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Resultados Químicos do Exame Qualitativo de Urina e seus Significados Clínicos

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Resultados Químicos do Exame Qualitativo de Urina e seus Significados 
Clínicos (Citologia Clínica): 
1. Relação de glicose na urina com a pancreatite: 
Em resposta a alterações na glicose sanguínea, o pâncreas é a glândula 
responsável por secretar insulina. Após a ingestão de alimentos ricos em 
carboidratos, ocorre um aumento na glicose sanguínea, que em condições normais 
será transportada por transportadores GLUT2 para dentro das células beta 
pancreáticas, onde ela será imediatamente convertida em glicose-6-fosfato e entra 
na glicólise (quebra da glicose à duas moléculas de piruvato). 
Em condições anormais, como a pancreatite, onde o pâncreas já não realiza 
normalmente essas atividades de metabolismo e quebra da glicose sanguínea, 
ocorre um aumento deste composto na corrente sanguínea. No momento em que o 
sangue passa pelos rins, ocorre uma seletividade dos compostos que serão 
excretados e aqueles que serão reabsorvidos para o organismo. Porém, existe um 
limiar de reabsorção dos compostos e, em condições de aumento da glicose no 
sangue, quando esta ultrapassa o limiar, acaba aparecendo na urina, onde será 
evidenciado no exame de EQU. 
1. Relação de aumento de cetona na urina com cetoacidose diabética: 
Em pacientes com diabetes ​mellitus​ não corretamente tratados, quando o nível 
de insulina é insuficiente, os tecidos extra-hepáticos não conseguem captar a 
glicose do sangue de maneira eficiente para combustível ou conservação como 
gordura e, nessas condições, intermediários do ciclo do ácido cítrico (TCA), são 
drenados para uso como substrato na gliconeogênese, resultando num acúmulo de 
acetil-CoA. Esse acúmulo acelera a formação de corpos cetônicos e a capacidade 
de oxidação dos tecidos extra-hepáticos. 
A formação exagerada de corpos cetônicos ocasiona o aumento de níveis 
sanguíneos de acetoacetato e D-beta-hidroxibutirato que diminuem o pH do sangue, 
causando uma condição de acidose. Essa condição de aumento de corpos 
cetônicos no sangue de indivíduos com diabetes não tratado geralmente ocasiona o 
aumento significativo de cetonas na urina, que podem alcançar níveis 
extraordinários de 5.000 mg/24h, quando a taxa normal é de ≥125mh/24h. Essa 
condição é chamada de cetoacidose. 
 
2. Relação de aumento de bilirrubinas na urina e hepatite viral: 
As bilirrubinas são produtos da degradação de eritrócitos maduros. Em adultos, 
são quebrados em média de 35g de hemoglobina, resultando na produção de 
300mg de bilirrubina. Essa bilirrubina é dividida em dois tipos: conjugada e não 
conjugada (indireta). A forma indireta tem maior afinidade por tecidos nervosos e 
liga-se reversivelmente à albumina, forma como é transportada no plasma. 
O fígado é o órgão responsável pelo metabolismo da bilirrubina, captando-a, 
conjugando-a e excretando-a. Em condições normais, a bilirrubina não conjugada é 
rapidamente captada e metabolizada pelo fígado que a prepara para ser eliminada 
(forma conjugada). A bilirrubina conjugada ou direta é polar e não absorvida pelo 
intestino delgado. Uma vez no íleo terminal e cólon, a bilirrubina é hidrolisada por 
enzimas bacterianas (betaglicuronidases) formando-se o urobilinogênio. Este é não 
polar e somente uma mínima parcela é absorvida no cólon. Em condições normais 
essa parcela é re-excretada pelo fígado na bile (90% do total) e pelos rins (10% do 
total). Em situações de disfunção hepática, como por exemplo a hepatite viral, a 
re-excreção biliar de urobilinogênio pode diminuir, aumentando a parcela eliminada 
na urina. 
3. Relação entre a diminuição da densidade da urina e a diabetes 
insípidus​ : 
A densidade urinária é uma função da concentração urinária. Em condições de 
alta concentração de soluto tende a aumentar a DU. A densidade baixa pode ser 
devido à incapacidade dos túbulos renais de concentrar a urina (diabetes ​insípidus)​ . 
A diabetes ​insípidus diminui a densidade da urina, pois, esses pacientes 
normalmente têm quadros de poliúria, desse modo a urina fica pouco concentrada, 
pelas evacuações seguidas e diminuindo também a densidade da mesma. 
4. Relação entre o pH da urina e a desidratação: 
A desidratação causada por qualquer etiologia, causa eliminação de urina 
concentrada, baixando o pH urinário, pois nesses casos, o corpo produz corpos 
cetônicos. 
A presença de corpos cetônicos na urina é normal em quantidades baixas. Pode 
se elevar em situações de baixa disponibilidade de glicídios, como na desidratação. 
Assim, o organismo tende a obter energia de rotas alternativas, como a ​β-oxidação 
e em consequência disso, uma elevada quantidade de corpos cetônicos é 
produzido, diminuindo o pH da urina, pois eles possuem caráter ácido. 
5. Relação entre o aumento de proteína na urina e a doença da Gota: 
Gota é um tipo de artrite que ocorre quando o ácido úrico se acumula no sangue 
e causa inflamação nas articulações. ​Ela faz parte de um grupo heterogêneo de 
doenças cujas manifestações comuns derivam de uma perda da barreira glomerular 
a proteínas, que resulta em proteinúria. 
Nem todo sangue que passa pelos capilares é filtrado. Nos glomérulos, pode ser 
encontrada uma tripla camada, composta por endotélio, pelo podócito e pela 
membrana basal. Esta barreira atua selecionando compostos e moléculas por meio 
da carga elétrica e pelo tamanho destas partículas. Como esta barreira é carregada 
negativamente, moléculas ou compostos da mesma carga tem uma maior 
dificuldade em ganhar o espaço de Bowman. Quando esta barreira se encontrar 
comprometida, poderá se instalar um quadro de proteinúria, provocado pela perda 
excessiva de proteínas do plasma. 
6. Relação da presença de sangue na urina com cálculos no trato urinário 
A presença de sangue na urina pode ser confirmada através da detecção na 
urina de hemácias íntegras - hematúria (5 hemácias/ microlitro de urina) ou de 
hemoglobina livre - hemoglobinúria (0,015 mg/dL de urina). A hematúria resulta de 
sangramento em qualquer ponto do trato urinário desde o glomérulo até a uretra, 
podendo ser devido a movimentação dos cálculos, que geram lesões e 
sangramentos nos locais onde se encontram, levando a presença de hemácias na 
urina. 
7. Relação da presença de nitrito na urina com infecções do trato urinário 
O resultado positivo de nitrito no exame qualitativo de urina indica infecção 
urinária bacteriana, pois, sinaliza a presença de bactérias na urina que são capazes 
de converter nitrato em nitrito, Bactérias que convertem nitrato em nitrito incluem, 
principalmente, bactérias gram-negativo como ​Escherichia coli, Proteus, Klebsiella, 
Citrobacter, Aerobacter, Samonella​ , além de algumas cepas de ​Pseudomonas e 
raras de ​Staphylococcus​ e ​Enterococcus. 
 
8. Relação da presença de urobilinogênio na urina com a Cirrose 
A bilirrubina conjugada liberada no intestino delgado com a bile é desconjugada 
por ação de bactérias da microbiota indígena intestinal. A bilirrubina livre é, então, 
reduzida a urobilinogênio,estercobilinogênio e mesobilirrubinogênio que são 
transformados em pigmentos que dão a cor habitual das fezes. Parte do 
urobilinogênio produzido retorna ao sangue, através da circulação enterohepática. A 
maior parte do urobilinogênio reabsorvido é removido pelo fígado e uma pequena 
porção é excretada na urina. Quando há produção elevada de bilirrubina (devido a 
lesões nos hepatócitos) observa-se aumento do urobilinogênio reabsorvido, com 
conseqüente aumento da eliminação deste na urina. Nas disfunções ou lesões 
hepáticas (hepatites, cirrose e insuficiência cardíaca congestiva), o fígado torna-se 
incapaz de remover o urobilinogênio reabsorvido tornando sua pesquisa na urina 
positiva. Outras condições onde há aumento do urobilinogênio urinário incluem: 
estados de desidratação e febril. 
9. Relação entre leucócitos na urina e infecções do trato urinário 
A pesquisa da esterase leucocitária é um método indireto de detecção da 
presença de leucócitos na urina. Esta enzima está presente nos grânulos primários 
ou azurófilos dos neutrófilos, monócitos, eosinófilos e basófilos. Linfócitos e células 
epiteliais não contêm esterase leucocitária. Como os leucócitos podem sofrer lise na 
urina, a pesquisa da esterase leucocitária é útil na detecção de enzima derivada de 
células que não são mais visíveis à microscopia. A presença de leucócitos na urina 
em número significativo está relacionada, mais comumente, com infecção urinária 
(pielonefrite e cistite), devido a ação leucocitária desenvolvida pelo organismo para 
impedir a evolução da infecção. Outros processos inflamatóros do trato 
genito-urinário podem levar ao aumento de leucócitos sem a presença de 
bacteriúria. 
 
 
 
 
Referências: 
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