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Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira LISANDRO FIN NISHI MATEMÁTICA FINANCEIRA FLORIANÓPOLIS - SC VERSÃO 2017/1 1 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1 APRENDENDO A USAR A HP 12 C 1.1 Funções Básicas da HP 12 c 1.2 Funções de Calendário da HP 12 c 1.3 Funções Matemáticas da HP 12 c 1.4 Funções Estatísticas da HP 12 c 2 JUROS SIMPLES 2.1 Cálculos com Juros Simples 2.2 Desconto Simples por Fora e por Dentro APÊNDICE: TEORIA DE FORMAÇÃO DA TAXA DE JUROS 3 JUROS COMPOSTOS 3.1 Cálculos com Juros Compostos 3.2 Desconto Composto por Fora e por Dentro 3.3 Convenção Linear e Exponencial 3.4 Juros Compostos no Excel APÊNDICE: LIMITAÇÕES AOS JUROS NO BRASIL 4 SÉRIES DE PAGAMENTOS 4.1 Séries Uniformes 4.2 Séries Perpétuas 4.3 Séries com Termos Variáveis APÊNDICE: PLANEJANDO A APOSENTADORIA 5 TRABALHANDO COM AS TAXAS DE JUROS 5.1 Taxas Equivalentes 5.2 Taxas Nominais e Efetivas 5.3 Taxas Reais 5.4 Taxas Médias APÊNDICE: COMISSÃO DE PERMANÊNCIA 6 CORREÇÃO MONETÁRIA APÊNDICE: O EQUÍVOCO DO USO DE TAXAS DE JUROS COMO ÍNDICES DE CORREÇÃO MONETÁRIA 7 SISTEMAS DE AMORTIZAÇÃO DE EMPRÉSTIMOS 7.1 Sistema Bullet 7.2 Sistema Americano 7.3 Sistema Price 7.4 Sistema de Amortização Constante 7.5 Método de Amortização a Juros Simples APÊNDICE: PROVA DA EXISTÊNCIA DE JUROS COMPOSTOS NAS TABELAS PRICE E SAC 8 INTRODUÇÃO ÀS TÉCNICAS DE ANÁLISE DE INVESTIMENTOS 8.1 Payback e Payback Descontado 8.2 Valor Presente Líquido 8.3 Taxa Interna de Retorno APÊNDICE: O PROBLEMA DAS MÚLTIPLAS TAXAS INTERNAS DE RETORNO BIBLIOGRAFIA 2 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira INTRODUÇÃO ___________________________________________________________________ A matemática financeira é uma aplicação da matemática em questões onde é importante considerar a variação do valor da moeda no tempo, por exemplo, em empréstimos pessoais, financiamentos bancários, atualização de valores, análise de viabilidade econômico-financeira de projetos, entre outros, estando dessa forma presente em nosso dia a dia. Este material foi elaborado a fim de ensinar Matemática Financeira com uso da calculadora HP 12c, e em alguns casos do software Excel. Optei por minimizar as deduções de fórmulas, comum em outras obras, para construir um material inovador: além de tornar o aprendizado mais objetivo e interessante possível, este material é interdisciplinar: a relação da matemática financeira com as normas legais é apresentada nos apêndices, posto que o exercício da Matemática Financeira não pode se dissociar de tais normas. É fato que existem muitos livros a respeito do assunto, porém nem sempre estão atualizados, ou próximos da realidade brasileira, o que torna o aprendizado deficiente. Esta obra visa suprir essa lacuna, ao trazer exercícios resolvidos e exercícios propostos elaborados com a experiência em cálculos econômicos judiciais e extrajudiciais adquiridos no exercício da profissão de perito economista, além de Súmulas de Tribunais Superiores. Esta obra traz ainda o cálculo do Sistema de Amortização a Juros Simples, método que não costuma ser encontrado em livros de matemática financeira. 3 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira CAPÍTULO 1 APRENDENDO A USAR A HP-12C Este capítulo tem como objetivo apresentar algumas funcionalidades da calculadora HP 12 c, porém, não substitui o manual da calculadora, uma vez que será dada ênfase aos usos mais constantes em matemática financeira. 1.1 FUNÇÕES BÁSICAS DA HP 12C Para ligar a calculadora digita-se a tecla ON. A mesma tecla efetua a operação de desligar. Para acessar as funções em azul é necessário apertar antes a tecla g (tecla azul). Da mesma forma, acima de algumas teclas há funções (em laranja) que podem ser usadas, digitando antes a tecla f (tecla laranja) . Ao digitar tais teclas aparecerá no mostrador “f” ou “g”, indicando que a tecla foi pressionada. No momento oportuno usaremos tais teclas. Para entrar, por exemplo, o número 3347,5 você deverá digitar a seguinte sequência: 3347.5 (digitando um ponto e não uma vírgula). Por padrão, o separador de milhar na calculadora é uma vírgula. Assim após a digitação aparecerá no mostrador 3,347.500000 É possível modificar para que o separador de milhar seja um ponto. Para tanto desligue a calculadora, pressione a tecla . e após a tecla ON. Agora o número 3347,5 aparecerá como 3.347,500000. O próximo passo é definir quantas casas após a vírgula você deseja que apareça no mostrador. A fim de manter o padrão monetário, de duas casas após a vírgula, digite a tecla f seguido da tecla 2. O resultado agora é 3.347,50 no mostrador. Se desejar 4 casas após a vírgula, efetue o mesmo procedimento, digitando f seguido da tecla 4, e assim por diante. • NÚMEROS NEGATIVOS Para inserir um número negativo (ex. -50) digite o número seguido da tecla CHS (change signal), ou seja, troca o sinal. A mesma tecla inverte o sinal de negativo para positivo, sempre que necessário. • NÚMEROS GRANDES Como o mostrador da calculadora possui somente 10 números, não é possível digitar números com mais de 10 dígitos. Para inserir, por exemplo, o 4 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira número R$ 4.844.815.076.000 (que foi o PIB do Brasil em 2013), será necessário usar a notação científica. Matematicamente tal número é equivalente a 4,844815076 x 1012. Na HP 12c tal operação é realizada digitando a sequência: 4.844815076 EEX12 Obs: se o expoente for negativo após a tecla EEX digite CHS. • REGISTROS DE ARMAZENAMENTO Para se entender como são realizados os cálculos na HP 12c, primeiro devemos entender o funcionamento da “pilha” de armazenamento, que é usado na notação polonesa reversa (RPN). O modo RPN é o padrão da HP 12c. O modo algébrico, usado em outras calculadoras, pode ser ativado digitando-se f EEX. Perceba que no mostrador aparece “ALG”, indicando que você está trabalhando no modo algébrico, que não é o padrão, e cuja funcionalidade não está presente em todas as calculadoras HP 12c. Nesse curso usaremos o modo RPN. A pilha consiste em um registro especial de armazenamento de dados usados para os cálculos. São os registros “X”, “Y”, “Z” e “T”. T Z Y X = mostrador Tudo o que se digita aparece no mostrador (registro “X”). Exemplificando, faremos a seguinte soma: 3+2. No modo RPN, este cálculo é realizado digitando-se se o número 3 seguido de ENTER. Após digita-se o número 2. Somente então escolhe-se a operação matemática, digitando a tecla +. Para entender como a calculadora efetuou a operação veremos a pilha, logo após digitar o numeral 3: T= 0 Z= 0 Y= 0 X = 3 Digitando-se ENTER o número 3 sobe para o registro Y, e a pilha fica da seguinte forma: 5 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira T= 0 Z= 0 Y= 3 X = 3 Ao digitar o número 2, você o verá no mostrador, e a pilha agora ficará com os seguintes valores: T= 0 Z= 0 Y= 3 X = 2 Somente agora, ao escolher a operação matemática de soma, a calculadora fará 3+2, ou seja, a calculadora sempre efetua a operação matemática fazendo Y + X, ou Y – X, ou seja, Y “operação matemática” X. O resultado do exemplo é 5, ficando a pilha após a seleção da operação de adição com os valores a seguir: T= 0 Z= 0 Y= 0 X = 5 Veremos agora a seguinte operação: (5 x 2 + 8 x 5) : 2 T 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Z 0 0 0 0 0 10 10 0 0 0 0 Y 0 5 5 0 10 8 8 10 0 50 0 X 5 5 2 10 8 8 5 40 50 2 25 5 ENTER 2 X 8 ENTER 5 X + 2 : É possível inverter a ordem do registro “X” com o registro “Y” digitando a tecla X><Y. Por exemplo: T 5 5 Z 12 12 Y 3 9 X 9 3 X><Y 6 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira • ARMAZENAMENTO DE DADOS Além dos registros X,Y, Z e T, a calculadora possui ainda mais 20 registrospara armazenar dados (R0 a R9 e R.0 a R.9). Exemplificando, para armazenar o número 20 em R0, digite 20 STO 0. A fim de verificar qual número está em algum registro, basta digitar a tecla RCL seguida do número do registro. Por exemplo, RCL 2 verifica o número armazenado no registro R2. • LIMPEZA DE MEMÓRIA A limpeza completa (de todos os registros) é feita digitando f clx. Perceba que em cima dessa tecla está escrito REG (registros). Similarmente: f SST apaga os registros estatísticos, a pilha e o mostrador; f R apaga a memória de programação; f x><y apaga os registros financeiros; f ENTER reverte o uso das teclas f e g, caso tenham sido digitadas inadvertidamente; clx apaga o mostrador; usa-se por exemplo quando se digitou uma tecla errada. 1.2 FUNÇÕES DE CALENDÁRIO A HP 12 c possui a funcionalidade de fazer cálculos com datas, o que é muito útil no ambiente profissional. Configure a calculadora para 6 casas após a vírgula, digitando f seguido do número 6. Agora é necessário escolher entre dois formatos de datas: dia-mês-ano ou mês-dia-ano (padrão da HP12c). Para escolher o formato dia- mês-ano digite g e o número 4 (perceba que aparece no mostrador D.MY (day- month-year). Caso queira voltar para o formato mês-dia-ano digite g e após o número 5. Note que quando a calculadora está trabalhando no modo padrão nada aparece no mostrador (você não verá a indicação M.DY). Supondo que estejamos trabalhando no formato dia-mês-ano, para inserir uma data (necessariamente entre 15/10/1582 e 25/11/4046), digite o dia seguido de ponto e após o mês e ano. Exemplo: a data 05/01/2012 é entrada da seguinte forma: 05.012012 Perceba que não há ponto entre o mês e o ano, assim como no formato mês- dia-ano não há ponto entre o dia e o ano, exatamente da forma como aparece na tecla. Para calcular qual data será após um número de dias de uma data base, efetue os seguintes passos: 7 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira Entre a data inicial (exemplo: 05.012012 ENTER) Digite o número de dias (exemplo: 20) Digite g CHS. Nesse exemplo queremos saber qual será a data 20 dias após 05/01/2012, que no caso é 25/01/2012. O número 3 que aparece no final do mostrador refere-se ao dia da semana (quarta-feira, pois a contagem inicia na segunda feira). Caso queira uma data passada, basta entrar um número negativo. Apagando a memória e refazendo o exemplo agora com um número negativo (-20) irá retornar a data de 16/12/2011. • NÚMERO DE DIAS ENTRE DATAS Para verificar o número de dias existente entre duas datas deve-se entrar inicialmente a data base (mais antiga) seguida da tecla ENTER e após a data mais recente. Depois digite g EEX. Como a resposta considera o ano civil, caso queira a resposta com base no ano comercial (ano de 360 dias e mês de 30 dias), digite x><y . A mesma tecla, caso digitada novamente retorna a resposta ao ano civil. IMPORTANTE! Embora o ano civil possua 365 dias (exceto o bissexto), para fins didáticos considera-se o ano com 360 dias, e o mês com 30 dias, o que é conhecido como ano comercial. Porém, como em diversas aplicações financeiras se trabalha com o ano útil (o qual considera somente dias úteis), o Banco Central do Brasil através da Circular n° 2.761/1997 estabeleceu o mês útil com 21 dias, e o ano com 252 dias úteis. Porém a HP 12 c não trabalha com este conceito. 1.3 FUNÇÕES MATEMÁTICAS DA HP 12C A HP 12c traz algumas funções matemáticas que são normalmente usadas em finanças, incluindo cálculos com percentagem. Vamos iniciar pelas funções de percentagem, explicando seu uso através de exemplos. São elas: FUNÇÕES DE PERCENTAGEM TECLA Percentagem de um valor % Percentagem do total %T Diferença percentual Δ% 8 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira Percentagem Vamos fazer uso do seguinte exemplo: solicitaram que você calculasse quanto deveria ser pago para fins de contribuição do INSS como profissional liberal autônomo, considerando a data de julho de 2016. O valor corresponde a 20% do salário mínimo vigente nesta data (R$ 880,00). Resolução com HP 12 c: 880 ENTER 20 % Resposta: R$ 176,00 Percentagem do Total A população residente no Brasil em 2010 totalizava 190.755.799 pessoas. Em termos percentuais, quanto representa deste total a população residente urbana, de 160.925.792 pessoas? Resolução com HP 12 c: 190755799 ENTER 160925792 %T Resposta: 84,36% Obs: o valor base (190755799) fica retido na memória. Caso queira continuar entrando outros percentuais digite clx e repita a operação anterior. Variação Percentual A área colhida de cana de açúcar no Brasil em 2006 foi de 6.357.870 hectares. Em 2010, 8.612.294 hectares. Qual foi o aumento percentual de 2010 em relação a 2006 da área colhida de cana de açúcar? Resolução com HP 12 c: 6357870 ENTER 8612294 Δ% Resposta: 35,46% 9 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira A HP 12 c possui outras funções matemáticas que podem ser usadas através de teclas específicas, como as presentes na tabela que segue. FUNÇÕES MATEMÁTICAS TECLAS Inversão 1/x Exponenciação yx Multiplicação por 12 g n Divisão por 12 g i Raiz quadrada g yx Antilogaritmo natural g 1/x Logaritmo natural g %T Quadrado g x Fatorial g 3 1.4 FUNÇÕES ESTATÍSTICAS DA HP-12C No caso de ser necessário fazer cálculos estatísticos, a HP 12 c possui algumas funcionalidades, mesmo que limitadas. Porém, é verdade que atualmente quando alguém necessita fazer cálculos complexos recorre-se a softwares específicos. Para quem trabalha com estatística há diversos pacotes bem mais completos do que a calculadora HP 12 c, mas em determinados momentos ter uma calculadora à mão pode ser muito útil. O armazenamento de dados estatísticos se faz nos registros R1 a R6 da HP 12 c. Para inserir dados, inicialmente efetue a limpeza desses registros digitando f SST. Essa operação irá limpar também os registros da pilha e o mostrador. O procedimento de armazenamento de dados depende se o dado é univariado ou bivariado (par x,y). Para entrar dados univariados digite o valor de “x” seguido da tecla ∑+. Se os dados são bivariados, digite o valor de “y” seguido de ENTER, e após digite o valor de “x” seguido da tecla ∑+, repetindo a entrada dos pares ordenados da mesma forma. Após as entradas, os registros armazenam os seguintes dados: REGISTRO ESTATÍSTICA R1 (e mostrador) n: número de pares de dados acumulados R2 Ʃx: soma dos valores “x” R3 Ʃx 2 : soma dos quadrados dos valores “x” R4 Ʃy: soma dos valores “y” R5 Ʃy 2 : soma dos quadrados dos valores “y” R6 Ʃxy: somatório dos produtos dos valores “x” e valores “y” 10 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira A partir da entrada de dados, as seguintes ferramentas estatísticas estão disponíveis: média simples, média ponderada, desvio padrão e estimação linear. FUNÇÃO TECLAS Média Aritmética dos valores “x” g 0 Média Aritmética dos valores “y” g 0 x><y Média de “x” ponderada por “y” g 6 Desvio Padrão dos valores “x” g . Desvio Padrão dos valores “y” g . x><y Estimação Linear: novo “y” g 2 Estimação linear: novo “x” g 1 É importante saber que para chegar a uma resposta correta nos exercícios, os resultados de cálculos que ainda serão usados para se chegar ao resultado final não podem ser arredondados. Use a memória da calculadora para gravar estes números até encontrar o resultado final; este sim poderá ser arredondado, preferencialmente, com no mínimo duas casas após a vírgula. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 1) Uma pessoa solicitou que você calculasse quantas horas ela trabalhou em média nas últimas semanas. Os dados estão na tabela que segue. SEMANA HORAS 1 44 2 44 3 45 4 49 5 44 Resolução algébrica:(44+44+45+49+44) : 5 = 45,20 11 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira Resolução com HP 12c: 44 ∑+ 44 ∑+ 45 ∑+ 49 ∑+ 44 ∑+ g 0 Resposta: 45,20 horas semanais 2) Um aluno tirou 9 na primeira prova de matemática financeira, 7,5 na segunda e 8 na terceira. Os pesos das provas são 3, 3 e 4 respectivamente. Qual sua média final? Resolução com HP 12c: Nesse caso, a nota será entrada como variável “y”, e os pesos “x”. 9 ENTER 3 ∑+ 7.5 ENTER 3 ∑+ 8 ENTER 4 ∑+ g 6 Resposta: a média final é 8,15 EXERCÍCIOS DE PRÁTICA DA HP 12 C 1) Qual foi o prejuízo, em percentuais, de ter comprado dólares para viajar em mar/2015 por R$ 3,2074/US$, cancelar a viagem e vender os dólares em abr/2015 por R$ 2,9930/US$? 2) Um reforço semestral do imóvel que você comprou irá vencer dia 31/12. Quantos dias você tem para pagar esse reforço? Obs: configure a calculadora para o formato dia – mês – ano, e seis casas após a vírgula. 3) Você recebeu um prazo de 60 dias para concluir um parecer econômico, a contar de hoje. Quando irá vencer esse prazo? 12 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira GABARITO DOS EXERCÍCIOS DE PRÁTICA DA HP 12 C 1) - 6,68% 2) O resultado depende da data base 3) O resultado depende da data base 13 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira CAPÍTULO 2 JUROS SIMPLES A palavra juros é proveniente da expressão latina juris (Direito). Antes mesmo da existência da moeda cunhada (que ocorreu na Grécia), registros históricos mostram que no Neolítico (por volta de 5.000 a.C) o crédito se tornou importante, estimulando a acumulação de capital, e o crescimento das cidades. Geralmente o empréstimo era de grãos e metais, que eram devolvidos com acréscimo da coisa emprestada, configurando, desta forma, os juros. Na Mesopotâmia, o sumérios, em obediência ao Código de Hamurabi, por volta de 1800 a.C, praticavam uma taxa de juros de 33% ao ano para empréstimos em grãos, e de 20% ao ano para os empréstimos em prata. Embora a atividade creditícia tivesse prosperado na Grécia, sua tomada por Alexandre levou esta atividade a entrar em declínio. Vista como atividade pouco importante, era relegada a segundo plano, e vários textos foram editados a fim de combater a usura. Por volta de 342 a.C o empréstimo a juros chegou a ser proibido, proibição esta que durou pouco tempo. Na Idade Média, a doutrina católica proibia a usura, considerada uma “luxúria pelo ganho”. Porém, no século XIII, com grande atividade comercial, as normas locais acabaram cedendo ao mútuo feneratício, contrariando as diretrizes da Igreja. No século XVI, apesar de condenada pela Igreja, a cobrança de juros passou a ser cada vez mais comum, no que líderes protestantes manifestaram-se favorável a sua cobrança. Nesta direção, em 1540, Carlos V editou o primeiro texto legalizando a cobrança de juros, entretanto somente no século XIX o Vaticano decretou que os juros permitidos em lei poderiam ser cobrados e tomados por qualquer um. Os juros são a remuneração do capital (na ótica de quem ofertou capital), ou o custo do capital (na ótica de quem tomou emprestado), entendendo-se por capital como qualquer valor que possa ser expresso em moeda. Segundo John Maynard Keynes em sua famosa obra “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”, publicada pela primeira vez em 1936, é a “recompensa pela renúncia à liquidez”, ou seja, uma compensação por não se fazer uso do dinheiro no presente. Essa renúncia faz sentido, sendo um comportamento racional, somente se o custo de abdicar de um consumo presente for recompensado no futuro. Esse benefício é adquirido com o recebimento dos juros. Essa remuneração do capital pode ser calculada a juros simples ou a juros compostos. Em se tratando de juros simples, a taxa de juros incide somente sobre o valor do principal da dívida, ou seja, somente sobre o capital inicial. Dessa forma, os juros crescem linearmente no tempo, motivo pelo qual também é chamado de juros lineares. O cálculo de juros compostos será visto em capítulo próprio. 14 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira A taxa de juros, por sua vez, é uma expressão dos juros numa unidade de tempo (dia, mês, semestre, ano, etc.). Pode ser representada nas seguintes formas: • Taxa Percentual (30% a.a) • Taxa Unitária (0,3 a.a) Pode-se facilmente transformar as taxas de juros no regime de juros simples, simplesmente fazendo uma regra de três, ou seja, encontrando-se a taxa proporcional, conforme o exemplo a seguir. Exemplo 1: Qual a taxa anual equivalente à taxa de 1% ao mês, a juros simples? 1 mês – 1% 12 meses – x x = 12% ao ano Exemplo 2: Qual a taxa bimestral equivalente à taxa de 15 % ao ano, a juros simples? 1 ano – 15% 1/6 ano – x x = 15/6 = 2,5% ao bimestre É importante ressaltar que esta regra de três não pode ser realizada se o cálculo for em regime de juros compostos, que veremos mais adiante. 2.1 CÁLCULOS COM JUROS SIMPLES Entende-se por Montante (M) a soma do Capital (C) com os Juros (J) recebidos (ou pagos). O montante é o resultado da aplicação de um capital, a uma taxa de juros (i) durante certo prazo (n). Como o capital aplicado gerará um determinado montante em um momento posterior, é comum o uso da nomenclatura Valor Presente (VP) e Valor Futuro (VF), para denominar Capital e Montante, respectivamente. A fórmula de cálculo dos juros simples é: J = C x i x n ou J = VP x i x n 15 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira Obs: nas fórmulas usar a taxa necessariamente na forma unitária, mas na HP 12 C insere-se na forma percentual. Exemplificando, um crédito de R$ 10.000,00, à taxa de juros simples de 10% ao ano, durante 5 anos gera R$ 1.000,00 de juros a pagar no primeiro ano, R$ 2.000,00 no segundo, e assim sucessivamente, conforme os cálculos a seguir. • J1 = 10.000,00 x 0,1 x 1 = 1.000,00 • J2 = 10.000,00 x 0,1 x 2 = 2.000,00 • J3 = 10.000,00 x 0,1 x 3 = 3.000,00 • J4 = 10.000,00 x 0,1 x 4 = 4.000,00 • J5 = 10.000,00 x 0,1 x 5 = 5.000,00 Perceba que os juros crescem linearmente, característica essa da fórmula de cálculo de juros simples, o que pode ser visto no gráfico que segue. Gráfico 2.1 – Juros lineares Fonte: Elaboração própria CÁLCULO DO MONTANTE O Montante é obtido pela soma do capital com os juros: M = C + J 16 1 2 3 4 5 0 1000 2000 3000 4000 5000 JUROS Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira Como J = C x i x n, substituindo na fórmula anterior temos: M = C + C x i x n Colocando “C” em evidência chega-se à fórmula final: M = C x (1 + i x n) ou VF = VP x (1 + i x n) Valendo do exemplo anterior, temos os seguintes montantes anuais: • M1 = C1 + J1 = 10.000,00 + 1.000,00 = 11.000,00 • M2 = C2 + J2 = 10.000,00 + 2.000,00 = 12.000,00 • M3 = C3 + J3 = 10.000,00 + 3.000,00 = 13.000,00 • M4 = C4 + J4 = 10.000,00 + 4.000,00 = 14.000,00 • M5 = C5 + J5 = 10.000,00 + 5.000,00 = 15.000,00 CÁLCULO DO VALOR PRESENTE Isolando-se o Valor Presente (VP) na fórmula de juros simples temos: VP = VF : (1 + i X n) CÁLCULO DO PRAZO O prazo é encontrado isolando “n” na fórmula de juros simples, obtendo-se a fórmula: n = (VF/VP – 1) : i CÁLCULO DA TAXA DE JUROS A taxa de juros é obtida isolando-se “i” na fórmula de juros simples. i = (VF/VP – 1) : n 17 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira Neste material, será frequente o uso de algumas abreviações. Em matemática financeira usa-se as seguintes abreviações de prazo para as taxas de juros: • a.a = ao ano • a.s = ao semestrre • a.t = ao trimestre • a.b = ao bimestre • a.m = ao mês • a.d = ao dia É importante lembrar que para a resolução dos exercícios, o prazo e a taxa de juros necessitamestar na mesma base. Ex: prazo em meses, a taxa deve ser ao mês. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 1) Calcular os juros de um empréstimo no valor de R$ 10.000,00, à taxa de 25% a.a. pelo prazo de 8 meses. Resolução algébrica: J = PV x i x n J = 10.000,00 x 0,25 : 12 x 8 = 1.666,67 Resolução com HP 12c: 10000 ENTER 0.25 X 12 : 8 X Resposta: R$ 1.666,67 2) Uma aplicação de R$ 10.000,00 pelo prazo de 90 dias obteve rendimento de R$ 258,00. Qual a taxa anual de juros simples dessa aplicação? Resolução algébrica: J = PV x i x n 258,00 = 10.000,00 x i x 90 : 360 i = 258,00 : (10.000,00 x 90 : 360) = 0,1032 ou 10,32% Resolução com HP 12c: 18 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira 258 ENTER 10000 ENTER 90 X 360 : : 100 x Resposta: 10,32 % ao ano EXERCÍCIOS DE JUROS SIMPLES 1) Juros de R$ 651,49 foram obtidos com a aplicação de R$ 6.000,00 à taxa de juros simples de 1,2% a.m. Calcule o prazo da aplicação em meses. 2) Uma pessoa aplicou R$ 2.500,00 a juros simples de 1,1% a.m. pelo prazo de 3 trimestres. Qual o montante ao final do prazo da aplicação? 3) Calcule o valor dos juros (simples) que um capital de R$ 10.000,00 rende em quatro anos e dois meses, considerando uma taxa de 10,80 % a.a. 4) Um capital de R$ 35.000,00 foi aplicado a juros simples à taxa de 2% a.m. Após quantos meses conseguirá obter o objetivo de R$ 60.000,00, sabendo que os juros são depositados mensalmente? 5) Um capital de R$ 1.000,00 foi aplicado a juros simples, a uma taxa de 0,95% ao mês. O investidor decidiu resgatar a aplicação após ter transcorrido 3 anos, dois meses e 20 dias. Sabendo que nesta aplicação os juros não são pagos em frações de mês, calcule o valor de resgate desta aplicação. 6) Calcule o valor do capital que aplicado a uma taxa de 0,9% ao mês (a juros simples), atinge em quatro anos e meio o montante de R$ 19.200,50. 7) Aplicando a juros simples R$ 900,00 durante trinta meses, um investidor obteve o rendimento de R$ 200,00. Descubra qual a taxa anual de juros desta operação. 8) Um investidor decidiu comprar um título que prometia render 6 % ao ano a juros simples, investindo R$ 2.000,00. Após três anos e quatro meses, precisou do dinheiro e resolveu resgatar o investimento. Quanto resgatou? 9) Você comprou um relógio e ficou devendo uma parcela de R$ 300,00. A loja cobra juros de 5% ao mês (juros simples), e nas frações de mês são cobrados juros proporcionais. Após quatro meses e 10 dias, você resolve pagar a parcela. Quanto terá que pagar? 19 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira 10) Calcule a taxa de juros mensal (juros simples) que dobra o valor de um capital, quando aplicado por 6 meses. 2.2 DESCONTO SIMPLES As operações de desconto são bastante conhecidas do público em geral. Para se calcular o desconto, é preciso ter em mãos a taxa de desconto, que é a taxa de juros da operação. Pela lógica da teoria financeira, há uma relação entre o risco e a taxa de juros da operação, da seguinte forma: Gráfico 2.2 – Relação entre juros e risco Fonte: Elaboração própria A relação entre taxa de juros e risco é diretamente proporcional: quanto maior o risco da operação, maior a taxa de juros. O risco relaciona-se, por exemplo, com a natureza da atividade do tomador de crédito, com a existência ou não de garantias contratuais, com a situação financeira do tomador de crédito, entre outros fatores. No Brasil, por exemplo, o crédito consignado (tipo de crédito cujos pagamentos são descontados diretamente do salário) apresentam taxas mais baixas em relação ao mesmo tipo de crédito não consignado, justamente porque a probabilidade de não pagamento é menor. Em relação ao prazo da operação, a teoria de finanças tradicional diz que quanto maior o prazo, maior a taxa de juros, pois o futuro é incerto, e assim sendo, quanto mais longínquo o prazo, maior a incerteza envolvendo a operação, logo maior o risco, e a taxa de juros. Entretanto, no Brasil pode-se ver algumas exceções a essa regra: é possível obter crédito de longo prazo a taxas inferiores em comparação ao crédito de curto prazo, dependendo da linha de crédito. Isso ocorre por exemplo com o crédito imobiliário, em que o governo capta recursos via caderneta de poupança para conceder crédito a taxas reduzidas. 20 Risco Taxa de Juros Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira CÁLCULO DO DESCONTO: Há duas maneiras de calcular desconto: por fora ou por dentro. O Desconto por Fora, também conhecido como Desconto Comercial, calcula o valor do desconto a partir do Valor Nominal do ítem (também chamado de Valor de Face). Já o Desconto por Dentro ou Racional é o desconto calculado sobre o Valor Presente (o mesmo que valor atual). As fórmulas estão a seguir. FÓRMULAS: DESCONTO SIMPLES (POR FORA) DESCONTO SIMPLES (POR DENTRO) Df = VN x i x n VP = VN – Df VP = VN – VN x i x n VP = VN x (1 – i x n) ou VN = VP : (1 – i x n) Dd = VP x i x n VP = VN - Dd VP = VN – VP x i x n VP + VP x i x n = VN VN = VP x (1 + i x n) ou VP = VN : (1 + i x n) Onde: Df = Desconto por fora Dd = Desconto por dentro OBS: para efetuar cálculos com desconto é possível substituir, nas fórmulas de juros simples, o Valor Futuro pelo Valor Nominal. Trata-se apenas de uma diferença de nomenclatura. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 1) Qual o valor de resgate de um título cujo valor nominal é R$ 5.000,00, resgatado 2 meses antes do vencimento? Considere uma taxa de desconto de 2% a.m (desconto comercial simples). Qual o valor do desconto? Resolução algébrica: VP = VN x (1- i x n) VP = 5.000,00 x (1 – 0,02 x 2) VP = R$ 4.800,00 Df = VN – VP = 5.000,00 – 4.800,00 = 200,00 21 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira Resolução com HP 12c: 5000 ENTER 0.02 ENTER 2 X 1 - X 5000 ENTER 4800 - Resposta: Valor de resgate = R$ 4.800,00 Valor do desconto = R$ 200,00 2) Quanto deverá ser pago à vista por um eletrodoméstico cujo preço de venda está fixado em R$ 1.500,00 para pagamento em 90 dias, utilizando o desconto simples racional à taxa de 3% a.m.? Resolução algébrica: VP = VN : (1+ i x n) VP = 1.500,00 : (1 + 0,03 x 3) VP = 1.376,15 Resolução com HP 12c: 1500 ENTER 1 ENTER 0.03 ENTER 3 X + : Resposta: R$ 1.376,15 EXERCÍCIOS DE DESCONTO SIMPLES 1) Qual o valor de face de um título resgatado 3 meses antes do vencimento por R$ 5020,38, tendo sido usado o desconto simples (por fora) à taxa de 1,5% a.m.? 2) Qual a taxa mensal de um título de valor nominal igual a R$ 20.000,00, resgatado 3 meses antes do vencimento por R$ 18.800,00, via desconto comercial simples? 22 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira 3) Um título de R$ 6.000,00 sofreu um desconto simples por dentro de R$ 1.500,00, 9 meses antes do vencimento. Qual a taxa anual empregada? 4) Qual o valor de uma nota promissória, a vencer em 30 de julho, que descontada por dentro no dia 15 de março do mesmo ano produziu um desconto de R$ 215,00, à taxa de 39% a.a.? 5) Um título vale R$ 30.000,00 na data de vencimento. Caso seja resgatado antecipadamente, com base no desconto racional simples e taxa de 3,5% ao bimestre, em quantos meses antes do vencimento o valor do resgate obtido seria de R$ 25.000,00? 6) Qual o valor atual de uma duplicata após receber um desconto simples por dentro no valor de R$ 250,00, a 45 dias de seu vencimento, à taxa de 3,5% a.m.? 7) Qual o valor atual de um título cujo valor no vencimento (daqui a 9 meses) é de R$ 20.000,00, considerando uma taxa de juros simples de 4% ao mês, e desconto racional. 8) Qual o valor do desconto que recebe uma duplicata de R$ 1.800,00 paga três meses antes do vencimento, à taxa de 15% ao ano? Considere o desconto simples por dentro. 9) Qual o valor do desconto simples por fora de um título de R$5.000,00, com vencimento para 150 dias à taxa de 2% ao mês? 10) Uma nota promissória de valor nominal igual a R$ 80.000,00 vence em 30 de julho. Caso seja resgatada em 15 de maio do mesmo ano, descontada a uma taxa de 4,5% a.m. (desconto simples por fora), quanto será seu valor? 23 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira GABARITO DOS EXERCÍCIOS DE JUROS SIMPLES 1) 9,05 meses 2) R$ 2.747,50 3) R$ 4.500,00 4) 36 meses 5) R$ 1.361,00 6) R$ 12.920,93 7) 8,89% ao ano 8) R$ 2.400,00 9) R$ 365,00 10) 16,67% a.m. GABARITO DOS EXERCÍCIOS DE DESCONTO SIMPLES 1) R$ 5.256,94 2) 2,00% a.m 3) 44,44% ao ano 4) R$ 1.685,09 5) 11,43 meses 6) R$ 4.761,90 7) R$ 14.705,88 8) R$ 65,06 9) R$ 500,00 10) R$ 71.000,00 24 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira APÊNDICE: TEORIA DE FORMAÇÃO DA TAXA DE JUROS Como ocorre a formação das taxas de juros em uma economia? Para responder a esta questão, devemos inicialmente compreender o funcionamento do mercado de fundos emprestáveis. No mercado de fundos emprestáveis o objeto de negociação é o dinheiro, logo há quem oferte e quem demande dinheiro. A demanda (ou procura) de moeda ocorre pelas famílias, empresas e também pelo governo, na medida em que, por exemplo, necessita-se efetuar transações. Graficamente, a curva de demanda por dinheiro indica quanto de dinheiro será demandado para cada nível de taxa de juros. Movimentos ao longo da curva são causados pela variação na taxa de juros. Gráfico 2.3 – Curva de Demanda Fonte: Elaboração própria Percebemos que a curva é descendente, pois a uma maior taxa de juros, as pessoas tendem a gastar menos, ou seja, demandamos menos dinheiro. As empresas também demandam menos dinheiro com a taxa de juros mais alta, pois o custo dos financiamentos estão mais altos, e também ocorre um maior incentivo a poupar. Andando ao longo da curva (para a direita), a taxa de juros fica mais baixa. Neste caso, ocorre um maior incentivo ao consumo, elevando a demanda por dinheiro. A curva de oferta de dinheiro, por sua vez, representa o quanto de dinheiro que os agentes econômicos estão dispostos a ofertar, para cada nivel de taxa de 25 Taxa de Juros Q (R$) Curva de Demanda Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira juros, sendo uma curva com inclinação positiva, pois é mais vantajoso ofertar dinheiro quando a remuneração por esta oferta é maior. Gráfico 2.4 – Curva de Oferta Fonte: Elaboração própria Ao juntarmos as duas curvas, encontramos a taxa de juros de equilíbrio no mercado, que ocorre na intersecção das curvas de oferta e demanda de dinheiro. Esta é a taxa que será praticada no mercado, pois iguala a demanda com a oferta de moeda. Gráfico 2.5 – Equilíbrio entre a Oferta e a Demanda Fonte: Elaboração própria 26 Taxa de Juros Q (R$) Taxa de Juros Q (R$) Demanda Oferta Curva de Oferta Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira Porém, o patamar da taxa de juros influencia diretamente a atividade econômica. Assim, o governo através de política monetária pode controlar o patamar da taxa de juros de equilíbrio, com objetivos como controlar a inflação, buscar o pleno emprego, elevar o crescimento econômico, isoladamente ou em conjunto. Gráfico 2.6 – Deslocamento da Oferta Fonte: Elaboração própria Quando o Banco Central eleva a oferta monetária, ocorre uma redução das taxas de juros, gerando incentivo ao consumo e à produção, porém, pode haver consequências na economia como elevação dos preços. Similarmente, se houver uma redução da oferta monetária, a taxa de juros sobe, desestimulando o consumo e o investimento das firmas, porém, podendo conter um processo de alta dos preços. Da mesma forma que a curva de oferta de moeda pode ser deslocada, a curva de demanda de moeda também se desloca, para a direita ou para a esquerda, provocando efeitos na taxa de juros. Por exemplo: se a renda da população aumenta, normalmente as pessoas tendem a consumir mais, elevando a demanda de dinheiro. Essa elevação na demanda de dinheiro provoca um deslocamento para a direita na curva de demanda de moeda, elevando as taxas de juros, conforme podemos ver no gráfico a seguir. 27 Taxa de juros Q (R$) Demanda Oferta 1 Oferta 2 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira Gráfico 2.7 – Deslocamento da Demanda Fonte: Elaboração própria A elevação da taxa de juros provocada pela elevação da demanda de dinheiro tem como consequência o desestímulo ao consumo e ao investimento das firmas, bem como incentiva a poupança, retraindo a atividade econômica. A esta altura você deve estar se perguntando: mas no mercado há diversas taxas de juros: a do cheque especial, a do cartão de crédito, do crédito pessoal, do financiamento imobiliário, entre outras. A qual destas taxas esta teoria se refere? A resposta é: todas. Embora existam segmentos específicos de crédito, cada uma com suas peculiaridades, a teoria aqui apresentada representa o comportamento geral das taxas de juros: na prática, observe, as taxas se movimentam normalmente na mesma direção, em resposta à variações da demanda e oferta de dinheiro na economia. 28 Taxa de juros Q (R$) Demanda 1 Demanda 2 Oferta Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira CAPÍTULO 3 JUROS COMPOSTOS ___________________________________________________________________ O cálculo dos juros compostos não é muito mais complicado do que o cálculo de juros simples; entretanto, os resultados podem ser absurdamente distintos. Isso ocorre pois em se tratando de juros compostos, os juros produzidos no final de um período são incorporados (capitalizados) ao capital inicial periodicamente. Desta forma, o montante formado pela soma do capital acrescido dos juros é nova base para cálculo dos juros no período seguinte. Em termos matemáticos, o modelo é de progressão geométrica. Veremos os cálculos. 3.1 CÁLCULOS COM JUROS COMPOSTOS O Montante, ou Valor Futuro a juros compostos é encontrado pela fórmula: VF = VP x (1 + i)n Onde (1 + i)n é chamado Fator de Acumulação de Capital (FAC). Se quiséssemos verificar apenas o valor dos juros, então teríamos que subtrair o valor do capital inicial do montante, ou seja: J = VP x (1 + i)n – VP Colocando VP em evidência temos: J =VP X [(1 + i)n - 1] Exemplo: O cliente de um banco encontra-se com saldo negativo de R$ 1.000,00 no cheque especial. Se a taxa de juros cobrada é de 10% ao mês, e considerando que o cliente não amortiza a dívida, calcule quanto pagará de juros mensais, a juros simples e a juros compostos, considerando os meses de 1 a 5, 10 e 100. 29 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira A tabela que segue mostra o valor dos juros solicitados. Tabela 3.1 – Comparação entre Juros Simples e Compostos MÊS JUROS SIMPLES (R$) JUROS COMPOSTOS (R$) n = 1 100,00 100,00 n = 2 200,00 210,00 n = 3 300,00 331,00 n = 4 400,00 464,10 n = 5 500,00 610,51 n = 10 1.000,00 1.593,74 n = 100 10.000,00 13.779.612,34 Fonte: Elaboração própria Perceba que a evolução da dívida a partir de determinado mês passa a ser absurdamente diferente comparando os juros simples com juros compostos. Isso se deve à evolução exponencial dos juros compostos, que pode ser vista no gráfico 3.1 a seguir, valendo-se dos dados do exemplo em questão. Gráfico 3.1 – Evolução dos juros compostos Fonte: Elaboração própria 30 1 10 20 30 40 50 0 20000 40000 60000 80000 100000 120000 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira Veja que o Valor Atual (VA) ou Valor Presente (VP) pode ser calculado isolando-se, na fórmula do montante, o Valor Presente: VP = VF : (1 + i)n Onde 1 / (1 + i) n é chamado de Fator de Valor Atual (FVA).A taxa de juros pode ser encontrada algebricamente da seguinte forma: VF = VP x (1 + i)n VF : VP = (1 + i)n 1+ i = (VF : VP)1/n i = (VF : VP)1/n – 1 Já para encontrar o prazo, com base em valores dados de VP, VF e i, faz-se necessário o uso de logaritmos, da seguinte forma: VF = VP x (1 + i)n VF : VP = (1 + i)n ln (VF : VP) = n x ln (1+ i) n = ln (VF : VP) : ln (1+ i) A seguir é apresentada uma tabela com os fatores para taxas de juros de 1% a 10%, e prazo variando de 1 a 10. 31 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira FATOR DE VALOR ATUAL (FVA) PRAZO (n) TAXA DE JUROS (i) 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9% 10% 1 0,99010 0,98039 0,97087 0,96154 0,95238 0,94340 0,93458 0,92593 0,91743 0,90909 2 0,98030 0,96117 0,94260 0,92456 0,90703 0,89000 0,87344 0,85734 0,84168 0,82645 3 0,97059 0,94232 0,91514 0,88900 0,86384 0,83962 0,81630 0,79383 0,77218 0,75131 4 0,96098 0,92385 0,88849 0,85480 0,82270 0,79209 0,76290 0,73503 0,70843 0,68301 5 0,95147 0,90573 0,86261 0,82193 0,78353 0,74726 0,71299 0,68058 0,64993 0,62092 6 0,94205 0,88797 0,83748 0,79031 0,74622 0,70496 0,66634 0,63017 0,59627 0,56447 7 0,93272 0,87056 0,81309 0,75992 0,71068 0,66506 0,62275 0,58349 0,54703 0,51316 8 0,92348 0,85349 0,78941 0,73069 0,67684 0,62741 0,58201 0,54027 0,50187 0,46651 9 0,91434 0,83676 0,76642 0,70259 0,64461 0,59190 0,54393 0,50025 0,46043 0,42410 10 0,90529 0,82035 0,74409 0,67556 0,61391 0,55839 0,50835 0,46319 0,42241 0,38554 11 0,89632 0,80426 0,72242 0,64958 0,58468 0,52679 0,47509 0,42888 0,38753 0,35049 12 0,88745 0,78849 0,70138 0,62460 0,55684 0,49697 0,44401 0,39711 0,35553 0,31863 FATOR DE ACUMULAÇÃO DE CAPITAL (FAC) PRAZO (n) TAXA DE JUROS (i) 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9% 10% 1 1,01000 1,02000 1,03000 1,04000 1,05000 1,06000 1,07000 1,08000 1,09000 1,10000 2 1,02010 1,04040 1,06090 1,08160 1,10250 1,12360 1,14490 1,16640 1,18810 1,21000 3 1,03030 1,06121 1,09273 1,12486 1,15763 1,19102 1,22504 1,25971 1,29503 1,33100 4 1,04060 1,08243 1,12551 1,16986 1,21551 1,26248 1,31080 1,36049 1,41158 1,46410 5 1,05101 1,10408 1,15927 1,21665 1,27628 1,33823 1,40255 1,46933 1,53862 1,61051 6 1,06152 1,12616 1,19405 1,26532 1,34010 1,41852 1,50073 1,58687 1,67710 1,77156 7 1,07214 1,14869 1,22987 1,31593 1,40710 1,50363 1,60578 1,71382 1,82804 1,94872 8 1,08286 1,17166 1,26677 1,36857 1,47746 1,59385 1,71819 1,85093 1,99256 2,14359 9 1,09369 1,19509 1,30477 1,42331 1,55133 1,68948 1,83846 1,99900 2,17189 2,35795 10 1,10462 1,21899 1,34392 1,48024 1,62889 1,79085 1,96715 2,15892 2,36736 2,59374 11 1,11567 1,24337 1,38423 1,53945 1,71034 1,89830 2,10485 2,33164 2,58043 2,85312 12 1,12683 1,26824 1,42576 1,60103 1,79586 2,01220 2,25219 2,51817 2,81266 3,13843 3.4 JUROS COMPOSTOS NO EXCEL No Excel, é possível resolver juros compostos encontrando-se valor presente, valor futuro, prazo e taxa de juros, através das seguintes fórmulas: VALOR PRESENTE = VP (taxa;nper;pgto;vf;tipo) VALOR FUTURO = VF (taxa;nper;pgto;vp:tipo) PRAZO = NPER (taxa;pgto;vp;vf;tipo) TAXA DE JUROS = TAXA (nper;pgto;vp;vf;tipo;estimativa) 32 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 1) Calcular o valor dos juros correspondentes a um empréstimo de R$ 2.500,00 pelo prazo de 18 meses, à taxa de 1,5% a.m. Resolução algébrica: VF = VP x (1 + i)n VF = 2.500,00 x (1+0,015)18 VF = 3.268,35 J = VF – VP = 768,35 Resolução com HP 12c: 2500 PV 18 n 1.5 i FV Perceba que o valor futuro no visor ficou negativo. Isso não significa que se trata de um valor negativo, mas sim que a calculadora entendeu que se trata de uma saída de caixa, pois o valor presente foi inserido com sinal positivo (entrada de caixa). A HP 12 c sempre irá inverter os sinais: se o valor presente foi inserido com sinal negativo, o valor futuro retornará com sinal positivo, e vice – versa. Para continuar a resolução, neste caso, procede-se da seguinte forma: CHS 2500 - Obs: Não seria necessário inverter o sinal se o valor presente fosse entrado como um valor negativo, pois o valor futuro resultaria positivo. Experimente! Resposta: R$ 768,35 2) Uma aplicação de R$ 30.000,00 pelo prazo de 8 meses obteve rendimento de R$ 2.828,00. Qual a taxa mensal de juros compostos dessa aplicação? 33 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira Resolução algébrica: VF = VP + J VF = 30.000,00 + 2.828,00 = 32.828,00 i = (VF : VP)1/n – 1 i = (32.828,00 : 30000,00) 1/8 -1 i = 0,0113 ou 1,13 % Resolução com HP 12 c: 30000 ENTER 2828 + FV 30000 CHS PV 8 n i Obs: ao inserir um valor positivo para FV, é necessário que PV seja de sinal negativo, e vice – versa. Resposta: 1,13 % ao mês EXERCÍCIOS DE JUROS COMPOSTOS 1) Sabendo que os juros de R$ 425,76 foram obtidos com a aplicação de R$ 1.000,00 à taxa de 3% a.m. a juros compostos, calcular o prazo da aplicação. 2) Qual o valor que aplicado a juros compostos de 1,1% a.m. por 12 meses produziu um montante de R$ 8.110,00? 3) Calcular o montante obtido ao aplicar na caderneta de poupança R$ 1.500,00, se o rendimento for de 0,6% a.m. Considere que a aplicação rendeu durante 3 anos. 4) Uma quantia de R$ 15.000,00 foi emprestada a uma taxa de juros de 2,6% ao mês a juros compostos. Qual o valor que deverá ser pago, se o tomador do crédito resolver pagar a dívida tendo já transcorrido 8 meses da data do empréstimo? 5) Um capital de R$ 5.800,00 esteve aplicado à taxa de 1% a.m. em regime de capitalização composta. Após seis anos e quatro meses, quantos são os juros auferidos com tal aplicação financeira? 6) Uma pessoa recebe uma proposta de investimento: aplicar R$ 30.000,00, e receber após três anos 33.500,43. No regime de juros compostos, qual a taxa de rentabilidade anual desse investimento? 34 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira 7) Se aplicarmos R$ 60.000,00 a juros compostos, rendendo 1,8% a cada bimestre, quanto teremos após dois anos? 8) Uma aplicação de R$ 15.000,00 pelo prazo de 6 meses obteve rendimento de R$ 582,33, a juros compostos. Qual a taxa mensal de juros dessa aplicação? 9) Juros de R$ 961,78 foram obtidos com a aplicação de R$ 20.000,00 à taxa de 1,13% a.m. com capitalização composta. Calcule algebricamente quanto tempo foi necessário para ganhar este rendimento? Obs: a HP 12 c arredonda o resultado. 10) Você aplicou R$ 2.000,00. Para saber qual será o montante obtido com esta aplicação, calcule o resultado de 2.000,00 FAC (n,i) usando a tabela, considerando n=4 e i=5%. 3.2 DESCONTO COMPOSTO Pode-se calcular o desconto composto por fora ou por dentro. No caso do desconto composto por dentro, a fórmula a ser usada é: Dd = VN - VP onde VP = VN : (1 + i)n Para o cálculo do desconto composto por fora (raramente usado na prática), a fórmula a ser usada é: Df = VN – VP onde VP = VN x (1 - i)n EXERCÍCIO RESOLVIDO Considere um título no valor de R$ 13.500,00, descontado hoje, com prazo de vencimento para 60 dias, e taxa de juros de 2,5% ao mês. a) Qual o valor do desconto sob o regime de desconto composto comercial? b) Qual o valor do desconto sob o regime de desconto composto racional? a) Resolução algébrica: Desconto composto comercial: VP = VN x (1- i)n VP = 13.500,00 x (1 – 0,025)2 VP = 12.833,44 Df = VN – VP = 666,56 35 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira Resolução com HP 12c: 13500 ENTER STO 1 1 ENTER 0.025 - 2 YX X RCL 1 - CHS Resposta: R$ 666,56 b) Resolução algébrica: Desconto composto racional: VP = VN : (1 + i)n VP = 13.500,00 : (1 + 0,025)2 VP = 12.849,49 Dd = VN – VP = 13.500,00 – 12.849,49 = 650,51 Resolução com HP 12c: 13500 CHS FV 2.5 i 2 n PV - Resposta: R$ 650,51 EXERCÍCIOS DE DESCONTO COMPOSTO 1) Obtenha o valor atual de um título cujo valor de face é R$ 10.000,00,vencível ao fim de seis meses, utilizando uma taxa de desconto de 4,2% ao mês. Use o desconto racional composto. 2) Um título tem valor nominal de R$ 26.000,00 e vencerá daqui a 10 anos. Se for descontado 30 dias antes do vencimento, à taxa de 2% ao mês, quanto valerá? Use o desconto comercial composto. 36 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira 3) Uma empresa descontou dois meses antes do vencimento uma duplicata de R$ 120.000,00. Com base no regime de desconto comercial composto, calcule quanto a esta empresa recebeu pela duplicata, após a operação de desconto, se a taxa de juros da operação foi de 3% a.m. 3.3 CONVENÇÃO LINEAR E EXPONENCIAL Frequentemente é necessário trabalhar com uma parte fracionária do período. Ex: 12 meses e 20 dias. Nestes casos, a parte fracionária pode ser calculada a juros simples (convenção linear) ou a juros compostos (convenção exponencial). Iniciaremos pela convenção linear, que é o padrão da HP 12 c. CONVENÇÃO LINEAR No cálculo com convenção linear, a formação dos juros é calculada com juros compostos para a parte inteira do período e juros simples para a parte fracionária. FÓRMULA: VF = VP x (1 + i)n x [1 + i x (p : q)] Onde p/q é a parte fracionária do período. Exemplo: 12 meses e 20 dias. • n = 12 (meses) • p = 20 (dias) • q = 30 (dias) CONVENÇÃO EXPONENCIAL A formação dos juros é calculada a juros compostos para as partes inteira e fracionária do período. FÓRMULA: VF = VP x (1+i) n+p/q Caso queira que a HP 12 c efetue cálculos via convenção exponencial, digite STO EEX. Aparecerá no visor a letra “c”, indicando que a calculadora irá calcular com a fórmula de convenção exponencial. Para retornar ao padrão (convenção linear), refaça a operação anterior. 37 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira EXERCÍCIO RESOLVIDO 1) Seja um capital de R$ 2.500,00 tomado emprestado de um banco, à taxa de 3,8% a.m. pelo prazo de 2 meses e 10 dias. Calcular quanto estará devendo ao banco após este período, pelas convenções linear e exponencial. Resolução algébrica: Pela convenção linear: VF = VP x (1 + i)n x [1+i x (p : q)] VF = 2.500,00 x (1+0,038)2 x [1+0,038 x (10 : 30)] = 2.727,73 Resolução com HP 12c: 2500 PV 3.8 i 2 ENTER 10 ENTER 30 : + n FV Resposta: R$ 2.727,73 Por convenção exponencial: VF = VP x (1+i) n+p:q VF = 2.500,00 x (1+0,038)2+10:30 = 2.727,31 Resolução com HP 12c: Na HP 12c os passos são os mesmos, porém em primeiro lugar deve-se digitar STO EEX. Resposta: R$ 2.727,31 38 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira EXERCÍCIOS DE CONVENÇÃO LINEAR E EXPONENCIAL 1) Fulano pegou um financiamento no valor de R$ 6.500,00 pelo prazo de 13 meses e 23 dias, à taxa de 3,43% a.m. Calcule o montante a ser pago ao término deste prazo, com base na convenção linear. 2) Um capital foi aplicado pelo prazo de 2 anos e 7 meses, à taxa de 6,5% a.a. Calcular o valor da aplicação, sabendo que o montante produzido foi de R$ 12.000,00. Calcule usando a convenção exponencial. 3) O capital de R$ 5.000,00 é aplicado do dia 1 de janeiro ao dia 20 do mês seguinte. Calcule o rendimento desta aplicação, considerando juros compostos de 1,2% ao mês, e convenção linear. 39 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira GABARITO DOS EXERCÍCIOS DE JUROS COMPOSTOS 1) 12 meses 2) R$ 7.112,25 3) R$ 1.860,45 4) R$ 18.419,17 5) R$ 6.555,27 6) 3,75% a.a 7) R$ 74.323,23 8) 0,64% a.m 9) 4,18 meses 10) R$ 2.431,01 GABARITO DOS EXERCÍCIOS DE DESCONTO COMPOSTO 1) R$ 7.812,57 2) R$ 25.480,00 3) R$ 112.908,00 GABARITO DOS EXERCÍCIOS DE CONVENÇÃO LINEAR E EXPONENCIAL 1) R$ 10.341,68 2) R$ 10.198,31 3) R$ 100,48 40 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira APÊNDICE: LIMITAÇÕES AOS JUROS NO BRASIL Não é de agora que há uma preocupação a respeito da cobrança de juros no Brasil. A legislação brasileira objetivou proteger o tomador de crédito da evolução exponencial dos juros compostos, desde a publicação do Decreto – lei 22.626/1933, cujo texto, em seu art. 4 diz: “É proibido contar juros dos juros: esta proibição não compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano”. Porém, como é recorrente a alegação de que valeria tal cobrança caso firmada entre as partes, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula n° 121, a qual diz: “É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada”. Entretanto, desde o ano 2000 a capitalização de juros pode ser permitida em determinados casos, conforme a Súmula 539 do STJ, em decisão datada de 10/06/2015. “É permitida a capitalização de juros com periodicidade inferior à anual em contratos celebrados com instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP n. 1.963-17/2000, reeditada como MP n. 2.170-36/2001), desde que expressamente pactuada.” Soma-se a esta discussão o fato de que há leis específicas que permitem a incidência de juros sobre juros em periodicidade inferior a um ano em determinadas operações. Além desta questão, muito foi debatido acerca do limite dos juros remuneratórios no Brasil, devido ao artigo 192, § 3° da Constituição Federal (revogado pela EC 40/2003), que limitava os juros reais em 12 % ao ano. Porém, o STJ decidiu em 27/05/2009: Súmula 382: “A estipulação dos juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade”. Isso significa que para se caracterizar juros abusivos, não basta que esteja em patamar superior a 12% ao ano, mas é necessário provar que seu patamar está consideravelmente acima do normal praticado pelo mercado para a modalidade de crédito em questão. Entretanto, o simples fato de a taxa ser superior ao normal praticado não garante que a taxa seja abusiva, o julgador irá avaliar o caso concreto. 41 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira CAPÍTULO 4 SÉRIES DE PAGAMENTOS ___________________________________________________________________ Série de pagamentos (ou recebimentos), ou prestações, ou anuidades, é toda sequência finita ou infinita de valores em datas previamente estipuladas. Cada um destes valores será chamado de termo da série. O intervalo entre dois termos se chama período, e a soma dos períodos é a duração da série. O uso de séries de pagamentos é bastante comum na prática. Como exemplo temos as aplicações de previdência privada, poupança programada, pagamentos de aluguéis, e no sistema de amortização de empréstimos chamado Tabela Price, que será visto no capítulo 7. 4.1 SÉRIES COM TERMOS UNIFORMES Trata-se de uma sucessão de pagamentos ou recebimentos. O Valor Presente da série é a soma do Valor Presente de seus termos. Analogamente, seu Valor Futuro é encontrado somando-se o Valor Futuro de seus termos. Vejamos: VP = PGTO : (1 + i) + PGTO : (1 + i)2 +...+ PGTO : (1 + i)n VF = PGTO (1 + i)n-1 + PGTO (1 + i)n-2 +...+ PGTO Onde: • VF = Valor futuro • VP = Valor presente • PGTO = Valor do termo da série uniforme • i = Taxa de juros • n = prazo da série As séries de pagamentos podem ser classificadas quanto ao: • Número de termos: finita ou infinta (perpétuas); • Valor dos termos (uniforme ou variável); • Período (periódica ou não periódica); • Fluxo (postecipadas ou antecipadas e diferidas) 42 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira A seguir temos alguns exemplos do fluxo de caixa de algumas séries. Gráfico 4.1 – Serie de recebimentos (a) Fonte: Elaboração própria No gráfico 4.1 temos uma série de 4 recebimentos iguais a R$ 90,00, configurando, quanto aos termos, uma série uniforme. Além disso, todos os recebimentos ocorrem ao final de cada período (postecipados), e com igual espaçamento de tempo (periódicos). A sérieé também finita, indicando que possui fim, no caso, com o quarto recebimento. Vejamos agora outro exemplo. Gráfico 4.2 – Serie de recebimentos (b) Fonte: Elaboração própria Neste gráfico, a série possui pagamentos uniformes, pois os termos possuem igual valor, e não é periódica (os recebimentos ocorrem em intervalos distintos de tempo). Quanto ao número de termos, é finita. 43 0 1 R$ 90,00 2 3 4 R$ 90,00 0 1 2 3 4 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira Gráfico 4.3 – Serie de pagamentos Fonte: Elaboração própria No gráfico 4.3, vê-se que os pagamentos não são uniformes. A série é variável, periódica e finita. Quanto ao fluxo, uma série é antecipada se os pagamentos iniciam na data base (ou data zero), e postecipadas se ao final do período. Já as séries diferidas ocorrem quando há um prazo de carência para inicio dos pagamentos, ou seja, o primeiro pagamento ocorre sempre após o primeiro período. Na HP 12 c, as séries de pagamentos podem ser inseridas na tecla PMT somente quando a série é periódica, não possui diferimento e é uniforme. Por padrão, a calculadora considera as séries com termos postecipados. Caso queira modificar para termos antecipados, usa-se a função BEGIN. EXCEL • O equivalente da tecla PMT no Excel é a função PGTO (taxa;nper;vp;vf;tipo) • Tipo: 0 ou não especificado para pagamentos postecipados; 1 para pagamentos antecipados. 4.2 SÉRIES INFINITAS (PERPÉTUAS) Uma série é perpétua se o número de pagamentos (ou recebimentos) é infinito. Matematicamente, para séries uniformes, postecipadas e periódicas, seu valor presente é: VP = PGTO : i Não faz sentido, entretanto, calcular o valor futuro de uma série perpétua. 44 0 1 R$ 90,00 2 3 4 R$ 120,00 R$ 80,00 R$ 150,00 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira EXERCÍCIO RESOLVIDO Uma loja vende uma torradeira em 3 prestações mensais iguais de R$ 29,90, sem entrada. Considerando uma taxa de juros de 3,2% a.m. qual o preço à vista? Resolução algébrica: VP = PGTO : ( 1 + i) + PGTO : (1 + i)2 + PGTO : (1 + i)3 VP = 29,90 : (1+0,032) + 29,90 : (1+0,032)2 + 29,90 : (1+0,032)3 VP = 84,25 Resolução com a HP 12 c: 29,90 CHS PMT 3.2 i 3 n PV Resposta: R$ 84,25 EXERCICIOS DE SERIES DE PAGAMENTOS 1) Uma pessoa depositou no banco R$ 50,00 ao final de cada mês, por 5 anos. Quanto possuiu ao final do período da aplicação, se a taxa de juros da aplicação foi de 0,8% ao mês? 2) Uma pessoa deseja ter R$ 5.000,00 daqui a 3 anos, para viajar. Se a taxa de juros da aplicação é de 0,95% ao mês, quanto terá que depositar mensalmente? 3) Um veículo no valor de R$ 24.000,00 está à venda na seguinte condição: 12 prestações mensais iguais, com pagamentos antecipados. Se a taxa de juros é de 2% ao mês, qual o valor das prestações? 4) Um empréstimo de R$ 35.145,23 deve ser liquidado em prestações mensais, iguais e consecutivas, no valor de R$ 1.020,00. Se a taxa contratada é de 2% a.m. e considerando que os pagamentos são postecipados, calcule o número de prestações. 45 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira 4.3 SÉRIES COM TERMOS VARIÁVEIS Da mesma forma que as séries uniformes, o valor presente (ou futuro) das séries com termos variáveis é encontrado somando-se o valor presente (ou futuro) de cada termo da série. Na HP 12c pode-se calcular o valor presente de uma série com termos variáveis da seguinte forma: Inicialmente entre com a taxa de juros. Após digite o valor do fluxo de caixa na data zero, digitando o valor seguido de g PV. Cada termo da série deverá ser digitado seguido das teclas g PMT. Caso exista uma repetição seguida de termos, pode-se digitar g FV. Dessa forma repete-se “n” vezes o último termo digitado. O Valor Presente é calculado após a entrada completa dos dados digitando-se f PV EXERCÍCIO RESOLVIDO Calcular o valor presente da série de pagamentos mensais, consecutivos e postecipados, no valor de R$ 100, R$ 300 e R$ 200, à taxa de 1,3% a.m. Resolução com a HP 12c: 0 g PV 100 g PMT 300 g PMT 200 g PMT 1.3 i f PV Resposta: R$ 583,47 EXERCÍCIOS DE SERIES COM TERMOS VARIÁVEIS 1) Calcular o valor presente da série de pagamentos mensais, consecutivos e postecipados, no valor de R$ 100, R$ 300, R$ 300, e R$ 300 à taxa de 2,5% a.m. 2) Calcule o valor presente do fluxo de caixa: CF0 = 0; CF1 = 1.000, CF2 = 1.500, CF3 =-1.000, CF4 = 1.500. Use uma taxa de juros de 5% a.m. 3) Uma loja vende um barco em duas condições: a) Entrada de R$ 5.000 e duas parcelas trimestrais, a primeira de R$ 9.000 e a segunda de R$ 12.000; 46 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira b) Sem entrada, pagamentos bimestrais de R$ 6.000, R$ 6.000 e R$ 14.000. Considerando uma taxa de juros de 7,5% a.m. qual a alternativa mais vantajosa na ótica de quem irá pagar? 4) Um empréstimo foi liquidado em 7 prestações mensais, sendo as 3 primeiras de R$ 1.500, as 2 seguintes de R$ 2.000, a sexta de R$ 3.000 e a sétima de R$ 3.500. Com uma taxa de juros de 6,5% a.m., qual o valor do empréstimo? 5) Um investimento irá gerar receitas conforme a tabela abaixo MESES NUMERO DE MESES VALOR (R$) 1 a 12 12 8.000 13 a 20 08 9.000 21 a 24 04 10.000 25 a 35 11 15.000 36 01 20.000 Considerando uma taxa de juros de 2% a.m., qual o valor presente do fluxo de caixa? 6) Uma jaqueta é vendida para primeiro pagamento em 90 dias, em 4 prestações de R$ 45,00. Qual o valor à vista, considerando uma taxa de juros de 2% a.m? 7) Um empréstimo foi concedido com as seguintes condições: uma Taxa de Cadastro de R$ 50,00 no momento da contratação e um seguro de R$ 180,00 a ser pago no momento do pagamento da primeira parcela. O plano de pagamentos contratado é de doze parcelas mensais iguais na importância de R$ 200,00. Considerando uma taxa de juros de 4,50 % ao mês, qual o valor presente desta série? 47 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira GABARITO DOS EXERCÍCIOS DE SERIES DE PAGAMENTOS 1) R$ 3.831,19 2) R$ 117,14 mensalmente 3) R$ 2.224,93 4) 59 prestações GABARITO DOS EXERCÍCIOS DE SERIES COM TERMOS VARIÁVEIS 1) R$ 933,47 2) R$ 2.683,14 3) A alternativa mais vantajosa é a segunda, pois apresenta menor valor presente (R$ 20.020,18 e R$ 18.756,26 respectivamente) 4) R$ 11.295,40 5) R$ 263.287,35 6) R$ 164,69 7) R$ 2.045,96 48 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira APÊNDICE: PLANEJANDO A APOSENTADORIA Talvez você ainda não tenha pensado em aposentadoria. Porém, um dia você provavelmente irá desejar se aposentar. Neste caso, há basicamente dois regimes de previdência: o de repartição e o de capitalização. O regime de repartição é o usado no Brasil pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Neste caso, os aposentados recebem os valores depositados pelos trabalhadores na ativa. Isso significa que os depósitos não são remunerados. O regime de capitalização, por sua vez, é usado em Planos de Previdência privada, e pode ser também feito pelo próprio interessado. Como o próprio nome diz, os depósitos são capitalizados, ou seja, rendem juros. Quanto mais cedo forem realizados os depósitos, melhor, devido ao efeito da capitalização de juros. Em termos de matemática financeira, elaborar um plano para a aposentadoria significa construir uma serie de pagamentos (depósitos), cujos recursos depositados durante a vida laboral seja utilizado futuramente, seja via saques periódicos ou de uma única vez. Em qualquer caso, quanto mais cedo e maior os aportes periódicos, mais recursos se terá no futuro, obviamente, tendo o cuidado de se depositar em instituições financeiras sólidas, e evitar investimentos de alto risco, como as bolsas de valores e em moeda estrangeira, pois o que se deseja ao elaborarum plano de aposentadoria é ter segurança financeira no futuro. 49 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira CAPÍTULO 5 TRABALHANDO COM AS TAXAS DE JUROS ___________________________________________________________________ Quando trabalhamos com juros simples, as taxas podem ser transformadas com facilidade: para encontrar uma taxa anual, com base em uma taxa mensal, basta encontrar a taxa proporcional, ou seja, multiplicar por 12. Porém, quando estamos trabalhando com juros compostos, tal raciocínio não pode ser feito, devido à incorporação dos juros ao capital inicial. Assim, dedicamos este capítulo para aprendermos a trabalhar com taxas de juros em regime de juros compostos. 5.1 TAXAS EQUIVALENTES Duas taxas são equivalentes, a juros compostos, quando aplicadas a um mesmo capital e durante o mesmo prazo de aplicação, produzem o mesmo montante. Diversas relações podem ser usadas para encontrarmos taxas equivalentes, como as que seguem. (1 + ia) = (1 + is)2 = (1 + it)4 = (1 + ib)6 = (1 + im)12= (1 + id)360 Também é possível estabelecer outras relações, tais como: (1 + is) = (1 + im)6 e (1 + it) = (1 + im)3 Onde: • ia = Taxa anual • is = Taxa semestral • it = Taxa trimestral • ib = Taxa bimestral • im = Taxa mensal • id = Taxa diária 50 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira 5.2 TAXAS NOMINAIS E EFETIVAS Para que uma taxa seja considerada efetiva é necessário que o período ao qual ela se refere coincida com o período de capitalização. Quando isso não ocorre, a taxa não é efetiva, é nominal. Exemplo: uma taxa de 24% a.a. com capitalização mensal: a taxa de 24% a.a. é nominal, mas a taxa efetiva é de 26,82 % ao ano. Para encontrar a taxa efetiva usa- se a seguinte fórmula de conversão: 1 + ie = (1 + in : q)q Onde: • ie= Taxa efetiva • in= Taxa nominal • q = quantidade de períodos de capitalização No exemplo anterior, a taxa nominal é de 24% a.a. com capitalização mensal, então in = 24% ao ano. Como um ano possui 12 meses, então q = 12, pois os juros serão capitalizados doze vezes. Veja que se a taxa fosse de 24% ao ano, com capitalização anual, a taxa de 24% ao ano seria efetiva, pois o período de capitalização coincidiria com o período da taxa de juros. 5.3 TAXA REAL DE JUROS Para entendermos o conceito de Taxa Real de Juros a princípio é necessário explicar o conceito de inflação: entende-se por inflação a alta contínua e generalizada dos preços. Nas economias modernas, normalmente a maioria dos preços tende a subir. Quando em geral os preços caem, ocorre o que chamamos de deflação. Algumas maneiras de calcular a inflação, bem como alguns índices de preço brasileiros estão no capítulo de correção monetária. A Taxa Real de Juros é encontrada expurgando-se, da taxa aparente, a inflação do período. Entretanto, para tal não basta simplesmente fazer uma conta de subtração. O cálculo correto é realizado com base na seguinte fórmula (Fórmula de Fischer): 1 + ir = (1 + ia) : (1 + ip) 51 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira Onde: • ir = Taxa Real de Juros • ia = Taxa Aparente de Juros • ip = Taxa de Inflação Na tabela a seguir mostramos valores da taxa SELIC nominal e real, calculada com base no IGP-M, da Fundação Getúlio Vargas. Tabela 5.1 – Taxa SELIC DATA SELIC (% a.m.) IGP-M (% a.m) SELIC REAL 2012.01 0,89 0,25 0,64 2012.02 0,75 -0,06 0,81 2012.03 0,82 0,43 0,39 2012.04 0,72 0,85 -0,13 2012.05 0,74 1,02 -0,28 2012.06 0,64 0,66 -0,02 2012.07 0,68 1,34 -0,65 Fonte: Elaboração própria com dados do site www.ipeadata.gov.br Perceba que, a partir do mês de abril, apesar de a taxa SELIC ser positiva, foi inferior à inflação. Isso significa que, se um investidor tivesse investido a essa taxa teria obtido rentabilidade real positiva de janeiro a março, mas negativa de abril a julho. Contudo, não investir ampliaria a perda, pois deixar de investir implica em um custo de oportunidade. 5.4 TAXAS MÉDIAS DE JUROS O cálculo de taxas médias irá depender do método de cálculo de juros: se estamos trabalhando com juros simples ou juros compostos. Em se tratando de juros simples, e períodos iguais, basta fazer a média aritmética simples das taxas. Em se tratando de juros compostos, o cálculo ocorre via média geométrica das taxas. Vejamos o exemplo a seguir, que apresenta taxas de inflação (IGP-M). ANO IGP-M (%) ÍNDICE (1+i) 2010 11,32 1,1132 2011 5,10 1,0510 2012 7,82 1,0782 2013 5,51 1,0551 2014 3,69 1,0369 52 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira O primeiro passo é efetuar o produto sucessivo dos índices das taxas, de forma a acumular os índices: 1 + ia = (1 + i1) x (1 + i2) x …. x (1 + in) Onde: • ia = Taxa acumulada • i1 = Taxa do primeiro período • i2 = taxa do segundo período • in = Taxa do enésimo período ou seja, 1+ ia = 1,1132 x 1,0510 x 1,0782 x 1,0551 x 1,0369 = 1,3801 Em seguida, tira-se a raiz da taxa acumulada, cujo índice da raiz será igual ao número de períodos, da seguinte forma: 1 + im = (1 + ia)1/n Onde: • im = Taxa média • ia = Taxa acumulada • n = número de períodos No exemplo anterior tem-se 1,38011/5 = 1,0665 Como 1 + ia = 1,0665, então i = 0,0665 ou 6,65 % ao ano. EXERCÍCIOS DE TAXAS DE JUROS 1) Qual a taxa trimestral equivalente à taxa de 5% a.m.? 2) Qual a taxa mensal equivalente à taxa de 26% a.a? 3) Qual a taxa bimestral equivalente à taxa de 12% a.t.? 4) Calcular a taxa nominal anual, com capitalização trimestral, da qual resultou a taxa efetiva de 32% a.a. Após, compare o resultado com capitalização mensal e diária. 53 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira 5) Calcule a taxa efetiva bimestral resultante da taxa nominal de 48% ao ano capitalizada semestralmente. 6) Qual a taxa efetiva mensal, equivalente a uma taxa nominal de 36% a.a. com capitalização trimestral? 7) Qual a taxa real de juros, considerando uma taxa aparente de 9%, e taxa de inflação de 4,3% em um determinado período? 8) Calcule a taxa média de juros com base na tabela abaixo. Considere juros compostos. MÊS TAXA MENSAL (%) 1 1,25 2 1,51 3 2,18 4 3,49 5 0,95 EXERCÍCIOS DE REVISÃO 1) Calcular o valor do montante correspondente a um empréstimo de R$ 2.500,00 pelo prazo de 18 meses, à taxa de 15% a.a. com capitalização mensal. 2) Calcular os juros de um empréstimo no valor de R$ 10.000,00, à taxa efetiva de 5,5% ao semestre, pelo prazo de 10 meses, com capitalização mensal. 3) Os juros de R$ 450,00 foram cobrados de um empréstimo no valor de R$ 1.100,00 à taxa nominal de 3,5 % a.m., com capitalização diária. Calcular o prazo do empréstimo. 4) Qual a taxa efetiva mensal, equivalente a uma taxa nominal de 36% a.a., com capitalização semestral? 5) Se R$ 20.000,00 forem aplicados a 18% a.a capitalizados semestralmente, qual será o montante ao final de 3 anos? 6) Calcular o valor de resgate de uma aplicação no valor de R$ 2.500,00 à taxa de 9% a.s. capitalizados mensalmente, se o prazo de aplicação for de 3 meses e 10 dias. Use a convenção exponencial. 54 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira 7) Uma jaqueta é vendida para primeiro pagamento em 60 dias, em 6 prestações de R$ 50,00. Qual o valor à vista, considerando uma taxa de juros de 25% a.a. capitalizados mensalmente? 8) Calcule a taxa média de rendimento de uma aplicação (ao mês), que rendeu 1,2%, 1,5% 1,9%, 1,6% e 2,2% ao mês. Considere que esta aplicação capitaliza os juros mensalmente. 9) Se a inflação em determinado ano foi de 6,2%, e o rendimento de uma aplicação foi de 15,7%, qual foi o ganho real desta aplicação? 55 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira GABARITO DOS EXERCÍCIOS DE TAXAS DE JUROS 1) 15,76% a.t. 2) 1,94 % a.m. 3)7,85 % a.b. 4) 28,75% a.a. 5) 7,43% a.b. 6) 2,91 % a.m. 7) 4,51% no período 8) 1,87% ao mês GABARITO DOS EXERCÍCIOS DE REVISÃO 1) R$ 3.126,44 2) R$ 933,37 3) 9,8 meses 4) 2,8 % a.m. 5) R$ 33.542,00 6) R$ 2.627,20 7) R$ 273,59 8) 1,68% ao mês 9) 8,94% de rendimento real 56 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira APÊNDICE: COMISSÃO DE PERMANÊNCIA Um termo usado em certos contratos bancários é a “comissão de permanência”. Trata-se de um encargo financeiro incidente sobre a operação de crédito, mas que, por decisão do STJ de 13/06/2012, não pode ser cumulada com outros encargos. Vejamos a decisão: Súmula 472: “A cobrança de comissão de permanência – cujo valor não pode ultrapassar a soma dos encargos remuneratórios e moratórios previstos no contrato – exclui a exigibilidade dos juros remuneratórios, moratórios e da multa contratual”. Se o banco cobra comissão de permanência, não pode cobrar junto com ela juros remuneratórios, multa ou quaisquer encargos moratórios, pois estes encargos já estão presentes na composição da comissão de permanência, inclusive correção monetária, senão vejamos a decisão de 09/10/1991 do STJ: Súmula 30: “A comissão de permanência e a correção monetária são inacumuláveis.” 57 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira CAPÍTULO 6 CORREÇÃO MONETÁRIA ___________________________________________________________________ Correção (ou atualização) monetária é um expediente que tem como objetivo atualizar um valor expresso em moeda, no tempo. Essa atualização só faz sentido quando o valor da moeda se modifica através do tempo, o que ocorre devido à inflação. Em períodos de alta inflação, é importante se efetuar a atualização monetária dos salários, por exemplo, para que a população não perca poder de compra. Então, incialmente devemos entender o que é inflação. Inflação é um fenômeno caracterizado pelo aumento contínuo e generalizado dos preços. Essa elevação costuma ocorrer por motivos de elevação na procura por produtos e serviços (o que é chamado de inflação de demanda). Pressões de demanda ocasionadas, por exemplo, por uma política econômica que vise elevar o consumo (como maior facilidade à obtenção de crédito), pode gerar inflação. Há também a inflação de custos, a qual ocorre por elevação dos custos de produção e que são repassados aos preços. Um exemplo típico de inflação de custos é a elevação do preço do petróleo, que por impactar no custo dos transportes, se dissemina pela economia. Para se fazer a atualização monetária, vários são os índices que podem ser usados. No entanto, a escolha do índice depende do objeto que terá o valor atualizado. Entre os índices brasileiros mais conhecidos estão o Índice de Preços ao Consumidor Ampliado (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP – M), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Um índice de inflação visa medir o quanto os preços estão subindo (ou caindo), logo diversos itens entram em seu cálculo. Se estivermos falando de um índice de preços ao consumidor (IPC), então deverá entrar em seu cálculo itens que são de consumo rotineiro pelas famílias de determinada região, incluindo-se bens e serviços (ex: energia elétrica, pão, roupas, detergente, etc). Cada ítem, entretanto, terá um peso diferente, de maneira a refletir sua importância perante o orçamento das famílias. É com base nas variações percentuais de um índice que irá se realizar o cálculo de atualização monetária. Para se proceder ao cálculo da atualização monetária, deve-se efetuar a multiplicação dos índices das taxas de inflação do período a ser considerado, conforme a fórmula a seguir, de forma a se ter a inflação acumulada. 58 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira 1+ Ia = (1 + I1) x (1 + I2) x (1 + I3) x… x (1 + In) Onde: • Ia = Inflação acumulada • In = inflação do enésimo período Após, basta multiplicar o valor base pela inflação acumulada do período: Va = Vb x (1+ Ia) Onde: • Vat = Valor atualizado • Vb = Valor base • Ia = Inflação acumulada EXERCÍCIO RESOLVIDO Com base nos dados de inflação do IPCA dos anos de 2010 a 2014, atualize o valor de um salário no valor de R$ 5.000,00, aplicando a inflação acumulada do período todo. ANO IPCA (%) 2010 5,91 2011 6,50 2012 5,84 2013 5,91 2014 6,41 Resolução algébrica: 1 + Ia = 1,0591 x 1,0650 x 1,0584 x 1,0591 x 1,0641 Vat = 5.000,00 x 1,35 = 6.727,07 59 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira Resolução com HP 12c: 5.91 ENTER 100 : 1 + 6.5ENTER 100 : 1 + X 5.84 ENTER 100 : 1 + X 5.91 ENTER 100 : 1 + X 6.41 ENTER 100 : 1 + X 5000 X Resposta: R$ 6.727,07 EXERCÍCIOS DE CORREÇÃO MONETÁRIA 1) Você comprou uma obra de arte por R$ 8.360,00. Porém, após 10 anos resolveu vendê-la por R$ 15.000,00, acreditando ter feito um excelente negócio. A inflação no período foi de 83,47%. Quanto deveria ter cobrado com base apenas na correção monetária do valor pago? 2) Um imóvel foi adquirido em dez/2014, por R$ 200.000,00. Atualize seu valor com base no INCC-M da tabela a seguir. Data INCC-M (var. %) jan/15 0,92 fev/15 0,31 mar/15 0,62 abr/15 0,46 mai/15 0,95 jun/15 1,84 60 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira 3) Você entrou com uma ação judicial contra uma empresa, cujo valor da causa era de R$ 23.000,00 a 6 anos atrás. Você ganhou a causa, sendo que este valor deverá ser corrigido monetariamente, conforme as taxas de inflação da tabela abaixo. Quanto deverá receber hoje? ANO INFLAÇÃO (var. %) 1 10,21 2 8,44 3 6,84 4 7,92 5 4,72 6 6,17 GABARITO DOS EXERCÍCIOS DE CORREÇÃO MONETÁRIA 1) R$ 15.338,09 2) R$ 210.403,84 3) R$ 35.237,54 61 Lisandro Fin Nishi Matemática Financeira APÊNDICE: O EQUÍVOCO DO USO DE TAXAS DE JUROS COMO ÍNDICES DE CORREÇÃO MONETÁRIA Desde 1991 a remuneração do FGTS vem perdendo para a inflação, embora a Lei que instituiu o FGTS tenha previsto atualização monetária acrescidos de juros de 3% ao ano. Isso vem ocorrendo porque a atualização monetária do FGTS é realizada pela Taxa Referencial (TR), que há tempos vem sendo muito inferior a qualquer índice de preço, como o IPCA, IGP-M e outros que servem para calcular a inflação. O resultado é que o trabalhador brasileiro que tem carteira assinada, todo mês tem descontado 8% do seu salário para o FGTS, e este valor vem perdendo poder de compra no Fundo. Milhares que se sentiram prejudicados procuraram o judiciário, até que o governo resolveu mudar a regra de remuneração, com o Projeto de Lei 4566- B/2008. Todavia, a regra presente neste Projeto de Lei carrega o mesmo equívoco da regra anterior: continua a TR como índice de atualização monetária, ao invés de um índice de preço. A remuneração ficará semelhante à da caderneta de poupança (TR + 6% ao ano). Melhora, mas não acaba com o problema, uma vez que a remuneração da poupança pode também ser inferior à inflação. Para acabar com o problema pela raiz, deve-se substituir a TR por um índice de preço, como o IPCA. O fato é que taxas de juros tem sido reconhecidas como indexadores válidos, inclusive para correção monetária. A decisão do STJ de 12/05/2004 (Súmula 295) diz: “A Taxa Referencial (TR) é indexador válido para contratos posteriores à Lei n. 8177/91, desde que pactuada”. Embora o termo “indexador” não signifique necessariamente índice de correção monetária, seu uso tem sido neste sentido. Em termos bastante claros, em 28/04/2004 o STJ decidiu: Súmula 288: “ A Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) pode ser utilizada como indexador de correção monetária nos contratos bancários.” Em se tratando de taxa de juros, tanto a TR como a TJLP não cumprem com a função de corrigir
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