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Teorias contemporâneas de justiça

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3. TEORIAS CONTEMPORÂNEAS DA JUSTIÇA
CONCEITOS DE JUSTIÇA (CHAIM PERELMAN)
Noções gerais
Segundo Perelman, “uma análise lógica [científica] da noção de justiça parece constituir uma verdade aposta. Isso porque, dentre todas as noções prestigiosas, a de justiça parece uma das mais eminentes e a mais irremediavelmente confusa”. (Ética e Direito, p. 7)
Para alguns autores, a justiça é a principal virtude (e fonte de todas as outras);
Para outros, justiça e todo o conceito de moralidade se confundem.
Guerras e revoluções já tiveram lugar em nome da “justiça”.
Sentidos possíveis
Perelman cita alguns sentidos possíveis de justiça:
A cada qual a mesma coisa;
A cada qual segundo seus méritos;
A cada qual segundo suas obras;
A cada qual segundo suas necessidades;
A cada qual segundo sua posição;
A cada qual segundo o que a lei lhe atribui.
1. A cada a mesma coisa:
É justo que todos devem ser tratados da mesma forma sem discernimento nenhum.
Talvez, a única coisa justa seja a morte (alcança a todos sem exceção).
2. A cada qual segundo seus méritos
O tratamento é proporcional a uma qualidade da própria pessoa.
Problema: como definir esses méritos?
3. A cada qual segundo suas obras
O critério de justiça é unicamente o resultado da ação.
Exemplos: salário ao trabalhador; concursos e exames que não levam em conta o esforço, mas apenas o resultado da prova a qual foi submetido o candidato.
4. A cada qual segundo suas necessidades
Tenta diminuir os sofrimentos daqueles impossibilitados de satisfazer suas necessidades essenciais.
Essa fórmula pôs em xeque a economia liberal, e resultou, por exemplo, na adoção do salário mínimo.
5. A cada qual segundo sua posição
Consiste em tratar os indivíduos conforme pertençam a uma determinada categoria de pessoas.
6. A cada qual segundo a lei lhe atribui
Um juiz é justo quando aplica às mesmas situações as mesmas leis.
Ser justo é aplicar, ser injusto é distorcer, em sua aplicação, as regras de um determinado sistema jurídico.
Atitudes
Frente à pluralidade de significados, Perelman diz que três atitudes seriam possíveis:
A. Não reservar o nome de justiça a nenhuma dessas possibilidades;
B. Considerar apenas uma delas como possível;
C. Pesquisar o que há de comum entre todas essas concepções. 
Perelman adota a última posição e sustenta que o existe de comum entre todos os sentidos de justiça é a “igualdade” (justiça formal).
 “[...] é delicado definir quando uma regra é justa. A única exigência que se poderia formular acerca da regra é que não seja arbitrária, mas se justifique, decorra de um sistema normativo. Mas um sistema normativo, seja ele qual for, contém sempre um elemento arbitrário [...]. Essa imperfeição de todo sistema de justiça [...] deve estar sempre presenta na mente de quem quiser aplicar [...]. Todo sistema de justiça deveria não perder de vista sua própria imperfeição [...]".
Perelman desenvolverá estudos ligados à retórica e à teoria da argumentação (que não serão aprofundados neste curso de filosofia do direito).
CORRENTES CONTEMPORÂNEAS DE ANÁLISE DA JUSTIÇA
Noção geral
Nas últimas três décadas alguns perspectivas de análise do justo (teorias da justiça) vêm sendo afirmadas:
Perspectiva liberal
Perspectiva libertária
Perspectiva utilitarista
Perspectiva comunitarista
Perspectiva igualitária
Perspectiva capacitária
Perspectiva social
Essas nomenclaturas não são pacíficas e essas categorias não conseguem incluir todos os estudos contemporâneos acerca do justo.
Perspectiva liberal (John Rawls)
Etimologia do termo “liberal”
Em português, durante muito tempo, liberal significou “progressista” ou “contrário a autoritarismos”.
Todavia esse significado está em decadência, e liberal, na atualidade, parece designar “defensor de um Estado mínimo” (em um significado pejorativo).
Todavia, em inglês (idioma no qual as teorias da justiça têm sido elaboradas), o termo liberal continua sendo associado a posturas de apoio à intervenção, ainda que limitada, do Estado na economia e nas relações sociais.
Por outro lado, em inglês, libertarian (libertário) é a postura que defende um Estado mínimo.
Perspectiva liberal de John Rawls (justiça como equidade)
A perspectiva liberal tem, hoje, como principal expoente, John Rawls.
Seu livro, Teoria da Justiça, é considerado como ponto de partida para a retomada das filosofias política, jurídica e moral após um longo de tempo de predomínio das teorias analíticas (de base positivista) no meio acadêmico.
Procedimento contratualista (hipotético) elaborado por Rawls:
Imaginemos a seguinte “posição original”: 
um contrato entre duas partes que tenham o mesmo nível de poder e conhecimento; 
que o objeto desse contrato seja nossa vida em conjunto;
que os contratantes não saibam qual papel ocuparão na sociedade (“véu da ignorância”).
Segundo Rawls devido ao “véu da ignorância”, os contratantes não optariam por princípios utilitaristas.
Adotariam dois princípios:
Garantia das liberdades individuais fundamentais;
Princípio da diferença: só serão permitidas desigualdades econômicas e sociais que visem ao benefício dos membros menos favorecidos da sociedade; desigualdades sociais e econômicas associadas a cargos e funções somente podem existir se eles estiverem abertos a todas as pessoas em condições de honesta igualdade de oportunidade.
Portanto, a perspectiva liberal de Rawls é fundada na liberdade e na igualdade.
Consenso sobreposto
É uma concepção pública de justiça, que é estabelecida na esfera pública.
Esfera pública é o locus de busca de consenso sobre uma base comum para o que é considerado razoável em uma sociedade a partir da proteção dos direitos fundamentais, especialmente, das liberdades individuais. 
A ideia de consenso sobreposto ampliaria o princípio iluminista da tolerância, bem como protegeria o pluralismo ideológico razoável. 
Para tanto, é indispensável a democracia e a participação dos grupos em fóruns políticos de discussão.
A teoria de Rawls tem sido imensamente debatida nas últimas décadas.
Perspectiva libertária
Foi das respostas à teoria de Rawls; seu principal expoente é Robert Nozick.
LIBERDADE E IGUALDADE SÃO IRRECONCILIÁVEIS.
Liberalismo radical (libertário): defende a posição neutra do Estado em face das escolhas voluntárias de adultos conscientes.
Uma sociedade livre não pode aceitar a coerção do Estado mesmo com a justificativa de tornar as pessoas mais iguais. 
Defesa irrestrita das liberdades de mercado e da limitação do papel do Estado (Estado mínimo).
Condena políticas tributárias redistributivas.
Liberdade e propriedade têm prioridade sobre os demais direitos.
Os seres humanos têm vidas distintas um dos outros e, por isso, devem ser soberanos de si mesmos.
Críticas ao pensamento libertário: proteger o mercado não seria proteger apenas os interesses dos mais ricos?
Segundo Clèmerson Clève, a Constituição de 1988 não contempla princípios libertários:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
Perspectiva utilitarista:
Formulação clássica:
A realidade da economia de mercado constitui-se num paradigma teórico. 
A natureza humana parece essencialmente pragmática: o homem é um maximizador do prazer e um minimizador do sofrimento.
O bem-estar pode ser calculado para qualquer homem subtraindo-se o montante de seu sofrimento do valor do seu prazer. 
Portanto,é possível chegar-se a um cálculo da felicidade da sociedade.
O bom governo será aquele capaz de garantir o maior volume de felicidade líquida para o maior número de cidadãos.
Stuart Mill: 
As pessoas devem ser livres para fazerem o que quiserem desde que não prejudiquem os outros;
Igualdade é a essência da justiça: justo é respeitar os direitos legais de qualquer um. 
Logo, o elemento principal na noção de justo é a conformidade com a lei.
A “justiça”, expressa tão somente por meio da lei, tem como função, para o utilitarismo, promover o maior bem-estar geral possível.
Nomes importantes do século XX e XXI: R.M Hare e Peter Singer.
Substituem a noção de prazer ou bem estar pela satisfação de interesses.
Perspectiva comunitarista
É centrada na ideia de comunidade e no compartilhamento de valores por ela propiciados.
Principais características:
Rejeita o liberalismo em função de seu excessivo individualismo.
Uma sociedade justa é aquela governada pela busca do bem comum.
Os valores morais não são universais, mas são aqueles que expressam as tradições morais de cada comunidade.
A Questão “quem é você”, em geral, é respondida remetendo aos fatores históricos, étnicos, culturais, sociais e religiosos que nos definem como pessoas. Essa resposta nos contextualiza como pertencentes à dada sociedade: “sou brasileiro, sou judeu, sou filho de fulano, sou de tal cidade”.
Grandes nomes: Michael Sandel, Michael Walzer, Alasdair MacIntyre e Charles Taylor.
Diferença entre liberais e comunitários (Will Kymlicka em Filosofia política contemporânea)
Liberais: os interesses do indivíduo vêm antes do Estado.
Comunitários: em primeiro lugar, estão os objetivos ligados ao bem comum.
Críticas à perspectiva comunitarista (Will Kymlicka)
Os valores são impostos ao indivíduo pela comunidade.
Nosso “eu” é constituído por valores que não escolhemos.
Há fins comunitários que não podem ser contestados pelo indivíduo. 
A teoria não explica como levar em conta o interesse das minorias (tende ao conservadorismo).
“Uma dona-de-casa cristã, em um casamento heterossexual monogâmico, pode interpretar o que significa ser um cristão ou uma dona-de-casa (...). Não pode, porém, recuar e decidir que não quer ser cristã ou dona-de-casa. Posso interpretar os papéis em que me encontro, mas não posso rejeitar os próprios papéis (...)”.
Perspectiva igualitária (liberalismo igualitário): Ronald Dworkin
BIOGRAFIA 
Nasceu nos Estados Unidos em 1931; faleceu em 2013.
Foi professor de Teoria Geral e Jurisprudência da Universidade de Nova York e da Universidade de Oxford (Inglaterra).
Em sua segunda fase, Dworkin rechaçou suas crenças da juventude em um Estado não intervencionista.
NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 
Segundo Dworkin, “o direito é, em grande parte, filosofia”. 
A importância da sua obra está, principalmente, naquilo que se refere à interpretação (cultura hermenêutica contemporânea) e na justiça como igualdade de recursos.
Dworkin travou profícuos debates com diversos autores, dentro os quais, Habermas e John Rawls.
LIBERALISMO IGUALITÁRIO
Liberdade e igualdade
O pensamento de Dworkin é, ao mesmo tempo, liberal (porque afirma os direitos individuais) e igualitário (preocupa-se com as questões de justiça e solidariedade social).
Pilares do pensamento sobre o justo
São três os pilares de seu pensamento sobre o justo:
Igualdade de recursos fundamentais
Liberdade com restrições
Comunidade liberal (tolerante; somos livres para vivermos como queremos desde que não violemos a liberdade dos demais).
Igualdade de recursos
Em um confronto entre liberdade e igualdade, deve prevalecer a igualdade de recursos.
Dworkin assume que a satisfação do bem particular de cada um (esfera privada) não pode ser conquistada sem que alguns elementos de justiça (esfera público) intervenham.
A igualdade deve ser pensada não apenas como um valor compatível com a liberdade, mas com os recursos que cada cidadão possui a sua disposição.
Dworkin rechaçou suas crenças da juventude em um Estado não intervencionista.
Igualdade de recursos: disposição de recursos fundamentais que as pessoas devem possuir para que possam realizar suas escolhas pessoais. Deve ter por base:
Responsabilidade e escolha: cada indivíduo deve ser responsável pelas escolhas que fez e faz no decorrer de sua vida.
Mercado
Para o autor, não devemos confiar apenas nas leis de mercado para alcançar um ideal de igualdade social.
O mercado não considera as condições dos participantes.
O Estado deve fazer essa equalização.
“Nenhum governo é legítimo a não ser que demonstre igualdade de consideração pelo destino de todos os cidadãos sobre os quais pleiteia domínio e dos quais demanda fidelidade. A igualdade de consideração é a virtude soberana das comunidades políticas – sem ela o governo não passa de tirania”. (A virtude soberana, p. IX).
Escolhas e responsabilidade
O Estado tem o dever de promoção de uma comunidade política justa, que respeite a esfera privada na qual os indivíduos realizam sua liberdade para agir e desenvolver suas escolhas.
Deve haver igualdade de condições para que os indivíduos efetuem suas escolhas.
Distribuição igualitária de recursos
+ igual respeito e consideração.
O indivíduo é o centro das preocupações (embora a comunidade seja importante): “Ninguém fica para trás” (lema dos marines americanos).
O indivíduo é livre para traçar suas concepções de vida.
O Estado não pode negar o suprimento das carências fundamentais.
O governo põe à disposição os recursos e as pessoas decidem o que vão utilizar.
Somos livres para manejar esses recursos, na medida em que sejam convenientes para nossos objetivos de vida.
O pensamento de Dworkin se ajusta a uma sociedade liberal e capitalista.
Perspectiva capacitária 
Relaciona bem-estar, desenvolvimento e liberdade.
Amartya Sen é representante dessa vertente.
Perspectiva econômica
A justiça é relacionada com a ideia de eficiência.
Grandes nomes: Richard Posner e Louis Kaplow e Steven Shavell.
Perspectiva social
Mapeamento da justiça nos cenário pós-liberal e multicultural (no qual o papel dos movimentos sociais ganha destaque).
Grandes nomes: Dussel, Boaventura de Sousa Santos e outros.
Leituras obrigatórias
BARRETTO, V.P; BRAGATO, F.R. Leituras de filosofia do direito, p. 218-231.
SANDEL, M. Justiça: o que é fazer a coisa certa, p. 321-332
Leitura complementar
CHUEIRI, Vera Karam. Dworkin. In Dicionário de Filosofia do Direito. Organizador Vicente de Paula Barreto. São Leopoldo: Unisinos, 2006, p. 259-263.

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