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OLIVEIRA, Iolanda de

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2136
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Tel.: (552r) 2565 -7569 I 2234-1896
Impresso no Brasil
2003
Sumário
Capítuto I
Descontrução, transformação e construção de novos
cenários das práticas da afro-americanidade
Iesús "Chucho" Garcia
Capítuto ll
Raça, demografia e indicadores sociais
André Augusto Pereira Brandão
Capítuto lll
Professoras negras no Rio de ]aneiro:
história de um branqueamento
M ari a Lú cia Ro drigues Müller
Capítuto lV
 prática pedagógica de especialistas
crn relações raciais e educação
Iolanda de Oliveira
Capítuto V
O negro na confluência da educação e da literatura
M ár cia Maia de I esu s P essanh a
Capítuto Vl
() pré-vestibular para negros como instrumento
dc política compensatória 
- 
o caso do Rio de Janeiro
Sérgio da Rocha Souza
Capítuto Vtt
Negros egressos de uma universidade pública
tto l{io delaneiro
Moema De Poli Teixeira
19
73
107
145
173
_.fuilDÂ#0 i.,{u;{}c,"r{ü DE f,íXJCÂÇlo DE MTEfiôtBl8t,0rECÂ pOF{..}tAR Àft.}r{§lnAl . bOnn coRlt-t+lA'
193
-r
106 Relações raciais e educação: novos desafios
M,rr"ros, Hebe Maria. As cores do silêncio: os significados da liberdacle no sudeste
escravista. Rio de faneiro: Nova Fronteira, 1998. Coleção História do Brasil.
Escrayidíi.o e cidadania no tsrasiL rnonárqulco. Rio de 
.[trneiro: ]orge Ztrhar,
2000.
Murrrr, M. Lúcia. As construtoras da Nacao: professoras primárias na Prirneira
República. Niterói: Int-ertexto, I999a.
Professoras negras na Primeira República. In: Oln srue., Iolancla (coord.)
Relações raciais e educação: alguns cleterminantes. Niterói: intertexto, 1999b.
p. 2I 68. Cadcrnos Per-resb, l.
Hemetério José dos Santos. In: FÁr,r.no, M. L.; Brrrr'r'o, J. M. Dicionário d.e
educadores no Brasil: cla colônia aos dias atuais. Rio de Janeiro: Ed. UFRI,
INEP- 2002.
Or rvrrr,q, Iolanda. Desigualdades rar:lals: construções da infância e da juventude.
Niterói: Intertexto, 1 999.
Psrrnor, MichelIe. Os excluídos duHistória: operários, mulheres e prisioneiros. São
Paulo: Paz e Têrra, 1988.
Prrxolcr, Afrânio. Minha terra e nrinha gente. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
r9l6.
Clima e saúde: introdllçíio bio geografica à civilização blasileira. Rio cle
Janeiro: Cia. Editora Nacional, 1938. Brasiliana: Biblioteca Pedagógica
Brasileira.
Prsso,r, Frota. A educaçao e a rLttina: teses heterocloxas. Rio de Janeiro: Ecl. Leite
Ribeiro, 1924.
PrNurrro GrrnarrnÀps. O ensino publico. Rio de Janeiro: Rp. Jornal do Commercio,
1907.
Qrrrrnoz-. M. Isaura Pereira. Identidade nacional, religião, expressôes culturais: a
criação religiosa no Brasil. In: Sacns, Viola et aL. Brasil d, ELIA: religião e
identidade nacior.ral. Rio de Janeiro: Graal, I988.
St;rru,encz, Lilia Moritz. O espeí:áculo das raças'. cientistas, instituiçoes e questão
racial no Brasil. São Paulo: Cia das Letras, I 993.
Srna, Eduardo. D om Oba II D'Altica, o Prbrcipe do Poro: vida, tempo e pensamento
de urn homem livre de cor. São Paulo: Cia das Letras, 1997.
Srt»,vrc»rr. Thom as. Preto fio branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro.
Rio de faneiro: Paz e Terra, 1976.
)Çrvrrn, An-rélia. Discursos proferidos na solemnidade da entrega de diplomas às
normalistas que terrninaram o seu curso no anno escolar de I903. Rio de
Ianeiro: lyp. do Instituto Protlssional, 1904.
Capituto lV
A prática pedagógica de especialistas
em relações raciais e educação
Iolanda de Oliveira'
O esgotamento das constatações sobre as práticas
pedagógicas, caracÍerizadas pelo desencontro entre a educação
escolar e o aluno negro, provocou o desenvolvimento da presente
pesquisa, que visa evidenciar a atuação de profissionais da
educação que receberam uma formação cortinuada pós-
graduação lato sensu, tornando-se especialistas em relaçÕes raciais
e educação, tendo, portanto, possibilidades de alterar o quadro
escolar constatado como racialmente excludente. A reação ao
referido esgotamento é, entretanto, anterior a esta pesquisa,
porque já em 1995 foi criado o Programa de Educação sobre o
Negro na Sociedade Brasileira (Penesb), na Faculdade de
Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF), que
incorporou o tema, relações raciais, às funçÕes da universidade,
destacando-se na função ensino, o curso cujos egressos são sujeito/
objeto desta pesquisa.
Uma postura crítica projetada no interior da UFF, de parte de
alguns dos seus profissionais, fez com que a Faculdade de Educação
percebesse a ausência de estudos e debates sobre a questão racial
como fator determinante da exclusão escolar, o que a impedia de
contribuir para a superação do citado problema.
Percebendo que apenas o campo de conhecimentos pedagógicos
não daria conta de promover a incorporação desejada, o Penesb
reuniu profissionais que atuam em campos distintos, que en-l
* Professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), doutora em Psicologia
Escolar. E-mail: <iolanda.eustáquio@globo.con'r>.
DP&A edirora
109108 Retações raciais e educação: novos desafios
articulação, realizam a referida incorporação, tendo a produção
de conhecimentos como atividade essencial e orientadora das
demais funções incorporadas pelo programa.
A incorporação do tema "relações raciais e educação"
às funções da universidade
Historicamente a universidade sempre exerceu papéis e
funções diferenciadas em decorrência de suas ünculações em cada
momento. Essas vinculações determinaram também a sua função
social, vinculada com freqüência a interesses de grupos
minoritários. Em todos os casos o saber sempre foi questão
primordial, tratando-se da instituição considerada.
A autonomia universitária é declarada por Cunha (1989), o
qual faz referência a produção e disseminação de saberes
científicos, culturais e tecnológicos como atiüdades universitárias,
atribuindo à instituição, autonomia na seleção de temas para
estudo, na determinação de procedimentos e no ensino, ao
mesmo tempo em que destaca a necessária vinculação das
atividades de extensão à produção acadêmica e ao ensino, sem o
que o serviço público teria caráter assistencialista ou seria uma
agência de prestação de serviço.
O que está posto pelo autor indica que a universidade poderá
determinar o conteúdo de suas atividades sem comprometer-se
com os problemas sociais. Entretanto, considera-se que tanto a
universidade pública quanto a privada sendo direta ou
indiretamente mantidas pela população, devem à mesma uma
contrapartida, um retorno sob a forma de produção de
conhecimentos que proyoquem o aprofundamento das reflexões
sobre os problemas sociais e contribuam para a sua solução.
De maneira contrária ao espontaneísmo universitário
colocado por Cunha, vários autores são incisivos quanto ao papel
social da universidade. Vieira (1989) vincula a universidade à
sociedade e expressa-se do seguinte modo: "é preciso empenhar-
se na defesa de uma universidade que possa beneficiar a maioria
e não colabore no pacto social dos despossuídos" (p. 12).
A prática pedagógica de especiatistas
Segundo Ângela de Carvalho Siqueira:
A universidade, pela sua origem,tem um compromisso com a
transformação da sociedade, com o exercício da crítica liwe, com a
preservação do conhecimento, com a construção de um novo saber,
com a beleza, com as artes, com a cultura, mas baseados na ética da
democracia, da justiça e da igualdade que nortearam a sociedade
humana (SteurIne, 1995, p.9).
Marilena Chaui faz o destaque que se segue em relação à
democratização dos bens culturais:
O caráter aberto da democracia não se confunde com a utopia de uma
igualdade indiferenciada (...) o que define a abertura democrática é
uma outra idéia de espaço público (...) É a elevação de toda a cultura
à condiçao de coisa pública. Isto não significa que a ciência, a filosofia,
as artes e as técnicas se tomem transParentes e imediatamente acessíveis
(...) Não significa que deixem de ser em suas expressões mais rigorosas,
impenetráveis para os não'iniciados. Significa apenas, que é bastante
diverso considerá-las como de direito accessíveis a todos que desejem
dedicar-se a elas, do que considerá-las privilégios de uns poucos (Cruu,
1993,p.209).
Os quatro autores, Pinto, Vieira, Siqueira e Chaú, são decisivos
ao tratar do relacionamento que a universidade deve ter com a
sociedade, sendo que Chaui é um tanto reticente quanto à relevância
social dos conhecimentos a serem colocados sob a condi$o de "coisa
pública". Em outra obra, Chaui refere-se à universidade como
instituição social "inseparável da idéia de democracia e da
democratiza@o dos saberes" (Tnnnetr, 2001, p. 217).
Contrário à reforma do Estado brasileiro que sugere a
separação entre docência e pesquisa, o Penesb, orientando-se pelas
idéias que estreitam a produção e disseminação de saberes com
os problemas sociais, considera a universidade uma instituição
social, uma ação social, uma prática social, cujos temas têm
origem em questões que Perturbam a igualdade enúe os homens.
Entende-se que o papel do programa é oferecer uma formação
universitária de qualidade e produzir conhecimentos relevantes
sobre raça e educação em uma postura progressista, com o
1 '10 Retações raciais e educaçáo: novos desafios
propósito de fortalecer a argumentação e a ação de grupos e de
setores que se empenham na realização das lutas sociais pela
transformação, atendendo a necessidades sociais apontadas pela
condição do negro na sociedade em geral e em particular na educação.
As demandas atendidas pelo penesb são oriundas do
movimento social negro que há muito tempo denuncia a
desigualdade de oportunidades educacionais entre negros e
brancos e os problemas raciais detectados em educação, cuja
visibilidade é percebida com intensidade no cotidiano brasileiro.
Referindo-se a academia e a militância, o professor Kabengele
Munanga afirma que "ambos funcionam como vasos
comunicantes" e acrescenta:
ora a militância lança mão dos resultados da pesquisa acadêmica para
esclarecer suas clúvidas e idéias sobre o processo de conscientização e
mobilização política de sua comunidade, ora a comunidacle acaclêmica
utiiiza as críticas da militância para rever sua postura epistemológica e
setr instrumental conceitual (MuNeuc.t, 1997, p. 9).
O mesmo autor afirma que os utilizadores da produção
acadêmica são os militantes escolarizados, com uma posição
política determinada e não a população majoritária negra, o
que é impedimento a uma ação transformadora significativa.
Para acessar os conhecimentos acadêmicos, retomando também
a fala anteriormente citada de Marilena Chaui, a população ern
geral necessita de um mediador que no caso do estudante, é o
professor e, no caso dos que não estão no sistema de ensino, é da
responsabilidade dos movimentos sociais promover tal acesso.
Comprometido com a promoção da igualdade racial em
educação, além da função c1e ensino representada pelo curso em
estudo, o Penesb atua na linha de pesquisa relações raciais e
educação, subdividida nos seguintes grupos de pesquisa: Raça e
universidade, A questao racial na formação de professores e O negro
na educação brasileira: história e memória.Tâis grupos são flexíveis,
podendo eliminar ou incluir outros, de acordo cotrr as demandas
apresentadas.
A prática pedagógica de especialistas
A atividade de extensão se realiza por meio de eventos abertos
ao público em geral e por meio de cursos que incorporam também
a função de ensino; ambos estreitamente vinculados à produção
de saberes.
O curso de pós-graduação lato sensu, cujos egressos
constituem os sujeitos desta pesquisa, é um dos espaços de ensino
privilegiado pelo Penesb. Visa-se não só analisar as práticas dos
egressos, mas também alterar o curso a partir das ponderações
feitas pelos ex- alunos e pelos professores, a partir das entrevistas
realizadas com os mesmos e c1e um seminário interno.
A organização do curso: educação e afro-brasileiros
Destinado preferencialmente à formação continuada de
profissionais da educação, o curso é oferecido à comunidade
desde agosto de 1995, tendo-se concluintes de quatro turmas, em
um total de 87 egressos.
Os objetivos que orientam o currículo são os seguintes:
Geral:
. Formar quadros de profissionais da educação em cursos regulares,
com a necessária competência intelectual e comprometimento
político para reduzir a discriminação racial no sistema de ensino e
no contexto social mais amplo.
Específicos:
. Oferecer a profissionais da educação em exercício na Escola Básica
oportunidade cle adquirir conhecimentos que lhes possibilitem
compreender e interferir na situação da população negra no sistema
de ensino por meio da ressignificação da sua prática pedagógica,
com vistas a democratização das oportunidades eclucacionais.
. Possibilitar a extensão de uma ação pedagógica transformadora a
situações em que fatores não raciais são também determinantes de
outros tipos de discriminaçào.
A partir do compromisso geral de formar educadores em
condições de promoverem os usuários da educação, particularizott-
se a questão racial, por ser este um persistente fator de seletividade
111
I
I
í
117 Relações raciais e educação: novos desafios
escolar, antecipando, já em 1995, a Lei 10.639, de 9 de janeiro de
2003, que tem como conseqüência natural a inclusão clos estudos
sobre a população afro-brasileira na formação dos profissionais
da educação, sem o que teremos apenas acréscimo de aspectos
legais desconectados dos factuais.
A questão rtrcial clurante todo o curso é contextualizada,
salientando-se questões que apontam a necessidade de um sistema
de ensino desprovido de quaisquer formas de exclusão.
Considerando-se o que foi destacado por Saviani (1986) salienta-
se como objetivo primeiro da educação a promoção humana e
segundo o citado autor, promover o homem "significa tornar o
homem cada vez rrais capaz de conhecer os elementos de sua situação
para intervir nela, transformando-a no sentido de uma ampliação
da liberdade, da comunicação e colaboração entre os homens". Os
estudos sobre o problema da não democratização dos benefícios
de uma educação de qualidade, comprovados por pesquisas
contemporâneas, atingindo particularmente a população negra,
não se desvinculam de aspectos mais gerais do contexto da educação
brasileira e de outras situaçÕes particulares de discriminação.
A escola básica é salientada como parte de um sistema
excludente, inviabilizadora da continuidade dos estudos e do
acesso a profissões de maior remuneração e de prestígio. Além
disso, prejudica o exercício da cidadania, não cumprindo o seu
papel, o que compromete a identidade dos profissionais da
educação que, neste caso, em sua grande maioria ratificam os
lugares sociais ocupados pelos grupos marginalizados e
conseqüentemente as relações de poder estabelecidas na
sociedade. Entende-se que é papel da educação desnaturalizar os
lugares sociais ocupados pela população como herança e educar
para que se estabeleça uma relaçãohorizontal entre os homens
em busca da igualdade.
Sendo parte da formação continuada dos educadores e das
educadoras, o curso enfrenta as limitações impostas pela
formação inicial lacunar em relação à questão racial e a outros
aspectos relevantes na formação dos profissionais da educação.
A prática pedagógica de especiatistas 113
As dimensões determinadas para a organização dos núcleos de
estudos orientam-se pelos conteúdos específicos e pela parte
pedagógica, ambos perpassando pelas relações situacionais em
uma açao caracterizacla pela transversalidade'
A unidade teoria-prática é uma busca constante do curso'
embora tal relação ainda não tenha alcançado o nível desejado'
Entende-se que a dimensão dos conteúdos envolve o trabalho
com diferentes áreas de conhecimentos' Isso garante aos cursistas
o domínio de saberes sobre a história e de outros aspectos da
cultura afro-brasileira, incluindo as formas pelas quais a sociedade
atuou conduzindo os negros à condição de inferioridade social'
que se comprova através dos tempos e nos dias atuais' cujas
políticas vigentes não desestabilizaram as disparidades raciais'
A climensão pedagógica com predominância dos estudos
sobre as teorias e práticas educativas comprometidas com a
educação para a promoção humana, discute o papel do profissional
da educaçao em face à questão racial, como mediador dos saberes
que levam os alunos, negros e não-negros, a tomarem conhecimento
áu ,ou condição ,ru ,oti"dude e a perceberem a possibilidade de
desconstruir as desigualdades raciais historicamente construídas,
comprovando cientificamente a inconsistência teórica do
racismo. Este é o momento da formação continuada em que se
pretende oferecer ao profissional oportunidade cle desenvolver a
sua capacidade de manipular os conhecimentos assimilados na
dimensão dos conteúdos específicos, para facilitar o clomínio dos
mesmos pelos estudantes da educação básica em quaisquer níveis'
A dimensão dos conteúdos está relacionada com o domínio
de conhecimentos científicos que constituem o acervo cultural
específico sobre o negro, colocado à disposição da humanidade e
devidamente selecionado pelos docentes, para possibilitar a
compreensão dos problemas raciais que afetam a humanidade
particularmente a educação.
A dimensão pedagógica, paralela e estreitamente vinculada
a dos conteúdos, inclui conhecimentos pedagógicos que discutem
a condição do negro em educação, a pedagogia como ciência que
temcomoobjetoofenômenoeducativoeaspossibilidadesde
Relações raciais e educação: novos desafios
colocar a educafo a serviço da promoção humana particularizando
a questão do estudante negro.
Tem-se a intenção de formar profissionais pesquisadores,
principalmente por meio da dimensão pedagógica,
desenvolvendo nos cursistas a capacidade de ministrar e produzir
saberes sobre relações raciais a partir do objeto da pedagogia.
Além das duas dimensões citadas, Severino faz referência às
"relações situacionais" como uma das perspectivas na formação
do educador, a qual pressupõe de parte do trabalho do professor
a percepção clara e explícita "das referências existenciais de todos
os sujeitos que estão envolvidos no processo educacional". Tâis
referências apontam para os sujeitos, paÍa a autocompreensão,
a compreensão dos outros, a reciprocidade nas relações e "à
compreensão de sua pertença ao grupo social bem como de sua
pertença à humanidade como um todo". Essa dimensão leva o
sujeito a compreender que o indivíduo só pode se construir na
interação com os outros a despeito de sua distinção em relação a
estes outros, a despeito da sua diversidade.
As relações situacionais ocorrem durante todo o curso, por
meio de dois núcleos de estudos que, gradativamente, pÍorrocam
nos cursistas uma maior compreensão de si mesmos e de sua
condição na sociedade e no mundo como negros e não-negros.
Isto acontece não raro por conflitos internos ou entre os estudantes.
A tomada de conhecimento, cientificamente comprovado, de que
o racismo é um aspecto da sociedade histórica e socialmente
construído, e ratificado no mundo contemporâneo, é tardiamente
realizada pelos pós-graduandos provocando fortes emoções
individuais e intragrupos, apresentando diferentes formas de reagir
às constatações cientíÍicas de que o racismo é um problema
mundial. Os estudantes situam-se na sociedade em que úvem, o
Brasil com suas particularidades em relação à população negra,
percebendo suas ünculações com o contexto mundial. Isto implica
para um significativo número, em se dar conta da própria
identidade racial de forma, nào raro, não menos conflitante e às
vezes bastante prolongada.
A prática pedagógica de especialistas
Versando sobre uma questão que a princípio provoca
desconforto tanto para negros quanto para brancos, o curso
tem características muito especiais porque os estudantes buscam
não só o conhecimento acadêmico sobre a questão, mas também
o autoconhecimento.
Além das duas dimensões teóricas, a elaboração de
monografiasfazparte do curso, tendo o aluno um semestre após
o término das disciplinas para concluí-la. Com o propósito de
assegurar a intervenção competente dos concluintes na educação
formal, foi incluído como obrigatória a elaboração e
desenvolvimento de um projeto de intervenção em sua atividade
profissional, tendo a opção de caracterizar o projeto como
pesquisa-ação e de dar ao mesmo o caráter de monografia de
conclusão do curso.
As pesquisas concluídas classificam-se nos seguintes grupos:
. O negro no cotidiano escolar (predominante).
. Fundamentos da educação do negro.
. O negro na educação brasileira: história e memória.
. Relações raciais e literatura.
. Relações raciais na educação não formal e raça.
. Educação e imprensa.
Sendo oferecido há aproximadamente oito anos, o curso vem
sendo gradativamente reformulado com pequenas alterações e a
partir da presente pesquisa, têm-se a seguinte estrutura.
Dimensões Disciplims incorporadas Homíaula
-listória da Áfiica 60
{istória do Negro na Sociedade Brasileira 45
e§Pecur@§
leoria Social e Relaçóes Raciais 45
ielieião Afio-Brasileira 45
Raça, Curriculo e Pruis Pedagógica 60
Relaçõa Raciais no Ensino de Literatura 45
Pc@Bt grs Mucação e Identidade Racial hdiüdual e coletiva 30
Pesqúm Educacional e Relações Ractats ó0
Total 390
115
Retações raciais e educação: novos desafios
Para garantir a unidade teoria-prática, as disciplinas Raça,
Currículo e Práxis pedagógica e Pesquisa educacional e relações
raciais serão ministradas ao longo do curso, orientando o processo
de elaboração gradativa dos projetos de intervenção que serão
objeto de acompanhamento ao término das disciplinas. A
fundamentação teórica aliada à experiência profissional dos
cursistas será constante.
O quadro apresentado resulta da presente pesquisa, sendo
uma proposta para a próxima turma que deverá ter início no
primeiro semestre de 2004.
Ao longo dos quatro cursos foram realizadas as seguintes
alterações: na primeira turma que teve início em 1995, não foi
oferecida a disciplina História da África e a parte relativa a
Identidade, disciplinas que foram incluídas a partir da segunda
turma. As atividades culturais constituíram na primeira e na
segunda turma uma disciplina independente, passando a ser
incorporadas às demais disciplinas a partir da terceira turma.
As alteraçÕes que se fazem no momento referem-se
principalmente à dinâmica do curso por meio do estreitamento
entre as disciplinas e a maior ênfase à unidade teoria prática por
meio não somente da concomitância: dimensão de conteúdos e
dimensão pedagógica, mas também da inclusão obrigatória da
elaboração e desenvolvimento orientados do projeto de
intervenção profissional de parte de cada cursista. Anteriormente,
o projeto de intervenção era elaborado na disciplina Ra ça currículo
e práxis pedagógica, sem acompanhamentoposterior.
Como referência e para apreciação dos leitores, neste
momento especial da educação, em que a questão racial está na
pauta das discussões na sociedade, apresenta-se as disciplinas do
curso com os respectivos objetivos na parte final deste estudo.
A proposta é apresentada para um curso de pós-graduação
lato sensu em conseqüência da ausência de tais conhecimentos
em nível de graduação. Entretanto o propósito é que gradativamente
tais conhecimentos sejam incorporados nas diferentes disciplinas
dos cursos de licenciatura, o çlue provocará uma revisão do curso
de especializaçáo.
A prática pedagógica de especia[istas
Reconhece-se a necessidade de que todos os cursos de
graduação incluam estudos obrigatórios sobre a questão racial
independentes de serem ou não de licenciatura. Profissionais de
todas as áreas precisam ter o domínio de conhecimentos que
expliquem a maneira pela qual as desigualdades raciais foram
construídas, porque estas não se restringem à educação, mas são
evidenciadas em todos os setores sociais. Portanto, sugere-se que
a disciplina Teoria social e relações raciais torne-se obrigatória
para todos os graduandos. Esta medida fortalecerá a formação
naáreadeciências sociais e humanas e dará aos demais profissionais
uma visão político-social indispensável a sua atuação em uma
pretensa sociedade democrática, particularmente aos da átea de
ciência e tecnologia.
Ouvindo os docentes
Como parte da pesquisa, entrevistou-se professores e um
conferencista que comparece anualmente ao programa desde o
seu lançamento, dando significativa contribuição ao mesmo.
Duas questões orientaram o envolvimento de tais profi-ssionais:
em primeiro lugar, sabe-se que a visão de mundo do profissional
e de si mesmo projeta-se na sua atuação, tendo portanto uma
influência no curso; em segundo lugar, porque se pretendia
realizar uma reformulação com a participaçáo coletiva dos
envolvidos na formação dos usuários do Penesb. A participação
dos docentes deu-se também em uma discussão coletiva com
egressos, estudantes da quarta turma e candidatos ao próximo
curso, egressos de um curso de extensão, no qual o conteúdo da
pós-graduaçáo lato sensu é condensado em 120 horas. Estes foram
especialmente convidados a fim de expressar a sua expectativa
como candidatos ao curso.
Nas entrevistas com docentes foram tratadas as seguintes
questões: auto-identificação racial, trajetórias de üda pessoal e
profissional, relações raciais em geral, relações raciais e educação,
considerações sobre o curso e conceitos básicos. A discussão
coletiva realizou-se como culminância das atividades de pesquisa,
1171',t6
118 Rel.ações raciais e educação: novos desafios
com a participação de representantes das disciplinas e da qual
resultou a elaboração das novas ementas, objetivos e bibliografia
que se apresenta neste estudo.
Quanto a auto-identificação, há predominância de afro-
brasileiros, com a presença menos expressiva de brancos, sendo
ao todo 13 professores. No quadro seguinte faz-se uma classificação
por cor e sexo.
Corpo docente por cor e sexo
Cor serc mmculino sm feminino total
Blaq I 4 5
Preta J 2 5
Puda 2 3
totâl 6 7 1.3
Contrastando com resultados de pesquisa anterior de
Oliveira, Têixeira e Muller (2000), em que as autoras constatam
que o magistério superior é masculino e branco, percebe-se, no
curso em estudo, a presença majoritâria de mulheres e de afro-
brasileiros. Provavelmente, por ser um tema de interesse
particular dos negros e por motivo de ser um curso em ciências
humanas em que os percentuais de estudantes negros são mais
elevados, embora ainda inferiores à presença branca, o que não
acontece no caso em estudo.
Em relação às suas trajetórias de vida pessoal e profissional, a
quase totalidade tem atuação comprometida com a questão
racial negra, anterior ao Penesb, quer seja na academia, quer em
movimentos sociais organizados ou reconhecido pelo entrevistado
como moümento social destinado predominantemente a usuários
negros. Na academia, o trabalho desses profissionais pode ser
denominado militância acadêmica por se tratar de produção de
saberes na área de relações raciais, atividade exercida pela maioria
dos docentes (exceção de apenas um deles, que realiza
significativos trabalhos acadêmicos em relação aos grupos
excluídos sem particularizar a questão do negro). A atuação no
Penesb é, portanto, para todos, um prolongamento de suas pesquisas
e de outras atiüdades comprometidas com as relações raciais.
A prática pedagógica de especiatistas
É importante salientar que embora todos os professores
entrevistados considerem importante o exercício da militância
não-acadêmica, nenhum deles no momento concilia as duas
atiüdades, o que leva a inferir sobre uma possível incompatibilidade
entre ambas por serem de natureza diferente e principalmente
exigirem uma dupla jornada de trabalho.
Em todas as trajetórias de vida pessoal, seja dos docentes
negros ou dos não-negros, há marcas evidentes dos problemas
raciais, ora na família, ora no contexto social mais amplo ou em
ambos. Nas trajetórias dos afro-brasileiros são citados fatos que
evidenciam a presença da discriminação em suas vidas, conforme
comprovam alguns relatos que se seguem:
a situação de discriminação racial nesse processo de üda eclesial sempre
esteve presente. O dificil éprovarque este foi o fator determinante. A minha
saída do seminiírio, as alegações que fi.rndamentam a minha expulsão
(porque eu não saí, fui expulso) era um problema de ordem ideológica.
A igreja católica insurge evidenciando o seu forte racismo,
apesar de seu lado progressista, que possibilita maneiras
diferentes de ver o negro e de ter uma proposta política que pode
ser considerada como reparadora das injustiças por ela praticada
contra os afro-descendentes.
Outra entrevistada comenta "...minha avó materna, quando
ela queria me espezinhar, falava: sai daí sua negra". Essa mesma
professora, tendo o pai negro, também relata:
...meu pai gostava muito de dar presente e comprou uma boneca pra
mim e disse: 
- 
vai abrir, que boneca bonita comprei pra você. Quando
eu cheguei era uma boneca negra, com lábios vermelhos, muito
vermelhos, olhos brancos e eu levei um susto: uaaa! Tira essa boneca
daquil Ele teve que trocar a boneca.
Ainda a mesma professora refere-se a situações de
discriminação racial de parte de freiras quando estudante do
antigo curso secundário.
A discriminação racial de parte da família é também salientada
por uma das professoras, que sendo branca, pesquisadora da ârea
119
Relações raciais e educação: novos desafios
relações raciais, declara a sua impotência no sentido de formar
seu filho branco tendo um comportamento respeitoso para com
os colegas negros: "eu sou mãe também e você vê seu filho
discriminat embora você seja radicalmente contra isso, às vezes
você pára pra pensar e se pergunta por que meu filho discriminou
o amiguinho?" Percebe-se que as regras de identificação
normativas estruturantes, postas pela sociedade, às quais Jurandir
Freire Costa faz referência, predominam sobre a atuação das
famílias que, sendo afro-brasileiras ou brancas, não conseguem
nettralizá-las, permitindo a sua incorporação pelas crianças.
É importante questionar até que ponto as reflexões familiares,
as normas que estão formando a personalidade das crianças e
dos jovens em relação à igualdade racial, foram claramente postas
e intencionalmente trabalhadas? É preciso ter presente que
dificilmente a desconstrução do racismo se dará sem a intervenção
deliberada dos educadores, quer seja na famflia, na escola, ou em
qualquer outra instituição educativa... No caso do filho da
pesquisadora, parece que apesar de sua posição na ârea, a
professora não consegue impedir que as equivocadas regras sociais
sejam incorporadas por seu filho. Entretanto, outra professora,também branca, trabalha intencionalmente a questão racial na
formação dos seus filhos, afirmando entre outras coisas que faz
questão que seus filhos assistam filmes norte-americanos, porque
nesses, o negro está sempre presente e também em posições de
destaque, o que contribui para a formação de seus filhos brancos.
Realmente, em uma situação de discriminação racial na escola, o
filho dessa professora reagiu denunciando o "crime de racismo",
comprovando a eficiência de uma atuação determinada na
formação das crianças e ou dos jovens.
Os docentes foram unânimes ao declarar ser gratificante atuar
no curso, porque têm oportunidade de ministrar aulas sobre o
objeto de suas investigações, o qual aborda as diferentes
dimensões da questão. Ao mesmo tempo em que dá a todos os
pesquisadores da ârea, particularmente convidados por este
motivo, a oportunidade de fazerem a articulação entre pesquisa
A prática pedagógica de especiatistas
e ensino, legalmente recomendada pela reforma da universidade
- 
e infelizmente ameaçada pela reforma estatal pretendida, que
desvincula a docência da pesquisa, com o propósito de reduzir a
relação dos professores universitários com o saber à mera
úrlizaçáo ou no máximo a simplesmente criticar o conhecimento
produzido por outros. Conclui-se que o Penesb oferece aos
profissionais que nele atuam um espaço significativo de realização
profissional e pessoal.
Alguns docentes fazemreferência aos aspectos metodológicos
utilizados destacando a importância de uma metodologia que
provoque conflitos como parte do trabalho pedagógico e
também destacam a importância de um estreito relacionamento
com os estudantes. Sobre os conteúdos ministrados, todos
destacaram aqueles de extrema relevância para o curso
apontando, entretanto, a necessidade de maior articulação entre
os diferentes campos de conhecimento.
Quanto à avaliação, foi apontada a total receptividade dos
alunos, com aplicação imediata de parte dos conteúdos. Foi
destacado o prazü dos alunos na elaboração das atividades, a
busca de conhecimentos sobre a temática e o interesse no
aprofundamento das questões raciais. Salientam também o
reconhecimento da importância dos conteúdos ministrados para
a sua üda profissional e pessoal e o reconhecimento de que tais
conhecimentos foram excessivamente adiados em suas trajetórias
escolares. Um dos docentes declara que o interesse pelo curso
passa a impressão de que os alunos foram pré-selecionados em
face ao interesse pelo tema.
Um dos entrevistados assim se expressa:
Um curso dessa natureza é um curso que inova, pela primeira vez, o
tema deixa de ser esporadicamente tratado, um tema que está
institucionalizado, que entra no processo de formação da elite
brasileira, pessoas que são preparadas para saber as questões que se
colocam no campo da educação. Devemos preParar educadores que
sabem que a diversidade é importante, que saibam também como
trabalhar essa diversidade. Não basta ter a consciência, é preciso ter as
121
't20
123122 Retações raciais e educação: novos desafios
ferramentas para poder trabalhar e transformar a sociedade. Neste
sentido, o Penesb é uma inovação, porque é um programa permanente
numa instituição que forma as pessoas, que renova o discurso, que
aproveita os produtos das pesquisas para poder transformar o
processo.
Quanto à caracterização do programa e particularmente do
curso, durante as entrevistas com os docentes, foi colocada a
questão da nattreza multicultural do Penesb e particularmente
do curso. Nenhum dos entrevistados caracteriza as atividades,
apesar daqueles que consideram o multiculturalismo no seu
sentido positivo no qual difunde-se a antidiscriminação e o
respeito ao diferente. Salienta-se o aspecto multicultural em
relação a diversidade da formação dos cursistas o que o levaria a
pluralidade. Há também a tendência a estabelecer a relação entre
multiculturalismo e políticas de ação afirmativa, relacionando o
primeiro simplesmente à convivência e o segundo à correção das
desigualdades socialmente construídas a partir dos significados
sociais atribuídos às diferenças.
Segundo Ana Canen, o multiculturalismo é uma corrente de
pensamento teórico e político que dá visibilidade à composição
plural e multicultural das sociedades e tem uma ação política de
combate ao racismo e à discriminação. O reconhecimento da
identidade e a justiça social são dois aspectos incorporados pelo
conceito apresentado pela citada autora.
Neste sentido, o Penesb é uma experiência multicultural,
porque dá destaque à questão do negro em educação, como
movimento acadêmico que insurge propondo um espaço
particular para estudos sobre uma questão até então relegada na
estrutura da universidade 
- 
as relações raciais em educação. Sem
descartar as relaçÕes entre os diferentes segmentos sociais como
determinantes do desempenho escolar, cujas discussões foram
freqüentes nas décadas de 1970, 1980 e no início dos anos de 1990
sob a denominação genérica "fracasso escolar das crianças das
classes populares" e outras subdenominações, época em que as
pesquisas sobre a condição do negro em educação ganham
espâço, ainda que quantitativamente insuficientes para explicar
o fenômeno, o Penesb inaugura na universidade brasileira' em
1995, um espaço institucional particular para estudos sobre e a
partir das relações raciais entre negros e brancos em educação'
Neste sentido, aprovado pelo Conselho de Ensino e Pesquisa da
UFF, e incluído na estrutura da Faculdade de Educação' o
programa dá visibilidade à questão, afirmando que o fator racial
Z ,* dot determinantes do desempenho escolar' A questão
econômica como determinante exclusiva do sucesso ou do
fracasso escolar é desestabilizada. Afirma, portanto' de acordo
com Silva (1989), que as relações de poder não ocorrem apenas
entre os segmentos sociais economicamente diferenciados, mas
também nas relações de gênero, raça, etnia, sexo"' tendo suas
repercussões no sistema de ensino.
Retomando o conceito de multiculturalismo, destaca o
pesquisador Siss (2001), não existe unidade nesta conceituação e
salienta o carâter emancipatório do multiculturalismo crítico'
A partir das considerações anteriores, o Penesb pode ser
classificado como atividade multicultural crítica. Por outro lado,
atentando para a conceituação de políticas de ação afirmativa'
percebe-s" que há um cruzamento entre essas duas medidas políticas'
Não nos deteremos aqui sobre os dois tipos de políticas, por não ser
este o objeto de nossa pesquisa, mas cabe salientar que os conceitos
correntes de políticas de ação afirmativa, ora priülegiando o seu
carâter compensatório, ora a justiça distributiva, todos incorporam
os princípioi salientados por Gomes (2001), que são o privilégio e a
igialdade. De certa forma o multiculturalismo crítico ao dar
üsibilidade a determinados aspectos de um grupo discriminado' o
privilegia reivindicando a igualdade.
salientando aspectos culturais afro-brasileiros e suas relações
com a educação, na pesquisa, no ensino e nas atividades de
extensão, o Penesb visa contribuir para promover a igualdade
racial em educação, o que o caracteriza também como política
de ação aÍirmativa. Não sendo um movimento reivindicatório e
sim uma ação política em moldes acadêmicos, destinada a
A prática pedagógica de especialistas
124 Retações raciais e educação: novos desafios A prática pedagógica de especiatistas
desaparecendo dos discursos acadêmicos, permanece nas
representações sociais de grande maioria da população. "O ser
mestiço significa estar em processo de branqueamento e, declarar-
se negro implica em regredir nesse processo."
Dar oportunidade aos afro-brasileiros de conhecer-se, de se
apropriarem de saberes significativos sobre a questão racial é de
suma importância. Por outro lado, a red:uzida presença brancafaz
inferir que permanecenesses profissionais a idéia de que a solução
do problema racial em educação é da responsabilidade exclusiva
dos profissionais negros. Falta nesta profissão, embora tenhamos
alguns importantes aliados brancos, a conücção de que as questões
raciais, bem como problemas que atingem a outros grupos, devem
mobilizar os esforços de todos para promover a igualdade. Entende-
se que os conhecimentos ministrados no curso devem ser
apropriados por todos os educadores para fundamentar o seu
projeto de transformação, junto aos usuários dos serviços
educativos, quer seja excludentes ou excluídos. A desestabilização
do racismo não pode ser atribuição exclusiva dos profissionais
negros, mas deverá ser partilhada por todos. Sendo o magistério
uma profissão branca, a omissão destes profissionais inviabiliza
grande parte do trabalho educativo a ser realizado para a promoção
da igualdade racial.
A partir das questÕes colocadas nas entrevistas, pode-se
evidenciar o que se apresenta a seguir.
Entre os motivos que levaram os egressos a procurarem o
curso, predomina a autodeclaração de busca de aperfeiçoamento
profissional. Em um esforço individual, não raro com dupla
jornada de trabalho, os profissionais buscaram aprimoramento,
sem contar com o apoio da entidade mantenedoraPaÍa garantir-
lhes a formação continuada em serviço. Na escola básica, o
afastamento para estudos, só excepcionalmente concedido, não
atingiu até o momento a nenhum dos cursistas considerados. O
ônus do aperfeiçoamento tem sido exclusivo dos cursistas, com a
omissão do Estado como entidade mantenedora da educação
pública, reguladora do ensino privado e viabilizadora da
melhoria do ensino.
investigar disseminar e interferir na realidade educacional para
promover a igualdade, preferimos classificar o programa como
ação afirmativa sem desconsiderar que ele incorpora aspectos do
multiculturalismo.
Ouvindo os egressos
Entre os concluintes das quatro turmas do curso em estudo,
têm-se ao todo 87 profissionais que atuam em sua quase totalidade
na escola básica. Do total, 23 estão em fase de elaboração da
monografia porque concluíram as disciplinas no primeiro
semestre de 2003- Das outras três turmas de egressos, têm-se 63
concluintes, sendo 47 com elaboração de monografias e, portanto,
16 que, tendo concluído as disciplinas, não conseguiram elaborar
o trabalho monográfico.
Entre os componentes das três turmas, foram entrevistados
40, e dentre estes, 35 terminaram com elaboração da monografia.
Quanto a cor, os referidos egressos são crassificados do seguinte
modo: 22,5o/o brancos, 25%o mesti ços e 52,5o/o negÃs. A
representação racial constatada é contrária ao que ocorre na
universidade em sua totalidade, na qual predominam os brancos.É um dos espaços universitário, 
"r."p.iàrruis em que a presençanegra é predominante tanto em relação a alunos, quanto a
professores. Os motivos pelos quais esta presença se dá se
evidenciam pela própria nattJreza do curso. Embora os egressos
não declarem buscar no mesmo a sua identidade racial, no c-ontato
direto com as turmas, a busca do autoconhecimento é eüdente.
Isto acontece, não raro, nas relações conflitantes, ora na interação
com professores, intra e extraclasse, com a coordenação e comos
bolsistas do programa. percebe-se que a apropriação dos
conhecimentos acadêmicos que comprovam a existência do
racismo e a sua inconsistência científica é algo que tem um custo
emocional extremamente forte para todos os segmentos raciais
representados, particularmente para os negros, destacando_se entre
estes os mestiços que, não sendo negros e nem brancos, são
marcados pelo ideal de branqueamento brasileiro que,
127
A prática pedagógica de especiatistas
Retações raciais e educação: novos desafios
Torna-se evidente a necessidade de que sejam estabelecidas
políticas públicas que reconheçam o magistério em todos os níveis
como profissão de tempo integral e dedicação exclusiva, com
salários compatíveis. É fundamental incluir na jornada de
trabalho a formação continuada, o tempo para as atiüdades de
planejamento e avaliação dos trabalhos, a pesquisa para
reelaboração das atividades educativas e outras investigações que
contribuam para explicar a dinâmica do fenômeno educativo.
A garantia de afastamento para estudos, contida em alguns
estatutos, deverá tornar-se uma rotina na escola básica, tal como
ocorre nas universidades públicas, a despeito das adversidades
constatadas no seu interior. Paralelamente, a pesquisa como
privilégio exclusivo do profissional do ensino superior deverá
ser superada.
Entre os motivos que levaram a procura do curso, destaca-se
o depoimento de uma ex-aluna mestiça que buscou nos referidos
estudos a compreensão dos conflitos familiares sobre raça: "A
minha famflia é uma família miscigenada e foram os conflitos
que esse tema trouxe ao meu meio familiar que me fizeram
procurar o curso para tentar discutir isto". A ambigüidade do ser
e não ser do mestiço, "o negro, não-negro e branco e não-branco",
dificulta a identidade racial do mesmo em famflias que não têm
conhecimento e compromisso com o combate ao racismo,
particularmente sobre os equívocos do ideal de branqueamento.
O relacionamento torna-se extremamente amargo porque nessas
famflias a discriminação orienta-se pela gradaçáo fenotípica dos
sujeitos, privilegiando os que têm características menos negras.
O preconceito racial de marca ganha espaço, perturbando as
relações familiares, que se antecipam às relações em outros grupos
sociais ao invés de fortalecer o ideal de ser negro, a fim de que os
embates raciais na sociedade sejam superados. Fragilizados nas
relações familiares, esses sujeitos em geral incorporam o desejo
de serem brancos com perdas políticas e psíquicas acentuadas.
Entretanto, com a depoente em questão, sua busca a conduziu a
assumir-se negra, e a compor o quadro de pesquisadores da área
relações raciais e educação, sendo uma entre os três 
egressos que
atuamcomodocentesdoPenesb,apóstornar-Semestre.
A referência ao preconceito de "marca" reaparece no
depoimento de outra entrevistada gue afirma a existência 
do
mesmo nas uniões inter-raciais' o çl-ue a levou a escolha 
deste
,"rrru puru elaboração de sua monografia' Nas entrevistas'
considera-se que a questão fundamental que contribui mais
diretamente paÍa a avaliaçao dos objetivos do curso' trata do
;;rri"";-.t to ,ob'" a inclusao dos estudos raciais na atividade
ir"ãtti"""f de cada egresso' De acordo com as respostas 
a esta
io"rtao, determinamos três categorias 
paraasua análise: inclusão
ácasion'al, sistemática e ocasional/sistemática'
A primeira categoria caracterizauma ação educativa a p.artir
das situaçõe, 
"*e,ge"ciais 
cotidianas que evidenciam o racismo
na interação entre os que estáo presentes no cotidiano escolar'
Classificam-r. ,.r,r.uàgoria duas formas de atuação: uma- delas
se eúdencia pela ação dJprofissional junto aos alunos em face às
referidas situações . u o"iu se vincula às datas comemorativas -
3 de maio e ou o 20 de novembro' Inclui-se nesta categoria 
um
pequeno percentual de entreüstados que têm' entretanto' em
ambososcasosumaintervençãosegura,quelevaaoseStudantes
explicações qr. .o-p'ovam a incánsistência das situações de
racismo que surgem no ambiente escolar'
Sabe-se que nos dias atuais' em decorrência dos fatores 
que
colocaram as relações raciais na pauta das discussões
contemporâneus, o siste*a escolar não é indiferente a tal 
questão'
irr.orpàr"r,do de alguma forma' no currículo escolar' tais
estudos, não raro, foúorizando a cultura de resistência africana
. 
pt".."," no cotidiano' As atividades desenvolvidas' não raro'
confirmam a equivocada posição de Comte' um dos intelectuais
franceses que pensando a diversidade atribui à espécie humana
trêsfaculdades:ainteligênciapredominantenaEuropa"'lugardas universidades", u"1o'ço ií'i'o qu" se evidenciaria mais
forr"rn"rr. na Ásia, ondá p'áao*i"uriam as fábri cas e a afeüvidade
predominante na África' na qual as festas seriam predominantes'
128 Relações raciais e educação: novos desafios
Deste modo, Comte antecipa a folclorização da cultura de origem
africana, presente na maioria dos espaços, principalmente nas
datas comemorativas. Entretanto, destoando daquilo que ocorre
na maioria das escolas, os profissionais em estudo cujas ações
foram incluídas nesta categoria, diferem-se do que é comumente
realizado porque embora atuando acidentalmente, desenvolvem
atividades cientificamente fundamentadas, não se restringindo
ao senso comum.
Um percentual equiparável ao primeiro grupo alterna
trabalhos ocasionais e sistemáticos, sendo que o segundo aspecto
aparece ainda com muita fragilidade. Um dos entrevistados,
professor de História, declara: "Estou sabendo trabalhar melhor
a questão do diferente, da diversidade, evitando na sala de aula
brincadeiras em relação à cor do outro... Esse curso me trouxe
muitas questões científicas sobre o assunto para eu levar para a
sala de aula'l Se por um lado a intervenção nas brincadeiras tem
caráter ocasional, a referência à cientificidade sugere uma ação
sistemática.
Entende-se que a situação ideal é a alternância emergencial/
sistemático, porque mesmo incluindo os estudos raciais no seu
projeto de trabalho para uma atuação determinada, o
profissional se defrontará com situações cotidianas, geradas
espontaneamente, que exigirão abordagens emergenciais.
Entretanto, a crrtíca que se faz em relação aos classificados nesta
categoria se dá por motivo da timidez de tais profissionais em
relação a ousadia necessária ao trabalho sistemático.
Um entrevistado, professor de Geografia, assim se expressa:
"Eu dava aula num pré-vestibular para negros e carentes e a minha
vida, enquanto militante do movimento popular, da associação
de moradores de Santa Cruz onde eu morava, foi sempre ligada
às questões populares (...) comecei a discutir dentro do PT (...)
então juntou a discussão na prática de pré- vestibular com a
discussão no interior do partido". O pré-vestibular, mais
especificamente o PVNC, inaugurou um espaço particularmente
destinado à formação política da população negra com a
A prática pedagógica de especiatistas
atividade Cultura e Cidadania. Entretanto, o entrevistado não
atenta para o fato de que a questáo racial deve ser objeto de
estudo de todos os usuários da educação e que a Geografia é uma
área de estudos em que tais estudos podem contribuir fortemente
para comprovar a existência do racismo como invenção dos
homens e of,erecer aos estudantes instrumentos para ações sociais
com üstas ao desaparecimento da condição subalterna do negro
na sociedade.
No Brasil, sem descartar a possibilidade de estar omitindo o
trabalho de outros profissionais da área, destaco o do professor
Rafael Sanzio Araú1o dos Anjos da UnB, Cartografia, Educação e
Geografia Afro-Brasileira, qtre sugere a inclusão de tais estudos
nos currículos dos estudantes de Geografia.
Sobre o mesmo tema, destaca-se também o grupo de
professores da Associação Universitária de Professores de Didática
das Ciências Sociais da Espanha que analisando os currículos da
escola básica, tomando como parâmetro o valor da igualdade,
sugerem o estudo através dos seguintes eixos temáticos entre
outros.
Eixo temático - sociedade e território: meio ambiêntê ê
conhecimento geográfico
Objetivos: tomada de conhecimento dos grandes problemas
que se enfrenta na vida humana sobre a terra, incluindo o meio
social e humano e as desigualdades de gênero e raça: a degradação
do meio ambiente e a superexploração dos recursos, o
crescimento demográfico desequilibrado, as desigualdades
econômicas entre os poyos. Este eixo temático pode ser abordado
de acordo com o nível de desenvolvimento dos estudantes desde
os estudos iniciais na educação infantil, quando o ponto de
partida deve ser o imediato, as experiências vividas, até chegar
aos níveis mais abstratos. Igualmente, os outros eixos ternáticos
apresentados pelos referidos profissionais, sugerem a incorporação
dos estudos raciais e de gênero de maneira sistemática, os quais se
podem adequar aos primeiros anos de estudos.
129
í3r130 Relações raciais e educação: novos desafios
No eixo temático A populnfro e o espaço urbano os autores
apresentam os seguintes itens incluindo a questão de raça e gênero:
desequilíbrios no crescimento da populaSo e diüsão desigual dos
recursos (superpopulação, envelhecimento, controle da natalidade
e migrações). Neste eixo, considerando a realidade brasileira, pode-
se oferecer ao aluno da escola brásica oportunidade de comprovar
que a pobreza é mais perversa pÍra com a população negra e que a
mesma não tem gera@o espontânea. Este eixo comporta também
estudos sobre a origem e formação das favelas por serem estas, um
fenômeno urbano oriundo da falta de comprometimento do
Estado para com as populações que migraram para os grandes
centros urbanos, passando a se constituir em um grande
contingente de desempregados ou jogados em atiüdades informais.
A cor das populações faveladas é um estudo também oportuno
neste eixo, em confronto com o estudo da cor das populações
residentes em locais privilegiados e dotados dos serviços urbanos.
Em decorrência de tais estudos, ficarão evidentes as formas pelas
quais a sociedade inventou a discriminação espacial da popula@o
negra.
Um terceiro eixo temático apresentado pelo grupo tem
também um rico potencial paÍaa inclusão dos estudos raciais em
estudos interdisciplinares particularizando a Geografia.
Atiüdade humana e o espaço geográfico, sendo um prolongamento
do anterior, apresenta os seguintes desdobramentos: espaço e poder
político. A distribuição desigual do poder político com destaque
na raça e no gênero. O estudo das relações de poder entre os
diferentes grupos humanos pode ser realizado desde o ambiente
mais restrito da família em que as relações de gênero ganham
destaque, sem descartar questão racial, até as relações mais
amplas entre os continentes que comprovam a dominação branca
e masculina.
Na categoria trabalho sistemático, inclui-se a grande maioria
dos entreüstados. Em seus depoimentos deixam clara a decisão
de priorizar o sistemático, através da seleção de conteúdos que
são incluídos no seu trabalho profissional.
A prática pedagógica de especialistas
Entre os depoimentos, destacamos os que se seguem:
...agora, depois desse embasamento teórico que eu tive aqui no curso,
estou tentando incluir da seguinte maneira: trabalho com livros
infanto-juvenis, paradidáticos e após os alunos lerem e de uma série
de atiüdades que eu proponho dentro da sala de aula, dentro do
programa do planejamento anual, úabalho a questão racial, busco
discussões sobre os personagens, a discussão aparece. As vezes trago
um texto do próprio liwo didático, porque quando escolhemos o
liwo didático procuramos ver se o liwo inclui estas questões ou então
trago uma notícia de jornal; eu sempre estou tentando, dentro do
período de aula, incluir a questão racial, mas de maneirasistematizada,
já está no meu planejamento, não é uma coisa aleatória, desde o ano
passado quando eu comecei a estudar aqú principalmente. Antes eu o
fazia de maneira aleatória, agora eu incluo no meu planejamento
(Professor de Português).
A declaração seguinte é de um professor de História:
É aquela coisa, a autonomia do professor é muito questionada dentro
da escola pela direção e coordenações que querem cercear a autonomia
do professor na sala de aula, mas quando o professor tem uma visão
mais clara da sociedade, não tem jeito, ele coloca mesmo a questão na
sala de aula, mas quando a leva para o conselho de classe, o restante
dos colegas minimizam a sua atuação e dizem que a questão nãoé
importante... aquelas velhas teorias do preconceito social e o professor
acaba enfraquecido politicamente dentro do seu grupo porque os
outros colegas não dão o apoio necessário, por não estarem
conscientizados ...mas os alunos aceitam bem.
Enquanto, por um lado, o primeiro professor consegue
aliados, o segundo encontra resistência no ambiente em que atua,
reconhecendo o despreparo dos profissionais, inclusive de parte
da administração da escola, para compreender a importância da
questão e da autonomia profissional docente, que é condição
indispensável para uma atuação transformadora. Este professor
salienta o problema das drogas na escola, como impedimento a
realização de um trabalho satisfatório. São "novos padrões de
relacionamento entre o meio urbano e a escola" (Gurr.mnans, 1997)
que atingem o sistema escolar como um todo, sendo uma questão
133132 Retaçoes raciais e educação: novos desafios
que extrapola a competência da escola, devendo ser tratado pelos
órgãos de segurança pública a serem acionados pelas escolas tanto
públicas quanto particulares.
Seguem-se outros depoimentos que justificam a sua inclusão
nesta categoria
...hoje a minha visão é outra... no magistério eu estou entrando no
segundo bimestre e estou introduzindo alguns autores negros para
serem lidos pelos alunos, vou pedir um trabalho para nota... estive
conversando com algumas professoras de literatura e elas também
não conheciam a Geni Guimarães. Pela primeira vez estou introduzindo
um autor negro na literatura ...depois desse curso eu me vejo como
alguém que tem que ser multiplicador e tento agír da maneira mais
natural possível, questionando muitas vezes, fazendo com que as
pessoas pensem um pouco sobre a questão (Professora de Português).
Eu incluí história da África no segundo ano do Ensino Médio quando eu
trato da abolipo da escravatura. No terceiro ano, quando eu estou falando
deEstadoNovo, do imperialismo, euincluo osestudos sobre aorigemdo
racismo, do preconceito contra o negro (Professor de História).
Pois é ...foi maravilhoso para mim porque fazia tempo que eu não
voltava para a Faculdade... achei o curso muito interessante, bem
organizado, bem fundamentado, muito frutífero para a minha vida
profissional... me deu ânimo, incentivo para fazer a semana afro-
brasileira na escola. Eu trabalhava individualmente, mas o curso me
deu um suporte, uma força que me animou para fazer uma coisa
maior e então começamos a semana afro-brasileira na escola e este
ano conseguimos que esta semana entÍasse na programação da escola.
As aulas de História da África foram brilhantes, eu aprendi aqui e
passava na escola. Eu mudei o currículo com os meus alunos, eles
produziram livros que vão ser expostos na semana afro-brasileira...
foi o melhor trabalho que eu iâ fi2. Os alunos ficaram muito
empolgados. Foram estimulados com o estudo de História daÁfrica,
tomando conhecimento de que a África não é só pobreza e doença.
...Dando Egito eu falo daÁfrica, onde fica o Egito? Mas aÁfricanão é
só o Egito, mas teve outras civiüzações grandiosas e acrescento estudos
sobre a África hoje. Este ano vamos fazer algo além da semana afro-
brasileira, queremos um núcleo de estudos e pesquisas afro-brasileiro
na escola (Professora de História).
A prática pedagógica de especialistas
Eu fiz o meu plano anual para a turma de 4a série do ensino
fundamental com a qual eu estava trabalhando o ano passado. Tenho
conversado muito com as professoras de 4u série esse ano, a partir do
que eu fiz no currículo para ver se elas implementam a questão na sala
de aula... não podemos atuar apenas nas datas comemorativas, mas
infelizmente as escolas se restringem a isto (Pedagoga).
A última depoente parte de estudos sobre a identidade
individual e nacional, incorporando a temática racial também
na literatura e na construção de gráficos sobre saúde e educação
da população brasileira.
De acordo com a sua formação, cada componente deste
grupo majoritário tem uma prâtica comprometida com a
inclusão dos estudos sobre os afro-brasileiros em suas atividades
profissionais, intencionalmente planejadas. Incluem-se entre estes
os que não atuam na educação formal, jornalistas e assistentes
sociais que sendo um pequeno grupo, igualmente incorporaram
a questão racial em seu exercício profissional, sendo que em
alguns casos, o curso contribuiu para fortalecer a fundamentação
cientíÍica de alguns trabalhos que já vinham sendo desenvolvidos.
Destaca-se em todos os níveis em que estes profissionais atuam
a História da África como forma de recuperar, e comprovar, a
dignidade do povo africano na época pré-colonial e violentada
no período de exploração do continente pela Europa. Este
conteúdo recebe de parte de componentes deste SuPo, a forma
didática necessária a assimilação dos mesmos pelos seus
destinatários em diferentes fases de desenvolvimento, a partir da
educação infantil. Para este caso é utilizado, entre outros, o
recurso freqüente à literatura, com a recuperação das histórias
dos reis e rainhas africanos. A tomada de conhecimento de que
existem famflias reais negras provoca nos estudantes uma atitude
de surpresa, sendo extremamente edificante, segundo os
depoentes, levando a superação da imagem freqüente do negro
associada apenas à escravidão. Pode-se inferir que se recupera, a
partir dai, o ser negro de parte dos afro-brasileiros e o respeito
devido a esta população de parte dos não-negros.
134 Retaçôes raciais e educacão: novos desafios
A História da África, parte dos egressos incorpora a história
cultural, dando ênfase a explicação sobre a maneira pela qual o
racisnto fbi histórica e socialmente construído, confornre
depoimento de um dos professores de histírria, transcrito neste
estudo.
Além da predominância de negros no curso, verifica-se a
exclusividade de profissiou;ris das áreas de ciências sociaris e
humtrnas e de literatura e excepcionahnente profissionais de
outros cursos. A área de ciência e tecnologiar, durante a oferta de
quatro cursos, r-rão se fez representar. Esttr constatação comprova
a grave deficiência desses cursos em relação i\ formação hunrana,
o que exige um repensar dos mesmos, a fim de que se possa oferecer
aos selrs destinatários opurtuniclade de colocar a ciência e a
tecnologia a serviço da prr'.-roção da humaniclacle cor.r-ro objetivcr
primeiro de sua atuação profissional.
Senc'lo o espaço privilegiado para o estudo da questão racial
e de out«rs problemas que perturbam a população, as ciências
sociais e humanas precisant perpassar, significativtrmente, tod<ts
os cursos urriversitarios.
Analisando os currículos da escola básica, um grupo dc
professores pertencentes a jh citada Associação universitária cle
Professores de Didática das Ciências Socinis, na Espanha, destirca
os seguintes objetivos para o ensino desta tírea:
Identificar e apreciar. p[rraliclade das comuniclacles sociais às cluais
pertenccm, (...) rechaçando as discrimfu.rações existentes por rnotivo
de nascintento, raçâ, sexo, religião, opir.rião ou qualquer outra
circunstância pessclal e social.
Apreciar os direitos e liberdacles como Llm ganho irrenunciável (...),
deuunciando atitudes e situaçÕes discrir.r-rinatórias e injustas c
mostranclo-se solidário com os povos, grupos socilis e pess()as
privadas cle seus clireitos oLr clos recursos eco,ômic.s cle que neccssita
(lX sirnpósio de Didiitica das Ciências Sociais, Espirnha, Universidacle
deLleida, l99B).
Destinados à Escola Básica, tais objetivos devem ser incorporados
por todos os cursos universittirios, com o prop(rsito de possibilitirr
A prática pedagógica de especialistas
uma atuação de ptrrte de todos os profissionais, cor-r.r visttrs i\
redução e/ou eliminação dos problernas que atingenr a humaniclaclc.
Retornando aos depoimentos dos egressos, conclui-se quc o
curso contribuiu para coloctrr osprofissionais em condições cle
enfrentar e desestabilizar o racismo em educação incorporando
majoritariamente a questão racial sistemática e intencionalmente
ern suas práticns, superando situtrçÕes constatadas em pesquisas
anteriores em que tais profissionais afirmavarm o seu clespreparo
para ulna atuação competente ern face às questões raciais.
Conclui-se portanto que a formação proÍissional é um fator
decisivo nar alteração do quadro de desigualdades raciais
constatado no sistema de ensino brasileiro.
Entretanto, tem-se clareza de que o que é ministrado não
cobre todas as áreas de conhecimento que dariam aos
profissionais, uma visão das diÍêrentes dimensÕes da questão
racial. Mesnro na proposta reformulada, percebe-se a ausêncitr
dos estudos nas tireas de ciências biológicas, nas artes (artes
cênicas, artes plhsticas, dança e rnúsica) e em geografia. O
conhecimento biológico contribuiria para desestabilizar o
racismo científico que naturaliza a condição de inÍ'crioriclade clcr
negro, as artes como fonxa de expressão contribuenr para a
emancipação humana, dotando o ser da ousaclia necessária zro
enfrentamento das situaçÕes de discriminaçiirl r' a pr()por novas
soluçÕes para as mesrrras. A geografia, tendo o espaço como objeto
de estudo, vai contribuir ptrra a tomada de conhecirnento das
formas sociiris da segregaçào espacial da população negra. O
ensino da geografia tem tarnbém a possibilidade de incluir a
questão racial nos estudos sobre a paisagem entre outros.
O caráter global dos conhecirnentos da realidade corlprovaln
a sua transversalidade. Entretanto torna-se impossível, em unr
curso de pós-graduação lato se,,,sr, esgotar todas as dimensÕes
da questão racial em seu caráter multirreferencial. This conhecimentos
precisam ser antecipados e ministrados ao Iongo de todos os níveis
de ensino, a firr-r cle promover a superação da apropriação tardia
dos mesmos.
135
Relações raciais e educação: novos desafios
Apesar daatração positiva do grupo de egressos considerado,
percebe-se nos mesmos, deficiências oriundas de lacunas na sua
formação inicial, que os cursos ministrados não deram contam
de levar-lhes a sua superação. Trata-se da capacidade de assumir
plenamente a autonomia inerente a profissão, através da
elaboração satisfatória do próprio projeto de trabalho. Como
exigência da disciplina Raça, Currículo e Priíxis Pedagógica, os planos
de ensino são elaborados atendendo à necessidade de uma ação
transformadora, mas percebe-se falhas a serem superadas. Para isto,
a nova proposta de curso desenvolverá a referida disciplina, bem
como a pesquisa ao longo do curso, que culminará como vem
ocorrendo anteriormente, com o referido projeto, cuja execução e
aprimoramento será acompanhada por docente durante um
semestre, podendo ser ou não a monografia de final de curso.
Na apreciação do curso, além de algumas falas anteriores, os
egressos destacaram como aspectos positivos as discussões sobre
questões sociais e raciais, a abordagem temática, a competência e
comprometimento com a questão de parte dos docentes e a
possibilidade de retornar à academia. A seguir destacam-se alguns
depoimentos:
...a gente sente um certo distanciamento com relação às pessoas da
academia e isto eu não senti aqui em nenhum momento com os
professores do curso, muito pelo contrário... As discussões também
foram muito enriquecedoras.., em termos de cultura eu acho que
avancei bastante, tanto é que muito do que eu estou fazendo agora se
deve às discussões que houve no curso (Pedagoga).
...os trabalhos elaborados no final de cada disciplina foram muito
opoúunos porque mostraram a sua interface (Filósofo e contabilista).
Quanto aos aspectos negativos, foram citados: dificuldades
na elaboração da monografra, conflitos entre a militância e a
academia, tempo reduzido paraa grade proposta, discriminação
não racial, mas de camadas sociais diferenciadas, necessidade de
aprofundamento dos estudos sobre identidade, falta de engajamento
de alguns alunos.
A prática pedagógica de especiatistas
Com o propósito de averiguar se as situações concretas de
discriminação se caracterizam por motivo da diversidade
cultural ou se são orientadas pela diversidade biológica aparente
decorrente das diferenças fenotípicas, incluiu-se uma questão
solicitando que os depoentes descrevessem situações üvidas ou
observadas. Âs respostas contribuem para subsidiar ações
pedagó gicas necessárias a sua desest abrlizaçáo.
Embora tenha-se conhecimento de que as culturas de origem
african4 presentes na sociedade brasileira, são objeto de discriminação,
principalmente a religião, a totalidade das respostas denuncia a
.o, du pele como seu determinante e portanto como principal
estigtna de inferioridade. Seguem-se alguns depoimentos:
...eu tive um problema com um aluno que o pai era negro e ele odiava
o pai... as brincadeiras eram "você é fllho do carvão", outro dizia "oi
tiziu, como é que você está?"
...quando fui dar um passeio com a turma, no final fiquei com uns
quatro ou cinco e eles pediram para comprar uns biscoitos... entramos
nas Sendas e senti, todas as pessoas, os guardas pararam e ficaram
nos vigiando e eu senti na pele o que eles vivenciam no dia a dia'
...na escola teve situações com professores que se dirigiam ao aluno
como incapazpor causa da cor...
...às vezes me chamavam de macaca porque é muito comum o negro
de pele preta ser chamado de macaco e isto eu via na sala de aula o
tempo tàdo, mas eu exercia a minha autoridade firme para combater
isto... (Assistente social, ex-professora das séries iniciais) '
...é muito comuln um aluno desmerecer o outro por causa da cor"' Ah
você é mais preto do que eu, é mais carvão que eu, é mais tição. outro dia
aprofessorabrincou com um menino euma meninade mais ou menos
6 anos: "namora ela" e o garoto respondeu: "mas ela é preta, é carvão"'"
Ah! Situações üvenciadas têm várias. Eu até tenho uma proposta de
fazer um liwo contando casos. um é marcante, até recente: saí para
caminhar, aí fui toda engraçadinha de shortinho, tenizinho' aquela
carinha assim de domingo, óculos escuros e fui saindo"' vou
caminhar... Então eu vejo mais adiante uma senhora, já de idade'
fazendo psiu, psiu. . . fazendo sinal para eu parar. Eu olhei e não a recoúeci,
137
136
138 Retações raciais e educação: novos desafios
mas podia ser uma vizinha ...não sei o quê. parei e fiquei esperando. Ela
atravessou a rua, chegou perto de mim e disse: "forno e fogão,i
Percebe-se em todos os casos a presença da discriminação
oriunda do preconceito de marca, de acordo com Oracy Nogueira.
Segundo este autor:
o preconceito racial é uma disposição (ou atitude) desfavorável,
culturalmente condicionad4 em relação aos membros de umapopulaçao,
aos quais se tem como estigmatizados, seja deüdo a aparência, seja
devido a toda ou parte da ascendência étnica que se lhes atribui ou
reconhece. Quando o preconceito deraçase exerce em relação àaparência,
isto é, quando toma por pretexto para as suas manifestações os traços
ffsicos do indiúduo, a fisionomia, os gestos, o sotaque, diz-se que é de
marca; quando basta a suposição de que o indivíduo descende de um
certo grupo étnico para que sofra as conseqüências do preconceito, diz-
se que é de origem... o preconceito de marca determina uma preterição,
o de origem, uma exclusão incondicional... (Nocuema, 7985,p.79).
Percebe-se em todas as situações de discriminação relatadas a
atribuição de significados sociais negativos ao fenótipo negro, o que
deve ser preocupação de todos os educadores. Neste caso, é
importante a inclusão nos estudos caracterizados pelo
multiculturalismo crítico a inclusão de estudos das ciências biológicas
sobre a cor da pele, e sobre a fragilidade das diferenças fenoúpicas na
determinação do desempeúo dos sujeitos comprovando que os
fatores sociais são os determinantes da condiçãode inferioridade
dos negros. O estudo das trajetórias de negros em posições de
destaque vai contribui para comprovil que a condi6o subalterna,
da maioria da população negra, não é inerente à sua natureza, mas
às suas condições de vida desfavoráveis. É preciso possibilitar a
compreensão de que em condições igualmente favoráveis às dos
brancos, negros obtêm resultados equiparáveis.
Nos estudos biológicos, é preciso não perder de vista que
embora nesta área exista apenas uma raça humana, o seu conceito
"não tem instrumentalidade para as ciências sociais" (SEyrrnrn,
s.id.). Raça é um conceito científico na ârea das ciências sociais e
humanas. Otávio Ianni assim conceitua Raça:
A prática pedagógica de especialistas
"Raça" é o conceito científico elaborado pela reflexão sobre a dinâmica
das relações sociais, quando se manifestam estereótipos, intolerâncias,
discriminações, segregações ou ideologias raciais. A raça é construída
socialmente no jogo das relações sociais. São indiúduos, grupos ou
coletividades que se definem reciprocamente com pertencentes a raças
distintas (Iervm, 1996, p. 8).
Ementas da nova proposta do curso
Em decorrência do curso que o Penesb/UFF oferece desde
1995 ser uma antecipação do que sugere aLei10.639, de 9 de
janeiro de 2003, sobre a formação de professores por motivo de
determinar a obrigatoriedade do ensino sobre a História e Cultura
Afro-brasileira nos currículos do ensino Fundamental e Médio,
decidiu-se apresentar, neste estudo, as ementas de cada disciplina,
como referência para que as instituições interessadas façam suas
apreciações, críticas e sugestões para o aprimoramento dos
trabalhos que o programarcaliza e as deüdas adaptações paraa
criaçáo de novos cursos e incorporação dos conteúdos
enunciados pelas ementas apresentadas, nos cursos de formação
inicial dos profissionais da educação.
A denominação inicial do curso "Raça, Etnias e Educação no
Brasil", por motivo das diferentes conceituações do termo "etnia"
e em conseqüência de alguns equívocos provocados sobre a
população privilegiada no mesmo, foi substituída por educação
e afro-brasileiros a fim de não deixar dúvidas quanto ao objeto
do curso. Isto se faz como conseqüência da necessidade de
delimitar o campo de atuação do Penesb para garantir a
qualidade e o aprofundamento das questões inerentes às relações
raciais eüdenciadas no fenômeno educativo.
Disciplina: História da Africa
Professora: Mônica Lima 
- 
UFRI (Mestre)
Carga horária: 60 horas/aula
Ementa: Metodologia e historiografia. África: das primeiras sociedades à
chegada do Islã. África, contatos e trocas. África e HistóriaAtlântica. África
e o colonialismo, séculos XIX e XX. África e os desafios contemporâneos.
139
140 Relações raciais e educação: novos desafios
Disciplina: Raça, Curcículo e práxis pedagógica
Professoras: Iolanda de oliveira- UFF (Doutora); Margareth Martins de
Araujo 
- 
UFF (Mestre) e Marta Diniz paulo (Mestre em Educação)
Professora: UFRI/Uni-Rio
Carga Horária: 60 horas/aula
Ementa: Raça, c,rrículo epriáxis- conceituação. Relações raciais na educação
brasileira: questões históricas e contemporâneas. A elaboração de projetos
de intervenção, com üstas a eliminação das desigualdades raciais no sistema
educacional.
Disciplina: História do Negro na Sociedade Brasileira
Professoras: Hebe de Castro 
- 
UFF; Sheila Faria 
- 
UFF e Marta Abreu 
- 
UFF.
Carga horária: 45 horas/aula
Ementa: Perspectiva histórica da questão negra no Brasil. Relações raciais
no Brasilno contexto do surgimento e destruição da escrayidão moderna
nasAméricas.
Dis ciplina: Pesquisa Educacional
Professores: Moema de Poü Tei:reira 
- 
IBGE/penesb/UFF e forge Najjar 
- 
UFF
Carga horária: 60 horas/aula
Ementa: Tipos de conhecimento. A especificidade do conhecimento
científico' concepções sobre a relação entre sujeito e objeto napesquisa
científica: os vetores epistemológicos. ciência e ideologia. As principais
correntes metodologias em ciências humanas. pesquisa qualitativa e
quantitativa. A pesqúsa em educação no Brasil: caminhos e descaminhos.
A pesquisa sobre o negro na sociedade brasileira: marcos e perspectivas.
Uma transição paradigmática?: ciência, modernidade e pós-modernidade.
Disciplina: Teoria Social e Relações Raciais
Professores: Almir dos santos Abreu 
- 
UFF; André Augusto pereira Brandão
- 
UFF e Sérgio da Rocha Souza 
- 
UFF.
Carga horária: 45 horas/aula
Ementa: O Negro e a Miscigenação como problema par aanaçáo.O mito
fundador das três raças. A gênese da idéia de democracia racial brasileira.
O projeto Unesco raça e classe. As desigualdades raciais e o papel das
estatísticas. As desigualdades raciais nos estudos pós 1990. Ação afirmativa.
A prática pedagógica de especialistas
Disciplina: Educação e ldentidade Racial
Professores: Iolanda de Oliveira 
- 
UFF; Maiza de Paula Assis 
- 
Uerj.
Carga horária: 30 horas/aula
Ementa: Cultura e relações raciais. O lugar da Psicologia na construção da
identidade racial. Concepções psicológicas de sujeito e subjetividade e suas
implicações para a noção de emancipação e autonomia na educação do
negro. Movimento negro e identidade.
Discipkna: Relações Raciais no Ensino da Língua e da Literatura
Professores: Márçia Maria de Iesus Pessanha - UFF; Maria Conceição
Evaristo Brito- SME/RI; Murilo Ferreira-Fundação Educacional de Barra
Mansa.
Carga horária: 45 horas/aula
Ementa: Aliteratura como espaço de cria$o de identidade e de diferenP com
o propósito de observar os modos de representação do negro e das culturas
afro-brasileiras nas obras selecionadas: textos literiírios e letras de músicas
(sambas enredo, funk e hip hop) com destaque para a temática "da
representação à auto-representapo do negro na literatura e música brasileira'i
desdobrando-se nos itens:'A palawa do poder e o poder da palawa", "O
negro como objeto do discurso"e" O negro como zujeito do discurso'lLeitura
comparativa de textos literários e pusicais, observando modos distintos
decomposi$o da personagem negra e de marcas etnocêntricas, difrrsoras de
vários estereótipos referentes ao negro. A relação negro/educafo/cidadania
como elemento de participapo econtribúPo daidentidadenacionalbrasileira-
Disciplina: Relações Raciais e Religiões Afro-Brasileiras
Professor: José Geraldo da Rocha
Carga horária: 45 horas/aula
Ementa: Identidade negra brasileira e espiritualidade de matriz africana. A
religião como forma de resistência negra no período colonial. A religião
afro-brasileira como objeto de preconceito, discriminação, xenofobia e
intolerância. Aliberdade de expressão religiosa como direito constitucional.
Carga horiíria total do curso: 390 horas/aula
Referências bibliográficas
Bueneur, Cristóvam. A aventura da universidade. Rio de |aneiro: Paz e Terra,
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141
Relações raciais e educação: novos desafios
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Gours, f oaquim B. Barbosa. Áçâ o afirmativa 6 pincípio anstitucional da iguallade.
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GoNçarvts,LúsA. OLiveüa. Osilêncio:wittalpedagógico a favorda discriminaSo
racial. Dissertação (Mestrado em Educação) 
-

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