajuizar nova consignação em pagamento (novo processo).
Se o réu aceitar o pagamento, perderá ação, o juiz julgará procedentes os pedidos e o condenará às custas e honorários (art. 67, IV, da Lei 8.245/91);
A consignação dos pedidos de aluguel não tem caráter dúplice, sendo necessária a reconvenção (art. 67, VI, da Lei 8.245/91);
Ao contrário do procedimento do CPC, a consignação dos alugueis não tem caráter dúplice. Há necessidade de pedido de reconvenção para cobrar o valor excedente.
ATENÇÃO: A ação de consignação do art. 67 da Lei 8.245/91 NÃO TEM NATUREZA DÚPLICE!!!
No procedimento do CPC, pode-se apurar o saldo e cobrar, sem a necessidade de reconvenção, sendo justamente isso que dá o caráter dúplice.
Exemplo: Réu acha que o Autor lhe deve R$ 10.000,00, mas este deposita somente R$ 9.000,00, no procedimento de aluguéis, o réu precisará ajuizar reconvenção para cobrar o saldo.
Prazo para complementação é de 5 dias, há multa de 10% (art. 67, VII, da Lei 8.245/91), especifica quem recebe os honorários. 
Este inciso estabelece algumas diferenças com o procedimento do CPC:
O prazo para complementação dos aluguéis é de 5 dias (no procedimento do CPC são 10);
Fica explícito de quem são honorários (no procedimento do CPC, não);
O autor pode complementar, mas se o fizer pagará multa de 10%. Trata-se de uma sanção ao locatário que não depositou integralmente (no procedimento CPC não há essa multa).
Pergunta: A fase extrajudicial (prevista no art. 334 do CPC) poderia ser aplicada aos alugueis?
Resposta: Não há nada que impeça a fase extrajudicial na consignação dos alugueis (depósito no Banco). 
Salvo as diferenças destacadas, a consignação de alugueis não difere do procedimento do CPC: a finalidade é a mesma (liberar do pagamento), os motivos da recusa são os mesmos, etc.
Lembrar que há diferença quanto aos prazos de depósito:
A primeira parcela deve ser depositada em 24hs e as demais (que se vencem), no prazo (Lei do Inquilinato). No procedimento geral do CPC, o depósito é em 5 dias para a primeira e para as demais.
Exigir Contas
Pergunta: Qual é a primeira diferença entre o procedimento de exigir contas do CPC/2015 e aquele previsto no CPC/1973?
Resposta: A primeira diferença entre os procedimentos é que antes era possível “exigir contas” e “dar contas”, ou seja, tanto aquele que podia exigir a prestação de contas, quanto aquele que era obrigado a prestar contas, podia utilizar o procedimento especial. No CPC/2015, houve uma alteração: o PROCEDIMENTO ESPECIAL serve para AQUELES QUE PODEM EXIGIR AS CONTAS. Aqueles que devem prestar (que devem “dar”) as contas, se quiserem fazê-lo, precisarão utilizar o procedimento comum.
O procedimento especial de exigir contas serve para quem exige as contas. Quem deve prestar as contas utilizará o procedimento comum.
Então: 
CPC/1973: o procedimento especial era de “exigir” e de “dar” contas;
CPC/1973: o procedimento especial é somente de “exigir contas”.
Pergunta: Qual é a finalidade da ação de prestação de contas (causa de pedir)?
Resposta: A causa de pedir da ação de exigir contas é o acesso às contas. Quando é feita uma ação de exigir contas, a sua finalidade não é a apuração de saldo ou a condenação da outra parte, apesar de que ambas estas situações podem ser consequência da ação de exigir contas. Portanto, pode ser que ao final da ação de exigir contas o autor tenha que receber alguma coisa ou até pagar algo! A parte quer o acesso às contas.
Causa de pedir: “acesso à conta”
A condenação em saldo devedor é apenas uma consequência que pode (ou não) ocorrer.
Esquema do professor:
Exigir contas = “acesso à conta” – condenação em saldo devedor → consequência para a parte: pode ou não recorrer
Fases da Ação de Exigir Contas
A Ação de Exigir Contas se divide em 3 fases:
Discussão se há dever (ou não) de prestar contas;
Prestação de contas;
Execução (cumprimento de sentença) – eventual saldo credor.
PrimeiraFase
A primeira crítica feita ao procedimento da ação de exigir contas no Novo CPC é o fato de ele não prever a hipótese de a parte ir a juízo simplesmente para discutir a obrigação (ou não) de prestar contas. O CPC/2015 não fala que a defesa pode ser vinculada a essa situação. 
Pergunta: Quem pode exigir contas? Quem pode ser o autor (legitimado ativo) na ação de exigir contas? 
Resposta: O titular do direito material, ou seja, aqueles que têm os seus bens administrados por terceiros são obrigados a prestar contas. Portanto, são obrigados a prestar contas aqueles que administram ou fazem a gestão de bens de terceiros. 
Exemplos de pessoas obrigadas a prestar contas: os síndicos de condomínio (devem prestar contas ao Conselho em Assembleia de condomínio), os curatelados, os advogados aos clientes, o administrador aos sócios de uma empresa, etc.
Segunda Fase
Se houver o dever de prestar contas, o juiz determinará o prazo para que o réu mostre as contas ao autor. O CPC 1973 estabelecia prazos de 5 dias, enquanto o Novo CPC determina 15 dias.
Terceira Fase
A terceira fase é a “execução”, também entendida como “cumprimento de sentença”, de eventual saldo credor. O saldo credor tanto pode ser do autor, quanto do réu.
Proposta a ação, é preciso verificar se há ou não a necessidade de prestar contas.
ATENÇÃO: Nem sempre existirão as 3 fazes no procedimento!!!
1ª Possibilidade: O procedimento pode ter apenas a 1ª fase se o juiz chegar à conclusão de que o réu não tem que prestar contas.
2ª Possibilidade: O procedimento pode ter apenas a 1ª e a 2ª fase se não houver saldo nem para o autor, nem para o réu.
Exemplo de ação de exigir contas: O advogado determina 25% de honorários no contrato com o cliente, mas cobra 20%. O advogado poderia mostrar as contas e ainda poderia cobrar o eventual saldo credor na mesma ação, em razão da natureza dúplice da ação de exigir contas.
A ação de Exigir Contas pode ser utilizada em algumas situações. A legislação apresenta alguns exemplos de aplicação:
Mandato (Art. 668 do CC); 
Art. 668. O mandatário é obrigado a dar contas de sua gerência ao mandante, transferindo-lhe as vantagens provenientes do mandato, por qualquer título que seja.
Exemplo: Advogado que atua como mandatário de seu cliente (por meio de procuração).
Tutela (Art. 1.755, 1.756 e 1.757 do CC); 
Art. 1.755. Os tutores, embora o contrário tivessem disposto os pais dos tutelados, são obrigados a prestar contas da sua administração.
Art. 1.756. No fim de cada ano de administração, os tutores submeterão ao juiz o balanço respectivo, que, depois de aprovado, se anexará aos autos do inventário.
Art. 1.757. Os tutores prestarão contas de dois em dois anos, e também quando, por qualquer motivo, deixarem o exercício da tutela ou toda vez que o juiz achar conveniente.
Parágrafo único. As contas serão prestadas em juízo, e julgadas depois da audiência dos interessados, recolhendo o tutor imediatamente a estabelecimento bancário oficial os saldos, ou adquirindo bens imóveis, ou títulos, obrigações ou letras, na forma do § 1o do art. 1.753.
Curatela (art. 1.781 do CC);
Art. 1.781. As regras a respeito do exercício da tutela aplicam-se ao da curatela, com a restrição do art. 1.772 e as desta Seção.
Testamenteiro no Inventário (1.980 e 2.020 do CC);
Art. 1.980. O testamenteiro é obrigado a cumprir as disposições testamentárias, no prazo marcado pelo testador, e a dar contas do que recebeu e despendeu, subsistindo sua responsabilidade enquanto durar a execução do testamento.
Art. 2.020. Os herdeiros em posse dos bens da herança, o cônjuge sobrevivente e o inventariante são obrigados a trazer ao acervo os frutos que perceberam, desde a abertura da sucessão; têm direito ao reembolso das despesas necessárias e úteis que fizeram, e respondem pelo dano a que, por dolo ou culpa, deram causa.
Cliente pode exigir contas do advogado (Art. 34, XXI, do Estatuto da OAB);
Art. 34. Constitui infração disciplinar:
(...)
XXI - recusar-se, injustificadamente, a prestar contas ao cliente de quantias recebidas dele ou de terceiros por conta dele;
(...)
É possível discutir se está prescrito o direito de ação de exigir contas!
A regra é seguir o que determina o direito material, então, a prestação de contas a ser requerida pelo cliente ao advogado prescreve em 5 anos.
Cliente exigir contas do banco (Súmula 259 do STJ);
A ação de prestação de contas pode ser proposta pelo titular de conta-corrente bancária.
Sócio;
Um sócio pode exigir a prestação de contas do sócio-administrador.
Condomínio, etc.
A prestação de contas, do ponto de vista prático, serve para apresentar os créditos e os débitos.
Prestação de Contas
Proposta a ação de exigir contas, a primeira coisa a fazer é discutir se há (ou não) o dever de prestar contas. Se não houver o dever de prestar contas, a ação segue um destino diferente daquele determinado no caso de existência do dever de prestar contas, conforme demonstra o esquema a seguir:
Esquema do Professor:
	NÃO
Ação		Prestação de Contas (art. 550, § 2º, CPC) → pelo réu → proc. comum
SIM	
		Contestação – “Decisão” (art. 550, § 5º, CPC)
 (procedente) – agravo de instrumento (art. 1.015, II, CPC)
 (improcedente) – sentença
	Revelia → Julgamento Antecipado (art. 355 do CPC) – não há mais provas a produzi, então, julga-se antecipadamente o mérito.
Art. 550 do CPC:
Art. 550.  Aquele que afirmar ser titular do direito de exigir contas requererá a citação do réu para que as preste ou ofereça contestação no prazo de 15 (quinze) dias. [No CPC/1973 o prazo era de 5 dias corridos, mas no Novo CPC são 15 dias úteis.]
§ 1o Na petição inicial, o autor especificará, detalhadamente, as razões pelas quais exige as contas, instruindo-a com documentos comprobatórios dessa necessidade, se existirem. [É interessante o autor ter um documento indicando que pediu as contas, como uma notificação, um e-mail, para que o juiz entenda que há interesse de agir da parte.]
§ 2o Prestadas as contas, o autor terá 15 (quinze) dias para se manifestar, prosseguindo-se o processo na forma do Capítulo X do Título I deste Livro.
§ 3o A impugnação das contas apresentadas pelo réu deverá ser fundamentada e específica, com referência expressa ao lançamento questionado.
§ 4o Se o réu não contestar o pedido, observar-se-á o disposto no art. 355.
§ 5o A decisão que julgar procedente o pedido condenará o réu a prestar as contas no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de não lhe ser lícito impugnar as que o autor apresentar.
§ 6o Se o réu apresentar as contas no prazo previsto no § 5o, seguir-se-á o procedimento do § 2o, caso contrário, o autor apresentá-las-á no prazo de 15 (quinze) dias, podendo o juiz determinar a realização de exame pericial, se necessário.
Hipóteses na Ação de Exigir Contas:
Art. 550, § 2º, CPC: O réu presta contas ao autor, sem questionar. Adota-se o procedimento comum em sequência. 
Outra novidade em relação ao CPC/73 é o disposto no Art. 550, § 3º, CPC. Este parágrafo não existia antes e estabelece a necessidade de, quando o autor impugnar as contas apresentadas pelo réu, fundamentar e especificar suas impugnações, ou seja, dizer qual débito não concorda e o porquê.
Art. 550, caput, CPC: O réu questiona (contesta) o dever de prestar contas ao autor.
Decisão que condenar o réu à prestação de contas (art. 550, § 5º, do CPC):
Então, se a decisão condenar o réu a prestar contas (decisão de procedência), haverá uma decisão interlocutória, pois mesmo que decida o mérito de prestar contas, o procedimento irá para a 2ª fase (fase de prestação de contas), sendo recorrível por meio de agravo de instrumento (art. 1.015, II, do CPC). 
Se o réu for condenado a prestar contas (ou seja, o pedido do autor é julgado procedente), ele será chamado a prestar as contas em 15 dias. Se o réu não prestar as contas em 15 dias, o autor poderá fazê-lo. Isso não significa que o autor pode fazer o que bem entende (muitas vezes é difícil para o autor prestarcontas).
Se o réu apresentar as contas no prazo de 15 dias, segue o processo observando o procedimento comum (art. 550, § 6º, do CPC). Caso o réu não apresente as contas, o autor poderá fazê-lo ou o juiz determinará a realização de perícia.
Decisão julgando improcedente o pedido de prestação de contas
Se o pedido do autor for julgado improcedente (decisão de improcedência), não haverá uma segunda fase de prestação de contas. Neste caso, não haverá uma decisão interlocutória, mas uma sentença, recorrível por apelação (art. 1.009, caput, CPC).
Art. 550, § 4º, CPC: O réu não contesta os fatos alegados pelo autor (revelia).
A consequência material da revelia é a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autos, enquanto a consequência processual é o julgamento antecipado do mérito (art. 355 do CPC).
O processo só segue se houver necessidade de dilação probatória, mas, se o réu não contesta, como há presunção de veracidade dos fatos, o juiz julga antecipadamente o mérito.
Art. 355 do CPC:
Art. 355.  O juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença com resolução de mérito, quando:
I - não houver necessidade de produção de outras provas;
II - o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não houver requerimento de prova, na forma do art. 349.
Art. 551 do CPC:
Art. 551. As contas do réu serão apresentadas na forma adequada, especificando-se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver.
§ 1o Havendo impugnação específica e fundamentada pelo autor, o juiz estabelecerá prazo razoável para que o réu apresente os documentos justificativos dos lançamentos individualmente impugnados. [A impugnação é bem específica.]
§ 2o As contas do autor, para os fins do art. 550, § 5o, serão apresentadas na forma adequada, já instruídas com os documentos justificativos, especificando-se as receitas, a aplicação das despesas e os investimentos, se houver, bem como o respectivo saldo.
Art. 552 do CPC:
Art. 552.  A sentença apurará o saldo e constituirá título executivo judicial.
Este é importante, pois é ele quem determina o caráter dúplice da ação de exigir contas. Por meio deste artigo percebe-se não haver necessidade de apresentar reconvenção para apurar o saldo e executá-lo. Trata-se de ação de natureza dúplice pura.
A natureza dúplice da ação pode se dar de duas formas:
De forma pura: não é necessário fazer pedido para ser beneficiado. A sentença regula a situação das partes.
Então, no caso concreto, o saldo credor poderá ser cobrado por aquele que tiver crédito. O autor poderá cobrar mesmo que não tenha feito um pedido condenatório; e o réu poderá cobrar mesmo sem ter feito qualquer tipo de pedido reconvencional.
Forma “não tão pura”: é a possibilidade de se fazer pedido contraposto. 
Exemplo: pedido contraposto nos Juizados Especiais. 
A contestação, por definição, apresenta apenas a defesa, o réu não faz pedido. Em tese, o réu deve fazer pedido na reconvenção. Por isso diz-se que é uma forma “não tão pura” de ação de natureza dúplice: o pedido contraposto vai dentro da contestação.
Art. 553 do CPC:
Art. 553.  As contas do inventariante, do tutor, do curador, do depositário e de qualquer outro administrador serão prestadas em apenso aos autos do processo em que tiver sido nomeado.
Parágrafo único.  Se qualquer dos referidos no caput for condenado a pagar o saldo e não o fizer no prazo legal, o juiz poderá destituí-lo, sequestrar os bens sob sua guarda [sequestrar os bens é uma medida cautelar utilizada para bens móveis e imóveis determinados], glosar o prêmio ou a gratificação a que teria direito e determinar as medidas executivas necessárias à recomposição do prejuízo.
Este artigo é para regular contas especiais. O artigo trata de atitudes que o juiz pode ter em determinadas situações se não for feita a prestação de contas.
O sequestro dos bens, dentre as possibilidades elencadas no art. 553, caput, do CPC, é mais comumente utilizado no inventário.
Exemplo: Suponha-se que a madrasta de João seja inventariante dos bens do pai dele, mas ela e João não se dão bem. A madrasta começa a dilapidar o patrimônio deixado pelo falecido. João ajuíza uma ação de exigir contas, fica constatado um saldo (que a madrasta não paga), então, o juiz manda sequestrar os bens sob a administração dela.
O sequestro dos bens tem função cautelar, ou seja, visa resguardar os bens em eventual inventário.
2ª Parte da Aula
Ação Monitória 
Natureza Jurídica
Pergunta: Que tipo de ação é uma ação monitória?
Resposta: É uma ação de conhecimento. Não é ação cautelar porque não depende de um pedido principal; não é execução porque esta pressupõe a existência de um título executivo (extrajudicial ou judicial). 
O mandado monitório se transforma em título executivo judicial sem a necessidade de uma sentença. Isso não é a regra nas ações de conhecimento.
Há uma discussão doutrinária sobre a natureza jurídica da ação monitória. Para alguns, como Francesco Carnelutti e Cândido Dinamarco, a ação monitória seria um outro gênero: nem conhecimento, nem execução e nem cautelar, mas um meio-termo entre conhecimento e execução; seria uma quarta função.
O professor João Marcelo é adepto de outra corrente, entendendo ser a ação monitória um processo de conhecimento de procedimento especial. O fato de não ser declarado em uma sentença o crédito contido no título judicial não retira o caráter de processo de conhecimento desta ação. 
Se a ação monitória fosse uma “4ª função” (diferente do conhecimento, da execução e da cautelar), ela deveria estar prevista em Livro próprio. Caso a ação monitória fosse outro tipo de processo, seria questionável a natureza dos embargos monitórios, pois poderiam ser ação autônoma (como ocorre na ação de execução de título executivo extrajudicial) ou um tipo de contestação.
Pergunta: Qual é a natureza jurídica dos embargos?
Resposta: É uma ação autônoma de conhecimento, com natureza constitutiva, ou melhor, desconstitutiva, pois a finalidade dos embargos é desconstituir o título executivo.
Se fosse adotada esta teoria de que a ação monitória é um 4º gêneros, os embargos seriam uma ação autônoma e não teriam natureza jurídica de contestação. Neste caso, a Fazenda Pública não teria prazo em dobro para apresentar embargos. A Fazenda Pública só teria prazo em dobro se os embargos tiverem natureza jurídica de contestação.
Com o Novo CPC não há mais discussão acerca da natureza dos embargos, pois é admitida a reconvenção. Então, ao admitir a reconvenção, significa que a natureza jurídica dos embargos é de contestação. 
Se a natureza jurídica dos embargos é de contestação, significa que a ação monitória pertence ao processo de conhecimento.
Portanto, atualmente, prevalece a tese de que a ação monitória é um processo de conhecimento, mas com um procedimento especial. 
A ação monitória busca diminuir o caminho do procedimento ordinário para que o credor satisfaça a obrigação a que tenha direito.
Deve-se observar ainda que, se os embargos monitórios forem apresentados, a ação monitória pouco se diferencia do procedimento comum. A ação monitória fica praticamente igual ao procedimento comum neste caso. Só se diferencia nas sanções que o procedimento prevê (como as multas ao final).
A ideia da ação monitória é transformar rapidamente uma obrigação em título executivo judicial.
Existem dois tipos de ação monitória: 
Ação Monitória Pura: bastaria o credor dizer que tem o crédito;
Ação Monitória Documental: que é baseada em provas documentadas (este é o tipo adotado no Brasil).
Hoje o procedimento permite que uma prova oral embase uma ação monitória. 
Portanto, a ação monitória é um processo de conhecimento, embora não haja uma sentença de conhecimento. Só haverá sentença se forem apresentados embargos monitórios. Caso o credor cumpra o mandado ou não apresente embargos monitórios, haverá a transformação imediata do título para título executivo judicial, sem necessidade de qualquer outra decisão. Não há necessidade de o juiz sentenciara monitória não embargada para que haja a transformação em título executivo judicial.
Alterações no Procedimento da Ação Monitória
A ação monitória é procedimento oriundo da Itália, o qual sofreu algumas alterações em relação ao anteriormente adotado no início da década de 90.
1ª Alteração: Prova Documentada
Art. 700 do CPC:
Art. 700.  A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em prova escrita [leia-se “prova documentada”] sem eficácia de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz:
I - o pagamento de quantia em dinheiro;
II - a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel;
III - o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer.
§ 1o A prova escrita pode consistir em prova oral documentada, produzida antecipadamente nos termos do art. 381. [A prova oral é reduzida a termo. Poderiam ser levadas, por exemplo, testemunhas ao cartório para que o seu testemunho constasse em ata notarial, a qual nada mais é que a redução a termo da prova oral.]
§ 2o Na petição inicial, incumbe ao autor explicitar, conforme o caso:
I - a importância devida, instruindo-a com memória de cálculo;
II - o valor atual da coisa reclamada;
III - o conteúdo patrimonial em discussão ou o proveito econômico perseguido.
§ 3o O valor da causa deverá corresponder à importância prevista no § 2o, incisos I a III.
§ 4o Além das hipóteses do art. 330, a petição inicial será indeferida quando não atendido o disposto no § 2o deste artigo.
§ 5o Havendo dúvida quanto à idoneidade de prova documental apresentada pelo autor, o juiz intimá-lo-á para, querendo, emendar a petição inicial, adaptando-a ao procedimento comum.
§ 6o É admissível ação monitória em face da Fazenda Pública.
§ 7o Na ação monitória, admite-se citação por qualquer dos meios permitidos para o procedimento comum.
Prova Documental X Prova Documentada
A prova documental é quando o documento representa o fato (ex: um contrato). A prova documentada é quando se reduz a termo a prova (ex: a prova testemunhal digitada), embora não seja um documento que represente o fato. 
Professor NÃO VAI COBRAR NA PROVA essa diferença entre prova documental e prova documentada.
Em relação à prova oral, houve uma grande modificação quanto ao que previa o CPC/73:
Art. 401 do CPC/73:
Art. 401. A prova exclusivamente testemunhal só se admite nos contratos cujo valor não exceda o décuplo do maior salário mínimo vigente no país, ao tempo em que foram celebrados.
Então, se este artigo estivesse em vigência hoje (2016), a prova documental só poderia embasar ação monitória de até R$ 8.800,00. 
Cabe observar também a redação atual do art. 227 do Código Civil e sua redação anterior (antes da vigência do CPC/2015):
Art. 227 do CC (depois do CPC/2015):
Art. 227.           (Revogado pela Lei n º 13.105, de 2015)       (Vigência)
Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito.
Art. 227 do CC (antes do CPC/2015):
Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram celebrados.
Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito.
Hoje a prova documental não está mais limitada aos 10 salários mínimos.
2ª Alteração: Ampliação do Cabimento da Monitória 
Durante a vigência do CPC/73, a ação monitória era cabível para as obrigações de pagar quantia em dinheiro, entrega de coisa fungível ou de determinado bem móvel (art. 1.102-a CPC/73). Portanto, não era possível utilizar a monitória para obrigações de fazer, de entregar coisa infungível ou para entrega de bens imóveis também não cabia. 
Com o CPC/2015, a monitória pode ser utilizada para QUALQUER TIPO DE OBRIGAÇÃO, mas o CPC fez questão de especificar no art. 700, incisos I a III:
Pagamento de quantia em dinheiro;
Entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel;
Adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer.
No caso dos imóveis é difícil pensar em uma utilização prática, pois não faria sentido utilizá-la quando, por exemplo, o locador quer retomar o imóvel do locatário, uma vez que há a ação de despejo (ação bem específica para este caso). 
3ª Alteração: Título Executivo
O título que instrui a monitória não pode ter eficácia de título executivo.
Exemplo: João tem um cheque em mãos para instruir sua demanda. Em vez de utilizar o título para instruir uma ação monitória, por ter um título executivo extrajudicial, João poderia ajuizar uma ação de execução. Não tem lógica utilizar a monitória neste caso.
Neste caso de títulos executivos extrajudiciais, uma possível justificativa para a utilização da ação monitória em detrimento da execução seria o maior número de matérias discutíveis nos embargos do título executivo extrajudicial com relação àquelas estabelecidas para impugnação do título executivo judicial. Contudo, a matéria de impugnação dos embargos monitórios é tão ampla quanto a dos embargos de título executivo extrajudicial.
Títulos Executivos Extrajudiciais
São exemplos de títulos executivos extrajudiciais:
Títulos de crédito prescritos;
Cheque prescrito (prescreve em 3 anos);
É possível fazer ação monitória de cheque prescrito, conforme as súmulas do STJ:
Súmula 299 do STJ
“É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito.”
O Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP) defendia que, em até 6 meses, o cheque mantinha a sua autonomia e abstração da causa que lhe deu origem. Passados os 6 meses, a Lei do Cheque determinava que não se discutia o cheque em até 2 anos, pois havia previsão de uma ação cambiária que vedava o enriquecimento sem causa (art. 61 da Lei 7.357/85). O IBDP também considerou que o cheque prescrevia em 5 anos, portanto, durante este período de 2 (fim do prazo em que seria possível ajuizar a ação cambiária) a 5 anos (prescrição do cheque) era o momento para se discutir a causa que deu origem ao cheque na ação monitória.
Contudo, a Súmula 531 do STJ acabou com a discussão, determinando a abstração da causa que deu origem ao cheque para a propositura da ação monitória. A discussão agora está pacificada.
Súmula 503 do STJ
“O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de cheque sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão estampada na cártula.”
Súmula 531 do STJ:
“Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.”
Nota Promissória prescrita;
Súmula 504 do STJ
“O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título.”
Pergunta: Contrato Bancário de abertura de crédito é título executivo extrajudicial?
Resposta: Não é título porque não têm liquidez. Os extratos são unilaterais produzidos pelo próprio credor, razão pela qual não se pode dar a liquidez exigida pelo título executivo. Não é possível retirar o valor somente dos contratos, os quais são feitos unilateralmente pelo suposto credor, é preciso de outros elementos. 
Súmula 233 do STJ
“O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da conta-corrente, não é título executivo.”
Apesar de não serem considerados títulos executivos extrajudiciais, os contratos bancários podem ser utilizados para embasar a ação monitória.
Súmula 247 do STJ
“O contrato de abertura de crédito em conta-corrente, acompanhado do demonstrativo de débito, constitui documento hábil para o ajuizamento da ação monitória.”
Pergunta: É possível juntar um contrato de cartão de crédito só com os extratos como embasamento de uma ação monitória?
Resposta: Há uma discussão quanto a isso. A princípio, seria possível, mas não somentejuntando os extratos, sendo necessário mais um elemento: o documento indicando que a pessoa adquiriu o cartão de crédito. 
Particularmente, o professor João Marcelo entende que somente juntando os extratos e o contrato de cartão de crédito não seriam suficientes para embasar uma monitória. Para ele, seria necessário juntar também o comprovante do negócio.
Pergunta: Somente apresentando um contrato bilateral seria possível para embasar uma ação monitória?
Resposta: Não, além de apresentar o contrato seria necessário demonstrar que houve o pagamento. Só o contrato não seria possível.
Exemplo: João contratou com um marceneiro para fazer os móveis de sua casa. O marceneiro cobrou-lhe R$ 30.000,00 adiantados. O marceneiro não faz a entrega dos móveis. João poderia utilizar uma ação monitória para fazer com que o marceneiro cumpra a sua obrigação, desde que apresente os comprovantes de pagamento ao marceneiro. João também poderia utilizar os e-mails trocados entre ele e o marceneiro para comprovar o pagamento.
Exemplo: João contratou com um marceneiro para fazer os móveis de sua casa, sendo que o serviço sairia por R$ 30.000,00. O marceneiro fez a entrega dos móveis, mas João não lhe paga o valor devido. O marceneiro pode utilizar o contrato para instruir uma monitória contra João, desde que também demonstre que fez os móveis. 
Requisitos da Ação Monitória
A técnica monitória é baseada em prova documentada (prova escrita) sem eficácia de título executivo extrajudicial.

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