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Razões Recursais de Apelação Criminal

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DA 3ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SÃO GONÇALO 
 
Processo: n° XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
 
CARLOS XXXXXXXXXX, devidamente qualificado nos autos, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, por seu advogado infra-assinado – procuração anexa – apresentar tempestivamente RAZÕES RECURSAIS, de Apelação interposta por termo – fl. XXX – contra sentença de fl. XXX, nos termos da fundamentação anexa, requerendo que Vossa Excelência se digne determinar a sua remessa ao Egrégio Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro - TJRJ, para reforma da decisão, com fulcro no inciso I do artigo 593 do Código de Processo Penal.
São Gonçalo, 23 de setembro de 2020.
Anderson Lesther de Souza Silva
OAB XXXXX-XX
 
 AUTOS: n° XXXXXXXXXXXXXXXXX-XX
APELANTE: CARLOS XXXXXXXXX
APELADO: Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro
OBJETO: Ação Penal. Lesão Corporal e Homicídio Culposo na condução de Veículo automotor. 
RECURSO DE APELAÇÃO
APELANTE: CARLOS XXXXXXXXX
APELADO: Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro
AUTOS ORIGINÁRIOS: n° XXXX.XXXXXX-XX
 
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE JANEIRO.
ILUSTRADA ___ TURMA
EMÉRITOS DESEMBARGADORES INTEGRANTES DESTA COLENDA TURMA JULGADORA
 
Autos n°_____________________________________
RAZÕES DO RECURSO
 I - DOS FATOS:
O Apelante foi denunciado pela suposta prática, em 08 de julho de 2017, nesta Comarca de São Gonçalo/RJ, de dois Homicídios Culposos na direção de veículo e pelo de Lesão Corporal na forma Culposa, igualmente na direção de automóvel, respectivamente tipificados nos Art. 302 e 303 do Código de Transito Brasileiro-CTB, Lei 9.503/1997. Um dos Homicídios sofreu majoração da pena, nos termos do Art. 61, inciso II, alínea “h” do Código Penal, por levar a óbito menor de idade.
Em sua defesa o Apelante, réu primário e de bons antecedentes, alegou que conduzia seu automóvel em velocidade compatível com a permitida para a via e que em face da existência de um buraco na pista, perdeu o controle da direção, vindo a colidir com outro veículo, onde seguiam as vítima JÚLIO XXXXXXXX e MÁRIO XXXXXXXXX. Também se envolveu no fatídico acidente, PEDRO XXXXXX que circulava pela via pública e que sofreu lesões de pequena gravidade, tendo se evadido do hospital por meios próprios, logo após o atendimento recebido. 
Os respectivos LAUDO PERICIAIS acostados aos autos determinaram INQUESTIONAVELMENTE, que o Apelante NÃO CONDUZIA em excesso de velocidade e que o buraco existe na via, seria suficiente para provocar ALTERAÇÃO BRUSCA na direção do automóvel, ressalvando entretanto que por inabilidade, o condutor não teria perícia suficiente para evitar a colisão.
Consta ainda que, PEDRO XXXXXXX, arrolado como vítima na referida Ação Penal, nunca compareceu em Sede Policial para narrar sua versão dos fatos ou tenha sido submetido a IMPRESCINDÍVEL exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal. Em específico, e relativamente a este “suposto” delito ao art. 303, do CTB, baseia-se o Douto Procurador do Ministério Público, exclusivamente no depoimento de ditas, “testemunhas” que “confirmam as lesões sofridas”. 
A sentença prolatada em 10 de julho de 2019, condenou ao Apelante pelos crimes denunciados. Em seu processo de dosimetria, o Exmo. Magistrado, reconheceu o concurso material, não acresceu ou mitigou o quantum penal, por não reconhecer razões para aumento ou redução da pena, mantendo-as no mínimo legal, exceto pelo delito relativo a vítima menor, o qual recebeu o respectivo agravamento de pena, já com o computo da agravante supra referida. A pena totalizada foi de 04 anos e nove meses de detenção com cumprimento da pena iniciado em Regime Fechado. 
Não se conformando com a decisão do Magistrado, ao Apelante vem tempestivamente, APELAR da sentença.
II – DO DIREITO:
1. Da condenação por Lesão Corporal: 
a. Como cediço, nos termos do art. 155, CPP, o juiz, “formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação”. 
b. Ora, ao condenar o Apelante por eventual delito de LESÃO CORPORAL, olvidou o Egrégio Magistrado, de que não foram produzidos nos autos quaisquer provas que afiram as condições indispensáveis para a culpabilidade do agente. A inexistência nos autos processuais do INDISPENSÁVEL LAUDO PERICIAL, nos termos do art. 158 do CPP, bem como, considerando tratar-se de eventual AÇÃO PENAL CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO, nos termos art. 88 da Lei 9.099/95, não poderia o Douto Ministério Público se movimentar sem a INDISPENSÁVEL MANIFESTAÇÃO DO OFENDIDO, já sobejariam razões mais que suficiente para EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE, como bem se posicionaram o TJ-MG e o TJ-PR:
i. “DECISÃO: ACORDAM os Desembargadores integrantes da PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ, por unanimidade de votos, declarar, de ofício, a extinção da punibilidade do agente pela prática dos crimes previstos no art. 303, do CTB, em razão da ausência de representação dos ofendidos, bem como negar provimento ao recurso na parte que condenou o réu pela prática de homicídio culposo. EMENTA: APELAÇÃO CRIME. HOMICÍDIO CULPOSO E LESÕES CORPORAIS NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR (ART. 302, § 1º, e ART. 303, PARÁGRAFO ÚNICO, AMBOS DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO). DECLARAÇÃO, DE OFÍCIO, DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE DO AGENTE, PELA PRÁTICA DOS DELITOS DE LESÃO CORPORAL CULPOSA. OFENDIDA QUE RENUNCIOU EXPRESSAMENTE AO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO, AINDA NA FASE ADMINISTRATIVA, E OFENDIDO QUE SEQUER O MANIFESTOU, DENTRO DO PRAZO DECADENCIAL. PLEITO DE ABSOLVIÇÃO DO HOMICÍDIO POR AUSÊNCIA DE PROVAS À DEMONSTRAÇÃO DA CULPA. IMPOSSIBILIDADE. CONJUNTO PROBATÓRIO APTO A FORMAR CONVICÇÃO DE CONDENAÇÃO. CULPA EVIDENCIADA (IMPRUDÊNCIA). RECORRENTE QUE, MESMO SEM POSSUIR PERMISSÃO OU HABILITAÇÃO PARA DIRIGIR, CONDUZIU VEÍCULO EM VELOCIDADE SUPERIOR À PERMITIDA NA VIA PÚBLICA E, AO REALIZAR MANOBRA PERIGOSA PARA DESVIAR DE UM BURACO, SAIU DA PISTA DE ROLAGEM E COLIDIU CONTRA UMA ÁRVORE. ACIDENTE QUE CAUSOU A MORTE DA PASSAGEIRA QUE ESTAVA SENTADA AO LADO DO AGENTE. QUEBRA DO DEVER DE CUIDADO OBJETIVO. 2 EXTINÇÃO, DE OFÍCIO, DA PUNIBILIDADE DO APELANTE EM RELAÇÃO AOS CRIMES DE LESÕES CORPORAIS CULPOSAS E NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO EM RELAÇÃO AO HOMICÍDIO CULPOSO. (TJPR - 1ª C.Criminal - AC - 1478841-3 - Barbosa Ferraz - Rel.: Macedo Pacheco - Unânime - - J. 09.06.2016) (TJ-PR - APL: 14788413 PR 1478841-3 (Acórdão), Relator: Macedo Pacheco, Data de Julgamento: 09/06/2016, 1ª Câmara Criminal, Data de Publicação: DJ: 1822 17/06/2016); “(Grifo nosso)
ii. EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL - CRIME DE TRÂNSITO - HOMICÍDIO CULPOSO - ART. 302, "CAPUT", DO CTB - CULPA NÃO COMPROVADA - AUSÊNCIA DE LAUDO PERICIAL - ABSOLVIÇÃO DECRETADA - ART. 386, VI DO CPP - MANUTENÇÃO.Inexistindo provas que apontem, com a necessária certeza, a responsabilidade do denunciado no fatídico acidente que culminou com a morte da vítima, impõe-se a absolvição do acusado, esta amparada no princípio do "in dubio pro reo", já que em direito penal, a dúvida é sempre interpretada em favor deste. (TJMG - Apelação Criminal 1.0699.12.000280-2/001, Relator(a): Des.(a) Sálvio Chaves , 7ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 23/05/2018, publicação da súmula em 30/05/2018).
2. Da Condenação por duplo Homicídio Culposo:
a. Desnecessário, mas conveniente reiterar que, preza o Direito Pátrio pela primazia das Liberdades e Garantias Individuais. Para a punição do agente e aplicação das medidas coercitivas estatais, está assegurado em nossa construção legal, jurisprudencial e doutrinária, que o corpo probatório deverá ter solidez suficiente para demonstrar o Nexo Causal, a fim de demonstrar INQUESTIONAVELMENTE a culpa do agente.
b. Não se verificou de forma CABAL que o Apelante agiu com imperícia na direção do veículo. Ao contrário, o Laudo Pericial, determina que não houve infração ao limite de velocidade permitido na via, que o veículo apresentava condições ideais de operação, e principalmentede que, de fato, UM BURACO NA PISTA DE ROLAMENTO, no local do acidente, seria causa do deslocamento do veículo para pista contrária. Prossegue o respectivo documento pressupondo que uma POSSÍVEL IMPERÍCIA do condutor, “poderia” contribuir com o resultado.
c. A mera leitura do referido laudo já expõe a superficialidade da prova ao apontar como “POSSÍVEL” a imperícia do condutor e que esta hipótese “PODERIA” dar causa ao resultado. Não se perfaz o Direito Penal por mera suposição, devendo a culpabilidade do agente ser demonstrada de forma convincente, o que não se verifica no caso em tela. Não resta dúvida de que ilustre Magistrado não se vê nos termos do art. 182, CPP “adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte”, de modo que poderia e deveria, em face do in dubio pro reu, nos termos do art. 386 do CPP ser afastada a punibilidade do Apelante.
d. Verificando-se que o corpo probatório ao contrário da solidez necessária, apresenta-se TÊNUE e ETÉRIO, restará ao julgador, desconsiderar a acusação, oferecendo ao denunciado o benefício da dúvida. Como demonstrou compreender os TJ-PI e TJ-CE:
i. PROCESSUAL PENAL � APELAÇAO � HOMICÍDIO CULPOSO � ACIDENTE DE TRÂNSITO � LAUDO DE EXAME EM LOCAL DE ACIDENTE, AFASTANDO CULPA DO ACUSADO � ALEGATIVA DE QUE A PROVA TÉCNICA QUEDOU-SE INCONCLUSIVA � INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DO �IN DUBIO PRO REU� - ROBUSTEZ DO LAUDO PERICIAL, ANTE A AUSÊNCIA DE ELEMENTOS INCRIMINADORES � ABSOLVIÇAO MANTIDA - APELO IMPROVIDO. 1.Existindo dúvida quanto à autoria delitiva, a absolvição é medida que se impõe. 2.Decisão unânime, em consonância com o parecer Ministerial Superior.(TJ-PI - ACR: 201100010009360 PI, Relator: Desa. Rosimar Leite Carneiro, Data de Julgamento: 10/05/2011, 1a. Câmara Especializada Criminal)
ii. PENAL. PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES DE TRÂNSITO. HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR (ART. 302, CAPUT, DO CTB). PLEITO MINISTERIAL PELA CONDENAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA. LAUDO PERICIAL INCONCLUSIVO. PROVA DÚBIA QUANTO A AUSÊNCIA DE DEVER DE CUIDADO DO RÉU. INCERTEZA QUANTO À DINÂMICA DOS FATOS. APLICAÇÃO DO IN DUBIO PRO REO. ABSOLVIÇÃO IMPERATIVA. RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA. Pugna o Parquet pela condenação do réu pelo crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor, alegando, para tanto, que "o sinistro aconteceu por imprudência e imperícia do apelado que, mesmo possuindo habilitação, trafegava em alta velocidade (após ingerir bebida alcoólica) e, ainda assim, resolveu ultrapassar a motocicleta." Sucede-se que não se pode admitir a tese da embriaguez do réu diante da fragilidade probatória, já que não fora realizado nenhum teste etilômetro (bafômetro), restando apenas indícios da sua ocorrência. Por sua vez, o Laudo Pericial acostado às páginas 09/19, pouco revelou sobre a dinâmica do episódio em si, não sendo conclusivo em identificar quem, de fato, fora o responsável pelo acidente. É cediço que para ocorrer a condenação pelo delito previsto no art. 302 do CTB, não é suficiente apenas a exigência da comprovação da materialidade e autoria do fato, mas também um terceiro requisito � a culpa � para que reste configurada o homicídio na direção de veículo automotor. Da leitura do caderno processual, entendo que os elementos de convicção disponibilizados nos autos não comprovam de forma coerente e segura, que o acusado tenha dado causa ao acidente, quer seja por imprudência, imperícia ou negligência. Isso porque, analisando o conjunto fático-probatório, não há certeza de que, no momento do acidente, o ora apelante tenha colidido seu veículo, de maneira culposa, com a moto do ofendido. Desse modo, paira nos autos uma série de dúvidas, controvérsias e incertezas acerca do delito em análise, impossibilitando a visualização lógica e certa sobre como, de fato, ocorreu o evento. Nesse sentido, havendo qualquer dubiedade sobre a conduta do acusado, o princípio penal do in dubio pro reo impõe a medida imediata de absolvição. Apelação conhecida e improvida. ACÓRDÃO ACORDAM os desembargadores integrantes da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por unanimidade, em conhecer do presente recurso para negar-lhe provimento, nos termos do voto da relatora. Fortaleza, 05 de maio de 2020. José Tarcílio Souza da Silva Presidente do Órgão Julgador Marlúcia de Araújo Bezerra Relatora(TJ-CE - APL: 00005711820088060108 CE 0000571-18.2008.8.06.0108, Relator: MARLÚCIA DE ARAÚJO BEZERRA, Data de Julgamento: 05/05/2020, 3ª Câmara Criminal, Data de Publicação: 06/05/2020).
III DO PEDIDO:
Pelo exposto, requer o Apelante seja reformada a decisão para:
1. Absolver CARLOS XXXXX do crime previsto no artigo 303 da Lei 9503/97 - Código de Transito Brasileiro pela suporta Lesão Corporal, nos termos do artigo 386, inciso VII do Código de Processo Penal.
2. Absolver CARLOS XXXXX do crime previsto no artigo 302 da Lei 9503/97 - Código de Transito Brasileiro pela suporta Lesão Corporal, nos termos do artigo 386, inciso VII do Código de Processo Penal.
Nestes termos,
Pedem e esperam deferimento.
23 de setembro de 2020
São Gonçalo, Rio de Janeiro
ANDERSON LESTHER DE SOUZA SILVA
OAB XXXX

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