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CCJ0051-WL-B-AMRP-01-As Condições de Produção do Texto Argumentativo

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Teoria e Prática da Argumentação Jurídica 
Semana 1 
Professor Nelson Tavares 
 
Todo profissional do Direito, quando descreve o tipo de atuação profissional que 
escolheu, associa essa atividade à tarefa argumentativa. Os exemplos de advogados, 
promotores e defensores bem sucedidos baseiam-se em uma atuação – argumentativa – 
brilhante que convença o magistrado da necessidade de conceder a tutela jurisdicional dos 
direitos daqueles que representam em juízo. 
Inicialmente, é fundamental ressaltar a idéia de que essa atuação profissional 
deve ser marcada pela eficiência técnica e persuasiva, mas nunca pode perder de vista a 
ética e a moral. Lembremos que antes mesmo dos sistemas jurídicos positivados, o homem 
deveria pautar sua conduta pelos valores universais do que é certo e justo. 
Diante desse cenário geral, precisamos lembrar, ainda, que o papel principal do 
direito é compor conflitos e que a atividade processual é marcada pelo contraditório e pela 
ampla defesa. 
Em outras palavras, quando um advogado atuar no Judiciário para defender os 
interesses de seu cliente, terá a certeza de que está ali para ajudar na solução de um 
conflito social cuja composição não foi conseguida pelas partes sem o auxílio de terceiros. 
Cada um dos envolvidos na demanda enxerga os fatos de uma maneira, ou seja, cada qual 
atribui aos fatos do caso concreto uma interpretação distinta (a que mais lhe interessa), 
conforme se verifica no gráfico adiante: 
 
 
A argumentação jurídica caracteriza-se, especialmente, por servir de instrumento 
para expressar a interpretação sobre uma questão do Direito, que se desenvolve em um 
determinado contexto espacial e temporal. Ao operar a interpretação, impõe-se considerar 
esses contextos, ater-se aos fatos, às provas e aos indícios extraídos do caso concreto e 
sustentá-la nos limites impostos pelas fontes do Direito. 
Parece claro que nenhum juiz pode apreciar um pedido sem conhecer os fatos que 
lhe servem de fundamento. Conforme ressalta Fetzner1, a narração ganha status de maior 
relevância, porque serve de requisito essencial à produção de uma argumentação eficiente. É 
por essa razão que se costuma dizer que a narração está a serviço da argumentação. 
 
1 CAVALIERI FETZNER, Néli Luiza (Org. e Aut.); TAVARES, Nelson; VALVERDE, Alda. Lições de 
argumentação jurídica. Rio de Janeiro: Forense, 2009, capítulo 2. 
Resumidamente, um profissional do Direito deve recorrer ao texto argumentativo 
para defender seu ponto de vista, mas para o sucesso dessa tarefa, precisa ter, antes, uma boa 
narração, na qual foram expostos os fatos de maior relevância sobre o conflito debatido. 
Para melhor compreender as características que distinguem narração e 
argumentação, observe a tabela. 
 
 NARRAÇÃO ARGUMENTAÇÃO 
 
Qual o Objetivo? 
Expor os fatos importantes do caso 
concreto a ser solucionado no 
Judiciário. 
Defender uma tese (ponto de vista) 
compatível com o interesse da parte 
que o advogado representa. 
 
Como o fato é 
tratado? 
Cada fato representa uma 
informação que compõe a história 
da lide a ser conhecida no processo. 
O fato (informação) narrado é aqui 
retomado com o status de elemento 
de persuasão; é um elemento de 
prova com o qual defende a tese. 
 
 
 
 
 
 
 
Qual o tempo 
verbal utilizado? 
Pretérito – é o mais utilizado, 
porque todos os fatos narrados já 
ocorreram. (Ex.: o empregado sofreu 
um acidente); 
Presente – fatos que se iniciaram no 
passado e que perduram até o 
momento da narração. (Ex.: o 
empregado está sem capacidade 
laborativa); 
Futuro – não é utilizado porque 
fatos futuros são incertos. 
Presente – tempo verbal mais 
adequado para sustentar o ponto de 
vista. (Ex.: o autor deve ser 
indenizado por seu empregador); 
Pretérito – deve ser usado para 
retomar os fatos (provas / indícios) 
relevantes da narração, com os quais 
defenderá a tese. (Ex.: o autor deve 
ser indenizado por seu empregador 
porque sofreu um acidente no local 
de trabalho); 
Futuro – deve ser usado ao 
desenvolver as hipóteses 
argumentativas. (Ex.: o trabalhador 
deve receber o benefício do INSS, 
pois, caso contrário, não terá como 
se sustentar). 
Qual a pessoa do 
discurso? 
Utiliza-se a 3ª pessoa, por traduzir a 
imparcialidade necessária à 
atividade jurídica. 
Também se utiliza a 3ª pessoa, pela 
mesma razão. 
 
Como os fatos 
são 
organizados? 
Os fatos são dispostos em ordem 
cronológica, ou seja, na mesma 
ordem em que aconteceram no 
mundo natural. 
Os fatos e as idéias são organizados 
em ordem lógica, ou seja, da 
maneira mais adequada para 
alcançar a persuasão do auditório. 
 
 
 
Quais seus 
elementos 
constitutivos? 
Uma narrativa bem redigida deve 
responder, sempre que possível, às 
seguintes perguntas: a) O quê? (fato 
gerador); b) quem? (partes); c) 
onde? (local do fato); d) quando? 
(momento do fato); e) como? 
(maneira como os fatos ocorreram); 
f) por quê? (motivações da lide). 
Antes de redigir uma argumentação 
consistente, tente refletir sobre, pelo 
menos, as seguintes questões: a) 
Qual o fato gerador do conflito? b) 
qual a tese que será defendida? C) 
com que fatos sustentará essa tese? 
d) Que tipos de argumento deverá 
utilizar? 
 
Qual a natureza 
do texto? 
O texto narrativo tem natureza 
predominantemente informativa. 
Sua função persuasiva está atrelada 
à fundamentação. 
O texto argumentativo tem função 
persuasiva por excelência. 
Quanto à Uma narrativa pode ser simples Não há como defender uma tese sem 
parcialidade... (imparcial) ou valorada, 
dependendo da peça a produzir. 
adotar um posicionamento. Toda 
argumentação é valorada.

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