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1 O magistrado e a reserva do possível jurídica O magistrado não pode imiscuir-se no jogo democrático do processo político propriamente dito, desconsiderando a reserva do possível jurídica e substituindo a vontade majoritária pela sua própria. Eis aqui o cerne da reserva do possível jurídica: impedir que magistrados – mediante sua atividade jurisdicional normal - tenham o poder de fixar políticas públicas, agindo como legisladores positivos, pois não têm autorização constitucional para participar do processo legislativo atinente ao orçamento público. No entanto, o leitor deve compreender, com agudeza de espírito, que na proteção do núcleo essencial dos direitos sociais, isto é, naquele seu conteúdo mínimo garantidor da igualdade de oportunidades, aos juízes não faltará legitimidade constitucional - com base no artigo 5 § 1º de nossa Carta Ápice - para gerar prestações estatais positivas, na medida em que tal núcleo não pode ficar na dependência de condições macroeconômicas ou de atividade parlamentar legiferante superveniente. Há que se garantir o núcleo essencial a despeito de qualquer que seja a qualificação da reserva do possível. É a aplicação do princípio da mínima efetividade fazendo valer a proteção do conteúdo jurídico mínimo ou essencial do direito, sem o qual estaria completamente esvaziado. Entendemos que há um rol de direitos sociais que integra o núcleo essencial da dignidade da pessoa humana e por isso mesmo são direitos subjetivos diretamente sindicáveis perante o poder judiciário com validade erga omnes. Concordamos com Ingo Sarlet quando explicita que a liberdade de conformação do legislador encontra seu limite no momento em que o padrão 2 mínimo para assegurar as condições materiais indispensáveis a uma existência digna não for respeitada, isto é, quando o legislador se mantiver aquém desta fronteira. (Cf ob.cit.p.311). A nosso juízo, esta é a pedra angular do direito internacional contemporâneo, isto é, conceber um núcleo constitucional mínimo, englobando aqueles direitos fundamentais imprescindíveis para a garantia de uma vida digna para todos os cidadãos brasileiros. Como bem salienta Norberto Bobbio citado por Patrícia Glioche os direitos do homem são aqueles que pertencem, ou deveriam pertencer, a todos os homens, ou dos quais nenhum homem pode ser despejado. (Cf. Direito penal internacional, p. 149). Esta nobre tarefa somente será plenamente atingida quando doutrina, jurisprudência e legisladores forem capazes de delinear os contornos daquilo que seria o mínimo existencial, as condições mínimas garantidoras da igualdade de oportunidades e não a mera igualdade formal perante a lei. Esta é a tônica da nossa próxima aula, qual seja os desafios da construção hermenêutica do mínimo existencial.
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