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CCJ0034-WL-A-PP-Dos Crimes Praticados Funcionário Contra a Administração-Renan Marques

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ALUNO:
MATRÍCULA:
PROF: RENAN MARQUES – Penal IV
Atenção ! – o presente material foi elaborado com base nos livros de Rogério Sanches Cunha(Direito Penal: Parte especial, 3 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010 e Código Penal Para Concursos, 5ª Ed. Salvador: Editora JusPODIVM), Rogério Greco(Código Penal Comentado, Ed. Impetus, 2011) e Fernando Capez (Curso de Direito Penal: Parte Especial: dos crimes contra os costumes a dos crimes contra a administração pública,Volume 3, São Paulo: Ed. Saraiva, 2011)
Dos Crimes contra a Administração Pública
	1. Dos Crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral. 
1.1Considerações Iniciais.
A) Conceito de Administração Pública para o direito penal. 
É preciso inicialmente trazer o sentido da expressão “Administração Pública” para o Direito Administrativo para depois tratar da abrangência da expressão no Direito Penal. 
Segundo o renomado autor do Direito Administrativo, Hely Lopes Meirelles, “em sentido lato, administrar é gerir interesses, segundo a lei, a moral e a finalidade dos bens entregues à guarda e conservação alheias. Se os bens e interesses geridos são individuais, realiza-se a administração particular; se são da coletividade, realiza-se administração pública. Administração Pública, portanto, é a gestão de interesses qualificados da comunidade no âmbito federal, estadual ou municipal, segundo os preceitos do Direito e da moral, visando ao bem comum.”
Embora na doutrina administrativista a expressão “Administração Pública” sirva para expressar, em sentido estrito, as atividades realizadas pelo Poder Executivo, a Doutrina Penal considera-a de forma mais ampla. Ou seja, o conceito de administração pública no âmbito penal é tomado no sentido mais amplo, compreensivo da atividade total do Estado e dos outros entes públicos. Portanto, com as normas que refletem os crimes contra a Administração Pública, é tutelada não só a atividade administrativa em sentido restrito, técnico, mas, sob certo aspecto, também a legislativa e a judiciária. 
Em resumo, o conceito de administração pública no para o Direito Penal abrange as atividades do Estado e dos outros entes públicos desenvolvidas no âmbito do Poder Executivo, Legislativo ou Judiciário. É por essa razão que, dentre os crimes contra a Administração Pública, existem os crimes praticados por funcionário público contra a Administração em Geral, os praticados por particular contra a Administração em Geral, e por último, os crime contra a Administração da Justiça. 	
B) Objeto de tutela penal dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral. 
Os crimes previstos no Título XI do Código Penal (“Dos Crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral.”) são aqueles praticados por funcionário público contra a própria administração que representam, ou seja, são crimes praticados por determinado grupo de pessoas – os funcionários públicos – no exercício de suas funções, associados ou não com pessoa alheia aos quadros administrativos, impregnando o correto funcionamento dos órgãos do Estado. 
Vale ressaltar que o objeto de tutela penal dos crimes contra a administração pública é o interesse público concernente ao normal funcionamento e ao prestígio da administração pública em sentido lato, naquilo que diz respeito à probidade, ao desinteresse, à capacidade, à competência, à disciplina, à fidelidade, à segurança, à liberdade, ao decoro funcional e ao respeito devido à vontade do Estado em relação a determinados atos ou relações da própria administração. 
O agente representa um poder estatal, tendo por função principal cumprir regularmente seus deveres, confiados pelo povo. A traição funcional faz com que toda a sociedade tenha interesse na sua punição.
C) Distinção entre crimes funcionais próprios e impróprios. 
Há crimes previstos no Título XI do Código Penal que somente podem ser praticados por funcionário público (por exemplo: peculato, concussão, abandono de função, etc.) outros somente por particular (por exemplo: usurpação de função pública, corrupção ativa, resistência etc.). Pois bem, os crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral, previstos no Capítulo I, do Título XI do Código Penal, constituem delitos próprios, já que são praticados exclusivamente por aqueles que detêm uma qualidade especial, qual seja: ser funcionário público. Por esta razão, são denominados de crimes funcionais. 
Os crimes funcionais são divididos em duas espécies:
Crimes funcionais Próprios (puros ou propriamente ditos) – são aqueles que somente os funcionários públicos podem cometer, caso falte a qualidade de funcionário público o fato será um indiferente penal, será um fato atípico, não existindo nenhum outro tipo incriminador, há o que a doutrina chama de atipicidade absoluta. Em outras palavras, a função pública é elemento essencial do crime e a ausência da qualidade de funcionário público torna o fato atípico. 
Ex. Crime de prevaricação (Art.319, CP), condescendência criminosa (Art. 320, CP), abandono de função (Art. 323, CP). Estes crimes somente podem ser cometidos por funcionário público, caso um particular venha a cometer a mesma conduta, não haverá crime. 
Crimes funcionais Impróprios (impuros ou impropriamente ditos) – são aqueles em que desaparecendo a qualidade de funcionário público, desaparece também o crime funcional, havendo, porém, a desclassificação da conduta pra outro crime, de natureza diversa, há o que a doutrina chama de atipicidade relativa. Em outras palavras, a ausência da qualidade de funcionário público não torna o fato atípico, pois poderá constituir outro crime.
Ex. Crime de peculato furto Art. 312, § 1º, CP, para que haja o crime de peculato furto deve o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrair, ou concorrer para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Assim, se o crime não é praticado por funcionário público nestas condições, haverá a desclassificação para o crime de furto, Art. 155 do CP, crime este contra o patrimônio. 
C) Conceitos de funcionário público e, funcionário público por equiparação, previstos no Código Penal; distinção do conceito de múnus público. 
O estudo do Art. 327 do Código Penal é de extrema importância, tendo em vista que traz normas gerais que são aplicadas aos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral, uma vez que traz o conceito de funcionário público para efeitos penais. 
O Art. 327, caput do CP fala que “Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.” 
Assim, ainda que transitoriamente (durante um certo tempo) ou sem remuneração(sem ganhar dinheiro), basta que o sujeito exerça cargo público (o vínculo que liga o servidor ao Estado é estatutário), emprego público (o vínculo que liga o servidor ao Estado é contratual, sob a regência da CLT) ou função pública(é qualquer atividade que realiza fins próprios do Estado, ainda que exercida por pessoas estranhas à administração pública Ex. jurado, mesário eleitoral, perito judicial) para que seja considerado funcionário público para efeitos penais, ou seja, a expressão funcionário público é tomada em sentido amplo.
 Vale ressaltar, inclusive, que, para o STF, o conceito de funcionário público abrangeria todos os que exercem cargo, emprego ou função pública no âmbito de qualquer dos poderes, abrangendo o Poder Executivo, Legislativo ou o Judiciário.
OBS: Entretanto deve-se ter Atenção ! para NÃO confundir função pública com encargo público (múnus público). Como nós sabemos, aqueles que exercem qualquer tipo de função pública são considerados funcionário público para efeitos penais, já que prestam serviços inerentes a Administração Pública. Por sua vez, aqueles que exercem encargo público (múnuspúblico) NÃO são considerados funcionário público para efeitos penais, tendo em vista que exercem um encargo ou ônus conferido pela lei e imposto pelo Estado em determinadas situações, mas que NÃO gera vínculo com a administração pública, a exemplo dos tutores ou curadores dativos, inventariante judicial e síndicos falimentares. 
Existem, ainda pessoas que são equiparadas a funcionário público para efeitos penais, o Art. 327, § 1º, do CP esclarece que – “Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública.”
Desta forma, são equiparados a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, tais como as autarquias, sociedades de economia mista, empresas públicas e fundações instituídas pelo Poder Público, ou quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada (concessionárias ou permissionárias de serviço público) ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública.
Assim, como se percebe, mesmo que tenha havido a terceirização dos serviços do Estado na forma apresentada acima, ainda irá haver responsabilização penal dos funcionários públicos equiparados.    
Entretanto, tal equiparação NÃO abrange os funcionários atuantes em empresa contratada para prestar atividade ATÍPICA para a Administração Pública, como, por exemplo, uma empresa contratada para funcionar num cerimonial de recepção a um chefe de governo estrangeiro. 
Por fim, cumpre esclarecer que o Art. 327, § 2º, do CP, previu um aumento de pena da terça parte (1/3) quando os autores dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. 
Nestes casos acima, a conduta dos agentes se mostra ainda mais censurável, demonstrando um atrevimento incomum, não honrando a importância dos cargos que ocupam. 
D) Crimes funcionais e concurso de pessoas. 
	Dispõe o Art. 30 do Código Penal que: “Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime”. Pois bem, a condição de funcionário público constitui elementar dos crimes praticados por funcionário público contra a Administração em Geral, previstos no Capítulo I do Título XI, do Código Penal. Ausente essa condição, o crime desaparece (atipicidade absoluta) ou se transforma em outro (atipicidade relativa).
	Referida elementar, por ter caráter pessoal, comunica-se ao coautor ou partícipe do crime. O particular, portanto, estranho à Administração Pública, que colabore de qualquer forma para o crime cometido pelo funcionário público, por exemplo, peculato, responderá por esse delito na qualidade de coautor ou partícipe, embora não detenha a qualidade especial de funcionário público. Logicamente, o particular deve ter conhecimento dessa condição pessoal do coautor, isto é, o dolo deve abranger a elementar do tipo penal. 
E) Distinção entre o conceito de funcionário público, previsto no Código Penal, e autoridade pública, prevista na Lei n 4898/1965: natureza das funções exercidas; aplicação do princípio da especialidade e derrogação tácita de dispositivos do Código Penal. (Este tópico será analisado quando for estudada a Lei de Abuso de Autoridade)
F) A aplicação do principio da insignificância aos crimes contra Administração Pública. (Este tópico será visto no decorrer da análise dos crimes contra a Administração Pública)
1.2 Crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral em espécie.
1.2.1 Peculato (Art.312 CP). 
A) Introdução. 
- O crime de peculato tem sua origem histórica no direito romano. À subtração de coisas pertencentes ao Estado chamava-se peculatus ou depeculatus, sendo este nomen júris oriundo do tempo anterior à introdução da moeda, quando os bois e carneiros (pecus), destinados aos sacrifícios, constituíam a riqueza pública por excelência.
- O Código Penal prevê os seguintes tipos de peculato:
Peculato apropriação/próprio – previsto no Art. 312, caput, 1ª Parte, do CP.
Peculato desvio/próprio – previsto no Art. 312, caput, 2ª Parte, do CP. 
Peculato furto/impróprio – previsto no Art. 312, § 1º, do CP.
Peculato culposo – previsto no Art. 312, § 2º, do CP.
- Todos os tipos de peculato acima mencionados serão detalhadamente analisados a seguir. 
B) Tipos.
Peculato apropriação/próprio. 
a) Tipo Objetivo.
– Ele está no Art. 312, caput, 1ª Parte, do CP, e ocorre quando “o funcionário público apropria-se de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo.” 
- Veja que a ação do sujeito é apropriar-se, ou seja, o funcionário público tem inicialmente a posse lícita do bem, mas inverte essa situação, passando a se comportar como se fosse dono do bem, além disso, essa posse se dá em razão do seu cargo, isto é, o bem está sob a custódia da administração pública, sendo o funcionário público responsável por ela.
Ex. Sujeito é funcionário de uma Empresa Pública e possui um notebook(computador) em razão do cargo que ocupa. Certo dia resolve se apropriar do notebook(computador), tirando-o da repartição e levando-o para casa, passando a se comportar como se fosse dono do bem móvel público.
b) Bem jurídico e Objeto Material.
- O bem jurídico tutelado é a administração pública. 
- O objeto material do crime pode ser dinheiro (cédulas e moedas aceitas como pagamento), valor (ex. cheques), ou qualquer bem móvel (Ex. veículo, computador), de natureza pública ou privada, de que o funcionário público tem a posse em razão do cargo. Vale ressaltar que NÃO poderá ser objeto de peculato apropriação os bens imóveis, tendo em vista não haver previsão expressa neste sentido. 
Ex. Haverá peculato no caso de um delegado de policia que deixa de registrar nos autos do inquérito policial a apreensão de veículo particular que estava em poder de assaltantes e que tinha sido furtado por estes, passando o delegado a se apropriar do bem e utilizá-lo como se fosse dono dele. 
c) Tipo Subjetivo. 
- Esta modalidade de peculato SOMENTE pode ser praticada na forma DOLOSA.
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre no exato momento que o agente se apropria do dinheiro, valor, ou bem móvel de natureza pública ou particular que tem a posse em razão do cargo, dispondo do objeto material do crime como se fosse dono. Ele é considerado um crime material pela maioria da doutrina. 
- A tentativa é possível, já que se pode fracionar o inter crimines, desde que o crime não chegue a consumação por circunstancias alheias a vontade do agente. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- O sujeito ativo do crime é o funcionário público, sendo possível a participação de particular neste crime em decorrência do Art. 30 do CP, desde que o particular tenha conhecimento de que o autor do crime é funcionário público. O sujeito passivo do crime é o Estado, lesado no seu patrimônio e, se o bem apropriado for o particular, também será a vítima do crime. 
OBS: Com relação aos Prefeitos, se ele apropriar-se de bens ou rendas públicas, em proveito próprio ou alheio, será aplicado o Decreto-Lei n. 201, de 27 de fevereiro de 1967, que regula especificamente a matéria, mais precisamente no Art. 1º, I, deste decreto lei.
Peculato desvio/próprio. 
a) Tipo Objetivo.
– Ele está no Art. 312, caput, 2ª Parte, do CP, e ocorre quando “o funcionário público desvia em proveito próprio ou alheio, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo.”
- Veja que a ação do sujeito é o desvio, ou seja, o funcionário público dá destinação diversa à coisa do que foi previsto em lei, em benefício próprio ou alheio (de uma terceira pessoa). Nestetipo de peculato o sujeito não atua no sentido de inverter a posse da coisa, mas sim desvia o dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular. Vale ressaltar que o funcionário público também deve ter a posse do bem em razão do cargo. 
Ex. O funcionário público é tesoureiro de uma autarquia e recebe o pagamento de todos os funcionários. Resolve então o funcionário desviar parte do pagamento para pagar a sua conta de luz que estava atrasada. 
OBS: Caso o sujeito desvie verbas ou rendas públicas dando aplicação diversa da estabelecida em lei, em benefício da própria administração, ou seja NÃO sendo em benefício próprio ou alheio, responderá pelo crime previsto no Art. 315 do CP – Emprego irregular de verbas ou renda públicas. 
b) Bem jurídico e Objeto Material.
- O bem jurídico tutelado é a administração pública. 
- O objeto material do crime de peculato desvio pode ser dinheiro, valor, ou qualquer bem móvel, de natureza pública ou privada, de que o funcionário público tem a posse em razão do cargo. 
c) Tipo Subjetivo. 
- Esta modalidade de peculato SOMENTE pode ser praticada na forma DOLOSA.
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre no exato momento que o funcionário público altera o destino normal da coisa, pública ou particular, empregando-o em fins outros que não o próprio. 
- A tentativa é possível, já que se pode fracionar o inter crimines, desde que o crime não chegue a consumação por circunstancias alheias a vontade do agente. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- O sujeito ativo do crime é o funcionário público, sendo possível a participação de particular neste crime em decorrência do Art. 30 do CP, desde que o particular tenha conhecimento de que o autor do crime é funcionário público. O sujeito passivo do crime é o Estado, lesado no seu patrimônio e, se o bem desviado for o particular, também será a vítima do crime. 
OBS: Com relação aos Prefeitos, se ele desviar, bens ou rendas públicas, em proveito próprio ou alheio, será aplicado o Decreto-Lei n. 201, de 27 de fevereiro de 1967, que regula especificamente a matéria, mais precisamente no Art. 1º, I, deste decreto lei.
Peculato furto/impróprio. 
a) Tipo Objetivo.
- Ele está no Art. 312, § 1º, do CP, e ocorre quando “o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.”
- Veja que a ação do sujeito é a subtração da coisa que está sob guarda da administração pública. Nesta caso, o agente NÃO tem a posse do bem em razão do cargo, MAS valendo-se da facilidade que a condição de funcionário público lhe concede, subtrai OU concorre para que seja subtraída a coisa do ente público ou de particular sob custódia da administração, em proveito próprio ou alheio. A subtração nada mais é que a apreensão do bem, não tendo a intenção de devolver a coisa ao seu real proprietário. Tal subtração pode ocorrer pelo próprio funcionário público ou este pode concorrer para que um terceiro (funcionário público ou particular) efetua a subtração. Além disso, o proveito da subtração pode reverte-se para o próprio funcionário ou para um terceiro. 
Ex. Certa pessoa trabalha em uma repartição pública na função de motorista. Certo dia resolve subtrair um computador da repartição, não tendo a posse deste bem em razão do cargo. Neste caso a subtração do bem foi efetuada pelo próprio agente. 
Ex. Certa pessoa trabalha em uma repartição pública na função de motorista e resolve distrair o vigia da instituição para que um terceiro entre e subtraia dinheiro da instituição, bem este que não tinha a posse em razão do cargo. Neste caso o funcionário público concorreu para que um terceiro efetuasse a subtração do bem. 
OBS: No caso de o funcionário público concorrer para que um terceiro efetue a subtração, tanto o funcionário público quanto o terceiro que efetuou a subtração, seja ele particular ou mesmo funcionário público, responderão ambos por peculato furto na qualidade de autores. Vale lembrar que, para que isto ocorra o terceiro deve ter conhecimento da qualidade de funcionário público do sujeito que facilitou a subtração do bem. 
b) Bem jurídico e Objeto Material.
- O bem jurídico tutelado é a administração pública. 
- O objeto material do crime de peculato dinheiro, valor ou bem da administração pública, seja público ou particular.
c) Tipo Subjetivo. 
- Esta modalidade de peculato SOMENTE pode ser praticada na forma DOLOSA.
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre no exato momento da subtração da coisa, seja ela efetuada pelo próprio funcionário público, ou por um terceiro com a concorrência do funcionário público. 
- A tentativa é possível, já que se pode fracionar o inter crimines, desde que o crime não chegue a consumação por circunstancias alheias a vontade do agente. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- O sujeito ativo do crime é o funcionário público, sendo possível a participação de particular neste crime em decorrência do Art. 30 do CP, desde que o particular tenha conhecimento de que o autor do crime é funcionário público e se vale da facilidade do cargo. O sujeito passivo do crime é o Estado, lesado no seu patrimônio e, se o bem subtraído for do particular, também será a vítima do crime. 
OBS: Tanto no peculato apropriação/próprio, quanto no peculato desvio e no peculato furto/impróprio poderá caber o arrependimento posterior (Art. 16 CP) se o agente repara o dano ou restitui a coisa por ato voluntário até o recebimento da denúncia ou queixa.
Peculato culposo 
a) Tipo Objetivo.
 - Ele está no Art. 312, § 2º, do CP, e ocorre “se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem”.
- Neste caso pune-se o funcionário público que por negligência, imprudência ou imperícia concorre para que outrem cometa um crime de peculato apropriação/próprio, peculato desvio, peculato furto/impróprio ou outro crime. No caso o funcionário público quebra um dever de cuidado objetivo, que é o de zelar pela coisa pública, criando condições favoráveis para que um terceiro (funcionário público ou terceiro) pratique crime. 
Ex. Funcionário público, por negligência, esquece o cofre da repartição pública aberto e outro funcionário público resolve subtrair o dinheiro, não tendo este último a posse em razão do cargo. Nesta situação o funcionário público negligente comete peculato culposo, já o outro funcionário que subtraiu o bem cometerá peculato furto. 
OBS: Para que haja a ocorrência do peculato culposo deve haver nexo de causalidade entre a imprudência, negligência ou imperícia e o cometimento do outro crime, sob pena de NÃO haver peculato culposo. 
Ex. Funcionário público esquece de fechar a porta da repartição, mas um terceiro que não é funcionário público, no mesmo dia, quebra uma janela da repartição e furta um bem dela. Neste caso o funcionário público NÃO comete crime, já o particular cometerá o crime de furto. 
b) Bem jurídico e Objeto Material.
- O bem jurídico tutelado é a administração pública. 
- O objeto material do crime de peculato dinheiro, valor ou bem da administração pública, seja público ou particular. 
c) Tipo Subjetivo. 
- Esta modalidade de peculato SOMENTE pode ser praticada na forma CULPOSA.
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre no exato momento em que é praticado o crime doloso pelo terceiro. 
- A tentativa NÃO é possível tendo em vista que se trata de um crime culposo. 
- O sujeito ativo do crime é o funcionário público. O sujeito passivo do crime é o Estado, lesado no seu patrimônio e, se o bem for do particular, também será a vítima do crime. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
OBS: SOMENTE nos caso de peculato CULPOSO existe o seguinte benefício, previsto no Art. 312, § 3º do CP:
 Se o sujeito repara o dano ATÉ a sentença penal irrecorrível haverá a extinção da punibilidade.
Se a reparaçãodo dano por APÓS a sentença penal irrecorrível haverá a redução pela metade da pena imposta. 
ATENÇÃO! Este benefício NÃO é aplicável a nenhum tipo de peculato DOLOSO. 
1.2.2 Peculato mediante erro de outrem (Art. 313 CP).
A) Tipo Objetivo.
- Ele está no Art. 313 do CP, e ocorre quando o funcionário público “Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem. 
- Veja que a ação do sujeito é apropriação do bem, que nada mais é que apoderar-se do bem como se fosse dono dele, entretanto, tal apropriação somente é possível porque decorreu do erro de outrem. O erro aqui é entendido como um conhecimento equivocado da realidade, que pode ocorrer por ignorância, confusão, desatenção, falso conhecimento, de uma pessoa (particular ou até mesmo outro funcionário público), tendo o funcionário público se aproveitado desta situação. Observe que o erro NÃO é criado pelo funcionário público, ou seja, o erro advém espontaneamente de um sujeito e o funcionário público se aproveita desta situação. Além disso, deve o funcionário receber o bem por erro de outrem no exercício do seu cargo. 
Ex. Funcionário público é incompetente para receber o pagamento de uma taxa municipal que foi efetuado por um particular, entretanto, o funcionário recebe o pagamento no exercício do cargo e se apropria do dinheiro do particular. Há o crime de peculato mediante o erro de outrem.
Ex. O Estado acaba efetuando o pagamento de forma errada de um funcionário público, tendo depositado um valor maior que o devido na conta do funcionário público. Este percebe o erro, mas resolve se apropriar do dinheiro. Há o crime de peculato mediante o erro de outrem.
B) Bem jurídico e Objeto Jurídico.
- O bem jurídico tutelado é a administração pública. 
- O objeto material do crime é o dinheiro ou qualquer utilidade que tenha recebido no exercício do cargo. 
C) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA. 
D) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre no exato momento em que o agente efetivamente se apropria do dinheiro ou utilidade, que no exercício do cargo recebeu por erro de outrem. 
- A tentativa é possível, já que se pode fracionar o inter crimines, desde que o crime não chegue a consumação por circunstancias alheias a vontade do agente. 
E) Sujeito Ativo e Passivo.
- O sujeito ativo do crime é o funcionário público. O sujeito passivo do crime é o Estado, lesado no seu patrimônio, bem como a pessoa física ou jurídica diretamente prejudicada com a conduta praticada pelo sujeito ativo do crime. 
1.2.3 Inserção de dados falsos em sistema de informações. (Art. 313-A CP)
a) Tipo Objetivo.
- Ele também é chamado de peculato eletrônico e está no Art. 313-A do CP e este tipo penal diz que é crime “Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano”. 
- Veja que a ação do funcionário autorizado é inserir (introduzir, colocar, incluir) ou facilitar (neste caso o funcionário autorizado facilita a ação de outrem) a inserção de dados FALSOS nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública. Assim, nesta primeira parte do artigo o sujeito insere ou facilita a inserção de dados falsos. Pode também, o funcionário autorizado alterar (mudar, modificar) ou excluir (remover, afastar, eliminar), indevidamente, dados CORRETOS nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública. Observe que nesta segunda parte há alteração ou exclusão de dados corretos de forma indevida. Além disso, o sujeito SEMPRE deve ter a finalidade de obter VANTADEM INDEVIDA para si ou para outrem OU a finalidade de causar DANO. 
Ex. Funcionário público autorizado de uma Empresa Pública insere dados falsos nos bancos de dados da empresa para com isso demonstrar que produziu muito na empresa e ganhar participação nos lucros maior, revendo uma vantagem indevida para si. 
Ex. Funcionário público autorizado do Detran exclui um dado correto do banco de dados da autarquia para que deixe de pagar uma multa em seu nome. Neste caso, a vantagem indevida foi deixar de pagar uma multa. 
Ex. Funcionário público autorizado altera dado correto do banco de dados da Prefeitura para causar dano ao cofre público do órgão. 
b) Bem jurídico e Objeto Jurídico.
- O bem jurídico tutelado é a administração pública. 
- O objeto material do crime são as informações do sistema informatizado (relacionado a equipamentos de informática), ou o banco de dados (relacionado também a equipamentos de informática OU a arquivos, fichas, papéis não relacionados à informática), da Administração Pública. 
c) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA. Além disso, observe que existe uma finalidade especial do agente, tendo em vista que o agente deve ter a finalidade de obter VANTADEM INDEVIDA para si ou para outrem OU a finalidade de causar DANO. 
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre quando o funcionário autorizado efetivamente insere ou facilita que terceiro insira dados falsos, ou quando altera ou exclui indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou banco de dados da administração pública, com a finalidade de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano. 
- A tentativa é possível, já que se pode fracionar o inter crimines, desde que o crime não chegue à consumação por circunstancias alheias a vontade do agente. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- O sujeito ativo do crime possui uma peculiaridade, já que SOMENTE o funcionário público AUTORIZADO que pode figurar como sujeito ativo do crime, ou seja, o funcionário público autorizado é aquele que tem acesso por meio de senha ou outro comando a uma área restrita, não aberta a outros funcionários, tampouco ao público em geral. O sujeito passivo do crime é o Estado, lesado no seu patrimônio, bem como a pessoa física ou jurídica diretamente prejudicada com a conduta praticada pelo sujeito ativo do crime. 
1.2.4 Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações (Art. 313-B CP)
a) Tipo Objetivo.
- Ele está no Art. 313-B do CP, e ocorre quando o funcionário público “Modificar ou alterar, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente”.
- Veja que a ação do funcionário público é modificar (entendido como uma transformação radical, mudança total) ou alterar (mudança parcial) sistema de informação ou programa de informática, agindo SEM autorização ou solicitação da autoridade competente. 
Ex. Funcionário público do INSS resolve modificar o programa de informática da repartição pública e muda o programa Windows para o programa Linux de alguns dos computadores, agindo sem autorização ou solicitação da autoridade competente. 
Ex. A empresa pública possui vários computadores interligados de uma forma, mas o funcionário SEM autorização da autoridade competente resolve modificar a organização dos computadores, modificando a forma como eles se comunicam. 
b) Bem jurídico e Objeto Jurídico.
- O bem jurídico tutelado é a administração pública. 
- O objeto material do crime é o sistema o sistema de informação (sistema que manipula informações por meio de uso de banco de dados em um computador) ou programa de informática (é o software que o computador usa, também chamado de sistema operacional, como o Windows, ou o Linux). 
OBS: O que se protege neste crime é o próprio sistema de informação ou programa de informática, o próprio programa em si mesmo. Já no crime do Art. 313-A o sujeito não chega a alterar o programa em si, e sim insere ou facilita a inserção de dados falsos ou altera ou exclui dados corretos em um sistema informatizado ou banco de dados. 
c) Tipo Subjetivo. 
- Estecrime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA. Além disso, observe que o sujeito deve agir SEM autorização ou solicitação da autoridade competente. 
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre quando o funcionário público, efetivamente, modifica ou altera sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação da autoridade competente.
- A tentativa é possível, já que se pode fracionar o inter crimines, desde que o crime não chegue à consumação por circunstancias alheias a vontade do agente. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- O sujeito ativo do crime é o funcionário público. Observe que para este crime, diferentemente do crime previsto no Art. 313-A (peculato eletrônico), NÃO se exige que o sujeito seja funcionário público autorizado, basta apenas que ele seja simplesmente funcionário público. O sujeito passivo do crime é o Estado, lesado no seu patrimônio, bem como a pessoa física ou jurídica diretamente prejudicada com a conduta praticada pelo sujeito ativo do crime. 
OBS: Para o crime de modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações (Art. 313-B do CP) existe uma causa de aumento de pena de um terço (1/3) até a metade (1/2) se a modificação ou alteração resultar dano para a Administração Pública ou para o Administrado. Tenha Atenção ! a esta causa de aumento de pena, pois as provas da FCC costumam perguntar quando é possível haver aumento da pena em alguns crimes. 
1.2.5 Emprego irregular de verbas ou rendas públicas (Art. 315 CP).
a) Tipo Objetivo.
- Ele está no Art. 315 do CP, e ocorre que prevê como conduta criminosa “Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei.”
- Veja que a ação do funcionário público é a de dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei, ou seja, o sujeito dá uma destinação irregular da prevista em lei. Ressalta-se que este desvio da destinação das verbas ou rendas se dá pelo funcionário público para o próprio Estado, vindo o agente a infringir o que está disposto na lei. Assim, existirá uma lei (lei em sentido estrito, ou seja, aquela editada pelo Poder Legislativo, como Lei Ordinária e Lei Complementar, além da própria Constituição Federal) que irá dispor sobre a destinação das verbas ou rendas públicas e o funcionário não irá obedecê-la. Observe que o Art. 315 do CP visa impedir o emprego arbitrário das verbas e rendas públicas, o que traria um caos para a Administração Pública.
Ex. Existe uma determinada verba que é destinada a Saúde estando prevista na lei esta finalidade, entretanto, o funcionário público resolve destinar tal verba para a Educação, vindo a infringir a lei e empregando irregularmente tal verba. 
OBS: Se o funcionário público desvia em proveito próprio ou alheio, valor, de que tem a posse em razão do cargo, cometerá o crime de peculato desvio, que está previsto no Art. 312, caput, 2ª Parte, do CP. Assim deve o candidato ter atenção para NÃO confundir os dois crimes. 
b) Bem jurídico e Objeto Jurídico.
- O bem jurídico tutelado é a administração pública. 
- O objeto material do crime são as verbas públicas (são dinheiros especificamente destinados pela lei orçamentária a este ou aquele serviço público ou fim de utilidade pública) ou rendas públicas (são todos os dinheiros percebidos pela Fazenda Pública ou a esta pertencente). 
c) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA. 
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre quando o funcionário público, efetivamente, dá às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei.
- A tentativa é possível, já que se pode fracionar o inter crimines, desde que o crime não chegue à consumação por circunstancias alheias a vontade do agente. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- O sujeito ativo do crime é o funcionário público, devendo este ter o poder de gerir, administrar, as verbas ou rendas públicas, sendo, portanto, o responsável pelo seu emprego nos moldes determinados pela lei, Ex. Ministros de Estado, secretários de estado. O sujeito passivo do crime é o Estado, lesado no seu patrimônio, bem como a pessoa física ou jurídica diretamente prejudicada com a conduta praticada pelo sujeito ativo do crime.
OBS: Com relação aos Prefeitos, se ele desviar, ou aplicar indevidamente, rendas ou verbas públicas será aplicado o Decreto-Lei n. 201, de 27 de fevereiro de 1967, que regula especificamente a matéria, mais precisamente no Art. 1º, III, deste decreto lei.
1.2.6 Concussão (Art. 316 CP) 
a) Tipo Objetivo.
- Ele está no Art. 316 do CP e ocorre quando o funcionário público “Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:”
- Veja que a ação do funcionário público é a de exigir vantagem indevida, ou seja, o sujeito impõe, ordena, determina, que a vítima lhe entregue uma vantagem indevida. Ou seja, o agente utiliza a sua autoridade como meio de coação, ficando a vítima intimidada, com temor de represálias, imediatas ou futuras. Vale ressaltar, entretanto, a coação do funcionário público é SEM violência ou grave ameaça (se houver o emprego de violência ou grave ameaça o crime será outro, como roubo ou extorsão) A exigência do funcionário público pode ser formulada diretamente (na presença da vítima) ou indiretamente (por meio de outra pessoa). Além disso, observe que a exigência da vantagem indevida pode ser para o próprio funcionário público ou para outrem. Por fim, a exigência pode ser feita ainda que fora da função (Ex. sujeito está de licença, de férias), ou antes de assumi-las (Ex. sujeito foi nomeado mas ainda não tomou posse no cargo), mas SEMPRE em razão dela. 
Ex. Delegado de polícia exige para não instaurar inquérito policial contra o assaltante que este lhe entregue mil reais. 
Ex. Comete o crime de concussão o médico de hospital público que exige de paciente, em razão de sua função, dinheiro para viabilizar o atendimento pelo SUS. (Atenção ! Este exemplo já caiu em provas da FCC !!!) 
Ex. Promotor de justiça que está de férias, mas encontra uma pessoa que poderá ser denunciado por ele, e ordenou que o sujeito pagasse a quantia de 10 mil reais para que não fosse denunciado. Nesta caso, o promotor exigiu vantagem indevida fora da função, mas em razão dela.
Ex. Policial rodoviário para condutor de veículo e fala que o sujeito somente vai ser liberado se lhe entregar o relógio. Neste caso houve exigência de vantagem indevida. 
b) Bem jurídico e Objeto Jurídico.
- O bem jurídico tutelado é a administração pública. 
- O objeto material do crime é vantagem indevida, ou seja, deve ser uma vantagem ilícita, não autorizada por lei. Para a maioria da doutrina pode ser qualquer tipo de vantagem, podendo ser de ordem patrimonial, ou não (ex. vantagem sexual). 
c) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA. 
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre no momento em que o funcionário público exige a vantagem indevida, e como se trata de um crime formal, o recebimento da vantagem indevida NÃO é essencial para a consumação do crime, ou seja, basta haver a exigência da vantagem indevida que o crime restará consumado, independentemente do efetivo recebimento da vantagem indevida. Eventual recebimento desta será considerado mero exaurimento do crime. 
- Para a maioria da doutrina como se trata de um crime formal NÃO é possível a tentativa. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- O sujeito ativo do crime é o funcionário público. O sujeito passivo do crime é o Estado, lesado no seu patrimônio, bem como a pessoa física ou jurídica diretamente prejudicada com a conduta praticada pelo sujeito ativo do crime.
OBS: Se sujeito ativo for funcionário público e exigir para si vantagem indevida COM violência ou grave ameaça e tais violências NÃO estiverem relacionadas ao exercício da função pública do agente ele NÃO cometerá o crime de concussão,e sim o crime de extorsão. 
Ex. Fiscal da Prefeitura que aponta um revólver para o camelô e exige que este assine um cheque em branco. Como se percebe, a grave ameaça NÃO teve nenhuma relação com o exercício da função do funcionário público. Neste caso configura-se o crime de extorsão. 
1.2.7 Excesso de Exação (Art. 316, § 1º, CP) 
a) Tipo Objetivo.
 - É uma espécie de concussão, ele está no Art. 316, § 1º, do CP e ocorre – “Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza”.
- Veja que a ação do funcionário público é a de exigir (impor, ordenar, determinar, coagir a vítima utilizando de sua autoridade como funcionário público) tributo ou contribuição social (ou seja é uma espécie de concussão mais específica) que sabe ou deveria saber indevido. Como se percebe nestas ações, ao contrário do que ocorre com a concussão do caput do Art. 316 do CP, o funcionário NÃO almeja, para si ou para outrem qualquer vantagem indevida, mas sim, recolher aos cofres públicos tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevida. Observe ainda que na primeira situação o sujeito sabe que o tributo ou contribuição social é indevido, ou seja, o agente tem a certeza absoluta de que a sua exigência é indevida. Já na segunda situação o agente deveria saber que o tributo ou contribuição social são indevidos, isto é, o agente tem dúvidas quanto a sua exigência, mas não se importa se estiver errado, o que demonstra agir com dolo eventual. 
Ex. Um auditor fiscal da fazenda estadual sabe que é indevido cobrar IPTU já que este é um tributo municipal do contribuinte e o funcionário público não tem competência para tanto efetuar a cobrança, entretanto exige que o contribuinte pague o tributo. 
- Existe também outra ação no mesmo artigo, que também é considerado excesso de exação e ocorre quando o tributo ou contribuição social são devidos, entretanto o funcionário público emprega na cobrança meio vexatório (utiliza meios constrangedores, humilhantes, que atingem a dignidade da pessoa) ou gravoso (é um meio que importe maiores despesas para o contribuinte), que a lei não autoriza. Ou seja, o funcionário público. Nessa hipótese também o funcionário NÃO almeja, para si ou para outrem qualquer vantagem indevida, mas sim, recolher aos cofres públicos tributo ou contribuição social que sabe devido. 
Ex. Certo contribuinte não pagou o IPVA do seu veículo tributo estadual, indignado com esta situação o auditor da receita estadual colocou uma faixa enorme na frente da casa do contribuinte informado que este estava dando um calote nos cofres públicos e deveria ter vergonha na cara e pagar o tributo. Neste caso o tributo era devido, entretanto, o funcionário público empregou na cobrança meio vexatório e gravoso que a lei não autoriza. 
OBS: Modalidade qualificada de Excesso de Exação – como prevê o Art. 316 § 2º do CP - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. – Ou seja, se o funcionário público ao invés de recolher aos cofres públicos o que recebeu indevidamente, desviar em proveito próprio ou alheio, a pena base do crime será mais grave, razão pela qual é uma modalidade qualificada de excesso de exação. 
b) Bem jurídico e Objeto Jurídico.
- O bem jurídico tutelado é a administração pública. 
- O objeto material do crime é o tributo (imposto, taxa ou contribuição de melhoria) ou contribuição social.
c) Tipo Subjetivo. 
- Este crime para a maioria da doutrina pode ser praticado na forma DOLOSA, sendo que quando o agente sabe que o tributo ou contribuição social é indevido haveria dolo direto, já quando o agente devia saber, haveria dolo eventual.
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação quanto a primeira ação ocorre no momento em que o funcionário público exige o tributo ou contribuição social indevidos, e como se trata de um crime formal, o recebimento do tributo ou contribuição social indevidos NÃO é essencial para a consumação do crime, mesmo que o agente não os receba já estará consumado o crime. Já quanto a segunda ação a consumação ocorrerá no exato momento que o funcionário público empregar meio vexatório ou gravoso de tributo ou contribuição social que é devido e como se trata de um crime formal, a consumação se dará independentemente do efetivo recebimento do tributo ou contribuição social devidos. 
- Para a maioria da doutrina como se trata de um crime formal NÃO é possível a tentativa. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- O sujeito ativo do crime é o funcionário público. O sujeito passivo do crime é o Estado, lesado no seu patrimônio, bem como a pessoa física ou jurídica diretamente prejudicada com a conduta praticada pelo sujeito ativo do crime.
1.2.8 Corrupção Passiva (Art. 317 CP) 
Corrupção Passiva Simples – Art. 317 caput, CP.
a) Tipo Objetivo.
- Ele está no Art. 317 caput do CP e ocorre quando o funcionário público “solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem.”
- Veja que as ações do funcionário público é a de solicitar (pedir, manifestar que deseja algo SEM coagir a vítima) vantagem indevida, ou seja, nesta ação é o próprio funcionário público que toma a iniciativa. Pode o funcionário público também receber (aceitar uma oferta de outra pessoa) vantagem indevida, ou seja, nesta ação o funcionário público recebe uma proposta por parte de terceiros, um particular que oferece vantagem indevida (o particular cometerá o crime de corrupção ativa – Art. 333 CP). Pode, ainda, o funcionário público aceitar a promessa de receber vantagem indevida, nesta ação há uma promessa de vantagem indevida por parte de um terceiro, um particular que faz uma promessa de vantagem indevida futura (o particular cometerá o crime de corrupção ativa – Art. 333 CP). Observe, também, que, todas estas ações do funcionário público com a finalidade de receber vantagem indevida, podem ser para si (o próprio funcionário público) ou para outrem (terceira pessoa, Ex. a familiar do funcionário público) e podem ser praticadas diretamente (o próprio agente é que solicita ou recebe a vantagem indevida) ou indiretamente (o funcionário público solicita ou recebe a vantagem indevida por meio de outra pessoa). Além disso, as ações do funcionário público podem ocorrer ainda que fora da função (Ex. sujeito está de licença, de férias), ou antes de assumi-las (Ex. sujeito foi nomeado mas ainda não tomou posse no cargo), mas SEMPRE em razão dela, ou seja, deve existir um nexo entre a vantagem solicitada ou aceita e a atividade exercida pelo corrupto. 
Ex. Policial Rodoviário solicita dinheiro a um particular porque está chegando o final do ano e a corporação policial está com muitas despesas. 
Ex. Juiz solicita dinheiro a advogado para poder acelerar o andamento do processo. 
OBS: Corrupção Passiva X Concussão.
NÃO confunda o crime de corrupção passiva com o crime de concussão, no crime corrupção passiva, em sua primeira ação existe o verbo solicitar, ou seja, o funcionário público pede vantagem indevida e a vítima cede ao pedido de forma livre e espontânea. Já na concussão, ao contrário, o funcionário público exige vantagem indevida, isto é, coage a vítima para que esta lhe entregue uma vantagem indevida, tendo a vítima cedido ao pedido por temer represálias, a vítima tem receio de que o funcionário público possa lhe fazer algum mal. 
b) Bem jurídico e Objeto Jurídico.
- O bem jurídico tutelado é a administração pública. 
- O objeto material do crime é vantagem indevida, ou seja, deve ser uma vantagem ilícita, não autorizada por lei. Para a maioria da doutrina pode ser qualquer tipo de vantagem, podendo ser de ordem patrimonial, ou não (ex. vantagem sexual). 
OBS: Adoutrina classifica a corrupção passiva como própria a corrupção que tiver por finalidade a realização de ato injusto e como imprópria a corrupção que visa a prática de ato legítimo, ressalvando-se que em ambos os casos há vantagem indevida envolvida. 
c) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA. 
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre em momentos distintos a depender da ação praticada pelo agente, ocorrerá a consumação no exato momento em que o agente solicitar ou aceitar promessa de vantagem, tendo em vista que nestes casos o crime é de natureza formal, vindo o crime a se consumar independentemente do efetivo recebimento da vantagem indevida. Entretanto, o ocorrerá a consumação no exato momento em que o agente receber vantagem indevida, pois neste caso o crime é de natureza material, exigindo-se o efetivo recebimento da vantagem indevida para que venha a se consumar. 
 - Para a maioria da doutrina quando a corrupção passiva é praticada mediante as ações de solicitar ou aceitar promessa de vantagem como se trata de um crime formal NÃO é possível a tentativa. Entretanto, se for praticado mediante a ação de receber vantagem indevida, como é crime material, caberia a tentativa por poder ser fracionado o inter crimine. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- O sujeito ativo do crime é o funcionário público. O sujeito passivo do crime é o Estado, lesado no seu patrimônio, bem como a pessoa física ou jurídica diretamente prejudicada com a conduta praticada pelo sujeito ativo do crime.
Corrupção Passiva com causa de aumento de pena – Art. 317, § 1º, CP.
- O Código Penal prevê a seguinte causa de aumento de pena para a corrupção passiva: “Art. 317, § 1º A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.” Ou seja, se o funcionário público cumprir com o que foi ajustado com o particular haverá um aumento de pena, pois será uma conduta mais grave do funcionário, este no caso, poderá: retardar a prática do ato de ofício (desrespeitar o prazo para sua execução); deixar de praticar ato de ofício (abster-se de praticar o ato); ou praticar ato infringindo dever funcional (a ação é contrária a seu dever de ofício).
Ex. Oficial de justiça que retarda a penhora de bem de devedor porque solicitou dinheiro. Neste caso o funcionário público comete corrupção passiva com causa de aumento de pena, pois retardou a prática de ato de ofício.
Ex. Fiscal de transito que não multou condutor de automóvel porque recebeu dinheiro do particular. Neste caso o funcionário público comete corrupção passiva com causa de aumento de pena, pois deixou de praticar ato de ofício.
Ex. Fiscal de transito que solicitou dinheiro de condutor de automóvel, pois caso contrário ele inventaria que o condutor estava com algum problema no veículo e aplicaria uma multa comete corrupção passiva com causa de aumento de pena, pois praticou ato infringindo dever funcional.
OBS: Fique ligado nesta causa de aumento de pena e na fração de aumento (1/3), pois é frequente sua pergunta em provas. 
Corrupção Passiva Privilegiada – Art. 317, § 2º, CP.
- O Código Penal prevê no Art. 317, § 2º, que: “Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.” Neste caso temos uma hipótese de corrupção passiva privilegiada, tendo em vista que a sua pena é mais baixa. Esta modalidade de corrupção passiva é uma conduta de menor gravidade, tendo em vista que, diferentemente da corrupção passiva simples e da corrupção passiva com causa de aumento de pena, ela NÃO há o recebimento de vantagem indevida, o que há que o funcionário público deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem, ou seja, o funcionário satisfaz interesse de terceiro (cede a pedido de outra pessoa, que pode ser inclusive outro funcionário público) ou agrada pessoas influentes.
Ex. Delegado de polícia deixa de instaurar inquérito policial porque quem estava sendo investigado era o filho de um desembargador, pessoa muito influente na cidade. Neste caso há corrupção passiva privilegiada, tendo em vista que NÃO houve o recebimento de vantagem indevida e o funcionário deixou de praticar ato de ofício com infração do dever funcional cedendo a influencia de terceiro. 
Ex. Policial militar deixa de prender em flagrante um criminoso por pedido da mãe deste, pois ela aos prantos implorou para que seu filho fosse preso. Neste caso há corrupção passiva privilegiada, tendo em vista que o funcionário deixa de praticar ato de ofício com infração do dever funcional cedendo a pedido de terceiro. 
OBS: No caso concreto se o particular apenas pedir para que o funcionário público não pratica um ato de ofício, SEM oferecer ou prometer qualquer tipo de vantagem indevida, o particular NÃO cometerá crime algum, pois a sua conduta não se enquadra em nenhum crime. 
Ex. Particular implora para que oficial de justiça não proceda a penhora e avaliação de seus bens, pois ele está com muitas dívidas e tem muitos filhos para alimentar. Neste caso o particular não pratica nenhum crime, tendo em vista que não ofereceu ou prometeu vantagem indevida para o funcionário público. 
1.2.9 Facilitação de contrabando ou descaminho (Art. 318 CP). 
a) Tipo Objetivo.
- Ele está no Art. 318 do CP e ocorre quando o funcionário público “Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334).”
- Veja que as ações do funcionário público é a de facilitar (tornar fácil, removendo, afastando as dificuldades, seja fazendo ou, mesmo, deixando de fazer alguma coisa a que estava obrigado) com infração do dever funcional (o funcionário tinha o dever de evitar o contrabando ou descaminho e infringe este dever funcional), a prática de contrabando (é toda entrada ou saída do território nacional de mercadoria cuja importação ou exportação for, totalmente ou parcialmente, proibida,) ou descaminho (é toda fraude empregada pra iludir, total ou parcialmente, o pagamento de impostos importação, exportação ou consumo).
Ex. Fiscal da alfândega que permite que pessoa passe por outro lugar que não tem fiscalização para que não pague importo de importação de mercadoria. Neste caso houve a facilitação de descaminho. 
b) Bem jurídico e Objeto Jurídico.
- O bem jurídico tutelado é a administração pública. 
- O objeto material do crime é evitar a prática do contrabando ou descaminho.
c) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA. 
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre no exato momento em que o funcionário público, de alguma forma, facilita a prática de contrabando ou descaminho, entendendo a doutrina que trata-se de crime formal, ou seja, basta que o funcionário público tenha facilitado a prática do crime de contrabando ou descaminho para que haja o crime, mesmo que a mercadoria proibida não chegue a entrar ou sair do nosso território. 
- A tentativa é possível, já que se pode fracionar o inter crimines, desde que o crime não chegue à consumação por circunstancias alheias a vontade do agente. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- O sujeito ativo do crime somente o funcionário público a quem compete o dever funcional de impedir o contrabando ou descaminho. O sujeito passivo do crime é o Estado.
OBS: A competência deste crime é sempre da Justiça Federal, ainda que o funcionário público seja da justiça estadual. Existindo, inclusive, a Súmula 151 do STJ – “A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens.”
1.2.10 Prevaricação (Art. 319 CP) 
a) Tipo Objetivo.
- Ele está no Art. 319 do CP e ocorre quando ofuncionário público “retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”.
- Veja que as ações do funcionário público são as de retardar (é atrasar, adiar, não praticar o ato de ofício dentro do prazo estabelecido. Nesta ação o funcionário pratica o ato, mas demora para sua realização) ou deixar de praticar (é uma modalidade omissiva própria, há uma abstenção do funcionário público que não pratica um ato de ofício), indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei ( o funcionário público executa um ato de forma contrária ao que a lei determina), para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Observe que quando o sujeito retarda ou deixa de praticar ato de ofício deve fazer de forma indevida (forma injusta, ilegal). Por sua vez quando o funcionário pratica ato de ofício contra disposição expressa de lei deve existir uma lei que expressamente deve a prática do ato, mas o funcionário público, mesmo assim, pratica ato contrário. Em todas estas ações o funcionário público visa satisfazer interesse ou sentimento pessoal. 
Ex. Policial atrasa o cumprimento do mandado de prisão do criminoso porque viu que este estava ferido e muito debilitado em sua saúde, ficando com pena da situação do sujeito, razão pela qual somente cumpriu o mandado de prisão quando o sujeito ficou curado. Neste caso cometeu prevaricação, pois retardou a prática de ato de ofício para satisfazer sentimento pessoal.
Ex. Fiscal de transito que deixa de multar condutor de veículo automotor porque viu que ele era uma pessoa muito humilde e não teria condições de pagar uma eventual multa. Neste caso cometeu prevaricação, pois deixou de praticar ato de ofício para satisfazer sentimento pessoal. 
Ex. Policial que não prende sujeito em flagrante delito porque ficou com pena do sujeito que era uma pessoa abandonada pela família. Neste caso cometeu prevaricação, pois praticou ato de ofício contra disposição expressa de lei (CPP ordena que os policiais tem o dever de efetuar prisões em flagrante delito). 
b) Bem jurídico e Objeto Jurídico.
- O bem jurídico tutelado é a administração pública. 
- O objeto material do crime é o ato de ofício, que nada mais é que todo ato que se encontra na esfera de atribuição do agente que pratica qualquer das ações criminosas. Ou seja, o funcionário público deve ser competente para praticar o ato. 
d) Consumação e tentativa. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA. Entretanto, o próprio crime exige uma finalidade especial, deve o funcionário público praticar as ações criminosas para satisfazer interesse pessoal (é alguma vantagem que o funcionário público terá que NÃO pode ser de natureza patrimonial, sob pena de haver o cometimento do crime de concussão ou corrupção passiva, Ex. Funcionário público deixa de praticar ato de ofício por entender que estaria fazendo justiça) OU também pode o funcionário público praticar as ações criminosas para satisfazer sentimento pessoal (são os mais variados motivos, como o ódio, a inveja, o amor, a amizade, etc.).
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre no exato momento em que o funcionário público, retarda ou deixa de praticar o ato de ofício ou pratica contra expressa disposição de lei.
- A tentativa é possível, nas ações em que se pode fracionar o inter crimines (quando o sujeito retarda ato de ofício ou pratica ato de ofício contra expressa disposição legal) desde que o crime não chegue à consumação por circunstancias alheias a vontade do agente. Na modalidade deixar de praticar ato de ofício, como é um crime omissivo próprio, NÃO é admitida a tentativa. 
e) Sujeito Ativo e Passivo.
- O sujeito ativo do crime é o funcionário público. O sujeito passivo do crime é o Estado, lesado no seu patrimônio, bem como a pessoa física ou jurídica diretamente prejudicada com a conduta praticada pelo sujeito ativo do crime.
OBS: Se ligue nas seguintes distinções:
1ª) Prevaricação X Corrupção Passiva – na prevaricação, o funcionário público retarda ou deixa de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou pratica-o contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal, ou seja, a iniciativa parte do próprio funcionário público e o sujeito NÃO é movido pelo interesse de receber qualquer vantagem indevida por parte de terceiro, NÃO havendo qualquer intervenção alheia. Por sua vez, na corrupção passiva o funcionário público recebe para si ou aceita promessa de vantagem indevida, ou seja, há um oferecimento ou promessa de vantagem indevida por parte de um terceiro ao funcionário público, assim há uma postura ativa deste terceiro. 
2ª) Prevaricação X Corrupção Passiva Privilegiada – na corrupção passiva privilegiada o agente pratica, deixa de praticar ou retarda ato de oficio com infração do dever funcional, atendendo a pedido ou influencia de outrem, mas SEM o oferecimento de qualquer vantagem indevida. Por sua vez na prevaricação NÃO há o pedido ou influencia de outrem, pois o agente é movido por interesse ou sentimento pessoal.
 1.2.11Prevaricação Imprópria (Art. 319-A do CP).
a) Tipo Objetivo.
- Ele está no Art. 319-A do CP e ocorre quando “Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo”.
- Veja que a conduta do Diretor de Penitenciária e/ou agente público é a de deixar (modalidade omissiva própria, pois o sujeito não age quando deveria fazê-lo, praticando uma abstenção) de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar(qualquer outro aparelho que permita comunicação), ou seja, há o acesso indevido de tais aparelhos, sendo uma comunicação NÃO permitida. Além disso, tais aparelhos devem permitir a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo, ou seja, se o aparelho não estiver funcionando, tornando inviável a comunicação seja com outros presos ou externa, NÃO haverá a configuração do crime em análise. 
Ex. Diretor de Penitenciário deixa de cumprir o seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho de telefone celular, pois não fez a revista na pessoa que ia visitar o preso. 
b) Bem jurídico e Objeto Jurídico.
- O bem jurídico tutelado é a administração pública. 
 - O objeto material do crime é o aparelho telefônico, de rádio ou similar, ou seja quando a norma prevê aparelho simular está se referindo a qualquer outro tipo de aparelho que permita a comunicação externa ou com outros presos. 
c) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA.
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre no exato momento em que o funcionário público deixar de cumprir o seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou simular. 
- A tentativa NÃO é possível, tendo em vista que como se trata de crime omissivo próprio o crime irá se consumar independentemente da ocorrência de um resultado naturalístico, havendo a consumação do crime com o ato omissivo do agente, sua abstenção.
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- O sujeito ativo do crime é o Diretor de Penitenciária e/ou agente público que tenham o dever legal de vedar o acesso de aparelho telefônico, radio ou simular ao preso. O sujeito passivo do crime é o Estado
1.2.12 Condescendência criminosa (Art. 320 CP) 
a) Tipo Objetivo.
- Ele está no Art. 320 do CP e ocorre quando “Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente”.
- Veja que a conduta do funcionário público pode ser dar de duas formas. A primeira forma ocorre quando o funcionário público, por indulgência (espírito de tolerância, complacência), deixar de responsabilizar subordinado que cometeuinfração no exercício do cargo, ou seja, a conduta é omissiva própria, praticando o sujeito uma abstenção. Além disso, o funcionário público deixa de responsabilizar subordinado, ou seja, há uma relação hierárquica, onde o funcionário público, em razão de sua função, NÃO poderia ter ficado parado, já que é superior hierarquicamente ao subordinado. Além disso, o subordinado deve estar no exercício do cargo, ou seja, está exercendo regularmente as suas funções. 
- Por outro lado, a segunda forma de condescendência criminosa, ocorre quando faltar competência ao funcionário público (o funcionário público não tem atribuição legal para apurar os fatos e sancionar o subordinado) e ele, por indulgência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente, ou seja, o funcionário público comete uma conduta omissiva própria e não leva ao conhecimento da autoridade competente o cometimento de alguma infração por parte de funcionário subordinado. Perceba que nas duas formas de condescendência é pressuposto do delito que haja anteriormente a prática de infração por parte de um funcionário subordinado, esta infração pode ser tanto infrações disciplinares no âmbito administrativo quanto o cometimento de crime, lembrando-se que a infração deve estar ligada ao exercício do cargo do subordinado. 
Ex. Diretor de uma Autarquia Federal percebe que um subordinado seu, e que ele tem o dever de responsabilizá-lo, está cometendo o crime de peculato apropriação, tendo em vista que o subordinado se apropriou de carro que tinha a posse em razão do cargo, agindo como se dono fosse do bem, entretanto tolera tal situação (é indulgente) e não responsabiliza o subordinado.
Ex. Chefe de departamento de uma Empresa Pública percebe que um subordinado seu, que ele NÃO tem o dever de responsabilizar, está cometendo crimes de corrupção passiva, mesmo assim, tolera tal situação e não leva o fato ao conhecimento da autoridade competente. 
b) Bem jurídico e Objeto Jurídico.
- O bem jurídico tutelado é a administração pública. 
- A doutrina informa que NÃO existe objeto material do crime em análise.
c) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA. Lembrando que nas duas formas de condescendência criminosa o funcionário público é movido pelo sentimento de indulgência (tolerância, complacência, brandura).
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre no exato momento em que o funcionário público por indulgência deixar de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo, ou faltando competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente 
- A tentativa NÃO é possível, tendo em vista que como se trata de crime omissivo próprio o crime irá se consumar independentemente da ocorrência de um resultado naturalístico, havendo a consumação do crime com o ato omissivo do agente, sua abstenção.
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- O sujeito ativo do crime é o funcionário público. O sujeito passivo do crime é o Estado.
1.2.13 Advocacia administrativa (Art. 321 do CP) 
Advocacia administrativa Simples – Art. 321 caput, CP.
a) Tipo Objetivo.
- Ele está no Art. 320 do CP e ocorre quando o funcionário público: “Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário”.
- Veja que as ação do funcionário público é a de patrocinar (defender, advogar, favorecer) interesse privado perante a administração pública, ou seja, o funcionário público defende junto a companheiros ou superiores hierárquicos um interesse particular alheio. O patrocínio pode ocorrer diretamente (sem intermediários, é o próprio funcionário público que atua, ex. funcionário emite um documento a um colega e solicita o atendimento de um benefício que vai favorecer outrem) ou indiretamente (terceira pessoa – “testa de ferro” - encarrega-se de entrar em contato com a Administração sob as orientações do funcionário público). Além disso, é necessário que o funcionário exerça o patrocínio valendo-se da qualidade de funcionário público, isto é, aproveita-se das facilidades que sua qualidade de funcionário público lhe proporciona. Cumpre esclarecer que o interesse particular alheio pode ser lícito ou ilícito, havendo a configuração do crime nos dois casos. 
Ex. Desembargador de um Tribunal de justiça pede para que seja julgado primeiro um processo de seu amigo que está na 1ª Vara Civil de uma cidade e então liga para um funcionário desta vara. O desembargador responderá pelo crime de Advocacia Administrativa.
b) Bem jurídico e Objeto Material.
- O bem jurídico tutelado é a administração pública. 
- A doutrina informa que NÃO existe objeto material do crime em análise.
c) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA.
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação ocorre com a prática de qualquer ato que importe patrocínio de interesse privado perante a administração pública. 
- A tentativa pela maioria da doutrina é admitida. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- O sujeito ativo do crime é o funcionário público. O sujeito passivo do crime é o Estado, lesado no seu patrimônio, bem como a pessoa física ou jurídica diretamente prejudicada com a conduta praticada pelo sujeito ativo do crime.
Advocacia administrativa Qualificada – Art. 321,parágrafo único, CP.
- Se o interesse particular alheio patrocinado pelo funcionário público for ilegítimo(ilícito) a sua conduta será mais censurável, razão pela qual o crime tem uma pena base maior, pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.
OBS 1: Se ligue nas seguintes distinções:
1ª) Advocacia Administrativa x Corrupção Passiva Privilegiada – em ambos NÃO há vantagem patrimonial envolvida, ocorre que na advocacia administrativa o funcionário público patrocina interesse particular alheio perante a administração valendo-se da qualidade de funcionário. Por sua vez se um funcionário público ceder ao pedido ou influência daquele que patrocina interesse privado perante a administração pública cometerá o crime de corrupção passiva privilegiada. 
2ª) Advocacia administrativa X Prevaricação – na advocacia administrativa, o agente público, NÃO tendo atribuição para praticar determinado ato de ofício, influencia o servidor dotado de competência para tanto, em benefício de outrem. Já na prevaricação o funcionário público TEM atribuição para praticar ato de ofício, MAS retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou o pratica contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal.
3º) Advocacia Administrativa X Corrupção passiva – na corrupção passiva o funcionário público solicita ou recebe vantagem indevida para praticar ato irregular ou deixá-lo de praticar. Por sua vez na advocacia administrativa o funcionário público defende interesses privados perante quem detém competência para beneficiá-lo, mas NÃO há vantagem econômica indevida.
4º) Advocacia Administrativa x Concussão – na advocacia administrativa o funcionário público usa sua influência sobre o agente que tem competência para praticar certo ato, patrocinando interesse privado de outrem perante a administração pública. Por sua vez na concussão há e exigência de vantagem indevida pelo próprio funcionário público. 
OBS 2: Cuidado com o princípio da especialidade !
1º) Haverá crime funcional contra a ordem tributária se o funcionário publico patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração fazendária, valendo-se da qualidade de funcionário público, nos exatos termos do Art. 3º, III, da Lei 8.137/1990. 
2º) Haverá crime previsto na Lei de Licitações se o funcionário público patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a Administração, dando causa à instauração de licitação ou à celebração de contrato, cuja invalidação vier a ser decretada pelo Poder Judiciário, nos exatos termos do Art. 91 da Lei 8.666/1993. 
1.2.14 Abandono de função (Art.323 CP).
Abandono de função Simples (Art. 323, caput, CP)
a) Tipo Objetivo.
- Ele está no Art. 325 do CP e ocorre quando o funcionário público: “Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.”
- Veja que a conduta do funcionário público é a de abandonar (deixar, largar, ou seja, será caracterizado o abandono pelo mero afastamento do funcionário ou quando ele não se apresenta no momento devido) cargo público (entende a doutrina que somente o ocupante de cargo público é que poderá ser sujeito ativo do presente crime, NÃO podendo cometer este crime o ocupante de emprego público ou de função pública, por falta de previsão legal), fora dos casos permitidos em lei (logicamente o ocupante de cargo público não cometerá o crime em análise se a lei permitir o seu abandono, como nos casos de deferimento de aposentadoria ou exoneração. Entretanto, nos casos de pedidos de aposentadoria ou exoneração, somente desobriga-se o ocupante de cargo público de dar continuidade às funções inerentes ao seu cargo quando o pedido for, definitivamente, deferido, com a necessária publicação do ato, pois, do contrário, poderá ser responsabilizado pelo crime em análise).
- Ressalta a doutrina que, visando não deixar paralisada a máquina administrativa, pune o legislador a conduta daquele que deixa o cargo público por tempo juridicamente relevante, de forma a acarretar probabilidade de dano à Administração. Além disso, Rogério Greco defende que o crime em apreço é de perigo concreto já que o abandono do cargo deve, efetivamente, criar uma situação de risco para a Administração Pública, impossibilitando, ou, pelo menos, dificultando, por exemplo, a realização dos serviços a ela acometidos. 
b) Bem jurídico e Objeto Material.
- A Administração Pública é o bem juridicamente protegido pelo tipo penal que prevê o crime de abandono de função. Visa-se proteger a regularidade e a normalidade do desempenho do cargo público, o qual é afetado com a descontinuidade do exercício da atividade pública. 
- A doutrina informa que NÃO há objeto material.
c) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE pode ser praticado na forma DOLOSA, consistente na vontade do agente de abandonar o cargo, interrompendo o serviço desempenhado, sabendo da possibilidade de dano que seu ato arbitrário poderá acarretar ao interesse público.
- NÃO se pune a forma CULPOSA, desta forma, a mera negligência no cumprimento da funções do cargo é um indiferente penal, podendo configurar, eventualmente, uma falta administrativa. 
d) Consumação e tentativa. 
- A consumação do crime o ocorre quando o abandono cria, efetivamente, um perigo de dano. Esse abandono, portanto, deverá ser por tempo suficiente, a ponto de gerar essa situação concreta. 
- Na hipótese de não ter havido qualquer perigo de dano à Administração Pública, o fato deverá ser resolvido na própria esfera administrativa, com aplicações de sanções disciplinares que forem pertinentes ao caso. 
- Por se tratar de crime omissivo próprio NÃO é possível haver a tentativa, tendo em vista que a execução do crime não permite fracionamento, ou o agente pratica uma conduta negativa, uma abstenção e consuma o crime ao abandonar a função e gerar perigo de dano à administração pública, ou simplesmente não abandona a função e não pratica crime algum. 
e) Sujeito Ativo e Passivo. 
- O sujeito ativo do crime somente pode ser o funcionário ocupante de cargo público, NÃO prevalecendo o conceito amplo de funcionário público previsto no Art. 327 do Código Penal. Trata-se de crime próprio quando ao sujeito ativo. 
- O sujeito passivo é a Administração Pública, sendo esta a real prejudicada co a interrupção de seu funcionamento. 
Abandono de função Qualificado (Art. 323, § 1º e § 2º, CP).
- Nos exatos termos do Art. 323, § 1º, do Código Penal, se do fato resulta prejuízo público a pena será de detenção, de três meses a um ano, e multa. Para parte da doutrina o prejuízo que a lei afirma é o prejuízo social ou coletivo, devendo ser um prejuízo diverso do que é inerente à violação do dever de ofício ou serviço, pois, se assim não fosse, toda hipótese delituosa seria agravada. Ex. Não arrecadação de impostos, falta d’água à população, paralisação do serviço postal. 
- Por sua vez, nos termos do Art. 323, § 2º, do Código Penal, se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira a pena do crime será de detenção, de um a três anos, e multa. O abandono do cargo em órgão público situado na faixa de fronteira gera a incidência da referida qualificadora, tendo em vista que por imperativos de segurança nacional, exige o interesse coletivo que as atividades públicas na região sejam prestadas de forma continuada, sem interrupção, sendo justificado o aumento da pena inicial do crime. 
1.2.15 Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado (Art. 324 CP).
a) Tipo Objetivo.
- Ele está no Art. 324 do Código Penal e ocorre quando o funcionário público: “Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.”
- Veja que primeira conduta do funcionário público é a de entrar no exercício (nos termos da Lei n. 8.112/1990 é o efetivo desempenho das atribuições do cargo ou da função pública) de função pública antes de satisfeitas as exigências legais (como é sabido após a realização do concurso público sucede o provimento do cargo mediante nomeação do candidato aprovado. Uma vez satisfeita a nomeação, o provimento somente se completará com a posse e o exercício do cargo, valendo lembrar que a posse é o que confere ao candidato aprovado as prerrogativas, os direitos e os deveres do cargo ou mandato. Além da posse, outros requisitos são exigidos para que o candidato entre no exercício do cargo, como, por exemplo, a comprovação de saúde mediante inspeção médica, apresentação de declaração de bens e valores que compõem o seu patrimônio privado – Art. 13 da Lei de Improbidade Administrativa, Lei 8.429/92, traz este último requisito - comprovação do gozo dos direitos políticos.Trata-se de norma penal em branco.)
Ex. Se o funcionário público nomeado passar a exercer a função antes de tomar a posse ou sem que comprove as condições para entrar em exercício. 
- Por sua vez a segunda conduta ocorre quando o funcionário público continuar a exercer a função pública, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso. Nessa hipótese, o funcionário, ciente do impedimento para continuar no exercício da sua função pública, prolonga sua atuação, mesmo havendo a comunicação pessoal ao funcionário que ele foi exonerado, removido, substituído ou suspenso, vindo a continuar a praticar atos de ofício. Vale ressaltar que é imprescindível que o funcionário tenha conhecimento real da comunicação, não podendo haver presunção neste sentido. 
Ex. Funcionário que ocupa cargo em comissão na Prefeitura e, mediante comunicação oficial por carta, cientifica-se de que foi exonerado ex officio, pela prefeitura, e a despeito disso, continua a praticar atos de ofício. 
b) Bem jurídico e Objeto Material.
- O bem jurídico protegido é o regular funcionamento da Administração Pública. 
- A doutrina informa que NÃO há objeto material no crime em análise. 
c) Tipo Subjetivo. 
- Este crime SOMENTE poderá ser praticado na forma DOLOSA, ou seja, o funcionário público deve ter a vontade livre e consciente de entrar no exercício da função pública antes de satisfeitas as exigências legais ou de continuar em seu exercício sem autorização. Vale ressaltar que NÃO existe modalidade culposa, podendo a culpa representar um ilícito administrativo. 
- Desta forma, na primeira modalidade é necessário que o agente tenha ciência de que não preenche os requisitos legais para entrar no exercício da

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