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Politica da Libertação em Enrique Dussel

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1 
A Dimensão Política da Filosofia da Libertação 
(dusseliana) a partir da obra: “Para uma ética da Libertação 
Latino-Americana IV: Política” 
 
Hugo Allan Matos* 
RESUMO 
 
Este artigo apresenta uma visão introdutória sobre a Política da Libertação 
dusseliana, partindo de sua leitura de Karl Marx. Concentrando-me em sua obra 
Para uma ética da libertação Latino-Americana IV: Política, comentarei alguns 
artigos mais recentes de Dussel e sua obra: 20 teses de política. 
 
Palavras-chave: Política, Simbólica, Totalidade, Alteridade, Ética, Dialética, 
Analética, Moral, Práxis, Prudência. 
 
RESUMO 
 
Presentamos en este artigo una lectura introdutoria de la Política de la Liberación 
dusseliana, iniciando da lectura de Karl Marx. Atendome en su obra “Para una 
ética de la liberación latinoamericana: política”, comentarei algunos textos mas 
nuevos y su obra: 20 teses de política. 
 
Palavras-chave: Política, Simbólica, Totalidade, Alteridade, Ética, Dialética, 
Analética, Moral, Práxis, Prudencia. 
 
 
 
 
 
*Pós graduando em Filosofia e história contemporânea pela UMESP, professor de filosofia na educação 
básica, membro do Núcleo de Estudos de Filosofia Latino Americana (NEFILAM) e do grupo de estudos 
Filosofia no Brasil e na América Latina: teoria, história e ensino (USP), dentre outros. Curriculum Lattes: 
http://lattes.cnpq.br/3791062630331998 
 
 2 
1. INTRODUÇÃO 
 
Vivemos numa primavera política na América Latina. Este é o título em 
português de um artigo recente de Enrique Dussel. Este título contraria o que têm 
predominado no senso comum e a princípio, o que vêm ocorrendo em alguns 
países, como no Brasil, por exemplo, onde grande parte da população parece 
enojar a conjuntura política atual e a situação de totalitarismo, impunidade e 
corrupção, cada vez mais intensa. 
O Tema da política é muito polêmico, justamente devido a este enojamento 
de grande parte da população que se diz cansada e diz não querer saber. 
Contudo, qual é a política que está em vigor? Porque chegamos a esta situação? 
A quem interessa que a maioria do povo não goste dos assuntos referentes à 
política e que as coisas continuem como estão? O que é política, afinal? E como 
ela deve ser para que as situações de injustiças, dominações, explorações... que 
vêem se perpetuando neste - e outros continentes e povos -, dêem lugar a uma 
Nova Ordem de Justiça? 
Dussel, a partir da leitura crítica que faz das obras de Marx, sobretudo a 
partir da queda d muro de Berlim, desenvolve uma filosofia política de libertação 
sem precedentes. Sua crítica ao sistema hegemônico, à totalidade do mesmo, 
aborda características da política na história mostrando como é possível 
desenvolver políticas de libertação na e a partir da América Latina para o mundo. 
Irei me basear em sua obra: Para uma ética da libertação Latino-americana 
IV: Política. Mas, não vou entrar no âmbito econômico propriamente dito, que 
demandaria uma dedicação mais profunda. 
Ele inicia a citada obra nos fazendo entrar em contato com a cultura latino-
americana (dependente, periférica, etc...), descrevendo um pouco da simbólica e 
poética da relação política a partir de textos artísticos e poéticos1. Depois, situa a 
economia política dando-nos uma interpretação do que chama de ontologia 
política a partir dos autores do centro2, como costuma fazer, partindo para a 
metafísica da alteridade. E por fim, questiona os sistemas políticos partindo do 
 
1Não vou me demorar nestas citações, infelizmente, pois minha proposta será de uma introdução conceitual à 
política da libertação dusseliana. 
2Como veremos adiante, estes conceitos de centro e periferia são fundamentais na filosofia dusseliana. 
 3 
projeto de libertação, pensando a revolução ou construção da nova ordem que é 
constituída a partir de uma práxis não só de destruição da ordem vigente, mas 
principalmente de construção política, onde o nível tático é fundado pelo 
estratégico e se justificam conseqüentemente ou se desqualificam a partir do 
projeto libertador. 
Quanto à metodologia, para não fugir das exigências acadêmicas, colocarei 
entre aspas apenas as citações; darei destaque aos principais conceitos 
mantendo-os em negrito e a expressões em itálico. Sendo assim, será possível ao 
leitor maior atenção na compreensão destes conceitos uma vez que são 
essenciais para esta filosofia. 
Mostrando a importância da dimensão moral e metafísica de uma política 
de libertação, Dussel descreve como as revoluções têm sido feitas na história e dá 
pistas de como podemos construí-las, hoje. 
 
2. A POLÍTICA SIMBÓLICA 
 
Na filosofia da libertação dusseliana existe uma preocupação muito grande 
com a dimensão política, conforme explica o próprio autor: 
 
É na política que o face-a-face adquire sua última significação 
humana ou sua mais perversa posição [...] Em nenhum nível 
como no político, o eu se manifesta com maior onipotência 
dominadora, imperial, guerreira, conquistadora, repressora. 
(DUSSEL 1977, p.32) 
 
E para iniciar a reflexão sobre o tema, Dussel se apóia no processo 
histórico apontado pelas expressões simbólicas no decorrer do tempo. Segundo 
ele, esta é uma fonte confiável porque a expressão artística permite habitar o 
mundo político desde dentro, ou seja, partindo da consciência do povo oprimido 
(ou do opressor), pois para ele (DUSSEL 1977, p.33), “A arte torna possível 
reviver o mundo simbólico e mítico da opressão e libertação”. 
Estas expressões permitem com que cheguemos à origem do universo, na 
qual podemos contemplar beleza física incomparável, a criação perfeita. Mas, a 
 4 
exterioridade antropológica e política, apresenta-se de outra forma. Já podemos 
notar miticamente o desejo de libertação futura, com conflitos entre os relatos 
passados estragados por coisas ruins, ou seja, já percebemos a tensão: 
dominador x dominado. Lembremo-nos da dominação da Serpente sobre a Eva e 
de Eva sobre Adão, por exemplo. 
Em todas as culturas, o sistema organizativo humano é compreendido 
como centro do mundo. Isso é a Totalidade política. “Os reis Incas dividiram o 
Império em quatro partes [...]. Puseram como ponto ou centro a cidade de Cuzco, 
que na língua particular dos Incas significa umbigo da terra” (VEGA citado por 
DUSSEL 1977, p.34) Além de ser um centro, tende a constituir-se como único. 
Mas, esta totalidade política, diferentemente da que temos (hoje) vigente, 
qual iremos abordar mais à frente, era fruto de um longo processo de renovação, 
ou seja, o sistema que se consolidava no poder, advinha de peregrinar mítico de 
fundadores da nova ordem, ou ainda, esta peregrinação era o tempo de libertação 
da ordem anterior e constituição de uma nova ordem. Todavia, os grandes 
impérios começam a ter consciência cronológica real e passam do âmbito mítico 
ao histórico. 
Dussel deixa claro, com diversas citações mítico-históricas que mesmo os 
impérios latino-americanos tiveram seus ideólogos, assim como um dos mais 
antigos: Moisés, que liberta seu povo da escravidão e o leva para a terra 
prometida (nova ordem). E em todas as totalidades políticas existe a dialética do 
senhor x servo, dominador x dominado. Mas, com o despertar para o tempo 
histórico real e abandono da fundamentação mítica, foram se impondo 
dominadores cada vez mais pela força. E foi na revolução urbana neolítica que 
aumentou a injustiça, com certa sistematização dos meios de produção e 
organização social. 
Chama à atenção as citações que Dussel faz sobre a organização do 
império Inca, que apesar de ser um dos mais pacíficos e mais míticos, demonstra 
que foi um dos mais exitosos: 
 
E partiam a terra em três partes: umapara o Sol, outra para o Rei 
e a outra para os naturais [...] E quando a gente do povo ou 
 5 
província crescia em número, tiravam da parte do Sol e da parte 
do Inca para os vassalos (...) Davam a cada índio um tupu, que é 
um pedaço de terra para um plebeu casado e sem filhos. Depois 
que nasciam os filhos, davam para cada filho varão outro tupu e 
para as filhas, meio tupu. Quando o filho casava, o pai lhe dava o 
pedaço de terra que havia recebido para o seu sustento. 
 (VEGA vol. II, Cap. I, p.50 citado por DUSSEL 1977, p. 38) 
 
As terras eram repartidas cada ano e nenhum particular possuía 
coisa própria, nem jamais possuíram os índios coisa própria 
(VEGA vol. II, Cap. III, p.53-54 citado por DUSSEL 1977, p.38) 
 
Este é um dos mais belos retratos sobre como estava a Ameríndia antes da 
chegada dos europeus. Contudo, depois de sua chegada, os relatos passam a ser 
tristes, pois a dominação européia representou uma catástrofe cósmica e a visão 
dos vencidos, passa a ser a mais alta significação simbólica que constituiu a 
compreensão histórica, primeiro dos índios oprimidos, depois dos mestiços, 
empobrecidos e migrantes, camponeses e operários, etc... 
Penso ser essencial constar neste artigo a referência que Dussel faz a 
Bartolomeu de las Casas: “...revela a posição profética de superação da dialética 
conquistadora por meio de uma analética meta-física e ética...” (Ibid.p.41). Com 
várias citações de textos casalianos, ele mostra como Bartolomeu descobre a 
exterioridade do índio, rompendo com a totalidade política injusta, reconhecendo-o 
como Outro, condenando o dominador e protestando pelo reconhecimento da 
alteridade latino-americana. 
Desde aproximadamente 1550, com o término da conquista e 
evangelização de grande parte da América Latina se constitui uma nova ordem, a 
América espanhola, ou cristandade das índias. A partir da leitura de algumas 
obras de romance latino-americano, ele traça três estruturas simbólicas, ou três 
ciclos, sobre as quais se tece a consciência mítico-cotidiana do latino-
americano: 
 6 
1. Mundo colonial de dependência hispano-lusitana, que permanecerá no 
mundo camponês, com sua contradição: camponês (índio, negro, mestiço 
ou trabalhador assalariado do campo) versus oligarquia latifundiária. 
Características: 
• Origina-se miticamente pelo messianismo 
• Sacraliza a cristandade colonial 
• Noção de tempo circular 
• Apesar de massacres, extermínios, explorações, escravidão 
camponesa, medo, pela oligarquia latifundiária, o povo parecia 
feliz 
• Modo de produção tradicional, tributário, secundário, explorado 
 
2. Mundo neocolonial de dependência anglo-americana, que se situa na 
cidade, sobretudo, nas capitais. Mundo industrial nascente com sua 
contradição: operário versus oligarquia nacional. E nas grandes capitais, o 
mesmo ocorre entre centro urbano e periferias, favelas, etc... Impera o ego 
europeu conquistador. 
Características: 
o Domínio do Atlântico para o Pacifico 
o Divinização do dinheiro que compra tudo e tudo destrói para 
crescer 
o Surgimento da oligarquia nacional que usufrui da pressão 
internacional 
o Dominação a partir das cidades, sobre o sertão (civilização 
imposta) 
o O progresso só acontece onde há civilização 
3. Revolução. Revoltas anticoloniais, luta nacional e popular contra o 
imperialismo, etc... Este é um ciclo agônico, ou seja, o dos guerreiros, 
condutores de libertação, populistas, etc... 
 
“É a mobilização mundial dos povos oprimidos contra a 
expansão colonialista e imperial da América primeiro e hoje 
 7 
principalmente dos Estados Unidos (...). Atravessa os 
outros dois que são de dominação, é o ciclo simbólico da 
guerra, da revolução, da libertação.” (DUSSEL, 1977) 
Características: 
• Processo surge muitas vezes por situações de injustiças 
• Surge o elemento agônico: a guerra, o combate, que às vezes é 
usado só para reprimir 
 
3. LIMITES DA INTERPRETAÇÃO DIALÉTICA DA POLÍTICA 
 
A definição que Dussel atribui à política é “toda relação face-a-face de 
irmão - irmão” (DUSSEL, 1977, p.55). Aceito aqui a interpretação de que as 
relações políticas são aquelas que partem de uma pessoa ou instituição para 
outras. Ou ainda, de instituição para instituição. 
Dussel deixa claro a necessidade da distinção conceitual de política de 
dominação (ou dialética social de alienação), antipolítica e política da 
libertação (ou analética da novidade). 
Para a filosofia da libertação, a reformulação das ciências sociais da 
América Latina, teve uma importância imensa, uma vez que a filosofia política 
necessita da mediação destas. O pensamento latino-americano, assim como a 
arte e a ação dos grandes estadistas têm sempre um fundo político, ou seja, por 
se tratar de uma política existencial (que parte da existência como tal) é 
inseparável das várias dimensões da existência latino-americana. 
A totalidade política ou política de dominação, sistema político vigente na 
América Latina, é o neocolonial, em crise, desde 1930 com o fracasso (no 
sentido de decadência) do populismo. E é deste ponto de partida ontológico que 
pode surgir uma nova meta-física política latino-americana da libertação. 
Hegel conseguiu expressar como ninguém esta totalidade política dominadora do 
estado moderno. 
Hegel funda, baseado em Platão e Aristóteles, a categoria de totalidade 
como último horizonte de compreensão. O objetivo da totalidade política é o 
bem comum. E o mal comum é a revolução, a subversão, a mudança, pois a 
 8 
totalidade deve ser natural, divina, eterna, o mesmo. Não há exterioridade, nem 
possibilidade de libertação. 
Dussel aponta dois caminhos a seguir para se compreender a totalidade 
moderna: 
1. Negação do ser enquanto humano: a multidão como unidade, povo, 
massa, cujo movimento é irracional, selvagem, temível, bárbaro. 
Percebemos isso nas constituições modernas, quando se fala de povo, 
geralmente se trata de generalidades vagas, discursos vazios... O povo 
representa uma parte do Estado que não possui entidade, que não sabe o 
que quer. 
2. Negação do ser aos povos exteriores ao centro: Baseado no direito 
natural possibilita ao Estado moderno, num movimento dialético 
(dominador), a buscar fora de si novos consumidores, e esta busca, 
geralmente se dá em povos inferiores. 
 
A critica que Dussel faz à política hegeliana reconhece esta totalidade não 
só como a serviço da propriedade privada e do capitalismo. Mas, a vê como crítica 
do Estado liberal (e da monarquia prussiana) e como Estado dominador: 
“condominação interna (sobre o ‘povo’ e as classes trabalhadoras), condominação 
externa (sobre as colônias e neocolônias)”. (DUSSEL, 1977, p.67) E mais: em seu 
desenvolvimento, exportou o modelo liberal que antes criticava às suas novas 
colônias. 
O ponto de partida deste Estado é o ser em-si, a vontade livre. A posse, o 
dinheiro, é o principio do homem-burguês. A posse, leva à instituição da 
propriedade privada. Mas, o contrato burguês a supera. Contrato este que obriga, 
pelo direito, afirmar em sua ação moral a totalidade do sistema, o mesmo. 
Quando a positividade do sistema é legitimada e passa a ser vivida, como 
hábito, constitui-se um ethos, que no caso, é possessor, dominador, conquistador. 
Ethos este, que apesar de algumas contradições em sua constituição, justamente 
por causa da não totalização da exterioridade, permite a pluralidade não 
resolvida. E por isso o Estado liberal é cego. E é este modelo que é exportado 
para as neocolonias latino-americanas. 
 9 
Para controlar esta pluralidade não resolvida, apesar de defender os 
direitos individuais e suas liberdades, o Estado precisa usar do poder como 
controle e domínio interno. Porque junto a estapluralidade, está a contradição 
essencial do capitalismo, profetizada por Hegel: Se a universalização das 
relações é inevitável para o desenvolvimento do sistema, aumentará o acúmulo de 
riquezas, mas também, necessitará de divisão e delimitação do trabalho 
especializado, aumentando a dependência e a miséria da classe trabalhadora, que 
cada vez menos gozará dos benefícios desta sociedade. 
As respostas modernas a esta contradição lógica é proteção policial à 
propriedade privada e exportação de população operária e de produtos às 
colônias. Ou seja, conquista e colonização da periferia. Até que ela consiga a 
independência para ser estado neocolonial, como o Brasil, por exemplo. Mas, nem 
Hegel, nem os socialistas utópicos perceberam que esta tensão provocada pela 
contradição essencial do capitalismo não foi resolvida, só foi exportada. Assim, é 
tarefa da metafísica política periférica resolve-la. 
Não podemos esquecer que nesta totalidade do estado moderno, os 
Estados são soberanos e as relações internacionais são formais e externas. Estão 
em luta contínua e por estarem em estado natural, a violência e a guerra são 
inevitáveis. 
Assim, os Estados capitalistas modernos europeus, tendo resolvido suas 
tensões internas, deverão preocupar-se com os estados liberais periféricos, 
levando a eles a salvação da civilização. Esta ontologia dominadora é que justifica 
a expansão conquistadora de todos os impérios. 
Apesar de toda opressão ter sua ideologia, tanto os impérios mais antigos 
as tiveram, quanto o Estado moderno, é comum que a opressão começa, ao julgar 
o outro como não ser, como tendo que participar do mesmo. 
Assim, sabendo que o problema fundamental e limite do Estado moderno é 
a tentativa de anulação da alteridade política, impossibilitando a novidade política, 
fica impossível a libertação a partir deste ponto, contudo, é necessária uma nova 
filosofia política, que parta justamente da exterioridade negada (alteridade) e 
resolva as contradições deixadas pelo sistema vigente, constituindo o novo. 
 
 10
4. DESCRIÇÃO META-FÍSICA DA POLÍTICA 
 
Para que sejam solucionadas as contradições geradas pelo sistema 
capitalista, imperial, dominador, faz-se necessária uma nova ontologia política, 
pois, esta política partirá da periferia, da exterioridade do sistema. Deverá ser 
então, uma política que se liberte, deverá partir do âmbito metafísico, real, da 
alteridade antropológica no nível social. Resumindo, há duas políticas: 
a. Política do sistema capitalista: racionalidade é manter a dominação 
b. Antipolítica: ou política escatológica, cuja nova racionalidade é saber 
formular praticamente, realizar o caminho e a construção da ordem 
nova na justiça. 
 
O metafísico é o que não têm lugar, utópico. A América Latina foi a utopia 
na origem da europeidade. A América Latina sempre esteve fora da ordem 
estabelecida, simplesmente não era. Ainda hoje é a exterioridade, a alteridade 
política, o outro. 
 
a. A nação oprimida como povo 
 
Este não rompimento da exterioridade geopolítica, ou melhor, a afirmação 
enquanto outro e exterior ao mesmo é a revolução da libertação nacional. Pois 
se afirma exterior ao capitalismo internacional. Mas têm sua exterioridade interna 
a resolver. 
O espaço político é uma multidão de tensões que lutam pelo controle, 
poder, dominação sob império de uma vontade orgânica. Ontologicamente, 
tendem a, depois de instituído seu centro, conquistar mais territórios para que 
sejam suas periferias, como já vimos. 
Mas a partir da primeira guerra mundial, o processo de conscientização da 
periferia enquanto outro é iniciado. Depois da segunda guerra mundial, este 
processo de conscientização, ganha conotação maior e já passa a ser uma práxis 
de libertação. 
 11
Um importante pensamento citado por Dussel é o de Mao Tse-Tung, que 
realizou uma revolução de libertação nacional e social. O principal ponto citado é 
que apesar de ser contra a direita ele é também contra a extrema esquerda ou 
contrario a teoria de uma só revolução. Ele divide a revolução em duas partes: 
nacionalista: (interna) nova democracia organizada contra o imperialismo 
colonial. Socialista: dirigida por operários e camponeses. Depois de realizada 
esta segunda revolução, a China não retornou à dependência, evitou-se a 
contra-revolução. 
Depois de abordados estes temas paralelos, Dussel nos mostra como a 
nação é oprimida geopoliticamente, com a divisão do hemisfério norte capitalista 
como continental, onde está concentrado o poder político mundial e o hemisfério 
sul, que é oceânico. Sendo assim, a América Latina é uma ilha e como tal, deve 
se unir por mar ou ar, com seus iguais: China, Índia, sudoeste asiático, o mundo 
árabe, a África negra, etc... Pois todos os movimentos de libertação destes países 
periféricos têm em comum o momento de exterioridade metafísica, ou seja, estão 
além da ordem imperial, se configuram como povos que tem uma história exterior 
à do centro. “O dilema deve definir-se assim: libertação nacional popular ou 
regresso à dependência. Não há outra possibilidade!3” (DUSSEL,1977, p.89) 
 
b. As classes oprimidas como povo4 
 
Tomada a consciência desta condição de exterioridade, o não-ser político 
são as classes oprimidas. Neste caso, o próprio Estado, em sua totalidade e 
situação de dependência, exclui as vítimas (que não tem as possibilidades para 
realizar o projeto vigente do Estado Nacional) 
A condição de alteridade político-social é descoberta no pensamento semita 
(anavim) pobre. Esta é uma subversão ético-política de todo sistema possível. 
Dussel nos mostra que o cristianismo primitivo possibilita a diferenciação de 
qualquer classe dominadora possível, uma vez que o pobre, nunca poderá ser 
 
3
 Destaque meu. 
4
 Hoje Dussel amplia o sujeito-histórico material da Ética da Libertação como vítima, ou seja, neste contexto 
de globalização e dominação imperial, a categoria pobre, já não mais dá conta da quantidade e diversidade de 
vítimas produzidas por este sistema demoníaco. CF. DUSSEL, 2000. 
 12
dominador, enquanto classe na política (apesar de poder ser na erótica e 
pedagógica), pois ele nunca terá possibilidade de realizar o projeto do sistema 
nacional, sempre será a apresentação da exterioridade do sistema. E é este 
mesmo cristianismo primitivo, que abre uma tradição que nos serve enquanto 
libertadora: “todos os crentes viviam unidos e compartilhavam tudo quanto tinham. 
Vendiam seus bens e propriedades e repartiam segundo as necessidades de cada 
um” (AT5 2,44-45) 
Após refletir esta temática, o autor dá outros exemplos de comunidades que 
seguem a mesma lógica cristã, até chegar no socialismo utópico, que fora uma 
crítica à burguesia inglesa e francesa (nova classe dominadora, após vencer a 
nobreza). A não realização do socialismo na América Latina a seu ver foi devido 
ao baixo número de componentes da classe proletária. No decorrer desta 
explanação, percebe-se que as principais dificuldades das classes oprimidas 
como povo são a propriedade privada, que é contraria à própria natureza 
humana e a massificação opressora e negativa da alteridade. 
O mais importante até aqui, é o surgimento das classes oprimidas externas, 
ou seja, os marginalizados. Com seu infra-trabalho (sofrimento sem limite) gera 
uma consciência revolucionária nova na história mundial. 
A exterioridade política constitui-se quando o outro rompe a totalidade do 
sistema como aquele que não têm lugar, nem ser. Contudo, ele tem sua própria 
positividade metafísica, ou seja, tem sua cultura, sua religiosidade, sua língua, 
etc... E isso, além da ordem estabelecida pelo Estado, exterior a ele. O outro é o 
momento analético, que se apresenta como provocação, rebelião:É o momento utópico, real, escatológico. Dizer sim-ao-Outro 
político é o critério absoluto da eticidade política (...) A política é o 
momento irmão-irmão da ética; é justa e boa uma ação política se 
for encaminhada a afirmar, respeitar, ‘deixar ser’ o pobre, a classe 
oprimida, a nação dependente”. (DUSSEl, 1977, p.99) 
É necessária ainda, a distinção entre o oprimido como oprimido e o 
oprimido como exterioridade. O primeiro, Dussel interpreta como apenas uma 
 
AT= Atos dos apóstolos, livro bíblico. 
 13
parte funcional do sistema. Já o segundo, é um momento exterior ao sistema. “A 
noção de povo inclui ambos aspectos”, (DUSSEL, 1977, p.99) mas o processo de 
libertação política nega o oprimido como diferença da totalidade política (no 
sentido de dever se enquadrar), nega a negação (da dialética dominadora) e 
permite que o oprimido cresça enquanto distinto, como outro. 
Faz-se igualmente necessário o esclarecimento da noção de Estado. Pois, 
o Estado cópia do estado liberal exportado para as neocolônias e portanto, 
dependente e não detentor do real exercício do poder não é exatamente como o 
original. A finalidade do Estado é a ação política, o exercício do poder, que está 
estritamente relacionado à totalidade política, sendo assim, o Estado dependente 
não tem o poder da decisão, pois tanto o cultural, econômico, social, etc... são 
ditados pelo centro. O Estado até pode tentar omitir a dependência, exercendo 
assim, seu poder sobre o povo. Mas, quando o povo se conscientiza e se rebela, o 
Estado deve controlá-lo pela força. O Estado é a totalidade política do exercício do 
poder. E é diferente de nação que é a totalidade etnica ou sócio-cultural e de 
pátria que é relacionada à história do país, ao solo, ao território habitado por uma 
nação. Mas, o povo, se por um lado é a totalidade da população, a massa, a 
multidão, por outro lado é o sujeito sócio-político da libertação. Estado, como 
nação ou pátria se referem à totalidade política, mas povo refere-se à 
exterioridade desta totalidade, é a origem do poder, arché na justiça, do poder da 
pátria futura e por isso, está além deste poder (anarchía). 
A libertação latino-americana só será possível se for, antes, libertação 
nacional, que depende da libertação popular, ou seja, para que ocorra, é 
necessário que os operários, camponeses, marginalizados, os pobres, se libertem. 
Para que seja possível uma nova ordem (revolução), é necessário que os pobres, 
exerçam o poder, enquanto outro. Se não, ainda que exerça o poder, mas repita 
e/ou se subordine ao centro, perpetuará a totalidade política ontológica moderna, 
o mesmo. 
A totalidade vigente se rompe com a descoberta deste novo sujeito 
histórico, o pobre, exterior a ela e que exige, por sua provocação, uma 
continuação da história, a partir de uma revolução que lhes permita manifestar sua 
potência criadora, produzindo o que o sistema não lhes permite. Os trabalhadores, 
 14
portando, não só o proletariado, mas quem possui a capacidade revolucionária de 
ir além da totalidade do sistema, através do plus-trabalho, que se refere a uma 
classe (plus-classe) que se define não como assalariada, mas, além disso, 
através de novas formas de economias que superem esta dependência do salário, 
até que o trabalho e o trabalhador não serão mais assalariados. 
 
Esta “... categoria metafísica indicaria exatamente a negatividade 
de um sujeito explorado pelo sistema, (...) mas também com tempo 
livre subversivo como plus-trabalho e como subjetividade livre, 
com anterioridade histórica e posterioridade histórica ao sistema, 
como momento metafísico revolucionário”.(DUSSEL, 1977, p.103) 
 
Esta realidade do pobre de exterioridade prático-poiética (possibilidade de 
nova política e tecnologia) constitui-o na época de crise como sujeito histórico 
por excelência. 
A maldade política, neste contexto, é a negação da práxis do povo desde 
sua exterioridade e por isso, nasce a ética, para garantir que esta pratica 
revolucionária das classes emergentes, ocorra. 
 
5. A ETICIDADE DO PROJETO POLÍTICO 
 
Até agora, vimos nas entrelinhas que o projeto econômico da modernidade 
foi iniciado e mediado por uma ontologia. E assim, é também todo projeto político, 
que deve ser precedido de um projeto, de uma finalidade: fazer política para quê? 
e que política fazer? Nesta parte do texto Dussel faz a distinção entre interesse 
comum do sistema vigente e bem comum metafísico de uma ordem futura de 
libertação. Mostra a diferença entre um projeto dialético (melhoramento do 
mesmo) e um projeto analético (rompimento da totalidade a partir da 
exterioridade). 
Dussel estabelece o critério ético absoluto como projeto perverso e justo. O 
primeiro acontece quando totaliza um sistema negando o outro em qualquer 
aspecto. E é justo quando se trata de um projeto de compreensão de uma nova 
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ordem futura e o outro político, a nação dependente, o pobre... participa de um 
momento livre solidário que resultará numa nova totalidade política adveniente. 
 
Um projeto político de libertação deve ser um projeto existencial que se 
configura no decorrer da história, a partir da exterioridade, nunca pode ser 
pronto, totalitário. Tal projeto nunca está no plano político, pois é a hipótese do 
planejamento e da ação política. Sobre tal projeto, a filosofia nada pode dizer. 
Apenas pode descrever. Contudo, o artista, poeta, músico, o povo etc... sempre o 
dizem e criam a ordem futura de justiça. O político prudente é aquele que faz do 
projeto de seu povo, o seu projeto. 
Platão propõe uma utopia crítica. Que se trata de uma obra de arte que 
permite a formulação tanto do projeto político quanto de modelos tecnocratas. 
Assim, podemos concluir que a utopia que não põe em questão o projeto cotidiano 
abre brechas dentro do mesmo. É necessário que levemos em consideração que 
existem dois tipos de utopias na temporalidade: a ontológica e a metafísica. 
As ontológicas, sempre foram, criticas dentro de um mesmo sistema 
(inclusive Marx). Pois todas elas têm como ponto de partida a totalidade moderna 
que permite a crítica aos projetos políticos e aos modelos desprendidos deles. A 
utopia permite que o projeto político esteja vinculado com o projeto existencial. 
Já a utopia da temporalidade metafísica, parte desde a exterioridade 
do pobre e nunca descreve os frutos de seu projeto (ordem nova), ao 
contrário da ontológica. Ocupa-se em reformular as categorias políticas, de 
acordo com seu projeto (que é o do povo) para possibilitar a libertação. Apresenta 
as brechas por onde se podem produzir as evasões subversivas a partir das 
categorias negativas do sistema dominante. 
O bem comum escatológico (formulado pelos semitas) é um exemplo de 
utopia metafísica (anterior ao período medieval que se formula a ontologia). A 
terra prometida onde corre leite e mel, além de utopia metafísica é um exemplo de 
projeto político de libertação que se concretiza no caminhar para o novo. 
Mas, este projeto de libertação deve ser verdadeiramente o vivido pelo 
político junto ao seu povo. Porque esta libertação é um movimento de amor ao 
bem comum futuro. E é esta dimensão que sempre atraiu os povos no caminho 
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para a libertação e é este o fundamento da moralidade da práxis da libertação, 
que é julgado pelo critério de que todo projeto é bom quando serve ao pobre e é 
justo quando combate o injusto. O interesse comum serve a alguns no sistema 
injusto, já o bem comum lança todos à construção (após a destruição) de um 
sistema mais humano, futuro, pois é uma política de escuta ao Outro, ao que está 
exterior ao sistema, ao pobre. (CF. DUSSEL, 1977,p.131) 
 
6. A MORALIDADE DA PRAXIS DE LIBERTAÇÃO POLÍTICA 
 
Comoúltimo capítulo desta sua filosofia política de libertação, Dussel trata 
do que chama de praxologia, dividindo-a em duas partes: 
1. Política: Ou práxis de dominação política sobre a América Latina. Para 
fundamentar a dominação, os Estados utilizam-se do seu direito positivo, 
fundamentado no direito natural, para formar um ethos de conformidade e 
naturalidade no povo que passa a aceitar a dominação. Quando há a paz 
interna o político prático participa do poder e influencia sua distribuição. 
Não existe a preocupação com a eticidade do sistema, ou os benefícios que 
a guerra causa. A única preocupação é o poder, a perpetuação do mesmo, 
a estratégia é manter-se no poder. A totalidade passa a ser imoral. 
Esquece-se das noções antigas de práxis e prudência políticas e se exerce 
uma arte técnica do poder e organização social. A prudência se 
transformou em arte militar apenas. A guerra é vista como jogo (que 
inclusive é valida para dar lucro a industrias armamentistas, por exemplo). 
2. Práxis de Libertação política: divide-se em dois momentos que podem ser 
simultâneos e mais dois momentos conseqüentes: 
a. Destrutivo: ou luta da libertação. São essenciais o carisma profético 
e a arte militar. Sobressai-se a virtude da coragem. Esta práxis tem 
como fim único o projeto de libertação do povo. 
b. Construtivo ou condução política na organização da ordem nova na 
justiça. Hegemonia e prudência política são as chaves. Virtude da 
prudência e da justiça. A negociação, o político e a filosofia 
ontológica. 
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c. Um terceiro momento é a época clássica, aparece a nova 
dominação. 
d. Um quarto, decadência, ou luta contra os novos oprimidos. 
 
O primeiro momento é a resposta efetiva daqueles que ouvem ao clamor do 
povo que a partir do amor-de-justiça aceita o projeto de um novo sistema, de 
uma nova ordem, em oposição à vigente. Mas o aceite deste projeto não parte da 
necessidade do sistema, mas da gratuidade do eis me aqui para ajudar na 
construção de uma ordem futura. A necessidade de uma preponderância que se 
assemelha à ação militar parece ser bem clara, pois, para auxiliar na realização da 
destruição de uma ordem vigente são necessárias várias virtudes, dentre elas, a 
prudência. 
Mas, esta prudência, não pode confundir-se com o manejar o poder, do 
projeto vigente dominador, mas trata-se frónesis dos gregos, prudentia dos latinos 
ou sabedoria prática; ou seja, o hábito de realizar o novo que parte do princípio 
(projeto) e que sabe deliberar até chegar a um juízo prático (cf. 
DUSSEL,1977,p.148). 
O ato político-prudencial, que é a eleição e execução do meio adequado, 
procede da seguinte maneira: O princípio não se trata apenas de um juízo 
abstrato, mas do projeto existencial do povo. O principio é o que ilumina as 
decisões táticas. Dificilmente um político que não tem como princípio o projeto de 
seu povo, é prudente. Aqui, Dussel difere mais uma vez a prudência do manobrar 
do dominador que é sempre arte ou técnica, mas nunca prudência, já que seu 
princípio não é o real, justo, futuro. É por isso que não há receitas para conduzir 
os povos. E é este projeto, princípio, que é a luz da deliberação, ou dedução, 
prática que leva até uma conclusão como melhor para este momento. Para um 
político realista, a deliberação é acerca de uma mediação que por um raciocínio 
prático-silogístico identifica a factibilidade física, social, política e, portanto, 
possível. Mas, é a consciência moral que dirá se a mediação é válida, tendo como 
base o projeto (princípio), ou seja, como o princípio primeiro de toda eticidade é 
afirmar ao outro como outro, e o da moralidade da práxis se enuncia: serve ao 
outro além da totalidade, o ato aplicativo da consciência moral comprova se a 
 18
conclusão é serviço libertador ou dominação repressiva do outro. (cf. 
DUSSEL,1977,p.149) 
Segue-se a escolha decisiva que necessita de um ethos incorruptível, 
pois, nem sempre o político escolhe o melhor (para o projeto), mas covardia, 
indecisão e muitas outras fraquezas desviam o político. Por isso que deve haver 
disciplina e moralidade enquanto essenciais. 
Quando é escolhida a mediação, deve ser imposta a si mesmo e por meio 
do poder ou da autoridade, deve ser proposta como ordem ao povo. 
Independentemente das influências e de interesses alheios ao projeto. E depois, 
segue a execução, ou práxis propriamente dita, realizando-se uma nova ordem. 
Quando completado este processo, a mediação da teoria-práxis fora realizada. 
 
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Pelo que percebo desta obra de Dussel, nesta época, queria mesmo dar 
pistas, ainda que conceituais, de como é (ou pode ser) constituído um processo de 
revolução, ou seja, como historiador, descreve como no decorrer da história este 
processo veio acontecendo e como ele pode acontecer com eficácia ainda hoje. 
Minha identificação com sua filosofia aumenta mais porque em suas mais 
recentes obras, ao tratar do assunto, revê alguns conceitos e reforça outros. 
Sobretudo, baseado em exemplos atuais e tendo pelo menos mais 20 anos de 
história, analisa o cenário político atual como em crise, justamente por negar o 
outro, em sua exterioridade. 
Ou seja, Dussel continua afirmando que o processo de libertação é 
contínuo e passa sempre por três fases básicas: a destruição de um projeto 
vigente de dominação e negação do outro enquanto tal, concomitante com a luta 
pela libertação deste outro, culminando na tomada6 (ou conquista) do poder; 
depois, vem a fase clássica, onde através da prudência, o político consegue 
colocar em vigência seu projeto, enquanto já nasce o outro na exterioridade dele e 
por fim, a decadência, que é o reconhecimento (ou o dar-se a conhecer) deste 
outro exterior. 
 
6Aqui, por ser o excluído que está requerindo o poder, que é seu autenticamente, não se trata de uma tomada, 
mas de apenas exigir o que é seu. 
 19
Assim, quanto mais fiel ao projeto inicial e mais aberto à exterioridade do 
outro, mais libertador será um projeto político. Pareceu-nos, nesta obra, que 
Dussel aceita a naturalidade da totalização, ou seja, como natural a dominação do 
outro na história. Contudo, em suas obras recentes, dá pistas de que se um 
projeto político permanece libertador do início ao fim, aceitando suas fases, talvez 
não chegue a ser opressor, a fazer parte do mesmo. Esta hipótese será ainda 
mais aprofundada, deixando este trabalho como introdução ao assunto, que ao 
menos por desejo, será muito explorado por mim. 
 
REFERÊNCIAS TEÓRICAS: 
 
DUSSEL, Enrique D. Para uma ética da libertação latino-americana vol. IV: 
Política. São Paulo: Loyola, 1977. 
________________. Ética da Libertação: na idade da globalização e da 
exclusão. Petrópolis, Vozes: 2000. 
________________. 20 teses de política. São Paulo, Expressão Popular: 2003. 
________________. Vivemos uma primavera política. In: Conferência proferida 
em 20.11.2006 – nas Jornadas Bolivarianas, terceira edição – Universidade Federal de 
Santa Catarina- Florianópolis. Tradução: Elaine Tavares. 
 
 
ABREVIAÇÕES UTILIZADAS NO TEXTO: 
 
AT = Atos dos Apóstolos, livro bíblico.

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