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aula 3 dano moral

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DO DANOS MORAL 
Relembrando! 
Direitos da personalidade 
a) Os direitos da personalidade são os direitos subjetivos da pessoa de 
defender o que lhe é próprio, ou seja, a sua integridade física (vida, 
alimentos, próprio corpo vivo ou morto, corpo alheio vivo ou morto, 
partes separadas do corpo vivo ou morto); a sua integridade intelectual 
(liberdade de pensamento, autoria científica, artística e literária); e a sua 
integridade moral (honra, imagem, recato, segredo profissional e 
doméstico, identidade pessoal, familiar e social). (Lenza, 2011, p.888). 
b) Os direitos de personalidade, por não terem conteúdo econômico 
imediato e não se destacarem da pessoa de seu titular, distinguem-se 
dos direitos de ordem patrimonial. 
c) Os direitos de personalidade são inerentes à pessoa humana, estando a 
ela ligados de maneira perpétua, não podendo sofrer limitação 
voluntária. 
d) Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da 
personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu 
exercício sofrer limitação voluntária. CC. 
e) Os direitos da personalidade são: Intransmissíveis, Irrenunciáveis, 
Inalienáveis, Imprescritíveis, vitalícios. 
 
DANO 
Dano é o efetivo prejuízo sofrido pela vítima de um ato. 
 
1 - CONCEITO E DENOMINAÇÃO DE DANO MORAL 
O dano moral consiste na lesão de direitos cujo conteúdo não é pecuniário, 
nem comercialmente redutível a dinheiro. Em outras palavras, podemos afirmar 
que o dano moral é aquele que lesiona a esfera personalíssima da pessoa 
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(seus direitos da personalidade), violando, por exemplo. sua Intimidade, vida 
privada. honra e Imagem, bens jurídicos tutelados constitucionalmente; 
2 DA NOMENCLATURA: 
Dano moral: muito abrangente; 
Dano extrapatrimonial: Muito restrito; 
Dano não material: para se referir a lesões do patrimônio imaterial. Justamente 
em contraponto ao termo "dano material' 
3 – NOTICÍA HISTÓRICA 
Só a pouco tempo a reparabilidade moral se tornou pacífica nas legislações 
modernas; 
a) Código de Hamurabi – ofensas pessoais eram reparadas a custas de 
ofensas idênticas; O código ainda se preocupava com a isonomia das 
reparações nas mesmas classes; Observa-se ainda que a reparação 
moral aqui, nem sempre tinha relação com pecúnia; 
b) O Alcorão: exemplos de repressão histórica as lesões na esfera 
extrapatrimonial. 
c) A Bíblia Sagrada: Antigo Testamento, encontramos algumas passagens 
que tratam. sem sombra de dúvida, da reparação de danos morais. 
d) Direito Romano: A preocupação com a honra. inclusive. era profunda, 
traduzindo-se no brocardo hottesta fama est altenum patrimonium (a 
fama honesta é outro patrimônio) - Na Lei das XII Tábuas (surgida sob a 
égide de Terentilo Arsa, o Tribuno do Povo), encontramos, inclusive, vá 
nas disposições concernentes á reparação de danos, onde obviamente 
se Insere o ressarcimento dos danos de caráter moral, amplamente 
tutelados. 
e) Grécia antiga: As leis gregas outorgavam ao cidadão e aos seus 
respectivos bens a necessária proteção Jurídica. além de fixarem que a 
reparação dos danos a eles causados assumiria sempre um caráter 
pecuniário, afastando a vingança física e pessoal como forma de 
satisfação ao lesado. 
f) Direito Canônico: Podemos encontrar, no antigo Direito Canônico, 
diversas passagens em que se constatam regras típicas de tutela da 
honra. Nota-se. Inclusive que havia preocupação específica de Se 
determinar reparação pelos danos morais e materiais. consignando 
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dispositivos que as legislações seculares, sob a influência constante da 
Igreja Católica. 
A ruptura da promessa de casamento tinha. por exemplo. uma condenação 
especial ("arras esponsalícias", que se configuram como cláusula penal), 
rezando o § 3.° do cânone 1.017. 
4 - Evolução histórico-legislativa no Brasil: 
a) No Brasil Colonial. durante a Vigência das Ordenações do Remo de 
Portugal, não existia qualquer regra expressa sobre o ressarcimento do 
dano moral; 
b) Com o advento do primeiro Código Civil brasileiro levou as primeiras 
defesas da tese da reparabilidade do dano moral. (a título de exceção); 
c) Leis especiais regulando especificamente o assunto: Código Brasileiro 
de Telecomunicações, de 27 de agosto de 1962 (Lei nº 4.117); Código 
Eleitoral. de 15 de Julho de 1965 (Lei n. 4.737); Lei de Imprensa. de 9 de 
-fevereiro de 1967 (Lei nº. 5.250 - ora revogada), a Lei dos Direitos 
Autorais. de 14 de dezembro de 1973 (Lei nº. 5.988); 
d) Depois da promulgação da Constituição Federal de 1988. o Estatuto da 
Criança e do Adolescente (Lei nº. 8.069. de 13 de julho de 1990); 
Código de Defesa do Consumidor, de 11 de setembro de 1990 (Lei n. 
8.078), Lei da Ação Civil Pública (LCI n. 7.347/85). 
 
Obs. Apesar das ilustres vozes discordantes, prevaleceu, portanto, no direito 
brasileiro, num primeiro momento, a tese proibitiva da ressarcibilidade do dano 
moral, admitindo-a somente em hipóteses especiais expressamente previstas 
no Código Civil ou em leis extravagantes. 
 
e) Somente, de fato, com a promulgação da vigente Constituição Federal, 
em 5 de outubro de 1988, é que se pode falar. indubitavelmente, da 
ampla reparabilidade do dano moral no direito pátrio, pois a matéria foi 
elevada ao status dos "Direitos e Garantias Fundamentais" (Título II da 
CF/88). – “artigo 5º, incisos V e X, da Constituição Federal, cuja dicção é 
a seguinte: V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao 
agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; X – 
são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das 
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pessoas, assegurando o direito a indenização pelo dano material ou 
moral decorrente da sua violação”. 
f) Trata-se de questão pacificada pelo enunciado de Súmula nº 37 do 
Superior Tribunal de Justiça, que diz: “37. São cumuláveis as 
indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato.“. 
g) Código Civil brasileiro (Lei nº. 10.406, de 10-1-2002), adequando, de 
forma expressa. a legislação civil ao novo perfil constitucional, 
reconhece expressamente, em seu art. 186, o Instituto do dano moral e, 
consequentemente, por força do art. 927, a sua reparabilidade. 
 
5 - DANO MORAL DIRETO E INDIRETO 
 
a) O primeiro se refere a uma lesão específica de um direito 
extrapatrimonial, corno os direitos da personalidade. 
b) dano moral indireto ocorre quando há uma lesão específica a um bem 
ou interesse de natureza patrimonial. mas que, de modo reflexo, produz 
um prejuízo na esfera extrapatrimonial. 
 
Obs. É necessário diferenciar o dano morai indireto do dano morai em 
ricochete (ou dano reflexo). No primeiro, tem-se uma violação a um direito da 
personalidade de um sujeito, em função de um dano material por ele mesmo 
sofrido; no segundo, tem-se um dano moral sofrido por um sujeito, em função 
de um dano (material ou moral, pouco Importa) de que foi vítima um outro 
individuo. ligado a ele. 
 
6 – REPARABILIDADE DO DANO MORAL 
6.1 – Argumentos contrário a reparabilidade: 
a) Falta de um efeito penoso durável - seria um fenômeno com efeito moral 
temporário, não merecendo o nome de "dano", mas de simples "ofensa". 
Crítica ao argumento: 
Se a idem de dano "dependesse da duração da sensação penosa, para 
sabermos se uma ofensa á honra, a liberdade etc. eram ou não Juridicamente 
um dano moral, precisávamos de indagar o tempo que dura essa sensação, o 
que é impraticável do ponto de vista medico e psicológico. 
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Não se pode descartar o fato de que podem ocorrer (dores morais) que durem 
a vida toda, gerando perversos efeitos psicológicos e sociais, levando, não 
raramente, a uma decadência física oumesmo ao suicídio. 
B) Incerteza de um verdadeiro direito violado: Objeção consiste na verificação 
fática da violação jurídica, podendo inclusive se prevalecer o autor pela 
vitimização excessiva. 
Crítica ao argumento: 
É sempre uma só a causa do dano (a ação ou omissão do lesante), pouco 
importando que o bem ou o direito lesados sejam materiais ou morais. O dano 
e que se biparte em material ou moral, segundo a natureza da perda que 
determine. 
a certeza do dano decorre da efetiva violação do direito na esfera 
extrapatrimonial, o fato de os efeitos do direito violado serem imateriais não 
Implica em inocorrência de violação, tampouco na inexistência de direito 
lesado. 
c) Dificuldade de descobrir a existência do dano: É impossível na maioria 
do casos, se não em todos, descobrir se o ofendido sofreu realmente uma dor, 
com a prática do fato ilícito e o Juiz pode a cada passo ver um verdadeiro 
sofrimento onde não há mais do que uma hipocrisia dissimulada que ele não 
consegue desmascarar. 
Crítica ao argumento: o argumento tem sua lógica, enquanto elemento de 
retórica, mas cal por terra quando confrontado com a moralidade média do 
cidadão comum. 
Há situações em que não há como não se reconhecer a existência do dano 
moral, como é o caso. por exemplo, da dor que os pais fatalmente sofrem com 
a morte de um filho. 
Contudo, podem ocorrer. de fato, algumas circunstância em que fique difícil 
para o magistrado descobrir a verdadeira existência do "dano moral': mas ISSO 
se configura mais corno uma simples dificuldade de ordem probatória do que 
um Impedimento a ressarcibiIidade do dano. 
d) 1ndetermmação do número de pessoas lesadas: Este argumento tem 
por base a tormentosa questão da legitimidade para pleitear a reparação 
do dano moral. 
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A mais grave dificuldade que se apresenta aqui consiste em determinar as 
vítimas que têm direito a reparação. Quando se trata de um prejuízo 
pecuniário, sabe-se que o patrimônio foi atingido e geralmente a falta não visa 
senão a uma pessoa ou um só patrimônio; quando. pelo contrario. se trata de 
sentimentos atingidos, surge o problema. 
Crítica ao argumento: Cria-se a presunção homens de legitimidade para os 
parentes próximos (pais e filhos) somente pelo fato de que a ligação sanguínea 
gera, em regra, um vinculo afetivo para o "homem médio". Essa presunção. 
entretanto, é, juris tantum, admitindo-se prova "em contrário da inexistência de 
afetividade com a vítima direta do dano. 
para a resolução desta dificuldade não se deve exigir um critério rígido. 
consagrado numa lei. mas se deve deixar ao Juiz a faculdade de. em cada 
caso concreto. e segundo as circunstâncias. verificar quem são as pessoas 
cuja dor merece ser reparada. 
 
e) Impossibilidade de uma rigorosa avaliação em dinheiro: exige um dano 
matematicamente redutível em pecúnia, sob pena de ser indevida 
qualquer prestação monetária. Tal argumento toma por base uma 
equivocada visão da teoria da responsabilidade Civil, considerando que 
todos os danos devem ser fixados pecuniariamente, pelo que nunca se 
poderia indenizar o dano extrapatrimonial. 
Crítica ao argumento: 
Ora, se tal critério tivesse de ser rigidamente observado. haveria até hipóteses 
de danos materiais que não poderiam ser ressarcidos. 
Como valorar objetivamente, por exemplo, uma obra de arte? Entenda-se 
"valorar objetivamente" como um critério matemático rígido. e não por 
parâmetros abstratos como cotação em mercados. que podem variar de um dia 
para outro. 
 
f) Imoralidade de compensar uma dor com dinheiro: convocações 
sentimentais. morais. quais sejam, à dor não tem preço, não pode ser 
avaliada em dinheiro. 
Crítica ao argumento: 
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Pois mais Imoral do que compensar uma lesão com dinheiro, é, sem sombra de 
dúvida. deixar o lesionado sem qualquer tutela Jurídica e o lesionador livre 
para causar outros danos no futuro. 
É preciso esclarecer sempre que não há qualquer Imoralidade na 
compensação da dor moral com dinheiro, tendo em vista que não se está 
"vendendo" um bem moral, mas sim buscando a atenuação do sofrimento. não 
se podendo descartar, por certo, o efeito psicológico dessa reparação. que visa 
a prestigiar genericamente o respeito ao bem violado. 
 
g) Amplo poder conferido ao JUIZ: receio da "ditadura do judiciário" 
Crítica ao argumento: 
O magistrado não é. nem deve ser, um irresponsável, que fixará a indenização 
pelo dano moral a seu bel-prazer. Ao contrário. deverá agir com as cautelas de 
sempre, examinando as circunstâncias dos autos e Julgando 
fundamentadamente. 
Além disso, como mais um elemento de superação da objeção oposta, 
podemos lembrar que a decisão prolatada sempre será passível de reexame e 
reforma Junto as instâncias superiores. 
 
7 - Natureza jurídica da reparação do dano moral 
1ª Corrente: pena civil – mediante a qual se reprovaria e reprimiria de maneira 
exemplar a falta cometida pelo ofensor. 
Crítica: Esta corrente de pensamento não dirigia suas atenções para a 
proteção da vitima ou para o prejuízo sofrido com a lesão, mas sim para o 
castigo à conduta dolosa do autor do dano. 
2ª corrente: Sanção - A reparação do dano moral deve constituir- se em 
compensação ao lesado e adequado desestímulo ao lesante" - não se pode 
confundir o gênero "sanção" com a espécie "pena", eis que esta última deve 
corresponder a submissão pessoal e física do agente. para restauração da 
normalidade social violada com o delito, enquanto a compensação (ou mesmo 
a indenização), pela teoria da responsabilidade civil, são sanções aplicáveis a 
quem viola Interesses privados. como é o caso dos danos morais. 
 
8 - DANO MORAL E PESSOA JURÍDICA 
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a) Por longos anos. considerou-se que os danos morais se limitavam às 
"dores da alma", sentimentos que a pessoa Jurídica jamais poderia ter, 
eis que esta é uma criação do direito, e não um ser orgânico, dotado de 
espirito e emoções. 
b) A legislação Jamais excluiu expressamente as pessoas Jurídicas da 
proteção aos interesses extrapatrimoniais. É certo que uma pessoa 
jurídica jamais terá uma vida privada, mais evidente, que ela pode e 
deve zelar pelo seu nome e Imagem perante o seu público-alvo, sob 
pena de perder largos espaços na acirrada concorrência de mercado. 
c) A Constituição Federal de 1988, por sua vez, ao preceituar, em seu art. 
5.°, X, que "são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a 
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano 
material ou moral decorrente de sua violação", não fez qualquer acepção 
de pessoas, não podendo ser o dispositivo constitucional interpretado de 
forma restritiva, notadamente quando se tratam de direitos e garantias 
fundamentais. 
d) Da mesma forma, ao assegurar "o direito de resposta, proporcional ao 
agravo. além da indenização por dano material, moral ou â Imagem" (art. 
5.°, V), o texto constitucional não apresentou qualquer restrição, 
devendo o direito abranger a todos, indistintamente. 
e) Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos 
direitos da personalidade. – CC. 
 
9 - DANO MORAL E DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS 
a) Partindo da premissa de que os danos morais são lesões â esfera 
extrapatrimonial de um individuo, ou seja. a seus direitos da 
personalidade, não seria possível se imaginar, a priori. um dano moral a 
interesses difusos, como, por .exemplo. ao meio ambiente e ao 
patrimônio histórico-cultural. 
b) Todavia a lei LEI No 7.347, DE 24 DE JULHO DE 1985, estabelece 
expressamente a possibilidade de danos morais em direitos 
difusos e coletivos: 
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Art. 1 Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízoda ação 
popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais 
causados: (Redação dada pela Lei nº 12.529, de 2011). 
l - ao meio-ambiente; 
ll - ao consumidor; 
III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e 
paisagístico; 
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. 
V - por infração da ordem econômica; 
VI - à ordem urbanística. 
VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos. 
VIII – ao patrimônio público e social.

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