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Introdução ao Direito Administrativo E Regulatório

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INTRODUÇÃO AO DIREITO 
ADMINISTRATIVO E 
REGULATÓRIO
PROF. ME. CAIO EDUARDO COSTA CAZELATTO
Reitor: 
Prof. Me. Ricardo Benedito de 
Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica: 
Maria Albertina Ferreira do 
Nascimento
Diretoria EAD: 
Prof.a Dra. Gisele Caroline 
Novakowski
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Diagramação:
Alan Michel Bariani
Thiago Bruno Peraro
Revisão Textual:
Fernando Sachetti Bomfim
Marta Yumi Ando
Simone Barbosa
Produção Audiovisual:
Adriano Vieira Marques
Márcio Alexandre Júnior Lara
Osmar da Conceição Calisto
Gestão de Produção: 
Aliana de Araujo Camolez
© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
 Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo 
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
 Primeiramente, deixo uma frase de Só-
crates para reflexão: “a vida sem desafios não 
vale a pena ser vivida.”
 Cada um de nós tem uma grande res-
ponsabilidade sobre as escolhas que fazemos, 
e essas nos guiarão por toda a vida acadêmica 
e profissional, refletindo diretamente em nossa 
vida pessoal e em nossas relações com a socie-
dade. Hoje em dia, essa sociedade é exigente 
e busca por tecnologia, informação e conheci-
mento advindos de profissionais que possuam 
novas habilidades para liderança e sobrevivên-
cia no mercado de trabalho.
 De fato, a tecnologia e a comunicação 
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, 
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e 
nos proporcionando momentos inesquecíveis. 
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino 
a Distância, a proporcionar um ensino de quali-
dade, capaz de formar cidadãos integrantes de 
uma sociedade justa, preparados para o mer-
cado de trabalho, como planejadores e líderes 
atuantes.
 Que esta nova caminhada lhes traga 
muita experiência, conhecimento e sucesso. 
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR
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UNIDADE
01
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................................................5
1. O DIREITO E SUAS CONCEPÇÕES ........................................................................................................................6
1.1 A INTERAÇÃO ENTRE A JUSTIÇA E O DIREITO ..................................................................................................7
1.2 DIREITO ENQUANTO UM FENÔMENO SOCIAL ................................................................................................ 11
1.3 A CIENTIFICIDADE DO DIREITO .........................................................................................................................14
2. FONTES QUE ORIGINAM O DIREITO ................................................................................................................... 17
2.1 FONTES FORMAIS ESCRITAS ............................................................................................................................18
2.1.1 LEI EM SENTIDO LATO (SENTIDO AMPLO)....................................................................................................18
2.1.2 JURISPRUDÊNCIA ...........................................................................................................................................19
2.1.3 DOUTRINA ....................................................................................................................................................... 20
2.2 FONTES FORMAIS NÃO ESCRITAS ................................................................................................................. 20
NOÇÕES GERAIS DO DIREITO
PROF. ME. CAIO EDUARDO COSTA CAZELATTO
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
INTRODUÇÃO AO DIREITO ADMINISTRATIVO E
REGULATÓRIO
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2.2.1 COSTUMES JURÍDICOS ................................................................................................................................. 20
2.2.2 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO .................................................................................................................22
2.2.3 FONTE NEGOCIAL OU AUTONOMIA DA VONTADE .......................................................................................22
CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................................................................23
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
INTRODUÇÃO
Caro(a) acadêmico(a), daremos início ao estudo desta primeira unidade explorando as 
noções gerais que permeiam o Direito. Esta será uma importante oportunidade para você se 
familiarizar com os principais termos, conceitos, fundamentos e características que estruturam 
essa instigante e essencial área do conhecimento.
Como pro� ssional da gestão pública, certamente seu dia a dia estará repleto de 
circunstâncias que envolvem o Direito e a devida aplicação das regras jurídicas. Em razão disso, 
inquestionável é a necessidade de nos capacitarmos ao enfrentamento contra o desrespeito e a 
violação de nossos direitos e dos direitos alheios, bem como ao devido cumprimento de nossos 
deveres, tanto como pro� ssionais quanto como cidadãos. 
Ainda que este novo mundo se revele um tanto abstrato em um primeiro contato, a base 
teórica que se proporcionará a você será su� ciente para estimular sua re� exão crítica perante 
muitos temas que estão em evidência no meio social, principalmente diante do fato de que as leis 
costumam ser verdadeiros re� exos da moral e dos valores de um determinado povo ou nação.
Para tanto, veri� caremos que é possível atribuir inúmeros entendimentos à expressão 
“direito”. O primeiro deles será a aproximação do Direito como Justiça, oportunidade em que 
analisaremos algumas teorias que explicam esse tema. Mais adiante, investigaremos o Direito 
como um fato social, já que é das relações sociais e de suas demandas que o mundo jurídico se 
fundamenta e se origina. Além disso, abordaremos a cienti� cidade do Direito e as inquietações 
acerca de sua caracterização ou não como uma ciência. Estudaremos, também, o Direito como 
sinônimo de norma jurídica e seus efeitos perante nossa vivência em sociedade.
Ademais, poderemos perceber que, assim como qualquer outra ciência, o Direito possui 
determinadas fontes que o originam. Oportunamente, adentraremos na classi� cação das origens 
da ciência jurídica, delimitando as fontes formais escritas e as fontes formais não escritas. 
Buscaremos identi� car o que produz o Direito e o que é mero fato social sem relevância jurídica.
O Direito, como veremos, não se preocupa em analisar a sociedade apenas como ela “é”, 
mas como ela “deve ser”. De fato, muito do nosso mundo fático está, de certa forma, distante do 
que determinam e ensejam as leis do nosso País, motivo pelo qual, você, gestor(a) público(a), 
poderá adquirir, a partir do conhecimento aqui adquirido, meios para diminuir as desigualdades 
e mazelas sociais. 
Bons estudos!
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1. O DIREITO E SUAS CONCEPÇÕES
 O Direito faz parte de uma das áreas do conhecimento humano cujo objetivo é � rmar 
normas e condutas na sociedade, podendo, ainda, impor penalidade e sanções àqueles que 
desacatam tais mandamentos. Em outras palavras, o Direito busca trazer harmonia para dentro 
das relações sociais, sejam elas pessoais, entre consumidor e fornecedor, sejam entre empregado 
e empregador. 
De forma geral, entende-se que o Direito compreende o conjunto de leis e de normas 
mandamentais de caráter obrigatório. A necessidade da criação dessas normativas advém da 
existência de uma pluralidade e diversidade de pensamentos e condutas, sendo que o Direito 
surge com o � m de harmonizar as relações, porque “[...] nenhuma sociedade poderia subsistir 
sem um mínimo de ordem, de direção e solidariedade”(REALE, 2002).
 Ao questionarmos sobre o signi� cado da palavra “direito”, podemos dizer que, sem dúvida, 
cada sujeito daria uma resposta distinta à indagação. E isso ocorre, porque o entendimento do que 
é “direito” admite uma multiplicidade de acepções, destacando-se cinco fundamentais (Figura 1) 
(ASSIS et al., 2012). 
Figura 1 – Concepções do Direito. Fonte: O autor.
São elas:
a) Direito como regra ou norma a ser seguida.
b) Direito como faculdade e possibilidade diante da ideia de que todos temos direitos 
e prerrogativas.
c) Direito como ciência que se ocupa de investigar a atividade exercida por toda a área 
jurídica e por seus operadores, sobretudo pelo Poder Judiciário.
d) Direito como fato social a ser estudado pela Sociologia como fenômeno cultural e 
coletivo.
e) Direito como ideal de justiça, valor axiológico que permite ao indivíduo receber o que 
lhe é devido, o que lhe é de direito. 
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Ocorre que, apesar de haver respostas diversas para o conceito de direito, não há uma que 
seja correta e outras que sejam erradas. Na verdade, o que há é um signi� cado mais adequado 
para a sua acepção, a depender do contexto em que a palavra é utilizada. 
No tópico seguinte, iniciaremos o estudo do Direito como justiça, trazendo abordagens 
e conceitos � losó� cos daquilo que podemos considerar como justo ou não. Justiça essa que deve 
buscar bene� ciar a coletividade, sem anular a individualidade dos sujeitos da comunidade. 
1.1 A Interação entre a Justiça e o Direito
A de� nição de justiça não é tarefa fácil. A tentativa de encontrar um conceito universal 
tem ocasionado grandes discussões entre � lósofos e juristas, principalmente, porque tal conceito 
é subjetivo e está relacionado aos valores individuais e à moral de cada grupo social. Assim, há 
uma relativização do que é justo na medida em que o que é justo para alguns pode ser injusto para 
outros; a� nal, as experiências de vida, individuais ou coletivas, são distintas.
Figura 2 – Deusa Themis. Fonte: Pinterest (2020).
Themis ou Têmis, conhecida também como a Deusa da Justiça, integra a mito-
logia grega, simbolizando o justo em seu sentido moral, baseado na verdade, na 
equidade e na humanidade. É representada pelos olhos vedados, com uma ba-
lança na mão e com uma espada na outra. A venda nos olhos denota a impar-
cialidade com que a justiça deve ser conduzida; a balança aponta o equilíbrio e a 
ponderação no momento de pesar, lado a lado, os argumentos contra e a favor dos 
acusados; já a espada caracteriza a imperatividade da lei, no sentido de que todos 
devem cumpri-la e respeitá-la.
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Apesar de não ser o objetivo deste estudo estabelecer uma de� nição consensual sobre o que 
é justiça, é importante tecermos noções básicas sobre o termo uma vez que ele está interligado ao 
Direito. Para isso, neste tópico, você conhecerá algumas das principais conceituações e correntes 
de pensamentos que intentam de� nir o que é justiça. 
Para Platão, a ideia de justiça se relaciona, basicamente, ao controle dos impulsos 
passionais e ao domínio pleno da razão. O � losofo acreditava que a razão é a parte superior da 
alma e, como consequência, a sociedade só seria justa quando as classes abrissem mão dos seus 
desejos (suas paixões) e usassem unicamente o intelecto (a razão). A racionalidade controlando 
os impulsos humanos em equilíbrio é, portanto, o fundamento da justiça platônica (PLATÃO, 
2000).
Para o � lósofo Aristóteles, justiça é dar a cada um aquilo que é seu, isto é, dar às pessoas 
o que elas merecem por direito. Essa � loso� a tem como princípio a ideia de que o justo é aquele 
que respeita as leis e a igualdade, e o injusto é aquele que viola as leis e desrespeita a igualdade. 
Dessa forma, a � loso� a aristotélica revela que a justiça é a virtude mais completa e perfeita 
(ARISTÓTELES, 2015). 
A busca � losó� ca pelo entendimento do que é justiça também perturbou outros 
pensadores, como Jeremy Benthan e Stuart Mill, que fazem parte da corrente � losó� ca 
denominada Utilitarismo. Essa corrente defende que as posturas mais justas são aquelas que 
visam a promover maior possibilidade de prazer e felicidade aos cidadãos, levando-se sempre em 
consideração o bem-estar da coletividade.
Dessa forma, os utilitaristas realizam uma análise quantitativa entre custo e benefício 
das decisões a serem feitas a � m de maximizar o bem-estar coletivo, sendo a escolha mais justa 
aquela que trouxer mais benefícios pelo menor custo. Para o Utilitarismo, o sofrimento causado a 
uma minoria é indiferente, pois o que realmente importa para um indivíduo justo é proporcionar 
felicidade e bem-estar ao maior número de pessoas.
A concepção da corrente utilitarista, segundo a qual o interesse coletivo deve se sobrepor 
ao individual em nome da máxima felicidade pelo menor custo, pode ocasionar sérias implicações 
éticas e jurídicas. Isso ocorre, porque o sujeito só terá importância quando incorporado e analisado 
em algum grupo de in� uência, tendo, portanto, sua individualidade e subjetividade suprimidas. 
Para explicar a ótica utilitarista, imagine que alguns mineradores � quem presos, durante 
dias e sem alimento, em uma caverna em razão de um desmoronamento. Segundo a visão 
utilitarista, para que a maior parte deles consiga sobreviver até que o socorro chegue – o que pode 
levar dias –, seria justo que uma ou mais pessoas fossem sacri� cadas para alimentar os demais, 
possibilitando, assim, a sobrevivência da maioria.
Em razão disso, a corrente utilitarista demonstra não possuir aplicação em ambientes 
democráticos vez que, ao buscar bene� ciar o maior número de pessoas, acaba não contemplando 
os direitos de grupos minoritários que foram marginalizados e discriminados pelos grupos 
dominantes. No nosso País, por exemplo, a Constituição Federal de 1988 determina que todos 
possuem direitos e garantias fundamentais a serem protegidos, independentemente das opiniões 
e da valoração da maioria. Portanto, diante dessa disposição, a lógica utilitarista acaba não sendo 
e� caz. 
Em contraposição ao Utilitarismo, tem-se a corrente do Libertarismo, que sustenta que 
todos têm direito à liberdade, sendo todo indivíduo dono de si mesmo, independentemente da 
coletividade. Logo, ninguém precisaria se sacri� car pela coletividade em nome da justiça, pois 
o justo é aquilo que não ofende a liberdade e a dignidade humana mesmo que individualmente. 
Ademais, é cabível pontuar que não se trata de uma liberdade ilimitada, que se confundiria com 
ideais do anarquismo, mas sim de uma liberdade que não prejudique ou viole a liberdade alheia.
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Para os defensores dos ideais libertários, valoriza-se a autonomia da vontade, o 
consentimento. Sob essa concepção, seria plenamente justo alguém doar todos os seus bens 
materiais a uma instituição de caridade mesmo que isso ocasionasse sua miséria; a� nal, seria 
justo que se utilizasse da liberdade da forma como se achasse conveniente.
No artigo 5º, da Constituição Federal de 1988, são descritos diversos direitos que devem 
ser considerados invioláveis perante os brasileiros e estrangeiros no País. Dentre eles, encontra-se 
a inviolabilidade do direito à liberdade. Contudo, esse direito não é absoluto vez que a liberdade 
não pode ser utilizada para justi� car abusos, contrariar a lei ou para ofender a integridade de 
terceiros. 
Em hipótese alguma, a ideia libertária deve ser utilizada como argumento para transgredir 
a dignidade da pessoa humana, que é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, 
previsto no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal (doravante,CF) de 1988. 
Em outras palavras, ninguém pode se utilizar do direito à liberdade como justi� cativa 
para atacar os direitos de outros indivíduos, pois o direito de um cidadão termina onde começa 
o direito de outro. Portanto, todos nós temos a liberdade de expressarmos nossas opiniões, 
liberdade para exercer atividade laboral ou liberdade para protestar contra autoridades ou contra 
violações de direitos desde que esses direitos sejam exercidos dentro dos ditames da lei. 
Foi durante o século XX, com o � lósofo John Rawls, que as ideias de liberdade e moralidade 
conversaram de forma admirável com o desenvolvimento da corrente � losó� ca conhecida como 
Liberalismo Igualitário. Nela, defendia-se que o ideal de justiça poderia ser concretizado por 
meio da distribuição igualitária de oportunidades, de riqueza e de ingresso dos indivíduos nas 
instituições. 
Figura 3 – Teorias da Justiça. Fonte: O autor.
John Rawls identi� cou que a desigualdade social existente em sua época decorria da 
desigualdade de oportunidades entre as pessoas, o que impedia que elas conseguissem, de fato, 
sair de suas condições precárias/desiguais. Como uma reação em cadeia, esse descompasso de 
oportunidades dentro das mais básicas e primordiais instituições sociais se projetava por toda a 
vida dos sujeitos, justi� cando a desigualdade de riquezas e valores em determinado meio social 
(RAWLS, 2000). 
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Rawls, apesar de suas considerações sobre a desigualdade social, não defendia salários 
igualitários ou uma redistribuição das riquezas, mas, sim, uma reorganização das estruturas 
básicas da sociedade. Para ele, o real problema da desigualdade social está na forma com que 
ela ocorre em coletividade, pois alcançar a igualdade absoluta é tarefa impossível tendo em 
vista a pluralidade humana. O � lósofo concebe que a busca do mais justo deve ir ao encontro 
da extinção das desigualdades de oportunidades, pois tal sempre existirá em decorrência das 
aptidões naturais de cada sujeito. 
Sob a ótica de Rawls, podemos veri� car que, se todos os indivíduos partissem das mesmas 
possibilidades, sobretudo no tocante à educação e às perspectivas de inserção no mercado de 
trabalho, eles iriam se sobressair uns aos outros por seus próprios méritos. A teoria rawlsiana é, 
sem dúvida, párea à ideia de meritocracia já que ela tem por pressuposto que, se todos possuíssem 
chances iguais, em uma espécie de “concorrência justa”, a desigualdade seria justi� cável pelos 
talentos naturais do sujeito que ascendeu, bem como pela ausência de aptidão daquele que 
estagnou ou retrocedeu (RAWLS, 2000). 
Rawls desenvolve a ideia do “véu da ignorância”, que seria uma espécie de barreira 
identitária que não permite ao sujeito saber quais papeis ocupa ou ocupará na sociedade. Somente 
por meio desse véu é que seria possível criar princípios devidamente justos uma vez que não se 
saberia qual grupo seria bene� ciado ou prejudicado por eles, restando apenas buscar elaborar 
os melhores princípios possíveis. Para além do véu, você não saberia se seria bene� ciado ou 
desfavorecido. Utilizando o véu, haveria justiça, pois não se teria conhecimento se o sujeito seria 
afetado por suas próprias más decisões (RAWLS, 2000).
Atualmente, podemos a� rmar que a justiça é compreendida por todos os estudos que 
abarcam a alteridade, a exigibilidade e a igualdade. Isso, pois, a partir da análise das � loso� as do 
justo criadas no percurso histórico, os estudiosos contemporâneos puderam extrair um conceito 
que poderia ser o da justiça. Dessa forma, compreende-se que a justiça preza pela igualdade entre 
os cidadãos de determinado grupo, devendo as relações entre eles ser de respeito mútuo e de 
consciência das leis que lhes são impostas. É um ideal de interação social, regido por um equilíbrio 
razoável e imparcial entre os desejos ou interesses particulares, riquezas e oportunidades.
Figura 4 – Elementos da Justiça. Fonte: O autor.
A alteridade diz respeito à compreensão de que, ao vivermos em sociedade, estamos 
lidando com a existência de outras pessoas, as quais estão em constante relação com muitas 
outras. É o ato de se colocar no lugar do outro. Por sua vez, exigibilidade é a de� nição do justo 
conforme as prescrições legais e da moral social. É o agir dentro da lei e não fora da legalidade, 
bem como o direito de cada um exigir o direito que é seu. Por sua vez, a justiça como igualdade 
corresponde ao princípio de que os seres humanos são iguais perante a lei, devendo ser todos 
tratados com dignidade.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Por meio da exposição das principais teorias que nos auxiliam a compreender a justiça, 
tenha em mente que Justiça é um conceito que comporta inúmeras de� nições, mas que todas, de 
uma forma ou de outra, in� uenciam a elaboração das leis e os fundamentos do Direito, sendo que 
o justo sempre dependerá dos contextos social e histórico em que se está inserido.
1.2 Direito enquanto um Fenômeno Social
Como você veri� cou no início da unidade, o conceito de Direito pode assumir diversos 
sentidos. Se no tópico anterior enfatizou-se sua relação com a Justiça, neste, aprofundar-se-á em 
seu conceito como um fenômeno social. 
Diz-se que o Direito é mecanismo paci� cador e harmonizador do corpo social vez que 
ele disciplina as condutas que são ou não aceitas mediante a criação de leis. Não existiria Direito 
se não existisse uma sociedade para ditar regras; isso porque onde está a sociedade, está o Direito 
(ubi societas, ibi jus).
Pode-se compreender a sociedade como um conglomerado de sujeitos que, por conta da 
existência de interesses em comum, mantêm relações entre si de forma organizada para alcançar 
seus objetivos. Diante dessas relações, ocorre o desenvolvimento cultural e dos valores que 
norteiam a vida em grupo, o que, porém, ocasiona um contraste nas diferenças individuais dos 
sujeitos que compõem a sociedade. 
Portanto, apesar de os indivíduos se agruparem por conta da conveniência, suas diferenças 
pessoais acabam causando uma série de con� itos de modo que o Direito surge como � gura de 
suas mediações a � m de impedir a discórdia, intolerância, má-fé, desarmonia e injustiça. 
Fonte: Amazon (2019).
Indicamos a leitura, na íntegra, do item 5.1, intitulado Respeito ao próximo (igual-
dade), do capítulo 5, da obra Curso de Direitos Fundamentais, de George Marmels-
tein. No item, o autor aborda a conceituação, a classifi cação e diversos casos con-
cretos que permeiam o direito à igualdade, não somente em seu sentido formal, 
mas sobretudo material. A referência completa da obra é:
MARMELSTEIN, G. Curso de Direitos Fundamentais. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Ainda que cada indivíduo seja diferente do outro, podemos encontrar na CF diversas 
passagens sobre o direito à igualdade, previsto no artigo 5º, caput, que estabelece que todos 
os indivíduos são iguais perante a lei. Ao prescrever que todos são iguais perante a lei, o texto 
constitucional não teve por � nalidade anular as individualidades, mas, sim, vedar que as pessoas 
sofram tratamentos discriminatórios (negativos) ou que sejam desrespeitadas em seus direitos. 
Trata-se do cumprimento de um dos objetivos da República Federativa do Brasil, o de 
promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras 
formas de discriminação, conforme o artigo 3º, inciso IV, da CF. 
Durante a história, diversos pensadores tentaram desvendar os porquês de o ser humano 
se associar para viver em comunidade. Aristóteles, por exemplo, fundamentou no sentido de 
que essa característica social é natural à nossaessência de forma que só seria possível viver 
isolado se se carecesse de sanidade ou se estivesse em estado de santidade. Assim, para o � lósofo, 
que é considerado o pai da Teoria Naturalista, o ser humano é denominado de animal social 
(ARISTÓTELES, 1997). 
Para São Tomás de Aquino, teórico católico do século XIII, uma vida fora da sociedade 
só seria possível se o indivíduo conseguisse viver em plena comunhão com Deus ou se, tal como 
defendia Aristóteles, possuísse insanidade ou anomalia mental (MASCARO, 2018). 
Por outro lado, para os adeptos da Teoria Contratualista, os indivíduos teriam entrado em 
consenso para possibilitar que todos vivessem em harmonia, podendo cada indivíduo satisfazer 
suas vontades e, ainda, agregar vantagens por viver em comunidade. Portanto, a vida em sociedade 
seria decorrência de um contrato � rmado entre as vontades para adquirir vantagens (NODARI, 
2014).
Como pensadores contratualistas mais discutidos e estudados, podemos citar � omas 
Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau. Para eles, o ser humano não seria necessariamente 
um ser social por natureza. A vida em grupo seria resultado da própria escolha dos indivíduos, 
ou seja, de um consenso, e não uma tendência natural da humanidade (NODARI, 2014). 
Atentemo-nos, primeiramente, a � omas Hobbes, conhecido por ser o autor da máxima 
“o homem é o lobo do homem”. Ele defendia que o ser humano possuía predisposição à vida 
desordenada, dominada pelo instinto animal e pelo con� ito; por isso, assemelhar-se-ia a um 
lobo. Sendo assim, como forma de suprir essa natureza con� itante, Hobbes chega à conclusão 
de que os sujeitos necessitam celebrar entre si um contrato social para possibilitar uma vida 
em harmonia. Para tanto, todos teriam de con� ar seus direitos ao Estado, chamado de Leviatã 
(HOBBES, 2014). 
Podemos a� rmar que, para Hobbes, a celebração de um contrato social é essencial para 
evitar o acontecimento de guerras, especialmente aquelas decorrentes da busca humana por 
satisfazer seus próprios desejos. Especi� camente, a administração e a regulamentação da vida 
em sociedade seriam feitas por intermédio do Estado e suas instituições vez que, quanto mais 
um governo fosse forte em executar suas regras e a� rmar seus valores, mais difícil seria para o 
indivíduo sucumbir na desordem. A � loso� a hobbesiana, entretanto, foi utilizada como alicerce 
para justi� car regimes totalitários e absolutistas, sobretudo pela crença de que a � gura do Estado 
(Leviatã) seria representada como um ente supremo, garantidor da harmonia (MASCARO, 2018).
Diferentemente de � omas Hobbes, John Locke deu maior enfoque não à natureza do 
ser humano a partir de conceitos como a bondade ou a maldade natural. Locke, na verdade, 
acreditava que o ser humano em estado primitivo (ou seja, aquele que se encontra em uma 
realidade em que inexiste sociedade estruturada) estaria indefeso e desprotegido. Dessa forma, 
a escolha por compactuar um contrato se justi� caria pela necessidade de os sujeitos terem 
seus direitos respeitados, sendo que o autor aborda principalmente os direitos à liberdade e à 
propriedade (GRANADO, 2018). 
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Foi por meio dos ideais de John Locke que se centralizaram muitos dos entendimentos 
do Liberalismo como refutação às teses absolutistas da época. Por ter sido um pensador que 
abordava a importância da propriedade privada para uma vida digna aos indivíduos, Locke se 
posicionava contra os princípios de um Estado totalitário. Isso pois, para que a propriedade 
privada fosse, de fato, protegida, necessária seria a implementação da não intervenção estatal, 
promovendo a liberdade do cidadão (MASCARO, 2018). 
Jean-Jacques Rousseau, por sua vez, retoma os estudos acerca da essência da natureza 
humana. O teórico é referência da Revolução Francesa, entendendo que os indivíduos seriam 
naturalmente bons, e que a existência do contrato social seria decorrente da simples vontade 
individual de bene� ciar o interesse coletivo por meio de ajudas mutuas. Porém, como explicar as 
atrocidades cometidas pelos indivíduos que cometem crimes hediondos se, para o � lósofo, o ser 
humano é naturalmente bom? 
Para ele, o ser humano é corrompido pela vida em sociedade, ou seja, Rousseau não 
percebia vantagens na celebração do contrato social. A escolha por se associar, portanto, era 
encarada como o motivo para a existência das desigualdades e de todos os outros problemas 
vivenciados em sociedade – o que não necessariamente signi� ca que a solução seria abrirmos 
mão da nossa sociabilidade. Na verdade, o � lósofo acreditava que, em decorrência da bondade 
natural do nosso ser, é inevitável que formemos grupos de ajuda mútua (GRANADO, 2018). 
Diante de todos esses pensadores, que exploraram a natureza do ser humano e da 
sua motivação em viver em sociedade, é possível perceber que, em qualquer das � loso� as 
contratualistas, é comum a formação da sociedade como forma de associação dos indivíduos para 
atingir determinados � ns. Em todas elas, apesar das diferenças, conclui-se pela impossibilidade da 
existência de vida humana harmônica fora dos parâmetros de uma comunidade ou agrupamento. 
Por óbvio, a vida em sociedade não é fácil uma vez que temos de constantemente adequar 
nossos hábitos aos ambientes que frequentamos e às pessoas com quem nos relacionamos. 
Similarmente, nossas ações estão sempre in� uenciando algo em nosso exterior. Essas interações 
em sociedade são o que coopera para o surgimento da cultura, que é composta pelo conjunto de 
ações, crenças, regras, valores, costumes e maneiras de encarar e pensar as coisas ao nosso redor. 
Cultura pode ser entendida como todo o resultado da atividade humana. Nesse sentido, 
o Direito é concebido como fruto da cultura, pois é resultado da criação humana. Como descreve 
Nader (2013), a sociedade é composta pelos fatos sociais, econômicos, jurídicos, artísticos e 
religiosos, que in� uenciam no processo de criação, modi� cação ou extinção de direitos e das 
relações jurídicas. 
Como nosso estudo trata de noções de Direito, é essencial sabermos que os fatos jurídicos 
são eventos sociais que causam efeitos na ordem jurídica, ou seja, na esfera do aglomerado de 
normas e princípios que regem um país. Como exemplos de fatos sociais que interferem no 
mundo jurídico, podemos citar o nascimento, a maioridade, o casamento, o divórcio, o óbito etc. 
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1.3 A Cientificidade do Direito
A partir de agora, estudaremos a conceituação do Direito como ciência, como área 
do conhecimento humano. A ciência pode ser entendida como o conjunto de conhecimentos 
sistematizados a partir de diversos métodos que servem de meio para análise e observação. 
É por intermédio da ciência que são criados enunciados apropriados a respeito da 
existência de coisas ou de fatos no passado, no presente e no futuro a � m de que tal conhecimento 
possa ser transmitido para além do cientista e compartilhado com toda a comunidade.
 Por meio de seus métodos, a ciência busca sempre alcançar assertivas que possam ser 
veri� cáveis e demonstráveis, visando a comprovar algo que já existiu, existe e existirá. Para Reale 
(2002), o objetivo da ciência consiste na veri� cação de episódios e de um conjunto de ideias. 
No ramo das Ciências Naturais (que abarca o campo da biologia, física, astronomia, 
química etc.), o objetivo de uma pesquisa cienti� ca é comprovar as hipóteses suscitadas pelos 
pesquisadores. Para isso, é necessário e imprescindível que o cientista delimite seu objeto de 
estudo e estipule seus métodos, os quais servirão como ferramentas para avaliar as hipóteses 
mediante testes e experiências. 
A ciência jurídica, por sua vez, é uma das áreas das ciências humanas que tem por pilaresde sua fundamentação a interpretação, a valoração de interesses e a persuasão. Por conseguinte, 
o Direito se opõe às ciências naturais por não admitir verdades universais, imutáveis ou 
inquestionáveis. 
Fonte: Café Com Filme (2020).
Acerca do embate entre o justo e o injusto, indicamos o fi lme Uma prova de amor 
ou My Sister’s Keeper, de 2009, com direção de Nick Cassavetes. Ao assistir ao 
fi lme, você poderá refl etir e explorar as teorias de justiça que abordamos neste 
tópico. Resumidamente, o fi lme explora a vida de Anna Fitzgerald, que foi pre-
viamente concebida com o principal objetivo de ajudar no tratamento médico de 
sua irmã mais velha, portadora de leucemia. Com o tempo e com as recorrentes 
intervenções médicas em seu corpo, Anna questiona a autonomia sobre si mes-
ma, levando seus genitores a um processo judicial para lutar pelo que é justo sob 
o ponto de vista dela.
Fonte: Café Com Filme (2020).
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Nos campos da biologia, química e física, os experimentos são feitos tendo a imparcialidade 
como princípio. D urante um experimento, o pesquisador não poderá atribuir juízos de valor ao 
seu estudo uma vez que ele deve exclusivamente tornar perceptíveis e comprovados os fatos ou 
existências que busca comprovar ou compreender.
No Direito, em especí� co, a defesa de uma tese depende grandemente do domínio da 
comunicação e da linguagem do cientista visto que, muitas vezes, em um con� ito, o melhor 
direito é aquele que é mais bem argumentado, defendido e comprovado como válido ou como 
merecedor de proteção. 
Na ciência jurídica, não há uma fórmula a ser utilizada para resolver os con� itos ou para 
ganhar uma causa. Logo, quem tiver a melhor capacidade argumentativa se sobressairá e de� nirá 
a solução para o caso analisado. Sendo assim, de nada adianta alguém reclamar que seus direitos 
foram violados se essa agressão não estiver prevista como ilegal ou se sua ocorrência carecer de 
comprovação. 
Diante da maleabilidade da verdade, ou seja, da impossibilidade de alcançar verdades 
universais dentro do Direito, é comum observá-lo como algo de demasiada relativização e, 
por decorrência, uma ciência cheia de incertezas e inseguranças. Nesse sentido, quando a 
argumentação jurídica é feita a partir de pressupostos ou princípios errôneos, as valorações 
ideológicas incidentes nos argumentos farão a defesa de resultados completamente injustos. 
Exemplo disso são as atrocidades que ocorreram na Alemanha durante o regime nazista e em 
outros países da Europa no século XX. Todos os atos de genocídio e discriminação da época 
foram praticados na legalidade vez que estavam sob proteção de um direito criado a partir da 
manipulação das instituições, isto é, havia uma letra de lei permitindo tais condutas.
Hoje, com o maior esclarecimento e progresso das ciências humanas, � rmaram-se 
princípios fundamentais que nos tornaram capazes de repudiar erros históricos cometidos à 
época citada. No mundo moderno, em virtude dos preceitos constitucionais, é vedada a utilização 
de ideologias que intentam a dominação de um povo ou grupo, bem como a sua discriminação. 
Dessa forma, busca-se preservar a dignidade de todas as pessoas, independentemente de classe, 
sexo, gênero, orientação afetivo-sexual, identidade de gênero, religião, etnia, cor etc.
O Direito, por não ser uma ciência que busca apenas descrever ocorrências, está de frente 
para o comportamento humano e busca analisá-lo para de� nir quais condutas são moralmente 
aceitas e corretas em sociedade. Após a identi� cação das condutas contrárias à normalidade, 
impor-se-ão sanções e penas àqueles que as praticarem. Para longe das ciências naturais, o 
Direito não busca somente levar informações às pessoas, mas sim in� uenciar e moldar suas ações 
de forma persuasiva para tentar maximizar um convívio harmônico em sociedade. Dito isso, 
enquanto as Ciências Naturais se preocupam com aquilo que “é”, o Direito estuda como “deve 
ser” (DINIZ, 2019). 
O objeto de estudo do Direito são as normas e sua aplicação no tempo e no espaço. A 
aplicação dessas normas é feita por método analítico, ou seja, por meio do estudo minucioso 
das situações a serem resolvidas juridicamente. Depois dessa análise, a fundamentação do 
porquê determinada norma se aplica ao caso concreto será realizada por meio de argumentações 
dedutivas ou indutivas. 
Sendo a ciência a área do saber teórico e sendo a técnica a área do saber adquirido 
mediante prática, a ciência do Direito é oriunda do saber teórico advindo das legislações, 
doutrinas, jurisprudência etc. (conceitos que serão estudados mais à frente), enquanto a técnica 
jurídica é representada pelo domínio dos meios que garantem a efetividade da aplicação das 
normas jurídicas (NADER, 2013). 
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O Direito é considerado uma ciência autônoma, no sentido de que existe por si só. 
Entretanto, isso não signi� ca que as outras ciências não inter� ram na criação e implementação 
da ciência jurídica. Por exemplo, a sociologia, política, economia, história, geogra� a, medicina 
e a psicologia possibilitam que as normas jurídicas representem a realidade concreta da forma 
mais cabível, pois essas matérias fornecem os conhecimentos especí� cos necessários para que o 
Direito possa transformá-las em normativas. 
Assim como a biologia possui seus ramos de estudo (como botânica, micologia, 
embriologia etc.), a Ciência do Direito também possui seus ramos ou divisões. O Direito, no 
geral, é dividido em ramos e disciplinas. Os dois grandes ramos do Direito são o Direito Público 
e o Direito Privado.
Figura 5 – O Público e o Privado. Fonte: Bernhardt (2018).
O Direito Público é o ramo competente pelas normas de natureza pública, que 
regulamentem a organização, a estrutura e o exercício do Estado, bem como as relações entre os 
indivíduos e as organizações públicas.
Exempli� cativamente, fazem parte do Direito Público as seguintes disciplinas:
• Direito Constitucional: aborda a organização e a estrutura estatal, além de dispor sobre 
os direitos fundamentais dos cidadãos. Também estabelece os princípios jurídicos básicos 
da nação e organiza as instituições responsáveis pela ordem política, jurídica e social. 
• Direito Administrativo: trata de princípios e regras correlatas à administração pública, 
abrangendo todas as funções exercidas por entes, órgãos e agentes da Administração 
Pública direta e indireta e do Poder Executivo.
• Direito Penal: descreve e regula o poder punitivo criminal do Estado, determinando 
condutas que são consideradas ilícitas e reprováveis, bem como atribuindo as devidas 
sanções aos agentes.
• Direito Internacional Público: disciplina as relações existentes entre o Estado e as 
demais nações.
• Direito Processual: estuda a aplicação das normas dentro dos casos concretos por 
meio de procedimentos especí� cos. É o meio e o instrumento de realização da atividade 
jurisdicional. 
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O Direito Privado, por seu turno, é o ramo que busca assegurar a satisfação dos interesses 
entre particulares, podendo o Estado � gurar ou não nessas relações. É composto por disciplinas 
que estudam as relações jurídicas entre pessoas ou empresas ou entre particulares e o Estado 
quando este não estiver exercendo suas funções de Poder Estatal. Neste último caso, aplicam-se 
as normas de Direito Privado para colocar o Estado em condição de igualdade com os cidadãos. 
São exemplos de disciplinas vinculadas ao Direito Privado:
• Direito Civil: disciplina os direitos e deveres decorrentes da relação patrimonial existente 
entre as pessoas e seus bens, bem como disciplina asrelações interpessoais que geram os 
negócios e as obrigações. Abrange, também, o estudo das famílias e das sucessões.
• Direito do Trabalho: aborda a relação entre empregado e empregador, advinda das 
relações de trabalho. 
Essa divisão feita entre Direito Público e Direito Privado é atualmente questionável, 
havendo diversas discussões controversas a respeito da natureza pública ou privada das disciplinas 
estudadas na área jurídica. E isso ocorre, porque a evolução social gera um descompasso nessa 
divisão uma vez que surgiram diversas outras disciplinas peculiares que tornam muito singela 
a diferença entre público e privado. Como exemplo, citem-se o Direito do Consumidor, o 
Direito Econômico, o Direito Ambiental, o Direito Urbanístico e tantas outras disciplinas que se 
enquadram tanto nas de� nições de Direito Público como nas de Direito Privado.
2. FONTES QUE ORIGINAM O DIREITO
Neste tópico, estudaremos as fontes do Direito e suas classi� cações. A palavra “fonte” 
signi� ca “lugar onde começa” ou “origem”, produzindo, ainda, uma metáfora com um interessante 
grau de exatidão, tendo em vista que a palavra remete à ideia de rio, especi� camente, ao local da 
terra donde suas águas saem. De igual forma, questionar a fonte de uma norma jurídica é buscar 
“onde” e “como” determinado fato social ganha relevância para ocupar espaço no mundo do 
Direito.
Sob essa perspectiva, Montoro (2013) aborda um signi� cado metafórico para o vocábulo 
“fonte” vez que tal palavra advém do Latim fons, que signi� ca “nascente” ou local de surgimento 
das águas; portanto, fonte do Direito designa a origem dessa ciência. 
Figura 6 – Nascente. Fonte: Siebeneichler (2017).
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 Acerca das classi� cações das fontes do Direito, tem-se a divisão entre fontes materiais 
e fontes formais. Como veri� cado no tópico anterior, acontecimentos na esfera social, 
compreendidos como fatos sociais, podem se projetar sobre o âmbito jurídico, estimulando a 
produção legislativa, doutrinária ou de decisões judiciais em determinado sentido. 
Figura 7 – Fontes do Direito. Fonte: O autor.
Quando o Direito surge face a fatos sociais que carecem de regulamentação, está-se 
diante de uma fonte material do Direito, ou seja, a fonte realística que diretamente demonstra 
os acontecimentos da vida para além das normas abstratas. São relativas às circunstâncias de fato 
que determinam o surgimento material de uma regra legal, como a situação política, econômica 
e social, a pobreza, o desemprego e o agravamento do crime.
Fontes materiais são quaisquer elementos que, direta ou indiretamente, consentem 
ou estão na origem do Direito. Essas fontes são de natureza jurídica legal e fundamentam-se, 
sobretudo, no campo sociológico. Nesse sentido, as circunstâncias sociais que estimulam o Direito 
se revestirão de obrigatoriedade e, após o devido processo legislativo ou consenso jurisdicional, 
caracterizar-se-ão como fontes formais do Direito. 
A partir de agora, faremos um estudo minucioso das fontes formais, dividindo-as em 
fontes formais escritas e fontes formais não escritas vez que são de grande importância para 
compreendermos as estruturas do mundo jurídico. 
2.1 Fontes Formais Escritas
 As fontes formais escritas, como a própria designação indica, são todas as fontes 
transmitidas por meio do registro escrito. Elas subdividem-se em lei em sentido lato, jurisprudência 
e doutrina.
2.1.1 Lei em sentido lato (sentido amplo)
O termo “lato” signi� ca amplo e, portanto, é utilizado para representar todas as produções 
normativas emitidas pelas autoridades competentes. Há um procedimento especí� co para 
a elaboração de cada produção normativa. Algumas espécies de lei em sentido amplo são as 
seguintes: 
• Constituição: é a lei maior de um país ou nação. Ela é considerada a lei que impera 
sobre todas as outras normas, pois é ela que norteia os princípios básicos a serem 
seguidos no ordenamento jurídico. A autoridade competente para criar a Constituição é 
o Poder Constituinte, e, caso uma norma infraconstitucional (ou seja, uma lei inferior à 
Constituição), não se encontre em conformidade com os ditames constitucionais, ela será 
declarada inconstitucional, não criando efeitos no mundo jurídico.
 
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• Lei em sentido estrito: são todas as normas elaboradas pelo Poder Legislativo. As leis em 
sentido estrito possuem algumas características, como a impessoalidade e a generalidade, 
sendo aplicadas a todos os sujeitos de determinado grupo social; a� nal, as leis não 
podem ser elaboradas para pessoas especí� cas. Além disso, as leis em sentido estrito são 
abstratas, ou seja, o sistema não precisa prever todas as condutas de modo especí� co para 
que elas sejam e� cazes e válidas. Ainda, as leis podem ser classi� cadas em ordinárias, 
complementares e delegadas. São exemplos de leis em sentido estrito: o Código Civil, o 
Código do Consumidor, a Lei do Planejamento Familiar, a Lei do Divórcio, o Estatuto da 
Criança e do Adolescente etc.
• Emenda Constitucional: são as mudanças feitas no texto da Constituição, realizadas 
unicamente pelo Congresso Nacional. Esse papel especí� co do Congresso é denominado 
de Poder Constituinte Derivado e, para que ele ocorra, necessita-se que a reforma do 
texto constitucional seja aprovada pelo voto de 3/5 (três quintos) dos integrantes do 
Poder Legislativo. É de suma importância ressaltar que há determinadas normas da 
Constituição que não podem ser alteradas, as chamadas cláusulas pétreas, encontradas 
no artigo 60, §4º, da CF. Por serem imutáveis, elas não podem ser objeto de emendas 
constitucionais que visem a abolir: a forma federativa de Estado; o voto direto, secreto, 
universal e periódico; a separação dos Poderes; e os direitos e as garantias individuais.
• Medida Provisória: é um ato legislativo de competência do Presidente da República, não 
necessitando de autorização do Congresso Nacional. Apesar de possuir força de lei, ela 
pode vir a ter efeitos por apenas determinado tempo. Isso ocorre, porque o Congresso 
Nacional precisa aprovar tal norma e, caso a rejeite ou não a contemple no prazo 
necessário, a medida provisória deixa de ter validade. Para que o Presidente edite medidas 
provisórias, ele necessita deixar bem claros os requisitos de relevância e urgência. 
• Decreto e regulamento: são normas feitas pelo Presidente da República apenas para 
poder viabilizar a aplicação de outras normativas. 
Caro(a) aluno(a), esses exemplos estudados são os mais comuns de lei em sentido amplo. 
Há diversos outros tipos, como resoluções, leis delegadas e portarias.
2.1.2 Jurisprudência 
Figura 8 – Magistrado. Fonte: Lima (2019).
 Por jurisprudência, pode-se entender o conjunto de decisões uniformes dos tribunais, 
resultantes de uma interpretação majoritária dada repetidamente nos julgamentos de demandas 
parecidas e que discutem o mesmo direito ou relação. A jurisprudência é, portanto, uma orientação 
normativa dada pelos tribunais, a qual indica uma solução jurídica para casos semelhantes diante 
de julgamento. 
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A existência dessa fonte formal escrita advém da necessidade de uniformizar as teses 
adotadas pelos tribunais vez que entendimentos discrepantes para casos semelhantes causariam 
insegurança jurídica à população. Dessa maneira, a jurisprudência como fonte do Direito ajuda a 
aprimorar as decisões judiciais dentro dos parâmetros legais, gerando segurança no meio social. 
2.1.3 Doutrina 
Figura 9 – Doutrina. Fonte: Ok Diario (2017).
 Doutrina, como fonte escrita do Direito, é considerada a produção dos estudiosos da 
área. Apesarde ser uma fonte sem força normativa, servindo apenas como orientação para 
que os interessados compreendam a ciência do Direito, nela podem ser encontrados diversos 
exemplos de aplicação normativa aos casos concretos e teses persuasivas. Ademais, é na doutrina 
que serão encontrados os resultados das pesquisas jurídicas. Corriqueiramente, durante o estudo 
das disciplinas jurídicas, todos os livros utilizados como material-base, bem como os artigos 
cientí� cos, monogra� as, dissertações etc., são considerados espécies de doutrinas jurídicas. 
As doutrinas jurídicas, portanto, são essenciais ao desenvolvimento da ciência jurídica 
vez que nelas são elencadas as problemáticas enfrentadas pelo Direito, bem como são exploradas 
as formas de resolução de tais con� itos. É nesse sentido que a evolução das legislações e dos 
entendimentos jurisdicionais será garantida pelos estudiosos do Direito, denominados 
doutrinadores ou juristas.
2.2 Fontes Formais Não Escritas 
Considerando que as fontes formais escritas cooperam à formação do Direito ao 
promoverem a produção das normativas e orientações, as fontes formais não escritas também 
servem para direcionar o rumo da ciência jurídica, sendo re� exo dos movimentos oriundos do 
corpo social. São exemplos de fontes formais não escritas: os costumes, a autonomia de vontade, 
os princípios gerais do Direito etc. 
2.2.1 Costumes jurídicos 
Entende-se por costumes as práticas reiteradas na sociedade, a qual cria regras sociais 
que determinam as condutas dos sujeitos, muitas vezes de forma imperceptível, repetida e 
generalizada. Entretanto, como nossos estudos são de natureza jurídica, os costumes tratados 
como fonte do Direito são apenas aqueles com força relevante para causar efeitos no mundo do 
“dever ser”. 
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Como exemplo de costume que incide sobre o Direito, tem-se a prática do “condicional” 
nas lojas de roupas. A prática consiste na permissão a que o cliente possa experimentar 
determinado produto em casa, dentro de determinado prazo, para saber se o adquirirá ou não.
 Para que os costumes, de fato, projetem efeitos no meio jurídico, eles não devem ser 
tão somente uma repetição de conduta cometida pelos indivíduos de determinada sociedade. 
Devem, além disso, causar um sentimento de obrigatoriedade ao se realizar determinado ato e 
devem ser aceitos pela localidade. 
Como se depreende, os costumes não surgem do dia para a noite, mas sim de forma 
gradual no consciente dos integrantes da comunidade. Além disso, diferentemente das leis, que 
passam a ter efeitos depois de aprovadas, sancionadas e publicadas, o costume só será jurídico 
quando gerar efeitos de ordem obrigatória. 
Os costumes jurídicos podem ser: 
Figura 10 – Costumes do Direito. Fonte: O autor.
 Os costumes em conformidade com a lei, como a própria nomenclatura sugere, são 
aqueles que acompanham a letra de leis, sendo de possível aplicabilidade para solucionar con� itos. 
Um juiz, nesse sentido, poderá se utilizar desses costumes para buscar consenso em um con� ito 
quando as partes não se contentam com as previsões legais vez que as soluções costumeiras não 
são fundadas em prerrogativas que contrariam qualquer norma escrita. 
 Todas as práticas utilizadas para suprir determinada lacuna na legislação são costumes 
que complementam a lei. Um exemplo desse tipo de costume que complementa a legislação é 
o caso de cheques, que, embora possuam natureza de promessa de pagamento à vista, acabam 
sendo usualmente aceitos na forma pós-datada, com pagamento para período posterior. Portanto, 
o Poder Judiciário não pode deixar de reconhecer o fenômeno do cheque pós-datado vez que é 
fenômeno integrante dos atos costumeiros de comércio. 
 De outra banda, os costumes contrários à lei são aqueles que, de uma forma ou de outra, 
violam os preceitos legislativos, não podendo ser considerados como fontes do Direito. A existência 
de comunidades que praticam o trá� co de drogas como meio para se sustentarem, por exemplo, 
é um tipo de costume contrário à lei, pois, sendo o trá� co de ilícitos uma prática criminalizada 
pelo ordenamento jurídico, tais práticas restam rechaçadas pelo Direito. Por mais que seja prática 
reiterada e vista com normalidade pela coletividade local, não será lícita tampouco possível sua 
aceitação no mundo jurídico já que se tem a tipi� cação penal de tais condutas. 
Pelo exposto, apenas os costumes conforme e em complemento à lei são considerados 
como fontes não escritas do Direito.
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2.2.2 Princípios gerais do Direito 
 Por trás de toda norma, há um ou mais princípios que a fundamenta(m). Isso pois 
 os princípios são considerados os alicerces das normas e de sua aplicação. A utilização dos 
princípios gerais do Direito como fonte se dá, porque eles orientam no momento de aplicação 
(pelos magistrados) ou da criação (pelo Poder Legislativo) do Direito. Os princípios são, sem 
dúvida, os norteadores da ciência jurídica uma vez que muito de seu conteúdo/essência pode ser 
deduzido com um bom estudo de seus princípios.
 Os princípios demonstram os valores de uma sociedade e a escolha da ideologia política 
de uma nação, sendo que é possível veri� car quais são as intenções dos legisladores a partir 
da utilização dos princípios em sua atividade legislativa. Nesse sentido, dispõe o artigo 166, do 
Código de Processo Civil, que, nos procedimentos de conciliação e mediação, serão respeitados 
os princípios da imparcialidade, independência, autonomia da vontade, con� dencialidade, 
oralidade, informalidade e da decisão informada. Todos esses princípios indicam a postura a ser 
adotada pelo conciliador ou mediador.
Além disso, pelo artigo 4º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, o juiz 
� ca autorizado a decidir conforme a analogia, os costumes e os princípios gerais do Direito nos 
casos em que há ausência de lei. Logo, os princípios também podem ser considerados uma fonte 
subsidiária do Direito. 
Cabível esclarecer, ainda, que há princípios fundamentais aplicáveis a praticamente todas 
as disciplinas do Direito. Um exemplo é o princípio da legalidade, segundo o qual ninguém está 
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei (DINIZ, 2019). 
Esses princípios fundamentais podem ganhar outra roupagem, dependendo da disciplina 
em que estão sendo aplicados. É o que se dá com o mencionado princípio da legalidade, que, no 
Direito Penal, compreende que não há crime sem lei anterior que o de� na. 
2.2.3 Fonte negocial ou autonomia da vontade
Essa fonte não escrita do Direito deve ser compreendida frente à autonomia da vontade 
humana, que gera efeitos jurídicos quando duas pessoas decidem negociar. Exemplo disso 
ocorre no momento em que você, ao adquirir um pão francês na padaria, passa a negociar com 
o padeiro para que sua compra venha quentinha ou com determinado tamanho ou cor; daí, em 
contrapartida, você paga por aquele produto.
Não há previsão legal quanto ao tamanho, cor ou temperatura em que o pão francês 
deve ser vendido, mas o acordo de vontades entre o consumidor e o padeiro estabelece critérios 
que devem ser respeitados. Ou seja, foram criados direitos e deveres a serem cumpridos pelas 
partes. Não há, na lei ou em outro instrumento jurídico, previsões tão especí� cas, dependendo 
da situação vivenciada.
Entretanto, não é por isso que as relações negociais deixam de ser válidas. Muito pelo 
contrário! Elas passam a ser legitimadas, pois há manifestação de vontade das partes e capacidade 
entre elas. Por óbvio, tais vontades não estão autorizadas a contrariar a lei existente tampouco 
estão autorizadas a conter objeto ilícito ou abuso de direito. 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na Unidade 1, introduzimos os principais conceitos necessários para que você, estudante, 
consiga compreender melhor a ciência do Direito. Para isso, buscamos de forma minuciosa 
entender quais são os signi� cados atribuídos à palavra “direito”. 
Explorar as teorias que traçam o conceito de justiça, bem como os pensadores que 
cooperaram para a formação delas, fez-nos vislumbrar as mudanças de concepções sobre a justiça. 
A partir disso, extraímos a importância atribuída à liberdade, igualdade, dignidade humana 
e a outros valores fundamentais. Relacionar o Direito ao conceito de justiça é um caminho 
importante para desenvolver uma postura crítica frente às instituições de ordem jurídica, pois 
passamos a veri� car que, muitas vezes, as legislações ou a própria aplicação das leis acabam não 
correspondendo ao justo. Por isso, cabe a nós realizar uma re� exão sobre o tipo de Direito que 
está em vigência na nossa comunidade para atuarmos como cidadãos ativos.
Em acréscimo, relacionamos o Direito aos fenômenos sociais a � m de demonstrar que o 
seu surgimento está interligado à sociabilidade humana. Por meio da abordagem do Direito como 
ciência, buscamos compreender as peculiaridades dessa área do conhecimento em detrimento 
das ciências naturais, que trabalham com exatidões e diferentes métodos. No Direito, por outro 
lado, utiliza-se muito da interpretação, argumentação e persuasão, o que faz com que nem sempre 
encontremos respostas universais a determinadas hipóteses. 
Ainda, abordamos os dois ramos do Direito, o público e o privado, bem como algumas 
das disciplinas que fazem parte de cada um desses ramos. A partir daí, assimilamos as fontes do 
Direito com o objetivo de compreender, de forma mais aprofundada, como a área se origina, se 
estrutura e é exercida na sociedade. É por meio das fontes do Direito que conseguimos veri� car, 
de fato, a amplitude da ciência jurídica e a força institucional que ela contém. Identi� camos as 
fontes costumeiras, negocial, principiológicas, doutrinárias, jurisprudenciais e legislativas. Isso 
demonstra, de forma mais evidente, como o Direito está próximo do nosso dia a dia, pois ele 
delimita o que é legal ou ilegal e projeta para as nossas vidas o entendimento do que é certo ou 
errado, � xando formas de condutas compatíveis com o convívio social. 
Por ora, foi possível você se capacitar acerca das principais noções que permeiam o 
Direito, visando à sua quali� cação para a continuidade dos nossos estudos. Na sequência, 
traremos maiores informações e conteúdos jurídicos de indispensável importância a uma boa 
formação acadêmica, pro� ssional e cidadã.
Com a consolidação dos nossos estudos sobre as noções básicas que estruturam o 
Direito, daremos continuidade às nossas investigações pela abordagem da norma jurídica, do 
ordenamento jurídico brasileiro e dos aspectos introdutórios do Direito Administrativo. 
Até breve!
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UNIDADE
02
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................25
1. TEORIA DA NORMA JURÍDICA ..............................................................................................................................26
1.1 NORMAS JURÍDICAS ..........................................................................................................................................28
1.2 VALIDADE DA NORMA JURÍDICA ...................................................................................................................... 30
2. TEORIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO ..............................................................................................................32
3. ASPECTOS INTRODUTÓRIOS AO DIREITO ADMINISTRATIVO ........................................................................34
3.1 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA.............................................................................................36
CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................................................................39
NORMA JURÍDICA, ORDENAMENTO JURÍDICO E 
DIREITO ADMINISTRATIVO
PROF. ME. CAIO EDUARDO COSTA CAZELATTO
ENSINO A DISTÂNCIA
DISCIPLINA:
INTRODUÇÃO AO DIREITO ADMINISTRATIVO E
REGULATÓRIO
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INTRODUÇÃO
Prezado(a) aluno(a), na Unidade 1, � zemos alguns esclarecimentos à indagação “O que é 
o Direito?”. Vimos que uma das possibilidades de responder a essa pergunta se assenta justamente 
no entendimento de que o Direito é o conjunto de normas jurídicas válidas em uma determinada 
sociedade. Mas o que é, a� nal, norma jurídica? É com essa indagação que surge a necessidade de 
se estabelecer uma teoria que a explique, isto é, uma teoria da norma jurídica.
Os fatos sociais, por si só e de modo genérico, não são capazes de produzir efeitos jurídicos. 
Se dessa forma o fazem, é porque uma norma jurídica existente já os regulamenta, revestindo-
lhes de consequências. Sem norma jurídica, não há que se falar em direitos e deveres tendo em 
vista que não há, por certo, um fenômeno abrangido pela esfera jurídica. Além disso, essa norma 
jurídica não está disposta em lugar algum; ela está inserida em um sistema, em um ordenamento 
jurídico, que também será o foco da nossa abordagem a seguir.
Tendo isso em mente, estudaremos os principais aspectos que permeiam a norma jurídica, 
estabelecendo sua conceituação e classi� cação, bem como quando e como ela será válida, isto é, 
sua existência. Após essas delimitações, percorreremos outra temática essencial àqueles que, de 
uma forma ou outra, operarão o Direito, que é a investigação do ordenamento jurídico. Para 
tanto, analisaremos desde sua estrutura até a sua composição, demonstrando sua importância à 
ciência jurídica.
Munidos dessa bagagem acerca das noções do Direito, iniciaremos o contato com o 
Direito Administrativo, de� nindo-o e apontando a diferenciação entre Administração Pública 
Direta e Administração Pública Indireta, o que será de extrema relevância a você, caro(a) aluno(a) 
do curso de Gestão Pública. Isso se justi� ca, porque a atividade do(a) gestor(a) público(a) está 
intrinsecamente relacionada ao setor público. 
Bons estudos!
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1. TEORIA DA NORMA JURÍDICA
O ser humano, quase que instintivamente, vincula-se a arranjos sociais – como a família, 
os grupos de amigos, de colegas de trabalho ou de companheiros de esportes, para citar alguns –, 
cabendo ao Direito garantir uma coexistência harmoniosa e proporcionar soluções adequadas aos 
con� itos que surgirem dessas relações. Ocorre que a convivência pací� ca somente é conquistada 
com a elaboração de certos padrões de condutas e suas consequentes recepção e execução por 
parte dos indivíduos. 
Trata-se, estimado(a) aluno(a), de uma expectativa de real cumprimento de certas 
condutas que permeiam, individual e coletivamente, a vida de cada um de nós. É o que se dá, 
por exemplo, quando fazemos uma gentileza a outrem e esperamos, naturalmente, receber um 
agradecimento em contrapartida. Outra experiência é quando nos deparamos com vizinhos 
no elevador; ambos os lados se sentem na obrigação de realizar uma troca de cumprimentos e, 
inclusive, estimular uma conversa singela sobre o clima, política ou futebol. Ou, ainda, quando 
uma pessoa com necessidades especiais adentra o transporte público, esperamos que alguém 
ceda, educada e espontaneamente, um assento para ela se sentar. 
Em resumo, esses são padrões de comportamentos que a sociedade exige, mesmo quede modo indireto, que concretizemos. Tais são nada mais do que espécies de normas que, como 
pudemos perceber, nem sempre terão cunho jurídico, nem sempre importarão ao Direito. De 
acordo com Vesting (2015, p. 57), as normas são proposições, enunciados ou mandamentos 
que retratam modelos de conduta perante os quais há expectativa de cumprimento. Em outras 
palavras, temos a obrigação de respeitá-las e colocá-las em prática.
Dentre as normas presentes em nosso cotidiano, citemos, a título de exemplo, as 
costumeiras, morais, religiosas, administrativas e as que mais nos interessarão: as jurídicas. Todas 
são subespécies das normas sociais uma vez que surgem na convivência social, delimitando-a e 
orientando-a. 
Figura 1 – Tipos de norma. Fonte: O autor.
Esses padrões de comportamento se revestem de normatividade, ou seja, quali� cam-se 
como normas, não em razão de serem repetidamente praticados. Caso contrário, teríamos de 
elevar a permissão para o homicídio de mulheres à categoria de norma já que o Brasil é um dos 
países que mais registra esse tipo de violência (INSTITUTO IGARAPÉ, 2019). Desse modo, é 
insu� ciente sustentarmos que um ato deve se tornar norma somente por ele ser reiteradamente 
executado em uma dada localidade. 
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A norma se con� gura, sobretudo, na relação de autoridade mantida entre aquele que a 
transmite/exige e aquele que a recebe/cumpre. É exigido, ainda, que o meio social reconheça a 
superioridade da autoridade da qual emana a norma. É o que ocorre com as ordens proferidas no 
ambiente de trabalho, as quais só serão efetivamente respeitadas se partirem de algum pro� ssional 
tido como superior, em uma relação de hierarquia e subordinação (VESTING, 2015, pp. 64-66).
Você provavelmente acataria, sem grandes questionamentos ou oposição, as ordens de seu 
chefe; por outro lado, se os mesmos comandos partissem de funcionários de grau hierarquicamente 
inferior ou igual ao seu, o cumprimento deles não seria tão imediato e inquestionável, não é 
mesmo?! Logo, visualizamos que as ordens proferidas pelo seu chefe partem de uma autoridade 
que você e os demais reconhecem como superior. 
Se a norma é um padrão de comportamento esperado, seu descumprimento pode 
gerar sanções das mais diversas ordens. Sanção é a consequência que o não cumprimento de 
uma norma produz em relação ao indivíduo descumpridor, podendo assumir diversas formas 
conforme analisaremos, mais detalhadamente, a seguir.
• Normas sociais: são normas de trato social, convencionais, convencionalismos ou 
usos sociais. São padrões de conduta elaborados pela sociedade, correspondendo às 
expectativas sociais acerca do que é um comportamento adequado ou correto. Como 
sanção, uma pessoa que as descumprir pode ser punida com a reprovação e o isolamento 
social, isto é, pode ser afastada/marginalizada de diferentes formas e intensidades pelos 
membros do meio onde vive.
• Normas morais: são normas destinadas à orientação da consciência das pessoas, cuja 
efetividade está condicionada à aceitação individual tendo em vista que são normas 
desprovidas de coerção. O não cumprimento dessas normas pode acarretar desde o 
remorso do infrator (a famosa “consciência pesada”) até sua reprovação social, que nada 
mais é do que a sanção social. 
• Normas religiosas: trata-se daquelas elencadas pelos seguidores de alguma crença ou 
religião como advindas de uma divindade ou, ao menos, por ela sancionadas, incluindo-
se as normas ditas como obrigatórias pela autoridade religiosa competente, como no 
caso das advindas de padres, bispos, pastores etc. Um exemplo de sanção desse tipo de 
norma está contido no Código Canônico, o qual prevê a excomunhão automática àqueles 
que praticarem apostasia (negação da fé) e agressão física ao Papa. Outro exemplo de 
sanção religiosa é a condenação ao purgatório, Umbral, inferno ou similares nas religiões 
e crenças que seguem o Cristianismo.
Figura 2 – Direito Canônico. Fonte: PISDC (2020).
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1.1 Normas Jurídicas 
As normas jurídicas são aquelas que regulamentam, de maneira coercitiva, as relações 
entre os indivíduos, in� uenciando uns aos outros, sob a chancela estatal, criando uma interrelação 
de direitos e deveres entre os sujeitos. Elas não são somente obrigatórias no foro da consciência, 
mas por imposição do Estado.
As partes que constituem as normas jurídicas são o preceito e a sanção. Preceito é a parte 
da norma que enuncia uma forma de conduta ou de organização, a� rmativa ou negativamente. Já 
a sanção é a consequência jurídica prejudicial, decorrente da inobservância da norma, que pode 
estar nela contida de forma explícita ou implícita.
Nesse sentido, diferentemente das demais espécies de normas, as normas jurídicas 
apresentam sanções que se caracterizam por serem previamente organizadas e determinadas, 
bem como por ostentarem coercibilidade, que é a capacidade de utilização da força em suas mais 
variadas categorias para se alcançar a efetivação da norma.
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) dispõe, em seu artigo 181, que estacionar o 
veículo nas vagas reservadas às pessoas com de� ciência ou idosos, sem credencial que comprove 
tal condição é uma infração de trânsito, punível com multa e remoção do veículo. Trata-se do 
enunciado de uma norma jurídica com sua consequente sanção quando for violada.
No entendimento de Reale (2002), o que efetivamente determina uma norma jurídica é o 
fato de ela estabelecer uma forma de organização ou de conduta a ser seguida de modo objetivo 
e obrigatório, sob pena direta ou indireta de sanção (REALE, 2002, pp. 94-95).
Figura 3 – Norma jurídica. Fonte: Atualização Direito (2019).
O Código de Direito Canônico contém as normas jurídicas do Di-
reito Canônico, as quais disciplinam a estrutura da Igreja Católica 
Romana, os direitos e deveres dos católicos, além de dispor, den-
tre outros temas, acerca dos sacramentos e sanções em caso de 
descumprimento. Saiba mais em: 
VATICAN. Código de Direito Canônico. 4. ed. Braga: Editorial Apos-
tolado da Oração, 1983. 
O material está disponível em: <www.vatican.va/archive/cod-iuris-canonici/
portuguese/codex-iuris-canonici_po.pdf>. Acesso em: 21 mar. 2020.
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Embora uma norma jurídica estabeleça um padrão de organização ou conduta, há certos 
limites quanto a seu conteúdo. Sua mensagem, isto é, seu fundamento/conteúdo deve se adequar 
à noção de justiça e à demanda social, não se chocando com as demais normas do ordenamento 
jurídico, como também, é claro, deve estar em conformidade com os preceitos da CF, norma 
suprema do nosso País.
Em virtude dessas peculiaridades, podemos atribuir determinadas características 
essenciais que predominarão nas normas jurídicas, quais sejam:
• Impõem um modelo de organização ou de conduta.
• Derivam de autoridade reconhecidamente superior (heterônoma), no caso, o Estado.
• Revestem-se de imperatividade, impondo-se inclusive contra a vontade dos subordinados 
a ela.
• Quali� cam-se com coercibilidade mediante a aplicação da força e das sanções cominadas 
quando descumpridas.
• Adequam-se às outras normas jurídicas, sobretudo à CF.
Figura 4 – Elementos da norma jurídica. Fonte: O autor.
Atenção: há diferença entre coercibilidade e coatividade, termos comumente utilizados 
na ciência do Direito. Coercibilidade é a possibilidade jurídica da coação; é a ameaça de coação. 
Coatividade é a coação em concreto.
Além dessas características, as normas jurídicas também são bilaterais, gerais e abstratas. 
A bilateralidade se traduz na vinculação que a norma jurídica produz entre duas ou mais 
pessoas, revestindode direitos uma das partes e impondo deveres à outra. A generalidade se 
desdobra na demonstração de que a norma jurídica é destinada a uma ordem geral, obrigatória 
a qualquer pessoa que se encontre na mesma previsão jurídica. Em outras palavras, as normas 
jurídicas são destinadas a todos. É desse elemento que surge o princípio da isonomia da lei, de 
que todos os seres humanos são iguais perante a lei. Já a abstratividade da norma jurídica se 
assenta na missão de atingir o maior número de situações possível, isto é, a norma jurídica não 
é feita para se aplicar a um caso especí� co, mas sim para conseguir abarcar o maior número de 
situações possível. 
Vale destacar que as expressões “regras” e “normas jurídicas” são sinônimas. Por outro 
lado, as expressões “normas jurídicas” e “leis” são distintas visto ser a lei apenas uma das formas 
de manifestação das normas jurídicas.
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1.2 Validade da Norma Jurídica
Após explorarmos a conceituação e as principais características das normas jurídicas, 
resta veri� carmos seu plano de validade, ou seja, quando e como tais serão válidas. Para isso, 
recorreremos à análise dos institutos da vigência e da e� cácia.
A vigência da norma jurídica, também denominada de validade em sentido formal, 
diz respeito à produção dos efeitos normativos, revestindo a norma de força vinculante/
obrigatoriedade. Quando uma norma está produzindo seus efeitos, dizemos que ela está em 
vigência. Já a e� cácia ou “validade em sentido fático” tem relação com a aceitação, adesão e 
prática social dos comandos que a norma jurídica dispuser. Portanto, quando a norma é bem 
recebida, respeitada e praticada pela sociedade, dizemos que ela tem e� cácia.
Figura 5 – Validade da norma jurídica. Fonte: O autor.
Diante disso, será que podemos a� rmar que uma norma pode ter validade formal, 
porém, carecer de validade fática? Em outros termos, a norma pode ser considerada vigente, e, 
no entanto, não ser considerada e� caz? A resposta é sim. Entenderemos melhor essa questão com 
a explicação individualizada da vigência e da e� cácia.
Para ser elencada como vigente, a norma jurídica deve cumprir, cumulativamente, 
determinados requisitos, quais sejam:
• Ser criada por órgão competente. Para isso, ela deve advir de autoridade reconhecidamente 
superior e que, evidentemente, tenha competência para tanto (no sentido de ser o órgão 
legalmente responsável por sua criação). Por exemplo: medidas provisórias somente 
podem ser editadas pelo Poder Executivo por meio da � gura do Presidente da República, 
não podendo o Legislativo ou o Judiciário tentar editá-las. Da mesma forma, não pode a 
Câmara de Vereadores de Curitiba querer elaborar normas para o Município de Maringá, 
pois não se trata do órgão competente para isso. 
• Competência material do órgão elaborador. Como o próprio nome sugere, o órgão 
deve apresentar competência quanto à matéria da norma que pretende criar. Por exemplo: 
normas de cunho penal, isto é, de Direito Penal, apenas podem ser editadas pela União. 
É de exclusividade dela a competência para formular matéria de normas jurídicas penais; 
portanto, a Estados-membros, municípios e ao Distrito Federal é vedado produzir regras 
dessa natureza. 
• Observância dos procedimentos especí� cos da norma. Para a edição de cada tipo de 
norma, devem-se seguir determinadas técnicas. Por exemplo: leis de competência da 
União necessitam tramitar pelo sistema bicameral, ou seja, necessitam ser aprovadas 
tanto pelo Senado quanto pela Câmara dos Deputados. 
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Se todos os três requisitos forem devidamente cumpridos, teremos o “nascimento”, a 
vigência da norma jurídica, que produzirá efeitos jurídicos, sendo detentora de força vinculante 
e quali� cando-se como obrigatória.
Acerca do assunto, Siqueira Jr. (2019) leciona que a vigência da norma “[...] equivale ao 
seu período de vida, desde seu nascimento até sua morte, quando deixa de existir. A vigência é o 
interregno entre o início e o � m da obrigatoriedade da norma. Refere a possibilidade da norma 
ser aplicada” (SIQUEIRA JR., 2019, p. 188).
O nascimento de uma norma jurídica se dá com sua promulgação e consequente 
publicação em Diário O� cial. Ocorre que ela apenas iniciará a produzir seus efeitos, tornando-se 
obrigatória, em momento diverso. Esse lapso temporal entre a data da publicação e a produção 
de seus efeitos, isto é, vigência, é denominado de vacatio legis.
A vacatio legis é expressão latina que se traduz como “vacância da lei”. Trata-se do prazo 
legal entre o dia de sua publicação até a sua vigência, tornando-se obrigatório o seu cumprimento 
após essa data. Esse instituto jurídico serve para que a sociedade e os operadores do Direito 
tenham tempo para a assimilação de seu conteúdo, bem como para saberem de sua existência. 
Conforme dispõe o artigo 1º, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, “[...] 
salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de 
o� cialmente publicada” (BRASIL, 1942). Desse modo, quando a norma jurídica não estipular um 
termo inicial para a sua vigência, em regra, ela entrará em vigor (e, portanto, produzindo seus 
efeitos) após 45 (quarenta e cinco) dias de sua publicização. Prazo diverso terá a lei brasileira em 
âmbito internacional, cujo prazo será de 3 (três) meses depois de o� cialmente publicada.
Figura 6 – Vacatio legis. Fonte: O autor.
Com isso, percebemos que a própria norma jurídica pode apontar seu período de 
vacância, podendo ser igual, superior ou inferior ao que dispõe a legislação especí� ca sobre o 
tema. Inclusive, a norma pode prever a ausência de vacatio legis, pelo que da simples publicação 
no Diário O� cial se iniciarão seus efeitos, isto é, sua vigência.
É possível observarmos prazos diversos de vigência no Código Civil (“Art. 2.044. Este 
Código entrará em vigor 1 (um) ano após a sua publicação” (BRASIL, 2002)); no Estatuto da 
Criança e do Adolescente (“Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua publicação” 
(BRASIL, 1990a)); no Estatuto do Idoso (“Art. 118. Esta Lei entra em vigor decorridos 90 (noventa) 
dias da sua publicação, ressalvado o disposto no caput do art. 36, que vigorará a partir de 1º de 
janeiro de 2004” (BRASIL, 2003)); no Marco Civil da Internet (“Art. 32. Esta Lei entra em vigor 
após decorridos 60 (sessenta) dias de sua publicação o� cial” (BRASIL, 2014)); dentre outros.
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Além do termo inicial, determinadas normas jurídicas podem prever, ainda, o termo 
� nal de suas vigências. São as normas ditas temporárias ou provisórias, as quais, diferentemente 
das normas permanentes, já nascem com data de � m preestabelecida. Exemplo clássico é a Lei 
Geral da Copa, que fez alterações temporárias em outras legislações em vigor, como na Lei 
de Propriedade Industrial (“Art. 5º As anotações do alto renome e das marcas notoriamente 
conhecidas de titularidade da FIFA produzirão efeitos até 31 de dezembro de 2014, sem prejuízo 
das anotações realizadas antes da publicação desta Lei” (BRASIL, 2012)) e no Direito Penal (“Art. 
36. Os tipos penais previstos neste Capítulo terão vigência até o dia 31 de dezembro de 2014” 
(BRASIL, 2012)), estabelecendo seu termo inicial imediato na data de sua publicação, isto é, sem 
vacatio legis (“Art. 71. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação” (BRASIL, 2012)) e prazo 
� nal em 31 de dezembro de 2014. 
Se, a partir de sua entrada em vigência, a população recepcionar e cumprir os preceitos 
contidos na norma jurídica, podemos dizer que ela é dotada de e� cácia. Caso não seja aceita 
e respeitada

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