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1 Curso: Engenharia de Produção Disciplina: Metodologia Científica Autor: Kelly Alonso Costa DI: Bruna Canabrava Supervisão DI: Renata Vittoretti Aula 4 – Pesquisa Científica Meta Apresentar os conceitos sobre pesquisa e suas características. Distinguir a pesquisa científica e seus objetivos. Mostrar o planejamento de uma pesquisa científica. Objetivos Após esta aula, você será capaz de: 1. Identificar os elementos estruturais da pesquisa científica; 2. Relacionar as características da pesquisa científica e o desenvolvimento tecnológico. 3. Identificar as fases de um planejamento de uma pesquisa científica. Introdução Uma pesquisa também pode ser chamada de investigação, pois analisa, através de procedimentos adequadamente definidos, fatos ou circunstâncias para a construção de uma solução que pode gerar uma novo questionamento. Segunda Cartoni (2009), a pesquisa ou a investigação é realizada quando se detecta um problema e não se tem informações para solucioná-lo, ou seja, uma necessidade de busca de respostas. Portanto, pesquisar é descobrir, investigar, buscar, procurar, explorar, e assim sendo, é um fato natural a todos os indivíduos que fazem parte de qualquer grupo (SILVA e TAFNER, 2004). Início boxe multimídia 2 O vídeo “Ideias de Pesquisa Científica”, de apenas 4 minutos, mostra como é próxima a relação da pesquisa científica com vida cotidiana, como investigações científicas que deram novos rumos à ciência foram inspiradas por acontecimentos absolutamente mundanos. Para assistí-lo, acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=7CsJcwfSIQI. Depois, olhe ao seu redor e identifique coisas que acontecem no seu dia-a-dia que você não entende o porquê e tente pensar em modos de descobrir os motivos. Fonte: http://bee.cederj.edu.br/popUpVisualizar.php?id=51520 Crédito: Fabiana Rocha; Manoel Magalhães Moreira Fim Box O processo de construção da pesquisa exige uma elaboração e organização de elementos que vão fundamentar o objetivo do estudo e responder às questões 3 que estamos investigando. Ao realizar uma pesquisa devemos consultar livros e revistas, verificar documentos, procurar as fontes de estudos, entrevistar pessoas; tudo isso são formas de pesquisa, 1- Pesquisa De uma forma sintética, a pesquisa é um conjunto de ações, atividades ou realizações propostas para encontrar soluções para um problema, que tem por base procedimentos sistemáticos e racionais (CARTONI, 2009). Esses procedimentos fazem parte da construção da pesquisa e são definidos na etapa de planejamento da investigação. Segundo Köche (1997), “o ato de pesquisar significa identificar uma dúvida que necessite ser esclarecida, construir e executar o processo que apresenta a solução desta, quando não há teorias que a expliquem”. Podemos estender a definição de “pesquisa” à busca de novas teorias ou reestruturação de conceitos cuja validade esteja sendo questionada ou haja uma nova perspectiva do problema ou até mesmo de contexto. Figura 4.1: Diferentes formas de pesquisar um assunto: através de experimentos, consultas bibliográficas, entrevistas, pesquisa com o auxílio da internet Fotos: Jean Scheijen, A-K Rehse, Muriel M Sawicki, Sanja Gjenero 4 Fontes: http://www.rgbstock.com/photo/mWk4VRk/Lab+Work, http://www.rgbstock.com/photo/mfmppew/studying+4, http://www.rgbstock.com/photo/mUB38Hq/Friends+in+Business, http://www.rgbstock.com/photo/mhAOWew/late+homework Então podemos entender que buscar as respostas através da pesquisa é dedicar tempo, de forma consciente e disciplinada, à organização, reflexão e a procedimentos sistemáticos para atingir um objetivo. Ao longo do seu curso de graduação, você vai se deparar inúmeras vezes com a necessidade de realizar pesquisas sobre diversos assuntos para entender melhor certos problemas ou desenvolver projetos. É importante ressaltar que a pesquisa, tem sido mal compreendida quanto à sua natureza e finalidade por parte de alguns. Muito do que se chama de pesquisa não passa de simples compilação de textos ou cópia de informações reorganizadas ou várias opiniões sobre determinado assunto e, o que é pior, não referencia a fonte da informação, tratando-se de um grave erro no meio científico (PINTO, 2010). Não podemos repetir esses equívocos! Temos que seguir os fundamentos e caracterizações do processo construtivo de uma pesquisa. Temos que buscar fontes com credibilidade, referenciar essas mesmas fontes e fazermos a reflexão do quê queremos e para onde estamos indo. No entanto, “o sentido amplo e informal de pesquisa opõe-se ao conceito de pesquisa como tratamento de investigação científica que tem por objetivo comprovar uma hipótese levantada, através do uso de processos científicos” (ALMEIDA JÚNIOR, 1988). “A pesquisa com ênfase científica é a realização concreta de uma investigação planejada, desenvolvida e redigida de acordo com as normas da metodologia consagradas pela ciência” (CARTONI, 2009). Início boxe multimídia O Brasil tem investido e avançado no campo da pesquisa científica. Você fazendo esse curso a distância através da tecnologia é parte desse desenvolvimento e progresso! Mas, ainda temos muito para alcançar em comparação ao nível mundial. Também é sua responsabilidade o crescimento e difusão da pesquisa científica no nosso país! Eu te convido a assistir o vídeo 5 “Pesquisa Científica no Brasil”, produzido por Yasmine Saboya, sobre a atual situação da pesquisa científica em nosso país e os desafios do futuro. O vídeo está no link: https://www.youtube.com/watch?v=uQxDNoEoTMA. Fim Box Então, vamos estudar sobre os tipos de pesquisas, suas finalidades e seus elementos. 1.1 – A pesquisa científica e a tecnologia A pesquisa científica tem dado suporte à tecnologia em muitas descobertas ao longo do tempo, principalmente nas últimas décadas. Mas é importante entender que a ciência e a tecnologia não são a mesma coisa. Enquanto a pesquisa sempre visa gerar conhecimento através da investigação de dados e fatos com a adoção de um método, a tecnologia implementa o conhecimento científico (resultado da pesquisa) no desenvolvimento de um processo ou produto que facilite algum aspecto do nosso dia-a-dia ou contribua para a melhoria da qualidade de vida. O termo tecnologia deriva do grego, sendo tecno (tekhne) a habilidade de saber fazer, ou seja, podemos dizer que é a técnica que envolve as habilidades práticas de saber e fazer, (HERSCHBACH, 1995). E logia indica estudo. A tecnologia também é citada como um tipo de ciência aplicada devido a sua utilização nos séculos passados como processos para fabricação. Mas podemos observar que o desenvolvimento da tecnologia exige um elevado grau intelectual e não consiste em apenas “fazer”. Então, de uma forma sintética, “o termo tecnologia está fortemente associado com a ciência aplicada, principalmente quando emerge a necessidade de solução de problemas técnicos” (SILVA, 2010). Há todo um universo para exemplificar isso como as ferramentas e as máquinas utilizadas numa fabricação ou as fontes de energia utilizadas pela sociedade ou ainda a 6 combinação de recursos com o conhecimento científico praticado através da pesquisa para encontrar respostas através de métodos. Entretanto, Silva (2010) afirma que “é importante ressaltar que o conhecimento científico pode dar suporte teórico para o conhecimento tecnológico, mas a ciência aplicada não pode ser vista como sinônimo de conhecimento tecnológico”. Apesarde essas fronteiras estarem próximas ou parecem que vão ultrapassar em certos casos, existe uma necessidade de delimitá-las no que diz respeito ao objetivo, a precisão e a consistência da solução. “A eficiência é o objetivo final da tecnologia, já a ciência é baseada na observação e presume em seu fim a confirmação da teoria” (SILVA, 2010). Segundo Saénz e Capote (2002), “a tecnologia é definida como um conjunto de habilidades, experiências, conhecimentos científicos e empíricos para produzir e distribuir bens de serviços”. Lembrando que é através da pesquisa científica que os elementos do conhecimento são fornecidos e utilizados pela tecnologia. “Todo o conhecimento produzido e validado na ciência é resultado de pesquisas, e ao colocar esses conhecimentos científicos em prática é produzida a tecnologia que se insere em um processo de inovação” (WESTIN et al, 2012). Essa discussão é interessante principalmente para você, futuro engenheiro, pois a engenharia é vista como a aplicação de conhecimentos científicos e conhecimentos técnicos para resolver um problema prático ou para desempenhar uma função. Ao longo da sua carreira, você precisará utilizar a pesquisa científica para adquirir todas as possíveis soluções validades cientificamente para obter sucesso em sua jornada, assim como adquirir conhecimento técnico direcionado para a sua área. Um exemplo básico para o engenheiro de produção é a avaliação de dados estatísticos para identificar problemas nos processos. São situações em que ele enfrenta um problema, precisa de uma solução e principalmente validar essa resposta para alcançar o resultado desejado. Esse engenheiro vai procurar métodos direcionados a análise estatística. Agora, imagine um engenheiro numa indústria de aço. Com o crescimento da empresa, houve uma expansão de espaço e novos maquinários foram adquiridos. O engenheiro responsável pelo arranjo físico do 7 setor produtivo precisa fazer uma pesquisa para atualizar seus conhecimentos em layout e a simulação da produção (através de cálculos e softwares) para projetar o novo ambiente produtivo. Podemos observar nesse simples exemplo outra informação importante para você: percebeu que seu processo de aprendizagem é contínuo? Ou seja, assim como a ciência e a tecnologia evoluem, você também precisa se atualizar, mesmo após seu término de curso. Desta forma, ressaltamos o porquê do estudo de todo os elementos da pesquisa científica. 1.2 – O processo da pesquisa O processo de pesquisa precisa ser estruturado de forma sistemática a partir dos questionamentos colocados na proposta da investigação e também de forma pertinente ao campo de estudo em que ele se insere. Segundo Ander- Egg (1978), a pesquisa é um procedimento reflexivo sistemático, controlado e crítico, que permite descobrir novos fatos ou dados, novas soluções ou resultados, novos conceitos ou elementos, relações ou leis, associações ou analogias, em qualquer campo do conhecimento. Verbete Analogia é um processo cognitivo de transferência de informação, em que há relação de correspondência ou semelhança entre coisas e/ou pessoas distintas. fim do verbete O objetivo da pesquisa é a produção de novos conhecimentos por meio da utilização de procedimentos científicos. Contribui para soluções de problemas e melhorias nas mais diversas atividades humanas: no ambiente do trabalho, nas ações comunitárias, no processo de formação e outros. A pesquisa contribui ativamente para mudanças que ocorrem nas mais diversas áreas da nossa sociedade. Inclusive é interessante observar que muitas empresas possuem um setor dedicado a investigação em seus ramos de atividades para inovação. 8 “O conhecimento torna-se uma premissa para o desenvolvimento do ser humano e a pesquisa como a consolidação da ciência” (SILVA, 2008). Na aula 3 falamos sobre as etapas principais do método científico. Agora estamos falando sobre pesquisa, que é um processo com mais etapas e abordagens: vai desde a escolha e a justificativa do tema até as conclusões, descobrindo relações ou leis ou novos fatos, e possíveis continuidades para outra pesquisa. O método é um instrumento colocado a disposição do cientista para buscar a verdade de fatos e fenômenos ou também para validar os resultados de uma pesquisa. De acordo com Moroz e Giandolfini (2006), o processo de pesquisa envolve as seguintes atividades elementares que fazem parte da elaboração de uma investigação: a formulação do problema, o planejamento de pesquisa, a coleta dos dados e a interpretação dos dados e a comunicação da pesquisa. Já segundo Lakatos e Marconi (2003), a pesquisa “é um procedimento formal, com método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no caminho para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais”. Ainda conforme Lakatos e Marconi (2003) o desenvolvimento e o processo de um projeto de pesquisa compreende seis passos estruturais. 1. Seleção do tópico ou problema para a investigação. 2. Definição e diferenciação do problema. 3. Levantamento de hipóteses de trabalho. 4. Coleta, sistematização e classificação dos dados. 5. Análise e interpretação dos dados. 6. Relatório do resultado da pesquisa. Vamos falar mais sobre projeto de pesquisa futuramente quando você já tiver todos os elementos necessários. É interessante ressaltar que o ponto de partida de um modelo para ciências sociais ou para as ciências exatas tem a teoria como elemento fomentador do 9 desenvolvimento da pesquisa. Ou seja, a formulação de uma explicação que precisa ser demonstrada com argumentos científicos. Verbete Fomentador é o que fomenta, promove ou causa. fim do verbete O processo, que possui várias fases, finaliza com a conclusão que pode ser o entendimento de todo o problema, ou mesmo o aperfeiçoamento de uma teoria. A partir daí, se necessário, o ciclo recomeça com os parâmetros encontrados alimentando novas investigações. Então podemos dizer que a pesquisa com cunho científico engloba elementos fundamentais para o desenvolvimento de muitas descobertas e informações que indicam através do método específico soluções para as necessidades e avanço da ciência e da sociedade. Segundo Oliveira (2002), “a pesquisa, tanto para efeito científico como profissional, e também para desenvolvimento, envolve a abertura de horizontes e a apresentação de diretrizes fundamentais, que podem contribuir para o crescimento do conhecimento”. A pesquisa também precisa medir os graus de variação dos resultados e isso é realizado através da precisão. A precisão como conceito está relacionada à dispersão entre medidas repetidas sob as mesmas condições, ou seja, indica o quanto as medidas repetidas estão próximas umas das outras. É importante ressaltar a necessidade de precisão nos processos que envolvem a pesquisa, pois faz parte da credibilidade científica do estudo. “Os pesquisadores necessitam de métodos e procedimentos precisos, planejamento eficaz, critérios e instrumentos adequados que passem confiança e credibilidade, tanto aos envolvidos quanto no resultado do trabalho” (MENEZES e VILLELA, 2004). 10 Dessa forma, podemos entender a pesquisa como uma fonte produtora de inovação e aperfeiçoamento. A pesquisa viabiliza inclusive crescimento em diversos setores como econômico, social, entre outros. Ela também serve para aumentar a produtividade e competitividade, explorar o desconhecido, entender os sistemas, etc. Atualmente, vivemos na sociedade da informação e apesquisa é vista como fonte geradora de riquezas num mundo globalizado e muito competitivo. 1.3 – Planejamento e elaboração da pesquisa Uma pesquisa precisa ser planejada já prevendo todas as fases para completo aproveitamento e controle em sua execução. Quando elaboramos uma pesquisa precisamos esclarecer alguns pontos no documento de projeto dessa pesquisa. Esses pontos incluem a natureza, a abrangência e a precisão da pesquisa, além de apontar possíveis desdobramentos. Explicando de uma forma mais objetiva, não existe um modelo único de itens para a pesquisa, na verdade existem elementos estruturais que podem ser decompostos em outros elementos ou itens. Na seção anterior vimos os 6 passos estruturais de um projeto de pesquisa e agora vamos desdobrar esses passos em etapas mais específicas para um correto planejamento com base em autores importantes da área como Lakatos e Marconi (2003) e Cervo e Bervian (2002). A pesquisa pode, portanto, ser entendida como um processo que envolve as etapas: 1. Preparação da pesquisa; 2. Escolha do tema; 11 3. Levantamento de informações e estudos; 4. Formulação do problema; 5. Definição dos objetivos; 6. Construção de hipóteses e a indicação de variáveis; 7. Metodologia; 8. Coleta e análise dos dados; 9. Interpretação e discussão de dados; 10. Considerações finais; 11. Redação e apresentação da pesquisa. Figura 4.2: Resumo do processo de pesquisa, desde o planejamento até a apresentação 12 1.3.1 – Preparação da pesquisa Esta fase da pesquisa é de suma importância para o seu desenvolvimento, pois funciona como uma preparação para as necessidades que estarão por vir. É nessa fase que o pesquisador, geralmente, identifica com clareza uma lacuna de conhecimento sobre determinado assunto e toma a decisão de buscar respostas. O pesquisador também avalia inicialmente o potencial do assunto e sua acessibilidade para o alcance das respostas. Com algumas dessas informações, o pesquisador já poderá prever a necessidade de tempo, dedicação e esforço exigidos para a realização do trabalho. O pesquisador costuma identificar os passos da realização da pesquisa de forma lógica e estruturada, prevendo também possíveis obstáculos e dificuldades. A partir dessas informações e de um plano sistemático, o pesquisador já pode presumir a quantidade de recursos materiais, humanos e de tempo. Com relação a recursos materiais, identificamos a preocupação com a previsão de gastos. Dessa forma, o pesquisador busca meios financeiros como um possível patrocínio ou alguma fonte em potencial. O controle desses recursos durante a realização da pesquisa é de suma importância para o andamento, e indispensável para o caso de prestação de contas. Os recursos humanos são determinados conforme a abrangência da pesquisa. Recrutar e treinar a futura equipe são atividades muito importantes na realização da pesquisa, principalmente com utilização de equipamentos ou softwares que serão necessários ao longo da investigação. Já o tempo está associado ao esboço de um cronograma contendo as atividades distribuídas numa previsão de tempo clara e realista. 1.3.2 – Escolha do tema A escolha do tema é um momento decisivo e ao mesmo tempo preocupante para o pesquisador. Se o escopo da pesquisa não foi bem definido, existe o risco de ser amplo demais, sem que haja tempo hábil para sua plena investigação, ou o contrário, demasiadamente limitado, e portanto, de pouca 13 relevância. Contudo, existem algumas diretrizes para a orientação quanto a escolha do tema. É interessante observar que a definição do tema deverá ser orientada por fatores intelectuais e também por perspectivas intuitivas É importante avaliar: 1. a sua familiaridade com a área de estudo; 2. a adequação da pesquisa às suas aspirações profissionais; e 3. o seu conhecimento sobre estudos que já foram realizados para identificar possíveis desdobramentos e caminhos a percorrer. Não é uma tarefa das mais fáceis, porém essa decisão pode ser delineada de forma a construir um caminho que você tenha visão do objetivo a ser alcançado. Para Lakatos e Marconi (2003), Silva (2008) e Gil (2006) escolher o tema deve ter alguns critérios como: a) selecionar um assunto de acordo com as possibilidades, as habilidades e as tendências que condizem com o pesquisador e sua trajetória científica; b) encontrar um assunto que mereça ser investigado cientificamente e também que tenha condições de ser formulado e delimitado em função da pesquisa; c) obter conhecimento prévio de autores proeminentes da área, material bibliográfico informações de fontes confiáveis; d) mensurar a quantidade de tempo e de recursos necessários para a realização da pesquisa; e) buscar um profissional experiente na área que tenha disponibilidade para orientá-lo na sua pesquisa; f) avaliar a relevância da pesquisa no que diz respeito a contribuição para a área de estudo e possibilidade de desenvolvimento para trabalhos futuros. Podemos notar através dos critérios adotados pelos autores, que a delimitação do tema deve ser um momento de profunda reflexão por parte do pesquisador para a decisão mais acertada. É importante ressaltar que não basta o assunto ser interessante e conveniente. O pesquisador precisa se adequar ao tema e buscar um aprimoramento do conhecimento da área para a tomada de decisão 14 ser consistente. Geralmente, o papel do orientador ajuda nessa condução, pois já possui experiências com pesquisa científica. Então, informe-se muito, antes da escolha do tema! 1.3.3 – Levantamento de informações e estudos Nessa fase, o objetivo é levantar os dados e as informações pertinentes ao tema eleito. Segundo Lakatos e Marconi (2003), “podem ser utilizados três procedimentos: pesquisa documental, pesquisa bibliográfica e contatos diretos”. A pesquisa documental trata do estudo de documentos com relevância científica e são de fontes confiáveis. Esses documentos podem ser relatórios técnicos, fotografias, mapas, tabelas estatísticas, projetos de leis, documentos arquivados em repartições públicas, hospitais, entre tantos. Esses documentos podem oferecer tanto uma visão da trajetória histórica quando um panorama atual do tema a ser estudado. A pesquisa bibliográfica se refere à literatura científica, os autores e seus trabalhos publicados sobre o tema. O ideal é procurar os trabalhos mais relevantes da área publicados recentemente, preferencialmente nos últimos dez anos, para construir ao que é chamado “estado da arte”. A pesquisa bibliográfica também é uma forma de validar o estudo do pesquisador, pois demonstra que o mesmo investigou todas as questões expressivas dos autores especialistas, e também uma forma de duplicar estudos. Você já aprendeu sobre pesquisa bibliográfica na Aula 1, lembra? VERBETE Estado da arte – Esta expressão é usada para designar o que há de mais recente e moderno em termos de técnicas, tecnologia, conhecimento. FIM VERBETE O terceiro procedimento mencionado anteriormente é o contato direto, que pode ser realizado por meio de uma entrevista ou de uma visita a um local 15 pertinente ao tema. O ambiente do laboratório também é um possível contato direto para o levantamento das informações. 1.3.4 – Formulação do problema É nesta fase que são definidos os parâmetros da investigação e também são verificadas as possibilidades de solução. Geralmente o problema é escrito em forma de uma perguntapara ser respondida na conclusão da pesquisa. Ao delimitar o problema, devemos levar em conta as informações que foram levantadas sobre assunto a fim de identificar, com precisão, as questões que ainda não foram resolvidas. A formulação do problema “pode ser uma oportunidade percebida pelo aluno sobre uma temática a ser pesquisada” (SILVA, 2008). Podemos entender que a formação do problema determina o foco da pesquisa e não sendo necessariamente uma barreira para o desenvolvimento da mesma. E se for necessário um retorno a delimitação do tema para alcance dos resultados da pesquisa. Os autores da área sempre recomendam pensar na importância do problema e identificar a contribuição da resposta para o meio científico. Conforme Lakatos e Marconi (2003), o problema, antes de ser considerado adequado ou definido, deve ser analisado sob os seguintes aspectos: 16 Figura 4.4: Aspectos que devemos considerar ao formular o problema. Autor: Bruna Canabrava Podemos utilizar um exemplo simples para esta fase, sabendo-se que houve todo um trabalho reflexivo crítico anterior. Inicie selecionando o assunto, após escolha o tema e então formule o problema: Tabela 4.1: Estrutura da pesquisa: definição de assunto, tema e problema Assunto Engenharia de Produção Tema Controle de qualidade dos processos produtivos Problema Qual é a relação das variáveis detectadas nos processos produtivos de carros e nos processos produtivos de aviões? A formulação do problema pode produzir mais questionamentos sobre o estudo e isso costuma ser construtivo para o desenrolar da pesquisa e suas direções. 1.3.5 – Definição dos objetivos A definição dos objetivos da pesquisa estabelece metas e resultados a serem alcançados. Os objetivos devem ser antes de tudo claros, precisos, adequados 17 e compreensíveis. Os objetivos definem o propósito de uma pesquisa científica. Eles também norteiam a escolha dos procedimentos usados na investigação. Segundo Silva (2008), “do ponto de vista técnico, o objetivo deve sempre iniciar no infinitivo, representando a ação que se quer atingir e concluir com o projeto, como: compreender, constatar, analisar, desenvolver, capacitar, entre outros”. Podemos diferenciar dois tipos de objetivos em uma pesquisa: objetivo geral e objetivos específicos. O objetivo geral oferece uma perspectiva ampla sobre o que se quer atingir com a pesquisa. Enquanto os objetivos específicos são subdivisões que, ao serem somadas, garantem a integridade do objetivo geral. Eles são etapas intermediárias e essenciais para se atingir o objetivo geral. Apenas quando todos os objetivos intermediários são atingidos que o objetivo geral pode ser alcançado. Os dois tipos de objetivos devem ser escritos com verbos no infinitivo. Por exemplo: Tabela 4.2: Estrutura da pesquisa: definição dos objetivos geral e específicos objetivo geral Identificar o melhor controle de estoque de uma empresa. objetivos específicos Descrever os tipos de controle conhecidos, Comparar os tipos de controle de estoque, Associar os tipos ao contexto do ambiente do setor estudado 1.3.6 – Construção de hipóteses e indicação de variáveis Segundo Lakatos e Marconi (2003), a hipótese “é uma suposição que antecede a constatação dos fatos e tem como característica uma formulação provisória: deve ser testada para determinar sua validade”. A hipótese é sempre uma afirmação, uma resposta temporária ao problema da pesquisa. Ela pode ser entendida como um exercício de método indutivo ou dedutivo, pois partimos de um conhecimento prévio e usamos a lógica para prever um resultado esperado. Com o desenrolar da pesquisa, a hipótese deve ser confirmada ou rejeitada, 18 com base nos dados coletados. É esta fundamentação teórica que guiará a formulação de hipóteses admissíveis e consistentes com o problema a ser investigado. Não há obrigatoriedade de formulação de hipóteses em pesquisas descritivas, pois não há interferência do pesquisador, já que ele deverá apenas descobrir a frequência com que o fenômeno acontece ou como se estrutura e funciona um sistema, método, processo ou realidade operacional. Nos outros tipos de pesquisas exige-se maior investimento em teorização e reflexão. Vamos conhecer mais sobre os tipos de pesquisas na próxima aula. verbete Pesquisa descritiva A finalidade de uma pesquisa descritiva é observar, registrar e analisar os fenômenos ou sistemas técnicos, sem, contudo, entrar no mérito dos conteúdos. fim de verbete Vamos retomar o exemplo da formulação do problema apresentado anteriormente: Tabela 4.3: A estrutura da pesquisa agora já inclui a hipótese, que será confirmada ou rejeitada após a análise dos dados coletados. Assunto Engenharia de Produção Tema Controle de qualidade dos processos produtivos Problema Qual é a relação das variáveis detectadas nos processos produtivos de carros e nos processos produtivos de aviões? Hipótese Não há relação, pois os sistemas produtivos dos carros e dos aviões diferem em sua maior parte. A partir do problema e da hipótese podemos identificar as variáveis que influenciam o objeto de estudo. Conforme Lakatos e Marconi (2003), as variáveis podem ser independentes (quando influencia ou afeta outra variável; é o fator determinante) e dependentes (quando são influenciadas ou afetadas 19 por uma variável independente; é o fator determinado por outro). Por exemplo, você está interessado em saber como o estresse afeta a frequência cardíaca em humanos. Sua variável independente seria o estresse e a variável dependente seria a freqüência cardíaca. Você pode manipular diretamente os níveis de estresse em seus seres humanos e medir as mudanças na frequência cardíaca (http://www.ncsu.edu/labwrite/po/independentvar.htm). Todas as variáveis do estudo devem ser identificadas, consideradas e controladas para validar o resultado da pesquisa. verbete variável independente: influencia ou afeta outra variável; é o fator determinante fim de verbete verbete variável dependente: influenciada ou afetada por uma variável independente; é o fator determinado por outro fim de verbete 1.3.7 – Metodologia Os procedimentos metodológicos devem ser definidos em qualquer pesquisa científica, pois eles demonstram a construção do trabalho científico e as fontes que contribuíram para o desenvolvimento da pesquisa. “Assim, o pesquisador deve citar e explicar os tipos de pesquisa que o estudo trata, justificando cada item de classificação e a relação com o tema e objetivos da pesquisa” (SILVA, 2008). Entendemos então que toda a forma de buscar informação, a fonte, o meio e a organização dos dados devem ser relatados como processo metodológico. A escolha por um determinado método de pesquisa deve estar justificada no trabalho de acordo com o problema e os objetivos estabelecidos. 20 Segundo Lakatos e Marconi (2003), “nas investigações, em geral, nunca se utiliza apenas um método ou uma técnica, e nem somente aqueles que se conhece, mas todos os que forem necessários ou apropriados para determinado caso”. E eles ainda acrescentam uma situação muito comum nas pesquisas científicas relacionadas a engenharia: “na maioria das vezes, há uma combinação de dois ou mais deles, usados concomitantemente” (LAKATOS; MARCONI; 2003). 1.3.8 – Coleta e análise dos dados A coleta deve ser feita de modo meticuloso e consistente para que haja certeza da completude dos dados dentro do escopodefinido na formulação do problema Já falamos sobre a importância de prever os recursos necessários no planejamento inicial da pesquisa, e esta é a etapa onde ocorre a maior parte dos imprevistos. Para evitar problemas de atraso na entrega de resultados ou estouro do orçamento é recomendável sempre alocar recursos extras para esta etapa. Nessa fase os métodos, e técnicas são implementados de forma sistematizada e coordenada. É uma fase muito importante, principalmente com o cuidado na manipulação dos dados brutos (sem tratamento e organização). Dependendo da área e tema da pesquisa, há necessidade do pesquisador ou a equipe passar por um treinamento para estarem seguros nas atividades da coleta. O rigor científico na coleta se justifica para que não haja distorções e nem insuficiência de dados. As formas da coleta devem ser apresentadas no trabalho e especificar seus objetivos. As técnicas mais comuns de coleta são: levantamento bibliográfico, observação, análise documental, entrevistas, questionários, tabelas, entre outros procedimentos. Faz-se necessária também a especificação da conformidade dos dados quanto a população e amostra da pesquisa. Após a coleta de dados, é necessária análise dos mesmos. Dependendo da pesquisa, as análises dos dados podem ocorrer de forma simultânea para que o pesquisador possa observar o desenvolvimento da atividade e verificar sua 21 direção. Em muitas pesquisas, a análise estatística é imprescindível para o prosseguimento da pesquisa. Inclusive, na engenharia a análise estatística é pertinente a muitas áreas e tipos de pesquisas.. Para analisar os dados, Lakatos e Marconi (2003), recomenda uma elaboração prévia dos dados através da seleção desses dados (verificação crítica; um filtro pertinente ao assunto), a codificação (agrupamento dos dados e criação de códigos para os mesmos) e a tabulação (organização dos dados em tabelas). 1.3.9 – Interpretação e discussão de dados Com os resultados organizados em mãos, o pesquisador pode analisar as informações encontradas e identificar correlações que ajudem a encontrar soluções para o problema da pesquisa. É nessa fase também que identificamos os resultados mais relevantes e discutimos as suas possíveis causas ou seus efeitos. A análise dos resultados pode dispor de ser apresentada em forma de tabelas, gráficos, e figuras, entre outros, para evidenciar a relação dos dados e suas indicações. Em geral, através da discussão, interpreta-se os resultados, avalia-se seu verdadeiro significado, em relação aos objetivos propostos no estudo e examina-se as inferências que podem ter ocorrido. A discussão geralmente parte de pontos específicos e chega à perspectiva geral. A discussão dos resultados pode também indicar novos caminhos para os próximos estudos, ou novas áreas de conhecimento a serem exploradasNa discussão de resultados é necessário tratar das implicações teóricas, assim como as possíveis aplicações. É interessante também comparar também os resultados obtidos com os resultados de trabalhos já publicados. Portanto, através da discussão dos resultados podemos chegar a uma proposição e assim passamos paras considerações finais. 22 1.3.10 – Considerações finais Neste momento, escrevemos uma síntese da análise realizada. Observamos se os objetivos foram alcançados e se as hipóteses foram confirmadas ou rejeitadas. Nas considerações finais relatamos os questionamentos ou aspectos não respondidos indicando uma futura continuação do estudo para atingir essas metas. Por último, resgatamos as contribuições que o estudo trouxe confirmando assim a relevância do tema que havia sido estabelecida no início da pesquisa. Uma observação importante é nessa fase não aparecem novos assuntos e conceitos. Podemos dizer que é um balanço final da pesquisa, incluindo acertos, erros e caminhos futuros. 1.3.11 – Redação e apresentação da pesquisa Em geral, a pesquisa gera um relatório que deve seguir algumas regras. A redação deve ter uma linguagem simples, clara e objetiva ao longo de todas as fases da pesquisa. O texto é formal, chamado também de técnico-científico, e deve ser organizado. O texto deve evidenciar coerência em suas informações. O relatório deve seguir os modelos sugeridos pela instituição em que a pesquisa está sendo desenvolvida e apresentar uma estrutura organizada e clara para apresentação do estudo. “Esta última etapa da pesquisa não é elaborada no término do estudo ou possui uma sequência de outras etapas, mas é uma preocupação geral que o pesquisador precisa ter quando da produção científica” (SILVA, 2008). Vale a pena salientar que uma boa apresentação ressalta os resultados, a importância da pesquisa e reflete, geralmente, cuidados com o planejamento das fases e dos procedimentos técnico-científicos. Veremos mais sobre apresentação de textos técnico-científicos nas aulas 6 e 7 em que estudaremos inclusive as normas da ABNT. 23 Verbete ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas É o órgão responsável pela criação de regras técnicas no Brasil visando melhor comunicação e segurança nos processos e produtos produzidos no país. fim do verbete Conclusão A pesquisa científica tem como objetivo testar uma hipótese através de métodos científicos. E com o avanço das descobertas, a pesquisa científica forneceu informações importantes para o desenvolvimento da tecnologia. A fusão dessas duas vertentes fica clara na prática de um engenheiro. Mas um pesquisador pode planejar uma pesquisa em qualquer área, só precisa estabelecer as fases elementares e seus respectivos propósitos. Você, futuro engenheiro, comece agora a investigar o cotidiano de um engenheiro de produção e tente visualizar a prática da pesquisa científica nessa profissão! Resumo Na aula 4, vimos que a inspiração para uma investigação pode vir de eventos do cotidiano, mas que a investigação em si deve seguir critérios bem definidos para ser validada como conhecimento científico. A pesquisa se refere ao estudo de dados e fatos, em busca de conhecimento e que tecnologia é a aplicação deste conhecimento em soluções práticas: novos processos ou produtos. Por último, analisamos as etapas da pesquisa científica: desde a definição do problema até as considerações finais, ressaltando os pontos a serem considerados a cada etapa e os cuidados a serem tomados para garantir a integridade dos resultados. Informações sobre a próxima aula Na Aula 5, você conhecerá a classificação dos diferentes tipos de pesquisa e suas características. Você também aprenderá como usá-las no exercício da engenharia. Até lá! 24 Referências ALMEIDA JÚNIOR, João Baptista de. O estudo como forma de pesquisa. In: CARVALHO, M. Cecília (Org.). Construindo o saber. Campinas: Papirus, 1988. ANDER-EGG, Ezequiel. Introduccion a las técnicas de investigacion social: para trabajadores sociales. 7. ed. Buenos Aires: Humanitas, 1978. ParteII, Capítulo 6. BRYMAN, A. Research methods and organization studies (contemporary social research). 1st edition, London: Routledge, 1989. CARTONI, D.M. Ciência e conhecimento científico. Anuário da Produção Acadêmica Docente,Vol. I, Nº. 5, Ano 2009. CERVO, A.L.; BERVIAN, P.A. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. 242 p. GIL, Antônio C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2006. HERSCHBACH, Dennis R. Technology as Knowledge: Implications for Instruction. Journal of TechnologyEducation. Vol. 7 No. 1. 1995. Disponível em: <http://scholar.lib.vt.edu/ejournals/JTE/v7n1/pdf/herschbach.pdf>. Acesso em: 20/08/2014. KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de metodologia científica. 19. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. V. 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