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1ª Edição Goiânia, 2011 Em 1933 fui incumbido pelo Patrimônio Histórico para fazer o tombamento preliminar da cidade de Goiás. Comecei pela parte arquitetônica, anotando as casas mais antigas, as igrejas. E nas igrejas comecei a observar que algumas imagens eram semelhantes, indicando ter sido feitas por um artista só e comecei a me informar, procurar dados e soube que eram de Veiga Vale, através de um seu descendente, dr. Edilberto Veiga, que na ocasião era o prefeito da cidade. Conversei com outros descendentes, com Henrique Veiga e com uma neta do artista, que deveria ter uns 90 anos, era de uma lucidez incrível. Ela me informou muita coisa, inclusive que havia um Menino Jesus do seu avô no Vaticano, levado pelo bispo Ponde de Leon ao papa Pio IX. Era um artista desconhecido, nem o povo de lugar sabia quem era Veiga Vale. No Brasil não havia conhecimento da existência deste artista goiano. Nas minhas investigações, no estudo das imagens, pude ver ainda algumas esculturas pertencentes a Henrique Veiga, ainda sem encarnação, estavam na madeira pura e por ali pude ver que eram de um grande escultor pela maneira como trabalhava, constatei também que era da maior importância. Ainda encontrei uns instrumentos seus, uns tachos e formões. Convenci o prefeito a fazer uma exposição lá em Goiás para ter repercussão e marcar o evento. Retiramos as imagens das igrejas e realizamos a exposição. Na época pensei que os intelectuais goianos se interessariam pelo conhecimento e divulgação de um artista de destaque que foi Veiga Vale, mas isto não aconteceu. Eu é que dei entrevistas em São Paulo e outra no Rio, falando sobre o artista goiano. Bem mais tarde é que fizeram uma exposição em Goiânia, e aí foi que sua divulgação começou a tomar vulto. João José Rescala, 1982 Apresentação 7 Dada a erudição do mestre e a época em que trabalhou, seriam de esperar imagens já no estilo neoclássico, sem arroubos barrocos. Mas, puro engano, pois Veiga Vale poderia assinar quaisquer das imagens brasileiras ou portuguesas do século XVIII, que não diferem de suas magníficas peças, todas de concepção claramente barroca. O barroco de Goiás sobreviveu ao barroco mineiro na obra extraordinária de José Joaquim da Veiga Vale. Eduardo Etzel Um artista no sertão O Brasil é um país grande. Decerto há outros países igualmente grandes em extensão, mas no caso brasileiro soma-se a sua dimensão uma certa tendência à centralização. Decorrente do próprio processo de ocupação das terras brasileiras, no Centro-Sul a vida se organiza a partir dos dois grandes focos: a matriz desbravadora e colonizadora paulista de um lado e a corte carioca de outro. Tudo o que se afasta desses polos constitui o sertão, palavra de difícil definição, mas que certamente embute a acepção de desconhecido, daquilo que está por apropriar-se, ocupar e incorporar. E o sertão brasileiro é enorme. De uma ponta a outra, da Serra de Pacaraima aos confins meridionais brasileiros, cobre-se com folga a distância que vai de Londres a Teerã. Se neste percurso no Velho Mundo passamos por uma centena de culturas, idiomas e povos, em nosso país-continente são a unidade e coesão que saltam aos olhos. Mas esta aparente unidade guarda detalhes ainda pouco conhecidos. À guisa de exemplo, imaginemos uma pequena vila situada em meio a este imenso sertão. Mais: imaginemos esta vila exatamente sobre a linha do Tratado de Tordesilhas, aquele meridiano que espanhóis e portugueses idealizaram em fins do século XV para dividir o hemisfério ocidental. Terra de ninguém, nos confins da demarcação e dos interesses ibéricos, nossa pequena vila fica a quase 170 léguas da corte brasileira, uns bons 90 dias de viagem com uma boa tropa pelos tortuosos caminhos do ouro. Imaginemos por fim, neste cenário, um personagem a desenvolver um trabalho artístico. 8 É este o pano de fundo sobre o qual se apresenta José Joaquim da Veiga Valle. Nascido em Pirenópolis (então Minas de Nossa Senhora do Rosário de Meia Ponte), nosso artista, na idade de se casar, mudou-se para a capital da Província, a não mais de 10 léguas de sua vila natal. E não se tem notícia de que tenha empreendido outra viagem. Com isso estamos diante de um personagem nascido e criado no sertão brasileiro das antigas Minas de Goiás, isolado dos centros nacionais, numa região em que a simples notícia da Independência tardou meses a chegar. Mas o isolamento físico não impede o espírito de nosso artista de aperceber-se de seu ambiente. Veiga Valle toma gosto pelo ofício dos santeiros e passa a incorporar toda a tradição ocidental na fatura de suas peças. Mas sobre sua obra, quem a apresenta e a discute são os especialistas convidados para esta publicação: Heliana Angotti-Salgueiro – professora da Universidade de São Paulo, responsável pela primeira dissertação acadêmica sobre o artista, defendida em 1982 na Universidade Federal de Goiás – e Élder Camargo dos Passos – estudioso e defensor das fontes culturais da cidade de Goiás, um dos responsáveis pela obra do artista ter atravessado o sesquicentenário e chegado até nós. Nesta breve apresentação, pretendemos restringir-nos a destacar o ambiente em que uma figura como Veiga Valle pôde florescer e o curso seguido por sua obra. A história oficial não se sente à vontade para registrar vultos ou obras do interior do País. O País oficial é apenas um recorte do País geográfico. São mínimas, praticamente inexistentes, referências a artistas do Norte ou do Centro- Oeste, do sertão do Centro-Sul. Veiga Valle foi um artista do sertão e, para quem olha de fora, pode não passar de um curiosum, um escultor caricato a repetir mecânica e extemporaneamente a cultura dos grandes centros artísticos. Mas talvez justamente aí resida seu maior mérito: produziu em condições adversas. Mais: produziu obras de boa técnica e bom gosto em condições adversas. Ou mudando o ponto de vista: promoveu o intercâmbio de ideias, num tempo de comunicação incipiente, em que o contato com obras de arte de outras regiões era difícil. A qualidade da obra de Veiga Valle fica maior por ter transcendido todos estes imperativos. Como já escrevemos acerca de um músico seu conterrâneo e contemporâneo: reviver a obra de Veiga Valle, seus santos, suas imagens, é manter vivo o sertão em seu desejo de participar do mundo. Sim, pois o Brasil fez suas escolhas e o sertão não faz parte de sua história oficial. Ao querer fazer o País menor que suas fronteiras, menor que seu espaço, perdemos todos. Dar a conhecer ao País a história de personagens esquecidos é dever de quantos se dediquem à pesquisa de nossa memória. Dar ao País a dimensão que ele tem significa coroá-lo com a diversidade qualitativa da brasilidade e de sua arte. Significa, enfim, valorizar a multiculturalidade e a regionalidade do país-continente. Mesmo enfurnadas no sertão, são essas qualidades que conferem a nós, brasileiros, nosso complexo atestado da identidade. Certamente terá sido esse o espírito a nortear o artista João José Rescala, que na década de 1940 percorreu o interior do Brasil em busca de conhecimento dessa arte perdida. Na esteira de seu relatório enviado ao então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, realizou-se a primeira exposição dedicada à obra do santeiro goiano. A redescoberta de Rescala reavivou o interesse sobre o artista nas décadas seguintes. Mas talvez não seja ainda o bastante. Sim, pois, infelizmente, outro aspecto importante a destacar acerca do sertão brasileiro, é que a figura de Veiga Valle está longe de se constituir em exceção. A própria Pirenópolis parece ter sido local profícuo para o florescimento das artes e dos ofícios. Além de nosso escultor, pelo menos outra figura genial atuou ali, o músico Tonico doPadre (1827-1903), contemporâneo de Veiga Valle e autor de obra tão fantástica quanto desconhecida. E esta situação é que nos leva a reflexões acerca dos mecanismos da história, em especial da história da arte e seu cânone. Um cânone é feito não apenas de memórias, mas também – e principalmente – de esquecimentos. E assim, na história das artes, a cada obra lembrada corresponde um sem-número de obras esquecidas, perdidas, olvidadas. A cada escultor, cada pintor, cada artista lembrado correspondem outros tantos esquecidos. A história da arte é um jogo permanente entre lembrança e omissão. E nesse jogo nem sempre ficam claras as referências que a história utiliza para promover suas escolhas, reunidas no cânone artístico. Um país que se dá ao luxo de esquecer-se de um ar- tista como Veiga Valle nos faz pensar no que mais terá sido abandonado. Por isso mesmo, o caso de Veiga Valle é emble- mático na história da arte brasileira, um artista trabalhando no sertão brasileiro do século XIX, distante dos centros de referência. E é a ele que passamos a nos dedicar agora. O editor Sumário A obra 37 Cronologia Bibliografia 85 95 Veiga Valle 15 Sua obra fala por si mesma (...) centenas de obras, das quais bem poucas ficaram no Estado e destas muitas já estragadas pelas encarnações. Veiga Valle viveu no clima social e político quase patriarcal do 1800 goiano. Estão, a vida civil e a vida religiosa eram uma coisa só, as festas cívicas eram manifestações religiosas e as festas religiosas caracterizavam- se com manifestações cívicas. A vida tinha um rumo certo, único: família e religião. Neste clima prosperou a arte maravilhosa de Veiga Valle, de pujança barroca, revestida sempre com cores e desenhos que chamam à memória a delicadeza de um quatrocentos florentino. Frei Nazareno Confaloni O caráter sacro da obra de Veiga Valle Élder Camargo de Passos Na sua trajetória de santeiro, o artista produziu uma variedade imensa dos mais diversos santos, que na época expressava-se conforma a devoção de cada pessoa que encomendava. Destacam-se as Madonas, representadas por Nossa Senhora da Conceição, d´Abadia, dos Remédios, das Dores, da Penha, do Bom Parto, das Mercês, da guia, do Carmo, do Rosário, da Natividade e outros mais. No tocante aos santos, o maior número de motivos são os Meninos Jesus, pela propagação das festas natalinas, época em que as famílias faziam e fazem o presépio, dos mais modestos aos mais sofisticados, costume que ainda perdura na família vila- boense. Há preferência, também, por Santo Antônio, pela tradição de ser o santo casamenteiro e por São José de Botas, por ser o padroeiro dos bandeirantes e desbravadores. Os outros motivos são encomendas de devoção popular. Veiga Valle vivia também do produto de sua arte, recebendo encomendas de fora, conforme inúmeras cartas existentes no relatório do artista João José Rescala, enviada ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1940. Essas cartas, muitas outras informações nos trazem, confirmando a capacidade do artista, seu bom gosto, o conhecimento de sua pessoa como artista na Província, principalmente como santeiro respeitado. Atestando isso tudo e mais ainda, as cartas cobram encomendas feitas e esperadas com ansiedade: Peço-lhe por muito favor, que as imagens de minha encomenda que estiverem prontas, remeta-me-as pela primeira ocasião de portador seguro, pois os encomendantes delas estão aflitos para recebê-las. Cristo Flagelado (fragmento) Pintura em tela, 1,00 x 0,60 m Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 16 17 Relatório sobre Veiga Valle, elaborado por João José Rescala, enviado ao então Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan) em 11 de abril de 1940. Arquivo do Iphan, Rio de Janeiro 18 Outra carta demonstra também que o santeiro não era careiro: Muito senti a não vinda das imagens pelo Silvério, mas como Vossa Mercê promete me aprontá-las com a brevidade possível e remeter-me, cá fico com o olho no caminho à espera delas. Tenho também de pedir-lhe já que me apronte com brevidade uma imagem de Jesus Maria José, que é encomenda de uma parente a quem muito desejo servir, e previno a Vossa Mercê que não me peça pouco dinheiro, não só pelas outras, como por esta última imagem, porque do contrário é Vossa Mercê não dar merecimento a seu trabalho, o qual não só é de muita delicadeza, como também por seu gênero, que ninguém repara o preço. Veiga Valle era também restaurador ou encarnador de imagens e dourador de peças. Alguns outros poucos artistas aparecem, através de registros vários, como inventários, livros de receitas e despesas de irmandades, relatórios, etc. Entre eles, o registro mais antigo é de 1782, o inventário do pintor alferes Bento José de Souza, que aqui permaneceu por 17 anos, trabalhando na confecção de nove retábulos para sete igrejas locais. Já no final do século XIX aparece também o pintor André Antônio da Conceição, a quem é atribuída a pintura do forro da Igreja São Francisco de Paula, da cidade de Goiás, conforme recibo registrado em livro da Irmandade dos Passos em 1870. Benvenuto Sardinha da Costa aparece trabalhando em Goiás em 1861, pintando novos painéis, conforme documentos no Museu das Bandeiras. Também Cândido de Cássia Oliveira, que foi professor de desenho, inicialmente dando aulas particulares e depois nomeado professor “da aula de desenho de ornatos e figuras”, no Liceu de Goiás, conforme notícia do Correio Oficial de 29 de julho e 28 de setembro de 1872. Foi também escultor: apresentou uma figura de índio em madeira na exposição de 1875, conforme registro em seu catálogo. Esse artista, após a morte de Veiga Valle, dedicou-lhe um soneto, publicado a pedido no Correio Oficial. Em cima: Carta de encomenda de Cuiabá, endereçada a Veiga Valle, datada de 1862. Arquivo do Iphan, Rio de Janeiro Página oposta, em cima: Recorte do jornal O Vilaboense, de abril de 1995, com notícia sobre o incêndio de 1921. Arquivo do Museu da Boa Morte, Cidade de Goiás Página oposta, embaixo: soneto composto por ocasião da morte de Veiga Valle, por seu colega Cândido Cássio e Oliveira 19 Cônego José Trindade, em seu livro Lugares e Pessoas (São Paulo: Edições Salesianas, 1971), comenta: Dom Cláudio vai a Roma receber pessoalmente de Leão XIII a grande bênção, pelo muito que havia feito à diocese de Santana de Goiás. Leva nessa oportunidade, àquele imortal pontífice, uma imagem do Menino Deus de madeira, confeccionada pelo escultor goiano Veiga. Em 1921 ocorreu um incêndio na Igreja da Boa Morte, destruindo algumas peças atribuídas a Veiga Valle. O jornal O Goiás, de 31 de março de 1921, assim noticia o fato: O que foi destruído: como já dissemos, o fogo destruiu inteiramente toda a capela-mor, inclusive o depósito existente na parte posterior do trono, desaparecendo todas as imagens que lá estavam, a começar pela linda e perfeita imagem do Senhor Morto, que se achava no calvário. Entre as imagens desaparecidas figuram mais duas Sant´Anas, uma delas oferecida à catedral o ano passado pela Exma. esposa do dr. Joviano de Castro (...) De todas as imagens da igreja, apenas escaparam as de N. S. das Dores e a de N. S. do Parto, que se achavam em seus altares laterais, fora do arco-cruzeiro, e uma pequena imagem de s. Joaquim. Apreciações Pelos documentos existentes, a primeira pessoa a evidenciar a obra de Veiga Valle foi o artista plástico João José Rescala, que em 1940 esteve na cidade de Goiás. Ao tomar conhecimento de seu trabalho, organizou uma exposição, com o prefeito local, dr. Edilberto da Veiga Jardim, e algumas autoridades e intelectuais. Além destes, Nice Monteiro, frei Cândido Penso, Francisco Ferreirados Santos Azevedo e Luís do Couto assinam o convite da primeira exposição retrospectiva de alguns trabalhos de Veiga Valle, realizada no edifício do Liceu de Goiás, entre 30 de março e 1º de abril de 1940. Essa exposição contou com 25 peças recolhidas, para uma melhor análise em conjunto. Foi a partir disso que Rescala elaborou seu relatório. No pranto da saudade um grito demos, Que demonstra pesares e aflições, Que faça compungir os corações, A lamentável perda que tivemos. O nosso exímio artista aqui perdemos, Por quem faremos preces e orações. A mais pungente dor, mil emoções E prantos com sufrágios minoremos. Extremosa família, o lastimoso Pranto amargo, que atesta o sentimento, Permita Deus que o faça mais ditoso. Iremos visitar seu monumento, Plantar jasmins sobre o chão relvoso, Carpindo tão funesto apartamento. Cândido Cássio e Oliveira 20 Um dos primeiros autores locais a escrever sobre Veiga Valle foi o professor Luís Curado, que por ocasião de uma segunda exposição, publica um artigo no nº 1 da revista Renovação: Se não ousarmos afirmar ter sido Veiga Vale um gênio, pelo menos temos de admitir que possuía uma fecunda inspiração genial, palpitante em suas obras. Seria mais acertado chamá-lo de um inspirado do que de um autodidata. O arquiteto Bruno Correia Lima e mais dois mestres da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em seu trabalho O genial santeiro de Goiás, de outubro de 1971, assim se expressam: Acreditamos que sua formação artística deve ter sofrido influência de entalhadores portugueses que afluíam para as regiões ricas de ouro, onde se levantam muitos monumentos religiosos, como aconteceu em Goiás àquela época. De uma coisa temos certeza: Veiga Valle jamais deixou a Província. Por isso não buscou ensinamento fora, frequentando qualquer curso de arte, nem recebeu, documentalmente, ensinamentos de algum professor. Frei Nazareno Confaloni, florentino de nascimento e radicado em Goiás desde 1950, foi um dos fundadores da Escola Goiana de Belas Artes, em Goiânia. Na mesma revista Renovação, assim escreveu: Enfim, almas sinceras que cantaram com sinceridade e grandeza a própria fé e a melancolia do sertão, chegando ao cume da realização artística no nosso Veiga Valle, que sem receio ouso chamar o Beato Angélico do Brasil. (...) O grande Veiga Valle, que dispensa apresentações, pois sua obra fala por si mesma. (...) Neste clima prosperou a arte maravilhosa de Veiga Valle, de pujança barroca, revestida sempre com cores e desenhos que chamam à memória a delicadeza de um quatrocentos florentino. Veiga Valle tem a técnica e a sabedoria compositiva dos grandes mestres das boas épocas da Europa. Temos o dever de ampará- lo. Sendo o artista de mais destaque da terra goiana, é um dos melhores no plano nacional. Chamo a atenção das autoridades competentes, para tomarem medidas capazes de defender este grande valor de nossa cultura, se possível com a própria fundação do Museu Veiga Valle, porque, se atrasarmos ainda mais, só ouviremos falar desse artista como de um mito, pelo desaparecimento de toda a sua produção. Sei que já é um pouco tarde para isso, mas providências imediatas poderão salvar ainda muita coisa valiosa. A escritora e folclorista Regina Lacerda, em seu trabalho na revista Cultura (jan-jun de 1980), “O barroco em Goiás”, fala sobre a carreira do artista: Na falta de melhores esclarecimentos sobre seu aprendizado, embora se considere ter-se orientado mais pela sua própria curiosidade, o certo é que Veiga Vale conseguiu alcançar uma técnica e sabedoria compositiva da Europa. (...) Cresceu Veiga Valle acostumado a vê em seu redor um ambiente anteriormente preparado, através das obras existentes nas igrejas de sua terra natal. Assim, seria possível afirmar que Veiga Valle guiou- se pelo próprio interesse em desenvolver o potencial de sua arte, seus olhos contemplaram inúmeras imagens que ornavam os altares e oratórios de Meia Ponte, como também os retábulos ali existentes, no camarim e trono, principalmente da Matriz. Veiga Valle passou sua meninice e juventude convivendo com esse ambiente artístico, enriquecido com a beleza simples de sua terra natal e participando das inúmeras festas religiosas. Nada consta que tenha ele, em algum momento, saído da Província, o que nos leva a concluir que seu desenvolvimento artístico tenha resultado das influências enumeradas. Foi um santeiro de preferência, seguindo com rigor a iconografia cristã e mais particularmente o tratamento dado às roupagens e motivos. Élder Camargo de Passos, natural da cidade de Goiás, é advogado e pesquisador. Criou a Organização Vila-Boense de Artes e Tradições (Ovat) e é presidente da Fundação Educacional da Cidade de Goiás e do Gabinete Literário de Goiás. 22 ...O que esses remanescentes do passado, esses fragmentos do tempo estão fazendo aí? Walter Benjamin Como nós olhamos? Não apenas com os olhos, não apenas com nosso olhar. Ver rima com saber, o que sugere que não existe o olho selvagem, e que nós abraçamos também as imagens com palavras, com parâmetros da produção do conhecimento, com categorias de análise. Georges Didi-Huberman Diante das imagens de Veiga Valle: questões colocadas, questões retomadas Heliana Angotti-Salgueiro O historiador que se coloca diante da imagem, que observa de perto uma obra artística, um objeto do passa- do no espaço contemporâneo, sabe que existe uma distân- cia para compreender este objeto que jamais será supera- da completamente. Distância esta de níveis diversos – de percepção visual, entendimento e observação, que, na sua escrita ele busca suprir por meio da “operação historiográfi- ca”; ou seja, na pesquisa informada pela meto dologia cientí- fica e os saberes pertinentes ao seu objeto, submetidos à luz da experiência comparada do olhar dili gente, que levam à construção narrativa. A inquietude intelectual pelo saber ver aproxima o estudioso das obras com novas questões para re- novar as respostas; sua interpretação embora não escape das categorias de análise do seu tempo ganha na busca de eru- dição específica para minimizar a referida distância inicial.1 Mas, ainda assim, tantos anos depois, apesar da consciência do “dever cumprido”,2 da ciência do trabalho cauteloso das palavras que procuraram iluminar de outra forma um contexto histórico e a importância de uma obra nele inscrita – a Goiás do século XIX e as imagens de Veiga Valle –, resta ao historiador a inevitável resignação melancólica de não ter dito tudo a respeito delas. Atitude epistemológica que nos incita por vezes a retomar questões colocadas diante daquelas imagens, que, deslocadas de seu sentido original – o de objetos de culto a objetos de arte –, continuam hoje lá, nos contemplando através de caixas de vidro. Detalhe de Sant’Ana Mestra Escultura em madeira policromada Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 23 Ao turista distraído que “passa” pelas obras nos museus e igrejas, sugiro menos pressa e um pouco de informação; ao cidadão comum que diante da imagem nutre ao menos a curiosidade de querer saber mais a respeito delas do que contam os discursos normativos, eivados de lugares comuns, chavões, mitos e clichês, dedico as reflexões a seguir. Questões colocadas: uma retrospectiva Diante de uma obra como a de José Joaquim da Veiga Valle (1806-1874), que, há 30 anos, quando escrevi meu Mestrado, não dispunha de estudos, catalogação, uma obra de referência, enfim, impunham-se operações básicas de pesquisa da disciplina História da Arte; estas supõem, primeiro, a escolha de um corpus ou de um conjunto signi ficativo de peças, sobre o qual se faz um trabalho de atribuição de autoria que, por sua vez, leva automaticamenteao segundo passo, a catalogação “racional” (catalogue raisonné), parte central da monografia sobre um artista. Estes passos levaram-me a privilegiar a noção chave de “singularidade”, não raro pertinente quando se faz a his- tória de uma obra, mas que, no caso de Veiga Valle, assume duplo sentido, artístico e social, que retomarei mais adiante. Por um lado, foi pela observação constante, diante da imagem, entendendo e comparando as maneiras de fazer uma escultura em madeira policromada e dourada, inscritas na tradição da imaginária sacra, que pude destacar duas características principais de suas peças: o hibridismo esti- lístico oitocentista, e a peculiaridade formal do esgrafiado na decoração do panejamento, traços entre outros que singularizam sua obra, personalizando-a. Uma vez compreendida a personalidade artística de Veiga Valle, procurei, por outro lado, desvendar a trama da trajetória do indivíduo social, as experiências de vida, os percursos, os cargos ocupados, construindo sua biografia ou personalidade cívica. Esta também veio reforçar a referida singularidade, pois estamos diante de um “fenômeno circunscrito” que, numa visada retrospectiva metodológica eu inscreveria no registro da micro-história:3 trata-se de um estudo de caso exemplar, de um artista único na Província de Goiás, no século XIX, que, além de se dedicar ao oficio popular de santeiro, aparece “inesperadamente” em outros contextos – no social como “pessoa grada”, no político, como major e deputado provincial sem expressão. Consideremos todas essas questões. A impessoalidade que inspira à primeira vista a ima- ginária, gênero anônimo e codificado, fazia com que qua- se tudo em Goiás “fosse Veiga Valle”. A massa de obras que lhe era atribuída sem critérios claros ultrapassava as possi- bilidades do tempo de uma vida, exigindo um contingente considerável de ajudantes, sendo que o único auxiliar com- provado foi seu filho Henrique Ernesto da Veiga Jardim, que trabalhou como dourador, sobretudo em Cuiabá (não em Goiás), mencionado no necrológio do pai como “discípulo aproveitável”. Cartas de encomendas compromissadas indi- cam que Veiga Valle demorava a aten der aos clientes, além disso, lembre-se que o santeiro exercia cargos políticos que lhe tomavam um tempo subs tancial (levantei sua frequência às sessões da Assembleia Constituinte, de que era membro assíduo, porém pouco eloquente). A peregrinação do levantamento em busca de peças em museus e oratórios particulares, muitas vezes junto a descendentes, famílias tradicionais e devotos, nas cidades de Goiás, Goiânia, Pirenópolis e Cuiabá, levou à reunião de um conjunto representativo de imagens. Diante delas, passei ao trabalho analítico e filológico, atenta aos códigos de identificação e atribuição, com base em dois pontos de vistas complementares, dois modelos clássicos devidamente 24 adaptados ao estudo: o de Giovanni Morelli (que releva o pormenor, o cacoete) e o de Max Friedlander (em que pesa o efeito do conjunto).4 Estes modelos adquiriram status quando da invenção da história da arte como “disciplina científica” a partir do final do século XIX, se prestando ao estudo de toda manifestação artística anônima que exige a peritagem (connoisseurship), etapa incontornável do trabalho acadêmico do historiador de arte. À dissociação e leitura parcelar das peças concorre o trabalho do olhar que observa, desenha, recorta, re- compõe, compara e descreve peça por peça, parte por parte, até que a diferença significante, ou as características pessoais se revelem não mais apoiadas no empirismo ou na intuição, mas na experiência visual que traz o discer- nimento de detalhes diferenciadores que formam um todo único. A ciência da imaginária e as normas de fichamento foram estudadas junto a órgãos creditados de inventário patrimonial nacional e estrangeiro, e discutidas com espe- cialistas (o pintor baiano João José Rescala que descobrira Veiga Valle nos anos 1940 e o restaurador mineiro Jair Inácio, hoje falecidos, além dos professores Liana Gomes Silveira e José Dirson Argolo, renomado restaurador ainda atuante em Salvador).5 Reuni, na catalogação, um corpus de 54 peças, produzidas entre 1830 e 1870, muitas se situando em torno do decênio de 1860, como sugeriu a documentação fragmentada em fontes diversas (entre elas as raras cartas de encomendas), além de ter analisado mais uma dezena de imagens esporadicamente localizadas ao longo da pesquisa, entre as quais poucas foram consideradas de “autoria confirmada”.6 Sem a pretensão de fazer um levantamento completo – o historiador sabe que toda exaustividade é ilusória – e levando em conta que as imagens estão disseminadas em vasto território (especialmente em Goiás e Mato Grosso), o corpus analisado foi suficiente para entender o “estilo Veiga Valle” e construir a monografia. O empenho descritivo sobre a composição, o arran jo e a posição das figuras, seu panejamento, a repar- tição das cores, expressões, gestos e atitudes, a insistência nos detalhes decorativos da policromia, enfim, se justifica- ram como uma etapa necessária para encontrar, ao mesmo tempo, as invariantes do gênero e as tipologias específicas, as constantes na obra de Veiga Valle; este conhecimento per- mitiu identificar graus de atribuição das peças cata logadas: confirmada, provável, duvidosa, e rejeitada. Assim é que a des- crição, auxiliar das operações de atribuição e catalogação, apesar dos riscos de lugares-comuns ou do seu caráter repetitivo formalista inerente, é quem permite definir os traços singulares e agrupar os signos distintivos de um artista. No levantamento com fins de catalogar a obra de José Joaquim da Veiga Valle, procurei guardar-me da hierarquização de méritos formais, examinando com a mesma atenção as obras que lhe eram atribuídas, tanto as tidas como “sem qualidade” quanto as “realizações máximas” marcadas por “apuro técnico” – lugares-comuns ainda pre sentes nos discursos tradicionais dos historiadores da arte quando estes se revelam árbitros ocupados com as classificações de “menor”, “maior”, ou quando relevam “arcaís mos”, “precocidade”, ou o que é ainda pior, destacam “perfeição” e “obra-prima”, expressões igualmente inade- quadas numa monografia artística científica. Recusar essa terminologia não significa, porém, ignorar os valores plásticos e estéticos que, em Veiga Valle, estendem-se quase de maneira uniforme ao conjunto de sua produção. Na periodização, afastei-me da cronologia tradicional baseada no idealismo evolucionista e no esquema orgânico (biológico e progressivo), especialmente porque o observado aprimoramento da qualidade da fatura marca a 25 maioria das peças; apenas a documentação poderia sugerir algumas balizas da produção: a título de exemplo, as cartas de encomendas citadas (que se estendem de 1858 a 1865), e ainda o mau estado de conservação das ferramentas de trabalho e a ausência de pincéis no inventário de Veiga Valle, em 1874: seu falecimento após “longa enfermidade” faz concluir que não mais trabalhava já havia algum tempo. Assim, diante da escassez documental, das evidências citadas e do padrão uniforme de fatura das peças, foi a repartição estilística em três grupos (barrocas, neoclássicas e mistas) e o agrupamento tipológico iconográfico (Meninos Deus, Cristos) que nortearam uma classificação hipotética para catalogar a obra. Se a assertiva “arte como documento” não constitui mais novidade metodológica como na época em que escrevi minha tese sobre Veiga Valle, os registros que escolhi para afirmá-la conservam, porém, sua atualidade. A autonomia da imagem enquanto tal permite várias leituras, uma delas é o conhecimento do ofício evidente na sua própria execução. Relendo meu livro, e lembrando-me de sua receptividadejunto às equipes de museus e instituições patrimoniais do país, destaco a relevância da descrição dos procedimentos artesanais de fatura das peças, próprios ao oficio de santeiro. Esta arqueologia da cultura material fazia parte também dos capítulos da Nouvelle Histoire (que nos era transmitida na recém-iniciada pós-graduação da UFG, criada em convênio com a USP); porém, muito antes da História Nova, já lembrava A. Leroi-Gourhan que o etnólogo e o historiador não podem furtar-se ao conhecimento do mundo do trabalho artesanal e dos gestos técnicos. Assim, da leitura dos velhos manuais nos arquivos passei à observação das maneiras de fazer uma imagem nos ateliês de restauração (Salvador e Ouro Preto), onde tive a chance de discutir com pessoas que viviam as práticas do ofício em 1981. E, justamente, a descrição dessas práticas, transmitidas sem fronteiras e na longa duração, bastou para desarmar o mito do “autodidata inspirado” que se cultivava em relação a Veiga Valle, e tornar inoperante a pesquisa obsessiva do aprendizado (de que não restam traços documentais diretos), do qual seu savoir-faire explícito na realidade material das próprias imagens é a maior prova. Embora os documentos se calem sobre sua formação artística, as obras demonstram que ele não só domina os segredos plásticos, mas tem um conhecimento cabal de anatomia, de desenho, dos códigos iconográficos e estilísticos. Busquei, ainda, no campo da cultura material, detectar a presença das matérias-primas encontradas na natureza próxima a Vila Boa – madeiras, pigmentos, óleos – inventariadas no catálogo da Exposição Provincial de 1876, sem descobrir, porém, dados concretos sobre os usos do pigmento natural na fatura das peças, sobre a comercialização dos pigmentos químicos na região e sobre o emprego concomitante de ambos por Veiga Valle (desconheço que prospecções nesse sentido tenham sido feitas). Se as técnicas de atribuição de autoria, reconhecidas pela historiografia da arte, bem como o “catálogo racional” de uma obra, o inventário das peças, a pesquisa biográfica, a datação de obras e a constituição de um corpus sob análise estilística continuam a funcionar como uma parte útil do trabalho do historiador de arte, a eficácia e os méritos deste tipo de história classificatória ou museológica não justificam o silêncio interpretativo e as reticências teóricas, históricas e antropológicas que invariavelmente a acompanham. Por isso, seguindo ainda posturas da Nouvelle Histoire ultrapassei o binômio tradicional “vida e obra” e dei-lhe novos contornos. Afastei-me, por exemplo, das representações idealistas e valorativas da figura do artista “genial”, negando também seu retrato mítico e hagiográfico. Procurei, antes de tudo, 26 fazer a história da obra, sem deixar, contudo, de interessar- me pela vida, já que os percursos documentais nem sempre bem sucedidos em relação à primeira informavam melhor a segunda. As pesquisas sobre os contextos históricos em que a obra era produzida incluíam os dados relativos à biografia do artista, aos “nomes” que os linguistas e os estruturalistas em seu radicalismo inicial queriam apagar, e que constituem para o historiador o fio de Ariadne a guiá-lo nos labirintos lacunares dos arquivos. Refiro-me aos dados sobre car- gos típicos ocupados por um homem da elite imperial circunscrito ao cotidiano de uma província estagnada, dados úteis ao historiador tout court, que embora não se interesse pela obra artística, encontra neles subsídios e sugestões de pesquisas. Nesse sentido, penso ter trilhado a fecundidade dos caminhos da micro-história que nascia, acrescentando a ela as novas dimensões da biografia, que emergiam também naquele momento: o levantamento da trajetória profissional paralela de Veiga Valle não explicava a produção da obra, mas confirmava o caráter do “excepcional normal” estudado por aquela corrente historiográfica. O caso Veiga Valle é ainda mais significativo neste aspecto, pois rompe com o princípio generalizante da “arte como expressão da sociedade”, cuja positividade já foi há muito questionada; se este princípio supõe que, “num dado momento histórico” (com o perdão do lugar-comum...) as artes eclodem e se correspondem, constatei ao contrário que, na Goiás do século XIX, a arquitetura, a pintura e os retábulos não são sincrônicos à produção veigavaliana. Há que introduzir nuanças nas correspondências esquemáticas espaço-temporais, levando-se em conta uma produção individual isolada, que, no entanto, encontra um universo de recepção favorável apoiado na religiosidade presente na vida cotidiana. Alguns documentos foram centrais nesse sentido, como os inventários familiares de 1842 a 1874, que mencionam inúmeros oratórios e muitas imagens, seu valor na época (inferior ao preço das peças de Veiga Valle), além de sugerirem o perfil sócio-econômico dos encomendantes. Assim é que a biografia vai além do âmbito indi- vidual e questiona as certezas da história oficial. Assim é que a produção artística não constitui um simples “reflexo” (termo tão ultrapassado quanto “influência”, esta “praga da crítica de arte”7) de uma época, nem se reduz às acepções genéricas do “imaginário” social ou da história das mentalidades (convocada de forma abusiva nos anos 80), mas se inscreve numa rede de relações particulares de diálogo com outras obras deslocadas no tempo e no espaço, encerrando temporalidades múltiplas. Neste raciocínio o historiador se desembaraça do paralelo esquemático arte-sociedade, e concebe a monografia sob um enfoque mais atento às condições de possibilidade do artista e sua cultura visual, aceita as diacronias, “contradições”, passos e descompassos, trabalha as correlações de séries do individual e do geral, do excepcional e do regular. A inserção de um objeto de história regional no cenário da história do país e no plano internacional, ainda que por ramificações comparativas que assumam apenas valor de exemplo, fazem com que as descontinuidades, as rupturas, os caracteres comuns e especialmente os traços singulares venham à tona. Após esse trabalho sobre Veiga Valle, terminado em 1982, envolvi-me com pesquisas em outras direções; mas ao longo de anos, percorrendo outras terras, nunca deixei, porém, de lado as oportunidades de observar peças em grandes centros da imaginária – Valladolid (Museu Nacional de Escultura), a escola de Salamanca e outras, do barroco ibérico ao italiano – e posso dizer que a aquisição de uma experiência visual diante de tantas imagens só veio confir- mar a unidade de traços singulares detectados no conjunto 27 da obra do toreuta goiano, que, num processo de familiari- dade empático-intelectiva entre o historiador e seu objeto, me pareceu irredutível a qualquer outro corpus, anterior ou contemporâneo. Por que Veiga Valle é singular – questões retomadas Noção fundamental, título do meu trabalho não por acaso, a singularidade foi trabalhada em níveis que busquei articular sob dois registros diferentes – estilístico-formal e histórico-biográfico que, paradoxalmente, pareciam se opor. Primeiro, a singularidade se afirmou na análise do corpus, em que pude observar ao mesmo tempo o que é da norma coletiva e o que se destaca como prática individual. Numa produção codificada como a da escultura sacra é singular aquele que apesar de repetir a linguagem figurativa convencional, mostra uma certa inventividade de estilo. Embora inscrito numa tradição de modelos iconográficos e técnicas de fatura que ultrapassam o espaço e o tempo de sua obra, Veiga Valle reúne em suas peças dispositivos formais que o singularizam, entre os quais destaco o exemplo já anunciado: a “caligrafia” dos ornatos dos panejamentos. Desenhando-os em pranchas e comparando- os com outros levantados em imagensde regiões do Brasil como Pernambuco, Paraíba, Bahia, São Paulo e Minas Gerais (não incluídos no livro, pois seria outro trabalho), eles se revelaram como um dos traços formais distintivos do escultor-pintor, decisivos na atribuição. Não retomo aqui a detalhada descrição das etapas de execução da escultura em madeira policromada desen- volvidas no livro,8 que me levaram ao reconhecimento da singularidade – lembro apenas sua sequência para chegar ao ponto que me interessa – a primeira etapa é o entalhe, depois a aplicação cuidada da base intermediária entre a ma- deira e a capa de douração e a pintura, ou seja, a execução Detalhes do esgrafiado dos mantos Em cima: Nossa Senhora da Imaculada Conceição Escultura em madeira dourada e policromada, 26 cm Embaixo: Nossa Senhora com o Menino Escultura em madeira dourada e policromada, 47 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 28 do aparelho; chega-se então à etapa do acabamento, que se resume no seguinte: depois da douração e aplicação da poli- cromia, passa-se aos desenhos do esgrafiado que singularizam a decoração do panejamento. No inventário de Veiga Valle são arrolados muitos “cadernos de pão de ouro e prata” (tra- ta-se das folhetas a aplicar sobre o aparelho) – a superfície da roupa dos santos era folhada quase por inteiro – as pe- dras “de brunir”, arroladas entre seus “trastes”, serviam para tornar luminoso o metal. Seguia-se a aplicação da pintura (em que ele demonstra a sabedoria do uso de pigmentos de uma paleta variada, comprovada nos raros casos de esmae- cimento cromático). Após a aplicação das tintas na imagem já dourada, passava-se, então, ao estofamento: desenhos feitos calcando-se com o esgrafito (espécie de estilete) a camada externa da tinta seca, de modo que a camada interna, o “pão de ouro” colado e brunido aparecesse, evidenciando assim os ornamentos dos “tecidos” que vestem a imagem, a efeito de “uma renda dourada” (P. Minguet). Sabe-se que o esgra- fiado é técnica conhecida desde a segunda metade do século XVI, da Espanha ao sul da Itália. Veiga Valle revela-se um gravador exímio com domínio técnico e conhecimento dos motivos decorativos de ornatos marcados por um figurati- vismo floral rococó, muito comum sobre suportes variados desde o século XVIII. Quanto à singularidade estilística, a escultura de Veiga Valle é ambivalente, pois ele domina dois estilos e, não raro, os combina criando uma tipologia dual, ou mista – pautando-se, muitas vezes, no neoclassicismo da figura hierática e axial, é moderna (do seu tempo); prolongando a codificação barroca (ou mais precisamente rococó) na disposição movimentada das massas dos panejamentos, está aparentemente deslocada. Esta harmonização dos estilos contraria, de certa forma a dicotomia formalista wölfliniana, reforçando o interesse por seu estudo,9 questão de que alguns níveis merecem ser retomados. Detalhes do esgrafiado Em cima: Detalhe do manto de Nossa Senhora do Parto Escultura em madeira dourada e policromada, 140 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás Embaixo: Detalhe do véu de Nossa Senhora da Conceição Escultura em madeira dourada e policromada, 32,5 cm Acervo da Fazenda Babilônia, Pirenópolis 29 A escultura veigavaliana não pode ser rotulada de extemporânea, pois, apesar de algumas imagens reterem traços próprios do rococó que se prolongava desde fins do século XVIII, outras se inscrevem, quase por completo, no modelo neoclássico, em voga na época. De toda maneira, seria extemporânea, se referida a modelos abstratos de estilos – estes, na realidade, não aparecem prontos e nem se alternam rigidamente. A diversidade das manifestações inscritas sob a etiqueta “barroco” estende-se num tempo longo e em espaços diferentes; sem falar na fluidez das passagens e nas relações entre os estilemas em questão (barroco, rococó, neoclássico), que evoluem diferentemente e segundo his- to ricidades próprias. O hieratismo e a verticalidade de algumas imagens do século XIX rememoram características semelhantes de imagens seiscentistas, e as transições e aglutinações de estilos ao longo da história da arte indicam prudência na classificação. Assim, afirmei e reafirmo que o “barroco” de Veiga Valle não pode receber o apelativo “tardio”. (Nem tampouco o dos santeiros baianos da Ladeira do Taboão, em Salvador, no final do século XIX, estudados por Eduardo Etzel.) Não se transpõe, mecanicamente, uma periodização aplicável, com reservas, à Europa dos séculos XVII e XVIII: artífices ainda são frequentemente barrocos no século XIX, no sul da França, em Nápoles, na Calábria. Se os ornamentos persistem como um dispositivo simbólico da maior importância na segunda metade do século XIX em todas as artes (penso especialmente na arquitetura), dispositivo relevante na obra de Veiga Valle, estes o confirmam também como um artista do seu tempo. Mesmo na classificação estilística da maioria das imagens – seja na ornamentação, identificando-a como tipicamente “rococó”, seja nas linhas de composição e dos gestos, reconhecendo-os como “barrocos”, é inoperante o epíteto tardio, porque o historiador sabe que não há sequências homogêneas e lineares de um tempo único na identificação dos estilos. Seguindo esta postura, a produção de Veiga Valle tem seu tempo próprio, pois apresenta justaposições de dispositivos formais de origens diversas que se interceptam de forma singular numa mesma representação. Exemplos abundam de descontinuidade temporal e estilística – dentro da imaginária brasileira, como as esculturas do Aleijadinho que sugerem, por vezes, seja no panejamento anguloso, seja no expressionismo dos traços, uma certa familiaridade com o alto gótico alemão (Tilman Riemenschneider), e não com o que se conhece como barroco e ainda menos como rococó. Em tais situações, que não são atípicas nem raras na história da arte, há de se buscar as razões da morfologia e estilística no aleatório dos modelos em circulação, sobre os quais sabe-se tão pouco. Neste estudo, podemos nos perguntar: O que representariam os “quadros” arrolados no inventário de Veiga Valle? Será que o amigo Candido de Cássia e Oliveira (que descobrimos depois ter sido aluno, em 1861-1866, do curso de desenho de ornatos e figura, na Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro) teria lhe comunicado estampas que circulavam na capital? Seria possível encontrar esses e outros modelos? Pesquisas sobre relações entre os artífices (artes mecânicas) e artistas (belas artes) no século XIX (se é que eles se separavam de forma nítida) com base em estudos de caso concretos nos diversos ramos das artes – pintura, estatuária, arquitetura – trariam também elementos no- vos para a construção de uma história de transmissão de modelos e práticas nos ateliês e canteiros de obras, além da identificação de novos atores implicados no processo de criação. Porém, no caso específico de Veiga Valle, a com- provada inexistência de artesãos ou santeiros na Província de Goiás, teria feito recair em um homem de elite, por acaso 30 talentoso, a produção de imagens: assim a contradição deixa de existir, impondo-se antes a singularidade biográfica e uma divisão de trabalho forçosamente pouco diferenciada. Veiga Valle descendia e casou-se nos meios de famílias prestigiosas pertencendo então aos segmentos das pessoas gradas: juiz em Pirenópolis (então Meia Ponte), alferes da Guarda Nacional e depois deputado e major; exerce, porém, um ofício mecânico humilde como o de santeiro, mas com a maestria de um “artista”, recebendo pagamento à altura por sua obra, gênero muito solicitado. Esta antinomia revela- se aparente, se valorizarmos o específico, o “excepcional normal”, como reconhece a micro-história, assumindo representatividade na sociedade local.Basta reler a notícia de sua morte do Correio Official, e o soneto do amigo artista que morava então em Goiás, Candido de Cássia e Oliveira; o necrológio justapõe as virtudes morais, políticas, sociais e artísticas de Veiga Valle com igual peso, o soneto lauda o “exímio artista”. Embora de menor importância, há outros casos em Goiás do século XIX que fogem das abstrações esquemáticas profissionais, como o de religiosos que ocupavam funções públicas, notáveis locais que dirigiam jornais e serviam de mediadores culturais no sertão – fios de múltiplas histórias singulares ainda por tecer e cruzar. * * * No decênio de 1980, que foi o da reabilitação e revisão da arte do século XIX, tive oportunidade de fazer um doutorado na França, e acompanhar estudos e debates nos círculos internacionais que me fizeram enxergar de outra maneira esse século de invenção da história da arte. Caracterizado por revivals historicistas, pela afirmação da arte industrial e de novos materiais, escolha e combinatória de estilemas (o ecletismo mal começava a ser discutido no Brasil), hibridismo formal, desproporções de motivos, profusão de ornamentos... No caso de Veiga Valle, a reflexão pode ser aprofundada reconhecendo-se as apropriações que ele faz da rede de imagens que o cerca, tanto nas imagens do século XVIII presentes nas igrejas como nos modelos da estatuária romântica que teriam circulado na província, as imagens de gesso fabricadas em série e vendidas nas ruas (segundo atestam leis e resoluções provinciais). Confirmando o hibridismo de muitas imagens, dispositivos formais como as peanhas (dos Meninos Jesus, da Nossa Senhora das Mercês e da Nossa Senhora da Conceição) são típicas da escultura profana do século XIX que, no Brasil, ainda está à espera de estudos aprofundados. O estágio da reflexão sobre as categorias de estilo então, limitada à bibliografia dos anos 1960-70, levava-nos a reconhecer as linhas da composição como “barrocas” e “neoclássicas” – no entanto não me escapou o fato de estar diante de um “estilo misto”, terminologia que encontrei mais tarde nos textos do século XIX referente às associações ou combinatória própria a um tempo de pluralidade estilística. Pluralidade de que a obra de Veiga Valle é uma manifestação a mais para afirmar que o século XIX é artisticamente complexo e não permite o estabelecimento de normas gerais estilísticas devido à diversidade e natureza de suas linguagens. Sabe-se que o discurso do historiador elabora-se a partir das indagações do seu tempo. Neste sentido, questões e terminologias precisam, muitas vezes, ser retomadas ou revistas. Por exemplo: hoje eu não mais escreveria que as igrejas barrocas foram “descaracterizadas” pelo neogótico do século XIX, mas reconheceria que a transformação operada nos templos goianos (ora em mau estado de conservação ou em ruínas) correspondia, por um lado, a um consenso praticamente internacional que elegia o neogótico como um dos estilos adequados aos programas de arquitetura religiosa, e, por outro lado, significava a recusa (própria ao Império brasileiro) do colonialismo português identificado ao estilo barroco; lembre-se ainda das restrições a este 31 estilo, explícitas na imprensa especializada, e seu eco nas críticas da crônica cotidiana do Rio de Janeiro. Além disso, num momento em que ainda não existia no Brasil a noção de preservação patrimonial, seria anacrônico esperar uma restauração segundo o estilo arquitetônico “original” daquelas igrejas. Diante da imagem hoje... Se toda pesquisa se inscreve nas condições de possibilidade bibliográficas e no estágio da reflexão do lugar onde se elabora, diante do caso de um artista não estudado e uma obra não catalogada, as escolhas de abordagem deviam privilegiar, na época, a monografia: a descrição das convenções figurativas, a análise dos valores formais, técnicos e estéticos, a construção de séries na catalogação, e as dimensões sociais e políticas da biografia. Tarefa cumprida que se apresentaria hoje, em certos aspectos, de outra forma graças aos novos modos de tratamento da imagem em bancos de dados, cujos recursos nem sonhávamos trinta anos atrás. Novos enfoques surgem e permitem que diante das imagens se coloquem outras questões; algumas delas seriam aprofundadas em registros de pesquisa paralelos e cruzamentos interdisciplinares, entre a história da arte e as ciências sociais, nas correlações com a antropologia visual, na eleição da visualidade como dimensão privilegiada da história cultural – de uma história iconográfica a uma história dos contextos históricos das práticas e representações – levando em conta o universo fenomenológico daqueles que as cultuavam. Voltemo-nos para as imagens de Veiga Valle, con- templando-as hoje, nas igrejas transformadas em museus, dentro de caixas de vidro sob intensa luz. Passando a ser objetos de arte, de exposição ou de decoração (caso de coleções particulares, que implica ainda o epíteto de “mercadoria”), essas imagens mudaram de estatuto, perdendo seu sentido original: o de objetos de culto ou devoção. Enquanto tal, elas supõem níveis de conhecimento em que a pesquisa iconográfica se articula ao universo do sagrado, voltando-se também para a dimensão antropológica de ritos, crenças e práticas, manifestações coletivas de religiosidade, romarias e festividades nos espaços cotidianos. Neste sentido, falta-nos reconstituir uma geografia e uma tipologia das devoções regionais que recuperem aspectos das formas de representação. Códigos gestuais e postura dos santos, literatura mística relacionada com a montagem da representação plástica, entendimento da rela- ção espacial entre a peça e o devoto, como as condições de sua localização e visibilidade: os altos nichos de retábulos e o recôndito de oratórios não teriam imposto o cromatismo vivo e luz pródiga da douração para compensar a iluminação sombria das velas? As atitudes coletivas e as individuais são temas, pois, de uma antropologia histórica dos usos e práticas diante da imagem, cuja bibliografia internacional se desenvolveu muito nos últimos decênios. Sob tais enfoques, eu levaria em conta hoje fotografias de alguns Meninos Jesus de Veiga Valle tal qual os encontrei nos oratórios domésticos, ou seja, vestidos com suas camisolinhas de renda branca e ornados de joias, representação que pede reflexões de outra ordem: uma história da imaginária não se contentaria mais em estabelecer a procedência da peça, retirá-la do seu oratório, despi-la, fotografá-la nua, descrever sua composição formal, estilística e iconográfica. A compreensão do historiador vem se ampliando com a atenção a uma fenomenologia do olhar – níveis da percepção dos devotos e sentido que davam a certos tipos de imagens – atitudes e gestos que as envolviam. 32 Num registro paralelo, ressalte-se o significado da recuperação de elementos do cenário sócio-cultural. Na conclusão do meu livro, evoquei o lugar e a função que os santos ocupavam no cotidiano coletivo – na igreja, no oratório familiar, nas procissões, como um elemento de coesão possível de uma sociedade estratificada, apagando na brevidade da prece, as desigualdades cotidianas e as opressões; sugeri assim que as relações entre os segmentos sociais, dos dominantes e subalternos, se atenuavam nas manifestações de religiosidade em torno da imagem – mas este seria outro trabalho. Mediadoras espirituais de comunicação, mas também signo de status, as imagens de Veiga Valle estimulavam as rivalidades das irmandades e dos particulares abastados, passando a povoar os templos decadentes e os oratórios domésticos. A presença de imagens recentes em altares antigos atesta que havia o desejo pela beleza do culto e do espaço sagrado, sentimento estético de uma população quese sacrificava para adquirir santos de boa fatura, particulares “ansiados” e “aflitos” para receber as encomendas para si ou para presentear parentes, dispostos a pagar caro para adquiri-las; releia-se com renovado interesse trecho da carta do tio de Veiga Valle que intermediava a venda de imagens em Cuiabá, datada de abril de 1862, quando este aconselhava ao santeiro “não pedir pouco dinheiro” pelas imagens, “porque do contrário não dá merecimento ao seu trabalho, o qual não só é de muita delicadeza, como também por ser gênero que ninguém repara preço”. Num outro nível, os estudos que propõem uma abordagem antropológica da expressão, nova via de reflexão sobre a imagem, só concretizaram seus enfoques nos anos 90. Sabe-se hoje que os valores expressivos das imagens ligam-se a modelos, a textos teórico-litúrgicos transmiti- dos ao longo do tempo. Mas seria muito simples acreditar que estes trariam todas as respostas: no caso, não há nem textos concretos nos quais se apoiar. Quando incluí o item “expressão fisionômica” no fichamento das peças, pensei nas categorias expressivas que faziam sentido na constituição de uma teoria dos sentimentos, típica do século XVIII, item que revela mais uma vez Veiga Valle se afastando do esquema barroco da representação, pois suas imagens apresentam um efeito fisionômico de serenidade, reforçado pela contenção de atitudes (o que não quer dizer que não haja movimenta- ção, o que a iconografia obriga em certas representações, como o gestual da luta-dança presente no São Miguel Ar- canjo do Museu da Boa Morte, especialmente se visto de perfil, ângulo privilegiado para contemplar esta escultura). A maioria das peças desdenha a emotividade intensa, mes- mo os Cristos não correspondem ao caráter atormentado que vem da imaginária da Contrarreforma – Veiga Valle con- fere a todas as imagens um ar de família plácido que também as singulariza, uma expressão de doce alegria, uma benevo- lência contemplativa em relação ao devoto. Diante da imagem hoje, “a gama de atitudes historiográficas é mais ampla do que poderíamos pensar” (Klaplisch-Zuber, 2003, p. 105). Tentar compreender as condições de surgimento de um objeto que se encontra fora do seu contexto não significa que se possa atingir “a reconstituição histórica de um estado de espírito”, como esperava Baxandall – o historiador sabe que a construção histórica tem seus limites, precariedades e anacronismos. Porém, munido de conhecimentos e de categorias de análise explícitas e apoiado em níveis sistemáticos de observação das próprias obras, de sua realidade documental e material, ele atenua, de certa maneira, a distância das intenções que presidiram sua criação e dos olhares que se voltaram para elas ao longo do tempo. Não se acredita mais na positividade da inserção das obras na cultura visual do tempo que as viu nascer, mas no processo dialético de interpretá-las segundo as questões (sempre renovadas) do tempo que as conhece. Assim, não haverá a última palavra... 33 Notas 1. Nesta apresentação retomo considerações sobre a arte e suas abordagens que desenvolvi em “Introdução à edição brasileira” de baxandall, Michael. Padrões de Intenção. A explicação história dos quadros. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. 2. Para aprofundar as considerações deste ensaio, ver, de minha autoria, A Singularidade da obra de Veiga Valle. Goiânia: Editora da Universidade Católica de Goiás, 1994. Trata-se da segunda edição acrescida de um posfácio retomado parcialmente neste texto, onde situo e discuto os enfoques da minha dissertação de Mestrado em História, defendida em 1982, cuja primeira edição foi publicada em 1983. 3. A micro-história que surgia na Itália no inicio dos anos 1980, se interessava também pelos métodos de atribuição de autoria da obra de arte. Ver os textos hoje clássicos de GinZburG, Carlo: “Sinais: raízes de um paradigma indiciário”, em Mitos, emblemas, sinais: Morfologia e História. São Paulo: Companhia das Letras, 1989 (o original é de 1986); Idem. Indagações sobre Piero – o Batismo, o ciclo de Arezzo, a Flagelação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989 (o original é de 1981); Idem. “Mostrare e dimostrare”, Quaderni Storici, v. XVII, n. 50, 1982. 4. Sobre o método morelliano de expertise ver o artigo de damisch, Hubert, “La partie et le tout”, Revue d’Esthétique, 1970, retomado em cohn, Danièle (dir.). Y voir mieux, y regarder de plus près. (Autour d’Hubert Damisch). Paris: Aesthetica, 2003. 5. A ficha-padrão aplicada na análise das imagens de Veiga Valle engloba os seguintes itens: identificação e localização da peça, condição jurídica, procedência, datação provável, atribuição de autoria, dimensões, técnica e material, descrição formal e seus desdobramentos, figuras secundárias, atributos e ourivesaria, iconografia e estado de conservação. Na “iconografia”, há momentos em que desenvolvo um histórico amplo da representação (vida e trajetória da devoção), como no caso dos Meninos Jesus (ver a peça nº 20, entre as 54 fichas das imagens do meu livro, citado na nota 2). 6. Diante da Nossa Senhora com o Menino, de Luziânia, a atribuição se fez com toda certeza mediante uma boa fotografia, confirmando-se a autoria nos pormenores, no conjunto, na comparação (ver p. 394-395 do meu livro); outras peças demandam horas de observação criteriosa antes de qualquer veredicto. 7. Expressão de baxandall, Michael, “Digressão contra a noção de influência”, em seu livro Padrões de Intenção. A explicação história dos quadros, op. cit, p. 101 e ss. 8. Ver “Procedimentos artesanais”, em A Singularidade da obra de Veiga Valle, op. cit, p. 59-74, onde descrevo as etapas com detalhes, apoiada em referências bibliográficas e testemunhos do ofício. 9. Cf. meu texto e imagens em Características do Estilo Veiga Valle, livreto ilustrado que circulou por ocasião da exposição de painéis fotográficos de suas obras, em sete cidades brasileiras, a partir de Goiânia (Universidade Católica de Goiás) entre 1983 e 1985: São Paulo (Museu de Arte Sacra), Salvador (Galeria Canizares), Rio de Janeiro (Solar Grandjean de Montigny-PUC), Uberaba (Galeria da Uniube), Belo Horizonte (Palácio das Artes) e Brasília. Referências bibliográficas anGotti-salGueiro, Heliana. A Singularidade da obra de Veiga Valle. Goiânia: Universidade Católica de Goiás, 1983. (A segunda edição é de 1994, acrescida de um postfácio: “Nota à segunda edição”). _____. Características do “estilo Veiga Valle”. Livreto da exposição itinerante de painéis fotográficos. Goiânia: Universidade Católica de Goiás, 1983. _____. “Introdução à edição brasileira”. In: baxandall, Michael. Padrões de Intenção. A explicação histórica dos quadros, São Paulo: Companhia das Letras, 2005. (A edição original inglesa é de 1985). arasse, Daniel. On n’y voit rien. Descriptions. Paris: Éditions Denoël, 2000. bonne, Jean-Claude.“Art et Image”, In: revel, Jacques & Watchel, Nathan (org.). Une École pour les sciences sociales. De la VIe Section à l’ehess. Paris: Éditions de l’ehess, 1996. damisch, Hubert. “La partie et le tout”. In: cohn, Daniele (dir.). Y voir mieux, y regarder de plus près. Autour d’Hubert Damisch. Paris: Aesthetica, 2003. (Desta obra coletiva consultei também: Klaplisch-Zuber, Christiane, “Document et contexte. L’historien à pied d’œuvre” e via, Claudia Cieri, “Le mouvement, la 34 gestualité et l’expression dans l’œuvre de Niccolò Dell’Arca”) didi-huberman, Georges. “L’Histoire de l’Art dans les limites de sa simple pratique”. In: Devant l’image. Question posée aux fins d’une histoire de l’art. Coll. Critique. Paris: Minuit, 1990. GinZburG, Carlo. “Sinais: raízes de um paradigma indiciário”. In: Mitos, emblemas, sinais: Morfologia e História. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. (O original é de 1986). laurentin, Emmanuel(dir.). À quoi sert l’Histoire aujourd’hui ? Montrouge: Bayard/France Culture, 2010. (Depoimentos do programa radiofônico, La fabrique de l’histoire). levi, Giovanni. “Les usages de la biographie”. Annales ESC, 44 (6), 1989, p.1325-1336. meneses, Ulpiano T. Bezerra de. “Rumo a uma ‘História visual’”. In: José de Souza Martins et all (org.). O imaginário e o poético nas Ciências Sociais. Bauru: Edusc, 2005. minGuet, Philippe. Esthétique du Rococo. Paris, Vrin, 1966. (Segunda edição: 1979). peseZ, Jean-Marie. “Histoire et Culture matérielle”. In: le Goff, Jacques (dir.). La Nouvelle Histoire. Paris: Éditions Complexe, 1988. (A primeira edição francesa é de 1978; a brasileira saiu em 1990, pela Martins Fontes). Heliana Angotti-Salgueiro é doutora em História da Arte pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris (1992), com pós-doutorados pela Fapesp e The Getty Foundation. Titular da Cátedra Brasileira em Ciências Sociais Sérgio Buarque de Holanda (CRBC- ehess / Maison des Sciences de l’Homme, Paris), foi professora em universidades francesas e pesquisadora em museus nos Estados Unidos. Seu percurso é interdisciplinar, com pesquisas em história da arte, arquitetura, história urbana, história da geografia e história da fotografia. É curadora de exposições internacionais, autora de vários livros e organizadora de coletâneas. Destacam-se: A Singularidade da obra de Veiga Valle. Goiânia: UCG, 1983/1994; La Casaque d’Arlequin. Belo Horizonte, une capitale éclectique au XIXe siècle. Paris: ehess, 1997; Aarão Reis: o progresso como missão. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1997; Cidades Capitais do século XIX. São Paulo: Edusp, 2001; Bernard Lepetit: por uma nova história urbana. São Paulo: Edusp, 2001; A Comédia Urbana: de Daumier a Porto-Alegre. São Paulo: faap, 2003; A dinâmica da transformação: Pierre Monbeig e a geografia humana brasileira. Bauru: Edusc, 2005, e O olho fotográfico. Marcel Gautherot e seu tempo. São Paulo: faap, 2007. Atualmente é pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Brasil-França (Nupebraf), no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. À direita: Detalhe de São Miguel Arcanjo Escultura em madeira dourada e policromada, 68,5 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás A obra À esquerda: altar da capela da Fazenda Babilônia À direita: Nossa Senhora da Conceição Escultura em madeira dourada e policromada, 32,5 cm Acervo da Fazenda Babilônia, Pirenópolis 40 41 Nossa Senhora das Mercês (com coroa) Escultura em madeira dourada e policromada, 38,5 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 42 Nossa Senhora com o Menino Escultura em madeira dourada e policromada, 47 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 43 Nossa Senhora Escultura em madeira dourada e policromada, 35 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 45 Nossa Senhora da Imaculada Conceição Escultura em madeira dourada e policromada, 26 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás Nossa Senhora da Imaculada Conceição com Resplendor de Ouro Escultura em madeira dourada e policromada, 33 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 47 49 Sant’Ana Mestra Escultura em madeira dourada e policromada, 37 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 50 Sant’Ana Mestra Escultura em madeira dourada e policromada, 37 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 51 Sant’Ana Mestra Escultura em madeira dourada e policromada, 39,5 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás Nossa Senhora do Parto (com menino) Escultura em madeira dourada e policromada, 140 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás Página anterior: detalhe da mesma peça 55 56 Menino Jesus de Nossa Senhora do Carmo Escultura em madeira policromada e pano engomado, 46 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 57 Nossa Senhora das Dores Escultura em madeira com carnação e pano engomado, 154 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 59 Senhor dos Passos Escultura em madeira policromada com carnação, 195 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 60 Cristo em Agonia Escultura em madeira, com carnação e pontas em prata, 78,5 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás São Sebastião Escultura em madeira policromada, 94 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás São João do Deserto Escultura em madeira policromada, 68 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 63 São João do Deserto Escultura em madeira policromada, 77 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás À esquerda: São João Batista Escultura em madeira policromada, 86 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás À direita: São Miguel Arcanjo Escultura em madeira policromada, 94 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 66 67 São Miguel Arcanjo Escultura em madeira dourada e policromada, 68,5 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 68 São José de Botas com Bastão e Menino Jesus Escultura em madeira dourada e policromada, 43 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 70 São Joaquim Escultura em madeira dourada e policromada, 80 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 73 São Pedro de Alcântara Escultura em madeira dourada e policromada, 75 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 74 São Francisco Escultura em madeira policromada,164 cm Igreja São Francisco de Paula, Cidade de Goiás 75 Santo Antônio Escultura em madeira policromada, 72 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 76 77 Menino Deus Esculturas em madeira dourada e policromada, dimensões variadas, 22,5 a 31 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás Menino Jesus e Mãos de Nossa Senhora Escultura em madeira dourada e policromada, 27 cm Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Cidade de Goiás 79 Menino Deus Escultura em madeira dourada com carnação, 26,5 cm Acervo Maria Lucy Veiga Teixeira, Goiânia Vista geral do salão de exposições principal do Museu da Boa Morte, Cidade de Goiás Cronologia 85 Cronologia 1806 – Filho do capitão Joaquim Pereira Vale e de Ana Pereira da Veiga, José Joaquim da Veiga Valle nasce em 9 de setembro em Meia Ponte (atual Pirenópolis). 1818 – Vila Boa é elevada à categoria de cidade, com o nome de Goiás. É a primeira cidade da Província. 1822 – A colônia do Brasil torna-se independente de Portugal. 1830 – Abertura da primeira biblioteca pública em Goiás, em Meia Ponte. 1832 – Veiga Valle é eleito conselheiro suplente da Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional 1833 – Veiga Valle torna-se membro da Irmandade do Santíssimo Sacramento, da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, ocupando os cargos de mesário e suplente. 1833 – Veiga Valle é nomeado juiz de paz, com um voto. Ingressa como suplente na Câmara de Vereadores de Meia Ponte. 1835 – Veiga Valle adquire uma casa em Meia Ponte, na Rua Direita. 1837 – Veiga Valle é empossado vereador em Meia Ponte. 1839 – Veiga Valle torna-se alferes da Guarda Nacional, é nomeado juiz municipal de Meia Ponte. 1840-1846 – Veiga Valle desenvolve atividades comerciais em Meia Ponte. 1841 – Veiga Valle transfere-se para a cidade de Goiás, para trabalhar na douração dos altares da Matriz de Santana. Página oposta: Vista da entrada da capela da Fazenda Babilônia, em Pirenópolis. Veiga Valle fez uma peça para a capelaEm cima: Página com o batistério de Veiga Valle Embaixo: Fachada da casa de Pirenópolis comprada por Veiga Valle em 1835, na Rua Direita 86 Em cima: Vista do Largo do Rosário, no início do século XX. Fotografia de Alois Feichtenberger. Acervo do Museu da Imagem e do Som, Goiânia Página oposta, em cima: Fachada da casa em que viveu Veiga Valle, no Largo do Rosário. Página oposta, embaixo: Vista do Largo do Rosário em fins do século XIX. Anônimo. Acervo do Museu da Boa Morte, Cidade de Goiás 87 88 1841 – Casa-se com Joaquina Porfíria Jardim, filha do então presidente da Província de Goiás. José Rodrigues Jardim. Passam a residir no Largo do Rosário, onde tiveram oito filhos: Ângela Belisária, José Augusto, Henrique Ernesto, Joaquim Gustavo, Maria Adélia, Antônio Benedito, Manuel Batista e João Batista. O sobrenome da mulher e dos filhos é Veiga Jardim. 1842 – Morre em Meia Ponte o padre Manuel Amâncio da Luz, com quem Veiga Vale provavelmente tomara aulas de escultura e pintura. 1846 – Criação do Liceu de Goiás, primeira instituição de ensino médio na Província. Em cima: Página do livro de registros com o casamento de Veiga Valle. Acervo do Curato de Sant´Ana, Cidade de Goiás Página oposta, à esquerda: Obituário de Veiga Valle. Acervo do Arquivo Histórico Estadual, Goiânia Página oposta, à direita: Peças queimadas no incêndio do Museu da Boa Morte, em 1921, atribuídas a Veiga Valle. Acervo do Museu da Boa Morte, Cidade de Goiás 89 1849 – A Província de Goiás conta 79 mil habitantes. 1852 – Veiga Valle é eleito vereador na Câmara Municipal da cidade de Goiás. 1855 – Veiga Valle reforma-se da Guarda Nacional, na patente de major. 1858 – Veiga Valle é eleito para o cargo de deputado na Assembleia Provincial. Posteriormente seria sucessivamente reeleito para as legislaturas de 1860-61, 1864-65, 1866-67, 1868-69, 1870-71. Não seria eleito em 1871 nem em 1873. 1859 – Veiga Valle ingressa no Conselho de Júri da capital, por sorteio. 1864 – Fundação do Gabinete Literário Goiano, na cidade de Goiás. 1872 – A Província de Goiás conta 160.395 habitantes. 1874 – Morre Veiga Valle em 29 de janeiro, aos 68 anos, decorrente de prolongado sofrimento de uma doença de vários meses. Foi sepultado no cemitério São Miguel, na cidade de Goiás. 1921 – Incêndio na madrugada destrói o altar-mor da Igreja da Boa Morte. Diversas peças atribuídas a Veiga Vale são queimadas no incêndio. 1940 – O pintor João José Rescala, em viagem pelo interior do País, chama a atenção para a obra do artista. Seu relatório ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan) marca o início do interesse sobre a obra do escultor. É organizada a primeira exposição de sua obra, com 25 peças, no Liceu de Goiás, entre 30 de março e 1º de abril. 90 1953 – Exposição de 20 imagens de Veiga Valle na coletiva por ocasião da inauguração da Escola Goiana de Belas Artes, unidade da Universidade Católica de Goiás, em Goiânia. 1954 – Mostra de imagens de Veiga Valle na Exposição Nacional de Artes Plásticas (num total de 720 obras), organizada por Gustav Ritter, Nazareno Confaloni e Luís Curado, por ocasião do 1º Congresso Nacional de Intelectuais em Goiânia. 1969 – A Igreja da Boa Morte é transformada em Museu de Arte Sacra Boa Morte. Cerca de 25 peças de Veiga Valle integram seu acervo. 1974 – Os restos mortais de Veiga Valle são transferidos para o Museu da Boa Morte, onde permanecem ainda hoje. 1978 – Exposição no Museu de Arte de São Paulo, com o catálogo Vida e obra do escultor Veiga Valle, assinado por Élder Camargo de Passos 2000 – Sua obra integra a exposição comemorativa aos 500 do Descobrimento do Brasil, organizada pela Fundação Bienal de São Paulo, com catálogo. 2006 – O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico lança um selo comemorativo nas comemorações do bicentenário de nascimento do artista. Em cima: Solenidade de traslado dos restos mortais de Veiga Valle para o Museu da Boa Morte, em 1974. Museu da Boa Morte, Cidade de Goiás À direita: Selo comemorativo do bicentenário do nascimento de Veiga Valle. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Goiânia Página oposta: Vista aérea da Cidade de Goiás. Ao centro vê-se a Matriz de Sant´Ana, igreja cujos altares Veiga Valle foi contratado para dourar 92 93 Exposições Coleções públicas Fazenda Babilônia, Pirenópolis Museu de Arte Sacra da Boa Morte, Goiás Exposições individuais 1940 – Veiga Valle. Liceu de Goiás, Goiás (30 de março a 1º de abril) 1972 – Mostra e simpósio. Colégio de Aplicação da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, Goiânia (27 a 29 de abril) 1974 – Centenário de morte de Veiga Valle. Museu de Artes Sacra da Boa Morte, Goiás (27 a 29 de janeiro) 1984 – 15 anos do Museu de Artes Sacra da Boa Morte (Coleções particulares de Veiga Valle). Museu de Artes Sacra da Boa Morte, Goiás (abertura em 4 de outubro) Exposições coletivas 1954 – Sala Veiga-Valle. 1º Congresso Nacional de Intelectuais, Goiânia (30 de março a 20 de abril) 1964 – Mostra do Barroco Goiano. Universidade Católica de Goiás, Goiânia 1968 – I Festival do Barroco – O Barroco de Goiás. Capela do Solar do Unhão. Salvador (16 a 25 de setembro) 1976 – Semana de Artes. Igreja Matriz do Rosário. Secretaria da Educação e Cultura do Estado, Pirenópolis (4 a 10 de abril) 1978 – A cidade de Goiás e o escultor goiano Veiga Vale. Museu de Arte de São Paulo, São Paulo (14 a 17 de setembro) 1978 – A cidade de Goiás e o escultor goiano Veiga Vale. Palácio das Esmeraldas. Fundação Cultural do Estado, Goiânia (24 a 31 de outubro) 95 Bibliografia selecionada (em ordem cronológica) Relatórios rescala, João José. Relatório sobre Veiga Valle. Rio de Janeiro: Arquivo do Sphan (Série Personalidades, cx. 125, p. 406), 11abr.1940 Artigos em periódicos rescala, João José. “João José, descobridor de artistas”. Revista da Semana. São Paulo, ano 41, n. 49, 1940 rescala, João José. “Um grande escultor brasileiro”. Revista Ilustrada. São Paulo, dez. 1940 confaloni, Frei Nazareno. “Encontro de épocas artísticas”. Renovação. Goiânia, n. 1, jan 1955 curado, Luís A Carmo. “Veiga Valle, o Fra Angélico brasileiro”. Renovação. Goiânia, n. 1, jan 1955 Ávila, Affonso. “Goiás novo, Goiás velho”. Minas Gerais, Suplemento Literário. Belo Horizonte, v. 4, n. 141, p. 1-4, maio 1969 lacerda, Regina. “O barroco em Goiás: Veiga Valle”. Cultura. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, n. 12, 1974 rescala, João José. “Depoimento”. Revista Goiana de Artes. Goiânia: Instituto de Artes da Universidade Federal de Goiás, v. 3, n. 2, p. 177-188, jul-dez 1982 alencar fº, Amphilóphio. “José Cinco santeiros goianos: uma apreciação”. Revista Goiana de Artes. Goiânia: Instituto de Artes da Universidade Federal de Goiás, v. 5, n. 1, p. 1-13, jan-jun 1984 passos, Élder Camargo de. “José Joaquim da Veiga Valle: um autodidata, um inspirado”. Revista Goiana de Artes. Goiânia: Instituto de Artes da Universidade Federal de Goiás, v. 5, n. 2, p. 143-159, jul-dez 1984 etZel, Eduardo. “Carta”. Revista Goiana de Artes. Goiânia: Instituto de Artes da Universidade Federal de Goiás, v. 8, n. 1, p. 109-110, jan-dez 1987/88 Dissertações acadêmicas nascimento, Aristides Barreto do; lima, Bruno Correia. O Genial Santeiro de Goiás (mimeografado). Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Artes e Urbanismo, 1972 anGotti-salGueiro, Heliana. A Singularidade da Obra de Veiga Valle. Goiânia: Universidade Federal de Goiás, Instituto de Ciências Humanas e Letras (mestrado), 1982 Livros fiGueredo, Aline. Artes Plásticas do Centro-Oeste. Cuiabá: Ed. Universidade Federal de Mato Grosso/Museu de Arte Popular, 1971 etZel, Eduardo.
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