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Liberdade Religiosa - Guarda Sabática na Constituição de 1988

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UNIÃO DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR – UNIESP - Unidade de Nova Andradina – MS
CARLOS ALBERTO GARCEZ COSTA
A GUARDA SABÁTICA E A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DA LIBERDADE RELIGIOSA.
NOVA ANDRADINA-MS
2015
CARLOS ALBERTO GARCEZ COSTA
	
A GUARDA SABÁTICA E A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DA LIBERDADE RELIGIOSA.
Monografia apresentada nas Faculdades Integradas de Nova Andradina no 10º Semestre, do Curso de Direito da Faculdade de Nova Andradina- União das Instituições de Ensino Superior – UNIESP.
Como requisito final para obtenção do título de bacharel em Direito.
Professor Esp. Orientador: Rilton Alexandre Araújo
NOVA ANDRADINA – MS
2015
CARLOS ALBERTO GARCEZ COSTA
A GUARDA SABÁTICA E A PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL DA LIBERDADE RELIGIOSA.
Monografia apresentada nas Faculdades Integradas de Nova Andradina no 10º Semestre, do Curso de Direito da Faculdade de Nova Andradina- União das Instituições de Ensino Superior – UNIESP.
Como requisito final para obtenção do título de bacharel em Direito.
COMISSÃO EXAMINADORA
Professor E	sp. Orientador: Rilton Alexandre Araújo
Professor:
Professor:
 
NOVA ANDRADINA____DE______________,2015
Dedico este trabalho primeiramente à Deus, ao qual me concede vida, sabedoria e a oportunidade de elaborar o presente estudo.
A minha amada esposa Jennifer ao qual sempre me apoiou, sempre paciente e carinhosa, agradeço pela compreensão nas horas de estudo e ausência.
A minha Vó Carmem, minha mãe Audenir e irmãos que através do incentivo e exemplo me ajudaram não apenas na construção do trabalho, mas na formação de meu caráter.
A meus colegas de trabalho da Iagro e também amigos, Thiago, Claudia e Mirandina que me deram suporte para que tudo isto acontecesse, minha gratidão e consideração a vocês.
E por fim a meus companheiros de jornada, a toda a turma que levarei para sempre comigo, muito obrigado a todos!
AGRADECIMENTOS
Não posso deixar de agradecer a meu Senhor e Mestre Jesus Cristo quando tenho a oportunidade, foi para ele, por ele e através dele ao qual pude terminar o presente trabalho.
Minha esposa dedicada que tem participação especial na minha vida acadêmica, minha sogra Luiza e sogro Neco ao qual na distância de minha família eles foram imprescindíveis para a minha formação acadêmica, meus cunhados que com a amizade me impulsionaram nesta jornada.
A minha Mãe e Vó que com exemplo me ensinou que barreiras e dificuldades não são relevantes quando investidos força, fé e amor pelo que se faz, a meus irmãos, saudades e obrigado pela existência e companheirismo.
Agradeço de coração ao Coordenador Stênio que embora sempre atarefado, nunca deixou de nos atender, seu apoio com certeza foi essencial para toda a classe de alguma forma distinta.
Não me esqueço de meu Orientador Rilton que com sua forma crítica nos levou a questionamentos essenciais para nossa formação, a sua participação foi determinante para a conclusão deste estudo, enfim aos demais professores que em suas respectivas áreas do direito e do saber fizeram muito bem o seu papel, levando a cabo a difícil e também uma das melhores e mais importantes profissões que é a de levar o conhecimento, a todos muita estima e consideração.
Por fim a Instituição, diretor e funcionários que deram suporte para tudo isto, a eles muito obrigado!
“Mas o homem que observa atentamente a lei perfeita, que traz a liberdade, e persevera na prática dessa lei, não esquecendo o que ouviu, mas praticando-o, será feliz naquilo que fizer. ”
Tiago 1:25
COSTA, Carlos Alberto Garcez, LIBERDADE RELIGIOSA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1.988: Implicações jurídicas da Guarda Sabática. Nova Andradina – MS, 2015, Monografia (graduação em Direito). União das Instituições de Ensino Superior Privadas – UNIESP. 
RESUMO
Busca primeiramente analisar a relação entre Estado e Religião e demonstrar que a real necessidade é a separação entre Estado e Igreja para melhor atentarmos ao ideal de Liberdade Religiosa, e através de um breve histórico mostrar que embora hoje tenhamos em inúmeros casos a plena liberdade, não foi sempre assim, demonstraremos que a religião e sua relação com os entes do Estado sofreram mudanças e estas necessárias para o ideal aqui a ser conquistado. Temos hoje um Estado garantidor da Liberdade Religiosa que impõe limites e negativas a atos que atentem contra a liberdade do cidadão diante da escolha de sua religião, o exercício de seu culto e até mesmo a formação e organização de religiões hoje é protegido pelo Estado de maneira concisa através dos Direitos Fundamentais, reflexos estes de mudanças sociais, tratados e etc. Fundamentaremos a doutrina da guarda sabática por acharmos necessário um relevante motivo de imposição e objeção de atos ou omissões dos adeptos a prática tentará demonstrar que existem motivos válidos hoje para a sustentação doutrinária sabatista e aplicada ao direito. Entendemos que a Escusa de Consciência é a garantia necessária para a plenitude do exercício da liberdade religiosa. Obvio seria a implicação jurídica da guarda sabática uma vez que, diante das relações de trabalho, mercado e outras, esta pratica pode ser considerada excêntrica ou excepcional e em certas ocasiões desrespeitado, e trouxemos um deste caso em que diante da relação empregatícia a objeção de trabalhar aos sábados conforme doutrina religiosa restou vitoriosa diante dos argumentos que tentaram invalidar a mesma, usando de meios constitucionais e aceitos em jurisprudência como a devida forma de solução de conflito e respeitando a liberdade não só a religiosa mas as tantas preconizadas em direito pátrio, concluindo assim que é sim, a liberdade religiosa, um direito concreto que merece e tem até o momento o devido amparo.
Palavras-chave: Liberdade Religiosa. Guarda Sabática. Objeção de Consciência. 
COSTA, Carlos Alberto Garcez, RELIGIOUS FREEDOM IN THE CONSTITUTION OF FEDERAL 1988: Legal Implications of Sabbatical Guard. New Andradina - MS, 2015 Monograph (law degree). Union of Private Higher Education Institutions - UNIESP.
ABSTRACT
Seek first to analyze the relationship between state and religion and to demonstrate that the real need is the separation of church and state to better heed to the ideal of religious liberty, and through a brief history show that although today have in many cases full freedom, not has always been so, we demonstrate that religion and its relationship with state entities and these changes necessary for optimal here to be conquered. Today we have a guarantor State of Religious Freedom which sets limits and negative to acts that violate the freedom of citizens faced with the choice of their religion, the exercise of their religion and even the formation and organization of religions today is protected by the state in order Concise through the Fundamental Rights, these reflections of social changes, treaties and etc. We will base the doctrine of sabbatical guard also because we need a relevant imposition of reason and objection of acts or omissions of fans practice try to demonstrate that there are valid reasons today for doctrinal sabbatarian support and applied the law. We understand that the consciousness of Exclusion is the guarantee required for the full exercise of religious freedom. Of course it would be the legal implication of sabbatical guard since, in the face of labor relations, market and other, this practice can be considered eccentric or outstanding and in certain disrespected occasions, and brought one of this event that before the employment relationship the objection work on Saturdays as religious doctrine remained victorious in the face of arguments that sought to invalidate the same, using constitutionalmeans and accepted in case law as the proper form of conflict resolution and respecting the freedom not only religious but many advocated for parental rights, concluding so is yes, religious freedom, a concrete right that deserves and has so far due protection.
Keys Words: Guard Sabbatical. Religious Freedom. Objeção consciousness. 
INTRODUÇÃO
Justifica-se o presente trabalho diante de inúmeros casos que continuam crescentes na sociedade atual de intolerância religiosa, que nos faz pensar sobre os direitos relacionados ao tema, não nos deslumbrando a discutir prerrogativas distantes de nosso contexto, ficando atado a Liberdade Religiosa dentro de um Estado Democrático de Direito.
Não se torna tão absurdo a discussão deste tema quando ao atentarmos a história do homem e vermos que foi necessário derramar-se sangue para que um dia possamos ter esta liberdade de discutirmos a respeito de Religião, tema que por muitos não religiosos seja insignificante, para outros trata-se de um direito em que o uso é constante e frequente.
Importante menção foi feita sobre o relacionamento do Estado com a religião, abordamos sobre a Laicidade do Estado em que ficou claro a necessidade da separação do Estado com a Igreja e qualquer religião para que somente assim a Liberdade Religiosa seja plena a todos, porém nem sempre foi assim, a história de nosso pais é marcado pela confissão do Estado diante de uma religião e com o avanço social conquistamos a completa separação Igreja/Estado.
Vimos que a Liberdade Religiosa não é omissa na legislação pátria e nem no direito alienígena, digo isto quando temos está prerrogativa considerada pela Constituição Federal de 1.988 como algo fundamental, um direito/princípio que se expande em três esferas: A liberdade de crença, de culto e organização religiosa.
Porém a liberdade religiosa é algo amplo e isto é fato diante da numerosa quantidade de denominações, igrejas e religiões no Brasil hoje, vemos que são inúmeras as hipóteses de exercício da liberdade religiosa e muitas delas de enorme controversa e polemica tanto para o direito quanto para a sociedade, por conta disto foi escolhido um tema que pela peculiaridade e singularidade hoje nos possibilita uma melhor discussão e um contraste entre a liberdade religiosa devidamente aplicada, no caso a Guarda Sabática.
Fundamenta-se a Guarda Sabática pelo simples fato de que o fantástico e o fantasioso não deva mudar o estado de coisas e de pessoas, tentamos demonstrar que existe fundamento suficiente para entendermos que seria sim valida hoje dentro do contexto do nosso país que é notadamente religioso a ideia de um dia de descanso e adoração, como exemplo usaremos o Judaísmo, Cristianismo e Islamismo, religiões de amplitude mundial e quase completa do globo que adotam a doutrina do dia de descanso embora discordante do dia em si.
Depois de fundamentado conseguimos enxergar o fundamento da guarda sabática e aplicada na pratica e vemos que o uso da objeção de consciência por motivo religioso se faz relevante para o exercício da liberdade de culto que é empregada nas horas tidas sagradas e estudaremos sua aplicação e também seus limites.
E por necessário a junção da teoria apresentada a um caso prático e com brilhante decisão por sinal pelo Tribunal Superior do Trabalho ao qual entendeu que a Liberdade Religiosa é sim fundamental ao ser humano e que inegável e o direito em atual legislação, desta feita prevaleceu a Liberdade Religiosa e foi conferido o resguardo a Guarda Sabática ao caso concreto.
2 O ESTADO LAICO
A pergunta que nos cabe é a seguinte: Um Estado que não tenha oficializado alguma religião ele é ateu? Existe a possibilidade de um Estado negar a existência de um Deus ou até oficializar um Deus especifico ao qual o Estado tenha compromisso?
Temos dentro da história muitos exemplos aos quais possamos ilustrar de variados moldes de Estado em relação a religião, temos o Estado Ateu que o Estado que declara a não existência de Deus e a proibição de qualquer tipo de profissão de fé, cultos ou adoção de crenças, não ficando na neutralidade, mas sim declarando a inexistência de qualquer divindade e consequentemente suprimindo a liberdade religiosa de seu povo.
Por outro lado, temos o outro extremo do Estado Ateu que seria o Estado Teocrático que é a fusão de uma religião com o Estado tendo a predominância da religião sobre os assuntos Políticos, ou seja, em alguns casos como no Irã o Islamismo é imposto a todos, embaraçando o exercício da liberdade religiosa a seus membros, outro exemplo é o caso do Vaticano. Outra classificação é o Estado Confessional que mesmo tendo aderido uma religião como dogma oficial, não deixa de respeitar o livre arbítrio de sua população em respeito a possíveis escolhas de outras crenças religiosas, neste caso religião não predomina e nem se mistura com a política.
Além destes moldes, temos o que cabe ao nosso contexto o Estado Laico, a Laicidade do Estado de forma simples nada mais é do que a separação da Religião e do Estado, tendo este uma completa neutralidade em assuntos que envolvam religião e total imparcialidade em temas religiosos, nunca podendo seus atos estar investidos ou fundamentados com posição religiosa ou discriminação de outras.
Comparando com momentos da história da humanidade ou até mesmo situações contemporâneas do mundo atual, vemos que Estado Laico é o entendimento de que o Poder Político não é sagrado, ou seja, a ideia de Religião Estado não advém de origem divina, que política e religião são esferas diferentes e distintas uma da outra, diferente do entendimento que se tinha no passado.
Até certo momento o Estado era apenas um braço da Religião, lembrando que o Estado Laico também não seria o inverso, ou seja, a Religião como um braço do Estado, isto não é Laicidade, as ideologias religiosas devem ser ouvidas e atendidas na medida em que são aceitas pela maioria, mas lembrando de que tenham tanto valor quanto a ideologia de um ateu, agnóstico ou diverso posicionamento no tema, tendo-se assim uma Democracia, neste sentido temos o posicionamento de Noberto Bobbio:[1: BOBBIO, Norbert, e outros. Dicionário de Política., 2.ed Brasília, Editora Universidade de Brasília., 1986, p. 680.]
A teoria do Estado leigo fundamenta-se numa concepção secular e não sagrada do poder político, encarado como atividade autônoma no que diz respeito às confissões religiosas. Estas confissões, todavia, colocadas no mesmo plano e com igual liberdade, podem exercer influência política, na proporção direta de seu peso social. O Estado leigo, quando corretamente percebido, não professa, pois, uma ideologia “laicista”, se com isto entendemos uma ideologia irreligiosa ou antirreligiosa.
Também ressaltado é que o Estado Laico não dita a não religiosidade, não põe obstáculos para o exercício, tanto é que a Religião não paga imposto em nosso País, embora existam críticas a respeito disto, um dos motivos é que o Estado de certa forma usando do poder de tributar poderia impedir ou embaraçar a religiosidade de minorias com voz menos ativa na Democracia ou até mesmo em casos de minorias que não possam arcar tributariamente sejam impedidos de expressar sua crença.
O Estado Laico é diferente do Estado Ateu que gera tantos conflitos quanto o Estado Confessional, pois no momento que professa a não aceitação de crenças religiosas entrará em conflito com quem tenha uma crença, não sendo o prudente para o nosso contexto da mesma maneira que não seria o oposto.
Embora a nossa realidade seja o expressamente laico, às vezes o Estado não consegue dissipar de sua cultura ou tradição e isto acaba gerando uma certa influência religiosa nos assuntos Estatais. Apenas como tomada de exemplo seria a menção do nome de Deus na Constituição da República e o uso de crucifixos em repartições públicas e, no caso dos Estados Unidos da América que embora também seja Laico, tenha como costume nas posses de seus Presidenteso juramento com a mão sob a Bíblia, atos estes que embora pareçam religiosos não viola a laicidade do Estado, pois se trata de símbolos culturais, não estando previsto em seu ordenamento e não influenciando o mesmo, sendo meras tradições que nada prejudicam a neutralidade do funcionamento do Poder Estatal.
Quando aplicamos ao nosso Estado o termo “Laico” nem sempre fica claro o real sentido, a uma enorme diferença entre a afirmação do Brasil como Laico e entender de fato todos os contornos dessa laicidade.
Um dos motivos que dificultam o entendimento destes contornos é o fato de que os assuntos que envolvam religião serem dotados de sentimentos e emoções fazendo que não fique claro para o senso comum que não existe e dificilmente haverá um modelo único e universal de laicidade e de separação Igreja/Estado.
De cara observamos que a laicidade comporta gradações o que irá defini-las em muitos casos são os preceitos constitucionais de cada ordenamento, pois algo que devemos atentar é a diferenciação entre duas palavras chaves: Interferência e Influência, diferenciam-se não apenas no significado, mas também nos resultados.
As políticas públicas não podem sofrer interferências ou serem ditadas pela religião ou idealizadas de modo que satisfaça determinada religião ou grupo religioso porque o objetivo das políticas públicas é a satisfação geral das sociedade formada por todos os grupos e ideologias, mas nada impede que tais grupos religiosos pressionem ou postulem por adoções de uma ou outra medida da política pública, não devendo medida adotada ter como critério a determinação de pensamento religioso, o Estado em certas decisões pode ser influenciado mas jamais sofrer interferência.
2.1 Evolução Histórica da Laicidade nas Constituições Brasileiras
Temos hoje um Estado Laico onde vigora a democracia, mas nem sempre foi assim, analisando a situação de nossa Nação durante todo o período de sua formação podemos ver como este instituto passou por necessárias mudanças para a devida efetividade do que hoje entendemos como fundamental.
2.2 Constituição Imperial de 1824
No ano de 1824 na Chamada Constituição Imperial lemos já no início a Carta Maior sendo outorgada em nome da “Santíssima Trindade” e notamos claramente a confissão do Estado naquele tempo a fé na Igreja Católica Romana, não sendo estranho ao lembrarmos que o Império Lusitano é notadamente confesso por Roma e sua fé, existindo uma leve liberdade de religião não sendo vedada outra escolha, porém ficando restrito apenas ao culto doméstico da mesma escolhida, restringindo expressamente em lei a exteriorização dos cultos, conforme vemos no antigo artigo 5º da primeira Constituição: 
“ A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Imperio. Todas as outras Religiões serão permitidas com seu culto domestico, ou particular em casas para isso destinadas, sem fórma alguma exterior do Templo.” [2: BRASIL, Constituição Imperial 1.824. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao24.htm]
Havia inúmeros artigos que vedavam a liberdade religiosa que conhecemos hoje, sendo vedado que alguém que professasse a fé diferente do oficial do Estado ficaria impedido de até mesmo de alguns direitos hoje considerados básicos como o voto e de se candidatar a alguns cargos públicos, embora o art. 179 dizer que ninguém deveria ser perseguido por motivo de religião, devendo respeitar a do Estado e a Moral Pública não era o bastante para assegurar que a consciência de muitos fosse coagida e restringida.
Nesta Constituição também estava previsto a estrutura organizacional da Igreja Católica e está situação se prolongou até a proclamação da República e a edição do Decreto 119-A, que ainda vigora tendo Rui Barbosa como autor, rompendo uma vez por todas a união do nosso Estado com a Igreja.
2.3 Constituição da República de 1891
Após a saída do Império com o advento da Proclamação da República em 1889 temos a figura de Ruy Barbosa que traz à tona a Constituição Republicana de 1891 juntamente com o Decreto 119-A que faz separação entre Estado Brasileiro e Igreja Católica Romana vedando qualquer instancia da administração a promulgar leis ou fazer diferenciação de brasileiros por conta de crença religiosa e em seus primeiros artigos já garantia a liberdade de culto.
Esta foi a 1ª Constituição Republicana e a única que de fato fez uma drástica separação entre Estado e Igreja, todas as seguintes de alguma forma retomaram a antiga união com a religião.
A Constituição de 1891 delimitou as linhas que separariam o Estado da Igreja e que culminaria em uma evolução de direitos e garantias em vários aspectos. Também devemos fazer menção de que esta foi a única Constituição Republicana Democrática que não mencionou Deus em seu preâmbulo.
O art. 11 desta Carta Magna estabelecia expressamente a vedação do Estado em embaraçar o exercício religioso, mas além deste artigo trazia em sua estrutura um conjunto de declaração de direitos aos cidadãos, exemplo é o art. 72, § 7º que dizia: “Nenhum culto ou igreja gosará de subvenção official, nem terá relações de dependencia ou alliança com o Governo da União, ou o dos Estados. A representação diplomatica do Brasil junto á Santa Sé não implica violação deste princípio. ”[3: BRASIL, Constituição Republicana. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao91.htm]
Confirmando o Estado como laico e ainda garantindo liberdade às outras religiões quaisquer que fossem inovando novamente comparado com Constituição anterior, conforme art. 72, § 3º: “ Todos os indivíduos e confissões religiosas podem exercer pública e livremente o seu culto, associando-se para esse fim e adquirindo bens, observadas as disposições do direito comum. “[4: Ibidem. ]
A Carta foi além e em alguns artigos proibiu a participação de religiosos na política e outros aspectos antes geridos pela Igreja Católica foram retirados de seu poder, ocorrendo a secularização de cemitérios e o reconhecimento apenas do casamento civil, em nenhuma outra Constituição houve tais diretrizes.
2.4 Constituição Federal de 1934
A partir deste momento da história de nosso País, foi se consolidando a Laicidade em nosso território seguindo pela Constituição de 1934 que não inovou no tocante a laicidade, porém voltou a reconhecer a presença de crença e religião à esfera pública, começando com a menção de Deus ao preâmbulo.
A Igreja e Estado mantidos separados acrescentou-se a ideia da cooperação reciproca dos mesmos, conforme o artigo 17 do antigo instituto: [5: BRASIL, Constituição Federal de 1.934. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao34.htm]
Art. 17 - É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: 
I - criar distinções entre brasileiros natos ou preferências em favor de uns contra outros Estados;
II - estabelecer, subvencionar ou embaraçar o exercício de cultos religiosos; 
III - ter relação de aliança ou dependência com qualquer culto, ou igreja sem prejuízo da colaboração recíproca em prol do interesse coletivo;
A liberdade de crença e consciência assim como era abordado naquela CF ficava condicionada aos bons costumes e à ordem pública. Vários aspectos foram inovados, foi previsto a possibilidade de personalidade jurídica nos termos da lei civil às instituições religiosas (art. 113, § 5º), previu o direito à igualdade de todos perante a lei independente de crença (art. 113, § 1º), renovou o artigo previsto na Constituição anterior afirmando que ninguém será privado de direitos por motivos religiosos (art. 113, § 4º), porém ressalvado as prestações de serviços imposta quando obtidas por motivos religiosos, incluiu-se a prestação de serviço militar eclesiástico dando assistência nas áreas espirituais e hospitalares às forças armadas (art. 163, § 3º).
Outra inovação que não era novo, na verdade apenas retornou a ingressar em nosso ordenamento foi a previsão do casamento religioso tendo efeitos civis, mantendoo caráter secular dos cemitérios respeitando as liturgias fúnebres de diversas crenças (arts. 146 e 113, § 7º).
2.5 Constituição Federal de 1937
Esta Foi promulgada em um contexto totalmente diferente do que tínhamos até então, foi o regime do Estado Novo de Getúlio Vargas implementado através do golpe militar, foram excluídos alguns artigos referente a liberdade religiosa e sem menção de Deus no preâmbulo.
Nesta ocasião tal garantia não foi levada a finco, sendo a separação Estado X Igreja prevista de forma implícita, com a vedação imposta à União, Estados e Municípios em embaraçar os cultos religiosos (art. 32, b) muito menos abordou sobre uma possível cooperação conforme previsto anteriormente.
Manteve-se os mesmos termos de liberdade religiosa, porém silente sobre o caráter jurídico das associações religiosas sendo sempre genérico a respeito da igualdade das religiões perante a lei, e manteve-se o dispositivo concernente a perda de direitos por motivos religiosos (arts. 122, § 4º e 119).
No tocante ao restante do tema abordado nas outras Constituições, os cemitérios eram seculares e administrados pelo município e não fez menção de possíveis liturgias ou manifestações religiosas e muito menos previu sobre o casamento religioso.
O aspecto notável desta Constituição referente ao tema seria o disposto no art. 137, d: “o operário terá direito ao repouso semanal aos domingos e, nos limites das exigências técnicas da empresa, aos feriados civis e religiosos, de acordo com a tradição local; ” reconhecendo os feriados religiosos.[6: Ibidem. ]
2.6 Constituição Federal de 1946
Enfim reestabelecido a democracia e junto com ela retornou outros aspectos normativos da liberdade religiosa também invocando o nome de Deus no preambulo.
A Separação do Estado e Igreja apareceu de forma expressa deixando uma ressalva para esta Laicidade, que seria de que isto não prejudicaria uma possível cooperação reciproca em prol dos interesses coletivos (art. 31, II e III).
Foram recepcionadas muitas disposições da Constituição de 1934 nos seus exatos termos, concedendo liberdade de consciência, crença e de exercício de culto sempre condicionado à ordem pública e aos bons costumes e novamente tratando do caráter jurídico das associações religiosas.
Houve também inovações como a escusa de consciência que nada mais é do que o Estado respeitando a intimidade e a consciência do indivíduo não o privando de direitos por motivos de escolha religiosa (art. 141, § 8º).
Manteve-se o direito do gozo de feriados religiosos pelos trabalhadores (art. 157, VI), o caráter secular dos cemitérios com a manutenção destes pelas associações religiosas, mas o que de maior destaque em quesito novidade foi a imunidade tributária aos templos de quaisquer cultos (art. 31, V, b).
2.7 Constituição Federal de 1967/1969
Em seguida temos a Constituição da República Federativa de 1967/69 que segue o padrão, promulgada sobre a ditadura militar pouco inovou em todos os aspectos, mantendo a linha e princípios das outras separando o Estado da Igreja e garantindo a cooperação entre eles especificando os setores educacionais e hospitalares (art. 9º, II).
Existia a previsão da igualdade de direitos e a não privação deles por motivos religiosos, nos moldes da anterior estabelecendo a perda de direitos pela escusa de consciência. O direito ao gozo dos feriados religiosos manteve-se intocáveis nestas Constituições e o casamento religioso novamente operava com efeitos civis e os templos com imunidades tributárias (art. 158, VII, 167, § 2º e 20, III respectivamente).
A Constituição do 1969 manteve o padrão e as disposições referentes ao tema, mudanças poucas em ajustes de textos e numeração de artigos.
2.8 Constituição Federal de 1988
Como já explanado a influência religiosa sempre esteve no processo de construção de nossas Constituições, é claro que o Poder Constituinte originário manteve a posição do Estado Laico seguindo a evolução do pensamento referente ao tema, porém ainda aqui temos mais uma vez o nome de Deus invocado em seu preâmbulo.
A Constituição Federal de 1988 apelidada de “Constituição Cidadã” por conta da grande gama de garantias e direitos fundamentais para os seus cidadãos, teve a mesma relação com a religião das Constituições anteriores, embora não tenha dispositivo que expressamente declare que nosso “Estado é Laico”, mas apenas uma breve leitura de seus dispositivos podemos ver o princípio da Laicidade em seu artigo 1º quando determina a regência do Estado pela Democracia: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:” e continua em seu parágrafo único: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.”[7: BRASIL, Constituição Federal de 1.988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.html>.]
Também necessário atentarmos para o caput do artigo 5º que prevê direitos e garantias fundamentais, algo de suma importância ao estudo do nosso tema: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes”, aqui é previsto a igualdade, sem distinção de qualquer natureza e ainda mais adiante neste artigo a liberdade religiosa é apresentada de forma expressa e ampliada em comparação às outras Constituições, englobando a liberdade de consciência e crença, exercício de culto e a proteção dos locais de realizações de liturgias. [8: Ibidem.]
Diferente das previsões passadas, não condicionou esta liberdade à ordem pública e aos bons costumes, mas apenas a observância da Lei:[9: Ibidem.]
Art.5 º, VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;   
Aos direitos referentes a garantia a não privação destes por motivos religiosos foi mantido a concepção anterior, porém com a ressalvas de prestação alternativas de obrigações imposta por leis:[10: Ibidem.]
Art. 5º, VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
No tocante a previsão, mesmo que de forma indireta, à separação do Estado e Igrejas, temos um dispositivo na parte que aborda sobre a organização do Estado, nos mesmos moldes das anteriores incluindo a possível cooperação entre Estado e Igreja em prol dos interesses públicos, conforme artigo 19, inciso:[11: Ibidem.]
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - Estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;
Percebe-se que não existe nesta Constituição Federal uma previsão explicita que declare a Laicidade do Estado, é algo implícito em princípios como o da Democracia, igualdade e liberdade de todos independentemente de crença ou religião.
Diferente das outras não fez menção a remuneração do trabalhador em feriados religiosos, mas apenas o repouso semanal remunerado preferencialmente aos domingos (art. 7º, XV).
Quanto ao casamento religioso foi mantido os efeitos civis: “Art. 226, § 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei”. E a previsão da imunidade tributária a templos de qualquer culto, conforme anteriormente expresso (art. 150, VI, b).[12: Ibidem.]
Porém, na atual Constituição Federal o princípio da Democracia é algo forte o suficiente para estabelecer a separação Estado e Igreja, poisdando poder ao povo e não há dogma, igreja ou confissão, ao mesmo tempo que garante a liberdade e outras garantias fundamentais de formas que a crença e religião adotada pelo indivíduo não o embarace no exercício dos seus direitos, modelo igual a este que é adotado pelas democracias laicas contemporâneas.
Não é permitido ao Estado impor normas que de alguma forma confesse uma religião ou oriente as políticas públicas por dogmas de qualquer religião, isto no mesmo momento que está Constituição Federal garante liberdades religiosas a todos em pé de igualdade independente de confissão, protegendo todos de embaraços ou discriminação por conta de religião. O Estado estabelecido pela nossa atual Constituição é imparcial quanto à religião, garantindo liberdade religiosa a todos.
Diante do entendimento que temos um Estado Laico em vigor, cabe-nos indagar qual a função deste Estado Laico como garantidor da Liberdade Religiosa? Sendo o Estado neutro em relação à fé deva ficar totalmente inerte em relação a religião de seus cidadãos enquanto é um Estado Democrático de Direito? De maneira nenhuma, mas pelo contrário deve o Estado proteger seus cidadãos individualmente ou em sociedade dando condições para todas as confissões e grupos religiosos segundo os seus graus de representatividade, impedindo possíveis abusos para que todos possam de certa forma promover a paz social.
3 NOÇOES CONCEITUAIS DA LIBERDADE RELIGIOSA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1.988
3.1 Liberdade
Como conceito de forma autônoma de liberdade, temos o seguinte significado conforme o dicionário Aurélio: “Direito de proceder conforme nos pareça, contanto que esse direito não vá contra o direito de outrem”. [13: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. 2015. Disponível em: <Http://dicionariodoaurelio.com/liberdade>.]
Têm-se vários outros significados etimológicos para esta palavra, porém complementaremos o conceito da seguinte forma: Liberdade é uma capacidade que cada indivíduo possui de decidir por si, autodeterminar, caracterizada pela conjugação do livre arbítrio com vários condicionamentos sociais, naturais e psicológicos que são impostos às ações predispostas ao homem.
Relacionando ambos os significados temos a ideia de que liberdade é agirmos conforme nossa possibilidade de escolhermos nossos caminhos, verdades, ideias sem obstáculos ou dificuldades, porém não são as escolhas humanas ilimitadas, existem condições no meio social e na própria consciência humana. Estas condições são predispostas ao homem, seja pelo direito ou pela razão.
Somos totalmente livres, podendo fazermos o que queremos até que algo, seja qual for a natureza, imponha condições ou impeça de realizarmos o que autodeterminamos.
No mundo jurídico, é claro digo latu sensu a liberdade está presente no rol de direitos fundamentais, sendo assim é inviolável, conforme caput do art. 5º da Constituição Federal: [14: BRASIL, Constituição Federal de 1.988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.html.>]
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
A liberdade é um princípio tão forte que não é apenas um mero direito estando ela atrelada ao sistema constitucional pátrio como um princípio norteador para se aplicar e interpretar os demais direitos e preceitos constitucionais, estando no inciso I do art. 3º da Constituição Federal de 1988 como um objetivo de nossa nação: “Art. 3º - I - construir uma sociedade livre, justa e solidária”. Presente também no preâmbulo antes mesmos de quaisquer outros importantes conceitos.[15: Ibidem.]
Liberdade na Constituição Federal aparece de muitas formas, na seguinte ordem: Liberdade de autodeterminação (inc. II), pensamento (inc. IV), religião (inc. VI. VII e VIII), expressão (inc. IX), profissional (inc. XIII), informação (inc. VIV e XXXIII), locomoção (inc. XVLIV e LXI), reunião (inc. XVI) e associação (inc. XVII, XVIII e XX).
O alcance da liberdade é mais amplo do que as vezes cogitamos, todo direito tem limites é claro e unânime a todos de que nenhum direito é absoluto. É algo histórico e seus limites remontam a um dos mais importantes institutos jurídicos da história a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, no art. 4º diz o seguinte:[16: Ibidem.]
Art. 4.º A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados pela lei.
Logo em seguida no artigo 5º ele completa o raciocínio e podemos entender claramente os limites da liberdade e ao mesmo tempo o seu alcance, a Declaração afirma: “a lei não pode proibir senão as ações nocivas a sociedade”.[17: Ibidem.]
Vemos estas normas e conquistas e as vezes nem podemos imaginar quantas lutas, guerras a humanidade travou para que um dia tivéssemos a tão almejada liberdade.
3.2 Religião
Religião é algo presente na sociedade desde seus primórdios esta arraigado ao homem desde sua origem, independente da concepção da mesma é algo obvio a presença da religiosidade no cerne do homem.
Vários serão os seus conceitos, pois variadas são as religiões, imbuído de sentimentos e emoções cada um terá uma definição do que é a religião, dificilmente definiremos de forma cabal um conceito que sintetize todas as variações. 
Porém para avançarmos ao Estudo devemos buscar um conceito que possamos usar como uma base, uma vez que deixado em aberto geraria problemas diante de inúmeras concepções do assunto e várias contradições do mesmo.
Entendemos Religião sendo um conjunto de dogmas, crenças relacionadas com a divindade, a religião sempre implicará em sentimentos de veneração e obediência perante deuses ou Deus, haverá através da consciência uma imposição de normas e práticas litúrgicas e rituais, exemplo são as orações, sacrifícios e etc., com forma de honrar a divindade cultuada.
Teologicamente falando, são muitas as variedades de religião, com muitas classificações. Monoteístas são aquelas que aderem a crença da existência de um único Deus (cristianismo, judaísmo e islamismo), os politeístas já de forma contrária creditam a fé na existência de muitos deuses que podem ser organizados hierarquicamente ou não (hinduísmo e religiões antigas de origem romana e egípcia). As Panteístas entendem que o mundo e seu criador constituem uma mesma entidade (taoísmo) e temos religiões que não acreditam em deuses absolutos e nem que exista um criador de nossa matéria (budismo).
Outra classificação pertinente sobre religiões seria a respeito de sua revelação, são as que se baseiam em revelações feitas por sua divindade, instituindo dogmas a serem seguidos e modo de adora-lo. Já as místicas não são definidas um corpo dogmático, sendo fundamentadas em uma filosofia de vida, são religiões naturalistas, embora não sejam formadas por conjunto de dogmas aceitam a ideia de existência de deidades e espíritos na natureza que cultuam.
O contexto para o presente trabalho será o Cristianismo uma vez que especificamente será abordada a liberdade religiosa em seu âmbito, lembrando que será com o devido respeito às demais religiões merecedoras de todo o espaço em futuros trabalhos.
Embora existam várias concepções e consequentemente muitas religiões, não caberá a ninguém em um Estado Democrático de Direito estabelecer regras, discriminar ou atribuir menor ou maior importância a qualquer religião. Vimos que a Religião é a crença em algo superior, metafísico e transcendental que muitas vezes estabelece segundo a convicção pessoal de cada indivíduo: ritos, dogmas ou apenas um mero “dever ser”.
A religião busca através de diversas crenças estabelecer relação e dependência entre o ser superior e o homem,e este ser superior têm influência em nosso ser de forma individual ou em grupos unidos pela mesma forma de influência.
Começa a fica claro o porquê de falarmos em liberdade no âmbito religioso, pois de forma subjetiva temos um grande problema em conceituação, porem objetivamente já podemos entender religião como atos manifestados no exterior que representam um dos elementos da vida do homem, conforme Weiler Jorge Cintra Jr:[18: CINTRA JUNIOR, Weiler Jorge. A questão atual da intolerância Religiosa. Revista de Direito. Procuradoria do Estado de Goiás, nº 22, Jan/Dez. 2002. Disponível em: <http://www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/weiler.pdf> p. 3.]
[...] um dos elementos da vida do homem em sociedade, inspiradora de seu comportamento público. Significaria assim um sentimento de vinculação, de obrigação (do latim ob + ligare) para com um Ser Superior, Soberano, Transcendente, qualquer que seja a ideia pela qual é Ele concebido. 
Sociologicamente falando, notável é a importância da Religião à vida do homem, não devendo ser feito juízos de valor pelo Estado a este respeito, veremos então a importância da aplicação da Liberdade e um dos motivos desta liberdade.
3.3 A Liberdade Religiosa 
O que determina a forma de agir do indivíduo? O que o motiva a agir de uma ou outra forma? Que padrão temos para definir o certo do errado? As respostas a estas questões se encontram em um “juízo de valor” prescritos pela ética, moral, direito e também pela religião, estas regras resultam em um “dever ser” que acompanha algum tipo de sanção, sendo a simples reprovação da sociedade, ou reprovação por parte do Estado e até mesmo o receio de uma punição “espiritual” quando este “dever ser” é imposto pela religião. Neste sentido concordamos com Miguel Reale:[19: REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. 25. ed. São Paulo, Saraiva: 2001, p. 69. ]
A ideia fundamental da religião é a de que vivemos uma vida transitória, que não tem em si a medida de seu valor, mas que se mede, segundo valores eternos, à luz da ideia de uma vida ultraterrena, na qual os homens serão julgados segundo o valor ético de sua própria existência. O remorso é também, para o crente, uma força de sanção imediata e imperiosa. Todas as regras possuem, em suma, sua forma de sanção. 
A moral, a ética e também o direito regula apenas as relações interpessoais dos membros da sociedade, mas é omissa em relação a prescrição de deveres com sua crença, cabendo ao próprio homem através de sua livre consciência estabelecer seus deveres diante de sua divindade, e cabe apenas ao homem isto é indiscutível, ou seja, estes deveres emanam de uma divindade e o homem se compromete a elas através de sua liberdade de crença.
Porém não foi provado para alguns, de forma cientifica ou empírica a existência de Deus, não cabendo a ninguém menos que a própria consciência se submeter a normativa divina do certo ou errado, ou até mesmo se exista ou não divindade, o fundamento de quaisquer crenças religiosas é o que seja aceita como verdade pela consciência, não podendo ser imposta pelo Estado e não sendo atribuição da ética e da moral.
Outro ponto indiscutível é que nossa consciência é livre, não necessita o Estado lhe conceder liberdade de consciência, uma vez que para o Estado pouco importa por atos interiores e pensamentos do homem, que não afetam a ninguém e muito menos a ordem jurídica, o que o Poder Constituinte teve a intenção de fazer era garantir não o livre pensamento, pois até o encarcerado em prisão pode pensar, mas o Estado tinha como alvo a projeção da consciência ao mundo físico, ao externo, o Constituinte cogita a exteriorização da fé, a pratica da consciência e da crença.
A crença não se concentra apenas no ambiente da consciência, do pensamento, a crença transborda além do metafisico sendo desde atitudes individuais ou até o proselitismo, desta feita boa parte das religiões terá em seu cerne um “dever ser” algo para se exteriorizar, podendo então classificar a consciência sendo a fé no interior do homem enquanto religião e o culto é a fé exteriorizada.
Como exemplo e estudo temos a fé Cristã que corrobora com este ensinamento, tomamos a Bíblia no livro de Tiago, capítulo 2 nos versos 17 a 19:[20: TIAGO, Epistola de. In: Bíblia Sagrada. Antigo e Novo Testamento. Trad. João Ferreira de Almeida. Rev. e atual. 2. ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. p. 1600. ]
Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demônios o creem, e estremecem. 
É notável a necessidade da exteriorização da crença, exercendo cada indivíduo as suas próprias convicções. Não obstante a história registra inúmeros casos em que um grupo dominante que de várias formas tentou impor suas convicções religiosas, reivindicando para si o direito de coagir a consciência do povo em matéria religiosa. Muitos embora a coação do grupo religioso e até mesmo do próprio Estado, houveram pessoas que imbuídas de suas convicções sofreram as consequências de mantê-las e de negar a mesma, período conhecido na história como Idade Média, damos o exemplo da “Inquisição”.
 Temos então liberdade religiosa como sendo a livre escolha em assuntos espirituais e religiosos, é indevassável ao homem a escolha de sua verdade não importando a esfera, quando se trata da moral ou da religião temos como denominação: Liberdade Religiosa.
Conforme abordado por Hédio Silva Jr:[21: SILVA JUNIOR, Hédio. A Liberdade de Crença como Limite à Regulamentação do Ensino Religioso. 2003. 245 f. Tese (Doutorado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2003, p. 33-34. ]
Crença religiosa diz respeito a leituras e interpretações de uma dimensão metafísica, de uma realidade não demonstrável, no mais das vezes expressas em categorias abstratas, espirituais, temporais. Deste modo, delas não se pode exigir que sejam aceitáveis, racionais, lógicas, consistentes ou compreensíveis, seja para ateus, tanto menos para adeptos de religiões distintas daquela posta eventualmente em exame. 
Sendo assim, não havendo critérios para a consciência religiosa, fica obvio o motivo de inúmeras denominações cristãs, são incontáveis e crescem a cada dia devido a diversas interpretações do mesmo fundamento da crença Cristã, no caso o Canon Bíblico que igualmente a outros ramos do saber e da ciência, possui diversas crenças e interpretações e cada uma ortodoxa para consigo mesmo e considerada pelo grupo fundada na verdade, são de forma geral e divergentes entre si em muitos ou poucos aspectos dogmáticos.
Já compreendido a Constituição Federal de 1.988 como laica fica a ela vedada a determinação de o que seja verdadeiro ou falso em qualquer aspecto de cunho religioso, não podendo discriminar ou julgar mais aceitável ou racional qualquer religião.
Embora nem sempre a tolerância e o reconhecimento de tal direito estiveram presentes na história do homem e da religião, existindo Estados ainda hoje que procuram através da religião ter o controle do povo, usando de todos os meios, reprimindo a liberdade de expressão, de manifestação da crença conforme tido hoje pelo nosso Estado Democrático de Direito. Os tais hereges considerados criminosos que perderam direitos como a liberdade, bens ou até a própria vida. Exemplos são mártires como Martinho Lutero, Wycliffe, John Huss e Calvino, entre outros que não aceitaram a imposição de dogmas e crenças que não as oriundas de suas próprias consciências, que requererão de forma indireta o direito de interpretarem sua fé e a base dela por si só, no caso as Escrituras Sagradas do Cristianismo.
E a partir daí temos um avanço nesta ideologia e surgiram novos pensamentos sobre a livre iniciativa da consciência humana que influenciou fortemente o ordenamento que resultou no que conhecemos hoje como os direitos fundamentais e o do nosso caso da Liberdade de Crença e consequenteReligião. 
3.4 Natureza Jurídica, Características e Conteúdo da Liberdade Religiosa
Antes de vermos o conteúdo e consequente alcance da liberdade religiosa devemos primeiramente analisar a sua natureza jurídica, para podermos classificar tal direito dentro do universo de institutos presentes no direito.
A doutrina classifica a liberdade religiosa como um direito fundamental, mas antes disto já previsto na Declaração Universal dos Direitos dos Humanos promulgada em 1948 pela ONU, que diz o seguinte sobre o tema em seu artigo 18:[22: ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS, Declaração Universal dos Direitos Humanos,1948, p.4. Disponível em: Http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf]
Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou em particular. 
É entendido como valor deste direito a dignidade da pessoa humana que atrai o conteúdo de nossos direitos fundamentais. A ideia de direitos humanos tem relação com a afirmação da dignidade humana perante o Estado, ou seja, o Estado exerce o poder a serviço do ser humano e avistamos isto esculpido em nossa Carta Magna como princípio basilar no inciso III do artigo 1º da Constituição Federal de 1988: [23: BRASIL, Constituição Federal de 1.988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm]
Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
[...]
 III - a dignidade da pessoa humana;
Embora escrito e previsto, este direito é devido antes do surgimento do próprio Estado, cabendo a ele apenas reconhecê-los através da constitucionalização dos direitos humanos, que depois de positivados em âmbito nacional conhecemos como direito fundamental.
Conforme Paulo Mascarenhas quando conceitua Direitos Fundamentais como:[24: MASCARENHAS, Paulo. Manual de Direito Constitucional. Ed. Salvador, Editora, 2010. p. 43.]
A conceituação dos Direitos Fundamentais do Homem mais aceita dentre os doutrinadores modernos é aquela que estabelece que são situações jurídicas, objetivas e subjetivas, definidas no direito positivo, em prol da dignidade, igualdade e liberdade da pessoa humana. 
Estes direitos têm duas funções precípuas, a primeira é a negativa que seria como norma ou regra de competência negativa ao Estado, no tocante a vedação da ingerência de atos que viole o direito ou contrarie os princípios dos direitos fundamentais. E a função positiva que seria a possibilidade de o cidadão exercer o direito fundamental garantido e até mesmo exigir possíveis omissões do Estado.
A liberdade religiosa de acordo com a Doutrina é reconhecida como Direito de primeira geração ou dimensão, não em quesito importância, pois esta denominação faz referência à cronologia das conquistas dos direitos. Temos como primeira geração os relacionados à luta e revoltas perante o Estado em busca de liberdades e segurança diante do Poder Estatal, como características estes direitos obsta o Estado de atos e ações contrários aos princípios elencados como fundamentais na Constituição gerando as chamadas cláusulas pétreas, que seria o conteúdo imutável do ordenamento.
Importante frisarmos as características destes direitos fundamentais que se aplicam obviamente a Liberdade Religiosa, incontestável e já comprovada característica é a historicidade deste direito, que muda e varia de época e lugar, são conquistados paulatinamente conforme as lutas sociais do povo em sua cultura, exemplo notável é a conquista da Liberdade Religiosa em nosso Estado Democrático de Direito e o contraste com a cultura muçulmana que não tem tal direito como fundamental conforme nossos moldes. 
Os Direitos Fundamentais são relativos ou não absolutos, o termo direito absoluto já por si só é uma contradição até certo ponto, pois até mesmo os direitos fundamentais básicos são relativizados em casos concretos, motivos são variados, um deles seria a possibilidade da antinomia de normas e outro motivo seria o caso do uso de um direito fundamental para pratica de um delito.
Vejamos em nossa Constituição Federal que o próprio direito a vida é limitado (art. 5º inciso XLVII), imagine os outros previstos que se originam do próprio direito a vida, interessante dizermos e até de denotação confusa é que as limitações não são ilimitadas, ou seja as limitações sofrem limitações no sentido de limitar os direitos fundamentais somente no estritamente necessário para a adequação ao caso concreto, lógico que usando como instrumento os princípios constitucionais da proporcionalidade e razoabilidade, ficando a cargo do tribunal analisar o caso concreto e adequando estes princípios para a justa limitação. 
Exemplos são incontáveis em nossa Jurisprudência, assim ilustra o ministro Gilmar Mendes no voto do HC 82424/RS que marcou esta maneira de resolução de conflitos ou casos de ponderação de direitos fundamentais:[25: BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus n. 82424/RS, Relator: Moreira Alves, Data de Julgamento: 17/09/2003, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 19-03-2004 PP-00017 EMENT VOL-02144-03 PP-00524][26: ]
HABEAS-CORPUS. PUBLICAÇÃO DE LIVROS: ANTI-SEMITISMO. RACISMO. CRIME IMPRESCRITÍVEL. CONCEITUAÇÃO. ABRANGÊNCIA CONSTITUCIONAL. LIBERDADE DE EXPRESSÃO. LIMITES. ORDEM DENEGADA.
O princípio da proporcionalidade, também denominado princípio do devido processo legal, em sentido substantivo, ou ainda, princípio da proibição do excesso, [...] estabelece um ‘limite do limite’ ou uma ‘proibição do excesso’ nas restrições de direitos fundamentais. [...] A par dessa vinculação aos direitos fundamentais, o princípio da proporcionalidade alcança as denominadas colisões de bens, valores ou princípios constitucionais. Nesse contexto, as exigências do princípio da proporcionalidade representam um método geral para a solução de conflitos [...] 
A aplicação do princípio da proporcionalidade [...] exige que se estabeleça o peso relativo de cada um dos direitos por meio da aplicação das máximas que integram o mencionado princípio da proporcionalidade [...] Há de perquirir-se, na aplicação do princípio da proporcionalidade, se em face do conflito entre dois bens constitucionais contrapostos, o ato impugnado afigura-se adequado (isto é, apto a produzir o resultado desejado), necessário (isto é, insubstituível por outro meio menos gravoso e igualmente eficaz) e proporcional em sentido estrito (ou seja, se estabelece uma relação ponderada entre o grau de restrição de um princípio e o grau de realização do princípio contraposto).
Os direitos fundamentais por sua essência estão ligados à natureza humana e, portanto, são dotados de imprescritibilidade. Digo que são imprescritíveis alguns direitos como a liberdade religiosa, não é motivo de perda deste direito se por um acaso o indivíduo escolher crer em determinada crença após viver 40 anos sem religião, lembrando que alguns direitos fundamentais podem de certa forma prescrever como o direito à propriedade pela usucapião, é relativo e não absoluto.
Estes direitos são inalienáveis, salvo a mesma exceção acima, o direito de propriedade, não se doa, nem empresta e muito menos se vende as liberdades concedidas ao homem, não são objetos, não possuem conteúdo econômico-patrimonial, portanto o fim não é em si mesmo, são de interesses da sociedade e para a vivencia do cidadão na mesma.
Os direitos fundamentais são irrenunciáveis e indisponíveis, esta característica também possui limites e exceções, como a intimidade e privacidade, porém ninguém pode se dispor definitivamente e de maneira que venha a ferir a dignidade humana, não é algo apenas subjetivo e existe um fim social e objetivo nestas garantias. Observa-se apenas a falta de pleno exercício ou a faltade exercício do direito, nunca a renúncia. 
Os Direitos Fundamentais são indivisíveis quanto a gama de direitos e quanto as pessoas ou grupos, estes direitos são analisados de forma coletiva e conjunta. A liberdade religiosa possui três enfoques ou esferas que serão objetos de estudo posteriormente neste capítulo, e poderão ser plenamente exercidas de forma indivisível ou não conforme a abstenção ou adoção e de qual crença se aderiu, sendo indivisível a qualquer religião ou pessoa em todos os enfoques se assim o exercerem.
Característica importantíssima é a respeito da eficácia deste direito, até antes de meados do século XX os Direitos Fundamentais tinham apenas eficácia vertical seguindo a linha Estado (superior) e cidadão (inferior), era aplicado apenas nas relações do Poder Público perante o indivíduo. Com o desenvolvimento da matéria o entendimento ampliou-se e a eficácia também abrangeu a linha horizontal, a linha reta, ou seja, incide sobre particular-particular, prova disto seria as possíveis consequências jurídicas de quem venha intervir no livre exercício das liberdades religiosas em alguma das formas protegidas em lei.
Última característica abordada neste trabalho é a universalidade, querendo dizer que os direitos fundamentais são para todos os brasileiros e estrangeiros residentes ou não em nosso território. No direito fundamental da liberdade religiosa, a característica da universalidade tem maior aplicabilidade quando compreendemos que qualquer religião seja válida, exercível e protegida, sendo este um dos maiores objetivos da Democracia Laica que adotamos.
Esgotado o entendimento necessário sobre a natureza e características do direito abordado no estudo, analisaremos o conteúdo deste direito, pois, sabemos que inúmeras manifestações de ordem física, psíquica podem ser ocasionadas uma vez concedidas à liberdade religiosa.
De ordem física, temos como exemplo, o culto privado no lar, a abstenção de certas atividades especifica ou em determinados períodos, temos também as marchas e congressos. Referente a ordem psíquica temos a própria escolha em adoção ou não de uma religião e se sim qual delas, todos estes fatos contribuem para a formação e ampliação do conceito da liberdade religiosa.
Entendido este conceito na forma estrita da Liberdade Religiosa e a livre escolha do homem em matéria de íntimo e consciência, não podemos esvaziar aqui a ideia, pois é devido proporcionar meios para o exercício do direito pleno e de fato.
Este direito fundamental se expandiu em três esferas e enfoques, uma de esfera subjetiva e pessoal (liberdade de crença), uma de enfoque social e coletiva (liberdade de culto) e outra organizacional, no tocante à liberdade de instituição dogmática (liberdade de organização religiosa).
Sendo necessário para o efetivo exercício do direito o respaldo nas três esferas, somente assim exerceríamos a integral liberdade religiosa, e que estas esferas e dimensões são apenas alguns leques, podendo certos atos, embora não materializado no direito de forma especifica, são subdivisões destas esferas, exemplo seria o caso da liberdade de crença que vai além da escolha dela, mas na liberdade de agir conforme a crença, a liberdade de divulga-la e etc., abrangem o individual e o coletivo em várias formas que dependerá do contexto e religião conforme demonstraremos a avanço do tema.
3.4.1 Liberdade de Crença
É a liberdade de acreditar ou não em alguma verdade religiosa, no íntimo do indivíduo ele decidira e determinará qual religião deva seguir ou até mesmo escolher acreditar que não exista ou que não se importa com religião ou divindades.
Aqui nesta esfera a liberdade é exercida apenas no íntimo da pessoa, referente a escolha pessoal no âmbito espiritual, a Constituição Federal de 1988 no art. 5º, inciso VI traz a expressão: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção dos locais de culto e suas liturgias”, ou seja, seria o direito de escolher qual religião seguir e mudar de posição e escolha quando lhe achar aprazível. [27: BRASIL, Constituição Federal de 1.988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.html.>]
Cabe aqui fazermos uma pequena diferenciação pois a livre consciência não se confunde com liberdade de crença, antes de tudo porque uma livre consciência pode determinar se apoia ou não uma crença. Ficando a consciência livre, nada impede que o cidadão aceite ou exerça valores espirituais e morais que não tenha sistema religioso predefinido. 
Inclui neste caso da livre consciência o agnosticismo ou a ausência de crença religiosa que seria o ateísmo, podendo cada qual conforme sua consciência optar pela indiferença ou ficar alheios a crenças religiosas comuns a outros, esta liberdade é pessoal e já verificamos que não cabe ao Estado e disciplinar, embaraçar ou impor o intimo do cidadão, estando livre a escolha do que se acredita em matéria religiosa.
A crença assegura um direito a fé, a opção de escolha da religião, tem a ver com autodeterminação de poder orientar sua fé na escolha dos valores e conceitos que julgar essencial à vida religiosa, ambos são liberdades que o Estado nunca poderá restringir, pois até o momento de sua exteriorização são inalcançáveis no interior do homem.
3.4.2 Liberdade de Culto
Como estudado anteriormente, um dos motivos desta liberdade é a necessidade da expressão da mesma, temos a liberdade de culto no sentido do direito de expressar a crença religiosa adotada conforme estabelecida pela crença ou divindade.
A religião na maioria das vezes é mais do que as emoções e sentimentos à divindade, ela transborda e requer a exteriorização, indo além da adoração e a aceitação de um corpo doutrinário, religião é acompanhada de prática dos seus ritos, cerimónias, cultos e outros hábitos e tradições associadas à religião aderida.
A liberdade de culto assegura comportamentos individuais ou coletivos motivados pela religião, mais costumeiro é a liberdade coletiva, em grupo com outros adeptos à crença, em contraste com a liberdade de crença que está relacionada ao intimo, metafisico, aqui é externo e sujeito ao alcance e tutela dos atos pelo Estado, novamente no artigo 5º, inciso VI prescreve:[28: Ibidem.]
Art. 5º - VI: é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção dos locais de culto e suas liturgias. 
Lógico que o local dos cultos não cabe a lei definir, esta é parte do livre exercício dos cultos e não será condicionado, porém existirá locais em que o Estado poderá estabelecer condições em alguns casos em que a forma de culto ou ritos possam se colidir com outros direitos, diferentes da crença que não tem intervenção Estatal, aqui na liberdade de Culto após minuciosa análise e respeitando a proporcionalidade devida a antinomia de normas. 
Os cultos e os seus locais próprios serão sempre protegidos por lei, tipificando até crimes para melhor garantia, não abordaremos profundamente apenas, mas cito o artigo 208 Código Penal que tem como bem jurídico o sentimento religioso, onde lemos: “Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso. ” [29: BRASIL, Código Penal de 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm>]
Este direito está elencado na nossa Constituição, pois o culto é passível de ser alcançado pela proteção Estatal, visando resguardar os locais do culto, os ritos e objetos usados em cerimônias e etc.
3.4.3 Liberdade de Organização Religiosa
Aqui neste enfoque nada mais é do que a liberdade em estabelecer e organizar as religiões e é neste ponto que testemunhamos a possibilidade de cooperação entre Religião e Estado em prol do interesse público, conforme artigo 19, inciso Ida Constituição Federal:[30: BRASIL, Constituição Federal de 1.988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.html.>]
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: 
I - Estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;
Outro ponto importante já abordado neste estudo é a separação do Estado e Igreja e contemplamos aqui a explicita vedação do Estado de interferir, embaraçar a auto regulação, a estrutura das organizações religiosas, cabendo apenas o reconhecimento da personalidade jurídica e o restante compete a cada organização religiosa.
Necessário e exigido pelo Estado a devida organização religiosa, pois o Estado além de ser vedado a proibi-las deve também sem prejuízo mediante seu poder coercitivo proteger as religiões organizadas devidamente na forma da lei, no caso a civil.
Nesta esfera temos o termo “organizações”, impõe ao Estado a obrigatoriedade do Regime de Tolerância, respeitando o pluralismo religioso existente em nosso país, pois a liberdade religiosa vai além da eficácia plena, requerendo atitudes positivas. Enxergamos neste sentido a possibilidade da imunidade tributária às religiões devidamente organizadas, conforme artigo 150, incisos VI, alínea b: “é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a instituição de impostos sobre templos de qualquer culto”.[31: Ibidem.]
Notável e Inequívoco é o princípio da preservação a tolerância e pluralismo religioso, não permitindo que todas as religiões possam se autorregular e se autodeterminar em matéria religiosa e em práticas de cultos, não permitindo que nenhuma religião seja prevalecida em razão de outra.
Enfim, determinado o conteúdo da Liberdade Religiosa e apresentado os fundamentos jurídicos presentes em Constituição e Tratados internacionais em que seja o Brasil adotado e ratificado, veremos um instituto de forma apartada pelo fato de ser determinante para o exercício do direito de forma plena, abordaremos sobre a Objeção de Consciência e a Guarda Sabática.
4 DIREITO À OBJEÇÃO DE CONSCIÊNCIA
Ponto de extrema importância para o prosseguimento do presente estudo seria um direito individual que está intimamente atrelado a liberdade religiosa como um todo, me refiro a escusa de consciência ou objeção de consciência. Não necessitamos de muita pesquisa para atentarmos a ligação feita da Escusa de Consciência com a recusa a prestação do serviço militar ou a objeção ao uso de armas, porém trata-se de um instituto que vai além, é alcance mais amplo, ao analisarmos o artigo 5º, inciso VIII lemos:[32: Ibidem.]
Art. 5º - VIII - Ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
Observamos que o alcance atinge a crença religiosa, convicções políticas e filosóficas, as escusas de consciência na esfera política e filosófica têm como exemplos a objeção a se filiar ao partido político qualquer ou aceitar suas ideologias e ideias, já no campo da crença religiosa que é a área do presente trabalho, temos como exemplo do caso das Testemunhas de Jeová quanto a transfusão de sangue e os guardadores do sábado, tema este de aprofundamento posterior.
Algumas religiões, que não serão citadas neste momento, fazem um amplo uso da liberdade de culto e fazem uso da escusa de consciência, porém nem sempre foi algo pacificado na história mundial, isto não é segredo a sociedade quando olhamos os registros históricos que mostram que desde Galileu Galilei (1564-1642) condenado por Roma por ter se recusado a aceitar a ciência/filosofia imposta à época e também temos o caso de John Huss (1369-1415) que por se recusar a renegar suas convicções foi queimado vivo na fogueira.
Partindo da ideia que a consciência humana deve ser preservada e que para a plena satisfação humana e consequente paz social, as convicções devem ser resguardadas em uma democracia, uma vez que convicções e ideias isoladas podem em um futuro ser a “verdade” adotada, imagina se por acaso Galileu se retratasse de suas descobertas? Ou os reformadores cedessem a pressão Eclesiástica? O mundo deixaria para trás grandes avanços em muitas áreas cientificas e discussões que impulsionam a humanidade.
Para isto usa-se a objeção de consciência que definiremos como ser a recusa, oposição a cumprir ou se sujeitar a deveres e obrigações incompatíveis com as convicções filosóficas, políticas e religiosas, consiste em um direito individual em rejeitar a obrigação imposta por lei e pelo Estado a determinados casos, seguindo a linha de raciocínio de John Rawls citado por Ricardo Perlingeiro Mendes da Silva:[33: SILVA, Ricardo Perlingeiro Mendes da. Teoria da justiça de John Rawls. Revista de Informação Legislativa. Brasília a. 35 n. 138 abr./jun. 1998, p. 204. Disponível em: <http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/377/r138-16.pdf?sequence=4>]
Objeção de consciência é o não cumprimento de uma exigência legal (ou comando administrativo) mais ou menos direta. É a recusa, já que recebemos uma ordem e, dada a natureza da situação, as autoridades tomam conhecimento se a cumprimos ou não. Exemplos típicos são a recusa dos primeiros cristãos de realizar certos atos de lealdade prescritos pelo Estado pagão e a recusa dos testemunhas-de-jeová de fazer a saudação à bandeira. Entre outros exemplos estão a falta de disposição dos pacifistas de servir às forças armadas, ou do soldado de obedecer a uma ordem que acredite ser contrária à lei moral aplicada à guerra. Ou ainda [...] a recusa de pagar determinado imposto porque fazê-lo o transformaria em agente de grava injustiça. 
Para a configuração da hipótese válida de invocação deste direito deve-se ter a situação de imposição de ato jurídico ou administrativo que seja contrário as crenças e religião ou convicção religiosa, é o conflito de um ato moral e um Estatal ou legal.
A respeito do tema escolhido, a Liberdade Religiosa e entre as várias vertentes ficaremos com a Guarda Sabática, que para o exercício pleno da liberdade de culto, recorre-se a objeção de consciência, uma vez que o Sabatista para seguir sua consciência e crença deve se abster de trabalhos seculares aos sábados dedicando este dia, as 24 horas para o integral culto e a pratica da caridade, sobre isto explanaremos após. 
As implicações surgem quando o contrato de trabalho exige labor nas horas sagradas, quando uma prova, vestibular ou processos seletivos é marcado para este dia especifico, fazendo com que os convictos da referida crença se sintam e as vezes são prejudicados ou se encontrem em certa desvantagem para terem a chance de concorrerem a cargos públicos, vagas de estudo ou para manterem-se em sua relação de emprego e etc.
A Guarda Sabática quando invocada preenche os requisitos da objeção de consciência, em um caso concreto o sabatista poderá ser confrontado com uma norma jurídica ou administrativa que se manifesta no poder diretivo de empresas, órgãos ou edital. Em seguida é necessário o fundamento válido motivado pela convicção religiosa para o descumprimento e sobre o fundamento ser justo ou válido conforme Neidsonei Pereira de Oliveira quando cita José Carlos Buzanello:[34: PEREIRA, Neidsonei apud BUZANELLO, José Carlos. Direito de Resistência Constitucional. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Iuris. 2006, p. 150-151]
Os elementos determinantes do caráter relacional da decisão de objeção de consciência devem levar em conta que está “não significa um simples convencimento subjetivo que pode abarcar toda ocorrência, capricho ou pensamento fantástico, senão uma decisão adotada com toda seriedade na luta pelo conhecimento do eticamente justo 
Sobre a validade e se tem ou não fundamento, se é caprichoou não a guarda sabática veremos a seguir. E como último elemento configurador a doutrina traz a ausência de violência no ato de escusar-se a algo.
Mas ao atentarmos a regra contida na objeção de consciência, percebe-se que esta regra tem exceção, não se pode invocar a Escusa quando a obrigação imposta for a todos, ou seja, geral a todos indiscriminadamente, e pior ainda se for o caso de escusar-se ainda a prestação alternativa fixada em lei. Ora seria extrapolar o razoável em recusar-se a obrigação imposta a todos e quando apresentada alternativa ter outra objeção, vemos que a busca a uma alternativa à solução do conflito seria o mínimo para a pacificação do problema, observado sempre a busca pelo respeito as pessoas e as crenças.
Nos casos de processos seletivos os Sabatistas têm como medida alternativa o confinamento durante o período que estejam em “repouso” ou “adoração” até o pôr do sol para que assim tenham a chance de prestar a prova ou processo em que desejam concorrer, não abordaremos a controvérsia que envolva o “confinamento” e em certos casos a incomunicabilidade do candidato por horas em “cárcere” gerando certa polemica, fixaremos no caso concreto em tópico especifico.
Neste sentido analisemos o seguinte julgado:[35: . BRASIL, Tribunal de Justiça do Amazonas. Apelação Cível n.1 AM 0605011-82.2014.8.04.0001, Relator: Jorge Manoel Lopes Lins, Data de Julgamento: 29/07/2015, Câmaras Reunidas, Data de Publicação: 30/07/2015]
APELAÇÃO CÍVEL EM MANDADO DE SEGURANÇA ? CONCURSO PÚBLICO ? OFICIAL DA POLÍCIA MILITAR DO AMAZONAS ? CANDIDATA ADVENTISTA ? AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA REALIZADA EM DIA NÃO COMPATÍVEL COM O REFERIDO CREDO RELIGIOSO - POSSIBILIDADE DO PODER JUDICIÁRIO EXAMINAR A QUESTÃO - EXISTÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA ? INAPLICABILIDADE DA TEORIA DO FATO CONSUMADO ? LIBERDADE DE CRENÇA RELIGIOSA ? DIREITO DA CANDIDATA DE SE SUBMETER À AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA EM DIA E HORA DISTINTO ? RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. É legítimo o exame do caso pelo Poder Judiciário, vez que a apelante não está questionando os critérios de avaliação estabelecidos pela banca examinadora, e sim, defendendo a ilegalidade da sua exclusão do Certame, por não ter sido assegurado a ela o direito de fazer a avaliação psicológica em horário e dia diferentes, tendo em vista ser praticante da religião adventista. 2. O mandado de segurança foi impetrado com prova pré-constituída, caracterizada pela declaração apresentada à fl. 14, não havendo o risco de supressão de instância em razão da apresentação do termo de declaração à fl. 230, vez que não foi decisivo para o Juízo originário decidir o caso, que sequer se pronunciou sobre essa questão. 3. A teoria do fato consumado não tem incidência sobre a presente demanda, vez que veda o provimento de cargo por candidato que foi mantido no Certame por força de decisão liminar, posteriormente revogada, sendo que o pedido da impetrante no mandado de segurança refere-se ao direito de realizar a avaliação psicológica em data diversa, não se relacionando com a posse no cargo. 4. A despeito da existência de divergência jurisprudencial sobre a matéria, este Julgador se filia à corrente jurisprudencial que entende que deve ser garantido ao candidato Adventista o direito de realizar determinado exame em dia e hora compatíveis com a sua religião, com forma de proteger a liberdade de consciência e de crença religiosa, que são direitos fundamentais previstos no artigo 5.º, incisos VI e VIII, da Constituição Federal. Ademais, não é possível vislumbrar qualquer prejuízo para os demais candidatos, considerando que o pleito da recorrente se refere, tão somente, à realização da avaliação psicológica, na qual não existe concorrência, servindo apenas para constatar a aptidão mental do candidato para o possível exercício do cargo 5. Recurso conhecido e provido
Entendido que negar este direito ou tentar relativiza-lo estaríamos colocando obstáculos ao próprio direito de consciência e crenças conforme as palavras de John Rawls: [36: RAWLS, John. Uma Teoria da Justiça. Trad. Almiro Pisetta e Lenita Maria Rímoli Esteves. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002, p. 233]
Aqueles que gostariam de negar a liberdade de consciência não podem justificar sua posição pela condenação do ceticismo em relação à filosofia e da indiferença religiosa, nem pelo apelo aos interesses sociais e questões de Estado. A limitação da liberdade só se justifica quando for necessária para a própria liberdade, para impedir uma incursão contra a liberdade que seria ainda pior. 
Veremos a seguir uma breve analise da Guarda Sabática, sua forma e fundamentos para melhor compreensão do tema.
5 BREVE ANALISE HISTÓRICA E FUNDAMENTAÇÃO RELIGIOSA DA GUARDA SABÁTICA.
Ultrapassado o conteúdo e aspectos da liberdade religiosa, veremos a partir daqui uma vertente desta liberdade, ou seja, uma possibilidade de aplicação deste direito, abordaremos a respeito da Guarda Sabática e um dos motivos para elucidarmos a sua fundamentação é devido ao anteriormente abordado em tópico acima, ninguém se exime de obrigações ou invoca-se um direito fundamental sem a devida fundamentação para tal, “... não significa um simples convencimento subjetivo que pode abarcar toda ocorrência, capricho ou pensamento fantástico”, conforme leciona José Carlos Buzanello.[37: PEREIRA, Neidsonei apud BUZANELLO, José Carlos. Direito de Resistência Constitucional. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Lúmen Iuris. 2006, p. 150-151]
Porém sabemos e isto não resta dúvida de que muitas ciências assim como o Direito, Filosofia e política não se admite apenas uma interpretação sendo ciências passiveis de divergência de ideias e opiniões, de igual modo temos a teologia e a Bíblia Cristã que possui diferentes interpretações, uma evidencia é a quantidade de denominações cristãs existentes hoje no mundo, e muitas com ramificações, e juntas alcançam todo o globo tornando o Cristianismo uma das religiões de maior adesão no planeta.
Vale destacar que embora o alvo da religião e adoração cristã seja um Deus perfeito dotado de atributos únicos, o exercício desta religião, a pratica e aplicação são para e através de homens dotados de falhas, incoerências que pode trazer confusão e divergências ao mundo religioso cristão ou não.
Voltando ao tema da Guarda Sabática, assunto este controverso, não apenas na esfera religiosa, mas também no seio social e do direito. Digo no mundo religioso, pois é notável a presença da doutrina de um dia de guarda, é indiscutível no âmbito das religiões a consolidação de um dia de adoração, temos como as maiores e dominantes, digo no tocante a número e alcance de fieis, as religiões Abraâmicas sendo elas o Judaísmo, Cristianismo e o Islamismo.
Chamadas assim por descenderam de um ponto em comum, da pessoa de Abraão e apesar de que em certa altura divergirem notavelmente uma das outras em dogmas e doutrinas, existe aspectos em comum entre elas sendo o dia de guarda um destes, onde vemos o Judaísmo adepto ao Sábado como dia sagrado, o Islamismo resguardando a Sexta-Feira como repouso semanal religioso e Cristianismo que difere em grupos que aderem ao Domingo e outros ao Sábado como dia santo e solene.
Na esfera do direito o dia de guarda também tem discussões e aplicações concretas, basta atentarmos ao calendário e acharemos a permissão dos feriados religiosos que vão de encontro com a convicção religiosa de alguns e da mesma maneira vemos a atual Constituição Federal no artigo 7º, inciso XV garantir o “repouso semanal preferencialmente aos domingos”.[38: BRASL, Constituição Federal de 1.988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.html.>l]
Não queremos discutir aqui a norma ou tratado que faz menção aos feriados religiosos nacionais, porém tais institutos vão ao encontro dos dogmas dominantes em nosso país estabelecido pela Igreja Católica Apostólica Romana que traz em um de seus mandamentos: “Guardar Domingos e Festas”. [39: SANTA, La Sede. Site Oficial do