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CCJ0052-WL-B-AMRP-02-Lógica Formal e Lógica do Razoável

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TEORIA PRÁTICA DA REDAÇÃO JURÍDICA 
ALDA DA GRAÇA MARQUES VALVERDE 
AULA 2 
Lógica Formal e Lógica do Razoável no discurso jurídico 
Objetivos 
‐ Diferenciar Lógica Formal de Lógica do Razoável; 
‐ Compreender e aplicar o princípio da razoabilidade como norteador 
da atividade interpretava do Direito; 
‐ Desenvolver estratégias criavas e consistentes de argumentação . 
 
Desenvolvimento do conteúdo 
 
O Direito é uma ciência dinâmica. Sempre que nos encontramos diante 
de uma questão jurídica nova, devemos nos perguntar qual a melhor maneira 
de resolver a lide que se nos apresenta. 
Quando um caso concreto trata de questão já prevista em lei, os 
processos silogísticos de subsunção do fato à norma auxiliam confortavelmente 
o advogado na solução do problema. Como, porém, solucionar temáticas 
inéditas? De que maneira a analogia e os princípios gerais do Direito podem 
subsidiar raciocínios jurídico-argumentativos persuasivos? 
Percebemos que, em situações tais, a habilidade argumentativa 
pautada pela razoabilidade sobrepõe-se à necessidade do conhecimento da 
norma positivada que pouco contribui para dirimir o conflito de interesses entre 
as partes. 
Um dos casos singulares em que se observa esse problema é a 
polêmica ação judicial na qual os herdeiros de Humberto de Campos, ilustre 
escritor brasileiro, pedem a declaração judicial de que as obras psicografadas 
pelo médium Francisco Cândido Xavier, atribuídas ao espírito do escritor, não 
são desse autor, ou que, uma vez identificadas como de sua autoria, sejam 
pagos os direitos autorais aos seus sucessores. 
Compreendida essa realidade, propomos que seja lido o texto adiante, 
redigido por Maurício Lopes de Oliveira,[1] que esclarece sobre esse processo. 
 
 
 
1- Leitura do texto de MAURÍCIO LOPES DE OLIVEIRA, 
Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de 
Janeiro; Membro do Centro de Estudos de Direitos das Criações 
Imateriais da Universidade de Montpellier, França, onde é Mestrando em 
Direito e diplomado pelo Centro de Estudos Internacionais da 
Propriedade Industrial da Universidade de Strasbourg, França, e Membro 
do escritório Gusmão & Labrunie S/C Ltda., São Paulo. Disponível em: 
<http://www.buscalegis.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/a
rticle/viewFile/6952/6519>. Acesso em 18 de setembro de 2010 
 
Marcelo Souto Maior, Jornalista que publicou a biografia de 
Francisco Cândido Xavier (As Vidas de Chico Xavier, Ed. Rocco, 1996), relata 
que no início do ano de 1944, o médium abriu um envelope enviado pela 
Oitava Vara Cível do Rio de Janeiro e assustou-se. A viúva e os três filhos do 
escritor Humberto de Campos moviam um processo contra ele e a Federação 
Espírita Brasileira. 
 
O fato era que a editora da Federação Espírita Brasileira havia 
publicado cinco obras, duas delas já em terceira edição, atribuídas ao espírito 
do falecido escritor, psicografadas pelo médium Francisco Cândido Xavier. 
Essas publicações deixaram a viúva de Humberto de Campos, 
Catarina Vergolino, numa situação incômoda, pois mantinha contrato com outra 
editora, que publicava a obra de seu marido, produzida por ele em vida. Diante 
de seu silêncio, os editores poderiam supor que ela lucrava com os títulos 
póstumos. Na verdade, Catarina não tinha recebido um tostão, sequer havia 
sido consultada. 
Assim sendo, a viúva do referido homem de letras constituiu 
advogado e promoveu ação declaratória, em face da Federação Espírita 
Brasileira e de Chico Xavier, colocando a Justiça no seguinte dilema: declarar 
que as obras não eram do espírito de Humberto de Campos, fazendo cessar a 
publicação; ou declarar que as obras eram do espírito de Humberto de 
Campos, reconhecendo os direitos autorais de seus herdeiros, dando-lhes 
participação nos lucros. 
Catarina requereu todos os meios de provas científicas possíveis, 
exigindo demonstrações mediúnicas para verificação da sobrevivência e 
operosidade do espírito de Humberto de Campos. 
Propunha exames gráficos dos textos escritos por Chico Xavier, 
além de provas testemunhais. Queria ter a certeza de que as cinco obras 
atribuídas ao espírito do escritor foram mesmo ditadas pelo morto. 
 
O Advogado Miguel Timponi, católico praticante, apresentou sua 
contestação. 
Timponi sustentou que afirmar ou negar que as obras fossem de 
Humberto de Campos seria decretar a oficialização de um princípio religioso, 
filosófico ou científico, o que o magistrado jamais poderia fazer, dada sua 
inerente neutralidade diante de tais princípios. 
Argumentou, ainda, que depois de morto, o indivíduo não pode 
adquirir direitos e que os herdeiros de Humberto de Campos não poderiam ser 
reconhecidos como sucessores de direitos patrimoniais sobre uma obra que 
inexistiu durante a vida do autor. 
Finalmente Timponi alegou que Humberto de Campos, ser humano 
que deixou de existir, não tem qualquer relação com o espírito, que sobrevive 
de acordo com os cânones do espiritismo. Assim, a designação "Espírito de 
Humberto de Campos", presente nas obras mediúnicas, não compromete o 
nome do escritor. 
Como testemunha em favor dos réus, Timponi convocou o próprio 
espírito de Humberto de Campos, que se manifestaria através do médium 
Chico Xavier. 
De fato, durante todo o processo, o espírito se manifestou, 
demonstrando seu descontentamento com a situação. 
Merece destaque o seguinte trecho da referida sentença: 
 
Ora, nos termos do art. 10 do Código Civil "a 
existência da pessoa natural termina com a 
morte"; por conseguinte, com a morte se 
extinguem todos os direitos e, bem assim, a 
capacidade jurídica de os adquirir. No nosso 
direito é absoluto o alcance da máxima mors 
omnia solvit. Assim, o grande escritor 
Humberto de Campos, depois de sua morte, 
não poderia ter adquirido direito de espécie 
alguma e, conseqüentemente, nenhum direito 
autoral poderá da pessoa dele ser transmitido 
para seus herdeiros e sucessores. 
 
Do exposto, conclui-se que, no caso vertente, não 
há nenhum interesse legítimo que dê lugar à ação 
proposta. Além disso, a ora intentada (ação 
declaratória) não tem por fim a simples declaração 
de existência ou inexistência de uma relação 
jurídica, nos termos do § único do art. 2º do Código 
de Processo, e sim a declaração da existência ou 
não de um fato (se são ou não do espírito de 
Humberto de Campos as obras referidas na inicial), 
do qual hipoteticamente, caso ocorra ou não, 
possam resultar relações jurídicas que a suplicante 
enuncia de modo alternativo. Assim formulada, a 
inicial constitui mera consulta; não contém nenhum 
pedido positivo, certo e determinado, sobre o qual a 
Justiça se deva manifestar. 
Como observa, com razão, a contestação, a 
presente ação declaratória, tal como está formulada 
a conclusão inicial, jamais poderia ser julgada 
improcedente, se fosse admissível. 
Posto isso, julgo a suplicante carecedora da ação 
proposta e a condeno nas custas. 
 
Esta sentença foi confirmada, em 3 de novembro de 1944, por 
acórdão da Quarta Câmara do Tribunal do Distrito Federal. 
Questões a serem discutidas: 
1) Como decidir se não há previsão em lei que permita dirimir este conflito? 
2) Que argumentos justificaram a decisão proferida? 
3) Haveria outras ponderações que justificassem a decisão? 
4) Haveria argumentos que justificassem uma decisão favorável à autora? 
Caso sua resposta seja afirmativa, registre-os. 
Conclusão: 
 O ser humano, cujos hemisférios do cérebro se dividem em razão e 
emoção, utiliza-se dos dois tipos de raciocínio: o dedutivo (lógica formal) e o 
indutivo (lógica do razoável). Observa-se que, em algumas circunstâncias,a 
lógica do razoável supera a lógica formal. Isso ocorre quando a lei oferece uma 
solução que não demonstra ser justa em virtude das peculiaridades do caso 
concreto ou quando o fato ainda não está positivado, mas solicita por uma 
solução jurídica. 
Sintetizando... 
 Lógicas argumentativas 
Lógica formal Lógica do razoável 
Raciocínio dedutivo Raciocínio indutivo 
 Subsunção Ponderação 
 Razão Emoção 
 Lei Jurisprudência 
 Princípios 
 
 
Novo caso concreto: 
“O Mudinho de Coité 
Vídeo do youtube: http://www.youtube.com/watch?v=-RUAY-hbsqE ” 
 
Leitura da sentença do juiz 
Processo Número1863657-4/2008 
 Autor: Ministério Público Estadual 
 Réu: B.S.S 
 B.S.S é surdo e mudo, tem 21 anos e é conhecido em Coité como “Mudinho.” 
 Quando criança, entrava nas casas alheias para merendar, jogar vídeo-
game, para trocar de roupa, para trocar de tênis e, depois de algum tempo, 
também para levar algum dinheiro ou objeto. Conseguia abrir facilmente 
qualquer porta, janela, grade, fechadura ou cadeado. Domou os cães mais 
ferozes, tornando-se amigo deles. Abria também a porta de carros e dormia 
candidamente em seus bancos. Era motivo de admiração, espanto e medo! 
 O Ministério Público ofereceu dezenas de Representações contra o então 
adolescente B.S.S. pela prática de “atos infracionais” dos mais diversos. O 
Promotor de Justiça, Dr. José Vicente, quase o adotou e até o levou para 
brincar com seus filhos, dando-lhe carinho e afeto, mas não teve condições de 
cuidar do “Mudinho.” 
 O Judiciário o encaminhou para todos os órgãos e instituições possíveis, 
ameaçou prender Diretoras de Escolas que não o aceitavam, mas também não 
teve condições de cuidar do “Mudinho.” 
 A comunidade não fez nada por ele. 
 O Município não fez nada por ele. 
 O Estado Brasileiro não fez nada por ele. 
 Hoje, B.S.S tem 21 anos, é maior de idade, e pratica crimes contra o 
patrimônio dos membros de uma comunidade que não cuidou dele. 
 Foi condenado, na vizinha Comarca de Valente, como “incurso nas sanções 
do art. 155, caput, por duas vezes, art. 155, § 4º, inciso IV, por duas vezes e no 
art. 155, § 4º, inciso IV c/c art. 14, inciso II”, a pena de dois anos e quatro 
meses de reclusão. 
 Por falta de estabelecimento adequado, cumpria pena em regime aberto 
nesta cidade de Coité. 
 Aqui, sem escolaridade, sem profissão, sem apoio da comunidade, sem 
família presente, sozinho, às três e meia da manhã, entrou em uma marmoraria 
e foi preso em flagrante. Por que uma marmoraria? 
 Foi, então, denunciado pelo Ministério Público pela prática do crime previsto 
no artigo 155, § 4º, incisos II e IV, c/c o artigo 14, II, do Código Penal, ou seja, 
crime de furto qualificado, cuja pena é de dois a oito anos de reclusão. 
 Foi um crime tentado. Não levou nada. 
 Por intermédio de sua mãe, foi interrogado e disse que “toma remédio 
controlado e bebeu cachaça oferecida por amigos; que ficou completamente 
desnorteado e então pulou o muro e entrou no estabelecimento da vítima 
quando foi surpreendido e preso pela polícia.” 
 Em alegações finais, a ilustre Promotora de Justiça requereu sua 
condenação “pela prática do crime de furto qualificado pela escalada.” 
 B.S.S. tem péssimos antecedentes e não é mais primário. Sua ficha, 
contando os casos da adolescência, tem mais de metro. 
 O que deve fazer um magistrado neste caso? Aplicar a Lei simplesmente? 
Condenar B.S.S. à pena máxima em regime fechado? 
 O futuro de B.S.S. estava escrito. Se não fosse morto por um “proprietário” ou 
pela polícia, seria bandido. Todos sabiam e comentavam isso na cidade. 
 Hoje, o Ministério Público quer sua prisão e a cidade espera por isso. 
Ninguém quer o “Mudinho” solto por aí. Deve ser preso. Precisa ser retirado do 
seio da sociedade. Levado para a lixeira humana que é a penitenciária. Lá é 
seu lugar. Infelizmente, a Lei é dura, mas é a Lei! 
 O Juiz, de sua vez, deve ser a “boca da Lei.” 
 Será? O Juiz não faz parte de sua comunidade? Não pensa? Não é um ser 
humano? 
 De outro lado, será que o Direito é somente a Lei? E a Justiça, o que será? 
 Poderíamos, como já fizeram tantos outros, escrever mais de um livro sobre 
esses temas. 
 Nesse momento, no entanto, temos que resolver o caso concreto de B.S.S. O 
que fazer com ele? 
 Nenhuma sã consciência pode afirmar que a solução para B.S.S seja a 
penitenciária. Sendo como ela é, a penitenciária vai oferecer a B.S.S. tudo o 
que lhe foi negado na vida: escola, acompanhamento especial, afeto e 
compreensão? Não. Com certeza, não! 
 É o Juiz entre a cruz e a espada. De um lado, a consciência, a fé cristã, a 
compreensão do mundo, a utopia da Justiça… Do outro lado, a Lei. 
 Neste caso, prefiro a Justiça à Lei. 
 Assim, B.S.S., apesar da Lei, não vou lhe mandar para a Penitenciária. 
 Também não vou lhe absolver. 
 Vou lhe mandar prestar um serviço à comunidade. 
 Vou mandar que você, pessoalmente, em companhia de Oficial de Justiça 
desse Juízo e de sua mãe, entregue uma cópia dessa decisão, colhendo o 
“recebido”, a todos os órgãos públicos dessa cidade – Prefeitura, Câmara e 
Secretarias Municipais; a todas as associações civis dessa cidade – ONGs, 
clubes, sindicatos, CDL e maçonaria; a todas as Igrejas dessa cidade, de todas 
as confissões; ao Delegado de Polícia, ao Comandante da Polícia Militar e ao 
Presidente do Conselho de Segurança; a todos os órgãos de imprensa dessa 
cidade e a quem mais você quiser. 
 Aproveite e peça a eles um emprego, uma vaga na escola para adultos e um 
acompanhamento especial. Depois, apresente ao Juiz a comprovação do 
cumprimento de sua pena e não roubes mais! 
 Expeça-se o Alvará de Soltura. 
 Conceição do Coité- Ba, 07 de agosto de 2008, ano vinte da Constituição 
Federal de 1988.” 
 
TAREFA DE CASA 
• Questão 
• Realize uma pesquisa na Internet sobre casos de difícil solução, em 
virtude do ineditismo que apresentam, e procure identificar como o 
judiciário resolveu a matéria. De posse desse material, debata em sala 
de aula o caso concreto apresentado no texto de Maurício Lopes de 
Oliveira e produza um texto argumentativo de cerca de vinte linhas que 
reflita sobre a seguinte proposição: 
• É possível conciliar os saberes científico, religioso, moral e cultural 
na prestação jurisdicional? 
• Lembre-se de que a razoabilidade deve ser o norte de todos os seus 
raciocínios...

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