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ÉTICA, POLÍTICA E SOCIEDADE
Caderno de Estudos
UNIASSELVI
2013
NEAD
Educação a Distância
GRUPO
Copyright  UNIASSELVI 2013 
Elaboração:
Unidade I
Márcia Bastos de Almeida
Okçana Battini
Giana Albiazzetti
Sandro Luiz Bazzanella
André Bazzanella
Vera Lúcia Hoffmann Pieritz
Unidade II
Márcia Bastos de Almeida
Okçana Battini
Giana Albiazzetti
Sandro Luiz Bazzanella
André Bazzanella
Unidade III
Márcia Bastos de Almeida
Okçana Battini
Giana Albiazzetti
Vera Lúcia Hoffmann Pieritz
Isabella Maria Nunes Ferreirinha.
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
172
T231e Tavares, Fábio Roberto
Ética, política e sociedade / Fábio Roberto Tavares (Org.). Indaial : Uniasselvi, 
2013.
 233 p. : il 
 
 ISBN 978-85-7830-727-1
1.	 Ética política.
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
89130-000 - INDAIAL/SC
www.uniasselvi.com.br
ÉTICA, POLÍTICA E SOCIEDADE
APRESENTAÇÃO
A vida vem nos apresentando situações em que as condutas morais vêm se transformando 
constantemente. Mas em meio às transformações das condutas morais, dos costumes que a 
sociedade vem sofrendo, os valores vão se transformando em outros e em outros mais.
A ética e a moral são os condutores para a sustentabilidade de uma sociedade mais 
humana, mais justa, mais igualitária. É o bem comum que subsidia as condições para as 
condutas morais, para a manutenção de valores que coadunam com o interesse coletivo. Estas 
temáticas estarão presentes na Unidade 1 do nosso Caderno de Estudos, além de conceitos 
que nos farão compreender melhor a ética, a moral, o sujeito e a sociedade.
Na Unidade 2, você irá perceber que a nossa vida é norteada por política, porque ela 
faz parte dela até a morte. Somos sujeitos sociais e vivemos em conjunto, em uma organização 
social. Nós nascemos, vivemos e morremos em uma organização. Essas organizações 
são geridas por uma política. Quando nascemos dependemos de um hospital e, portanto, 
uma política de saúde pública; se vamos para uma creche ou escola de educação infantil, 
dependemos de uma política educacional. 
Você vai acompanhar o movimento do pensamento que construiu as teorias filosóficas 
a partir das concepções dos filósofos. De forma linear e gradativa, começamos com a ideia de 
política na Grécia antiga, até o modelo adotado pelo Estado brasileiro. Em alguns momentos 
vamos apresentar dicas de leituras e filmes para que você possa se utilizar de outros 
instrumentos que lhe servirão de aprendizado. 
Quando o assunto é política podemos nos calar e apenas ouvir, ou nos inflamar com 
discussões que orbitam entre o senso comum e a paixão cega por um candidato ou partido 
político. Essas posturas, no entanto, não traduzem o verdadeiro sentido de discussão ou 
pensamento político, mas de discussão partidária e individualista. É o que veremos na segunda 
unidade deste nosso caderno.
Passamos a maior parte de nossa vida trabalhando e pagando contas dos mais 
diferentes tipos. Por isso, o modelo político de nossos pais é muito da nossa conta, da nossa 
responsabilidade. É assim que vivemos em sociedade.
E sociedade é o tema central da nossa terceira unidade. Como a sociedade se apresenta 
a nós, como ela vai se transformando, evoluindo. A sociedade é global. Vivemos em um mundo 
global. Para isso, devemos entender o processo histórico da globalização e seus impactos 
econômicos, políticos, culturais e sociais. Vamos falar dos processos de mudança em nossa 
sociedade, discutir que cidadão se desenvolve nessa realidade, que homem, com que direitos 
e com que deveres acontece essa evolução da sociedade com esse cidadão em seu seio. 
Vamos também estudar nessa unidade o que grandes pensadores contribuem neste pensar 
iii
ÉTICA, POLÍTICA E SOCIEDADE iv
UNI
Oi!! Eu sou o UNI, você já me conhece das outras disciplinas. 
Estarei com você ao longo deste caderno. Acompanharei os seus 
estudos e, sempre que precisar, farei algumas observações. 
Desejo a você excelentes estudos! 
 UNI
uma sociedade com suas principais características.
É pouco? Acredito que não. Tudo isso foi desenvolvido para que você possa, no 
exercício da leitura, do estudo, do aprofundamento, compreender e fixar o aprendizado de 
forma autônoma, que é a intenção desse modelo de ensino – EaD.
Portanto, vamos à leitura, ao estudo e à reflexão deste caderno.
Bons estudos!
Prof. Fábio Roberto Tavares
SUMÁRIO
UNIDADE 1 – A ÉTICA E A MORAL ................................................................................ 1
TÓPICO 1 – ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL ......................................................... 3
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 3
2 A ÉTICA .......................................................................................................................... 3
2.1 CONCEITO .................................................................................................................. 4
2.2 O CAMPO DA ÉTICA .................................................................................................. 6
2.3 O VALOR DA ÉTICA .................................................................................................... 8
2.4 ÉTICA E JUSTIÇA ....................................................................................................... 9
2.5 ÉTICA E FILOSOFIA ................................................................................................. 10
3 A MORAL ...................................................................................................................... 11
3.1 CONCEITO DE MORAL ............................................................................................. 11
3.2 CAMPO DA MORAL .................................................................................................. 14
3.3 MORAL, AMORAL E IMORAL ................................................................................... 16
4 CONCEPÇÕES DOUTRINAIS DA GRÉCIA ANTIGA À 
 CONTEMPORANEIDADE ........................................................................................... 17
4.1 IDADE ANTIGA .......................................................................................................... 17
4.2 IDADE MÉDIA ........................................................................................................... 20
4.3 IDADE MODERNA .................................................................................................... 21
4.4 IDADE CONTEMPORÂNEA ...................................................................................... 25
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................... 27
RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................................. 34
AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 35
TÓPICO 2 – A ÉTICA E A MORAL CAMINHAM JUNTAS ............................................. 37
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 37
2 EXISTEM DIFERENÇAS? ........................................................................................... 37
3 PROBLEMAS MORAIS E ÉTICOS ............................................................................. 41
4 CONDUTA MORAL: O BEM E O MAL, O CERTO E O ERRADO .............................. 43
5 O SUJEITO ÉTICO-MORAL ........................................................................................44
6 A GÊNESE DA CONSCIÊNCIA MORAL: A NECESSIDADE DO 
 DESENVOLVIMENTO HUMANO ................................................................................ 46
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................... 48
RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................................. 54
AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 55
TÓPICO 3 – A ÉTICA E A MORAL NA SOCIEDADE .................................................... 57
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 57
2 VALORES .................................................................................................................... 57
3 ÉTICA E LIBERDADE: LIBERDADE COMO CAPACIDADE HUMANA .................... 64
4 A ESSÊNCIA DA MORAL COM EMBASAMENTOS ÉTICOS PARA A 
ÉTICA, POLÍTICA E SOCIEDADE v
ÉTICA, POLÍTICA E SOCIEDADE vi
 VIDA COTIDIANA ........................................................................................................ 67
5 RELAÇÕES HUMANAS SOCIAIS .............................................................................. 68
6 DIFERENTES TIPOS DE INTERESSES ..................................................................... 72
6.1 O BEM COMUM ........................................................................................................ 72
6.2 O INTERESSE INDIVIDUAL ..................................................................................... 73
6.3 O INTERESSE COLETIVO ....................................................................................... 73
6.4 O INTERESSE PÚBLICO .......................................................................................... 74
6.5 O INTERESSE PROFISSIONAL ............................................................................... 74
LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................... 75
RESUMO DO TÓPICO 3 ................................................................................................. 78
AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 79
AVALIAÇÃO .................................................................................................................... 80
UNIDADE 2 – A POLÍTICA ............................................................................................. 81
TÓPICO 1 – A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL .................................................... 83
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 83
2 O PENSAMENTO POLÍTICO NA IDADE MÉDIA ........................................................ 83
3 ÉTICA CRISTÃ ............................................................................................................ 85
3.1 AGOSTINHO DE HIPONA ......................................................................................... 90
3.2 TOMÁS DE AQUINO ................................................................................................. 93
4 A POLÍTICA NA MODERNIDADE ............................................................................... 96
5 A CONTEMPORANEIDADE - NOVOS DESAFIOS E QUESTIONAMENTOS ........... 99
6 A SOLIDARIEDADE TEM VEZ? ................................................................................ 103
7 ALGUMAS QUESTÕES POLÊMICAS DA ATUALIDADE ........................................ 105
7.1 FAMÍLIA ................................................................................................................... 106
7.2 SOCIEDADE CIVIL ................................................................................................. 107
7.3 ESTADO ................................................................................................................... 111
LEITURA COMPLEMENTAR ......................................................................................... 112
RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................................ 115
AUTOATIVIDADE .......................................................................................................... 116
TÓPICO 2 – A FILOSOFIA POLÍTICA ........................................................................... 117
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 117
2 POLÍTICA PARA TODOS ........................................................................................... 117
3 ASPECTOS FILOSÓFICOS DA POLÍTICA ............................................................... 121
4 POLÍTICA E ÉTICA .................................................................................................... 124
4.1 DILEMAS ÉTICOS .................................................................................................. 128
4.2 ASPECTOS DA CONSCIÊNCIA ÉTICA E DA LEI ................................................... 129
4.3 ÉTICA COMO INSTRUMENTO POLÍTICO DE GESTÃO E LIDERANÇA .............. 130
5 A PRÁTICA MORAL EM NOSSA SOCIEDADE ........................................................ 132
LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 136
RESUMO DO TÓPICO 2 ............................................................................................... 138
AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 139
ÉTICA, POLÍTICA E SOCIEDADE vii
TÓPICO 3 – A POLÍTICA E O BRASIL ........................................................................ 141
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 141
2 FAMÍLIA REAL NO BRASIL ...................................................................................... 142
3 A DEMOCRACIA ........................................................................................................ 143
LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 146
RESUMO DO TÓPICO 3 ............................................................................................... 148
AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 149
AVALIAÇÃO ................................................................................................................... 150
UNIDADE 3 – A SOCIEDADE EM CONTÍNUA CONSTRUÇÃO ................................. 151
TÓPICO 1 – VIVER NO MUNDO GLOBALIZADO ....................................................... 153
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 153
2 A GLOBALIZAÇÃO ................................................................................................... 153
3 A SOCIEDADE CAPITALISTA ................................................................................... 160
3.1 BREVE HISTÓRICO ............................................................................................... 160
3.2 CARACTERÍSTICAS ............................................................................................... 165
4 A RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, SER SOCIAL E ÉTICA ..................................... 167
4.1 O QUE É TRABALHO? ........................................................................................... 168
4.2 A ÉTICA DO TRABALHO ........................................................................................169
LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 171
RESUMO DO TÓPICO 1 ............................................................................................... 174
AUTOATIVDADE .......................................................................................................... 175
TÓPICO 2 – PENSANDO A SOCIEDADE .................................................................... 177
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 177
2 GRANDES PENSADORES ........................................................................................ 177
2.1 AUGUSTE COMTE ................................................................................................. 178
2.2 ÉMILE DURKHEIM .................................................................................................. 178
2.3 DURKHEIM E A EDUCAÇÃO .................................................................................. 181
2.4 MARX E ENGELS ................................................................................................... 182
2.5 MARX E A EDUCAÇÃO .......................................................................................... 186
2.6 MAX WEBER ........................................................................................................... 188
2.7 WEBER E A EDUCAÇÃO ........................................................................................ 193
2.8 ZYGMUNT BAUMAN .............................................................................................. 194
2.9 JÜRGEN HABERMAS ............................................................................................. 196
2.10 HANS JONAS ........................................................................................................ 197
3 SOCIEDADE DO CONTROLE ................................................................................... 201
RESUMO DO TÓPICO 2 ............................................................................................... 205
AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 206
TÓPICO 3 – SOCIEDADE EM TRANSFORMAÇÃO ................................................... 207
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 207
2 NOVOS CIDADÃOS .................................................................................................. 207
ÉTICA, POLÍTICA E SOCIEDADE viii
2.1 CONCEITO DE CIDADANIA ................................................................................... 208
3 UM NOVO HOMEM .................................................................................................... 212
3.1 HOMEM OPERACIONAL ........................................................................................ 213
3.2 HOMEM REATIVO .................................................................................................. 214
3.3 HOMEM PARENTÉTICO ........................................................................................ 214
4 UMA NOVA SOCIEDADE COM RESPONSABILIDADE .......................................... 215
4.1 A RESPONSABILIDADE SOCIAL ........................................................................... 215
4.2 DIREITOS COM JUSTIÇA SOCIAL ........................................................................ 219
4.3 RESPEITO À DIVERSIDADE E AO PLURALISMO ................................................ 221
5 A SOCIEDADE EM CONSTRUÇÃO .......................................................................... 222
RESUMO DO TÓPICO 3 ............................................................................................... 226
AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 227
AVALIAÇÃO .................................................................................................................. 228
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 229
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UNIDADE 1
A étIcA E A morAl
objEtIvos DE AprENDIzAgEm
 Esta unidade tem por objetivos:
	compreender o conceito de ética e o conceito de moral;
● verificar a evolução da conduta moral ao longo dos anos;
● identificar a importância da ética e da moral para o desenvolvimento 
da sociedade.
TÓPICO 1 – ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
TÓPICO 2 – A ÉTICA E A MORAL CAMINHAM 
JUNTAS
TÓPICO 3 – A ÉTICA E A MORAL NA SOCIEDADE
plANo DE EstUDos
Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada 
um deles, você encontrará um resumo e atividades que reforçarão o 
seu aprendizado.
Márcia Bastos de Almeida
Okçana Battini
Giana Albiazzetti
Sandro Luiz Bazzanella
André Bazzanella
Vera Lúcia Hoffmann Pieritz
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ENTENDENDO A ÉTICA E A MORAL
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 1
Vamos iniciar este tópico buscando a compreensão dos conceitos de ética e moral, 
assim como sua contribuição para a valorização das relações humanas.
Não podemos falar de ética sem vislumbrar a filosofia como fundamento da própria ética e 
da moral. A filosofia foi campo fértil, ao longo da história da humanidade, para o desenvolvimento 
da moral e da ética como parte integrante de uma sociedade que queremos sempre melhor. 
Enquanto a filosofia nos lança nos questionamentos acerca do que é certo e do que é errado, 
a ética nos conduz no caminho daquilo que acreditamos ser o melhor para nós mesmos e 
para os outros. Com esta unidade você terá oportunidade de aprender a construção histórica 
e social da moral, bem como os conceitos de valor e da ética. Também terá oportunidade de 
perceber que a moral está fundamentada (como a fundação de uma construção) a um ethos 
que foi constituído durante a modernidade pelo modelo epistemológico inaugurado naquele 
período. Você poderá analisar e refletir sobre os valores que norteiam o nosso agir nos dias 
atuais e como esse agir foi se modificando na história da cultura ocidental.
UNIDADE 1
2 A ÉTICA
Ao longo da história da humanidade, várias têm sido as áreas que fomentam reflexões 
acerca da ética, até porque a humanidade necessita de acordos para que a sua interação e 
convivência se tornem sustentáveis. Por isso vamos também estudar as concepções doutrinais 
da Grécia até a contemporaneidade.
É nessa perspectiva, da convivência, do entendimento, que queremos trabalhar os 
conceitos a seguir.
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2.1 CONCEITO
Quando falamos de ética, não podemos limitar a uma realidade somente conceitual, em 
que as práticas encontram-se distanciadas do nosso dia a dia, mas, na verdade, ao estudarmos 
a ética poderemos observar que a mesma se encontra implícita nas ações humanas.
No nosso dia a dia, a ética tem presença garantida, porque ela faz parte do ser humano 
em todas as suas atividades, funções, espaço, ou seja, na família, no trabalho, no lazer, enfim, 
onde o ser humano interage com outro, a ética aí se faz presente.
Uma boa percepção de ética vem de Solomon (2006, p. 12), segundo o qual “estudar 
ética não é escolher entre o bem e o mal, mas é se sentir confortável diante da complexidade 
moral”. Nesse sentido, estudar, refletir e entender ética, a sua mais-valia, se faz ao pensarmos 
no contexto da nossa sociedade, nas atitudes humanas.
FIGURA 1 – ÉTICA
FONTE: Disponível em: <http://filosofiapibidufba.blogspot.com.br/2011/04/o-termo-etica-deriva-do-grego-ethos.html>. Acesso em: 8 maio 2012.
ATEN
ÇÃO!
Caro(a) acadêmico(a)! Você sabe a diferença entre ética e moral?
Diversas questões éticas e morais são facilmente confundidas, como coloca Valls (1994, 
p. 7): “A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de 
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explicar, quando alguém pergunta”.
Vejamos então algumas definições sobre ética dentre as referências bibliográficas 
pesquisadas, para nos auxiliar na formação do conceito de ética:
Tradicionalmente, ela é entendida como um estudo ou uma reflexão, científica 
ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes ou sobre as 
ações humanas. Mas também chamamos de ética a própria vida, quando 
conforme aos costumes, e pode ser a própria realização de um tipo de com-
portamento. (VALLS, 1994, p. 7).
“A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade, ou 
seja, é a ciência de uma forma específica de comportamento humano.” (VÁZQUEZ, 2003, p. 23).
Ética é a ciência da conduta humana, segundo o bem e o mal, com vistas à 
felicidade. É a ciência que estuda a vida do ser humano, sob o ponto de vista 
da qualidade da sua conduta. Disto precisamente trata a Ética, da boa e da 
má conduta e da correlação entre boa conduta e felicidade, na interioridade 
do ser humano. A Ética não é uma ciência teórica ou especulativa, mas uma 
ciência prática, no sentido de que se preocupa com a ação, com o ato humano. 
(ALONSO; LÓPEZ; CASTRUCCI, 2006, p. 3).
Etimologicamente falando, ética é derivada do grego ethos, que significa costume, 
hábitos e valores de determinada coletividade. A palavra moral deriva do latim mos – ou mores 
no plural – que também significa costume ou as normas adquiridas como hábito. Segundo o 
Houaiss (2009, p. 324), ética é: “1) Estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta 
humana, do ponto de vista do bem e do mal; 2) Conjunto de normas e princípios que norteiam 
a boa conduta do ser humano”.
A Ética é um saber científico que se enquadra no campo das Ciências Sociais. 
É uma disciplina teórica, um sistema conceitual, um corpo de conhecimentos 
que se torna inteligível aos fatos morais. Mas o que são fatos morais? São os 
fatos sociais que dizem respeito ao bem e ao mal, juízos sobre as condutas dos 
agentes, convenções históricas sobre o que é certo e errado, justo e injusto, o 
que é certo ou errado? Toda coletividade formula e adota os padrões morais 
que mais lhe convém. (SROUR, 2003, p. 7-8).
Portanto, do ponto de vista etimológico, ética e moral significam a mesma coisa, 
contudo há o limiar tênue entre uma e outra. E isso você poderá observar à medida que vamos 
nos aprofundando no assunto. Veja então, resumidamente: “A ética é teoria, investigação ou 
explicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos homens, ou 
da moral, considerado, porém, na sua totalidade, diversidade e variedade”. (VÁZQUEZ, 2003, 
p. 21). A moral é o estudo dos costumes de uma determinada sociedade numa determinada 
época e lugar.
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UNI
● Excisão feminina ou circuncisão feminina: 
WARIS, Dirie; MILLER, Cathleen. Flor no 
deserto. São Paulo: Editora Hedra, 2001.
Esse livro é um relato de Waris Dirie, modelo 
internacional e embaixadora das Organizações 
das Nações Unidas – ONU, em que luta pela 
erradicação da mutilação genital feminina. 
Nascida no deserto da Somália, Waris Dirie foi 
mutilada igualmente a muitas outras meninas. 
Ela foge de seu país e chega a Londres, onde 
desenvolveu trabalhos domésticos até se 
projetar mundialmente como modelo e porta-voz da luta contra 
a circuncisão feminina. Você pode encontrar com o mesmo título 
em DVD.
O que Srour (2003) quer observar é que a ética será sempre o estudo dos valores 
morais, e esses se relativizam conforme a história da humanidade. 
Vários exemplos de práticas da coletividade mundial poderiam se perfilar aqui. E 
chegaríamos à conclusão de que as condutas morais, independente de serem aceitáveis ou 
não do nosso ponto de vista, são práticas de uma sociedade. Vamos citar alguns exemplos 
que você poderá aprofundar:
Infanticídio significa assassínio de recém-nascido ou de criança; o ato de matar 
o próprio filho, sob a influência do estado puerperal, durante o parto ou logo 
depois. O infanticídio feminino é prática que ainda acontece na China, em 
função da política do único filho. (FERREIRA, 2001, p. 417). 
Outro exemplo de prática é a excisão feminina ou circuncisão feminina. É a mutilação 
genital feminina, prática realizada em meninas adolescentes para que não tenham prazer no 
ato sexual.
2.2 O CAMPO DA ÉTICA
Embora a ética seja um assunto basicamente filosófico, seu campo de atuação e reflexão 
pode ser estendido por todas as áreas. A ética também se divide em vários campos do saber: 
teologia, filosofia, psicologia, direito, economia e outros.
A ética como disciplina teórica busca explicar e indicar o melhor comportamento do ponto de 
vista moral, mas como toda teoria não se distancia da prática, porque é a prática do comportamento 
humano que a sustenta e tem como função fundamental “explicar, esclarecer ou investigar uma 
determinada realidade, elaborando os conceitos correspondentes”. (VÁZQUEZ, 2003. p. 20).
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Os problemas teóricos da ética podem ser divididos em dois campos:
1) os problemas gerais e fundamentais: liberdade, consciência, bem, valor, lei e outros;
2) os problemas específicos: aplicação concreta, ou seja, ética profissional, ética política, 
entre outros.
FONTE: Adaptado de: Valls (1994, p. 8)
Srour (2011) aborda as acepções e confusões que a ética provoca. Ele considera que 
existem três tipos de acepções que podem causar confusões, porque ampliam demais as 
concepções da ética: 
1 - A ética é descritiva – que corresponde a juízo de valor, ou seja, quem tem boa conduta 
pode ser considerado como uma pessoa ética, ou seja, uma pessoa virtuosa e íntegra. 
Enquanto quem não condiz com as expectativas sociais pode ser considerado ‘sem ética’. 
Nesse sentido, Srour (2011) considera que a ética assume uma ideia simplista reduzida a 
um valor social, ou apenas um adjetivo.
2 - A ética é prescritiva – a ética como “sistema de normas morais ou a um código de deveres” 
(SOUR, 2011, p. 19), ou seja, os padrões morais que deveriam conduzir categorias sociais 
ou organizações passam a se chamar de código de ética; nesse sentido de prescrição a ética 
e moral tornam-se sinônimo indistinguível.
3 - A ética é reflexiva – que corresponde à teoria de um estudo sistemático como objeto de 
investigação que, ao transitar por diferentes áreas, pode ser considerada como:
• Ética filosófica – que reflete sobre a melhor maneira de viver (ideais morais).
• Ética científica – que estuda, observa, descreve e explica os fatos morais (a moralidade 
como fenômeno).
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ÇÃO!
A ética filosófica quer refletir sobre a maneira de viver.
A ética científica quer observar e descrever a maneira de viver.
Visto tudo isso, você pode pensar: então estudar ética é muito complicado? Claro que 
não, a ética dá a oportunidade para refletir a maneira de viver e entender os costumes do 
nosso tempo.
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2.3 O VALOR DA ÉTICA
Qual seria mesmo o valor da ética para a sociedade? A ética é o discernimento de 
que, embora existam práticas que poderiam ser consideradas ‘morais’, por se tratarem de 
recorrentes na sociedade, ainda assim são práticas que não se suportam do ponto de vista 
ético. A corrupção, porexemplo, tem sido ato recorrente no cenário político nacional e nem por 
isso tornou-se moral e eticamente aceitável.
Então podemos dizer que tudo que é legal é moral? Ou se é moral é legal? Todos nós 
conhecemos algumas práticas que com o passar do tempo tornaram-se costumes e hábitos. 
Mas não quer dizer que práticas como a corrupção passarão a ser aceitas, pela sua recorrência 
ou porque a sociedade já se acostumou.
Práticas que prejudicam a maioria, que não preservam o bem comum, que não 
beneficiam a sociedade, que não preservam a felicidade apontam ao valor da ética, porque é 
através da ética que é possível fundamentar a moralidade e a legalidade.
Então é por isso que a ética tem enorme valor para a sociedade como um todo, porque 
seu papel é fazer reflexões acerca do comportamento humano e a preservação do bem comum 
e da felicidade da ‘cidade’.
ATEN
ÇÃO!
Nem tudo que é legal é moral e nem tudo que é moral é legal.
As questões de legalidade, ilegalidade, moralidade e imoralidade, apresentadas por 
Srour (2003), são muito importantes para que se possa observar na prática o que há de legal 
e moral nas ações do nosso cotidiano.
Nem tudo que é legal é moral e nem tudo que é moral é legal. Vejamos algumas situações 
apresentadas por Srour (2003, p. 59), de acordo com o quadro que segue:
QUADRO 1 – LEGALIDADE E MORALIDADE
Quanto à legalidade? Quanto à moral? Exemplo:
LEGAL MORAL Treinamento de funcionários patrocinado por uma empresa.
LEGAL IMORAL
Falta de correção da tabela do Imposto de Renda 
por longos anos, sob a alegação de que fazê-lo 
seria introduzir o instituto de correção monetária.
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ILEGAL MORAL Desrespeito aos sinais vermelhos de madrugada nas grandes cidades pelo receio de assaltos.
ILEGAL IMORAL As fraudes em licitações públicas.
FONTE: Adaptado de: Srour (2003, p. 59)
Estudar ética, falar de ética, refletir sobre a ética é, portanto, entender toda a dimensão 
da sociedade, da humanidade. A ética, por si só, não vai elaborar um manual de condutas, 
nem tampouco elencar um rol de atitudes certas e erradas.
2.4 ÉTICA E JUSTIÇA
O trabalho em sociedade implica tomar decisões. A todo tempo se decide sobre questões 
gerais e específicas, internas e externas de uma organização.
De acordo com Alonso, Lopes e Castrucci (2010, p. 110), existem três tipos de 
características na tomada de decisões: 
1) decisão pessoal – é o ato humano, livre e de inteira responsabilidade de 
quem toma a decisão; 
2) decisão ética – é o ato do homem, em que a moralidade norteia; 
3) decisão que afeta outrem – é a decisão que considera princípios éticos e 
toma conhecimento dos direitos e limita-se a tais aspectos.
O que os autores querem esclarecer é que as decisões envolvem essas três 
características: o aspecto pessoal da decisão, a moralidade e a ética do quanto a decisão 
pode interferir no outro.
A ética influencia o processo de tomada de decisão para determinar quais são os 
principais valores. A tomada de decisão envolve momentos de escolha entre o bem e o mal e 
entre o bem e o bem. É nesse momento que a alteridade e a justiça tomam parte.
A tomada de decisão envolve a alteridade, que é o senso de justiça, porque diz respeito 
aos outros. Dessa forma, existem tipos de justiça a conhecer que não se esgotam por si só, 
mas organizam a sociedade e dão as prioridades.
● Justiça social – a justiça social apresenta duas vertentes: a) justiça legal – que são as 
obrigações dos cidadãos para com o Estado; b) justiça distributiva – que são as obrigações 
do Estado para com seus cidadãos.
● Justiça legal – “compreende as obrigações dos cidadãos para a sociedade politicamente 
organizada, tais como pagamento de impostos, prestação de serviços públicos (serviço 
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militar, serviços emergenciais) etc.” (ALONSO; LOPES; CASTRUCCI, 2010, p. 111).
● Justiça distributiva – leva em consideração o mérito, ou seja, procura respostas às 
desigualdades e regula as relações entre a comunidade, tais como o imposto de renda: 
quem ganha mais paga mais e quem ganha menos paga menos ou não paga.
● Justiça comutativa – vem do direito positivo, também conhecida como corretiva, é a justiça 
que intercede entre as pessoas físicas ou jurídicas, em virtude de contratos em que são 
fixadas as obrigações das partes.
● Justiça equitativa – é aquela que parte do pressuposto de que todos são iguais.
A justiça, junto à moral e à ética, conduz o ser humano a práticas mais eficientes. Nesse 
caso, não estamos falando da justiça como entidade jurídica, mas da justiça de realizar ações 
que sejam de consciência ética e moral e, é claro, legal.
2.5 ÉTICA E FILOSOFIA
A ética tornou-se um campo vasto nas diversas áreas científicas. Na área médica, 
por exemplo, existe uma grande preocupação quanto ao que é ético ou não nas pesquisas 
de campo, por se tratarem de pesquisas que lidam com o ser humano. Existe um código de 
moral, na verdade chamado de código de ética, que limita e/ou exige que a integridade do ser 
humano seja respeitada.
Apesar de hoje a ética ser uma disciplina adotada em quase a totalidade de áreas 
existentes, seja nas ciências exatas, humanas, biomédicas, sociais, entre outras, ainda assim, 
para que se possa entender a complexidade de seu dinamismo e, por que não, a simplicidade 
de sua reflexão, não se pode fugir da sua origem filosófica.
A filosofia é o arcabouço para os desdobramentos da ética, por isso que existem algumas 
correntes que argumentam contra o caráter científico e independente da ética. A respeito disso, 
Vázquez (2003, p. 25) observa:
Mas, já como assinalamos, isso se aplica a um tipo determinado de ética – a 
normativa –, que se atribui a função fundamental de fazer recomendações e 
formular uma série de normas e prescrições morais; mas esta objeção não 
atinge a teoria ética, que pretende explicar a natureza, fundamentos e condi-
ções da moral, relacionando-a com as necessidades sociais do homem.
Nesse sentido, a apropriação da ética, seja no sentido filosófico ou científico, busca na 
fonte filosófica a doutrina para melhor entender a ética, seja em qual área for. 
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Vamos então para o próximo passo. Já vimos alguns conceitos que aproximam a ética 
da moral. No próximo ponto vamos então entender a moral, sem deixar de recorrer à ética, 
pois você deve ter percebido que não é possível falar de ética sem falar da moral e vice-versa.
3 A MORAL
Caro acadêmico! Conversamos no primeiro ponto sobre a ética e você pode perceber 
que já apareceram alguns aspectos da moral, ou seja, existe uma interface entre moral e ética 
que é indissociável. O importante desse ponto é dar destaque ao conceito de moral e você 
compreender o comportamento humano em relação ao que é moral. Vamos seguir praticamente 
o caminho do conhecimento dos pontos desenvolvidos em relação ao estudo da ética.
3.1 CONCEITO DE MORAL
De acordo com Srour (2003), a ética é perene e a moral é mutável. A ideia de ética é 
que ela não muda, a ética faz reflexões acerca dos costumes, que é o campo da moral. Para 
melhor compreendermos, no Brasil, temos a história da mulher como um bom exemplo de 
mudança de costumes e, por conseguinte, mudança de valores morais.
UNI
● História da mulher no Brasil: DEL PRIORE, Mary 
(Org.). História das mulheres no Brasil. São 
Paulo: Contexto, 1997.
Essa obra conta a trajetória das mulheres, 
desde o Brasil colonial. O livro narra a história 
da mulher, os principais aspectos de seu tempo 
e interseções, como: família, trabalho, mídia, 
literatura, violência, entre outros.
Até a década de 30, a mulher nãopodia votar e nem ser votada, portanto o sufrágio 
feminino foi uma conquista de equiparar a mulher ao homem e torná-la um membro da sociedade 
como qualquer um, ou seja, uma pessoa participativa aos desígnios políticos do país.
No cenário político nacional, a primeira mulher a se tornar deputada federal foi em 1933, 
e somente em 1979 foi eleita a primeira senadora. Em 2011 o país elegeu pela primeira vez 
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uma mulher como Presidente da República. Se você observar os anos – 1933, 1979 e 2011 
–, verá o quanto demora para que os valores se transformem e, ao mesmo tempo, depois de 
estabelecida a mudança, esses valores tornam-se tão familiares que nem mais pensamos 
nessa trajetória de conquista e transformação.
No mundo do trabalho, a mulher conquistou espaço tardiamente, e por esse motivo, 
várias são ainda as desigualdades entre a mulher e o homem no mundo do trabalho. Existem 
diversas pesquisas que apontam mulheres e homens com mesmo nível de escolaridade e 
mesma função e que têm salários diferentes.
FIGURA 2 – A CONQUISTA DA MULHER
FONTE: Disponível em: <http://paduacampos.com.br/2012/2012/07/27/charge-
elas-estao-ocupadas-mesmo/>. Acesso em: 27 maio 2013.
Não se pretende aqui fazer algum tipo de apologia à mulher, muito pelo contrário, a 
mulher é só um bom exemplo para que possamos perceber o quanto ela se transformou perante 
a sociedade. Antes ela não votava e nem era votada, antes ela não trabalhava fora de casa, 
antes a sua vida limitava-se a cuidar de filhos e marido e da casa. E hoje?
FIGURA 3 – CONQUISTA DA MULHER
FONTE: Disponível em: <http://andorinharosa.blogspot.com.br/2009/03/um-
poema-em-homenagem-ao-dia.html>. Acesso em: 27 maio 2013.
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A moral é temporal e é reflexo dos costumes da sociedade.
Portanto, a moral são os costumes, são as práticas do comportamento humano e as 
práticas aceitáveis de uma sociedade. Então, como esses costumes, práticas e culturas mudam? 
Mudam quando a própria sociedade clama por mudanças ou quando, a partir de um movimento de 
um grupo, procura-se conscientizar o resto da sociedade da importância de pensar e agir diferente. 
Foi dado o exemplo da mulher, mas muitos são os outros exemplos que se enquadrariam nesse 
momento para ilustrar essa transformação de valor e costume, a exemplo do homossexualismo, 
doenças que carregavam preconceitos e hoje não mais, entre outros grandes exemplos.
Então se pode dizer que a moral é mutável, como diziam os romanos – “o tempora, o 
mores” – ou seja, os costumes mudam com o tempo. 
Srour (2003, p. 56) elenca alguns itens para a compreensão do que vem a ser moral:
● É um sistema de normas culturais que pauta as condutas dos agentes sociais de uma 
determinada coletividade e lhes diz o que é certo ou não fazer.
● Depende da adesão de seus praticantes aos pressupostos e valores que lhe servem de 
fundamentos.
● Representa um posicionamento diante das questões polêmicas ou sensíveis e constitui 
um discurso que justifica interesses coletivos.
● Organiza expectativas coletivas ao selecionar e definir melhores práticas a serem 
observadas.
● Tem natureza simbólica, essência histórica e caráter plural, e seus cânones variam à 
medida que espelham as coletividades históricas que o cultivam.
Srour (2003, p. 57) ainda resume a moral comparativamente à ética:
Por isso mesmo, as morais são as nervuras sensíveis das culturas e dos ima-
ginários sociais, as peças de resistência que armam as identidades organiza-
cionais, códigos genéticos das condutas sociais requeridas pelas coletividades. 
Assim sendo, enquanto as morais correspondem às representações mentais 
que dizem aos agentes sociais o que se espera deles, quais comportamentos 
são recomendados e quais não o são, a ética diz respeito à disciplina teórica 
e ao estudo sistemático dessas morais e de suas práticas efetivas.
Portanto, o quadro que segue auxilia na formulação de um comparativo entre ética e 
moral, para que essas palavras-chave possam ajudar na diferenciação de uma e outra.
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QUADRO 2 – COMPARATIVO ENTRE ÉTICA E MORAL
ÉTICA MORAL
Perene Temporal
Universal Cultural
Regra Conduta da regra
Teoria Prática
FONTE: A autora
A ética é perene porque as suas reflexões são num curso contínuo e eterno, sempre 
haverá reflexões sobre a ética. Já a moral é temporal, porque de acordo com o tempo, os 
costumes e valores de uma sociedade se modificam.
A ética é universal porque as suas reflexões independem da cultura, sociedade ou 
tempo histórico, as suas reflexões cabem em qualquer lugar e em qualquer tempo, porque se 
referem ao comportamento humano. A moral é cultural porque em cada sociedade, em cada 
lugar, os costumes e valores serão diferentes.
A ética é regra, porque não existe mutabilidade em suas reflexões, as suas reflexões é 
que podem ser realizadas perante as mudanças. A moral é conduta de regra, porque é preciso 
relacionar os valores para que a moral possa instituir a sua conduta.
A ética é teoria porque está situada no campo das reflexões, enquanto a moral se refere 
às práticas do comportamento humano, seus costumes, seus hábitos e seus valores.
Essas as principais diferenças entre ética e moral, que ajudam para auxiliar na 
compreensão quanto às suas ramificações e desdobramentos.
3.2 CAMPO DA MORAL
O campo da moral, pela sua mutabilidade, se torna um campo vasto, em que se 
possibilita uma multiplicidade de ações. Até porque a moral é oriunda das ações e interações 
humanas. A moral, portanto, está em toda parte, nas escolas, nas igrejas, nos hospitais, nas 
organizações privadas e públicas.
É através da moral que os códigos de convivência são estipulados, para que as pessoas 
se comportem adequadamente e também para que haja harmonia na interação humana e da 
instituição.
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Do ponto de vista dessas ações humanas existem dois universos que se constroem 
perante o fim de suas ações: universal e particular.
Na administração pública, por exemplo, os atos administrativos devem estar voltados 
ao universal, porque as suas ações sempre devem preservar o interesse coletivo, portanto no 
meio da administração pública não cabem atos administrativos voltados ao interesse particular.
O campo da moral é vasto, a moral é o alicerce para que a sociedade possa estipular as 
suas regras de convivência. Portanto, condutas morais não são exclusividade da administração 
pública, as condutas morais estão presentes a todo tempo e em qualquer lugar.
Se você for um servidor público, legislador, ou quem sabe um responsável na elaboração 
de políticas públicas, ou simplesmente um cidadão, deve se perguntar: Quem são as pessoas 
que irão se beneficiar com a minha ação? Quais são as atitudes mais apropriadas para que 
um maior número de pessoas possam se beneficiar com as minhas atitudes? A minha ação é 
de interesse próprio ou de interesse coletivo?
Essas perguntas e tantas outras ajudam a sinalizar em qual campo da moral se 
encaminham as nossas ações.
Segundo Srour (2011), existem dois universos que se podem tomar como o início para 
melhor compreensão da prática moral: particularismo e universalismo.
FIGURA 4 – UNIVERSALISMO E PARTICULARISMO
FONTE: Srour (2011, p. 9)
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O universalismo dita as condutas morais positivas, em que existe o consenso para que 
o bem comum seja preservado. Nesse sentido, mesmo quando existem ações voltadas aointeresse de uma minoria ou de um grupo específico, ainda assim esses interesses não vão se 
confrontar com o interesse dos demais. Não há uma rivalidade de interesses, pelo contrário, 
a satisfação dos interesses se dá de forma consensual.
No particularismo, os interesses pessoais ou de um grupo se prevalecem em 
detrimento do interesse de outros, por isso são práticas negativas. Não há um consenso 
de quem precisa mais, para que as práticas nesse universo sejam realizadas de forma 
consensual e em preservação do bem comum. Pelo contrário, existe uma rivalidade de 
interesses para que a vontade de uns se realize independente da necessidade de um ou 
de outro ser maior.
A administração pública, com certeza, está na esfera do universalismo, e é por isso que 
ela existe e é dessa forma que ela deve servir aos cidadãos. Mas o servidor público, que é o 
condutor da prática do serviço público, poderá se encontrar na polaridade da escolha entre 
universalismo e o particularismo, em pequenas atitudes do seu cotidiano.
3.3 MORAL, AMORAL E IMORAL
No item anterior foi possível diferenciar fatos morais de fatos sociais, e dissemos ainda 
que um fato moral pudesse afetar positivamente ou negativamente outrem. Então fato moral se 
divide em moral, quando positivo, e imoral quando negativo. E fato social seria o que alguns 
autores chamam amoral.
Então, o que é agir conforme a moral? O que é o agir imoralmente? Ou o que é uma 
atitude amoral? Como podemos diferenciá-los? De forma bem resumida pode-se dizer que:
● Moral – é agir conforme os valores da sua organização ou sociedade sem prejudicar os 
outros.
● Imoral – é uma atitude que vai contra as normas e valores de uma organização ou sociedade 
e que prejudica os outros.
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● Amoral – quando uma atitude não influi nem positiva e nem negativamente, ou seja, é uma 
ação neutra.
Pode-se concluir que uma atitude moral é uma ação positiva, uma atitude imoral é uma 
ação negativa e uma atitude amoral é uma ação neutra. Dessa forma, o âmbito da moral é 
decidir como agir, é uma questão da prática, enquanto que o âmbito da ética é refletir sobre 
essas ações e suas implicações na felicidade humana.
4 CONCEPÇÕES DOUTRINAIS DA GRÉCIA 
 ANTIGA À CONTEMPORANEIDADE
O conceito de ética visto anteriormente, bem como sua relação com a filosofia, 
com a moral, nos mostrou a grande contribuição e importância da corrente filosófica ao 
mundo da ética e da moral. Neste ponto sobre concepções doutrinais da Grécia antiga 
à contemporaneidade, vamos apresentar as principais doutrinas éticas de acordo com o 
seu tempo.
4.1 IDADE ANTIGA
A Idade Antiga é representada pelos filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles, e é nessa 
época que a ética adquire extremo valor. Esses filósofos se preocupavam com o ser no mundo 
físico, voltados aos problemas sociais e morais. Embora não haja propriamente coesão no 
pensamento e doutrina dos três, ainda assim suas ideias tornam-se próximas no sentido da 
reflexão acerca do homem e da cidade. 
O estudo da Ética, se pode dizer, teve início com os filósofos Sócrates, Platão e 
Aristóteles. O livro Ética a Nicômaco é uma obra de referência, em que a ética vai determinar 
que a finalidade suprema é a felicidade (eudaimonia).
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Eudaimonia quer dizer felicidade para a filosofia. “Em geral, estado 
de satisfação de alguém com sua situação no mundo”. 
FONTE: Abbagnano (2007, p. 455-505)
Nessa época, a questão da ética era o bem supremo da vida humana e, de acordo com 
Passos (2004, p. 32), “não devia consistir em ter a sorte ou ser rico, por exemplo, e sim em 
proceder e ter uma alma boa”.
Para Socrátes, a questão ética era o que bastava o homem saber, ter bondade para ser 
bom. O conhecimento, para Sócrates, era uma virtude, porque pensava que com o conhecimento 
o homem conseguia ser bom e ter a felicidade. Por esse motivo é que há um entrelaçamento 
entre bondade, conhecimento e felicidade.
Para Platão, o conceito de cidade (polis) perfeita estava baseado em valores éticos e 
morais. Platão aborda que os conceitos da mente humana não são reais, mas sim imagens 
reflexas. Diferente de Socrátes, Platão considerava que a moral é a arte de preparar o indivíduo 
para a felicidade que não se encontra na vida terrena.
Em Aristóteles, a felicidade, finalidade suprema da ética, só pode ser alcançada se o 
homem fosse capaz de moderar suas paixões. Aristóteles preocupou-se com a forma como 
as pessoas viviam na sociedade e contribuiu muito para o entendimento da ética e a busca 
da felicidade individual e coletiva. De acordo com Passos (2004, p. 34), Aristóteles propunha 
uma ética finalista:
no sentido de visar um fim, no caso, que o ser humano pudesse alcançar a feli-
cidade. Entendia a moral como um conjunto de qualidades que definia a forma 
de viver e de conviver das pessoas, uma espécie de segunda natureza que 
guiaria o homem para a felicidade, considerada a aspiração da vida humana.
Sócrates foi considerado um marco da filosofia, de modo que todos os filósofos 
que antecederam a época dos filósofos citados são conhecidos por pré-socráticos. Os pré-
socráticos também eram conhecidos como naturalistas, ou filósofos da natureza. Esses filósofos 
preocupavam-se mais em entender as coisas, em dar explicação para a natureza e para o 
mundo.
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FIGURA 5 – SER UM FILÓSOFO
FONTE: Disponível em: <http://www.umsabadoqualquer.com/category/socrates/>. Acesso em: 27 
maio 2013.
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Sócrates (469-399 a. C.) – é responsável pelo método da 
indagação, o que se restringe ao homem, sem interesse na 
natureza. “Identificação entre ciência e virtude, no sentido de que 
só é possível ensinar e aprender a virtude, e não é possível praticar 
o bem sem conhecê-lo”. (ABBAGNANO, 2007, p. 1085).
Platão (427-347 a. C.) – responsável pela doutrina das ideias, 
sabedoria e dialética. (ABBAGNANO, 2007, p. 892).
Aristóteles (394-322 a. C.) – responsável pelo conceito da 
metafísica, da lógica, inspirou várias outras tendências do mundo 
medieval e moderno. 
FONTE: Abbagnano (2007, p. 90)
A ideia da polis (cidade) é muito importante, porque é referência na organização social 
da sociedade em prol do bem comum. É que os homens se reuniam e decidiam o melhor para 
todos, assim como aborda Passos (2004, p. 32):
O surgimento da polis fez com que o centro da cidade passasse a ser a praça 
pública, a ágora. Nela aconteciam as discussões e era permitida a participação 
de todos os cidadãos, quais sejam: os homens adultos, excetuando-se os es-
cravos e os estrangeiros. Nessa nova forma de organização social e política, a 
democracia, o logos, ou seja, a razão, a palavra e o discurso tornaram-se mais 
importantes do que a condição social e econômica do indivíduo. Isso porque 
se entendia que os assuntos públicos dependiam do poder de argumentação.
Outro autor importante a que podemos recorrer é Passos (2004), que em seu livro “Ética 
nas organizações”, discorre e elucida resumidamente sobre as principais doutrinas éticas, 
apresentando como principais filósofos:
● Sócrates (469-399 a. C.):
dedicou-se à busca da verdade, que deveria ser uma forma de juízo universal, 
capaz de dirigir a vida das pessoas, no plano pessoal e político”. Para Sócra-
tes, “as questões morais não são puramente convenções influenciadas pelas 
circunstâncias, mas problemas que devem ser resolvidos à luz da razão”. 
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(PASSOS, 2004, p. 32-33).
● Platão (427-347 a. C.): sua teoria ética relaciona-secom a política e a razão (prudência), 
sua maior contribuição foi vislumbrar a cidade perfeita guiada pelos princípios morais.
● Aristóteles (384-322 a. C): “O bem moral consistia em agir de forma equilibrada e sob a 
orientação da razão. O ‘meio-termo’, o ponto justo, levaria à felicidade, a uma vida ‘boa e 
bela’, não como privilégio individual e sim coletivo”. (PASSOS, 2004, p. 35).
● Epicuro (341-270 a. C): teve sua filosofia dividida em três partes: canônica, física e ética; 
“uma vida feliz é impossível sem a sabedoria, a honestidade e a justiça, e estas, por sua 
vez, são inseparáveis de uma vida feliz”. (CARBISIER apud PASSOS, 2004, p. 35).
● Zenão (324-263 a. C.): doutrina do estoicismo, que é uma ética, uma forma de viver em que 
a natureza consistia na orientação central, que significava viver conforme a virtude.
Vistos os principais nomes da filosofia da Idade Antiga, é interessante o seu estudo e sua 
contribuição à ética, na medida em que o pensamento filosófico, também como os costumes, se 
embebe de novas fontes, contudo sem perder o fio condutor em relação à sua reflexão quanto 
aos aspectos morais e às virtudes. Vamos para o próximo período, a Idade Média.
4.2 IDADE MÉDIA
A Idade Média é identificada muito fortemente pelo Renascimento, que foi considerado 
um movimento literário, artístico e filosófico que teve duração entre o fim do século XIV ao 
fim do século XVI. Suas características principais foram o humanismo, a renovação religiosa, 
a renovação das concepções políticas e o naturalismo (novo interesse pela investigação da 
natureza).
Nessa época, a situação política e social era mais complexa, por esse motivo não se 
podia pretender a mesma harmonia da polis. De acordo com Passos (2004, p. 37), “também por 
questões ideológicas houve o predomínio da teoria sobre a prática”, e o cristianismo tornou-se 
a religião oficial, o que influenciou as condutas morais.
As concepções filosóficas destacadas por Passos (2004), ou seja, os principais filósofos 
deste período, foram:
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● Santo Agostinho (354-430): ‘compreender para crer, crer para compreender’. Para Agostinho, 
o dom divino era o único capaz de resgatar o homem de seus pecados. Nesse sentido, a 
ética estava ligada aos valores da moral cristã.
● Tomás de Aquino (1225-1274): a ética consiste em agir de acordo com a ordem natural, o 
homem tem livre-arbítrio e, orientado pela consciência, tem uma capacidade de captar, pela 
intuição, a ordem moral – ‘faz o bem e evita o mal’.
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Na Idade Média, a ética tem sua base na moral cristã. Veremos 
mais detalhadamente esta questão e os dois grandes expoentes – 
Agostinho e Tomás de Aquino na próxima unidade.
De acordo com Passos (2004, p. 39), a Idade Média inaugura uma novidade na questão 
da moral:
ao deslocar o eixo fim último da vida humana, de um valor bom em si mesmo 
para um bem que está em Deus. Se, para as concepções anteriores, a felicidade 
era atingida no próprio ser, agora ele se encontra no plano transcendental, e 
atingi-la requer apreender o fim último que se encontra em Deus.
A ética na Idade Média, portanto, foi considerada a fase da era cristã, em que os 
desígnios morais do cristianismo tornavam-se os ditames do comportamento moral. Na Idade 
Média, portanto, o conceito de felicidade não pode ser atingido nem pela razão, nem pela 
filosofia, mas pela fé cristã.
4.3 IDADE MODERNA
Como estudamos a ética, na Idade Antiga, era explicada pela perspectiva da natureza. 
Vamos ainda estudar de modo mais demorado no Tópico 1 da Unidade 2, a perspectiva 
cristã da ética com Agostinho e Tomás de Aquino, em que tudo vinha da natureza ou de 
Deus. Na Idade Moderna essa perspectiva muda e traz o homem como responsável pelas 
suas ações.
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Nesta perspectiva, nossa primeira dificuldade está na demarcação temporal daquilo 
que nomeamos de modernidade. Partindo de uma visão histórica, pautada numa lógica linear, 
podemos estabelecer as fronteiras temporais da modernidade do século XVI ao século XX, 
mas tendo presente que estas datações têm um significativo caráter de arbitrariedade em 
relação aos acontecimentos culturais, políticos, econômicos. Porém, se buscarmos estabelecer 
uma demarcação dos primórdios da modernidade a partir de ideias norteadoras, também 
encontraremos algumas dificuldades, na medida em que a modernidade assume prerrogativas 
medievais em sua constituição, perpassando o pensamento de filósofos e influenciando nossa 
forma de ser e estar no mundo até a contemporaneidade.
Portanto, tendo em vista os limites históricos e conceituais da modernidade, nosso 
esforço será o de destacar alguns pressupostos que consideramos fundamentais para a 
discussão das propostas éticas que se constituirão no desenvolvimento do mundo moderno.
Um dos primeiros pressupostos é o clássico conceito de “antropocentrismo”. O homem 
assume a centralidade do cosmo, ou seja, através do desenvolvimento da razão assume 
a existência em suas próprias mãos (“Cogito, ergo sum” – “Penso, logo existo”, de René 
Descartes), e a explicar os fenômenos, dominar a natureza (Conhecer é poder, de Francis 
Bacon), a construir seu mundo segundo sua vontade e representação (Schopenhauer), 
afastando-se assim da perspectiva teocêntrica medieval que o submetia a uma perspectiva 
heterônoma diante de si, dos outros, do mundo. Portanto, o ser humano moderno passa a 
ser senhor de si, a afirmar em alto e bom tom “eu sou”, sou livre e igual aos outros homens 
por meio da razão, da capacidade de pensar, de refletir e intervir no mundo e modificá-lo, 
modificando-se a si próprio.
Outro pressuposto decorrente dos princípios anteriormente expostos é a ideia de verdade 
presente na modernidade. A verdade já não é mais revelada pelo transcendente ao homem, 
mas o resultado do esforço racional subjetivo de representação que o ser humano realiza 
sobre o mundo, a partir das relações que estabelece em sociedade. Portanto, algo passa a 
ser verdadeiro na medida em que pode ser racionalmente objetivado e universalizado entre 
os seres humanos.
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REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
FIGURA 6 – IDADE MODERNA INDUSTRIAL
FONTE: Disponível em: <http://www.historiadomundo.com.br/imagens/
idademoderna_industrial1.gif>. Acesso em: 15 dez. 2007.
A Imagem acima marca uma das maiores revoluções que a 
Modernidade trouxe: A Revolução Industrial. Aliada à técnica, 
fábricas se espalham na Europa primeiramente e depois no 
restante do mundo. O modelo fabril torna-se dominante. O trabalho 
assumiu função central. Produção, distribuição e consumo em larga 
escala. Ao mesmo tempo, impactos civilizacionais e ambientais 
sem precedentes. Ideais de progresso, felicidade e modernização 
fundamentam a perspectiva industrializante. O cenário acima 
denuncia essa irreversível transformação natural.
Os desenvolvimentos da ciência e da tecnologia marcam de forma significativa a 
modernidade. Com o desenvolvimento do método científico o homem moderno aguça seu 
olhar investigador, objetiva o mundo, as coisas, a natureza e a si próprio. A relação sujeito- 
objeto passa a ser determinante nas relações científicas do homem. Os avanços da ciência 
são materializados na tecnologia, que contribui significativamente para tornar a vida do homem 
menos rude e precária frente às forças inóspitas do mundo natural. O trabalho é outro dos 
pressupostos fundamentais da modernidade. No mundo antigo o trabalho era visto pelo cidadão 
grego como humilhação e, portanto, era atividade própria de escravos e estrangeiros. O ideal 
do cidadão era a atividade políticanas ágoras públicas. No mundo medieval, o trabalho era 
apenas condição da subsistência, castigo infringido ao homem em função do pecado original. 
Na modernidade passa a ser atividade criadora do mundo e do próprio homem. O trabalho 
é elevado à condição definidora da subjetividade, “sou aquilo que faço”. Mas também é pelo 
trabalho que o homem modifica a natureza e, ao modificá-la, modifica a si próprio, assumindo 
assim uma ação autocriadora.
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A política também é um dos pressupostos definidores da modernidade. A modernidade 
estabelece a política como um mal necessário. Separa a ética da política (Maquiavel) na 
medida em que deixa claro que é inerente à ação política certo grau de imoralidade, em que 
está pressuposta a vontade de domínio e poder sobre os outros. Porém, a política é condição 
e garantia da vida em sociedade. Vamos aprofundar este tema da política na próxima unidade.
E, por último, a ideia de história ganha na Modernidade um sentido totalmente diferente 
que em outras épocas de nossa civilização. Para os gregos antigos, não havia a noção de 
história, uma vez que estavam submetidos ao eterno retorno do mesmo na dinâmica da physis.
Para o mundo medieval a ideia de história está presa à perspectiva teleológica de um 
início, pela obra da criação, e um fim necessário que é Deus. Para a Modernidade, a história é 
processo que teve início com o homem, o que lhe permite avaliar seu progresso, seus avanços 
ao longo de seu caminhar sobre a face da mãe-terra.
Assim, a Idade Moderna, que ocorreu entre os séculos XVI e XIX, difere das anteriores, 
porque passa a existir uma complexidade ainda maior referente aos aspectos econômico, 
político, social e espiritual, principalmente em virtude do capitalismo, desenvolvimento científico 
e estados centralizados.
Na Idade Moderna, a ética passa a ter uma perspectiva diferente, rompe com essa ideia 
suprema de felicidade e traz para a ação humana a responsabilidade de suas ações, e não 
como explicação divina e abstrata, assim como aprofunda Passos (2004, p. 40):
A ética que surge e vigora nesse período é de tendência antropocêntrica, em 
que o ser humano é o seu fim e fundamento, apesar de ainda consistir na ideia 
de um ser universal e possuidor de uma natureza instável. Assim mesmo, ele 
aparece como o centro de tudo: da ciência, da política, da arte e da moral.
Na verdade, o período da Idade Moderna é rico em teorias sobre a ética, mas segundo 
Passos (2004), o grande pensador a destacar é Kant.
Immanuel Kant foi um dos primeiros pensadores responsáveis por esse rompimento. 
De acordo com Guariglia e Vidiella (2011, p. 97), “Kant estabelece de maneira categórica a 
concepção do dever como o centro neurológico da moralidade e imprimindo assim a ética, ou 
seja, a ética torna-se o fim do ser humano, que é a felicidade (ideal de perfeição)”.
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Immanuel Kant (1724-1804) – nasceu e morreu na Alemanha. Foi 
o grande responsável pela escola do criticismo e dentre a filosofia 
moderna e contemporânea.
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Kant nos apresentou dois imperativos em que a ética pode ser compreendida: o hipotético 
e o categórico. No imperativo hipotético as condições são subordinadas. Dessa forma, a ética 
não se explica, porque as ações humanas são consequências de um interesse.
Já no imperativo categórico, em Kant, é o axioma básico para o comportamento moral, 
em que se pode explicar ética. Para Kant, a moralidade, o comportamento moral, vem da razão, 
vem do rigor do raciocínio, é uma lei inflexível, ou seja, as suas ações não são subordinadas a 
condições, são desprovidas de interesse, e, portanto, são de interesses gerais, podem tornar-
se leis universais.
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“Imperativo categórico, em analogia ao termo mandamento, indica 
a norma da razão”. (ABBAGNANO, 2007, p. 628).
Na Idade Moderna, então, se pode perceber que a razão ao cumprimento das leis, da 
moral, torna-se por efeito o dever do cidadão. Assim como destaca Passos (2004, p. 41):
Enquanto as doutrinas éticas anteriores tinham por objetivo atingir uma felici-
dade ou um bem, esta é uma moral da pura razão e do puro dever. A prática 
moral devia basear-se apenas nas orientações da razão, deixando totalmente 
de lado o mundo empírico. Assim, ele construiu uma moral desinteressada, 
desprovida de qualquer finalidade e de qualquer motivação, que não fosse o 
‘cumprimento do dever pelo dever’, pois, para ele (Kant), a única coisa verda-
deiramente boa seria, como dissemos, ‘uma boa vontade’, a disposição em 
seguir a lei moral em detrimento de vantagens que ela pudesse proporcionar 
ao indivíduo. Assim, a lei moral seria incondicional e absoluta.
Então, para Kant, a felicidade só seria possível se o dever se submetesse à moralidade. 
Dessa forma, a ética e a moral nesse tempo estão relacionadas ao cumprimento do dever.
4.4 IDADE CONTEMPORÂNEA
Chegamos à Idade Contemporânea. Este período é marcado pelo progresso científico 
e pela valorização do ser humano concreto. Essa época não busca a humanidade perfeita, ou 
seja, a ideia de cidade (polis) perfeita ou da suprema felicidade, nem tampouco a moral cristã 
dá conta de responder aos novos anseios.
É a época da igualdade e liberdade, marcada pelos direitos fundamentais, “não pela 
imposição ou obrigação, com códigos a serem estabelecidos”. (PASSOS, 2004, p. 42). 
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Destacam-se três grandes concepções: marxismo, pragmatismo e existencialismo, que 
brevemente podemos entender.
O marxismo se refere às ideias filosóficas, políticas e sociais elaboradas por Karl Marx e 
Friedrich Engels. O marxismo entende o homem como ser social e histórico e, também, aborda 
a questão da sociedade produtiva e as lutas de classes.
O pragmatismo é uma doutrina filosófica que adota a utilidade prática. O pragmatismo 
está ligado ao senso prático, em que a verdade está relacionada à utilidade.
O existencialismo tem como ponto de partida o ser humano. O indivíduo, pelas suas 
ações, sentimentos, então essa doutrina se preocupa com o ser humano em relação ao mundo.
Os principais pensadores destacados por Passos (2004) são:
● Karl Marx (1818-1883):
Entendia que o ser humano era ao mesmo tempo social e histórico, objetivo 
e subjetivo, capaz de criar e de interferir na realidade e transformá-la à sua 
medida. Nesse processo, ele não só contribuía a seu mundo concreto, como 
também à sua fundamentação valorativa. (PASSOS, 2004, p. 42).
● Friedrich Nietzsche (1844-1900): procurou estudar a origem dos valores e entender o porquê 
da valorização de uns atos e não de outros, ou seja, a dicotomia entre o bem e o mal.
● Charles Sanders Peirce (1854-1914): apresentou o pragmatismo como um método e não 
como teoria. A moral é algo quando o fim é bom; nesse sentido, quanto aos valores, são 
absolutos. “O que é bom ou mau é relativo, variando de situação para situação. Depende 
de sua utilidade para a atividade prática”. (PASSOS, 2004, p. 45).
● Habermas (1929): as argumentações morais servem para que os conflitos sejam desfeitos 
pelo consenso. O processo reflexivo, intersubjetivo, argumentativo, leva os participantes ao 
comum acordo.
Alguns desses pensadores voltarão a ser lembrados em nosso caderno. Fique atento.
Até o próximo tópico, quando vamos falar do caminhar próximo entre ética e moral.
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LEITURA COMPLEMENTAR
ÉTICA E MORAL
UMA REFLEXÃO SOBRE A ÉTICA E OS PADRÕES DE MORALIDADE OCIDENTAL
Israel Alexandria
1 A MORALIDADE ENQUANTO OBJETO DA ÉTICA
Gosto não se discute. Correntementeessa frase é utilizada quando se quer estabelecer 
a ideia de que gosto é algo radicalmente subjetivo e imutável. Ora, a imensa variedade de 
sujeitos com preferências e opiniões distintas entre si e o fato de um mesmo sujeito mudar 
de preferências e opiniões fazem prova de que a complexa estrutura psíquica humana é 
capaz de aprender e de modificar o que se aprendeu. SUBJETIVIDADE não combina com 
IMUTABILIDADE, logo a frase em questão é contraditória.
Diz-se também que PERSONALIDADE vem da natureza. Quando atribuímos à natureza 
a existência de alguma coisa, estamos simplesmente dizendo que esta coisa não foi criada 
pela cultura, nasce-se com ela. Não há necessidade de aprender o que é natural. O natural é 
inato. Essa coisa chamada personalidade é inerente à pessoa. Pessoa e personalidade vêm 
da mesma palavra: persona. Ninguém nasce pessoa. Ninguém se refere a um bebê como 
“aquela pessoa”, pois se sabe que personalidade tem a ver com um sistema mais ou menos 
definido de gostos, preferências que se vai adquirindo com o tempo.
Embora as preferências e as condições que formam a personalidade sejam tão subjetivas 
e mutáveis, há uma constante que não podemos desprezar. É o princípio do prazer. Todo ser 
dotado de sensibilidade tem a propensão natural de afastar o que lhe está associado à dor e 
buscar o que lhe é prazeroso. O gato morde o homem que lhe pisa a cauda e o vegetal cresce 
em direção ao sol. Para o gato é bom que não lhe pisem na cauda. Para a planta, é bom 
crescer em direção ao sol. O ser humano não foge a essa regra. O bebê humano é capaz de 
manifestar sua percepção de prazer e dor e essa capacidade não se perde com a idade. O que 
muda é a forma como se dá essa manifestação e o objeto do prazer ou o da dor que, por sua 
vez, dependem das circunstâncias. O que permanece imutável é o fato dos sujeitos estarem 
sempre buscando o que lhes parece bom, e afastando o que lhes parece mal. É sobre esses 
dois conceitos que trata a ética.
A ética é uma ciência comprometida com a busca aprofundada das relações entre o 
homem e os conceitos de bem e de mal. Trata-se de uma ciência da qual não podemos nos 
esquivar, pois o bem e o mal, o certo e o errado impregnam nossa conduta prática. Embora a 
maioria não pense no assunto, o comportamento humano é uma contínua resposta às questões 
éticas. É nesse ponto que nasce a distinção entre ética e moral.
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O dicionarista e pensador Nicola Abbagnano (1901-1990) afirma que MORAL é “atinente 
à conduta” (1982: 652), enquanto a ÉTICA é “a ciência com vistas a dirigir e disciplinar a mesma 
conduta” (1982: 360). A moral seriam as regras práticas, e a ética, o fundamento teórico da 
moral. Diz-se moral aristotélica, moral kantiana para enfatizar os respectivos aspectos práticos; 
ética aristotélica, ética kantiana estariam mais relacionados aos seus aspectos teóricos. Alguns 
autores, entretanto, ressaltam que, embora haja uma infinidade de morais: moral cristã, moral 
judaica, moral platônica, moral kantiana etc., a ética seria uma só. É que, sendo esta uma 
ciência, trabalha apenas com conceitos universais. Basicamente, são três os modelos de 
moralidade: aristocrático, utilitarista e kantiano.
2 A MORAL ARISTOCRÁTICA
A moral aristocrática visa fazer com que o indivíduo se aproxime, cada vez mais, de 
um homem ideal e transcendente. Nesse sentido, são morais aristocráticas a moral judaica, 
baseada no modelo de homem de fé (Abraão), a moral cristã, no amor ao próximo (Jesus), a 
moral platônica, no ascetismo (filósofo-rei), a moral budista, na eliminação dos desejos (Buda). 
Mas, na maioria das vezes, esses modelos ideais são apenas descrições sem referências a 
nomes de personagens históricos. A moral aristocrática propõe que cada indivíduo seja dotado 
das virtudes adequadas (a palavra virtude vem de virtu, que significa força) para imitar o modelo 
ou um ideal de vida proposto. A felicidade plena é obtida quando o indivíduo realiza o ideal 
proposto. Quanto mais virtuoso for o indivíduo, maior o seu grau de felicidade.
Sócrates (470-399 a.C.) inventou o ideal cínico (palavra derivada de canino), cuja 
principal virtude é o desprezo às comodidades, às riquezas e às convenções sociais, enfim a 
tudo aquilo que afasta o homem da simplicidade natural de que dão exemplo os animais (no 
caso o cão). Cínico é aquele que vive o descaramento da vida canina. Relata-se que Sócrates 
caminhava nos mercados apenas para saber do que ele não precisava. Outros curiosos relatos 
envolvendo Diógenes, tais como o da “visita do imperador”, “a mão e a cuia”, “a lanterna” etc., 
indicam que este teria sido o maior cínico da história.
Platão (428-348 a.C.) propôs o ideal asceta. A prática da ascese consiste em viver 
na contemplação do mundo das ideias ao tempo que se afasta de tudo o que é corpóreo. “É 
evidente que o trabalho do filósofo consiste em se ocupar mais particularmente que os demais 
homens em afastar sua alma do contato com o corpo” (Platão: Fédon, 65, a). O sábio educa-
se para a morte, ou seja, para o dia em que sua alma se separará definitivamente do corpo, 
migrando para o outro mundo.
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FONTE: <http://www.espiritualismo.info/filosofias.html>.
Aristóteles (384-322 a.C.) definia o homem ideal como aquele que consegue pôr em 
prática tanto a sua animalidade natural como a sua sociabilidade natural, pois o homem é um 
animal social por natureza. "Mesmo quando não precisam da ajuda dos outros, os homens 
continuam desejando viver em sociedade." (Aristóteles. Política: III, 6). Reprimir a animalidade 
ou a sociabilidade distancia o homem da felicidade. Para encontrar um termo médio entre essas 
duas naturezas, o homem vale-se da razão.
Os estoicos são outro exemplo de moral aristocrática. No séc. IV a.C. Acredita-se que 
o nome estoico tenha sido inspirado no local onde Zenão de Cício (335-263 a.C.) ensinava: os 
pórticos (stoa, em grego). Costuma-se atribuir a razão do surgimento dessa doutrina ao fato da 
cidade de Atenas haver perdido sua independência para os macedônicos, prolongada depois 
pelo Império Romano. O estoicismo foi uma espécie de refúgio espiritual, uma via filosófica 
para se conseguir a independência em nível individual. Não obstante, o estoicismo atravessou 
séculos, sendo adotado pelos cristãos e até pelo imperador romano Marco Aurélio (121-180 
d.C.). Segundo os estoicos, nenhum evento acontece por acaso (teoria da necessidade). Até 
mesmo o trajeto de uma folha que se desprende da árvore já foi milimetricamente traçado 
pelo Logos, princípio inteligente do cosmos. O ideal de sabedoria estoica é a completa apatia: 
indiferença-acomodação diante dos acontecimentos da vida, é o que revela Sêneca (4 a.C. 65 
d.C.), um dos expoentes do estoicismo.
Toda a vida é uma escravidão. É preciso, pois, acostumar-se à sua condição, queixando-
se o menos possível e não deixando escapar nenhuma das vantagens que ela possa oferecer: 
nenhum destino é tão insuportável que uma alma razoável não encontre qualquer coisa para 
consolo. Vê-se frequentemente um terreno diminuto prestar-se, graças ao talento do arquiteto, 
às mais diversas e incríveis aplicações, e um arranjo hábil torna habitável o menor canto. 
Para vencer os obstáculos, apela à razão: verás abrandar-se o que resistia, alargar-se o que 
era apertado e os fardos tornarem-se mais leves sobre os ombros que saberão suportá-los. 
(1973: 216)
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Não se interprete indiferença por alienação: um sábio pode engajar-se na vida política 
até mesmo porque estava escrito. Nesse ponto, os povos muçulmanos parecem estar em 
franco acordo com a doutrina estoica, poisregularmente repetem a expressão maktub (estava 
escrito), particípio passado do verbo catab (escrever). A virtude do sábio é o controle absoluto 
de suas emoções. Segundo sua parenética (termo que diz respeito aos aconselhamentos 
práticos), quando as circunstâncias tornam impossível o controle das emoções, é aconselhável 
a prática do suicídio.
Epicuro de Samos (341-270 a.C.) criou o modelo de sábio epicurista: o homem que 
pratica plenamente a virtude da ataraxia (despreocupação; ausência de aborrecimentos, de 
dores ou medos). 
Nem a posse das riquezas nem a abundância das coisas nem a obtenção de cargos 
ou o poder produzem a felicidade e a bem-aventurança; produzem-na a ausência de dores, a 
moderação nos afetos e a disposição de espírito que se mantenha nos limites impostos pela 
natureza.
FONTE: Disponível em: <http://a-educologia.blogspot.com.br/2012/10/a-
sabedoria-do-epicurismo-1.html>. Acesso em: 15 dez. 2007.
A ausência de perturbação e de dor são prazeres estáveis; por seu turno, o gozo e 
a alegria são prazeres de movimento, pela sua vivacidade. Quando dizemos, então, que o 
prazer é fim, não queremos referir-nos aos prazeres dos intemperantes ou aos produzidos 
pela sensualidade, como creem certos ignorantes, que se encontram em desacordo conosco 
ou não nos compreendem, mas ao prazer de nos acharmos livres de sofrimentos do corpo e 
de perturbações da alma. (Epicuro,1993: 25).
Efetivamente, a ideia de que os epicuristas pregavam a volúpia do corpo é falsa. Eles 
praticavam uma espécie de otimismo profilático que se aproxima muito do famoso "jogo do 
contente" da personagem Poliana. Eram iconoclastas em relação aos mitos sobre morte, religião 
e política. Isolados em jardins afastados das agitações da vida citadina, cultivavam a amizade 
(a prática de viver em seletos círculos de amigos era considerada condição fundamental na 
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vida do sábio epicurista). O modus vivendi de Epicuro e seus discípulos foi chamado de aurea 
mediocritas (mediocridade dourada) por Horácio.
3 A MORAL UTILITARISTA
A moral utilitarista caracteriza-se pela ausência do transcendente e de modelos a priori 
a serem imitados. Todas as ações devem ser medidas pelo bem maior para o maior número. 
Ao definir o utilitarismo, o filósofo irlandês Francis Hutcheson (1694-1746) assim se expressa: 
"a melhor ação é aquela que produz a maior felicidade ao maior número de pessoas." O 
utilitarismo é a moral dos números.
Nicolau Maquiavel (1469-1527), pensador italiano, tem sobre si a culpa de haver 
defendido que os fins justificam os meios, embora, segundo o Dicionário de Filosofia de 
Abbagnano (1962: 614), tal máxima tenha origem jesuíta. A injustiça que recai sobre Maquiavel 
vem da dificuldade que se tem de separar o mero descrever e o opinar. Ele tinha horror a 
governos de ocasiões, golpes sucessivos, casuísmos, enfim à política do dia a dia que tanto 
permeava a agitada vida nos bastidores políticos de Florença. Em O Príncipe ele faz uma 
descrição em forma de aconselhamento, com base em seus conhecimentos de história, da 
conduta do governante que pretende permanecer no poder por um tempo relativamente longo, 
mas chega mesmo a confessar que, para atingir tal permanência, o ideal seria que as coisas 
não ocorressem da forma como a história demonstrara. Não obstante, a tradição nos legou o 
termo maquiavélico como designativo de um modelo que se firmou como um dos marcantes 
exemplos de moral utilitarista: a que visa um maior número de dias no poder.
Thomas Hobbes (1588-1679), filósofo inglês, parte do princípio de que quanto menor 
for o número de invasões, mortes violentas e desapossamentos mútuos, mais feliz será a 
espécie humana. Esta condição só pode ser arranjada com a existência de um contrato social 
e de um Leviatã. Vamos explicar melhor: Para Hobbes, o homem é, naturalmente, o lobo do 
homem (homo homini lupus), ou seja, não é um ser naturalmente cordial e sociável, não está 
naturalmente aparelhado para sentir-se incomodado com a dor alheia quando sua sobrevivência 
está em jogo. "Se dois homens desejam a mesma coisa, ao mesmo tempo em que é impossível 
ela ser gozada por ambos, eles se tornam inimigos." (Hobbes, 1651: 43). Relegados ao 
estado de natureza, os homens promovem uma guerra de todos contra todos (bellum omnium 
contra omnes), guerra inútil porque põe em risco a própria conservação humana. Os homens, 
portanto, perceberam e admitiram entre si a vantagem em cada um reprimir sua animalidade 
natural em prol de uma mútua convivência pacífica, bem mais útil, produtiva, confortável e 
segura. A civilização nasce desse contrato social. Essa nova situação, entretanto, só pode 
ser mantida com a existência de um Leviatã (monstro amedrontador e forte) que se expressa 
preferencialmente na figura de um rei, comandante autoritário e único que gera em todos o 
sentimento generalizado de medo da punição, garantindo assim a continuidade do Estado civil.
A base da moral utilitária de Hobbes sofreu inúmeras críticas, a principal partiu de 
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Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), filósofo suíço, que via na animalidade humana não 
lobos e sim cordeiros. Tais quais cordeiros livres, os homens, no estado de natureza, vivem em 
plena felicidade. Foi a civilização que fez com que muitos cordeiros se tornassem violentos e 
pensassem ser lobos. A soberania do Leviatã não é desejável porque, além de retirar do homem 
a sua liberdade natural, impossibilita a construção de uma liberdade civil, que só é possível 
quando a vontade geral é soberana. A conquista da liberdade civil estaria na reeducação por 
meio de leis "corderiais" que, metaforicamente, fizessem com que os cordeiros reconhecessem 
que são cordeiros.
FONTE: Disponível em: <http://informarepropagar.blogspot.com.br/2013/02/lobo-
em-pele-de-cordeiro-prefiro-viver.html>. Acesso em: 15 dez. 2007.
Ainda a respeito da dicotomia lobo/cordeiro há outras observações curiosas. Para Frederich 
Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão, a natureza produz homens-lobos e homens-cordeiros e 
não podemos ignorar que lobos estão aparelhados para devorar cordeiros. Quando só restarem 
lobos, as forças naturais produzirão superlobos que devorarão antigos lobos numa progressão 
infinita de vidas cada vez mais fortes. A moral nietzschiana é a da exuberância da força e do 
vitalismo das potências naturais ou super-humanas. É uma moral que pretende ir além do bem 
e do mal (se é que isso é possível). Nietzsche afirma que dicotomia entre bem e mal não passa 
de invencionice resultante do ressentimento e da fraqueza dos cordeiros. "Toda moral é [...] uma 
espécie de tirania contra a 'natureza' e também contra a 'razão'". (Nietzsche, 1886: 110).
Michel Foucault (1926-1984) diria que lobos e cordeiros habitam cada um de nós e ambos 
teriam desenvolvido estratégias de sobrevivência que tornariam extremamente complexa a luta 
entre os dois, uma complexidade tal que o cordeiro, em determinados momentos, poderia estar 
sob a condição de ataque. Nesse caso a questão moral só poderia ser definida dentro de um 
contexto muito específico, onde se levariam em conta os sujeitos envolvidos, suas estratégias, 
suas relações de poder... Foucault é o criador da microética.
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4 A MORAL KANTIANA
A moral kantiana é a concebida por Immanuel Kant (1724-1804), filósofo prussiano. 
Sua intuição principal foi que o indivíduo deve estar livre para agir "não em virtude de qualquer 
outro motivo prático ou de qualquer vantagem futura, mas em virtude da ideia de dignidade de 
um ser racional que não obedece a outra lei senão àquela que ele mesmo simultaneamentese dá" (Kant, 1785: 16). A ação moral exige a autonomia do agente. Ser autônomo é obedecer 
a si mesmo ou ao que vem de dentro. É o inverso do heterônomo (o que obedece a ordem 
do outro, obedece ao que vem de fora). Não se pode falar em ética sem autonomia, pois a 
ação heterônoma (cuja vontade vem de fora) não é uma ação ética. A moral aristocrática e a 
utilitarista não são eticamente válidas porque dependem de algo exterior: a primeira, de ideais 
transcendentes e a segunda, de ideais imanentes.
Para realizar a autonomia, a ação moral deve obedecer apenas ao imperativo categórico: 
o bom senso interior que todos nós temos de perceber que não somos instrumentos e sim 
agentes. Nunca instrumentalizar o homem é a exigência maior do imperativo categórico. Kant 
fornece uma regra para saber se uma decisão nossa obedece ou não ao imperativo categórico: 
indague a si mesmo se a razão que te faz agir de determinada maneira pode ser convertida 
em lei universal, válida para todos os homens. Se não puder, esta tua ação não é digna de 
um ser racional, não é eticamente boa porque te falta a autonomia, estás agindo premido por 
circunstâncias exteriores a ti. O bem ético é um bem em si mesmo.
Ao realçar a exigência da autonomia da ação moral, Kant desperta a questão da liberdade 
ética. O conceito de liberdade ética parte da distinção entre ação reflexa e ação deliberada. A 
ação deliberada é aquela que resulta de uma decisão, de uma escolha, é o mesmo que ação 
autônoma. A ação reflexa é "instintiva", independe da vontade do agente. Apenas as ações 
deliberadas podem ser analisadas sob o ponto de vista ético. Voltemos ao exemplo do gato que 
morde o homem que lhe pisou a cauda. O gato tentou afastar o que lhe era um mal, mas não 
podemos dizer que ele escolheu morder o homem. Logo, não se pode dizer que o gato agiu de 
forma imoral ou antiética. A questão da liberdade ética pode ser assim resumida: Levando-se 
em conta que somos animais e ocasionalmente agimos de forma reflexa, em que condições 
nossa ação pode ser considerada uma ação deliberada?
Henri Bergson (1859-1941) e Jean-Paul Sartre (1905-1980) respondem a essa pergunta 
de forma radical: O livre-arbítrio é a qualidade que melhor define o homem. A própria condição 
humana exige que todo ato humano seja um ato de escolha, seja uma ação deliberada. O homem 
está condenado à liberdade porque nunca pode decidir não escolher. Diante da consciência 
de que nos vemos forçados a realizar algo por imposição exterior, passamos a ter liberdade 
de escolher entre entregar-se à ação ou ir de encontro a ela.
FONTE: ALEXANDRIA, Israel. Ética e moral: uma reflexão sobre a ética e os padrões de moralidade 
ocidental. 2001. Disponível em: <http://ialexandria.sites.uol.com.br/textos/israel_textos/
etica_e_moral.htm>. Acesso em: 20 set. 2011.
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico vimos que:
•	 As principais distinções entre ética e moral as aproximam e as caracterizam.
•	 As esferas da aplicabilidade da moral: universalismo e particularismo.
•	 Os aspectos de moral, imoral e amoral têm suas características próprias.
•	 A Idade Antiga foi a época do surgimento da ética.
•	 A Idade Média determina a ética pelos princípios da moral cristã.
•	 A Idade Moderna, através de Kant, traz ao homem a responsabilidade de seus atos.
•	 A Idade Contemporânea reflete sobre as novas formas de interação humana dentre a 
sua complexidade e novas relações, para assim descobrir novas formas consensuais e 
conceituais.
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1 Apresente a distinção entre marxismo, pragmatismo e existencialismo.
2 Como podemos diferenciar moral, imoral e amoral?
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A ÉTICA E A MORAL CAMINHAM JUNTAS
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 2
Caro(a) acadêmico(a)! Nesse tópico apresentaremos, em linhas gerais, quando há a 
diferença entre ética e moral que, muitas vezes, causa confusão entre as pessoas. Apresentaremos 
também a gênese da consciência moral, tão importante para o desenvolvimento humano.
UNIDADE 1
2 EXISTEM DIFERENÇAS?
Com relação à ética e à moral, podemos afirmar que a ética estuda e investiga o 
comportamento moral dos seres humanos. E esta moral é constituída pelos diferentes modos 
de viver e agir dos homens em sociedade, que é formada por suas diretrizes morais da vida 
cotidiana, transformando-se no decorrer dos tempos.
Nesta perspectiva, apresentamos as suas principais diferenças, a seguir:
QUADRO 3 – DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA E MORAL
ÉTICA MORAL
•	É a ciência que estuda a moral.
•	É a reflexão sistemática sobre o 
comportamento moral.
•	É a parte da filosofia que trata da reflexão dos 
princípios universais da humanidade.
•	São os valores humanos universais e 
fundamentais.
•	É a teoria do comportamento moral.
•	É a compreensão subjetiva do ato moral.
•	É o modo de viver e agir de cada povo, em 
cada cultura.
•	É o conjunto de normas, prescrições e valores 
reguladores da ação cotidiana.
•	Varia no tempo e no espaço.
•	São os valores concernentes ao bem e ao mal, 
permitindo ou proibindo.
•	Conjunto de normas e regras reguladoras da 
relação entre os homens de uma determinada 
comunidade.
•	Nasce da necessidade de ajudar cada membro 
aos interesses coletivos do grupo.
FONTE: Tomelin e Tomelin (2002, p. 89-90)
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Hoje em dia, o avanço na compreensão e vivência dos direitos humanos confirma que 
as diferenças são essenciais para uma sociedade que prima pela justiça, pela equidade. Cabe 
ao ser humano, constantemente, decidir pela verdade que se lhe impõe no cotidiano da sua 
existência. Vivemos continuamente tomando decisões que se nos apresentam justamente 
porque não vivemos sozinhos. A ética e a moral estão aí para nos auxiliar nessas decisões. 
Vázquez (2003, p. 15), no princípio de seu livro “Ética”, propõe diversas questões práticas 
para a decisão do ser humano, tais como: “Devemos sempre dizer a verdade ou há ocasiões 
em que devo mentir? Com respeito aos crimes cometidos na Segunda Guerra Mundial, os 
soldados que os executaram, cumprindo ordens militares, podem ser moralmente condenados?”
O que o autor quer alertar é que todos esses problemas são práticos e reais e se 
apresentam nas relações afetivas dos seres humanos. As decisões práticas humanas podem 
afetar um pequeno ou um grande grupo.
Em várias das situações que se apresentam ao ser humano, o que está em jogo são os 
problemas morais que ele deve decidir. Os valores e as normas que são reconhecidos numa 
sociedade como os mais corretos, são os juízos que se formulam diante das ações humanas. 
Os problemas éticos se diferenciam, como elucida Vázquez (2003, p. 17):
À diferença dos problemas prático-morais, os éticos são caracterizados pela 
sua generalidade. Se na vida real um indivíduo concreto enfrenta uma deter-
minada situação, deverá resolver por si mesmo, com a ajuda de uma norma 
que reconhece e aceita internamente, o problema de como agir de maneira 
que a sua ação possa ser boa, isto é, moralmente valiosa. Será inútil recorrer 
à ética com a esperança de encontrar nela uma norma de ação para cada 
situação concreta.
 
Daí surgem, então, os problemas morais e éticos a respeito da legalidade também, 
porque o ideal é que nossas ações sejam éticas, morais e legais. Mas é possível agirmos de 
forma moral, mas ilegal? Por exemplo, se estamos num grande centro, às 4 horas da manhã, 
dirigindo um carro, o sinal fica vermelho, você respeitae para, ou, de forma consciente, 
verificando se é possível avançar, você avança o sinal. Você se vê no dilema interessante: ou 
respeita a lei e para, ou se previne de um suposto assalto e avança o sinal.
Mesmo que você considere a atitude avançar o sinal moral, porque é melhor pagar 
uma multa do que ser assaltado, ainda assim ela não é legal. O ideal é que seja legal, ético 
e moral.
O exemplo dado é de referência a uma decisão pessoal e que pode gerar 
consequências, uma multa de trânsito, portanto essa ação é bem particular e de 
consequência particular.
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FIGURA 7 – MORAL E ÉTICA
FONTE: Adaptado de: Tomelin e Tomelin (2002, p. 89-90)
Assim, podemos expor que a moral vem se constituindo historicamente, mudando no 
decorrer da própria evolução do homem em sociedade. Em que seus hábitos e costumes são 
constituídos por esta relação social, em que a essência humana é pautada por estes princípios 
morais. E estes, por sua vez, constituem o ser social que somos. E a ética nesta questão chega 
para simplesmente regular e analisar estes preceitos morais.
A ética é precursora da TRANSFORMAÇÃO SOCIAL dos diversos sistemas ou 
estruturas sociais. Sistemas estes que imprimiam suas mudanças sociais, tais como:
•	 Capitalismo.
•	 Socialismo.
Então, podemos dizer que quando é constituída uma nova estrutura social, a ética, 
os vilões e princípios morais são modificados para constituir assim esta nova concepção de 
sociedade. Em outros termos, o sistema de valores morais se transforma no processo de 
constituição de um novo padrão sócio-histórico.
Mas, nos diversos processos e projetos de transformações sociais devem permear os 
valores da solidariedade, igualdade e fraternidade, para assim poder constituir uma sociedade 
mais justa e democrática.
Quando nos remetemos a apontar a crise da ética na contemporaneidade, nos desafiamos 
a apresentar os fundamentos epistemológicos nos quais se fundamenta esta perspectiva de 
análise. Afinal, o caminho seguro seria atribuir as mais diversas situações a uma genérica e 
obscura crise da ética, desresponsabilizando-nos de defini-la e situá-la adequadamente no 
contexto civilizatório ocidental.
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Uma das possibilidades de nos apercebermos que estamos envoltos numa crise é 
quando temos dificuldade de definir adequadamente situações existenciais. Quando nossas 
referências a partir das quais nos posicionamos diante do mundo, da vida, das pessoas em 
nosso entorno não nos fornecem mais explicações adequadas, ou minimamente satisfatórias.
Esta dificuldade de reconhecer e estabelecer referenciais atinge todas as dimensões 
de nossa vida, perpassando necessariamente o discurso (o logos), as palavras, os conceitos 
através dos quais expressamos em ideias o mundo construído por nossas representações.
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ÇÃO!
Caro(a) acadêmico(a)! É um erro muito comum que normalmente as 
pessoas confundam os conceitos de ética e moral e sua especificidade. 
Ainda que estejam ligadas ao mesmo campo, como estamos vendo 
nesse texto, elas têm atribuições diferenciadas. Portanto, sempre 
que você for emitir um juízo de valor sobre determinado assunto, 
tenha em mente a maneira correta de expressar. Lembre-se: a 
moral está ligada ao campo das normas e leis; a ética é a reflexão 
sobre essas normas e leis, como o texto aponta.
Nesta perspectiva, nos damos conta da crise da ética quando constatamos que o conceito 
de ética de que as pessoas fazem uso cotidianamente é caracterizado pela ambiguidade, pela 
confusão conceitual em relação à moral. Tornou-se lugar comum as pessoas se referirem à 
ética como sinônimo de moral, ou achar que moral é a mesma coisa que ética, ou seja, duas 
palavras que podem ser utilizadas para “avaliar e julgar” comportamentos, formas de agir e 
ser das pessoas. Neste caudal indiscernível, a ética pode ser utilizada para tudo, mesmo que 
se tenha o sentimento de que não resolve nada, ou muito pouco pode fazer.
FIGURA 8 – ÉTICA, MORAL E CARÁTER
FONTE: Disponível em: <http://padrescasadosceara.blogspot.com.
br/2012/11/blog-post.html>. Acesso em: 27 maio 2013.
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Esta dificuldade de definir a ética pode ser explicada primariamente (outras variáveis 
explicativas são possíveis) através da própria etimologia das palavras. A origem da palavra 
ética vem do grego “ethos”, que quer dizer o modo de ser, caráter, ou abrigo, a morada de 
animais. Abrigo, morada, tem relação com a proteção da vida. Portanto, a ética relaciona-se 
com as manifestações da vida humana, da forma como os seres humanos se relacionam com 
o mundo, com a natureza e consigo mesmos na manutenção da vida. Por sua vez, os romanos 
traduziram o “ethos” grego para o latim “mos” (ou no plural “mores”), que quer dizer costume, 
de onde vem a palavra moral. Portanto, há uma nítida distinção entre os dois conceitos. A moral 
é definida como o conjunto de normas, princípios, preceitos, costumes, valores que advêm de 
uma tradição, de uma determinada cultura e que norteiam o comportamento do indivíduo no 
seu grupo social.
A moral caracteriza-se por especificidades culturais e apresenta-se de forma normativa, 
ou seja, estabelece normas de conduta que orientam as ações cotidianas. Desta forma, a moral 
tem incidência direta no âmbito da vida privada, ou seja, é norteadora dos comportamentos 
individuais, da forma como as pessoas agem cotidianamente diante das mais variadas situações.
A ética é definida como a teoria, o conhecimento, ou a capacidade racional de 
discernimento em relação aos comportamentos morais. Busca explicar, compreender, justificar 
e criticar a moral, ou as morais de uma sociedade. Nesta perspectiva, a ética tem incidência no 
âmbito da vida pública, como reflexão em torno das questões morais que envolvem a vida em 
sociedade. Portanto, a ética assume uma dimensão ontológica imprescindível, na medida em 
que somos convidados a pensar a nossa forma de ser e estar no mundo, a qualidade de nossas 
relações conosco mesmos e com os outros seres humanos. Pela sua dimensão ontológica, a 
ética diz respeito à esfera política do ser humano, na medida em que nos remete a pensar o 
bem comum, o bem viver, a vida em sociedade como condição da felicidade individual e social.
3 PROBLEMAS MORAIS E ÉTICOS
Com relação aos problemas éticos e morais do comportamento humano, observamos 
que a ética não é facilmente explicável, ao sermos indagados, mas todos nós sabemos o que 
é, pois está diretamente relacionada aos nossos costumes e às ações em sociedade, ou seja, 
ao nosso comportamento, ao nosso modo de vida e de convivência com os outros integrantes 
da sociedade.
Observa-se que todos nós possuímos princípios e valores que foram e são constituídos 
por nossa sociedade. E com relação a estes valores, cada um de nós possui uma visão do que 
é certo e errado, do que é o bem e o mal. 
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Contudo, esta consciência moral é determinada por um consenso coletivo e social, ou 
seja, o conjunto da sociedade é que formula e compõe as normas de conduta que o regem. 
Como exemplo, temos a nossa Constituição Federal e outras regras e normas da sociedade.
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Caro(a) acadêmico(a)! Para aprofundar os seus conteúdos sobre 
os princípios e valores, sugerimos a leitura dos artigos 1º, 3º e 
5º da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada 
em 1988. Eles estão disponíveis no seguinte site: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>.
Didaticamente, segundo Valls (2003, p. 8),costuma-se separar os problemas teóricos da ética em dois campos: num, os 
problemas gerais e fundamentais (como liberdade, consciência, bem, valor, 
lei e outros); e no segundo os problemas específicos, de aplicação concreta, 
como os problemas da ética profissional, de ética política, de ética sexual, de 
ética matrimonial, de bioética etc. 
FIGURA 9 – O BEM E O MAL
FONTE: Disponível em: <www.dialogosuniverstarios.com.br>. Acesso 
em: 25 fev. 2009.
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Contudo, como saber: o que é certo e errado, se estamos fazendo 
o bem ou o mal? Olhe atentamente para a imagem acima e reflita 
o que ela representa para você.
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Finalizando este item, podemos observar que
os problemas éticos se distinguem da moral pela sua característica genérica, 
enquanto que a moral se caracteriza pelos problemas da vida cotidiana. O que 
há de comum entre elas é fazer o homem pensar sobre a responsabilidade 
das consequências de suas ações. A ética faz pensar sobre as consequências 
universais, sempre priorizando a vida presente e futura, local e global. A moral 
faz pensar as consequências grupais, adverte para normas culturalmente for-
muladas ou pode estar fundamentada num princípio ético. A ética pode, desta 
forma, pautar o comportamento moral. (TOMELIN; TOMELIN, 2002, p. 90).
4 CONDUTA MORAL: O BEM E O MAL, 
 O CERTO E O ERRADO
Com relação ao comportamento moral dos homens, chegamos numa encruzilhada que 
é a nossa própria consciência moral, pois como saber o que devemos fazer? O que é certo ou 
errado perante a sociedade? O que é o bem e como evitar o mal?
De acordo com Valls (2003, p. 67-68), 
agir eticamente é agir de acordo com o bem. A maneira de como se definirá 
o que seja este bem é um segundo problema, mas a opção entre o bem e o 
mal, distinção levantada já há alguns milênios, parece continuar válida. [...] 
Neste sentido, poderíamos continuar dizendo que uma pessoa ética é aquela 
que age sempre a partir da alternativa bem ou mal, isto é, aquela que resolveu 
pautar seu comportamento por uma tal opção, uma tal disjunção. E quem não 
vive dessa maneira, optando sempre, não vive eticamente.
Pois bem, para efetuarmos um julgamento concreto sobre alguma situação da vida em 
sociedade, devemos nos pautar sobre todos os pressupostos éticos daquela sociedade em 
si, ou seja, seus princípios morais e seus costumes. Entretanto, sem esquecer que o que todo 
ser humano busca em suas ações cotidianas na sociedade é fazer sempre e somente o bem, 
pois é por causa e em nome deste bem maior que eles realizam tudo.
 
Todas as nossas ações possuem um propósito, ou seja, um fim. Este fim somente é 
alcançado quando os homens realizam uma atividade para alcançá-los, vão à busca de seus 
objetivos e metas. Portanto, se realmente existe um motivo que visa tudo o que fazemos, este 
fim só poderá ser realizado se nós, seres humanos, o realizarmos através de ações/atividades. 
Elas, por sua vez, sempre estão na busca constante da realização do bem e da verdade e 
procurando a felicidade e o prazer.
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5 O SUJEITO ÉTICO-MORAL
Todos os homens fazem parte de uma sociedade, de um grupo social, portanto, podemos 
dizer que os homens em sociedade convivem em grupo. Cada grupo social possui diferentes 
características culturais e morais, como, por exemplo: os povos indígenas, os orientais, os 
africanos, os alemães, os franceses, os italianos, os americanos, os brasileiros, entre muitos 
outros. Cada sociedade possui suas normas de conduta comportamental e seus princípios 
morais, ou seja, cada grupo social constituiu o que é certo e errado, o que é o bem e o mal 
para o seu povo, portanto, nem sempre o que é certo para nós pode ser certo para outro grupo 
social e vice-versa.
Podemos pegar como exemplo a cultura do nascimento de crianças. Existem algumas 
sociedades indígenas em que a mãe, ao dar à luz, se embrenha na mata sozinha e se o filho 
não for perfeito, segundo os seus princípios morais, ela o abandona à sua própria sorte. À luz 
de nossos princípios morais, esta ação seria considerada um crime de abandono.
Como você pode observar na seguinte figura, cada povo possui sua tradição, hábitos, 
costumes e cultura, desencadeando valores e princípios morais diferentes, que conduzem o 
seu comportamento social e moral.
FIGURA 10 – DIFERENTES CULTURAS
FONTE: Os autores
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Se você quiser saber mais sobre o comportamento moral destes 
grupos sociais/povos, pesquise, na internet, sobre a CULTURA de 
cada povo. Assim, você poderá observar as diferenças culturais 
de cada um e identificar seus princípios morais.
UNI
Afinal, o que é ética?
De acordo com Tomelin e Tomelin (2002, p. 89), “a palavra ética provém do grego ethos 
e significa hábitos, costumes e se refere à morada de um povo ou sociedade. A palavra moral 
provém do latim moralis e significa costume, conduta”.
A principal função da ética é sugerir qual o melhor comportamento que cada pessoa 
ou grupo social tem ou venha a ter. Indicando o que é certo ou errado, o que é bom ou mau. 
Porém, este comportamento sempre partirá do ponto de vista dos princípios morais de cada 
sociedade, ou seja, seu grupo social. A ética auxilia no esclarecimento e na explicação da 
realidade cotidiana de cada povo, procurando sempre elaborar seus conceitos conforme o 
comportamento correspondente de cada grupo social.
IMP
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“O ético transforma-se assim numa espécie de legislador do 
comportamento moral dos indivíduos ou da comunidade.” 
(VÁZQUEZ, 2005, p. 20)
Complementando, Vazquez (2005, p. 21) coloca-nos que “a ética é teoria, investigação 
ou explicação de um tipo de experiência humana ou forma de comportamento dos homens 
[...]”, ou seja, o valor de ética está naquilo que ela explica – o fato real daquilo que foi ou é –, 
e não no fato de recomendar uma ação ou uma atitude moral.
Como todos sabem, existem grandes transformações históricas no decorrer dos tempos 
em nossa sociedade. E com estas mudanças, o nosso comportamento também muda e, 
consequentemente, os nossos princípios morais também. Está indeciso? Normal.
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 FIGURA 11 – INDECISÃO
FONTE: Disponível em: <www.dificilescolher.blogspot.com>. Acesso em 25 fev. 
2009.
Outro fator que não podemos esquecer é a questão de julgar o comportamento dos outros 
grupos sociais, pois a realidade cotidiana destes foi formada por outro conjunto de normas e 
princípios morais, diferente dos nossos. Mesmo que em alguns aspectos estes princípios se 
pareçam com os nossos. 
6 A GÊNESE DA CONSCIÊNCIA MORAL: 
 A NECESSIDADE DO DESENVOLVIMENTO HUMANO
Neste item trabalharemos algumas questões que apresentam as origens ou bases 
fundamentais da existência humana, ou seja, a gênese da consciência moral, aquilo que 
possibilita os seres humanos a serem considerados homens.
ATEN
ÇÃO!
Lembre-se, o ditado popular cita que “O HOMEM É HOMEM PORQUE 
É UM SER RACIONAL!” A questão não é tão simples assim, pois não 
podemos dizer que a ética só depende da razão e que a racionalidade 
é o seu fator constituinte.
Entretanto, antes de tudo, precisamos compreender o significado das ações ético-morais 
na vida dos seres humanos, indagando se o simples fato de pensar e estabelecer normas de 
conduta da realidade cotidiana pode ser compreendido como a realização de uma atividade 
prática em sua vida, ou seria possível que a vida dos homens fosse estabelecida apenas por 
sua racionalidade ou pela composição de regras, normas e valores sociais?
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Partindo desta indagação, podemos afirmar que o homem vive num mundo real, 
estabelecendo diversas relações com a natureza, transformando-a segundo as suas 
necessidades reais, sobrevivendo, ao longo de sua história, a partir dessas relações. 
DIC
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Como sugestão, inicialmente, leia o seguinte livro:
FURNARI, Eva. Lolo Barnabé. São Paulo: 
Moderna, 2000.
Os seres humanos estão ligados à natureza e dela dependem para se constituírem 
como seres sociais, pois, à medida que utilizam sua consciência sobre a natureza, desenvolvem 
necessidades práticas de sobrevivência, ou seja, não basta apenas pensar e observar. Faz-se 
necessário que os homens ajam sobre sua realidade cotidiana, realizem seus desejos e vontades 
e transformem a sua vida conforme suas necessidades e as necessidades de sua sociedade.
Marx e Engels (1987, p. 22) colocam-nos que
[...] o primeiro pressuposto de toda existência humana e, portanto, de toda 
história, é que os homens devem estar em condições de viver para poder fazer 
história. Mas, para viver, antes de tudo comer, beber, ter habitação, vestir-se 
e algumas coisas a mais. O primeiro ato histórico é, portanto, a produção dos 
meios que permitam a satisfação destas necessidades, a produção da própria 
vida material, e de fato este é um ato histórico, uma condição fundamental de 
toda a história, que ainda hoje, como há milhares de anos, deve ser cumprida 
todos os dias e todas as horas, simplesmente para manter os homens vivos.
Assim, podemos observar que a realização de nossas necessidades é compreendida 
como um fato social e histórico, primordial para compreendermos a própria existência humana. 
E estas necessidades, conforme a história do “Lolo Barnabé” (FURNARI, 2000), são criadas 
e recriadas constantemente, fazendo parte da constituição histórica dos seres humanos. Por 
consequência, determinando o modo de vida, os princípios, hábitos e valores sociais.
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Este desenvolvimento humano, pela busca da realização das suas necessidades, é 
feito primordialmente por meio do trabalho, no qual o homem, além de se adaptar à natureza, 
começa a agir sobre ela, transformando-a de acordo com seus propósitos e necessidades.
Então, podemos concluir que é por meio do trabalho que os seres humanos colocam em 
prática suas capacidades humanas. Assim, o trabalho é a base fundamental na formação 
da consciência moral de todos os seres humanos, pois, segundo Barroco (2000, p. 45), 
“[...] o trabalho é uma atividade social, cuja realização cria valores e costumes, desenvolve 
habilidades e sentimentos, formas de comunicação, de intercâmbio e de conhecimento; em 
outras palavras, cria a cultura e sua própria história.” É por meio do trabalho que os homens 
desenvolvem seus princípios e sua cultura, consequentemente, seus valores sociais e éticos.
LEITURA COMPLEMENTAR
ÉTICA E MORAL
Sandro Dennis
Existe alguma confusão entre o conceito de Moral e o conceito de Ética. A etimologia 
destes termos ajuda a distingui-los, sendo que Ética vem do grego “ethos”, que significa modo 
de ser, e Moral tem sua origem no latim, que vem de “mores”, significando costumes.
Esta confusão pode ser resolvida com o estudo em paralelo dos dois temas, sendo que 
Moral é um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem em sociedade, e 
estas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo cotidiano. É a “ciência dos 
costumes”. A Moral tem caráter normativo e obrigatório.
Já a ÉTICA é “conjunto de valores que orientam o comportamento do homem em 
relação aos outros homens na sociedade em que vive, garantindo, assim, o bem-estar 
social”, ou seja, ÉTICA É A FORMA COMO O HOMEM DEVE SE COMPORTAR NO SEU 
MEIO SOCIAL.
A MORAL sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência moral que o leva a 
distinguir o bem do mal no contexto em que vive. Surgindo realmente quando o homem passou 
a fazer parte de agrupamentos, isto é, surgiu nas sociedades primitivas, nas primeiras tribos. 
A Ética teria surgido com Sócrates, pois se exige maior grau de cultura. Ela investiga e explica 
as normas morais, pois leva o homem a agir não só por tradição, educação ou hábito, mas 
principalmente por convicção e inteligência. Ou seja, enquanto a Ética é teórica e reflexiva, a 
Moral é eminentemente prática. Uma completa a outra.
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Em nome da amizade, deve-se guardar silêncio diante do ato de um traidor? Em situações 
como esta, os indivíduos se deparam com a necessidade de organizar o seu comportamento 
por normas que se julgam mais apropriadas ou mais dignas de ser cumpridas. Tais normas são 
aceitas como obrigatórias, e desta forma, as pessoas compreendem que têm o dever de agir 
desta ou daquela maneira. Porém, o comportamento é o resultado de normas já estabelecidas, 
não sendo, então, uma decisão natural, pois todo comportamento sofrerá um julgamento. E 
a diferença prática entre Moral e Ética é que esta é o juiz das morais, assim ÉTICA É UMA 
ESPÉCIE DE LEGISLAÇÃO DO COMPORTAMENTO MORAL DAS PESSOAS.
Ainda podemos dizer que a ética é um conjunto de regras, princípios ou maneiras 
de pensar que guiam, ou chamam para si a autoridade de guiar, as ações de um grupo em 
particular, ou, também, o estudo da argumentação sobre como nós devemos agir.
Também a simples existência da moral não significa a presença explícita de uma 
ética, entendida como filosofia moral, pois é preciso uma reflexão que discuta, problematize e 
interprete o significado dos valores morais.
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Podemos dizer, a partir dos textos de PLATÃO e ARISTÓTELES, que no Ocidente a 
ética ou filosofia moral inicia-se com Sócrates.
Para SÓCRATES, o conceito de ética iria além do senso comum da sua época, o corpo 
seria a prisão da alma, que é imutável e eterna. Existiria um “bem em si” próprio da sabedoria 
da alma e que pode ser rememorado pelo aprendizado. Esta bondade absoluta do homem tem 
relação a uma ética anterior à experiência, pertencente à alma e que o corpo, para reconhecê-
la, terá que ser purificado.
ARISTÓTELES subordina sua ética à política, acreditando que na monarquia e na 
aristocracia se encontraria a alta virtude, já que esta é um privilégio de poucos indivíduos. 
Também diz que, na prática ética, nós somos o que fazemos, ou seja, o Homem é moldado na 
medida em que faz escolhas éticas e sofre as influências dessas escolhas.
O Mundo Essencialista é o mundo da contemplação, ideia compartilhada pelo filósofo 
grego antigo Aristóteles. No pensamento filosófico dos antigos, os seres humanos aspiram 
ao bem e à felicidade, que só podem ser alcançados pela conduta virtuosa. Para a ética 
essencialista o homem era visto como um ser livre, sempre em busca da perfeição. Esta, por 
sua vez, seria equivalente aos valores morais que estariam inscritos na essência do homem. 
Dessa forma – para ser ético –, o homem deveria entrar em contato com a própria essência, 
a fim de alcançar a perfeição.
Costuma-se resumir a ética dos antigos, ou ética essencialista, em três aspectos: 1) o 
agir em conformidade com a razão; 2) o agir em conformidade com a natureza e com o caráter 
natural de cada indivíduo; 3) a união permanente entre ética (a conduta do indivíduo) e política 
(valores da sociedade). A ética era uma maneira de educar o sujeito moral (seu caráter) no 
intuito de propiciar a harmonia entre o mesmo e os valores coletivos, sendo ambos virtuosos.
Com o cristianismo romano, através de S. TOMÁS DE AQUINO e SANTO AGOSTINHO, 
incorpora-se a ideia de que a virtude se define a partir da relação com Deuse não com a cidade 
ou com os outros. Deus, nesse momento, é considerado o único 
mediador entre os indivíduos. As duas principais virtudes são 
a fé e a caridade.
Através deste cristianismo, se afirma na ética o livre-
arbítrio, sendo que o primeiro impulso da liberdade dirige-se para o 
mal (pecado). O homem passa a ser fraco, pecador, dividido entre 
o bem e o mal. O auxílio para a melhor conduta é a lei divina. A 
ideia do dever surge nesse momento. Com isso, a ética passa a 
estabelecer três tipos de conduta; a moral ou ética (baseada no 
dever), a imoral ou antiética e a indiferente à moral.
Descartes
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Em oposição à fé surge agora o poder exclusivo da razão de discernir, distinguir e 
comparar. Este é um marco na história da humanidade, que a partir daí acolhe um novo caminho 
para se chegar ao saber: o saber científico, que se baseia num método, e o saber sem método 
é mítico ou empírico.
A ética moderna traz à tona o conceito de que os seres 
humanos devem ser tratados sempre como fim da ação e 
nunca como meio para alcançar seus interesses. Essa ideia 
foi contundentemente defendida por Emmanuel Kant. Ele 
afirmava que: “Não existe bondade natural. Por natureza somos 
egoístas, ambiciosos, destrutivos, agressivos, cruéis, ávidos 
de prazeres que nunca nos saciam e pelos quais matamos, 
mentimos, roubamos”.
De acordo com esse pensamento, para nos tornarmos 
seres morais era necessário nos submetermos ao dever. Essa ideia é herdada da Idade Média, 
na qual os cristãos difundiram a ideologia de que o homem era incapaz de realizar o bem por 
si próprio. Por isso, ele deve obedecer aos princípios divinos, cristalizando assim a ideia de 
dever. Kant afirma que se nos deixarmos levar por nossos impulsos, apetites, desejos e paixões, 
não teremos autonomia ética, pois a Natureza nos conduz pelos interesses de tal modo que 
usamos as pessoas e as coisas como instrumentos para o que desejamos. Não podemos ser 
escravos do desejo.
As profundas transformações que o mundo sofre partir do século XVII com as revoluções 
religiosas, por meio de LUTERO; científica, com COPÉRNICO, e filosófica, com DESCARTES, 
oprimem um novo pensamento na era Moderna, caracterizada pelo Racionalismo Cartesiano – agora 
a razão é o caminho para a verdade, e para chegar a ela é preciso um discernimento, um método. 
No século XIX, FRIEDRICH HEGEL traz uma nova perspectiva complementar e não 
abordada pelos filósofos da Modernidade. Ele apresenta a perspectiva Homem – Cultura e 
História, sendo que a ética deve ser determinada pelas relações sociais. Como sujeitos históricos 
culturais, nossa vontade subjetiva deve ser submetida à vontade social, das instituições da 
sociedade. Desta forma, a vida ética deve ser “determinada pela harmonia entre vontade 
subjetiva individual e a vontade objetiva cultural”.
Através desse exercício, interiorizamos os valores culturais de tal maneira que passamos 
a praticá-los instintivamente, ou seja, sem pensar. Se isso não ocorrer é porque esses valores 
devem estar incompatíveis com a nossa realidade e por isso devem ser modificados. Nesta 
situação podem ocorrer crises internas entre os valores vigentes e a transgressão deles.
Já na atualidade o conceito de ética se fundiu nestas duas correntes de pensamento:
Kant
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Na Contemporaneidade, NIETZSCHE atribui a origem dos valores éticos não à razão, 
mas à emoção. Para ele, o homem forte é aquele que não reprime seus impulsos e desejos, 
que não se submete à moral demagógica e repressora. E para coroar essa mudança radical de 
conceitos, surge FREUD com a descoberta do inconsciente, instância psíquica que controla o 
homem, burlando sua consciência para trazer à tona a sexualidade represada e que o neurotiza. 
Porém, FREUD, em momento algum afirma dever o homem viver de acordo com suas paixões, 
apenas buscar equilibrar e conciliar o id com o superego, ou seja, o ser humano deve tentar 
equilibrar a paixão e a razão.
Hoje, em uma era em que cada vez mais se fala de globalização, da qual somos todos 
funcionários e insumos de produção, o conhecimento de nossa cultura passa inevitavelmente 
pelo conhecimento de outras culturas. Entretanto, essa tarefa antropológica não é suficiente para 
o homem comum superar a crise da ética atual conhecendo o outro e suas necessidades para 
se chegar à sua convivência harmônica. Ao contrário, ser feliz hoje é dominar progresso técnico 
e científico, ser feliz é ter. Não há mais espaço para uma ética voltada para uma comunidade. 
Hoje se aposta no individualismo, no consumo, na rapidez de produção.
No momento histórico em que vivemos existe um problema ético-político grave. Forças 
de dominação têm se consolidado nas estruturas sociais e econômicas, mas através da crítica 
e no esclarecimento da sociedade seria possível desvelar a dissimulação ideológica que existe 
A ÉTICA PRAXISTA, em cuja visão o homem tem a capacidade de julgar, ele não é 
totalmente determinado pelas leis da natureza, nem possui uma consciência totalmente livre. 
O homem tem uma corresponsabilidade frente às suas ações.
A ÉTICA PRAGMÁTICA, com raízes na apropriação de coisas e espaços, na propriedade, 
tem como desafio a alteridade (misericórdia, responsabilização, solidariedade), para transformar 
o Ter, o Saber e o Poder em recursos éticos para a solidariedade, contribuindo para a igualdade 
entre os homens: “distribuição equitativa dos bens materiais, culturais e espirituais”.
O homem é visto como sujeito histórico-social e, 
como tal, sua ação não pode mais ser analisada fora 
da coletividade. Por isso, a ética ganha novamente um 
dimensionamento político: uma ação eticamente boa é 
politicamente boa, e contribui para o aumento da justiça, 
distribuição igualitária do poder entre os homens. Na 
ética pragmática o homem é politicamente ético, – “todos 
os aspectos da condição humana têm alguma relação 
com a política” – há uma corresponsabilidade em prol 
de uma finalidade social: a igualdade e a justiça entre 
os homens.
Hegel
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nos vários discursos da cultura humana; sabendo disso, essas mesmas forças têm procurado 
controlar a mídia.
Em lugar da felicidade pura e simples há a obrigação do dever e a ética fundamenta-
se em seguir normas. Trata-se da “Ética da Obediência”. Que impede o Homem de pensar e 
descobrir uma nova maneira de se ver, e assim encontrar uma saída em relação ao conformismo 
de massa que está na origem da banalidade do mal, do mecanismo infernal em que estão 
ausentes o pensamento e a liberdade do agir.
Pois assim determina Vasquez (1998) ao 
citar Moral como um “sistema de normas, princípios 
e valores, segundo os quais são regulamentadas as 
relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a 
comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas 
de um caráter histórico e social, sejam acatadas livre e 
conscientemente, por uma convicção íntima, e não de 
uma maneira mecânica, externa ou impessoal”.
Enfim, Ética e Moral são os maiores valores 
do homem livre. O homem, com seu livre-arbítrio, vai 
formando seu meio ambiente ou o destruindo, ou ele 
apoia a natureza e suas criaturas, ou ele subjuga tudo 
o que pode dominar, e assim ele mesmo se forma no bem ou no mal neste planeta.
FONTE: DENIS, Sandro. ÉTICA E MORAL. CÍRCULO CÚBICO. Disponível em: <http://circulocubico.
wordpress.com/2008/04/04/tica-e-moral/>. Acesso em: 9 set. 2011.
Freud
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico vimos que:
•	 Existem diferenças entre ética emoral e também que elas se complementam.
•	 O ser humano, assim como a sociedade, necessita da ética e da moral para distinguir o que 
é o melhor para todos.
•	 Ética e moral podem ser considerados valores intrínsecos ao ser humano.
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1 Apresente pelo menos três características para ética e moral.
2 Qual é a principal função da ética?
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A ÉTICA E A MORAL NA SOCIEDADE
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 3
O terceiro e último tópico da Unidade 1 vem apresentar as relações humanas, no sentido 
de dar conta da visão multidimensional do ser humano em relação às suas possibilidades de se 
relacionar. Vamos identificar a importância dos valores necessários para a boa convivência social, do 
nosso cotidiano, a importância da compreensão do bem comum com algumas variantes a destacar.
UNIDADE 1
2 VALORES
O que entendemos por valores? Os valores são imutáveis? Como escolher valores? 
Vamos aprender e refletir neste ponto sobre os valores que estão no centro de nossas escolhas 
e também como esses valores se constituem. Queremos aqui refletir da urgência desse tema 
que está presente em nosso cotidiano e é fundamental para nossa convivência social: os valores. 
Vamos aprender o que são esses valores, como são constituídos, mantidos ou abandonados 
e – importante – porque com isso saberemos como e por que lemos o mundo da forma que o 
fazemos e como os outros nos interpretam. Trata-se, portanto, de buscar os fundamentos de 
nossa identidade.
FIGURA 12 – IDENTIDADE
FONTE: Disponível em: <http://cotidianonaperiferia.files.wordpress.com/2011/08/banner-
post-lid.jpg>. Acesso em: 25 fev. 2012.
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A palavra VALOR tem sua raiz no latim, valere, e significa coragem, 
bravura, o caráter do homem; daí por extensão significa aquilo que 
dá a algo um caráter.
1. A noção filosófica de valor está relacionada por um lado àquilo 
que é bom, útil, positivo; e, por outro lado, à prescrição, ou seja, 
a algo que deve ser realizado.
2. Do ponto de vista ético, os valores são os fundamentos da moral, 
das normas e regras que prescrevem a conduta correta (JAPIASSU; 
MARCONDES, 2001, p. 268).
O valor é a relação que se estabelece entre o sujeito que valora e o objeto valorado. 
Não existe um objeto com determinado valor. Os objetos têm o valor que o sujeito lhes atribui, 
ou seja, não há valor em si, mas o valor para alguém. A ação de valorar está restrita à esfera 
humana e está no centro de nossa vida. Quando fazemos nossas escolhas, escolhemos o 
nosso trajeto diário para o trabalho, a roupa que vestimos, o alimento que comemos, estamos 
colocando em escala de valor essas escolhas. Aranha e Martins (2005, p. 198) ensinam:
O objetivo de qualquer valoração é, sem dúvida, orientar ação prática. Se o 
ar é um valor para o ser vivo, é preciso evitar a poluição, que comprometa a 
qualidade desse bem indispensável. Se a credibilidade é um valor, não pode-
mos mentir o tempo todo; caso contrário, as relações humanas se corrompem. 
Portanto, diante daquilo que é, a valoração nos orienta para o que deve ser.
O que a citação está nos ensinando é que valoramos a todo o momento e que eles 
se constituem na ordem da afetividade, isto é, nunca ficamos indiferentes às coisas: de uma 
forma ou de outra, elas nos afetam. Se gostamos da árvore, de sua sombra e de suas flores, 
significa que ela nos afetou de forma positiva. A mesma árvore pode afetar de forma negativa 
se nos incomodam as folhas e flores que dela caem na calçada limpa.
Primeiramente, faz-se necessário compreender o significado de valor, pois, ao refletir 
sobre ética, também falamos sobre os nossos valores e virtudes e, consequentemente, 
no comportamento dos homens. Portanto, conclui-se que a ética é formada pelo estudo e 
investigação do comportamento e dos juízos de valores, estabelecendo ponderações de valor 
para o que está de acordo ou não com as normas e regras de convivência dos homens em 
sociedade, pontuando o que é certo e errado em cada postura social, observando sempre as 
normas de convivência social de cada sociedade ou povo.
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O que são os valores sociais?
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Diariamente, analisamos e fazemos julgamentos de valores tanto de coisas como dos 
seres humanos. Por exemplo, “Aquela flor tem muitos espinhos, pode me machucar”. “Este 
sabonete é ruim para mim, pois me dá alergia”. “Este chocolate é ruim, pois derrete fácil”. “Gosto 
muito daquele chocolate, porque é muito gostoso”. “Acho que a Samanta agiu bem ao ajudar 
você no trabalho de aula”. “Aquele profissional é competente”. Essas afirmações se referem 
ao juízo de valor da realidade em que estamos inseridos, pois quando partimos do fato de que 
a flor, o sabonete, o chocolate, a moça e o profissional existem realmente, atribuímos algumas 
qualidades a eles, que podem nos atrair ou repelir.
Empregamos diversos tipos de valores, tais como: utilidade, estético, afetividade, do 
bem e mal, religiosos, aspectos econômicos, sociais e políticos.
Os valores são, num primeiro momento, herdados por nós. Ao nascermos, o mundo 
cultural é um sistema de significados já estabelecido, de tal modo que aprendemos desde 
cedo como nos comportar à mesa, na rua, diante de estranhos, como, quando e quanto falar 
em determinadas circunstâncias; como andar, correr, brincar; como cobrir o corpo e quando 
desnudá-lo; qual o padrão de beleza; que direito e deveres temos. Conforme atendemos ou 
transgredimos os padrões, os comportamentos são avaliados como bons ou maus.
A partir da valoração, as pessoas podem achar bonito ou feio o desenho que 
acabamos de fazer, ou criticar-nos por não termos cedido lugar à pessoa mais velha no metrô; 
ou acham bom o preço que pagamos pela bicicleta; ou nos elogiam por termos mantido a 
palavra dada; ou nos criticam por termos faltado com a verdade.
Nós próprios nos alegramos ou nos arrependemos de nossas ações ou até sentimos 
remorsos dependendo do que praticamos. Isso quer dizer que o resultado de nossos atos 
está sujeito à sanção, ou seja, ao elogio ou à reprimenda, à recompensa ou à punição, nas 
mais diversas intensidades: a crítica de um amigo, “aquele” olhar da mãe, a indignação ou 
até a coerção física (isto é, a repressão pelo uso da força, por exemplo, quando alguém é 
preso por assassinato).
FONTE: Aranha e Martins (2005, p. 300-301)
Alguns exemplos dos valores e virtudes humanas: 
QUADRO 4 – ALGUNS VALORES E VIRTUDES HUMANAS
AMIZADE JUSTIÇA OBEDIÊNCIA RESPEITO SIMPLICIDADE
LEALDADE COMPREENSÃO SINCERIDADE PUDOR GENEROSIDADE
PACIÊNCIA ORDEM HUMILDADE AUTOESTIMA LIBERDADE
FONTE: Os autores
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Os valores que residem no centro de nossas vidas e de nosso cotidiano são muitas 
vezes herdados de uma cultura ou de um costume. Assim, essa experiência valorativa pode 
passar (e passa) por mudanças conforme a época, a cultura e o lugar. É muito importante 
saber que as regras são modificadas e nunca são extintas, porque o sujeito tem necessidade 
de regras formalizadas, modelos para seguir em todos os setores.
[...] a coragem é melhor que a covardia e a amizade é um valor desejável para 
os membros de um grupo. No entanto, a coragem e a amizade têm apenas 
um valor formal cujo conteúdo pode variar. A coragem do guerreiro da tribo é 
diferente da coragem do executivo dos centrosurbanos. [...] a amizade é um 
valor universal, mas a sua expressão varia conforme os costumes. (ARANHA; 
MARTINS, 2005, p. 199).
Aqui no Brasil somos muito afetivos e expansivos. Demonstramos nossa afeição a todo 
o momento com abraços e beijos. No Oriente não é bem assim. As pessoas são um pouco 
mais reservadas. No Brasil, quando dizemos que uma determinada mulher é “guerreira”, 
estamos afirmando que ela é uma lutadora pela manutenção da vida, do lar, de seus filhos e 
de si mesma. Em uma sociedade tribal, uma mulher “guerreira” significa que vai à guerra em 
seu sentido literal.
Os valores são transmitidos pela cultura e, nesse ponto, a educação tem papel 
fundamental. É ela uma das responsáveis por ensinar os valores de nossa cultura, mas não é 
a única. A família também assume esse papel assim que a criança nasce. No entanto, esses 
valores são modificados com o tempo, porque faz parte da capacidade humana criticar novos 
e modificados valores e ansiar por eles.
Quando se trata de uma sociedade mais rígida e com pouca flexibilidade, esses valores 
são mantidos por mais tempo. É comum conhecermos — pessoalmente e através de programas 
de televisão — famílias que ainda mantêm costumes já superados, como educar mulheres para 
o casamento e para a maternidade. Na atualidade, as mulheres têm suas carreiras profissionais, 
casam e descasam, têm filhos ou não. São escolhas totalmente aceitas socialmente. Mas ainda 
existem famílias que mantêm os costumes antigos. São os valores tradicionais mantidos por 
um grupo.
As mudanças de costumes (como é o caso da mulher ocidental) não são substituídas 
de uma hora para outra. Existe um processo de crise em que a sociedade promove alguns 
movimentos, em princípio de forma isolada e, depois, vai se expandindo e tomando corpo e 
lugares. O século passado foi palco de grandes crises e mudanças em muitos segmentos sociais: 
família, arte, política e educação. A família diminuiu, a mulher saiu de casa para trabalhar e 
sustentar a família, a televisão mudou os hábitos familiares e agora todos se reúnem em torno 
do aparelho de TV.
A Semana de Arte Moderna de 1922 marcou a mudança conceitual de gênero das artes 
e modificou o gosto. Mas será que o gosto pode ser modificado? Pode. O que é feio ou bonito 
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irá depender do movimento artístico predominante e, principalmente, pela indústria cultural que 
determina as expressões e manifestações de arte. Da mesma forma acontece com os valores 
morais, já que não nascemos morais e sim, nos tornamos sujeitos morais. Aprendemos a ser 
morais.
A construção de nossa personalidade moral supõe uma descentração – em que 
superamos nosso egoísmo, em direção ao reconhecimento do outro como o 
outro eu. Por isso, o processo de educação moral não deveria ser de inculca-
ção das normas, mas também o de estimulação da passagem da heteronomia 
para a autonomia. (ARANHA; MARTINS, 2005, p. 200).
Se o sujeito aprende de forma automática e sem reflexão, terá dificuldades de promover 
a sua autonomia e terá suas escolhas sempre determinadas por outras pessoas. A reflexão e 
discussão sobre os valores nos ajudam a buscar as razões de nossas escolhas. Escolhemos 
e sabemos por que o escolhemos.
Outra questão importante do núcleo dos valores é a condição da cidadania. Primeiro é 
preciso aprender: CIDADANIA É O DIREITO DE TODOS TEREM DIREITOS! No entanto, não 
nascemos cidadãos. A cidadania é conquistada pela educação, que promove o comportamento 
cidadão no sujeito para o efetivo exercício democrático. “Não é fácil desenvolver a política da 
igualdade – que estimula a solidariedade, o pluralismo e o respeito pelos direitos humanos” 
(ARANHA; MARTINS, 2005, p. 200).
Em nossa mente ainda permanece a ideia de uma sociedade hierarquizada marcada 
pelo preconceito racial. Essa forma de pensamento está refletida em nossa linguagem, nas 
manifestações artísticas, na organização urbana e na distribuição de renda.
Você aprendeu, no início desta seção, o significado de valor em latim, mas existe, 
também, o significado em grego. Por que muitas palavras aparecem com significados nos dois 
idiomas? Porque a nossa cultura ocidental é herdeira dessas duas culturas. Aliás, pensando 
bem, são três culturas que fizeram parte de nossa formação: os gregos, os romanos (por isso o 
latim, que era a língua oficial dos romanos) e a judaico-cristã. Essas três culturas se juntaram, 
se influenciaram e formaram juntas a cultura ocidental. Não nos esqueçamos de que fomos 
“descobertos” pelos portugueses, que já tinham essa formação.
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Filmes: Forall: o trampolim da vitória (Brasil, 1997). Luiz Carlos 
Lacerda e Buza Ferraz.
Gaijin: caminhos da liberdade (Brasil, 1980). Tizuka Yamazaki. 
Sonhos (Estados Unidos/Japão, 1990). Akira Kurosawa.
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Já que estamos neste momento de análise histórica, vamos aprender aqui a contribuição 
dos filósofos antigos para esta questão de compreensão dos valores a partir de diferentes 
pontos de vista, como, por exemplo, como encontrar valor no bem, no belo, no verdadeiro, 
enfim, como se dá sua relação com o ser. Vamos começar com Platão.
Para Platão, existe o mundo das ideias do bem supremo, do verdadeiramente belo, do 
verdadeiramente bom. Aqui, no mundo sensível, não há espaço para o bem supremo porque 
no mundo corpóreo (das sensações, dos sentidos) tudo está em transição e, por isso, não há 
possibilidade da manutenção do verdadeiro conhecimento, que é eterno e imutável.
Para Aristóteles, tudo está em processo de atualização e, portanto, o ser humano 
precisa, no exercício da atualização (aprendizado), buscar aquilo que está em sua natureza 
de forma escondida: a virtude. Essa virtude se encontra no pleno uso da razão. Somente o 
ser humano é dotado de razão e é preciso colocá-la a seu serviço e viver de acordo com ela 
(não de acordo com as pulsões e paixões).
No período Iluminista (século XVIII), o filósofo Immanuel Kant afirma que não podemos 
conhecer o ser profundo das coisas (a essência que define as coisas) porque a razão não é 
capaz de te alcançar, de ter acesso pleno à metafísica (às primeiras coisas que estão fora 
do mundo físico). Então, é de responsabilidade do sujeito a atribuição dos valores em suas 
escolhas. “[...] Kant não se referia a um sujeito individual, mas ao sujeito transcendental, capaz 
de autonomia, de julgar por si próprio ao fazer juízos estéticos e morais” (ARANHA; MARTINS, 
2005, p. 203). Kant influenciou o pensamento filosófico subsequente e, até hoje, influencia os 
estudiosos da Ética.
FIGURA 13 – ESTUDIOSOS DA ÉTICA
FONTE: Disponível em: <http://rachelsnunes.blogspot.com.br/2011/04/retorno-da-
filosofia.html#!/2011/04/retorno-da-filosofia.html>. Acesso em: 27 maio 
2013.
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Mas foi Nietzsche quem promoveu uma verdadeira revolução no pensamento sobre 
os valores morais. Com sua obra “A genealogia da moral”, ele propõe a “transvaloração da 
moral”. Ou seja, ele propõe a rediscussão sobre o valor dos valores. Para ele, os valores são 
aceitos pelo hábito e não de forma consciente e, ainda, imposta pela tradição cristã. O sujeito 
não pensa no que faz e faz por medo ou por comodismo!
[...] a humildade, a caridade, a resignação, a piedade são valores dos fracos 
e vencidos, próprios de uma moral de escravos, intimamente ligada às neces-
sidades dos que vivem em rebanho. Diferentemente, a moral dos senhores é 
positiva, porque baseada no sai à vida, e se configura sob o signo da plenitude, 
do acréscimo. (ARANHA; MARTINS, 2005, p. 203).
Nietzsche contesta os valores da tradição afirmando que foram criados porhumanos para 
serem exercidos por outros humanos. Daí a necessidade de uma “demolição” desses valores 
e uma mudança, uma “transvaloração da moral”. Isto é, uma superação dos valores vigentes.
Na atualidade vivemos um processo de relativização dos valores. Tudo é relativo, 
inclusive o gosto. O que é belo? O que é feio? É uma questão de gosto. Aliás, você já deve ter 
ouvido a expressão: gosto não se discute. Será que é assim mesmo? Bem, se estamos nos 
referindo ao gosto gustativo, se gostamos de chocolate ou não, aí sim podemos discutir. Mas 
quando estamos falando de arte, não podemos deixar que esses valores sejam especulados 
e deixados ao bel-prazer de forma arbitrária. O que Leonardo da Vinci pretendia com a sua 
Monalisa era demonstrar que o belo está nas proporções das formas definidas e distribuídas 
na pessoa e, nesse caso, o retrato (imaginário ou não) contemplava essa ideia. A ideia de 
gosto estético pode e deve ser aprimorada a partir de uma educação de nossa sensibilidade.
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Nietzsche foi um filósofo que marcou o pensamento ocidental de 
forma contundente porque fez crítica à tradição filosófica que, até 
então, ninguém ousou fazer. Mas ele o fez! Por isso, marcou seu 
nome na história. Você concorda com esse filósofo que devemos 
“demolir” nossos valores e crenças para a reconstrução de outros 
valores? Justifique.
Outras questões do nosso cotidiano estão nas esferas religiosas, políticas e de postura 
de comportamento. Somos estimulados pelo senso comum a não discutir e sempre respeitar 
a opinião dos outros. Mas será que precisamos ficar calados diante de tudo? Lembremo-nos 
de que questões como a legitimidade da escravidão, das torturas, da separação étnica em 
muitos países (como o apartheid na África) e da negação do direito ao voto feminino ainda 
eram defendidas em pleno século XX.
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As mulheres conquistaram o direito de voto em 1883, na Nova 
Zelândia; em 1906, na Finlândia; em 1913, na Noruega; em 
1917, na então União Soviética; em 1918, no Canadá (sendo que 
na cidade de Quebec apenas em 1940); em 1920, nos Estados 
Unidos; em 1928, no Reino Unido e na Alemanha; em 1932, no 
Brasil; em 1971, na Suíça, e em 1976, em Portugal (ARANHA; 
MARTINS, 2005, p. 205).
O exercício reflexivo e dialógico nos leva ao esclarecimento dos nossos juízos de valor. 
Escolher e saber o porquê de nossas escolhas nos liberta dos limites de uma razão tutelada. 
Aí aparece a opção da liberdade. O nosso próximo tema de estudo.
3 ÉTICA E LIBERDADE: LIBERDADE COMO 
 CAPACIDADE HUMANA
De acordo com Alonso, López e Castrucci (2010, p. 29), “a ética é a arte de administrar 
a própria liberdade, de administrar os chamados atos humanos”. Por essa concepção pode-se 
dizer que exista uma discricionariedade ou livre-arbítrio no uso da liberdade. Parece que não. 
A liberdade é restrita se a analisarmos ao pé da letra, a liberdade de administrar cabe aqui 
como deferência à felicidade coletiva.
Na verdade, o que os autores querem dizer é que por trás de toda liberdade existe 
uma condição moral e um fim no bem comum, como afirmam: “Uma primeira afirmação da 
ética consiste em que a liberdade não está para fazer qualquer coisa, ou a serviço do agir sem 
rumo ou irresponsável, mas deve estar a serviço do bem”. (ALONSO; LÓPEZ; CASTRUCCI, 
2010, p. 29).
De acordo com Chiavenato (2004, p. 82), que trata da natureza humana diante das 
teorias das organizações, “o homem diante do seu contexto histórico sofre mudanças que 
explicam e justificam o seu comportamento humano”. O autor perpassa pelas diversas 
concepções ao longo da história da administração que sustentam o comportamento e/ou 
demanda comportamental que em cada época se exige ou se configura.
De que maneira podemos entender que a liberdade possa ser compreendida como uma 
capacidade humana nos diferentes grupos sociais existentes nos dias atuais?
Devemos sempre partir do princípio de que a ética denota regras, normas e 
responsabilidades, mas também não podemos esquecer que a ética é um espaço de reflexão 
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sobre a nossa vida cotidiana. Esta vida que está pautada nos alicerces da moral humana em 
sociedade deve, também, supor que todos os homens sejam livres.
A partir disso tudo, o que é liberdade?
Quantas vezes tivemos o sentimento de estarmos presos, ou seja, não tendo liberdade 
para fazer aquilo que realmente desejamos; ou simplesmente poder escolher entre uma ou mais 
opções; ou ainda sentir-se livre para querer realizar as nossas mais subjetivas necessidades, 
tais como: escolher uma boa comida, comprar aquela roupa desejada, fazer aquele curso 
desejado e não imposto pela família ou sociedade, andar de bicicleta, fazer um esporte etc?
Sabemos que todos os homens necessitam de liberdade. Os animais também precisam 
dela. A liberdade pode ser entendida como um processo de poder fazer escolhas. Estas escolhas 
devem ser sempre pautadas sobre os nossos princípios morais e éticos, para que, assim, não 
possamos prejudicar os outros.
De acordo com Barroco (2000, p. 54),
A liberdade como capacidade humana é, portanto, o fundamento de ética. 
Assim, agir eticamente, em seu sentido mais profundo, é agir com liberdade, 
é poder escolher conscientemente entre alternativas, é ter condições objeti-
vas para criar alternativas e escolhas. Por sua importância na vida humana, a 
liberdade é também um valor, algo que valoramos positivamente, de acordo 
com as possibilidades de cada momento histórico. Por tudo isso, podemos 
perceber que a liberdade é também uma questão ética das mais importantes, 
pois nem todos os indivíduos sociais têm condições de escolher e de criar 
novas alternativas de escolha.
O formato da vida em que estamos inseridos demonstra a situação de que os homens 
estão sempre tomando decisões sobre onde, como, para onde, o que estão fazendo ou vão 
realizar. A nossa própria existência pode ser considerada instável e incerta, porque mudamos 
de opinião o tempo todo. O mundo está em constante transformação e, por consequência, os 
nossos hábitos e costumes também, devido ao fato de que os seres humanos estão o tempo 
todo em movimento.
Não sabemos se choverá amanhã ou se fará sol, não sabemos realmente o que pode 
acontecer no dia seguinte e nem o caminho que vamos tomar daqui para frente. De acordo 
com Tomelin e Tomelin (2002, p. 128), “nosso existir se constitui a cada dia, pois o homem 
não é algo pronto e acabado, é um ser em movimento e que tem possibilidades de escolha. 
O nosso existir revela uma escolha. Uma escolha de nossos pais, ao terem um filho, e uma 
escolha nossa, de optarmos todos os dias pela vida”.
Então, podemos compreender que somos livres, temos o poder de escolha entre as 
inúmeras possibilidades que o universo nos proporciona. Só que não podemos esquecer que 
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toda escolha denota uma responsabilidade, não vivemos isolados, mas numa sociedade e, 
perante ela, podemos, de certa maneira, influenciar os outros conforme as nossas próprias 
escolhas.
Lembre-se de que toda escolha que fazemos determinará a nossa própria existência.
A liberdade é constituída no relacionamento direto entre os homens em sociedade, por 
meio de suas atividades humanas. Podemos considerar que o ser humano é um ser livre e 
tem o poder de escolha, desde que seja sempre consciente. Portanto, por meio do trabalho, o 
ser humano se constitui um homem consciente e livre.
FIGURA 14 – LIBERDADE ENTRE HOMEM E SOCIEDADE
FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-SY5LjKN5RN0/TbnyzSy2ItI/
AAAAAAAAAPM/-dUboZCakJk/s1600/cameras755.jpg>. Acesso em: 25fev. 2012.
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“LIBERDADE, essa palavra que o sonho humano alimenta: que 
não há ninguém que explique, e ninguém que a entenda.” (Cecília 
Meireles)
Contudo, o que é liberdade? No que tange à questão de liberdade, vejamos o que 
predizem Tomelin e Tomelin (2002, p. 127), quando tratam desta questão em seu livro “Do mito 
para a razão: uma dialética do saber”.
Você, por muitas vezes, deve ter se sentido preso, sem liberdade para sair de casa 
ou fazer o que quer. Ou que, muitas vezes, ao ser livre para querer, acaba querendo o que 
os outros querem que se queira. [...] A liberdade sempre foi uma questão fundamental na 
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história da humanidade. Todos nós queremos ser livres. Através da história, percebemos 
que muitas pessoas tiveram que pagar um preço alto pela sua liberdade. Muitos queimados 
em fogueiras, outros presos, perseguidos e torturados. Todos necessitam de liberdade. 
Até os animais. Você já reparou como o cachorro fica feliz quando o soltamos para correr? 
Podemos assim compreender que a liberdade é um poder de escolhas.
Nesta perspectiva, observamos que a existência do ser humano, nas suas relações 
cotidianas, acaba revelando escolhas, ou seja, todos os dias escolhemos entre inúmeras 
possibilidades postas pela sociedade, o que é bom ou mal para nós e para os outros. Assim, 
podemos considerar que todo homem é livre para escolher, por si só, uma determinada 
possibilidade e renunciar outras.
Não podemos esquecer que vivemos em sociedade, portanto, todas as nossas 
escolhas, direta ou indiretamente, influenciarão os demais membros da comunidade em 
que estamos inseridos. As nossas decisões refletem também diretamente sobre nós, ou 
seja, se porventura eu decidir não mais estudar e trabalhar, isso influenciará diretamente a 
minha vida e a da minha família e dos amigos. 
Nesta perspectiva, Tomelin e Tomelin (2002, p. 128) expõem que “[...] quando escolho, 
torno-me humano, e escolho não apenas a mim, mas a toda humanidade. Nossas escolhas é 
que determinarão o nosso existir”.
4 A ESSÊNCIA DA MORAL COM EMBASAMENTOS 
 ÉTICOS PARA A VIDA COTIDIANA
Partimos do entendimento de que todo homem pode ser considerado um ser ético 
e que nossas raízes éticas advêm da nossa própria história por meio do trabalho. Podemos 
questionar a sua forma de ser, ou seja, qual a natureza da moral? Por que a moral é necessária? 
E como ela é?
Pois sabemos que “a (re)produção da vida social coloca necessidades de interação 
entre os homens, modos de ser constitutivos da cultura, produtos do trabalho, tais como a 
linguagem, os costumes, os hábitos, as atividades simbólicas, religiosas, artísticas e políticas.” 
(BARROCO, 2000, p. 25). 
A partir disso, podemos destacar alguns exemplos: 
● Na questão da linguagem, hábitos e costumes: pode-se observar que toda região do 
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Brasil forma grupos ligados por seus costumes sociais, tais como: o nosso tipo de comida, 
o estilo de vida, as atitudes, determinando o nosso convívio social.
● Na questão das atividades simbólicas: a aplicação de histórias de contos de fadas serve 
para o desenvolvimento emocional de crianças.
● Na questão artística: a dança, a pintura, o teatro possibilitam a liberação da imaginação 
e criatividade dos homens, além de ser utilizada no tratamento de algumas questões de 
recuperação social e moral, como no tratamento de dependentes químicos e terapias 
ocupacionais.
Também devemos compreender que o homem, quando desenvolve e cria seus valores 
sociais e individuais, os classifica em certos ou errados, bons ou maus, de acordo com o 
conjunto de necessidades e possibilidades de cada grupo social.
Contudo, quais são as formas de ser da moral?
Como nos mostra Barroco (2000, p. 25-26),
o campo da moral é um espaço de criação e realização de normas e deveres, 
de atitudes, desejos e sentimentos de valor. Na vida cotidiana, julgamos as 
ações práticas como corretas ou incorretas; fazemos juízo de valor sobre nosso 
comportamento e dos outros; nos deparamos com situações em que ficamos 
em dúvida sobre a melhor escolha; projetamos nossa vida a partir de valores 
que julgamos positivos e negamos as ações que se orientam por valores que 
consideramos negativos.
Podemos observar, no nosso dia a dia, a existência de pessoas que não respeitam as 
normas de conduta da sociedade em que vivem, por isso elas possuem um comportamento 
imoral ou antiético, ou seja, negam as normas e diretrizes morais constituídas e legitimadas 
pela própria sociedade.
5 RELAÇÕES HUMANAS SOCIAIS
Ninguém vive sozinho, o sentido de interdependência já se adquire desde o nascimento. 
Somos afetados todo tempo por relações humanas, seja no nosso condomínio, na universidade, 
igreja, ou em quaisquer dos lugares que frequentamos ou que intercedemos. Então, relações 
humanas é toda e qualquer interação humana.
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FIGURA 15 – GENTILEZA
FONTE: Disponível em: <http://oimpressionista.files.wordpress.com/2006/04/
gentileza.JPG?w=395&h=294>. Acesso em: 15 jan. 2012.
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O profeta Gentileza foi uma pessoa que viveu nas ruas da cidade 
do Rio de Janeiro, em que escrevia mensagens de paz, amor e 
gentileza. Ele passou a viver na rua após ter perdido toda a família 
no incêndio em Niterói-RJ.
Gentileza é um modo de agir, um jeito de ser, uma maneira de enxergar o 
mundo. Ser gentil, portanto, é um atributo muito mais sofisticado e profundo 
que ser educado ou meramente cumprir regras de etiqueta, porque, embora 
possamos (e devamos) ser educados, a gentileza é uma característica dire-
tamente relacionada com caráter, valores e ética; sobretudo, tem a ver com 
o desejo de contribuir para um mundo mais humano e eficiente para todos. 
Ou seja, para se tornar uma pessoa mais gentil, é preciso que cada um reflita 
sobre o modo como tem se relacionado consigo mesmo, com as pessoas e 
com o mundo. (BRAGA, 2011).
Rosana Braga (2011) dá dicas práticas para que a gentileza seja exercitada no dia a dia 
das pessoas. É uma relação de atitudes básicas para que as pessoas possam se harmonizar. 
Vejamos as dez ações de gentileza:
1 Tente se colocar no lugar do outro – isso o ajuda a entender melhor as pessoas, seu 
modo de pensar e agir.
2 Aprenda a escutar – ouvir é muito importante para solucionar qualquer desavença ou 
problema.
3 Pratique a arte da paciência – evite julgamentos e ações precipitadas.
4 Peça desculpas – isso pode prevenir a violência e salvar relacionamentos.
5 Pense positivo – procure valorizar o que a situação e o outro têm de bom e perceba que 
este hábito pode promover verdadeiros milagres.
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6 Respeite as pessoas – quando elas pensarem e agirem de modo diferente de você. As 
diferenças são uma verdadeira riqueza para todos.
7 Seja solidário e companheiro – demonstre interesse pelo outro, por seus sentimentos e 
por sua realidade de vida.
8 Analise a situação. Alcançar soluções pacíficas depende de se descobrir a raiz do 
problema.
9 Faça justiça. Esforce-se para compreender as diferenças e não para ganhar, como se as 
eventuais desavenças fossem jogos ou guerras.
10 Mude a sua maneira de ver os conflitos. A gentileza nos mostra que o conflito pode ter 
resultados positivos e ainda tornar a convivência mais íntima e confiável.
Toda sociedade é composta por pessoas, toda organização é movida e depende de 
pessoas, que se chamam recursos humanos. Por esse motivo é muito importante que as 
organizações estejam atentas e se preparem para gerir seus recursos humanos.O campo de 
estudo de recursos humanos é muito vasto, desde o recrutamento e seleção até os mecanismos 
motivacionais e de permanência na organização.
As pessoas por si só carregam em si uma diversidade e pluralidade que podem ajudar a 
organização, e ao mesmo tempo a unidade da organização exige que o comportamento humano 
seja voltado aos princípios dessa organização. A pessoa, portanto, passa a desenvolver dois 
papéis fundamentais quando inserida na organização: o papel de pessoa e o papel de recurso, 
como se observa na figura a seguir:
FIGURA 16 – PESSOAS COMO PESSOAS E COMO RECURSOS
FONTE: Chiavenato (2004, p. 59)
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O ser cidadão é compreendido como um fenômeno multidimensional, porque se relaciona 
com a família, em grupos religiosos, no trabalho, na escola ou universidade, em clubes etc. 
As relações sociais nada mais são que todas essas relações isoladas e ao mesmo tempo em 
intersecção.
Cada pessoa possui uma personalidade própria e diferenciada e influi no 
comportamento e nas atitudes das outras com quem mantém contatos e é, 
por outro lado, igualmente influenciada pelas outras. As pessoas procuram 
ajustar-se às demais pessoas e grupos: querem ser compreendidas, aceitas 
e participar, no intuito de atender a seus interesses e aspirações pessoais. 
(CHIAVENATO, 2003, p. 107).
A pessoa, portanto, diante dessas múltiplas relações humanas e sociais, se apresenta 
a uma organização como pessoa com suas demandas pessoais e como recurso também, com 
suas habilidades e competências:
O comportamento humano é influenciado pelas atitudes normais e informais 
existentes nos grupos dos quais participa. É dentro da organização que sur-
gem novas oportunidades de relações humanas, devido ao grande número de 
grupos e interações resultantes. (CHIAVENATO, 2003, p. 107).
O diagrama que segue permite visualizar e compreender melhor essa dupla via da 
pessoa inserida numa organização diante das variáveis intervenientes, com seus anseios 
enquanto pessoas (objetivos pessoais) e como servidora de uma organização (objetivos 
coletivos).
FIGURA 17 – VARIÁVEIS INTERVENIENTES
FONTE: Chiavenato (2004, p. 61)
As relações sociais são importantes, porque favorecem a diversidade de vidas 
que, aliadas, podem favorecer em recursos criativos e dinâmicos para a organização; em 
contrapartida, podem apresentar conflitos de valores e pessoais.
Mas, dentro de uma organização as relações sociais devem ser entendidas no limite da 
política da organização, respeitando o seu código de moral. É por esse motivo que o campo de 
estudo dos Recursos Humanos é enorme, porque além de ter que dar conta da complexidade 
do ser humano, ainda se encarrega de motivar e se adequar às transformações da sociedade, 
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no que diz respeito às leis, à moralidade, aos valores e aos costumes.
De acordo com Chiavenato (2004, p. 123-124), os recursos humanos devem seguir uma 
política que irá beneficiá-los, mas em contrapartida os exigirá na otimização de seus deveres 
e trabalho para que a organização se desempenhe melhor, como o autor coloca:
Em função da racionalidade organizacional, da filosofia e da cultura organi-
zacional, surgem políticas. Políticas são regras estabelecidas para governar 
funções e assegurar que elas sejam desempenhadas de acordo com os 
objetivos desejados. Constituem uma orientação administrativa para impedir 
que as pessoas desempenhem funções indesejáveis ou ponham em risco o 
sucesso de suas funções específicas. Assim, políticas são guias para a ação. 
Servem para prover respostas às questões ou aos problemas que podem 
ocorrer com frequência [...].
6 DIFERENTES TIPOS DE INTERESSES
Entre pessoas que se relacionam, seja na família, em grupos sociais, em organizações, 
cada pessoa tem um interesse diferente. Esse hibridismo de interesses forma a sociedade 
em uma imensidão sectária. É o que queremos identificar, os diferentes tipos de interesses, 
começando pelo bem comum, o interesse individual, o coletivo, o público e o profissional.
6.1 O BEM COMUM
De acordo com Alonso, López e Castrucci (2010, p. 90), o bem comum “é o conjunto de 
condições sociais que permite e favorece aos membros da sociedade o seu desenvolvimento 
pessoal e integral”.
O bem comum, de forma bem simples, é a felicidade de todos. Pelo ponto de vista da 
administração pública, é buscar ações que favoreçam que a sociedade seja cada vez melhor, 
visto que os princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência 
(artigo 37 da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988)) sejam elementos fundamentais.
Alonso, López e Castrucci (2010, p. 92) abordam três aspectos essenciais do bem 
comum:
1 O bem comum tem composição análoga à do bem da pessoa.
2 É próprio da sociedade.
3 Deve ser compatível com o bem comum das outras sociedades.
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Esses aspectos essenciais apontam para que o bem comum só seja possível se houver 
o bem-estar das pessoas com elas mesmas (individual e coletivo), e também em qualquer 
espaço, seja a sua própria comunidade ou com a sociedade em geral.
FIGURA 18 – INDIVIDUAL E COLETIVO
FONTE: Disponível em: <http://pitacovirtual.blogspot.com.br/2010/11/proclamacao-
da-republica-garantia-de.html>. Acesso em: 27 maio 2013.
6.2 O INTERESSE INDIVIDUAL
De acordo com Abbagnano (2007, p. 665), interesse é a “participação pessoal numa 
situação qualquer e a dependência que dela resulta para a pessoa interessada”. Interesse 
individual é quando a pessoa deseja algo para si mesma.
O interesse individual, quando a pessoa é investida de servidor público, deve ficar aquém 
do interesse público. Mas há algum mal na pessoa desejar fazer carreira pública? Claro que 
não! Seja como representante do povo pelos cargos de voto direto (prefeito, vereador, deputado, 
senador, entre outros), seja também pela investidura de algum cargo público pelo processo 
seletivo legal, qualquer cidadão pode almejar fazer uma carreira profissional na esfera pública.
O que não pode são as pessoas, ao se investirem em algum cargo público, visarem 
única e exclusivamente o seu interesse individual e particular.
6.3 O INTERESSE COLETIVO
O interesse coletivo é o bem de todos e para todos. Na verdade, tanto as organizações 
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públicas quanto as privadas, entre outras organizações, visam ao interesse coletivo. O interesse 
coletivo é, portanto, a reunião da vontade de pessoas.
De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078/90, interesses 
coletivos são um tipo de interesse transindividual ou metaindividual, isto é, pertencem a 
um grupo, classe ou categoria de pessoas determinadas, que são reunidas entre si pela 
mesma relação jurídica básica. 
FONTE: Adaptado de: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Interesses_coletivos>. Acesso em: 30 mar. 2012.
Os interesses coletivos são de natureza indivisível, são compartilhados em igual medida 
por todos os integrantes do grupo, por esse motivo devem representar a vontade e interesse 
de um todo.
6.4 O INTERESSE PÚBLICO
O interesse público também é conhecido como princípio da supremacia do interesse 
público ou da finalidade pública. Segundo Meirelles (2006, p. 103):
O princípio do interesse público está intimamente ligado ao da finalidade. A primazia do 
interesse público sobre o privado é inerente à atuação estatal e domina-a, na medida em que 
a existência do Estado justifica-se pela busca do interesse geral. Em razão dessa inerência, 
deve ser observado mesmo quando as atividades ou serviços públicos forem delegadosaos 
particulares.
Nesse sentido, mesmo que o Estado repasse a terceiros a incumbência de serviços, 
ainda assim haverá supremacia do interesse público, ou seja, essa organização que prestará 
serviço deverá colocar o interesse público acima do seu interesse particular.
6.5 O INTERESSE PROFISSIONAL
As pessoas, no geral, ao ocuparem um cargo e função, seja numa organização pública 
ou privada, levam consigo seus interesses individuais, pessoais e profissionais. Essa motivação 
faz com que as pessoas vislumbrem uma carreira bem-sucedida. Entretanto, a respeito da 
ética profissional, Camargo (1999, p. 31-32) apresenta: “A ética profissional e a aplicação da 
ética geram no campo das atividades profissionais; a pessoa tem que estar imbuída de certos 
princípios e valores próprios do ser humano para vivê-los nas suas atividades de trabalho”.
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Os valores e desejos que as pessoas carregam devem estar numa escala menor aos 
interesses públicos ou coletivos, e quanto mais valor humano a pessoa levar para a organização, 
melhor para a organização e ao bem comum.
Encerramos a primeira unidade. Este tópico iniciou com o tema valor, e terminamos 
também com este tema. Na próxima unidade vamos tratar de política. A verdadeira, sem deixar, 
é claro, de identificar outras realidades que caminham juntas. Até lá.
UNI
A leitura complementar é muito importante, porque além de 
dar maiores referências sobre os temas discutidos, permite um 
aprofundamento do tema principal e suas ramificações. Nesse 
sentido, a proposta da leitura complementar é indicar um estudo 
que proporcionará o enriquecimento do conteúdo e também o 
descobrimento de novos conhecimentos.
Esse texto é resultado de uma entrevista realizada pela professora 
Maria Lúcia Toralles-Pereira (Instituto de Biociências de Botucatu, 
Universidade Estadual Paulista/UNESP), com colaboração de Adriana 
Ribeiro (assistente editorial da Revista Interface, Fundação Uni) ao 
Doutor Roberto Romano.
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Roberto Romano é filósofo, com doutorado na École des Hautes 
Études en Sciences Sociales, Paris, professor adjunto da Faculdade 
de Educação da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, 
onde exerce o cargo de vice-diretor. Com inúmeras publicações na 
área de Ciências Sociais, é figura incontestável no cenário intelectual 
brasileiro, por expressar posicionamentos críticos sobre temas 
extremamente complexos e de grande relevância atual.
FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1414-32832002000100012>. Acesso em: 28 mar. 
2012.
LEITURA COMPLEMENTAR
SOBRE ÉTICA E MORAL
Roberto Romano
Procuro sempre, no interior da vida intelectual brasileira, discutir criticamente o conceito 
imperante de ética, porque vejo nele um grande perigo. No Brasil de hoje, quando se fala no 
assunto, o termo recebe quase imediatamente a conotação de algo positivo, desejável e bom. 
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A ética definiria as regras de ação recomendáveis para o coletivo e os indivíduos. Semelhante 
identificação do ético com o bom é problemática. O conceito de ética é mais abrangente do que 
as noções de bem e de mal, pois significa o conjunto de hábitos introduzidos e reiterados num 
determinado tempo e sociedade, tornando-se quase automáticos nas consciências humanas, 
como se fossem uma segunda natureza. Qualquer ato nosso, reflexivo ou ativo, pode ter 
conotação boa ou má. Muitos hábitos coletivos, introduzidos no transcurso da história, sobretudo 
no Ocidente, na Europa e Américas, são nocivos à vida espiritual. Há o campo enorme de 
representações coletivas que a Filosofia do século XVII ou XVIII definia como “preconceitos”. 
Que um valor seja aceito por sociedades nacionais ou transnacionais como inquestionável é 
um ponto. Que ele seja inquestionável é algo muito diferente.
Por exemplo, temos o antissemitismo. Trata-se de uma forma de comportamento presa 
ao conjunto de valores surgidos na Idade Média, a partir de equívocos doutrinários, históricos 
e religiosos. Ao longo da Idade Média e no início do Estado Moderno, ele foi ampliado por 
problemas de ordem econômica e política, sendo reiterado por juízos equivocados, emitidos 
por grandes homens e líderes religiosos, como é o caso de Lutero. Na História Moderna ele foi 
repetido pelos seguidores de Lutero e também do catolicismo. No século XIX o antissemitismo 
uniu-se às doutrinas supostamente científicas, de cunho racista. Tais doutrinas foram espalhadas 
por meio da imprensa, das cátedras universitárias, dos livros, e tornaram-se uma forma 
“espontânea” de pensar entre largas camadas da população. Na Alemanha, quando surgiu o 
nazismo, ele já encontrou um solo fértil de atitudes diante do judeu, do árabe etc. O nazismo 
vem coroar um costume plenamente ético, mas hediondo e imoral, já que sapa a consciência 
moral que exige a unidade do ser humano: judeus, árabes ou negros, todos integram o ser 
humano. O ético, assim entendido, tem um atrativo muito grande, porque nele se descreve o 
“concreto”, a vida do povo.
O moral é mais abstrato, porque apela para a consciência invisível. Mas o moral é 
importante para verificarmos a veracidade, a bondade do ético. Este último é necessariamente 
coletivo: não existe ética individual. Já o moral apresenta-se coletivamente, mas tem sua vigência 
na individualidade. O juízo moral exige que se suspenda temporariamente o juízo ético, pois 
ele é mais exigente que o ético. Quem defende uma linha puramente ética da cultura, critica o 
chamado “moralismo” - o moralismo abstrato - porque ele seria uma afirmação de valores que 
não se corporifica imediatamente, enquanto o contrário ocorre com o ético.
O ético, pois, é muito mais atraente. A “opinião pública” quase sempre é ética (o que 
não quer dizer que é exata!). Há casos horrendos de costumes éticos, como, por exemplo, no 
caso brasileiro, a falta de respeito pelas leis de trânsito. Esta atitude coletiva entre nós pode 
ser vista, pelos estudiosos do fato ético, como um costume sancionado. Mas trata-se de algo 
plenamente imoral, porque nele tem-se em mente a prioridade do material sobre o espiritual. 
Se alguém possui condições econômicas para adquirir um veículo importado da marca Audi, 
consegue o direito de matar. Na consciência dos atores sociais existe esse direito, o que é 
profundamente imoral e antiético, no sentido correto da palavra. Não há dono de carro Audi 
(a não ser que ele seja um sujeito moral extremamente elevado), que não acredite: sua posse 
de um Audi goza do privilégio de andar a 170 quilômetros por hora numa estrada pública. A 
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Existem algumas referências técnicas que poderão ajudá-
lo(a) no aprofundamento do conceito de ética e moral, como 
também existem obras literárias e filmes que ajudarão você 
a ampliar o seu conhecimento, principalmente no que se 
refere às condutas morais. Vejamos:
● Ética: BOFF, Leonardo. Ética e Moral: a busca dos 
fundamentos. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
● Ética profissional: SÁ, Antônio L. de. Ética profissional. 
São Paulo. Atlas, 1996.
● Política: ARISTÓTELES. Política. Tradução Mário da Gama 
Kury, Brasília: UnB, 1989.
● Infanticídio: XINRAN, Sue. Mensagem de uma mãe 
chinesa desconhecida. Tradução Caroline Chang. São 
Paulo. Companhia das Letras, 2011.
Xinran é jornalista e nesse livro conta as histórias verídicas de mulheres chinesas 
em relação à cultura machista do único filho homem. São dez histórias que contam 
a interrupção da relação mãe e filha.
● Poligamia: CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: 
Companhia das Letras, 2004.
Esse livro é um romanceque aborda a questão da poligamia. Rami, a personagem 
do livro, é casada com Tony por 20 anos, até que ela descobre que o marido possui 
várias outras mulheres e filhos. Esse livro retrata a cultura de Moçambique em 
relação à prática e costume da poligamia.
própria propaganda da Audi incentiva isso: “quando você enxergar esse logotipo, passe para 
a direita”. Atribui-se aos donos de veículos o estatuto de semideuses, acima do bem e do mal. 
Por tudo isso eu me preocupo muito com a veiculação sem prudência da “ética” como se ela 
fosse um corretivo para a sociedade brasileira. Acho que a nossa vida social, inclusive a universidade 
e a pesquisa brasileiras, estão profundamente marcadas por traços éticos indesejáveis.
FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S1414-32832002000100012>. Acesso em: 28 mar. 2012.
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RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico vimos que:
•	 A moralidade dos homens é um reflexo direto do modo de ser e conviver em sociedade, que 
foi ou está sendo perpetuada num espaço de tempo.
•	 Todo ser humano pode ser considerado um ser ético.
•	 As nossas raízes éticas advêm da nossa própria história, por meio do trabalho. 
•	 Em cada sociedade existem diferentes modos constitutivos da cultura, tais como: a linguagem, 
os costumes, os hábitos, as atividades simbólicas, as religiosas, as artísticas e as políticas.
•	 Também devemos compreender que o homem, quando desenvolve e cria seus valores 
sociais e individuais, os classifica como certos ou errados, bons ou maus, de acordo com o 
conjunto de necessidades e possibilidades de cada grupo social.
•	 No nosso dia a dia existem pessoas que não respeitam as normas de conduta da sociedade 
em que vivem, estas pessoas possuem um comportamento imoral ou antiético.
•	 A moral sugere, constantemente, a valorização de nossas ações e de nossos comportamentos 
em sociedade.
•	 A construção da moral, seus hábitos, princípios e costumes é baseada e construída no dia 
a dia das relações sociais.
•	 Empregamos diversos tipos de valores, tais como: utilidade, estético, afetividade, do bem e 
mal, religiosos, aspectos econômicos, sociais e políticos.
•	 A liberdade pode ser entendida como um processo de poder fazer escolhas. 
•	 Temos a liberdade de escolha, pois, muitas vezes, nos indagamos se realmente devemos 
obedecer ou não a estas regras, pois cabe a cada um de nós decidir o que é certo ou errado, 
o que é fazer o bem ou o mal.
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1 Identifique três aspectos essenciais do bem comum, segundo Alonso, López e 
Castrucci.
2 Como podemos identificar pessoas como pessoas e pessoas como recursos?
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AVAL
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Prezado(a) acadêmico(a), agora que chegamos ao final 
da Unidade 1, você deverá fazer a Avaliação referente a esta 
unidade.
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UNIDADE 2
A polítIcA
objEtIvos DE AprENDIzAgEm
Esta unidade tem por objetivos:
	estabelecer uma relação da política com a ética e a moral;
 conhecer os princípios filosóficos da política;
 promover o pensamento crítico para as coisas públicas, das quais 
e pelas quais nós nascemos, vivemos e morremos.
TÓPICO 1 – A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL
TÓPICO 2 – A FILOSOFIA POLÍTICA
TÓPICO 3 – A POLÍTICA E O BRASIL
plANo DE EstUDos
Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um 
deles, você encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado.
Márcia Bastos de Almeida
Okçana Battini
Giana Albiazzetti
Sandro Luiz Bazzanella
André Bazzanella
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A FORMAÇÃO POLÍTICA OCIDENTAL
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 1
Depois de aprender um pouco sobre ética e sobre a moral, queremos conversar com 
você sobre política. Você não acha que esse assunto está bem (ou mal) relacionado com a 
ética e a moral? Por isso, nesta unidade você irá conhecer os princípios filosóficos e éticos da 
política. Pretendemos estimular a sua curiosidade e promover o seu pensamento crítico também 
e – por que não? – para as coisas públicas, das quais e pelas quais nós nascemos, vivemos e 
morremos. Vamos então estudar o pensamento político na Idade Média, a importância da ética 
cristã com seus dois grandes expoentes e finalizar este tópico com a política que se desenvolve 
na Modernidade e alguns desafios e questionamentos presentes na Contemporaneidade.
UNIDADE 2
2 O PENSAMENTO POLÍTICO NA IDADE MÉDIA
Neste ponto vamos aprender um pouco da ideia de política para os cristãos. Logo, 
daremos um salto da Antiguidade para a Idade Média e aqui apelaremos para o conhecimento 
dos historiadores que buscaram nas fontes a origem da nossa cultura ocidental. Em breves 
linhas, nossa cultura é resultado de uma junção entre a cultura judaico-cristã e a grega. Portanto, 
a ideia de política para os medievais tem inspiração dos dois lados – grego e judaico (hebreus) 
e mais o cristianismo.
Para os hebreus, todo e qualquer governo, seja ele qual for, precisaria ter a característica 
de teocrático, porque para eles o governo pertence a Deus. Além disso, os hebreus são 
conhecidos como o povo para quem Deus se revelou e deixou a Torá: o livro das leis (ditadas 
pelo próprio Deus a Moises, quando este passou 40 dias em Sua presença no monte Sião, 
recebendo todas as orientações sob a forma de lei que os homens deveriam obedecer). Os 
hebreus eram, assim, legalistas, ou seja, o povo conduzido pela lei divina.
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FIGURA 19 – TEOCRACIA X DEMOCRACIA
FONTE: Disponível em: <http://artigosdehistoria.blogspot.com.br/2011/02/teocracia-x-democracia.
html>. Acesso em: 27 maio 2013.
Quando o cristianismo se constituiu como religião (antes era apenas um movimento, 
cujo líder foi Jesus Cristo, e só muito depois de sua morte esse movimento de transformou em 
religião), buscava seus fundamentos na Antiga Lei e na Nova Lei (Antigo e Novo Testamentos).
No primeiro, Deus faz uma aliança com Noé, Abraão e Moisés. No segundo, Deus renova 
a aliança de forma messiânica, através do messias Jesus. Do lado romano, que conquistou 
a Grécia – portanto, a Grécia foi “romana” por muito tempo, no período em que o cristianismo 
se expandiu*e depois se torna a religião oficial do Império Romano:
[...] o príncipe já se encontra investido de novos poderes. Sendo Roma se-
nhora do Universo, o imperador romano tenderá a ser visto como senhor do 
Universo, ocupando o topo da hierarquia do mundo, em cujo centro está Roma, 
a Cidade Eterna. [...] ao imperador – ao César – cabe manter a harmonia e a 
concórdia no mundo, a pax romana, garantida pela força das armas. (CHAUI, 
2002, p. 387).
O formato político-cristão recebe influência desses dois modelos de organização política. 
Para isso, os filósofos cristãos buscam a fundamentação da teoria política na Bíblia latina 
(romanos), nos códigos dos imperadores romanos (Direito Romano) e em algumas obras de 
Platão e Aristóteles.
De Platão, se apropriaram da ideia de uma comunidade organizada de forma hierárquica 
(lembre-se da ideia de corpo) e governada por sábios, pelos filósofos. De Aristóteles, absorveram 
a ideia de que a finalidade do poder era a justiça. As teorias de poder teológico-político, com 
muitas reformulações durante a Idade Média, tinham princípios comuns: o poder e de Deus 
(teocrático), e um favor divino; o rei traz a leiem seu peito e o que agrada ao rei é lei; o príncipe 
cristão deve ter as virtudes cristãs – fé, esperança e caridade; a comunidade e o rei formam o 
corpo político (aqui temos o pensamento platônico), conforme explica Chauí:
[...] a cabeça e a coroa ou o rei, o peito e a legislação do rei, os membros 
superiores são os senhores ou barões que formam os exércitos do rei e a ele 
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estão ligados por juramento de fidelidade ou de vassalagem, e os membros 
inferiores são o povo que trabalha para o sustento do corpo político. A Polis 
platônica é assim interpretada pelo cristianismo: corpo político do rei. (CHAUÍ, 
2002, p. 390).
Tem mais: essa hierarquia se justificava pela ideia de vontade divina, ordenada por Deus 
e, portanto, natural. É a ideia do Direito Natural. Esse universo constituído de forma hierárquica 
é justificado na ideia de uma ordem fixa de lugares e funções de cada um (olha o Platão aqui 
outra vez). No universo, cada um ocupa seu lugar a que foi destinado naturalmente (por Deus): 
cada animal, vegetal, mineral, homens etc. Esses seres ocupam um lugar que foi distribuído 
(por Deus) em grau de inferioridade e superioridade.
Essa concepção de mundo dissemina a ideia de que cada qual deve ficar em seu devido 
lugar a que foi destinado ao nascer e com isso as teorias políticas conseguem o seguinte: 
mantêm o poder imperial e eclesiástico. No topo dessa hierarquia encontram-se o papa e o 
imperador.
Esse modelo de teoria política perdurou por toda a Idade Média, ora dando mais 
poder ao imperador, ora mais ao papa. Essa polarização de poder gerou conflitos, guerras e 
corrupção por parte de um e de outro. Para entender melhor isso, vamos, no próximo ponto, 
estudar sobre a ética cristã.
3 ÉTICA CRISTÃ
Não se pode imaginar a política sem a influência da Igreja e de seu pensamento e 
até de sua influência na história, principalmente para o Ocidente. A partir da ética cristã e do 
pensamento de Agostinho e de Tomás de Aquino, veremos que a ética cristã contribui para a 
evolução do pensamento político.
O cristianismo introduz o conceito de dever. Isto acontece porque, diferentemente dos 
antigos, que concebem a vontade como a capacidade de guiar os impulsos e os desejos pela 
razão, o cristianismo considera a vontade pervertida pelo pecado e prega que precisamos do 
auxílio de Deus para nos tornar morais. A vida ética cristã é definida pela sua relação espiritual 
e individual com Deus. De acordo com Chauí (2002, p. 441), o cristianismo introduz duas 
diferenças com relação à concepção da ética antiga:
A ideia de virtude se define por nossa relação com Deus;
A afirmação de que somos dotados de vontade livre – ou livre-arbítrio – e que 
o primeiro impulso de nossa liberdade dirige-se para o mal e para o pecado. 
Somos fracos e pecadores, divididos entre o bem (obediência a Deus) e o mal 
(submissão à tentação demoníaca).
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Para o cristianismo a lei divina revelada é que norteia as ações do indivíduo para a vida 
ética. O indivíduo, por si mesmo, é incapaz de realizar o bem e, por isso, precisa de auxílio 
divino. Daí surge a ideia de dever.
É oportuno apresentar ao leitor as críticas que o filósofo do final da modernidade – 
Nietzsche – faz ao modelo ético inaugurado por Sócrates e consolidado pelo cristianismo. 
Para Nietzsche, Sócrates criou a ideia de bem e de mal e o cristianismo consolidou essa ideia.
FIGURA 20 – NIETZSCHE – CRÍTICAS DO FILÓSOFO DO FINAL DA MODERNIDADE 
FONTE: Disponível em: <http://friedrichnietzsche1.wordpress.com/>. Acesso em: 27 maio 2013.
O bom cristão obedece às leis de Deus e submete sua vontade à vontade divina. Como 
o homem nasce do pecado e tem introjetada em si, pela vontade, a condição do mal – porque 
o homem nasce com o pecado original, o pecado adâmico*–, é preciso que ele se submeta e 
cumpra a vontade de Deus para alcançar o perdão divino e a salvação post-mortem. Obedecer 
às leis de Deus por atos do dever é a única condição para que o homem seja agraciado pelo 
perdão.
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Você sabia que pecado original ou adâmico se refere à transgressão 
de Adão no paraíso? Como somos “filhos” de Adão, já nascemos na 
condição de pecadores.
A filosofia moral cristã passou a distinguir três tipos fundamentais de conduta:
•	 Conduta moral ou ética, que se realiza de acordo com as normas e as regras impostas pelo 
dever.
•	 A conduta imoral ou antiética, que se realiza contrariando as normas e as regras fixadas 
pelo dever.
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•	 A conduta indiferente à moral, em situações nas quais não se impõem as normas e as regras 
do dever.
Além do dever, o cristianismo introduziu a ideia de intenção que habita no sujeito de forma 
imperceptível. A intenção é invisível, mas para que o sujeito alcance uma conduta virtuosa é 
preciso que ele a demonstre em ações e atitudes. Para o cristianismo, a vontade e a lei divina 
estão inscritas no coração dos seres humanos.
“A primeira relação ética, portanto, se estabelece entre o coração do indivíduo e Deus, 
entre a alma invisível e a divindade”. (CHAUÍ, 2002, p. 344). O dever, portanto, não fica restrito 
à condição visível, mas às intenções e ações invisíveis, porque Deus o vigia e julga todas as 
ações.
A ideia de dever, introduzida pelo cristianismo, tem a finalidade de oferecer um caminho 
seguro à vontade, que, sendo fraca e incapaz, se divide entre o bem e o mal, deve ter princípios 
a obedecer que o conduza ao alcance da virtude, que, posteriormente, promoverá a salvação 
da alma.
Essa configuração da ética cristã nos parece impositiva e até coercitiva, porque é 
determinada pelo dever. O homem é bom e age bem pelo dever, por uma norma invisível 
exterior. Deus o conhece, o vigia e o julga. Nesse caso, o homem não é autônomo – como na 
ética dos antigos –, mas heterônomo, porque a vontade e a consciência estão condicionadas 
à obediência por um poder externo e estranho ao homem.
De acordo com Chauí (2002), no século XVIII o filósofo Rousseau tentou resolver esse 
problema afirmando que o homem nasce bom, ou seja, a consciência moral e o sentimento do 
dever são inatos no homem, é “o dedo de Deus” em nossos corações.
Já nascemos puros e dotados de generosidade e benevolência para com os outros. Mas 
o homem é “estragado”, corrompido pela sociedade quando criou a propriedade, a privação 
e a servidão humana. Por isso, o cumprimento ao dever nos força a recordar nossa natureza 
originária, e assim, a imposição externa e aparente.
Contrário ao pensamento de Rousseau, Kant formula sua crítica dizendo que não 
existe a bondade natural e, por natureza, o homem é egoísta, ambicioso, destrutivo, agressivo, 
orgulhoso, cruel, ávido por prazeres, pelos quais nos matamos, mentimos e roubamos.
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FIGURA 21 – ORGULHO
FONTE: Disponível em: <http://aderivaldo23.files.wordpress.com/2013/04/55
5069_458903654180225_1526752612_n.jpg>. Acesso em: 27 maio 
2013.
Para Kant, o homem é tudo de ruim! Por isso é preciso instituir o dever para controlar 
e dar à vida um ordenamento social.
O cristianismo também definiu as virtudes que devem ser alcançadas, em modelo 
similar ao de Aristóteles.
No quadro a seguir estão definidas as virtudes cristãs:
QUADRO 5 – VIRTUDES CRISTÃS
VIRTUDES TEOLOGAIS PECADOS CAPITAIS VIRTUDES MORAIS
CORAGEM GULA SOBRIEDADE
JUSTIÇA AVAREZA PRODIGALIDADE
TEMPERANÇA PREGUIÇA TRABALHO
PRUDÊNCIA LUXÚRIA CASTIDADE
FÉ CÓLERA MANSIDÃO
ESPERANÇA INVEJA GENEROSIDADE
CARIDADE ORGULHO MODÉSTIA
FONTE: Chauí (2002, p.349)
Com relação ao quadro aristotélico, as virtudes teologais são acrescidas na ética cristã 
por conta da relação entre o homem e Deus, a justiça se constitui de forma individual, a amizade 
para o cristão é a caridade, os vícios são os pecados.
A modéstia em Aristóteles é um vício, e no cristianismo é uma virtude moral. Além disso, 
o filósofo da Antiguidade não falou sobre humildade, castidade e mansidão. Não iremos afirmar, 
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mas podemos pensar que essas condições são resultados da prudência.
Queremos chamar a atenção para um atributo importante para o cristianismo: o trabalho. 
Para o homem grego e romano, o trabalho não fazia parte dos valores do homem livre. “O 
ócio, considerado pela sociedade greco-romana como condição para o exercício da política, 
torna-se, agora, vício da preguiça. Lutero dirá: ‘Mente desocupada, oficina do diabo’” (CHAUÍ, 
2002, p. 348-349, grifo do autor).
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A palavra “trabalho” tem sua origem no vocábulo latino tripalium 
– denominação de um instrumento de tortura formado por três 
(tri) paus (palus). Desse modo, originalmente, “trabalhar” significa 
ser torturado no tripaliu. Quem eram os torturados? Os escravos 
e os pobres que não podiam pagar os impostos. Assim, quem 
“trabalhava”, naquele tempo, eram as pessoas destituídas de 
posses.
Aqui vale uma provocação. O pensamento apresentado sobre a ética cristã nesse 
parágrafo, pela filósofa Marilena Chauí, está reduzido por uma questão de espaço (é o que 
acreditamos, sinceramente). Acompanhe nosso pensamento. Lutero promoveu a Reforma 
protestante no ano de 1517, início da Idade Moderna.
O cristianismo, de tradição judaica com muita influência da tradição greco-romana (Jesus 
era judeu, não esqueçamos), já existia há quase 16 séculos, e dessa forma foi se configurando. 
Na tradição judaico-cristã, o trabalho tem uma conotação de castigo. No livro de Gênesis (3:19) 
está registrada a ira de Deus sobre o primeiro homem, Adão, que, desobedecendo a Deus, 
pecou comendo do fruto da árvore que representava o bem e o mal.
Fazendo isso, ele liberou a sua consciência, a sua vontade, que para o cristianismo é 
fonte de vícios e pecados. Por essa desobediência, o homem, por castigo de Deus, deveria 
retirar o seu alimento “com o suor de seu rosto”. Ou seja, com o trabalho o homem deveria 
buscar o seu sustento fora do paraíso, porque de lá foi expulso.
Com o passar do tempo e a história se modificando, o conceito de trabalho também foi 
mudando. Quando Lutero afirma que “a mente desocupada é oficina do diabo”, a sociedade está 
passando por profundas modificações, a burguesia está começando o projeto de implantação do 
capitalismo e o ideal burguês começa a ser disseminado em todos os segmentos, e a Reforma 
protestante começa a ser influenciada por essa ideologia.
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FIGURA 22 – AFIRMAÇÕES
FONTE: Disponível em: <http://jackelian-jack.blogspot.com.br/2010/08/mente-
vazia.html>. Acesso em: 27 maio 2013.
Com a ascensão dos burgueses (ainda sem o poder político, que só aconteceria com a 
Revolução Francesa em 1789), o conceito de trabalho também começou a mudar, chegando até 
os dias atuais com o sentido disseminado pelo cristianismo como uma virtude moral. Podemos 
pensar que, nesse sentido, a Igreja já estava assumindo o ideal burguês, que compreende a 
formação da riqueza pelo trabalho. Resumindo: sem trabalho não há riqueza e, assim, o ócio 
(bem visto pelos gregos) tornou-se um vício ou pecado.
3.1 AGOSTINHO DE HIPONA
Com a desintegração do mundo antigo, cujo marco histórico é a queda do Império 
Romano do Ocidente, tem-se a ascensão do mundo medieval, que se caracteriza de forma 
mais contundente em torno do debate que nos propomos a desenvolver, pela ascensão do 
cristianismo institucionalizado na Igreja Católica Apostólica Romana, a partir da qual podemos 
falar de uma ética cristã que se estabelece no contexto civilizatório medieval.
Numa perspectiva didática, adotaremos a divisão do mundo medieval em Alta Idade 
Média, séculos V ao X, e Baixa Idade Média, séculos XI ao XV, estabelecendo possíveis 
diferenças na abordagem da ética cristã nos respectivos períodos.
Neste primeiro momento do mundo medieval, considerado como Alta Idade Média, 
surge o movimento filosófico cristão denominado “Patrística”, que se caracteriza pelo 
pensamento dos Santos Padres da Igreja Católica (entre eles podemos citar Santo Ambrósio, 
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São Jerônimo, São Gregório de Nissa, Santo Agostinho), cujos pressupostos filosóficos 
procuram fundamentar a doutrina das verdades da fé do cristianismo, como contraponto às 
perspectivas pagãs e de interpretação herética que se distanciavam da interpretação oficial 
que a Igreja propunha como verdadeira.
 A “Patrística” vai buscar na filosofia grega, mais especificamente em Platão (428/27 
- 347 a.C.), suas bases conceituais, ou seja, o estabelecimento da verdade cristã apoia-se 
nos pressupostos da filosofia platônica como condição do alcance da verdade. É importante 
que se esclareça que a filosofia cristã medieval (que se caracteriza pelo estabelecimento 
das verdades da fé) parte do princípio de que a finalidade da filosofia é colocar-se a serviço 
da fé, ou seja, a verdade filosófica somente tem sentido na medida em que justifica as 
verdades reveladas da fé cristã.
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FIGURA 23 – SANTO AGOSTINHO
FONTE: Disponível em: <http: // 
www.consciencia.org>. 
Acesso em: 8 jan. 2008.
Aurelius Augustinus, que passaria para a história 
como Santo Agostinho, nasceu em 354, em 
Tagaste (hoje Souk Ahras, Argélia, norte da 
África), sob o domínio romano. Embora sua mãe, 
Mônica (que seria canonizada), fosse cristã, 
Agostinho não se interessou, quando jovem, por 
religião. Sentia-se atraído pela filosofia romana. 
Antes dos 20 anos já tinha um filho, nascido 
de uma relação não formalizada. Pouco tempo 
depois, abriu uma escola na sua cidade natal. 
Tornou-se professor de retórica, lecionando 
depois em Cartago, Roma e Milão. Nesta cidade 
tomou contato com o neoplatonismo e, aos 32 
anos, converteu-se ao cristianismo. De volta 
a Tagaste, decidido a observar a castidade e 
a austeridade, vendeu as propriedades que 
herdara dos pais e fundou uma comunidade 
monástica, onde pretendia se isolar. Mas, sem 
que planejasse, foi nomeado sacerdote da igreja 
de Hipona (hoje Annaba, Argélia), início da 
carreira religiosa que durou até sua morte, na 
mesma cidade, em 430. Suas obras principais 
são: Confissões, Cidade de Deus e Da Trindade.
SANTO AGOSTINHO
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Entre os principais representantes da Patrística encontra-se Santo Agostinho. Aurélio 
Agostinho nasceu em 13 de novembro de 354 d.C., em Tagaste, pequena cidade da atual 
Argélia, país que se localiza no norte da África. Morreu a 28 de agosto de 430 d.C. aos 76 
anos de idade. Teve uma sólida formação filosófica, além de uma vida intensa antes de 
entrar para a Igreja. Por volta de 396 d.C., torna-se bispo de Hipona, cidade provavelmente 
fundada pelos fenícios no norte da África e importante centro comercial na época. Em função 
deste fato também é conhecido como Agostinho de Hipona, ou o Santo Pastor de Hipona, 
entre outras referências.
Agostinho propõe uma ética cristã fundada no “Amor a Deus”. A exigência primeira 
e fundamental do Amor a Deus é que ele seja autêntico, verdadeiro e fiel. Partindo destes 
pressupostos, o autêntico amor ao Criador é demonstrado pela criatura no amor a si 
mesmo e ao próximo, na vivência da máxima sabedoria deixada por Jesus Cristo:“Não 
fazer aos outros o que não queremos que seja feito a nós mesmos” (Mt 7:12 e Lc 6:31). 
Nesta perspectiva, os princípios que fundamentam a ética cristã agostiniana desdobram-se 
num sentido antropológico e político. Pode-se perceber o esforço do bispo de Hipona em 
refletir, questionar seu tempo e as condições de possibilidade da vida humana na “Cidade 
dos Homens”, de alcançar o bem e a paz, como ensaio terrestre da verdadeira felicidade 
na “Cidade de Deus”.
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Verifique as obras de Agostinho para poder compreender melhor 
seu pensamento.
Agostinho reconhece o valor da pessoa humana, obra do Criador. Criatura criada 
à imagem e semelhança de Deus, o que lhe torna merecedora de admiração e dignidade 
incomparável em relação às outras criaturas. O homem, para o bispo de Hipona, participa 
do plano da criação como um ser transcendente, destinado à vida eterna junto ao Criador.
Nesta direção, o plano político assume importância significativa para Santo Agostinho, 
na medida em que a política é uma prerrogativa da “Cidade dos Homens” e deve ser exercida 
pelos homens públicos tendo como escopo de suas ações os interesses da coletividade, 
a promover a dignidade humana, a salvaguardar valores inerentes à preservação da vida 
humana como obra por excelência do plano da criação. Desta forma, a política realiza sua 
verdadeira função na medida em que o homem público se deixa conduzir pela bondade divina. 
 
Portanto, a ética agostiniana funda-se numa hierarquia do amor, num primeiro 
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momento amar a si mesmo e, num segundo, no amor ao próximo, desdobrando-se na forma 
como se conduz a vida em sociedade, na “Cidade dos Homens”. Nesta economia do amor 
como fundamento da ética, as ações humanas devem ser realizadas com vista ao alcance 
da eternidade, a “Cidade de Deus”, onde se encontra a verdadeira felicidade, finalidade 
última da vida humana no plano individual, ou social. 
Porém, aqui é necessário levar em consideração o fato de que a ética agostiniana está 
assentada em última instância no livre-arbítrio humano, ou seja, não é pela sua “natureza” 
divina que o homem alcança “naturalmente” a “Cidade de Deus”, ou que o homem estaria 
propenso a fazer o bem em função de sua participação no plano da criação, mas é a partir 
das escolhas que o homem faz, diante da possibilidade de fazer o bem ou o mal, que se 
estabelece sua liberdade de opção e, consequentemente, a responsabilidade de suas ações 
na “Cidade dos Homens”.
FONTE: BAZZANELLA, S. L.; BAZZANELLA, A. Ética VI. Disponível em: <http://migre.me/eLT9R>. 
Acesso em: 28 maio 2013. 
3.2 TOMÁS DE AQUINO
A cosmovisão medieval foi profundamente marcada pela influência cultural e política 
da Igreja Católica, que se articulou nos fundamentos da teologia cristã e da filosofia grega. 
Desta forma, na Alta Idade Média (século II d.C. até século IX, aproximadamente), Platão foi 
amplamente utilizado para fundamentar as verdades reveladas da fé cristã. Santo Agostinho 
(354-430 d.C.), partindo de uma perspectiva platônica, divide o mundo entre cidade de Deus 
e cidade dos homens, como vimos no ponto anterior.
Na Baixa Idade Média (séculos XI a XV) ocorre no Ocidente, por inúmeros fatores 
econômicos, políticos, sociais e filosóficos, uma espécie de “renascimento” cultural, na 
medida em que se foi tomando conhecimento, pelo movimento de traduções do árabe, 
de obras de filosofia, entre elas as de Aristóteles, de matemática, medicina, entre outras. 
É necessário levar em consideração que determinadas obras ocidentais tornaram-se 
desconhecidas da primeira Idade Média e um autor da importância de Aristóteles somente 
“volta” ao Ocidente por meio de traduções do árabe nesse último período.
Desta forma, a obra de Aristóteles vai ter uma influência extraordinária na Baixa 
Idade Média, na medida em que filósofos árabes como Avicena (Abu Ali al-Hussayn ibn 
Abd-Allah Ibn Sina – 980 a 1037) e Averróes (Abul Walid Muhammad Ibn Achmed – 1125 
a 1198) constroem seus sistemas filosóficos sobre as bases aristotélicas, apresentando-as 
ao Ocidente.
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Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, discorda da dualidade de mundos de 
seu mestre e funda sua filosofia que se pode denominar como realismo filosófico. Muitos 
o consideram o precursor da ciência, na medida em que busca, por meio da razão e da 
experiência, explicar através de categorias as causas materiais e formais dos fenômenos. 
Através da concepção de “ato e potência”, procura explicar a dinâmica do devir, daquilo que 
definimos como realidade. Aristóteles escreveu uma vasta obra sobre diversas áreas do 
conhecimento: política, lógica, moral, ética, teologia, pedagogia, metafísica, didática, poética, 
retórica, física, antropologia, psicologia e biologia. É neste contexto de “renascimento”, marcado 
por significativas transformações sociais, políticas e culturais, entre elas o nascimento das 
primeiras universidades no Ocidente, que surge a “Escolástica” como movimento filosófico 
cristão. Este período do pensamento cristão caracteriza-se pela filosofia ensinada nas escolas 
pelos mestres, chamados, por isso, escolásticos. As matérias ensinadas nas escolas medievais 
eram representadas pelas chamadas artes liberais, divididas em trívio – gramática, retórica, 
dialética – e quadrívio – aritmética, geometria, astronomia, música.
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FIGURA 24 – SÃO TOMÁS DE AQUINO
FONTE: Disponível em: <http://www.consciencia.org>. Acesso em: 11 jan. 2008
Tomás de Aquino nasceu em 1224 ou 1225 
no castelo de Roccaseca, perto da cidade 
de Aquino, no reino da Sicília (hoje parte da 
Itália). Diante dele, contemplamos um dos 
maiores pensadores que o mundo medieval 
viu. E também um dos maiores pensadores 
da história da filosofia. A Suma Teológica, sua 
obra principal, é um denso e rico compêndio da 
cultura cristã, da influência aristotélica sobre 
seu pensamento e da história da filosofia. Foi 
doutor que leu, escreveu e polemizou com 
outros pensadores medievais, mas sempre 
levando adiante sua densa obra de influência 
aristotélica. Tomás de Aquino morreu em 
1274, na abadia de Fossanova (hoje centro
da Itália).
São Tomás de Aquino
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Tomás de Aquino (1225-1274) surge neste contexto. Reconhecidamente foi um 
dos maiores teólogos da Igreja Católica. Seu mérito está no fato de articular a síntese do 
cristianismo com a visão aristotélica do mundo, de forma a obter uma sólida base filosófica 
para a teologia e retificando o materialismo de Aristóteles. Em suas duas “Summa”, 
sistematizou o conhecimento teológico e filosófico de sua época: são elas a “Summa 
Theologiae”, e a “Summa Contra Gentiles”.
A partir dele a Igreja passou a ter uma teologia fundada na revelação e uma filosofia 
baseada no exercício da razão humana, que se fundem numa síntese definitiva: fé e razão, 
unidas em sua orientação comum rumo a Deus. Sustentou que a filosofia não pode ser 
substituída pela teologia e que ambas não se opõem. Em seu pensamento, filosofia e 
teologia se complementam e não cabe à filosofia o papel de serva da teologia, como nos 
congêneres séculos filosóficos. Afirmou que não pode haver contradição entre fé e razão. 
Portanto, fé e razão são complementares e não contraditórias.
A partir destes pressupostos, a ética proposta por Tomás de Aquino consiste no 
homem agir de acordo com sua natureza racional. Dotado de livre-arbítrio, todo homem tem 
capacidade de discernimento entre o bem e o mal, enfim de captar, abstrair ou apreender a 
ordem moral; e o primeiro postulado da ordem moral é: “Faze o bem e evitao mal”. Neste 
contexto, para Tomás de Aquino, há uma lei divina revelada por Deus aos homens e que 
consiste nos Dez Mandamentos, mas há também uma lei eterna que se apresenta no plano 
racional de Deus e que ordena todo o universo como obra de sua criação. Mais ainda, uma 
lei natural que é articulada por meio da lei eterna no homem, criatura racional que, desta 
forma, é convocado a participar do plano da criação. A participação no plano da criação 
exige do homem a elaboração da lei positiva, que é o que lhe permite a vida em sociedade.
Porém, esta se subordina à lei natural e não pode contrariá-la, sob pena de se tornar 
lei injusta e, sendo assim, não há a obrigação de obedecer à lei injusta. Assim se estabelece 
o fundamento objetivo e racional da verdadeira consciência.
Desta forma, a ética aquiniana confere ao homem a responsabilidade e a capacidade 
de discernimento diante das decisões a serem tomadas. Na perspectiva aristotélica que funda 
o pensamento de Tomás, o critério supremo da vida ética é o justo meio-termo, preconizado 
por Aristóteles: nada de excessivo, ou seja, o alcance da felicidade, finalidade última da 
existência humana teologicamente concebida na contemplação da realidade na perfeita 
bondade, na visão de Deus. Portanto, uma ética fundamentada na fé cristã e fundamentada 
na consciência racional do homem que reconhece o pressuposto da fé. 
FONTE: BAZZANELLA, S. L.; BAZZANELLA, A. Ética VII. Disponível em: <http://migre.me/eLThr>. 
Acesso em: 28 maio 2013. 
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4 A POLÍTICA NA MODERNIDADE
Você pode perceber que até a Idade Média, ética e política estavam juntas. Na 
Antiguidade, o governante tinha que ser justo e para isso teria que ter suas ações baseadas 
no exercício ético sediado pela razão. Para os medievais é a ética cristã que irá nortear o 
exercício político.
O que acontece na modernidade? Um pouco antes, temos uma figura muito conhecida: 
trata-se do filósofo Maquiavel. Seu nome é bem conhecido; de sua obra, o livro mais conhecido 
é O príncipe. Foi escrito às pressas com a intenção de recuperar o emprego perdido do autor 
(de secretário de Estado na Itália) e, principalmente, de fazê-lo deixar o exílio. Mas O príncipe 
não retrata exatamente o pensamento de Maquiavel; interpretá-lo somente a partir dessa obra 
é o mesmo que querer entender um livro somente pela capa ou por suas orelhas.
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As orelhas de um livro são aquelas páginas viradas para dentro 
dele, apresentando de forma resumida o seu conteúdo).
O que Maquiavel fez foi desvincular o poder político do poder da Igreja. Enquanto os 
teólogos partiam da Bíblia e do Direito Romano para legislar, ele parte da experiência real, do que 
está acontecendo no tempo presente e precisa de soluções imediatas, mas que mantenham uma 
organização duradoura. Sua leitura política dos clássicos o fez ter uma noção de humanidade, 
ou seja, para ele o ser humano conserva algumas características imutáveis: “[...] são ingratos, 
volúveis, simuladores, covardes ante os perigos e ávidos por lucro”. (MAQUIAVEL,1982, p. 19). 
Por isso, não adianta buscar um governante virtuoso, porque não existe. Mas o governante 
poderá, se for esperto, desenvolver a virtude e alcançar a fortuna que é a manutenção do poder.
Maquiavel foi secretário e conselheiro dos governantes de Florença. Nesse período 
(século XV), a Itália estava totalmente dividida como uma colcha de retalhos e o caos instalado. 
A França invadia seus territórios sistematicamente e o governo papal estava totalmente sem 
prestígio, resultado da corrupção instalada nos bastidores da Igreja Romana. Por isso, Maquiavel 
ofereceu um pensamento novo para substituir as práticas políticas fundamentadas em teorias 
que não mais atendiam às necessidades de um novo tempo. Seus contemporâneos tentavam 
resolver as questões políticas buscando orientações nos antigos, e deixavam escapar os 
acontecimentos do momento.
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Maquiavel rompeu com o modelo passado da seguinte forma: Não admitindo um 
fundamento político divino. A cidade está dividida por dois desejos: daqueles que querem 
oprimir e o desejo do povo de não ser oprimido. Se a sociedade está polarizada entre dois 
desejos antagônicos, não pode ser vista como uma comunidade e, portanto, a finalidade da 
política não é o bem comum e a justiça. A lógica política não é a lógica racional da justiça e 
da ética, mas a lógica da força transformada em lógica do poder e da lei. O príncipe precisa 
ter virtude para tomar e manter o poder, nem que seja pela força, mentira, astúcia e violência.
Quando o regime político esmaga o povo, é ilegítimo. A legitimidade e a ilegitimidade 
são delimitadas pela liberdade. O que Maquiavel faz é virar de cabeça para baixo e romper com 
todas as concepções de política, ética e justiça construídas desde a Antiguidade. Para ele, no 
lugar de virtudes que devem fazer parte do governante para bem governar, deve ser a virtude a 
característica principal do bom governante. A virtude não tem o mesmo conceito de virtude dos 
antigos e dos cristãos, mas uma capacidade para gerir com eficiência os negócios públicos. A 
virtude é a capacidade do príncipe para ser flexível às circunstâncias, mudando com elas para 
agarrar e dominar a fortuna (o poder). Em outras palavras, um príncipe que agir sempre da 
mesma forma e de acordo com os mesmos princípios em todas as circunstâncias, fracassará.
Aprendendo agora sobre isso, você pode ler O Príncipe, de Maquiavel, com outros olhos 
e aplicar alguns ensinamentos para a sua vida profissional. É claro que você não irá sair por 
aí pisando em todas as pessoas, batendo e coagindo para manter uma situação de poder, ou 
até mesmo, de manutenção do seu emprego.
O que Maquiavel nos ensina é que devemos saber ler e interpretar o momento. É preciso 
ser flexível e atualizado para se manter “em pé”. Se você é um professor, precisa compreender 
a linguagem dos alunos para proporcionar um ensino que os alcance. Se você é uma secretária, 
precisa estar sempre atualizada e aprender que na atualidade é preciso trabalhar em equipe 
e não ser “muro”, mas “ponte”. Assim como um bom administrador de empresas precisa ouvir 
e interpretar o contexto da sociedade, a linguagem da equipe é conectar tudo (sociedade, 
equipe, fornecedores e clientes) com a empresa e a diretoria. Para isso, é preciso ter virtude.
Mas se você escolheu uma profissão que esteja diretamente ligada às questões sociais 
ou ambientais, como engenharia ambiental, serviço social e outros, é preciso ter muita virtude 
e entender o mundo, o sujeito contemporâneo e as políticas sociais, ambientais, da saúde, que 
são geridas pelo Estado. No atual contexto fala-se muito em flexibilidade atrelada à tendência 
pós-moderna. Mas essa ideia já existia com Maquiavel, antes da Modernidade.
Para ele, a lógica política deve estar totalmente separada da vida privada do governante. 
Uma coisa são as virtudes éticas construídas e cultivadas pelo sujeito em sua vida privada, 
particular. Outra coisa é a lógica da virtude na ação política. Os valores políticos devem ser 
medidos pela eficácia social. Ele separa o ethos político do ethos moral. O falso moralismo que 
impera na política não confere eficácia ao governante, mas sim, o fracasso.
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Maquiavel separa a política da religião e por isso foi criticado tanto por católicos como 
por protestantes. Sua obra foi considerada satânica e permaneceu no índex por vários séculos. 
Depois disso, Maquiavel foi perdoado e sua obra é traduzida e muito lida até hoje. Alguém deve 
ter lido (escondido) sua obra e percebeu que os tempos mudaram eera preciso ter virtude 
para se manter no poder! 
FIGURA 25 – POR NICCOLÓ MACHIAVELLI
FONTE: Disponível em: <http://euvivonomundodalu.blogspot.com.br/2011/05/maquiavel.
html>. Acesso em: 27 maio 2013.
Vale lembrar que, mesmo sendo um Estado laico, no Brasil a Igreja ainda interfere em 
algumas importantes questões de ordem social, que precisam de urgente regularização. Você 
é capaz de identificar essas questões?
A Idade Moderna apresenta muitas características que promoveram a mudança de 
pensamento político, assim como nas questões epistemológicas. Vamos ver agora de outra 
forma. Na passagem do século XIV para o século XV, o feudalismo estava decadente e a nova 
classe que vivia nos burgos (os burgueses) começou uma trajetória meteórica. Por que isso 
estava acontecendo? As cruzadas – guerra contra os árabes – consumiram muitas fortunas de 
famílias aristocráticas e muitas terras ficaram ao abandono. Uma grande peste (negra) matou 
muitas pessoas e as terras não tinham braços suficientes para plantar e colher. A vida urbana 
crescia muito com as atividades artesanais e o comércio com o Oriente virou rotina, originando 
uma nova fonte de riqueza: o lucro da exploração do trabalho dos pobres, e na exploração do 
trabalho escravo de índios e negros na América.
Desses fatos emergem: o burguês e o trabalhador e o conflito entre os indivíduos pela 
posse da riqueza, já que não existia mais o direito de sangue, de família. Agora, a riqueza tem 
que ser conquistada... pelo trabalho? Ou pela exploração dos mais fortes sobre os fracos? 
Sobre essa questão os teóricos se debruçaram e nós precisamos compreender essa ideia. 
Porque é nesse ideal que estamos vivendo. Ou seja, é o modelo liberal (revisitado) que norteia 
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as políticas econômicas, sociais e legais.
5 A CONTEMPORANEIDADE – NOVOS 
 DESAFIOS E QUESTIONAMENTOS
É diante destes paradoxos, destas contradições que alcançamos a contemporaneidade, 
os dias que correm e nos quais somos desafiados a colocar em jogo perspectivas éticas como 
condição de dar um sentido, uma forma à existência, à vida.
Estabelecer “princípios éticos” que nos deem condições de nos situarmos no mundo, de 
fazer nossas apostas na realização de uma vida, de milhares de vidas, enfim, de ter um sentido, 
uma finalidade, por mais humana e imanente que possa ser, é nossa condição existencial 
contemporânea, imersa num conjunto de prerrogativas nas quais somos convocados a nos 
posicionar.
Afirmar que necessitamos estabelecer perspectivas éticas contemporâneas significa, 
acima de tudo, reconhecer que estamos num contexto civilizatório que se caracteriza pelo 
questionamento da forma de ser e estar do ser humano no mundo, como resultado do processo 
civilizatório ocidental que chegou até o presente momento. 
Estes questionamentos característicos de nossos tempos podem assim ser apresentados:
a) Crítica à razão: a razão, que teve destaque com os gregos, alcançou na modernidade o auge 
de sua condição, na matematização das leis universais que regem o cosmo, na quantificação, 
mensuração e classificação do mundo natural, numa relação objetiva com o mundo, com as 
coisas, entre seres humanos. A racionalização do mundo, potencializada na modernidade, 
transformou a razão em razão instrumental, hábil executora dos ambiciosos projetos de 
planificação, estruturação e higienização de toda ambivalência, própria do mundo natural 
e humano. Os custos da otimização da razão instrumental foram pagos com a dura moeda 
do sofrimento humano nos campos de concentração na 2ª Guerra Mundial, com as bombas 
de Hiroshima e Nagasaki, com a guerra do Vietnã, com a morte de milhões de mulheres e 
crianças vitimadas pela fome na África, com as alterações no equilíbrio da biosfera em função 
do aquecimento global. Enfim, por violências e crimes de toda espécie, que tornariam este 
relato excessivamente extenso, e de forma alguma é nossa intenção violentar mais uma 
vez a condição humana, fazendo inventário, contabilidade ou estatística de corpos humanos 
devorados nos bárbaros acontecimentos dos séculos XX e XXI.
b) O fim da História: outra característica da contemporaneidade é a descrença, a frustração 
em relação às promessas modernas em torno de projetos societários que garantissem aos 
seres humanos a felicidade, a segurança, o progresso e o bem-estar. Ao cabo de séculos de 
experiências socialistas, capitalistas, anarquistas e outras, nos damos conta de que a terra 
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prometida, o reino da felicidade e da fartura e das benesses humanas não existe e que cabe 
aos seres humanos continuarem caminhando pelo deserto das paixões e desejos humanos, 
desprovidos de suas ilusões. Desta forma, esvaziam-se as grandes tarefas históricas impostas 
pela modernidade aos sujeitos históricos, condenados a entregar suas vidas em torno de 
causas, na sua maioria, inócuas, vazias e/ou esvaziadas no decorrer do tempo histórico.
c) O fim da política: para os gregos antigos, a política era condição da existência humana, 
da zoe, da garantia da felicidade, da materialização da cidade como espaço público, do 
bem viver. A participação na polis, no confronto entre pluralidades no espaço público, era 
a condição de ser cidadão. Porém, a modernidade eleva à condição primeira da existência 
humana a vida em sua dimensão meramente biológica. O que está em jogo na modernidade 
é o cuidado e o controle dos corpos, da vida e da morte dos indivíduos. A política é reduzida 
como o meio de se garantir as satisfações biológicas dos corpos que compõem o povo, a 
nação. A contemporaneidade potencializa este reducionismo político, condensando-o em 
torno de estratégias de biopoder na administração dos corpos de indivíduos atomizados pela 
lógica do consumo. O consumo foi elevado à condição da existência humana. Consumo, 
logo existo. Consome-se a tudo e a todos, ao mesmo tempo em que, inerente à lógica do 
consumo, tudo tem que ser necessariamente descartável.
d) Efemeridade e liquidez: se Kant havia definido as categorias de tempo e espaço como 
o lócus da realização da existência humana, por excelência, é preciso reconhecer que, 
na contemporaneidade, tempo e espaço foram comprimidos, diminuídos como condição 
vital pelas novas tecnologias que fazem parte de nosso cotidiano. Estamos submetidos 
constantemente a avalanches de informações que não conseguimos acompanhar, analisar, 
nos posicionar adequadamente. Tudo transcorre num fluxo contínuo e ininterrupto, efêmero e 
líquido, que escapa às possibilidades da experiência humana com o mundo, com as coisas, 
entre seres humanos. A compreensão das categorias de tempo e espaço a que estamos 
submetidos subtrai aos seres humanos a experiência vital de sentir, apreciar, saborear a vida 
nas pequenas coisas, nos gestos mais singelos, de reconhecer o outro como um ser em si 
mesmo e não reduzido à condição de meio para a festa do consumo, da descartabilidade.
e) A supremacia da técnica: se na modernidade tivemos a potencialização da razão em razão 
instrumental, na contemporaneidade convivemos com a hegemonia da racionalidade técnica. 
Segundo o filósofo italiano Umberto Galimberti (1999), “[...] a técnica se tornou o ambiente 
que nos envolve segundo as regras de racionalidade apoiadas em critérios de funcionalidade 
e eficiência”. Nosso tempo assume como verdadeira a máxima: “Se tecnicamente algo é 
factível, não há necessidade de justificativas éticas”. Portanto, “deve-se fazer tudo o que se 
puder fazer”, mesmo que isto implique diretamente a manipulação da vida, ou das formas 
de vida assumidas pelos seres humanos contemporaneamente. A relação do homem com 
a técnica remonta a nossos ancestrais mais primevos em sua aventura existencialsobre a 
face da mãe-terra, porém, o fato novo inaugurado pela modernidade/contemporaneidade é 
ter transformado a técnica num fim em si mesma. É o fato de ter esquecido de que a técnica, 
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como todo e qualquer fazer humano, não tem sentido em si mesma, mas sua finalidade deve 
estar a serviço da centralidade da condição humana. 
f) A morte do homem: se a modernidade mata Deus, ou seja, procura livrar-se do peso da 
perspectiva teocêntrica na interpretação do mundo, da existência, a contemporaneidade 
mata o homem. Damo-nos conta de que o homem, como fundamento da consciência, 
como sujeito histórico, é o resultado de categorias discursivamente constituídas numa 
sociedade estruturada e permeada por instituições sociais que disciplinam corpos e controlam 
mentes, impondo ao homem o desempenho de papéis sociais, o que levou Lacan a lapidar 
a expressão: “Penso o que não sou e sou o que não penso”. Decretar a morte do homem 
significa reposicionar a tensão entre indivíduo e sociedade, retirando o peso excessivo da 
sociedade na determinação da forma de ser e estar dos indivíduos, ao mesmo tempo em 
que deposita maior responsabilidade nos ombros dos indivíduos diante das exigências 
existenciais contemporâneas.
g) A sobrevivência planetária: a contemporaneidade é chamada a responder a um desafio 
imediato e que tem relação direta com as condições de possibilidade de continuidade da 
vida no planeta Terra. O planeta começa a dar sinais de que algo não está bem, de que 
séculos de uma postura agressiva em relação ao meio ambiente, de uma relação que 
transformou o conjunto da vida que se manifesta em algo objetivo, passível de domínio, 
necessita ser urgentemente revisto e alterado. Desta forma, o desafio contemporâneo, para 
além de pensar a continuidade da vida para os que fazem parte do planeta neste momento, 
envolve responsabilidades com as gerações futuras e, portanto, em última instância, com a 
continuidade da espécie humana e sua aventura no cosmo.
FIGURA 26 – CERTO-ERRADO
FONTE: Disponível em: <http://esquerdopata.blogspot.com.br/2012/03/certo-e-errado.
html>. Acesso em: 27 maio 2013.
Apontamos alguns desafios próprios do mundo em que estamos inseridos, sonhando, 
planejando e vivendo nossas vidas. Tais desafios, além de abrirem um universo de possibilidades, 
nos exigem o constante exercício do pensamento, da reflexão, do questionamento sobre as 
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condições de possibilidade de que dispomos para responder aos desafios apresentados. De nos 
perguntarmos se ainda há condições de estabelecer um princípio ético universal que funcione 
como parâmetro à existência humana. E, se isto fosse possível, qual seu fundamento, que 
princípio poderia garantir sua efetividade na orientação das ações humanas? Por outro lado, 
se não há mais condição de falarmos de princípios éticos universais, estaríamos à mercê de 
um relativismo ético? É possível pensarmos as ações humanas para além de um princípio 
ético universal? Estamos preparados para assumir formas de vida desprovidas de sentido e 
finalidade predeterminados? Estamos sendo pessimistas ou alarmistas?
Você, acadêmico(a), olhe à sua volta, procure entender a dinâmica do mundo que você vive 
– família, trabalho, lazer, amigos – e faça uma análise da civilidade, da compreensão, da cidadania, 
ou não, neste seu pequeno universo. Para fechar esse ponto sem muita aspereza na seriedade do 
conteúdo, vamos refletir um pouco sobre a urbanidade, o espaço em que a maioria de nós vivemos 
hoje, também vamos refletir sobre a solidariedade na atualidade e alguns temas polêmicos. 
Uma grande parte da humanidade vive hoje no meio urbano. Alguns países asiáticos 
defendem os aglomerados urbanos, justamente pela proximidade de tudo a todos: serviço, lazer, 
trabalho, moradia. Compreender a sociedade hoje passa pela compreensão da urbanidade, 
que automaticamente vai nos conduzir para a civilidade, para a solidariedade, partindo do 
pressuposto de que acreditamos no ser humano de bem.
O que a palavra urbanidade significa para você? Com certeza logo associamos a urbano, 
ou seja, à cidade; e esquecemos ou desconhecemos o outro significado, que é cortesia. Em 
algumas das leis que discorrem pelos deveres dos servidores, é comum encontrarmos: “tratar 
com urbanidade”.
De acordo com o Dicionário Ferreira (2001, p. 736), “urbanidade é qualidade de urbano; 
cortesia; civilidade, e ainda aponta urbanidade: antônimo de grosseria”.
ATEN
ÇÃO!
Urbanidade é cortesia.
Um dos sinônimos, portanto, de urbanidade, dado pelo dicionário, é civilidade. Então, 
urbanidade e civilidade são a mesma coisa? Vejamos novamente o que o dicionário diz sobre 
civilidade: “Conjunto de formalidades observadas pelos cidadãos entre si, em sinal de respeito 
mútuo”. (FERREIRA, 2001, p. 166).
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FIGURA 27 – CIVILIDADE
FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-FcrAfQWH0ZM/T081HpjhVlI/
AAAAAAAALLU/ngy-ALo51do/s640/Civilidade-transito.jpg>. Acesso em: 
15 jan. 2012.
Civilidade é o respeito das normas de convívio da sociedade. É a civilidade que permite 
que as pessoas convivam dentro das organizações e façam interações, mas tendo os valores 
morais como norteadores. No fim, é isso que nos interessa.
6 A SOLIDARIEDADE TEM VEZ?
Depois de tantas interpretações que vimos no decorrer deste tópico sobre eticidade, 
moral, efemeridade, vamos tratar de um tema não menos importante, mas com suas 
peculiaridades e que por isso merece ser destacado, porque é através dela que o ser humano 
pode dispor de seu objetivo pessoal em prol do objetivo coletivo.
FIGURA 28 – SOLIDARIEDADE
FONTE: Disponível em: <http://www.perguntascretinas.com.br/wp-content/uploads/2008/01/
mafalda.jpg>. Acesso em: 15 jan. 2012.
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De acordo com Srour (2011, p. 45), existem dois tipos de interesses pessoais: egoísta, 
“quando beneficia exclusivamente o indivíduo à custa dos outros e, portanto, assume feições 
abusivas e particularistas; e autointeresse, “quando beneficia o indivíduo sem prejudicar outrem, 
e, portanto, assume feições consensuais e universalistas, pois salvaguarda a individualidade 
e interessa a todos”. Tal como pode ser observado no esquema que segue:
FIGURA 29 – O AUTOINTERESSE E O EGOÍSMO
FONTE: Srour (2011, p. 45)
Nesse pensamento, Srour (2011) aborda a questão do altruísmo, que de acordo com o senso 
comum o tem colocado no sentido de abnegação, filantropia, amor ao próximo, entre outros. De 
acordo com o dicionário, altruísmo é um sentimento de quem põe o interesse alheio acima do seu 
próprio. É exatamente sobre esse aspecto que o autor quer considerar, longe do senso comum, de 
que altruísmo é sacrificar-se, mas sim valorizar o outro, valorizar os interesses dos outros.
Srour (2011) classifica estágios de altruísmo, o interesse é continuar a tese de que 
a solidariedade está ao lado do altruísmo e, portanto, é prática da esfera do universalismo, 
enquanto que pensar somente em seus interesses é uma prática do universo do particularismo.
O interessante nas questões sobre altruísmo é que não é uma atitude apenas de 
instituições de caridade ou similares, pode ser uma ação prática do dia a dia. É um sentimento 
como dita o dicionário, um sentimento a ser interiorizado e praticado, como observa:
Agir de forma altruísta, por conseguinte, não exige necessariamente uma ati-
tude de franco desprendimento, pois basta adotar uma postura cooperativa e 
solidária, ou basta exercitar o senso de interdependência. Equivale a levar em 
contaos interesses dos outros para não prejudicá-los; procurar beneficiá-los; 
procurar beneficiá-los na medida do possível; cuidar de si e dos demais para 
induzi-los à reciprocidade. (SROUR, 2011, p. 29).
A solidariedade, o altruísmo, é a máxima do cristianismo, é fazer ao próximo o que 
gostaria que fizesse com você. E todas essas virtudes da solidariedade estão imbuídas do 
bem comum que é o fim em si mesmo.
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7 ALGUMAS QUESTÕES POLÊMICAS DA ATUALIDADE
A Idade Contemporânea marca então uma nova forma de comunicação entre a 
sociedade, com base na premissa de que o homem é um ser concreto, real e histórico. E é 
pelo diálogo, num processo de argumentação mútuo, que pode haver o consenso entre os 
homens e, assim, as definições morais de conduta. Mas mesmo assim surgem questionamentos, 
polêmicas, perguntas que exigem respostas, e a ética não pode se eximir.
De acordo com Valls (2003, p. 70),
[...] a ética foi reduzida a algo de privado. [...] Ora, nos tempos da grande filosofia, 
a justiça e todas as demais virtudes éticas referiam-se ao universal (no caso, ao 
povo ou à polis), eram virtudes políticas, sociais. Numa formulação de grande 
filosofia, poderíamos dizer que o lema máximo de ética é o bem comum. E se 
hoje a ética ficou reduzida ao particular, ao privado, isto é um mal sinal.
Porém, não se pode esquecer que os valores, os hábitos e os princípios formam a 
consciência moral dos seres humanos, e esta consciência moral torna-se um fator preocupante 
nos dias de hoje, pois os indivíduos possuem suas responsabilidades individuais e coletivas 
perante a sociedade em que vivem; contudo, muitas vezes o dever ético respalda muito mais 
no indivíduo do que na coletividade, mesmo que os valores éticos sejam constituídos pela 
sociedade como um todo.
Entretanto, o que é ter uma vida ética?
FIGURA 30 – QUESTÕES ATUAIS
FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-OuKtfYuOCl4/ToCaJ0vPfzI/
AAAAAAAABq0/_uT5giyhJgI/s1600/AUTO_ivan.jpg>. Acesso em: 27 maio 
2013.
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Nesta esfera, segundo Valls (2003, p. 71) “a liberdade se realiza eticamente dentro das 
instituições históricas e sociais, tais como a família, a sociedade civil e o Estado”. Vejamos 
mais detalhadamente estas três instituições.
7.1 FAMÍLIA
Dez entre dez pessoas consideram a família um porto seguro, o lugar ideal e real para 
se sentir acolhido, de acolher, de estar bem e de fazer o bem, de viver autenticamente o amor.
Segundo Valls (2003, p. 71), 
Em relação à família, hoje se colocam de maneira muito aguda as questões das 
exigências éticas do amor. O amor não tem de ser livre? O que dizer então da 
noção tradicional do amor livre? Ele é realmente livre? E como definir, hoje, 
o que seja a verdadeira fidelidade, sem identificá-la como formas criticáveis 
de possessividade masculina ou feminina? Como fundamentar, a partir dos 
progressos das ciências humanas, os compromissos do amor, como se expres-
sam na resolução (no sim) matrimonial? E como desenvolver uma nova ética 
para as novas formas de relacionamento heterossexual? E como fundamentar 
hoje as preferências por formas de vida celibatária, casta ou homossexual?
Pois bem, verificamos que estamos em constantes transformações sociais e estas 
mudanças refletem diretamente na relação entre pais e filhos.
Podemos observar estas transformações, quando Valls (2003, p. 72) expõe que:
As transformações histórico-sociais exigem hoje igualmente reformulações nas 
doutrinas tradicionais éticas sobre o relacionamento dos pais com os filhos. Novos problemas 
surgiram com a presença maior da escola e dos meios de comunicação na vida diária dos 
filhos. As figuras tradicionais, paterna e materna, não exigem hoje uma nova reflexão sobre 
os direitos e os deveres dos pais e dos filhos?
Em especial, a reflexão sobre a dominação das chamadas minorias sociais chamou 
a atenção para a necessidade de novas formas de relacionamento dentro do próprio casal. 
O feminismo, ou a luta pela libertação da mulher, traz em si exigências éticas, que até agora 
não encontraram talvez as formulações adequadas, justas e fortes. A libertação da mulher, 
a libertação de todos os grupos oprimidos, é uma exigência ética, das mais atuais. E, como 
lembraria Paulo Freire, em seu Pedagogia do Oprimido, a libertação não se dá pela simples 
troca de papéis: a libertação da mulher liberta igualmente o homem.
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FIGURA 31 – LIBERTAÇÃO DA MULHER COM IGUALDADE AO HOMEM
FONTE: Disponível em: <http://cienciaycomunicacion.blogspot.com.br/2011/03/poder-
femenino-y-patriarcado-en-espana.html>. Acesso em: 26 maio 2013.
Entendida a instituição ‘família’, vamos para o segundo grupo, a sociedade civil.
7.2 SOCIEDADE CIVIL
No que tange às questões da sociedade civil, podemos verificar que, atualmente, os 
principais problemas enfrentados estão correlacionados ao mundo do trabalho e à propriedade, 
pois, de acordo com Valls (2003, p. 72),
Como falar de ética num país onde a propriedade é um privilégio tão exclusivo 
de poucos? E não é um problema ético a própria falta de trabalho, o desem-
prego, para não falar das formas escravizadoras de trabalho, com salários 
de fome, nem da dificuldade de uma autorrealização no trabalho, quando a 
maioria não recebe as condições mínimas de preparação para ele, e depois 
não encontram, no sistema capitalista, as mínimas oportunidades para um tra-
balho criativo e gratificante? Num país de analfabetos, falar de ética é sempre 
pensar em revolucionar toda a situação vigente.
Nesta perspectiva, observamos que se fazem necessárias algumas reformas políticas 
e éticas, no que tange às regras de conduta referente ao modo de aquisição da propriedade 
e do trabalho. Esta reforma deve partir da reformulação dos nossos princípios morais e éticos 
e através da vontade política de nossos governantes.
Valls (2003, p. 73) expõe ainda que
A crítica atual insiste muito mais, agora, sobre a injustiça que reside no fato de 
só alguns possuírem os meios da riqueza, e a crítica à propriedade se reduz 
sempre mais apenas aos meios de produção. [...] A propriedade particular 
aparece agora, nas doutrinas éticas, principalmente como uma forma de ex-
tensão da personalidade humana, como extensão do seu corpo, como forma 
de aumentar sua segurança pessoal, e de afirmar a sua autodeterminação 
sobre as coisas do mundo.
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Podemos aqui recorrer a três grandes pensadores que, entre tantas contribuições, eles 
vão nos ajudar a entender como o ser humano deve se organizar dentro de uma sociedade civil 
com todas suas nuances. São eles: Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau.
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Quando Hobbes disse: “[...] que todo homem é opaco diante do 
outro”, ele estava dizendo que não olhamos com nitidez o outro 
e nós também não somos vistos com nitidez diante do outro. 
Sempre um se considera melhor que o outro. Você concorda com 
essa afirmação? Pense sobre a afirmação hobbesiana e justifique 
sua resposta.
Estes três filósofos pensaram muito sobre as razões da existência de uma sociedade 
civil organizada, ou seja, as razões que levaram o homem a se organizar politicamente. (Os 
mesmos problemas dos filósofos antigos). A filosofia é assim mesmo: para um objeto (no caso 
a política) temos vários olhares, ou várias interpretações.
Vamos começar com Hobbes. Você deve conhecer uma frase célebre dele: “O homem 
é o lobo do homem”. Por que será que ele disse e escreveu isso? Vamos aprender! A frase 
clássica de Hobbes nos remete à ideia de queele investiga, em primeiro lugar, o homem em 
estado natural, antes de existir uma sociedade civil organizada.
A organização advém de um contrato e, por isso, ele figura entre os filósofos 
contratualistas. O pensamento desses contratualistas nos remete ao período entre os séculos 
XVI e XVIII.
Da mesma forma que Maquiavel pensava sobre a natureza humana, também Hobbes 
pensava. Ou seja, o homem não muda em algumas particularidades da natureza. Todos esses 
filósofos do período moderno foram buscar inspiração nos filósofos clássicos e Hobbes também 
concluiu que a natureza humana não foi capaz de “melhorar” com o passar dos séculos. Hobbes 
afirma que os homens são iguais:
[...] A natureza dos homens os fez tão iguais, quanto às faculdades do corpo 
quanto a do espírito [...] não há diferença entre eles [...] quanto à força corporal, 
o mais fraco tem força suficiente para matar o mais fraco, quer por secreta 
maquinação, quer aliando-se com outros que se encontrem ameaçados pelo 
mesmo perigo.
[...] quanto às faculdades do espírito [...] o que talvez possa tornar inaceitável 
essa igualdade é simplesmente a concepção vaidosa da própria sabedoria, 
a qual quase todos os homens supõem possuir em maior ou menor grau. Em 
maior grau do que o outro. (HOBBES, 2008, p. 74).
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Segundo o filósofo Renato Janine, o que Hobbes ensina é que “[...] todo homem é opaco 
aos olhos do outro” (RIBEIRO, 2009, p. 59). Como não se sabe o que o outro pretende, o melhor 
para a defesa é o ataque antecipado. A ideia do “homem lobo do homem” não é uma ação 
animalesca, mas racional e pensada. Dessa forma, instala-se uma guerra generalizada. Por 
isso, é necessário um Estado forte para controlá-los. Mas por que existe essa disputa eterna? 
Para Hobbes, há três motivações intrínsecas no ser humano: a competição, a desconfiança 
e a glória (a vaidade). O estado natural de guerra é porque todos se imaginam poderosos, 
perseguidos e traídos.
Como pôr um fim nesse conflito? O pensamento de Hobbes define o que é a Lei de 
natureza e para entendermos, iremos recorrer ao filósofo Ribeiro:
Uma lei da natureza consiste em um preceito ou regra geral, estabelecido pela 
razão, mediante o qual se proíbe a um homem fazer tudo o que possa para 
destruir sua vida ou privá-la dos meios necessários para preservá-la, ou omitir 
aquilo que pense poder contribuir melhor para preservá-la. Porque embora os 
que têm tratado desse assunto costumem confundir justiça e lei, o direito é a 
lei. O Direito consiste na liberdade de fazer ou de omitir, ao passo que a lei 
determina ou obriga a uma dessas duas coisas (HOBBES, apud RIBEIRO, 
2009, p. 60).
Na concepção moderna hobbesiana, direito e justiça estão separados. Por isso é preciso 
um Estado forte para dar um ordenamento à sociedade. Uma organização para a manutenção 
do próprio ser humano. Para que isso aconteça, Hobbes nos remete à ideia do Leviatã, uma 
figura marinha da mitologia que “ampara e cuida” dos mais fracos.
A passagem do Estado de Natureza para a sociedade civil acontece pelo contrato social. 
Os homens, por medo, renunciam à liberdade para eleger um soberano absoluto com poderes 
ou autoridade política de legislar e executar as leis. Portanto, Hobbes parte do conceito do 
Direito natural (Jus naturalismo), cujo preceito ensina que todo homem tem direito à vida e ao 
que é necessário para mantê-la, também (principalmente) à liberdade. Todos são livres, ainda 
que uns sejam fracos e outros fortes. Um contrato social, conforme o Direito Romano, só tem 
validade se ambas as partes forem livres e iguais e, por vontade própria consentem ao que 
está contratado, pactuado.
Outro filósofo marcante dos contratualistas foi Rousseau, também considerado o filósofo 
romântico. Para ele, o homem nasce bom – tese do bom selvagem inocente - e vive feliz em 
estado de natureza. Mas a propriedade privada o corrompeu. Para ele, essa divisão do que é 
meu e do que é seu gera o egoísmo e a servidão humana. 
No entanto, esta visão tem como princípio a mesma visão de Hobbes. Ambos entendem 
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que há uma luta entre fortes e fracos e, por isso, há necessidade do Estado para garantir a 
paz. Se em Hobbes o governante é soberano e absoluto, para Rousseau a soberania é do 
povo, que representa a vontade geral.
Os indivíduos, pelo contrato, criaram-se a si mesmos como povo e é a este 
que transferem os direitos naturais para que sejam transformados em direitos 
civis. Assim sendo, o governante não é o soberano, mas o representante da 
soberania popular. (CHAUÍ, 2002, p. 401).
Depois de Hobbes e Rousseau, vamos conhecer um pouco de J. Locke, considerado 
o pai do liberalismo clássico. O liberalismo é a teoria política que legitima o modo de produção 
capitalista. Funciona mais ou menos assim: imagine uma casa: o telhado é o modo de produção 
(em nosso caso é o capitalismo), mas para segurar esse telhado são necessários dois fortes 
pilares, uma teoria política e uma teoria econômica. Sem essas duas teorias, ou pilares, o 
modo de produção não se sustenta e fracassa. Mas os pilares precisam de uma boa fundação: 
é o projeto epistemológico e o ethos formado pelo projeto epistemológico. O modelo de 
conhecimento é que irá direcionar, por meio das ideias (ideologias), o nosso modo de transitar 
dentro dessa casa: que é a moral. Os nossos costumes foram, aos poucos, mudando para 
assumir o projeto de vida burguês. Caso contrário, o capitalismo não teria se consolidado. 
Portanto, a modernidade e o capitalismo nasceram no mesmo berço (a Europa).
O apogeu no novo modelo acontece no século XVIII, palco da Revolução Industrial e 
considerado o século das luzes. Mas antes disso, Locke já estava pensando e elaborando a 
teoria que iria dar sustentação ao modelo burguês de vida, ao modo de produção capitalista. 
A teoria política e econômica liberal legitima a propriedade privada. 
Locke também parte do direito natural como direito à vida, à liberdade e aos bens 
necessários para a manutenção de ambas. Até a Idade Média, cujo modo de produção foi o 
feudalismo, a teoria política tinha sua fundamentação no projeto divino do poder mantido por 
hereditariedade, uma conotação de castigo (Deus castigou o homem, por seu pecado original, 
ao trabalho pesado para a sua sobrevivência). Mas, agora, a coisa mudou. Como, então, tornar 
o trabalho o legítimo meio para garantir a propriedade privada como direito natural? Locke 
responde:
 
Deus é um artífice, um obreiro, arquiteto e engenheiro que fez uma obra: o 
mundo. Este lhe pertence. É seu domínio e propriedade. Deus criou o homem 
à sua imagem e semelhança, deu-lhe o mundo para que nele reinasse e, ao 
expulsá‑lo do paraíso, não lhe retirou o domínio do mundo, mas lhe disse que 
o teria com o suor de seu rosto [...] Deus instituiu, no momento da criação do 
mundo e do homem, o direito à propriedade privada como fruto legítimo do 
trabalho. (CHAUÍ, 2002, p. 401).
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FIGURA 32 – CRIAÇÕES DE DEUS
FONTE: Disponível em: <http://www.umsabadoqualquer.com/>. Acesso em: 27 maio 2013.
Dessa forma, Locke reinterpreta a Bíblia em favor do novo projeto econômico. Para os 
medievais, o trabalho era indigno, por ser resultado do pecado original. Mas, olhando assim, 
com os olhos de Locke ficou diferente. Assim, a burguesia em ascensão ficou definitivamente 
legitimada perante a nobreza. Mais ainda: o burguês se vê como superior perante a nobreza 
e perante os pobres. 
No ideário burguês, Deus fez todos os homens iguais e com direito, pelo trabalho, à 
propriedade privada. Se os pobres não a tem é porque são culpados por sua condiçãode 
pobreza e inferioridade.
Qual será o papel do Estado para esta nova situação? É o que veremos no próximo ponto.
7.3 ESTADO
O papel do Estado é garantir a propriedade privada. De acordo com a teoria liberal de 
Locke, realizada posteriormente pela Independência norte‑americana (1776), mais tarde pela 
Revolução Francesa (1789) e, por fim, com Max Weber, a função do Estado é:
•	 Garantir a propriedade privada por meio das leis e pelo uso da violência (exército e polícia).
•	 O Estado é o árbitro nos conflitos existentes na sociedade civil (por meio da lei e da força).
•	 O Estado tem o dever de garantir a liberdade de consciência e deve exercer censura no 
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caso das manifestações que coloquem em risco o próprio Estado.
No que tange aos problemas éticos do Estado, os mesmos denotam ser muito mais 
complexos, pois os ideais políticos são um tanto mais complicados de se compreender. 
Principalmente, quando tratamos da questão liberdade. De acordo com Valls (2003, p. 74):
A liberdade do indivíduo só se completa como liberdade do cidadão de um 
Estado livre e de direito. As leis, a Constituição, as declarações de direitos, 
a definição dos poderes, a divisão destes poderes para evitar abusos, e a 
própria prática das eleições periódicas aparecem hoje como questões éticas 
fundamentais. Ninguém é livre, numa ditadura [...]. 
Contudo, qual é a função do Estado?
Complementando, Valls (2003, p. 75) expõe que “os Estados que existem de fato são as 
instâncias do interesse comum universal, acima das classes e dos interesses egoístas privados 
e de pequenos grupos. [...] Em outras palavras, o Estado real resolve o problema das classes, 
ou serve a um dos lados, na luta de classes?” 
LEITURA COMPLEMENTAR
PRINCÍPIOS, VALORES E VIRTUDES
Jerônimo Mendes
Existe uma grande diferença entre princípios, valores e virtudes, embora sua efetividade 
seja válida apenas quando os conceitos estão alinhados. No mundo corporativo em geral, noto 
que muitos profissionais são equivocados com relação aos conceitos e, apesar de defenderem 
o significado de um ou outro, a prática se revela diferente.
Princípios são preceitos, leis ou pressupostos considerados universais que definem 
as regras pela qual uma sociedade civilizada deve se orientar. Em qualquer lugar do mundo, 
princípios são incontestáveis, pois, quando adotados não oferecem resistência alguma. Entende-
se que a adoção desses princípios está em consonância com o pensamento da sociedade e 
vale tanto para a elaboração da constituição de um país quanto para acordos políticos entre 
as nações ou estatutos de condomínio. Vale no âmbito pessoal e profissional.
Amor, felicidade, liberdade, paz e plenitude são exemplos de princípios considerados 
universais. Como cidadãos – pessoas e profissionais –, esses princípios fazem parte da nossa 
existência e durante uma vida estaremos lutando para torná-los inabaláveis. Temos direito a 
todos eles, contudo, por razões diversas, eles não surgem de graça. A base dos nossos princípios 
é construída no seio da família e, em muitos casos, eles se perdem no meio do caminho.
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De maneira geral, os princípios regem a nossa existência e são comuns a todos os 
povos, culturas, eras e religiões, queiramos ou não. Quem age diferente ou em desacordo com 
os princípios universais acaba sendo punido pela sociedade e sofre todas as consequências. 
São as escolhas que fazemos com base em valores equivocados, não em princípios.
Valores são normas ou padrões sociais geralmente aceitos ou mantidos por determinado 
indivíduo, classe ou sociedade, portanto, em geral, dependem basicamente da cultura 
relacionada com o ambiente onde estamos inseridos. É comum existir certa confusão entre 
valores e princípios, todavia, os conceitos e as aplicações são diferentes.
Diferente dos princípios, os valores são pessoais, subjetivos e, acima de tudo, 
contestáveis. O que vale para você não vale necessariamente para os demais colegas de 
trabalho. Sua aplicação pode ou não ser ética e depende muito do caráter ou da personalidade 
da pessoa que os adota.
Pessoas de origem humilde definem valores de maneira diferente das pessoas de origem 
mais abastada. De um lado, a escassez pode gerar a ideia de que dinheiro não traz felicidade, 
portanto, mesmo sem dinheiro é possível ser feliz utilizando-se valores como amizade, por 
exemplo. Do outro, o apego ao dinheiro e a convivência harmoniosa com o conforto podem 
gerar a ideia de que sem dinheiro não é possível ser feliz, ou seja, o dinheiro traz felicidade, 
amizade, conforto e, se houver mais dinheiro do que o necessário, valores como filantropia e 
voluntariado podem ser praticados.
Essa comparação não define o certo e o errado. Ela apenas levanta uma questão 
interessante sobre o conceito de valores e depende do ponto de vista de cada cultura ou de 
cada pessoa, em particular. Na prática, é muito mais simples ater-se aos valores do que aos 
princípios, pois este último exige muito de nós. Os valores completamente equivocados da 
nossa sociedade – dinheiro, sucesso, luxo e riqueza – estão na ordem do dia, infelizmente. 
Todos os dias somos convidados a negligenciar os princípios e adotar os valores ditados pela 
sociedade. 
Virtudes, segundo o Aurélio, são disposições constantes do espírito, as quais, por um 
esforço da vontade, inclinam à prática do bem. Aristóteles afirmava que há duas espécies de 
virtude: a intelectual e a moral. A primeira deve, em grande parte, sua geração e crescimento 
ao ensino, e por isso requer experiência e tempo; ao passo que a virtude moral é adquirida 
com o resultado do hábito.
Segundo Aristóteles, nenhuma das virtudes morais surge em nós por natureza, visto 
que nada que existe por natureza pode ser alterado pela força do hábito, portanto, virtudes 
nada mais são do que hábitos profundamente arraigados que se originam do meio onde somos 
criados e condicionados através de exemplos e comportamentos semelhantes.
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Uma pessoa pode ter valores e não ter princípios. Hitler, por exemplo, conhecia os 
princípios, mas preferiu ignorá-los e adotar valores como a supremacia da raça ariana, a 
aniquilação da oposição e a dominação pela força. Significa que também não dispunha de 
virtudes, pois as virtudes são decorrentes dos princípios e o seu legado foi um dos mais nefastos 
da história. Sua ambição desmedida o tornou obcecado por valores que contrastam com os 
princípios universais.
Diferente de Hitler, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce e Mahatma Gandhi tinham 
princípios, valores e virtudes integralmente alinhados com a sua concepção de vida. Todos 
lutavam por causas nobres e tinham um ponto comum: a dignidade humana. Enquanto Hitler, 
Milosevic e Karadzic entraram para o rol das figuras mais odiadas da humanidade, Madre 
Teresa, Irmã Dulce da Bahia e Gandhi são personalidades singulares que inspiram exemplos 
para a humanidade.
Existem pessoas que nunca seguiram princípio algum e, apesar de tudo, continuam 
enriquecendo, fazendo sucesso na televisão, conquistando cargos importantes nas empresas e 
assumindo papéis relevantes na sociedade. Entretanto, riqueza material não é a única medida 
de sucesso. Avalie, por si mesmo, quais os exemplos deixados por elas, a sua contribuição 
para o mundo e o seu triste legado para os descendentes.
No mundo corporativo não é diferente. Embora a convivência seja, por vezes, 
insuportável, deparamo-nos com profissionais que atropelam os princípios, como se isso 
fosse algo natural, um meio de sobrevivência, e adotam valores que nada têm a ver com duas 
grandes necessidadescorporativas: a convivência pacífica e o espírito de equipe. Nesse caso, 
virtude é uma palavra que não faz parte do seu vocabulário e, apesar da falta de escrúpulos, 
leva tempo para destituí-los do poder.
Valores e virtudes baseados em princípios universais são inegociáveis e, assim como a 
ética e a lealdade, ou você tem, ou não tem. Entretanto, conceitos como liberdade, felicidade ou 
riqueza não podem ser definidos com exatidão. Cada pessoa tem recordações, experiências, 
imagens internas e sentimentos que dão um sentido especial e particular a esses conceitos.
O importante é que você não perca de vista esses conceitos e tenha em mente que 
a sua contribuição, no universo pessoal e profissional, depende da aplicação mais próxima 
possível do senso de justiça. E a justiça é uma virtude tão difícil, e tão negligenciada, que a 
própria justiça sente dificuldades em aplicá-la, portanto, lute pelos princípios que os valores 
e as virtudes fluirão naturalmente. O que vale em casa vale no trabalho. Não existe paz de 
espírito nem crescimento interior sem o triunfo dos princípios. Pense nisso e seja feliz!
FONTE: MENDES, Jerônimo. Princípios, valores e virtudes. Gestão de Carreira, 17 de agosto de 
2008. Disponível em: <http://www.gestaodecarreira.com.br/coaching/reflexao/principios-
valores-e-virtudes.html>. Acesso em: 9 set. 2011.
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você viu:
•	 Os princípios filosóficos e éticos da política desde a Idade Média, passando pela modernidade, 
até a contemporaneidade.
•	 A importância da ética cristã com seus dois grandes expoentes, Agostinho e Tomás de Aquino.
•	 As características pertinentes da contemporaneidade, seus desafios e questionamentos, 
assim como questões a respeito da família, sociedade civil e Estado.
•	 Importância da solidariedade para o indivíduo e para a coletividade.
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1 Apresente os três tipos fundamentais de cultura apontados pela filosofia moral cristã.
2 Para Max Weber, qual é a função do Estado?
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A FILOSOFIA POLÍTICA
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 2
Estamos estudando, nesta unidade, as principais teorias políticas construídas na história. 
Até aqui, o objetivo foi o de estudar ou, pelo menos, provocar um entendimento para o que nos 
é tão próximo e, ao mesmo tempo, tão distante: a política. E próximo porque tudo o que está 
à nossa volta – as nossas ações cotidianas – está envolto em um projeto político. Fazemos 
política mesmo quando a recusamos. A recusa é uma política pessoal, mas que também envolve 
o coletivo. Quando nos calamos, damos voz a outros. Quando nos paralisamos, damos espaço 
para outro se movimentar. Quando cruzamos os braços, permitimos que outros se apropriem 
do que é nosso por direito.
Queremos, neste tópico, aprender como tudo começou e quem começou com a ideia 
de política no sentido de organização social. Vamos também apresentar a distinção necessária 
entre Governo e Estado, sobre a prática moral na nossa sociedade.
UNIDADE 2
2 POLÍTICA PARA TODOS
Diz o ditado popular que não devemos discutir política nem futebol. Talvez consigamos 
não falar de política, mas de futebol é impossível para nós brasileiros fazer “ouvidos moucos”, 
ou seja, “fingir que não ouvimos”.
Mesmo para aqueles que não têm time, não entendem de futebol e, aliás, nem gostam 
do esporte. Mas, como somos sociáveis, sempre partilhamos de uma conversa, seja dentro 
do ônibus, no trabalho ou nas filas infindáveis de nossa vida cotidiana. Também ficamos por 
“dentro” da vida dos jogadores que se tornaram ídolos, verdadeiras celebridades em todo o 
mundo. Agora, sobre política, conseguimos escapar!
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Mas, sabe de uma coisa? Mesmo quando ficamos “ouvindo” uma conversa acalorada 
sobre futebol, saiba que ali está implícita uma política. Os governos, não só o brasileiro, 
promovem políticas para o esporte. É claro que esta política deve atingir todas as modalidades 
de esporte e não só a ‘paixão nacional’, o futebol.
Vamos pensar em uma copa do mundo ou em uma olimpíada. Quanto dinheiro é investido 
para sediar esses campeonatos? Será que vale a pena, ou seja, penalizar a saúde pública, a 
educação, as políticas de ação social, para fazer a megarrecepção ao mundo? Todos falam 
sobre isso: do cientista político e esportista, inclusive a dona de casa. Mas, veja bem, estamos 
falando de qualquer país, porque os investimentos são os mesmos em qualquer lugar. Os 
recursos disponibilizados é que são diferentes, em países ricos e em países pobres.
Mas o nosso assunto é política. Então vamos jogar essa bola e fazer gol com o nosso 
tema. Apenas nesses parágrafos que deram início à nossa conversa você já pode perceber 
que a política está em nossa vida quase que na mesma proporção que o ar que respiramos. 
Da mesma forma que não vemos o ar, também não percebemos a presença desse fenômeno 
em nosso cotidiano. Mas ele está lá: quando pagamos a conta de água, de luz e de telefone, 
estamos fazendo política, porque ali na fatura está incluído um imposto. Você já olhou para 
conferir? Para onde vai esse dinheiro? Deveria ser revertido para a população em forma 
de melhorias, mas isso nem sempre acontece. Por isso, quando nos faltam a água, a luz, a 
comunicação, a saúde, aí sim, nos lembramos de que passamos a maior parte da nossa vida 
pagando e não recebendo na mesma proporção. Esse tema se refere à política de distribuição 
de renda adotada por um governo.
 
Mas o que é política? O que significa fazer política? Quem faz política? Usamos a palavra 
política para designar a gestão de vários segmentos que tanto podem ser relacionados à nossa vida 
privada quanto à nossa vida pública. Olha aí, duas instâncias de nossa vida: a privada e a pública. A 
privada é aquela que diz respeito apenas à nossa pessoa, e a pública envolve uma questão coletiva.
FIGURA 33 – POLÍTICA
FONTE: Disponível em: <http://dellafterreading.blogspot.com.br/2011/03/para-politica-o-bem-comum-
e-ordem.html>. Acesso em: 27 maio 2013.
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Sabendo disso é preciso fazer outra distinção: Governo e Estado. O governo se 
refere aos programas e projetos para atender à sociedade. Esses programas e projetos são, 
geralmente, propostos pela sociedade através de seus representantes. São programas sociais, 
de saúde, de educação, entre outros. O Estado é formado por instituições que permitem a 
ação dos governos: a polícia, o exército (forcas armadas), os órgãos de arrecadação (Receita 
Federal), secretarias de Saúde, de Educação etc. Estes representam a ideia de Estado. Ou 
seja, são “partes” do Estado que têm autoridade legitimada para gerir o erário (dinheiro) para 
atender aos governos – projetos – em benefício do cidadão, da sociedade.
Nesse sentido, podemos entender que política é a ação dos governantes para dirigir a 
coletividade que está organizada em Estado e representada pelas instituições. Sabendo disso, 
vamos entender a palavra POLÍTICA em sua etimologia, ou seja, o que a palavra significa. 
Política é uma palavra grega: ta poltika, vinda da polis, que, por sua vez, significa cidade. Logo, 
política originada na Grécia Antiga, significa: o que vem da cidade. Polis é a cidade, no sentido de 
uma comunidade organizada pelos cidadãos. Ocorre que o sentido de cidadão, para os gregos 
antigos, tem uma peculiaridade: eram homens nascidos naquele espaço geográfico, livres e 
donos de terras. Não eram todas as pessoas que tinham o direitode cidadania. Ficavam de 
fora as mulheres, as crianças, os escravos e os estrangeiros (mesmo que fossem ricos, donos 
de terras ou comerciantes). Esses cidadãos tinham também dois direitos muito importantes: a 
isonomia e a isegoria. Isonomia é a igualdade perante a lei, e a isegoria, o direito de falar em 
público sobre as questões da administração da cidade.
FIGURA 34 – DEMOCRACIA GREGA
FONTE: Disponível em: <http://cpalexandria.files.wordpress.com/2012/04/democracia-
grega.jpg>. Acesso em: 27 maio 2013.
Para o grego, política se refere aos negócios públicos ou tudo o que se refere à vida 
em uma sociedade politicamente organizada: as leis, a distribuição do erário (dinheiro dos 
impostos), a defesa do território (exército), os costumes, as construções públicas.
Os romanos tinham também uma palavra para designar o sentido de polis. Para eles 
era Civitas, que é a tradução de polis para o latim. O vocabulário era diferente, mas o conceito 
não. Para os romanos, quem poderia governar ou expor suas opiniões sobre como administrar 
a cidade eram os populos romanus, os cidadãos livres e iguais, nascidos em Roma e oriundos 
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da aristocracia.
Mas não foram os gregos e os romanos que “inventaram” a política. A proeza deles foi 
“inventar” o poder e a autoridade política. Vamos aprender um pouco mais com Chauí: 
Nas realezas existentes, antes dos gregos, nos territórios que viriam a formar 
a Grécia – realezas micênicas e cretenses –, bem como as que existiam nos 
territórios que viriam a formar Roma – realezas etruscas –, assim como nos 
grandes impérios orientais – Pérsia, Egito, Babilônia, Índia, China – vigorava 
o poder despótico ou patriarcal. (CHAUÍ, 2002, p. 372).
Nesses modelos de sociedade, o poder patriarcal era absoluto. A vontade de um rei ou 
de uma família da nobreza era lei inquestionável, absoluta. Os gregos e romanos romperam 
com o modelo acima descrito e organizaram um novo modelo de organização econômica e 
social e elegeram algumas pessoas para legislar. Mas não se confunda: essas pessoas faziam 
parte de um seleto grupo, já registrado nesta unidade, ou seja, eram os iguais e não todas as 
pessoas que viviam naquele solo.
Tanto os gregos quanto os romanos se empenharam em construir um modelo de política 
que, naquela época, atenderia às necessidades essenciais de uma cidade, um Estado. Segundo 
Chauí (2002), foram apenas em três aspectos comuns entre eles: a propriedade da terra, a 
urbanização e a divisão territorial.
Como a propriedade da terra não pertencia à aldeia nem ao rei, mas às famí-
lias independentes, e como as guerras ampliavam o contingente de escravos, 
formou-se na Grécia e Roma uma camada pobre de camponeses que migraram 
para as aldeias, ali se estabeleceram como artesãos e comerciantes, prospe-
raram, fizeram das aldeias, cidades, passaram a disputar o direito ao poder 
com as grandes famílias agrárias. (CHAUÍ, 2002, p. 375).
Podemos ver por essa citação que ali já se delineia uma luta de classes que irá perpassar, 
de uma forma ou de outra, por toda a história da humanidade. Com o fenômeno urbano, as 
relações também vão se alterando de forma significativa e outros segmentos, que não o agrário, 
vão surgindo – os artesãos, os comerciantes e a massa dos despossuídos. Esse povo formava 
o grupo de pessoas que trabalhavam para aqueles que detinham o comércio, a fabricação de 
artefatos (artesão), como empregados domésticos (homens, mulheres e crianças) que “serviam” 
para toda sorte de trabalho considerado indigno para os “ricos”. Portanto, já havia a ideia de 
pobre e rico e a luta entre as duas classes.
Essas lutas também eram decorrentes das guerras, que, segundo Chauí (2002), 
envolviam todos em guerras para a expansão territorial e, por isso, todos se sentiam no “direito” 
de intervir nas decisões da cidade. Por esse motivo, havia necessidade urgente para colocar 
ordem naquela confusão.
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A alternativa encontrada pelos legisladores da Grécia e de Roma foi dividir as cidades, 
estabelecendo limites entre uma e outra e, dessa forma, enfraquecia o poder das famílias ricas 
e, também, atenderia às necessidades dos camponeses e da massa assalariada que vivia 
nos centros urbanos. Atenas fez mais: a polis foi “[...] subdividida em unidades sociopolíticas 
denominadas demos [...] e em Roma, essa mesma divisão ganhou o nome de tribus”. (CHAUÍ, 
2002, p. 375).
Na Grécia antiga nasceu o modelo democrático (governo do povo), e em Roma o modelo 
era oligárquico (oligarquia), governo de um grupo.
Gregos e romanos romperam com o poder despótico das famílias ricas que mandavam 
e desmandavam, para criar o poder político. As características de modelo de poder político se 
configuram pela separação: autoridade pessoal da autoridade impessoal (privado e público); 
autoridade militar da autoridade civil; autoridade religiosa da autoridade laica (desvinculada 
da religião).
Uma vez feitas as separações devidas, criaram a ideia do exercício da lei como 
expressão da vontade coletiva, as instituições públicas para aplicação das leis; a administração 
pública para recolher os impostos e designá-los para os fins públicos, e criaram o espaço 
público onde as pessoas pudessem falar.
Na Grécia, esse espaço ficou conhecido como a Ágora (onde se reuniam formando uma 
assembleia), e em Roma, o Senado. Em ambos os espaços somente aqueles que possuíssem 
direitos iguais poderiam se manifestar, eleger e ser eleitos.
No próximo ponto vamos conhecer os aspectos filosóficos da política. Mas política é um 
tema filosófico? Por quê? Porque a política trata da “coisa” pública, e são pensadas e decididas 
a partir de uma concepção de sujeito, de sociedade, de economia.
Vamos a ela.
3 ASPECTOS FILOSÓFICOS DA POLÍTICA
A Filosofia nasceu com as mudanças que ocorriam na Grécia, originadas pelo apogeu 
econômico promovido pelas transações comerciais. Era comum, entre os primeiros filósofos, o 
exercício político como chefes e legisladores. Os primeiros filósofos, no entanto, separaram de forma 
conceitual a ideia de poder despótico e poder político. O primeiro atenderia àquele ou àqueles que 
estivessem no exercício político, e o segundo atenderia a toda a cidade, tornando-a justa.
Muito se pensou e se discutiu sobre política: como iniciou? Para que serve? Quem 
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deve ocupar a posição de chefe ou legislador? Essas questões foram pensadas e registradas 
por Platão e Aristóteles (entre outros), mas, representando a antiguidade, elegeremos esses 
dois gigantes da Filosofia. Vamos conhecer como os gregos respondiam à primeira questão: 
como foi o início da política? Como o mito explicava a realidade antes da Filosofia e como ela 
conviveu por muitos séculos, para dar a resposta à pergunta. Os gregos recorriam ao mito mais 
comum: as Idades do homem. Diz o mito que o homem passou por vários estágios, sendo o 
primeiro representado pelo ouro.
Nesse período, os homens viviam junto aos deuses, nasciam diretamente da terra já 
adultos, eram felizes e imortais e não necessitavam de leis e, muito menos, de governo. Mas, 
também nesse mito, o homem sofre uma queda e é expulso da presença dos deuses, tornando-
se mortal, jogado nas florestas e vivendo de forma isolada e desprovida de roupas e alimentos 
e ameaçado pelos animais predadores, maiores que ele.
Com o tempo, descobriram o fogo e passaram a utilizá-lo para sua proteção pessoal, 
aquecimento, afugentar as feras que lhes ameaçavam e a cozinhar seus alimentos. Fizeram, 
também, artefatos que eram utilizados nas caçadas. Dessa forma, o homem foi se transformando, 
inclusive fisicamente.O alimento cozido tornou suas feições mais leves, porque os dentes, 
antes afiados e pontudos, agora diminuem pela comida cozida e macia. O fogo aqueceu e, 
aos poucos, os fartos pelos caíram do corpo e as “armas”, ou ferramentas, utilizadas para a 
casa, também os deixou, digamos, com mais poder.
Depois da Idade do Fogo, o último estágio, a do ferro, quando começaram a fazer guerra 
entre si. Em situação de guerra permanente, os deuses precisaram intervir e fizeram nascer um 
homem para legislar sobre os outros. Um homem enviado pelos deuses. Um legislador. Essa 
foi a explicação mitológica contada na Grécia e, com alguma variação, em Roma. 
Platão utilizou desse mito para explicar que a política, embora com a intervenção dos 
deuses, nasceu para colocar harmonia entre os homens, ou melhor, as leis e o legislador 
garantem essa harmonia.
Vamos entender mais: à pergunta sobre a origem e a razão da existência política foi 
oferecida resposta que se constituiu no movimento político de toda a história.
Uma resposta que nos parece coerente, e de que os homens viviam muito bem, mas 
começaram, por alguma razão, uma guerra interminável, transformando o mundo, que antes 
gozava de paz e felicidade, em um verdadeiro sofrimento sem fim. Por isso, houve a necessidade 
de se criar uma organização para manter a paz.
Para os sofistas, a política é uma convenção, porque quando começam a viver em 
comunidade percebem que a vida em comum possui muitos problemas para os quais eles não 
conseguem encontrar uma solução. Por isso, apelam aos deuses, que, solidários aos problemas 
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humanos, criam as leis e organizam a cidade, ou seja, criam a política.
 Para Platão, a política é artificial e negativa, porque surge para dirimir problemas criados 
pelos homens. Aristóteles, por sua vez, defende a ideia de que a política surge de forma natural, 
já que o homem é, naturalmente, um ser político, ou, nas palavras dele, “um animal político”, 
e para encontrar a causa da política é preciso conhecer a natureza humana.
Portanto, os gregos tinham três concepções ou teorias políticas, como ensina Chauí 
(2002): como remédio para a perda da felicidade da comunidade originária; o resultado de 
desenvolvimento das técnicas e costumes e, por último, a cidade e uma constituição natural.
Vamos retomar, mais uma vez, o pensamento desses filósofos para entender o porquê 
das divergências sobre as teorias políticas. Comecemos com os sofistas, que diziam ser a 
política uma convenção entre os homens. Atenção para a ideia de CONVENÇÃO. Isso quer 
dizer que é mais conveniente aos homens viverem agrupados em comunidade e por isso criam 
as regras que se transformam em leis, cuja finalidade é promover a justiça. Pensado assim é 
ótimo, porque se as leis surgiram a partir da convenção entre os homens, significa que podem 
mudar de acordo com as circunstâncias.
Por esse motivo, os sofistas se apresentavam como professores da arte da 
discussão e da persuasão pela palavra (retórica). Mediante remuneração, 
ensinavam os jovens a discutir em público, a defender e combater opiniões, 
ensinando-lhes argumentos persuasivos para os prós e os contras em todas 
as questões. (CHAUÍ, 2002, p. 381).
Agora, podemos entender melhor a rejeição que os sofistas receberam por parte 
de Platão e Aristóteles. Os sofistas, afinal, ensinavam a arte de escamotear, ou seja, pela 
argumentação modificavam o verdadeiro sentido da verdade. Nesse caso, a finalidade da 
política era a justiça alcançada pela disputa de argumentos contrários levando à vitória aquele 
que apresentasse um argumento melhor estruturado e convincente.
Platão pensa totalmente diferente dos sofistas e de Aristóteles. Ele vê o Estado como 
um organismo humano, ou um corpo humano. Para ele, tanto os homens quanto a cidade são 
dotados de três almas: a alma racional (cabeça); a alma irascível (o peito) e a alma concupiscente 
(o ventre). Essas três almas que se constituem como a essência do homem têm o seguinte 
significado: a razão se dedica ao conhecimento; a irascível defende o organismo contra todos 
os tipos de agressão; e a última, a alma concupiscente, é a responsável pelos apetites do corpo, 
tanto os necessários para a sobrevivência quanto aqueles que causam prazer.
Da mesma forma que o corpo está dividido, a polis também tem uma estrutura tripartite, 
formada por três classes: a dos proprietários de terras, dos comerciantes e dos artesãos – 
que garantem a sobrevivência material da cidade; a classe militar, responsável pela defesa da 
cidade; e, por fim, os magistrados, os sábios que estão prontos para governar a polis. Portanto, 
só poderá governar aquele que desenvolver a razão. Os que desenvolvem as outras almas 
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não estão qualificados para o governo.
Para Platão, o governo bom é a sofocracia: o governo do homem sábio, o rei filósofo. 
Para Aristóteles, em primeiro lugar é preciso conceituar a ideia de justiça. O que é a justiça? 
Para ele, antes de tudo, é preciso distinguir dois tipos de bens: os partilháveis e os participáveis.
Um bem é partilhável quando é uma quantidade que pode ser dividida e dis-
tribuída – a riqueza é um bem partilhável quando é uma quantidade que pode 
ser dividida e distribuída. Um bem é participável quando é uma qualidade 
indivisível, que não pode ser repartida nem distribuída, podendo apenas ser 
participada – o poder público é um bem participável. (CHAUÍ, 2002, p. 382).
Logo, para o filósofo há dois tipos de justiça: a distributiva e a participativa, e a cidade 
justa saberá fazer a distinção e realizar as duas. Como pode ser isso? O próprio Aristóteles 
explica dessa forma, mas não com essas palavras: a distributiva pode ser efetivada, por exemplo, 
se a cidade passar por uma situação de emergência, como uma enchente, um terremoto, 
um desabamento, e que adquire alimentos, roupas e remédios para ser distribuídos a todos. 
Para ser justa, a cidade não pode distribuir essas doações de modo igual para todos. Para 
ser justa, a cidade deve doar aos pobres e vendê-las aos ricos para conseguir dinheiro para 
comprar novos alimentos, roupas, remédios etc. Se doar ou vender para todos, a cidade será 
injusta. Será injusta, também, se doar em quantidades iguais para todos, porque há famílias 
mais numerosas que outras. A justiça participativa se define pelo respeito ao modo pelo qual 
a cidade definiu a sua participação no poder.
Aristóteles também considera que a ética não se desvincula da política. Aliás, não só ele, mas 
todo o pensamento grego antigo vincula ética e política. Vejamos um trecho da Ética a Nicômaco:
Se, em nossas ações, há algum fim, desejamos por ele mesmo e os outros são 
desejados só por causa dele, e se não escolhemos indefinidamente alguma 
coisa em vista de uma outra (pois, nesse caso, iríamos ao infinito e nosso de-
sejo seria fútil e vão), é evidente que tal fim só pode ser o bem, o Sumo Bem 
e dizer de qual saber ele provém. [...] o fim da política é o bem propriamente 
humano. (ARISTÓTELES, 1985, p. 29). 
Portanto, o exercício ético se faz no exercício político, porque o bem do indivíduo 
depende do bem supremo da polis.
4 POLÍTICA E ÉTICA
Queremos aqui tratar da coisa pública que, sabemos, deve primar pela ética. Vamos 
tratar de situações que vivenciamos, presenciamos no nosso dia a dia, às vezes muito próximas, 
às vezes que nos atingem direta ou indiretamente. Vamos lá.
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A ética se preocupa com a felicidade individual do homem e a 
doutrina moral individual.
A política se preocupa com a felicidade coletiva da cidade (polis) e 
a doutrinamoral e social.
Portanto, é a soma dessa felicidade individual e coletiva que nos interessa e que 
podemos chamar de bem comum, assim como aponta Aristóteles (1985, p. 12):
Vemos que toda cidade é uma espécie de comunidade, e toda comunidade 
se forma com vistas a algum bem, pois todas as ações de todos os homens 
são praticadas com vistas ao que lhes parece um bem; se todas as comuni-
dades visam a algum bem, é evidente que a mais importante de todas elas, 
e que inclui todas as outras, tem mais que todas. Este objetivo visa ao mais 
importante de todos os bens; ela se chama cidade e é a comunidade política.
Hoje, quando se fala em política, logo vem à mente a ideia do Estado, dos políticos, das 
questões eleitorais, partidos políticos etc. De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa 
(FERREIRA, 2001, p. 579), verificam-se cinco explicações para a palavra política:
1 Conjunto de fenômenos e das práticas relativos ao Estado ou a uma socie-
dade.
2 Arte e ciência de bem governar, de cuidar dos negócios públicos.
3 Qualquer modalidade de exercício de política.
4 Habilidade no trato das relações humanas.
5 Modo acertado de conduzir uma negociação, estratégia.
Então, do ponto de vista dos sinônimos apresentados, a política abrange uma gama 
enorme de competências, mas se preferirmos o modo simplório de Aristóteles, que é cuidar de 
todos, cuidar do bem comum, parece resumir a verdadeira preocupação das reflexões éticas.
Veja, caro(a) acadêmico(a), que temos também aqueles que, com plena convicção, 
afirmam não se envolver com política, porque justamente “a política não preza pela ética, 
pela moral.” É preciso diferenciar política de política partidária ou até mesmo de “politicagem”. 
Resumindo, não há porque alienar-se, visto que toda relação humana, seja de qual tipo for, aí 
está a política. Até no trabalho exercemos a política, seja por convivência, seja por exigência 
de direitos, execução de deveres. Trabalho, ética e política também caminham juntos. Então, 
por que ou para que alienar-se?
De acordo com Aristóteles (1989, p. 30), “a política é um desdobramento natural da 
ética”. A ética preocupa-se com a felicidade do homem, que é a doutrina moral individual. 
Enquanto que a política se preocupa com a felicidade da cidade, que é a doutrina moral social.
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FIGURA 35 – ÉTICA
FONTE: Disponível em: <http://uziel-carneiro.blogspot.com.
br/2010/06/politicagem-o-cancer-do-estado.html>. 
Acesso em: 27 maio 2013.
Compreendemos que é por meio do trabalho que se forma a consciência moral dos 
homens, denotando a sua sobrevivência social. Porém, como esta atividade laboral pode ser 
considerada uma alienação de sua própria constituição moral?
Podemos considerar que a alienação proporciona uma diminuição da capacidade do agir 
consciente dos seres humanos, ou seja, os homens, muitas vezes, não conseguem assimilar o 
seu próprio comportamento e suas atitudes perante sua própria produção e reprodução social, 
no qual acabam bloqueando sua autonomia de agir.
No que tange à alienação social, podemos citar que muitas vezes os seres humanos não 
se dão conta de que são eles que produzem as riquezas de sua sociedade, por meio de suas 
atividades laborativas. Diante disto, apresentam duas posturas, tais como: veem este processo 
de produção de riquezas como uma ação natural e espontânea ou rejeitam esta situação, 
verificando que nós possuímos muito mais capacidades de julgamento, do que simplesmente 
acatar tudo o que vem dos donos do capital (os patrões).
FIGURA 36 – A ALIENAÇÃO DO TRABALHO
FONTE: Disponível em: <http://profwladimir.blogspot.com.br/2012/04/charge-sobre-
alienacao-do-trabalho-e.html>. Acesso em: 27 maio 2013.
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Nos dois casos, de acordo com Brites e Sales (2000, p. 69), “a sociedade é o outro (alienus), 
algo externo a nós, separado de nós, diferente de nós e com poder total ou nenhum poder sobre nós”.
Heller (apud BRITES; SALES, 2000, p. 69) expõe seu pensamento da seguinte forma:
quanto maior é a importância da moralidade, do compromisso pessoal, da 
individualidade e do risco (que vão sempre juntos) na decisão acerca de uma 
alternativa dada, tanto mais facilmente essa decisão se eleva acima da coti-
dianidade e tanto menos se pode falar de uma decisão cotidiana.
Então, pode-se observar que não existe um divisor entre o comportamento cotidiano e do 
não cotidiano, pois o desenvolvimento da práxis profissional está interligado com a convivência do 
dia a dia do grupo social em que estamos inseridos, ou seja, o trabalho profissional do assistente 
social se dá sobre as questões sociais advindas deste convívio em sociedade. Contudo, não 
podemos confundir que a prática profissional seja também as atividades cotidianas que realizamos, 
pois estas se transformam na práxis profissional só quando nós tomamos consciência deste fato.
Nesta perspectiva, a questão a que somos chamados individualmente e socialmente a 
responder apresenta-se da seguinte forma: quais são as condições de possibilidade de a ética 
contribuir na materialização de uma forma de ser e estar no mundo que nos permita um mínimo 
de realização e alcance da felicidade pessoal e social? Ou dito de outra forma: há possibilidade 
de um universalismo ético, ou estamos condenados ao relativismo ético?
É ao tentar responder a estas questões que nos damos conta da multiplicidade de 
discursos em torno da ética, revelando a extensão da crise que vivenciamos na atualidade. 
Ou seja, de que a especificidade de nossa condição humana contemporânea apresenta-
se no fato de termos que reconhecer o caráter ambivalente, paradoxal de nossos esforços 
cosmológicos, de conferir ordem e sentido à existência. De que nossas arquiteturas societárias 
são transitórias e de que é muito tênue a linha que separa a civilização da barbárie, a democracia 
do totalitarismo, a justa medida dos excessos. A extensão da crise revela-se também no fato 
de não termos mais garantias transcendentes – Deus? O Estado? O Partido? A Família? – 
que amparem nossas decisões, caso elas não apresentem os resultados desejados. Desliza 
na liquidez contemporânea qualquer garantia de durabilidade e veracidade nas relações que 
se estabelecem, impedindo-nos de ter certezas, ou garantias de que a decisão tomada, ou o 
caminho escolhido, sejam os melhores.
Nesta perspectiva, colocar-se diante da multiplicidade de discursos em torno da ética 
é condição necessária para que possamos nos questionar enquanto indivíduos se nossas 
estratégias existenciais são realmente definidas por nós: "se sou aquilo que sou", ou, "sou 
aquilo que os outros querem que eu seja". E por extensão, na medida em que nos constituímos 
na tensão entre indivíduo e sociedade, questionando as estratégias societárias das quais 
participamos e sua obsessão pelo espetáculo, pelo desejo de ser controlado, pela busca 
desenfreada por segurança, mesmo que isto represente um claro limite à liberdade.
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Portanto, a ética nos impulsiona ao exercício do pensamento, "à prática refletida da 
liberdade", na proposta de Michel Foucault (1979), ou dito de outra forma, a um resgate de 
nossa dimensão ontológica e política, num contexto marcado pela hegemonia da economia e 
da técnica.
4.1 DILEMAS ÉTICOS
Os dilemas éticos podem ser considerados numa situação, por exemplo, em que o 
gestor público só pode privilegiar uma ação dentre várias. No exemplo dado sobre a vacina 
contra a Influenza A, pode-se supor que não haveria condições do governo conceder a toda a 
população a vacina gratuitamente. Então, qual segmento escolher?
Não se pretende aprofundar no méritoaqui, mas sim buscar o exemplo como situação 
hipotética. Se não havia condições de distribuir a vacina para toda a população, passa então a 
existir um dilema ético. Determinar os segmentos que receberão a dose torna-se, então, uma 
decisão motivada pelas maiores necessidades, e o critério final foi distribuir vacina às faixas 
etárias com maior fragilidade à doença (crianças e terceira idade), um grupo com acesso direto 
à iminência da doença (profissionais da saúde) e também a um grupo com grande risco da 
doença provocar complicações de saúde (grávidas e pessoas com doenças crônicas).
 A capacidade de destruição do mundo é outro dilema, quando vemos o avanço 
tecnológico desvirtuado para o controle de uma nação sobre a outra, de um povo sobre o outro, 
de um grupo econômico ou político sobre o outro. 
FIGURA 37 – BOMBA ATÔMICA
FONTE: Disponível em: <http://www.aldeaeducativa.com/IMAGES/BOMBA%20
ATOMICA.JPG>. Acesso em: 8 jan. 2012.
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A bomba atômica foi talvez uma das mais assustadoras criações humanas na 
contemporaneidade. O século XX foi o século da finitude: quando o homem moderno e 
contemporâneo começa a se perguntar sobre os efeitos daquilo que a ciência e o seu uso fizeram 
e fazem sobre a realidade. Todo o otimismo na ciência e a confiança no progresso se tornaram 
desconfiança na contemporaneidade. A crise ética e a urgência do debate ético se fazem cada 
vez mais necessários diante do complexo cenário em que vivemos nesse início de século.
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Relembre, acadêmico(a), a seca no Nordeste, quando há 
transposição de rios, dinheiro público, desviado. As enchentes e 
ocupações de encostas, com seus deslizamentos premeditados.
4.2 ASPECTOS DA CONSCIÊNCIA ÉTICA E DA LEI
Já foi abordada a consciência como algo do ser humano individualmente. De acordo com 
Camargo (1999, p. 86), “a consciência é a resposta da pessoa para si mesma”. O autor ainda 
diferencia consciência da lei, assim completando: “enquanto a lei é a resposta da sociedade 
para pessoa”.
Contudo, nem sempre a consciência concorda com a lei. Muitas vezes, as pessoas 
gostariam que as leis fossem diferentes, ou porque são licenciadas de alguma coisa, ou, muitas 
vezes, porque discorrem por pura crença, haja vista as manifestações religiosas em muitas 
das decisões governamentais, entre outros exemplos.
FIGURA 38 – GREVE
FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-zFIgxavfimI/Tx4TkFvByLI/
AAAAAAAADLg/SR6dmKdECxo/s1600/greve-onibus.jpg>. Acesso em: 23 
jan. 2012.
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Dessa forma, os conflitos entre consciência e lei podem surgir, como alguns exemplos 
apresentados na obra de Camargo (1999):
● Greves: existem duas situações: 1) se a greve for da sua categoria, você se encontrará no 
dilema de querer ou não participar, muito embora, nem sempre a situação lhe dará escolha; 
2) se a greve não for da sua categoria, você poderá ser afetado diretamente e assim ser 
licenciado de um serviço, mesmo que você não concorde com a motivação do movimento, 
como na greve dos trabalhadores de transporte público.
● Segurança nacional: impedem a liberdade de associação e toda população pode sentir-se 
privada do seu direito de ir e vir livremente sem sentir-se vigiada.
● Taxas e impostos: arrecadação proposta para melhoria do bem comum, embora, por vezes, 
pode qualquer cidadão colocar em dúvida se essa aplicação é feita adequadamente.
Esses conflitos apresentados por Camargo (1999) representam situações que podem 
levar à desordem da sociedade, uma vez que ela pode perder a credibilidade no Estado e nas 
leis.
Entretanto, para cada tomada de decisão, seja em aderir à greve ou licenciar-se do 
direito de ir e vir por uma causa maior ou contestar a aplicação dos recursos financeiros do 
Estado, toda manifestação e movimentação deve ter a consciência ética como condutora ou 
refreadora da ação escolhida.
4.3 ÉTICA COMO INSTRUMENTO POLÍTICO 
 DE GESTÃO E LIDERANÇA
No livro de Robert Henry Srour (2011, p. 29), capítulo 3, o autor coloca uma grande 
questão como epígrafe para início de conversa: “Por que se importar com a ética”?
Como bem abordado pelo autor, muitos podem pensar que ética não tem nada a ver! 
Vejamos o que Srour (2011, p. 29) coloca:
Ética! Nada a ver! Ninguém ‘se comporta direito’ com impostos insanos, 
bandalheira na máquina pública, lerdeza da Justiça, desperdício de recursos, 
obras superfaturadas, infraestrutura em petição de miséria, descalabro da 
educação pública, subsídios obscenos ao grande capital, esperteza em todas 
as transações, precariedade dos serviços públicos, incúria das autoridades, 
sanhas fiscais que achacam... Quer mais?
Parece bastante! Mas diante de tanta negatividade, deve-se desistir de todos os 
preceitos morais e éticos? Parece que não, e é a isso que cada vez mais as organizações têm 
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demonstrado que ética pode ser um instrumento de gestão.
Muitos têm sido os exemplos em empresas privadas em que seus clientes perdem a 
fidelidade quando se deparam com ações antiéticas.
A liderança é a influência exercida para modificar o comportamento dos indivíduos. A 
influência que esses indivíduos recebem vai além da concordância mecânica de instruções 
rotineiras, ou melhor, é através de uma boa liderança que bons valores podem ser propagados 
e o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e equitativa pode ser garantido.
Comunicando visão dos fatos, esclarecendo propósitos, tornando o comporta-
mento compatível com as crenças e alinhando procedimentos com princípios, 
funções e objetivos. As pessoas poderão, então, alcançar um elevado sentido 
de compromisso com os objetivos da organização. (COVEY, 1994, p. 47).
E assim como cita Covey (1994), gestão e liderança podem criar uma nova fórmula para 
que as suas ações sejam voltadas ao bem coletivo, e não somente aos interesses particulares 
dos indivíduos e/ou de interesse direto e tão somente da organização.
FIGURA 39 – LIDERANÇA
FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_mt1Wcocj5iY/TBgSsAJq2KI/AAAAAAAAAR8/
soWWYCi1G0M/s1600/ChargeLideranca1.jpg>. Acesso em: 20 fev. 2012.
Chiavenato (2003) apresenta três tipos diferentes de liderança:
QUADRO 6 – MODELOS DE LIDERANÇA
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FONTE: Chiavenato (2003, p. 213)
No nosso dia a dia, em várias organizações que frequentamos, podemos observar os 
diferentes tipos de liderança.
O quadro anterior apresenta os modelos de liderança em relação ao trabalho, mas se 
pararmos para pensar, na escola onde estudamos, numa equipe desportiva, nas organizações 
religiosas, podemos observar que já passamos por diferentes tipos de liderança, cabendo aqui 
destacar três (CHIAVENATO, 2003):
•	 Na liderança autocrática, o líder é pessoa dominadora, que determina as tarefas e não 
permite o diálogo, é uma pessoa dominadora.
•	 Na liderança liberal, a sua participação é limitada e os trabalhadores têm grande liberdade 
de participação nas tomadas de decisões.
•	 Na liderança democrática, o grau de participação do grupo em conjunto é bem maior que 
nos outros exemplos, o que configura o comprometimento de todos em relação ao trabalho 
e às tomadas de decisões.
5 A PRÁTICA MORAL EM NOSSA SOCIEDADE
A variedade de relações do ser humano diante da sociedade é imensa, ou seja, o ser 
humano se relaciona com a família, no trabalho, na igreja, no clube, com seus amigos, e para 
cada relação existem as práticas morais estabelecidas em cada um desses grupos sociais. 
Assim como destaca Vázquez (2003, p. 88):UNIDADE 2 TÓPICO 2 133
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Todas estas diversas formas de comportamento – tanto com o mundo exterior 
quanto entre os próprios homens – supõem um mesmo sujeito: o homem real, 
que diversifica assim o seu comportamento de acordo com o objeto com o 
qual entra em contato (a natureza, as obras de arte, Deus, os outros homens 
etc.) e de acordo também com o tipo de necessidade humana que procura 
satisfazer (produzir, conhecer, expressar-se e comunicar-se, transformar ou 
manter uma ordem social determinada etc.).
Vejamos dois exemplos de práticas brasileiras em relação à conduta moral, apresentadas 
no livro de Srour (2011, p. 107):
Em junho de 2005, a direção da Schincariol, segunda maior cervejaria brasileira, foi 
presa e autuada por sonegação fiscal, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, corrupção de 
funcionários públicos e formação de quadrilha. Foram expedidos 77 mandados de prisão.
Os principais indícios encontrados pela Polícia Federal foram: empresas de fachada 
que emitiam notas fiscais frias; pagamentos de propinas para fiscais da Receita Federal; 
emissão de notas fiscais com ICMS menor do que o real; uso da mesma nota fiscal mais de 
uma vez; vendas subfaturadas ou sem emissão da respectiva nota fiscal; exportações fictícias 
e importações com declarações falsas de conteúdo.
O que podemos observar nesse caso? Que tudo o que a empresa fez está completamente 
errado e que as suas ações estão no universo do particularismo. Contudo, Srour (2011, p. 106-
107) aprofunda um pouco mais no que ele chama de “moral da parcialidade”, ou seja, “existem 
pessoas e organizações que pensam que existem erros na sociedade, tais como impostos muito 
caros e que se acham no direito de transgredir a lei por não concordarem com as normas”.
Sobre a moral da parcialidade, Srour (2011, p. 107) discorre sobre algumas “práticas 
justificadas” de atitudes antiéticas e imorais, entre várias se destacam:
● adota normas mistas de condutas ao exigir estrita lealdade dos que fazem parte da empresa 
(“os de dentro”), ao mesmo tempo em que advoga a malícia nas relações com os demais 
(“os de fora”);
● parte do pressuposto de que um pouco de desonestidade faz as coisas acontecerem;
● confere à venalidade o estatuto de “lubrificante do mundo dos negócios”, à semelhança da 
famosa fórmula populista “rouba, mas faz” que, implicitamente, absolve o político salafrário 
enquanto generaliza a falta de caráter das autoridades.
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FIGURA 40 – CARAMINHOLAS
FONTE: Disponível em: <http://kdimagens.com/imagem/ele-rouba-mas-faz-845>. Acesso em: 27 
maio 2013.
O segundo exemplo apresentado por Srour (2011, p. 116), também de uma empresa 
privada brasileira, já adota um sistema de parceria com a sociedade, a fim de ver seu negócio 
crescer dentro dos parâmetros éticos e morais.
Em 2000, a Natura, fabricante de cosméticos, tinha 60 atendentes em sua central de 
atendimento ao cliente e gastava R$ 8 milhões por ano com o serviço. Recebia uma média 
mensal de 100 mil ligações.
Em agosto desse mesmo ano, um cliente ligou dizendo que o desodorante que usara 
havia manchado a sua camisa. O que fez o atendente? Perguntou na hora o preço da roupa 
– uns 70 reais – e se prontificou a enviar um cheque ao cliente com o valor correspondente. A 
camisa manchada foi recolhida e encaminhada imediatamente ao departamento de pesquisa 
da Natura. Em uma semana, descobriu-se o componente do desodorante responsável pela 
mancha. Em consequência, a fórmula do produto foi alterada!
Srour (2011, p. 116) aponta como moral da história: “O serviço de atendimento não se 
restringiu a agradar o consumidor: foi capaz de acionar mudanças nos produtos e nos processos 
da empresa, dando corpo a uma relação de parceria”.
Isso que o autor chama de parceria é o que se espera da sociedade, é a moral da boa 
convivência e de práticas éticas. Com certeza, algumas pessoas, ao saberem dessa história, 
podem pensar: também vou ligar e dizer que minha camisa estragou e ganhar dinheiro! Isso 
é má-fé, são atitudes imorais, isso é um universo particularista. Além de faltar com a verdade, 
não contribui em nada para o crescimento da sociedade.
É assim que se dão as práticas morais, conforme as necessidades humanas. E essas 
novas necessidades humanas vão transformando o ser humano, as suas relações e, também, 
as práticas morais. Alguns dizem que a ética e a moral são a encruzilhada entre o bem e o mal. 
Se você optar pelo bem, trilhará o caminho da ética e da moral, caso contrário, não existe meia 
ética e ‘moral da parcialidade’. Você pode afirmar que tem necessidades de autorrealização, 
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de segurança de afetividade, enfim, que elas legitimam um comportamento e que afetam os 
outros. Vejamos a hierarquia explanada pela ‘pirâmide’ de Maslow para melhor entender essa 
realidade.
FIGURA 41 – HIERARQUIA DE NECESSIDADES EM MASLOW
AUTORREALIZAÇÃO
AUTOESTIMA
AFETIVO-SOCIAL
SEGURANÇA
FISIOLÓGICAS
FONTE: Disponível em: <http://www.conexaorh.com.br/images/piramide.gif>. Acesso 
em: 25 fev. 2012.
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Fatos sociais – são ações neutras. Fatos morais – são ações 
positivas ou negativas. 
O que o autor chama de fato social é qualquer ação neutra, por exemplo, cumprir com 
as minhas obrigações no trabalho. Fato moral já implica uma atitude positiva ou negativa, ser 
conivente ou agente de práticas ilícitas no trabalho (negativa), denunciar práticas negativas 
no trabalho (positiva). Então:
● Fatos sociais - são aqueles que não afetam os outros, nem para o bem e nem para o mal, 
portanto, são eticamente neutros.
● Fatos morais - podem ter efeito positivo, numa visão universalista (causam benefícios aos 
outros) ou particularista (não causam benefícios aos outros).
Nesse sentido, muitas vezes, principalmente na administração pública, não se pode 
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LEITURA COMPLEMENTAR
FILOSOFIA POLÍTICA
Filipe Rangel Celeti
Entre as diversas questões que a filosofia visa investigar, pode-se perguntar sobre 
como é e como deveria ser o convívio em sociedade. Se for investigada a palavra política, 
que vem do grego, será compreendido que política se refere aos assuntos da cidade (polis). É 
neste sentido que, em filosofia política, pergunta-se sobre a natureza das leis, a natureza do 
governo, a origem da organização social e sobre qual seria a melhor forma de convívio entre 
os indivíduos. Todos estes temas nos levam a pensar sobre o espaço público, que é o espaço 
da política.
 
O primeiro filósofo a sistematizar uma ideia política foi Platão (428-427-348-7 a.C.). 
Ele escreveu sobre o assunto principalmente em dois livros, A república e As leis. Nestes 
livros, apresenta a ideia de que uma sociedade bem ordenada é aquela onde cada indivíduo 
desempenha a função na qual é mais habilidoso. Os hábeis com as mãos deveriam ser artesãos, 
os fortes devem proteger a cidade e os sábios devem governá-la. Platão pensa também sobre 
como deve ser a educação nesta cidade ideal, para conseguir desenvolver em cada criança o 
seu potencial a fim de que possa executar melhor a sua função. Cada indivíduo, para ele, será 
livre enquanto estiver cumprindo as leis, criadas com o intuito de melhor conduzir a cidade. 
Ainda no mundo grego, Aristóteles (384-322 a.C.) vai discordar de Platão. Em Política, 
Aristóteles pensa que a cidade ideal de Platão, onde há prioridade daquilo que é público sobre 
aquilo que é privado, não funcionaria muito bem. Para ele, as pessoas dão mais valor ao que 
pertence a si mesmo, do que ao quepertence a todos. Aristóteles se preocupou menos com 
hipóteses de uma sociedade perfeita e mais em compreender a realidade política de seu tempo, 
estudando as leis de diferentes cidades e as formas de governo existentes. A melhor forma 
de organização política, defendida por ele, é um sistema misto de democracia e aristocracia, 
chamado política, para evitar os conflitos de interesses entre os ricos e pobres. É dele também 
a ideia de que o homem é um animal político, isto é, que faz parte da natureza humana se 
organizar politicamente.
 
A ideia de que é natural se organizar politicamente perdurou até o séc. XVII. Thomas 
Hobbes (1588-1679), conhecido por ter escrito Leviatã, propôs a ideia de que a sociedade se 
organiza a partir de um contrato social. Pensou assim, pois é possível imaginar uma hipótese 
sobre o convívio humano antes da formação das sociedades. Hobbes via esse momento como 
efetuar somente fatos sociais, muito pelo contrário, é preciso que os fatos morais universalistas 
e positivos se tornem recorrentes para que se evitem práticas irregulares ou ilícitas, do próprio 
cidadão e, por conseguinte, da sociedade.
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uma guerra de todos contra todos, onde, em liberdade, cada indivíduo iria apenas pensar em 
sua conservação. Deste momento, no qual o homem é o lobo do homem, a racionalidade faz 
o homem perceber que a melhor forma de conservar a sua vida é perdendo um pouco de 
liberdade. É neste instante que os homens assinam um contrato fictício de convívio social. A 
partir desta origem da sociedade, Hobbes pensa no melhor governo para evitar o retorno para 
um estado de natureza caótico. Com isto, vê a garantia da vida como função vital do Estado, 
que deve defendê-la mesmo que use de seu poder para coagir a liberdade dos cidadãos. 
Pensando na ideia de um contrato social, John Locke (1632-1704), em seus dois 
tratados políticos, escreveu que antes da formação das sociedades os indivíduos não viviam 
em guerra, pois estavam debaixo de leis naturais. Para ele, é natural a garantia da vida e os 
homens racionais respeitariam esta lei. A formação das sociedades ocorre pela necessidade 
da garantia da propriedade. O melhor governo, para Locke, é aquele que garanta os direitos à 
vida, liberdade, propriedade e de se revoltar contra governos injustos e leis injustas. 
Ainda pensando sobre a noção de contrato, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) via 
o homem vivendo antes da formação das sociedades de forma bem otimista. Para Rousseau, 
havia terra e alimento para todos e não haveria motivos para que guerreassem entre si. Via no 
surgimento da propriedade o surgimento da desigualdade, de onde resultam diversos males 
sociais, como os roubos e os assassinatos. Neste sentido, sendo impossível retornar a um 
estado de natureza, o melhor governo é aquele que esteja de acordo com a vontade da maioria.
 
A forma de pensar dos contratualistas (Hobbes, Locke e Rousseau) foi retomada no 
século XX por John Rawls (1921-2002). Para ele, a sociedade deve basear-se em princípios 
de justiça escolhidos na fundação da sociedade. Em igualdade, ele pensa, os indivíduos 
escolheriam dois princípios de justiça, o de liberdades iguais para todos e o de que as 
desigualdades devem trazer maior benefício para os menos favorecidos e serem acessíveis a 
todos por igualdade de oportunidade.
FONTE: Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com.br/filosofia/filosofia-politica.htm>. Acesso 
em: 27 maio 2013.
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RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico vimos:
•	 A importância da política em todos os segmentos da vida, seja na família, na escola, na 
sociedade, e ela afeta a todos.
•	 A filosofia contribui para o entendimento da política e também da ética na política.
•	 Os dilemas éticos não devem ser empecilhos para o avanço daqueles aspectos que tornam 
melhores o ser humano e a sociedade.
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1 Comente sobre a liderança autocrática, a liderança liberal e a liderança democrática.
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A POLÍTICA E O BRASIL
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 3
Se fizermos um rápido exercício de memória no sentido de identificar algumas das 
palavras mais faladas cotidianamente, sem sombra de dúvidas, nós encontraremos entre elas 
a “Ética”.
Diariamente, ao conversar com as pessoas, ao ligar a TV, o rádio, ao participar de uma 
reunião, no ambiente de trabalho, em casa, na caminhada, você está sujeito a ouvir alguém 
falar de ética, ou clamar por ética diante de um fato, de uma situação. Assim, proliferam os 
discursos em torno da falta de ética no trabalho, nas relações entre seres humanos, na política 
e nas mais variadas situações de nossa vida. A ética apresenta-se em nosso cotidiano como 
condição última de denúncia, ou mesmo como resolução de nossos problemas.
Porém, dificilmente ouvimos alguém se referir à falta de ética na economia. Talvez 
isto se deva em função de vivermos num mundo onde a hegemonia da economia faz com 
que suspendamos nossa “capacidade ética”. Assim “admiramos” aqueles que se dão bem 
financeiramente na vida, toleramos, em alguns casos, até mesmo os métodos escusos que, 
às vezes, são utilizados para alcançar tal fim. Afinal, vale a “Lei de Gérson: Temos que levar 
vantagem em tudo”.
Esta polifonia de discursos em torno da ética que presenciamos na sociedade 
contemporânea revela, acima de tudo, que algo não vai bem, algo nos desacomoda, nos 
inquieta, não condiz com aquilo que julgamos ser adequado no plano de nossas existências.
Entre elas o fato de que necessariamente não é por falar excessivamente de ética que 
nos tornamos mais éticos. E ética, política, são temas recorrentes no Brasil, quando vários temas 
importantes estão sendo tratados na esfera do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, com 
respingos em toda a sociedade. Vamos entender um pouco a política no nosso país, utilizando 
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como ponto de partida principal a presença da família real no Brasil, até chegar à vigência 
da democracia como sistema apto e maduro para reger a nação a partir da vontade popular.
2 FAMÍLIA REAL NO BRASIL
Sabemos que fomos “descobertos” no ano de 1500 (início do século XVI) por Pedro 
Álvares Cabral, portanto, somos herdeiros de uma cultura portuguesa, de uma mentalidade 
europeia exploradora. Os portugueses não nos colonizaram, mas nos exploraram. Essa é a 
grande diferença entre os modelos de colonizações implantados, por exemplo, nos Estados 
Unidos e o nosso e de outros países da América, em especial os países da América Latina.
Mas, verdade seja dita: Pedro Álvares Cabral atracou na costa brasileira, se deslumbrou 
com as belezas naturais e pensou ter chegado ao paraíso registrado na Bíblia; em seguida, 
solicitou a Pero Vaz de Caminha que enviasse ao Rei a carta de confirmação da “descoberta” 
para “registrar” o território em nome de Portugal.
Vejam só: no início do século XVI está acontecendo uma grande mudança epistemológica, 
econômica e social. O mundo ocidental europeu está vivenciando grandes mudanças, mas aqui 
no Brasil ainda moram os nativos e alguns poucos estrangeiros que vieram para ficar e, assim, 
aquelas mudanças e “luzes” demoraram muito para chegar até nós. Enquanto as máquinas 
estavam a todo vapor na Europa dos séculos XVII e XVIII, por aqui ainda se “caçavam bruxas” 
pela mentalidade portuguesa e espanhola ainda tuteladapela religião.
Demorou 308 anos para a família real se mudar para cá. Mas não foi por gosto nem 
opção. Eles vieram fugidos na “calada da noite”. De que ou de quem fugiam? Fugiram de medo 
de Napoleão Bonaparte, que rumava com seu exército para depor a família real e subtrair-lhe o 
trono e o reino. Saíram tão às pressas que esqueceram uma criada no porto. Quem os ajudou 
financeiramente na fuga? A Inglaterra. Portanto, nossa dívida externa já data daquela época.
Muitas coisas aconteceram aqui. D. João VI, que ainda não era o rei, fundou o Banco do 
Brasil e começou a implantar uma política econômica e um modelo social burguês. Conforme 
nos ensina Olivien:
Em 1808, a família real portuguesa, fugindo do cerco napoleônico, transferiu-
se para o Brasil que, de colônia, tornou-se sede da monarquia e vice-reino. 
Os treze anos durante os quais a corte permaneceu no Rio de Janeiro tiveram 
grande importância política e econômica e foram seguidos pela declaração 
de independência do Brasil, em 1822. A abertura dos portos brasileiros ao 
comércio exterior acarretou um fluxo de comerciantes e viajantes estrangeiros 
para o país (OLIVEN, 2001, p. 3).
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Mas foi a partir da Independência, em 1822, que o Brasil foi adquirindo corpo político, 
porém com projeto europeu e sem uma identidade definida. O Brasil foi constituído, politicamente, 
a partir de um ecletismo. Não obstante, o Positivismo influenciou o modelo político assumido 
pela primeira república e, é claro, a própria democracia que já vai se vislumbrando.
3 A DEMOCRACIA
Damos um pulo na história e chegamos aos anos 90, do século XX. Estes anos 
se configuraram a partir do modelo político fundamentado no chamado Estado de Direito 
Democrático. A instalação desse modelo não teve visibilidade real para a “massa”, ou seja, 
ele foi sentido, mas não foi compreendido pelo povo. O povo ficou de fora da discussão que 
envolveu o processo de mudança.
E isso não foi nada democrático por parte dos ideólogos, legisladores e executores do 
modelo político que hoje norteia todas as ações do Estado e do cidadão.
O Estado de Direito Democrático instalou-se não apenas no Brasil, mas na América do 
Sul, com exceção para o Peru e o Paraguai. Segundo Vieira, esse modelo se delineia a partir 
do modelo democrático liberal e os países que o adoram são pouco ou nada democráticos, no 
significado real da palavra DEMOCRACIA (governo do povo).
Além do significado etimológico da palavra democracia, é preciso também destacar 
alguns princípios, algumas práticas para poder evidenciar e distinguir o governo democrático 
de outras formas de governo.
Vejamos.
Democracia é o governo no qual o poder e a responsabilidade cívica são exercidos 
por todos os cidadãos, diretamente ou através dos seus representantes livremente eleitos.
Democracia é um conjunto de princípios e práticas que protegem a liberdade humana; 
é a institucionalização da liberdade.
A democracia baseia-se nos princípios do governo da maioria associados aos direitos 
individuais e das minorias. Todas as democracias, embora respeitem a vontade da maioria, 
protegem escrupulosamente os direitos fundamentais dos indivíduos e das minorias.
As democracias protegem de governos centrais muito poderosos e fazem a 
descentralização do governo a nível regional e local, entendendo que o governo local deve 
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ser tão acessível e receptivo às pessoas quanto possível.
As democracias entendem que uma das suas principais funções é proteger direitos 
humanos fundamentais, como a liberdade de expressão e de religião; o direito a proteção 
legal igual; e a oportunidade de organizar e participar plenamente na vida política, econômica 
e cultural da sociedade.
As democracias conduzem regularmente eleições livres e justas, abertas a todos 
os cidadãos. As eleições numa democracia não podem ser fachadas atrás das quais se 
escondem ditadores ou um partido único, mas verdadeiras competições pelo apoio do povo.
A democracia sujeita os governos ao Estado de Direito e assegura que todos os 
cidadãos recebam a mesma proteção legal e que os seus direitos sejam protegidos pelo 
sistema judiciário.
As democracias são diversificadas, refletindo a vida política, social e cultural de cada 
país. As democracias baseiam-se em princípios fundamentais e não em práticas uniformes.
Os cidadãos numa democracia não têm apenas direitos, têm o dever de participar 
no sistema político que, por seu lado, protege os seus direitos e as suas liberdades.
As sociedades democráticas estão empenhadas nos valores da tolerância, da 
cooperação e do compromisso. As democracias reconhecem que chegar a um consenso 
requer compromisso e que isto nem sempre é realizável. Nas palavras de Mahatma Gandhi, 
“a intolerância é em si uma forma de violência e um obstáculo ao desenvolvimento do 
verdadeiro espírito democrático”. 
FONTE: Disponível em: <http://www.embaixada-americana.org.br/democracia/what.htm>. Acesso em: 
27 maio 2013.
É preciso compreender o sentido da palavra políticas (social, econômica, fiscal, tributária, 
previdenciária, educacional etc.). Segundo Vieira (2001), as políticas são estratégias do governo 
para intervir nas relações de produção ou dos serviços sociais. Mas o mesmo autor ainda nos 
chama a atenção, de forma pertinente, para a não distinção entre políticas sociais e políticas 
econômicas. Uma sempre está vinculada à outra, porque: 
[...] nós podemos dizer que a política social se relaciona com a educação 
pública, com a saúde pública, com a habitação pública, com a previdência 
social, com a assistência social, com o lazer, com as condições de trabalho, 
mas evidentemente as questões relacionadas com financiamento têm dire-
tamente vínculo com a política social, embora esteja no campo da política 
econômica. Elas se colocam em uma totalidade e a destinação visa apenas 
esclarecimentos. (VIEIRA, 2001, p. 18).
Nesse caso, é preciso destacar a distinção existente entre governo e Estado. O governo 
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constitui a direção do Estado e não no Estado no todo. A governabilidade do Estado depende 
das estratégias governamentais adotadas pelas políticas, e estas serão estáveis ou instáveis 
dependendo do grau de hegemonia garantida pelo modelo político/econômico. Afirmando que 
no Brasil não existe política social, Vieira denuncia: considerar que a democracia nada mais 
é do que um sistema de governo, no qual o povo governa para sua própria sociedade. Este 
sistema de governo democrático possui formatos diferentes nas diversas sociedades, pois em 
cada uma existem regras e normas diferentes, e isto acontece por causa da constituição dos 
princípios ético-morais de cada localidade.
Então, podemos dizer que num governo democrático, o povo determina suas relações 
de poder sobre os demais integrantes, mas, mesmo assim, podemos distinguir a democracia 
em duas formas distintas:
• Democracia direta: na qual o povo decide diretamente, por meio de referendo/plebiscito, se 
aceita ou não determinadas questões políticas e administrativas de sua localidade, estado 
ou país.
• Democracia indireta: nesta, o povo participa democraticamente, por meio do voto, elegendo 
seu representante político, ou seja, uma pessoa que os represente nas diversas esferas 
governamentais, para tomar decisões cabíveis, em nome do povo que os elegeu.
No Brasil e na América do Sul se têm empregado políticas econômicas discu-
tíveis, praticamente sem formulações de política social. Às vezes aparecem 
programas e diretrizes, relacionados com a política social; tais programas e 
diretrizes em si revelam somentepretensões de uma política social. Quase 
sempre eles não se concretizam, apenas se transformam em quimera, em 
sonho, em programas e diretrizes para serem exibidos à sociedade, sem 
intervenção nela, porque não têm função de intervir. (VIEIRA, 2001, p. 19).
É como se a sociedade estivesse sendo mantida fora e longe do alcance do Estado 
de direito democrático. Não há uma intervenção efetiva na sociedade por parte das políticas 
ou das estratégias do governo. O interessante é que isso, muitas vezes, é denunciado por 
alguns movimentos sociais, mas não têm, de fato, o alcance que deveria ter. O Estado de 
Direito Democrático não mobiliza a sociedade em função dos serviços sociais por não existir, 
de fato, o exercício democrático da sociedade. Mas por que isso acontece? Porque não há, 
de fato, uma consciência cidadã por parte do todo da sociedade. E o que está impedindo essa 
conscientização? Uma reformulação das políticas educacionais. Vamos entender um pouco o 
modelo econômico implementado pelo Estado de direito democrático: o neoliberalismo.
A palavra NEO significa novo e podemos entender que, ao pé da letra, o Neoliberalismo 
significa um novo liberalismo. Mas esse modelo tem sua fundamentação na raiz do Liberalismo 
inglês, ou seja, um liberalismo radical formado por um conjunto de ideias formuladas pelo 
economista austríaco Frederich von Hayek, para o desenvolvimento da Teoria da Desigualdade 
Produtiva, “pela qual, não haveria nada mais improdutivo do que a igualdade”. (VIEIRA, 2001, p. 
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21). Para ele é a desigualdade que gera riqueza pela competição (onde ganham os mais fortes).
Mas Vieira nos ensina que o Neoliberalismo em sua forma pura não foi implantado em 
nenhum país. Aqui no Brasil, o que temos é um conjunto de diretrizes elaboradas por organismos 
internacionais que formularam o que autor chama de “Neoliberalismo Tardio”.
É nesse quadro que queremos chamar a atenção do leitor. A política social (que é uma 
estratégia do governo) atende aos indigentes. Atende àqueles que não têm condições de gerar 
a mínima renda, fazendo assistencialismo – distribuindo sopa, leite, roupa –, mas política social 
não é isso. Política social é estratégia governamental de intervenção.
Os serviços sociais vêm se transformando em mercadorias, eles devem ser 
vendidos: assim deve ser vendida a saúde, a educação etc. Os serviços sociais 
são desmontados e vendidos. Aí precisam ser analisados muitos processos 
internos que igualmente justificam essas medidas. (VIEIRA, 2001, p. 24).
Não se pode, entretanto, atribuir responsabilidade pela mercantilização das políticas 
sociais apenas ao projeto neoliberal, mas também a vários componentes que formam o 
arcabouço econômico do país.
LEITURA COMPLEMENTAR
Responsabilidade do Governo
Responsabilidade do governo significa que as autoridades públicas – eleitas e não eleitas 
– têm a obrigação de explicar as suas decisões e ações aos cidadãos. A responsabilidade do 
governo é alcançada através do uso de uma variedade de mecanismos – políticos, legais e 
administrativos – com o objetivo de impedir a corrupção e de assegurar que as autoridades 
públicas continuem responsáveis e acessíveis às pessoas a quem servem. Na ausência desses 
mecanismos, a corrupção pode florescer. 
O principal mecanismo de responsabilidade política é eleições livres e justas. Mandatos 
por período determinado e eleições obrigam as autoridades eleitas a responder pelo seu 
desempenho e a dar oportunidades aos opositores de oferecerem aos cidadãos escolhas 
políticas alternativas. Se os eleitores não estiverem satisfeitos com o desempenho de uma 
autoridade pública, podem não votar nela quando o seu mandato chegar ao fim.
O grau em que as autoridades públicas são politicamente responsáveis depende de 
ocuparem uma posição para a qual foram eleitas ou para a qual foram nomeadas, de quantas 
vezes podem ser reeleitas e de quantos mandatos podem ter. 
Os mecanismos de responsabilidade legal incluem constituições, medidas legislativas, 
decretos, regras, códigos e outros instrumentos legais que proíbem os atos que as autoridades 
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públicas podem ou não realizar e como é que os cidadãos podem agir contra essas autoridades 
cuja conduta é considerada insatisfatória.
Um poder judicial independente é um requisito essencial para o sucesso da 
responsabilidade legal, servindo como um fórum onde os cidadãos levam as queixas contra 
o governo. 
Os mecanismos de responsabilidade legal incluem:
•	 Estatutos de ética e códigos de conduta para as autoridades públicas, descrevendo práticas 
inaceitáveis. 
•	 Leis sobre conflitos de interesses e divulgação financeira, exigindo que as autoridades 
públicas revelem as suas fontes de rendimento e os seus bens para que os cidadãos possam 
avaliar se as ações dessas autoridades podem ser erradamente influenciadas por interesses 
financeiros.
•	 Leis que dão à imprensa e ao público acesso às atas e reuniões do governo. 
•	 Requisitos de participação dos cidadãos que dizem que certas decisões do governo devem 
ter em conta a opinião pública. 
•	 Revisão judicial, dando aos tribunais o poder de rever decisões e ações das autoridades e 
agências públicas. 
•	 Os mecanismos de responsabilidade administrativa incluem gabinetes dentro das agências 
ou dos ministérios e práticas nos processos administrativos que têm como objetivo assegurar 
que as decisões e ações das autoridades públicas defendem os interesses dos cidadãos. 
Os mecanismos de responsabilidade administrativa incluem: 
•	 Agências encarregadas de ouvir e responder às queixas dos cidadãos.
•	 Auditores independentes que verificam o uso dos fundos públicos para detectar sinais de 
uso incorreto.
•	 Tribunais administrativos, que ouvem as queixas dos cidadãos sobre as decisões da agência.
•	 Regras de ética protegendo os chamados informantes – aqueles dentro do governo que 
falam de corrupção ou de abuso da autoridade oficial – de represálias.
FONTE: Disponível em: <http://www.embaixada-americana.org.br/democracia/government.htm>. 
Acesso em: 27 maio 2013.
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RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico vimos que:
•	 Os avanços do Brasil como nação reconhecida tiveram grande impulso a partir da presença 
da família real no país.
•	 Não há como desvincular ética de política e essas duas da democracia.
•	 A democracia, por ser um modo de governo voltado para a maioria, deve ter seus olhos 
preferencialmente voltados para os mais necessitados, para aqueles que só têm o governo 
a quem recorrer.
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1 Identifique três características para democracia.
2 Como podemos distinguir democracia indireta da direta?
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Prezado(a) acadêmico(a), agora que chegamos ao final 
da Unidade 2, você deverá fazer a Avaliação referente a esta 
unidade.
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UNIDADE 3
A socIEDADE Em coNtíNUA 
coNstrUÇÃo
objEtIvos DE AprENDIzAgEm
 Esta unidade tem por objetivos:
•	 analisar criticamente como o modo de produção capitalista 
contribui para a evolução da sociedade;
•	 estudar a contribuição de grandes pensadores para uma melhor 
compreensão da sociedade;
•	 entender a relação entre trabalho, ser social e ética.
TÓPICO 1 – VIVER NO MUNDO GLOBALIZADO
TÓPICO 2 – PENSANDO A SOCIEDADE
TÓPICO 3 – SOCIEDADE EM TRANSFORMAÇÃOplANo DE EstUDos
Esta unidade está dividida em três tópicos e, no final de 
cada um deles, você encontrará atividades que reforçarão o seu 
aprendizado.
Márcia Bastos de Almeida
Okçana Battini
Giana Albiazzetti
Vera Lúcia Hoffmann Pieritz
I s a b e l l a M a r i a N u n e s 
Ferreirinha
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VIVER NO MUNDO GLOBALIZADO
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 1
Pensar nas relações existentes de nossa sociedade, muitas vezes, nos deixa perplexos, 
visto que nos deparamos com um emaranhado de fenômenos que nos coloca em xeque: como 
é possível existir uma enormidade de padrões em uma mesma sociedade? Como sujeitos de 
grupos distintos podem viver de forma coletiva num mundo cada vez mais globalizado, mas 
que têm que respeitar as diferenças? Neste momento, a única certeza que realmente temos é 
que somos frutos da sociedade globalizada e por vivermos no Ocidente do mundo, com suas 
características e peculiaridades próprias. É o que queremos estudar neste tópico, entendendo 
o que é e como se desenvolve a globalização e como é a dinâmica do modo capitalista do 
qual fazemos parte.
UNIDADE 3
2 A GLOBALIZAÇÃO
A sociedade é global. Vivemos em um mundo global. Para isso, devemos entender o 
processo histórico da globalização e seus impactos econômicos, políticos, culturais e sociais. 
Hoje, em nossa sociedade, existem diversas formas de comunicação, como o rádio, a televisão, 
os jornais e a internet. Fala-se que vivemos em uma sociedade digital, ou seja, uma sociedade 
tecnológica.
Como vimos no início do nosso texto, a sociedade é fruto das ações entre os homens, 
sendo que essas ações modificam o social no decorrer da história. Antigamente, para nos 
comunicarmos utilizávamos cartas, existiam as conversas de rodas nas ruas, nem todos tinham 
telefone e aparelho de televisão em casa. Com o desenvolvimento da sociedade capitalista, 
os meios de comunicação passaram a ser a principal forma de produzir e reproduzir notícias e 
informações. Agora tudo acontece em tempo real. Isso só foi possível com o desenvolvimento 
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do capitalismo.
Nas Ciências Sociais, essa generalização dos meios de comunicação de massa, 
depois da consolidação do modo de produção capitalista, é designada por “cultura de massa” 
ou “indústria cultural”. Segundo Crespo (2000), podemos trabalhar a concepção de indústria 
cultural a partir do século XVIII, pela multiplicação dos jornais na Europa. Calma! Vamos explicar. 
Até a Idade Média, a leitura e a escrita eram privilégios do clero e da nobreza, mas isso se 
transforma com o capitalismo por causa da urbanização, da industrialização e pela ampliação 
do mercado consumidor. Com todas essas questões, as cidades passam a se tornar centros 
de referência nas questões políticas, econômicas e culturais. O processo de migração para a 
cidade, o aumento da população urbana, o trabalho fabril, maior produção, preços mais baixos... 
enfim, uma cadeia de relações que coloca a burguesia como classe revolucionária, sendo que 
esta passa a conquistar não só o mercado em geral, mas também o mercado cultural.
Existe um aumento pela busca de informações e o jornal passa a ser um meio 
importantíssimo de divulgação de todos os tipos de informação: emprego, notícias das cidades, 
economia, cultura, crônicas políticas e os folhetins (precursores dos romances e das novelas de 
televisão atual). Segundo Crespo (2000, p. 194), “[...] as estórias que os jornais publicavam no 
rodapé de suas páginas vinham em capítulos, obrigando o leitor a comprar o próximo exemplar 
para saber a continuação da trama”.
A partir do final do século XIX, o processo de industrialização em larga escala, oriundo 
das transformações tecnológicas, coloca como essencial uma “nova leitura” de cultura. O 
maior desenvolvimento dessa tecnologia deve ser entendido, nesse nosso recorte, como 
maior acesso às informações, principalmente pelos meios de comunicação de massa 
(televisão, internet, rádio, jornal, rádio, revistas...). Essa cultura, segundo Brandão e Duarte 
(2004), não está ligada a nenhum grupo social específico, apesar de a burguesia utilizá-la 
em seu proveito para obter lucro, com a sua comercialização, sendo transmitida de maneira 
industrializada (daqui se pode tirar a ideia massificada) para um público generalizado, de 
diferentes camadas socioeconômicas.
Mas por que denominar cultura de massa ou indústria cultural?
O primeiro termo faz com que vejamos a sociedade moderna como uma so-
ciedade de massa, de multidões padronizadas e homogêneas. [...] O segundo 
termo remete às ideias de produção em série, de comercialização e de lucra-
tividade, características do sistema capitalista. Podemos imaginar, então, o 
estabelecimento de uma indústria produtora e distribuidora de jornais, livros, 
peças, filmes, em resumo, de mercadorias culturais. (CRESPO, 2000, p. 205).
O termo “indústria cultural” foi criado por Theodor Adorno e Max Horkheimer, membros de 
um grupo de filósofos conhecidos como Escola de Frankfurt. Esses autores buscaram analisar 
criticamente o funcionamento dos meios de comunicação de massa, chegando à conclusão de 
que eles funcionam como um instrumento da indústria cultural, que produz produtos culturais, 
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visando exclusivamente ao consumo.
Para Adorno e Horkheimer (apud CRESPO, 2000), a indústria cultural produz e vende 
mercadorias, utilizando ideologicamente os meios de comunicação de massa para vender 
imagens do capitalismo, sendo que, muitas vezes, essas imagens são fetichizadas, buscando 
reproduzir o status quo vigente. Essa indústria cultural e a cultura de massa produzem “bens 
culturais” – música, filmes, novelas, propagandas, centrados em dois pontos: o lucro e a 
manutenção da sociedade capitalista. O modo de produção capitalista produz mercadorias 
(carros, aparelhos domésticos, roupas) e a indústria cultural também estaria mais preocupada 
com o lucro de suas “mercadorias”, por exemplo, um programa que tem bastante audiência 
vende muito, ao passo que uma novela que não dá ibope logo é tirada do ar. Dentro desse 
contexto não está em jogo a qualidade dos programas, e sim, o lucro que eles viabilizam. Já 
no que diz respeito à manutenção da sociedade capitalista, são transmitidas, pelos programas, 
propagandas, imagens buscando um estímulo à imutabilidade das condições de sobrevivência 
das pessoas. Assim, os produtos culturais devem “produzir” e mostrar (distribuir) aos indivíduos 
imagens falsas, irreais, imaginárias, ilusórias da realidade, fazendo com que os indivíduos 
permaneçam passivos e obedientes.
Para Adorno (2007), esses produtos culturais ajudam a manter no “devido lugar” 
aqueles que têm baixo poder aquisitivo. Isso acontece porque os conteúdos da formação dos 
sujeitos passam a ser ajustados pelos mecanismos de mercado e reprodução dos valores da 
sociedade capitalista.
Sarlo (apud LIMA, 2008, p. 36) coloca que essa sociedade de consumo está pautada 
pela estética do mercado em que a “[...] constância das marcas internacionais e das mercadorias 
se soma à uniformidade de um espaço sem qualidades”. Construímos nossa identidade 
pautada nos ícones do mercado, sonhamos com os objetos e imagens que estão expostos nas 
vitrines. Há um jogo da sociedade capitalista para transformar em consumidores eternamente 
insatisfeitos, em busca de ícones que possam trazer algum tipo de prazer imediato, instituindo 
valores que mudam conforme a vontade do capital.
Adorno (apud LIMA, 2008, p. 38) reforça o papel da televisão como instrumento da 
indústria cultural, sendo que ela é vistacomo uma ideologia que tenta “[...] incutir nas pessoas 
uma falsa consciência e um ocultamento da realidade”, impondo um conjunto de valores que 
atuarão na formação dos telespectadores, com o objetivo de modificar a consciência das 
pessoas, pois os processos de formação se dão mais de fora para dentro do que o inverso. 
Olhem a questão da alienação e da ideologia presente novamente em nossa realidade!
Nesse contexto, podemos destacar alguns pontos negativos dos meios de comunicação 
de massa e da indústria cultural, dentre eles: a padronização do gosto do consumidor buscando 
uma padronização dos indivíduos, tirando o senso crítico das pessoas, eliminando sua 
capacidade de julgar e decidir sobre suas próprias vidas; o incentivo do consumo exagerado, 
que tem como agente central a propaganda, que divulga um único padrão de vida para as 
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pessoas, fazendo com que os indivíduos fiquem submetidos ao consumo, transformando-os 
em consumidores potenciais. Um exemplo para ilustrar a ideia de indústria cultural e cultura 
de massa que estamos discutindo é o poema “Eu etiqueta”, de Carlos Drummond de Andrade 
(1902-1987).
Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar a minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
[...] (ANDRADE, 2009).
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Para ler o poema na íntegra, vá ao site <www.radarcultura.com.
br/ node/12065>.
Apesar de todas as críticas, existem autores que destacam os pontos positivos dos 
meios de comunicação de massa, como Marshall McLuhan (1911-1980). Segundo Tomazi 
(2000), esse autor levanta que os meios de comunicação de massa são grandes fontes de 
informação, pois muitas pessoas têm acesso às mais variadas notícias por meio da televisão, 
do rádio e da internet. Nesse sentido, com os meios de comunicação de massa, haveria uma 
democratização das informações e do saber na sociedade capitalista, contribuindo também 
para a formação intelectual dos indivíduos (leitores, telespectadores, internautas), o que seria 
essencial para a nossa sociedade, pois atualmente vivemos os acontecimentos em tempo real, 
ou seja, nossa sociedade está globalizada.
Crespo (2000) coloca uma abordagem pautada na leitura crítica de Umberto Eco que 
acredito ser bem interessante de reproduzir aqui. Segundo a autora, Eco faz uma distinção 
polêmica entre os autores dedicados ao estudo da indústria cultural, dividindo esses autores 
entre os “apocalípticos” (aqueles que criticam os meios de comunicação de massa) e os 
“integrados” (aqueles que elogiam), elencando alguns motivos de crítica e elogio aos meios 
de comunicação de massa.
Para a leitura crítica, alguns motivos seriam: a veiculação que eles realizam de 
uma cultura homogênea (que desconsidera diferenças culturais e padroniza o público), o 
desestímulo à sensibilidade, o estímulo publicitário (criando para o público novas necessidades 
de consumo), a sua definição como simples lazer e entretenimento, desestimulando o público 
a pensar, tornando-o passivo e conformista; já para a leitura do elogio abordam que os meios 
de comunicação de massa, muitas vezes, são a única fonte de informação possível a uma 
parcela da população que sempre esteve distante das informações, as informações veiculadas 
podem contribuir para a formação intelectual do público e a padronização do gosto gerada por 
eles pode funcionar como um elemento unificador das sensibilidades dos diferentes grupos.
E por falar em globalização, esse fenômeno tem provocado muitas transformações em 
nossa sociedade. A globalização teve seu início com a expansão econômica europeia, mas 
foi a partir da segunda metade do século XX que tem se manifestado com mais intensidade, 
extrapolando os limites da esfera econômica, resultando em mudanças também na cultura, na 
política e em todos os outros aspectos da vida.
Podemos dizer que o termo globalização é uma nova expressão do capital, que 
desencadeia um complexo processo de produção e circulação de mercadorias, que tem início 
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nos anos 1970 e concretiza-se com o final da Guerra Fria, em 1989. Segundo Ianni (1999, p. 
48-49), esse processo representa, para além de um novo ciclo de expansão do capitalismo, 
um modo de produção e modificação da civilização em escala mundial, que engloba nações, 
regimes políticos, culturas e economias. De acordo com o autor:
Os fatores da produção ou as forças produtivas, tais como o capital, a tecno-
logia, a força de trabalho e a divisão do trabalho social, entre outras, passam 
a ser organizados e dinamizados em escala bem mais acentuada que antes, 
pela sua reprodução em âmbito mundial. Também o aparelho estatal [...] é 
levado a reorganizar-se ou “modernizar-se” segundo as exigências do fun-
cionamento mundial dos mercados, dos fluxos dos fatores de produção, das 
alianças estratégicas entre corporações.
Essas exigências são fundamentadas na liberalização dos mercados e na 
desregulamentação financeira mundial. Assim:
É preciso que a sociedade se adapte (esta é a palavra-chave, que hoje vale 
como palavra de ordem) às novas exigências e obrigações, e, sobretudo, que 
descarte qualquer ideia de procurar orientar, dominar, controlar, canalizar esse 
novo processo. A necessária adaptação pressupõe que a liberalização e a 
desregulamentação sejam levadas a cabo, que as empresas tenham absoluta 
liberdade de movimentos e que todos os campos da vida social, sem exceção, 
sejam submetidos à valorização do capital privado. (CHESNAIS, 1996, p. 25). 
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Globalização é o termo utilizado para o processo de transformações 
econômicas e políticas que vêm acontecendo nas últimas décadas. 
A principal característica é a integração dos mercados mundiais 
com a exploração de grandes empresas multinacionais.
Uma questão levantada por Giddens (2001, p. 61) é importante: “inicialmente a leitura 
da globalização estava vinculada aos padrões econômicos e políticos, mas devemos ter claro 
que esse termo significa muito mais, ou seja, que estamos vivendo “num único mundo”, em 
que os indivíduos, os grupos e as nações tornaram-se mais interdependentes. A globalização é 
criada pela convergência de fatores políticos, econômicos, sociais e culturais. Foi colocada como 
importante, sobretudo pelo desenvolvimento de tecnologias da informação e da comunicação 
que intensificaram a velocidade e o alcance da interação entre as pessoas em todo o mundo”.
Enfim, tudo está globalizado. As particularidades e especificidades dos países – a cultura, 
a música, os hábitos e costumes - estão presentes em todos os cantos do mundo. Parecem 
estar desenraizadas por diferentes tempos e espaços, que não são os seus de origem. Isso 
quer dizer que a estrutura social responsável pela existênciae difusão da cultura em um país 
vai se enfraquecendo, e, como consequência, vai sendo substituída por diferentes práticas, 
diferentes formas de pensar, agir, de trabalhar, que não são suas originalmente. Sendo assim, 
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a cultura de um país vai se “desenraizando” e passa a “flutuar” mundo afora, perdida, sem 
sentido, sem povo, sem nação, totalmente descontextualizada. Todo esse processo alterou 
os padrões tradicionais aceitos de indivíduos, cidadania, de cultura etc. Ianni (1999) expressa 
as preocupações em torno das questões ligadas à cidadania e à liberdade do indivíduo, ou 
seja, a formação de um “cidadão do mundo” que é fruto dessa nova configuração de mundo 
globalizado.
As referências habituais na constituição do indivíduo, compreendendo língua, 
dialeto, religião, seita, história, tradições, heróis, santos, monumentos, ruínas, 
hinos, bandeiras e outros elementos culturais, são completadas, impregnadas 
ou redescobertas por padrões, valores, ideais, signos e símbolos em circula-
ção mundial. O inglês como língua franca, a música pop como elemento da 
cultura internacional-popular, o turismo de todos os lados, as mercadorias de 
muitos países, as pessoas migrando por diferentes nações e mercados, as 
ideias flutuando por todos os ares, são muitos os elementos que entram na 
formação da individualidade e cidadania, subalternidade e autoconsciência, de 
habitantes de campos e cidades, países e continentes. (IANNI, 1999, p. 113).
Mas devemos ter clara a perspectiva da contradição, como em todos os itens discutidos 
em nosso texto, pois a globalização deve ser vista como uma questão aberta e contraditória. 
Uma questão interessante a ser discutida é que esse processo se estabelece de forma 
desigual e está aumentando a desigualdade social entre os países, aprofundando o abismo 
entre os países mais ricos e mais pobres. A riqueza, a renda, os recursos e o consumo estão 
concentrados nas sociedades desenvolvidas, enquanto muitos países em desenvolvimento 
lutam contra a pobreza, a desnutrição, a doença... sendo que muitos desses países, que estão 
inclusos no processo de globalização, estão excluídos, ou seja, é uma inclusão excludente 
(KUENZER, 2009).
Enfim, a globalização produz riscos, desafios, desigualdades, positividades que 
atravessam as fronteiras nacionais e escapam ao alcance das estruturas sociais vigentes. Por 
isso, torna-se importante discutirmos formas de governo que busquem pensar de forma global, 
visto que, segundo Giddens (2001), existem governos individuais despreparados para controlar 
essas questões, sendo necessário enfrentar os problemas globais de uma forma global.
Por outro lado, devemos pensar que todo esse processo abre espaço para novas 
possibilidades e perspectivas. É importante considerarmos a globalização como um processo 
que promove o contato intenso entre as diferentes culturas e as trocas culturais abrem sempre 
possibilidades de crescimento, de amadurecimento, de ganho para os lados envolvidos.
O processo de globalização é também um processo cultural, civilizatório. 
Ao mesmo tempo em que há muitas perdas, há muitos ganhos. É como se 
os indivíduos, as coletividades, etnias e minorias, grupos e classes, se hu-
manizassem também por intermédio dos vastos e intrincados processos de 
globalização. Acontece que as culturas são expressões de modos de vida e 
trabalho, tradições e esperanças, forma de ser, sentir, agir, pensar e sonhar. 
O intercâmbio das culturas [...] é também necessariamente um intercâmbio de 
indivíduo, coletividades, povos, nações, nacionalidades. (IANNI, 1999, p. 159).
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3 A SOCIEDADE CAPITALISTA
Para o entendimento da sociedade, a capitalista, devemos conhecer os acontecimentos 
históricos que modificaram as bases da economia e da política do modo de produção feudal. 
Vamos também estudar outros grandes acontecimentos, como a Revolução Industrial, a 
Revolução Francesa, a Reforma Protestante e sua influência e contribuição na conjuntura do 
capitalismo. Onde queremos chegar? A partir desse conhecimento, podemos compreender a 
função do homem no modo da produção capitalista.
3.1 BREVE HISTÓRICO
Um momento muito interessante de ser analisado dentro da história da nossa 
sociedade é o surgimento de que alguns autores chamam de pré-capitalismo, que vai 
do século XV – as Grandes Navegações (século XV), o Renascimento (século XVI) e a 
Reforma Protestante (século XVI) – até o final do século XVIII – com a Revolução Industrial 
e a Revolução Francesa. Esses acontecimentos são fundamentais para entendermos as 
condições históricas que permitiram o surgimento da sociologia como ciência. Assim podemos 
perceber que a história e a sociologia andam em conjunto no que diz respeito à interpretação 
das transformações sociais.
Em um primeiro momento devemos pensar a sociedade estruturada sobre o modo de 
produção feudal. A Europa, nesse momento, fundamentava-se principalmente em torno da terra 
e da propriedade privada da terra, sendo que sua organização era ligada ao trabalho rural, sua 
principal fonte de organização social.
Nessa sociedade de base agrária, o modo de viver das pessoas era completamente 
diferente de hoje, com pouco comércio, cujas cidades não passavam de pequenas aldeias e o 
pensamento religioso moldava a vida das pessoas. Segundo Meksenas (1994, p. 38), “a partir 
do século XIV esse mundo começará a mudar rapidamente, passando de um mundo agrário 
para o mundo urbano industrial. Mas essa mudança não ocorreu em pouco tempo, sendo 
necessários muitos séculos (no mínimo três) para se concretizar efetivamente. No entanto, 
como foi uma mudança social radical, muitos chamam de revolução”.
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A necessidade de expansão de novas terras e a busca por novas mercadorias fez com 
que o povo europeu desbravasse novas terras e, com base na expansão das fronteiras, em 
virtude do processo embrionário do capital, que necessita de novos mercados para atender à 
chamada acumulação primitiva de capital. Nesse contexto, as Grandes Navegações (século 
XV) são as responsáveis pelo “descobrimento do novo mundo”.
O Renascimento (século XVI) trouxe uma nova visão de mundo, pautado na ciência e na 
razão. A visão teocêntrica (Deus como centro do Universo) que predominava na sociedade feudal 
é suplantada pelo antropocentrismo, que coloca o homem como o responsável pela construção 
das relações sociais; a partir desse momento o homem encontra seu lugar de produtor da 
realidade social. A ciência passa a ser responsável pela explicação dos acontecimentos em 
sociedade, despertando nos indivíduos uma nova leitura sobre sua própria existência. Nesse 
período, a realidade social começa a se tornar mais complexa: o homem, agora racional, torna-
se questionador, reflexivo sobre a realidade existente.
Nesse momento, Galileu Galilei, Leonardo da Vinci e Copérnico desenvolveram novas 
formas de compreender a realidade social, utilizando-se da experiência para comprovar os 
fenômenos da sociedade e da natureza. É o início do conhecimento científico que, mais tarde, 
com Francis Bacon e René Descartes, ficará conhecido como o único responsável pelas 
explicações dos fenômenos naturais e sociais.
A Reforma Protestante (século XVI) traz uma nova forma de se relacionar com o 
sagrado, colocando o homem como mediador das questões divinas, redirecionando a questão 
da hegemonia da Igreja Católica no que diz respeito às explicações religiosas.
As transformações ocorridas a partir do século XV estão todas vinculadas 
entre si e não podem ser entendidas de forma isolada. Desse modo, a 
expansão marítima, as reformas protestantes,a formação dos Estados 
nacionais, as grandes navegações e o comércio ultramarino, bem como o 
desenvolvimento científico e tecnológico, são o pano de fundo para uma 
visão melhor desse movimento intelectual de grande envergadura que irá 
alterar profundamente as formas de explicar a natureza e a sociedade daí 
para frente. (TOMAZI, 2000, p. 1).
Dentro desse processo de mudança da estrutura social, devemos também compreender 
a importância da Revolução Industrial e da Revolução Francesa como pontos culminantes para 
o surgimento do modo de produção capitalista, pois essas revoluções concretizaram mudanças 
no âmbito produtivo e político que haviam sido iniciadas no século XVII.
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FIGURA 42 – REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
FONTE: Disponível em: <http://ericsiq.blogspot.com.br/2010/03/aula-revolucao-industrial-efetivacao-
do.html>. Acesso em: 27 maio 2013.
A Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra a partir de 1750, consolida novas formas de 
produção, onde o trabalho manufatureiro (trabalho manual, com auxílio de alguns instrumentos 
rudimentares de produção) passa a ser um trabalho baseado na maquinofatura (máquinas 
dentro do processo produtivo), reforçando o papel da classe burguesa como detentora dos 
meios de produção (máquinas, matéria-prima, fábricas) e a classe trabalhadora com sua força 
de trabalho, que é vendida nas relações de mercado. Esse contexto possibilitou uma nova visão 
de produção: a produção industrial, em alta escala, o crescimento do mercado, entre outros.
A compra de matérias-primas e a organização da produção, [...] levavam ao 
desenvolvimento de um novo processo produtivo em contraposição ao das 
corporações de ofício. Ao se desenvolver a manufatura, os organizadores da 
produção passaram a se interessar cada vez mais pelo aperfeiçoamento das 
técnicas de produção, visando produzir mais com menos gente, aumentando 
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significativamente os lucros. Para tanto, procuravam investir nos “inventos”, isto 
é, financiar a criação de máquinas que pudessem ter aplicação no processo 
produtivo. (TOMAZI, 2000, p. 3).
Com o poder econômico e produtivo nas mãos, a burguesia alia-se ao chamado Terceiro 
Estado (camponeses, trabalhadores e burgueses) para afirmar-se, também, enquanto classe 
política dominante. O processo de mobilização do Terceiro Estado busca acabar com os 
privilégios da nobreza feudal. Essa nobreza (uma minoria da população) era sustentada pelo 
trabalho e impostos dos camponeses, trabalhadores e burgueses, aumentando a desigualdade 
social.
A Revolução Francesa é fruto da luta entre o Terceiro Estado e a nobreza, sendo que 
em 1789, com a queda da Bastilha, inicia-se o processo de reformulação política e ideológica, 
consolidando a figura de um novo Estado que, entre outros aspectos, defende os interesses 
da maioria da população, fundado no lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.
FIGURA 43 – REVOLUÇÃO FRANCESA
FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/-8XIeLEtuFw/Th5CeZSPpoI/AAAAAAAADCI/
qgbuWVKGpdE/s1600/french_revolution_portugues-jpg1.jpg>. Acesso em: 27 maio 2013.
Podemos perceber que tanto a Revolução Industrial quanto a Revolução Francesa 
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estabelecem novos paradigmas para a sociedade, novas formas de compreender a realidade 
social.
Esse contexto, no final do século XVIII, faz com que a sociedade passe por grandes 
mudanças nos âmbitos econômico, produtivo, cultural e político, desembocando em novos 
problemas sociais até então inexistentes para a população europeia. É a derrocada do 
feudalismo e o surgimento do modo de produção capitalista, ou seja, a sociedade capitalista, 
a nossa sociedade. Vejam que estamos falando de mudanças que aconteceram no final 
do século XVIII e que ainda hoje, em pleno século XXI, estabelecem as estruturas sociais, 
econômicas, políticas e ideológicas. Nesse sentido, temos a instituição de novas formas de 
viver, a troca de ideias passa a ser maior, desembocando em novas formas de organizar a 
vida, sendo necessário o estabelecimento de novas normas, leis que fixam novos costumes, 
tradições e maneiras de agir, que passam a ser convenientes aos grupos sociais. Em síntese, 
nasce uma nova formação social, juntamente com ‘novos’ problemas sociais, oriundos dessas 
novas relações de trabalho, do ‘inchamento’ das cidades, desemprego, falta de infraestrutura 
e saneamento básico, doenças etc.
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Outro filme interessante que demonstra o processo de mudança 
social através da Revolução Industrial é Tempos Modernos (Modern 
Times, EUA, 1936). Direção: Charles Chaplin. Elenco: Charles 
Chaplin, Paulette Goddard. 87 min., preto e branco, Continental.
São esses novos problemas sociais que levam alguns pensadores a refletir sobre 
a realidade. Nesse contexto, surge a sociologia como ciência, com o objetivo de buscar 
compreender essa estrutura social. Assim, a sociologia nasce no século XIX, juntamente com 
a consolidação da sociedade capitalista.
Historicamente a sociologia baseia-se em teorias e autores, cada um com uma leitura 
específica da sociedade capitalista. Essas teorias são chamadas de clássicas, visto que são 
a base do pensamento sociológico, sendo elas a sociologia positiva (Positivismo de Émile 
Durkheim), a sociologia crítica (Materialismo Histórico Dialético de Karl Marx e Friedrich Engels) 
e a sociologia compreensiva (Max Weber).
Mas um ponto importante a ser esclarecido é que essas teorias fizeram uma leitura de 
um determinado momento da sociedade. Historicamente podemos compreender como foram 
constituídas as novas relações sociais, como os homens construíram novas formas de viver 
em sociedade, novas formas de trabalho, novas formas de poder.
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Nesse sentido, as teorias sociológicas e a história não nos apresentam receitas prontas 
para o entendimento da sociedade. Elas nos apontam direções para que nós possamos refletir, 
criticar ou até transformar a realidade em que vivemos.
[...] A profundidade das transformações em curso colocava a sociedade num 
plano de análise, ou seja, esta passava a se constituir em “problema”, em 
“objeto”, que deveria ser investigado. Os pensadores da época [...] não de-
sejavam produzir um mero conhecimento sobre as novas condições de vida 
geradas pela Revolução Industrial, mas procuravam extrair dele orientações 
para a ação, tanto para manter, como para reformar ou modificar radicalmente 
a sociedade de seu tempo (MARTINS, 2005, p. 15).
Assim, torna-se essencial estudarmos a sociologia não como uma disciplina datada 
na história, com uma visão linear, mas entendê-la como uma ciência que nos ajuda a 
compreender a realidade, sendo essa realidade dialética, ou seja, uma realidade passível 
de mudanças, e essas mudanças sendo efetivadas pelo homem, como vimos no início do 
nosso texto.
Antes de entrarmos propriamente na discussão das correntes sociológicas, devemos nos 
ater às principais características da sociedade capitalista, já que é através da sua implantação 
que se iniciam as discussões de caráter sociológico da realidade social.
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Há um filme interessante chamado Germinal, que aborda as novas 
relações sociais. (França, 1993). Direção: Claude Berri. Elenco: 
Gérard Depardieu, Miou-Miou, Jean Carmet, Renaud, Jean-Roger 
Milo. 158 min., drama. Baseado no romance homônimo de Émile 
Zola.
3.2 CARACTERÍSTICAS
Como vimos, o processo de transformação da sociedade instituiu um novo modelo 
produtivo, político e ideológico, que denominamos de modo de produção capitalista, ou seja,uma forma de organizar a produção, definindo suas relações (como vão ser produzidas, quanto 
produzir, quem vai produzir, quem vai gerenciar, por quanto vender etc.).
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FIGURA 44 – MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA
FONTE: Disponível em: <http://www.filosofia.com.br/figuras/
charge/138.jpg>. Acesso em: 27 maio 2013.
Esse modo de produção baseia-se em alguns pontos que podem ser observados 
até hoje: propriedade privada dos meios de produção, existência de duas classes sociais 
(capitalistas e proletários), trabalho assalariado, a busca pelo lucro e a transformação de todas 
as relações em mercadorias.
A propriedade privada dos meios de produção é, talvez, a mais importante das 
características do capitalismo, uma vez que é através dela que existe a separação entre os 
que possuem os meios de produção (fábricas, matéria-prima...) e os que são expropriados da 
propriedade; assim, todo produto produzido está e será diretamente ligado aos proprietários 
dos meios de produção.
Essa relação fundamenta-se na diferença entre as duas classes sociais existentes no 
capitalismo: os capitalistas que detêm a propriedade privada dos meios de produção (fábrica, 
matéria-prima...) e os proletários que vendem a sua força de trabalho para o capital, em uma 
relação de compra e venda de produtos. Essa distinção de classe extrapola o universo da 
produção, instituindo-se também dentro das relações de poder em nossa sociedade.
Pensar as relações descritas acima é compreender o objetivo central do modo de 
produção capitalista – o lucro – e essa preocupação generalizou-se em nossa sociedade. 
Todos objetivam lucrar com algo, seja vendendo algum produto, seja consumindo algo: todos 
querem saber o que vão lucrar com suas ações.
Nesse sentido, podemos analisar outra característica do capitalismo: a transformação 
de todas as relações sociais em mercadorias. As relações sociais passam a ser relações de 
troca de mercadorias. Trocamos trabalho por salário (vendemos nossa mercadoria – trabalho 
– para que outras mercadorias sejam produzidas), trocamos nosso salário por roupas, comida, 
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casa... reproduzindo uma relação ideológica em nosso cotidiano.
Imaginem, historicamente, como essas mudanças influenciaram a sociedade europeia do 
século XIX. Essas transformações trouxeram inúmeros impactos sociais, tornando necessária 
uma ciência que possibilitasse o estudo e a compreensão do rebatimento/reflexão, sendo esta 
ciência a sociologia.
Seguindo a linha de pensamento de Meksenas (1994, p. 39), essa revolução teve três 
momentos importantes: “uma revolução econômica, uma revolução política e uma revolução 
ideológica e científica”.
A Revolução Econômica – em primeira instância, pois o processo de desenvolvimento 
da tecnologia, baseado na Revolução Industrial – mudou a concepção de trabalho/produção 
e economia, instituindo novas relações sociais, agora pautadas na divisão de classes sociais 
(burguesia e proletariado) e na divisão social do trabalho, na qual cada trabalhador realiza 
uma função específica no processo produtivo. Com isso, o aumento do número de máquinas 
de trabalho potencializa um mercado consumidor, fundamentado no surgimento de novas 
mercadorias em escala produtiva, fundamentando a sociedade na relação econômica versus 
produção versus trabalho.
A Revolução Política ocorreu quando a antiga nobreza feudal perdeu o seu domínio 
para a classe burguesa, que detém o poder econômico e produtivo da sociedade. No modo 
de produção feudal, a política representava o interesse dos senhores feudais; no capitalismo, 
teremos o surgimento do Estado Moderno, que se fundamenta por formas de governo eleitas 
pelo voto e regidas por uma constituição. Dessa forma, o poder do Estado passa a ser dividido 
em três dimensões: Executivo, Judiciário e Legislativo. Para Meksenas (1994, p. 39), “essas 
novas dimensões do Estado burguês, oriundo da Revolução Francesa, instituem a aparência de 
que o Estado, acima dos interesses de classes, vem organizar democraticamente a sociedade”.
E, por último, a Revolução ideológica e científica, pois toda essa estrutura social 
estabelece a ideia de que o progresso e o enriquecimento da sociedade estão atrelados ao 
trabalho e à economia. Essas revoluções instituíram uma nova visão de mundo e, como já 
dissemos no início desta unidade, novos problemas sociais.
4 A RELAÇÃO ENTRE TRABALHO, 
 SER SOCIAL E ÉTICA
O sistema capitalista, presente em boa parte do mundo ocidental, possibilita a relação 
entre o trabalho, a ética e o novo ser social que aí se desenvolve. É o que queremos estudar 
neste ponto e você, acadêmico, vai acompanhar, fazendo um paralelo do que você conhece 
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e vivencia na sua própria realidade.
O processo de trabalho é atividade dirigida com o fim de criar valores de uso, 
de apropriar os elementos naturais às necessidades humanas; é condição 
necessária do intercâmbio material entre o homem e a natureza; é condição 
natural e eterna da vida humana, sem depender, portanto, de qualquer forma 
dessa vida, sendo antes comum a todas as suas formas sociais. (MARX, 
2009, p. 24).
Verificamos que a ética e o trabalho podem ser considerados uma extensão do exercício 
profissional, que denota uma ação real, concreta, transformadora da realidade da sociedade 
em que estamos inseridos. A ética e o trabalho vêm se transformando historicamente, pois 
nossos costumes, princípios e hábitos se transformam no decorrer dos tempos. 
Neste contexto, abordaremos vários aspectos das relações entre o trabalho, a ética e 
o ser social.
4.1 O QUE É TRABALHO?
Pode-se compreender que é por meio do trabalho dos homens que a sociedade se 
forma, se organiza tanto política, econômica e socialmente. É o trabalho que estrutura as 
nossas relações sociais. O trabalho se torna fundamental para o desenvolvimento dos princípios 
ético-morais de uma sociedade, pois é ele que medeia todas as nossas relações. Em outras 
palavras, o trabalho é a mola propulsora da vida em comunidade.
De acordo com Gonçalves e Wyse (1997, p. 61-62), 
O trabalho pode ser visto como lugar de autorrealização do homem, extensão 
de sua personalidade, espaço de criatividade, onde ele fala de si, mostra-se 
diante do seu grupo social, expressa sua identidade, presta um serviço social e 
contribui para o bem comum. Mas também pode ser encarado como uma mal-
dição, lugar de tortura, suportado pela necessidade do salário ao final do mês.
Por meio do trabalho desenvolvemos vínculos tanto sociais como comunitários com as 
outras pessoas. Estas relações sociais podem ser consideradas a base fundamental à própria 
vida dos seres humanos.
Segundo Tomelin e Tomelin (2002, p. 118), “através do trabalho, o homem se diferenciou 
dos outros animais, produzindo bens e transformando a natureza. Pelo trabalho o homem 
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fundamentou a sua vida cultural e a civilização. Para os outros animais, o trabalho visa satisfação 
imediata e instintiva, sem acúmulo de saberes”.
Complementando, Aranha e Martins (2005, p. 24) colocam-nos que
O trabalho humano é uma ação transformadora da realidade, dirigida por 
finalidades conscientes. Ao reproduzir técnicas já usadas e ao inventar ou-
tras novas, a ação humana se torna fonte de ideias e, portanto, experiência 
propriamente dita. Por isso dizemos que o animal não trabalha – mesmo 
quando cria resultados materiais com essa atividade –, pois sua ação não é 
deliberada, intencional. Dessa forma, o animal não produz propriamente sua 
existência,apenas a conserva agindo instintivamente ou, quando se trata de 
animal de maior complexidade orgânica, resolvendo problemas por meio da 
inteligência concreta. [...] Esses atos visam à defesa, à procura de alimentos 
e de abrigo. Assim, não devemos pensar que o castor, ao construir o dique, e 
o joão-de-barro, a sua casinha, estejam “trabalhando”.
Portanto, pode-se observar que quando o homem transforma a natureza por meio do 
trabalho, ele próprio está se transformando.
4.2 A ÉTICA DO TRABALHO
Com a evolução humana e, em consequência, com a evolução da própria sociedade, 
observamos que, por intermédio do trabalho, começou a surgir uma nova concepção de 
classe social, denominada burguesia, que desenvolve novos hábitos, princípios e valores 
morais perante a sociedade, mediando, diretamente, as relações sociais entre todos os 
seres humanos.
Estes novos interesses, que dependem diretamente do trabalho e do desenvolvimento 
de uma produção que garanta a expansão do comércio, na produção incondicional de novas 
riquezas, acabaram exigindo, dos seres humanos, uma dedicação exclusiva ao trabalho, no 
intuito de angariar maior produtividade e prosperidade dos detentores do capital. De acordo 
com Gonçalves e Wyse (1997, p. 23), “a nova classe em ascensão tem como característica 
as virtudes de laboriosidade, honradez, puritanismo, amor à pátria e à liberdade, em 
contraposição aos vícios da aristocracia – desprezo ao trabalho, ociosidade, libertinagem”.
Portanto, o trabalho, hoje em dia, se tornou um fato social que determina a própria 
existência do homem em sociedade, legitimando-o como um ser humano.
Segundo Gonçalves e Wyse (1997, p. 23-24), 
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Antes, o trabalho sempre foi visto de forma negativa. Na sua origem, a pala-
vra trabalho vem do latim tripalium, que significa um instrumento de tortura. 
Mesmo na Bíblia o trabalho é proposto como castigo pela culpa de Adão e 
Eva (nos termos bíblicos, o homem é condenado a trabalhar e a ganhar o 
pão com o suor do seu rosto, ficando a mulher condenada ao trabalho de 
parto). Na Grécia antiga e na Idade Média, [o trabalho] é desvalorizado por 
estar reservado aos escravos e aos servos. A sociedade moderna declara o 
trabalho uma expressão de liberdade, uma vez que, por meio dele (seja pela 
força física, pela ciência, pelas artes) o homem modifica a natureza, inventa 
a técnica, cria nova realidade, enfim, altera o curso das coisas, alterando a si 
próprio e a sociedade onde ele vive.
Outro fator relevante nesta discussão é a questão de que, por meio do trabalho, os 
homens constituem seus laços sociais, pois começam a pertencer a um determinado grupo 
social, acontecendo de acordo com o poder aquisitivo, status que o trabalhador obtém por meio 
de seu trabalho, ou seja, conforme o seu salário e sua formação do capital, este trabalhador 
estabelece determinados vínculos sociais, que determinam a que classe social ele pertence.
Por meio do comportamento humano nas relações de trabalho, e seu papel em 
sociedade, desenvolve-se a ética do trabalho.
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A ÉTICA DO TRABALHO consiste em entender essa atividade – o 
trabalho – como fator fundamental à construção da identidade e 
da realização pessoal e ao estabelecimento de uma ordem social, 
onde prevaleçam relações fundadas na dignidade, na liberdade e 
na igualdade entre os homens. (GONÇALVES E WYSE, 1997, p. 24).
Verificamos que o trabalho denota alguns valores morais que são constituídos pela 
própria sociedade (capitalista) em que estamos inseridos, tais como: disciplina, obediência, 
atenção e segurança pessoal. 
Porém, como fica a questão da liberdade, igualdade e autonomia do trabalhador?
Observamos que, na modernidade, a questão da autonomia, liberdade e igualdade 
entre os seres humanos é tida como uma condição da própria natureza humana. E que este 
valor é considerado como um fator necessário para o desenvolvimento da ética do trabalho.
Entretanto, será que, por natureza, os homens são realmente iguais entre si? 
Historicamente, podemos observar que todos os homens apresentam muitas diferenças, 
pois cada um possui um modo de vida, uma etnia e visão de mundo diferente, como: opção 
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sexual, etnia, religião, força física, sonhos, desejos, objetivos de vida, entre muitas outras 
diferenças, que são resguardadas como direito de igualdade em nossa sociedade. É só observar 
o que prediz a nossa Constituição Federal.
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Caro(a) acadêmico(a)! Para compreender melhor esta questão, 
sugerimos a releitura dos artigos 1º, 3º e 5º da Constituição da 
República Federativa do Brasil, promulgada em 1988. Disponível 
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/
Constituiçao.htm>. 
Segundo Gonçalves e Wyse (1997, p. 25-26), “na defesa desses interesses, o homem 
moderno lança mão de uma teoria – a teoria liberal – que utiliza os conceitos de igualdade e de 
liberdade natural para justificar sua prática social, sua ordem econômica e, inclusive, a forma 
de organização do Estado moderno”.
Finalizando, podemos entender que esta teoria liberal, por sua vez, formula e regula 
suas próprias leis com relação à economia de uma sociedade, na qual estas leis e normas 
preconizam um equilíbrio das relações de mercado, de compra e venda.
LEITURA COMPLEMENTAR
Ética no trabalho
Segundo o Aurélio, ética é o conjunto de regras e valores ao qual se submetem os fatos 
e as ações humanas, para apreciá-los e distingui-los. Em relação ao trabalho, vamos associá-
la, apreciá-la quando for o caso e, principalmente, distingui-la. Outros dicionários afirmam que 
a ética é parte da filosofia que estuda os deveres do homem para com Deus e a sociedade.
Permita-me simplificar esse conceito, à luz da experiência pessoal e profissional ao 
longo de mais de quarenta anos. Ética é a ciência aplicada pelos seres humanos que procuram 
ser justos e razoáveis com todo mundo, da melhor forma possível, além de não pensarem 
exclusivamente em si mesmos.
Por essa razão, ética não é um conceito facilmente aplicável nas grandes corporações, 
até mesmo porque o capital não consegue se multiplicar na velocidade que precisa se adotá-
la como bandeira. Se assim o fizesse, a distribuição de renda seria diferente, as relações 
desumanas no trabalho teriam outra conotação e os profissionais de valor seriam mais do que 
um simples número no quadro de empregados da organização.
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Você conhece algum profissional que consiga “cumprir os deveres com Deus e a 
sociedade” em alguma empresa? Se o fizer ao pé da letra, ele simplesmente é excluído do 
meio, a empresa vai à falência, e o líder entra em descrédito perante o acionista ou superior 
imediato, num mundo repleto de valores equivocados.
Apesar de todas as recomendações dos especialistas com as mais variadas teorias 
sobre o assunto, as empresas continuam falhando abruptamente na condução dos negócios. 
O capital humano nunca foi páreo para a ambição desmedida do lucro e quando a ambição 
ultrapassa os limites do razoável, a ética e o respeito aos indivíduos são literalmente atropelados 
pelo poder que não conhece limites.
Muito se fala na necessidade de modificar as relações entre capital e trabalho com 
intuito de proporcionar ambientes mais justos e fraternos, porém o abismo entre o discurso e 
a prática é imenso.
A sobrecarga de trabalho é um exemplo típico da imposição do poder. A opção pela 
redução da força de trabalho e a avidez do capital pelo lucro em progressão geométrica elevam 
o custo social, sem pudor.
Antes de prosseguir, lembro que as empresas são feitas de pessoas e as pessoaserram, 
porém, numa sociedade extremamente competitiva, o mínimo erro torna-se imperdoável. Erros 
fazem parte do crescimento, mas no mundo corporativo atual, o erro será parte do crescimento 
numa outra empresa, nunca onde se comete.
Não existe espaço para a redenção. O erro é a chance que as organizações esperam 
para descartar os indivíduos a fim de elevar a produtividade e o lucro por empregado, importantes 
na divulgação dos resultados.
As relações entre capital e trabalho são absolutamente frias e, por consequência, as 
relações entre chefes e subordinados também. É mais cômodo exercer a pressão do que a 
liderança efetiva para se obter resultados.
As incertezas do mundo atual não permitem questionamentos nem espaço para 
diversidade, aliás, são poucos os líderes que conseguem conviver com diferenças, em princípio, 
salutares para o crescimento das organizações. O mundo foi construído com base nas diferenças 
étnicas, religiosas e culturais. Nelson Rodrigues afirmava que toda unanimidade é burra, mas 
poucos entendem essa máxima.
Por questão de sobrevivência, muitos profissionais se sujeitam a trabalhar em empresas 
de valores duvidosos, contrários às necessidades pessoais de cada um, onde o discurso vale 
apenas para a sociedade e a ética restringe-se aos manuais da organização.
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Infelizmente não existe emprego ideal, mas existe trabalho ideal, caso contrário, o 
mundo seria cruel. O que nos move para frente é a certeza de que existem pessoas de bem, 
apesar da nossa tendência inequívoca de pensar diferente.
Parafraseando um dos executivos mais sensatos que conheci no mundo profissional, 
“a ética é o freio da ambição”. Os seres humanos são capazes de coisas incríveis por dinheiro 
e poder e, na maioria das vezes, a ambição será mais forte que a ética, para desespero dos 
menos favorecidos politicamente.
Todavia, não se deve perder a esperança, nunca. As relações na vida pessoal 
e profissional são difíceis, mas o mundo evolui rapidamente. Existem líderes e também 
organizações sensatas que conseguem conciliar os interesses, pois transcendem a ambição 
e o lucro em nome daquilo que se convém chamar de ética, aliada ao respeito aos indivíduos.
Em razão de tudo que penso, escrevo e desejo para os que convivem comigo, confio 
sempre na justiça divina, a despeito de toda falta de bom senso e intolerância na face da Terra. 
Deitar a cabeça no travesseiro com a sensação do dever cumprido, desprovido de culpas e 
mágoas, não é para homens comuns.
Como diria Otto Lara Resende, devemos almejar firmemente a utopia, afinal, o mundo 
não precisa seguir permanentemente infeliz. Pense nisso e seja feliz!
FONTE: Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/etica-no-
trabalho/62871/>. Acesso em: 27 maio 2013.
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RESUMO DO TÓPICO 1
Vimos neste tópico que:
•	 A sociedade é global, vivemos em um mundo global.
•	 O processo histórico da globalização traz impactos econômicos, políticos, culturais e sociais.
 
•	 A sociedade capitalista foi determinante no Ocidente para o desenvolvimento da democracia, 
do trabalho, que propiciou o avanço da humanidade em vários aspectos.
•	 A relação entre ética e trabalho é fundamental para o desenvolvimento da sociedade e do 
indivíduo.
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1 Como podemos caracterizar trabalho?
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PENSANDO A SOCIEDADE
1 INTRODUÇÃO
TÓPICO 2
Pensar nas relações existentes de nossa sociedade, muitas vezes, nos deixa perplexos, 
visto que nos deparamos com um emaranhado de fenômenos que nos coloca em xeque: como 
é possível existir uma enormidade de padrões em uma mesma sociedade? Como sujeitos de 
grupos distintos podem viver de forma coletiva? Neste momento, a única certeza que realmente 
temos é que somos frutos da sociedade. E, para percorrer esse caminho, convidamos vocês a 
seguirem por essa estrada fascinante construída pelo homem, que ao transformar a natureza 
a seu favor criou elementos sociais que nos auxiliam a viver nos dias de hoje.
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2 GRANDES PENSADORES
Augusto Comte e Émile Durkheim são os expoentes do positivismo, sendo que esses 
autores realizam uma leitura da sociedade capitalista buscando estabelecer a necessidade 
da ordem e do progresso.
Karl Marx e Friedrich Engels, por sua vez, realizam uma leitura do modo de produção 
capitalista baseada na crítica ao modelo de produção. Para os autores, torna-se necessária 
a transformação da sociedade por parte dos trabalhadores, por meio da superação da 
desigualdade social.
A função do indivíduo é essencial para Weber. Essa teoria busca compreender o papel 
do indivíduo dentro da sociedade, sendo que o autor estuda a ação social que o indivíduo 
realiza em sociedade. Weber também estuda a questão do Estado moderno e seu processo 
de burocratização.
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2.1 AUGUSTO COMTE
Augusto Comte (1798-1857) definiu a sociologia como “física social”, considerando que 
ela deveria localizar e estabelecer as leis imutáveis da vida social, identificando quais seriam 
as irregularidades, ou qual deveria ser o funcionamento normal da sociedade. Para Comte, 
a sociedade estava em crise, em desordem, e o conhecimento a ser construído deveria, 
necessariamente, criar condições para que a ordem fosse novamente restaurada.
Os positivistas tinham como influência o pensamento conservador, que afirmava que 
as transformações sociais ocorridas é que seriam responsáveis pelo estado de desordem da 
sociedade. Nesse processo de transição para a sociedade capitalista, os indivíduos perderam 
a moral e os costumes, não seguindo mais uma hierarquia social, sendo que a preocupação 
central dos positivistas era o resgate da ordem social para o desenvolvimento do progresso. 
No Brasil, tivemos uma forte influência do pensamento positivista, basta olhar o lema 
da nossa bandeira: Ordem e Progresso.
2.2 ÉMILE DURKHEIM
O Positivismo deu início à chamada sociologia clássica, que tem como base os conceitos 
elaborados por Émile Durkheim, Karl Marx e Friedrich Engels e Max Weber. O pensamento de 
cada um desses autores possui características bem específicas e distintas umas das outras.
Apesar disso, são reconhecidamente importantes, na medida em que formam a 
estrutura a partir da qual a Sociologia se desenvolveu e hoje engloba diferentes perspectivas 
contemporâneas. Émile Durkheim (1858-1917) sofreu fortes influências do trabalho de Comte. 
Durkheim foi responsável pelo caráter científico da sociologia, sendo ele o responsável pela 
criação de um rigoroso método para análise dos problemas sociais, uma vez que para ele a 
sociologia seria a ciência responsável pelo resgate da ordem social.
Durkheim, baseado no pensamento de Comte, considerava que todos os problemas da 
sociedade capitalista eram de natureza moral, e que os problemas sociais não estariam ligados 
ao desenvolvimento da economia, ao desemprego gerado pela automatização do processo 
produtivo, e sim à falta de moral desses indivíduos a se inserirem nas relações sociais.
Durkheim tenta buscar compreender como esses problemas se efetivam em sociedade, 
e o que poderia ser feito para que esses problemas fossem amenizados e a sociedade voltasse 
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a se desenvolver,restabelecendo a ordem social. Era necessário compreender a sociedade, 
as instituições que a constituem e suas funções e o papel do indivíduo dentro da sociedade.
Nesse sentido, ele faz uma analogia da sociedade como uma espécie de “organismo 
vivo”. Para Durkheim, a sociedade pode ser comparada a um organismo humano, uma vez 
composta por várias partes, onde cada parte teria uma função específica a desempenhar, 
sendo que essas funções são obrigatoriamente interdependentes.
Para ficar mais claro: vamos pensar em nosso corpo, onde todos os órgãos – coração, 
rins, pulmão etc. – devem viver em consonância, pois se algum órgão estiver com problema 
ficamos doentes, e que para melhorarmos precisamos tomar uma medicação para voltarmos 
ao nosso estado normal, com saúde.
Durkheim faz uma analogia do corpo humano com a sociedade, por isso ele considera a 
sociologia uma espécie de biologia social. A sociedade seria um organismo onde as instituições 
(Estado, escola, política, família) seriam os órgãos, e cada uma dessas instituições deveria 
exercer sua função em consonância para que a sociedade mantivesse a harmonia e buscasse 
o progresso. Segundo Meksenas (1994, p. 70): “Se a sociedade é o corpo, o Estado é o seu 
cérebro, e por isso tem a função de organizar essa sociedade, reelaborando aspectos da 
consciência coletiva“.
Com o desenvolvimento do capitalismo, essas instituições não conseguem dar conta 
das mudanças econômicas, políticas e culturais, não funcionando adequadamente, o que 
compromete o andamento da sociedade. Sempre que os problemas ultrapassam os limites 
tolerados, a sociedade entra em estado de caos, o que prejudica a ordem social. Durkheim 
estabelece que esse estado de “doença social” é chamado estado de anomia. 
Nesse sentido, o cientista social deveria estudar esses problemas sociais buscando 
elaborar novas regras sociais. Mas esses problemas, na leitura de Durkheim, deveriam ser 
estudados como “coisas”, ou seja, o pesquisador deveria analisá-los de uma forma neutra, 
não se posicionando a favor ou contra, sendo que seu objetivo seria o de buscar compreender 
o funcionamento “normal” da sociedade, identificando os “sintomas” que estão levando a 
sociedade a ficar em estado de anomia, “indicando” um tratamento para a sociedade.
Para analisar os problemas sociais, além de compreendê-los como coisas, Durkheim 
coloca que a sociologia deveria estudar os fatos sociais que acontecem em nossa sociedade. 
Contudo, para compreendermos esses fatos sociais, deveríamos nos ater a três características 
essenciais: coercitividade, exterioridade e generalidade.
Durkheim afirma que os fatos sociais, ou seja, o objeto de estudo da sociologia, 
são justamente essas regras e normas coletivas que orientam a vida dos indi-
víduos em sociedade. Tais fatos sociais são diferentes dos fatos estudados por 
outras ciências por terem origem na sociedade, e não na natureza (como nas 
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ciências naturais) ou no indivíduo (como na psicologia). (TOMAZI, 2000, p. 17).
A primeira característica que se refere ao fato social é a coercitividade. Durkheim coloca 
que todo fato social é coercitivo, ou seja, exerce uma determinada força sobre o indivíduo, 
obrigando-o a se adaptar às regras da sociedade em que vive, deixando os indivíduos em 
segundo plano. Essa coerção pode ser uma coerção física (a polícia muitas vezes usa da 
coerção física para valer uma regra) ou uma coerção psicológica (sabemos que se não 
cumprirmos as regras estabelecidas pela sociedade, poderemos ser punidos). Um ponto 
interessante dessa questão é que se começarmos a refletir sobre a nossa sociedade, muitas 
ações do nosso dia a dia, que pensamos ser fruto da nossa vontade, das nossas escolhas 
enquanto indivíduo, são socialmente constituídas.
A segunda característica do fato social é a exterioridade. Muitos dos fenômenos que 
acontecem em nossa sociedade são colocados como exteriores ao indivíduo, existem e atuam 
independente da sua vontade, sendo impostos por mecanismos sociais. Quando o indivíduo 
nasce, a sociedade já está estruturada, com suas leis, seu padrão econômico, político e cultural, 
cabendo ao indivíduo agir conforme os padrões instituídos socialmente. “As regras sociais, 
os costumes, as leis, já existem antes do nascimento das pessoas, são a elas impostas por 
mecanismos de coerção social, como a educação, por exemplo”. (COSTA, 2002, p. 60).
A última característica do fato social é a generalidade. É social todo o fato que é geral, 
que se repete em todos os indivíduos ou, pelo menos, na maioria deles. Podemos chegar à 
conclusão de que só é fato social aquilo que se refere a um grupo de pessoas, aquilo que 
atinge uma coletividade (COSTA, 2002).
Até aqui vimos que a sociedade é que estabelece regras e normas para que os indivíduos 
as sigam, e que os problemas devem ser estudados como fatos sociais. Apesar de todos os 
problemas existentes, Durkheim tinha uma visão otimista da sociedade capitalista emergente, 
principalmente porque ela, segundo o autor, desenvolveu novas relações que permitiram maior 
integração dos indivíduos com a sociedade, gerando novos laços de solidariedade. Para ele, 
o capitalismo trazia em seu interior um processo de crescente especialização do trabalho: 
as pessoas eram levadas a especializar-se numa área ou num assunto, não sendo possível 
que elas dominassem plenamente todos os assuntos, ou soubessem desempenhar todas as 
profissões na sociedade.
Assim, essa especialização do trabalho acabava provocando uma relação de 
interdependência entre os indivíduos, que deveriam cada vez mais se relacionar de forma 
complementar. Esse tipo de solidariedade Durkheim chamou de solidariedade orgânica.
[...] aquela típica das sociedades capitalistas, onde, pela acelerada divisão do 
trabalho social, os indivíduos se tornam interdependentes [...] que garante a 
união social, em lugar dos costumes, das tradições ou das relações sociais 
estreitas. Nas sociedades capitalistas, a consciência coletiva se afrouxa. Assim, 
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ao mesmo tempo em que os indivíduos são mutuamente dependentes, cada 
qual se especializa numa atividade e tende a desenvolver maior autonomia 
pessoal. (COSTA, 2002, p. 64).
A solidariedade orgânica substitui a solidariedade mecânica, onde existe pouca 
divisão do trabalho, onde os indivíduos são mais autônomos, sendo os laços de solidariedade 
estabelecidos pela tradição, pelos costumes, pelos hábitos arraigados.
[...] aquela que predominava nas sociedades pré-capitalistas, onde os indi-
víduos se identificavam por meio da família, da religião, da tradição e dos 
costumes, permanecendo em geral independentes e autônomos em relação 
à divisão do trabalho social. (COSTA, 2002, p. 64).
O interessante é perceber que mesmo com o capitalismo avançado, ainda existem 
pessoas que se relacionam através da solidariedade mecânica. Basta você olhar como as 
pessoas se relacionam em cidades pequenas, sendo a tradição e os costumes que estabelecem 
os laços de solidariedade entre os indivíduos.
Como vimos até aqui, na teoria positivista de Durkheim, a sociedade é que estabelece o 
modo de ser e de viver dos indivíduos. Para que isso aconteça é necessário o estabelecimento 
de uma consciência coletiva, o que garantiria a coesão social, principalmente através de sanções 
e punições estabelecidas pela sociedade. Independentemente da consciência de cada indivíduo, 
existe a consciência coletiva (superior a todos) que é responsável pela criação, execução e 
fiscalização de um conjunto de normas, valores que seriam defendidos por todos em sociedade.
A consciência coletiva é objetiva, isto é, não vem de uma só pessoa ou grupo, 
mas está difusa (espalhada)em toda a sociedade e, por isso, ela é exterior ao 
indivíduo, quer dizer, a consciência coletiva não é o que um indivíduo pensa, 
mas é o que a sociedade pensa. Por isso a consciência coletiva age sobre o 
indivíduo de forma coercitiva, isto é, exerce uma autoridade sobre o modo de 
como o indivíduo deve agir no seu meio social. (MEKSENAS, 1994, p. 65).
Durkheim acredita que a sociedade estabelece os caminhos que cada indivíduo deve 
trilhar, no sentido de tentar manter a ordem e buscar o progresso. Nesse contexto, a educação 
e a escola têm o papel de socializar os indivíduos para que eles se desenvolvam (socialmente, 
profissionalmente...) dentro dos padrões preestabelecidos a seu grupo social, ou seja: socializar-
se é aprender a ser membro da sociedade, e aprender a ser membro da sociedade é aprender 
o seu devido lugar nela. Só assim é possível preservar a sociedade (RODRIGUES, 2000).
2.3 DURKHEIM E A EDUCAÇÃO
Como na concepção durkheiminiana a educação é um forte instrumento de coesão 
social, cabe ao Estado ofertá-la e supervisioná-la, instituindo os princípios básicos para a 
concretização da moral da sociedade, que através da escola seriam transmitidos às crianças 
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e aos jovens. Podemos dizer que é na escola que aprendemos a nos tornar membros da 
sociedade, e é dentro dela que passamos grande parte de nossas vidas nos socializando com 
outros indivíduos. Nesse sentido, podemos perceber que a visão de Durkheim da sociedade 
e da função que a educação exerce sobre ela é formar indivíduos que se adaptem à estrutura 
social vigente, instituindo os caminhos e normas que cada um deve seguir, tendo sempre como 
horizonte a instituição e manutenção da ordem social.
Durkheim, o positivismo e seus conceitos têm uma leitura de que a sociedade capitalista 
está em primeiro plano, e o indivíduo deve a todo o momento adaptar-se e cumprir as regras 
estabelecidas, visto que um indivíduo só tem valor se estiver inserido no contexto social, pois 
é a sociedade que confere sentido à sua existência.
2.4 MARX E ENGELS
Marx e Engels são pensadores importantíssimos para a realidade social, pois suas 
abordagens perpassam por questões econômicas, políticas, sociais, ideológicas e culturais. 
É importante discutir que toda sua leitura está pautada na transformação da realidade social, 
instituindo uma nova sociedade, ou seja, o socialismo.
Essa nova sociedade é chamada socialista, pois propunha uma sociedade sem classes 
sociais e desigualdade social. Socialismo é um regime político e econômico em que não existe 
a propriedade privada nem as classes sociais.
Todos os bens seriam de todas as pessoas e não poderia haver diferenças econômicas 
entre os indivíduos. Existiria um governo (ditadura do proletariado) que instituiria determinadas 
leis sociais para a totalidade dos indivíduos. Hoje, contamos com a existência do Estado para 
defender os interesses dos trabalhadores, pois o pensamento nos padrões do capital ainda 
se faz presente, sendo necessário um período de transição e formação do sujeito dentro de 
novos padrões econômicos, políticos, ideológicos e culturais.
O socialismo é um processo de transição para o comunismo, no qual todos os processos 
de divisão, inclusive do poder na figura do Estado, deixariam de existir, pois todas as decisões 
seriam tomadas pela totalidade dos sujeitos. O processo de transição da sociedade se daria, 
segundo Marx e Engels, por meio da classe trabalhadora.
É nesse sentido que eles realizaram a leitura da sociedade capitalista tendo como 
pano de fundo a divisão das classes sociais e a permanente luta entre elas, denominada luta 
de classes.
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Existem muitas obras de primeira mão (escritas pelo próprio Marx) 
e de segunda mão (interpretação do pensamento marxiano) sobre 
a teoria de Karl Marx. As mais significativas escritas por Marx 
são: A ideologia alemã, O capital, Os manuscritos econômicos 
e filosóficos, além do Manifesto do Partido Comunista. Antonio 
Gramsci (Os intelectuais e a organização da cultura), Vladimir 
Illitch Ulianov – Lênin (Estado e a revolução) são pensadores 
contemporâneos que utilizam as bases marxianas para a 
interpretação da sociedade capitalista moderna.
Consideravam que o conhecimento poderia ser um instrumento na luta dos trabalhadores 
por mudanças na estrutura econômica capitalista, que era injusta e desigual. Nesse contexto, 
enfatizaram o papel dos trabalhadores no processo de superação do modo de produção 
capitalista e na implantação de uma nova sociedade – inicialmente socialista e em seguida 
comunista.
Torna-se essencial compreendermos alguns dos principais conceitos da teoria marxista, 
visto que eles nos ajudam a compreender o pensamento e a leitura que Marx realizou da 
sociedade. Vamos abordar aqui somente alguns conceitos (os básicos), pois a teoria de Marx e 
Engels é muito vasta. Iremos discutir os conceitos de classes sociais, luta de classes, trabalho 
e alienação, fetiche da mercadoria, mais-valia e Estado.
FIGURA 45 – BURGUESES E OPERÁRIOS
FONTE: Disponível em: <http://filohumanas1ano.blogspot.com.br/2010_04_01_archive.
html>. Acesso em: 27 maio 2013.
Para Marx, a sociedade capitalista já nasce dividida em duas classes sociais: os 
burgueses (capitalistas) e os proletários (trabalhadores), e são essas classes que materializam 
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as relações sociais. Isso quer dizer que, dentro do capitalismo, as relações sociais são 
construídas pelo processo de venda da força de trabalho dos proletários e compra dessa 
força pelos capitalistas (donos dos meios de produção) que a exploram dentro da produção. 
Essa divisão de classes é que sustenta a nossa sociedade, nascendo dessa relação todas as 
mercadorias que nós utilizamos em nosso dia a dia. Olhe ao seu lado. Veja este livro, o seu 
caderno, a sua roupa. Tudo isso é fruto de trabalho humano, trabalho assalariado.
Na sociedade capitalista as relações sociais de produção definem dois gran-
des grupos dentro da sociedade: de um lado os capitalistas, que são aquelas 
pessoas que possuem os meios de produção (máquinas, ferramentas, capital 
etc.) necessários para transformar a natureza e produzir mercadorias; do outro, 
os trabalhadores, também chamados, em seu conjunto, de proletários, aqueles 
que nada possuem, a não ser o seu corpo e sua disposição para trabalhar. A 
produção na sociedade capitalista só se realiza porque capitalistas e traba-
lhadores entram em relação. (TOMAZI, 2000, p. 21).
Essa divisão de classes aparentemente é uma divisão natural. Marx conseguiu desvendar 
a aparência dessas relações, buscando compreender a essência dos fenômenos, demonstrando 
que na sociedade essa divisão se apresenta de forma ‘oculta’, pois não observamos em nosso 
cotidiano o constante conflito entre elas. Esse conflito não é necessariamente armado, e na 
leitura de Marx não é passível de solução dentro do modelo capitalista de produção, pois essa 
desigualdade entre classes é intrínseca à sociedade. Esse conflito é simbólico e ideológico, 
daí a denominação de luta de classes. As duas classes sociais (proprietários e trabalhadores) 
vivem em constante embate de caráter ideológico e político.
Nesse contexto podemos perceber que a desigualdade entre as classes sociais aumenta 
dentro do processo produtivo, pois a produção de mercadorias é realizada de forma coletiva, 
sendo a apropriação das riquezas geradas pela produção privada; é desse processo que 
advém a desigualdade social.
Um ponto essencial na teoria marxista é a questão do trabalho. Na leitura de Marx, 
o trabalho é essencial para o homem, visto que

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