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' . ~ ~ :.;; • • : • . ."' • ~ ."··:~~ _ .. ._., • •• . ; . l •• • . (' (' o e, ) ( ( ( (___ ( . C. ( 1 ( ( ( r . ( _/ ( ( . ( · ( ( ,1 (· ) ( ) ( r ( 1 ~: -; t_;~{ ' ~ . ·,1 T ;}: ·! ' ·· ·- .... .. ) \ .... . ' :· - -· .. :~ : : ·;; :<· ~:~7 -___ x: .·:. ··· :;· '· 1 (-'~· . ..:."•~t:.:., Severino Elias N go~nha . . OS TEMPOS DA FILOSOFIA FILOSOFIA E D.EMOCRACIA MOÇAMBICANA, ·-:--,.- . -:~~-. . - . -. . ----.. Imprensa Univenntáiria Maputo, 1004 · · . ;;· ·-~~:~ i; ~ õ:.! -:~ili ~{* _ .. !l:J -g ·--:t1:J --~ ~:~~t ; · .. Titulo: . Os Tempos da Filosc•fia . Severino Elia:; Ngoenha Autor: \ Editor: Imprensa Universitária, UEM, Maputo, Moçambique Maq11e!ização e impressão: Capa: . Nº de registo: Tiragem: Daü1 1/e public11ção: Imprensa Universitária Sérgio Tique 41 09/RL!NW/2004 1000 exemplares Julho de 2004 Capítul9 I 30 Filosofia ie <lem.ocracia em ?vioçambique 30 As aporias filo~ófic.i.s 45 A tentação .do(a) polític~(a) 49 Qual pode ;er a contribuição esp ··· :-;fica da filosofia Únoçambicana) p.o crescimento den1ocrático de Moçambique · · 68 i ,.· filosofia en1. Moç.amhique ·77 O papel do novo Estado moçambicano .na nova sociedade mo~ambitana 98 A questão da legitimação 108 A democracia representatíve 120 A questão da soberania 1.2~ V ··-0 ( r L e (' l) \ ) e, Í ' e \, C; ( , ( 1 ( ( · e ( , ( e ( r_, ( .. (, ( ( ( · ( , ( · ( · \ . ' ( ( - .; .: ~ -. ~ ··~. .·. Capi'.itu l.o IH 137 A ns vencidos não se p ed e c pinião 137 Por um t iplo contrato moçambicano 159 1. Contrato cultur.al 159 Democracia e cultu.rn(s) m oçambicana(s) i•S5 Cultura juridical r·71 Pluralismo jurídico 173 Transferência jurídica 178 ·· Por um prnjecto político . democrático e rnt.lltic ultural 179 2 . Contrato social 137 . .A justiça como equidade I94 . :;. Contrato polit ico 21 :.z Bibliografia 219 VI :·_ . . . . ' -~ . . : . . . :Prefácio (Po»']osié P. Castiano) ' Die ~ule der Mine7a be~nnt erst mit d,er eirzbreç.J;enden Dãmmerung ihren · Flug . Estas palavras foram escritas por G.F.Hegel (1770-1831), o consjderado pai da ·filosofia clássica . . . . . , . l alemã, · nõ·· penúltimo parágrafog do · prefácio à sua obra Grundlinien der Philosophie des Rechtes2 a · 25 '.de Junho de 1820, data em que o assinava. Na me~a ·data, em Moçambique, aproximadamente·· um: século e. meio depois, . Samora Machel proclama a Independência total e c:ompleta 'de Moçambique acto que formaliZou a Liberdade p()lítica. Se há algum':\ coisa que o filósofo Ngoe'nha teria desejado fazer, seria convidar o .velho Hegel a assistir> a .\1Iil dos momentos mais importantes da caminhada do povo moçambicano para.a sua Liberdade. Mas ao invés disso, Ngoenha ·obsequeía-nos coi'.n a visita ·da coruja da Minex:va pór via" deste livro no vigésimo ano da' Independência de Moçambique, ano das terceiras eleições multipartidárias pâra · o Parlamento e Presidência da República. · A coruja é .a ave que a Minerva envia para anunciar as · boaS novas: Quando ela levanta o seu voo e o povo a vê · chegando, sabe 'que é :Prenúncio da lllZ d~ esperança. Algo vai . . . "A cQruja da Minerva só levanta o seu voo quando ~hega o crepúscu/Q" (tradução n:iiDha). H.á pelo menos uµia boa dezena de traduções düercntes desta frase de'Hegel,:.alterando. na~lmente, ligeiramente o seu sentido. Em .~gumas traduções·portugÚesas se emprega o termo mocho e não. cot:ZJja e ·ainda o :tenii.o entaráecer ao .fnves de crepúsculo. Atenas ou Minerva era :a deusa. da cidade de Atenas, da coruja, e da· oliveira e ·da . civilizaÇão; era a eneamação da sabedoria, da razão e da pureza . .. 2 Fundamentos ·da Filosofia -do pireito. · · ·~~ _ .. ... :·· ·~ ..., . ·~ mudar? No mesmo parágrafo, antes desta frase, .Hegel escreve: · "Enquanto pensamento do mundo, [a filosofia} aparece no tempo só depois da realidade ter consumado o seu processo de formação e esteja realizada3". A ideia é que a Filosofia, como amor pela sabedoria,. é um Gedanke (pensamento) sob~e os fünàamentos dos fenómenos da natureza, da sociedade e do pensamento. Entre os quais estão os fenómenos ·políticos. A Filosofia para este pensadc;>r, é o resumo · do tempo no pensamento; por isso só pode chegar ao "entardecer" depoi~ de tudo acontecer durante uma jornada.-Pan(Hç:gel, neste sentido, a . Filqsofia é contemplativa e é o ponto de chegada reflectiva. Ngoenha se propõe com este ljvro fornecer os fundamentos para o pensar filosófico sobre a Democracia . moçambicana. Chegou tarde demais como a coruja da Minerva? Ou chegou ainda a tempo de, coin o livro, espalhar ~a luz do olhar filosófico sobre o processo político em Moçambique? Ele próprio diz que as questões que trata neste livro foram suscitadas há quase quatro anos atrás. De lá para cá lhe perseguiram nas suas reflexões e conversas. O convite da Academia Filosofica na Matola em 1999 foi o ponto de partida e pretexto para pensar e . escrever sobre o papel dà Filosofia, particularmente da Filosofia Política, em Moçambique. O convite foi nas vésperas . das eleições legislativas e presidenciais de 1999. Ngoenha vem responder quase cinco anos depois ... por sinal [?] nas vésperas de outras eleições gerais: Tarde como a coruja da Minerva? Sim porque as eleições que eram a ocasião do questionamento já se realizarám. Mas Ngoenha precisava de tempo para reflectir sobre os fundamentos. E pensar sobre os fundamentos precisa de prudência porque pomos em evidência e pensamos sobre os erros, conflitos, lutas e disputa5 do passado com os olhos postos "Ais der Gedanke der Welt erscheint sie [ die Philosophie] erst in der Zeit, nachdem die Wirldichkeit ihren Bildungsprozeft vollendet und sich fertig gemacht. hat". (Hegel,F., . Philosophie . des Rechtes . . Vorrede, . Bd.7,9p.) . ........ -··-·~-·-=-<-·-·"'·"'"~""'''·Yí •~' ' ;'; !:::"":'~:.i;:.:::> :~füi:{;~:aí~i1:i!füti~i'.fSt;::!i~i:~<:!g[~ (' l' ' . n~ futurô. 1\1.Ias Ngoenha tem uma vi :'< • • contemplativa da Filosofia Tal . sa.o rnterventiva e não que a Filosofia não só dev~ int como o Jovem Mane, ele defende C até aí fizera - mas ela deve :~1;::ª~ o Mundo - o que Hegel ( procurando oferecer aos homen u olltransformar o Mundo . t s me iores altem t . m erpretar e agir sobre a "Ua Hi t , . p . a ivas de a1 , d ·' s ona. or isso acho em e ter pensado na Filos fi que, para personalizou a questão. Entendeu o e a bem Geral, Ngoenha moç~bicana, através dos membros da A~m que a so_ciedade quest~o:rwr ~<q~al é º ·teu papel como fil , f4 AFIL~ lhe esti_vesse a ·Naturalmente que ass1'm olso od ~m Moçambique?». . , . co oca a a q e propone~tes queriam manifestàr atr , d ues ao, os d~ ver nos inteleétuais moçambican~:es e N~oenha~. ~ desejo teórico-crítico e mais interven - ' um maior engaJamento n~cionais, se é que estes têm a ça~et:ss_ processo~ políticos mç;ç~mbicanos. E Ngoenha responfe a est:ºa d~ ser mtelect~ais aITOJO que testemunham 0 , pe 0 com ousadia e · . · seu impeto de querer s · mterventivo no processo moçambicano p . er mais · · or exemplo numa das passagens, escreve o seguinte: "digo m .t , ter nascidCi tarde e não poder ter adu1 -~ vezes que lamento libertação] que contmua nos meus olhos J~nustºa" nMaquela luta [de a ' t b N · · · · · as ao escrever pr~sen e o ra r. ~oenha socializa a questão isto é t d . . ~on;te . d de reflexão . . para outros intelectuais co~~n :1eº es an o-os desta feita a trai:erem as suas r fl _ ' segt?rites. qu~tões . fundamentais para Moçar:bi~~~~s q~a~re, as sen~.do , _actual de · lutar pela · Liberdade no ~osso . · eaí~ deinocratico? Corno devemos militar e lutar . P Lib · d d ? Q · · por este sonho da . . e~ a e . ~ais são as nossas armas e quem são ho. e mmugos da Liberdade dos moç.ambicanos? Num 1. · ~ os ·1· · · a mguagem menos m1 Itante podemos formular a questão desta .e: Q . ., · . · . · . ionna: uais sao os c?nstrangimento~ de hoje à. Liberdade dos moçambic~os e qual e ~o papel da Filosofia na maximização das libe d d . de~o~rát1cas d?~ indivíduos e povos assim . como n: a es p.artic1pação pohtica? · sua . 9 r e e r e ( r e ( < ( < ( ( • ( 1 (, ( ) ( ( ( . ( ( , ( ( ( ( ( ( , ( · e r ( ( ( :::: ~ ·~:, rn ~ -.~. ·p· ·~:\ E;.~ -::'j. ·.'• ., . :·.: ... , . -- ~ : .·: ~ •; .·. Vista neste ângulo, a coruja· não chegou tarclv porque nunca o: sentimento de falta de Liberdades esteve tão presente como hoje nos países africanos; e· a Filosofia Africana nunca como hoje se sentiu tão chamada a mostrar luzes que ilumilnem o caminho dos povos africanos para a sua Liberdade. Aliás, se há Uma filosofia que desde o seu surgimf,lnto tem como sua essência a busca da Liberdade, esta Filosofia é a africana; é tanto assim que Ngoenha declara que ela sempre foi marcada pelo Paradigma Libertário: "Se .existe· um substracto filosófico que está na origem axiológica de Moçambique é sem dúvida a busca da Liberdade", escreve Ngoenha em relação ao processo · moçambicano. Esta Liberdade que. ~e busca tem duas facetas: a positiva, segundo o autor, quer dizer Liberdade (ou din~ito) de sermos nós mesmos" e a negativa,· enfatiza a. necessidade de vivermos sem contrições de carácter político ou económico, Este livro de Ngoenha. é em si uma das luzes que a Minerva traz para iluminar a caminhá.da dos moçambicanos para uma maior maximização das Liberdades individuais e colectivas . Caminhemos, pois, com o livro. No capítulo I , cujo título é Filosofia e Democracia em Moçambique - pela sua função na obra trata-se de um capítulo introdutório - o autor pergUnta-se sobre "qual pode ser o papel da Filosofia no processo democrático de Moçambique~~", Antes de responder à questão que coloca, Ngoeilha deixa cl~o que, qualquer pessoa que lhe desejar responder, tem o dever de ser "coerente", isto é, deve começar por clarificar a sua posição . pessoal e os valores pelos quais .milita. Pata Ngoenha, que se crê ser militante da tradição filosófica africana na sua vertente libertária, o valor máximo e ao mesmo tempo o fim da S\1ª Filosofia é a Liberdade. Como ele mesmo escreve: "o valor de fundo do meu engajamento intelectual é a militância a favor d~ste valor humano supremo para os moçambicanos e para os africanos" que é a Liberdade. Mas o que significa militar pelá · Liberdade no contexto actual e em Moçambique? Entre . outras 10 coisas N goe:nh · · . . : a, para dar resposta a . filósofo ou o intelectual que ·mil. esta questão, exige que preocupar-sé . constaritemente ita ~~la causa da Liberdade de razqes que militam a fav. em ~ relevar . e fundamentar· . participativa, de uma democra~~a e uma ~emocracia , rm esco~has políticas e societais ( ) que sub~rdma a economia nos imaginários colectivos d ... , e qu.:i baseia as suas instituiçõ populações moçambicanas .. p:!.~! aç~s ... ", neste caso, d a procurar e oferecer Iuies à veui ' a Filosofia deve continu governo e dás melhores ~onn . a ~ue~tão grega do "melhi · arti ·· · · J.( as mstituc1on · ,, p c1pação de pessoas· e' grupos d h . ais para alargar além disso, 9 intelectual . que milita e o~ens e múllieres. Pai entlm;der, resistir às. tenta ões do pela: ~iberdade ~~vc, no se cortejo pelo poder; seja e~ por p~e ~~htico(a). Deve· resistir a (que no caso de Moçambique N . Oovemo ou da oposiçã Renamo e nem os outros partid~~ . . goenha, a oposição não é N<:;ste ponto recónhecemos ore ' . . ~eflexões sobre o papel do intelectuaFesso de Ngoenba às sua mtelectual seria 0 de cont 'b . ·. Se~do ele, o papel di m Ih n urr com 1de1as e fl - . e oramento da sociedade C 1 . . re exoes para 4 este li · · · · 0 ocando-sc nesta se'Q vro pretende ser· · · · . · . perspectiva . . o . seu modesto co tri'b crescunento político e social d M . . . . . n . . uto para < Enfim · e oçamb1que. ' ' '9 mtelectual deve res'istir às co~pção: Não terá. sido . esta a atitude d . tentações d~ sair da pnsão esperando tr ·1 e Sócrates ao recusai · ' · · · anqw amente (e · Justiça? Não s_erão modelos disso tanto E , mgenuamente) pel~ Samora Machel 0 p· rime· 1 . duardo Mondlane como N õe U . '. . rro pe o abandono do nfi, . aç s. n~~s e pela c~eira universit . . .co orto das o segundo pela sua abne a ão ária n~s Estados U:i;tidos e ind~endência · de Moçám~q~e ~~~~m~dida em defender a . Julius Nyerere e Thomas Sanl . · . d9 e todos? Não serão africanos que "tentar. am· . _car:a eJ(emplos de. governantes ·· . . . . ser Justos" d · assumiram a responsabili'dad d . . .ur:ante o tempo que L'b · · e e cond · 1 erdade nas suas nações? _. . l1Z1r ª construção da · . . ... '. pergunta-se_Ngoenha. E acrescenta ' 11 . · . ..... ., ~~ -@!~ que Azikiwé, Nlcrumah, Senghor, C.A.Diop, A. Cabral, A. Neto são, entre outros, os modelos de intelectuais no poder político ou · · detentores de poderes políticos mas que fizeram tudo ao alcance para serem militantes pelaJustiça e Liberdade. NgoeD.ha·reflecte, neste ponto, a profunda angústia que sente quando, de cada vez que vem a Moçambique para leccionar Filosofia na.Universidade Pedagógica (UP), na Universidade Eduardo Mondlane (UEM) ou no Instittito Supe1ior de Rel~ções Internacionais (ISRI), ou ainda para proferir palestras em que o seu tema predilecto acaba sendo a missão do intelectual moç~bicano ·hoje, constata a ausência das elites políticas, económicas e intelectuais no debate político. Penso que no fundo, neste capítulo ele exterioriza · . também uma angústia pessoal de não poder êstar presente neste ; debate de forma presencial· em Moçambique .. Quem convive com Ngoenha, sabe que o papel dos intelectuais. moçambicanos na Iilaximização das Liberdades é o seu ~ema predilectó ... · Como pensar filosoficamente o facto político ·hoje em Moçambique? É a questão central do capítulo b: A Filosofiaem Moçambique. É aqui onde Ngoenhà propõe que a filosofia deve ser capaz de elaborar um discurso para mobilizar o ·"espírito ·da tradição" - conceito . que retoma do filósofo africano Eboussi·· Boulaga para os desafios da Justiça Social no quadro .do Estado moderno em Moçambique. O espírito é a chan:iada solidariedade africana que presumivelmente existe de forma espiritual raramente pouco praticada pelos membros das comunidades e sociedades na África hodierna, ·pois, se fosse este e8pírito qÚ:e respeitamos; teríamos a "coragem" de passar por uma criança faminta e doente na rua nos nossos carros four. by fours ou de assistir ao aumento do luxo ao lado de tanta pobreza? Não, para um contrato de natureza social a dita solidariedade africana deve ser tomada discursivamente · no seu espírito tradicional m.as · materializada sob forma (moderna) de redistnouição equitativa da riqueza material ou dos impostos e sob uma nova forma de conceber justiça como equidade (e eu acrescento~ restaurativa). 12 . .. . :- ; ·· . . .. ·: ····: :-::,-:-.· . ·; ··- (" (' o espí1ito.da tradiç- r o ao em Ngoenb s aspectos do passad a deve ser a ueI r defendidos por este e ~' _s<!..,'!!_.!!...'!!..e __ na medida~ e que mobiliza altematj.vas aos des spmto tem C<;lpacidade de : que os valores ,.. despir-se o mito da~~~ colocados pelo de~en f~r~cer respostas e se é que .ela exist Cua.1uada solidariedade fri~o v1mento. Deve r .fi e e mesmo a cana ou Ih \ onna espiritual, o des . que essa existência ? me Oi!", e.m debate Po1"s , . afio e torná-lo u'ti"l p . Seja apenas na e · · e1sso araoc :~~~::i:·~ ::alo /::i::1I)~;J:s1;;;~~~~r~f1ect~~~=d~O~~~ l com uma .agulh er com espada e balança n ex_to africano não (' t .d ... a numa das - mas sun um Ih ec1 o na - outra - maos para cozer a mu er mãorepresentam niao; _os pedaços do t º-~ pedaços-,de um C- indiVÍducis e gr~ º~esta. ~agem de Ngoe:1 o na ·_segunda IU:Stiça deve unir~ n_soc1a1s que compõem Moa, º~·diferentes social num context ao separar. Mas como e.ti t~arn ique que .a (' est - o em que na " . ec tvar esta ju f ev: fan-presente decidind' primeira República" E s iça C a politlca e mesmo o sobre a educa ão . o stado (' "s~gunda República"sobre . as biografias d~ bi~~u~e, a moral, Pnn1ando pela "ausA .. . 9,, mesmo Estado "d 1 iv: _uos, e. na governarem o aís ,enc1a . d~íxando os '\renc o arcrat1co" ]peca e nesta aporia Pue _passando o próprio Estado edores da guerra" Estado . . q se deve perguntar b Para a oposição? É (' no contelcto afri.çano. so re a legitimidade · ,.. Como Ngoenha d fc • . do .. 1.. representatividade.por vi: ~nde, s~na preciso perguntar- r é prescrita pela dem _os parti.dos políticos tal . se se a co~tucional de ocrac1a ocidental e reto ' e qual como .constitui a· fonÚa l ~~O e pelos Acordos de :ada pelo texto C dos imaginários ma~s. apropriada de mobiliz - oma em 1992, modelo políticos e sociais d açao e ·legitimação europeu, falsam os moçamb · agora) inadequad ~nte apelidado universal icanos, . Este são as .culturas ( fio.para os países da África. p , mostra-se (até (' a lcanas) que d ara Ngoenh _ modelos (europeus) . s.e evem adaptar a t d a, nao r partir dos imaginári~s~':i:r~~e~ é que OS modelo~ S~ ~~SI]~~ aos e os povos· Ist . . zn a . o s1gn1.fica que nós ,.... · 13 r r/ r \ , l í : <=-- ( , r · ( , ( ri r 1 ( 1 (_· ( , ( r. (.-- ( ( l · r ( ( ( ( ' ~-~-: :. " '~ .. .. !7 ,::'. -~·i::~ '· r:-:; . . ' • '. ·~ ·· ·i· . __ .. : · -1::t -l::Si _(D .;~:~" . temos de (re )inventar um modelo de sociedade qu<i nos seja próprio, conclui Ngoenha. É um modelo que terá forçossmente de tomar em conta a dimensão sóci!H'll\tural e qu• exija, de partida, uma acção "concebida a partir das realidades .utênticas das nossas comunidades autóctones; apreendidas a partir do interior". ]\!].as, entretanto, o que impede o nascÍ!llento dO!lte modelo · do interior que talvez fosse mais libertário? 1;1goenha alerta sobre a existência de dois problemas que constragêm o tal nascimento: um. é que nãO existem mecanismos juridicos legais pre'listos constituciona\IDente que peunitam ab eleitôi, no perlod<> entre as eleições, fazer-se ouvir ou participar no debate p\1blico. O segundo problema, é que a nação teve que riasc"' sob O comando das \eis e da \ógica produtivista Unpondo-se em detrimento de qualquer projecto po\it\co que tivesse baVido ou estivesse prestes a emergir; são leis, sob o . ponto de vista interior antidemocráticas. · porque impostas -por instituições coroo o FMl e o Banco ]\l].undial sem legitimidade popular para goveroar o nossó pals mesmo que seja etn nome do desenvolvimento; são \eis que não assentam nos imaginários cultuiais . dos moçambicanos e; o que é pior, ganham conivência de uma p>.rte da elite moçambicana. Por isso, a este ponto, em rylação ao primeiro problema, se deve qLJestionar a aplicabilidade da Democracia Represeiitativa em ]\l].oçarnbique; e, em relação ao segundo problema, temeis que equacionar sob que pressupostos assenta a Soberania de Moçambique. Ao dissertar sobre a democracia representativa, Ngoenha revisita o principio básico da Democracia. o da separação de poderes: Na aplicação deste principio, Ngoenha identificá conflitos entre os poderes executivo e JegislatiVO, por uro )ado, e entre os poderes ex<;CUlivo e judiciário, por outni Pois, .o "paradigma AJ1ibalzinho-NyitnPini" é pilta ])lgoenha o sintoma ·destes conflitos institucionais, ou Seja, rellecte o problema de como fazer com que entre o poder. executivo e 14 ..... -·· ··, ( .. judicial_ (?u entre o 1 . . . . . . . . ·. mterferenc1a. .Est , egislat\ vo e ex ~ . . . . . e e um probl . ecutivo)· nã · h. . no mundo (Chirac . . ema de muitas de . . . o ' •Ja outras) . ' na França ou Be l .mocrac1as actuais . . . r uscom na Itâl. Ao d" · · ' ta, entre 1ssertar em se . d Ngoenha começ; gu1 a, sobre o problem d Respons.abilidad AIP?_I lembrar-nos. que est a a Soberania, 1 e. ias não · · a estâ li d , a questão da Liberd. d. ' . e pnmeira vez que N ga a a 1998 · . ª e, soberania . goenha debate Ngo.:a se~. arbgo Identidade Moça~b responsa~ilidade. Já em . apr.esen,ta algumas linh _zcana: Jª e ainda nã ,4 perguntar-se.com B 1 . . as deste seu ... ··~ o e comporta ·. . oo cer Washington "O é pensamerito ao · . · em termos de que que a L"b percorrer as pá . as . responsabilidade?" Serâ ·' ,~;úade filosófica como '::"N·. =e capítulo· ·para intcirar neeessáno objectivo do au(or .!ºm . a tra_ta esta aporia. Mas ;.:h. da forma de desvendar 1una ~oduzir a problemátiea da banto que o t al aponi:t na p , f so erania , ac u . que é a predo .. . raica da Política lnt . e o portanto que se re :=eia de Governos O.cionai emac1onal sua acção ;nierna g m por pnncípios dçd!O~ s soberanos, são totahn . '. mas, em contrapartid cos váhdos na ente antJ.demo át. a, na sua acçã · Fen-ajoli . cham d. cr· icos,' o que, segunr d N . o externa b ou e .. co .d . o goenha,· L . . so eranos". Sãô oi . m_um ade selvagem mgi Soberania ue p s duas histórias paralelas de ·Estados d· · . q teremos que regfst · do Peccuil!O d imto . mtemo e ar, sendo uma de u É a perrnanenteinente na soutra N de Estado . que . sem abstado _de M ua acçao no pi · · · solutiza oçambique seria vft" ano mtemacional. . ' . externa da Sobe . . . . ima deste processo de b . "falar . de. "ºb .~ª a tal ponto que . no ·· diz· ªd solutJ.zação .., erama mo b. ·. , er e N . . abuso de lin · ,, çam •cana (seria] ho ·.. ·. · ~· filosófico daguag"111 ?.~rque, sendo a sobel: l. um !Ultentico . .constilu!çao moçambicana ama.º J>fl'l'SUposto . ' a p~tica política e ~.-=-~-..,.~~...,.-~-.Publicado pela Livraria . . . ~ , . . . . . . Moçambicanidade Mi . ?m~cmtaáa na col (Map:uto 1998) . ' ~çambicamzaç.ão sob di" . ei:,tãnea Identidade; ·. · · · · ª. · recçao de Carl . · ,· . os Serra 15 • • J,' :.'; ,•:. 1 •I. ,. , ,:.,, .,.·· ··~~ ,_ -- ~ lli\! _, ·~. jurídica porém tem demonstrado o contr:ário. As .instituiç<:>es da Brettori. Wodds encabeçam uma interferência "abusiva e anti- .soberana" da chamada comunidade ·internacional nos planos político, económico, . cultural, social e mesmo juridi,;o em Moçambique. Mas, se a soberania está sob o comando da chamada comwridade internacional, assumirã esta comunidade da · mesma forma o que a Soberania comporta como responsabilidade? Eu perguntaria de uma· outra forma, haverá mecanismos .. legais nacionais e internacionais ao alcance do Governo moçambicano para que possa exigir responsabilidades da comwúdade intemaCional.pela sua acção no nosso território? . Que mecanismos legais se podem accionat quando, por exemplo como recentemente sucedeu, uma organização eGtrangeira, t,eve que re<;luzir . drasticamente o seu apoio financeiro ao sector de educação (porque o seu · apoio externo tinha a-ssumido, entretanto, encargos maiores na reconstrução do Afeganistão) e já não pôde dar corpo aos váriQs projectos de ·apoio institucional que teria assumido com os planos do . Governo moçambicàno? Quem assumiria a responsabilidade perante as crianças que porventilra deixarão de poder entrar na escola ou não terão uma educação de qualidade por encurtamento de meios ou por falta de apoio prometido durante as negociações de parceria? No actual panorama institucional as possibilidades são quase nulas, só restando ~pelar ao plano da · moral e prineípios · não · vinculativos na pratica da cooperação em forma de "parcerias inteligentes". Eu diria, intervir na soberania sem assumir . a responsabilidade dos actos que isso comporta, é batota que a · . comunidade in~emacional faz connosco: ·Em jeito de conclusão, o fio cond~tor que o leva a temas apresentados no capítulo II (o papel do Estado, a questão da legitimidade, a · democrac.ia ·representativa e a quest~o ·da •soberania) é? debate em tomo do papel da(s) ttadlção(õe.s) .no· contexto da Africa moderna e a questão dos constrangime11tos à justiça ·entendida como. · equidade, não · somente confinada à· 16 . r (" garantia das Liberdades (' político . mas sobr tud políticas no quadro do fb ("' recurso~ mate· . . e o n~ . sua vertente de di . 1 • e:_alismc (individua1ment!1eaips~r ~uoc1ai)s e culturais ~~1çbaum1çba.o do~(' . N- , b4 pos . - icani0 ao e por acaso . · Ngoenh · ' pois, que o títuJ d a se1a Aos vencidos não se ed ? ·- o capítulo IH de(' como eu. me enganei ao ler este títufo e i°Pm_iao. Pois engana-se C :nanuscnto me chegou às - . pe a pnmeira vez u ' 'vencido" , R . maos, o leitor que at .b . q ando o a enamo e a o tr n tur o estatuto d ''vencedor" à Frelimo. ~ os Partidos da oposi·ç- e ~ N · . que 1onna G ao e de . goenha o que acabou fi . . o ovemo sozinha p Transferiu-se a luta pelas o1 a guerra, mas não a viol ~ ~ra do d · :E . armas por llnl.a · 1 ~ . encia. r po er. v101ência não .é , v10 enc1a pelw contr 1 <..... de. violência que preocupa so ~ morte de Carlos Cardoso O t? e(' crianç d mais a Ngoenha , . ipo a e ter comida ou de ir à e o que priva uma r de Paz com Violência. M , escola. Estamos numa situ - .poder económico Po .. as e uma violência que é ditad açalo ( · r Isso, pergunta s a pe o 9uem? v~nceu e quem perdeu? Se a vi~l ~· ~e a guerra acabou C- caus~ . A prime~a pergunta a~resenta trêenc1a ~~ntinua, qual é ~ o pais perdeu, [u] o país ganhou e· [iü] h, s cenanos possíveis ([i] escolh~, naturalmente o últim. . a vencedores externos) qu d" 0 por que "nós · • e - ero izer, nós moçambicanos e , e quando digo nós, C- nao gculhou mas· també R P rdemos a guerra A F. 1 · fc · ' ffi a enamo não ganh ,, . Ie lffiO l . o1 '. o capitalismo internacional ou . Quem ganhou Instituições da comunidad . . . representado . "pelas . s e d" e mtemacwnal fc • . uas Áfri sua unensão económica (dm . &-. , o1 o liberalismo na (' ca d Sul . o 1acto de Ngo nl . o . entre os vencedores) A d e ia mcluir a r estavam nas mãos da R . . o epor-se as armas q ' . enamo e do Gov ue r gµerra, voltou a ressusc1'tar Ih. emo acabando com a ' d · ~ · ª ve a luta · · en~c1ados por Marx: o capital e o tra entre i:i1migos já r qu~ tem poder económico .. e os ue bailio, ou _seJa, entre os deixar-se explorar vendendo a .q para sobreviver precisam e Governo aderindo abertam t sua forç~ de trabalho. Com o r A • • en e ao neo-hberar em consequenc1a fragiliclid 1 ismo, mostrando (' . ' e em sa vaguardar a sobe . , . rama e em e 17 ~ r ( . r ( ; ç__ ~ !;(; T ;:;;; ·r-8; ( , ·-; ~:.; ::··:· -; ·;:_:;. ~. ( ( 1 ( r ( ( ( ( - r ~!L~~ '0: -\~u ·-- \~. -t~:~:: ~ ambicanos, unida à . vida -social cos moç . to oUtico neo- regulamentar a contrapor-se ao proJeC p ? N-o dificuldade da Renamo em à d'reita quem está à esqu1~da. a . rtanto com ambos 1 ' • O que há é. uma liberal, t.:º debate político em Moçamb1~ude.de da coniu.uidlade l ' por isso, d la capac1 a :ia, . 1 der entremea a pe - de governar violênc1~ pe o po or razões óbvias "n~o po d l rcrático intemac1onal, que p longar um proJecto o a mha d. ectamente"' em pro ualquer capitulo Ngoe n~ocoloniafü.ta. Ma~ ~~ ~u~:~i:iensões do .seu pensan:~:~!~~ . I:x ... ostra neste a sua a _esa i·o,,,ali'sta africamsta e soei ,, d' soes nac " , . ári ou seja às m1e~ ser fiel ao paradigxp.a libert o. s no capitulo procurando sem.pr . ua obra apresentando-:nº. ' . alidade N goenha tern:nna a s ,.. o da constltl\ClOT1 pologética para a renovaça b. ano é o titulo deste IV' ulmaP:r um Triplo Contrato Moçamesiscidade ~ de um triplo actua . dvoga a nec tr to ca ítulo onde o autor a contrato social e con a p tratualisrno: contrato cultural, ultural Ngoenl1a começa por co~'f co Em relação ao con~ato e orta duas pa1tes: uma ~~s~~lt~ que a dem~cr~c1a_ c~~~Ngoenha não negoda a . lol6rrica e outra mst1tuc1oln plano dos valores comporta ax10 o· , . Segundo e e, o . . humanos dimensão axiolog1ca. d respeito pelos drre1tos . . . . , ios de igualdade e o abstracta para comgtr _as ~e~1pvalores constituem urna form:ns para garantir o respeito d:sigualdades naturais ed~tr~t o: ~:ená~eis do homem. Portanto ela dignidade e pelos . lICl o . ca de Ngoenha, são de natur~ ~s valores da democracia, na ópti negociáveis. Em contra~artída, ·versal e por isso mesmo nao rtam as democracias, na um . · · que compo · · d em delos inst1tuc1ona1s ltu doe" ou seja, ' ev os ino er "acu ra "' ' . . ·-ao de Ngoenha, devem s 1 ·t;..,...;dade deve denyar opm1 f:'. que a sua egi .llJ....... • ,, d ser adaptadas de tal iorma "imaginários colecttvos os d .10 que 0 autor chama por fim do processo de aqui 0 ultado oµ o -povos e culturas. res objectivo a aculturaçao ou negociação que~ tenha . co~: ões chama ele ~e . con~ato moçambicanizaçao de msti ça:utor nue fiz referencia acuna, arf do mesmo -i. cultural. No igo ··; ... ··- . escrito em: 1998, ele · esboçava já os primeiros contonios deste contrato ·culturaL Ele escrevia naquele artigo5. que "o pacto cultural deveria reeonciliar. a polí~ica com as culturas nacionais ... [o) que permitiria libertar as instituições estatais da política cultural sobre a qual vegetam e mete-las numa dinânlica de cultura política mais produtiva'.6. Ó que no fundo quer dizer que para escrever este contrato seria necessário mobilizar u:ma capacidade integradora nacional que (i::e)ronciliem o projecto polític() coin as características étnico cultunüs das populações de Moçambiqµe . . Ele chama atenção para o facto ·de não se tratar de renovar ou reabilitar as inStituições tradicionais ancestrais, mas sim conferir à democracia uma dimensão · moçambica~~- Mas para isso temos que conhecer as . nossas tradi9ões e culturas para a partir deste conhecimento pensar o direito e a democracia moçambicanas, recuperando assim aquilo que Montesquieau chamava · por "espírito da lei", ou se · quisermos falar com Eboussi-Boulaga, por "espírito datradição". 'Para efectivar esta reflexão~ recuperar-a .tradição em função do futuro, Ngoenha vê a universidade como o local de reflexão e, consequentemente, ele vê as · elites intelectuais como sendo a: força social que deveria estar na vanguarda deste empreendimento. É em volta 1 deste pensamento que o aµtor desenvolve os s~btítQlos de "cultura . jurídica"'; ''pluralismo jurídico" •e "transferência jurídica'' a partir dos quais coQ.ceptualiza, no fü;1al do livro, o seú projecto ·político deinocratico · e m:ulticultur.tl. No projecto . . político de Ngoenha há um contrato entre ·. o Estado e os subgrupos em que cada UID3: das partes tem obrigações morais perante as suas acções. · Por meio . deste 'contrato é preciso assegurar que ·os indiVíduos admitam a existência dlima nação ·unificada e indepen~ente, que ·contenha regras e. princípios· a ser s . . Refiro-me ao texto: Ngoenha,S., Identidade Moçambicana; já e ainda não. ln: serra;c.; Identidade, Moçambicanidade, Moçambicanização. · Üvraria Universitáriil; UEM, Mapri.to, 1998 (pp.17-34)- . . . · 6 · Ngoenha;s., l4entidade Moçambicana ... (p.30) · 19 . · .. '. 1:.: ' ~ · '• ,;:_ ... . ;. .-... ····· ,· : . : .. ~-.. 1 ·I ·- --r.,fü . ·- -~ --:,~~:~ - -i=m ·- - ? respei~dos, pias.(lo mesmo tempo, em que a igUaldade de cada pessoa não seja minada . pelas desigualdaden dos domínios ·da vida social. Neste ponto emerge Rawls no contrato ngoerihiano. Ngoenha desellha, pois, · o seu contrato social inspirado de forma significativa pelo debate iniciado pela obra dt~ John Rawls Uma Teoria de Justiça. Nesta obra Rawls defende no .fimdo dois princípios de justiça como equidade. São princípios que defendem a distribuição dos. bens primários entre os membros de uma sociedade de forma equitativa; considera por "bens primários" os · bens pásicos que todas as. pessoas, independentemente dos seus projectôs pessoáis d·~ vida· ou das · suas concepções do . bem, . devem . usufruir. São ele-.s ô auto- respeito, a auto-estima, as liberdad~'políticas básicas, as rendas . assim como direitos a recursos sociais como a educacão e a saúde. A referência aos prlncipios de John Rawls 7 e a~ debate em tomo deles, servem d~ chamada de atenção para Ngoenha sobre dois aspectos: o primeiro alerta-nos para o facto de que a garantia das liberdades fundamentais (pela . con~tituição democrática liberal) não é suficiente ,para o fortalecimento da democracia moçainbicana, se não houver uma p:reocupaçâí.o em diminuir o fosso entre ricos e pobres; o segundo aspecto que Ngoenha pretende mostrar é o redimensionamento do paradigma libertárj,o: é qu~ uma filosofia qµe se pretende moçambicana, . não só deve buscar fundamentar a Liberdade; 1nas -também fundamentar a buscª' da justiça. Com isto Ngoenha redimensiona o que declarou ser um paradigma libertário da filosofia africana para integrar wn. ~utro patamar paradigmático; aà que podemo's chamar de <<Paradigma · da Justiça . Social». Considero que 7 Trata-se do princípio da equal liberty principie (igual liberdade) coi:;io o primeiro · e, ·como. seguiidó, o princípio ·das desigualdades sociais e económicas; · este segundo priIÍcípio , por sua vez, subdiVidido ·em dois: o primeiro o princípio da iguaidade equitativa das oportunida.de5 e· o segundo o polêmico principio da diferença (Cfr. John Rawls, V,,;.a Tecria da Justz:ça,' Editorial Presença, Lisboa, 1993 (p.67-107)·. · 20 ·.~ . ". ' . r . . (' fundamentar as ti .. . . . S.ocial é um . as onn~s de unplementar os . . , . r" para alnadure~;;to llllport3:11te que m~.rec;:.~nc1p1os de Ju.stj (' . moçambicanos. o sentido . democrático u~ debate ace M . a luta d ~s es-te novo pat r contrato pout· amar não pod e· . \ &'. u ico que te~i.- e füectivar .torças políticas . .uua como interl -se sem u e m que articulam ocutores as d . oçambicana. Para . . os seus ínteress i_vers, (" al~ga.r o espa o , ls~o sena necessário re. es na socreda( sociedad ç pubfzco onde as d:.r mventar, criar cC' e entrem · .u.erentes fo - . ar~e~tatjva (e não p:~ vi coA~ontação soment;as v:véls e (' moral). a ~ annas ou da . ·~ . pe a v1 Ngoenba - v10Jenc1a física o li · propoe-nos no (' po ti,cas moçambicanas ~eu contrato político que e essencial . d. ~evenam fazer um d' que as fo.rça e fundamento no~· tscutivel, não negociáv:tor o s~bre aquH nação estiver z~o d~ Estad9. E este ac , º,u seJa sobre ' zonas na- em pnmerro lugar"ª N nhordo e possível "se (" o negoc , · . · goe a · const·tu laVeIS: . "a nível d escreve sobre r I em o pa+.-;- , . e bens , a minas t •u.tuOn10 nacional (p rt economicos qu , erras etc ) d . . . o os caminh '(" . nacion<lis q~ Ilã~, s_e Junsdir~-política, 'es a os ~e ferro lugares de d ~ . ao acess1ve1s a estran :P_ ços estritarnent< \ e.tesa, de s gerros (min · t, . pre1Togativas ciuruen egur~ç~ de planjfi ·- IS ·enos e cooperações, doadores tainte~.te nacionais não cedívc~çao, etc},..... 0 . , e c. eis a ONG \ . engél.]amento intelectu ' . deste livro tem paralelis al. que Ngoe,nha nos tr~ . C' um dos mos com o en a· z por me1or t grandes pensadores da F'l g uamento intelectual d ' empos e a que ele faz . I osofia Politic d , . e [ .filósofo moçambic mUI_ta referência: John Ra ª os ult1mos actividade intelectuanio ,º leztmotiv do seu engaiamwls. Se para o (' fc a e a militãn · :i ento e da es orços intelectua. d . c1a a favor da L. sua(' is e Rawis foram para fund zberdade, os - • • • 1 amentar a Justiça r Parafraseo aqli. . . ·. . : . . ec · · 1, e citando 9e memó · · , · ·. · · · · ononusta Pi:akash Ra*11al rium co~ntáriº, ~tulo de um artigo do . · · ...... o analir · . . . . . . . . rco. a Agenda 2025. 21' . · ··~ .... .. :. . -·.· .. :· :-r -··· ··-.· .. ;-~· --:~ ~;·-~··i ·~ :<.~~~~.:.-:/!;~ .~.>:,J. ~ .. : ... ... ::~ ~-.. · .. : :! ·~-· .... :-::-. ;:·7·2-TS0~::-;:?'"7~=,:,.:::..,:._: .. ... .. · ·.· ... ~.:·.i:·.:_:_ s _ ... \ .; ... :~-.:. · .. .!· .. ·.· •• . ·.·. · ~ · · · • . - . -: ····~: ./;: :~ ·:!:~:~/-'.'.: t:\~_:·;_:~ :i~~ ·.:·?;:7"7~7-~·. '"";· ~~::.-:'~~,--,~~\ ... ' r .. ; •: :C .,,, . . •·,: C, r r \ ç_ ( , ( , ( · r (" · r . \ Í 1 ( í . í (, ( ( . í r ( é r r é ( ( é ( ( ·- ~~ ...... ~ ··-l:·~J · - <~~; ... ~'.3 7: - i::~~; '..: -~:·.; como Equidade · a partir do senso de j,ustiça e a faculdad~ de concepção do bem que, segundo o próprio Rawls~ são 'inerentes às pessoas morais, livres e iguais e que vivem· numa sociedade democrática9• Na sua obra Justice as Fairness: A Restatem~mt Ralws afinna que o facto . de a sociedade . democrática ser frequentemente vista como um sistema. de cooperação social "( ... ) é sugerido pelo facto de que, de um ponto de vista político ' e i.10 contexto da discussão pública de questões fundamentais de direito polítiço, seus cidadãos não consider~w. a sua ordem social como uma ordem natural fürn ou como uma estnitura institucional justificada por doutrinas religiosas ou princípios . , • . . • ... , , . . . .. .. .. . ,,10 . ·. luerarqmcos expnnundo valores anstocráttcos · . Lendo esta citação conclui-se que há concordãnéia tácita ma.s ao mesmo · tempo um afastamento entre Ngoenha e Rawls. A concordã.ncia nota-se em relação ao facto de considerarem que a caractetistica de uma democracia moderna é - emprestando o tenno a Beck, Giddens e outros - a reflexividade; . ou seja, por um lado a . . interconexão entre a racionalidade científica e a racionalidade . . social no debate público sobre a(s) política(s) e, por outro, o debate sobre os próprios fundamentos da democracia liberal. Entre os fundamentos da democracia liberal que ambos propõem colocar ao debate é o que Rawls no trecho acima chama de "estrutura institucional" e Ngoenha denomina por necessidade de "aculturar as instituições". Mas o ponto em que discordam é nas implicações dos seus discursos. Rawls escreve tendlo em vista formular uma teoria universalda justiça e N goenba nos chama atenção para a necessidade da sua particularlZação. O filósofo queniano Odera Oruka escreve, a propósito .das ideias de John Rawls, que seria dificil ima~ar alguém que formule uma teoria universal de justiça social que não tome em conta os factores de ordem económica; tradicional ou ideológica Rawls,J., Uma Teoria da Justiça. Editorial Presença, Lisboa.. 1993, p.68. 1° Cfi. Oliveira,N., Rawls. Jorge Zahr Editor, Rio d.e Janeiro; 2003, p.49. 22 . . ~ .. na8 diferentes . ·sociedades11 Po.t. . . - . . '. : . . . . ! . ·. . ~aractelisticas que poderiam.' . ~e . sao . ~acta:mente estas ~e·deveria· fazei- parte do cabno . . ~~~e O~a, d~~nar o fun amda o. que poderia ser consi:r~~~ ne~ess1f1ades báSicas';· ou . damentais" de uma detenru· . d como. 'sendo os "direitos que ·b · na a sociedade Ra · I · · 0 em-estar ( wealth) e 0 1;endim .. . · w s imagina necessidades .básicas. Mas, se. undo ento (zncome) c?nstituem as estar e das liberdades ~-~ ~· ~a, o conteudo do bem- . · . · .1.uuuamentais d contingências locais é. difere · ' por epender das' . ?hde 'os ºPricIJ;iôs d~ ~xÍstê n~e . . Elle . d~ exemplo de sociedades ldeo1 · ncia co ectiva ou ·sã d · · . . ogias ID~istas OJ;ld~ 0 incfiv·d • . 0 envado.s de . mteresses ·para""· ... ' 'ltim. · ·" . 1 uo tende a relegar · , . a u a mstân · ( . . . os»seus derivadas. d~ relação religiosa ~:ms~~~e:a:es s?cia~) ou são . coerção social põe a autonorn; l a es· metafisicas onde a ,:a · ... .ua e va ores d · di se~,..o lugar .(spciedades tradicional-e os ?1 . víduos .em. . sociedades, prossegue Oruka as ess omunalistas). Nessas algum bem-estar ou · ' · p oas que .tenham acumulado · di · . · . . com grandes rendim - In VldUalniente· O poder de usar . · . . ~ntos, nao têm prazer e de foi:ma .. legal. os seus rendimentos a seu belo . O Estado, nas condições d · d · Oruka,. deveria sei coercivo p:. .. aet _soc1e ª?es exemplificadas por · - d .... . zrar as nqu · di . . . maos . as pessoas . e , iegitinlar' . ez~ m Vtduais das necessidade de iedistrib . . . . esta coerçao a Partir da entã~ · historicamente ·de:.:O:~~;za f~vorecendo aos grupos até . depois . da Indepe~dên . d os . . E o. que ~o, fundo foi feito . nacionalizações· cuja justific1a - . e Moçambique . com . as que lhe pertencia e acabar c:~ao era a de 'devolver ao povo o . homem' e~ de certo modo, a m:n: ~:~a;:ç~ do h?mem pelo . ·pelo . Governo do Zimbabw ·. J . h aç~ que e dada hoje d . . u1 e para . arre atar as te d . os agn<:; . tores brancos em noine d . . . • nas as mãos . . . . . . . . º .povo (negi'.o) daquele país. li . Oruka, H.O., John R~ls' ldeoÚgy .li /, • · · . · .Oruka, H.O., Practic.tl Philoso h . . usice, as Ega/itanan Fainzess. Itr East African Educational Publis~ y. ~· ~e~ch of an EtbicaI Minimum. . . . . . . . . ers. arrobr-Karnpala, 1997 (115-125) .. 23 ., ~ ·--t~ '""\. ~ -f ;~i ·-t{l ,_~§f : .. :·· •O que quero (de )monstrar aqui é que há nos Estados afiicanos de hoje uma aporia política cuja origem é a existência do Estado ne~o-liberal . inspirado e edificado . na base do contratualismo clássico no qual os indivíduos têm direitos a ser defendidos pelo Estado, mas simultaneamente notamos que l)á uma grande injustiça social no que diz respeito à distribuição do bem-estar e da renda. Assim, para uma melhor distribuiçãb~ ·.o Estado não pode 'forçar' os poucos ricos a darem mais que os outros sem correr o risco de invadir a esfera dos direitos individuais, particularmente sem ·correr o risco de passar poi· cim:i do direito à. propriedade. Este é o dilema da Africa do Sul boje: como 'obrigar' a minoria branca que acumuloü- riquezas por meio de vantagens . históricas do apartheid a darem umà parte da sua riqueza evitando violar os direitQs indiViduais, sobretudo os de propriedade e mantendo o Estado do Dír:eito intacto? Aquí parece ser necessário haver uma espécie .de contratualismo q~e se baseie não s6 na defesa e garantia dos direitos dos indivíduos mas também que consiga submeter os interesses económicos de grupos aos i.Ilteresses . políticos . e a defesa de idiossincrasias particulares de grupos culturais. Encaixa assiln o facto de Ngoenha ter introduzídQ a ideia dos contratos sociais e culturais junto ao contrato político. Se é que o contrato político, baseado na Çonstituição, garante a observação em primeira linha d.os direitos dos moçambicanos como individuais, · os · dois contratos adicionais· que Ngoenha propõe (o social e o cultural) terão que ter . como assinantes grupos de moçambicanos. Desta feita, o corr!rato social deverâ comprometer os grupos com interesses ·económicos, ou mais precisamente, grupos com. maior reJ;Idimento, ·com os . desafios políticos do desenvolvimento~ e com redistribuição equitativa do . rendimento nacional; e o contrato. cultural deverá criar espaços · abertos para a .articu.tação de diversos valores e práticas .culturais· no contexto da · política nacional. Estes dois contratos . só ·serão . . possíveis alargando a teoria contratual da esfera iildivi4ual para 24 · .. r a colectiva de aiticulação d . t . . (" ~ · e m eresses e , · · · promoçao de valores culturais A . conomicos e de defesa e <' . y roblema axiológico ou da falta d~ ur:s1!;1 resolve Ngoenha o Cada geração ou · · . ª suitura política" . . t 1 . - . . acusa ou a . r-. . lD e ectual e fis iCo da ant . . prec1a o engaiame t. l , d · enor A oeraç- :.i n o .so po e agradecer à geraç~ ~ue d .d~o moçambicana de hoje \ encetar uma Iutajusta e dura cu. ec1 rn pegar em anrias para (" colonia~ Aquela luta foi uma hi~i~I:: eird a eliminar a dominação r a geraçao que m,.v; ..... lZO· . a e de toda a geraça-o F . 1.. --.u.u u o gozo d I"b . . 0 1 pr~)~émla! .. a _pict~ped~ncia Naciona7 . ~ erdades naCionais ao pu ICando ultimamente sobre a hist;. ' pelo que .. se vem ~ode . n9.~-:se QUe foi. um . roe ona ~~ Juta de libertação, mdec1sões, determinações,. cisXes esso che10 de con_tradições, e tomo do objectivó comum. o , mas sopretudo de unidade em r papel. da nossa geração agora? i::: quero perguntar é: qual é o de deixar um Moçambique com as~ .~eremos a responsabilidade que as que gozamos? Pode da erdades mais alargadas do (' explorar todas as riquezas .do mal s . r-nos ao ·.luxo de deixar de · · t · · so o e .!!Ubsolo sus entab1hdade das · ·d sem a preocupação res bT VI as futuras? N- é da pedonsa I idade de não só preparar as ge . - fuao temos a · ucação; mas também · raçoes turas através tenham cnar todas as co d. - . emprego e.seguiança? Que v 1 , . n içoes para que \ ~ossos filhos e netos se orgulheni d a ores deucamos para que os ~ Mo b" · os anos 80 e 90? 1.. , ram ique pertence tanto aos m . . . , aos espmtos dos dos .nossos ant . oçfllllb1canos presentes r heróis ou não, assun como aos .fuetpassados proclamados com~ r · - uros m · b · · · \ rrao n~cer, crescer, . viver . amar . . oçam icanos que aqui Moçambicanos. são tamb , ' . e morrer nesta pátria (' em os nossos h , · · somos nós hoje mas tamb ' . . ero1s que morreram r v· h · · ' em o futuro. D ' , ·. . ' ivemios OJe com a responsabilidade do a1 ~uç e pre:c1so \ na sua obra . O Prind · io· da am~~· H ans Jonas, refonnulando o prinCípio : ética k ~esponsa.bzlzdade . (1 979), r r~sponsabilidade polarizada n ~?a_na, PTOJ~cta uma ética de r . Vmdouras. Segimdo esta éticaas cohn lÇOes ~e Vlda das· gerações r . . . , o ornem nao d \ . .· . . eve esperar que . (' . 25 . -: .. -: . . · ;-·· ·~ · .... --;--":'~~ .. --. -. . .. . . .. . ,:" :' .~: ~- . : \ . ( ... , ·; .. '· .. .. ·· .. · ... e e r \ ( ~ ( , ( ; r ( \ ( . ( , ( , í ( ( ( · \ ( ( ( r ( ( ( ( -~~ ~:: t; ~Si · --1cc:;· - ·r '. ·· .. : ; · -·_:..; :~: __ ,:;) 1 •• ' ':, ,; :. -f:ffi ~ ,. e ·-:;'} . isa ém troca da sua acção responsáv~l. venha a receber algun:a co eria urna ética que: visa cnar Aplicada a Moçambique,es_ta ~icanos do amanhã tenham a condições para que os moç~ 't s-agentes mais livres e Possibilidade de serem sujei o deveu· a haver também um ' • m . 50 penso que "' . responsavern. r or is • , d ""es Neste que uao tena t to e geraço . / • quarto contrato - o con ra t"tu i'onal caberiam todos os . t a forca cons i e • · necessanamen e um . / tecnologia e inovação, meto temas "futuristas"' tais como, . como compromissos - · d mpregos asslID J ambiente, geraçao e e u'hl1"cas Portanto, o contrato ·i· - das poupanças .p · . - · sociais na utl iz~çao . · d lanificação estratégica para de gerações ~ana parte mte~::e de~t~ ~ontrato, as crian9~s : ~ a 0 desenvolvrmento. -Em n . ·' .. am· da não tem 1dire1tos d. oçamb1cana '-que juventude ho 1e:na m di ões de exigir aos adlul~os o políticos) devena estar em c:- çe de serem uma espécie de direito de vi verem bem ama a . superviso~es da acção daque~es~ ao contratUalismo há ainda um Derivado deste acrésc1m 1. introduz nc> . debate N enha com este. ivi:o, . .d. d outr~ ponto que g? e. ~ o onto da cultura. ou da divers1 ~ e . político em Moça!11biqu . div~rsidade cultural pode .se:r genda cultural. Como e que. a . . rum Estado multicultural? politicamente? ? que sigriifica :.~:e que, na impossibilidade de Já Fredenc J ~eson no . . . a condição pós-moderna, o haver qualquer pro) ecto colectivo n . da heterogeneidade · · l labora o Jogo ' ' · . capital multu~ac1ona e. . do que nas é:pocas antenore.s a permitindo assim que mu;,io mais. problema político. Segundo questão cultural s_e trans onne ~um dado o seu conteud~ de J ameson, o ambiente pós-mo e~o, encerra rK>ssibilidades . de expansão multinaci2onal do cap1t~bl?11· d.., ·d· e d~ ser "outro" nos é . ;.. . ltur 11 Pois a poss1 l .. res1stencia cu a . ' . a culturalidade se toma o dada pela cultura e e por isso que centro da política. · . M G . A Condição Política na Pós-Modernidade. A Questão i2 Cfr. Peixoto, . . E .. DUC São Paulo, 1998, pp.56-58. . . da Democracia.. • 26 .· :· · . É isso que Ngoenha faz nesta ob~a: ·te.matiza a divmidade cultural sob o " prisma da sua gestão política pois, constata ele, não ·há · ainda o. diálogo . necessário en~e as cul~ · e. as instituições políti~as. A constituição política deve· re.flectir . . i . . . ·' respeitar mas sobretudo ter os seus furidamentos na diver5ldade cultural do nosso país. E esta diversidade ºcultural· é. iilC9rp9ra9~ não no.abstracto mas.em gnipos. etno:-cult~~ especff1cos. ·N~te aspecto é .uma grande cor;igem de Ngoe~a ~er: ~e ~pecto .à. !Um.e do debate, . embora não seja a p,.-imeµ-a vez.' iâ na obra 'por uma . .J?.i.rr~~~ã(> .Ngoenha . termina iaieµdo uma· ap~logià a urria constitucíonalização da ge$tão das cul~ particulares. . .~$,O_epha _ ~ança coni este livro . um .o~tro· c"desa.fio · a~s polític9s .que querem ou quere~o governar o nosso país. ~st~s não se devem limitar a dizer.:.nos qual será a sua.política c1lltural mas, sobretudo·,. d~verão equacionar que tipq . de eulturq po~i#ca frão desenvolver. Com esta ideia lança-se uµi de~afio ~ eticidade. A etici~de é tomada pQr mim como màni.festaÇões :nà "luta pelo reconhecimento" no sentido que O filósofo alemão e SUCC$SÇ)r de Habermas na dir.ecção do Instituto · de ·Pe8quisa . Social · em Frarud\J,rt, Axel Honnet13, usa. Portanto, a eticid~de ~ãQ é, aqui entendida nó seu . sentido . da morii.lidad~ kantiana, o~ . seja,, de uma .atitude uDiversalista em. que o respei~o. pelo ou1*o ~e torna um fim em si niesmo na acção de irtdivíduos autô.nomos; este 13 Axel Honnet foi assiStente de Jürgen Hab.cri:mas e segue 11 tradição· 'da. Teoria Crítica apresentado a s'ua teoria.que se Qasea na ideia daºluta pelo reconheci.mento" .. Honnet parte da·doutrina de reconhecime$ ~m H~g~l e recorre a G.H.· Mead para estabelecer a ideia de uma critica sociai na qual os processos de mudança social devem ser explicados a pactir de acções que têm como· objectivo restabelecer o reconh~imento mútuo ou desenvolvê-lo para um nível superior. As lutas-pelo reconhecimento são, nesta perspeetiya, uma força moral .que impulsiona o desenvolvimento. · Aproveitando esta ideia, podei;nos inferir que os diferentes grupos · culturais lutam pelo seu reçonhecímento num ambiente ·democrático. · (Honnet, .A,., I,uta pelo Reconhecfmento . . A Gramática Moral dos Conflitos Sociai., Editora 34, São Paulo, 2003,269pp;): · · 27. ? ---;~;f:; ·-r] 1.':::: •- ..:- \I rq: · -- ~~if <.: <· . - . . . . . . em troca da sua acção re5ponsáv~l. venha a :r.ec1;:ber algun:a c01sa . a uma ética que: vfaa cnar Aplicada a Mo9amb1que, ·esta sb~n anos do amanhã tenham a · - a que os moçam ic · 1· e cond1çoes par . . "t s-agentes mais ivres possibilidade de : serem SUJel o deveria haver também um , · Por isso · penso que ~ t · responsave1s. . ' d era ões. Neste, que nao ena quarto contrato - o contrato e gti·tu· cç1·onal caberiam todos os . t ma forca cons -' . · neces~anamen e u . " . tecnoloa;a e inovação, me10 ·•rutu . tas" tais como, I!>' • ~ os temas ns • · como· comproIDI:s1$ · . ~ d empregos assim · ambiente, ge~açao e . . . 'blicas. Portanto, o c_~ntrato sociais na utilu:ação d~·poupanç~ pulanificação estratégica para de gerações ~ana parte mte1::tede~~ . contratf>., as criahy~ ~ a . o desenvolvnnento. Em n . . ( ai'nda não tem drre1tos . moçambicana que . . J. uventude. hodierna d"çõ de exigir aos adultos o . tar em con I es . . . d políticos) de:rena es anbã e de serem uma espécie e direito de viverem bem am . supervisores dc:i. acção. da~ue~es. ao contratualismo há ainda um Derivado deste acrescimo 1 . 0 introduz no debate N nha com este ivr ' · . "dad outro ponto que g?e ~ onto da cultura.ou da divers1 e político em Moç~btque. ~ .º p . d.ade cultural pode ser gerida cultural. Como e que. a. tvers1 uer um Estado multicultural? politicamente? O que sigrufica :g que na impossibilidade de Já Frederic J~eson no. :va c~ndição pós-moderna, o haver qualquer proJecto colectivo ~ go da heterogeneidade capital multinacional e~abora. ~o J:e nas é:poca5 anterioresª. permitindo assim que m~to mai~ p~oblema político. Segundo questão cultural se trans orme :C dado 0 seu conteúdo de Jameson, o. ambiei:ite pós.-mo ~talo, encerra possibilidad.es de ui · onal do cap1 • ,, · expansão m tmac1 "b'lidade de ser "outro nos e . 112 · p ·s a posSI 1 resistência cultura · . 01 . culturalidade s.e to~a o dada pela cultura e e por isso que a centro da política. --------.,..... '--· --. -:-_o P~lítica na Pós-Modernidade. A . Questão . 12 Cfr. Peixoto,!'.'.1.G.: AUCCo~~cç~aulo 1998, pp.56-58. . .. da Demo;;racza. ED ' ao ' . . 26 ·. É isso que Ngoenha fai nesta obra: tematiza a diversidade c~ituraJ sob ó prisma da sua' gestão política pois, conitata ele, não há ainda o diálogo necessário entre as culturas e. as instituições políticas. ·A constituição política dev~ - reflectir . . . . . . . ' respeitar mas sobretudo ter os seus .fundamentos na diversidade cultural do nosso país. E esta diversidade cultural é incorp9rada não no_ abstracto mas em grupos etno-culturais especí.&cos. Neste aspecto é uma grande coragem de N~oertlia · tr'!Jier este à.spectó .à lume do debate," embora não seja a _primeira vez.· Já na obra Por u"fq _Di1r1~4'R,Ng9enba :tennina faie11do uma apologia a un~a constitucíonalização da gestão <4s c~ltur~ particu1li!es. . . Ng'?enh~.)~ça co11l este livro• . um outro desa.tio :ifos . políticos que querem ou quererão governar o nosso país. ~st~s · não se devem limitar a dizer-nos qual será a sua.política cultural mas,. sobretudo, deverão equacionar que tip<? de· àJlturq pol.í~ica irão desenvolver. Com esta idci~ lança-se um desafio à eticidade. Aeticidade é fornada por mim como mani.festaÇÕes n~ !'Juta pelo reconhecimento" ~o sentido que o filósofo alemão é sucessor de Habermas na . cfuecção do . fustituto -. de ·Pesquisa . Soda}· em · Frankfurt, Axel Honnet 13 , usa. Portanto,a etfoichi.cie ~ã<? ~ aqui entendi~ no seu sentido da monilidad~ kantiana, ou seja, d~ uma atitude univ~rsalista em. que o respei_to pelo outro se teima um fim em si mesmo· na ac.ção de indivíduos autônomos; este . . . 13 · Axel Honnet foi assistente de Jiirgen Habçnnas e segue ii · tradição· ·da Teoria Crítica apresentado a sua teoria que se basea na ideia da "luta pelo r~conhecimento". Honnet parte da doutrina de reconhecimento em Hegel e recorre a G.H. · Mead Para estabelecer:: a ideia de uma crítica sociai na qual os processos de mudan~ sôcial devem . ser. explicados a partir de . acções que têm como objectivo restabelecer o reconhecimento mútuo ou desenvol:vê-lo para um nível superior. As lutas. pelo reconhecimento são, nesta perspectiva, llD1a força moral que impulsiona o desenvolvimento. Aproveitando. esta ideia, podemos inferir que os diferentes grupos culturais lutam pelo seu reconhecini.ento num ambiente ·democrático. · (Honnet, A., Luta pelo Reconhecfmento .. A · Gri;zmtÍ.tica Moral dos Conflitos Sociai., Editora 34, São Paulo, 20~3,269pp.). 27 r r (" [ 1\ (' e r . (' r r e ( ( e C' l r e (' { . \ : í · <: í r: t • ( ( Í ' ( < ( í é . í í ,.. __ ,., --i·L ~ - ;~ E~:: :-:::! . · J;\~ -v:' ~Jill !; :~ entendimento · de eticidade seria incapaz, segundo Honnet, "de identificar o fim da moral em seu todo nos objectivori .concretos dos sujeitos humanos". A Eticidade é sim entendida aqui por mim como o ethos ''de um mundo de vida particular que se tornou hábito, do qual só se .podem fazer juízos normativos na medida em que ele é capaz de se aproximar das exigências" dos princípios universais14. Desta forma, as etícidades particulares (culturais) são vistas não só do ponto de vista do seu espírito (da tradição), mas também encerram elementos norrnativos e padrões de comportamentos concretos que devem se ajustar a um certo número · de pnncípios normativos nacionais. A nossa cultura política: moçambicana seria orientada pela necessidade de estabelecer um patamar de diálogo entre os diferentes grupos cultura.is que lutam pelo . seu i:econhecimento. A Unidade por exemplo, é uin princípio de · ordem nacional do qual se podem fazer juízos ·normativos sobre a . eticidade dos grupos particulares. Aos grupos que, na luta pelo seu reconhecimento, . procurem ferir a constituciortiilidade unida de Moçambique, serão sancionados. ·' Penso que Ngoenha, com este livro, abre e oferece horizontes filosóficos para o· debate de duas questões básicas do futurc da política eni Moçambique: a da Justiça social redistributiva (questão económica) e a da Unidade Nacional na .t · Diversidade Cultural (questão da cultura política). São. estas ; questões que, a meu ver, irão constituir os eixos do debate para a . . . afirmação da rnoçambicanidade na busca pela Liberdade. . i. No fim . da . sua leitura o leitor dirá se esta cornja da Minerva (Ngoenha) chegou '.'tarde" demais ou se o velho Hegel , se terá esquecido de completar o seu aforismo: Que a coruja da Minerva levanta o seu voo a~ crepúsculo sim, mas se vai deitar ; cêdo para o amanhecer, quer dizer, só se vai deitar no início de ·. !,, · · uma outra jornada, depois de ter espalhado a sua boa ·nova que 14 Hoimet, Idem, 270. ' 28 serão os :eixos da . . . :· . . . inteiro . Est · · , C<mJínhada Para a · L 'b · oferec~ . . =o~vro e uma referência obrig~ó::ade de um po fi1 . . . . moçambicanos ·. . no qt1al. Ngoen I osoficamente e de . . alternativas d agrr racionalmente nesta . e pen.s . '. .. carnÍllhada. · Maputo, Julho de 2904. .. .· i " 2.9 . \?;;\ ·~~ .l:·u ·· ... ~ ·-p: --(~;~ -~ t: •.:- : . • ...... u. li! orarinbique f. j cracta eu .. !VlL ~ Filoso ia e a.em.o ,... que . a. Acad.en:iia d uestoe!l · ,. Este trabalho nasceu as q ª mim e ª outros tres .. -. (ACAFIL) nos submeteu, ; .. l ISPU . Cat"los Filosóhca R , ·0 Reitor uo . ' . d. . oradores (Loux:_enç~ ·t_ t ~ar~ Patrlc~o.José, Vice:.Re:1~~r· ,...: 1'embe, Munk1pe a . ª.o 'bsio ~onsagtado às .e eiçoe ISRI) aquando do ~:itro de 1999 subordinado ao tema · dendais em 9 de · prest . Eleicão? ». "tn e aos « Moçan1b1que, que d ACAF-IL puseram-nos, a.nu. de Os coor<lenadoes a ,... s : t. (hlal é P upo 1 quatro questoe · · . · 0 seu bom. outros orauot'es, b. ue recisa . hoJe l?ara . , l . - de que M.oçatn 1q P ,.. ? 3· '"'°ual e o p.ape ve'i:nacao l para que • · "oU go ' . to ? 2; O que e eger e ("\,. leitura pode·mos funcionam~n · · , ocrático ? 4·· '-l.Ye . • • e da filosofia num· pais de~ Eleições Geuis, lJegislat1vu . com vl.sta às segun as . fazer . . . . ? • te denso e Presidenc1a1s. e pareceu e:iccess1yamen E . . d Já então, o programa tn mamente complexos. 'atn a os roblemas que invocava _ex~:inuo a pensar que mais do que. . h ? volvidos quatro anos, COI • 0' SÍO como era O ca!lO c\e o)e, . d' d num sunp ' . d rograma a ser respon. 1 o omo é hoje o caso, trata-se . e u~a . ~9991 ou mesmo ~um ~:TOÍn~ole filosófico-políticot. ;~~ct~;i: série ele . questoes anbar continuan'len e ;• . ssadamente .ter que acompC efeito em .toaas as e~pocas nece , . mbicana. oin ' ·, os estar ela vida pohuca moça \· as culturais, nos vaxn - .. d. históricas e em todos os c 1~ eita - e pe·rpét-ua - questao a ..np<ce confrontados com a prtmha. ou a questão do « rnel\lor se... . Platão e tn . . filosofia política a que . ·3Q. · ' '. 1 . regime», ou seja, o r~gi~e que melhor pode garantir a justiça na cidade. . . O.ra, ·ª avaliação axiológica d9 «melhor regime» não . teni nada de :rµetafísico .. Não se trata de um governo, ou um grupo de . homens . ou · de normas que emanam da sua governação que têm, intrinsecamente e por essência, o ID:elhor . gene d.e _poder. Trata-se, de um lado, de avaliar os ideais, a moral-política e a competência dos homens j e, do outro, a · capacidade das instítuiçõe~ sócio-política~ em serem . uma · . plataf()rm~ .~dêquada na bti,sca de respostas aos p.roblem'ifs com os quais somos co~ontados.. · Eis p;qrque n.ão. pude ontem e nem po$so hoje reJionder '. à,°::; quatro questões. ~or uma questão de afinid.ade disciplinar - · que afinal de contas constitui um esforço de :maior penetração, mas ao mesmo . tempo. Úm limite - decidi concentrar a minha .atenção sobre a questão numero três: é a ·unic;a em que se apela ·· directam~rite l filosofia . e, também talvez · por defeit.o profissional, me. parece ser a questãío mais ., abrangiente e, ao mesmo tempo; a mais urgente. · , Tomei, por conseguinte, a liberdade , de me debrµçar . sobre a terceira questão que é relativa « ao. papel da filosofia num país democrático ». E mesmo, aqui, p~rmiti·me alterar . ligeíramente a ·sua formdaçii\o a fl.m de libertá-la da sua grande .. generalização e dar-lhe um cunho . teórico mais aculturado a Moçambique. Com efeito, é inegável que a filosofia esteve sempre presente nos - d~bates políticos. · Aliãs, em parte está na sua origem. São exemplo . disso os Tratli.dos de Platão ··• (Republica) e de Aristóteles (Politeia) sobre a política, assim como o conceito de. cid;i.da~ia desenvolvido pelos. sofisttas · (G6ruias, . Protágoras, Hippia:s). A filosofia não é só pioneira o . . no domínio da política, mas é um ponto de passagem . obrigatório p,ara o i:onjunto d.as .. disciplinas que se interessam . por que,stões' afins: a. Ciência política,· a sociologia política, o dizeito, a antropologia políti~a, etc. 31 l r \ (' e C · e r ( 1t r r e . (' l r ( '- ( C' r r (' e- e ( ( ( ( , ( { ( ( ( ( r: ( , ( ( ( ~ r ( ( -·p: -. v::: 01 -- \:!;\ rn - lifü · desempenhou '.um ?~pel lVI.as se . a filosofia sempre ilemo.craucos instauração dos regime!> - ímportante na oslçao c.le instituiçoes (Rousseau, Loclce, Kant), na 'proJemocracia (J. Locke, , . d dar corpo a . s susceptiveis e ). luta contra regline. J -J Rousseau , na 1 , • d.o Montesquieu, · '. . ·J s·) na cienunc1a (V l . Hans ona ' totalitários o ta1-re, M Hannah A~endt), ela nunca · (Ad arcuse, · b . totalitarismo orno, d . . - o Ela foi setn,pre o ra . . t madas e posiça . foi unívoca nas suas o . . e no tcn1Lpo e, por d . dos no espaço . f' -de indiví uos situa . . am.. a filosofia! em :unçao . d s que· enga1ar . d: conseguinte, pensa ore . ' . das suas percepções ·o das suas sensibilidades . propnas, . . d bl mas circunstantes. . d r mundo e os pro e . se ocle dizer qt:~e o d,enotntnª. o P.or isso, nem sequer P l d mocrada ·porque muitos f t · f" 1· a a luta pe a e · ) cornurn da i oso ia se - '(d f nsor ela. :i.dstocrac1a ' or Platao e e ) - · filósofos, a começar p . do. Estado moderno nao " .. l H bb (entre os pais - -Maqu_iave' ~ 'es . . Eis orque a -nossaL ques~a~ nao eram favoráveis a demodcraf:l1a. f" ~um· estado detnocrat1co: a l ' pel a t oso ta . l b s Pode ser qua e o pa . " . . d fl6sofos que. e a oratn . o . d d d e:ic.1stenc1a e 1 - espaço, e tomou posição. (o que constip1i o seu pensamento filos6fico) em função dos seus valores. Em resumo, cada fil6sofo foi sempre militante de uma causa - e muitas ~ezes não como resultante de uma .análise crít~ca imparcial que deveria caractedz~r todo o juízo filosófico, más por razões que Francis Bacon não ·teria hesitado em chamar de iclolas e a hermenêutica moderna ·de .pré-compreens·ões. Por conseguinte, toda e qualquer aplicação de uma filosofiil política ao objecto Moçambique deveria set precedida da dar~ficação .da causa que se ·pretende deforider;. da raz~o que ju;tifü:a . o engajamento intelectual daquele que apela ao método filosófico~ ,;"' ~ . . T~lvez seja útil re·cordar que, ap~ar da sua longa história destituída de uniformidades, a filosofia, no seu procedimento metodolÓgico, coittinua a fa:zer apelo àquilo a que o velho , Arist6telês chamou de « causas. últimas >>, _. Por isso, quando digo que quem faz apelo'. à filosofia deveria, de modo prévio, clarificar a c'ausa óu as causas que quer defender,. trata-se de .saher quais são as razões últimas do . seu engajamento · intelectual :. ambições individuais' c:;>u sociais ? servir ou servir- se da comunidade ? · filosofia epen e a . . . . pensam1entos estao ' . tos e estes ,. . próprios pensa1:°en . . ' _ alimentados pelas circunstancias : .. : · Para ser coerente, devo começar por clarificar a minha inelutaveh:nente hgados e sao G t) mas também pela .. ··· ·posição, os valores.que 'são os rneus. ·Como direi mais tarde ·e . l . (Ortega e asse ' , . - . fi histórico-cu turais · P eguinte é ·necessarto : com mais detalhes, a história do espaço geogr~ · co chamado . sensibilidade dos filósofos .. · or cons a filosofia como ::-- Moçamb_ ique e do conJ·unto dos homens ~ue se d~nom_ ina~ . l . circunscrever • d .. -,. aculturar,_ part1cu anzar,. ,· 'to (cdtic<'J1) " e atttu e.' moçambicanos encontra a sua homogeneízàção naquilo que de . b d como esp1n . d. . . . método so retu o • . I • de qualquer tipo ' e .. : mais negativo pode existir. na _história de um homem' :ou de, . . e s1stematico d · j · ( dbtari.ciamento rlgorqso d" . a nossa liberd.a e ue '.: uma com:unidade .: foi uma hist6ria comum de sofrimento, e ele . possa con ic1onar , . d - : . . . . comprormsso que . histórico-poht1co a . naçao -, um sofri~en:to muito partkular (já tinham essas mesmas . . , ) ao processo · . l cl .: · · · · · · anáhse e )uizo _ ,. transforma-se em« qua Pº e! : · populações · conhecido a escravatura). F~i o colonialismo moçambicana. Entao. ª qu;.stao ~ rocesso democrático de ;. europeu do fim do século . XIX .que . determinou, com a · .sua ser o papel da filoso_ 1ª P:m pposta sugere imediatamente;. divisã~ arbitrária: dos.· espaços geogJ,"áficos (e culturais) b . -;i A questao ass1 . • "' . . - d h h b" . . Moçam 1que · »· · •· . . .:.._ . . africanos e a opressao coi;i:um os omens que· a 1tavam esse · ·três reflexões : . . h . s suas preocupações e os se).is ~ . · ·: esp~ço, a .~riação de ·MoÇambique. A hist6ri~ da união dos três I O filósofo .s~mrrej au~~ut~dcas do' seu tempo, . do seu'.: ·grupos que deram ·origem à Frelimo (Udenamo, Unamo e problemas nas v1c1ss1tuues is . . . 33 32 · ... ' ... :: . ' ·-:~ ~-t!~· .·:;;:~ ·,.~~j ·-n _.,(Jf. . ·~ ·~ 1j]i ~ ~- f;fh .. ;;', .._ . .. ·-gm ... ... :~ ·!~ ! Manu) é exem.piar de como os homens de5sas terras e culturas diferentes a certa altura criarão Moçambique,_ unindo·-se numa luta comum em prol da liberdade. . Se existe um substra_cto . filos6fico que está na orígem aJCiológica. de Moçambique é, sem clúvida, a busca da l!berdade. Aliás, a busca da liberdade cara~teriza a história de Afrdca no último século. Se quisermos ser. mais eJcaustivos, diremc>s ·que desde a sua criação-invenção (para parafrasear Ivludimbé), através de um processo de apropriação identi1tária geneticamente. exógena, · .a África, . ,µasdda nas . diásppras, caracteriza a sua existência como busca da liberdade. Assim, para mim, o valor de fo.ndo do meu engajamento intelectual é ·a militância a favor deste ~'alor humano supremo, para os moçambicanos e para os africanos. Liberdade - para utilizar a linguagem de I. Berlin - positiva, cjuer <fizer liberdade de sermos nós ·mesmos, e negativa, de viver sem contrição nem de carácter político, nem de carácter económico. A história da luta pela liberdade negro-africana conheceu muitas etapas. A primeira foi no cham~do novo mundo onde a escravatura concentrou muitos homens e mulhe1·es de origem africana privados da sua liberdade. A primeira luta com.eçou aqui, e a liberdade para esses hom~ns, como para O. Kunta Kinte de Alex Haley1~, num primeiro momento era volt.ar ao que Delany chamou · de « alma mater » . . Mas, para a geiração seguinte, a liberdade passou a significar a emai1cipação da escravatura, não tanto para reganhar a «terra mater »1 mas para viver como homens livres nos países e nas ·terras qu~: lhes viram nascer. '· • .. . ,. ~. ' . Depois deste período nos EU A, que é onde a · hi:;tória negra está melhor documentada, os antigos escravos, quer se chamem B. Washington, Du Bois, Marcus Garvey, C. Cullan, Langston Hughes ou C. Mckay, de maneiras diferentes lutam" .. •~Raízes. São Paulo: Cruze!io, 1997_ . 34 r pelo tn,es.mo oh1'ect1~vo. i·nte .. l · • grar ·d numa_nos iguais, como reza a co .ª .s~c1e_ ade como seres P. 0 · . nstttuiçao a · . uco tempo depois do fí d . . mencana. Porém . d . m a escravatu · . , anos epots (a escravatura te~ . ra, e.:x:actamente vinte ( de Berlim foi em 1885) os fr, minou. em 1~65 e a Conferência u . ·. ' a icanos tiveram .e r- ma nova ameaça : o colo . l; . . . que 4azer frente a \ _ . . . . n1a ismo. Foi . r ( novo perigo que nasceu l . pai;a x:azer frente a este · • · 0 ema ·entr · · « unir-se para resisÚr » . I. , e . os él1Ut1gos escra 'iros r f · . · 6 • que, a tas est' ·· "-a ncan1smo1 • · ·. . ' ª na origem do pan- De,s~~ vez a luta s_ erá pela . d , longo In ependência p I ' : ·' . ·processo e desdt~íd de . o 1t1ca. Este c:onsistêi:.isia é!- pa~ir d~ fim ~a S unaformidade~. . ganha Contudo, as indepe~d" . f . egunda Guerra 1\flundial d., . enc1as a ricanas . . . . · tasporas por Du Bo·· (S d 'primeiro invocadas na . . is . eoun o Co . ., p . s. r9r9, em Paris) e. Marcus G . ( J!gresso an-africano de I ) , arvey Conventio d UN 9-4_0' so começam a mate . 1· .. n a IA em t . na tzar-se em 1 . · a mgem o seu apogeu na d , d d 957 no . Gana, e E . eca a e sessenta . ste processo teve imedia:r . . . d 1 . . • amente que faz o · esenvo v1mento so · 1 ' . er contas coni. . c1a para garanti t·b , vivemos · d .- · · r essas l erdad-> N, .a1n a nessa busca d 1·b "'s· os desenvolvimento soci~l J, - . . a 1 erdade como · · - · a nao se t t d . . escravatura, da integ . - . 'ra a a emancipação da . M . . raçao nos pa1ses do h undo, da autodet . . - c amado Novod. erminaçao pol 't · . esenvolvimento económico l' . . i.1ca, mas do 1 ~ ~ d. r . po it1co e social 1. retaçoes e rorça. com: o O .d ( . , num e ima de . . c1 . ente esclavao-· t . l . que ainda não se -libertou d . · 1, ois a e co on1alista) . . o seu e an colou. l h . apresenta sob a veste &e credor. . ia' que OJe se ' ( (' é (' (' e- r ( . A questão, apesar de te~· uma co . imp~~tandte, é, sobretudo, política . . Sem mpr~onq_ ente e~onómica · . l . questao o desenvolviment.o. co. 1 ue se invoca a, · • · . . I OCa-se em • • 1 f primeiro ugar os ~ . . . ~ r Oruno D. Lara. La naissance du anafi '· . . . américaines et a.fricainés du mouvemtnt .· 1.;.izs~. Les . 1:acines cararbes, et Larose, 2000. . . . . . au .. e Slecle. Pans·: Maisonneuve ·. 35 . ' r r e . .. _, ___ --e ( í (1 ( ( ( í ( ( 1 ( ( ( ( l ( ~ ; '·'·~ Si -\~H -rw - :;;:~~ ry. .. -r·n ::.:.~· --~ ;~::.:: ~: t:\:'. factores económicos. Mas a economia (~s chamadas Je:is _do tnercado) deve, pelo menos _no nosso caso, ser suboi·dinada às escolhas societárias. Caso contrário, condenam-se os ·mais fracos ao ponto de partida, quer dizer ao trabalho forçado, ao colonialisrno e mesmo à escravatura. 2. A segunda reflexão é de carácter filosófico-histórico. Nos ú l timos anos falo u-se muito d.o fim da filosofia ela h istória. 0.!1er dizer que a ideia ela história elos homens como esforço para r eproduzir o paraíso edénico (de Adão) perdeu · todo o sentido. A modernidade'7 foi concebida por Hegel, Kant e ret ornada por ~iabermas - e n isto· e:i'ciste u m consenso entre os assertares da modernidacle . (H abermas) e os · pós- modernistas (R. Rorty; G . Vattimo) - como emançipação do homem d.e todo o tipo de garantias meta-sedais. O homem moderno não quer ter nenhuma figura-guia, não quer subordinar os seus valor es e as suas escolhas a nenhuma: t r anscendência ou revelação. tv1as, paradoxalmente, ao mesmo· momento em que o Ocidente mata Deus, para parafrasear Nietzsch e, ou como diz Dostoievsky declara que Deus já não tem.mais nada a dizer no que Vico teria chamado de mundo civil , o Ocidente s-e· al!to- pr.oclam.a « Theos » para a África e píira os países que hoje se chamam de « Sul do mundo »· A história seculari:z:ada pela . . filosofia da história, primeir o de Voltaire e 'depois" de Hegel, não se limita a substituir os paradigmas que d.e Agostinho até V ico tinha~ impregnado a compreensão da . história - « criação, pecado, · incarnação revelação · ~ aparttsía >> - pefo conceito de cultura que fará a felicidade da antropologia de~de · o século XIX. No mesmo século da. antropologia (que, não por acaso, . coincide com o colonialismo) invent:a-se : o evolucionismo'8 (Berbert Spencer , J. S. Mill, Danirin) no qual 17 Ngoenha, 2000 :31. 16 Ngoenha, 1993 :15 e seguintes. 36 . .. .. ; .. o Ocidente se coloca como o d l mo e o a norm . . ' com o seu conceito político d ·E· d ' . ·ª' o novo Eder · · e ·sta o coni. e com a sua.- escrita. A p 1 . 1 _ ' · · 0 seu monoteísm• . . .ar ir ae entao o Ocid a Sl mesmo como send . . . ente apresenta-S• h ) . o o novo jardim. d Éd " ( omem a imitar n - b e en super h . ' . ' ao o stante as suàs co d' -1storia,s de opressão . . . ntra 1çoes, as sua: . . ' que .permitiram a acum 1 - d . que, para alguns histori d. (E u açao o capita: D •d) . a o.res temad B d Th avt 'e-!!t á n a origem do . ou a, . om.a~ ' . f . seu arranque econó . . nos, s1gni icou . escravatura: - ~1co e que, para retrcjc~sso: "· · · · · ' opressao, perda: ele liberdade e . O Ocidente o~upa ho'e e · l _ .. . · t: '" . .. -d . J ' . m r.e aç-a.o a n6s '' 1 o~ rora era e Deus em i 1 _..:. , . h. ... ,- ,. o ug;1.r que f 'l f• e açao a umanid d P . a oso ia da· história (co d . . a e. or tsso, se a uma teologia da histór:oo er;~nstrou Karl Lõwith) ·.é filha de tem nada a dizer lVÍ « eos » para o Ocidepte já não : . · as, nesse mesmo maneira idolátrica o O ~.d momento e de uma d . . d . ' ~t ente se arroga 1vin _ade em 'i"elação a nós. . . ·ª prerrogativa de Que. haja uma .crise aeral da d : . eleição de Berliisconi n~ lt~l. H dl emocÁrac1a no- mundo (a S , . a ia, o er na . ustr . Bl h u1ça,. Bush nos EUA) · .. · d . ia, oc er na . · · ' que os· oss1ers eco 6 · · mais c:omplexos im . , . n mtcos sempre d" · · peçam os c1dadãos ' d · · · . irectas de . eJtercerem os seus d. . d. nas emocradas nas d . . . - 1re1tos e- everes cívico • . emocrac1as representat. s , que, r d . . . ivas, as populaç- . . rorça as a votar com l . . . . : oes se ye1am · · · um enço a cobrir as ~ · sentirem o cheiro pod . d .d . . . . narlilas para não . · . re . a esonest1dade d _, · · caracteriza cada vez· ma' . :la e a corrupçao que d . . . . . is a e sse política' • q . 1 . evam votar por uma el1't 1í . . . ' ue . os e eitores e- po t1ca que - · nos países da' velha dem : . . - nao, merece confiança . ocrac1a o qu · · 1· .. legitimação pol1't1·ca n- . . " .' . e. imp, 1ca uma crise de ' ao importa 1 Al'' · · . Ocidente de . contin~ar .. a d. . · 1.' - ias,. i~so não impede o d · · · · ar içoes do q , . emocracia, omitindo a" sua P. ' . . h; , . . ; ue e uma boa . f . . . . ropna istoria. d" .que o azem . sistematicame .t . b l . ' e as contra ~ções . h . n e a ançar :entr ·os 1. . . utnamst'as e. o economici;mo~ . . e va ores .37 .· .# '. ...:.i -:-~~- ~~. -::--~ - . ' . • • • • • : •. • . : - ; 1 ... • ·,. •. 1 '.: ·.". ~ ·.~· : : ; : · : ~·· ~·: • :::: ~ ·:·•· . • : i :'· ~·;~-·~7. -;"..?".'· ':"'. ;:". :T~ ;:,.,-;::-•. ;:._ -e:;.,'":. ':-.,~ . ..,,;,..,,,.:..,,:-_,,..,.:....:..._~ .~.·~ · ~r0 ~t:.;; ~~ l; -~· ·~. _...,.. --rn~ . fill - · 1 .. . •• ·1:.:: 1 ·1 . , . . ? Q!ie is::; o dependa · da E.,,.1.st~ uma crise econçmuc:a . -- ~ . ( · 1 ) porque . desonest ida e os d val1açao d d. . actores económicos Parma at ' ou . - · · ·. rosseiiros e · ª · · os econoinistas cometem err~s gd . FMI e do ·. BM se ( . . ) porque as receitas o . . Sw1ssair , ou · . uência.s nefastas para d ram·se falaciosas e com conseq . . emonst . . ) · N- . rta . aquilo que o nosso as populaçq.es (Argentma:. ao im~:s :eus próprios países· « Theos » ignora para S• mesmo . 'ses dos outros. . parece saber para os pat . _ . . l pai:-a nós é de nos N f d a questao pnnc1pa o un o,. - d . ntinuar a · tomar o d O . d te Nao po emos co . laicizarmos. o . c1 en . - d . prodU2:ir o seu níiiel d l . nao po emos re Ocidente como mo. e o'. l t ··mporta:r as suas taras, ' • 1 p d mos s1mp esmen e t . . econom1c.o .' o e l .,_ 1. · (Ul . h Beck19), Por oultro , . ele g ooa iza nc dado que .e isso. que . e a colonizar para . opulações a escra v1zar lado,. não ~emos p l . pern:n.ita o arranoiue . . 1 apita ·que nos . podermos acumu a~ ~ e t l pronulação subalterna ' · E e t1vessemos uma ª Ir' 1 econom1co. s · . lh d ponto de vista mora , . de ser seme antes o . correnamos O risco . d" e, . faz batota com OS St:!US ao . Ocidente que, como LZ esa1r~, . . : próprios princípios. a el da filosofia no debate político 3 • Um eventual P P . d . t" eia de uma . . . d de ·necessariamente a eJcis en . moçambicano . epen d onstrou a corrente . . b. . Mas como em . filosofia moçam ica~a. ~º (P ·Hountondji Eboussi Boulaga, crítica da filosofia afnca-~a . d' t ciame~to da negritude . ) A bito uo seu is an . 1 f· IVI. T owa no aro, . . ) . b tudo da etnofi oso ia . h D . e Ct-sa1re e so re . . (Seng or, amas - . . . tência de uma suposta (Placide Tempels, . Kagame)b' .. a ex~epende da existência. de . f . t caso moçam icana, d ' l filoso ia, nes e . , i "timados não só pelos tp omas filósofos moçambicanos,. .eg1 d verem o que Hountondji . ' . pelo racto e escre . , univers1tanos, m.as , d le instaurarem no pai~ .uma chamou de. arqu1vo e, atraves e ' . tradição crítica. · · L'Harmattan 2001. 19 La société du risque. Paris :' 2o Ngoenha, 1993 : 89. 38 ··.· . . ; A este n ível, o . país esta paulatinamente a crescer. · Nos últimos anos através da . Universidade · Pedagógica; mas também atq1vés de outras instituíÇões estrangeiras, 0 ·número de moçambicanos eom· graus . académicos e~ Filosofia aumeritou. T rata-se d~ uma condição n~cessária, mas não suficíente 'para o . surgimento de uma ;tradição filosófica moçambicana. Es~ premissa fundamental tem de ser seguida . pela coragem. e ousadia para instaurar um debate de ideias . que, iri.spi.!'ando-se na ·secular tradição filosófica, incida os seus interesses de uma maneira participativ~ e construtiva sobre a realidade política ·moçambicana. Istci é, na reflexão ·· (a té . . i:nesmo 'irivenção) de 1.,lm regime político que permita · a :. ·participação de todos no debate.democrático, !1ª reflexão sobre a árdua ' questão da representatividade, nu~a constituição adequada à . realidade cultural e social moçambicana, num . processo de redistribuição, etc. . . · Isto . quer dizer . que, contra a veleidade de uma aparusia · · histórica já real izada, como defende Fukuyama, ou contra um ·, ' ·modelo realizado na Europa e que nós teríamos simplesmente ' que . imitar, como defendem . os no:vos missionários oriundos . das ciências política·s • que · de uma maneir a. acrítica e . aparentemente sem dúvidas quanço ao qu~ se deve fazer em · · . lVIoçambique, sobre o m~lhor regiipe político, o tipo de ;· : de.mocracia, de representação social. - continuam a dar receitas f .... de, polític~, de democracia, de desenvolvimento sustentável. A ,, '.filosofia não se contenta: co1n o que é, com o que aparece, nem . .. ·pode admitir a ideia de uma história acabad~ ou determinada .de uma vez por todas. Sob o ponto de vista filosófico, a história é o terreno de um.a co.nstante invenção de sentido da parte do homem ; é o terreno onde ., o h~niem exerce ª . sua liberdade de poeta, no sent ido da poesis ·gregal é o ·lugar da criação do sentido no tempo. 39 ~.-. :. 'f:~ .. .., ·. ~-:~: .. : ; ... >f .. ~:;> · i:-' :~./ :~:;-. .. \ . ~ r . :.~ .; ·~1 .:"'; · • • ... . . : : :T.' •' . • ( e (' r r r e ( \ . (' ' r r e .r e é .1 C1 \ r- (; e. ( , ( · í · Í . r ( , ( . ( . ( ( r ( Í ) r r ( ( ~ -(;j -8: - ~h! q -~:;fr -~ ~ - :":"' -- 8 -UH. -· [y -- i::~ -G ~." :.0 ·- ')~{ ··:·:.:.: ._.fI[: r:::.s _fD ,_, (h1e as decisões políticas produzam efeitos que tocam o nosso · ní.vel de vida e os nossos . d ireitos ; .que · o assento das: instituirões fundamentais da sociedade determina e mocleia as . . ' nossas oportunidades; q ue as .escolhas se coadunem mais ou menos com os nossos , gostos, com os nossos valores individuais e colectivos ; que a distribuiÇão elos custos e benefícios da cooperação social seja coerente i:om um critério ou com um conjunto de critérios; que a:~ , instituições consintam ou não, para cada um de nós, a defiti.ição no tempo1 de um · plano de vida e de um projecto de autodesenvolvimento j que cada um c\e 11.ÓS conte pelo menos como qualquer outra pessoa, eis. alguma.s questões ,sumárias . • que definem o que deveria ser o ponto do ataque da filos~fia quando esta se interessa po1· questões políticas. . Trata-se de questões normativas. O que qu~r dizer queª· sua solução impliCa·-a referência a um princípio o,u ·a um certo número de prip.cípios capazes de nos guiar nas avaLliações que' · fizermos sobre as decisões políticas; sobre o· assento das instituições fundamentais, sobre as escolhas colectivas, so.bre a distribuição dos recursos, etc. Em suma, a 'fiiosoffa política é chamada a refl.ectir sobre. como. devemos viver no âmbito de ; , ·· uma perspectiva interpessoal que podemos adoptar para as ·,· nossas vidas. O carácter normativo da filosofia política distancia-a :: relativamente da ciência política, sobretudo no, âmbito do< . objectivos anunciados por cada um dos domín ios, mesmo se··~ uma tal distinção na prática resulte pouc•o evidente. ';_ Comummente se diz que a ciência política é uma ciência social ·:; : .- entre outras, cujo objectivo seria estudar com hnparcialidade .:' os mo.vimentos sociais .e as ·ideolOgias que os acompanham, ;:-,· enquanto a função da filosofia política seria 1reflecti1: pão' ':. somente sobre o que é, mas também sobr~ o que' d1~veria ser. :'_ Na prática, estas .fronteiras - rnetod9logica!D.ente úteis_.:. roas difí~eis de balizar - são constantemente t1ransgredidas . . 40 . ... . "\ ~ºr:1 efeito, , nenhum especiali~ta sério da ci~ncia política pode 111r1.1tar-se a. uma simples d · · - , · l . . escnçao, mas recorre constantemente a noções filosóficas mais ou b d · d · · · menos em omest1ca as. O contrário é também verdadeiro . a fºi;., r.· l' • · • 1 vSOl!:la po 1t1ca empresta ,também muitas vezes sem 0 saber d . . . . . . . , eu sem o a · mit1r1 conceitos da ciência política e mesmo das "d 1. ·. O d"fi , · . 1 eo og1as. · utra 1 culdade e a seguinte: podemos d1" tº · · , fl f' 1 s. 1nguar urna 1 oso ta · po ít~ca de uma filosofia que não seria p l'tº ?: p d d' · · o R 1ca. · o emos istinguir a filosofia . política da filosofia moral ? ~rata-se, _de duas questões difíceis. Se ~esde Platã'-< ' t' S T , _ 1 ' '1' o a e . omas ce Aquino, existiu um cç>nsenso que foz da f"l f· , lí · . l · t oso 1a . Pi;>,_ tica ,:?,J;D.ª s1mp es aplicaçãó da fi~osofia · mõ?d aos p~oblemas ~a Cidade, esta ideia foi definitivamente rompida com ~aqu1ave.l e cedeu lugar à ideia inve~sa, segundo ·a qual u_ma difer,ença importante separa estes ddis domínios de saber. · Para alguns, por exemplo, a filosofia tra-ta ·d -· d' "d · . · e acçoes tn lVl UatS OU privadas; a política de acço-es 'bli 1 . . . . pu cas ou co ecttvas. Para. ()µt ros, o juízo moral é a m-iori e tem um 1 , b 1 · e:- . va or -a so,~to, enquanto os j~ízos r::olíticos são d~ ordem.puram.ente emptr1ca e, por conseguinte, tem um valor relativo. _ ·Mais recentemente, com , a reabilÍt~ção que Habermas ~perou a~ ~ensament:o de .Kant, emergiu utna nova tendência que relat1v1z~ ·a oposiÇão cmtre moral e pol~tiâa, que se funda sobre ~ facto de que bom número dos nossos jufai;)s 'políticos resultam -~e urna deliberação ·ao mesmo tempo radonal •e moral. ,, . , " . · Uma _única certeza · .. emerge destas ·controversias : · -se a política é uma coisa: diferente_ 'da . moral, e mesmo ·se tende a . · libertar-se da tutela desta última · não · lhe p. ode fu. • 1 . . ~ . . grr comp etamente e para sempr.e. ·Podemos · dizer a mesma. coisa em 'termos cínicos~ sem ~ecorr~r ao . tiansc~ndental kantian o. N enhun;t príncipe, nenhum Estado se pode ~ubtrair de uma maneir~ , defini ti vá à reprovação' suscitada -pelos .seus crimes ; é _41 .· ·;: . · ..... :~· ·': . ··.:. ~ \· .. • .. .. ~-· .. :. , ··:: .. ... -: - .-~. -rrrr ·-- ~· .:n ~ - ·- ~: ~ .. ' • :.~~;~ ·-@ . ~ --~ ·- r;m - -~G! . "\.' ' no interesse do prfo.cipe ou do · Estado não se comportar sistematicamente de uma maneira imoral. . Para além desta ~onstatação que mes1no Maquiavel fez sua, cada fil6sofo tem tendência à conceber as relações entre moral e política de uma maneira que-lhe é própda. . Poder-se-ia, enfim, definir a filosofia política em função do seu ·« corpus » temático, da particularidade dos problemas que trata ou da sua especificidade metodológica. Infelizmente também aí não podemos ser-afirmativos. Temas e pro}>lemas variam segundo as idades. No s~c:.':11º XVIII, ª· noçifo da liberdade . foi a que suscitou os principais debates ; no século XIX, .. foi a noção · de igualdade ; n,o,_ início do século XX, o conceito de revolução ; na segunda metade do século XX, a noção da justiça retox:nou o passo. Amanhã é provável que a noção de supra-nacionalidade_ (ONU, União ·Africana, SADC) seja a mais importante. . , . . · . Uma vez mais,· a sucessão destes debates, que marcaram a filosofiapó lítica, não tem nada· de providencial. . Ela reflecte simplesmente as metamorfoses his~óricas, as mudanças nas preocupações e nas prioridades. Mutações. que, a men<>_s que . sejamos completamente hegelianos, não podemo~ considerar que exprimam outra . coisa senio a contingência mesma_ da histórià que as produziu. ~anta a sa,ber se a filosofia política dispõe ele um método privilegiado para produzir .enunciados verdadeiros, a :resposta é categoricamente não ! Significa isto que a filosofia política não. é defü~ível? Qye não tem· u~ terreno próprio ? Q!ie o seu discurso ·e sen; aposta e as suas .conclusões sem interesse ? A resposta e categoricamente não ! ·· · . _ , . . . . , . Por uma questão de contrapos1çao, o donumo c1~ntifi~o. que melhor participa na caracterização da valida~e d?- fi~osofia política é a economia. Sempre que se fala de mudar a sociedade embate-se imediatamente na economia; que . ~parece nos dis·cursos dos seus militantes como a única realidade, como o real ~ue resiste às ut.opias dqs filósofos. Não é só . 0 BM e 0 FMI,. mas. a maio_~ia dos actores ·políticos. q~em coloca sempre na .. dianteira as cifras . do crescimento económico do PNB Aliás, esta tendê~cia econ~micista salta também à ~ísta num~ · leitura atenta do recente documento chamado « Agenda io/25 ». · Este discurso é. de tal maneira extraordinário que ele é ptonun_ciado pelos neo-liberais, pelo antigos marxistas ortodoxos,,9~ por aquele~ que querem a todo .o custo conservar , . ··ou conquistar o poder. Para estes. apóstolos da d6larc·r~~ia 0 i caj;>~talism~;<-ªI'ªrece como ci único siste~a concebível e .. a· :ua ' · vitória sobre a . economia .planifkada o-anha um ~~-~atuto .. o . . · soteriológico. · ~e . o capitalismo não assegure a felicidade . uni_yersal, · que ele ·aumente· a pa~peirização das nossas · populações.mais fracas, que deixe muita gente no desemprego, · qtte O. seu .ritmo de crescim.ento diminua constantemente . não importa. Paréj. os economistas neo-liberais a. eco~omia to:nou- se um fim em si mesmo. . ' · Tornando-se mundial, a seguir ao desapa.recimet).tp do ·bloco socialista, imposta na Europa pelas institufções comunitárias, rio resto do mundo pelos acordos do GATT (_!ioje OMC), em África e em Moçambique pelos proj.ectos do -:'. Biv1 e do FMI, o chamado mercado livre constitui, doravante, . o . ponto de· referência de tod~ a acção. À esquerda como à . , .. · direita, to.dos se sentem na obrigação.de recitar o mesmo credo ; . segundo o qual os .. governos deveriam deixar de interferir nos : . . · fluxos económkos. ~ando penso que cre~ci num país . que _ repe_ti~ constantemente:« a política no posto do comando» ... ·E· nei;:essário insur~ir-_se contra este economicismo que condena Moçambique a uma maior . dependência e mesmo ao neocolol).'ialismo, e deita por terra todos os e~forços realizados em _termos de luta pela independência e. pela liberdade. Contrai:i~me~te à ideologia dominante, nãd é nas pretensas .· . 43 ( r (' (' r· (' r \ ( (' r ( ( r (' e e (, r '· " "": • e (" ; , , ~··~ ~·-_::, U·':'._ : ~ :_ ,~r-i ;. :~( :-:·/.' :. :: . .;_:g /}; :;:; :::_; '·· :>\: :· ;, ·--,·.-. :-·._:-~-:·~ :':--·-:: ~·~-.. .-;-, ... -.... ; ~--:). ( ( ( , e ( , ( í · \ ( ( r. ( í ( ( \ ( t ( r ( ( ( ' ( ( ( ( :; ;:~ ·-~hf - r( ~· ;:.ü= - m~ LJ · 1 ·s da história da economta ou do mercado qui~ podemos et ' - l . do · salvação A história não tem eis, o merca esperar a nossa · · · ·i • b., nãO O capitalismo é actualmente a cioutnna e mesmo ta.m em · . · - d va "d l a·a dominate mas nada prova que esta s1t111aça.o e . a i eo 0 0 1 . ' . · • · h dura..- eternamente i mesmo .se, é preciso recon ec~er, que na l l ada P rova que 0 ca.pitalisxno 11.eva desaparecer, :iora actua n ' · · - d nem que possa sei: substituída por uma organ1z~ça~ e produção que elimine a exploração, a dominação e a cnaçao de pobres e de ricos. El · ' E m .. futuro diferente não cairá do céu. e sera m suma, u . d d · ·' f" rmos colectivarpente ;.ele será resulta o e actos 0 que nos 1ze ·, h · to P olíticos. Neste ponto de reflexão, qualquer omem sefunsa · · l' · t correcta que o turo diria de uma maneira ·· po 1ttcamen e 1 . . ·- ~·· - e lá estaríamos num quadro de um.a. .decisão de polfric cult~ral justificad~. Mas J:l.O quadro demo~rátíco, . ·se , . substr~cto . das nossas leis .e as modalid.ades de participaçã. . dependem de uma cultura de Estado que vive em português não s6 como língua, i:nas ta~béin e sobretudo coino Direito então exdui'.tri.os pura . e simplesmente a maioria do: ·moçambicanos ela cidadania e, ,por .consequência, fal~ificamo : a democracia: · · - · .Não são as. pessoas que devem-se ad~p-~ar · a orga~igramai .,., jurídicos e· 'constitucionais de origein e)cc~usivam.ent~ ~xógena nos seus r~mdainentos . filosófico-histÓ,.r.icos . e nas . suaJ .. .... modalidades de aplicação }urídico-admini~f~~tivas. É o Direita . que . d~ve ser construído e alimentado a parti~ dos inco;scientes colectivos das populações . depe~de dos cidadíi_os. Eu penso ·ter. ~ue dhei.: q~e o nosso . f d d da nossa capacidade de msta·urar le1s e espaços utu•o epen e b · Particip~tivos , qu. e permitam que a maioria d.os mC>çam tcanos f l As aporias i osóficas se tornem, de facto, cidadãos; Um amigo · italiano, por sinal casad~ com . uma Como se vê, não estou a trazer respostas às questões que b - dizia-me ter ficado escand.altzado quando a ACAFIL me pôs, mas a levantar ·problemas. Com efeito, a moçam 1cana, lf b ' · con~atou que a sua mulher considerava ana ª E~ta ª propi:ia · filosofia não. está à altura de oferecer soluções aos problemas mãe, e este juízo estava ligado unicamente ªº fa•cto ~e que ª relativamente aporéticos. em volt~ dos quai~ se ufana. Um dos senhora não falava português. Toda a gama. c1: conhectme~tos seus contributos é tent~r elucidar, esclarec.er a natureza de tais l.a ti-nha sobre · os lnais variados SUJettos era anulado ·P·.r.oblemas e pôr ein evidênda a variedade de razões que que e · · T =" diante do factor «língua portuguesa»· Este am~igo ita 1ª:1'~; ·militam em favor de escolha~ e altematitvas •. Isto pode também que nunca aceitou c~nsiderar. o .chan~ana um dtalecto, d.1271ª.. . . sugerir soluções; linhas e cursos de acção, escolhas e decisões. que, n~ fundo, os moçambicanos ttnham de ta~ . lll:ª~e1~ª . . · . .. . Màs a: responsabilidade, creio, toca a cada um de nó.s. Se a interiorizado ·a luso-dependência que tudo 0 que nao se · azta · · filosofia terá sido capaz de dar uma plataforma melhor e mais em port~guês era ignorância. . · rica para s'-'stent~r o .prindpio .de cooperação e favorecer uma o · problema poderia situar-~e nab'l" n~ture~a . ... . comunic~ção sincera ou um diálogo entr~ os seres humanos assimilacionista do colonialismo portugues ~ rea 1• tta ª, pe a . ... . . . fínitos e· limitados . - como n6s . somos -•. o.,s. f"tló~of~s deveriam lusofonia, pelos PALOPS, ou pela pretensa ctda~a~ua 11;º!º~ª ·. considerar-se satisfeitos num nível muito elevado. _ e . lá estaríamos em conjecturas de tipo histoirtc~. ~ t~1ª · L O desafio da· fil~ofia política em Moçambique é rel~var situar-se na escolha do português com.o língua nacto~a 1 . etta . e fundamentar as razões cp.ie milita~ a. favor . de uma l . . . . R pu'bl1'ca - no quadro da luta contra o tnba ismo d . d. d pe a primeira e . . · · emocracia mais participativa, e uma · emocracia: que 44 45 ···.: ... · .. . ··. ·· ~ ·~ ~. . . · ·' · ------- .. r::::H -rfü · - ·;·8 :.·::.: ... , _ .... ;..;.: ·- ·- .. ~rm ~-·~i~ ·--w hUr ~ :.:'1 subordina a economfa. às escolhas políticas e SOCietáriaS (a prontidão de l'eacçãc) de Outros domínios de s~be~ A f•l ;~· . l d d ) d d l . . u. •. ,._ uosoua política no posto o . coman o , . e num.a ernocracía que enta nas suas reflexões 0 seu sabe· r - ·' · l . ,...-.. _ . ' nao e cumu ativo e, com· , baseia as suas instittiiçÕes nos imaginários colectivos das se ISSO nao chegasse, as suas respostas· são ·mUt.tas V . b b d h 1 t - 1 · . · ezes nova populações, sei:n a . clicar dos contei lltos as istórias po íticas gues oes . e institt:icionais do~ outros países e povos (contrato cultural), . Hegel comparava a filosofía à coruja de M. . ( ou n~ma atitude ético-.política que levaria as forç<ts políticas a · · · chega s~~pre tani_e ! Contudo, apesar da sua lentid~:e:::r:1s: resolverem os seu.s problemas e diferendos num diálogo . como. d1~1a Voltaire, .ela contribui - ou pelo nienos deverí< prioritar.íamente entre moçambicanos (contràto político) ou c~ntn~u1,r - .para levar os homens, mes~o se lentamente err ainda numa · organização s<$cio-econ6mica distributiva e · d.1recçao a sabedoria ! · · ' solidária (contratç .s~c:ial). . . . . . .~~º ~a~is~~ito _co.m as. r.espostas qu~dei há quatro anos 2 r . O facto de não pod~r contar para esta reflexão com uma · .· .ud. ma que~bt~~ ~ss1m 1mpfor 1 tante, pus-me a reflectir sobre 0 tipc r tra.diçio. filos6fiç,a morà.mbicana estabelecida, aumenta . as e contn u1çao .que a i osofia poJi·a .d·~r ·a' ·d . . \. · .,. . .. . .. . .,. .. . . . .. . . . ~ .. , emocrac1a qu<e minhas dificulci~ae~ e constrange-me a 'limitar os meus ' afmal .de contas não é nada . mais e nada m ' r . .. 'b . - . ' . . ' . enos que a prop6sitos. a ideias e posições muito pessoais que de maneira contn u1çao que nos, filosofos moçambicanos, podemos dar ao nenhuma podem ter a pretensão de ser exa~stivas. Pelo · debate político d:a nossa terra. Todavia, apesar do tempo, ou r contrário, serão certamente fr~gmentárias e parci2Lis. Todavia, melhor, da d.uração do tempo da reflexão não venho h . 1.. . . l 'd • ( . ' OJe, faiendo · isso, participando na. construção de .um. arquivo da vo ~1 os qnco . anos que é o tempo da duração . de uma \ filosofia em Moçambique~ apesar de não . ser e$Sa a minha .~eg1slatt1ra~, com re.spostas, mas . com novas questões 'e novas r inten~ão de partida, contribuo indutavelmente paLra inscrever · mteri·ogaçoes. . a filosofia no âmbito dos problemas que emprenham.a política Co.m efeito·~ os tempos de resposta da política não são os \ moçambicana e, mutatis mutandis, para inscrever os debates que . mesmos que os tempos de re.sposta da filosofia.· A política e (' alimentam a vida da nossa jovem:. democrada n •o âmbito da .. mesmo a economia têm de resE>0nder , imediatamente aos (" filosofia~ · · · .probleo_ias com as quais são confrontadas. · Esta é uma das Percebe-se, assim1 que à questão que escolhi para este . especifici~ades da política, mas também uma das suas trabalho - papel da filosofia na de~ocracia mo•çambicana ~ . · dificulc;lades. mesmo se tirada de um bloco de .quatro questões ·da ACAFIL . . . A filo~ofia ziecessita d~ mais t~i:npo. ,Com isso não quero e, ~inda por c;:ima~ reajustada .como uma çamisa por um alfàiate :". : diz~r que ela . seja, uma arte mais fádl. Os candidatos para que me possa servir, dei há quatro anos· e dou ainda hoje · · (~hissan:o e Dla1chaina) não se podiam pe~mitir um tempo de respostas fragmentárias e parciais. Isto está ligado aos meus :,' cinco anos de reflexão, · nem os economistas, ou empresários se (" limites próprios,. aos limites da disciplina q~e tento· praticar e a :· P~.d~ permitiru.m tal luxo.~~ i·espostas q~e eles têm que dar C dificuldade geral de dar respostas .exaustivas a· questões assim i' , sao .hzc et nunc, aqui e agora. · E por i~so que os objectivos dos r ·imbricadas como as da democracia. Mas o limite maior das :: fil6sofos e .dos .Políticos divergem. ·O político pensa nos minhas respo~tas está Ügado à temporalldade da filosofia que '.. : mecanismos pata aced~r ao .poder, ele mesmo, o seu partido, a não é profecia, não é fut~rolOgfa; não tem ª t.~mpestividade e a , · sua família polít~ca. o filós9fo pensa nos mecanismos L' 46 47 r : . --..,---'--. --.. -------,.--.-e r (" . .. r ( : e . ( ( r ( ( ( 1 r ( 1 ( ,. ( , r ( , ( - L~:-;}. ~ . ·. ~:- • ' " 1 -1>; .... ; • T suscepdveis de permitir um melhor .aces.so de um número sempre maior de indivíduos à viela pública. A isto vão estai: ligados os s~us respectivos modos de 'acção e intervenção .. A política utiliza à « propagand.~ >>, os slogans, as in1tervenções espectaculares ; a filosofia é mais discreta, mais reservada. Mais ~ubstancialmente~ a' política ocupa-se do possível, a filosofia do desejável. Ora, nem tudo o qt'e é possível é desejável. O contrário é também verdadeiro : nem tudo o que desejável é possível. To&avia, entre os possí.veis e:xistem os que são mais desejáveis do q~e os outros. O diálogo entre a filosofia . e. a polítiCa deveria permitir uma influência ·- recíproca : a · filosofia deveria lev~r a· política a não cair na ' facilidade da realiiação de um possível acessível mas simples; :,·,. em detrimento de um possível c1esejável, mesmo se exige mais e.sforço e mesmo mais tempo ; por sua vez, a política pode ensinai\" a filosofia a ser mais comprometida com al realidade, sem que isso signifique que 'ela abdique de uma dose de idealismo e de utopia, no sentido de v•::rdade ~lo amanhã (Victor Hugo). . A filosofia e a política são, por conseguinte, duas artes - -lº""'Tl. oertnanecer como tais, n:ão para se Toda vfa, as suas as . pc~rmanecem 8ó~vi..., b v....,v"'<110.,<ll•, tra a. ::i <11 0 "' ~cr -a o o ~-o o i:: o~ ~ n1esmo "M A. .... v "' "T:I i.:; "ti E '"' ;:i o ca ·~· ., • d . ~ V •r~ .O" > "l Í: . .., e, a\n a pL .., ;e r'.! .:.. . i:: ni S:: 1-1 !::' ._, V Q. N para que me R. <v kJ i:.. ;:i • ~ r~spostas frag'1 ~ :g' 8 2í E · limi.tes próprios, 'l.. ~ :t2 o 6 difi~uldade geral de' "[ t r: imbricadas como as a,~ ~ . h '1::: r:: rn1n as respostas esta 1s. v não é profecia, não é futur~ 4ó filósofo não estará :ia ·a c·ompet~ncia .rabalho de reflexão o-metodológicos e )ntrario é . também . 1.e o filiósofo . pode lexão, não o habilita idônea, um cargo ... .. ;, . .. .. ·. t· ... . . fücist~ uma .grande tentação de j\istap:or o conhecim~nt teórico à política e ' ao exercício efecti~o de cargos político · Qµando o politólogo, o sociólogo, o jornalista, o jurista ou filósofo conf-undem as suas . respectiva~ competências crítíc< no sentido epistémico - o que quer: di•er antes . de ma· perspectivas de abordagem específicas em termos de rigc metodológico e uma deontologia de intervenção sub~rdina.da uma hierarquia axiológica bem definida- com uma eventu: competência de eJcerdcio . da função política, ~ometem U1! erro. Não 4;igo que um bom filósofo,' diga~os. p~ra ser 1na: abrangente, um bom inteleçtual, não possa 'ser também ·ux bom político, .ou que um bom poffü~& não possa ~u não dev ser um grande intelectual ou mesmo fil6s.ofo. Aliás, question mesmo se o ideal não seria termos políticos com grande vei qe conhecimento teórico, o que, aliás, era já o sonho de Platão · Não · se tratava tahto _de trazer :filósofos à.o govern< quanto de. soprar nos políticos o espírito de desinteresse qu . deveria càracterfa:ar aquela casta de pensadores privilegiadc que se · dedica à contemplação do be~,. do belo e do justc Platão queria .dizer que os políticos deveriam ser sábios, m~ de um sal;ier desinteressado, o único que . pode · levá-lo verdadeiramente à prátiea da 'justiça; sem a ·qual a violência d ·política corre o' risco de se fazer substituir ,por outras forma mais cruéis de· confrontação. : A tent.ação do(a) político(a) · Parece que a tentação .do poder é pr6pria do homem.' O filósofos e os intd~ctuaís não fogem a esta regra geral Muito de entre nós são tentados pela pÇ>lítica, pelo poci.er e,.sobretudc . pelo que a política e o poder petmitem: um certo hem-estar u~a · relativ~ reputa~ão . . É lliuito human-0 deixar-se seduzi pelo poder. Nãó há ninguém que, num momento ou noutro d . . . ' . . 49 -- .. ·--- ·-- . . .. ··.. ·; .. ·: .,,: .., ·-: •··._·:·· · ~ · .-· -:-: ·:-:,-.. .. _. : - ··:·-.--·-.-· - ~~-~-~~-,~--- ···:1.,--:;- .. - r"1'"4:"'··.-;-...:::---~-~ . .. .. .• .. ... .•,! . ··. i: · · ·· · .·; •·. ·.. · . . : 1' - ~.'_•: : -'.;]: ~ ' -; ~ : : ~ : ·. ·.~: ~ : --·n1 ._ ,}2 ~ - ~ : ... 1; ~+H -~- -í rn ..._,. r~~= '- T sua vida, n~o se tenha deixado seduzir pelo poder e, como conseq.uên~ia, pela política activa. . Na nossa sociedade, onde a pobreza, aliás a mnsena, é a . tónic~ dominante, mas ao mesmo tempo, onde _uma ínfima parte da sociedade tem meios exorbitantes, boa parte da qual é u~a burguesia de origem política, a tentação · do politico é ainda maior. Lá também estamos diante -ele UJn fenómeno profundamente hum_ano. "Qµem de entr:e n6s não quer melhorar a sua condição de vida e ela sua família ? ·como certos fins justifíc~!l1 ~ertos meios, resulta quase 6bvio que um certo número de entre nós decida engajar-se na política não como meio p~~a -~:~-~vir ou para defender uina ~ausa, mas para" ' . se servir. Todavia, st,tbordinar o engajamento político à solução de questões simplesmente individuais empobrece a política na sua dimensão axiológica - o famoso desinteressl? platónico - e a componente crítica do debate públko. Ma~, por ó~t:ro lado, esvazia-s~ a função política do seu significado profundo e primeiro (a questão do melhor regime que significa busca da justiça), e redu-la a meio instrumental para obter meios económicos. A . outra vertente deste probkma ~ a tentação do poder · , . político ~m instrumentali:z:ar os intelectuais. Um intelectual · , , perfonnante e conhecido é imediatamente cortejado pelo poder ou pela oposição ao · poder · • que nesta dimensão não é a Renamo, mas a comunidade internacional ·que, .através de uma espécie d.e ingerência escandalosa, hipoteca não só a sober:ania, . _mas a própria democracia_. Parece haver o. receio de ver intelectuais como membros d~ formações políticas adversárias até mesmo de vê-los simplesmente como membros a~tivos da sociedade civil, sem nenhuma ligação COD'l este OU aquele~· partido. . · É óbvio que os partid.os políticos t.hn nece5sidade do que Grams~i chamava de intelectuais. oi:gânicos. Qy.~nto mais bons . . . 50 :-: .. . ; , ,. .. i :· . filósofos, soeiólogos, juristas· um partido tem - em matéria d~ cornpetência teórica e de b,u~ca constrnte 'ela justiça social - melhor pode conceber o poht1co, em termos de rriecanisnios de crítica inte~na. Aliás; se os partidos políticos pude~sem contar nas suas fileiras com intelectuais de craveÍll."a, se as nossas ·elites políticas -associassem, nas suas pessoas, a dimensão da 'militância com . a dimensão de competência e de posicionamento ético, o nível da política nacional seria de toda uma outra índole. ! _- Se ~s . intelectu~is orgânicos, engajados como uma família polítka, têm .o deV.er d~ .tr~balhar para a vitória política da família a que pertencem, -e isso é coxnpletatnente legítimo, uma sociedade tem também necessidade de intelectuais que, mesmo · que tenham: as suas preferências poHticas, caracterizem a . sua acção pública como , pensado'i"es vocacionados para a .- busca das condições de uma. sempre melhor democracia como . participaçio . de todos, para . a invenção. de m.ecai;:iismos de . sempre maior legitimação de P?der, de maior ·participação, mais . transparência, mais serviços, eventualmente com · alternância _na gove1:nação do país, sobretudo . de mais . consolidaçio \ da nberdade e incremento da justiça sQcial. _ . O politólogo . americano Francis f ukuyama, numa clara demonstração de mau uso · dos conceito's de ·filosofia da história21, c~nfunde .o · fim da guerra fria : com a . obtenção, enfim, do melhor regime possível. -.. Apoiando-se nas inte1-pre.tações ele Alexandre Kojeve22 n~s seminários que orientou em París nos anos 'trinta sobre a fenomenologia do . espírito de · Hegel (1807 ), Fukuyama vê na vitória do liberalismo a prova da entrada ~a h~:maniJ.ade na sua última . · 21 L~fin de l'histoire et l~ dernier ho~nme. Parii. : Fl~mmarion, 1992. -_ 22 Intróduction à la lecture .de Hegel. Leçons de 1933,à 1939 à i'E.P.H.E., réunies etpubliées pàrRaymondQuenea:u, Paris: Gallimard, 1947. si · ( (' C' r e e r (" l e ( r e) (~ ( ( : e r .. ( ( (. ( ( ( r::.1 ..... ·-· t:::;~{ , ... : ~~ -rw - :t":B. § ; - ~~~~- -- s. r::::· -·h i .~~ '~ -1 1 Q . etapa de evolução. Ele defende que a partir do momento em que a superioridade da .democracia esteja em vias de ser. reconheci.da pela humanidade inteira, pode-se . COiGlsidE~rar . a história do Homem como próxima do seu objectivo final. Em' outras palavras, como virtualmente tenninacla. Esta posição foi contestada não só por fiMsofos, mas também por polítólogos. Jean-l'v1arie Guéhenno~3, re:levou a fragilização dos laços que ligam o cidadão à sua comunidade nas democracias ditas tradlicionais: As decisões políticas estão sempre mais nas mãos de lobbies ~t1e agem na som.bra. Para . Samuel HU:ntingt~n . (199]), a proliferaÇão . d~ zon.as .de instabilidade no mu1:1d~'.·, põe em .· perigo ·a estabilidade democrática .. ·. Este é um argumento cora o qual não posso" esitar de acordo, porque sugere que mllitas reivindicações de justiça de povos oprimidos e explorados ,contra os . países · que se reclamam padrões dos direitos do homem e a democrac:ia são focos de instabilidade,·. 'Na esteira do direito moderno, ·da .. . escola de Salamanca (Francisco Vitoria, F. Soares, Alberigo Ge11til~) até Kelsen, a estabilidade mundial é vista como algo que pode fazer conviver no mesmo espaço-mundo e na mesma tempoll'alid3de histórica (os tràbalhos da antropologia demonstraram que, doravante, os 'homens vivem n:~ tinesma tempc;;ralidade, o que levou Lévy-Strauss a falar da cri.se da antropologia) o genocídio, a escravatura, o colonialismo com · uma filosofia humanista, liberal, os direitos do homem e a democracia. Corno demonstra Luigi lFerrajoli2'\ o Estado moderno; . desde a sua génese, lança as prP-missas para uma democracia no interior do Ocidente, mas é selvagem no exterior. Xsto supõe que a «aldeia planetária» . pode ser estável com um pequeno · 23 Lafin de la démocratie. Paris: Flammarion, 1993. 24 ' ' " ' ' " La sovramta 11el mondo modenio. Roma-Ban: Late1'Za, 1997. · 52 " ' ' grupo d~ ricos 'que. ' 1i.ão medem esforços ' para : aumentar a sua riqueza· à' custa mesmo de genocídios, massacres, ·assassínios, . exploração. ·supõe que a maioria massacradà, assassinada e explorad~ aceite a sua .coridiçã~ de Condenados da Terra (Frantz Fanon). ou então que os eleitos tenham meios para matar todas as reivindicações, mesmo as mais legítimas d~s que ·estão à esquerda de Deus. · · · · . O progresso humano pode, neste perspectiva, pre~cínJir da maior parte da huma.nidade, ou mesmo realizar-se c~ntra ~l;i.. ,.O!iaJ~ctQ ' os po'vos periféricos~ como o no~so, com.e~am a reivindicar direito à vida, . i.sso · é visto como .ameaç.a . de . 4es.<?l'.4e~ .à <;r~dem .· leviatânica que ·.se · i?;iStaü'r~u · como reg~'a. Aliás, o ·próprio discurso sobre os direitos hurna.nos (que, no entanto, c:;onstitui. uma da~ maiores 'contribuições ao avanço ético da. humanidade) ·é muitas vezes usado como arma de pres~ão contra aqueles· que têni reivindicações a favor dos pr6pri.os povos. " Apesar ·das veleidades fukuyamianas do .fim da· hist6ri~, nada prova que o triunfo à escala mundial do « .melhor regime possível »,' supondp que um tal triunfo se prC?duia realmente, constitt.1a. o último evento importante .da humanidade. De ~ac~o, volvidos dez , anos do trab~lho de Fulcuy~ma; nada · confirma as suas predições. A democracia com:o se apresenta, l sem respeito pelas hist6rias e pelas culturas particulares. dos povos, tem ainda dificuldades de vingar em c~rtos países : é imposta a uns, manipulada/instrumentalizada· pelas chamadas velhas democraciasem certos países do sul, sofre ingerências inaceitáveis e anti-democráticas por parte d.a~ d~ocracias (cofoniais) ' êonsolidadas contra as ' democracias · emergentes, su.bordiiia-lie a interesses. econ6micos, etc. Existem razões · sérias para 'pensar. qu~ a extensão ~olonial da de~ocracia (pel~ sua ii:npô~iç~o histórica e institucional) à quase to.t,alidade dos . países ~o planeta equivale a Úma sempre maior. dim:inuição da · de~oc:racia enquanto regime· de participação. popular. 53 1 ; r.Jr! T T 'TNJ: ·! t :D ._. : ~~:: i .\'V Aliás, podemos mesmo interrogar-nos sobre a existência de um re~ime que seria, em ~b;oluto, melho1: que todos os outros. E mais razo?.vel consentir que à democracia representativa é o menos mau dos . sisten-ias ou, se quis~rmos dizer positivamente, é o .melhor sistema até aqui eriado. Por conseguinte, a filoso.ffa (moçambicana) tem o dever de continuar a , interrogar-~e quanto ao melhor r~gime e às formas institucionais que deve tomar para adequar-se à nossa situação histórica específica. -< . Eis porque, no contexto moçambicano, a e:;cistência .de uma elite. pensante, ·não partidocraticamente orgânica, não se pode constituir em oposição aos actores políticos, ainda menos em oposição a,os. eleitos, os únicos cuja legitimidade política. se encontra (ou pelo menos deveria encontrar-se) na vontade do povo. Ao mesmo tempo, as elites políticas não podem (não devem) ver, na vontade de. uma certa independência de pensamento e de juí.zo por parte da elite intelectual, uma ameaça, mas uma contribuição· necessária (~la deve ser isso) à evolução positiva <la nossa democracia e ao progresso social do nosso povo. A função/missão dos intelectuais é co.ntribuir com as suas ideias, sugestões, reflexõe~, perplexidades, cepticism.o, críticas e reticências para o melhoramento da s9ciedade. Isto estende~se mesmo àqueles que, por fidelidade à disciplina científica a que se referem, limitam a pr6pria inte1-v.enção a um nível ~pistémko e não axiológico (Max Weber). Se os intelectuais, ind.ependentemente das disciplinas de refer~ncia, não c~ntribuem para melhorar a sociedade,· podemos estender a questão, que Durkheim punha aos cientistG1s sociais, a todos os intelectuais e perguntar : para que é ·que servem ? A particularidade da filosofia em relação às outras ciências humanas e sociais reside no facto de ela não limitar a sua acção a· u~a radiografia · soci~l (por mais importante que . ;. · i:.~ . : ; ~.f 'essa radiografia . possa. ser), mas aspirar ' normauvamente ;n dizer o que deveria ser a boa sociedade. Eis po'.rque, no .que me d.iz respeito, 01.\SO, muito modestamente, sugerir para o crescimento político e social de l\foçambiqu~, a necessidade de incrementar o contrato social, ele estabelece~ um contrato político entre os partidos, principais fautores da política nacional, e de redesenhar o quadro instituciónal, inspirando:-se, em primeiro lugar, nos · imaginário~ sociais dos diferentes grupos nacionais, nos espíritos das tradições dos · difere~tes .grupos, sem, no entanto, deixar de te~ em conta a cc:;mtribuição dos out ros países ·e. povos n~ evolução da democr.acia. · ... .. · . . . . ·····'' r Contudo, a relação .ambígua entre o saber r.t. o poder é tão v~lha quanto a filosofia ela mesma . . Apesar de se· ter Sócrates como fundador mítico da filosofia, a fama deste se deve, essencialmente, aos escritos ·sobre. e le que nos foram legados por Platão . .A,ssim, a figura de Sócrates e a fundação desta . · forma ~specifi.ca de conhecimento que a partir de . então . se cham~u filosofia, está geneticamente ligad:!l . à figura e mesmo ao pensamento de Platão. Se, . em Sócrates, o · conflito entr.e a filosofia e a política eram patentes· (foi. o poder que o condenou ao suicídio - o que ·· historicamente tem servido para demonstrar a dimensão moral e da filosofia), o primeiro ·a sentir a necessidade de teorizar as relações que deve.riam transcorrer entre estf novo saber e o poder foi Platão. Assim o. primeiro ·escriba .;<< philosophicus » pergunta~se qual · sE7ria o melhor regime político possível. Ou, · se quisermos . ser mais ka~tiànos, ele pergunta-se quais as co~dições de possibilidade. para um homem .exercer de uma maneira justa o poder que ele, eventualmente, tenha sobre os outros homens. Em <;>utras palavras, quais são as condições de possibilidade: . de exercício . por parte 40 homem de · uma . governação justa. A resposta que Plàtão dá , a esta questão é .55 . _. ,~ · ·: · .~· :·~: · - :-·1 ... · .. .-L~ · : ~--- .. ~-~ .· .. ~·.:.·~: · .. :-.· ~~<?·~.sr~:: :T~~~-~ ··~ . ~ · .·: ~~ ... ·:~ · ~ · ·.:- ~ · .~ .. . : . ,·. - . ··• . -~~ ~ . ( { r (' (' r { r (' (' (' { r ( (' r r e r \ (' ( ( e_ ( (.. ( ( (_ , ( '. l ' ( 1 ( J r ( , ( ( , 1 ,. ( ( ( ( ( r ( ·- n~ -- ( :,~;: --rm ·- IT.~ - ~~~~ - m: ~-. ..:.:. sobejament~ conhecida : que os reis S•!: tomem filósofos ou que os filósofos ~e tornem reis. . · · . O que quer dizer Platão com isso ? A preocupação principal de Platão é uma governação justa. Ora, o homem, d.e uma mane'lt."a geral, aparece a :Platão como tendente à injustiça, à concup"iscência, a privilegiar a sua pessoa, o seu grupo, os ·seus interesses, em detrimentq dos. interesses dos de:mais. Num~ «polis » ateniens~ dividida entre escravos (a · maioria da . população que trabalhava), militares. - •=> grupo daqueles quk deveriam defender a cida"de -, e os fil6sofos que se consagra.vam à contemplação do mundo ideal, 2l Platão resultava 6b{rioqué· 65 últirtios, pela sua voçação eJcistencial de busca da verdade, fossem os mais aptos a aplicar n o mundo da governação p oÍítica' úm. dos correlativo~ essenciais da ·verdade, que é a justiça .. Dizer q"tj~ os govern.antes ·têm que ser filósofos ou os filósofos gov~rnantes, é uma . maneira ele denunciar a dificuldade de uma governação j,usta~ mas, ao mesmo tempo, significa dizer de uma maneira prospectiva que a justiça tem que ser o objectivo primeiro de tod~ o hómem do governo .. ' Mas se para o h.omem do governo ·a justiça é uma miragem, associada à verdade, a justiça constitui o ideal de base da investigação filosófica,, ~ por isso que o hom~m de poder deveria ser filósofo ou participar das preocupações dos filósofos~ Contemplar a verdade significa par~ Platão pô"la em prática, ser justo .. Eis porque Sócrates, apesar de ter tido a possibilidade de fog1r, decidiu "ficar . e morrer em nome da· justiça e do respeito pelas leis do E~.tado. ·Mas num filósofo que .se torne rei, ou nuin rei que se . converta ?i: filosofia, qual das duas dimensões vai prevalecer: a contemplação do. mundo das ideias ou o pragmatismo polÍtico (as diferentes razões de· Estado) ? ·. . · 56 ' · ·:. 'l .,~ .';" - : . . · .. •. ·, . Alexandl"~ Magno, discÍpulo de Aristóteles, ~apesar elo seus ideias ecuménícQs - .unir o .Oriente e o Ocidknte - par: atingir os. objectívos que se propunha, 1 teve como· meios , guerra e a . constrição d.os seus . ge~erais . a ''tontrafretx matrimónio com mulheres o~íentais. ~stes procedimentoi eram conforu1es a just;ça da Etica a Nk8maco predicada pot Aristóteles ? Não estamos perto do pragmatismo maquiavélicc . par.a quem os fins justificam os meios ? ; . _Num··registo inverso, o ··« F'ii';~ó » da quinta dinastia egíp~ia estava de. tal maneira ligado ~-contemplação d.a verdade . do Deus · Amoon que' negligeíl'Cía va'."~ pragmatismo que a ~ua . função política exigia. O perigo de um tal governante era o enfraquecimento da autoridade pública, o que poderia pôr o .país em perigo, face aos seus_ iriimigos, e ·mesmo a ordem interna de que -um país ' necessita para que a conviv~~cia civil seja possível. De facto! contra a lassitude ~o Fara61 o aparelho do Estado acabou decretando, em nome do que se pode chama;:- . hoje de Razão de Estado, a supressão do ditoFar~ó. Pode a '.filosofia (apesar de comp~eender) caucionar este tipo de procedimenltos ? . · Q!tal é e . dev~ ser o _modelo de filósofo? .Sócr:;i.tes, .o . · c~~peão da introspecção, o. horilem que em nome d~ justiça jttsta ousa pôr em. causa· as leis do Estad~, da tradição e da religião· para apelar-se· a uma .verdade supeHor? Ou-o realista Aristóteles que não se limita . a afa~tar-se das concepções idealistas do seu mestre Platão, mas ·tenta influenciar o curso da historia através do ~~u .educando, Al~aridre, O Grande? O · filósofo ~bmo um Baptista, deve prep~r~r o caminho da . ch~gada do Leviatã de .Hobbes, ou estar ao ~erviço do Príncipe · como Maquiavel ? E que fazer quando o príncipe se chama Nerão para fugir ao destmotrágico,do pobre:Séneca? Ser .um: apologeta 4a modernidade e da\ mudança a todo o · .custo comoVoltaire.(Towa, Elurigu) ou defensor das tradições como Rousseau ? · Ser filqsofo · d~ve significar ~ metodisn'l.o ·57 1. i~ i ·- excessivo dle Kant, a autarcia de vida de Espin~sa~ a am21.rgurn. de Nietzsche .ot..1 o mundanismo anti-mundano de Sartl'e? Pan'\ a história de Moçambique todos conhecemos al importância que teve o f~ndadot mítico da Frelimo, Eduardo Mondlane. O debate recente . tentou relativizar o seu papel na fundação &a Frelimo, mas sobretudo pretendeu que teria havido cumplicid~de da direcção. da Frelimo no seu assassinato. A mesma coisa tein sido dita acerca <la ircorte t:rágica de Samora Machel. Ora um d.os argumentos t:razidos pa:ra explicar a morte de Mon.dlane era que ela. era a condição necessária para o prosseguimento da luta de libertaÇão nacional. ~1an<lo se conhece a importância da indepen~êti.c.ia naci~nal para . todo um povo, e· quando ·se conhece o anacronismo histórico do colonialismo português que fazia com que o único meio para obter a independência fosse a luta armada, uma hipotética cumplicidade no assassinato de · Mondlaner ·de um po·nto de vista pragmático~político pod·eria resultar lógica. A mesma coisa se pode pensar da morte de Samora Machel. Depois de muita morte e muito ~ofrimento, a única via de saída para o conflito armado era a abertura do diálogo com a Rena mo. Ora, Machel . teria resultado no maior impedimento para que .. esse diálogo se realizasse, o empecilho maior para a paz de todo um povo. Aqui também. a conclusão poderia parecer óbvia. · . . Nestes dois casos, existe · um conflito claro entre os princípios filosóficos e as acções da práxis polític~. No primeiro caso, teríamos um homem cioso em utilizar meios pacíficos para atingir o grande valor para todo um povo que é a liberdade. Mas estes meios eram obstruídos pelo anacronismo histórico do colonialismo portugu~s que, face ao declínio dos impérios coloniais europeus em Africa, continuava a impor como único recurso a guerra. No segundo caso, ·teríamo~ um · Machel que não aceitaria · dialogar .com a Re.namo porque ' _. 58 · .. . . . ' .': . .. · .. · .: ' julgava que se. tratasse de um instrumento .neocoloníal de poderes capitalistas ocidentais, 'o .q:ue .aliás era pariti.lha<lo pela díl'ecção da Frelimo. . O!ial deve · seir a posição do filósofo ? Eu poderia responder a isto com Kant' que, contra a posjção de Platão, pensa . que não ·se deve esperar que os reis . .filosofem ou se tornem filósofo·s, .nem m,ésmo desejar isso. Até aqui estpu de acordo' com. o pensamento de Kant, mas com todo o respeito por este grande filósofo, devo emitjr reserva~. quanto às razões. Kant pensa que não se deve sonhar com a transformação. de l'eis em filósofos .ºu que os - ~eis filosofem porque a partir do momento que . ·os reis · detêo;i um poder-força, estão inexora"'.elmente condenados à corrupção do livre juízo da razão; · Eu não me interesso neste trabalho pelas ilações teóricas do que Kant chama a corrupção do livre juízo da irazão; mas pelas interpretações históricas que este! axioma . acabou tendo n~s debates políticos, cujo ápice foi atingido na . famosa máxima de·. Churchil : « o J?.~der corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente ». ! ·"- · Apesar dos eJccessivos · exemplos de uma relação . quase intrínseca entre poder e corrupção, temos também casos suficientes de governos e governantes que tentaram· ser justos sem~ no entanto, • ~em . terem abdicado do pragmatismo que . deve necesszriamente acompanhar a arte da governação, para . · refutar a relação qu~ Kant estabelece entre poder. e corrupção. Poderíamos citar um.a série de exemplos históridos que vão clte Marco Aurélio até Julius ·Nyerere passando. por Sankara. Mas talvez seja oportuno voltar ao contexto nioça~bicano. Tenho e2~presso muita~ vezes a minha admiraç'iío pelos jovens que abandonaram tudo ! casa, pais e carreiras pai.ra se lançarem numa aventura de b.ta de libertação •que ~abiam muito per_igosa. Djgo muitas_ vezes que eu lamento ter nascido 59 .. e e e e r ( r e- e e ·-:~z.-.... -.. -~.-:--·--:;-::--:-:·7.:~~·~-:-:.-.... -. . -· .·_-:-:~: :--"'.'~---..... -. --:-: -~-;:;:::-~.o:-;'.- -·.- --:-:---:-.-. ~-:-:--;-:-.:""T""'""".';-:-·_, · c- c '' . . _, ( ; (' 1 ( , ( · ( r ( . ( ( ( ( ( ;.:j ·- i:: : ~ ·1 v~ : t;;_, r~ T c; , .. ,- ' T Gl y ' tarde e rião poder ter aderido àquela luta que: continua ,, a meus olhos, sendo justa. . Tenho também muito respeito pelos governantes da primeira República (apesar dos erros cometidos) por não terem, contrariamente a muitos governos africanos d:e então, feito da política a arte de encher· a bolsa com aquilo que Jorge Rebelo, nas suas vestes de poeta, chamou « coisas suja~ e inconfessáveis ». Tenho respeito por Machel pela tenacidade com que separava _os bens públicos dos priva.dos. . '' ~e· ·eu continuasse a referir-me a Kant, par.a ser justo, deveria di:zer que por . corrupção .. _Kant _não e:ntendiia só a cor~~pÇ'ió material, mas também a justiça em tennos dE~ de!bate de ideias. A este propósito, devo .r.ender homenagem ao governo da segunda República por ter abet·to •espaçc> a um debate de ideias. · A ten:tação d.a corrupção é grande, mas o ideal platpnico · · · permanece válido. A sociedade moçambicana tem necessidade de uma elit.e política preocupada em exercer com rigor e competência as suas funções pràgm~ticas políticas, II'ias que tenha ein conta, ao mesrno tetripo, a tiecessidade da _hillsca da · ··. justi.ça, sab~ndo que esta não· se ·define (nem se ating•e)' uma vez por todas, mas transforma-se; com o d~senvolvhnE~nto da. · · · · sociedade e co~ a mudança rias .necessidades dos indivíduos e ; .. , dos grupos. É por isso que a sua acção deve ser completada por um corpo de filósofos que tenham na verdade a razão última . ;, •· da sua actividade. Mas os fil6sofos, por sua vez, têm •que ter :· :. · presente que essa verdade não se pode encontrar fora das conjunturas histórico-sociais condicionadas pelos seus imperativos políticos, económicos e sociais. No fundo, a realização da justiç~ ou a busca de uma justiça seri1pre mais justa para um núniero sempr.e maior de .. indivíduos passa necessariam:ente pela colaborél!ção não só dos .... políticos e filósof~s, mas de todos . . Col~bo~ação· que1r dizer 60 influência redproca, ·mas também respeito' (não filiação, não subordinação, 'não ínst:rumentalização) das prérrogativas e ~as liberdades epistémkas de c:ada corpo. 1 ' A histó:ria das relações entre os filósofos (j• dissemos ·que a filoso'fia só pode ~xistir se e~istirem filósofo~) e. o poder não obedece a nenhulll critério un1voco. Tanto mais que .como . a filosofia, o poder tambérn não obedec~ a nenhum.a: constante histórica, clado que est~ · intrínsecamente lig3:do aos regime~ políticós: cl~mocracia, oligarquia, aristocrac.~~' ditad~ra (e aqui . depende qo dit;idor qu.~,, pode ser tanto um tirano . sem escrúpulos com.o um ditador iluminado): . ., . . . O.~- pode: _ ~epende ,;.~m.bém das ep.oc.a~ . h1stor~~1 ·· das · ·vicissitudes dostempos e do lugar. Ass1m, na Ant1gu1dade, 'sócrates, ·por causa das suas posições filosóficas, é :ondenado.à ·morte pelo poder ; mas, Aristóteles, algu~as decadas :mais tarde, · ·~ · · << pedagogos » do « e,cu~énu:o ». Ale:ml?"dre. Maquiavel põe-se ao serví.ço do prmc1pe, Hobbes teoriza a necessidade de i:im ·Levia.tã, enquanto . Thomas More e C~mpanella ·sonham uma « Utopos » e unia cidade do ~~l, respectiv·amente. Sepúlveda defen~e os interesses espanh~1s, to. a · banda dos iluministas franceses, Voltaire, . enquan . . . .. . Rousseau, ·Montesquieu sonha com um humarusmo e · uma de~~crada que a afasta sistematicamente d~~ gr_aças elo pOder p~lítico. Mais perto de nós; . o grande i:ie1pegger tem uma . rela·ção" ambígua ·com · o nazismo, Gent1le ' eA Croce co~ o fascismo na foHia ; os judeus Jonas e Arendt tem que fugir da Alem~nha n~zi, Ma~cuse, Ad<;>rno, . àpõem;se a~ .nazismo, Sartre e Caai.us. apoiam . o n~scente movimer:ito da negritude que luta pelo reconhecimento do homem negro. . . . A filOsofia não é unívoca, 47xactaIQ.ente como o poder. A África independente. não esc~po~ a· esta rel!lção ambígua entre os intelect~ais e o poder. E, pqrtanto, os primeiros intelectuais afr. os (d~ origem africana) · não se tinham limitado a ican . . . , . .. _ inventar conceptualmente a, Africa. Essa mv.ençao coincidia, . . . ' 61 . j' . ·' .. .. ;~ ! "'' • .., ::;"""• -~ ~\i} ·. na maior . parte dos casos, com \.a.ma militância política gue significava oposição" aos regimes (escla1.ragistas ou colonialistas) que mantinham a África e o homem negro sob dominação. Então, geneticamente, o .nascimento dos primeiros intelectuais africanos - muit.os . ~os .quais ~ão pastores das igrejas protestantes ·do Novo Mundo - tem uni.a relação 'ele oposição com o poder instituído. · · As primeiras ambiguidades com o poder manifestam-se na época pós-escravatura. Dubois inicia 'uma 'forma mais intelectual de militância política. A sua luta na América ·é .. . p~rmitir. que os . ·negros, até então . escr~vos, pudessem. beneficiar de todas as prer;rogativas previstas ·pela const:ituiçãq_:. para todos. os cid<!:9.ãos. Para ele a questão negra. não era social, mas política. Eles eram a 'linica parte da população americana que tinha ido para os EUA contra vontade, ·que, em nzão da sua história, não podia considerar os EUA como terra de liberdade. Por consequência, a soiução da questão negra (contra o graduaHsmo de B. Washington e o Back to Africa de Marcus Garvey) · era necessariamente política. É' o início da famosa doutrina da discriminação positiva. Dubois tenta estender a sua doutrina de intelectual engajado pela causa do seu povo aci conjunto· dos intei.ectuais da sua geração através da doutrina ·« talented tenth » e ao grupo de Niagara; através do jornal Crisis porta voz do NAACP, do seu empenho junto dos jovens intelectuais da Black Renaissance (W eldon J onhson1 Lansgton . H ughes, Alain Locke, Claude . Mdcay) e organizando· os congressos pan- africanos, o último dos quais co-presidido com N. Nkrumah que, aliás, vão reivindicar as independências políticas do continente. · Mas a história da relações de Dubois com o poder não é linear. Em 1920, .ele aceita represent~ o .governo aqiericano na . investidura do presidente Roberts, da Libéria. Se ele aceita esta missão é para convencer o futuro presidente liberiano ' a rever a 62 sua po,sição de a~eitar receber os negros que, no seguimento ·de M. Garvey, querem· voltar a ·África. Dubois associa-se ao poder polítk~ americano pa;ra opor-se · a uin adversário político. Enfim, Dubois, depoâs da independência do Gana, é · eleito vice~presidente, acabando os seus dias a trabalhar como intelectual o:rgâriiCo pela causa das independências . e dos Estados Unidos da África. Weldon Jon~hson vai mais· longe e aceita fazer campanha para .a . .presidência democrática que, dep~is das · eleições, gratifica-o com a no~eação para Cônsul dos EUA ein . Haiti. Como representante do govifrno americaho, Jonhson ' aplica-se, contudo, a denunciar todas as · barbaridades . cometidas . pelos militares · americanos durante. a ocupação ele 1915. Ele utiliza a s:ua posição pará defender a causa :negra. O haitia~o Anténor Firmin'"5 começa por contra-atacar o racismo :científico emergente, escrevendo, contra .Gobineau a . Igualdade das raças · humanas, depois convocando com Robert Williams o primeiro congresso pan-africano. · Com efeito, depois do fim recente eia escravatura, uma nova· ameaça pesa . sobre o homem negro repr~sentada pelo colonialismo, caucionado, por ·s~a vez, pela ~ntropologia nascente e _ pela ideologia . i::acista emergente. o lema dos intelectuais reu~idos em Londres em 1900 é unir-se para resistir. · . . Edward Blyden não participa · nesse, encont~os porque · não pode· aceitar a presença do que ele cham.a de « negros· não . puros ». Blyden ~ uin .intelectual problemático. De um lado, : ele trabalha como intelectual orgânico pela causa da emigração · . elos negros . para . a . Libéria, . participando em encontros de . sensibilização nos EUA, <lefend.endo a causa da Libéria como : embaixador ju:i.to . das ch~ncelarias ocidentais. Mas, do outro . ,. . • iado, ele manifestá um racismo anti-mulato preocupante e, ·· sobretudo, participa na submissão. e colonização dos indígenas 25In Oruno Lara, 2000 : 1~183 . •" 63 - ... ---------.--------.. - .-.. -----··- •'"" - - .. r ( (' ( r e e r r e ( ( ) r ( e ( ( (" ( ( ( ; ( 1 r · ( ( l ( (" ( l ( ( ( ( r l ( f7:: ;::·::'. ·-;-! ~. :~ '.: ...,l -~ r~,., ·-tl::? da . Libéria por parte dos yankees negros {11lacb, mas ·an.glo- saxões e protes-tantes). . ·A nível de Á&ica, não se foge muito a. ·~sta1 l"egra. Os primeiros intelectuais africanos são militantes pela causa da liberdade dos próprios povos e, por conseguinte, contrários aos poderes estabelecidos (Azildwé, Nkru~ah, Mondlane, Senghor, C. A. Diop, Cabral, Neto, Nyerere). Os da tradição pan-a:fricanista, não ~ssimilados pelo colonialismo, reivindicam imediatamente. liberdades políticas; os da tradição francesa · têm muj~9 mais difict.tldades em se dista~darem do colon~lismo. · Com efeito, apesar . das infh~ências que o próprio · Seng:h;o~ reconhece da ,parte do escritores do. Harlem Renaissance, ou das daras posições políticas tomadas por . Etienne Lero e pelo ~eu m.ovhnento Légitíme Défense de 1932, a negritude, desde o seu primeiro aparecimenro· sob forma ·de Etudiants I\foire em 1934, dá primazia absoluta ao cultural em detrimento elo político. Contudo, o esfor.ço de reabilitação cultural ·que está no centro da · actividade de Senghor, Damas e Césa.ire, vai necessariamente de.sembocar na reivind:icação das independências políticas e, J:>ºr consequência, na opc::>sição ao colonialismo. . Até à década de sessenta, existe uma ligação •entre ser intelectual e uma ºl't" · 1 -1 t·b J d . mt 1 anc1a pe a causa e1as 1 eirua . es e indépendências . e, em consequência, . a oposição 3~0 poder colonial. Aliás, uma · das partic~laridades desse período erâ. a conjugação numa única pessoa das dim,ensões intelectual e política. O exemplo' mais representativo é Senghor : escritor e poe~a, e. ~e~mo . com uma certa aversão pela política; por razoes lustoncas independentes da sua. vontade, veio a ser um dos pais das independências africanas. Mas Senghor é também o melhor eJCemplo para demonstrar que um bom intelectual não é, necessari:t.l.nente u.m bom político. De facto, enqúanto Presidente do $en~gal: 64 .... · ·. ·i. .: ' . :·: ·" .' • ·.: . '. .... : ... i. · !. :. ·. ele contí~1uou a ser sobretudo poeta, :li escrever e rnesmp utilizar . ô pouco dinheiro público disp0nível para . organi.7.a . encontros para a glória do movimento da negrit~de; deixand· que a economia do país continuasse a d~wender e a .ser pensad a partir de Paris. . · · , · Todavia,apesar da fusão da dimensão. intelectu~l . política nas mesmas pessoas, as relações entreº os i~telectuais , o poder . complicaram-se : no período pós-~olonial, · devido fondamentalmente, à combinação de tr~s : factores: · .• 1. O . dima . da política · in~ernadonal no qual a: independências afrié::anas foram pro~lamadas, domiiladc essenc.ialment~ pela ·guerra fria . . Na . .África dispU.~ada · entn dois blocos - o não alinhamento não funcionou - .uma da~ armas usadas para de5estabili2;ar os governos africanos foi a uttlização ·.de intelectuais como ameaç·a . contra o .poder dos respecti1ros países, o que não era de natureza a facilitar uma colaboração entre os i~telectuais e o poder. Alias, isso acabou metendo ~s governos africanos na defensiva e· a, considerar certos: esforços' legítimos 'de participação na .vida. pú~lica como sendo tentativas de subversão. ' 2. No momeJ;ltO da p~oclamação d1i· inqependências, o número de afrkanos formados é quase nulo. Nkrumah, como ·primeiro-ininistro, · viu-~e a. governar o · Gana com ·uma ad~inistração britânica que não executava: as . suas ordens. Esta falta de· pessoas .formadas levou a qu.e todos os ·primeiros intelectuais fossem solicitados a ocupar lugares de poder ou de primeiro plano a . nível administrativo. Isto acabo~ levando uma geração de form3;dos .a cbnsiderárem-se intelectuais e a · confundir o ser- i~telectual com o eJcercício. d~ cargos ' políticos ou ·administrativo~. · Quem não éi:a · contempiado na distribuição de lugares de poder sentia'."'Se discriminado ·e, em consequên~Ía, autorí.2;ado· a COnstÍtuÍr'."Se em oposição ao poder. 3. De uma xri~neira geral, os coloni:z~dores não estavam . pronto~ a · ~Çeitar a autoc:leterminação: dos pÓvos africanos . - 65 . ·,. 1 :I ·I -f![;j -ê~~~ ·-~ ··~ - -~~:.; ainda hoje dã~ suficientes prqvas de não estarem libertos. dos seus preconceitos de hegemonia coloni~l. Assim. ao ín;és de favorecere_m um debate democrático lá . onde .as condições o permitiam, preferiram confiar as índependênC:ías a. ii:rdivícluos c1ue par:ciam ~star mais a~ serviç~ das . metrópoles que das populaçoes afncan_as ( Senghor e Boigny), ajudando-os a reprimir, através das bases . militares que inunda~ a África e dos serviços secretos, toda a reivindicação c!e debate democ.rático. Lá onde os dirigentes negavam essa fantochada · {o caso da Guiné) fabrica-:se uma oposição iritelectual, partidária ou mesmo militar, cÔmo foi o caso de. l\/loçarnbíque. Então, quando se julgam os regimes .das primefras repúblicas africanas, tem que se peri.sà:r nas ingerências externas . que, .em vez de favorecerem um debate e uma abertura interna, . levaram a que .os. regimes políticos, para se defenderem, perseguissem os que pareciam defender ideias neocoloniais ou os que pareci~m ser inst~mentos de poderes externos. O corolário disto é que os regimes de partido ·único, de esquerda ou de direita, acabaram criando uma tradição .de . conflito entre poder e intelectuais não orgânicos. Esta situaçã~ fez com que as elites de um mesmo país não se mobilizassem em direcção a um objectivo. comum, mas se f~agmentassem numa espécie de oposição entre poder e sabei;. . · No Moçambique de hoje, este síndroma in~trumentalista volta à tona . . Nós ri.ão trabalhamos todos para objectivos comuns bem definidos. Pelo contrário, ·dividimo-nos em . intelectuais Frelimo-govemo e opo-sicão-comunidade internacion.al. Se ainda a divisão fosse Frelimo-Renamo, e outras forças nacionais, seria· aceitável Mas como a divisão é entre os que podem pagar, a Frelimo tem os seus 1neios e, por isso, o seu pessoal e a comunidade internacional, através de uma ingerência ilegítima e escandalosa, nem sequer dá meios a Renamo e aos partidos mais pequenos para . crescer.em e 66 . i ..... , . t. · · · .. ··'.' :· ~ ··. ':'"' '~ • .. ·- . ... '· . ... : ~~~ . ,·. -~; .. . ,·; .:.·. fortificarem a · demo.çracia nacional. A comunidade internacional s~b~titui-se ª.eles e constit~i-se numa verdadeira oposição, rivalizando "co~ à Frelimo na posse das capacidades loé:àis. · , '. · Parece-me q:ue, ~pesar de tudo, é tempo de reconciliar os intelectu~is . e o poder. ~ tempo de este dar ma.is espaç~ a aqueles . e de aq\.teles . se engajarem numa participação construtiva. Ouso mesmo pensar que, pai.:a melhorar a democr~cia moçambicana, o elo fraco não é ,o povo, nem a classe politíca, nias um_a elite intelectual 9ue não está. à ô!;.~~"ª· dos desaJios;ã'·qu~- Moçamqíque'tem que fazer- face. Não em te~1os de cdtiç~s do que n~o vai bem, mas ettj termos do que é nec~ssário : fizer para ;ínelhorar as condiçõ~s de vida ''das populações. Uma elite .que não se confunde com os detentores de diplomas (Deus sabe como são 'procurados!), mas com a produÇão de ideias e com a ousadia de _participar, sabendo antecipadamente que ser intelectual foi e sempre será um risco. Os intelect:uái~ podem ser coisas . diferentes. Jean- François Lyot~rd26 , o pai do chamado pós-modernismo, diz que o saber é uma merc.adoria que se compra e se vende. · o intelectual, o dete_ntor do .saber pode transfo1rmarc-s_e num mercante · e, no nosso caso; · mesmo. num mercenário que, em nome d~ dinheiro, venae ou vende-se setn ter um.a visão clara das suas atitudes e do seu posidonamento. o µitelectual pode também ser Ulll homem ei;igajado, não necessariamente com _· um particlo, mas c~m a ca~sa de Moçambique e do seu povo. Césaireª7 ·fala pretensiosamente em carregar so.bre os ombros os · problemas do povo'. l\llais modesta,mente, Senghor fala da necessidade de não sermos exploradores do nosso povo. 26 A condição pós-moderna: Lisboa: Gradiva, .1989. . 27 Cahier d 'un retour au pays natàl. Paris : Présence Africaine, 1952. 67 :·:· .. .. . ~· . · ~ - ~~--~-7~ ~·.··~ ~ :·f ... ; . .. ~~.:~'"".-.=·· ~~~ ·"". ~=-:~"'::~ .. ~ .. -,"'~:"'": ·""~-~~""":."'~:"":~""~.~"",;:-. ""',: . .,...,~._-:;,."': -, "', .,J.;:-~ .~~~.:,;..·:· :·:-.-.•· . . ....,.· .,..,., ..,.--.,.,.:-.. --:-~ ::-~. ;-c:_: :-... -:c. :-::.-;c~4"-~ ,}f e r ( ( e ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( 1 ( ( ( ( ( ( ( ( ~8 - HJ r:-. 'n : \ '1• 1 ;:,_;; T ·- ' ~ G{ •:.y ~.:.::; ~ · :<. · ---~· A ideia. de não sermos exploradores do nosso povo é importante porque parece-me que, cada vez mais, ser íntelectual significa fazer . pa~te da elite. mocsambiC~ua. Os acordos que alguns de nós assinam, as coisas ,que admitixnos . ou cau.cíonamos com artigos que nos são ditados, fazeu:1 co1n que a maioria d.o nosso povo ·volte a situações quase colonia.is. Se não somos exploradores do riosso povo, sotnos muitas vezes, ou. pelo menos o perigo existe de sermos, veículos, instrumentos para o restabelecimento dessa exploração. Num pequeno romance extraordinário · intitulado A Aventura Amblgua28 , C. H. Kane prop~e uma figura de .intelectual que seria unia espécie de envià.do .. do povo à escola a . fim de aprender o que ele chama «a arte de ganhai: sem ter .razão». Nesse sentido, ·· os intelectuais ·são vistos có~10 enviados pelos grupos, pelas comunidade a fim de contx-ibuírem para melhorar a situação d.e todos. Este maneir~ de pensar o intelectual parece-me judiciosa e equilibrad~ na medida em que, sem tirar nada a~ indivíduo e às suas capacidades, confia-lhe uma responsabilidade social. ~al pode ser a contribuição especifica da filosofia (moçambicana) no crescimento democrático de Moç~rnbique ? Como a coruja de Minervà, a fil~sofia chega sempre tarde ... A filosofi<r. parece destinada a seguir . ·a corrida dos tempos sem poder influenciá-los. · A filosofia parece. destinada a um trabalho de interpretação do passado, a um trabalho de históri~ ou, como diria Nietzsche; de filologia. Aliás, l:ioa part,~ da filosofia · contemporânea limita-se, .de facto, a um 'trabalho · de interpretaçã:o; a uma re-leitura · crític~ do passado, a uma 28 p . p . Afri . 63 ans : resence . carne,19 . 68 . ·~ . r .l • ·.;~~ ~ •• : • , ·.:· ... -; -. ... . . : . ~ . . .. ,' " . -::: :: ·: .. . . 1:' . ···:: . i· . . .. -:.: . ·::· ~·. ·.· , };: (. ' ..... " . ·.;, ·, , .. •: ·;·: . · , :· her.men~utica. A filosofia africana, depois '1e uma pariidá promissora, estagnóu-se e limita-se. hoje a debates em volta da pr6pria existência. sem. se · ocupar de acompanhar · o desenvolvimento· socio·~político do con~inerite . .. i Se estil posição ~e Hegel fosse · justa, então a filosofia seria ·uma espéde de moralismo destituícj.o de toda . à capacidade de influ.enciar os. tempos h~stóricos. No entanto, pode-se interpretar o •pensamento de Heg~l : de uma outra maneira. Pode-se . ·pensar que, no fundo, relevar os -aspectos · positivos .do. ~9,s.so pa.ssadQ .. ~ist~rico, as~i~ ;como · p&r ·, e,in evid~ncia os erros, as incongruenç1as, os confbtps, as lutas· e as ciisp'utas serv~;~~para . fazer. ·,:4.os . homen~ ser-: muit~ . m~s prudentes, tnl,lito mais precavidos. Neste se~t1do; ~ ~losofia serviria .também. a moral, mas . não num sentido retonco, mas · 1 A • num sentido de antecipação, de prevenção e, enlo corsequenc1a, a filosofia serviria. para fazer dos homens .seres mais prudentes ~ mesmo melhores. É neste sehtido que · é preciso ler os' trabalhos .d.e Manguelle"9, A .. Kabou~º, M. Towa311 P: ~·.A: Ilungu~, q':e tentam .desvendar â razão .da fraqueza h1stonc3; do .contmente africàno em relação ~os outr9s . povos, que · ten~am elucidar a razão ·pela qu,al. a An:.ica não . foi capaz de um relacionamento igual, de utl:).a confrontação mais equilibrada com as outras partes · do . mundo. Esta é razão . pela qua~ · estes autor:s interiogam as culturas africanas, para ver ate ~ue ponto sao responsáveis ou. não pela situação · de fraqueza; .. de pobre7.a a que o continente está :sujeito em relação a outros ipovos. . 29 L'Afriqúe a-t:.ell~ besoin.d';mprogramme d'ajus~e,,ientcJlturel? Paris: · Ed. Nouvclles du Sud, 1990. . . ~ , . . · · 30 Et si l'Afrique réfusaitle développerr;enJ.? Pans: ~ ~~ttan, 1991. . .Jt Négritude ou servitude ? Yaounde : · Presse Umv~1taire d~ Cameroun, 1979. . ·. .· . .. . . arn!i " 32 Traditi~n africaineet rationnalité modeme. Paris: L'H. • attan, 1~98. 69 · · .. , ' •, ·~:: ~.;;;_; ~_. - --~ ''- ~f.0 '. ,~ .. • ;. 1.· .. ~ ·- · G Este trabalho de análise histórica tem também. que selt" re1to a nívd de .MoçalJlbique, a fim de clarjficarmos o que tornou . possível º~~ pelo menos, facilitou as práticas da escravatura, do . colonialismo, da. guerra dita . civil, da intolerância política, exactamente para que essas práticas nã.o voltem a repetir-se entre nós. Podemos mesmo pensar que o facto de este trabalho crítico não ter siilo feito ou que não s:e faça, contribui para o r .etorno hodie~no da situaÇão de opressão, análoga à dos tempos -passados. Mas de maneira positiva, o~ar .. para o passad~ sigtúfica destacar entre os múltiplos factos. hist6ricos, aqueles: que são convocáv~is para uiµ de~ate de~~º~· . . . . . ·. .:;, . · A ;egund~ maneira de péns~r a . 1 filosofia, também. t~orizada pc;>r Hegel, . é . c~ncebê-la como . um esforço de apreender o próprio tempo através de conceitos. Ao qu(~ convém. juntar a sentença de Ortega· e Gasset: .« Eu sou ~u e as minhas circunstâncias ». Neste. sentido, fazer filosofia seria interrogar-·se sobre a própria t~mporalidade histórica, . mas sempre em funÇão de. uma particularidade que nos é própria .. Isto justifica a existência de uma . filosofia que olha . e . se interroga sobre a condição humana e sobre a .particularidade do ·nosso tempo histórico a partir . de Moçalll;bique. Por conseguinte, não existe nenhuma contradição entre a filosofia, que se quer universal; e o fa~to de q~erermos, parafraseando Voltaire, cultivar o nosso jardim ! Na esteira .de Hegel e contra Hegel, que na sua filosofia da hist6ria colocava .a África fora de toda a dimensão histórica, temos que ousar conceber a nossa vida poHtiGa, a nossa democracia e as nossas instituições não como siinples · « imítatio » do Ocidente. · Tei:nos · que ousar inventar unia democrada que ·seja um governo elo. povo . no respeito pelo. povo, das suas representações culturais e dos seus imaginários colectivos. Cultivar ·O nosso jardim é tomar a . sério · a democracia, mas também e . sobret~do os sujeitos (na sua 70 . . ' • \ . 'ii : • ·;-:. :; '"'. .· ~··: · i"'." . !· · . . . . ~· ~ - ·~ . - . ·. . :~ ' complexidade e heterogeneidade) de tal :regime pai:;ii que ele p 0 cssa justificar o seu nome. . · · Cultivam.os o ~osso jardim quando tomarnos a sério · e re.Hectimos ·em termos filosóficos sobre as preocupações que nos habit~m - a pobreza; a fome, ~ · busca: de. uma de1nocracÍ<1 - p'rocurand~ dar-lhes re~postas científicas. Mesmo num. mundo que se · quer global ou mundial, nós · pensa1nos o global/mundial a partir e . em função das nossas (", c e e (' . pa.iticu13:x-idacles que, em ·definitivo, são o nosso ponto d.e. obse1vação. e . o · porito de partida d.e qualquer filosofia 'é o contexto, o que faz a sua universalidade são as suas respostas '.lue podem ·. atingir ·clbiiensõe:S' que ·'nltrapcrssam o_ ·amb~to de úm cop.texto particular. A univenalidade da filosofia não pode ser a postulaç~o pura e simples de axiomas ger~ís,_ mas de','.'e se~ o i·econhecimento post-moderno da existenc1a de s1tuaçoes diferentes (as micro-narrativas), a sua .interpretação e, em seguida; um cliálogo .entre as diferentes m,aneiras através das quais à humanida.de dá .razão à vida. · • · · . O próprio pós-modernismo teorizado como foi pm: J_ean- François Lyotard rião se liinita a pôr fim às meta-nao:auvas, aos discursos universali'stas, ao que Gianni V attimo chama de « pensamex:i:to forte ». Abre . espaço à; emergênc~a d~s contextos. A hist6ria da .filosofia testemunha como a filosof 1a se cle~envolveu . e se desenvolve como uma série de . saberes · conteJr.tuais que escrevem muitas" históda's e'. em cada ~m~ delas, . ~om um rosto diferente. O racionalismo fra~c.es e . diferent~ do idealismo alemão, e e.ste é diferente do emp1nsmo • · 1A do pragmZ:tismo axn~ricano ou da filosofia de libertação tng es, . . latino americana' .. ·· ~;-:-7- ...... - .... -:"""---.-. . -. -~-- ::--:~ . . ~ . ·. " ~ ·: . . . . . ... · ~ . ·:.':· :-:· .. : 71 e ( C· c ( ( ( e -\ , ( ) ( e_ e ( r ( ( ( , ( ( ( ( ( - ( r e ( r ,_ ( ' r ( ( · (_, ( (_._ T ~rn - t;;) -~ !.;,·.:. .• -8 - ~:·~'.j ·-m -~)t r · ~ ( ~: '" A filosofia - é o próprio HegeP3 a fazê-lo n.otar - não deve tentar construir-se 1.1.m muit.do ·à parte, um mundo de li.vros e ele conceitos, existent~ só no âmbito ideal abstracto. Ao contrário, a sua tarefa é pensar o ·mundo .histórico real, o mundo em curso nà histói:ia que o~ seres humanos padecem e fazem, para tentar ser pensan-iento desse mt.mdo, isto é, esforço para apreender o seu tempo . reflexivamente. Se a filosofia se caracteriza por esse esforço, se esse esforço é constitutivo de qualquer filósofo, .deve-se então admitir que a história filosófica não se limita à maneira como ela tem sido feita nas o~tras histórias que, aliás, cor respondem às fomas filos6fico-históricas que a disciplina tem tomado. A pluralidade. de formas . é a . expressão multifacetada que concretizá ~ manifesta a filosofia enquanto saber cuja história de constituição e de articulação tem lugar em conexão · essencial com os pi;ocessos histódco-cohtextuais daL vida da humanidade. Daqui resulta evidente que o tempo e o contexto não são ingredientes q.ue dependem da conveniência ou do arbítrio-de cada filósofo, mas conditio sine qua non de todo o .filosofar que determinam o gosto e o sabor d~ todo · o .saber f ilosófico. Tempo e contexto decidem, portanto, do vulto d~ filosofia. E fazem~no imprimindo-lhe o selo da pluralidade, porq\~e pensar o seu tempo não pode simp~esmentesignificar pensar o espírito dominante da sua época, mas também. significa o · compromisso de pensar os muitos tempos e historicid~des· que a humanidade nas suas múltiplas formas . quotidianamente gera e v:ive. Isto implica, obv:iamente, a necessidade de pens.ar não só o contexto global como também a diversidade contextual em que se geram os te~pos. · 33 G. W. F. Hegel. Filosofia do direito. Lisboa: Ed. Presença, 1977: 16 e seguintes. · · 72 . ~ . . ' - . ~ .... . -f. ' .: ,·:· '.;. ..'.:. · ?·· ;-=. . ~:·: ••• •. 1 ~.·. '·. ·, .·.', ·~ ..::~· ~ ·:· ·, ' ~ : . : .. ~; ; ·: ~ '· y · .... Daqui ·se depreenÀe que a própria filosofia é também: ui saber contextual, . isto. é,: a filosofia . reflecte . sempr.e urr determinada contextualidade . . A conttxtt.,~lid.ade é fonte ( pluralidade. Ainda · mais i~portan~e- é releva~ . que esl luralidac:le nic:i depende de simples razoes geográficas nem e ;xotismo, mas de razões hermenêuticas, antropológicas éticas. . O que está em jogo é a riqueza das ra:ocõe.s com que humanidade dá razão à vida. Como e:x;pressão c.oncreta des~ riqueza, . çada filoso~ia .co:µtextua~ tem," em si . m~m~, a ra~'. da s~a pr6pria . necessidade, pois cad~ ... fi~osof1a co~textu. justamen.~e porque nasc.e ,:f?".11 as expen~nc~as e, ~s e~peranç. · :..eretas de uma comurudade humana específu:;a, tem qi COu f' . d d• .. dize~ coisas que nenhuma ou~ra filos<? ~a p~ e uer no s~ lugar. Se quisermos, é a questão da loc~hz~.çao do logos: ou e ·d· d · de n-a0 delegar palavra; É por isso que a 6losof necesst a e · . · · 1 · 1 · d uma das suas. formas · cu tµra1s, conteJçtua " em ca a ! , . . . d ' · poder partilhar a 1rredutivel pohfonia necessaria para · ' ·. . · d culturas da . humanidade .e,. por coq.s~gui;nte~ para po . ·:: .. " rt• da pluralidade a viagem ideal de un organuar, a pa ir , , . . . verdadeira « ecumene » entre . os Pº.v,os. : . . . . . . . E . é. . • de ra"'o-es te6ricas e suficiente para JUstif1c sta· s rie . ... " · l .d . f, . d isar filosoficamente. ~ rea i a~ um es orço e pen i · ~ b. no seu processo hist6nco singular : . centro e . moçam icana. . . li d arxisn . ol~ncfa da escravatura, do . colorua smo, e um m v1 . . d . de interesses · neocoloniais mascarados . e extremo, e guerras . .· . .. . d . . i1 lug·ar de expeiimentação.de)deo1og1as e esquerc guerra civ , · · , · d e· de direita; mas também de ac~rdos de ez que parecem ~dr ·d ·. democracia que . vai fazendo, apesar . no tempo ; . e. UJD.a . . . d dificuldades, o seu .. caminho ; d.e . um povo .~ue . ap~er~ e . . ·1~ . ·mas que deve aprender a dura lei da {es1stenc reconc1 iar-se, . · .. · · . ( d ' d . . . ·o· s d~ ind.~pendênda de origem interna o omm os m1m1g . . . · 1 · · ) .. d ) à (dá invasão dos interesses neoco oma1s . o .eu e extern . . . . .. · . '. . . ; ~ ~ · .., -:·!--':~·r~~"'. ' ::'""'"':,,:.;"":"--:-.y;..,;-;·~·:· . .. ·. ·• . ·_. .e·. : ~ - ': .'· . ..... 73 \rq 1 ~m ·=.~ · ._ .. Todavia, a filosofia moçambicana imcreve~se necessariamente> num quadro geral da. filoso.fia africana, sobretudo pela ·natureza comu_m do"s problemas que nos ocupam. Não quero . dizer que as problemáticas d:a etnofilosofia, da filosofia crítica ou da her~enêutic.a, tenham alguma coisa a v:er com as preocupaçõe; que 'impregnam a filosofia moçambicana. Aliás, . penso mesmo que o deb_ate actual . da filosofia africana representa um momento de involucão na história do pensamento africano. Penso niesmo que a filosofia: africana não ·está à altura do debate do pensamento africano que é muito mais antigo e muito mais profundo. O facto de não nos identificarmos com a esclero~e do debate que gravita à volta da sua própria éxistência nio implica não identificarmos a nossa busca, a nossa contextualidade com a problemática geral que está na génese do pensamento africanei, do . qual, finalmente, a filosofia africana é um derivado. O substracto filosófico do pensamento africano é, ·sem· · dúvida, a . busca da liberdade, devido . à· situação categorial oprimido/escravo/i:olonizado/s~bdesenvolvi~o na qual os povos africànos se encontraram a seguir ·ao encontro/ choqu~ com o ocidente. Estas buscas tomam· formas diferentes .segundo as ·épocas, _ os . per.íodos históricos e os ·lugares geográficos. · · A primeira manifestação da busca da .liberdade tomou a forma de luta pela emancipação da escravatura. Bas~ pensar nas lutas dos escravos nos Estados Unidos, na Jamaica, .rio Brasil e no Haiti. A segunda forma da busca da liberdade foi a luta pela integração social nos país~s onde os antigos escravos passaram a ser cidadãos (B. Washington, Dubois) de segunda linha. o terceiro movimento identifica a . liberdade com a . autodeterminação política. A figura mais preponderante é Kwame Nkrumah que, ultrapassando a Renascent África de Azikiwé, reivindica, primeiro no . V Congresso Pan-africano 74 .. :· . . -~ ... ~; : .. ;·~ : . ·~ ·\ . . . •o ' . . !. . • . de Manchester de 1945 e depois no livro. África M ust Unit, a libe.rdade-independênda de todo o cont in ente; e se faz o paladinr de um a ·unidade ·Continental em termos polític~s e económiCos. O quarto nível d.e liberdade é o desenvolvim ento económico ·e social. Este nível, . iniciado logo depois clas independências, ocupa a1nda hoje o essencial das elucubrações dos africanos, e é aqu i que .. se situa ta.m.bé~ o nascimento de uma filosofia africana-crítica (Towa, Ebou ssi, Houtondji). ·As diatrib~ da história africana, as vicissitudes existenciais primeiro e dC:, pensa~ento em seguida, deram à política africana, mas também à sua filosofia um cunho muito particular a .que eu chamo de libertário. A natureza dos estados , africanos (se quisermos ir mais longe d iremos negros) qt.;er sej;lm os da Serra Leoa e da Libéria,· primeiro, e, depois, os do Ga11.a e Congo são, na ess.ência, libertários : contra a escr~vatura primeiro e o colonialismo em seguida, aos quais durante séculos os negros estiveram submetidos. A filosofia africana emerge tam bém ·deste fundo comum de busca de liberdade ... · Se ~::dste um paradigma - no senti~ de Kühn- do pensamento e da filosofia att~canos como eles .se desdobraram historicamente, esse paradigma chama-se a busca da liberdade. · Não de umà liberdade metafísica ou moral;· mas de uma liberdade política. . . , .; Não podemos pensar · a Africa nem sob ponto de vista político, nem filosófico perden~o .de vista; o paradigma libertário que deve ser a referência e o critério de julgamento das nossas lucubrações intelectu3:is e das nossas opções políticas. As nossas refleJcÕes e opções: em torno do. liberalismo e da democracia devem ser subordinadas a esta busca secular da liberd,de. Devem s~r · analisadas . ~ão · em .função da di~âmica mundial ·. (m~smo . se . não . ~ podemos ignorar), -.. mas subordinada~ à nossa buscá secular e histórica. ~ó na meãida 75 . , :·:···· .. · -- r-:-:-.~. ---.-:- . (' ( C' r e e e e r r e c- c (' e r e (; e \ (_ ( e ( ( (' ( ( ( ( ; ( ( ( ( . F.: ·; •. -i ~. -i ~. . ~ : ( ... \~ -T li~i , .. 1új -~ fG - ~t]j . ~:._ : ..... ::: em que um regime político, uni sistema económico colabo.ram para incrementar a esfei:a . paradígm~tica ela nossa busca histórica é que eles podem ser avaliados positivamente. 76 1 •• • , . i 1:, ., . :~ ; ... . r .. I" "" .r · ! -. . -. . -_ . .·· . ·:·. .i Çapítulo Il ·A filosofia em Moçambique . Um ~sforço filo~ófico a. partir .de Moçambique não pode cleixar . de se inscrever no quadro de um esforço africano mais glohal liga~o ao nascimento d~ filosofia ~fricana que, ·;por seu . turno, esti intrinsecamente. lígaqo à busca da liberdade que 1 caracteriza a visão cc;mtinental da África. Contudo, se as nossas:· -inquietações· não são · genetícatn.ente diferentes das preocupações dos outros países africanos, também não sã<;>completamente idênticas. Estamos . a nível daquilo que os 16gicos chamam ana1~gia. Os problemas e as .preocupações que norteian;:i. a filosofia . africana são . também nossos. Mas co·m ~lgumas 4iferençás . significativ;ls de . ângulos de ataque ~ · mesmo . reservas sobret-Udo relativ~s ao solipsismo .que terri. caracterizado alguns fil6sofos que centram as s~as refle';x:ões . em torno da eiistência da filosofia africana, esquecendo-se de acompanhar criticamente a evolução (ou talvez a involução) dos diferentes · países do. · continente~ . Isto fá~los .cair 1 no ~esmo ~rro da negritude e da etnofilosofia qu~ era, como di:z~a F anón, de continuar a· remoer em sarcófagos . e pão mobilizar as inteligências para a dÍJ:l.âmica hist6riê::a da África. · · Nos meus primeiros. · trabalhos · (Por uma Dimensão Moçambicana da consciência hist6rica ; Da,s', indf!pencl211cias as . ·liberdades; O Retorno dii bo~ . S~lvagem ; ··Mukadjan4àas) tentei · pensar em Moçambique, haui:indo.'_a base. JJ meu pensamento na . história da filosofia e· na . maneira .como ela tem siclo · 77 ~ · ~ ~~tl ~. 1 • pensa d~ e discutida no continente africano. Tentei contribuir para uma reflexão · em volta ·das . metamorfoses históricas próprias de Moçambique : por um lado, solicitando a filosofia com a sua história .e método a seguir dialogicamente 0 percurso histórico de Moçambique; por outro, solÍcitando Moçambique · e a sua história a se deixarem ..interpelar pelo saber filosófico. . · · .· Este esforço de trazer a filosofia ao debate moçambicano · atingiu inesperadamente prol'orções inauditas quando em,199'.) me foi dada uma daqueles ocasiões únicas na vida de um filósofo, isto. é, .conceber um c~rriculum de Filos~fia para a1 U níversidade Pedagógica e acompanhar a formação de professores que se encà.rregariam, num segundo mom~nto, de introduzir a filosofia em todas as escolas sec:Undárias do país. A primeira preocupação que tive foi tentar saber a razão pela qual o Ministério da Educaç~o tinha, decidido introduzir a filosofia no ensino secundário. Isto é, a filosofia· devia contribuir a trazer solu,ções. para que problemas? Tratava~se, para mim, de . criar um curriculum que, · mesmo respeitando a secular história da filosofia nas suas disciplinas nucleares (história da filosofia, teoria de conhecimento, antropologia filosófica, ética e metafísica), fosse construído em função das necessidades do país. Tratava-se de aculturar a filosofia ao contexto moçambíc~no sem a desapropriar da sua dimensão de busca do universal centrado sobte. a realidade da condição · humana. A vontade política de introdu;ir a filosofia no ensino era, em si mesma, o reconhecimento ela capaçidade . desta dísciplina a contribuir · na fas~ crucial e na · encru:zilhada histórica a que Moçambique s~ encontrava a nível pe>lí~ic~ sOcial, mas também a nível moral. AssimAecidi ptopor um curso de filosofia aculturado às · preoct,lpações reais de Moçambique, para levar a filosofia a .ser um parceiro ·sério na elucidação dos problem3:s e .das suas ~usas, mas também na 78 ., .. : ~ .. . > . ··': · . . ., . >. . ;. .-· : busca de s~lU:ções . . Após u~ período de investigação e de r.efJ.exio identifiquei .três : camp~s fundamentais ·da possível contrib~ição da filosofia em Moçambique : epistemologia, política e etica. . i. Epistemole>gia A escolha da epist~mologia como campo de investigação da filosofia em. Moçambique resultou, em primeiro lugar, das diB.c1.aldad~s que os estudantes têm face a questões abstractas. Este . défice ·. epistemológico está ligad~ não · só: à falta de filosofia (lôgic~); mas .também à fraca preparaÇão no co.njunto das disciplinas humanf.sticas como a história, · a literatura, as língüas clissic,as,' a gramática,-etc. . · . Para além de contribuir, dando aos .estudantes utensí~ios de análi~e mais ~efin~dos, a epistemologia pede trazer 1..una outra· contdbuição, µienos evidente, mas não menos importante. Historicamen~e,. ela t~ve out.ras denominações que nos podem ajudar a compreender os seus desafios e, em consequênda, a alargar :o seu campo de aplicação na educação dos j9veil.s. Ela é t .. mbém conhecida por Gnoséologia, Teoria de Conhecimento. e Crítica. • · 0 bi:i;e~ . « crítica ·» significa referir:-se a uma atitude do espírito · que . consiste .em analisar rigorosamente e . sem · condescendência os nossos mecanismos de .conhecimento, o conteúdo mesmo. do qu~ · nós dizemos saber, assim como o valor intrínseco dos nossos conhecimentos. !~o~ í1ltimos an~s, uma ·parte da filosofia a_fricana (P. E. Eltmgu, M. Towa, .Ka Mãna, Ali A. Mazrui, Georges B. N. . Ayittey, J. A. Sofola, Kwasi Wiredu, E. Nj.oh ~ouelle) tem ·centrado os seus ·ele.bates à. volta do valor, dos nossos conhedmentos ditos tradicionais . e da sua . re~ação com a racionalidade. m~dema. . A .· premissa d.este . debate é a · , par~digmática busca da liberda.d.e .africana, centrad~ hojesobre . 0 desetwolvimen,to económico .e social Até à .década · de 79 ê r e e e ( .r e r e r , ( (. ( · ( ' ( ( (' ( (. (' 1 r . e. ( r · ~~ ~ !\ -(j R ''l <' :•: -,- s -\;;j\ -·0, .1. ::.: -rn : ·-:;! -e:-~~: ~ ( -(:\ (_' \ -1J ,.- ( / ( ( , ( ( 1 · ·: · ! 1 .:-:· setenta, o discurso africano acusava de ui;na maneira unilateral .a esçravatura e .o colonialis~o de serem os únicos 1:espo,nsáveis pelo estado actual do continente. Esta atitude impedia um trabalho de introspecção crítica ,sobre as nossas responsabilidades, sobre a responsabilidades da,s · nossas instituições ancestrais na instauração desses sistemas odiosos. Por outro lado, a grande ~xaltação d'as tradições africanas, por obra sobretudo · dos adeptos da negritude, encobriu uma análise fundamental quanto ao valor intrínseco dos conhec.imentos tradicionais;· do seu eventual enquadramento na modernidade, que constitui o substracto mental e filosófico do desenvolv.imento a que aspiramos. Marcien Towa .(1971), membro, com Houtondii e Boulaga, daquilo que Ehingu chamou de escola critica3'4, nlio só se distancia do . caminho traçado pela etnofilosofia aberta por Tempels e Kagame 35 , como nem seqµer ·se li1nita a atacar a « negritude-servitude » de Senghor que ele a.ssocia a etnofilosofia. Ele vai mais longe. e afirma que o tempo das reivindicações acabou.: trata-se agora de nos concentrarmos s~ bre a questão do desenvolvimento e elo prngresso. Para . Towa a questão é tentar saber o que permite ao Ocidente o seu desenvolvimento, a sua superioridade e o seu poder s1Jbre nós. Trata-se de descobrir e de se apoderar do segredo do Ocidente. Para o filósofo camaronês, o segredo e a superioridade do ocidente reside nos seus conhecimentos técnico-cientíEic~s. Eis porque a Áf:x:ica deveria, segundo Towa, concentrar tod?-s as suas energias a desenvolv.eI'. a dência e a técnica. P. E. A. Elungu (1987) prolonga esta tese ajuntando que o segredo ocidental não é meramente · técnico, 1nas trata-se da racionalidade técnico-científica. A superioridade do Ocidente . é, assim, remetida para uma dimensão filosófica. 34 Ngoenba 1993 : 91. 35 Ngoenha 1993 : 55. 80 • ', . t ~· ' . ' . :: · ~·. . . ~ •I•' ,. . ,, :. · . i ·-: ' . . ~'.::· ·. ·~ ..... -- ·- . i.. A .África tem ~s seus conhecimentos, ditos tradidona os . seus . saberes q~e n~ . passadÓ certamente ajudaram f - bl m ·que era africanos a fazerem . rente aos pro emas co confrontados· . alguns pensadores . defendem que ess conhecimentos e~am fracos e foi essa fra~ueza que f~z d. africanos vítimás pre~ilectas d~ todo o tipo d~ esclav~g1stas l . . . d . Ma·s admitindo. que . : esses conhec1n1ea.t1 co on1za ores.. . _ . tenham ajudad<:> OS africanos do passado, que relaçao· eXlS' entre esses conheCimentos e o mundo moderno ? . . Es~a questão divide hoje. os filósofos .africanos em d~< posiçõe~ conti~st.antes: os que-como Towa, E~un~u, .~:1~J~ Mouelle- defendem a . ideia d.e 'uma . irre ~tt t ~ a funda~ent~l · entre. a:s tradições africa~as e a . ra~~':ah~ad moderna, . e, em consequência; a necessidade d.e ª. ~ nca .• er . de sacrificar a sua história e as suas trad1çoes sobre coragem . . . altar do desenvolvimento. · d , . . Esta . posição põe enormes problemas . e" c~r~ct~ . l' . co dado q· "ue a cultura aparece com.o uma es.pec1e ' antropo og1 ' · l . . ·_t P. ·r e nã~ 6 . vestimental que podemos evxa:namente ues t · acess no · . . · . . . . · . . h 1 uma estrutura constituinte da ex1stênc1a umana. , . . . . É ·verdade· que a cultura J;lão tem nada de. genet1co, que • . . . te 'lig"ada a uma determinada sociedade (Edwarc 1ntnnsecamen · . (R •37'\ d ·monstrot T lo~) Mas a . antropologia emotti I e . y. . . se a cultura é unia estrutura sufic.1entemente .que mesmo . . . d : . fr ilida.de e . . . t . por ca\1Sa a sua ag Precária e exactamen e " • , d· • d d. - ·ligada ao facto que ela só ganha vida ~traves' e precarte a e . . . . f: indivíduos que são diferentes uns d~s outros, e ao act~ que a . . bologfa da cultura exige a p:don um consenso s~~1al, que sim . · · · d d eiftcam as . . bté ompletamente - as soc::te a es r nunca se o m e . . ' . . d . de um çulturas. a . fim de se -prot~gerem.. Por i:,sso, . a 1 eia 36 Culture prÚn~tive. Paris : Seiiil, 1974 : 79. . . ....J . • ~ · • • ghl .. 37. Noí,.pr.iinitivi. Lo specchio dell 'anttopologza .. 1 onno : Bollati Bonn en, 199.S.. . . . . . i . 8l : 0 -~~ ;-;::: T ~r::\;i -~ i'; l,~; ~~ -~1i~ .lh~n~o~o puro e . simples da cultura levanta problemas ep1stem1cos enormes. · . Esta posiçã.o põe também px:oblemas ele carácter fl 'f• 8 i. oso ico se, como Herder1 , concebermos a cuitura como sendo a segunda natureza do homem, sem a qu.al a · vida humana não é simplesmente possível. . Outros pensadores africanos (W. E. Abraham, M. V. Tsangu Makumba, O. A. Onwubiko, P. Apostle, J. B.· N'tandou, P. Apostle, Y. Assogba, E. R. Mbaya, Tshipanga Matala, A. M. M'Bow, C. P. M. Kamala) defendem a compatibilidade entre as tradições afric~nas · e .o dese,nv~lvimento moderno. Eles sustenta~ que 0 que permitiu a Afnca sobreviver, não obstante a esC:ravatura e 0 colonialismo a que foi sujeita, foi exactame~te a vitalidade das culturas africanas. Se essa vitalidade nio se manifestou ~o período pós ·colonial e, por conseguinte, não ~ontribuiu pax·a desenvolver o continente, foi devido. essencialmente às 'elites pol.ít~c~s, que manipularam·· as tradições e as . cultt:lras para sohd1f1carem as suas posições de poder. · · O interesse deste debate ~esid~ na sua dimensão crítica, . na sua introspecção cultural e esta não ·é completamente desprovida de interesse para n6s. A primeira República, ~m nome da lutâ contra o tribalismo, tinha pura e simplesmente: banido as tradiçõe·S e as culturas do campo do político. A segunda República, sobretudo por obra dos doadores, parece reabilitar as chamadas autoridades tradicionais, sem um debate prévio quanto à sua capacidade de contribuir positiva . ou ne~atiVamente pata o adual curso histórico. . ···f-De uma maneira: mais incisiva. e concreta, o debate africano interroga-se quant~ à capacidade democrática· das tradições africa_nas onde o peso do . chefe . ou do ancião 38 Ainda por uma filosofia da história para a ediicação da humanidade. São Paulo: Ed. Universitárias, 1974: lll. · · · · - · 82 impediriam .·toda a cl~mensão de debate d~ ideias e, em consequência, do desenvolvimento demoTrático. A . filosofia africana .ínt.erroga-se quanto ao valor ·~statutário . dos mecanismos tradicionais da transmissão do . :iaber que, coi1trariamente ao mod~lo democrático do sistema .de éducação inoderno, reserva os seus conhecimentos a uma .casta de eleitos, cujo desaparecimento eq.uivale muitas vezes à :perda defü~itiva do saber. acumulado. 'jJ" . · .· Interroga-se sobre a compatibilidade kio sistema familiar . africano C.Qµt as .necessidades econ6micas modex:nas, dado que sob a. ap~rê~da . de solidariedade, se esconderia, de um lado, um sistema ele esbanjamento que impede a acumul~ção e os investim;nt~;; .e do · 'outro, alimentar-se-ia um sistema de par~sitisnio no qual boa parte dos 1nembros · da família vive ~obre os ombros dos poucos que trabalham. . Todavia; na esteira . de . Eboussi Boulaga39, podemos pensar a ·tradição como uma utopia crítica. Isto é, os aspectos acima mencionados relativos. às fraquezas da tradição t~m que ser."tomados a: sério.· Mas, por ~utro lado, temos que pensar que alguns aspectos aporét~cos da vida . política e social moçambicana de hoje deixam-se interpelar por aquilo que pa1a o sentido comum (que recordo dev.e· consdtuir o ponto de partida de toda e qualquer reflexão científica) constituem o espírito da tradição. . . . . , O primeiro elemento é a chamada solidariedade africana. Os factos de hoje desmentem a famosa solidariedade africana e f~zem dela um mito. o nosso país ·tem uma elite económica cada. vez · mais important:e,. no· momento mesmo onde o número de miseráveis progride. Mesmo nos momentos dramáticos, como foi o caso das cheias, não vimos da. parte dos que têm mais meíos n.;nhumsinal de solidariedade. Os nossos .. rico.s não só nã() são solidáriós, mas nós não vimos emergir 39 La ~rise dit muntu~ Paris; fré~ence Africaine; 1977 : 45'e 123. 83 . ...... -·--·----- . r { (' r r e ( t e (' e r , { , ( · e, ( ( 1 \ ( r · ( r ( ( . r r . { · ( ( . ( I ( · ( I ( ( ( '~· -: .·· -·.-;: ~ · -;i ·' .. y culturalmen. te homoO'éneos (C A D 1"0 p· ~·) ·· - · •. . e;, •. • ou econoi;rucamente · complementares (Mamadou Touré42). · . '1?- filosofia .deve tainbéni intenogar-se sobre a natureza f1losof1ca do liberalismo como foi pensado ·po·.. J B h ( · ) · · - .. eremy ent am 1748-1832 , John Stuart Mill (1806-1873) John L l ( 6 ) , ' .. oc ce I ~2~1704 ;. as metamorfoses históricM que esta doutrina . poht1co-soc1al sofreu no curso .da história, as diferentes faces que e~e. tem no mundo de .. hoje, a maneira como tenta reconc:har o imperativo incondicional da liberdad.e com. a n~cess1d~de de urn pacto social para que a vida .em sociedade se1a poss1veL Temos que nos interrogar quan· to à···r 1 - · i · . . e açao entre o _ ibe.rahsmo 'e a existência do · ~stado .(0 nosso é obrigado a esva:ziar-:se · das suas funções essenciais) record·an· do ·, · d · . 1 . . que os pa1s a economia polítka como Adam Smith como os teóricos que fazem mais referência à fÜosofia Üoh~ · L } ) "d · · E ()C ce , cons1 ~ram º. stado uma instituição indispensável para a gara~t1a .das liberdades dos indivfduos; hto tem que nos levar ª , ur:ia interrogação quanto à relação entre o libe~alism~ class1co e o neo-liberálismo. · · - ~Por out.ro lado, é neces~árío interroga·r â democucia ria relaçao do seu ~spí~ito e das instituições que dão o.u podem dar corpo ~~s se~s 1dea1s. A filosofia deve poder demonstrar ·que se o. esp1:nto · e, uno, as formas que a -democracia 'toina · nos . d1ferent~ pa1ses ~o ~undo são múltiplos e dependem dle uma aculturaçao .das 1de1as democráticas às diferentes maneiras· co°:1 as quais os povos entendem e interpretam . a sua · vida s~c1al. Por consequência, no respeito mes~o da democracia n:s te~os o dever de · tomar a sério â especificidade culturaÍ q e nos somos e representamos e . inventar um modelo institudonal · · que se inspire nos substractos culturais das poptilações_l' .. 41 • ' .. ·· 42 Natzon rzegre et culture. Paris: Présence Africaine 1979 . · «: Les étudiants africains parlcnt ». Revue Présenc~ Afric~ine.-Paris, .1953. 86 .... .. . · ... ; . ~ . ' t . . . =.,.· ··-:m~:·,"Sa•1?ii '.WCfi~bfi~ t..'ü1jJ.':Wti1-j{.~l~~~&~-~l~1~~~J.~f.!fili ii) . política e ética . A segunda questão ·do nosso programa, é . de · nature:z política : com que pertinência a filos~.fiase pode ocupar d político? Terá l\ma co.ntribuiÇão específica, diferente daquel q.tle podem trazer a · sociologia ·política; a ciência política e direito ? Est~ questão tem hoje, no contexto · culttm moÇamb·i~anq, toda · uma pertinência particular. Nos último . anos, a f'.acuidade d~ Direito retomou · as suas actividades rec~me-çou a formar juristas e, sóbret~do, encaminha, esto1 ce1·to, úma reflexão do . direito a partir . da experiênci moçambicana e em ~onformidade com a nossa espedficiclad· hist6rica e .. culturaL Por. outr~ lado, uma :séria' refleJCio poHtic• ~ social te.m vindo a ser_ feita pela jovem unidade de Ciência: · So.ciais d~ Universidade Eduardo MoQ.dlane. · · . Não se trata para nós de re.flectir ~c:>bre a polític~ e sobn o . polítko; mas de pensar filosoficam'.ente o . político e é democracia em M~çambique. Duas i"a~ões podem justificai .esta escolha. A primei~a tem a ver com 'o .facto d~ que desde ·Platão . e A rist6teles· se quis c.ircun.screve~ a . reflexão· filosófica sobre a política ·às s11as ·. características fundamentais , distinguindo Q as.pecto normativo do aspecto positivo43• A reflexão platónica, na República, . sobre a cidade ideal incorruptível conduziu müitos pensadbres a fazerem · da filosofia . política uma ciência: arquitect6pita : para qµe uma soci~dade seja justa, é neces'sário que elaº seja governada por . filósofos ou por um.rei que seria iniciado ~m filosofia. Contra .esta concepção · do fil6sófo~rei · instalado na sua sabedoria teorética e versado na contemplação . das essências eternas do mu~do inteligív.:;1, }\.ristóteles acloptou uma vfa inte~ediária. À sabedori.~ teórica rese~vada· a uma 'quantidade ínfima de pesso.,.a~ consideradas com~ . sábias e que vivem . . 43 J. Freund. Essence d_u poliiiqu~. Paris .·: Sirewy, ' J 965. -87 ·~ l \. ~ ~1 °'1 rn ·-O;;~ · (:;; ·-~ retiradas. do mundo dá acção, ele opõe uma sabedoria prátic:a, . característica de indivíduos qu<(vivem e agem com· prudência na cidade. Com efeito, para Aristóteles o homem é um animal ·político, feito para viver em sociedade. É nisto que a política como género de saber racional se encontra ligadà as contingências históricas próprias de cada sociedade. Vista desta maneira, a filo~~fia ·política ·deve ter em conta os objectivos práticos do político para pensá-lo na sua complexidade, de um lado como . espaço de possíveis e do outro como espaço de experimen.tação das condutas humanas sobre os aspectos individuais e colectivos. Contudo, a filosofia consiste na aprendizagem do exercício do pensamento, o qu1~ requer do sujeito uma libertação de pr~conceitos - a que ·Francis Bacon chamava de « idolas » e a hermenêutica moderna de pré-compreensões - e das ideias falsas. Esta pratica reflexiva deveria conduzir à sabedoria, objectivo etimológico· da filosofia. Esta sabedoria e esta catarsis às quais a filosofia é suposto . dar acesso, são o · resultado de um .process~ de compreensão do mundo. Isto explica - como .bem ilustram as três questões de Kant : o que posso saber ? o que me é permitido esperar ? O que devo fazer ? - que a filosofia tenha sidq primeiro uma gnoseologia, depois. metafísica e, por fim, ética/ polítiea. . É fácil compreender que a filosofia política foi durante muito tempo resultado de uma filosofia de conhecimento e colocava-se sob a dependência da filosofia moral A questão clássica sobi;e a melhor ordem política possível compreençle-se em . referência a uma filosofia de conhecimento . . Este .conhecimento do justo, do bem e do verdadeiro compor~va uma obrigação moral irrecusável. A fí.1.osofia 'política et'a, assim, determinada · por uma reflexão exterior. A questão actual é : como pensar filosoficamen.te o facto político, quando ele já não se confunde com nenhuma teoria de conhedmento . ' 88 .,, nenhuma moral e, . sobretud<~>, quando deve ter em conta a pluralidade de opiiüões como um facto humano fundamental ? Podemos perguntar se ·a actividad~ reflexiva aplicada ao domínio da política se reveste de algum sentido e, sobteu.,do; se tem alguma eficácia. A filosofia política pode parecer aos políticos de profissão demasiado idealista e sem nenhuma incidên~ia sobre a realidade, ou então a sua eficácia se limitaria aos casos em que ela empresta o nome a certas ideologias. Entre a impotência e o integralismo - tudo o que é contrário ao espírito filos6fico - não existiria uma· via iintermedi~ria para a Hlosofia política. Para além das acusações que . se lhe_ são movidas pelo seu carácter · pretensamente não científiêo, a filosofia política estaria sus.pensa no vazio. Seria útil para reflectír sobre o devir ide~l da humanidade (no nosso caso de l'vioçambique). Contudo, ela não seria viável. Seria necessário primeiro trabalhar. para conhecer · o mund~ de uma maneir:i positiva, e só depois; se restasse tempo, recorrer à filosofia. E obvio que D.ão r.estaria nenhum tempo. Isto eXplica o nascimeri.to de dois d.isCÍP,ulos. que têm um cal'ácter heurístico : a ciência política e a sociologia política. l:'viais do qu~ c~ncorrentes, ~stas duas discip~inas são, de facto, um complemento necessário · à · filosofia.. A ciência e a ·sociologia · políticas tiveram historicamente a ambição de analisar os fenómenos políticos nos caracteres específicos com c;iue se r~;westiam numa dada ép<?ca·e, a parti~ daí, identificax as constantes, até mesmo as leis. Assim, elas observaram os fenómenos coino a fo~mação e O ·· funcionamento dos pútídos .políticos, o recrutamento d.a . cl3:sse po~ítica, as determinantes das preferências eleitorais, as relações entre as formas de poder e ·0 dese~volvimento económico, considerações longínquas da tomada de posiÇões . gerais ~()bre o~ direitos do homem, a liberdade de pensamento ou a natureza da democracia. Os ~feiti;;~ secundátiOs ·. puseram sérios problemas à fil95,ofia políti~a . . Da· mesma maneira que . ;_ et~ologia, 89 . . • ' . -:--:-:--:-· .. · -~ ..,· -·· : "';.' ' '· ... -~• .. ll~ '"' '"t'••· :-· ... · ·.-· .. ~ ·· .. ···-· ..... -- -· ··- · 1 (' r r e r <: e r e r ( r ( , \ · r ( · ( ( ( ( , r ( (. ( ( · ( ( , ( ( , ( , ( ( ( ( - UJ j;.;_.;; ,:.'.( - r; -~·5 -GD ~:->: -rr. -~·· {~~_; f:~ -('.~: -81 - ... ~ .... observando os t?stumes de povos diferentes, anunciou o rela.tivismo . cultU:~al, a c1encia e a socio,logia políticas .inv,alidaram implicitamente a filosofia política, na sua vontade de descobrir, como fa~ia Aristóteles, as condições através das quais um governo poderia tornar-se um bom governo. Enquanto, tradicionalmen.te, . a filosofia tinha como missão corrigir ou, pelo menos, contr,olar as paixões .humanas, os estudos err~píricos não cessam de denunciar uma tal ilusão. A experi&ncía é erigida à dimensão de prova e a: hist•Óría conquista a dimensão de uma religião revelada: Ao mei;mo tempo, essas ciências .tornam-' se ~egas ao passado e · o futuro resume-se a uma simples extrapolação das tendências constantes. Todavia, não se pode analisit o fundonament~ das sqciedades unicamente à luz das ciência~ políticas e da sociologia das organizações, a não ser qu~ se esteja disposto a ign9rar o reconhecimento do bem e do mal que foi sempre possível subverter, mas não esquecer. ·Por outro · lado, a sociedade e o espaço político não são semp're ' idênticos e demonstrar isso era uma das íncumbências da filosofia. A maior dificuldade d~ filosofia pblítica re~ide no facto de ela exprimir não só uma acção de conhecimento puro, mas também uma vontade de tornar inteligível o real ao serviço do '. seu objectivo próprio, que -é o desenvolvimento do pensamento. A prática filos6fica não é neutra, mas tende paLra uma certa sabedoria. Certo que o· soció~ogo ou o politólogo têm as suas ideias sobre o estado do mundq, não podemos negar que os livros de Carlos Serra ou os artigos de Elísio Macamo tenham uma visão deMoçambique sobre o que é aceitável e sobre o que . não é, mas as s.uas análises, descritivas ou explicativas, se querem neutras. Uma. tal neutralidade é imp~nsável para a filosofia que deve tornar explícito o que é implícito nos outros discursos. O critério <;!e juízo, no nosso caso, é o caminho em direcção à liberdade da qual emerge,. e1n 90 . ~. l · prirni!irn lugar, a africanidade «moderna» e, em seg~ndo lugar, o pensamento político .africano e 'depois a filosofia africana~ . . . Oin lugar comum reza que o lugar da po,lítica é a polis, a cidade. Mas quando se · diz cidade não se deve entender a dimensio ge~gráfica; os prédios, os escritórios, as embaixadas, pois eÜmínar-se-iai:n imediatamente muitas partes ·e., muitas. pessoas cuja . vida não se. desenrola · · naquilo · que tradidonalmente se. chama cidade. Os habitantes das zonas suburbanas e do . campp. não sedam .contemptados numa t~l defi~ição~ A p~Ütica terii a yer com. .o espaço (?nde as pe.ssoas vivem, com o ·domínio . público, o lugar onde i. os cidadãos se . encontram para · deÜb~rar. Isto pode ser nos . prédios do Màputo, na: . chique avenida . Keneth Kauncla, no parlamento · ~tposto ao barulho da parte babca da avenida 24 de Julh.o, mas também pocle ser numa· palhota, de:baixo de um~ árvore, etc. O essencial não é o .lugar geográfico, mas o espaço: simbólico e de significação. Is~o .qu~r dizer que ()conteúdo da deliberação é ~e . longe . màis importante que .o lugar onde essa · deliberação se realiza. Mas se essencial ·é o' conteúdo, sobre o que é .que os cidadãos deliberarão ·? O debate .público . é· caracteri:<;ado por; duas coisas essenciais : prim~iro, a· organização desse debate e a maneira · . de concluí:lo com um acto de poder, segundo, a gestão da cidade e oi; objectivos' que lhe foram confiados. A organização e a maneira cpmo os cidadãos podem: . participar no · debate p{tblico é já, em si, .U:m ·acto .político. Por isso, a capacidade das normas. ele traduzirem a:. compreensão . elas· pessoas, de responderem à maneira como as pessoas pe~c::ebem os próprios problemas, a criação de mecanismos jurídicos sF'ceptíve~s de traduúrem a sensibilidade das ·. pessoas e a sua futura pá.rti~ipa~ão nos de.bates poÜticos con~titui o primeiro acto pc•Htico elo· qual vã!) depender os restantes. _: ~ .·.·:· .. ~.· ~:~ -~ .~.:- e .. . : ·. :' .~':". ~·:-.:··: . i :-:" ..... ':.~-::- ~~. :-: ·"· "";~ ·-. ·~ ~~:;.t :·: ... ~ ~ - -~.-~--· .. ,. .... , : .. ::"·r ·~ ::· i ".';:· ··-r-:·:) ·.· =-~ .. : ·::~· ·~ :~ :~:-.; ~:--:---:: ... :1~~~'~.~:--:··.-:.-"; "·'.r: ·. ; ~ l . . .. , ' ... : . . .. • . . e ~~~~~~~~~~~--~~~~~----;-:-~- r Por outro lado, . uma · « cidade » fixa objectivos, que correspondem à sua manei~a específica de · se perceb.er como comunidade, o que corresponde (ou deveria corresponder) aos valores que se fixam previamente e . aos objectivos que pretendem atingir, que · não são iguais em. todas as comunidades. Na estrutura mesma do político, têm uma importância primordial a organização 'do debate, os vafores e . os idéi,as sociais de uma determinada comtinidade política. As questões tradicionais da democracia - como fazer para que o poder da maioria .seja acompanhado pelo respeito pelas minorias; como fazer com que a iglialdade geral de opiniões no . .debate público não .se transforme em desprez.o pelo conhecimento - tem que se acrescentar uma outra : ç:omo fazer com· que as sociedades modernas nã·o se transformem num espécie de «Jerusalém celeste » sol?re as quais as sociedades « pré-modernas » têm que se modelar ? A modernidade introduziu a autonomia . do campo · político, o que .quer dizer que ele não pode ser governado do exterior. É necessário e.vitar que· essa . conquista · se torne monopólio de certos estratos da humanidade em ·detrin1ento da outra parte · que não teria possibilidades de ·propor objectivos e modelos de sociedade que lhes são próprios. ~ ·· A filosofia política tem a . função de explicitar as regras da democracia e a definição da organização do políti~o, quando o regime é ameaçado do .interior ou do exterior, e.·de salvá.-la contra ·quem a coloca em perigo. , A explidtação da democracia . não se faz a partir da fabricação de conceitos absttactos, da dedução lógica e racional das ideias. Ela tem que ver: com a constituição de t\m espaço político, que só po~e se;r fei.to ·a partir das diferentes compreens.õ~s _culturais dos grupos e dos povos. As sociedades com mais experiência democrática poden,:i partilhar confoosco as suas experiências, Irias ~ão ·podem servir de modelo porque · as modalidades da racionéllidade ocidental são historicàmente 92 .. .. .. : .. · · · ·· ~ " , ' .... · .. · :· .... · ~ . . ·. ·_ ·:;:, ·: ~- ~.: :~ ~ ·..: .. ,,:~ ~ ...... ~ ·.:- · ~-; : :~::,:·~··~ ·- .· . . · ... ,· i: . ,. '. ' l. ! " ' . . 1 : . . ! • ; ·' r · situadas e não susceptíveis de· ser levianamente transferid~: para . <;mtr~s · latitude5. Aliás/ isso levaria a um genocídi<C' cultural de toda a ~imens~o política de_ que todas as cultura! (' · são portadoras. Ocorre cnar as modahdade,s de participaçãc política a partir do substraCtO político e cultural dos po~OS E dos grupos. Í Depoi_s da .escravatura em que ' todos os princípios ( humanistas. e de bom senso foram vi9lados, passou-se ao colonialismo e, · logo a seguir, às guerras ditas civis, mas de 0 fact() pilota~as do exterior. Hoje estamos num quadro cómico : (" cooperáções, embaixadas, · organizações económicas inter~acionais . sem n~nhuma legitimidade . política. apresentam-s.e, em nome da· d~mocracia, como defensores e ( garante.s dessa democracia. Assim, a legitimidade política dos actores políticos não tem nada a ver com os povos, nem com l os seus valores~ ~as com o beneplácito . da comunidade internacional. ... A filosofia : deve relevar' . a ameaça à nossa soberania que prqvém dessas instituições: : e A filosofia déve opor-se àsi ameaças interm1s r representadas pela . tentação . de certas pessoas . e grupos em e reduzir a política a um campo de defesa de interesses . individuais e pal'.tidários, em detrimento , do .interesse geral. (' Por fiui, contra o economicismo dominante, a filosofia política ·deve r~afirmar o primado do político sobre o económico, da delibei:ação pop~lar sobre os índices das 'bolsas de valor. (' . O Si~pósio da ACAFIL· de 1999 p~~tendia antecipar a (' natui:eza dos problemas que .iriam supost;i.mente norte·ar as eleições que se estavam para realizal'., e subordinava . a . su.a previsão aos principais resultados e ao desempenho dos eleitos (' na . legislatura · :que estava ·. p~~a ·terminar. Julgar-se-iam os c.andida~os, o. governo que chega~a ao termo do seu mandato e a~ suas promessa~ eleitorais em função elo seu desempenho na · (" primeira .le.gislatura da segunda República. Em consequência, ocorria analisar o (}ue tinha siclo, ~ssa legislatura em função das ( 93 ........... ~ ,. . ·! : , ·;·.··· : · - ~ :.~ .. ! "' : ,- ~ '· .. ·"'.'··::-..- ~ ·. : :..r~ ··'";'. ·:" ~ -r ~· ~· ::~:~~: · > ~· . ( I l / ( ' e ( ( 1 ( , ( 1 ( í 1 ( ' ( ( ( ' ( ( ( ' r. ( ( ( ( ( I r ( . ( 1 ( ( .·,_ -1 :::: ~ ·- r:; ~ ,: •. ; t ~ :;. : : ~ - ... : .~ :.: :: :::::~· ·- p .. _ ti.;: - 81 ' , . ~:-.'.~'. ·- - 8 Li~ ·- - r.T: ~ .'i <=' - ~ ::/~ ~ .:>.: ·-· f; - ~~;r '""" 1: ·.· - l:!i , ... ,. §'~ { :) ~ ·:: :::.:· ·- · rn -- :d:: t ::; p promessas precedentes, . das expectativas dos eleitores no momento das el~ições, do grau da sua reali:zação pelo poder, m as ainda rrnais importante, da capacidade dos eleitos de acompanhar as metamorfoses sociais, _de interpretar. e cl.e(ender adequadamente os interesses dos eleitores. O que é que a.s populações esperavam elo governo durante o período de 1995 a 1999? Foram essas expectativas satisfeitas ? Uma análise filosófica sobre o .;< objecfo» Moçambique tem, necessaria~ente, que partir das análises situacionais e locais e estas são . feitas pelos cie11ti~1tas da política. O olhar filosófico não se pode limitar a elas, pois, e.orno vimos antes, .a filosofia não se pode contentai." exn dizer as coisas como estão, mas tem a pretensão de dizer coJ:n<O é que as coisas deveriam ser ou estar. "·: :{ :·. · · As análises dos soci6logos : ~noçambicanos e estrangeiros sobre as votações moçambica.nas ae 1995 foratn unllnin'leS em . afirmar qu.e nós fomos votar pelo .fim da guerra. A . adesão massiva das populações às eleições da primeira legíslat:t.tra da _ segunda República foram interpretadas· em uníssono como sendo uma acÇão popular orientad~ para sancionar e legitimar o fim do conflito bélico. Se aceitarmos este facto como p~stulado de base da nossa análise, temos que admitir, a priori, que a primeira legislatura cumpriu com O· mandato q~e lhe foi confiado. Durante os cinco anos que se seguiram à.s eleições; os deputados da Frelimo e da Renamo respeitaram o mandato que lhes tinha sido confiado pelos eleitores. O governo g<;>vernou e a oposição . tentQtl fazer oposição no respeito pelos papéis . democráticos que lh es tinham sido confiados, sem nunca exceder nas suas prerrogativas, mas, sobretudo, respeitando a necessidade de prosseguir o conflito ~1ue os opunha em termos políticos e no respeito. de um certo.n,úmero de regras ditadas pelos acordos de paz e pela nova constit'uiÇão. Este facto é tanto mais importante quanto'·à nossa volta. · os outros países africanos sossobravam em velhos e. novos 94 ,· .. : .. · '• ' , •. i . i '. conflitos . . No Ruà~da . ou. no Burundi, no Z.imbabwe ou ria Guiné-Bissau, ri.a Co$ta de Marfim ou em· Angola, existe a dificuldade em enterra:r o que Hobbes chamava de '.« estado de guerra» e passar para uma situação, que eu não. chamarei de _ guerra por· outros meios como pretende Iyiaquiavel, mas o esforço de re-tecer do tecido da irmandade sei.eia! - para utilizar a l.ingttagem que prodeligam . nas suas relaÇões recíprocas os presidentes Chissano ·e o chefe da Renamo A. Dlhakama. Esta ho~enagem é. extensiva aos antigos militares, às comunidades que se flagelam di1rante os anos d~ conflitos xP.ilitares . . ·. Nes;e mesmo .Período, o . processo de.mocrático e de ' reconciliação foi . acrescido . e aliment.ado l pelas ' primeiras . tentativas de criaç:ão do que commumente se tem chamado de sodedade . d vil : . nasceram novas .. formaçõ~s políticas, mas sobretudo organizações .cívicas e sociais ; as igrejas começaracn ~ participar em actividad.e:S de. carácter cívico, educiitivo, sat~itário ; nasceram . organizações · 'de jo"(ens e de . mulheres ; surgir.a~ u,niversidades privadas, imprensa .' indepei;:ldente e· liberdade de opinião. · · . A isto .se deve juntar o crescimento econ6mico (PNB); o restabelecimento da· rede económica e come~cial, · lançou-se o processo de desminagem, a · ·reconstrução da x.ede. de · comunicações, a . _luta · co.ntra o que se . chan:i.~u ·a pobreza absoluta. De uma nianeira geral, ·. ·no Moçambique de i:999 respirava-se paz, . uma .certa t~anqullidade, ~ma yontade de participar, U:n:i . certo cres~irnento económico~ 'uma melhoria nas·· condições ele vida das populaçSes, etc. · Urna yez mais, se fizermos · fé naquilo ·que segundo os .analista_s . políticos · era . o .mandato do povo, a ·primeira legislatur,a da segu~.da República cumpriu quase integralmente com o ma.ndafo qu~ lhe foi ·confiado. Contud<>, dois problemas cruciais surgiram dur~nte a legisla~ura e merecem uma atenção 95 .. .. ·~ .... : :·~ t · :.- .'~ ~ ~~:: ··.; .• !.'. · ~ : ~ ....... ·:: :. ;"! ':' .'"!'-·.". : ··~.·~ · ~-!O':· ~ · ... . : : -.. - · · ~-: .. ·· · : ·.:-:~ · ;o- ~·4\'•'• ~:i:::- :.·.~>·.~: :: :-~~ :"' '" . ..- ·-.7:--7.".-.· !':'·7~~--: ~:·_ · .. ·-.· ... .. ;. ··: ,:.··· .· .. •. :-.· . _·. . '·.,_ · .. . ...• ,_,. .. . ~ ~ - G --~~d ·-~ ._. ~ :1~~: '· ,, especial dá nossa parte: tim económico e outro políüco (:a · organização dos podere~ públicos). . No decorrer da . legislatura nasceram nas c(iferentes c~munidades m~çambicanas novas exigências e problemas, ligados ao processo da transformação em curso. Isto não anuléi em nada o 01 priori positivo da prixneira legislatura, .mas oi; actores políticos e a qualidade de uma legislatura não se podem limitar ao cumprimento linear e lato do man&ato popular, pox· mais importante e substancial ·que a pa:z · possa ser. A legislatura e os actores políticos devem também ser julgados pela s.ua capacidade de interpretarem as necessidades « movediÇas » das populações que, por· sua vez, dependem de mutações sócio-ec~nómicas e mesmo epocais e históricas que bruscamente invadiram a vida das populaç.9es. As épocas históricas deix~ram de se . poder contar em décadas: o que levava anos a ser feito no passado, hoje faz-se num curto espaço de tempo. ,A.s mudanças rápidas a que somos submetidos pelo avanço tecnológico (internet, televisão) que nós não dominamos, a aceleração do processo global que nos é imposto pela economia-mundo (privatizações, progJ:amas ·de FMI e do BM), as transformações políticas regionais e internacionais (SADC, CPLP) que respondem a imperativos financeiros, fazem com que as situações reais das populaçqes sofram metamorfoses demasiado rápidas. . Neste contextQ de aceleração histórico,-temporal, aquilo que no meio dos anos noventa era o único objec1:ivo das populações - a paz ou pelo menos em nome da qual se 'mobilizaram para votar - sofreu \.\IIl.a metamorfose. enorme, . ligada à dramática mudança da estrutura económica do país;. Os actores políticos devem ser julgados pelo cumprimento do . próprio ~andato, mas também pela capacidade de defenderem ' os interesses dos seus eleitores. Tanto mais que a constituição moçambicana não prevê quase nenhum espaço de· intervenção das populações (como, por exemplo, referendos) · mesmo ·nos 96 '·. • • t ~ ·=.~ . 1 .. • 1 • ·. "'• ~·· -:. ••· • :: · •• :- , . ., ... ·:··:·:;- ';'-· · ~ -:- ·: ; ·~~ : ::::--:--:-:: · ! ... . ,. ., . ~ · ~ .. 3i:ap.des. dossiers nacionais ligados; . por exemplo, às privatizações ele bens públicos de importância esi:ratégjca, 1~àqt.iilo que te111 se chamado a venda do país ou a mudança radical da es.trutura económica do país . . A conjuntu~a mundial, dominacla por imperativos econó~icós, exige das elites políticas e económicas nacionais r uma din~ml.cídade de espírito e uma clarividência capazes ele (' lhes capacitar para , agirem em · funç.ão dos interesses das p'opt:ilações, dos eleitor.es. · · No decorrer . da primeira. legislatura, o elemento paz, sem nunc~ pen~ei: a .sua importância e primordialidade, foi (' . rapidamente igualado e mesmo ultrapassado pelos imperativos l económiços ligados às mudanças radicais q~e se operaram na . gestão do país e na sua orgari.i:zação _social~ O pei:íod~ ç~a (' primeira legislatura foi marcado pela mv:i:~ao da tendenc1a 1 r económica de natui:e:za distributiva e plamficada e d-e toda a l 1Hmensão social . que a acompanhava, para unia orientação (' individualista, concorrencial e toda a dimensão de violência ~cicial e .de competitividade que a caracteriza. Isso .trouxe r c.onsigo . uma . mudança rà..dical, não . ~{> na' · o~gani:zação ( económica, mas .também. na estrutura socu~l e relacional. entre · o~ cidadãos. , O período da primeira legislatura.' coincide . com · o incremento. dos investimentos estr.angeiros, sob a forma de ·empréstimos com as con~qu,.ente.s '.imposições de polfri~as poi: p~rte dos organismos internac~onais : paí~es estrangeiros. ~ · ' acumulou dívidas colossais e foi ·obrigado a proceder a ~u . ·. . h privatização de · infra-:estruturas qu~, 1 até então, tm am . simbolizado .· parte da identidade nacional • (basta pensar na indústria do caju). · Não· faço . um juízo . de valor. Constato . • · 1. ·. nte que o povo não · só não era consultaclo na. simp esme · . . . . . . . - d transformação radical da so<;ied.ade e . ·na . pnvat1zaçao os ~spaÇos de importâllcia vital, e s~~b~lic~· O que sob o ~ont~ ele . vista ·político .me parece problemat1co e q1:1r o povo nao tmha 97 e e e -~ .. --r. -..... . -- ""';~-;---·-;::··,--. -·-.-~-~·-. 7"·~ _ . .:... ... ! , ·- .. ; . · ··· - . ... ...,..._-,.- ....... . - ---·· ·. , ; .. =.- ' r r , [ · ( \ · ( ( . ( . ( ( \ ( e ( ., .. ~ __ ...... ~ ·-e: - IT: [.:.: nenhum mecanismo de . participação, nem sob _ a forma de referendo, nem pressionando os seus· eleitos a defenclere1:n os seus interesses e a sua visão da sociedade. A esta défice jurídico e constitucional deve-se acrescentar as dificuldades nacionais em tet1µ.os de comun'icação (televisão, . rádio, jornais), o nível de analfabetismo elevado e, ainda . mais importante, a discrepância entre as concepções político-culturais das populações e o tipo de democracia est,abelecido. A questão filosófica que se põe é a seguinte : como fazer com que a democracia · não se transforme num jogo ele elites·, que a maioria da população possa, de .facto, participar çom conhecimento de causa, não só através de um boletim de ,,;ato , de cinco · em cinco anos, como uma assi~atura de. cheque· em branco para as elites políticas que Se sentem legititnadaLS a fazer privatizações que vão em detrimento do povo que nelas depositou confiança ? · Se quisermos ser mais explicativos podemos. dizer que três níveis ele problemas manifes~aram-se no desenrolar-se mesmo . da primeira legislatura : o papel . do novo est:lldo moçambicano na nova sociedade moçambicana, . a questão da represent~tividade e a . soberania n~cional face à comunidade internacional. O papel do novo Estado m0Çan1bicano na nova · sociedade moçambicana . . É de uma evid&ncia «a la palisse ». ql.\e a .natureza . do Estado moçambicano da segunda República é radicalmente diferente da nat~reza do Estado da· primeira Repúblic~. Na primeira República; os fautores e os executores da política estatal conheciam exactarriente o lugar de cada um e o que tinham que fazer. Podemos dizer que o Estado moÇambicano, pela sua natureza libertária e sócialista era, ·não direi . 98 ' ' pr~videncialista: mas distributiva. O papel de cada funcionário rlo apa•elho do.Estado, deste o ministro até ao servente de uma escola primária, e"ra estar .ao serviço do · que ,se ·acreditava ser o interesse dos . moçambicanos. · O Estado 1 ~oçambicano era í.mplacáv.el contra tudo que, d.e longe ou de perto, se. parecia com. a corrupção, desvio de bens públicos, tentativa de emiquecimento pessoal, acumulação individual, ~te. ·Os valor.es moçaml;>i~anos eram contar com as pr6prias forças, o amor· pelo trabalho, o direito à esco~a, à educação, à saúde ; era 9 . facto de que é~am.os socialm~nte responsávei's uns pelos outr~s ; era . . a luta · contra todas · as formas de ~iscriminaÇão, qtier ela ,fosse de raça, de etnia", de tribo, d.e região', 'etc. "Estar ao serviço do 'nosso po'vo era um valor, participar na construção de Moçambique atra,vés do tr'abalho e dedicação era um valor. Estes valores constituíam o essencial . daquilo que era ou devia ~er o ·Estado. Esta era a maneira através da qual o Estado. estava (ou pretendia estar) ao serviço das pop~lações. . . . .Ma~ apesar das intenções excelentes, · e'sse Estado era habitad·o por c~ntradiçÕes 'intrínsecas que acabaram anulando a · grande%a dos objectívos precedentemente anunci~dos. A dinâmica participativa estava ,subordinada a uma ideologia . tuiilater~l de uµia · única família poHÚca, que ~e anogava deter a única visão justa .para· a construção do país. Essa ideologia políti~a é compreensível 'no, .quadro da divisão d.o mundo que então $e ·viyia, ape5ar de. a Frelimo se ter.visto .forçada a a4erir a .um dc;>s lados sem e~tar n~aessarÍamente C:ortvençida· do .bem fundado da sua·« opção » Ídeolqgica. Ali~s, .esta tese encontra uma confirmação na adesão sem reservas da maioria d~ class.e política de esquerda: às teses. e às · posiç~es ultra;liberais que repentinàmente· irromperam ri.a. vida social moçambicana durante o início da segunP.a República. . . . . . De·um dia para o ou:tr'o .as ~~isas mud'aram. Era como se, de repente e sem aviso :E>tévio, nos encontráss~mos diante de .99 . . ,• .... • ' " .. , . · ' ·, '·-: -··· :·. :.,,..~_. -: <:~-;-·J ~.:-;_ ~· :~:._::- '.· · .... ::.~""::>;;-'"7:-'• • 'T ~"'·:· ·~· · ~ ·-~:'"".~-.· :,::- : ··:7.·~· ---: M' r.--~·:~:·; ~-·-= ~'. · :~ · ·:\· ·:·: 7' ~ .. .:-:-·rr: ~~ ':""'~~· ... :"'~~~· .. 7·:-;-:·~ - -.: ··:· · ... ~ · · ... · · · - : ~ ""'1'' ' ' -· ,\' :\ \'"f iEt Gr~ ·- u; ·- ~ -- H~; ... · ' ., '· uma passagem de ·nível sem ·guarda. Nesta muclança. que corresponde à mudança das relações de força n.a p~lítica mundial, a sociedade moçambicana viu-se, de um. dia. para 0 outro, radicalmente mudada: de uma economia 'planificada para uma economia selvagem .. Não digo lihera.1, ·digo selvagem, porque o liberalismo tem ·regras. Por exemplo, ·se o pressttposto é a livre iniciativa dos indivíduos e a possibilidad~~ de concorrerem uns com os outros .(Bentham.), a situ:ação moçambicana não se prestava a isso, c1uer po~que: as populações_ não tinham formação. e informação, quer porque não tinham os meios financeiros necessários para entrarem neste tipo .. de economia. Abanc!onar as populações de um momento para o outro ao volante de um· Porsche que vai a duzentos quilómetros à hora sem lh~s . terem previamente ensinado a conduzir, significava condená~los inevitavelm1ente ao desastre. Todavia, esta nova política, co~o ~líás a precedente, tem que ser julgada sem apriorismos nem romantismos de todo e qualquer tipo, . mas à luz do p~radigma lib~rtário. Se elá é càipaz de incrementar o espaço de bem-estar para a maioria dos moçambicanos - os objectivos morais do liberalismo como1 foi pensado pelos seus paill ·era .trazer a maior felicidade para o maior número de _indivíd':'-os" o que corresponde ao conceito grego de eudemonia-:- então temos razão de 'defen&ê-la. Se não, ela tem quer ser severamente criticada e combatida. · Ora, a · mudança política e ec.onómica comportou uma mudança nos métodos de· . governação e nas prestações dos poderes públicos. O" Estado-da primeira República pecava pela sua . pan-presença. Ele decidia pela educação, pela saúde, pela moral pública e individual, pela justiça, pelos v~lores individuais e colectivos. E para isso combatfa os alicerces • individu.ais e culturais dos i:Í\divíduos e d.os grupos. A s~gunda República· tomou uma postura i.nversà. Ela peca pela sua ausência. As populações não sentem no Estado ·- . . . . 100 : .. · ~ . !• :· . . j ' • ',. ~. ' . ~J · • .. {. '" · . . . .. . :., .' · desde as instâncias mais elevadas até ·ao servente -1e. . u um.a ·: escola ot.t "dum hospü:aJ. . - «uma pessoa jurídica ~~ que está p:cesente e , ao seu serviço. O Estado ficou « dól.;,r-crático ». \ Tudo s~ faz em função . do rendimento, do ganho, das . mordomias . . O funcionário <:lo Estado transformou-se de (" servidor público em servidor de si próprio, ínst :rumentalizanclo (' · o privilégio que o seu lugar lhe concede. O funci~nário não 1 serve : serve..;se. Esta situação .está em discrepância com a ideia que as l'~pulações .fazem de um funcionário. A ~deia q,_,e as (' pessoas tem .de um professor ·é de um · homem que é um~ i·ef~rência. . p.é!ra . as . populações, não · só pelo ~éu sabet, · ' ~mas (" t~mbém pela sua cond~ta moral. Ver um professor a vender notas e proy\is de exame é'., simplesmente escandaloso. · Ver 0 hospital transformado ·num comércio ia contra a ideia que .as populações tinham da . deontologia médica, mesmo sem •.:onhecerem o juranlento de Hipócrates. , Apesar do famoso cresciment~ económico e dos índices do PNB, a situaÇão qas populações piora, a qualidade do ensino piora. Aos jovensdá-s'e a conS"Llm:ir uma cultui.-~ feita de telenov.elas e · de slogans tipo « 2M nossa: tradição r,,os;sa cultura»>~ ou e1-itão <~ a ,nossa cerveja, a nossa maneira de ser e (' de estar ». o tratamento nos :hospitais depende de dólares, a r boa escola ·custa caro, todas as coisas a que as populações &e .· babco 11ão se podem permitir. Isto põe um problemà enorme de ( justiça, a nível distributivo e a. nível de sai-ição jurídica. ( Um dos primeiros ·sinais da ausência do Estado foi dado 1 •:iuando as' populaÇõe~ começaram a fazer justiça com as próprias mãos. Muitas vezes queimava-s~ um miúdo que roubara para comer, quando funcionários do Estado e outros desviavam coisas muito mais consistentes - esvaziaram. l.iteraimente os cofres . do Ban~o A ustrai, venderam bens essenciais do Estado a estra~geiros ou que têm 500 mil dólares· para comprar apartamentos . :- e eraan indemnes . a qualquer sanção. Esta.violência soi_::ial, ·porque é disso que se tira.ta, tem 101 r (' \ \ ( e que se.r analisada em todos os seus parâmetros. As populações começaram a ser violentas. Podemos dizer aue os rtliúclos clà rua são v~olentos, há assassinatos na cidad~, assaltos à mão armada que culminaram em violênc~a;.~spectáculo, com ·a rriorte de Carlos Cardoso e de Siba-Siba Macuácua. Todavia, toda esta violência pode ser conduzida à « dólar-cracia » : a instauraÇão do dólar em valor supremo da nossa sociedade. O fi.m, « dólar » 1 justifica todos os meios. Então, ao mesmo tempo que o número e a qualidade de carros e casas de luxo aumenta na cidade, as viagens para compras · . na RSA, . na Suazilândia e mesmo Portugal aumentam, que se multiplic:am as viagens para Dubai, para bronzear-se no Estoril ou para o C~rna·val no Rio, o número c.l~ pobres, de miserávei~ não cessa de aumentar. O nún'lero de doentes que morrem de malária devido à falta de sanea1nento de meio aumenta. Assim, . a , segunda República muito depressa oscilou ela democracia à « dólar-cracia ». Com a passagem da primeira à segunda República, deitou-se fora a água suja e o bebé. V àlores verdadeiros para qualquer sociedade foram negligenciad:os, deliberadamente omitidos ou mesmo invertidos. . Durante o período da primeira República nós cantámos que a linha de ordem do nosso povo era a unidade, o trabalho e a vigilância. Podemos perguntar se est~s valores não têm ~odo o seu lugar no Moçambique de hoje. Em que é que a unidade · pode ser identificada com um regime político? A unidade do. nosso povo, contra o tribalismo que está em voga, o regionalismo e o .racismo não constitui um: valor essenc~al p:ara o Moçambique de hoje ? O trabalho, o facto de contar com as própr~as forças, num mundo de a.>sistÍdÓs e objecto das. ajudas e caridade internacional não· é um valor a · cultivar ? A vigilância contra as · divisõ~s, ·com 'o perigo de recair no colonialismo, na dominação não é um valor a cultivar e a defender? 102 . • .. : . " De fac~o, a fale~ desta vigilância condena a maior part~ da população, os mais fracos, a processos que recorda;m muito o que era a,. época colonial, mas sobretudo distancia o Estado da sociedade. Vale a pena r~cordar o debate por.tuguês44 em vok.a · da Sociedade de Geografia no fim do século XIX, depois do · ultimato cjue a Inglaterra impôs a Portugal. .Homens como Eça de Q.!ieirós pen.savam que Portugal de.J.e:i:ía desinteressar-se dos « selvagens» que viviam na colónias. Aliás, Portugal . tinha-se mostrado mau colonizador e isso só. lhe tinha valido · · . frustrações e humilhações, desde a perda do. Congo a favor do~ .· belgas até ao ultimato britânico. · Contra estas teses, jhvens como António Ennes defendiam que . era necessário ter colóni!as rentáv-eis como moeda· de. troca para melho.r integrar a Europa. Para isso, Portugal teria primeiro que pacificar as suas terras, controlá- las com militares e com ~ administração, e assim poderia dizer aos parceiros. ~ . tenho . . terra para cultivar., militares para defendê-la e, sobretudo, pretos para trabalhá'~ª· F;ra o início do trabalho forçado .que · .acabou substituindo a recém . extinta . ~scravatura pelo chibalo que. faz da colonização portuguesa uma das mais . cruéis e os ·povos de Moçambiqu~ dos mai.s sofredores.· · . Qyando vejo certas práticas a q~e se pr~tarn certas elites. :. moçambicanas, como acordos de par.ceria ~om eni.presa.s ou indivíduos sem escrúpulos,. acordos q.ue não; t&n em conta os interesses · das populações, pergunto-me · se o discurso ·é: ·. diferente. ·do discl.irso de Ant6nio lEnnes. Mas, sobretudo,· o . 1 ·risco . maior é c.ondenar as populações mais fracas do nosso povo ào· novo chibalo, evidentemente ' com a nossa cumplicidade. 44 Andrea Bignasca, La sing~larità terriqik dei colonialismo portoglr~e : -il . dibattito dellaSocietà dí (Jeogrâjia. Roma : Arma:.ndo; 1971: 71-82. · · . · . ~. 103 •·. 1 • • • . ""' : l • . m ·. - ill1 §i ·. _ __. : . ··- " \ ' Aliás, não é a primeira vez : todo o .sistema de dominação do nosso povo contou sempre com· a cumpli~idade de, ~rup~s entre nós. · A escravatura . foi facilitada. por certas vrat1cas internas pela cobiça e sobretudo pela falta. do sentido históriço, pois quando o momento chegou vendedores e vendidos tornaram~se todos escravos e colonizados. A falta de ·sentido histórico seria pensa.r qt.te nós, pequenos grupos, constituiríamos as excepções ele um pi·oct:sso neocolonial no qual somo~ .ºu podemos ser cúmplices. Se a questão é dinheiro, então s·omos mai~ baratos que os nosso p;edecessores. Temos que lembrar que' um espiI~garda no seculo passada era mais difícil de construir que um IVlercedes hoje. se-,~em~s que . r:a_s ve~d~r para obt~r Um carro, iemo~ 1que pensar nao so. na tra1çao htstorica para com os nossos e a causa negra de ·uma maneira geral, mas também no preço dessa mesma traição. Podemos considerar que . a Frelímo traiu a sua causa ? Aque~a mesma Frelimo qu.e era co~tituída por rapazes . e raparigas que estavam di~postos a morrer todos· os &ias ~urante dez anos em nome da liberdade do nosso povo .? O qu~ e que aconteceu? Aos ve~cidos não se pede opinião._ Não foi, ~m primeiro lu&ar, a Frelimo que ·mudou. Há um facto que ninguém quer reconhecer, ·mas· que é fundamental para entender 0 Moçambique ~e hoje e as circunstâncias das ·nossas . vida:5 e ac~ões. Se raciocinarmo~ em te~os libertários podemos . afu:mar de uma maneira apodíctica que face à intransigência e ao anacronismo ·histórico do fascismo português · n6s 1 . d b . ' ' co omza os e em usca da liber.dade.:.independência, fizemos u~~ guerra justa e ganhámos. A guerra não .foi ganha militarmente, mas o terreno de batalha não era esse. O terreno de batalha · era político e foi ·um acidente histórico de • responsabilidade portuguesa que obrigou Moçambique e as . outras. colónias portuguesas - · fossem a excepção no contexto 104 .. , .... ,:-: ... ··· ~: ... / ~ : .... ·:::: ··:·· ~- :" ~. '." " · · .. -.. ;-.. - ·•· t : '· ~· · L ' . .... . 1 , . . . ! . ; • j. ' -~'· .r- ' . ·: ~ . 0 (' africano · - a . pegar ·em armas. Ma~ com . o 25 ·de Abril ess; <' anomali~ histÓrÍCé! foi corrigida e abd~am-se as portas para a independênçias polítiCas das então colóJ;lías portuguesas. Na .Dimer1são moçambicana da consciê11cia ltistóri.ca defend que a Frelimo não escolheu o comunismo: foi-lhe imposto po ( um processo histórico-político: Agor.a, :tristeme~te, tenho qu r defender .que o liberalismo selvagem em curso não é tambér resultado de um escolha, mas da. derrot3: na segunda guerra. D ~ac~o1 os objectivos .·libertários da primeira guerra .forax: (' derrotados na segunda guerra. · (' O período ~ue :t-~i de 1945 até 198_9, ~omo _já_ se escreve \ enormen.:iente, fo1 clo~mado ~elo confhto ideologtco que opô ,_ o bloco: chamado . ele esquerda ao bloco de direita. N á entramos neste conflito pela janela da nossa vontade de no r libertarmos 'do colonialismo.A prova da nossa · participaçã 1 periférica está no facto de termos pàrado com a guerra ri momento me~.mo em que· os · generais R.. Reagan e lV (' . Gorbatchov assinaram o armistído do fim das_ hostilidades . . 1 r ·g~erra ~erminou com a vitória do bloco da diréita . . Dado qu ( nos es.tava1nos no bloco da esquerda, pe['demos. Temos que te ' a coragem de dizer que se ganhamos a gue:n·a de libertaçã . (nessa luta nós · estávamos no· sentido da história, contra ( ~riacronistno hi~tórico do ~olonialismo português), perdemos · segunda guerra. · . .. Ô fim de todas as ·. guerras é concluído co.m « actc cívicos» · nas q~ais as p~~te~ s~ encontram, com. aparent r cortesia e mesmo cordialidade, bem v~stidas e engravatad~ \ ' para o processo d.e 'diálogo. Na realidade, trata-se de ur encontro humanam~nt:e duro e humilhante para os vencido. . durante o qual os vencedores. dit;am as suas condições. No panorama· geral do conflito da 'guerra fria, a princip• discussão do armistíCio foz-se em Helsínquia e te,~e com protagonistas principais Reagan e Gorbatchov. Assinado documento principal, . deixou-se que a resolução 'de detalhe e 105 ~~-.;.-: ' ';-..., ":' ·: :. , .. . ;· ·<~ .. ····· ~-.: = ::~. ····~·.· ;·-·~ ... (' e ( e -·D ( 1 --t: .:~:: ( J D:: -i=:::: ( l ·-· 8 .::: : :· .. · r - · ' ... :..: : p . ·- u:: ( ( G ( ' ~. · .. : ( ; i ~· { , ~:::;. ~ J:,::: e l ~· _, [:;~I l ( . .., ~ é '.: -:! 1: ... ( 1 -, ~ (" J · -~ (" ' 'i ~~ ( ·.~ í -·" (.7.' '( ;. f ·: ~ ·~ : ) ·; ( -.~ t .~L; :·i -- :~! ., ~ ( -i: ~:;~ e ) :;1,r;;; ( ~. -:·· ficasse a cargo dos burocratas ou dos oficiais subalten1os, mas sempre no espírito da carta fundamental. Isto explica que os acordos de paz moçambicanos tenham sido assinados numa insignificante comunidade d~ Roma sem t~adição nem prévia experiência política. · Se a Renamo tinh~ sido um .bom pequeno batalhfüo no interior da guerra fria, ·nós sabemos pela história que muitosgenerais e exércitos, indispensáveis durante . os conflitos, tornam-se problemáticos no fim destes mesmos conflitos. Basta pensar na sorte ambivalente que conheceram os soldados da armada invencível de Carlos ·V e de Isabel a ' . . ' Católica : heróis duran~e a guerra contra os « mouros » e peso e perigo para a m~narquia logo depois da guerra. Aliás, alguns historiadores 45 sugerem mesmo que Isabel, a Católica, teria dado uma frota Marítima a Cristovão Colombo, não obstante a opinião contrária dos sábios de Salamanca, como forma de se libertar de militares incómodos cuja chegada a Índia ou regressa · a Espanha estavam fora de quaisquer previsões científicas sérias. Os vencedores da guerra deci~ira1n que em Moçambique, a Frelimo -renovada -· nom~ que nunca tomou, mas devia ter emprestado da U nita renovada ~ fosse a melhor força polfrica para governar Moç,ambique. Co·m efeit:ó, a natureza do capitalismo é J:lão t-er tempo·. Dado que a estrutura administrativa de Moçambique tinha sido escangalhada e recomposta por esta força política; para o funcionamen:to eficaz e imediato de um liberalismo que em termos de eficiência e comprimento de prazO'S e datas é mais rigoroso que os sistemas de esquerda, o melhor governo seria 'º · ela Frelirrio. Dava-se a Frelimo o mamh.to de governar com orden s precisas : utilizar as p róprias estrutura.s para . 45 Pirlo Damaso e Stefarua Graziosi Cario V e Isabella, controversia corz i saggi di Salamanca. Torin:o : Einau<lÍ, 1975. 106 e~scang~lhar o munus socialis~a e colecti.vista que ela mesmo . tinha criado, introduzir o . cap:italismo cOµtra o qual tinl1-a lutado -' sistema ·que. tinha sido historicamente respo_nsável pela submissão dos·inoçambjcanos. . . Aceitaria a · F relimo destruir o · que ·ela mesma tinha construído -? Aceitaria dizer às pessoas que tinha· educado que · o horri.~m novo agora era o capitalista, que a palavra de ordem era acumulação individual, era a exploração d~ mais fraco ? Aceitaria a Vrelimo dizer que, : afinal de contas, ~ roubo e a desonestidade. eram ·valores?· Aceitaria a Freli1no transformar as funções .estata:is de serviços para o ~aior núme1·0 ei:n , . · lugares de ~pro_pr_iação e de acum~lação? Aceitaria a Frelimo · destruir . . a sua ·. lealdade coi:n os camponeses, . com os combatentes da independência ?. ·A ·. bola ·parecia esta,r no campo' da Frelimo: ou ·ela queria J)erman ecer coerente consigo própria e, então, reconhecia a sua derrota e reÜrava-se; ou então ela se metamorfoseava .e tornava-se um·a « Frelimo r.enovada », atac!ando o poder a todo . o. cu.sto. Existe; teo~icamente, ·a possibilidade de. a Frelimo "ter · aceite a sua nova condição como forma de r~sistir, na medida do possível, aos .. ditames 4os vencedores a f im de con,tintiar a defender os seus valores oríginais. . ·Então a ·Renamo estava condenada a :ser oposiçã9:? A nová mi~são do pequeno bataihão era ser U1T4~ pistola apontada à têmpera da . nova Frelimo, . governante. ~e a Frelimo se com.portasse bem, a Renamo ·continuari_a na oposição _ quer ela . quisesse ou n ão. Se a Frelimo se com portasse mal, a oposição premiria_ o. gatilho e a Frelimo saltaria. Só que a Frelimo mostrou-se mais liberal do . que era previsív~L. Isto leva-me a pensar que muitos socialistas da primeira ~epública n~o o eram por convicção, mas_ por "imposição ou por -oport_umsmo político. · . A putir do momento· em que a F relimo jogava bem o jog9 liberal, a Renamo transformava-se num ~spantalho que só . . . . ' . ·. . . 107 ~~ .. ...... . ---... ..-- -:·~ -- % - :·.= .. ~~ ~:: . ·-r ~. - , · -~( l ·-:-( : ., r"TI" : .... ·. ~" serve para afugentàr pássarçs. Mas as duas questões de fundo ·são : primeiro, a . Frelimo ultraliheralfaou~se estrategicamente como forma de _manter o poder (~ servir _os interesses dos moçambicanos) ou· como est~atégia de enriquecimento de um certo ·número de indivíduos ? Se foi uma . estratégia para conserva~ o poder, que fim tem o novo poder e gov~rn.o da F relimo ? Segundo : a comunidade internacional, virando as costas à Renamo e seguindo a estratégia da Frelimo; levanta o problema elo futuro da democráda e da sua legitimação em Moçambique. A questão da legitimação A participação nas eleições de · 199.4, mais do · que legitimar as novas forças políticas . em presença e ª. nova governacão nacional, era um assentimento que ia mais · em direcção da necessidade ·de terminar com a guerra e todas as consequências que ele comportou em termos de acentuação da pobreza, da fome, da imigração das populações do campo para a cidade, · etc. Mas, de nenhuma mancira, uma legitimação política. Com efeito, ninguém pode legitimar o que não conh ece, e nenhuma legitimidade é possível (legítima) se ela não parte e rião se alimenta do substracto m-ental, cult~ral e filosófico ·do povo que deve supostai:;iente governa.r e representar. Ora, as estatísticas mostram que mais ele noventa por cento dos cidadãos moçambicano·s não possuem os· apetrechos. intelectuais necessário.s para participarem, e por con~eguinte, legitimarem uma democracia, cujos paradigmas respo11de~ a pressupostos culturais f! históricos ocidentais; . Por outro .lado, todos os trabalhos de :história . e de antropologia levados a cabo sobre · as diferentes .c.ulturas moçambicanas (cfr. Documentos de ~ntropologia moçambicana, ;. Lisboa, . r996) mostram que. a participa'ião popular. na coisa 108 ' · ,. ~! .. : .... :·· ~ . . . ··· : ( r 0 r pública e os diferentes sistemas de goverp.ação das culturas (' nacionais, diferem e~ toda a medi.ela do sistema c~nstitutivo e . da organiz~ção dos poderes públicos actuais. . . Todavia, e não obstante . as afirmaçõe·s precedentes 1 as ( " eleições _políticas de 1994 marcaram o início ·de uma nova legitimidade políti~a, não fundada sobre ~ tradição ou sobre a r: for.ça da~ a:rmas, mas pelo princípio da s~beranía popular.A (" noss;i qu~stão será justamente de nqs interrogarmos quantoao í" estatuto político desta nova legitimação. . ' Em.Mo.çambique, o nascimento do projecto nacional est,á indissociilvelmente.liga:do aos nomes de Eduardo Mondlane46 r 'e. da Frelimo'. As 'luta_s dos po~os africanos pelas próprias ( liberdades, na qual se situa o pro1e:cto de Eduardo Mondhne e da . lFrelimo, inscrever.àm-se em dois 1novimentos históricos opo_stos. · O primeiro inscrevia-se e :fundamentava-se n o substra:cto cultural dos diferentes povos autóctones, bastando r · pensar nas luta$ ·dos I\.1acondes, dos Chopes ou dos Senas. . htluitas vezes povos di.ferentes, . mas . c~lturalmente afins e · geograficamente condguos juntaram . as forças pua combaterem juntos o colonialism.o, visto. como um inimigo comum. Toda via, por falt~ de uma estrutura orgânica milita:. e tecnicamente capaz .de fazer frente aos poder~s europeus; este movimento não deu grandes resultados em termos de: e liberdaçle, configurada como independência. . O segundo tem o seu fundamento na · históúa do mo;imento PaO:-africano . . que nasceu com •os · negros da diáspora i República das ·Palmeiras no sécµlo XVII no Brasil, (' Haiti de Toussant Louverture no século XVI II, os marrões da ~6Citado .. por Ngoenha, Para uma reconciliação entre. a Politica e a(s) . Cultura(s). Programa de reforma dos órgãos locais . (PROL), Texto de Discussão Nº j, Ministério da Administração estatal (MAE), Editaào por J. E. C- M. Guambe e B. Weuner,.Maputo, Agosto de i997 : 14. · 109 ( \ ( ) \ · e ( ( . r ( \ r (. ( , e { , ( ' \ , e ( , ( ( <: \ .' ~ - ::;.:( : :: ~ ·: : m; U;:~ ...., \ l G. ~ r :.~ :: ~ i: ~ : ·. ·-~ p; t·!": - ·:: ~1~~-; ~: Jamaica no século )GX, mas, - sobn~tudo, . as metamorfoses históricas e culturai~ dos negros nos EU A : São as din~micas pan-africanas e pan-negrista em tomo de Dubois e de Marcus Garvey que constituem a ligação ideolâgica de . . . integração do movimento "afro-português". A participação nessas correntes lil1ertad01·as (operadas, aliás, separa.damente, pela.<; duas organizações) acompanl1a-se do fascínio exercido pelo universo dos negros americanos . - as etapas de uma história, desde os horrores da escravatura à línha de cumes alcançada nós domínios do saber, ciência e. tecnologia, letras e artes, desportos. Um referente privilegiado do renascimento áf-riccr.nci47• Os primeiros movimentos eran1 · culturalmente homogéneos, tinham as suas delimitações geográficas e políticas bem definidas. As fronteiras traç~das ou reconhecidas _ por Berlim eram · para os diferentes povos, entidades g~o políticas demasiado extensivas, · mas sobretudo não correspondiam às d.inâmicas políticas próprias dos difernntes grupos nacionais. As entidades políticas forjadas pelos povos africanos (Estados, . Impérios) não paravam sempre nas fronteiras étnico-tribais, bastando pensar no império de (~a:za . ou no Império do Monomotapa. Contudo, a extensão de un:ia identidade política a grupos culturalmente heterogéneos ~i:a acompanhada por uma série de med.idas de inserção jurídicà, 47c· d ... . Lta o por NgoeLma, Para uma reconciliação entre a Política e a(s) C~t!tura(s). Programa de reforma dos órgãos locais (PROL), Texto de Discussão Nº 3, Ministério da Administração estatal (MAE), Editado por J. E. M. Guambe e B. Weimer, Maputo, Agosto de 1997: 15. · 110 <. . econ6~íca, · políti~a e ~ultural que se inscreviam nas ainat:nicas .. culturais autóctOJl,es48, Todavia, .nenhuma . destas dinâmicas corr.espondfa nem geográfica, nem politicarr+ente àquilo que os . po~:tugtteses cham~ram Moçambique. 1 . . Se a entidade "Moçambique~' era (como, aliás, todas as . colónias afric;~nas pós-Be~lim) demasiado grande sob o ponto de vista geográfico e culturalmente heterogénea em rela.ção às dinâmicas políticas aut6etones . ·a Moçambique e a .África, ela . era, . ao " contrário, demasiado reduzida .em relação aos .obj~ct~vos pri~eiros do pan-af:r;,icanismo que prospectava uma 11nidade ·política de todos os negros do mundp no solo '!ottkano (Delany, Marcus Garvey ) . . Os . ?bjectivos do' movimento Pan- . africano . foram~se reformulando sem nunca,. contudo, ren~mc;:ia~em ao obje~tivo. d.e unir politicame~te a. África, como testemunha a obra política e Hte.rária de K. Nkrumah l}frica Must Uttit, ·ou ·mesmo os esforços ~a criação de uma Africa federal de Duboi~ ou, ainda, de P~trice Lumuinba; Eduardo Mondla~e, com.o K. Nkru14ah ou Azikiwe, pert~nce por · f".rmação e convicção ao movimento Pax.i- a&icanó cujils ideias ·tiveram. um impact9' :considerável nos . anos em que ele viveu: e estudou .nos EUA.:·A prop6sito das origens da· noção d~ unidade africana, Mpndlan,e põe em evidência o papel precursor da liga africana, ·4.riada.em Lisboa, eIJl 1920, num Portugal ainda RepubH.cano e .democrático e que ·acolheu, em. 1923, a segunda .sessão do IH ;.Congresso Pan~ africano. Segundo 'Mondlane, a Liga tomava posição não·.só pela unidade i:iacionai, mas també'm pelJ unidade entre'· as c:ol6n,iâ.s em lut.a . contra a mesma p<;>tência colonial, pela unidade africana contra todas as · potências ·colonizadoras e; 48Citado por Ngoenb2., Para uma reconciliação entre a Política e a(s) Cultura(s). Programa de reforma dos . órgãos Jocai;'t ·(PR09, · Texto de Discussão Nº 3 Ministério da Administração estatal (M.l\E), Editado por 1. E. M. Guambe e B. Weimer; Maputo, Agosto de 1997': 16. · 111 " . ~. ·- ( :~i .1; :1,:." ~-;J ! ·.: : ~ "r--:7 ·- t.: ;i:: f • ~- : '- · ~ · ' 1\7!: J::'.~ ·1>J .. •· T ITT; r ·@ finalmente, pela unidade de todos os povos negros oprüniclos do mundo49• Contudo, a acção política de Ed~ard,o Mondlane e da Frelimo foi precedida e condicionada por dois factos políticos e históricos importantes : a partir do congresso P~n-africano de l\!Ianchester de 1945 fala-se abertamente. e, pela primeira vez, da questão de autodetermin~ção dos povos africanos. Mas ao mesmo tempo, ó congresso observou que « as divisÕ·es arbitrádas e as fronteiras territoriais delimitadas peb.s potências coloniais constituem outras tantas medidas deliberadamente tomadas para impedir a unidade polítiça ela África». Se a questão . da independência esta~a po.sta:. sem equívocos, J:.~stava delimitar o quadro geopolítico no qual estas . independências ~e deviam inscrever : etnias, antigos Estados africanos, zonas economicamente viáveis, ou espaços coloniais delimitados em Berlim ? . O co-presidente do congresso de r945, Dubois (com Carter G. Woodson, :fundador da Associ~tion for the Study of Negro Life an History em 1915) foi tam,bém um dos promotores da redescoberta da história, das . tradições e da. cultura da Áfríca pré-colonial. Contudo, ele pensava - como, aliás, todos os ' líderes políticos da época - que a África fragmentada não podi:a., por. si . só, na sua própria terra, · tomar cla~amente consciência da sua unidade a rião ser sob a formal de uma muito vaga comunidade !Íe origens e de tradições, consideradas num sentido ~uito geral. . De facto, a noção de: · Pan-africanismo era .afectada por um alto grau de abstracçãó em relação à realidade. Tratava-se· mais de um~ doutrina 49Citado por Ngoenba, Para · uma reconciliação tf!lltre a Pplítica e a(s) Cultura(s). Programa de refoni:ia dos 6rgãos locais · (PROL), Texto d~ · Discussão Nº 3, Ministério· da Adnúnistração estatal (MAE), ,Editado por J. E. M. Guàmbe e B. Weimer, Maputo, Agosto de 1997: 17. U2 . : ; .. .. . k cultural (ou do reconhecimento de uma unidade espiritual . 1 entre negros, co1;n o d issera Langston Hughes) do que de uma verdadeÍI'a ideologia política; Foi o que fez Azikiwe com o seu Ren+!scent Africa .de l93i-, Cé~aí~e no C~hier d'.un :etour o.:u p~ys ( .natal, a revista Presence Africarne, ou ainda Che1k Anta D1op com as Nações negras e cultura~ . Por ·falta de uma ideia clara de unidade emesmo de (' condições práticas para que essa unidade fosse possível, r começou-se a falar de ul}idades regionais . Mas uma vez mais ' tinha~que ' ;e defoi:ir os ~ontornos políticos e jurídico~ de tal e unidade. E, sobretudo, dcl"inir-se se tal unída_de devia preceder "ou vi~ depol s das índep~";idências d~~ · delimitações individuais (' daquilo que era_m os Estados colon1a1s. Este assunto esteve no centro do debate político entre os anos 1957 e x959. ' r Em 1961, um ano antes da fundação da Frelimo, a A frica r independente divide~se clarament e em dois gr upos: o grupo de Ivlonróvia e o grupo de . Casa Blanca. Contudo, a · ideia que · prevalece· é que a unidade que é preciso reallzar n~ste m.omento não é a integração política dos Estados Africanos · soberanos; mas a· u1;üdade das aspirações e: da acção, <lo ponto de . vista da solid~riedade social africana e da idení:iqade política. e O Pan-afrícanista e funcionário das Nações Unidas, í E.duardo Mondlane,· ao fundar a Frelimo, sabe que o quadro (" geopolítico . das lib~rda:des {independêncías) ~ af~icanas por vontade da . ONU, g4 iada . pelas mesmas potencias que em Berlim tinham~ cinquenta . anos antes, div~dido o continente . s~m se preocuparem nem cqm as .culturas nem com. os homens . n~grqs ·q\:\e nós somos, com a · conivência dds novo~ dirigentes . africa1.~os, deve. ser ó espaço ela colonização europeia, portanto ( port~guesa, para Moçambique. Isto quer ~i.zer : do Rovuma ao fyiaputo. . . · or·a, neste espaço geopolítico tinham, precedentemente surgidc;;· f~rmas de -~acionalisino que, sem serem o resultado . de 113 e r e· l ( r ) <· e (. \1 \ · ( \ ; (1 (· ( ~ ( í ( r_ ( ( ( ---g; '· ·:•.· - l·-~:~ ;- . \ ·,- ' , T Sf: .:'i• ··r ; ...... : ·r ~· T ~;> uma evolução política interna . às culturas locais, inscrevia a sua dinâmica nos ;ubstractos culturnis locais. Não há dúvida que sob ponto de vista da evolução da política mundial, Mondlane teve razão em criàr a Frelimo, .como meio de dar força e legitimidade internacionai's - no sentido .da ONU e, a partir . de 1963, da OUA - . às reivindicações dos povos que v iviam no espaço geográfico .que se estendia do Rovuma ao Maputo. Contudo, havia · aqui uma transfei:ência de legitimidade. A Udena~o, UNAMO ~ Manu, .reiv:indicavam a sua legitimidade nos povos respectivos. A Frelim o ·que, justamente, não queria nem podia ser um ;irriples somat6rio dos três movimentos nacionalistas que o ·precederam, tu~~n sequer era o somatório dos grupos etnO-tdba1is de Moçambique, não podia imedi-:i-tamente receber a sua · legitimação do interi9r e, .portantp, das dinâmicas político- cultur ais interiores aos povos de l\lloçambique. O!lanto ao exterior, a Frelimo podia receber uma c:au-;~o, mas não legitimação do Pan-africanism~ que, entret~nto" tinha sido redimensionado e mes.mo isolado com a elevação do espa-;o colonial a quadro geopolítico para a proclamação das independências. A divisão de 1961 e a criação da OUA eram, de facto, uma vitória das antig'as potências c~loniais; E, paradoxalmente, eram a ONU e a ·OUA a· legitimarem a Frelimo como movimento de libertação de Moçambique, e mais tarde, como representante do povo moçambicano. . Se as independências se .devem inscrever. no · q1.lad1·0 geopolítico colonial, elas não se podem inspirar culturalmente nem nas lutas autóctones' d~s diferentes povos de Moçambique e das suas evoluções e debates políticos, nem sequei· se podem inspirar na dinâmica histórica do Pau-africanismo. A . acção de Eduardo Mondlane e da Frelimo dev~ geopolítica e juridicamente inspirar-se e, · . de qualquer modo, : dar continuidade ao trabalho de centralização levado a cabo pelas autoridades coloniais portugue:sas e, por outro làdo, ;J, partir do : 114 . . .. . · .. , ...... ~ . ~ : :· .. · ~-~- ::: ··: ... '.: ~'. ~ - ~ •:::;:~·.:~·· .... ....... ; ....,:":" ·: --.~:· : :'ry'- .. "': ·-:--:---. -... --· •.' : . ~ . ". .· " ,. .· .. . , .... ',:'.,.: ··: , :· . Partido ' tr~nsformado ~m ·Estado depois .da independência, _criar. uma NaÇão à· imagem e semelhanç~ da Európa. AquR surgem dua~ difi~ldades : · ·a) .OS. portuguese~ para centralizare.m a governação · dos povos ele IvioÇambique, não só não legiti~avam o. seu poder a partir· dos povos de Moçambique, mas .. violavam . 1 . sistematkamente os seus direitos mais elementares. Se a · Frelimo-E.stado de Moçambique seguia esta governabilidade tinha· ou que dialogàr e · fazer clialogar os difer~ntes povos e culturas nacionais, o .que era tecnicamente impossível, te~do em çonta sobrett.tdo o faci:or tempo e os •imperativos region_ais ; ~u então, com uma legitimação ::provenien~e do exterior, ir.ripo:< . áos povos de Moçambique culturas políticas estrangeiras. Mas; se assim fosse, · em que medida a imposição da Fx:elinio seria na ·prática . diferente da .imposição dos ·portugueses ? Em que medida ~ governação da Frelimo seria menos colonialista e m rdaçlfo às prátic~s c~lturais dos diferentes povos e culturas loc;ais? b) A história social e política da Eur~pa, que do1·avante s-ervia dê m:od.elo, tinha . visto nascer o ' estado a part~r da:s Nações. Ora, em que medida o Estado de Moçambique estaria à altµra · de . cria.r a N açãe>; tarefa prím~rc!ial que . lhe· foi confiada 'pelo Partido? A missão histórica que foi da · F relimo - criar uma nação moçambicana- . partiu . d~ movimentos políticos, cult~almente ' ~ircunscrítos (Udenamo, . Unamo e Manu), mas teve que se forjar logo depois umà . ideologia unit~sta. Depois· da independêO:cia, .o post~lado de unid;i.de nacional, que em si mesmo não. é nem pode ser di:ScutÍvel, implicou também rima' governação a partir de cim:a.- O primeiro p~adoxo era que o gov~rno legitimava o 'seu poder no povo, mas governava contra os . ·pressupostos jurídicos . das culturas nacionais. O segundo paradoxo era que. a legitimação. teórica e hi.st6l'ica· dos .pre~supostos políticos de goyer'nação. respondia a pressuposto's . ' 115 .·. r:r: · ~tJ -~· ~:-~ . ·~ ·--~:. ~;. ~ l~:·: ::.; ): ~.-Ni 1 }~;j l \j G ·,. rd ,, e·~ropeus : recorde~o-nos que o marxismo é filho de um debate histórico próprio da cultura ocidental Estes paradoxos . e mesmo a desconsideração das culturas nacionais no p~ocesso político e · de governação foram, historicamente, o preço que tiveram de pagar as cl.!lturas . nacionais pela edificação do Proto-Estado. moçambicano. . A Nação democrática que se auto-proclamou em 1994 novo act~r h istórico da vida política e social moçambicana quer, como afirma a constituição de 1990 e os acordos de 1992, que : Todos $.~.reconhecem actores e sujeitos da história, ott seja1 um partido único não pode ser o dirigente da sociedade e' do Estado5". Por · democracia. se entende, portanto, um sistema de partidos. Or~, este sistema tipicamente ocidental desd-e há dois séculos tem vindo a provar a sua funcionalidade. C9ntudo, no · contexto histórico actual, i;aracterizado . pelo fim ·do bipolarismo, m~itos sociólogos e politólogos se interrogam quanto à pertinência da divisão dássica da política em partidos e a capacidade deste .sistema . d.e representar verdadeiras alternativas p~líticas e, sobretudo, de representar os diferentes estratos da sociedade. · · · J'.vlas a questão mais interessante para nós é qu-e em nenhum paí~ africano o sistema . de partidos cotho o proposto pela constituição e. pelos. acordos de Roma parece estar à altura de mobilizar o imaginário colectivo das populações. Das duas · uma : ou o africano (e, portanto, também- o· moçambicano) é geneticamente . anti-de~ocrático çomo sust~ntam algun~ eugenistas (Medeved Aris<:>n), ou e_ntão o ,sistema de partidos é, talvez neste momento, um mal necessano; mas não corresponde ao substracto cultural dos riossos povos.: soCitado por Ngoenha, Para uma reconciliação . entre ~ Polftica e a(s} Cultura(s). Programa . de·reforma dos órgãos locais (PROL); Texto de Discussão Nº 3, Ministério qa Administração estatàl (MAE), Editado por.J. E. . M. Guambe e B. Wei.Iner, Maputo, Agosto de 1997 : 21. · .· . . . 116 .. .. .. ,. ·· ··· .. ·' · · .. " . · .. <:'' .1 · . ,. ··:. . ' ., ' ' :· ·:.· f. . '!· . r· . : . ~ . . Não se. trata. de ~ma inadequação dos africanos à d<~trlOc!acia, mas do modelo Europe~ falsamente universal, que não se coaduna com as nossas cukuras. Não são as culturas que se têm de adaptar a t~do o custo a modelos, gue responderam ao génio próprio de cÚtbs pov.os rnnn . determinado momento da sua história, mas os modelo_s qu.e se têm de forjar a partir das cukurás. Isto significa que nós temos de inventar um modelo de sociedade que nos seja própi.-io, um · ir..odelo · que corresponda às no~sas culturas, às . nossas sensibilidad~s, um ~odd.o cap'~z d~ mobiliza; o conjunto de moçambicanos a participarem fl:ão só nas eleiçõ~s, mas ~a vida fo.tegral da sociedade môçambicanà. . . Depois de uma entrevista que dei ao jornal Savana em "Setembro de 1996, um deputado disse-me que ele tent.ava levar . os seus eleitores a interessairem-se e mesmo a controlarem a sua actividade de deputado, mas · em vão : os ·« eleitores não conhecem as suas prerrogativas jurídicas e , poÚticas como eleitores ». Os deputados são, teoricamente, representantes dos interesses dos ·eleitores. · Qy.e tipo de · mandato, eleitores. que ignoram as_ suas prerrogativa~ políticas e jurídicas, podem confiar a um deputado ? ·E se os ·deputados ~ão têm um ··mandato claro &os seus eleitores o que é que eles representam? () que é que os autoriza a falarem eni nome dos seu;; eleitores ?. Mas supo~do . que os eleitores decidam cont;olar, · acompanhar, -influenciar a . execução ·. do mandato de um deputado ou_, mais profundame~te, que eles queiram . fazer presente a um deputado que representa no parla~ento as suas preocupações, que não são sempre ·iguais, mas variam com o tempo e com as circunstâncias : de que mecaµismos j.urídicos e constitucionais dis"põem ? Q_ue mecanismos estio previstos . ,'.: • • . pela lei que permitam que o~ eleitores interpelem os seus representantes ? · U7 . ~ : t ( r e (" l ( r ( r e e ( . ~· e. ( . ( .( \ r Í, ( ; ( , ( : ( e. Í _, ( , ( ( ' ( , r ( ( ' ·- .·} ·:~·.::.t ' •.•' · ~. l\i]{\ T '781: T t:~t. 18\ ·-- ~ · : _8I. l~~i · Se os patlaII"J.entares : representam simplesn:1ent-ê as posições dos próprios partidos, em di.screpância tótal com .os interesses e a compreensão Clas pesi;oas, estamos nun1 sistema de partidocracia. Será que · o sistema de representação parlamentar é conforme o génio político e cultural moçambicano ? Será que os mecanismos de representação tipicamente •moçambicanos são os . partidos ? Os indivíduo~, os grupos, as culturas e a sociedade exprimem a.s próprias op1n1oes, pt·~ocupações, posições através . dos partidos, ou· existem outros . mec:anismos1 outras vias, outrns veículos· :!e opinião e de tomad~, de posiç?:o que são mais congénit<:)S ao.s pov~s de 1\foçambique ? A democracia moçambidna e o seu sistema de · representação vão ter que colocar o problema dos p1:'•essupostos. Temos que centrar os nossos esforços sobre a condiÇão mesma da democracia ; a dimens~o sócfo-cukural. A democ1:acia vai exigir, . como condição •preliminar, uma acção concebida · a partir das realidades autênticas das nos~as comunidade~ a~tóctones, apreendidas a partfr do intet:ior. Contudo, as eleições políticas de .1994 e a nova constituição, fundando dora,~ante a legitimidade política sobre . a soberania e a vontade dos· moçambicanos, · c:onsag.ra simbolicamente uma ruptura fundamental. Para além do princípi~ de legitimidade política, é o fundamento mesmo da relação social que é posto em causa. Na era da . nação democrática, a política substitui o . princípio religioso ou dinâmico para unir os homens ; éla reivindica o direito de instaurar o social Doravante, todos os homens no interior do espaço nacional são iguais em dignidade. Esta ~ .. ., \ !: . ~~; . ·: .. ~ . ' ~ ~· . ;•. . ' .. ~ ·. ~; . . ; 1 '. cidadania não é simplesmente um atributo jurídico e políticÓ, no sentido estrito do termo. É também um meio para adq~irir . ' .. Exist~µ-i~ ~o entanto,. dois problemas fundament~is. Pr~eiro ~ · o nascimeri.t~ .da nação democrática foi' precedida,· ~. talve:~ me~mo cond1c1onad.a,,. por uma outra nação . que vive rio seu seio : a naç~o produtívista. Não. é por acaso que a· democ ~ . · . . · . . . rac1a ~oi pre~edida por . uma adesão às · instÍtuÍções : econômicas mt~rnacionais como o FMI e BM1 composta por indivíduos ma:s . pr~ocupados em satisfa~er os própdo~ interesses que a · sat1sfaçao · dos seus deveres cívicos - que segundo . Rousseau · constjtui ·.o principal 'problema moral . pa~a aq~ilo a que ele · chama· o·. homem. social. A · lógica pro.dutivista intimamente ligada. à. efic;á~ia · da produç.ão, tende . a preceder os val~res .rropriamef1te políticos. A partidpação ~a vida econômica é. a fonte ·: ess.endal . do estatuto social . Assim, a d~ensão económica e social da vida colectiva i~põe-se em detrimento · ~o 'prQjecto polítjco; ·Este . facto enfraque~e · ulteriormen~e 0 nosso « Proto-Estado' Democrático» que sé. vê obrigado a renunciar .às suas prerrogativas estatais (que · lhe. foram · confiadas pelos eleitores) para satisfazer a~ ,imposjções anti- democráticas do FMI e do Banco Mundial$} que se arroga!I). a },'terr~gativa delegitimar o poder. · · Como s~ isto . J:!.ão bastasse, . os eleitores ~ão têm mecanismos jurídicos legais ·previstos pela'· constituição oue lhes permitam fa:.zer·se ouvir ou simplesmente panicipar 'lno debate · público. · Existe, por conseguinte; um 9uti-o problema jt.ttídicp, desta feita· ligado à. demócr.acia reprdsentativa. úm · estatuto social: a condição necessária - mesmo. se · ·· s1Ci . · · " . · tado por Ngoenha, Para uma reconcilit;zçãq entre a Política . e a(s) concretamente. não sufic~ente ·~ 'Pª'ª que u.m individu.6 ·possa ·' C~iltura(s). Programa de . r~fo:m:ia dos ·órgãos loca.is (PROL), Texto de se-r t>\en.ament~ t:econb.eciao c~mo act.o\'. ue· vi.la ~o\ecti~a. · . /\; .. . _Di.scussão Nº 3, Micistério d~AdzninistraÇão estatal{MAE), Editado por J. E. \. ,.,, },'_ ; ;1 .:il~.~)~; e~• B. w~, ~ro, ~:ro & mMJ ' · :.: . - .. · ·: ~ ··r ~ .. ... ,.. ·--·.-""."'T.'""" .. ..., •. -:- . __ .. ... ~ -·· - -;';'! Tii i~il l A democracia representativa A democracia representativa, em prfr1cip10, é uma democracia parlamentar - sendo os parlamentares, como os senadores . romanos, donde ele deriva, uma a.ssembleia de homens . escolhidos pela sua · sabedoria (saga~id .. de), cujas deliberações devem supostamente desembuchar na melhor decisão possível para a comunidade no seu conjunto. Mas para que o parlamento seja· democrático - existem parlamentos não democrádcos - deve respeitar . três ·princípios fundamentais, que aliás não ·encontraram a sua teorização na antihruidade grega, · mas nos filósofos pertencentes .·à pdm.eira idade do individualismo liberal, isto é, John Locke para o primeiro prindpioO Loclce e Montesquieu para o ·s.egundo, E: Jean~ Jacques Rousseau para o terceiro. O primeiro .destes princípios é o principio da tolerância. Ela obriga o Estado a assegurar sobre o seu solo a expressão livre de crenças políticas, .filosofic~s, religiosas, na condição de que estas não· ~tentem ·contra a ·ordem pública. . O .segundo é o principio da. separação dos poderes. Ela estipula que o poder .de fazer . leis (poder legisiativo), o poder de fazê-las aplicar (poder eJcecutivo) e o poder de ptmir as infracções . cometidas contra as leis (poder judiciáric') não possam ser exercidas pelos mesmos membros (ou pelos mesmos órgãos) ·da comunidade. Este princípio tem por objectivo instaurar o Estado do direito, isto é, protegero cidadão contra os abusos. E, em parti~úlar, conti:a .o uso arbitrário que os detentores da autoridade pública poderiam ser tent:ados a fazer dela~ O t.erceiro é o princípio da justiça. Isto significai. d,izer que uma dei:;nocracia digna desse nome não se pode cohtentai em ser uma democracia f~rmal, cega às . desigualdades materi~is entre os membros da soc~edad.e, mas ela deve •visar ~ izo " . . .. . i .• ··.·:· ' . · . r r um obiectivo· · . concreto : a . justiça social. Podemo~ perguntar: em que condições reina a justiça social? Isto é~ { questão difícil. Em contrapartida, o q'-'1e é claro é. que a . realização. supõe, . pelo . menos, a criação de mecanisr r susceptíveis de . impedir o desenvolvimento de d.asigualda demasiado grandes no seio da comunidade. . l . Estes três princípios têm, na história, suscitado mu: (', debat~s. Poder-nos-:-íamos limitar aos debates dos úhir 'anos, r~lati"'.'OS . 2.0 fim da guerra fria e a extensão GO mocJ . de~o~àtico . ao co~junto do planeta, com a conseque \ necessi~ade de ·aculturar ps aparatos admitiist;;rativos r institucionais às diferentes realidades culturais, sem adultE Í a dimensão axiológica da democracia. o primeiro princípio invoca 1=lara.mente a dimensão e . tolerância. Nos últin1os a~;s tem-se discutíd.o se .este pirincí (' se deve .também aplicar .aos intolerantes, a aqueles que quer (' chegar · ao poder para mudar as regras democrática::; < per~:d.jti~am a ·sua ascensão ao pode.-. Para ilustrar isto invo se muitas . vezes o FIS d:a Argélia. As duas ameaças a e ( prindpio são . representados pelo fundamentalism() ireligi< ( .que se faz político e pelo nadonalismd etnico . . Em Moçambique, estas espécie'.s de fundamentalís1 ( felizme~te nio existem~ Todavia, eu disse no início de livro a filosofia deveria ensinar os homens a serem m ' . . .. ( . prude.ntes,. mais precavidos, a a.nteciparem eventuais perigo a,meaças. O INDE tinha preparado a introdução experimeri do sistema bilingue no .. ensfo.o primário utilizando t r campeão de . t·rês zo1l.as correspondente'.s a línguas diferent /""' . Uma. língua do sul; uma do. centro e uma do norte. Porqu• \. que, :n.o úkimo momento; o INDE teve que mudar? Porque f se3unda cidad.e do país siirgfrain conflitos dentro da Igr• Católica· entre. os falantes de_ Sena~ de Nd:u. . . _ l . . Juntamente a ~ste perigo latent~, existem. as assoc1açc dos : ·çmigos· de Iviap.utci; .:. Ga.2;a, Manica Sofala, .Nii>ls: 121· (" r \ e _J ( ; ( . C : ( , ( ( · <: i C- · ( í ( , ( r ( \: ( C · ( ( , e ( ; ( ,, e ( , ( > ., . •: .:· ·.,· ,, " ; . .. ... •g rtf;:;i T R · ··: ·! -n~.~ . ,. : ·. Zambézia, ·etc . . que representavam um · tribalismo . apenas velado e o perigo da politizaçã~ das· etnias ou se quisermos . da etnici:zação da política. O que, aliás, começa a ganhar fon:ria na nossa d~mocr.aci~ onde, desde o início d.a segunda Rep1íbliica, a Frelimo parece ter assegurada a maioria ·no suÍ e a Ret."..ar,-io no centro. A · nossa constituição} inspirando-se na hist6rfo das democracias representativas, separa claramente os pocleres executivo do legislativo e este do judicial. Que m.ecan:ismos temos para garantir a separação de pod~:r·es e gerir eventuais conflitos entr.-e eles ? · . . .. : :· . . ~· . . : . ' : · . psicologici! no acl':o ~esmo de instaurar u1n processo . e de judticar Nyirp.pini . Mas a verdadeira questão não é ne~ a actitude . do presidente, nem Aniba)zjnho; n~m Nyimp'ini. A questão é C()n\0 .fazer COffi. que entre O poder executivo e O judicial não haja . interferência,· numa democrada que qu.,;r estes poderes . iguais, mas subordina. ~ · nomeação do judicial à ·decisão do executivo·. ? · Q!le o presidente · faça pressão ou não, que . diga algo ôU não, que o ·seu .pessoal governativo· interyenha OU não, · o s~u es~atuto vai.l,l!eçessariamente cóndicic:in2t o .desenrolar do . p1·ocesso. Est~ nlici é um problema .só moçambicano e, talvez ainda . maiS por isso~ · deve . mobilizar as . nossas inteligências com· visÚ a encontrarmos uma saída .•. Dois tipos de conflitos têm perturbado de maneira recorrente a vida das democracias contemporâneas : pdm1::iro, · o conflito entre o executivo e o legislativo, quer .quando a constituiçã~ dá mais importância a u.m ou ao outro, ·quer quando os representantes do e~ecutivo · usam .todos os subterfúgios para fugirem ao controlo dos representantes do povo. O membro da . Renamo ou do Pimo quando se pronunciam no parlamento, Jazem-no como representantes do povo. O · executivo não deve ·ridiculi:zá-los ou fugir às questões, ·muitas vezes judiciosàs e pertine::ites que levantam. : . ~· .... A estes ponto~ teµ:i. · que ··se acrescentar um que é a maneira particular .como um certo Oddente se arroga sempre mais, e de maneira a:i:itidemocrática, ·prerrogativas de ·· leg~timação . anti-coloniais das emergentes democ~acias africanas, e mete ·sob . tutela . ªli nossas economias e, em consequênda, a no~sa _soh~rania'. Segundo, o conflito entre o executivo e o ju<liciá.rio . . Nomeados pelos primeiros, os agentes do segundo, isto é, os . magistrados, têµi muita. dificuldade em faze~ compreender aos responsáveis do executivo, que ninguém pode estar acima da .. lei. · Este · é um problema . que os pais d~ democracia repi:esentativa não resolveram, Tr~ta-se de uma questão 1'l_ue i:em minado a vida . política, mesmo. nas · democracias mais experimentadas. É o caso de Chirac na França e, a.inda m~ais . grave, de Berlusconi na Itália. Em M-0çambique podemos falar do paradigma Anibalzinho-Nyimpini. · . . ~e o presidente Chissano tenha feito pressão ao p·é d~s · auto.idades juduciarias ou não tenha · feito, os juízes · não podem ser . completamente livres de tima certa pressão . 122 . · , , . . . \ '· 1 i . ' ·t' ,, .. · ~· .- .. ·· •.: ... . . -~ -· ·:- ··-·:-·-: ·- ~ .. ··.- ... ... ; ... · ·A questão da sobera~ia . A consti~uição de i915 prescreve e~ vinte. e ~inco a~igos .. os pri~cípios gerais ou, se quisermos, as proposições. de base . . que odt;ntam. o conjunto de· normas jurídicas e. a promulgação das. leis. Trata~s~ de ideias ou de pi:oposições que inspiram e . . oderitàm .todos os enunciados e todos os a~os do direito. . . . O Moça.mbjqu~ de 1915. apare~e, assim, no artigo 1 cómo «Um Estado soberano,.· independente e c:iemocriitico sob ·a . . direcção da Frelimo ». O artigo II define a ideologia moça~bicana como Democracia Populai:. O artigo III indica a F relimo como a ~~tidade que « ·shpervisa a acção dos órgãos estatais ª· fim . ele . asseg\irar a . conformidade da política. do . Estado com os ititer~sses do. p.ovO». ·O partido e o .Estado · 1.23 :. :·· ··: ··- ~7!'ffi ···- ·.v~i~] -~ rf;4 . __:u ~ T3 -g -d , _ ·. . . identificam-se. O artigo IY indiça os objectivos fundamentais · da .República: «a elimmaç~o ·.das: estruturas de opressão e explo~ação coloniais e tra,dicionais e da . mentalidade que lhes está subjacenteO · a ~ctensão e . reforço cfo poder popular democrático ; a edificação· de u:i;na economia independente e a proXO:oção. . do · progresso cultural e social ; a defesa e consolidação da independência e da unii:i:u:l.a nacional i o estabelecimento e desenvolvimento. de rela1;ões de amizade e co.Operação com outros povos e Estados ; o p1·osseguim .. mto da luta contra o colonialismo e o im,perialismo ». · Estes artigos mostram . a vocaçãc:> libe1:tária da constituição' e a filosofia prática subjacente ao direito moçambicano na sua primeira constituição. A constituição da II República niío renuncia ao substracto filosófico d.e base e aos seus cor·olários de lógica jurídica. Só que o. exercício deste projecto libertário não · se . exercerá doravante através do partido Frelimo (apesar de se reconhe~er . o ~e~ l papel fundamental na c:onst1ru~ão . de Moçambique), mas através de um. sistemade competição entre partidos autónomos, com ·obrigação d: respeitarem e defenderem a soberanià . nacional, ·entendida como . espaço geopolítico (do Rovu±na ao Map~to), e a unidade nacional através da luta contra o tribalismo. · O~ pressupostos filosóficos estipula.dos na . Primeira . . República e confirma.dos pela segund~ aparecem. em .contradição . com os seus corolárie>s . · ·políticos. Para . compreender o que está por detrás deste fenómeno, tem que se recorrer à história das lutas id.eologícas que a subentendem. Lutar contra o colonialismo, libertar Moçambi'lue e ser · soberano são conceitos fundam~ntais e constituintes da nação moçambi~ana. · A comunidade . l.nternaci~nal só pode ;er positiva e a favor de ·Moçambique na me~ida, em que:.~espeite este substract0 filosófico de base. .Isto e, respeito pela 124 . ..... .·:··· . ~ . 1 . .·\ . . ·. ' i~ . . :. . ·:·. " ... . . - ·· ~· .... ·,,. .. ~ .. ,- ... -·· . ...:.-·-· ... . . - -·- · · ·- ·.- ~ - ..•• . ..... ... ..... ....... ,:1 ~:.· • ..:J · .. .• ••· ~ l .. ·. ~ ·~ :· ·~· .1 (' í' í soberania/: ·· configurada num espaço geopolítico r . deter~inado e pela uriidade nacional. 1 . Oia, o centro nevrálgico da constituição de i975 liberdade/indepe~dência'. . o centro da cori.stituiçã r 1990/1992/~994 é liber~de/d~n:,ocr~cia. En: 1_975, a libe ( era entendida como contrapos1çao ao . coloniahsmo. Em 1 liberd~de como anti-colonialismo se junta a democ T~oriCamente, trata-se de um avanço consideráv:el. Toda opinião públic;a moçambicana parece. acreditar . que a ní'í liberdade · fundamentàl ·(independência ~ s.;ber; Moçambique tenha pura e simplesmente i:egredido (regC de · portugues·es, · economia sob tutela, ONG, coope1 \ doadores, etc.). Pode-se progredir em democracia, recu (' em soberania ? · · A II República nasceu dos escombros da antiga L ( Soviética e do fim da guerra fria. Os valores que a id.e~ (' vencedora apregoa são contrários ao espírito da Prin R1::públi~a .defendidos pela: Frelímo . . Mas serão compat co~ . o espírito ciue é, ou . qu~ devia. ser, . da Renamo eriqu é partido nacional : a defesa e a promoção da unidac( . integridade nacionais ? . . . , . ( :No debate que estrutura a. filosofia poht1ca a< apàrece da:i;a~ente . qu~ a polític:a. · ~ltr~passa enormementC sua:s ligações. com: . a concepção global da histórià, ao me e tempo que se · mostra· .incapaz d.e pensar a história de 1 maneira dífer~nte. A questão d.e fundo é então saber ! admissível que o campo ·ao possív·el . aberto pela política ( .reduzido teo~iéamente ao modelo ocidental e praticameni simple~ m.od.ificaçio esatisfaçãq da .distência individual? ( Se na'da de novo e de oc;identalmente diferente pode inventado; e se a história e a ambl.çãci negra e moçambicam(' emancipação, nos escapam, . qual é a . efettividade da no política? e 125 ~/ (J ( 1 l ' \ r i ! ( ! <1 .. . ~ ~ ~:- · .'.~ --:· i ·, . . " •:. i~ ·~ ·•·••.• • .•. · .. ' ' ~ •• . •.. Muitos consideram oue: em matéria de· accão hist6-ri~a ~ .... , . > política,. tudo foi já feito. A democ:racia como ela se apresenta hoje parece-lhes o último regime possível, restando s6 perpetuar, na . melhor das maneiras, os interesses de tada homem e o desenvolvimento de novos terreno;; de materialização, ou a observar a sua globalização pós-moderna. No que diz ~espeito ao primeiro aspecto . da questão, convém fazer referência à tese de filosofia política argumentada ·por Francis Fukuyama cuja carreira pública se abre com um :i.rtigo publicado na rev~sta National lnte1·est intitulado «Fim: da história?.» (1989), seglllido pouco t~mpo depois de um livro com .o título Ofzm 'da história e o ~íltimo homem (1991). Com a expressão« fim da.história», tomada da filosofia de Hegel, entendia que o prego final (fim aqui rião é. nem finalidade (Zwek), nem objectivo (Zi.el), mas exactamente. o termo Ende) foi plantado no caixão do marxismo-leninismo. Na medida em que nem as religiões (islão, em particular) nem os nacionalismos parecem em altura ae constitU:ir desafios . . sérios, a vitóri.a da .modernidade liberal e democrática parece certa ad vita~ .aete~am; A situação actual de Moçambique, dem;cratismo (que ·é diferente da .democracia), super liberalismo que ·se traduz em privatizações sumárias, tutela . governativa, são a prova da nossa entrada no fim da· história, no ponto final da evolução .ideológica da humanidade. . · . É neste contexto que tem que ser vista a segunda República moçambicana. Mas resta uma que·stão d~ funclo : . qual é a relação que existe. entre d objectivo de fundo que · · persegue º · negro; o moçambicano, is~o é, a liberdade de disp~r de si mesmo e esta forma de hegelenismo político-social ? . Qual é a relação que existe entre· . . este . sist~ma . mundiiai dominante e a pq~sibilidade real de ser soberanos; sem term.os que obrigar os moçambicanos a terem que pegar ·em armas para . uma segunda colonização, ·como escreve Heliodc1to Baptista no artigo do Savana (nº 1ó7, 1"11arço 1997) ? .126 -·. ·. ·- ·.-·· .. , ·:. t:·· .· • I · ·· í · ' Dt.,as aporias parecem remar· contra a nossa li~er<Jade e . libertaçã~ : uma está int:ri~secamente ligada à mesma ideia d~. . soberania e outra à nossa incapaciclade coi:no po·.ro de assumi- . la com tudo· o que . ela comporta . em terÍnos. de responsabilidade. . A soberania é um. conceito ;urídico e polític;, em volta ~o qual gn:vitam todos os problemas e as aporias da teori3: jus- positivista do direito e do Esta.do. Falar da soberania e dâs suas vicissitudes históricas e teóricas significa falar .ela particular formação polítko-jurídi~â que é o Estado .nacional mode~o, · nascido t'la Europa h~ úm pouco inais de quatro séculos e hoje em crise. · As apo:rias da soberanfa · estão 'ligadas . a diferentes perspectiv:as entre· · elas . (ju:i..:naturalistas, jus-positivistas, . confratualistas e idealistas) que as alimentaram durante quatro . . . . séculos. A pdineira aporia baseia-se no significado filosófi~o d~ ideia . de soberania. Como categoria filosófico-Jurídica, a sober~nia é uma construção d.e matriz jus-naturalista que ;; · . serviu de· base .. paKa a cqnc~p~ã~ jus-positivista do Estado e o: paradigma do direito . internacional D;loclemb~ Ao · mesmo ... . , .. . f . tempo, <!la foi sempre . uma . metáfora antropomórfica .de .· i; ': carácter absolutista, mesmo na mudança da imagem ·do Estado . à qual fqi ·alternativamente associa4a. _ · · :.· .. · A segunda • aporia baseia-se na história, · te6rica e sobret11do prática, da ideia de so})erania como:. potestade ~b~olut:a. ·Esta. histód~ corresponde a dois eventos· paralelos e .,. divergentes : . a sob~rani!i · interna~ . que é . a ·. histó.ria 'da sua · ·;. :.: . piogressiva limitaÇão ·e dissoluçãq, paralelamente· à forinação . ~ .. : . dos estados "constitucionais e democráticos de direito ;· e a ~ -: ··"J.. soberania extern~, ·que é . a hístóri~ eia sua 'ptogressiv.a ~ ·:. . ~ ' . . ' : absolutii;aÇão. . . . · .. , ... ~ · A t 'erceirà. ano~ia, enfim, · baseia-se na consistência que é ~; a legitimiclad.e co~ceptual d'a ideia d.e sob~rania ~ob o po~tó de ! • vista · d.a t•eoria elo .direito. Existe · uma antinomia irredutível '\ .. 127 ., :,. ; ·,' ,· . ' • • • 1 • • j 1 · ·~:~ . -01' " . ·~ . ' " entre soberania e· direito : ·um.a an;tl.noinia não só no plano in~erno dos ordenamentos avançados, onde a .~ob~i:ania esta em contiaste com o . Estado dé dir~ito e da sujeição i J.ei d~ . qualquer poder, .· mas também · sobre o pkno do direito internacioi;ial, onde ela é. . considerada na:; cartas constitucionais internacionais ~' de maneira particular, na Carta da ONU de .1945 e na Declaração dos .Direitos do Homem de 1948. · . · . Os historiadores do direito intemacional ren1.etem a sua primeira formulação aos te6logo.s espanhói~ do século XVI e, antes de mai~, em Francisco ele Vitoria·(1964). Tratava-se de dar um fundamento jurídico à conquiSta espanhola da assiin chamada descoberta. Francisco :de VitÓria contesta todos os títulos. de legitimação avançados pelos espanhóis para · sustentarem a conquista (o facto de . os índios terem sido descobertos, a soberania univer~al do Império e da Igreja, o facto de os índios serem infiéis e pecadores, a sua submissão voluntária, etc.), e reelabor~ uma nova doutrina, que s.~~rá o fundamento do direito internacional moderno e da conce:pção moderna do Estado como sujeito soberano. As ideias de base dessa construção são essencialmente duas : . . à) A configu,ração da ordem. mundial como sociedade natural do . Estado soberano. Estados soberanos, com . igual liberdade e independência, sujeitos externamente aos mesmos direitos das gentes e internamente às leis constitucionais de que eles . mesmos se dotara~ Trata-se d~ · uma ideia revolucionária que será. retomada por Francisco Suare;z: e, mais tarde, por Alberico Gentill e Ugo G~otius que teorizaram a submissão do inteiro género huma.no a ius gentium. Em Vitória, esta ideia é acompanhada por ~a concepção jurídica .de poderes públicos que antecipa a futura doutrina do E~tado, do dfreito internacional, e enuncia o fundamento democrático da autoridade do . soberano, antecipando, assim, o princípio moderno da soberania popular. · . 128. ,. ;. . ~· - ~ . .. ... ·:-. · • ' " , .. · i ' . ' ;' ,. ; . .... ' •' f . · .. . : .. . ~" ' : . . . . . 1-· · · ~ ·. . . !· . :: b): Em ~egundo lugar, o di~eito da~ gentes entrelaça · Estados nas sua·s refações · externõ!.S, . nã~ · só com · ~ força do próprios paC:tos, mas · ta~bém com ~força da lei. E, enfim: Vitória a~~b~ concebendo' a . huma~idade como . suj~ito do direito, . o que consti_tui . a . maior . concepção deste pensador( eljpanho.l. · ( . Mas é justamente sobre esta co~munitas orhis . comoC sociedade natural. de . estados livres e . independentes ·.:iue Vitória fonda . a segunda .ideia base . . da_ ,sua construção, antinóllii.~~. à p~imeira: a ideia de 'l,lma soberania .. estata externa, iqentificada com. um conjunto de direitos naturais d~ povo~, que servem pal,"a dar uma nova iegitim~ção à ~~~quista e, por outro lado, para oferecer um . substi:a.cto · eurc5cêntrico ao direito interna~ional1 a sua valência col~nialista e até a su vqcação belicista. Existiria, segundo Vitória, unl:a comunhão · :natural entre os .. povos, que daria :a cada um o dú:eito de entraI em relação com os outros. A, partir daqui faz derivali." uma série('" de outI:os direitos ·cuja aparet).te universalidade é desmentida , pel~ se'u carácter assimétrico : o direito de trânsito, a liberdade dos mares; o .direito do comércio, o direito de ocupação sobre as terras .e coisas que os índios não recolhem, a começar pel.aC ouro e pelo .. argento, o direito a emigrar e a estabelecer-se n n~vo mundo e adquirir a cidadania (é óbvio que, nesta falsa configu:ração universal do . direito, . só · os espanhóis são parte activa, enquanto . os . índios .são vítimas). A isto se quatro prerrogativas que relevam do direito divino : 1) . Direito à pregação cio,Evangelho; \ Direito-devei: de correcção fraterna ; Direito-dever de pro~egei: os convertidos; . ' 4) Direito dqs espanhóis, caso · os índios não se pe:rsuadisse~ destas b(las razões, a defender os seus direitos e aC s~a segurança mesmo <.:om' a: guerra. . . . e r 129 . . · . (" 1 e, ( , \1 e ( i ( ( · <: 1 \ • ( ( ( r ( · ( ( ' ( ( 1 ( r: e- ( \ ~f (] : ~}::; .~§ : l.'~. -- P: ~ :< \ - r · t~ -~:.::: - (:;,: R ·- lYl ·- tlli - - ~ r.-:-:-:i · ~ ·. . " ... ·· ' \:,_.= Vitória ~caba quase, como corolá.ri,o, legitimandc> a guerra justa (e através dela a conquista) redefinida como reparação das injúrias e, portanto, como instrumento de actúação do direito; o resultado é uma configuração jurídica da guerra como sanção para assegurar a efectividade do di:rnito nacional, que durará até ao nosso século (até Kelsen). A ideia. de soberania vai ser aperfeiÇoada com as doutrinas de Grotius, Hobbes e Locke, que defendem a id~i;o de u.ma sociedade de estados igualmente soberanos, n'la~ sujeitos ao · « Direito» .. A teoria internl!-cionalista mod·er.na baseia-se, exactamente, na afirmação de uma 'série de direitos naturais que seriam prerrogativas intrínsecas dos Estados soberanos e da t·eoria da guerra justa como .punição . . A ideia abstracta da igualdade · entre os Estados como sujeitos soberanos é concretamente desmentida pela desigualdade enti:e · os Estados e pelo papel dominante das grandes potências_. Assim, o direito · natural dos Estados, mesmo sé teoricamente iguais, revelam-se, . ao fim de . ·contas, concretamente assimétricos e desiguais, ao pontQ de convei:ter~se E~m colonização, conquista, neocolonização ou governo sob tutela. Estas aporia; e ambivalências estão na base da falência histór.ica dàs ideias de Vitória, mas, ·ªº mesmo tempo, elas· explicam a sua persistênçia no tempo, pelo menos . até ao nascimento da ONU,' como centro da cultura jurídica mundial e dos assentos da comunidade intern,acionaL O ·desígnio ·de Vitória de uma so-:iedade de Estad.os sujeitos ao· direito das · gentes entra em crise por causa. da antinomia, que. se revelou insolúvel, entre as formas absolutas assumidas· historicamente pelas soberanias e a ideia da sua subordinação . ao direito . . Todavia, o paradigma vitoriano, exactamente pela.força da sua ambivalência, continuou a· informar ~té aos nossos çlias a . ciência internacionalista e a alimentar as i magens opostas mas conviv~ntes. De um fado com a utopia jurídica e a doutl'irxa normativa de convivência mundial baseada no d.ireito ; . por 130 . :-· .. i '. .. ~· ... . \ OUtl.'01 Com a d t • • . • • ,! .. . ~u r:na1 pnme~r~ cnstocentrica e depois . Lücamente ~urocentnca, a leo1t1mar a · co·1 0 · .. :.,. ;. J _ . . , ·. . o . . ......... açao. e a . exp .oraçao do. r·~sto do mundo por parte dos países europeus, em ·D.ome de · ~alore:, sempre diferenteS, . mas · sempre · proclamados . universais : . missão de evanPelÜ;acão de coloni.'tação e a hodierna mundialização dos ' valo;~ ocide:itais. A oposição entre O · estado civil e .o estado de ~atureza, dá 'lugar, a partir da revolução francesa, a duas histcSrias paralelas . {. e opostas de soberania: progressiva limitaçio intern:!iL. e .~ ... ·· progressiva ~hsolutizaÇão . externa, á que Luigi F~rraj~li (1997) · · ~.:. · chamou a .comunidade :selvagem dos estados soberanos. A soberania interna e a soberania externa seguem <loís' percur~~s .'\. . . inversos ·: um· limita-se tanto . quanto O OUtrO· .se alarga, em ·:. ~orre~pondência .. á ·duas faces do estado, fautor de pu ·no ·' mtenor e de guerra, no e~cterior. A para:ir de metade do século " XIX, em plena expansão . d.e'm.ocrática a nível interno, a .. ~!· soberania externa at inge as formas desenfreadas ~e ilÍ~tadas . ~'. .. de expansão, que : atingem o seu auge . çom as ~erras e ~ · · · ~.; · conquistas coloniais~ Porquanto· possa parecer paradoxal, .estes . ,_. dois processos são .simultâneos e conexos um com o outro •. '.j'.·. . Estad~ de direifo no . intezrio e estadb absoluto 1 s~lv.agem, h;: · · depredador ~o externo, cresceJ:n juntos como duas caras de .· r~:·· uma mesma ·medalha. 'Quanto mais se limita . a .soberania ·.V intem11 e através mes,:rio desses Hin.ites, mais. se ab;olutiza ~ se · · t.' . legitimá a sobe~~ia e..--Cterna, o que .tqrna inconcebível o· direito · ·. : ·~i'". intema<:lonal como direit() ao de lá dos . Estados. . · . ·ir' · O que é ': ~xtraordiná~io . é que depois ele se· ter · ~l: ·, secularizado no· século. ){:VIII, com il filb.sofia contP:atualista e :.~.:~.~.~.~·· .. ~.·.·.·. ª:1:mlmix~tiax" º . P.aradign1.~dda legith:naçã? vollta a ~acrd.izar-s~ no :·. sec\.t o , mesmo se e uma maneira aica, com a . filosofia::% ·~ • idealista alemã : o .. ~stado q~e . Hobbes tinha , chamado •. f;: ... m~taforicamente «o Deus· mortal». torna-se em . Hegel «ô l;' .. Deus real». Os corolários disto são a .negaçãq do direit~. i!: · · internacional, identificado por Hêgel como. « o direitb estadual ~ . . . ' . .· . \( ;:··· 131 ·· ;.·.·· '~~ .. ~~- . . . . :·:, .' -~ ~. ·· .. .... ····~;'' ·~ · · : • • ........ .... .. ':"' ' t '. ·.,) ''V •""=" t'~ ·~· --·: -· - . ':"'"'""7''"':-0:-- ' '"'º '' •'· : - - · - :- - - ... - · '":" ~_-. -•. -.. --,~-.------,.-.,.--,...------ ll. ··-r mr: ~ t ~~ ; ~ :.· .. :· . .... < externo», isto é, o conj,unto de normas _que regram as rdações entre os . Estados. A segunda consequêric.ia é o . espírito de potência e a ~ocação expan:sionista e destrutiva que anima um tal paradigma de soberania Estatal. Os coroláúos terríveis são: · exaltação da guerra concebida por Hegel como momen_to ético, .. · · · desprezo pelos países na~~rais ou bárbaros - como somos ·n6s - ·' · que a!.nda não chegaram à maturidade do Estado e d.estinados a .• ;·· desaparecer no contacfo com os povos europeus. }· Primeiro com a colonízaçã01 depois com a exportação ·elo ' . . ·'> . mod~lo. através da criação d.e Estados e nações inde:pendentes, ,: ·!':' o princípfo da soberania .estata:l ilimitada. eJcpande-se ao nível ; r>· . mundial, submetendo e homolog4ndo povos e culturas. . .. ); :· ' .. . A Carta, da ONU, apro~ada em São Francisco' em 1945, e-_ · · .f~.· .. ·. a Declaração dos . . Direitos _do HolJ.lem, aprovada pela . (:: . . , • • 1 • • ~ ; Assembleia da ONU em 1948,. transformam, pelo menos sob o \',. ponto de vista normativo, a ordem _jurídica do mundo. A_ .. f · soberania externa do Estado cessa de ser absoluta e selvagem e · subordina-se " juridicameiitl? a duas noriµas fundamentai.s : o: . . ~: . . imperativo d.à paz e a tutela dos direitos do homem. Todavia, ·-.{;' a parábola da soberania .não está ainda no seu descambar. A ·, J:· ' ·: própria ·ONU, apesar da sua inspiração universalista, .. · . ·: · continua, não só sob o plano factual, mas também sob o plano'. t··, .:. '. juddic~, . a ser condicionada pelo princípio .da sol;>erania dos .. '.\; · . Estados. Propõem-se de novo, · assim, as co,~tradições · · ~·· ; . . · originárias já pres.entes na doutrina de Vitória entr1~ comunitas . ;.\ -' orbis e soberania iguai dos Estados. · ~: -. .. O domíO:io da paz fica ainda · cpnfinado ao domínio " soberano ·das grandes pot~ncias (acordos · de pa:z . em .i. : Moçambique) e, dep(!ÍS da queda do muro de B·erlim, aos : ./~ ·vencedores filosofic~mente . profetizados por Hegel e .· r. celebrados por Fukuyama~ .Coni efeito, apesar· dos · proclames . igualitários··· da ONU, nÓs viv~mos vitorianame:nt;e numa ._.'·. desigualdade de fact.o1 fruto_ inevitável da prevalência da lei do .• ;;. 132 ,i' . mais · forte · e, · portanto, . da existência de . uma sobera limitada, ·desmembrada, dependente, ~ssistida e tutelada. · · ( . Eis porque .é ridículo e contraditório ter uma constituí• cujo pressuposto- filosófico. - soberania - tem qu~ ser garant. por uma coi:nup.idade irit"ernacional; democrata certo (" interiçn dos países de . origem, m~s selvagem. nos s 1 \ . rrincípios políticos, juríd.icos e nas s,uas práticas económicas \ . . Falar de soberania · moçàmbicana é hoje um autênt abuso de linguagem. De facto; toda a ~strutura con:Stitucio1 moçan;ibicaria~ 4es4e os seus fun.d;;i..mentos filosóficos, juddic para termin~r na prática política, enc::onti:-am-se esvaziados r conteúi:io. Eis porque a . política moçambicana, apesar ap~rente democracia, · tpi:nou-se ._ n~ma coisa ligeira, levía (' onde . cada um procura . os seus fins individuais : ( . « cabritismo » que é, de f;tcto, o « laissez faire, . laissez passei moçambicano . . Todavia, esfa situação é possível ou pelo m~nos _ facilit.ada por um outro facto : « a nossa incapacidade . , · assui:nir o que a liberdade. comporta como respo~sabilidade (' O camaronês M veng fala da pauperização antropológica < negro. . . . (" . Eis po:rque o maior comunista d!e ontem pode tornar- (' no .~ior apóstolo do liberalismo selvagem; . o revolucionár de ontem no reacci_onário de hoje, os Hbertadores de ontem I instrumento de colonização de hoje. . · · Í -1 A Frelimo ·viu-se obrigad.a, por razões militares e pe pressão exte:dor, a . insta_urar um. sistema democrático, sei estar realmente · convencida ·de. dever compartilhar o pode cuja legitimidade hauria da luta armad~ contra a colonízaç~ portuguesa'. H~je a ' Freliino vê-se obrigada a harmonizar <.(° . e::i:,igêndas de d.J,.as ·autoriclades: a Renamo e a Comuni<lacl J Internacional. Ora, se -~ força da Renamo no contexto nacion; é muito ·fraca, o me~mo ri.ão se pode dizer da Comunidad l 133 . e l ( e: ··. ·:: ·:: •.' . : .. _ ..• ·.~ ... ~ ...... , ,. . .. ;· .. •' • ' ' . . ,_., .....•.... . , .. ......... ,: _. ,,_. , --··-·--·-·-· ·····-- ·-····-- -· · - -~---·--- (' ( • ( ( . ( ) ( l ) ( ( . ( r ( ( ( ( ( ( r ( ( ( ( ~[: ~~ :_ . ~ i " 1~.\f -~ i' / . .,, ' 1 ~ ~. - ' Internacional, que impõe literalmente de uma maneÍl'a abusiva e anti-soberana a política, a economia .e o tip~ de governação. ' No contexto económico.dominante, o govemo·precisa do dinheiro dos doadores e da comµnidade internacional para melh~rar a vida dos moçambicanos, o que, aliás, é a sua f-unção política como partido no poder, mas está conscienLte da divergência de interesses entr·e os moçambicanos e de uma certa Comunidade Internacional (cf. entrevista com !vfa.riano Matsinha, Savana i.5.04.1997). A Renamo é vista como instrumento da: Comunidade Internacional, · c~jos ohjecti~os são o enfraqueç:imento do Estado, a divisão do_ país. Contudo, a· . Comunidade Internacional, apesar da sua fo~ça, . só pode · go,;.emar de maneira indirei:ta, pois dificilmente pode_ pegar em armas e ocupar militarmente Moça:.nb!que, ou mesmo . nomear governadores e administradores em Moçambique. A Fr-elimo submete-se aos dictats da Comunidade Internacional fazendo tudo o que esta exige, a . fim· de obter dinheiro e financiam.eritos, ªº. mesmo. tempo que a: nível político, t~nta isolar a Rena.mo ( « Carta aberta aos moçambicanos » . de Afonso M. M, Dhlakama, Savana, 04,q4.:i997) e os outtos partidos da oposição. Todavia, apesar d~ aparências, o · verdadeiro adversário da Frelimo, não é a Renamo, . como ontem não era a Renamo :- Samora Mãchel quis discutir directamente com os sul africanos ~ não com a, Renamo. Hoje a táctica é a seguinte : ·fazer a vontade dos doadores a fim de ter investimentos, · mas isolar politi~amente a Renámo e os· outros partÍdos da oposição. . ·· Às estratégias de apropriação do poder e do seu abuso por parte de uma certa Comunidade Internacional a F relimo . . ' . J ' responde com · \,lma dupla táctica : docilidade · e submissão apa~ente face .à . comunidade internacional, e isolamentQ das oposições políticas nacionais. 134 . }·. ,. " !:. :::.' . Como se trata de uma estt:atégfa de l~ta .contra o (neo) colonialismo, . não é surpreendente ver reem~gir ~irigentes his_t6ricos da. Frelimo que se. tinham evidenciado, .sobretudo, pelo ·seu nadonalismo e na luta contra o colonialismo; · Este processo faz-se ·em detrimen.to de uma ~en:i.ocracia re~l q~e, · p~rtanto, se tinha com_eÇado a engodar. Isto fa:z-se, por outro lado, em 'detrimento de um debtte democrático cultUral, que . ..tenderia a desloca:r realment~ o centro de gravitação .do poder . -~,_::_./., :. · e~ dire~çã~ à.s _pessoas· reais, aos ·. grupos e às culturas. ·As . · consequenc1as sao : : . · { ·,: ' . . . · - o is~Iameri.t~ d.os partidos da opdsi~ão, ·a diminuição da ...;~ .. : · possibili'4ade aa democracia ; · : '. . · .. - o centraHsmo político, que imped~. a possibilidade de uma cultura política rno~ambicana. Isto ;é, a criação de um 'substracto político nacional a: partirdos v~l.ores do homem de · Moçambique ; ·. · · - o reforÇo das te11.d~ndas ª\ltoritá~~s e centralizadoras _do partido no poder, que'. se v~ obrigado '· a· recorrer .a armas nacionalistas' p~ra defender o 'país. : A responsabilidade da Comunidade Internacional no que se passa em · fy1oçambique ·. é .enorme.· . Existem '.diferentes L; · Comunidades . . Internacionais, · · aquelas . . pretensamente ·).>_ . .. · neocoloniais ·e · tuteladora.S, e outr:i:s cujo~ objectivos são de . }.i · ajudar a construir · uma comunid~de '. polític.a .soberana, . ~y, democrática, solidáda e fundada sobre valores moçambicanos. }f_. . Penso que seria tempo de u.ma análise crítica das. atitudes da { :: · .. ·comunidade Internaé:iop.al ~- da sua ~espo~abilidade no clima· :; · que existe no Moçambiq~e de hoje. Exist~ hoje u~. rÚco de {}" confusão e~tre ~ democi:a..cia e o neocolonialismo ; risco de· ver na demo~racia . e .no · liberalismo, simples avatare~ do ,i: .. ·. "."···· • '~: "'·. . neocoloniàlismo. ' T: · . O maior erro, · .que :· poderia~: cometer as « velhas :;: . democraci~s », .·seria api:~eri.tareD;l-Se conio ' modelos,· ÇOinO OS f; · . q~e sabem c:Ómo ~s ·coisas devêin.$~~ feit~s, c~mo os problema~ . ~~:· ,. , . . ·. . . .. ·. . . . . ·,;-· .. ;~ ·~ . ;: . .. ·:.· , , ? .. : 135 .· . . • ' ·.-. •' ., . -~ ., . .. . : ... . · •. . : . • ·' . ~-: ' . • ~ · ··~ ·: ;. °'.'· ~·· ••• .•. ""; '.~ ''.': .. ·•: : ... ·:· : ........ ; . •• :.: .• :--:;-..-.. ::(_, ...;. -~- - ... ,~.-~ ..... : 7 ·-·. ~ :1. :· . ,,.,_ •: .' ... ;.- ' .'. .,. ,, .· -~ .. . " · .... . . .: .. ~·:- ·.· ' :-" . .. ' ~: rl.:_'._:r: · ·~1 . -~ p 1 \~:,J -1 ~ 11)~ : -~ '· ·· --· ~ --ilt] - ~ . ._ ~: ;. :;~ ,, ... , \; ~~~{ ·-- 8 ··: ·:. - t::_;~. .1 ... ~. · ! . .:: " .. ~;: ·· ·.: · .. '/:.'·' :• ···· .· . . ~ . . .. . ! .. . . ,. , . :· . .... .. ~ . . ~ .- 1 1 . · .. · Capfruio I'II .(:. devem ser resolvid~s, o que elas 'não são e ne'm podem se:r; e impor, mesmo em ~ermos eco~ómico$, o modelo e o estilo de sociedade que elas consideram boa para Moçambique. Neste sentido, é extremai:nente lamentável a atitude de -certas organizações. Exigir que o Estado, o Governo, adopte e implemente práticas políticas e . económicas decididas por investigadores e por centros de po.der ocidentais, como condição da ajuda económica, é uma política que se baseía no desprezo pelos governantes nac;:íonais. O perigo evidente, neste caso, é desacreditar gràv.emente o: Governo ao.s olhos do ·" povo, mas sobretudo des.acreditar a própria dem.oeracia- aos _ ::_ .. :. ·· . Historicamente, a dire_ita identificou-se com a crença da prin:iazia absoluta das libeidad~s individuais. -Primazia essa qt.1~ permite ---~ certos jndivíd.uos possuírem aquilo que · Marx . chamou de meios ele produção. A esquerda identificou-se coi;U ;:;- . . -a . redistribuiÇão o mais eq\l.itativa possível dos divide~dos olhos .do povo e. dos seus líderes. A Comunidade InternaÇio'nal, pelo m~nos a não colonialista, deve rever a sua posição, deve compreender . que ela não pode ser coloniza'dora, neocolonizadora, tuteladora, sem ser contra Moçambique e contra os moçam~icanos. 136 :-.: : · ec~nómicos; Entre 1945 até x989,' esta divisão materiali~ou-se . >-~ ri.-=. · co~t~aposição entre os ~locos do Ocidente e do Este. O · ·-~:. pri~eiro compreendia paí~e~ . que· eram, ~o mesmo tempo, _ :·: · capitalistas e colonialistas. Os segundos eram marxistas, mas .. _ . -. -também teodcamente ~nti:-colonialistas ; em consequência, ).::. · ' apoiahtes · dos movimentos mundi;lis da luta - - pela . -r;·:: -. autodeterminação. ··:-_ · '.. - _Nesta óptica, o alinhatnento da Frelimo no bloco de -.:t;·: ·:. ~querda era -lógico. Assim, a Frelimo da luta armada e a -· Ç::: - Frelinio da primeira · Repú~lica- f~ram um. moviment9 e, ,, . -:'. ·- depois, um: partido obviamente de esquerda. Mas a Frelimo da /'. .. :. ·s_eguncla República,_ que adere ao _FMI e ao BM, a Fn~llmo , .. ;r:· -;.' - :acti.muladora, a -Frelimo dos pr?p,rietários ou co-proprietários . : X J._ - ~ ~- das casas, fábricas, terias; chapas, bancos, restaurantes dei.."COU • ,· .. . de ser UJ]:l p~rtido _ <la -esqU:~rda -e pass~U ~ Ser claramente um \_:./ · partido de direita. - · - -; · A Renamo criou o essencial da sua história como ··· moVimento e depois c~mo .. ~if~íd~· políi:icc) anti-ma·rx~sta. _. Com a Freliµio e _a Renamo -à -direita, de que é feito o " - debate político inoÇanibícano ? Em termos de filosofia política, :_ - .. - o que é . que difere11cia a Jrelímo da . Renamo _? Quem é o 137 ' . ' .. ·· .~. ::··· · .... : :·' .-... .. r. ''?"" ,, ';"' ~·.--;--':"',;-• ' .... -:·.-··- !:"' '''"• - '.'' 1 ·.- ·=:.:·': - ~~. ·-· ·· '' '"::"º · .. :· -' · :· ·- · • •,"' '--::~·-- :;---. ___ ,;·- -·- - --·-----· - ·· · · r (' r e ( ( J e· (_ . ( l e r ( • ( ( ( (' ( · ( ( \ C · í ( ·: ~ ·. Y f:Yl . { i(;:: y~ "" ,~-i:.: .... defensor da igualdade social? O debate polítiéo é va.zio de todo e qualque~ conteúdo em termos de id.eias e transformou- se numa corrida . desenfreada em dire~ção à ocupa.;:io de lugares de poder, dado que o poder dá a.cesso a bens materiais. O liberalismo clássico nasce mesmo d~ posições éticas. É preciso recordar que Adam Smith pertencia à escola moralista escocesa, .cuja preocupaÇão e~a a procura da maior felicidade para o maior número de · indivíduos. As respostas que o moralista escocês não encontra n~s posições tradicionais da filosofia e da teologia, que tentava~ combater ou pelo m.enqs atenuar o egoísmo do homem, Adai:n S~ith parece encontrar ti.a emergente economia política. Através desta nova ciência, Ada.r~ Smith prospecta um saber moral que se baseia não no atrofiamen:to do egoísn10 - a longa .história da filosofia . e da teologia provam a sua impraticabilidade - mas na sua utili:zação para fins morais. « A maior felicidade do maior número.' de indivíduos », a que os gregos chamavam eudemonia. Se o liberalismo, quer .na sua dimensão económica - Adam · Smith a~ qual se pode ajuntar os nomes dos anti~ utilitaristas G. de Stael (17.66-1817), B. Constant (1767-1830) e Alexis. de . Tocqueville (1805-1859) ..,, quer na sua ·dimensão . filosófica Q. Locke) tem uma grande·dimensãc;; moral, como se explica a situa·ção do economicismo s,élvagem que pulula entre nós, em nome do liberalismo ?· . O que se passa tem "que· ser visto no prisma. do _que · F ukuyaina chamou o << fim da história », · que ~ o fim das alternativas ao capítalis~o. Est~ sistema signifieou, ri"~ mundo inteiro, a destruiç.ão dos sistemas !iOcialistas, ·mas tarp.biém o recuo nos próprios países ocidentais de toda a dimensã~ .de . conquistas sociais dos t_rabalhado;:es. Mas ainda mais fundamentalmente, a elevação do mercado no mundo · intei~o à dimensão de regulador das r~lações soci~is. 138 ._;;·: · O · resultad~ . .p:rin~ipal da chamada guerra civil · de ~ ·,. Moçambique fqi o .. fim de um ideal distributivo que estava ; ·. · intdnsecam~nte · ligado a . t.tm p~ojecto de ~mancipação do ·,_ hom·~m moçambicano, a favor da dólar.:.cratiz~ção das relações ·. . ;' .• hl~manas e sociais. i~ .· Com o fim da gu~rra não acabou a violência. Transferiu- .::· ... se á violêrtci~ das arma~ para uma viol~ncia caracterizada pela .~r._,:. luta· par~ a ·obtenção de riquezas. Isto engendrou um.a nova ,j :" foi:m.a. de violência mais velada, . mas não menos feroz~· A.s -~} .. ~~tigas "aüan.ças e relações sociais basea~s nos valores ;;< .. · · socialistas foram. ip.uito rapidamente postas eni caus!l ·e, np seu . ~:}'.: ·_ lugar, nascer~~ novas aliança:_s b~seadas .no interesse. Valorei; · f', .;-'." . como a luta contra: o racismo; o tribalismo, o . regionalismo . E'."·: _.:desapareceram e e:eàer~m espaço ª novas· alianças baseadas nos , s~ :.:·: interesses . que, sem escrúpulos, não hesitam . : em ;;·:.: instt~me.ntalizaras pertenças ~tnicas, ~egionais . e raciais. ·;·· Violência não é só a morte de Cardoso ou o massacr.e de · if' ; · M~n~epue.z ; é também. a mãe que vê o seu filho morrer :por • J'.·'.; ·f'alta ele pão ; .é o hoi:nem de Gaza ou Inhamban~, Zam.béz.ia ou . '..<~: :Nampula que passa dias sem comer e na tel~visão vê ~estiris, w:: .recepções ae .empre"sários OU W.O!'kshops de ub.iversi~ários OU_ .:.:>'.· poüfü:os. ".Violênc"ia é quando se vêem pessoas a s<;>frerem rio ·.::'.::·:)hospital e a não . serem · atendidas porque não. têm: .dinheii:o -: (?: ·:para entrar na clínica· espedal. Violência . é quan~o o . :>: : camponeses produzem muito e .. os produtos apodrecem porque ._.<.': · -: Oã~ ~ esc~amento de produtos agrícolas. ··~~lJo~~ncia é quando , '·. á.s.· terras do.s ·camponeses são anexadas pbr estrangeiros para_ · ;: .: bclsmo -em detrimento dos valores e · lugares simb6licos dos ( > ·grtipos e das populaçõe;. Viplência· é quando o~ pai~ vêem as . :_:. : filhas utilizadas pe>r indivíduos quf! transforma~ ·.as mo_ças em .. ~-:'. · . mercadoria que se , vende ·e se compra. V~olência _é qua_ndo os • ( '.""·pais não têm mei~s para maµdarem os seus filhos. à e5cola ; ê '> ·. qltando os moços, depois da formação, .. não têm acesso ao :: i:nerc~d.o ele trabail_i.o; é quando tod;t uma so~iedade per_de o · '·i: .•. ·•. 139 . ' . . · ·. . ~ : ·. ' • , . . ' .. .. ( . . · .. . ~:·t ' ... ·. : :!" •.• ;-: . ~:· ·. · .. ;- · r··~: •• .. ~·.·. ·· ·.·.~· 1 · r· -r.:t ·~.r--:-~· ·~ ... - · · ···-···· ''"'' ·· ··:·· ·· · ·r ITT ~r .;.:..:. 1 cs . 'f ~.i\l~ j ·~·~ ~- ~; ~ .. .. T ~ Q -- Efü ~J:.: ·.· .... . ~ .. " . . ~ ·sentido de ·· dignidade e torna-se lugar de reali~~ação da mis~ricórdia e caridade de todos os países e ONGs do mundo. Es:ta situação de violêricia é até contrária aos valores teóricos do p~óprio liberalismo. Então, a situação que viv:mos não é. ~cplicável a partir da doutrina .liberal, mas a partir do lugar q~e (ele) ocupa na com~inação entre o fuk~Y,ª1:11-iano . « fim· da história » e o nosso lugar extremamente penfenco no sistema. internacional de-globali:z;ação. ·, = .. • . . Apesar das tentativas . de alargar a globalização a uma . dimensão cultural por Pª1:~ de f~iósofos .como 53 ó fra~cês Gerard Leclercs4, os canadianos Paul Dumouchel e f'1erre .:,: .· · LevyH º!-1 o italiano Maramao55, a globalização é, antes de · i:·· .. mais, um fenómeno da ocidentalização . do· mundo, como defende Serge Lato1,1ches6• Mas esta ocidentalização de:> mundo · · ·:: ·. · · vis~ essencialmente as economias, guiadas pelo mercado que, ·· · por sua vez, ~ubordinam as tecnologias, sobretudo as ·: I .' tecnolog.ias . de informação. · . · · ·. ·Por isso, não é surpreendente que, apesar de sermos um ;:- ; . país periférico, tenhamos em muito pouco tempo entrad_o n~. · ";: . sistema informático : emails ciber-cafés, . celulares. Nao . e . ,;_': surpre~ndente .que na Mafalala não ~e . bombei~~-. as ~guas : ;·::: ·:- · estagnada,s ·que contaminam as ~esso~s . com ~lána . e ~o lera, .. : . ·~ : ,: não se limpem as .ruas~ mas_ se -criem s1tios cc:im .. nt~et . , ~ue ~ · · · , pr~ocupação das uµ.iversidades seja estabelecer um ensmo a ·_;_- ~ · 52 La mondialisa#on culturelle. · Les ctvilisations à l'ép~euve. Paris: PUF, 2000. . . . . . · la dir D. '. p · y 53 Mondialisation : perspectives philosophiques. Sous . e ierre- ves Bonin. Québec : La Presse de L 'UJ:!Íversité Lavai & Paris : VHannattan, 2001. ' 54 World philosoph~. Paris : Odile Jacob, 2000. · . . ss P~saggio a . Occident€. Filosofia e globalw:azwne. Torinó: Bol!ati Boringhieri, 2003. . . . . . . . · • · z .. 56 L 'oá:id'ental.isation du monde. Essm sur la srg11ifi.catíon, la portee et es limites de l'uniformfsation planétaire. Paris : La ~écouverte, 1989., · · 140 (_·: .. ;.:';· · .. ' : · •' . ~ . . . . -.;-· ·, . .. ~ ·. · i . . ·i~ . . e (' distância, não obstante Os custos, a· falta de eiect ricidade . falta de uma . tradição de . leitura. N~ô é surpreendente . sejamqs l it.eralmente invadidos por canais de rádio e televi (' RTP África, canais brasíleir9s1 . GNN, a Rádio Fra ( Internaci~nal, a BBC, a Voz da: Alemanha, etc. . De facto, nunca. o .mµndo produziu tanta riqueza, ma: mesmo tei:npc), segundo · o sociólogo alemão Ul~ich . E. nurica se produziu 1:anto risco, que chega até a.quilo que (' .Retorno do Bom Selvagem eu chamei de natureza morta57• Or r que,se .. globaliza. não . são as . riquezas, mas os risco~. Sã Mozal, indústria extrem.am.ente poluente que funciona a tri quil9m,~tros .de ,M.iiputo, é a vin<!a de pessoas que n,ão t .lugar nas próprias sociedades. O que se globaliza não sãc (' henesses J mas os riscos. ' ('' Desde o . início da trans1_çao das liberdades co independê'1c~a às liberdades como desenvobrimei económico e social, começado em 1957 com a independência e Gan~ e ac~lerado dui;ante o década de sessenta, que 1 ~ncontr.amos (nós africanos) diante da nossa maior apo histórica - desde o fim da escravatura em 1865. Essa aporia (' .jdentifk_ada·em primeiro .lugar por J. Ny.erere5ª na conferên de Arusha de 1965 e gel).er_alizada depois da queda do muro r Berlim ·e da aceleração dos. intervencionismos económico: ~ polítkos do Banco Mundial nos noss~s países. Nyerere di ( claramente 'q\lle o grande problema c6IIl que estávamos em e confrontados ·não era a. escolha de u ma: área ideológica entr· · ~querda e a direita. · Qµer ali~ásse~os pela direita, .q1 alinhássemos pela e~querda estavama~ ' condenados a cair - clependênda e a ser neqcol()nizados pelos países capitalistas (' sociaÚ.St~. ' r· . . 57 Ngoenha, O retorno do b,om.selvagem. Porto; Salesianas, 1994. 58 Socialismo Ujaama: Lis~óa: ;Ed. Setenta; 1977. · · · · (' 141 . . · . . ·.: .:·· -.:·· ."· ··~.: ... . :.' _··· ._ ::.·· ·· . : Nyerere antecipa-se em· vinte aneis- aos . soc:i6lo_gos do indústtia alimentar faze111-- · tom que a própria sobrevivência pós.-:guerra fria, diagnosticando qµe o â.mago do problema para · · deperida·hoje do factor te-:nológico;~. · a África nã;o residia na adesão a um dos . blOcos que se ,. Para fugk a este n~ocolonialismo, ci eco.ilomista Samir. · opuseram desde o início · da . política bipolar em 19i7 até ao >· . Amin propôs o · que . ele.· chamou de «. ~esconexão ». Não. «fim da hist6ria », mas nas relaÇões aporéticas entre ricos e :~. . significava . um qiu:ro napoleónico com ;pirâmides egípçias pobres, o Sul e o Norte. O Sul pr~cisa dos investi[mentos do ~; . .<?htre a África e o resto .dé.1 mundo, mas u~ econpmia auto-. Norte para se desenvolver, mas na realidade a ajuda do Norte ;;: · e.entrada:, tendente a sair de Ul)ll sistema económico colOnial ao independentemente das suas modalidades, longe de ajudar o · }. . : ·qual t:oc:la a África fc:>i- submetida desd"? 0 itiício da ccikmúação. desenvolvimento do Sul, remete-nos para uma d1P:pendêncía y. · . e que as independências ·políticas não n9s · permitiram . sair .. neocolonial, muitas vezes mais perversa c:1ue o próprio r ':Tratava~se ··de ·· pensar a nossa produção· econ6mka não colonialismo. l. · prioritariamente ein t~mos de e...'tpçrtação1 extroversão ligada Há nisto tudo . algo de filosoficamente estranho. O , .':'. .·· ·. às necessidades de consumo dos países do Norte, ufas de Ocidente moderno deve a: s~a · modernidade ao facto de se ter ' .. i:· · ... pensarmos em. termos .de . nós, das nossas' necessidades e de emancipado de Deus e de todas. as garantias meta-sociais qu~ 'Ç : ·ti:ocas .entre n6s, atjtt:s de p·ensarmos no !'.esto do mundo, o se .realizaram no domínio da ciên~ia desde Francis Bacon; no . /- q1.1e, aliás, ia no sentido da teoria de unidade e federalismo de ·domínio da política, com a proclamação do Estado moderno e <· .N. Nkmmah59, · · do Estado Laico, depois da revoltt<;ão fra~c:esa. Esta t Hoje não é possível, nem nos fecharmos em nós como emancipação trouxe como cortsequência o fimda filosofia da r:· -rezava a . teoria · de ·Nyerere, nem nos desconectarmos ela . história. Doravante, o homem. não tem nenhum modelo, não '::·· chamáda s·ociedade global M .as ao mesmo tempo, não visa nenhum milenarismo. Mas, ao mesmo tempo, o homem ~- podemos. ignorar os . factores . culturais, nem omiti-los nos ~cidental se autoproclama, p~r~dqxalm.ente, modelo para o f: nossos 'difereutés 'projectos de desenvolvimento. . resto m~ndo. Assim, o Sul e a África têm um mc>delo1 uma ~::. · A questão ·que s~ nos . apresenta é tentarmos ver co.mo · filo~ofia teológica · da história, uma garantia meta-social e · f. ,podemos inverter a nossa de sitt~ação d~ importadores de mesmo meta-histórica. Em suma, a história ocidental >t,: · riscos em importadores de benesses.? Mas, p~r detrás desta proclama~se quase essencialmente diferente das histórias- ... . .questão unediata, a verdadeira questio: filos6fica não _é saber antropológicas dos povos. caracterizados pela« perinanênda >~, .. F'.: .·.·<=o.mo· :podemos modificar ª npssa· · situação n<> xadrez pela imutabilidade~ T . · ecot:i6mico mundi~l, mas como mudar as regras do jogo, pua Contudo, depois do seu brilhante dfognósticc1, a tierapia . "t· .: enveredar .· · p~r .. uma- .. eco~omia · que j não . com.porte social que Nyerere prospecta é o socialismo Uja.ama. . J/: . : intrinsecamente a produção de minorias ritas em. detrimerito Socialismo africano pré-marx~sta, intrinsecamente ligado à !: ·. ·: de uma ~ioria pobre~ 1 . . . terra, ao campo, à agricultur~ capaz d~ nos levar . não ao. r >· . O. Ocidente não . produz só riquezas e benesses, · mas desenvolvimento ligado ao modelo ocidental, mas a uma ;: : . .. ·também p!'.oduz a atgu~entaÇão científica sobre o risco. Assim sobrevivência' colectivà. ivias as bi~tecnologias, os OGM; a (< . manipulação genética dos ani~ais e das plantas, ª emergente · . L. 142 ~: ,. ... :; .... ,• ' ·• 143 . .. . · .... . ,.- ... ·., .. ~:-.- .. ........ .... .. . . ·~ f" ::! !l ~! : u~ , ; '!! :':_ '·· ~ ·: [~!; :: : "1f -:J 1 ~ ·11 d ; .'1 M .. 1 :.: ... ~ ~:-· .T p: .. ·-r .... t!l;: '· ,_,: ) '-~l l ~ .;i :•: , .~·, .. :1·· ! ~l -~~ ·~t T ··r A! ·~~ •. .:-- r j, . . '.;·:. ,i:: :: T ~ ·i T ., r~ '· r ;:.::--. 1!'0-· '.~~~~ ,.: T .":, ·. ··:::·; .... ·: .-;.-.;_ .. ~ .. _., ' T ~ ::. ~. ~ ·~~ -r· ·' ;- p 1 " ... t::: . , - D: ;._:.·; t:.~;:~ ..• ::.~ ·..t: IS !!:• - ~lil .. .. ·- ~ ··~.·- '-: .. ·r· m .. a impo~tâneia . do. saber, · dos saberes, da argumentação científi~a, ~~sta' luta de David contra Golias e fundamental. O papel do ens'ino, das universidades é fundamental. l'-lão se trata de UIXl. sab.er que é cópia, repetiçã~,: com pressupostos externos e extrínsecos às necessidades das .pessoas .. Trata-se de uma universidade que esteja.engaja'4 com o próprio povo. No Ocidente existe um controlo social das universidades por parte da sociedade. No nosso seio tem . qu~ .haver um contrato social claro entre os intelect~ais, cuja v_ocação é estar ao serviço do maior' número,. com . as preocup~ções reais das pessoas. O inte!ectual tem . que ser um · hermeneuta que i~terpre_ta não a Africa para o "Ocidente mas o Ócidente para a Africa; que não dê espaços. de intervenção para qu~. o Ocidente nos possa inundar com os seus riscós, mas para que nós possamos importar benesses de que nec~ssitamos. Mas isto depende de um projecto de sociedade, 'de um .projecto poHtico, ~ este tem a ver con1 o Estado. . . Ora, o Estado Moçambicano é um artefacto em crise. Mas ~ crise do Estado é geral a t~d~s os Estados d.o mundo. O Estado já não é o símbolo d.o avanço do espírito em· d~ecção à liberdade, .como tinha teOrizado Hegel. ·Hoje vivemos o fim d~ história, que não é simplesmente ? fim ~e uma alternativa ao liberalismo triunfante, mas é também a crise do contrato social nas socieda,des e noi; ·países onde o Esta~o era pr~;.nadonal e emancipador. Vive~os a crise d~s liberdades e o .perigo de um: colonialismo de retorno. A crise ou o fim do Estado não .pode ser confundido com • o fim da história em termos soterioló.gicos, dado que toda · a . organização social é histórico-temporal ; como nasceu, um dia vai chegar ao seu fim. O fim de uma instituição como o Estado significa a ~ua substituição por outras formas de . organi%aÇão social mais aptas a responder os · desafios .do tempo presente . . Neste sentido, se a instituição Estado ·não é· a mais aptà pan regulamentar a vida social, é ill~smo nec~sário que· ele seja 144 .;·, · ........ .... . ·.· ............ 1 - -·~ ·.• , . ' :.·: . . ·~:: · . . '.;:' .· ·;:/ . substii:u{do por outras ·instituiÇões·, ·ma.is aptas a responder aos desafios temporais. Todavia, a regulamep.taç~~ d~ vida· social é uma prio~idade absol~ta para qualquer sociedade. A regukmentação tem a ver com o direito -enquanto pressupõe a . exi.!ltência de leis susceptíveis de mobilizar homens e mulheres . d.e raças; i:ulturas, reg1oes, et;nias diferentes 'twna dinâmic<!. .. ~ i; '.~·.: . comum; que não dependa de nenhU:m. elemento de separação, ·.;;:;: mas ela força unificadora da lei. . . ":v :: '· Ela tem .a ver com o ec~nómico na· medida em que os . . . :_. :.·_:·:.·~.:·.·.:~.:.·.:: ... ·: · · · indiv:tduos, sob .a mesma tute~a .da l1~i (o que que)r. ddizer que . · -decid:iram viver juntos, que ·tem va ores comuns , evem-se ':°)/,, '· . . sentir co.:.respons~veis uns pelos out:i;?s, devem s~r solidários . . . ;.Y < . . · ·. As:>irn, ~esmó ·. s~ existenÍ e se reconhecem diferenças de .. \? · : · capacidade, de inteligência, de possibilidades, os co-cidadãos . ·:. '.: .. _i,;_:::. devem, não obstante tudo, sentir-se ligados por um elo que os leve a ser solidários. Neste sentido, a .justiça · não pode :f •. significar simplesmente qa~ a cada • Ulll . O , q~~ lhe é '· · · supostament~ · de.vido _ou mesmo as mesmas poss1b1hdades de · :::'!.L ·~ pai-ticipaçãp. A justiça significa co-responsabilização colectiva. . . :~,: '.,. .Q que permite a UU'l empresário avan~ar nos neg6cios é a · :r:~i/'· -, ··. sua p~rten~a ·ª .Mo'iambique. Por isso, ele pode: e deve exigir . . :, .. •.· ... ·-.r:;-.·~: .. _.·,; .. ·.::_. '· .· . · · tiiails · possibilidad~s~ ma 1 _ ioreds. e t:elhore_s _oportuni1d~d0est·uqteulee .. qua quer estrangeir.o, e e . po e . e g,e_ve extgll' que a ei ·:.:%".:-. .... · na concorrê~~ia com os estrangeiros, ele deve exigir que o .· _:_'.;,·~.'.fc;,'.,.-.:_<:_•·.. ... . E~udo facilite a ·expansão e o aumf ento das ·sduai; afcti~i1da~~s , · indu~triais. Tod.avia, se-o Est.ado o izer, como 7ve aze- o, ra- . ·~. ~ iV.::. 1 : · .-: lo em nOme de u~ pac~o . . da m~ça,mbic~nidade que faz com · . ':f.:> que bom~n~ e mulheres de ra:ças, línguas, religiã~s, regiões . _:_ ~:,,;.·:: ·. diferentes, estejam ligados num pacto . de reciproca co- ·: ./, :_. responsahilização. Assim, ele tem dever~s pa:a com os ·seus · t> .. ~- . conddadãós, · através d.o · lE"stado, . enquan~o instrumento de .'. tY ·~ .reguiamentaÇão ela vida.· social. · ... '·· . 'Neste sentido · paaar im.postos, seguir . a . ·>Jf; ' respeitar os . traballi.ado:es .. nos : .. seus dh-eitos , 145:. ,:.,:· ,· .. · ;· legalidade, tempo de (" e e ( (' ( e (' ( e . (' e ( , ( ·. ( , Í l C ' ( : \ 1 ( ·· ( ( ( ( ( , ( , ( ( 1 ( ( ( ; ( ( ( ( ( ·1 p; 1f J~~~ :-: ~ 1 ~i ·' :·:· "@ ! ; .,~; f 1 trab alho, salário que pell."mita v iver dignamente, respeito pela pessoa que está. ao nosso s~rviço ~. é um .acto de cidadania. [ _ac~ores do l~st_;ido estavam. interessados ~~s próprias· coisas, ( .. . ~:-1~adas e_ Il1Ulit,ci pouco inte.res.sados nas coisas d~ ."todo~, Os ,. : umgentes_ po _íticos · são vistos pelas · 'po.pula"ções :como r.. ·p~edadores de bens públicos para interesses privado~.' t' . . . Em . conseq~~ncia, nós fomos vot~r ~ segunda ~ezcom . ;;; . ·· tde1~ clara d~_q_ue ·~ arbitràriedade eta mais Ím.porta1:1te d~ que . .. t ,··. · .a le1 ; que a .in1usttça, o roubo, as assimetriasj eram as coisas · Nas cidades, muitos moçambicanos têm empregados domésticos, . ins~ituição colonial , que muitas lázaros s"ubidos à cadeira do senhor herdaram sem condescemlênda e muitas ve&es · com tirania. l~to · signifiea que muitos de n6s somos patrÕes ou temos pessoas a~ . ti.osso serv iço. A n1esma questão que se põe aos proprietários . de empresas, põe-se aos . que têm domésticos ao. seu serviço : onde e como v_ive1n ? Qyanto ganham? Qual é a situação da -educação deles . e dos filhos? Qyal é a situação da saúde? Q!tantos emprega~os d~~ésticos ganham . por mês o que . nos gastamos num ju~tàr no restaurante? Aquela . . justiça· que ·reclamamos dos · nossos patrões nas empresas; ou com o pais._dos países elo Norte, n6s a .: :J> . mais. importantes. F omÓs VQtar com uma d6lar~cracia, com o . L; :. dinheiro. se·nda ~ - único valor e não ~m Ín.efo para a~ingii: f ins ·; ·\·.:;: sociais ·· · pré-~tabelecidos. Resultado:·· · a'.ceder ao poder '( ' significava acedei ao dinheiro. . aplicamos qu~rido somos revest idos de poder ? . . . . o tema de justiça é tão velho quanto a Hlosofia ela · mesma. Se o direito e a moral se aplicam desde s:empre para des...;.~ndar o seu mistério, é porque a justiça, como bem v iu Kant , está intrinsecamente ligada à. questão da paz, questã() central da segunda República mdçambicana. , Começamos este trabalho dizendo .que, - ~ara os cientistas soci~is, o povo moçambican o foi .votar nas primeiras eleições _ para sancionar o fim da guerra, isto é, para a ii:istauração da paz. Então . dizer que os actores políticos devem ser julgados pelo mandato claro que tiveram dos ele_ítores, significa que eles devem se~ julgados pela sua capaddade de busc~_r a justiça. Assim postas · as coisas, · é difícil pensar que os eleitos cumuriram com o mandato qµe· lhes foi . c:Q1'.Jiado pelos ~leit~res,. pelos menos. aos. olhos dos eleitores eles _mesmos. . · Com efeito, o sentimento popular em relação ao Estado n a · primeira legislat_ura d~ segun da Repí1blic:a era . que, con trariamente à situação da primeira Rep{tblica em ·que o Estado estava ·demasiado ·presente, · de noventa e cinco a doi~. mil o Est~clo estava demasia.do · ausente, ou então :· que os 146 : ~~:."· . . · .Qy.er diZer q~e o subs-~racto da- vida política não obedece :·'.:: :-: ·~ n~nhum prindpio "étíco"; as 'leisº não secundam a p~ocura da ;f. )USl:l.ça. 0 resultado disto é . Ulll . sentimento de . injustiça : { ·. generalizado e uma constante .àmeaça à paz . . . ·~:·, A guerr_a d.o Zaire foi seguida por tima "afirmação da · : , e~tão Secretária_ do · · Estad? norte americano lv.l;argaret . J\llbright s47gundo ·a .qual a Africa estava conhecendo a sua · ;· · . . P,l'Í~eira ·_ guerta ·mundial. O que ela queria dh:ei- ~ra que ~ '; · Afric:a tiriha frontei~as não realistas nem yiáveis e que era _; ·. tempo _de repensar . as novas fronteiras. · De um kdc:1, · os ;.·:: . principais actores ~a poütica internacional pensam· em refa:zer r'.: . as .frontei'ras c_olc:>riiais ; do outro, os actores africanos, . apesa( _ de reconhecerem a inl;ficácia sócio-eqmó~ca da geopolítica . herdada do colonialismo, continuam . a defendê-la como o ' :. principal actor político . continental, pela única coisa que ela . sempre.defendeu: o respeito pelas fronteiras coloniais. . O debate em volta d~s fronteir~s ~ameça com o _fim da .· ·= · Segun~a Guerra -Mundial. "A questãb era: saber em que.espaço geopolítico dev~rfamos . proclamar as Íri.deperidências para q~e .:: elas não fossem simplesmente cosméticu. As ideias .· de '. Nk~triah, não encontraram um terreno • fértil -entre as ·-.·: ·. ambições pessoais dos . líderes emergentes d~ época · e . a clara · ,. vontade neocolonial e de contr:ole das antigas potêndas 147 .· \ ' : ·, . ·· · . . · , i; .. •· r· ., ' -: ~ . ::::;·_;f'r· : ; -·~~-,..-: ·:-.: ~~:· ~--;-.'. ~-~: .. . ···.· .. '.~-· ·;::.~ : -~;.'..~;- ··~:F:r·r: ·;·f.:·_::; ·.~.:~·_,·· :~·::~ :··7::-.. ' : ., • • ,J . . ~. : ': ~ • ; • .• : . • ' ·: • • , • . ... ·.~--~ ··· • . . . . r • . ~ • • ,. ·, . -~. '· . • : · ,'. : . • :•: .. • " • • . :: :' ., . ;_ '' :· ~. ~ ' ' '• ~ ... ' . . . . :?. \i/;1 .:~·. í, . • . . ~ . . : .. ~· ~ íll o;_i:._ -1 ~ ~l'~:~~ co1oma1s. A conjugação destes dois factor.es · acabou favorecendo um grande conservatismo .e uma grande falta de , . ousadia para questicmar os substractos e as principais ,. Patrice :Lumumba, para 0 substituir por um Mobu'tu: instituições coloniais. . ' · . InfeH~m~nte, as práticas políticas do continente nio cessarão Às .teoria,s do~ Estados Unidos de África e da ' ele . se inscrever· · nos · par.adigmas neocoloniais . claramente manuter1ça-o d~s . · frontel'ras . colon.ia1's vieranl ªJ'unta.r-se as ;1"' :· · bl · .. d d d . · · d' z · &· 6 E' · r L · e.sta .e ec1 os es e os .eventos . o a1re e 19 o. 1s porq\.1e se ~ ideias de espaços de . cqmplementarida~e económica de . !• . deve ~·audar ~ d.eterniinaÇão com . a qual . a união africana Mamouciou Touré e de Mamadou Dia, e as ideias de · l .. , interveio e . pôs cobro . ao golpe de est.ado ern S. Tomé e homogeneidade cultural' de C. Anta Diop. No funclo, a questão . i, ' . · · . Príncipe, esperando que seja o início dum~ nova era. não era só traçar fri:mteiras ou r~speitá-las i era a p~eocupação : V O conflito do Zaire p.ós-Mobutu não se limitav.a a de . ter independêndas que não fossem cosméticas, mas "ti' evidenciar os l imites .objectivo~ da geopolítica herdada da e susc~ptfveis de tra~er verdadeiros .~esultados também em l· · coloni~aÇã~. : C hamava .a . atenção do continente sobre a termos socio-económicos. :.f' : necessidade impelente . .'de retom.ar o_ caminho da reflexão de No debate do fim da década d.e cinquent~, Nkrumah :T . . · ·uma geopolítica susceptível de trazer resp?stas aos problemas t inha chamado a atenção para o perigo de porm?s ~África na : F,'' . com os quais as populações ' estavam . cr?nfrontados. Torna, . situação de. ser económica e socialmente re-colonhada - o que : ',;',:.· ..... . . assi~, actual a necessidade de um.a unidade, a necessidade de se está a verifi~ar h~je -; do perigo de vermos os antigos . . pensar nos imperativos económicos e nas complement~ridades impérios voltarem incentivando o t;ibalism:o. Vimos isso no ~ · .' .· económicas (Mamadou ';('ouré e Mama1ou D1à), n a Zaire de Patrice Lumum~a onde a Africa se .mostrou incapaz ·: .. ~· necessidade de pensar na dimen~ão cultur~l (Cezaire, A.zikiwé de unidade, de solid~riedade, de determinação para se bater ·,:: e e. A~ D iop), de um desenvolvimento ª1;1to-centrado (Samir pela sua liberdade. .:. A.mim e Nyerere). A estas «utopias anteriores» vieram No fundo, em 1960, três an~s depois da primeira ';:: · · .. ajuntar-se novas tentativas: O « Renascent Africa » de T abo independência, ª. Áfríc~ tinha demonstrado· não estar em· '".< · ·. Mbeki6º ·e 0 NEPAD6'. · . · · ( altura· de assumir «o· que a respons~bilidade com~orta como .:::: . . . Se ·qe . um lado. isto . é pos1t1yo porque represent a a responsabilidade ». D!!pois desta data, o que aconteceu, '. :.~: . retomada . de um . debate .de ideias . no continente, podemos - incluindo a história política moçambicana,. é mais folclore, . ~ -i . . lamentar que este resl!urgime~to de debate de ideias se cosmético que a~go de substancial e de real. No Zaire, o .'}:; . subordine .a imperativos económicos (NEPAD) e a uma visão neocolonialismo tinha se implantado criando as '. premi:ssa.s da ,!,\ : · neo-liberal (RenasceI;l.t Afiica). . trib~lizaÇão política (a ·que Nkrumah tinha chamado de :U':· Pode 0 Renastimento africano liberal, sob a égide da balcanização) que infestou a hist6ria política do continente i . t~ RSJ.1.., ser um µiotor liberthio para a África, o u o governo cria'ndo as premissas de uma alternânciade poder feita ·de t' ·' . golpes de estado, de uma prática política feita de violênda: e de • V: .. assassina,tos. Mas, sobr.etudo, usurpou e privou os povos ?/ africanos de .4emocracia, fazendo assassinar o eleito do povo, ;,: .: 148 ·.· . ~ Africa : 'fhe Time Hçs Come. Cape To~ : Tafelberg & Johannesbmg : Magube, 1998. · · . . · . · 61 Lorenzo Craxi, . Nepad · o il nuovo· futuro anteriOre afi'icano: Torino : Einaudi, 2004. 149 . :. ~ ' . ." ' . .•. . ._ ,. . ·- . . .. ,." .. , .. . ... - " "':~ ... · t .. 'f.-r, :- : .••. --: ... -.- .. ,'?;" ... '"'"õ : ... ~.-,: · ·:_~~.·-•• ~. ,,...~_ ... • ... . - :. . :. ·:--.: :~·.· . . . ...... ~ ... ... . . .. . . ·. . . •r, ·',-:·" _ _ .,. ---7--------~--. - -:·-· ·~ ··· - • · • -· .:. ·- ··· ·.· . .,,- :- ... · ·:~.~ · · ·· ··1;: •' ·'• · \ ' .... . : " .. .. ~· ·.:: . "~ ~ ,·· e ·( y ( 1 ( ( . e ( ,\ r ( ( ( (. ( ( (" . ( ( ( ( ( ( ( ( ( : ( ( ( ( ( · -~i,~• :.; _, ·, l'."T' -i ~u ~f'., - -~ -~ s . negro da RSA vai simplesme'Q.te caucÍónar e legitimar as veleidades hegemónicas de certos interesses sul- africanos ? O período da transição do Apartlieid ao. governo da ANC enco.ntrou Moçambique também num período de transição política e de incerteza muito importante, e isso foi-nos fatal, A SADCC para a · qu~l n6s tínhamos contribuído substancialmente para criar e pela qual pagamos \11'.~ preço elevado, nasceu contra a teoria da constelação de Voster e como insttumento político de resistência regional contra o imperialismo .e a dominação racista da RSA. Mas, no · momento · da transiç~o ·democrática para a qual tínham,os contribuído, nós grifamos.pela nossa ausência. A então SADCC pea;nitiu que . a RSA mudasse .e · reencontrasse o . seu novo equilíbrio . sem . nós. Em vez . de termos a nova RSA como membro da dinâmica política regional, tiransformámo-t10S em Satélites da nova África do Sul. É como se a passagem de SADCC . a SADC fosse, . na realidade, a vitória da teoria da -.co,nstelação. . A desequilibrada geopolítica de Móçambique, com a st,;1a capital na ponta sul, foi o resultàdo da ·necessidade de proteger o porto contra as investidas ocupacionais e anexionistas da África do Sul. A RSA sexnpre quis a~exar MapU:to, po~ ra~ões militares (conflito Anglo,.Boe:r) e económicás. O colonialismo . . português sempre se opôs quer a ceder o porto· de Maputo, . quer à divisão do país pelo Zambeze. A ·primeira República também se opôs veementemente às veleidades aneJdonistas sul'.'africanas . . Ora, a primeira República termina com os aco1::dos de paz .e com as eleições após um longo período d~ . perra~ Esta guerra não foi civil, nem· sequer foi unicamente fratricida. Há uma série de questões que merecem ser postas. Qli~is ~ão as verdadeiras razões da guerra ? A queo:i é que a guerra serviu ? O que é que o · país ganhou ? O que .é que o pas percleu ? Há ' outros vencedores ? · · 150 i. ' i .· E .... :.,t t A ,. • t ' . .u .. em .res cenainos poss1ve1s.: 1°· Cenário : O país pe~deu. A guerra civil .significo~ . para o país um retrocesso· d~ ponto de v.ista ·· humano; do ponto de . vista econcSmico ·e do i · ponto de vista ~·ociaL . · · . · · . . . . , . . . · . Do P,onto de vista. humano; foram . destruídos todos os : '; · tecidos sociais que _na primeira República, e mesmo antes se . ·tinham· dificilmente cozido. Hoje ' 11ós ~omos tribalis~as; . : ... ·. · radstas, mas_ Sc:)bretud6 adoptamos esta nqva doença .Ocidental que se chama o individuallsmo. . . .· . . . ; ··'.·. .. . : . ?~ ·p()~t? de .vista e~o~~mic;o, . as p()~c~ i~aestrutu~a~ · :· .. : '': que tmhamos. foram .. meticulosamente destruídas ·e a nossa . · '"· .. · díVida f!xtema i:9r~o~.:.se '-"ma das mais ~levad~s do mundo. i . , • Do .ponto de vista:· social, t~das ·as ~edes de solidariedade : foram destruídas e, no seu lugar, nasceram à desconfiança ' .. ... entre vizinhos, famílias e mesmo ·no interior de uma mes~a· , . família. . \, 2º Cenário :.Ó pafs ganhou. . . l;·:... Pode-se avançar o argumento da paz: ~ p~ís conquistou ;: .): a.paz! . · · · · i: "< . : ·. Mas O· que · .é a paz? É simplesmente. a au~ência da i .· "guerrà? Qual é a relação entre a pa; e a justiça ·? Um sist~ma · ;· ~ : injusto ou .percebido · como . · tal. pelas populações é ";--._ :· ·. necessariamente fonte de conflito.. Com efeitq, existe ·uma ~· i >·relação: intrínseca entre injustiç_a - ou. a . percepção de uma . t ' 1 real~dade· como .injjista - .e a viol~ncia. A segunda República· ~ . .i/·'.,··.percebidapela pppulação como individualista e 1.nJusta.- >.··: :· ', . No·. mesmo momento em que aumentam no . país o. .J_; · :._P:um~ro · de Bancos, d~ v,ilás luxuosas, de viagens 'para shoppihg . i· 1 :.e1n Nelspruit,_.' Lisboa, Dubai ou para o·. carnavciil do Rio de . ·~ Janeiro, Moçambique foi aceite no. programa IPIC do · Banco ·. ~ - , .. Mu11dia~ destinado aos mais pobres do mundo. : . . ~· •' . · . • : . ' ·' ·.:· .. ·. 151 . \. . .· .~ ''"'i ffií! 'li U; : : l rn ! ' ; : ~ .. ~. : 1 :B . : •· -r ~ :·;:~·. -r } ~ :~ i; 'i J.: . •. . o segundo argumento que se pode avançar para d,efender a vitória do povo é a in~tauração da democracia. A favor desta tese . podem-se · O:i..ostrar muitos inclicaqores a :começai: pela actual constítuição, a eJCÍstência de um Parlamento que se quer representativo, a existência legal de pa1·tidos políticos, a existên~ia de · meios de comunicação de massas privados : rádios televisões 1' ornais ··, a existêO:cia de ensino secund~rio e · 1 . 1 ' superior privados, a existência de associações, etc. Apesar . dos eleme~tos positivos apenas mencfonados, podemo-rios questionar quanto ·à natureza da âemocracia :· ··· ... , • .. .:.· .. ' , .t.' . moçambicana e quanto à capacidade de os partidos polític.os serem represen:tadvos na sua forma actual. Podemo~nos interrogar quarito à. capacidade de . ·as populações moçambicanás .. . compreenderem e, . por conseguinte, participarem de urna maneira consciente numa democracia que não fala a língua e a linguagem d.as pessoas, que não haure . ,; a sua legitimidade in~titucional nos imaginários colectivos das : "· nada, nem sequer . de si m~smo, vai.i à.prender a arte do . empre$ariado ? Este dogma liberal - que eyacua até o postulado (' snlithíano da necessidàde de r.espeit_ar as regras . es~ataís e . mesmo divinas . 7 niio· contém nele . mesmo os germes da corrupÇão e, por consequêni::ia, da violência que . se assiste em Moçambique ? Ele não acarretou consigo a con fusão entre o (' . . público e o priv~do ? Entre o home.m político e o empresário ? C . Óu ainda ·pior, não transformou ~ política · num meio para atingir objectivos. individuais de carácter económico ? Desta . forma, não falsifica ~ democr~cia e :O debate polít ico ? e . Ç~nio têm defendido alguns especialistas (Sabelli, Suzan J<?rge}, e~dste • o risc.o de se hipotecare~ as liberda,des das popukçõe5 às alianças . entre as elites (politico,econ ómicas, { sem e:x:d uir uma part;icipação 4as elites intelectuais) e os interesses de certas .facções ultra-liberais do Norte do mun do. populações. Ou sej~, de ~ma qemocrada que se apresenta mais .·. , 3º Cenário : Exist~m outros vencedores. · como uma ·cópia das instituiçõ.es políticas, . jurídicas e :· . · . Talvez eJdstam ven~edores dai segunda guerra de constitucionais do Ocidente, que, em definitivo, são respostas :. '<.. . . ·MoçaJ:!lbiq~~. Mas . será -que se tenham que . p1·ocu.ra;r em (' políticas e jurí.dicas aos proble~s . com os .quais os europeus • 't_ . . . Moçambiq~e e entre os moçambicanos ? Não será que se tenha estiveram confrontados nu.m determinado momento . da sua ., ·:.. .. que procurar os vencedores entre os q ue até há poucos anos história. · · •:onttQlavam as alfâ.ndegas na~ionais ? Entre os que conti:olam Se a nossa democracia não encontra ª· sua iegitimidade.. .:'.: . . . as nossas· fro~teiras marítimas:? Entre c;;s que controlam o C-- no interior do paí~ e do povo, .onde é que vai buscar ·a sua· .,:>_.· :t~áfico financeiro e mone~ário? Entre ·os 'lue querem .constrtJir (' legitimidade? Na comunid~de . internacional.? . Nas ··'.:';.: .: . bases milital'es no país? Ou tem que se procurar os vencedores Organi.ações Internacionais? Nas . Embaixadas? · Na ·/'.'.·,..: . :·entre ~s que inundam lit eralmente MoÇan;tbique com os seus funciação.F.ord?Ondeéq.ueestasi?stituiçõesforamhuscara .,'.j. , ·: produtcis;· ao mestno tempo que maltratam e. humilham os (' . sua l~gitimid~de política e moral para poderem legitimar e · ... ' . moçambicanos, n ão obstante os sacrifícios feitos pelos servir de garantes à democracia Moçambicana ? . . . · ~oçambicanos pela sua libertação ? . . . . . O terceiro argumento que se pode a_vanç~r - é o r:nercado . Em definitivo, parece.,-me poder diz~r que nós, e quando (' livre. Teoricamente, ·todo moçambicano pode ser empresárior · •. digo nós, quer_() di.er, nós· moçambicanos perdemos a guerra. Mas onde é que os moçambicanos vão b~car o dinhefro para ·A Frelimc) _não ganhou, mas também a _Renamo não ganhou: O investir ? Onde é q~e esse. povo qu~ ~unéa foi prop'r.ietátio de . país teve . u:~ número inconf~sável de mortos, aleijados, as Ínfra.:estruturas económicas, escolares e .educativas destruídas, ' . . . . i52 · 153 . . . ' · :.~ ::.:~.:~.:-·,~ :-:""7 .. ~"7--'77·i":"' ... . ...... --~~ ·-~7~-:-:~~.....,..- - ,...,....,.,.., ~. ~: .. -.-.. . ,. · . .... _., . -~·~ ....:. :.-·· "'.!'~~:;--· : -:- ~.-.~.· ~~_.·-:_. -. ·_ .. ;_; · :-.~! :~.~ T-:-:;: .. 7"'-.-.-.-.. - .-: · -. -·· ··~ ... - . " . ~ .o: ; ·.::.: ,.;. ( ) ( e ( ( ( 1 ( ( (, ( ( ( ' ( ( ( ( ( ·--,· 1 --1 []: -i : .. ·. . J ~.\ ~)·.~ .... . '. . .. ·· ~ : ·'-· . : : · · ~ · ~- :. ,. ' \ " r. O país teve os seus diferentes tecidos soda is gravemente !' ·. · · . partidarismo em :MoÇambiqi.'..e, i~ia também conduzir :afectados. Mas se · a Fr~limo não ganhou, . a Renamo não · •· da de~oci:acia mono-racial da RSA, leva:ndo os dois p< ganhou e o povo também não ganhou, ·quein foi ~ vencedor da . r .. . " . alinhatem ,na úti1ca política e organização social possível. guerra ? ~ .' . • · Isso · ievaria · a tiµ:>.a inudança política na .RSA Aquilo . que a . RSA nutica conseguiu nem no período · :. , .. também ii, mudança d.as relaç~s sociais e a~ pr• colonial, nem na primeira R~pública f~-lo depois da guerra. Se - ··- '. ctist;rib~~ivo dos recurS()S econ.ómicos. O primeiro procei ~ porto . de Maputo não foi anexado nem Moçambique foi político ~ caminhàva sem problemas, mas era previsível. separado do Zambeze, é 'evidente que sob . o p~nto d~ vista .. ' · · segtirido fosse muito mais complic~do. A RSA teria h< . puramente econ6mico o sul d.o país ficou mais vulnerável aos .. . .· de. . cores e raças diferentes a trapalhare~ pax:a cria:r interesses económicos d.a RSA através d,a auto~estrada. i\.1as · : ·; · . dirt~mica unívoca e comum, a· qu~ mais tarde se char . mais . profundamente, riunca como hoje a economia do sul de · , : visão de.New Sotfih Africa: . . · . . Moça~bique esteve tão· <lepende da econoni.ia sul-~fricana .. O~ -:. · Ora, enquanto as conversações entre M ·andela talvez se) a melhor dfaer que. nunca houve ta~to conformismo : '" . ·Clerc decorriam : :~om: altos ' e baÜos, . nós .ficámos a as à h egemonia ~conómica ela África do Sul como hoje. . Perml.timos · até que países e co~unidad.es mais longfr Internamente, dada a vizinhança entre as províncias .do ' ·· · 'que muitas ~ezes tinham sido cúmplices do X"egim sul de Moçambique c:om a maic?r potência económica · .. Apartli:eid; t omassem· parte c;lo processo de reconci.l continental, o sul, como · Lázaro; recolhe das migalhas que · 1.. . . Deixámo~ · que : os . co~promissos ·; entre antigos ma caem da mesa do Senhor. Aliás~ a África do Sul, investfodo . · ·i. ·• " ·ii:lterO:os se X"es.olvessem e acabamos ;endo nós a int.egran quase unicamente no sul, contribui parn aum~ntar as . :· t.· . RSA n~ que p~ssou a ser a SA[)C. qra~ p peso economio assimetrias n o país o que aumenta os problemas no · tecido . . . a SADC.C queria combater passava a ditar as suas própria político nacional. . ~': .. e obj.ectivos ao organismo que nasceu 'para combatê-las. A nível regional; a SAPCC tinha nas1cidb como uma :. · :.. . · .Se tivéssemos que comparar com ·o processo eur1 instituição económica vocacion ada para. combater a hegemonia .l :. · d'ida~os que a . RSA é a Alemanha re~ional, quer' pela nat1 regional do ~í~tema · de . Apartheid. Tràtan-se de uma i . , . ·d~ ~ua política qu~ levc;>u à Segunda Guerra Mun,dial, que1 cooperação económica pela negativa, mas historicamente . . '.::: "· . importAri.cia económica que tem no <7enero mesmo da Eu necessária . . Todavia, . e.sta instituição con:ieteu . dois erros .· / ::·: :: : .A FranÇa teve. a inteligência política: de começa1· .·a integ1 h istóricos fundamentais. O primeiro:· não ter sido capaz de se ;::L:. ' .europeia com . uma Alemanha airida .: fragili transforma~ num : organismo priorítariiimente político. ' o ... economicamente; mas, sob~etudo,, moralm~~te, r: segundo: ter aceite ser 'f~gocitado ·nas lógicas da . expans~o . ··' dinâmica, q~e começou com o econ:ó~ico, mas sediment< economicista da RSA. · . : .. '. no político. É exactamente a valênci~ política da Europa Q u ando se estava em conversações entre De Clerk e · ·(· faz com que possa existir uma ce~a. igualdade ent : Mandela para a libertação deS.te último, era claro que se estava ·· ;; :· .' . Alemal".lha e Por tugal, entre a França e a Bélgica,, ep.tre a I num tit:Ocesso in.e\ut.ável,â.e mud.anÇa. füa óbvio q_ue o mestnO ,): :._::" ·. e'o Luxemburgo, etc. o qu~ a relação de· trocas não po.de f:a hc.\.<:i-t .- t.\:m. O.a '&u.~uah\.a • C\_-U.t't\'):\.b..~ \~'\la~() ~li:) n.m Ü.o mon.o~ .".-.~·~~: ~·:> ~ t~·lo. u~ dinâmiCa política lúcida. . ;:;;~'.?{s,icTf~::~4W;~~:,~4~~~.L ~•·:j~~~i~~~Íti1;~j;/;.=--~ iss ---r;-- . . . . . . .. :~ r~~ i f~ ' .. ..., it:! .,, l Pi: ::i i[if~ -1"'i ':: 1 r ~fü -, ··1 ·~ 8 ' .. -·' ,, ' -:t · · ~ f7.t ,~ rn -.... . \ . J~ 'l= TITTf 1;;::::.· l ~ l ! .· : .. . ., Qyando a África do ~ul estava ·num processo de transição, nós pod~ríamos ter. transformado a SADCC num. estrutura política, com. uma_ espécie. de. organismo parllamentar .. . consultivo, uma espécie <{e · instítuiçio ·penal para arbitrar . ·'· conflito~. A posição mora~ d.a Áfrjca .do Sul p6s-Aparltheid não ·:.: teria permitido que não integrasse estes organismos nas suas .. dinâmicas políticas. . .A maneira como o processo regional foi . co1nduzido :: . permitiu que os interesses econ6micos e hegemónicos da África do Sul, . desta vez mediatizados p~los novos .actores · :-: · · políticos; se tornassem, ele facto, o grande vencedor da guerra - · ':'.· · .. não ·só: em Moçambique - e · expandissem a sua hegemonia ~ - . económica· pelos: p#s_es .. da região e mesmo mais longe no . ~ .· continente. Se a aproximação · regi~nal (SADC) foi guiada .·:-(:'. · (como · parece ser) por es.ta 16gica·. ecouomícÍst;:& e de !,:·,;;; . Renascii;nento Liberal, como foi teorizada por Thabo Mbeki, . · . ( . então as teorias constelacionais de Voster'teriam ganh1::1. \) · · Nelson Mandela teve a intuição de conceber o direito ·' · não como ·nos _é apresentado nopnalmente pela iconografia, • +: uma mulher com uma espada na mão pronta a corltar, mas '_( : como uma costt1refra que, com riluita paciência e tenacidade, coze as diferentes partes, liga linhas diferentes a· fim de criar . ~· · um tecido único. A intuição de Mandela foi boa . . O que a ·. ;, · África de Sul tinha necessidade não era de uma mulher c9m · · espada pronta a cortar, m.as. do trabalho ·paciente e meticuloso de uma costureir~ capaz · de recozer ·as .relações sodais·. Podem- se disc;utir ·os métodose os resultados da co~issão de reconciliação chefiada por Desmond Tutu, mas não a fil~sofia que a subentende. Aliás este é o coração mesmo da filosofia · Ub1.t~tu62• 62 Joaqui.no Mbana, La 11ouvelle courante de philosopliie africaine. Torino : · L 'Harmattan, 2003 .. · · · :i ·· · !':. · . . : · ·: . ': ·~. '. NãO se. pode se.parar a filosofia ;Ubuntu da política d· Renas.cent . Africa. Ora, . ela apre~enta duas . apoúa (" fondamenta is. Primeira : o: Renascent Africa tem uma vocaç~ (' continental. Mas: e_sta vocação não tem em conta; para forn .d RSA, a. necessidac!e de se f~zer preceder ou, pelo men.o: acompanhar por um p~ocesso de J;econciliação da RS_A com continente ou pelo menos com a ri;:gião. A recoriciliaçã (' limita-se ao interio~ do país e não tem em conta a dest ru.iiçã eco~ónlica .e dos tecidos sociais · dos p àíses vizinh os ' nomead~rii.ente, de M~çambique. (' . A New South Africa supõe um sistema de discirimínaçã (' positiva orientada para ·dirn~nuir as divergências entre classe: raç;i.s no ·'interior do país. ·Qy.ando olhamos para as .relaçoE · entre a RSA e ou seus vizinhos, apercebemo-nos que, pai . além da dimensão elo discurso, só a dimensão econ ómi1 conta. :Em termos de balanço_ de t~ocas ec<;>nómicas, _ªs r elaçÕ• e entre Moçambique e RS~ sao piores . que as relaçoe.s entre_ Moçambique colonial e a Africa do Sul do tempo ~o Apartlm, e ·. Segunda .: se a dimensão do Ubuntu se faz s1m~lesmen em-termos Cle qiscurso a nível .i.riterno e a nível regional, m ; não se consegue inverter a pirâmide e entrar num sistema . ~ di~tribuição . e _de solid_ariedade - ·. como a União ~urope1 ap~sar· do. seu liberalismo,_ fa;z; para os país~s. ma1s fr~c · ·economicamente, e lá se · está, a nív:l ~o poht1co - e~t~o (' costureira ·ubuntu vai fazer trapos . hge1ros e pouco solide s~sceptíveis d~ ser rasgados ao pequeno;movimento. (' . . . Contudo; apesar da necessidade d~ termos presente est (' elemêntos . de «fronteira», talvez tsobretudo por es:arm (1 j~stamente _consCiem:es desses problemas que nos. vem 1. exterior temos que nos defender _reforçando o tecido soe_; interne;,' a UJ:}idade nacional, a . moçambicanid~de ; CU) (' in.Ímigos principais são hoje, do exterior, os novos s1ste~as . clomiii.açã~ representados pela globalização das econ~m1as, d prograill.as de ajustamen.t.o estrutura~ :do BM, o · sistema ' ( e 157 : ~ ' e ;· ( r (_ r e e .1 ( . ( ( ( , ( e ( ( , ( ( ( e ( ( -. (' e ( .~ frn . , dívidas, os s.istemas de ajuda. De forma nsu.ia:lida : os mecanismos do ultra-liberalismo. Os inimigos do inter.for são a falta do sentido histórico das elites combinada· com a sedução acrÍtica e doenda d.a pecúnia. . · ·~~ .. - ~. ' .' :~ ··. • i; . ·.; ... ; . .:· . .... i=''.1. .r . : ..... ~: ~-· · . ;.. , ·.L'.·.·: ' 1 C~pítulo IV Por u~ triplo contrato m~çambitano ]'. \ ~· .... · AC:::::~ul:::~ce" · ;,~, fa~, hiStMcamento · F.'. ' . importantes : · a democracia grega e a· 'i.{emocracia liberal k herdada . da Revolução·. Franc.esa. Na Grécia '.Antiga, os · 1· . . cidadãos . eram .chamados a participar .directamente na .vida da 'f · . cidade; F~i este.estado de coisas gue permitiu· a definição ~a . r:. de~ocrac1a c~mo o gov.erno do: povo pelo povo e para o povo . . i'.'. ::. · .. : ·Ma~, :muit.o rapidamente, o facto de cctncecler .o direito de . ):' . voto.sc,S a· algumas categorias de pessoas e de recusar.a outras ~:" ~at~gorias c~ja ' culpa era .simplesmente ter J:?,ascido e pertencer a· uma. determinad.a categoria sod.al (escravos ou militares), r" . cri.ou 'Uma ·certa ins,;itisfação. .b...Jalência d.a· cl~~ocracia grega i- resi4e: ~o ~eti'ex~lU.Sivismo, na sua incapadd.ade d.e p6r. todos . . j:: .· · os ~< c~d.adãos » .em pé .de igualdade: Foi para respo:i;ider. a esta . "! ins.~d~fá.Ção · d.o· modelp . g~ego .que os . pais . da Revolução ··· . Francesa de ·· 1789 puseram : em .... causa os princ1p1os :. \ .~ ·: '. fundamentais - ·d~ .· gov~rn<?. das ·sociedade~ ' enc~madas pelas .• ·. ;, . ·:·. in~tia:i;'quia.s e.:· ~s sociedàdes feudais estabele~id.as há mais d.e .:. ·dez. séculos ·n.a Fra:nç~: e ·na Europa. Pàra .os revoluciónários, \;. . : estas fçrm~s d~ governo eraxi'l profundamen~e· h:ligualitárias, . ·~ · ·· ·injtístas e· libe~Üéid~~' E.is a ra:zã.o pela qual eles propuseram i· . uma nova ' orclém f-unda:da n~s id~iais didiberdad~, igualdade e . t . i ·. d·~ fraternidade a que ~lt?; .eh.amaram de orderil. democrátiC:a. ; ',; · ·: ·.i t:f ~f .. i)là'4~;~i;1~'.J~:I .. ~-~:-~:: : · .. ·. . ·~~~~~~--1 ' · .,[4 t"!;.~: L .. _ Assim .vistas as · d b · ·,·d · l · l · t:" h . . . , . _ coisas, a emocracia comporta duas ;' con.ce em a sua v1 a so9a e co ect1va. 1~1~ o que eu e amo ~art~s · _uma ax~olog1ca e outra institucional. Sobr,e 0 limo ;: contrato cukural. m~ttt~ciona~,_p~ndo em causa .as monarquias que ex.traiam a :._ Um dos paradoxos da democracia Uloçàmbicana é que propna legittm1dade da transcendência d h' ., .· d .". ' ela. põe 1'ustarnen_ te em causa uma série de instituicões como º· t d· - · 1 - _ . · . . ' a istoua e a ; . .-ra içao, ª revo uçao democrática cortou 0 cordão b'l' 1 · ~ : · até então m6no·partjdarismo da Frelimo, ~estatuto político d~ ent . · d d . - . um 1 1ca . . . Ie a soc1e a e e a . tran dA . . (.' . ri . "/f . . . t .. . b'l' . . . - . -. . ·,. . _ scei;i enc1a, . inscrevendo· na· i· 1"enamo, etc. lVJ._as, ao mesmo en1po, rea i ita 1nstitu1çoes nao Imanencia ·ª fonte de toda ·a -legitimidad 1) · d ·· · clem.;crà.ticas, como são · os . << hossanados » p. o deres · d d e. este mo o a ;: socie ª e adquire uma real autonomia colectiva · · ' ;;· .... tradiciona_is. A _demoi:racia deveria radicalmente questionar s b .· 1 . . 0 re 0 · P ano dos valores, o conceito de igualdad , ;;, essas instituições ; ao invés, pa~ece reabilitá-las. Ainda mais · expresso nos c:onceitos líbe1:ais do século xix . ede L pre~cupante, é que essa .rea\)_ilitação faz-~e sob o impulso de P el . ' . d o' ' 1 e concretiza o r .. • 0 ~~i-_i;.cipi~ '··'' ª ec aração dos Direitos do Hom.em e d~ \: .. uma série de organizaçõ~s int~;-nacionais; contta a vontade e a ci~ad~o.' A dn~'lensãci axiológica repousa essencialmente no ;:.· . compreensão ·dos acto~es polÍtÍce>s n'.;.cionais: . Sob a égide de r;:nopw da •gualdad~ em dfreito concebido como • .;,. [ ' . ·u,na sociologia polítiá bast"l,\\e em .Yoga que p<etende que a a stracção para corrigir as desigualdades naturais. . ::· diferença de . ' representatividacl.e está no binário cidade -:-- dimde'."'ão axiol6gica da demoe<aciá impõe, do unu ~· . (F <elimo )-campo (Renamo), identifica o campo com º' chefo maneira apo 1ct1ca e não negociável · · l d' ·. · · tradicionais que teria~ sido os ptincipais suportes da guerra da. d h . ' ' ' o respeito. pe os ire1tos r ' ~ _omem, a tgualdacle entre os cidadãos e " respeito pela . ·,.( • Renamo. lvlas, ·de uma ma.neíra mais ptofunda, existe uma dignidade das pessoas. Ap~ar de terem visto dia n~ Oddente espécie de . antropologização das culturas africanas e . sua estes valores conquistam gradualmente 0 inundo frit~iro ; ~'. . consequent~ - _condenação hegeliana a · um perpétuo tornam:se parte do patrimónjo da humanidac!e. Elas são ~ma ~·: · tt'adicionalismo a-histórico. das.maiores contribuições do Ocidente para ah' t, . h { ' . Parece~me óbvio que não se ttati de ressuscitar as S 1 . . 1s ona . umana. : ~: ,:_. . . . , • os va º"' não são negociáveis, as in,.ituições ·• 0 , uadições dita' a&iean.,, P,liá•, tradição que dfae< tradm' o mves, ~u~ca. conheceram, na história das_ democraci~s, ~ma ~> que se trans1nite. de um . grupo e de _uma geração a outra. forma . ~m~a. Se ~' valore• têm. uma . vocação ·univeml, . a· :· . Todavia, . nenhu~a &«ação · aceita o pamdo que lhe é dtmensao mstttUClonal da democrac1ºa releva da h' t' .. d . :; .. · transmitido de uma maneira actÍtica.Cada geração olha paira · d · is ona, as .... . . _socie ades e das culturas. Isto explica a diferença enorme· de :;·: . trás para ap:reeii.der o que o· -pass~do tem de bom e recusar o modelos democr.áticos entre sociedad~s com UIDjl. t d' - 'J~·: que nãC? lhe convém. Ora, esta escolha faz-se em função da democrática provada, com.o podem ser 05 · EU. A F :ra tçao ;:.... vida . . presente, da realid_ade soci~l p_resente. A nossa realidade é I 1 · , a rança, a t .. ,._ ng aterra, a Suíça, etc. . ,; . . d.emocrática, de participaÇão colectiva.· Se há no passado, nas As instituições melh · d 1 . · '· · instituições algo · que · nos . possa aju~a:r neste elã . de d . .d . ' · or, os mo e os institucionais da ~.;:·: · .. . . ·1 Eb · emocrac1a . po em ·· e devem. - mudar pod. en~ . d democratiza,ção, que possa senr1r para .aqui o .a que · ouss1 l · . ' ·~ e evem ser .:." . . acu turados, haurir · ·a sua legt'tt'mi'dade d . . .- ,- . • .-. · ~ha ...... oU: u_ top.ia critica, isso é beu_:i· vind_ci. Mas aquilo que nãp l ·d . os 1mag·1nanos · :e --. .-~ co ectiv:os', as lmguagens das pessoas, da xnaneíra como eles ·.:t serve. e é mesmo contrário ao :espírito do tempo que vivemos, r·' ' não tem sentido qu~ seja ~eábilitado: "t~.": . ' •, 161 160 r . ' ' ' ~ . . " k; ·-- .-·' , .. , , .. . ,.-- .. :--~·". , .. :-..-. . .. . ·:·;- '·'" ..... ... ~·-:--.... ·.-.~ · -:-:··:·· ~ -::~ ·~ ·-~~~~~·:;~ ·"7~~;~:I ... -·· -_,.. 7 .. : .... ~ .. : ;}~ ·~ .. · .. ·,·: : :·~~: ... f;:.'T_:.'.-~ ·:"'·:~·.·7.''..'. ·:·_:1·. ". · .. .. ·· ··~-~-~~~~·~.> . •.';' ·:.:~ -~ ~·:- .. :. ·-: "·: ·. '· . . . . . . .. . . . ::: .. :.: . ' ~ , ~ . . : ... . ; ·. .' . ( e e e: ( , ( ·r { ~:. ~; E~r; r J T ~ \ tfü i 8 e, --,- ' <~ r:c r , (( \ r ~.:. :.: . ._( ( ' fJ (" T lH T ~ e !T;: ( - :; ,, (: ": l - P. "" '· r ·-- · ~~fü e f7.1 - [' !• :!'. '· i:;,;: ·- 01 LS:: ( - ITTIT e - ~tt ( ( ~ - mi ( ( ·- fB ( 1 ~~::~ t::.-v ( rn ( - i".7i ~1 ) ·. l :'! · ~ ' ' i ~- Aliás, nos debates que: emprenham fortemente a filosofia J 11ensar . ~s condições de: · possibilidade da realização da africana, muitos .pensad.ores t~m acusado. a tradição "~fricana dt~ 't d~mocrâ:cia a partir -das próprias particularid~d~s históricas . . É ' ser responsável . pela situação de . pobre~a e de r: üecessário; ousar . enfrentar a· própria cultura e a .. própria subdesenvolvimento. Acu~a-s~ a tradição africana de não ter •·; história. · E preciso ousar esi:.udá-1~. a sér.io, frequentá-la do dado ao continente força para competir com O\.\tx-as culturas e: f interior, para poder · interrogá~la . r1a sua· fol'1na · e nos seus tradições, por causa da sua não democratização. O chefe, o ~· mhstnctos. · · · ancião teria nestas tradições sempre razão, Em co:11s•<:quência, o f ·· · . A ·componente -que falta às nossas lei~, ao nosso avanço debate político e social não seria possível. Acusa-se: a tradição ·: [: · chmocrático_, ao nossq' debate institucional J mesmo político é· de não ter de~ocratizado o ensino e a transmissão do saber. . ~: a dim~nsão moçambicana . da política e ela de~ocracia. É As nossas tão « hossanadas·» autoridades tradicionais e J·::: .. n~cessário conhe.cel'., a.fundo 4uas tradições i a tradição fo~al mesmo os régulos . n\fo escap_a,m . il. esta 'ti-adição não. ; .~~ .. 't;: .. : _.das. demõa;a,çias -ocidentais e, sobretudo, o. que ela subentende democráti<:a da qual~ fllosofia africana· qt.ter distanciar-se, mas ·· ·~:; :: :: sob~ pont~ de vista da diferença:formal em ,termos de história , parece que há tentativas dos n~v?.~ Hegels de nos atracar a elas· C, · · cultu~al :dos djf~rentes . povol!, . Mas mais . importante ainda, ad vita eternam. r . tE:xn.o; que conhecer as nossas tradições e cuJturas para, a partir O contrato cultural_ não é para mim a . r.eabilítação das ~> d!~las, pensar · O· di1·eito e a democracia~ para que as nossas . instituições ancestrais. Já disse :qlie os valores da demo<::racia +" : · instituições · possam haurir a sua legitimidade elos imaginários liberal não são negociáveis. 'Então de que . é quE~ se trata? J· c,-,lectivos das nossas populações. Primeiro: é preciso ver que se a dimensão axiológica da v·:: Insisto: não se trata de corihecer a tradição. para seguHa democr~cia . se manteve a mesma em todos os países ditos f-.. -· .. iril literam, mas para se in.spirar nela. e pa~a .sublimá-l_a. e, ' ' ocidentais, ª forma institu!=iºnªt variou de tugar para 1ugar, de · y-;: .... at~vés deste· pr~)cesso ele'. metástase, criar um direito que .sejaª Nação para Naçã~. Cada pafo pensou 'na dernocracia axiológica . .f,::'' · imagem e semelhança da . maneira como as . diferentes inventando, digo bem criando, parturindo insdtuiç~es sociais f ~: populações entendem a vida p~Htica e sociàl.- Não teríamos, adequadas a esta no~a maneira de socialização, a partir da f!: ... , ~.ssim, ua:>:a .d~mocracià incompreen~ível par~ as populações compreensão dos imaginá'dos c~lectivos das suas populações; a . {:~:;_; ~ ou; : então, . que se cala . par11-doxalmente · nas autptidades ~· ·. .. . . . partir da própria história. . . :!/:' . t~adicionais, ao mesmo tempo que imita de uma maneira É "Preciso entender q·\.\e as . <lifexen.t.es . fotmas ·: ;~i::·. ::>~idíçula e a.:..hist6r.ica as tradições ocidentais • . ! . . i..n.sütudon.a\.s q,ue. a à.emQc:tad .. a \ibe.i::a\ t.eve são a . b.i.st.ótia à.as: '.Jt .:_: ,; : ·'. .. ;Más · c~fuo a : democracia· ~ ~m. conteúdo axio16gíco e i::e.s~ostas \b..\.st.óü.c.is e. socia1.s) 'q,U:e. os à.i..te.i:en.t.u :: ~aises /~· }~~ti :~~!~~fo~~a, .a: tradiç~o. é também, em: si mesm,a, ·um conteúdo .e \c.ú.\t.ui::al?.) Üe.'tàm. ao 'r'to°b\e.m.a <\a à.e.moc.nci..~ ~'.l\U~~~~~'.~ ~ ... '<#d~J~.~ll,i~·'. .~Ç'~ parte da crítica da filosofia africana à cra:díçã? con.tton..t.a<l.os .com e\e. n..um. m.om.e.n.t.o . à.a . ;sua b.is\ót\à. '.J,\!{ :fit:ri~e-:::a '.sua .. °forma; · mas-. também ·ao seu . conteúd~. E tem.aram. a sério du~s .. coisas: pritného, ,\:·(l~~~i~~d~~ .. J~~r. -~::,:~~~ê·;~~.<?·c,.~n~efro. 4e ci{tíc~ c~mpreeri'de' a avaliação de . valor ; segundo, a propna cultura e a pr6piia lust6:na.J:{a,Q 7 P._a(" ~~:~;'las:·.-, co_n:1ponentes : a,s · negativas, . mas , sobrett,tdo as aculturá-la de uma maneira acrítica na den;iÓ.C1rada::(~'.-~u~,~~' . ~füi~J~:~·;p,~f_~·:''s'~t ' futelectualmente honesta. e e;x:austiva, a levaria aos paradoxos da clemocrada de !\tEmas); .):i1ii·s :;.p~~;~ ~ü~i:.c{ey.e · t~rtt.ar identificar os aspectos positivos pré~entes . ·~ . . 162 > ·?;:~5~1:mi)_. ___ : __ ~-.-- 1~3 ___ :_ . . ~!~~~!âBJ ____ , ____ ••• _, ~' -~ ~ ; •• í • ' ' ~ ' • ~ • ' ' • ! • ', ' ·- · -~ -#~~ ·- t;~ . \o(>I,· ._ .. 1. : ,;:~ ~ - n;r ··-R ~:,i~~ -m ~U! . ··. ~ . ' · .. r· ~~~~~~~~~ r t. nas tradições : nas · suas . formas e . no seu conteúdo. ~. ~. Montesquieu falaya do espírito da lei~ Per1so que é importa.~te1 f .. da mesma maneira, pensar no espírito que se esconde por , ... ,. detrás da tradição. · F · ;- ,· Fa:zer passar .º nosso àjustamen.to cultural pelo egoísmo ( . urna. s.ociedad,e ela pa:rtil.ha. ·No fundo·, o cont rato c:ultural · significa ·apreender o essencial do espírito da tradição e .ao mesmo · teni.po, acolher : a modei;nid.;,de de uma man.'eira tam:bénúrítiCa e selectiva (Ka Mana). é inspirar-se nos ele.mentos mais problemáticos do Ocidente.. !>: · Toda via, não podemos tomar de ligeiro esta crítica. De facto1 _{ ·. . nós temos que analisar de forma crítica o problema qu~ as f.:. ·· · Democracia e qiltura(~) moçambica1n;a(s) nossas estruturas sociais compqrtam em ter~os de incremento -+;: Segun~o· o Acordo de Paz .de x992, A democracíaa~ordada da pobreza, de .. incapacida_de de invest Í·m· ento .económico. Mas/fi . n.< ,_ · b d d f ! ·em.. iv~oçamaique .ex. ige restJeito à diferença de. ideias, de opiniões e de so re~~ o, na, · man~t~nçao ~ um" s1~tema . .. que alvorece~ o l\:· . . . . . . . . p:u;as1t1smo e o espmto de dep~ndencta que ce1·ta1nente sao · t;· ·:· · · . cuituras; à 't~nsequente ' "igualdade na diferença ·e. respeit~ , .. [Jelas compon~ntes importantes il a · configuração . cultural geral da .t): instituições, .~~~ poder lf!gi.timad~ 63• ·~conomia e do espírito · miserabilista qt1e . nos te~ f'::, ·; car~cterizado. · r::· Para tod~s as c;onsciências µiinimam:ente lúddas, hoje se : Ao mesmo tempo, quando olhamos para o Ocidente f.. : . impõe uma ·. participação maior das . culturas no deba.te: ·temos que nos recordar que nem tudo o que l\!Z é ouro, que o t ·: ·· 4emocrático. Por outras palavras: urna legitimação do podéir e egoísmo é a maior sínclroma eª. maior fonte de desumanização ~:·;:. · -mesmo da .política nacional a pàrtir das culturas. A questão é do homem e dos conflitos entre sociedades que a história d:! t'. : saber qúaldeve . ser o nível de participação a ser deixado às .· humanidade conheceu; qtie. o ultra-liberalismo é um sistem:i L .. · . cultÜras, a fim de que se possa f~rja~ 1,1ID direito e uma política · econÓmÍC~ que não pode deixar de ·produzir pOUCOS tÍCOS .e ~\ . que . tenhal,ll numa moçambicanidade cultural . ôS seus muitos pobres. ~a~do o dinheiro e o egoísmo são as inarcas E':·. f.10dameritos teóricos e práticos. . distintivas de ~ma civilização, não se pode criticar nem a· Ç: .·· No discurso de abe~tura ·da xi! Conferência Nadonal escravatura, nem~ colonialismo, netn ~trabalho forçado, ne~ f\ · sobre a Cultura, o pr~sidente Joaquim Chissano afirmou: «a as guerras de ~et~óleo ou ·· ~útras, ne.m mesmo a proliferação ela l< ; .cultura é a plataforma a partir da qual ··se materializam os droga, do comercio de 6rgaos humanos, etc. . · . · . t_: .; · plan.os, programas e activ.idades tanto de c;;r~em material como Por outro lado, apesar dos seus limites, . as nossas · ~·:r d~ ordem . espiritual da . humanidade, . . das nações; das tradições e a nossa hist6ria. não são de deitar fo ra como. f/ ·: organizaçõe~ e indivíduos ». A importân!=ia da ·cultux-a. foi defendem Towa e Elung-u. Eboussi Boulaga dizia que ,a k~'{' reafirmada pelo Primeiro · Iviinistro . no seu. discurso de tradição_ re~~esenta o tempo em que éramos l~vres e .fat1tores da ·P:';. . ap1·esentação do programa do governo para 1995/1999 · à noss.a h1stona. l'vlas eu quer.o acrescentl!r que, apesar dos seus (' · limites (perigo de parasitismo, de conf~rmismo), a tradição r: representa, no seu espírito; a dimensão da solidariedaae. ~\: 6J Çitado por Ngoenha, Para· uma reconciliaçlio ~ntre a Política e a(s) Contra o reino do dinheiro1 as tradições africanas propõe~ t··:·· C1.tltura(s). Programa de reforma dos órgãos lof-ais; (PROL), Texto de . r~·-: , : .Disctlssão Nº 3, Mirust~rio da Adlninistração estatal (MAE), Editado por J. E. ;.., . · M. Guainbe e B. Weimer, Maputo; Agosto de 1997: 22. • · · · · . . r • L; 164 165 ·.· .. .. ·: ' '• ... ·. -···- ... -· ·:: ~ ...... . :·· • 1,· • • • • ·: .. .. · ... r (' ~ ( (' ( e e l r ,1 ( · ( r ( r ( ( ( ( , ( _ ~ '.~ ) ·-úJ 7}i . -~>: ;: . .;~ -r3. l:°:'. -g IA Assembl ... ia da Repúblic.a64; .S~gundo Pascoa.l Mocum.bi, «o · · f d d · · ,_ . .. inspiram-se . nas especi ici a e:s culturais do povo. Os Governo inspirar-se-á no princ1p10 s·egundo o . qual o dirigentes políticos; o~ programas económicos e sociais partem desenvolvimento deve ter a cultura como po:1;1to de partida e de · . . não s6 das riecessidad.es das pes~oas, mas elo~ seu$ pressupostos referência obrigató~ia e permanente ». ·. , . culturais, da sua inarieira. de conceber, dia,~ suas possibilidades Os homens do Estado (a estes dois discursos podia se de entender, da sua . maneira de agir e ·da sua vontade de juntar o do . Ministro da · Cultura na Conferência sobre a · . participar~ É neste . sentido que se fala !de cultura política Cultura, que vai no mesmo sentido dos precedentes) e muitos · · francesa, que é muito diferente da cultud política americana intelectuais mo'iambicanos65 . retêm à cultura como um . . ou inglesa. Mas se o governo deve fazer u~a política cultural, ingrediente indispensável para o incremento da demo.cracia e ,. . temos ainda de saber onde vai buscar os pressupostos para t al mesmo no processo de governação. ,. política que, por sua vez,. t.em de velar pela' cultura. Quem va'i De uma maneir~ mais sistemática, a 11 . Ccmferência . legitimar a. p~lítica qu~ se arroga o direi~o de legiti~ar as sobre a Cultura propunha-se adopt~r ~tm pr.ojecto de política •· :i·":. culturas? " · . ·. · · · · :: cultural que ·deveria, face . às mu4anças íntrod.u:zidas pela , :. _ Uma ·'cultura não é· um todó monolítico, compacto . ou · Constituição da República de 19901 indicar o papel do Estado, '. ( . bloqueado, mas. i.urt ·conjunto aberto de v:alores em c~iação da sociedade e do indivíduo na preservação, fomento e . ~:.:. :· . contínua, em dialéctica constante. de afirmação de ' si ' e de promoção da cultura moçamhicana 66 • ( . negação, de convei::gência e de cÜvergê1i"cia. A criação e · a A ideia geral da Conferência foi, portanto, propor uma · · r· ·conservação de uma cultura não é simplesmente a · interacção política cultural, isto é, uma goven~ação que tenha em conta as · · ~.' 'de indivíduos cri~dores e de . política·s c:ultura.is, ·mas de . especificidades culturais m.qçambicanas. Em relação às :. -i:'. . interferências que , s~ ·exercem· entre d{ferentes ordens . de governações precedentes ~ . dos .portugueses e da. <<primeira :-,.·r:.· .valores • religi~sas, morais, políticas, j~ídicas, socuus, República» - há aqui uma évolução considerávet Contudo, ::(". económicas. Estas interferências sâ'.o essenciais e revelam as uma coisa é a política cultural de um 'governo, outra .é uma • f:: · relações específicas que assoe.iam .estas diferentes ordens de c:ultura política de u,m povo. Nesta, a política e a governação '.A\ v.alores, mas são modifiqdas ao sabor das! contingências .da · ;. :\':·:::: '. história. · · · . ()~ C,\\a~o "QOl~~oe'tl..\\.a, Pnra. uma. reconct\iaçã.o entre o. Política e n(sL~.ffi\~·>;; . '.; Cada caso de interferência é ~m ~aso histérico particular. Cv1tul'U(s). "\'"i.()~~"ro'.a. O.e '!.~fo'tll.\'À Cl.1:i~ {:,"i.~~~"' \1:i~:~\i ~~-Cl~, · 11:.~~l,):~·M:!~· · ·:./Gon q~do,' . por caU$a · ela sua riattireza pr6pria, 'os ~!ores \)\~c\lss?.1:i 1'1" ~.),l\,'ffi\s\efo ~a hUmm\'1.\k'à.1t?.1:i es\'3.~\ ~·:~\~~~~~~t)f ;. i -.~· ;f(ti(!~s:i'Qs .. processos q~e i!les sio susc~ptíveis ele engendrar M. G\\am"bee'B . '#eunet,MaI>\l.to,~gostodel9~1 . ~ 23 1 ; -'.;: . ... ' .'.\'.~.~;:,;, ;,~'. · · ''.'. 0.\ . :' :>.,·. :· .' 1' · ·r ·d · l' · · , r., _ 65 Citado por Ngoenha, :Para ttmci reco!tci:iação. e.1~t.~1Uz':· ~P,J.i~~ª1,~~ . .., .: J~t(;:,~~?!Pe a parte. De ra~to, ªvi ª Pº it1ca mani:e~ta . Cultura(s) . Programa de refonna dos · orgaos locais : (P}.~.QI,,~.:!;r~.~~; ~~~:fr.~~~ç~.e.s. de força que c:>poem aderentes e adversanos, Discussão Nº 3, Ministério da Adnúnistração e~tatal (MAE) ~· ~~t~~p)i~i'.~ ~·~~#In~· :'. Ú :elações entre privado e público~ e chega ao ~- ~uambe e B. Weimer, Maputo, Agosto de_ 199?: 23'.: . ; · :.·; :;;);·?:: ~}/ik~b~i~~im~nto d.o pod.ier que cria relações de comando ·e de Citado por Ngoenha, Para uma reco'.1c1!iaçao e~tr,e a P?'{1~cª:·~ :,. ~~íêtú:fa. Esi:às relações podem fazer-se sentir na vida das g~:~:~f~·N;;o~iX:té~~º :_r:m::~ç~~:~~~~(~~J;;~k:~dJ;rt1 .,~~1~~~Ç~:~:~;,\ d.os . grupo~ ·e da~ .culturas. · Pek sua pr6pria M. Guambe e B. Weimer~ Maputo, Agosto de i997: 23:. . :~;: >:'.·~·-~V\ )}~ureh, '.a,;p~lítica. p~·adca unia 'ingerência efectiva na .vicla·dos 166 . . 'j·(t.~i,!J ~~~t '\ ( . . J61 . . . . . ' •• .. · ..,. .. .• --··- -·· --------- . . \ '· \ ": \~- ;·" . ··' . - .. -----·---~--------- indivídu~s porque _ ela eierce uma: força latente reputada :;:_ , r r leg· íÚma e necessária par.a manter a vida públic.a. ·Ora, a '. então elos-indivíduos mais &:otàdosdessas me l . :... . . . smas cu. turas, e fronteira entre :público e privado é fluida . e movente: ela ·: nao das ONG, das cooperações, dos doadores ·do FMI · 1 r-- d 1 l.b d d . · 'P. . M dº 1 O .. ~, . ou ao \ constitui uma zona 9n e o respeito pe as 1 er a es · : .uanco. un ta . . s pro;ectos de socieda.de têm d . . · · · . · · l . · . · . e se 1nsp1rar individ.~~js, 'dos grupos· e das culturas em todos os regimes !: · . nos va ores, nos sonhos das pessoas e têm de b · . · . . . ' su screver as ·políticos põe constantemente problemas à forç~ pública. A ·.:.· .suas . capac1dades para realizar esses mesmos pro·J.ect· I . . . . . . . os. sso prática de uma 'ordem pú~lica c;onstitui um equilíbrio incerto e .:: :. tmphca que os ' governani:es tenham de se basear nas r instável entre a força pública e as fbrças privadas'. ínteijgênC:ias moçambicanas. . e Enquanto tal, a vida política, ordenada em volta ·de .; ." . . . O 'único elemento certo, constante, que não passará com . valores morais e políticos indissociáveis, é part~ itltegrai;i.te:da'_;:. ; '. as mudanças ideológicas .como foram p ..... rimeiro os portuau · d . . . , · 0 e:ses cultura. Sob · ª· sua fonna mais . ru .. dimentar, ela su~ge·.· 1 i ... ·: . e: epo1s os russos, bullaros, romenos,· alemães do este t (' ... e"-ª·º os : m~. Çam.bt"canos. · . sobre .eles que tem de ser const,ruefdco., concomitante COtn O apare~imento de uma C<;'eJdstência Sqc~al; ' r; - de uma comunidade-cUltural ou de um trabalho em COll,l.Um; A J: · . todo o. proj,ecto sério e duradoiro da sodedade moçambic~na . . . vida política organiza-se qu~ndo uma couú.tnidade culturaq.. · · Isto implica que . o Estado se deve reconciliar "'com 05 ( àdquire uma certa consist~nda num deters;nínadc> território; i·:., . intelectuais moçambicanos; e que estes devem também quando começa a tomar consciência dela mesn"?..::. 'c: ;se considera /.. ... reconcília:i:--se com a. política. um· bem com~m digno de . ser afirmado e deferidido, tanto :~ ·· ' · Vatµ.os · ter . de reconciliar os jovens portadores de um contra os . seus inimigos interiores como exteriores. Então, as f, . saber moderno. e os nossos ·"velhos portadores do saber relações entre indivíduo . e it:,ldiv~duo pod.e1in tambémJ ,' ·.tradicional "Vamos ter de. reconciliar a 'cidõ!lde ~ 0 campo. t".'ansformai'-se em relações· entre cidadão e cidadão1• • , . • • • Sobretudo, vamos ter de retomar o contacto de trabalho com.o (' . Assim, é quase natural que os homens do p~der tenham Í: campo, varnos ter. de começar. a pe~sar que o futuro de a convicÇão . de que o Se~ poder se deve estender a todos O! i " : Moçambique está no campo. domínios culturais. De facto, os valores culturais emanam do i, ::. .• • . ·. O ana.cro1:i"sm~ hist6rico . que . 11os' habita quer que conjunto da cultura ambien~e ~a autoridad~ <lo p<>der político(, tenhamos consc1enc1a de .. que o nosso futuro, como . país .dep.ende, em grande part~, da su.a adequação a e:>ses valoi::e&.L: agrícola, está no campo, i:nas que deixemos 0 campo. para os Mas o exercício do . poder tende a inverter as relações -e O! : .•• estrangeiros; Isto quer . dizer . que deixamos o . futuro de governantes, muitas vezes, consí<leram que o clomíni~ da ( ; .', Moçambique e dos riôssos filhos .em mãos alheias. cult~ra depende do seu poder. Na re~lida.de, o poder polítii::o t ~- . . Pousar todp~· os nÓsso.s projeci:o~ políticos (construção d<n 0 governo devem estar ao serviço da cultura que os su·scita e:oi é. · democracia · e instauração. duradoira da. paz) e · económicos investe. · · . .·· .~ ·~; sobre as nossas cultur.as, sobre a nossa terr~ e sobre os O · p~der polític~ ·e os governos devem fornecer àsf > ~oçatµ.bic~.no's não 'quer diz~r r~nunciar a entrar no que se · culturas niei~s necessá~ios para o seu desenvolvimento:Se.o}i': " c~ma q mundo moderno, m~s tomar ~on.sdência de que nós governo tem de criar ·condiÇões de desenv,olvimento, · .ele tem).";· , somos moçambicanos, não japonesei;, franceses ou suecos. Nós . de criar projectos. de sociedade que partaIJ;l. das culturas, ou;.~,· :, .nunca poderemos repradu.z.it as suas instituições políticas nem ~· . r·,.. ter o mesmo percurso económico, t.ima vez que as nossas bases e e ··· . ,:::: ',:~ ; e .·• ··~'.-- " ic: :~:- "'''.7'1 ;: 1mwrnr:}J(riF:TI•.llr·J!·~IT~iá~~~l~!i~~illi:t~~í~~.,...;,n-errn.c r ( , ( ; ( 1 ( ( · ( ( ( . ( . ( ( ( ( · ( , e ( ( · ( ( 1 ( r '•\ í:.:J; "1u; -. ·1 f""S l i.t:d l~: ~~ !i ., ~m -:'i ·;; m " ' I . -1 m : - ·· ]~ - i -; : ; ~. ; : ~ : -1 sr~ - ~\ ~ : •, ·-;:; ~ ' . . , p 1 ti/ G ·1 rn'. i C: · i, · Cultufa juddicà c11lturais são. diferentes. (sto nã'o que~ dfa~r q·M . .não possamos viver . detnocraticam,ent~. e d..esenvolv~r-nos . económica e. tecnicamente. Se . um desenvolvimento vai ser possível, ele • . ~~- · Desde há quase ~m século, e.xiste em Moçamb~ d "l f i· f, JI 1 . 1 ~... . gove - . . d . . l . ' ique ui tem e assentar naqu1 o que os ·i _óso os Íqea istas a emães : maça~ a ~art1r . e. c1ma. A guns vê'.em-na começar a par chamavam« o génio de um povo».· da centrahza.çao dos ·poderes em ·Moçilmbi"que c " d . · · - · · " . , onsequen< . O . Estado moçambieano, como todos os países do ,.· · ª ·Cnaçao do Estado Novo em Portugal; outr~s com mundo, é, felizmente, composto por uma certa elite. O_uem di:z redacção da Carta Orgâni~a do Império ;Colonial61. • Estado, diz administradores, funcionários, professores, etc. O ·. _A codificaÇão do · direito colonial, que em certas maitéri. génio das elites consiste exactamente na sua capacidade, por · ' ·· respeitava · ou deixa ya mesmo que ,: fossei:n · os direit< um lado, . d~ se apoiar na cultura e, por outro, de suscitar o aut6ctones a solucionarem .. ·certos · problema~ · na-0 · • ·f· . . . . . ' stgn1 ica> interesse das culturas 'pelas actividades .que, à primeira vista; '.· " um respeito . maior . . pelas cult.!uras moçambican~ não têm nada a ver nem com o espírito; nem com os interesse~ . :" (c_ultural~en~e influentes . p~x:a o di~cuuo de legiti~ação). JEr; dos grupos. Caso 2ontrár~o, as . pessoas desinteressar-se-ão da~ . . '.: '. · pelo con:tráriq, 'uma espécie . de colonização doce, que tinha actividades públicas (como é o caso dos eleitores do deputado · ! . '. vantagem de evitar revoltas por· parte das culturas nacionaü acima citado), o que é perigoso ·para a democracia e para ~ · Po~. ~ste ·feito, as diferentes culturas moçambicanas vivem desenvolvimento econ6mico. · l_. . d,e:de há quase um séc~lo, ~ fenómeno d.~ duplicidade jurídiêa Em · termos filosqficos, os gregos chamaram cépticos aos ! ... : . Nao obstante 0 seu estatuto sµbalterno, ·os direitos aut6ctone1 que constatavam, mas não afirmavam nada. Os primeiros de · 1 • · · foram · s~mpre capazes de metam01:fosear-se e adap~•-:-se às entre eles resolveram o problema ~uspende.:i.d.o ;;, : 'Seu jufao e as ·. ~-' . . novas situações, aos novos .desafios. Esta é- talve:i; a maio[ suas acções, e refugiando-se na ataraxi~, uma espécie de noite . · f- :: . · prova, da ·sua dinamicid.ader adaptação e mesmo evoluçio. de sentímentos. Quem conhece a história social moçambicana . · ~::: . ··Existe'.. po,:tanto, em todas as culturas moçambicanas uma sabe que os chopes nos anos vinte suspenderam. nã~ ó juízo; . . · ~ ' tradicional<< duplicidade jurídica,», velha de sessenta anos. mas a acção, . e decidiram parar de trabalhar como (orma de · ;. :-. , · Ma~ es~es . mesmos sessent_a. anos viram o nascimento e o luta contra a acção coloni~l portuguesa. Pode-se mesmo pensar _: , i; :. ··:. mc~emento de uma ~strutura jurídica em . Moçambique que muitos projectos da Frelimo, mesmo. os mais justos . ~ .:.;-.·;'" ·. ~ab:~da, · não obstante a~ suas refer~nc~s europeias .- ·a ·ousados, faliram por causa · de uma . espécie de ·sabotagem . ·~; ·: . . _: :I•relliri<;> não mudou .fundamentalmente 'este paradigma -, a ter \?assiva tiortiarte. à.as t>º\?ulações e <las cu.ltui:as moi;sat'Íl.bkanas; .{·~~ :'.::> -~~~ fl!-,Zer cont~ com a «teimosia>> e mesmo: a « ·renit~ncia » ();:"-, a ô.e:c.t\.oc:taúa e. a \?ª'Z a c::.o~'-"N.\."t W.,o o.~em.. s\in.\.f1.c~X~:f}~{:.:~~;:~st~tur..a jurídica e política. local. Isto quer di;er.que, desde sl.m.ti\e.sm.e.n.'{.e um.a. au.s~n.c\.a O.e i-u.e.t.ta n.e.m, a s~~\e:~ .~.h~~;y~~{jJUr.1~1:.S<·;de ~nquenta. anos; se criou uma ·biv~lência. e11-tre duas mas a t:e.lação do -po<le.t q,ue tunsforma as_ telaç5es· ·- d~'.1fo ~- · ·~ -j\\'. ~~tt!r.~~: difei"ent'es, q~e tiveram que aprend~ muitas vezes . • • . ' • • 1 • •• :' •.: • . • • "! •• ('"' \ \ . • :. ~ • • . . . • • • • • entre as comunidades, grupos, culturas em rela_çõe~ .. ~?,-~,i~e-ifç;f: ;t.f;: ;;~::·;'.:.'.~ :"<:::: ::_ : :-. . . · . · ' ' ' · .. ::~: :,:.·/>~:_::;q.f M<:~~ójp,o~ ~~o~ilha, Para .uma l'ecan~iliação entlfe ª· Polflica e a(s) · · ' :· , :.L ·r.<( .::· mç~~a({~!:::~~ de reforma dos órgãos locais (PROL) Texto de .. ~, '. ' ' ~·: .:';: ~f ~~:~ió:'3/!-~i~stério da Adxnfuistiação cstatal°(MAE), Edi~do por .L E. · · 1 ,.-~~~1!~Qi:e.~;Weuner, Maputo, Agosto de 1997: 27. ~~~~:1t'f _ ~ 171 . . . . .·. ' 170 ·:r ·~~ ~ 1 w,;- 1H!i .. ···GE ' ' • ~ :. !. ,· · ~ ~ . ! . i ~ . \ ;_' !. ·.' .. / ':• ·. contra a própr.ia vo~~a~e·, a 'coe.x-istir e a transfor.maI"~m-se. ~o encontro de uma com a: outra. · " · . Se olharmos para o direito colonial português formulàdo pelos íurisconsultos de Lisboa para Jl1oçambique e as vicissitudes da sua interpretação e aplicação pelos act<)res políticos e jurídicos66, damo-nos conta da distância c1ue separa as inten~ões legislativas e as possibilidade~ práticas da sua aplicação. . . Se um diálogo tendente a . incrementar a pre_sença das culturas na leg_itimaÇão política se deve realfaar, es~e deve partir desta tradição ·moçambicana já existente: ~ão se trata, portanto, -11-em. sequer para o direito~ para a poht1ca_ est,at.al, de ... i ! · . J :. _ · pelo respeito dos diferentes pontos de referên~ia cultural de (' · todos os indivíduos) e também as garantias de cresdmento dos ·indivíduos e das culturas no interior das fronteiras nacionais. . . ,S~ a ~deia de ig~aldade ~e direitos{ c~mo anunciação de(' prmc1p10, e . quase evidente, e menos obvia a concepção dE igualdade que podem ter as diferentes culturas moçambicanas •Isto quer .dizer que para que .a política e ·o Estado; Cl.tja: xeferências teóricas e históricas se encontram em ' outra~ culturas históricas e socieda.des, possam, não obstante enconti:ar uma legitimação cultural moçambicana, os no~so (' , legisladores têm . que ir hau~ir os seus paradigtna (' · constitucionais da dúplice história jurídica moçambicana (' " temperá:..los a partir da realídade. histórica actual. · . deitar fora a água suja com o bebe; mas, pelo contrar~o, de +-. transformar este diálogo ele força e de ·submissão dos direitos \; . . moçambicanos num diálogo de reconciliação. , . ·Pluralismojuirídico A priori, a tac'!;l.a mai~ importante ~ncu_mbe a pohttca ' A s~ciedade moçambicana é· de factp pl~r~l :, ()~ macuaC nacional e ao seu orgailigrama de organizaçao dos poderes . ;· não são. os macondes,- os changanas são ·diferentes d~-~ chope.r públi~os. Mais ·do que nunca, co~vém ·-para .evitar equ~v<:>cos_ - . ·,·. etc. Se um certo .poder or~anizad.or· do Estado é indispensáv~ - reafirmar de chofre, a neéessidade de manter ª · conftguraçao para que uma certa moçambicanidaCle jurídica · seja, ,p.qssível, das front~iras i:iacionais. Mas a existência de uma Nação e de . . · unificàçãci do direito como condição da existência. d.~ Estad( um Estado responde à. .dados, pelo menos , na sua ou mesmo Um excessivo centralí~mo do ~stado poderia pô1r e1 compreensibilid:ade e configuração actual, desconhecidos pelo-s ;.: : causa a pluralidade sociológica da sociedit.de69• · ·. diferentes direitos autóctones, portanto, não susceptivel de ser {.·.. . Hoje é importante reconhecer iªs diferentes · visõ,C- legitimado por eles. Este é um a priuri que os diferentes . · L jw·ídicas nacionais e fazê-las dialogar com 0 direito dp. Est;;id 3.\:te\tos têm q_ue inte.gt:aT uos seus tiercursos e 0 .governo elo. j :;:_.; ... . . C1,lja lógica e natureza é t~nta:r apropriar-se do mon~pólio o ~"''-ª~º ... ~ O..eve . co~'-\'t~\:t · 'bat.a't\'te. h co'O.S~'Na~o ~~ . '~-t~~ · . : • : direito. Do discurso do Primeiro-ministro à Assembleia acim t,:9 '0.teU:a"' \.m.~\\.c.a . 1.\.eC.e"'"'ªJ:\am.~1.\.'te 0 "C.eccmhe.6.m.e~\~ :~~e -. ~t~k:{). ·; .:'.~éCl~;- . depr~e11de-;é uma vontade govern~tlva. , de .. ;~co~hece ó.~e.ito:s iiua\.s a to3.os .ºs -~\\e vwe.~ O.e.n~i:o . . ~~sas. ·~~-~n~~~ª.~l~;i,j~;u :~ ~~~>P,r.er~~~atív~s ju:ídíca~ próprias das . diférente;~ . cul~uras (essa igualdade passa mev1tavelment.e ,pelo rec()~h~~~.n,}~Jl,~~·:~ ~-~.~?f:i\; ::: !ffd_~ª-~ htcaz?.as .. e de mtegra-la,s: num . processo de /f!.t;alzzaçao e . . . . . :: .. ': ... ~\~"::::-f.:;~,! ;j;t'}· \t~?'" (~ ·: <:_ . ' ··. ' ' . . ' ' .' 6s e· d N _ _.i.n o . ·· uma reco"cz"lz"açao:. · :..-~e ·a ·p· 0·:1·1·1·;1:c;;a;·:e,;(r:,i;_fi · :;"tfKf:i'.:t~;:ótado '. p. br ' Ngoenha,. Para ~1.na reco1icilial'ãQ entre a Política e a(.s) Jta 0 por · go..,,.._, cara " """" : . .,_,, 't;,, ''" "'.•. ',. ·. ' · < " ' .. · . • . T Cult;,,a(s). ·Programa de reformá .dos órgãos locais .- (PROL),A~~9,·;·!1fü~ ·;;;i.}S ·~C.~u'.·à{i;J:. · ;rogra_m.a .d~ reforma. ~os ~rgãos locais (PR01::-). Texto d,e Discussão Nº 3, Minist~o da Administração estatal CMA:J3), E4i~~ r,>r{~~~ f ,~Wl ~-:.:; . ;~~·cussao. N 3, ~teno da Administr;içao estata~ (MAE),, Editado por J. E. M. Guambe e B. Weimer,-Maputo, Agosto de 1997: 28. '. '. .. ; .. ; <._~t:: {!.;>;<:: ~l~.-9~~.mbe ~ B. We1mer, Maputo, Agosto de 1997 . 33. . , ·172 :. ·:· ;':::·'..' :1_}:,'. {J5~ktt-.;·:· ' .. . 173 - i~~,~w. ::t. :· · · · .. r (. ( ,, r ( r r r r ( ·. r,, ( r ( , ( r ) 1~ l H::-o: -.,- '~· . ' . i . . . . . . de governação. E~te tipo dé vontade e de determinação do f, Isto quer dizer que o poder de legífero do Estado deveria · Estado tem commumente o nome de pluralismo juirfdico. ~· parar nas fronteiras dos ditos subgrupos, a fim, de -permitir que Existem, porém, diferentes t•eoi.-ias de pluralismo juríclico•. · f as diferentes jurísdições locais continuem a exercer. o poder· Se as principais teorias do .pluralismo ju:rídko foram t · que lhes .é pr6prio. () r~sultado seria a existência de um poder elaboradas no . decurso do nosso século, algumas vêm de ~. ju:dd.iCo nadonal qtie se consagraria a regulam,entar-as relações tempos mais longínquos. '..· globais entre os diferentes grupos moçambicanos, mas que O ensinamento tradicional do · direito consiste em } deixaria livre autqnomia de gestão da vida · soda! e política aos apresentá-Lo como um atrib'\lto de uma sociedade tomada na f- - . diferentes grupos·m~çambicanos. sua to'talidade. E neste sentido . que se fala do direito r o Estado moçambicano é portador de .uma -certa moçambica~o. · E'sta apresentação repousa no postulado · L :· mod~midacle que é necessári~ à vida de -ho;e, pois é ela que segundo o qual a sóciedade moçambicana pos·sui um umco L - detém a educação, a técnica, os meios da saúde, da .economfa e sistema jurídico, que rege o comportamento d·?. to.d.os . os f das finanças. Assim, se o Estado aban~onasse · a gestão da ·-~oisa dezasseis milhões de moçambicanos, . . e um corolírio : os h . pnblica aos gr~pos, sem' ter réforçado as suas capacidades de suqgrupos da sociedade (etnias, tribos, comunidades rur~ís, ( : responder às 'expectativas econ6micas .e socÍ.l;!is dos •''"~eus etc.) não dispõem de uma autonop:i.ia jurídica. Contudo; nós h membros, condená-los-ia a uma ulterior incapacidade de sabemos que isto não corresponde ~ verdade : se é verdade que · .. _•~t:.-_:.:_.-.~~:_._:· ::.·_ ··.:·:: ·· ·:• seguir a _corrida dos tempos. Mas uma interferência directa e todos os diferentesgrupos étn icos nacionais obed~~cem a . . _ sistemática do . Esi:aclo impediria uma certa autonomia, determinadas leis de ~omportamento, não é menos verdade - .. ~~\.;:· .. pol'tap.to, necessária aos. difer.entes grupos. que as leis de comportamento que se podem observar nos ; "i>;-· ·: ' _ O Direito, cujas fontes · se encontram nas organ!zações moçambicanos d.o norte Sã.o à.evei:as à.\.te:ren.tes Ô.a(\'U.e\as <\ue se · O,:.:_ :• "'.; );• ~odaÍs; não - se deve confundir com o Estado. Todas .as ~e:r.c.e't>em., o\b:a.n.<i..o mesm.o em.~'\.nc.ame.'l.\.t.e ~au os _,:?~\i' · .. _, · \í*dades são formadas por subgrupos e cada subgrupo dispõe -ro.oc:,,?.."ro.'t>\.c.a:n.os ô.o c.en.t.i:.o o'J.. ~o '!.'\l..\, \.sto c;\l.ei:.' C..he.t C\:ie; -~ã~ .. :~- '-'iii_'.:s~~~ema.jurídico pr6prio mais ou menos aut:ónomo, em obst.ante a -pr.esença üas \eis áo 1!.st.aà.o, o ó.irei.to •não::ê::;· ;· :'.·~'.i·d'.~dJreÍ#' do Sstado. O direito, do Estado joga mais .ou simplesmente d:o nível político supeTior. Estas constà~~~~~ ·:~p~p~fde thefe de orquestra nesta sinfonia: de sistemas medida em que põem em evidência fenó~~~g~ ~'}p'~l~: fac.to _ de que ele regra as relações entre as heterogeneidade, deveriam abrir _ a estrada ao · pl~~l1 ~'~: \,rdérls jurídicas. Ora, .. o· direito estatal tende a sociológico e jurídico. _ . \ - _~°W· ·:·'ik~r ~ Direito, e nesse seu esforço de -monopolização Podemos pensai que, no sistema moçambicano/eif~_ ~::ho 'fo.dividualisino um grande aliado; . diferentes sistemas em int~racção. O direito oficial gl~~~tii~ ,., ~fü~ uina · correl~ção necessária · entre ;o -pluralismo simplesmente solucionar problemas e situações -de· :. ~oh'._ .Sk{~o~ ·~ ó plurali!!mo _jurídico. O pluralismo jurídico é o existentes entre grupos distintos, enqiianto que os Afr~í 3~,~btí.iial, -quase _ l,lniversal, de todas _as sociedades. .O internos aos subgrupos da sociedade têm a função de _asse · ~q\~<él.o direito é uma tonsequ~ncia do -.pluralismo a coerência e a reprodução desses subgrupos. 1ii~~1 ; .. e -nenhuma sociedade . é absolutamente - ~tfíea: .. ' Ei:n cada campo s~cial 'op~ram- sixq.ultaneamente ~,?1;.:, .l'1:- ~: - · ... · _ I ' ';~><" 175 -; 174 T :~.· ;! 1 f!J ..._ ~ . . , ' . - ·-- .. __________ ( diferentes direitos : o d.ireito do ca~po social considerado, o (" direito de: outro ou outro~ campos sociais e o direito do Estado. Í reconhecia as autonomias e seaundo crit.ér1'os que 11. ,. . , . • . . . .o . ie eram Se pensarmos. que a sociedade é fom1ada por diferentes: . f propnos. Por outro lado, esta divisão de competências · r . d .. · · d 1 · · . . era r:e1ta campos sociais, ·estaremos em presença e uma autentica i e ta maneira que os direitos ·não estatais er . 1 f.~.:- . . b d' d . ' am s1mp esmente galáxia 1·urídica onde. 0 direito estatal não joga necessariamente . su or ma os . ou residuais. Tratava-se de e t d l l. . , . . . . . , . Lac o, e um um papel dominante a. Griffths). . I pura ismo -JUnd1co .fmg1do. Mais do que pluralism . 'd' Em Moçambique o pluralismo sodológic:<;> e, portanto, r· deve-se falar de divers~dade jurídica uma vez que a eo..,.~utr: 1~0 · d h ' i .. · ·d d'r · · ' . -... 1s enc1a ·J'urídico semp.re existit.1. As .vicissitu es .istoricas por que i-: e regras uererites; aplicáveis segundo Ps orupo .. \« • ·• • d d' ·. o s soc1a1s ou passámos neste século não:> coinddem com o aparecimento r territoriais, epen la da tolerância ou da vontad d , - r h · · l ~ ·· d · · 'd· d E , e e uma un1ca daquilo que hoje se c ama espaço nac1ona' n:o f or eu: J~ ica, a o stado. Neste sentido, ·º direito elo Est;do (' uniformizaram a sociedade e, portanto, o direito. Durante .todo r . ~e~e:1a se.r º. ponto de chegada de todo um processo de vida 0 período colonial, os portugueses tiveram que negociar com í·:: JUnd1ca engendrado pelos diferentes subgrupo . . ~.. . . s nac1ona1s. e os difere~tes reinos ou grupos sociais, sem poderem interferir l> EMesdmo se: se . acaba por reconhecer o . pkpel orquestral do sempre nas dinâmicas i~ternas dos gnipos. Mesmo as relações r~. . sta . o nas" configurações jurídicas nacion~is el - I . C: d · . . . -r • e nao .e -. ponto dos grupos internos entre eles passaram pelo mesmo processo. f! : e. partida para o !eg1ferar nacional, mas 0 ponto de chegada. (' Gungunhana teve que negociar com os que ·tinham caído na ~.. ". O nosso pais, mesmo depois da colonização, continuou a sua vassalagem deixando-lhes, assim: continuar a viver T· v~1cular modelos culturais e jurídicos ocidentais. Todavia os (' s~gundo as prerrogativa~ axiolo.'gicas e jurídica. s que .lhes eram ~· . diferentes direitos . tradicionais ·resistix-am bem. ' r· , - ( t . · · . . a a ienaçao. l pr6prias. . . ; So111-ente. que . se esta situação se prolongasse e o Estado António Enes é 0 primeiro a querer impor um d1re1to k contit.l~sse a ter um direito que não se inspirasse nos uniforme com resultados nefastos. Depois. da independência, a b · .costumes e nos direitos tradicionais e continuasse em' certos Frelimo tentou impor um dir~ito a todos ... Mas o fracasso das ·t.:' . casos a legiferar contra o dir~ito tradicio~al, ter-se-ia, de um (' aldeias comunais que fav9receram em grande parte a IT:·'. . lado, um Estado com leis incapazes .de mobilizar o ·Ímaoinário ( • implantação da Renaino no ~po, são elucidativas quanto à f._·: c~lectiv:o das .Poptilaç~e.s e, de outro lado, grupos étnic:s que (' incapaCidade de uniformizar.o direito. · . . . ~, · ve~m nele um adversano. Como .a unidade de Moçambique é Segundo J. Griffiths, existem. dois tipos de pluralismo: f' · ve1:ulada pelo Estado. e pelas suas . leis, a própria unidade, (' um autorizado pelo Estado e out.ro qµe escapa ao seµ controle. t : .· razao fundamental do centr:alismo do Estado Nacional, seria Só 0 segundo é autêntico. Os - portugtieses e .mais tarde a ti:· posta em causa. Frelim.o · reconheceram .certas manifestações e concederam K> · A . transferência do direito . português, que mesmo certos estatutos específicos a grupos como as igrejas, as.·i:~ · .. _ pimtdoxahnente é o · que . se · continua a estudar nas min.oi::ias étn.\c.as1 etc.. Con.tu.d.01 a '\?ºlítica 'l?ºr eles c.ond.w:i~~ :~;)f.·. ·' universidades moçambicanas, e mais tarde a criaçã~ de um (' eu \l.n.\.\.aÚa. e. c~\.i::a\\:za.Õ..oT.a. 'De. :\l.'m: \a.a.o, o · ~'~,~ii'.' '~~{5~{ pir~ito colonial, · que obedecia a critérios de · supremacia ~~~man.e.ce\l. sem~~e () . '1.1.\u~~e Ó.e \o~o ·• ei::a ~\e l:\'ll.e h~~~!i ·~~~lf :~~a .e. econ~míca do. foitulf':ês sobre as culturas nacionais, <l\.v1.são c\as c.om.t?etêudas en.t'te e.\~ e as ent\daà.e. a ~~:~ W:if-f,i.~<J.nseguiram abolir os_. diferen.tes sistemas nacionais, e . . . . ·... 9,#i:z~dores acabararµ mesmo tendo ; gue aceitar uma ê 176 :t:t'·' ·: i77. . . . . . ·~;;:..-;H:: .... ~· ·,ºl"' (j{( .. ' ( . r r . ( ( . ( . ( (: ( ( , { ( ( ( \. \; r ( ( ( ', ( ( ( . ( l ' ( , ( ( , r ( ~j mr - , 1 •1 i ~:\:.' ~ t.~~r · ~ Q1 1 :::: · ~ . espécie de coexistência ju:dd.ka com as diferentes formulações nacionais. Transferência jurídica A práÚca jurídica colonia.1 e a prática jurídica da primeira República obedeciam à técnica da transferência jurídica. O resultado deste processo foi a coexistência de dois si~'temas. Muitas vezes, as ccimunidades continuaram a viver seglind.o o seu direito ; o direito recebido era só aplicado pelas instituições .estatais. Poucos são os casos nos quais ... se · pod.e ·falar de aculturação juridic~ porque, mesmo nas cidades, a m~ioria da população continuou a viver segundo. as no.rmas de comportamento que relevavam da prática jurídica. e moral autóctones. Podemo-nos perguntar se a prática da segunda República, apesar de algumas concessões, não obedece ela também a um processo ele transferência jurídica. Se olharmos par11 o direito moçambicano e · . para a . estrutura social moçambicana, fundamentalmente rural, com as. suas diferentesconcepções de lei, damo-nos conta d~ que o chamado direi.to moçambica~o é um simples resultado de uma transf~rência jurídica ocidental.. Devemos somente recordar que os portugueses falhanm neste intento, como falhou também a Frelimo que nunca conseguiu impor um: dirêito ·marxista uniforrne-- em todo o Moçambique. O ciue acontec.eu foi o estabelecini.ento, de facto, de um dualismo entre o dir~ito tradicional que se continuava a impor em matérias familiares e · la.tifundiárias, . sobretudo. nas zonas rurais (basta pensar na poligamia ou no lobolo) e o direito estatal ·que regulava as . instituições estatais, administrativas ou ainda a vida económica. Ivlas, ·. na prática, os direitos locai:s continuaram sempre a resistir ao direito estatal. · Uma das ·• formas de resistência à transferência f9i a à.esu.at.ui:açã.o d.o· Õ.il:eit.o ü:ansfel'.id.<>. UtiH:z.av'am-se . técnicas \T& i· .1.: · .. ' F,,· .... '· ;;, .. · ;; ..• ' -:~ .. ;;. ~· ~ ~ --= · -~.··:· J.: .· R:: ::;.:: ... ·. r.· jurídic~s: europeias para proteger fundamentalmente comunitária. ti ma . Existe tambént u~ ~enómeno de incorporação, que é ' uma da~. formas ·de su1e1çao. do· direito autóctone ao direito estatal. o direi;º. autóctone ~ · incorporado n~ dfreito estatal em todos os dommi:os onde nao há contradição flagrante. Este process~ pode chegar a uma desnaturação dó direito·autóctone na med1d~ em qu~, em certos cas'?s, as .autoridades estatais ~a~em aphcar o direito autóctone pelas jurisdições q~e eles mesmo estabeleceram .. O · exemplo do régtilo é emblemático .como é emblemática a reacção ·dos chopes à escolha de. certo~ régu~os que não '~e>rrespon~iam à hierarquia'tr~dicional · . ?s . portugueses _garantiram ' o respeito . dos usos e costumes . da's diferentes comunidades moçamb1'can . .. . . . . . as, ao .m;s~o tempo ·que impunham os direitos europe~ ll\.1.m certo numero de casos. Esta atitude procedia ela técnica · de cooperação ... Mas, . na prática, .esta cooper~ção exercía~se · em de~~mento ·. ~os direitos · autóctones, uma vez que · foram . utihzad~s dtferent~s procedimentos . com a finalÍ<lade de transfenr . a . fronteira entre direitos autóctones e direitos modernos e111 benefício destes últimos. Os. direitos autóctones são considerados contrários à civilização o~ como obstáculos à dominação colonial. · : . · . t:;· ~t· Por um project~ político democráti.c~ e multicultural k • O princípio unitário : do direito ~.~º está inscrito na ~\ naturezaddod· direito. O direito começa onde se inaugura a v.ida . .. , em socie a e. Moçax:p.bique no seu sistenb cultural plu:ralist:i . f :· ·· possui não um sistema jurídico uniforme.e wi:ico, mas muitos rr '. tan~os. qua~tos s~o ~s seus grupos culturais. Isto quer dizer quE F· .. o. çlue1~0 nao. e~t~ .. hgado, por natureza, .à ~xistência do Estado '.'.:·': , · nem a defm1çao de regras explícitas, nem mesmo ac ·:~ . · reconhecimento da sua racionalidade . ~ · I.:, · • . . . . • ~.:·· . !· 179 r 1'.71 .; fi}! Neste . momento fala-se e discute-se muito sobre f reformas j~rídicas e constitucionais. o grande ausente neste r' debate de reforma é a tradição. Eu refiro-me · à tradição como i. parceiro de diálogo a título inteiro . . Refiro-mr:: às culturas J .. moçambicana,s nas quais se deve inspirar toda a constituição 1 ' que queira ter na moçambicanidade cultural os seus pontos de r ' apoio. Refiro-me à cultura poütica e jurídica moçambicana e f .· não à política cultural e . jurídica ~e um Estado com paradigmas f' de base· e referências . ~tra-rnoçainbicanas. L. É um facto que os nossos costumes são menos r; · espectaculares que ,as refol"maS legislativas ; ' P.orém não s~o r' . menos profundas. Não é falso que sobre certos pontos o direito f ; 1: ·~ ·~. tradidonal pode ser inapto à vida e às exigências da ·, modernidade, como a constituição de um sistema económico . f c. liberal, baseado no indivi~ualismó e na concorrência: ou no r '' r;-· afastamento puro e simples . de sistemas jurídico-culturais r: . autóctones, eni favo~ de uma a_ssimilação incondicional e cega ~\ '.:;·. de um sistema jurídico moderno baseado mais sobre • •' considerações de ordem económica que nas observações dos . l dados sociológicos. Mas é errado pensar que estE; seja incapaz ~:;; . de produzir novas forma~ jurídicas. Este é um erro que . . .,' : ... consl.ste em confun.c:lit o conteúdo d.o direito tradicional e a sua. :, \ó~\.c.a. · . . .; .. , ()s 'te~'tos coru.'t\'t"ll.t.\o't\a\s, a~a~u~os "tia "rulva 'tefot~' 1?ª-ra a oi:ganU.a~ão à.os \)Oà.exes t?úb\~os, totam. ç\~ca\,ca.~9~y modelos europeus que repousam sobre· a 'refe.rhit~.a :_:f en.tidade abstracta, o Estado, e de um regúrie · de :~~p ocidental sobre a separação dos poderes. Estes_ pri~~Íp correspondem nem às nossas culturas jurfd.l.ca~, · , organiz~ção da nossa s<;>ciedade. O que está em causa ::n, . os modelos em· si, mas a sua l!-plicabilidade na nossa ~6. ::= ·: organizada de modo diferente. . >!~ Se .o idealiiador da separação de .poderes, Monte~' tem razã9, nenhum sistema jurídico é transferi~~- 180 •• ·-- ----- importável. Isto não . significa que não devamos conhecer e (' aproveitar as experiências . que nos são . alheias isto é 0 .. me~anis~os técnicos, polítiCos, sociais e jurídi~os co~ 0 : (' qua~s os outros povos deram respostas aos problemas com que se tiveram que confrontar. ·Mais important:e ainda é que temos (' qu~ nos conhecer profundaQlente a nós; .mesmos : a nossa soc1e~acle culturalmente heterogénea, a no$sa geografia vasta e ·conflitual, os nossos . recursos (humanos) insuficient demográfica e intelectualmente, a nossa posi·ça- 0 -c , . es 'f' · · "- onom1ca catastro 1ca, ·o . nosso lugar no · mundo (entre 05 pa' · b ) , , ises mais po ~es . e mes~() na Afriea Austral E i~so só se consegue a partir de uma reflexão muito séria e colectiva sobre o que, a~ facto, somos e d? que é Moçam~ique, a sua sociedad~, as sua~ (' culturas e, sobretudo, os seus desejos e ·aspirações. · · , Eu nã~ f~l~ do desejo e aspirações . de um pequen~ numero de .. i.nd1v1duos, por melhor cuhura ·e form - \ nha · · açao . qu• te m, 11~m seque: falo do que um Ptrddo pensa que 0 pov. \ . quer. Eu d1g~ que e preciso que se faça um inquérito séri· l ~obre o que sao as estruturas das nossas culturas e, sobretudc sobre o qu~ nós queremos _: os objectivos que nós traçamos, ~· .nossos sonhos, as riossas utopias, os nossos ideais para, a part: r daí, pensar o direito. · A nossa democracia ou sei _: moçambicana oµ não ser~. . . · · . · ( ':'.'-: . '. . No momento da independência o ~overno deu prio;idad ':do__:~< pr.obfelllaS: O desenvolvimento económico e a cmidad 4 r · ~~-;{;:!tf.u/~ vezes recorreu,se à codífica.ção na esperança. ("" i+;J~f~ : ~stes problemas. Para os . adeptos' do direito ele t.8h'=~1'.Ilento, . o direito tradicional parecia mal ;~_~á,d~ , . e mal a~aptado para assegurar um , ypJY,imento de tipo ocidental (l>eter Abrams, Uma Côroa J!~.~o( i acusava-se-lhe. de estar imb'uído de magia e de )M/'qe 1g~()rar os conceitos . funda~entais, necessários .. ,:5~;{~ .. ; ~conom1a do mercado, dado que ele ignora as formas ~~~~~~~;i.isnecessárfas à economia do mercado. Nas · relações .... ~··~. . . .. ' 181 ( í r ( , e ( : ( ( . ( , ( ( . r r r r \ . r ( i r ( 1 ( , í ( ( , -1 ' ::~ j ;- ~ /~ ··,- ! -, ! ~~~ ' _ ·~; 0 -.- ~J :: : l t r-"· _____ ----,-___ _ familia;res; a família alargada, · ,o lobolo, a poligamia ·são ~ . « rn.od._er.nos » nacionais. A maioria da população, sobretudo concebidos como instituições que: entravam a acumulação r coristitt.1ída por camponeses, ignorava ~ste modo 'de pensar .e. o económica e a mobilidade social (K. Nkrumah) . . O direi.to •' conteúdo do direito: estatal, muito influenciado por mod~los · latifundiário é particularmente v~sado por estas críticas, que 0 J, europe~s. Era,• portanto, .normal que . ela o evitasse e acusam de conduzir à sub-exploração do solo. Os nossos te . cóutinuasse a referir-se ao dir~iio tradicionaL legisladores fizeram reformas agro-latifu1i.diárias a fim de t' Isto explica que as legislações não tenham servido em transferirem as maiores· superfícies possíveis de terra para 0 · _f ~-~'.! _:··' .• · nada os interesses da unidade nacional, na medida em elas não controlo do Estado. Muitas vezes, estas reformas chocam com ~ desembocaram nuµia unificação do direito. Como observou o a hostilidade dos camponeses, muito agarrados aos seus f::: jurista da Costa do Marflm; R. D.eg~i-Ségui, as ~onstituições e sistemas tradicionais.. -. r os textos de organização judiciária da maior oarte elos no..;,,.os . Como afirma E. Le Roy, este procedimento revelou-se ~> - estados africanos refer.~m-se .simultaneament: .à codificação e um instrumento de st.tbdésenvolvimento jurídico porque · f .. - à uniformização do direitO · nacional.' Mas ou fa:zem f or um lado as desigualdades económicas e, por F . codifit~ções pelo direit~ estrangeiro, · é acentu~m assim a re orçou, p ' . · · ·-f outro, e~cluiu, de facto, da vida jurídica indivíduos não f;~·'. . ruptura entre o direito tradicional e o direito rii.~derno ou lusófonos, nem escolarizados (que constituem mais de oitenta 6' ac~baram por cqnsagd-lo oficialmente volta~do à opção1 da por cento da populaçio moçambicana) metendo, assim, em . 0-· legislação e aos modos coloniais da solução de ,conflitos de l~is · b' àivos de desenvolvimento ,. de integração f .. ;. internas. Contudo, muitas vezes o direito t~adicional · tinha :::~:n:l~ E~s J;orque é estritamente necessá_ri~ ter em con~a ª~ . f." antes passado por uma série de medidas d.e des~onfiança. opiniões das populações, nomeadamente no que concerne a sua -~ · . ·Moçambique, apesar das ·proclamações ·pc:>líti~as, aplica relação com o direito tradicional. . .f . desde . a independênci3. . o princípio. de . sucessão ao direito . - Insisto que não se deve confundir o conteúdo do direito ~.. colonial português, por medo de. se encontrar diante de um tradicional e a sua lógica. Se muitas reformas, justas· e ~ :· .-oacatio jurídicó, resultante do não conhe;cimento ou da oportunas, não produziram os resultados desejados; é .porque /·f< inadaptação do. direito .tradicional Trata~se de mec4das fora::n sentidas pelas populações c~mo_ imposições de ex:~rior; ,~: : ._ cons.e~vadora~. N~ _futuro, ~ó~ teremos que ~te~ar o d~re~to · Uma transformação. gradual a partir de um processo de d1~lo~~ . · ~ '.: - · t~_ad~c~onal e as~oc1a~ lo ~o· d1re1to moderno. P,nme1ro, o ~ire1to .. teria dado melhores resultados. Se não se fez desta -maneira, e ti=·:.:· _trad1c1onal fo1 eJi.:clu1do porque se pensava· que ele só porque as codificações não eram simpl~s reformas jurídicas, : ~ ;: .. corrispondi3. a ~m estado a~caico da organizãção de pr~duÇão! mas sex-viam também certos interesses sócio-económicos. As ·fiY ·.e. que perpetuaria estruturaS arcaicas de desigualdades soé:iais. mudanças corresp.ondiam, em ger~l, a um aumento do poder . l ,·: Hoje pen.sa~se que é inadequado à economia do mercado'. do Estado e . a certas mudan~as sociais. Ora, com as .~/... As legislações estatais foram muita~ vezes utilizadas independências, o direito . estatal, na sua concepção e ~a ~ua t{ , _contra o direito tradicional. Mas xp.uitas matérias ficaram sem .\ aplicação, passou a ser controlado pelas povas . elites e .i:: codific~çãó, dei?tando campo aberto a que o ;direito tradicional fortemente influenciado .pelos grupos de interesse que j_ogavam . f.;" . . continuasse a .exercer a sua inflµência. Mes~o nos momentos um papel _ . activo no · desenvolvimento dos s_ectores .: i;~ ·de grand~ ortodoxia · marxista, em certas matérias, não m . .f ~;i_:_·_, ___ ... -_-_ .. ,· .. -:. i sJ .. ·\;f ~ .. ~ . ., ~ ·~· -~·:~~ ,, ~.::::.:~~ffi~-~~-;~~· : , 1: ~ r J; : obstante os grupos dir:1amizadores e as células do part ido, o ~ · direito tradicional continuou a imperar, sobretudo no domínio i' · fa~iliar e na resolução dé conflitos. ~ I· Os textos constitucionais moçaxnbicanos ·· foram t ~· decalcados de modelos europeus, que repo·usam sobre a ~ . referência ao Estado, ao· regime de separação elos poderes e a ~· regra da maioria. Ora, estes princípios não correspondem às & ' j experiências das sociedades moçambicanas, onde o poder está ,. i · ligado à autoridade pessoal da pessoa: que o e::cerce, e onde o ['. consenso aparece mai:s como expressão da unanimidade das t: vontades do que simples lei da .maioria. O pluralismo F ocidental herdado da democrada ·de Atenas permite a cada f~.· opinião exprimir-se e conta.biliza através de uma adição de ·} sufrágios, o que comporta o sério risco de exasperar os f.;. antagonismos, tornando-0:1 crinda · mais manifestos. A ~· ·. unani~idade pode, no ocidente como em outros lu.gares do. !· mundo, ~ervir muitas manipulações e cobrir muitas inju~tiças, F que . é,. aliás, a outra parte da_ moeda •. Mas a vontade ~e coesão r. ·. que · ele exprime encontra nas tradições . africanas un\ \' : ~:: .... substracto muito sólido. ·L· · . Um novo direito mais democrático e mais integrador sob }; o ponto de vista do desenvolvimento é. possível Porém, ·ele S tem de ter muito mais em conta ª~ diferentes me~talidadf!$ tt· moçambi~anas e será nestas condições mais. eficaz que os fr: .: • planos de desenvolvimento até aqui muito decalcados dos- f.·· modelos ocidentais. Não· ·se trata de recuar · ao passado pré· •f ,,. · coionial, mas de adaptar as antiga.s solltçÕes às . novas p 184 . . . . ·. .~ . . acções. O Estado · deve ter que responder pelas .suas actividades, mas também" os diferentes grupos devem ter q~e responder .pelas suas acçõ.es. O banco de p~ova de uma democracia, que funciona 110 respeito : pel~s •diferenças. C1;11turais . nacionais, deve passar pela c~pacidade de cada entidade ocupar profundamente o seu lugar, . no respeito pelas prerrogativas e pelo can1po 'de · outras forças e instituições políticas e sociais. Um.a certa moçambicanidade já exis.te, e para criá-la a C Frelimo )ogot.' Uo;l papel de prim~iro plano. A questão é saber ~e a sua:·· consolidação passa pelo . reforço de estruturas centralizadas . (a descentralização quer dizer que existe um centro à ' ·V:Olta élo qual gr~vitam tpdas as outras di~ensões \ políticas e . sociais) ou por uma . valorização das ·"i:ulturas (' nacionais ~o âmbito do Estado moçambicano. Valori:á-las \ significa não reduzi-las a folclore nacional, nem sequer reabilitá-las maquiavelicamente para depois subordiná-las à~ estrutura.S centrais do Estado · paradigmaticamente ocidenral: mas reto~á-las como entidades em movimento e, portanto como parcei~os sérios para um . diálogo social, lurídico ~ é . ' económico. Alguns p~nsadores insistem na dimensão subjeétiva 0 1 espiiitU:al da nação; outros nas ~aracterísticas objectivas e na \ condições económicas ou técnicas que 'estão na origem de ·nacionalismos. Ora, é necessário ultrapassar estas oposiçõ~ simplistas e .dar espaç.o · às ideias, ªlls valores e, ao mesn tempo, às condições concretas da existência da nação. <' R~nan demonstl"ou a insuficiência da raça, da língua, ' z;eligião, dos interesses e dos dados objectivos da geografia pa definir ª · nação. M. Weber e Marcel Mauss foram ainda m; longe na ~rítica à definição objectiva da nação . . · A subordinação das· identidadef culturais ao elem•er político supõe que os indiv·íduos tenham o sentimento de qu sua d.ignidad.e colectiva · - ·.portanto também índ.ividual 185 ( ( · C· í . r \ ; ( t • r , r l ( { ( r Í . ( , ( ( : ( 1 >1 ·~ 17. - Ç:·:· ' [}; - 1 -1 ~ ., reconhecida e respeitad~. Moçambique só pode atingir uma estabilid~de política se forjar um projecto polític0 capaz de unir às etnias ·que o compõem, reconhecendo-lhes 'um.a dignidade igual. Hoje Moçambiqlte per~ence àorclerrt · poJ.ítica nacional · Na medida ei;n que a sua exist&ncia é legitimad.a pela vontade dos. cidadãos, depende do facto · de qu.e e!;tes interiorizem . valol'es comuns. A moçambicanidade se fund.a, portanto, mais na moral que na . ob.rigação, para utilizar a linguagem de Durkheim. Ela se constitui ultrapassando os · radicalisID;OS pax'ticulares, e mant.fm;.se ' sustentando e desenvolveii.do sentimentos, imediatamente dados pela etnia através da socializaÇão familiar, . mas que devem se:f ccm.struídos pela nação, para criar um sentimento d~ pertença e ?e partidpação . graças ao qual o colectivo 'se pode perpetuar. E a isto q~e se devem d.edicar as instituições públicas. O trabalho re;Lhzado pelo Estado pa:ra dar uma certa homogeneidade à C\.tltura das populações é justificado, não pela preocupação de fazer participar todos os indivíduos na .vida pública, mas para dar · corpo à comunidade abstracta que é a na~ão e certificar-se da mobili:zação colectiva. A diversidade cult1.tral enquanto tal não impede a criação . da nação. Ultrapas~ar as particularidades através de uma sociedade política não implicá a supres.são de~ses radkalismos . . Aliás, não é nem possív1:?l nem desejável. . A · cidadania, contrariamente à etnicidade, por exemplo, não é fundada sobre · a identidade cult1,1ral. · Nã~ há · nenhuma contradição . em ser Macua, Chope QU· Ndau e ser · cidadão moçambicano . . A diversidade objectiva, a das línguas, . das religiões e 'das culturas, não é no seu princípio incompatível com a criação de um espaço. político co~m.\m. · A existência ·dt: uma -~ação· depende da capacidade · de o proje,cto político res?lver as r.ivalidacles e os conflitos entre os ·grupos sociais, religiosos, 186 l r t ! J ~ .. . L (· t ~· -(.~· ~ . F v· '!-:·::' ·, ' r" t } :-:: E' i/' ·~ ·:· t,: ... ~ ·:. f;.:- : f .. .i • ~ ~ .-==. r.~-.:: ( "'".. ~ .... l :. :_. ~?. n;gionais ou étnicos se·gundo regras recónhe~idas por todo~ · . como legítimas. . Para assegurar a existên~ia de uma 1 nac-ã~ de ci"cl d- . .( . , . . f . .,. a . aos, o:: necessario sat1s azer duas exigências: que os · d' 'd · d • . · . · · ln lVl UOS ~ mttam ' a existên,cia de um domínio 'público u~ificado e mdep.~ndente - pelos menos .·nos seus princípios-, e que ele~ respettem as r~gras ·do seu funcionamento ;, que a igualdade d E cada pessoa, que funda a lógica da nação democrática não se·. contradita por desigualdades d.e estatuto :em o~tros d'· ' • J: d d · om1n10. .ª ':Í a social, de.modo particular nos direitos pessoais. A"'pri~eira condição da democracia não é p,gp~r vota por um. partido ou por outro, nem s.equer poder escolher , presidente c1ue 'queremos . q. ue nos 8 · ov-e. A d " l · . . . - ... u emocrac1 consiste tia inserÇão de cada' indivíduo n9 sei~ da c~~unidad - e na pàrticipação integral na vida claquel~. Por i~so, temos qu ~ncontrar um · espaço institucional : adequado para imple~~nt_:ção democrática e para um . diálpgo .d reconc1haçao~ · Eni termo~. sociolôgkos, o esp~ço ·da .teconcilÍaçã democrática · deve. sei: uma· unida.de ·que tenha em cónta 1 pequeno ' número dos membros e uma dii;nensão elo territ6ri redU%ido, dos · quais ·vão · necessari~mente depender p~rtidpação polític:a dos cidadãos. · · . Em termos políticos, ·o espaço detn'ocrático· cleve1 p~rmit ·~diálogo contíriu() e sisteJJ:lático ~ntre ;o Estado e as.cultura it l~ · ." 2. Contrato Social ···' A segunai. R~p~blic• é percebid.i pelos moçambioan · f'º'. · como profundamente inj,usta. Ora, da mesma maneira que . "~~~: pq.oulí~stt1·cãao dªoJ·umste1·çlhoe; regime .elm' a mais "V,el~a ques~ão da filosoJ .1-·t:;. ., , . · .. a ; provave e.n~e, o seu conceito mais anti~ . ~.~.·~,i.:.~ ·.·.· .. Alias, eles estão intrinsecamente ligados. Para .Platão, p • exemplo, o ip.elhor regime é ª<;luele que :está em· altura .. de fa2 ·f' 187 u. ·~ -~ ···. · : -}i '; : ····•. :~;;;;1::::-;'t;;f10~~1~3'.if~i~g,;J,ii\i.f~'i:Zi~~ll:H'~Ji ·_ft -r.· i~ t . reinar a justiça na cidade; assim como o objectivo da:· sabedoria J:· • .. é fazer reinar a justiça na ~lma. t· · O con~eito d.e justiça não é e nunca. foi exclusi~amente · f político. Ainda menos jurídico. Ele pode ser apl'eend.ido em f :: diferentes sentidos: ético, metafísico-histórico (justíça f' imanente), religioso (transcende~tal), . até mesmo estético. f. Entre estas múltiplas acepções, não separáveis por nenhuma · I" front~fra bem definida, toda uma série ele ligações mais ou "f~ . menos subterrâneas se· teceram dur.ante séculos. Esta é a ra:tão · ~· · pelá. qual a dimensão política e a dimeruã-o ética estão ligadas, . ~ . · .. como · bem prova John Rawls (1987 ) . na sua Teoria da Justiça t· que, há trinta anos, teve o grande . mérito de dar um nov.o ·1~~ · ale[lto à questão ·da filosofia · política, que tinha sido ·~,. · transcurado depois de Rousseau e de Kant; ~-· ·. . Desde. o aparecimento daquele livro, a justiça voltou a . [; . ocupar um espaço importa:nte no debate filosófico actuaL l Pensar a justiça supõe pensar simultaneamente o conceito de 1· · igualdade e do contrato. Com efeito, uma comunidade que :: aspira a fazer reinar no .seu seio igualdade e justiça. dev.eria ser . ~· . . fundada sobre um .contrato. Esta ideia não é evidente, dado · · · que . ela pressupõe. UIIla · hipótese preliminar: o ' carácter .1 .. ,:.-.L_."··· · . artificial da sociedade política. Hipótese que, desde os gregos .,. até hoje, não cessou de ser .combatida a partir dos pontos de ~~,·,, vista mais diferentes. Mas o que é que o nosso Moçambique Jj. ~~----r--_c . . Em: toda a su~ obra polít" · · ·· • 0 ºd if· ica, a começar d P ]' . \. l : ent ica a arte . real a do 1 . ·l d a o ztzca, Platão . . ' egis a or ou do h d .· . com a arte do pastor M . . omem o Estado . . ·. esmo se nas ob . . esquivar-se desta dificuld d . . ras seguintes tenta (' 'ºf . a e, a verdade , PI cu erenc1a - como bem obs A. . . , . e que atão não r b . ervou nstoteles - d \. so re as suas ovelhas ·ou o poder do . . o po er do pastor poder político propriamente dito. pai sobre a sua família do Na Política, logo no início d 1. ; · C ºd .d o ivro Ari t' l que a c·t a e ~ resultante da . ·- d . . ' . s ote es recorda . . . un1ao e . muita - mesmas resultantes da ·un1·a-·o .d ·. . . s povoa.çoes, das ,. · . . . · e muitas fa T , 1,. . .. Qatural po.r excelênda, resultado. do. instinm1 ias - e a realidade ' l~umanos . a reagruparem to ql.te leva os sere< (" d -se para asse · ' repro ução7º. Num segundo . . gurar . a própri~ · h momento ela p . . e e~ar através do logos ~tra , d d b' . erm1te ao homer,r r ' ' . ves . o e ate fil , f· . l . a consciência. plena do J'usto . d . . . n oso ico e político f, . e o InJusto p 1' r orma suprema de comun. d d (r.( . A • • • ara a em dest~ \ 'd d . 1 a e .i.• o1non1a) q c1 a e e se confunde com o E d - , ue constitui : l ' . . - . . sta o, nao ha nada. . A dommaçao do platonismo e do . . . ,--- conjunto da cultura mêdieval . d. aristotelismo sobre e r, d. . · . impe 1u os filó E , l me 1eva1s de conceberem a . .t . . , so os e teoloi>o. . . czvz as, isto e a N - . º ,,.... como . criação artificial co~ . 1 · d ' açao ou o Estad, e . · ' o resu ta 0 da v d d . 1untos que se teria manifestado . . . . . onta e e vive ( S , uma comunidade h o no século XVI e' · · umana. ,. . que a concepç- l 1 · cidade . foi globalmente . ao natura ista d . d . . . J;>Osta em causa. Es~ - f'> ev1da a dois factores ind . d "~ . mut.açao fc l . epen entes mas 1 · . d D parte, ·º desenvolvimento das "A 1 • ' iga os. e um r 1 . . c1enc1as expe · . . · tecno og1a, do racionalismo . d . h . . . nmen.ta1s, d e · e 0 uman1smo cont ºb razer recuar a . concepção reli ; d rx uem par 1, . . giosa o mundo l po 1t1ca. Testemunham ess f . e, portanto, d ·d, . . . e .<!.Cto a inclusão h' l . . . tem d;~:tu::l ?sofistas (Protágoras, Hippias, Antiphon), a