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Possibilidade Juri homicidio condução de veiculo automotor

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A possibilidade de julgamento de homicídio cometido na direção de veículo automotor pelo tribunal do Júri.
OCódigo de Trânsito Brasileiro, em seu artigo1º, § 1ºdispõe que “Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga”, assim, os delitos cometidospor aquele que conduz veículo automotor na utilização das vias é tido, genericamente, como crime de trânsito.
Os acidentes de trânsito têm se tornado cada vez mais comuns e piores a medida que o tempo passa. Com carros mais velozes, equipados, motoristasde todas as partes arriscam suas vidas, e ainda colocam em risco a vida de outras pessoas que fazem uso das rodovias, dirigindo com imprudência, acima da velocidade permitida. Mas, não é só a velocidade o problema, motoristas inexperientes, já se arriscando em longas viagens, em rodovias muito movimentadas, sem pensar nas consequências que isso pode gerar futuramente.
A grande maioria dos acidentes que ocorrem no Brasil, são causados por falha humana, falando em estatísticas essa é a causa de 75% dos acidentes. Dentre as causas, as mais corriqueiras são a imprudência do condutor, excesso de velocidade, desrespeito a sinalização, ingestão de bebidas alcoólicas, ultrapassagens indevidas, falta de atenção e defeitos nas vias.1Informações retiradas do site. Acesso em 08 de Junho de 2016.
O Brasil está em 5º no ranking dos países que mais registram mortes e feridos gravemente nas rodovias em razão dos acidentes de trânsito. Segundo dados do Ministério da Saúde, tem-se os seguintes gráficos, os mais atualizados encontrados:
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Após conceituado e demonstrado o quanto vem ocorrendo os acidentes de trânsito, importante também, conceituar o Tribunal do Júri, que detém a competência para julgar os crimes dolososcontra a vida. Segundo o TJ, o Tribunal do Júri significa um mecanismo do exercício da cidadania e demonstra a importância da democracia na sociedade. Isso porque o órgão permite ao cidadão ser julgado por seus semelhantes e, principalmente, por assegurara participação popular direta nos julgamentos proferidos pelo Poder Judiciário.
Quanto a natureza dos crimes de trânsito, a doutrina atual é um tanto quanto divergente. Vejamos:
Para Fragoso, “os crimes de trânsito ora são classificados como crimes de danoora como crimes de perigo. Dano é alteração de um bem, sua diminuição ou destruição; a restrição ou sacrifício de um interesse jurídico. Perigo é a probabilidade de dano, não a simples possibilidade.” (FRAGOSO, 2004).
Para Damásio de Jesus, “os crimes deperigo dividem-se em: crime de perigo concreto, quando a realização do dano exige uma situação de efetivo perigo; crimes de perigo abstrato, o qual a situação de perigo é presumido; crimes de perigo individual, que é o que atinge uma pessoa ou um número determinado de pessoas; crime de perigo comum ou coletivo, que é aquele que se consuma se o perigo atingir um número determinado de pessoas”.Conclui, ainda que “os delitos de trânsito, salvo alguns, como o homicídio culposo e a lesão corporal culposa, são crimes de lesão e de mera conduta. São crimes de lesão porque o condutor, com sua direção anormal, realizando condutas perigosas ou imprudentes, reduz o nível de segurança de trânsito exigido pelo legislador, atingindo a objetividade jurídica concernente aincolumidade pública. De mera conduta porque basta à sua existência a demostração de realização do comportamento perigoso ou imprudente, sem a necessidade de provar se que o risco atingiu, determinada pessoa.”
(JESUS, 2009).
A competência, inicialmente, para julgar as infrações penais de menor potencial ofensivo, é destinada aos Juizados Especiais, segundo art. 98 da Constituição Federal. De acordo com o art. 61 da lei 9.099/95, consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivoas contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.
O Novo Código de Trânsito Brasileiro caracteriza como exceção a aplicação da lei dos Juizados especiais, a conduta delituosa do artigo 302, qual seja, ohomicídio culposo.
Há um questionamento, que aponta duas vertentes quanto a conduta do agente. Seria dolo eventual ou culpa consciente?
Sobre a diferenciação dos dois institutos, ensina Nucci, “Trata-se de distinçãoteoricamente plausível, embora, na prática, seja muito complexa e difícil. Em ambas as situações o agente tem a previsão do resultado que sua conduta pode causar, embora na culpa consciente não o admita como possível, e no dolo eventual, admita a possibilidade de se concretizar, sendo-lhe indiferente”. (NUCCI, 2007).
Ainda citando Nucci, “Ressaltemos que essa diferença encontra-se muito mais na análise das circunstâncias do caso concreto, dando a impressão a quem aplica a lei penal de estar diante de uma ou de outra forma do elemento subjetivodo crime, do que na mente do agente”.
E, para finalizar “Essa é a realidade dos processos criminais que cuidam do tema, pois esperar que se consiga prova daquilo que ocorreu na cabeça do autor da infração pena (assumiu o risco ou esperava sinceramente quenão acontecesse?), exatamente no momento em que esta se deu, é praticamente impossível”
Para concluir, segundo Nucci, para resolver essa questão de dolo eventual e culpa consciente nas mortes causadas em acidentes de trânsito, deve-se analisar de forma minuciosa o caso concreto, entendendo a ação do agente, cada ato até a sua consumação, sendo que a aplicação incorreta, de forma precipitada, pode vir a causar uma grande injustiça.
Atualmente, os homicídios cometidos na direção de veículos automotores são considerados culposos, uma vez que presume-se que o condutor não deseja gerar danos a terceiros, mas que o sinistro ocorreu em virtude da falta de zelo, pelo qual o condutor deve ser responsabilizado.
Dessa forma, seria uma exceção a mudança de competênciapara o Tribunal do Júri, convertendo o homicídio em doloso, o que ocorre quando o agente pretende o resultado ou assume o risco, visto que realizou a conduta imprudente mesmo assim.
Em caso anterior, em que o réu estava embriagado, em excesso de velocidadee na contramão, o Ministro Jorge Mussi votou no sentido de que as circunstâncias poderiam configurar dolo eventual, pois o motorista assumiu o risco de produzir o resultado morte. Já, para o Tribunal, que desclassificou o homicídio doloso para homicídio culposo, “embora exista entendimento de que aquele que dirige em alta velocidade assume o risco de produzir o resultado morte, agindo com dolo eventual, não se pode admiti-lo na espécie, na medida em que inexiste prova da vontade dirigida para o resultado alcançado.”
Insatisfeito com a decisão do Tribunal, Mussi ainda afirmou que “Tenho que a presença da embriaguez ao volante, excesso de velocidade e direção na contramão, em tese, podem configurar dolo eventual, pois, nesta fase processual, de acordo com o princípio do juiz natural, o julgamento acerca da sua ocorrência ou da culpa consciente deveficar a cargo do conselho de sentença, que é constitucionalmente competente para julgar os crimes dolosos contra a vida, conforme já decidido por esta Corte”.
Depois do debate, o recurso foi provido para restabelecer a sentença de pronúncia.2REsp 1279458. Disponível em https://www.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/?acao=pesquisar&livre=resp+1279458&operador=e&b=INFJ&thesaurus=JURIDICO.
“A PrimeiraTurma do Supremo Tribunal Federal (STF) concedeu, Habeas Corpus (HC 107801) a L. M. A., motorista que, ao dirigir em estado de embriaguez, teria causado a morte de vítima em acidente de trânsito. A decisão da Turma desclassificou a conduta imputada ao acusado de homicídio doloso (com intenção de matar) para homicídio culposo (sem intenção de matar) na direção de veículo, por entender que a responsabilização a título“doloso” pressupõe que a pessoa tenha se embriagado com o intuito de praticar o crime. Ao expor seu voto-vista, o ministro Fux afirmou que “o homicídio na forma culposa na direção de veículo automotor prevalece se a capitulação atribuída ao fato como homicídio doloso decorre de mera presunção perante a embriaguez alcoólica eventual”. Conforme o entendimento do ministro, a embriaguez que conduz à responsabilização a título doloso refere-se àquela em que a pessoa tem como objetivo se encorajar e praticar o ilícito ou assumir o risco de produzi-lo. O ministro Luiz Fux afirmou que, tanto na decisão deprimeiro grau quanto no acórdão da Corte paulista, não ficou demonstrado que o acusado teria ingerido bebidas alcoólicas com o objetivo de produzir o resultado morte. O ministro frisou, ainda, que a análise do caso não se confunde com o revolvimento de conjunto fático probatório, mas sim de dar aos fatos apresentados uma qualificação jurídica diferente. Desse modo, ele votou pela concessão da ordem para desclassificar a conduta imputada ao acusado para homicídio culposo na direção de veículo automotor, previsto no artigo302da Lei9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro)”.(www.stf.gov.br)
Bibliografia
FRAGOSO , Heleno Cláudio. Direção perigosa.Revista de Direito Penal, 13-14:145, Rio de Janeiro, 2004.
JESUS , Damásio de. Crimes de Trânsito –Anotações á parte Criminal do Código de Trânsito.8° ed. São Paulo. Saraiva, 2009;
NUCCI , Guilherme de Souza.Manual de direito penal: parte geral e parte especial. 3 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.

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