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1 O SISTEMA JURÍDICO CIVIL carvalho fernandes

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O sistema jurídico civil
 CONCEITO E ÂMBITO DO DIREITO CIVIL 
1. Noções prévias
I. A própria denominação desta disciplina jurídica situa o seu campo de investigação em matérias de ordem geral, comuns às diversas áreas do Direito Civil; mas outras razões apontam no mesmo sentido. 
Segundo uma orientação de há muito seguida, o curriculum de estudo corrente do Direito baseia o tratamento das matérias do Direito Civil numa sistematização clássica (como melhor se verá, oportunamente, é também esse o esquema que preside à sistematização do Código Civil), na base da qual se subdistinguem vários grupos de relações jurídicas civis, reguladas por normas que constituem outros tantos subramos de Direito: Direito das Obrigações, Direitos Reais ou Direito das Coisas, Direito da Família e Direito das Sucessões. 
Deste modo, à Teoria Geral do Direito Civil mais não devem caber que as questões de ordem geral, relevantes para os vários tipos de relações jurídicas civis. Por outras palavras, o seu estudo visa determinar e analisar os princípios e os regimes comuns e gerais, dominantes em todo o Direito Civil. 
Para ele poder se desenvolver com pleno conhecimento de causa, impõe-se começar por fixar o próprio conceito de Direito Civil. Mas, sendo este um dos ramos do Direito Privado, justifica-se tomar, ainda, posição na controvertida polémica do critério que há-de presidir à sua distinção do Direito Público. Naturalmente, ao abordar este tema, dá-se como conhecido o conceito de Direito, limitando-se, por isso, a exposição seguinte a algumas observações preliminares. 
II. Constitui dado tido geralmente como assente que o Homem vive desde longa data em sociedades mais ou menos complexas, sendo ainda hoje o Estado o seu tipo mais perfeito, sem prejuízo de existirem comunidades políticas mais extensas e complexas como a União Europeia. 
A vida nessas sociedades para se poder desenvolver com harmonia e ordem, está sujeita a regras a que todos devem obedecer. Essas regras determinam as condutas a observar pelas pessoas nas suas relações - daí a sua designação como normas de conduta, são de múltiplas ordens e impostas por diversos valores. Característica a todas comum é a de exprimirem uma ideia de dever ser e não de ser, ou seja, impõem comportamentos a adoptar; não exprimem relações de causalidade ou de necessidade. 
No conjunto dessas normas destacam-se aquelas que, prendendo-se com os interesses fundamentais da vida do grupo, visam assegurar entre os seus membros a realização, como valor fundamental, da justiça. Estas são as normas jurídicas as quais apresentam ainda, em relação às de outra índole _ as morais, as religiosas, as de convívio social, a particularidade de o seu cumprimento, quando não observado voluntariamente pelo destinatário, poder ser imposto pela força organizada do próprio Estado, nomeadamente pelos seus órgãos que são os tribunais. Essa susceptibilidade de aplicação da norma jurídica pela justiça diz-se coercibilidade.
O Direito pode assim definir-se como o conjunto de normas reguladoras da conduta social, segundo a justiça e assistidas de coercibilidade. 
O Direito não é porém, um simples somatório de normas: estas encontram-se subordinadas a princípios comuns, que a todos informam e ordenam, constituindo um sistema. Deste modo, no mesmo conjunto normativo não podem existir normas que estejam em conflito entre si. Tais conflitos, quando não sejam aparentes, isto é, quando não possam sanar-se por certos critérios de ordenação e hierarquização das normas jurídicas, implicam, em verdade, para um. das normas em causa, a perda dá sua qualidade jurídica e da possibilidade de se aplicar: já não é Direito. 
Para exprimir essa ideia de ordenação e sistematização dos conjuntos normativos fala-se em ordenamento ou sistema jurídico e também, por vezes, em ordem jurídica.

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