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Locais de acidentes e crimes de trânsito

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LOCAIS DE 
ACIDENTES E 
CRIMES DE 
TRÂNSITO 
 
 
 
Autora: 
Amanda de Melo Bezerra 
2022 
 
 
Amanda de Melo Bezerra 
 
 
 Locais de Acidentes e Crimes de Trânsito 
www.estrategiaconcursos.com.br 
 2 
62 
Sumário 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................................ 3 
2. DOS CRIMES DE TRÂNSITO ........................................................................................... 5 
3. LOCAIS DE ACIDENTES E CRIMES DE TRÂNSITO .......................................................... 44 
3.1. TERMOS GERAIS ................................................................................................................................. 44 
3.2. TIPIFICAÇÃO DOS ACIDENTES E NOMECLATURAS ............................................................................. 45 
4. ATUAÇÃO DA PERÍCIA CRIMINAL EM LOCAIS DE ACIDENTES E CRIMES DE TRÂNSITO . 47 
4.1. PRINCÍPIOS DA PERÍCIA CRIMINAL ..................................................................................................... 47 
4.2. VESTÍGIOS MAIS FREQUENTES ........................................................................................................... 49 
4.2.1. DESCRIÇÃO E POSICIONAMENTO DOS VESTÍGIOS DE ATROPELAMENTOS ...................................................... 50 
4.3. INVESTIGAÇÃO E LEVANTAMENTO DE LOCAL ................................................................................... 50 
4.3.1. O PASSO-A-PASSO DA ANÁLISE DE UM ACIDENTE DE TRÁFEGO ...................................................................... 52 
5. QUESITAÇÃO .............................................................................................................. 61 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................ 62 
 
 
 
Amanda de Melo Bezerra 
 
 
 Locais de Acidentes e Crimes de Trânsito 
www.estrategiaconcursos.com.br 
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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
 
Um número cada vez maior de veículos terrestres nas vias brasileiras traz, a reboque, um número 
impressionante, até inaceitável, de acidentes automobilísticos que acabam vidas, deformam e destroem 
patrimônios pessoais e públicos. 
O Brasil está entre os dez primeiros países com maior número de mortes causadas por acidentes nas ruas, 
estradas e rodovias. Em 2020, 80 pessoas morreram por dia em consequência de acidente de trânsito no 
país (Fonte: Portal do Trânsito). 
Acidente de trânsito corresponde a “todo evento não premeditado de que resulte dano em veículo ou na 
sua carga e/ou lesões em pessoas e/ou animais, em que pelo menos uma das partes está em movimento nas 
vias terrestres ou áreas abertas ao público. Pode originar-se, terminar ou envolver veículo parcialmente na 
via pública” (NBR 10697). 
Abaixo, é possível ter uma ideia dos principais fatores que causam acidentes de trânsito no Brasil. 
 
Antes de 1998, não tínhamos disposições criminais previstas no Código de Trânsito Brasileiro. Passamos 
a tê-las somente no dia 23 de janeiro de 1998, quando entrou em vigor o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), 
instituído pela Lei Federal nº 9.503, de 1997. Até esse tempo, tínhamos apenas o homicídio culposo e a lesão 
corporal culposa como crimes de trânsito e as contravenções penais dos arts. 32 e 34, da Lei das 
Contravenções Penais. 
 
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A perícia criminal oficial, aquela vinculada ao Estado, de cunho científico e imparcial, é a responsável pela 
materialização do sinistro de trânsito, determinando sua dinâmica e estudando a causa determinante, 
gerando, ao final, um laudo pericial, que auxiliará o juiz no processo criminal ou civil. Esse documento, poderá 
dirimir dúvidas, apontas os culpados e os inocentes, auxiliando no andamento dos trâmites legais, desde o 
inquérito policial até o processo. 
A atuação do perito criminal nos locais de acidente de trânsito tem o importante papel de perpetuar os 
vestígios existentes ali, documentar e atribuir juízo técnico de valor aos fatos com a devida fundamentação 
científica, servindo como forte nos processos judiciais. O laudo pericial bem fundamentado não deixa 
margem para dúvidas ou, ao menos, diminui a incerteza acerca de um acidente de trânsito, colaborando em 
muito no entendimento dos fatos e responsabilização devida. 
O objetivo da disciplina é possibilitar que o aluno adquira os conhecimentos necessários para 
compreender uma análise pericial de um local de acidente de trânsito, vindo este a configurar um evento 
criminoso ou não. 
Para facilitar a compreensão da disciplina, vamos dividi-la em três momentos: no primeiro, abordaremos 
os crimes de trânsito à luz do CTB; no segundo, fazer uma breve abordagem sobre locais de acidentes e 
crimes de trânsito e, no terceiro, por fim, vamos discorrer sobre a atuação da perícia na investigação de 
locais de acidente e crimes de trânsito. 
 
 
 
Amanda de Melo Bezerra 
 
 
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2. DOS CRIMES DE TRÂNSITO 
 
Os crimes de trânsito iniciam-se com o art. 291, no Capítulo XIX do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), 
com uma importante ressalva que aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo 
Penal aos crimes previstos naquele Código. 
No CTB, há a parte geral e a parte especial quando nos referimos aos delitos. Assim, estudaremos essas 
duas partes. A primeira, vai do art. 291 até o art. 301; já a segunda vai do 302 até o art. 312. 
Na legislação de trânsito, na parte penal, encontramos crimes de dano, previstos nos arts. 302 e 303, que 
se referem aos homicídios e lesão corporal, ambos crimes culposos, e encontramos também crimes de 
perigo, previstos do art. 304 até art. 312, ora de perigo em concreto ora de perigo em abstrato, em ambos 
os casos sempre dolosos. 
O perigo concreto é aquele que precisa ser comprovado, isto é, deve ser demonstrada a situação de risco 
corrida pelo bem juridicamente protegido. O agente, na análise do perigo, irá reconhecê-lo por uma 
valoração subjetiva da probabilidade de superveniência de um dano, como excesso de velocidade, trânsito 
com veículos sobre calçadas. 
Em se tratando de crimes de trânsito aplica-se em primeiro lugar o CTB, devendo o CP e o CPP preencher 
suas lacunas. Dos onze delitos de trânsito previstos no CTB, pelo menos nove são crimes de menor potencial 
ofensivo (pena máxima até dois anos). 
Os crimes de menor potencial ofensivo são regulamentados pela lei 9099/95. Segundo o CTB, esses crimes 
podem ser punidos com multa, suspensão do direito de dirigir, proibição de obter o direito de dirigir e até 
de detenção em regime aberto ou semiaberto. 
Normalmente, tais crimes são considerados de natureza “culposa”. 
Vejamos cada um dos artigos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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ART. 291, CTB. 
Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas 
gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como 
a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber. 
Parágrafo único. Aplicam-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa, de embriaguez ao volante, e de 
participação em competição não autorizada o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro 
de 1995. 
§ 1º Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da Lei no 9.099, 
de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente estiver: (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº 11.705, de 
2008) 
I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência; (Incluído pelaLei nº 11.705, de 2008) 
II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de exibição ou demonstração 
de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente; (Incluído pela Lei nº 
11.705, de 2008) 
III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h (cinqüenta quilômetros por 
hora). (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008) 
§ 2º Nas hipóteses previstas no § 1o deste artigo, deverá ser instaurado inquérito policial para a investigação da 
infração penal. (Incluído pela Lei nº 11.705, de 2008) 
§ 3º (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.546, de 2017) 
§ 4º O juiz fixará a pena-base segundo as diretrizes previstas no art. 59 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro 
de 1940 (Código Penal), dando especial atenção à culpabilidade do agente e às circunstâncias e consequências 
do crime. (Incluído pela Lei nº 13.546, de 2017) 
Ao iniciar o Capítulo XIX do CTB, o artigo 291 nos deixa um conceito (ainda que simplório) do que vem a 
ser os crimes de trânsito: são aqueles cometidos na direção de veículos automotores. Tal classificação 
elimina, desde já, as condutas praticadas por condutores de veículos de tração animal (charrete / carroça) e 
de tração e propulsão humana (bicicleta / carro de mão). 
Embora o dispositivo em análise preveja a aplicação das normas gerais do Código Penal (do que se 
depreende a limitação aos primeiros 120 artigos, que constituem a Parte Geral daquele Código), há quem 
defenda o entendimento jurídico de que determinadas regras constantes da Parte Especial igualmente 
devam ser aplicadas (o que, particularmente, entendo como mais razoável), como é o caso do perdão judicial 
 
Amanda de Melo Bezerra 
 
 
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estabelecido pelo § 5º do artigo 121 do CP (“na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar 
a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal 
se torne desnecessária”). 
No que se refere à Parte Geral do CP, várias são as regras aplicáveis aos crimes de trânsito, cujo 
conhecimento se torna fundamental para a adequada compreensão da sanção penal, como as diferenciações 
entre crime consumado e tentado ou doloso e culposo, erros sobre o crime, excludentes de ilicitude, 
imputabilidade penal, entre tantas outras. Do mesmo modo, as normas processuais, trazidas pelo Código de 
Processo Penal, devem ser de domínio do profissional do trânsito, para que se entenda a forma de punição 
dos “criminosos do volante”. 
A Lei nº 9.099/95, além de ter ampliado a atuação dos Juizados Especiais Cíveis, foi responsável pela 
criação dos Juizados Especiais Criminais, destinados à persecução criminal das infrações penais de menor 
potencial ofensivo (todas as contravenções penais e os crimes cuja pena máxima não ultrapasse dois anos, 
conforme alteração da Lei nº 11.313/06). Assim, citada norma aplica-se a quase todos os crimes de trânsito, 
exceção feita aos crimes de homicídio culposo (artigo 302), lesão corporal culposa com aumento de pena 
(artigo 303, parágrafo único) e “embriaguez ao volante” (artigo 306), motivo pelo qual o § 1º do artigo 291 
deve ser assim analisado: 
1º - não se refere a todos os casos de lesão corporal culposa (pois a pena máxima estabelecida para o 
artigo 303, de 2 anos, acarreta a aplicação de toda Lei 9.099/95), mas tão somente aos casos de lesão culposa 
com aumento de pena, descrita no parágrafo único do artigo 303; 
2º - para lesão corporal com aumento de pena, somente se aplicam os artigos 74, 76 e 88 da Lei nº 
9.099/95, os quais versam, respectivamente, sobre composição civil, transação penal e representação. 
3º - na situação acima, não são aplicáveis os dispositivos dos Juizados Criminais, se o agente praticou o 
crime nas condições determinadas pelos incisos do § 1º do artigo 291. 
Quanto ao § 2º do artigo 291, incluído pela Lei nº 11.705/08, vale destacar sua redundância, posto que a 
instauração de inquérito policial para investigação de infração penal é justamente o procedimento correto, 
nos casos que não versem sobre infrações de menor potencial ofensivo, de acordo com os artigos 4º a 23 do 
CPP 
Voltando ao caput do artigo, a sua redação, à luz do § único, causou algumas controvérsias, pois somente 
o crime de lesão corporal culposa de trânsito era compatível com a exigência de representação, a composição 
civil extintiva da punibilidade e a transação penal (arts. 88, 74 e 76, da Lei 9.099/95). 
A exigência de representação não se compatibiliza com os crimes de embriaguez ao volante e racha (arts. 
306 e 308, do Código de Trânsito), delitos de ação penal pública incondicionada. 
 
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No que diz respeito à composição civil, embora fosse e seja sempre possível, em qualquer delito, era 
estranho imaginar que pudesse provocar extinção da punibilidade em crimes como a embriaguez ao volante 
e o racha (art. 306 e 308, do Código de Trânsito). 
Isso ocorria porque são crimes que normalmente causam situação de risco para muitas pessoas e não 
somente perigo e dano para pessoas certas e determinadas, como se verifica na lesão corporal culposa de 
trânsito (art. 303, do Código de Trânsito). 
Como consequência, o entendimento que prevaleceu foi o de que a representação e a composição civil 
extintiva da punibilidade limitavam-se ao crime de lesão corporal culposa de trânsito. Dessa forma, o § único 
foi expressamente revogado. 
Assim, aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa: 
• a composição dos danos civis, que será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença 
irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente; 
• a transação penal, que é a proposta do Ministério Público em aplicar de imediato pena restritiva de 
direitos ou multa; e 
• exigência de representação da vítima para que haja a ação penal. 
 Outro ponto importante é a suspensão do direito de dirigir. Esta pode ser aplicada nos crimes de trânsito 
também. O juiz poderá suspender após o trânsito em julgado ou como medida cautelar para garantia da 
ordem pública. O prazo da suspensão, na esfera penal, vai de 2 meses a 5 anos. Sendo que o STJ já se 
manifestou que esta suspensão deverá ser compatível com a privativa de liberdade. 
ART. 292, CTB. 
A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor pode ser 
imposta isolada ou cumulativamente com outras penalidades. 
A pena de suspensão ou proibição de se obter a permissão ou habilitação prevista no artigo 292 trata-se 
de uma sanção de natureza judicial, aplicada pelo juiz criminal, em decorrência do cometimento de 
determinados crimes de trânsito, não sendo, contudo, uma inovação do Código de Trânsito Brasileiro, tendo 
em vista que o Código Penal já a previa, como uma pena restritiva de direito, do tipo “interdição temporária 
de direito” (artigo 47, inciso III, do CP). 
 
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Os crimes de trânsito que a preveem, expressamente, são: homicídio culposo (artigo 302), lesão corporal 
culposa (artigo 303), “embriaguez ao volante” (artigo 306), violação de suspensão anteriormente imposta 
(artigo 307) e participação em competição não autorizada (artigo 308). 
Diferentemente da sanção administrativa, de suspensão do direito de dirigir (prevista nos artigos 256, III, 
e 265), a pena criminal pode atingir também aqueles que cometeram crimes e não são habilitados, já que 
engloba tanto a suspensão quanto a PROIBIÇÃO de se habilitar. 
Embora o artigo 292 estabeleça a possibilidade de aplicação da pena de maneira isolada, interessante 
notar que, nos cinco crimes de trânsitomencionados, a suspensão ou proibição é prevista como penalidade 
cumulativa à pena privativa de liberdade, de detenção. 
Os artigos seguintes (293 a 296) estabelecem os critérios para que a autoridade judiciária imponha este 
tipo de sanção ao autor de delito de trânsito. 
Cabe comentar aqui a impropriedade do termo “proibição de se obter a permissão OU a habilitação”, já 
que a atual legislação de trânsito, ao tratar do processo de formação de condutores, não admite a obtenção 
da Carteira Nacional de Habilitação, de maneira direta, sendo necessário que se inicie pela Permissão para 
Dirigir, como se verifica no § 2º do artigo 148: “Ao candidato aprovado será conferida Permissão para Dirigir, 
com validade de um ano”, conferindo-se a CNH apenas após este prazo e desde que o condutor não tenha 
cometido nenhuma infração de trânsito de natureza grave ou gravíssima, nem seja reincidente em infrações 
médias (artigo 148, § 3º). 
ART. 293, CTB. 
A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação, para dirigir veículo 
automotor, tem a duração de dois meses a cinco anos. 
§ 1º Transitada em julgado a sentença condenatória, o réu será intimado a entregar à autoridade judiciária, em 
quarenta e oito horas, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação. 
§ 2º A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo 
automotor não se inicia enquanto o sentenciado, por efeito de condenação penal, estiver recolhido a 
estabelecimento prisional. 
A penalidade de suspensão do direito de dirigir prevista do artigo 292 a 296 constitui sanção penal e se 
trata de uma retirada temporária da licença concedida pelo Estado, aplicada pelo JUIZ, em decorrência do 
cometimento de um crime de trânsito. Não se trata, na verdade, de inovação do Código de Trânsito 
Brasileiro, de vez que o Código Penal, ao tratar de penas alternativas, estabelece, como uma pena de 
 
Amanda de Melo Bezerra 
 
 
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interdição temporária de direitos, a “suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo” (artigo 
47, inciso III). Enquanto a sanção administrativa de suspensão do direito de dirigir, aplicada pelo órgão 
executivo de trânsito estadual (Detran), nos termos do artigo 261 do CTB, tem a duração de 1 para 6 meses, 
no caso da suspensão judicial o tempo de punição varia de 2 meses a 5 anos. 
Outra peculiaridade é que, além da possibilidade de se punir alguém que já é habilitado, que ficará este 
tempo impedido de dirigir veículo automotor, a sanção pode alcançar também aquele que ainda não se 
habilitou, o qual ficará proibido de se habilitar, pelo prazo fixado judicialmente, que pode ter a mesma 
variação indicada. 
O § 1º estabelece que “transitada em julgado a sentença condenatória” (isto é, quando não houver mais 
viabilidade de recurso, seja porque já se chegou na última instância, seja pelo decurso de prazo recursal), o 
réu será intimado a entregar a PPD ou CNH, em um prazo de 48 horas, sendo que a desobediência configura 
crime de trânsito do artigo 307 do CTB (violação da suspensão), com pena de detenção de seis meses a um 
ano, tendo em vista o disposto no seu parágrafo único: “Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa 
de entregar, no prazo estabelecido no § 1º do art. 293, a Permissão para Dirigir ou a Carteira de Habilitação”. 
Obviamente, o Código de Trânsito procurou estabelecer que o período de suspensão determinado NÃO 
SERÁ computado enquanto o sentenciado, por efeito de condenação penal, estiver recolhido a 
estabelecimento prisional, uma vez que a própria privação de liberdade já acarretaria a impossibilidade de 
se dirigir veículo, o que tornaria inócua a sanção imposta. 
ART. 294, CTB. 
Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade para a garantia da ordem pública, 
poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público ou ainda mediante 
representação da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da 
habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção. 
Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou da que indeferir o requerimento 
do Ministério Público, caberá recurso em sentido estrito, sem efeito suspensivo. 
A suspensão do direito de dirigir (ou proibição de habilitação), imposta como sanção de natureza penal, 
exclusivamente pelo juiz criminal, pode variar de dois meses a cinco anos (artigo 292 do CTB), e é prevista 
como pena aplicável aos crimes de trânsito de homicídio culposo (artigo 302), lesão corporal culposa (303), 
embriaguez ao volante (306), violação de suspensão anterior (307) e participação em competição não 
autorizada (308). 
 
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A regra é que seja decorrente de condenação criminal, mas pode, nos termos do artigo 294, ocorrer de 
maneira preventiva, como medida cautelar. A competência desta punição antecipada, embora anterior à 
decisão final no processo, continua recaindo sobre a autoridade judiciária e pode se dar em três situações 
distintas: 
- por decisão própria do juiz (aplicada de ofício); 
- em atendimento ao requerimento do Ministério Público; 
- em atendimento à representação da autoridade de polícia judiciária (Delegado de polícia responsável 
pela apuração criminal). 
Trata-se de um ato discricionário do juiz, que deve analisar a conveniência e oportunidade de sua decisão, 
levando-se em consideração, como fator objetivo, a necessidade de garantia da ordem pública, o que ocorre, 
por exemplo, nos casos que geram um clamor social, com plena identificação do autor do crime e a 
consequente exigência de que seja, de pronto, reprimida a sua conduta irregular. Embora discricionária, 
impõe-se que a decisão seja motivada, até para que seja possível a sua contestação, tanto no caso da sua 
imposição quanto na sua negativa (respectivamente, pelo apenado, ou pelo Ministério público / Delegado 
de polícia). 
O recurso em sentido estrito, mencionado no parágrafo único, deve atender às regras estabelecidas nos 
artigos 574 a 592 do Código de Processo Penal (aplicáveis aos crimes de trânsito, conforme estabelece o 
artigo 291 do CTB). Dentre elas, destaca-se o prazo de cinco dias para sua interposição, a possibilidade de 
que seja interposto por petição ou por termo nos autos e a competência para sua apreciação, que é do 
Tribunal de Apelação. 
A inexistência de efetivo suspensivo significa que, enquanto não julgado o recurso interposto, continuará 
valendo a decisão motivada do juiz. 
ART. 295, CTB. 
A suspensão para dirigir veículo automotor ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação será sempre 
comunicada pela autoridade judiciária ao Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, e ao órgão de trânsito do 
Estado em que o indiciado ou réu for domiciliado ou residente. 
 Após a aplicação da pena criminal, de suspensão ou proibição de se obter a permissão ou habilitação, há 
a necessidade de que a autoridade judiciária sancionadora comunique ao órgão executivo de trânsito do 
Estado em que o indiciado ou réu for domiciliado ou residente, para que se registre a sanção imposta em seu 
prontuário e dê cumprimento à pena. 
 
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A vinculação do domicílio ou residência ao órgão de trânsito que deve ser notificado decorre do fato de 
que esta é a regra para se habilitar, de acordo com o artigo 140, ou seja, da mesma forma que o condutor 
deve realizar o seu processo de formação no órgão de trânsito do Estado em que reside, é neste órgão que 
deve estar registrada a sua habilitação e, consequentemente, incluída qualquerinformação decorrente de 
pena aplicada. 
Outra consequência desta comunicação consiste em se evitar que este tipo de punição seja aplicada 
também pela autoridade de trânsito, pelo mesmo fato praticado, tendo em vista que a ocorrência que tenha 
gerado a sanção criminal pode, eventualmente, caracterizar infração de trânsito sujeita à penalidade 
administrativa de mesma natureza (suspensão do direito de dirigir). Embora se tratem de penas impostas 
em esferas diferentes (administrativa e criminal), o efeito é justamente o mesmo e, destarte, não seria 
correto impor ambas as penas, posto que isto caracterizaria o chamado bis in idem (dupla punição pelo 
mesmo fato), o que é vedado pelo ordenamento jurídico brasileiro. 
Não há, por outro lado, qualquer serventia o cumprimento do mandamento legal do artigo 295, no 
tocante à comunicação ao Conselho Nacional de Trânsito, já que as atribuições deste órgão normativo, 
consultivo e coordenador não contemplam qualquer competência relacionada ao controle de penas 
aplicadas aos condutores; no máximo, haveria um interesse por parte do órgão máximo EXECUTIVO de 
trânsito da União (Denatran), em vista da sua responsabilidade em organizar e manter o Registro Nacional 
de Carteiras de Habilitação – RENACH (artigo 19, inciso VIII), mas a comunicação ao órgão estadual de 
trânsito já supriria esta necessidade. 
ART. 296, CTB. 
Se o réu for reincidente na prática de crime previsto neste Código, o juiz aplicará a penalidade de suspensão da 
permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor, sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis. 
(Redação dada pela Lei nº 11.705, de 2008). 
O artigo 296 prevê a aplicação de uma sanção penal, em decorrência de um aspecto complementar à 
conduta criminosa propriamente dita, ou seja, pune-se não o ato praticado em si, mas a reincidência de sua 
ocorrência (não havendo previsão quanto ao lapso temporal que deve ter transcorrido entre as duas 
ocasiões). 
Até 2008, este dispositivo trazia a redação de que o juiz poderia aplicar tal penalidade, dando a entender 
que se tratava de um ato discricionário da autoridade judiciária, o que foi alterado pela Lei nº 11.705/08, 
 
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para estabelecer que o juiz aplicará (o que significa que o ato deixou de ser discricionário, para ser vinculado, 
obrigando a sua adoção nos casos especificados pela lei). 
A penalidade mencionada é a de “suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor”, 
tratada pelo Código de Trânsito a partir de seu artigo 292, por um prazo que pode variar de 2 (dois) meses a 
5 (cinco) anos. Embora a nomenclatura utilizada no artigo 296 esteja incompleta, é de se entender que, 
àquele que não é habilitado, caberá a imposição da proibição de se obter a Carteira Nacional de Habilitação. 
Cabe consignar que existem cinco crimes de trânsito que já preveem, expressamente, a imposição desta 
pena pelo juiz e, desta forma, não será necessário aguardar a reincidência, para que se promova a suspensão 
da habilitação do condenado: homicídio culposo (artigo 302), lesão corporal culposa (artigo 303), 
“embriaguez ao volante” (artigo 306), violação de suspensão anteriormente imposta (artigo 307) e 
participação em competição não autorizada (artigo 308). 
Desta forma, só há lógica na previsão normativa do artigo 296, que permite a suspensão judicial aos 
reincidentes, para a punição criminal dos outros seis crimes de trânsito: omissão de socorro (artigo 304), 
fuga do local de acidente (artigo 305), falta de habilitação (artigo 309), entrega de veículo a pessoa não 
habilitada (artigo 310), velocidade incompatível em locais de aglomeração de pessoas (artigo 311) e fraude 
processual no trânsito (artigo 312). 
ART. 297, CTB. 
A penalidade de multa reparatória consiste no pagamento, mediante depósito judicial em favor da vítima, ou 
seus sucessores, de quantia calculada com base no disposto no § 1º do art. 49 do Código Penal, sempre que 
houver prejuízo material resultante do crime. 
§ 1º A multa reparatória não poderá ser superior ao valor do prejuízo demonstrado no processo. 
§ 2º Aplica-se à multa reparatória o disposto nos arts. 50 a 52 do Código Penal. 
§ 3º Na indenização civil do dano, o valor da multa reparatória será descontado. 
A penalidade de multa reparatória constitui uma inovação do Código de Trânsito, frente às regras do 
Direito penal, tendo em vista que procura repor, diretamente à vítima de um crime de trânsito, o dano 
causado pelo autor, enquanto que as penas, de uma maneira geral, apenas servem ao propósito de punição 
do criminoso, sem se preocuparem com a reposição do estado anterior daquele que foi diretamente 
atingido; normalmente, para que ocorra uma efetiva indenização, o interessado deve ingressar com ação 
judicial de reparação de danos, em âmbito civil. Neste aspecto, uma questão curiosa que também se observa, 
 
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com este instituto, é que a lei estabeleceu, na esfera do juízo criminal, a possibilidade de uma decisão que 
seria inerente ao juízo cível. 
Outra polêmica que tem sido questionada, no tocante à multa reparatória, reside no fato de que não há, 
nos tipos penais constantes dos artigos 302 a 312 do CTB, nenhum crime que preveja, textualmente, a multa 
reparatória como pena a ser aplicada, o que, em tese, contraria o princípio da reserva legal, consubstanciado 
no artigo 5º, inciso XXXIX, da Constituição Federal: “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena 
sem prévia cominação legal”. Pela constitucionalidade do artigo 297 do CTB, alguns juristas argumentam a 
defesa da dignidade da pessoa humana, que constitui um dos fundamentos da República Federativa do Brasil 
(artigo 1º, inciso III, da CF) e que, portanto, a multa reparatória não teria a natureza de sanção penal, mas 
seria apenas uma garantia legal de indenização mais célere à vítima do crime, normalmente negligenciada 
pela tutela penal do Estado. 
Feitas estas considerações iniciais, passemos às explicações sobre a imposição da multa reparatória aos 
crimes de trânsito: 
- destina-se apenas a cobrir os danos materiais sofridos pela vítima (não abrangendo danos morais), não 
podendo, pois, ser superior ao prejuízo demonstrado no processo; ademais, o valor fixado pelo juiz deve ser 
descontado de eventual indenização civil posterior, evitando-se, assim, enriquecimento ilícito da vítima; 
- diferentemente da pena de multa, imposta em condenação criminal, cujo valor é depositado no fundo 
penitenciário, a multa reparatória é devida diretamente à vítima ou seus sucessores (segundo o artigo 51 do 
Código Penal, que também lhe é aplicável, alterado pela Lei nº 9.268/96, transitada em julgado a sentença 
condenatória, a multa passa a ser considerada dívida de valor e, portanto, pode ser executada mediante 
ação judicial); 
- o seu cálculo, segundo artigo 49 do Código Penal, pode ensejar uma quantia de, no mínimo, 10 (dez) e, 
no máximo, 360 (trezentos e sessenta) dias-multa, sendo que cada dia-multa será fixado pelo juiz, entre um 
trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente e cinco vezes esse salário; 
- o pagamento deve ser realizado dentro de 10 dias depois de transitado em julgado a sentença, podendo 
ser parcelado, conforme as circunstâncias, mediante decisão judicial ou, em alguns casos, descontado 
diretamente no vencimento ou salário do condenado; além disso, é suspenso se sobrevém ao condenado 
doença mental (artigos 50 e 52 do Código Penal). 
 
 
 
 
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ART. 298, CTB. 
São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de trânsito ter o condutor do veículo cometido 
a infração: 
I - com danopotencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de grave dano patrimonial a terceiros; 
II - utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas; 
III - sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; 
IV - com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria diferente da do veículo; 
V - quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o transporte de passageiros ou de carga; 
VI - utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou características que afetem a sua 
segurança ou o seu funcionamento de acordo com os limites de velocidade prescritos nas especificações do 
fabricante; 
VII - sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente destinada a pedestres. 
Os onze crimes de trânsito estão estabelecidos nos artigos 302 a 312 do CTB, com previsão de pena de 
detenção, num prazo mínimo de seis meses (o único crime cuja pena mínima é superior a este limite é o 
homicídio culposo na direção de veículo automotor, artigo 302, com pena a partir de dois anos) e prazo 
máximo de um ano (artigos 304, 305, 307, 309, 310, 311 e 312), dois anos (artigos 303 e 308), três anos 
(artigo 306) ou quatro anos (artigo 302). 
Para que se estabeleça, exatamente, qual é a pena em cada crime cometido, o juiz utiliza alguns critérios 
determinados na legislação penal: culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade do agente, 
motivos, circunstâncias e consequências do crime, bem como o comportamento da vítima (artigo 59 do 
Código Penal). 
São as circunstâncias determinadas pelo artigo 298 do CTB que auxiliarão nesta fixação da pena, para que 
se defina um período específico, dentro dos limites mínimos e máximos determinados para cada tipo penal. 
Além destas circunstâncias específicas, a pena também pode ser agravada nos termos do artigo 61 do Código 
Penal (entre outros, a reincidência, o motivo fútil ou torpe, ou o crime contra ascendente, descendente, 
irmão ou cônjuge). 
Embora o artigo 298 não esteja redigido da mesma forma que o seu correlato da legislação penal 
mencionado, as circunstâncias agravantes não podem ser utilizadas nos casos em que elas próprias 
 
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constituírem ou qualificarem determinado crime, a fim de que a pessoa não seja punida duas vezes pela 
mesma conduta praticada (princípio penal denominado non bis in idem). O inciso III, por exemplo, caracteriza 
justamente o crime de trânsito do artigo 309, se o condutor gerar perigo de dano e, portanto, não poderá 
ser circunstância agravante do próprio artigo 309. De igual forma, não poderá ser utilizado, como agravante, 
nos crimes de homicídio culposo (artigo 302) e lesão corporal culposa (artigo 303), posto que a falta de 
habilitação constitui causa de aumento de pena para ambos os delitos (o que também ocorre em relação aos 
incisos V e VII). 
Do mesmo modo que existem circunstâncias que agravam a fixação da pena, o juiz leva em consideração 
também as atenuantes, que, apesar de não constarem do Código de Trânsito, estão determinadas no artigo 
65 do Código Penal (aplicável aos crimes de trânsito, por expressa previsão legal – artigo 291 do CTB). São 
exemplos de circunstâncias atenuantes: ser o autor do crime menor de 21 anos, na data do fato, ou maior 
de 70 anos, na data da sentença; o desconhecimento da lei; a confissão espontânea, perante a autoridade, 
da autoria do crime, entre outras. 
ART. 299, CTB. 
VETADO 
ART. 300, CTB. 
VETADO 
ART. 301, CTB. 
Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte vítima, não se imporá a prisão em 
flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral socorro àquela. 
A prestação de pronto e integral socorro à vítima de ocorrência de trânsito constitui, conforme o artigo 
301 do CTB, óbice para que o condutor do veículo seja preso de imediato, não podendo nem mesmo ser 
arbitrada fiança como condição da liberdade provisória, ou seja, haverá o registro do fato, junto à polícia 
judiciária, para o correspondente inquérito policial, todavia sem a prisão em flagrante delito do autor do 
fato. 
 Por se tratar de ocorrências com vítimas, tal artigo refere-se ao cometimento de dois crimes de trânsito: 
o homicídio culposo na direção de veículo automotor (artigo 302) e a lesão corporal culposa (artigo 303), 
 
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para os quais é prevista a pena de detenção, de dois a quatro anos (quando houver morte) e de seis meses 
a dois anos (ferimentos). 
 O flagrante delito é definido pelo artigo 302 do Código de Processo Penal e se caracteriza quando 
alguém estiver em uma das seguintes situações: I - está cometendo a infração penal; II - acaba de cometê-
la; III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça 
presumir ser autor da infração; e IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis 
que façam presumir ser ele autor da infração. 
 A concessão de fiança, por sua vez, encontra-se regulamentada pelo Capítulo VI do CPP (artigo 322 e 
seguintes), sendo possível a sua imposição pela autoridade policial nos casos de infração cuja pena privativa 
de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos (alteração dada pela Lei n. 12.403/11), num valor 
que pode variar de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos ou, ainda, ser dispensada, reduzida até o máximo de 
2/3, ou aumentada em até 1.000 (mil) vezes, conforme a situação econômica do preso (artigo 325 do CPP). 
 No caso da lesão corporal culposa, independente da previsão do artigo 301 do CTB, já não poderia 
mesmo ocorrer a prisão em flagrante delito, pela autoridade de polícia judiciária, daquele que se encontre 
em uma das condições expostas acima, pois a pena máxima atribuída a este crime é de 2 anos (quando 
inexistentes causas de aumento de pena), o que exige a aplicação das regras atinentes ao Juizado Especial 
Criminal, nos termos da Lei n. 9.099/95; assim, prevê o seu artigo 69 que não há prisão em flagrante, nem é 
arbitrada a fiança, desde que, mediante a lavratura de Termo Circunstanciado, o envolvido assuma o 
compromisso de comparecimento em audiência a ser designada pelo Poder Judiciário (na verdade, quando 
o CTB entrou em vigor, em 1998, o artigo 301 estava inovando o procedimento dispensado à lesão corporal, 
pois a sua pena máxima de 2 anos exigia o flagrante, sendo que somente passou a ser considerada como de 
menor potencial ofensivo em 2006, com a alteração da Lei n. 9.099 pela Lei n. 11.313/06) . 
 Importante destacar também que a omissão de socorro é uma das causas de aumento de pena, de 1/3 
à metade, tanto para o homicídio quanto para a lesão corporal (artigo 302, § 1º, inciso III e 303, parágrafo 
único); logo, tal condição alteraria, por si só, o tratamento jurídico a ser dado ao autor do crime, quando do 
registro junto à polícia judiciária, nos termos da legislação penal e processual penal em vigor. 
 
 
 
 
 
 
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ART. 302, CTB. 
Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: 
Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para 
dirigir veículo automotor. 
§ 1º. No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) à 
metade, se o agente: 
I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; 
II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada; 
III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente; 
IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros.§ 2º. (Revogado pela Lei nº 13.281, de 2016) 
 § 3º Se o agente conduz veículo automotor sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa 
que determine dependência: 
Penas - reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de se obter a permissão ou a 
habilitação para dirigir veículo automotor. 
 (§ 3º incluído pela Lei nº 13.546, de 2017). 
O crime do artigo 302 inaugura a Seção II do Capítulo XIX do CTB, que versa sobre os crimes de trânsito, 
prevendo a conduta de matar alguém de maneira culposa, na direção de veículo automotor. Como se verifica 
neste comentário introdutório, a conduta punível é a de matar alguém e não a de praticar homicídio, redação 
equivocada do legislador de trânsito. 
Aliás, para que seja possível compreender a aplicação deste dispositivo legal, faz-se necessário entender, 
inicialmente, o que é homicídio (nome dado pelo Código Penal ao crime previsto em seu artigo 121 – matar 
alguém) e, num segundo momento, o que é o crime culposo (segundo o artigo 18, inciso II, do Código Penal, 
é aquele cometido quando o agente deu causa ao resultado imprudência, negligência ou imperícia, isto é, 
sem a intenção de que ocorresse a morte da vítima). 
 
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Portanto, duas são as condições para a ocorrência do crime do artigo 302: 1ª) que o autor não tenha 
provocado a morte de maneira intencional; 2ª) que tenha sido cometido na direção de um veículo 
automotor. 
Cabe consignar, desta forma, que, se o autor do crime teve a intenção ou assumiu o risco na produção do 
resultado (o que é analisado diante das circunstâncias de cada fato), a punição deixa de ser a prevista no 
artigo 302 do CTB (detenção de dois a quatro anos), para ser a constante do artigo 121 do Código Penal: 
reclusão de seis a vinte anos. 
A pena cumulativa de “suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo 
automotor” não se confunde com a suspensão administrativa, imposta pelo órgão de trânsito, pois se trata 
de sanção judicial, aplicada pelo juiz, nos termos dos artigos 292 a 296, num período que pode variar de dois 
meses a cinco anos. 
Embora o artigo 291 preveja que, aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, aplicam-se 
as normas gerais do Código Penal, um entendimento predominante sobre o assunto é o de que, ao crime de 
trânsito de homicídio culposo, também é aplicável a regra do perdão judicial, previsto na parte especial do 
CP, especificamente no § 5º do artigo 121: “No caso de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a 
pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se 
torne desnecessária”; o que acontece, por exemplo, em uma situação de atropelamento não intencional de 
um filho, quando o pai vai manobrar o veículo para sair da garagem. 
O § 1º do artigo 302 estabelece as quatro causas de aumento de pena, das quais destacamos o inciso III, 
que versa sobre a omissão de socorro: por se tratar de circunstância prevista para o aumento de pena do 
causador da morte de alguém, neste caso, estará afastado o cometimento isolado do crime específico do 
artigo 304 do CTB, que versa justamente sobre a omissão de socorro (ou seja, o crime de omissão somente 
se configura de maneira subsidiária, quando o condutor não for o responsável pela morte). 
A inserção do § 3º é, sem dúvida, a principal alteração trazida pela Lei n. 13.546/17, já que o objetivo do 
PL que lhe deu origem (n. 5.568/13) era exatamente aumentar as penas do condutor que, sob influência de 
álcool, causa mortes no trânsito. 
A combinação das condutas de “dirigir sob influência de álcool” e “matar alguém, na direção de veículo”, 
que constituem crimes autônomos (respectivamente, artigos 306 e 302 do CTB) tem sido tratada de várias 
formas, ao longo do tempo, merecendo destaque as seguintes alterações no CTB: 
- de 2006 a 2008, o fato de o condutor estar sob influência de álcool constituía causa de aumento de pena 
(de um terço à metade) nos crimes de homicídio culposo (artigo 302, § 1º, V) e lesão corporal culposa (artigo 
303, parágrafo único) – tal inciso foi incluído pela Lei n. 11.275/06 e revogado pela Lei n. 11.705/08; e 
 
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- de 2014 a 2016, a ocorrência de morte, causada por condutor com alteração da capacidade psicomotora 
passou a ser tratada como uma forma qualificada do homicídio culposo (sem a mesma menção no crime de 
lesão corporal culposa), por conta da inclusão do § 2º ao artigo 302, pela Lei n. 12.971/14, o qual, entretanto, 
foi revogado pela Lei n. 13.281/16 (estranhamente, porém, esta forma qualificada apenas ‘mudava’ a pena 
privativa de liberdade, em vez de DETENÇÃO de 2 a 4 anos, para RECLUSÃO de 2 a 4 anos, mas sem aumento 
na dosimetria). 
Além disso, existem posicionamentos divergentes na doutrina e jurisprudência quanto a dois aspectos 
fundamentais, para se determinar qual será a punição do motorista que bebe, dirige e mata: 
1º) O crime (homicídio causado por motorista embriagado) é culposo ou doloso? Há um posicionamento 
(não dominante) de que o motorista bêbado que causa a morte de outra pessoa deva ser processado pelo 
crime de homicídio DOLOSO, previsto não no CTB, mas no Código Penal (artigo 121), com pena de 6 a 20 
anos (muito maior que a pena de 2 a 4 anos, do crime de trânsito), na modalidade de dolo EVENTUAL (em 
que o autor do crime assume o risco de produzir o resultado). Tal conclusão depende, unicamente, da análise 
das circunstâncias de cada caso e, portanto, não havia uma forma de dizer, até então, que TODO crime de 
homicídio (ou lesão corporal) causado por motorista embriagado é CULPOSO ou DOLOSO; e 
2º) Por serem crimes autônomos, quando praticados em conjunto, um absorve o outro (princípio da 
consunção) ou devem ser somados (concurso material, nos termos do artigo 69 do CP)? É possível encontrar, 
tanto na doutrina, quanto na jurisprudência, os dois posicionamentos. Se defendermos a consunção, o crime 
de alcoolemia ao volante deixa de ser apenado, restando apenas o homicídio; se, por outro lado, 
entendermos que há concurso material, a pena poderia chegar a até 7 anos (4 anos do homicídio culposo, 
se aplicada a pena máxima + 3 anos da alcoolemia) ou a até 27 anos, se juntarmos com a explicação anterior, 
quanto ao dolo eventual (20 do homicídio doloso + 3 da alcoolemia). 
Assim, podemos dizer que, SEM QUALQUER ALTERAÇÃO no CTB, seria possível um maior rigor da punição 
aos ébrios do volante, bastando que Ministério Público e, principalmente, Poder Judiciário dessem a cada 
caso, a interpretação menos benevolente, contemplando a tese do dolo eventual e do concurso material de 
crimes. 
A inclusão do § 3º ao artigo 302, apesar de trazer uma pena maior do que a prevista para o homicídio 
culposo, sem a qualificadora da alcoolemia, acaba por repercutir em três questões cruciais: 
1ª) não será mais possível conceber esta situação como crime doloso, pois a própria Lei já determina que 
é uma forma qualificada do culposo (o que ocorreu em 2006 e em 2014, que, exatamente por este motivo, 
foi revogado em 2008 e, novamente, em 2016); 
 
 
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2ª) não será mais possível adotar a tese de concurso material, pois o crime do artigo 306 passou a ser 
subsidiário (assim como ocorre com a omissão de direitos, conforme artigo 44 do Código Penal (era isso que 
o § 3º do artigo 291 pretendia evitar, mas foi vetado); neste sentido, vale destacar que o artigo 312-A do 
CTB, incluído pela Lei n. 13.281/16, prescreve que a pena alternativa deve ser imposta como prestação de 
serviço à comunidade ou a entidades públicas, de atendimentoàs vítimas de trânsito. 
Em suma, a inserção do § 3º não merece ser tão festejada assim, pois, sem ela, seria possível alcançar 
resultados mais rigorosos em termos de punição. Vale lembrar que os (poucos) casos de condenação (ou 
processos em andamento) por dolo eventual e/ou concurso material poderão, inclusive, serem revistos, em 
consideração ao princípio da retroatividade da lei penal mais benéfica (artigo 5º, inciso XL, da Constituição 
Federal). 
Por fim, destacamos uma impropriedade redacional na pena acessória do § 3º do artigo 302: “suspensão 
ou proibição do direito de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor”, pois foram 
colocadas duas palavras a mais aí (‘do direito’), já que a nomenclatura correta, prevista no artigo 292 e em 
todos os crimes em que ela aparece, é “suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação 
para dirigir veículo automotor”. 
Vamos aprofundar! 
- Segundo o STF, o crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor, tipificado no art. 302 
do CTB, prevê, como uma das penas aplicadas, a “suspensão ou proibição de se obter a permissão ou 
a habilitação para dirigir veículo automotor.” Se o réu que praticou este crime é motorista profissional, 
ele pode, mesmo assim, receber essa sanção ou isso violaria o direito constitucional ao trabalho? Não 
viola. O condenado pode sim receber essa sanção, ainda que se trate de motorista profissional. 
É constitucional a imposição da pena de suspensão de habilitação para dirigir veículo automotor ao 
motorista profissional condenado por homicídio culposo no trânsito. O direito ao exercício de 
atividades profissionais (art. 5º, XIII) não é absoluto e a restrição imposta pelo legislador se mostra 
razoável. 
- Segundo o STJ, o fato de os delitos terem sido cometidos em concurso formal não autoriza a extensão 
dos efeitos do perdão judicial concedido para um dos crimes, se não restou comprovada, quanto ao 
outro, a existência do liame subjetivo entre o infrator e a outra vítima fatal. 
- Segundo o STJ, não se aplica o instituto do arrependimento posterior (art. 16 do CP) para o homicídio 
culposo na direção de veículo automotor (art. 302 do CTB) mesmo que tenha sido realizada composição 
civil entre o autor do crime a família da vítima. Para que seja possível aplicar a causa de diminuição de 
 
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pena prevista no art. 16 do CP é indispensável que o crime praticado seja patrimonial ou possua efeitos 
patrimoniais. 
- Segundo o STJ, o fato de o autor de homicídio culposo na direção de veículo automotor estar com a 
CNH vencida não justifica a aplicação da causa especial de aumento de pena descrita no inciso I do § 
1º do art. 302 do CTB. O inciso I do § 1º do art. 302 pune o condutor que "não possuir Permissão para 
Dirigir ou Carteira de Habilitação". O fato de o condutor estar com a CNH vencida não se amolda a essa 
previsão não se podendo aplicá-lo por analogia in malam partem. 
- Segundo o STJ, para a incidência da causa de aumento de pena prevista no art. 302, § 1º, IV, do CTB, 
é irrelevante que o agente esteja transportando passageiros no momento do homicídio culposo 
cometido na direção de veículo automotor. 
ART. 303, CTB. 
Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: 
Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação 
para dirigir veículo automotor. 
§ 1º (Redação dada pela Lei nº 12.971, de 2014 e renumerado para § 1º pela Lei nº 13.546, de 2017) 
§ 2º A pena privativa de liberdade é de reclusão de dois a cinco anos, sem prejuízo das outras penas previstas 
neste artigo, se o agente conduz o veículo com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool 
ou de outra substância psicoativa que determine dependência, e se do crime resultar lesão corporal de natureza 
grave ou gravíssima. (Incluído pela Lei nº 13.546, de 2017). 
Assim como ocorre com o artigo 302, que prevê o crime de trânsito de “homicídio culposo”, para 
compreensão da infração penal descrita no artigo 303, faz-se necessária a compreensão de dois dispositivos 
legais do Código Penal: o artigo 129, que nos explica o que é “lesão corporal” e o artigo 18, inciso II, que 
versa sobre a modalidade culposa da conduta criminosa. 
Desta forma, comete o crime do artigo 303 o condutor de veículo automotor que ofende a integridade 
corporal ou a saúde de outra pessoa, por imprudência, negligência ou imperícia (ou seja, sem a intenção de 
produzir o resultado). 
Caso a lesão corporal tenha sido proposital, com a intenção de que ela ocorresse ou tendo assumido o 
risco de tal condição, responderá o agente pela lesão corporal dolosa, constante do artigo 129 do Código 
Penal, o qual ainda estabelece, num total de onze parágrafos, várias questões particulares para a lesão 
 
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corporal praticada em outras circunstâncias, como pena maior para a lesão corporal grave (§§ 1º e 2º) ou 
lesão corporal seguida de morte (§ 3º), casos de diminuição de pena (§ 4º) ou substituição de pena (§ 5º). 
Estranhamente, a pena estabelecida para a lesão corporal culposa (não intencional), no trânsito, de seis 
meses a dois anos, é superior à pena decorrente da lesão corporal dolosa (intencional), de natureza leve, 
que é de detenção de três meses a um ano. Isto significa que se, por exemplo, um motorista atropela e fere 
alguém, terá uma punição menor se tiver praticado a conduta com a clara intenção de fazê-lo, posto que, 
neste caso, responderá criminalmente, com base no Código Penal e não no Código de Trânsito. 
Sobre a sanção complementar aplicável ao artigo 303, destaca-se que a suspensão ou proibição de se 
obter a habilitação trata-se de pena de natureza criminal, aplicada pelo juiz, de dois meses a cinco anos, nos 
termos dos artigos 292 a 296 do CTB. 
Existem quatro causas de aumento de pena, previstas para o homicídio culposo e aplicáveis também à 
lesão corporal: “não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação”; “praticá-lo em faixa de 
pedestres ou na calçada”; “deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do 
acidente”; e “no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de 
passageiros”. 
Conforme comentários ao artigo 302, principalmente quanto ao dolo eventual e concurso material de 
crimes, importante consignar que, no caso da lesão corporal, num primeiro momento, por incrível que 
pareça, não há qualquer recrudescimento para a conduta intencional (dolosa), pois o artigo 129 do CP tem 
pena MENOR do que o artigo 303 do CTB (na lesão dolosa, detenção de três meses a um ano e, na lesão 
culposa, seis meses a dois anos). 
Entretanto, a lesão culposa não possui qualquer gradação (grave ou gravíssima), pois esta classificação só 
existe no Direito penal, exatamente nos parágrafos do artigo 129 do CP, relativos à lesão DOLOSA; isto 
significa que, para alguém responder por lesão grave ou gravíssima, incurso no artigo 303 do CTB, deverá ser 
‘emprestada’ a conceituação penal, relacionada ao crime doloso. 
Neste aspecto, lesão grave será aquela que resulta: I – Incapacidade para as ocupações habituais, por mais 
de trinta dias; II – perigo de vida; III – debilidade permanente de membro, sentido ou função; ou IV – 
aceleração de parto (§ 1º do artigo 129 do CP); enquanto que a lesão gravíssima é a que resulta: I – 
Incapacidade permanente para o trabalho; II – enfermidade incurável; III – perda ou inutilização do membro, 
sentido ou função; IV – deformidade permanente; ou V – aborto (§ 2º do artigo 129 do CP). 
O curioso é que, sendo culposa e com tais consequências, o novo § 2º do artigo 303 estabelece pena de 
reclusão de 2 a 5 anos, sendoque, SE FOSSE considerada como dolosa, no caso da lesão grave, a pena seria 
de reclusão de 1 a 5 anos e, no caso da gravíssima, de 2 a 8 anos. 
 
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Isto significa que, por não mais ser possível a tese do dolo eventual, o motorista embriagado que causa 
lesões gravíssimas em alguém passará a ter uma pena MENOR do que seria possível, se fosse aplicado o 
artigo 129, § 2º, do Código Penal. 
Vamos aprofundar! 
O crime de lesão culposa do CTB é de menor potencial ofensivo, por ter pena máxima de 2 anos. Mas 
se incidir alguma das causas de aumento de pena que vimos, o crime deixa de ser de menor potencial 
ofensivo (omissão de socorro, transporte de passageiros e faixa de pedestres) porque aplicando o 
aumento máximo, a pena máxima cominada passa a ser de 3 anos, portanto, deixa de ser de menor 
potencial ofensivo. E foi isso o que o STJ decidiu recentemente. 
- Se um indivíduo, que não possui habilitação para dirigir (art. 309 do CTB), conduz seu veículo de forma 
imprudente, negligente ou imperita e causa lesão corporal em alguém, ele responderá pelo crime do 
art. 303, § 1º, do Código de Trânsito, ficando o delito do art. 309 do CTB absorvido por força do princípio 
da consunção. Assim, terá o aumento de pena um terço a metade, não ocorrerá concurso de crimes. 
 
Leitura Complementar 
Embriaguez ao volante (crime doloso?) 
por Julyver Modesto de Araujo 
 Desde que o atual Código de Trânsito Brasileiro entrou em vigor, em 1998, três foram as Leis que 
alteraram os preceitos normativos relativos à “embriaguez ao volante”: a Lei nº 11.275/06, a nº 
11.705/08 (conhecida popularmente como “lei seca” e complementada pelo Decreto nº 6.488/08) e a 
nº 12.760/12 (denominada de “nova lei seca”). 
 Sem nos atermos à retrospectiva histórica sobre tais alterações, e a fim de nos fixarmos ao que 
realmente nos interessa neste estudo, a legislação ora vigente prevê, efetivamente, a tolerância zero 
de álcool para quem dirige veículo automotor, estabelecendo duas formas de sanção àquele que 
descumprir esta proibição: uma punição na esfera administrativa (infração de trânsito do artigo 165) e 
uma sanção penal (crime do artigo 306). 
 No artigo 165, a redação legislativa, desde dezembro de 2012, passou a ser a seguinte: “Dirigir sob a 
influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência”, 
consubstanciando infração de trânsito gravíssima, com penalidade de multa de R$ 1.915,40 e 
suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses; na reincidência, antes de completado um ano, 
além do valor da multa ser dobrado (R$ 3.830,80), prevê-se a cassação do documento de habilitação 
(artigo 263, inciso II). 
 
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 O crime do artigo 306 ocorre quando se “Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora 
alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine 
dependência”, conduta que pode ser constatada de duas formas: I - concentração igual ou superior a 
6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar 
alveolar; ou II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade 
psicomotora (esta disciplina encontra-se na Resolução do Contran nº 432/13). A pena prevista é a de 
detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou 
habilitação para dirigir veículo automotor. 
 Estas são as atuais punições para quem conduz um veículo automotor sob a influência de álcool. 
Feitas estas explicações iniciais, pretendo discorrer, neste artigo, de maneira sucinta e didática, sobre 
um questionamento cada vez mais comum: o motorista embriagado, que causa morte ou lesão no 
trânsito, deve responder por crime doloso ou culposo? 
 O assunto, obviamente, pode ser explorado de maneira extensa e acadêmica; entretanto, procurarei 
evitar divagações doutrinárias e termos próprios do meio jurídico, que inviabilizam a compreensão de 
grande parte dos que se interessam pelo tema trânsito (não só os profissionais que atuam na área, mas 
os usuários da via pública, de maneira geral), a fim de explicar tal questão e apontar quais são os 
reflexos desta análise. 
 Primeiramente, considero importante esclarecer dois aspectos: 1º) o que é crime doloso e culposo; 
e 2º) qual a real repercussão desta distinção. 
 A definição clássica de crime (ou infração penal) é de todo fato (ação ou omissão humanas) típico 
(conduta descrita em lei), antijurídico (contra o ordenamento jurídico existente) e culpável (reprovável 
perante a sociedade). 
 Tanto o crime, que também é denominado infração penal, quanto a infração administrativa (como a 
de trânsito) constituem condutas puníveis na lei, existindo diferenças muito sutis em relação a elas; 
podemos citar, em especial, três: I) norma aplicável (Direito Penal x Direito Administrativo); II) 
autoridade responsável pela imposição da pena (Poder Judiciário x Poder Executivo); e III) tipo de 
sanção a ser imposta (penal x administrativa). 
 A diferença entre crime doloso e culposo baseia-se na responsabilidade do sujeito que praticou o 
ato, em relação à sua prévia intenção de que o resultado obtido realmente ocorresse. 
 O Código Penal (Decreto-lei nº 2.848/40) estabelece, em seu artigo 18, que o crime é doloso quando 
o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo; e culposo quando o agente deu causa ao 
resultado por imprudência, negligência ou imperícia. 
 O dolo pressupõe, destarte, uma vontade e consciência do ato praticado, enquanto a culpa ocorre 
quando houver uma falta de cuidado, um erro não proposital. 
 
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 Dizer, portanto, se um crime ocorreu por dolo ou culpa dependerá da análise judicial de cada caso; 
por meio do conjunto probatório, é que o juiz poderá concluir se houve uma real intenção do autor 
dos fatos ou se restou demonstrado mero desleixo, ao não ter evitado o acontecimento fatídico. 
 A regra, no Direito penal brasileiro, é que sejam punidas apenas as condutas praticadas com a 
intenção de se produzir o resultado (ou com o risco assumido neste sentido), deixando de lado os 
comportamentos que, embora tenham gerado um resultado indesejado, não foram premeditados pelo 
responsável pela ação ou omissão. Assim é que o parágrafo único do artigo 18 determina: “Salvo nos 
casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica 
dolosamente”; ou seja, para que um crime seja punível também na modalidade culposa, o texto legal 
deve prever esta condição. 
 Deste modo, o crime constante do artigo 306 do CTB, comumente chamado de “embriaguez ao 
volante” é, sem sombra de dúvida, doloso; quem conduz veículo automotor com capacidade 
psicomotora alterada em razão da influência de álcool somente pode ser punido se assim quis agir ou 
assumiu o risco de que tal acontecesse, já que o tipo penal não prevê a conduta culposa como também 
punível. 
 Mas não é isto, na verdade, que queremos tratar quando perguntamos se a “embriaguez ao volante” 
é crime doloso (esta, aliás, é uma pergunta formulada de maneira equivocada); o que se questiona é 
se esta condição do motorista pode ser interpretada como fator preponderante para que a lesão ou o 
homicídio ocorridos sejam classificados como doloso; em outras palavras, quem bebe, dirige e mata 
(ou lesiona) quis que a morte (ou lesão) acontecesse, ou, pelo menos, assumiu o risco desta 
possibilidade? Deve, por este motivo, responder pelo Código Penal (em vez de pelo CTB)? 
 Aqui vem, em continuidade, a segunda questão a ser avaliada:qual é o desdobramento de se avaliar 
a classificação de um crime como sendo culposo ou doloso? O primeiro reflexo é que, como vimos, 
sendo culposa, nem toda conduta configura crime. 
 No caso do homicídio ou da lesão corporal, ambos são puníveis nas modalidades dolosa E culposa; 
assim, não há que se falar em inexistência da prática do crime em qualquer situação que se comprove 
a imprudência, negligência ou imperícia do autor; o que vai ocorrer é, tão somente, diferenciação na 
aplicação das penas, sendo, via de regra, o crime doloso punido mais severamente que o culposo (até 
mesmo por um critério lógico). 
 O Código de Trânsito Brasileiro, ao incluir matéria de cunho penal em seu Capítulo XIX, inovou o 
tratamento dos crimes cometidos na direção de veículos automotores (os quais, anteriormente, eram 
regrados pelo Código Penal, como qualquer outro), tratando, todavia, do homicídio e da lesão corporal 
apenas quando praticados de maneira culposa, por erro “não proposital” do sujeito (artigos 302 e 303). 
 Assim, se alguém, na direção de veículo automotor, matar outra pessoa, SEM a intenção que isto 
acontecesse (e sem assumir o risco na produção do resultado), responderá pelo crime de trânsito do 
artigo 302 do CTB e, caso contrário, pelo crime de homicídio do artigo 121 do Código Penal (como se o 
veículo fosse apenas uma arma para a ocorrência do crime, como qualquer outra utilizada pelo 
homicida). No primeiro caso, terá uma pena de detenção de dois a quatro anos e, no segundo caso, 
 
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uma pena de seis a vinte anos (cabe ressaltar que o homicídio culposo cometido fora do trânsito tem 
uma pena que varia de um a três anos, menor que a prevista no artigo 302, conforme § 3º do artigo 
121 do CP). 
 O caso da lesão corporal é mais emblemático, por uma falha legislativa: enquanto a lesão dolosa 
(artigo 129 do CP) pune o autor com pena de detenção, de três meses a um ano, a lesão corporal 
culposa no trânsito (artigo 303 do CTB) tem pena de seis meses a dois anos; isto é, por incrível que 
pareça, o motorista que causa lesão em outra pessoa, durante a condução de veículo automotor, terá 
uma pena maior se o seu comportamento não foi intencional, do que se restar comprovado a sua 
decisão anterior de se produzir a mera lesão na vítima (desde que, obviamente, se constate a intenção 
em somente machucar; pois, a depender da situação, pode-se concluir pela tentativa de homicídio; e 
aí, a pena será maior – a mesma pena do crime consumado, diminuída de um a dois terços, conforme 
artigo 14, parágrafo único, do CP). 
 Normalmente, questiona-se a possibilidade de classificação do crime doloso, nas ocorrências de 
trânsito com vítimas, causadas por motoristas embriagados, com o objetivo de puni-los mais 
severamente. Como se vê, o efetivo aumento da pena somente ocorrerá nos casos de evento morte, 
posto que, na lesão, terá maior reprimenda aquele que responder pelo crime de trânsito (em vez do 
crime comum). 
 Esclarecidos os dois aspectos a que me propus: a diferenciação entre crime doloso e culposo, e a 
repercussão desta distinção, passemos à análise da “embriaguez ao volante” como fator decisivo para 
se configurar o homicídio (ou a lesão corporal) como crime doloso. 
 Quando a pessoa, premeditamente, ingere bebida alcoólica, para, sob seu efeito, praticar um crime 
(por exemplo, atropelar alguém), entende-se presente o dolo, pois o que se avalia é a liberdade de 
ação no momento em que se decidiu por aquela conduta. A doutrina define essa situação como sendo 
a teoria da “actio libera in causa” (ação livre na causa) e a lei penal NÃO isenta, de responsabilidade, o 
autor pelo ato sob o estado de embriaguez, como podemos constatar pelo artigo 28, inciso II, do CP: 
“Não excluem a imputabilidade penal ... a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância 
de efeitos análogos”. 
 Podemos concluir, nestes termos, que a embriaguez pré-ordenada é concebida, pelo Direito, como 
uma decisão livre, que mantém a imputabilidade penal do sujeito e não o isenta de responsabilidade 
apenas pelo fato de se encontrar embriagado, no momento em que o resultado, efetivamente, 
ocorreu. 
 Excetuando a situação em que o sujeito bebe, para utilizar o veículo automotor na prática do crime 
(o que não exclui, portanto, o dolo de sua conduta), torna-se difícil conceber que alguém, por beber e 
dirigir, tenha a real intenção de matar (ou lesionar) alguém, durante a condução do veículo na via 
pública. 
 Quando muito, poderíamos dizer que se assumiu o resultado, por conhecer os riscos a que se 
sujeitou, após a diminuição dos reflexos e da capacidade psicomotora, sob a influência de álcool, o que 
 
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configuraria a segunda forma de dolo, constante do artigo 18, inciso I, do CP (“assumiu o risco de 
produzi-lo”), o que é denominado, pela doutrina, de dolo eventual. 
 A grande dificuldade de se estabelecer a ocorrência de dolo eventual é a sua similaridade com o que 
se convencionou chamar, no Direito, de culpa consciente, situação em que a pessoa também tem a 
percepção dos riscos a que está sujeito. A diferença é que, no dolo eventual, o agente sabe da 
possibilidade de que ocorra o resultado e, mesmo assim, assume o risco de que aconteça; na culpa 
consciente, ele é capaz de prever o resultado, mas se considera capaz de evitá-lo. 
 Esta proximidade entre o dolo eventual e a culpa consciente é que impede uma generalização, no 
sentido de se dizer que todo motorista embriagado que ocasiona vítimas no trânsito deve responder 
pelo crime doloso; tudo vai depender de como os fatos se sucederam, até o resultado concreto. 
 O Código de Trânsito, em uma de suas alterações (Lei nº 11.275/06), chegou a direcionar a 
interpretação jurídica ao crime culposo, como regra, quando estabeleceu, no inciso V do parágrafo 
único do artigo 302, a influência de álcool como uma das causas de aumento de pena do crime de 
trânsito, o que era transformado como argumento de defesa dos ébrios ao volante: se a influência de 
álcool ERA causa de aumento de pena do crime culposo, não poderia ser usada como determinante do 
crime doloso (no dolo eventual). A polêmica em torno da questão acabou ocasionando a revogação 
deste inciso V, pela Lei nº 11.705/08, permitindo que cada caso seja avaliado circunstancialmente. 
 Há a necessidade, caso a caso, de se avaliar o conjunto fático-probatório, que poderá direcionar a 
decisão judicial para o crime culposo ou doloso, a depender de como tudo se transcorreu. Neste 
sentido, destaco as explicações do Sr. Ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, na relatoria de 
Habeas Corpus do Estado do Rio de Janeiro (HC nº 101698/11): “A diferença entre o dolo eventual e a 
culpa consciente encontra-se no elemento volitivo que, ante a impossibilidade de penetrar-se na 
psique do agente, exige a observação de todas as circunstâncias objetivas do caso concreto, sendo 
certo que, em ambas as situações, ocorre a representação do resultado pelo agente”. De igual modo, 
tem se posicionado o Superior Tribunal de Justiça (ver, por exemplo, HC nº 94916/10-SP; 196292/12-
PE; 118071/11-MT e 36714/05-SP). 
 Ainda que a crescente violência no trânsito, e a consequente necessidade de incremento da ação 
fiscalizadora e punitiva do Estado, nos levem ao desejo de recrudescimento da lei, forçoso concluir que, 
mercê de tudo o que foi apontado, não é possível definir a “embriaguez ao volante” como fator determinante 
de um crime doloso, quando houver vítimas nas ocorrências de trânsito. Este tipo de discurso apenas reflete 
um desejo da sociedade, de se punir mais duramente quem mata no trânsito, mas não decorre da análise de 
nossa legislação processualpenal. 
 
 
 
 
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ART. 304, CTB. 
Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar imediato socorro à vítima, ou, não podendo 
fazê-lo diretamente, por justa causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública: 
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir elemento de crime mais grave. 
Parágrafo único. Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do veículo, ainda que a sua omissão seja 
suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves. 
A omissão de socorro no trânsito ocorre quando alguém deixa de prestar imediato socorro à vítima, ou, 
não podendo fazê-lo diretamente (quando, por exemplo, tiver um risco à sua própria integridade física), 
deixar de solicitar auxílio da autoridade pública; em outras palavras, não se exige que um condutor coloque 
a vítima em seu próprio veículo, para levar ao hospital (aliás, isto é até perigoso), mas o que não pode ocorrer 
é uma total inércia daquele que tem a obrigação legal de tomar atitude. 
 Para que se configure o crime do artigo 304, há a necessidade de que estejam presentes os seguintes 
requisitos: 
1º) seja uma ocorrência de trânsito com vítima (morte ou lesões corporais), sendo irrelevante a existência 
ou não de danos materiais. 
 Interessante notar que o parágrafo único estabelece que caracteriza o crime, ainda que a omissão seja 
suprida por terceiros ou que se trate de vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves; ambas as 
situações são questionáveis juridicamente, em casos concretos, a primeira porque não é lógico supor que 
alguém tenha que “competir” com outros que estejam próximos da ocorrência (às vezes, até em condições 
melhores de prestação de socorro), para que não seja responsabilizado pelo fato de sua omissão ter sido 
suprida por terceiros; no segundo caso, embora o objetivo tenha sido afastar a decisão de não socorro por 
um condutor mediano, sem conhecimento a respeito da real necessidade de atendimento à vítima, o fato é 
que, em uma morte instantânea (por exemplo, uma decapitação), a prestação de socorro é totalmente 
inócua, não havendo sentido punir-se a omissão. 
2º) que aquele que se omitiu seja um condutor de veículo; 
 Não comete o crime do artigo 304 alguém que esteja simplesmente passando pelo local da ocorrência, 
como transeunte, pois a tipificação prevê, expressamente, que o crime é cometido pelo condutor do veículo 
(qual veículo? Aquele que tenha se envolvido diretamente no fato, como se verá a seguir); todavia, é possível 
que um pedestre que não tenha dado qualquer apoio a uma vítima do trânsito seja enquadrado no crime do 
artigo 135 do Código Penal: “Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à 
 
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criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente 
perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública”. 
3º) que o condutor tenha se envolvido, de alguma forma, na ocorrência; 
A participação na ocorrência fica latente no seguinte trecho da redação do artigo 304: “por ocasião do 
acidente”, além do fato de que, para os envolvidos, a prestação do socorro surge como decorrência natural 
de seu envolvimento, não havendo nem mesmo a necessidade de que isto seja solicitado por outra pessoa, 
nem mesmo um agente público; isto significa que, se o condutor de um veículo esteja apenas passando pelo 
local e se omite, a única punição possível também é a do artigo 135, anteriormente descrito. 
4º) que não seja o causador da morte e/ou lesão; 
O crime do artigo 304 é subsidiário, o que é previsto na própria pena a ele aplicável, em sua parte final 
(“se o fato não constituir elemento de crime mais grave”); isto é, somente responde pelo crime de omissão 
de socorro, de maneira isolada, o condutor que não deu causa à vítima de trânsito, já que, sendo o autor do 
homicídio ou da lesão corporal, a omissão caracterizará uma causa de aumento de pena (artigo 302, 
parágrafo único, inciso III; e 303, parágrafo único), não podendo ser duplamente motivo de punição, o que 
caracterizaria o chamado bis in idem (punição dupla pelo mesmo motivo), proibido pelo ordenamento 
jurídico. 
Esclarecendo... 
Na omissão de socorro, vamos ver três situações no homicídio ou lesão culposa de trânsito, havendo 
aquela, nós poderemos ter: 
1.O condutor envolvido no acidente e culpado pelo acidente – responderá por: homicídio culposo ou 
lesão culposa – com a pena aumentada de um terço a metade pela omissão; 
2.O condutor envolvido no acidente e não culpado pelo acidente, mas que omitiu socorro à vítima – 
responderá pelo art. 304, do CTB. Se ele não é culpado, não vai responder pelos arts. 302 (homicídio 
culposo) e 303 (lesão corporal culposa); 
3.O condutor não envolvido no acidente que omitir socorro à vítima (aquele que vinha atrás dos 
veículos envolvidos no acidente) – vai responder pela omissão de socorro do CP, art. 135. 
 
 
 
 
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ART. 305, CTB. 
Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à responsabilidade penal ou civil que lhe possa 
ser atribuída: 
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa. 
O artigo 305 versa sobre um crime polêmico: o de fuga do local de ocorrência de trânsito. A polêmica se 
deve ao fato de que a lei pretendeu punir, criminalmente, aquele que se afasta do local, com uma intenção 
específica: a de não ser responsabilizado, seja por um crime cometido ou por uma eventual indenização que 
tenha de arcar, se for considerado culpado pelo acontecimento fatídico (ou seja, pressupõe-se, 
antecipadamente, que o condutor pode ser culpado e, por este motivo, deve permanecer no local, para a 
devida apuração dos fatos). 
Quanto à responsabilidade penal, o dispositivo viola a presunção de inocência (artigo 5º, inciso LVII, da 
Constituição Federal – “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal 
condenatória”) e o direito de não-incriminação, que se assenta tanto no direito constitucional do preso, em 
se manter calado (artigo 5º, inciso LXIII, da CF – “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de 
permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”), quanto na garantia 
internacional de não ser obrigado a depor contra si mesmo, quando for acusado de um delito (artigo 8º, 
inciso 2, letra ‘g’ da Convenção Americana de Direitos Humanos – Pacto de São José, da Costa Rica – “Toda 
pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente 
comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes 
garantias mínimas: ... direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada"). 
No tocante à responsabilidade civil, o delito do artigo 305 é ainda mais esdrúxulo, pois contempla como 
crime a simples possibilidade do dever de indenizar, quando é princípio garantido de nosso direito 
constitucional de que não haverá prisão civil por dívida (artigo 5º, inciso LXVII, da CF – “não haverá prisão 
civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação 
alimentícia e a do depositário infiel”), exceto nos casos de não pagamento da pensão alimentícia ou de 
depositário infiel (este último, aliás, já foi considerado pelo Supremo Tribunal Federal como inaplicável, 
desde 2008, em julgamento histórico que compatibilizou a regra brasileira à constante do Pacto de São José, 
que prevê a prisão civil apenas para os casos de pensão alimentícia).

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