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Ciência, Inovação e Empreendedorismo Ciência, Inovação e Empreendedorismo Organizado por Universidade Luterana do Brasil Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Canoas, RS 2018 Patrícia Noll de Mattos Rodrigo Von Mengden Tomasi Valesca Persch Reichelt Conselho Editorial EAD Ana Patricia Barbosa Andréa de Azevedo Eick Astomiro Romais Claudiane Furtado Italo Ogliari Juliane Maria Puhl Gomes Lourdes da Silva Gil Luiz Carlos Specht Filho Maria Cleidia Klein Oliveira Rafael da Silva Valada Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da ULBRA. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. Dados técnicos do livro Diagramação: Jonatan Souza Revisão: Ane Sefrin Arduim Este livro apresenta uma abordagem acadêmica ressaltando a impor-tância da pesquisa científica para o processo de inovação e empre- endedorismo tendo como contributo o fomento de atitudes que possam estimular o desenvolvimento da sociedade em diversas áreas de atuação como educação, exatas, humanas, saúde entre outras, com base no co- nhecimento científico. O livro esta dividido em 10 capítulos que estão subdivididos em três grandes partes, de forma que o aprendizado possa ir se complementando ao iniciar pela abordagem da ciência como base para o processo de ino- vação, e finalizando com o fomento à atitude empreendedora, baseada no conhecimento científico. Com relação à ciência, serão enfatizados aspec- tos relacionados aos tipos, às técnicas aos métodos, formas de aplicação, análise e uso de tecnologias de apoio à pesquisa. No que tange à parte da inovação, serão abordados conceitos contem- porâneos, o processo de criatividade, tipos de ferramentas e aspectos que possibilitem a geração de ideias inovadoras e importância da relação da tríplice Hélice (Universidade, Indústria e Governo) que possibilita uma rede de desenvolvimento tecnológico interagindo aspectos da pesquisa, da ciên- cia e dos investimentos em inovação e expansão dos negócios com vistas ao desenvolvimento da sociedade. Para Terwiesche e Ulrich (2009), a inovação pode ser conceituada como um novo encontro entre a necessidade e uma solução, e nesse sentido é importante perceber que o conceito de inovação passa por um processo contínuo de aperfeiçoamento e precisa ser acom- panhado com embasamento de pesquisa para que os empreendedores possam entender de forma clara e fundamentada o novo e amplo cenário de atuação ao qual serão inseridos e que constantemente será modificado para atender as necessidades de uma sociedade diversificada e global. Apresentação Apresentação v Por fim, o livro busca mostrar a relação entre os conceitos de ciência, inovação e empreendedorismo criando subsídios para que o profissional de diversas áreas possa entender cada abordagem e de que forma pode interagir com a sociedade na busca da melhoria da qualidade de vida e do desenvolvimento do país com atitudes inovadoras empreendedoras alicer- çadas pelos aspectos do conhecimento científico. Marie Cristine Fortes Rocha1 1 Doutorado concluído em Gestão com ênfase em captação de recursos para o Terceiro Setor (2018- UTAD/PT). Atualmente coordenadora do curso de Administra- ção EAD e professora de graduação e pós-graduação nas modalidades presencial e EAD da Universidade Luterana do Brasil. 1 Ciência, Inovação e Empreendedorismo ................................1 2 Desenvolvimento da Pesquisa Científica ..............................22 3 Métodos e Procedimentos de Pesquisa ................................38 4 Projeto de Pesquisa Científica ..............................................65 5 Processos Criativos .............................................................85 6 Inovação ..........................................................................115 7 Tipos e Aspectos Legais de Inovação .................................130 8 Atitude Empreendedora ....................................................149 9 Modelos de Negócios .......................................................167 10 Ciência, Inovação e Empreendedorismo para o Desenvolvimento da Sociedade .........................................193 Sumário Ciência, Inovação e Empreendedorismo 1 Mestre em Administração com ênfase em Tecnologia e Produção pelo PPGA/ UFRGS. Professor dos cursos de graduação e pós-graduação nas modalidades pre- sencial e a distância da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) desde 2004. Rodrigo von Mengden Tomasi1 Capítulo 1 2 Ciência, Inovação e Empreendedorismo Introdução A Universidade Luterana do Brasil, em seu processo de rees- truturação pedagógica, realizou uma ampla discussão sobre o seu papel na sociedade e a adequação de suas práticas as necessidades atuais de todos os envolvidos em seu DNA de formação acadêmica e profissional. Foram avaliados diversos aspectos referentes à pesquisa, a extensão e ao ensino, sempre considerando o como influen- ciamos a sociedade e o quanto é importante considerarmos o feedback recebido daquilo que fazemos com total dedicação em nossas salas de aula e fora delas. Esse amplo debate com os mais diferentes stakeholders2 da Instituição resultou no Plano de Desenvolvimento Institucio- nal (PDI) para os próximos cinco anos. O documento gerado apresenta as estratégias escolhidas para que possamos formar profissionais capazes de compreender a realidade social, de- bater as suas variáveis e qualificar ainda mais o desenvolvi- mento do país. Conforme afirmou o Pró-reitor Acadêmico Pedro Hernán- dez durante a Formação Continuada de Fevereiro de 2018, quando o PDI foi entregue a comunidade acadêmica: A Ulbra irá buscar fora dos seus muros a realidade da comunidade e o resultado deste estudo será a base do ensino. Estamos construindo uma aprendizagem signifi- 2 Stakeholders são as partes de alguma forma interessadas ou afetadas pelos proje- tos, processos e ações de uma instituição, podendo ser pessoas físicas ou jurídicas. Capítulo 1 Ciência, Inovação e Empreendedorismo 3 cativa e transformadora, em que os alunos serão auto- gestores do conhecimento e o professor, um orientador. Sendo assim, nesse contexto de evidente transformação, a disciplina que agora apresentamos foi concebida relacionan- do três importantes conceitos de necessária compreensão para atingir a nova missão institucional: ser comunidade de apren- dizagem eficaz e inovadora. Abordaremos o conceito de ciência, de Inovação e de Em- preendedorismo, iniciando por este capítulo que tem como ob- jetivo principal apresentar a importância da compreensão dos mesmos, bem como sua relação para a formação acadêmica e seu alinhamento com o PDI e toda a filosofia da ULBRA. Para tal, discutiremos nesta abordagem introdutória a im- portância da ciência como base para o processo de Inovação e, por consequência, o fomento à adequada atitude Empreen- dedora embasada no conhecimento científico. Este primeiro capítulo foi dividido da seguinte forma para facilitar a compreensão do que se propõe: 1 A importância da ciência 2 A importância da Inovação 3 A importância do Empreendedorismo 4 Ciência, Inovação e Empreendedorismo 1 A importância da ciência Parece algo óbvio afirmarmos a existência de relação direta da ciência com o universo acadêmico. Porém, será que é tão óbvio assim? Você já se perguntou de em que veio o último conceito debatido em sala de aula? Ele tem embasamento científico, foi concebido de forma empírica, teve a devida tes- tagem e aplicação avaliada? Muitas áreas de estudo são denominadas como ciência por seus integrantes, provavelmente com a intenção de trazer cre- dibilidade às suas práticas, no sentido de tentar comprovar que os métodos utilizados em suas áreas são embasados em co- nhecimento científico e nãoapenas em observações diversas. Neste material, abordaremos o conceito entendendo que ciência não diz respeito apenas às ciências exatas, mas tam- bém àqueles outros domínios do saber que tratam das rela- ções humanas, da ética, da cultura, da educação, enfim, todo o saber nascido do exame sistemático e cuidadoso dos temas referentes ao ser humano e a sociedade. Mas o que é ciência, afinal? Afirmamos que a ciência não tem a intenção de estabelecer verdades absolutas ou de traçar uma compreensão plena da realidade, apesar de necessariamente partir do conhecimento científico para suas conceituações e teorias. Conhecimento científico, por sua vez, pode ser denomi- nado também como conhecimento provado. Ou seja, conhe- Capítulo 1 Ciência, Inovação e Empreendedorismo 5 cimento derivado de métodos específicos, esses sim variáveis para cada área do saber. O método científico demanda re- gramentos claros para a obtenção dos dados e suas inter- pretações experimentais, podendo ampliar sua percepção e uso de diferentes formas, com coletas de dados, simulações, testagens, excluindo de sua prática as opiniões pessoais e os possíveis pré- conceitos e preferências. Conforme Chalmers (1993), “A ciência é objetiva. O co- nhecimento científico é conhecimento confiável porque é co- nhecimento provado objetivamente.” Porém, complementa di- zendo que ao analisar trabalhos de diferentes epistemólogos e filósofos da ciência, percebeu que os limites da ciência e o significado das suas dimensões sociais e políticas são muito mais amplos, ao considerarem a ciência não como uma es- trutura rígida e fechada, mas como uma atividade aberta que está em contínua construção. Nessa perspectiva, Rosenthal (1989) apresenta uma série de aspectos relativos a ciências que poderiam ser abordados nos currículos de diferentes áreas que não apenas as exatas, como questões de natureza: 1. Filosófica – que incluiria, entre outros, aspectos éticos do trabalho científico, o impacto das descobertas científicas sobre a sociedade e a responsabilidade social dos cien- tistas no exercício de suas atividades; 2. Sociológica – que incluiria a discussão sobre as influên- cias da ciência e tecnologia sobre a sociedade e dessa última sobre o progresso científico e tecnológico; e as 6 Ciência, Inovação e Empreendedorismo limitações e possibilidades de se usar a ciência e a tec- nologia para resolver problemas sociais; 3. Histórica – que incluiria discutir a influência da atividade científica e tecnológica na história da humanidade, bem como os efeitos de eventos históricos no crescimento da ciência e da tecnologia; 4. Política – que passa pelas interações entre a ciência e a tecnologia e os sistemas público, de governo e legal; a tomada de decisão sobre ciência e tecnologia; o uso político da ciência e tecnologia; ciência, tecnologia, de- fesa nacional e políticas globais; 5. Econômica – com foco nas interações entre condições econômicas e a ciência e a tecnologia, contribuições dessas atividades para o desenvolvimento econômico e industrial, tecnologia e indústria, consumismo, emprego em ciência e tecnologia, e 6. Humanística – aspectos estéticos, criativos e culturais da atividade científica, os efeitos do desenvolvimento cien- tífico sobre a literatura e as artes, e a influência das hu- manidades na ciência e tecnologia. A importância da ciência para todas as áreas do conheci- mento se evidencia facilmente dessa forma, explicitando um pouco mais a justificativa da inclusão desta disciplina nos cur- rículos de todos os cursos. A ULBRA em seu PDI propõe a articulação de sua Missão com a formação de profissionais comprometidos eticamente com a sociedade. Capítulo 1 Ciência, Inovação e Empreendedorismo 7 Conforme o PDI, nestas propostas, as concepções basilares (o Conhecimento, a Formação Pessoal, o Empreendedorismo e a Empregabilidade), alinhadas aos princípios estratégicos e Diretrizes Curriculares Nacionais, emanam o fortalecimento da identidade confessional e seu compromisso social e comu- nitário. A instituição busca promover uma ação pedagógica que dinamize o desenvolvimento de competências cognitivas, técnicas, pessoais e sociais necessárias a uma inserção social ética e a uma atuação profissional emancipatória e transfor- madora. A prática da indissociabilidade, Extensão, Pesquisa e Ensino, é elemento integrante e modernizador dos processos de ensino-aprendizagem. Ilustração: Marcelo Germano - LAC Ulbra EAD. Adaptado de: PDI ULBRA 2017-2022. 8 Ciência, Inovação e Empreendedorismo Em complemento a essa proposta, o Relatório da Comis- são Internacional sobre Educação para o Século XXI postulou quatro pilares da educação do futuro: saber conhecer, saber fazer, saber ser e saber conviver. Realizando uma analogia en- tre competências, entendida como a sinergia de conhecimen- tos, habilidades e atitudes (CHA),3 e os pilares da educação do futuro tem-se que: o saber conhecer trata dos conhecimentos, o saber fazer, das habilidades e o saber ser e o saber conviver representam as atitudes. O saber conhecer refere-se ao pro- cesso de aprendizagem que nunca está finalizado, um apren- der a aprender contínuo. O saber fazer refere-se à articulação e combinação do preparo técnico, às aptidões pessoais e re- lacionais. O saber conviver depende da descoberta do outro como sujeito e da construção coletiva de projetos comuns. Por fim, o saber ser implica agir com ética, responsabilidade e compromisso social na relação com a sua realidade. Dessa forma, podemos inferir que nem sempre se pode solucionar problemas com o mesmo tipo de pensamento que os criou, sendo necessário “pensar fora da caixa”, ampliar o espectro de variáveis e dos fatores que podem auxiliar na to- mada de decisão e aplicá-los inclusive na abordagem de mé- todos científicos inovadores. Assim, justifica-se a escolha da Universidade Luterana do Brasil em ser inovadora até em sua missão, e a importância da compreensão do conceito de inovação para as mais diversas formações profissionais oferecidas na ULBRA. 3 CARBONE, Pedro Paulo; BRANDÃO, Hugo. P; LEITE, João B. D; VILHENA, Rosa M. P. Gestão por competências e gestão do Conhecimento. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006. Capítulo 1 Ciência, Inovação e Empreendedorismo 9 2 A importância da inovação Da mesma forma que comentamos sobre a obviedade da rela- ção da ciência com a Universidade, podemos afirmar que é ob- vio que a inovação é necessária para qualquer área atualmente? Conforme Simantob (2008),4 a inovação, de uma maneira geral, é percebida como essencial para a sobrevivência em um cenário cada vez mais competitivo e globalizado, entretanto, ainda afirma que poucas organizações exercem algum tipo de iniciativa concreta para colocar os princípios da inovação em prática. Comenta ainda que existem duas causas principais para que isto não ocorra com tanta frequência: a visão ultra- passada sobre inovação e o desconhecimento de ferramentas que ajudam a colocá-la em prática. Ao contrário do que muitos podem pensar, inovação não é um assunto recente. Seu conceito vem sendo estudado e suas ferramentas exploradas desde o início do século XX. Borchardt e Santos (2014) afirmam que na visão de Barney e Hesterly (2008), como também de Carvalho, Santos e Barros Neto (2011), a essência do gerenciamento do processo de inovação consiste na mobilização e coordenação dos recur- sos/capacidades (financeiros, físicos, humanos e organizacio- nais) e atores internos à empresa, bem como dos recursos/ca- pacidades e atores externos à empresa (clientes, fornecedores, instituições de pesquisa, instituições de fomento), para neutra- 4 Moysés Simantob, professor da FGV, co-fundador e coordenador do Fórum de Inovação, em entrevista para a Fundação Nacional da Qualidade - FNQ. http://www.inovforum.org.br/ http://www.inovforum.org.br/ 10 Ciência, Inovação e Empreendedorismo lizar ameaças e, sobretudo, explorar oportunidadesalinhadas às prioridades estratégicas da empresa. Ao perceber que a mudança é algo inevitável, as organi- zações necessitam de uma “análise em profundidade dos va- lores, crenças e padrões de comportamentos que guiam o dia a dia do desempenho organizacional” (MARTINS E MARTINS, 2002) para definirem se vão se manter como estão, correndo o risco de não se adaptarem as mudanças, ou proporem prá- ticas inovadoras. Se a cultura de inovação é parte da cultura maior de uma organização, para que ela se desenvolva, faz-se necessário li- dar com aspectos restritivos à cultura nesse contexto (MCLEAN, 2005). Para Carvalho, Reis e Cavalcante (2011), a resposta às pressões surge na forma de consolidação ou adoção de práticas de gerenciamento, como gestão de qualidade, planejamento estratégico, gestão financei- ra, marketing, gestão de projetos, gestão da produção, gestão de pessoas e, mais recentemente, gestão da ino- vação. Contudo, quando lemos ciência e tecnologia de inovação, é comum imaginarmos que se trata de estudos relacionados à melhoria da produção de uma grande empresa, construção de máquinas modernas ou mesmo a criação de novos programas de computadores. Porém, o que pouca gente sabe é que hoje em dia, a ciência e tecnologia de inovação, se tornou uma Capítulo 1 Ciência, Inovação e Empreendedorismo 11 ferramenta importantíssima na melhoria da qualidade de vida dos brasileiros (QUILICI e STADLER, 2004). Lemos (2000) dispõe que dessa forma, noções lineares sobre o processo inovati- vo como aquelas que o tratavam como resultado das atividades realizadas na esfera da ciência, que evoluiria unidirecionalmente para a tecnologia, até chegar à pro- dução e ao mercado já não se colocam mais no centro do debate. Adicionalmente, na mesma medida que a ci- ência não pode ser considerada como fonte absoluta de inovações, também as demandas que vêm do mercado não devem ser tomadas como o único elemento determi- nante do processo de inovação. Interessante observar que temos exemplos de inovação nas mais diferentes áreas. Entre eles, as inovações sociais, na área da saúde, no poder público, nas tecnologias de comunicação, entre diversas outras que viabilizaram as tantas melhorias ex- perimentadas em nossos dias atuais. Na educação podemos destacar a invenção da impren- sa como inovação precursora e atualmente percebemos uma grande oferta de tecnologias educacionais inovadoras inse- ridas nos processos de ensino aprendizagem, aproveitadas por instituições que buscam a melhoria contínua através de propostas inovadoras baseadas no espírito empreendedor, ou seja, em ações executadas por não aceitarem a possibilidade de acomodação, por entenderem que devem sempre estar em busca de uma situação futura com mais qualidade. 12 Ciência, Inovação e Empreendedorismo 3 A importância do empreendedorismo Bom, mas como relacionar agora os três conceitos? De que forma o empreendedorismo se encaixa nessa relação propos- ta? Segundo Hernandez (2017)5, o conjunto de fatores em questão faz com que os recursos humanos a serem formados na Ulbra tenham a capacidade de serem agentes de transfor- mação social, e quando se fala em agentes de transformação social, isto significa profissionais capazes de compreender a realidade social, de estrutura, de desenvolvimento, de tecno- logia existentes, e, através da Universidade ou dentro do con- texto universitário, discutir estas variáveis e saírem profissionais capazes de qualificar ainda mais o desenvolvimento do país. Deve-se buscar entender que o empreendedor nesse con- texto acadêmico é aquele que inova, é o agente de mudanças. Porém, as mudanças que buscamos são aquelas pensadas e implantadas através de método científico, de análises comple- tas e que podem gerar propostas consistentes e duradouras. Segundo Gomes (2005) há muitas definições do termo empreendedor, principal- mente, porque são propostas por pesquisadores de dife- rentes campos do conhecimento, que utilizam os princí- pios de suas próprias áreas de interesse para construir o conceito. Duas correntes principais tendem, no entanto, 5 Fala do Pró-reitor Acadêmico Pedro Hernandez, disponível em: http://www.ulbra. br/muda-com-voce. Capítulo 1 Ciência, Inovação e Empreendedorismo 13 a conter elementos comuns à maioria delas. São as dos pioneiros do campo: os economistas de corte liberal, que associaram empreendedor à inovação, e os psicólogos, que enfatizam aspectos atitudinais, como a criatividade e a intuição. Em um primeiro momento, os economistas identificaram no empreendedorismo um elemento útil à compreensão do desenvolvimento. Depois, os compor- tamentalistas tentaram compreender o empreendedor como pessoa. Atualmente, o assunto está em processo de expansão para quase todas as disciplinas. Complementando o conceito, afirma-se no PDI da ULBRA que, [...] tem-se como destaque o enfoque no empreendedo- rismo, que na organização didático-pedagógica consti- tui-se como referencial fundamental para que o estudan- te durante a sua formação universitária, desde o início da sua vida acadêmica, para que o docente contribua neste processo de forma progressiva e pertinente ao momento do currículo no qual o aluno se encontra. E, ao conciliar os saberes legitimados pelas práticas sociais com o saber produzido pela comunidade científica que sustentam a formação de diferentes perfis profissionais, torna-se ne- cessário aprimorar constantemente as ações na Institui- ção, visando ao crescimento pessoal e profissional dos estudantes, como agentes de suas aprendizagens. (PDI 2017-2022) Ou seja, o empreendedorismo se encaixa nesse contexto como o impulsionador da pesquisa científica com a finalida- de de geração de inovação. O empreendedor na Universida- 14 Ciência, Inovação e Empreendedorismo de, e também fora dela, deve ser identificado como aquele que, interagindo com os demais, aproveita-se de um ambiente propicio ao empreendedorismo, à proposição de mudanças, à implantação de novas práticas e com abertura para novas ideias e sugestões. Deve-se reconhecer a importância de se promoverem as condições ideais para estimular a mentalidade empreendedo- ra, a inquietação, a busca pela melhoria contínua. Pode-se afirmar que o espírito empreendedor tende a ser mais bem de- senvolvido em ambientes colaborativos, que permitem intera- ções diversas e ampliação das possibilidades de aprendizado. Uma das questões centrais que se colocam sobre esse tema é a ampliação da capacidade empreendedora, a qual, até recentemente, foi associada estritamente à qualificação formal de indivíduos (capital humano). Evi- dencia-se, entretanto, cada vez mais, que tal capacidade não se resume ao aprimoramento de pessoas e empresas isoladamente, por meio do incremento da dotação de trabalhadores qualificados e treinados. Reconhece-se, com maior intensidade, que ambientes mais propícios ao empreendedorismo são aqueles em que ocorrem proces- sos interativos e cooperativos de aprendizado e de ino- vação; daí a importância de se promover a capacitação local em inovação e aprendizado de forma coletiva e sistêmica. Nesse contexto, assumem novo papel os sis- temas de relações entre os diferentes atores, cuja densi- dade e caráter inovador podem favorecer processos de crescimento e mudança, em que se desenvolve a ativida- Capítulo 1 Ciência, Inovação e Empreendedorismo 15 de empreendedora, produtiva e inovadora. (ALBAGLI e MACIEL, 2002) Vivemos em um período marcado pela inovação tecnoló- gica cuja velocidade da tomada de decisão pode ser funda- mental para a diferenciação entre sucesso ou fracasso. Não podemos perder oportunidades de buscar vantagem compe- titiva, seja no meio acadêmico, seja no ambiente profissional. O empreendedorismo deve ser estimulado, porém com o devido cuidado de seguir um processo adequado, de análises bem feitas, de simulações consistentes, de testagens funda- mentadas e com critérios objetivos. Voltamos assim ao métodocientífico e o destaque de sua importância para a busca do embasamento científico como base para o desenvolvimento de propostas empreendedoras adequadas. Resgatando também a inovação, pode-se afirmar que es- sas propostas empreendedoras com base na ciência, quando direcionadas à inovação, tendem a ter mais sucesso no con- texto atual. As mais recentes definições de inovação aceitas global- mente dividem as atividades de inovação em algumas etapas, podendo ser: científicas, tecnológicas, organizacionais, finan- ceiras e comerciais, desde que conduzam, ou visem conduzir, à implementação de inovações. Algumas atividades de inova- ção são em si inovadoras, outras não são atividades novas, mas são necessárias para a implementação de inovações.6 6 Manual de Oslo, 3. ed., 2005. 16 Ciência, Inovação e Empreendedorismo Relacionando com o empreendedorismo, algumas propos- tas podem parecer empreendedoras, mas nem todas serão apenas por serem novidade no cenário em que foram aplica- das. É necessário o cumprimento de algumas fases para que o processo empreendedor seja realmente efetivo e para que possamos afirmar que o mesmo teve a adequada fundamen- tação anterior à sua implantação. Encerramos esse capítulo com a necessidade de aprofun- darmos os três conceitos que formam essa disciplina, a fim de podermos utilizar o conhecimento desenvolvido para os estu- dos necessários em nossas áreas de formação. Sendo assim, no próximo capítulo iniciaremos com a ampliação do conceito definido como base necessária para nossos objetivos, a Ciên- cia. Recapitulando Neste capítulo, apresentamos os conceitos de Ciência, Ino- vação e Empreendedorismo, sua relação e os principais cri- térios para sua diferenciação e compreensão. Destacou-se a importância de cada um dos conceitos no contexto atual e sua identificação direta com a proposta de formação objetiva- da pela ULBRA para reforçar o seu papel na sociedade, bus- cando formar profissionais capazes de impactar na melhoria da qualidade de vida e contribuir para o desenvolvimento do país. Para tal, discutimos a importância da ciência como base para o processo de Inovação e, por consequência, o fomento à adequada atitude Empreendedora embasada no conheci- Capítulo 1 Ciência, Inovação e Empreendedorismo 17 mento científico, utilizando-se de um ambiente adequado e propício para tal. Referências ALBAGLI, S., MACIEL, M. L. Capital social e empreendedo- rismo local. Disponível em: <http://www.ie.ufrj.br/rede- sist/NTF2/NT%20SaritaMLucia.PDF>. Acesso em: 27 set. 2018. BORCHARDT, P., SANTOS, G. V. Gestão de Ideias para Ino- vação: da ideação à implantação. ANPAD, 2014. CARVALHO, H. G.; REIS, D. R.; CAVALCANTE, M. B. Gestão da inovação. Curitiba: Aymará, 2011. CHALMERS, A. F. O que é ciência afinal? Tradução: Raul Filker. Brasiliense, 1993. ______. A fabricação da ciência. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 1994. GOMES, A. F. O empreendedorismo como uma ala- vanca para o desenvolvimento local. Disponível em: <http://periodicos.unifacef.com.br/index.php/rea/article/ view/192/44>. Acesso em: 27 set. 2018. LEMOS, C. Inovação na era do conhecimento. Disponível em: <http://seer.cgee.org.br/index.php/parcerias_estrate- gicas/article/viewFile/104/97>. Acesso em: 27 set. 2018. 18 Ciência, Inovação e Empreendedorismo MARTINS, E., MARTINS, N. An organizational culture model to promote creativity and innovation. Journal of Industrial Psychology, 28(4), 58-65, 2002. MCLEAN, L. D. Organizational culture´s influence on cre- ativity and innovation: a review of the literature and im- plications for human resource development. Advances in Developing Human Resources, 7(2), 226-246. doi: 10.1177/1523422305274528, 2005. QUILICI, R. F. M., STADLER, C. C. A importância da ciência e tecnologia de inovação na saúde pública brasileira: Novos conceitos e diretrizes. Disponível em: <file:///C:/ Users/aqdmin/Downloads/748-quilici_RFM_A_importan- cia_da_ciencia%20(1).pdf >. Acesso em: 27 set. 2018. ROSENTHAL, D. B. Two approaches to science – technology – society (STS) education. Science Education, v. 73, n. 5, p.581-589, 1989. SIMANTOB, M. Disponível em: <http://www.fnq.org.br/in- forme-se/artigos-e-entrevistas/entrevistas/a-importancia- -da-inovacao-para-a-sobrevivencia-das-organizacoes>. Acesso em: 27 set. 2018. Atividades 1) O Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da ULBRA é: http://www.fnq.org.br/informe-se/artigos-e-entrevistas/entrevistas/a-importancia-da-inovacao-para-a-sobrevivencia-das-organizacoes http://www.fnq.org.br/informe-se/artigos-e-entrevistas/entrevistas/a-importancia-da-inovacao-para-a-sobrevivencia-das-organizacoes http://www.fnq.org.br/informe-se/artigos-e-entrevistas/entrevistas/a-importancia-da-inovacao-para-a-sobrevivencia-das-organizacoes Capítulo 1 Ciência, Inovação e Empreendedorismo 19 I) Um documento que apresenta as estratégias escolhi- das pela Universidade para orientar a formação dos alunos. II) A representação de como a ULBRA propõe a articula- ção de sua Missão com a formação de profissionais comprometidos eticamente com a sociedade. III) A definição do Ministério da Educação, através das Di- retrizes Curriculares Nacionais, que determinam como fortalecer a identidade confessional e seu compromis- so social e comunitário. A partir das assertivas acima, escolha a alternativa que re- presenta de forma correta seu conteúdo: a) Apenas a afirmativa I está correta. b) Apenas a afirmativa II está correta. c) Apenas a afirmativa III está correta. d) Apenas as afirmativas I e II estão corretas. e) Apenas as afirmativas II e III estão corretas. 2) A importância da ciência para todas as áreas do conheci- mento se evidencia facilmente. Aspectos relativos a diver- sas áreas podem ser abordados, como por exemplo: a) Filosófica e Sociológica. b) História. c) Política e Econômica. 20 Ciência, Inovação e Empreendedorismo d) Humanística. e) Todas as alternativas acima e muitas outras áreas ainda. 3) O Relatório da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI postulou quatro pilares da educação do futuro. Entre eles, qual implica agir com ética, respon- sabilidade e compromisso social na relação com a sua realidade: a) saber conhecer. b) saber fazer. c) saber ser. d) saber conviver. e) saber aprender. 4) Inovação usualmente é relacionada com melhoria. Toman- do essa afirmação como verdadeira, por que ainda pou- cas organizações exercem algum tipo de iniciativa concre- ta para colocar os princípios da inovação em prática? 5) Assinale a alternativa que completa a frase corretamen- te: O ___ na Universidade, e também fora dela, deve ser identificado como aquele que, ____ com os demais, apro- veita-se de um ____ propício ao empreendedorismo, à proposição de mudanças, à implantação de ____ práticas e com abertura para novas ideias e sugestões. a) professor, interagindo, negócio, diferentes. b) empreendedor, interagindo, ambiente, novas. Capítulo 1 Ciência, Inovação e Empreendedorismo 21 c) professor, avaliando, ambiente, novas. d) empreendedor, definindo, empreendimento, outras. e) aluno, estudando, auditório, diferentes. ?????????? Capítulo ? Desenvolvimento da Pesquisa Científica1 1 Possui graduação em Bacharelado em Informática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1991) e mestrado em Computação pela Universi- dade Federal do Rio Grande do Sul (1996). Atualmente é professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e professor adjunto com mestrado da Universidade Lute- rana do Brasil. Tem experiência na área de Ciência da Computação, com ênfase em Software Básico, Projeto de Interfaces, educação a distância e metodologia científica. Patrícia Noll de Mattos1 Capítulo 2 Capítulo 2 Desenvolvimento da Pesquisa Científica 23 Introdução Iniciamos este capítulo falando sobre ciência, como ela é pro- duzida e sua relação com a universidade. Além disso, para ex- plicar como o conhecimento científicoé gerado, abordaremos também a pesquisa científica. 1 O que é ciência? Antes de iniciarmos a apresentação sobre o processo de de- senvolver pesquisa científica, falemos um pouco sobre ciência. Atualmente, a ciência é altamente considerada, mencioná-la em uma argumentação ou pesquisa, atribui a ela um senti- mento de confiabilidade ou de mérito associado. É comum nos depararmos com anúncios de produtos que asseguram que seu efeito foi cientificamente comprovado, insinuando que sua afirmação é bem fundamentada. Existe uma crença de que a ciência e seus métodos são especiais e que asseguram a veracidade das afirmações, que a ciência é sempre exata e precisa. Mas será que ela é sempre assim nos diversos ramos de saberes? Segundo FONSECA (2002, p. 11-12), a Ciência é um con- junto de saberes provenientes da associação de experiências práticas com o raciocínio lógico. Essa associação é constituída a partir da observação, identificação, descrição e investigação experimental, além da aplicação de teorias. 24 Ciência, Inovação e Empreendedorismo No entanto, a Ciência não tem a intenção de estabelecer verdades absolutas ou de traçar uma compreensão plena da realidade. Ela se constitui em verdades provisórias, que faci- litem a compreensão da realidade presente e permita prever acontecimentos futuros, permitindo que intervenções sobre os mesmos possam ser realizadas. Contudo, estamos em constante evolução, novos conhe- cimentos são agregados aos já existentes, novas experiências são vividas, o que nos remete ao fato de que ciência é um processo que está sempre em movimento. Na medida em que novos conhecimentos forem sendo descortinados, novas pers- pectivas vão sendo geradas, ampliando-se o conhecimento sobre determinada realidade. É importante que observemos que a Ciência é um proces- so em movimento, mas que sua produção ocorre a partir do método científico, o qual envolve técnicas exatas, objetivas e sistemáticas. Nesse contexto, o método científico envolve re- gras fixas para a formação de conceitos, para a condução de observações, para a realização de experimentos e para a va- lidação de hipóteses explicativas. É com base nele que novos saberes vão sendo construídos. A palavra ciência deriva do latim scientia, cujo significado é “conhecimento” ou “saber”. Ela contempla vários conjuntos de saberes adquiridos através do estudo ou da prática, segun- do procedimentos específicos ou métodos científicos. A curiosidade é um dos ingredientes base para o desenvol- vimento da Ciência. Ela promove no indivíduo a necessidade de saber mais, de observar, de analisar, de refletir sobre o ob- Capítulo 2 Desenvolvimento da Pesquisa Científica 25 jeto da curiosidade. Através da curiosidade e da observação o homem explora a natureza das coisas e conhece o comporta- mento das pessoas e dos fenômenos. Um exemplo de conjunto de saberes é o que descreve, or- dena e compara os fenômenos naturais, ou seja, da natureza e seus processos, estabelecendo a relação existente entre eles e formulando regras. A esse conjunto de saberes chamamos de ciências naturais. Existes outros conjuntos de saberes, como as ciências exatas, ciências sociais, ciências contábeis, dentre outras. 2 Universidade e a ciência A maioria dos alunos ingressa na universidade com a intenção de cursar um conjunto de disciplinas que compõem o conjunto básico dos saberes necessários para atuar em uma determi- nada área profissional, e entendem que isso é o suficiente, ou seja, que aí se encerra o papel da universidade. Porém, esse compõe apenas um dos pilares da universida- de, o do ensino. Os outros dois pilares são o da pesquisa e o da extensão. Assim como vimos a constante evolução da Ciência, po- demos dizer também que ela é sustentada por informação, por teorias e regras já pesquisadas em algum momento. A universidade, em seu pilar de ensino, tem como função reunir as informações e conhecimentos que dão base aos diversos saberes. Porém, ela não se estingue apenas no ensino, ela tem 26 Ciência, Inovação e Empreendedorismo o compromisso de educar, de proporcionar aos seus alunos não apenas o alcance à informação, mas o desenvolvimento de um pensamento crítico, que seja capaz de absorver as in- formações, promover relações com experiências já vividas e com necessidades percebidas, provocando novas descobertas e vislumbrando novos caminhos. Na universidade, professores elaboram projetos de pes- quisa e extensão dos quais os alunos podem participar. Os alunos podem participar dos projetos de pesquisa através da iniciação científica, voluntariamente, ou com bolsa, de acordo com os editais publicados pela universidade. Através desses projetos, os alunos têm a possibilidade de estudar temas mais profundamente ou mesmo novos temas, não abordados em sala de aula, além de terem um primeiro contato com o mé- todo científico. Os projetos de extensão fazem a ligação dos saberes aca- dêmicos oriundos do ensino e da pesquisa, com as necessida- des da comunidade, faz com que se percebam as necessidades sociais, culturais, econômicas, dentre outras. Eles proporcio- nam a interação da universidade com a sociedade, promoven- do a interação entre a teoria e a prática (FIGUEIREDO, 2015). 3 Conhecimento científico Desde que nascemos somos levados a conhecer, de forma na- tural, o que está no nosso cotidiano, ao nosso redor. Seja por observação, seja por instigação de nossa família ou meios de Capítulo 2 Desenvolvimento da Pesquisa Científica 27 comunicação, vamos recebendo as informações e adquirindo uma compreensão sobre as coisas do mundo, sobre o que acontece em nosso entorno, nas diversas áreas, humanas, so- ciais, políticas, econômicas e culturais. Para que exista o ato de conhecer, é fundamental a relação entre o sujeito e o objeto. O sujeito, no caso que nos interessa aqui, é o ser humano que construiu a faculdade da inteligibilidade, construiu um in- terior capaz de apropriar-se simbólica e representativamente do exterior, conseguindo, inclusive, operar de forma abstra- ta com seus símbolos e representações. O objeto é o mundo exterior ao sujeito, que é representado em seu pensamento a partir da manipulação que executa com eles. (LUCKESI, 1995, p. 16) Dessa forma, o conhecimento pode ser definido como a compreensão inteligível da realidade exterior, formada no in- terior do homem como um pensamento abstrato, de maneira que lhe possa expressar a realidade. A realidade pode ser descrita de diversas formas, determi- nadas situações podem ser interpretadas sob diferentes aspec- tos: religiosos, cotidianos, filosóficos, científicos, dentre outros. Para cada ótica, ou aspecto, um tipo de conhecimento é ge- rado. Sob a ótica do cotidiano, nasce o senso comum, conhe- cimento adquirido pelo homem a partir de suas vivências e experiências, e da observação do mundo. São conhecimen- tos empíricos, passados de geração para geração. Trata-se de uma herança cultural, não baseada em métodos ou conclu- 28 Ciência, Inovação e Empreendedorismo sões científicas, mas na assimilação espontânea de conheci- mentos úteis para o dia a dia. É através do senso comum que uma criança aprende o que pode ou não comer, o que é seguro ou perigoso e, mesmo, o que é justo ou injusto. Sob outra ótica, o conhecimento científico deve ser basea- do em observações e observações, que servem para atestar a veracidade ou não de determinada teoria. A razão deve estar atrelada à lógica da experimentação científica pois, caso con- trário, se configuraria como conhecimento filosófico. Segundo GIL (2008), o conhecimento científico é:  Objetivo: descreve a realidade, independente da opi- nião do pesquisador;  Racional: baseia-se na razão e não em sensações ou impressões para chegar aos resultados;  Sistemático: preocupa-se com a construção de um sis- tema de ideias, organizadas racionalmente, e em incluir conceitos parciais em totalidades cada vez mais amplas.  Geral: possui apreocupação com a elaboração de leis ou normas gerais, as quais, explicam todos os fenôme- nos de certo tipo;  Verificável: apresenta sempre a possibilidade de de- monstrar a veracidade das informações apresentados;  Falível: reconhece a própria capacidade de errar. Capítulo 2 Desenvolvimento da Pesquisa Científica 29 O conhecimento pode ser encarado como o resultado do aprimoramento do senso comum, através da investigação cien- tífica, com o objetivo de comprová-lo ou refutá-lo. Trata-se de um conhecimento passível de demonstração e comprovação, objetivo, metódico e sistematizado. Como ele pode ser, através do método científico, constantemente testado, reformulado e atualizado, o que o atribui o caráter de provisório (FONSECA, 2002, p. 11). 4 Pesquisa científica Quando estamos na escola, muitos professores pedem como tarefa a realização de uma pesquisa sobre determinado tema. Nesse caso, buscamos materiais sobre o tema, escolhemos os tópicos mais importantes e montamos um documento ou uma apresentação narrando o que descobrimos sobre o assunto. Logo, a pesquisa pode ser definida como um conjunto de ati- vidades orientadas para a busca de um determinado conhe- cimento. O que difere esse tipo de pesquisa da pesquisa científica? O caráter investigativo e questionador, ou seja, a proble- matização. Segundo GIL (2008), é pela observação que o ho- mem adquire grande parte do seu conhecimento. A pesquisa científica parte de um problema proposto pelo pesquisador, implicando na observação, análise, reflexão crítica, síntese e aprofundamento de conceitos sobre determinado tema, com base no método científico. 30 Ciência, Inovação e Empreendedorismo Dessa forma, o conhecimento científico, obtido a partir da pesquisa científica, se baseia na formulação de problemas, ou seja, na capacidade de elaborar questões para as quais se vai buscar respostas e, nesse processo, elaborar novos questiona- mentos. Para LAKATOS E MARCONI (2010, P. 139), a pesquisa “é um procedimento formal, com método de pensamento refle- xivo, que requer um tratamento científico e se constitui no ca- minho para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais”. Segundo GIL (2008, p. 26), a pesquisa pode ser definida como “o processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”. É importante ressaltar que, independente da natureza da pesquisa, ao aplicar a metodologia científica, ela contribui para a aquisição de novos conhecimentos, na medida em que promove reflexão e discussão sobre o assunto pesquisado. Se produz novo conhecimento, está produzindo ciência. DEMO (1987, p.20) menciona que “a ciência propõe-se a captar e manipular a realizada assim como ela é. A meto- dologia desenvolve a preocupação em torno de como chegar a isto”. Segundo GIL (2010), algumas características sociais e inte- lectuais do pesquisador são fundamentais para a obtenção do êxito na pesquisa, são elas: Capítulo 2 Desenvolvimento da Pesquisa Científica 31  curiosidade  criatividade  conhecimento sobre o que deve ser pesquisado  integridade intelectual  atividade corretiva  sensibilidade social  imaginação disciplinada  perseverança e paciência Além dessas qualidades, GIL (2010) ressalta a importância da construção de um projeto que planeje e norteie a pesquisa. O desenvolvimento de uma pesquisa pode ser dividido em três etapas principais, a de planejamento, a de execução e a de divulgação. A etapa de planejamento consiste na construção do pro- jeto de pesquisa, através da realização de revisão literária, busca do problema, definição da hipótese, objetivos, justifi- cativa, referencial teórico e definição da metodologia. Uma pesquisa bem planejada possui maior probabilidade de ser seguida e de se obter êxito. A etapa de execução corresponde ao desenvolvimento da pesquisa, em que se coloca em prática o que foi planejado no projeto. Consiste na aplicação dos métodos e técnicas defini- das na metodologia: realização de experimentos, construção de protótipos, realização de entrevistas e dentre outros. 32 Ciência, Inovação e Empreendedorismo Nessa etapa, os resultados são obtidos através da aplica- ção da metodologia definida no projeto, são analisados, tes- tados e validados. A etapa de divulgação consiste em divulgar os achados de pesquisa, através da publicação de um relatório final, artigo científico, resumos ou apresentação em eventos científicos. 4.1 Tipos de pesquisa, método, natureza e abordagem Iniciaremos esta seção classificando a pesquisa científica quanto a seu tipo, como pesquisa pura ou aplicada. A pesqui- sa pura ou básica, como também é chamada, tem seu foco na melhoria de teorias científicas, para melhor prever ou compre- ender os fenômenos naturais ou de outro tipo. Normalmente, esse tipo de pesquisa é puramente teórico e tem a intenção de ampliar a compreensão de certos fenômenos ou comporta- mento, sem procurar tratar ou resolvê-los. Pesquisa aplicada, por sua vez, usa pesquisas científicas para desenvolver tecnologias ou técnicas com a intenção de alterar fenômenos ou comportamentos e intervir nos mesmos. A pesquisa pura serve como base para a pesquisa aplicada. A escolha do método depende do paradigma de pesquisa adotado, ou seja, deve ser apropriado ao tipo de estudo que se pretende realizar e, principalmente, à natureza do problema e ao nível de aprofundamento que se pretende adotar. Existem os métodos qualitativos e os métodos quantitativos. Capítulo 2 Desenvolvimento da Pesquisa Científica 33 O método qualitativo abrange o paradigma fenomeno- lógico, voltado à interpretação e descrição; ele preocupa-se em descrever a realidade investigada e não com medidas e fórmulas matemáticas. Ele é bem empregado em descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, ideal para entender particularidades de comportamento de indivíduos, processos, entidades, motiva- ções de um grupo, interpretar a opinião e as expectativas dos indivíduos de uma população. O método quantitativo abrange o paradigma positivista, voltado à quantificação e mensuração. Ele tem como intenção de garantir a precisão dos resultados, através da utilização de técnicas estatísticas. Pode ser bem empregado para medir relações causa/efeito entre variáveis e avaliar o resultado de um sistema ou projeto. O próximo item que devemos considerar é o nível de pes- quisa. A pesquisa pode ser classificada como exploratória, descritiva ou explicativa. Uma pesquisa pode ser classificada individualmente em um desses níveis ou pode associar mais de um, dependendo do objetivo do estudo. A pesquisa exploratória busca compreender um determi- nado problema ao aprimorar seu conhecimento. Ela propicia a obtenção de novos conhecimentos e pode ser planejada de forma bastante flexível. Estudos exploratórios são aqueles em que não se tem informação sobre determinado tema e se de- seja conhecê-lo. A pesquisa descritiva possui como objetivo a descrição das características de determinado assunto, podendo ser um 34 Ciência, Inovação e Empreendedorismo fenômeno, população ou grupo (distribuição por idade ou sexo, por exemplo). Estudos descritivos são realizados quando se deseja descrever as características de determinado tema, organizando-o ou classificando-o. A pesquisa explicativa possui como objetivo analisar, ve- rificar, avaliar ou explicar um determinado tema, normalmente já existente. Ela costuma explicar o porquê ou a razão de um determinado conceito ou acontecimento. Estudos explicativos são úteis quando se deseja analisar as causas ou consequên- cias de um determinado tema. Agora que já estudamos o tipo, o modelo e o nível de sua pesquisa, estamos prontos para avaliar as estratégias de pes- quisa, ou procedimentos que podem ser utilizados no processode investigação. Recapitulando Neste capítulo, refletimos sobre o que é ciência e sua relação com a universidade, o que é conhecimento científico e pesqui- sa científica. Vimos os diferentes tipos de pesquisa, método e natureza ou nível de pesquisa. Referências DEMO, Pedro. Introdução à Metodologia da ciência. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1987. Capítulo 2 Desenvolvimento da Pesquisa Científica 35 FIGUEIREDO, Karen. Experiência Universitária: Os três Pila- res da Universidade. Blog InspirAda. 2015. INSPIRADA NA COMPUTAÇÃO. Disponível em: <https:// inspiradanacomputacao.github.io/academia/experiencia- -universitaria-os-tres-pilares-da-universidade/>. Acesso em: abril de 2018. FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. For- taleza: UEC, 2002. Apostila. GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa So- cial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008. ______. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fun- damentos de metodologia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. LUCKESI, Cipriano Carlos; PASSOS, Elizete Silva. Introdução à Filosofia. São Paulo: Cortez, 1995. Atividades 1) A pesquisa que busca esclarecer a relação entre causa e efeito e costuma explicar a razão de ser de um determina- do conceito ou acontecimento, é caracterizada como: a) exploratória. https://inspiradanacomputacao.github.io/academia/experiencia-universitaria-os-tres-pilares-da-universidade/ https://inspiradanacomputacao.github.io/academia/experiencia-universitaria-os-tres-pilares-da-universidade/ https://inspiradanacomputacao.github.io/academia/experiencia-universitaria-os-tres-pilares-da-universidade/ 36 Ciência, Inovação e Empreendedorismo b) explicativa. c) descritiva. d) bibliográfica. e) experimental. 2) A pesquisa qualitativa tem como característica: a) Trabalhar com dados numéricos. b) Utilizar técnicas de estatística para o tratamento dos dados. c) Utilizar técnicas probabilísticas para obtenção dos da- dos. d) Apresentar o comportamento e a interpretação de fa- tos, acontecimentos e contextos. e) Ser puramente exploratória. 3) O desenvolvimento de uma pesquisa pode ser dividido em etapas, a saber: a) exploratória, descritiva e explicativa. b) qualitativa ou quantitativa. c) pura ou aplicada. d) planejamento, execução e divulgação. e) planejamento, divulgação e execução. 4) A construção do projeto de pesquisa, através da realiza- ção de revisão literária, busca do problema, definição da Capítulo 2 Desenvolvimento da Pesquisa Científica 37 hipótese, objetivos, justificativa, referencial teórico e de- finição da metodologia, correspondem a qual etapa do desenvolvimento da pesquisa? a) Exploratória. b) Pesquisa bibliográfica. c) Planejamento. d) Divulgação. e) Execução. 5) A pesquisa que busca compreender um determinado pro- blema ao aprimorar seu conhecimento, além disso, propi- cia a obtenção de novos conhecimentos e pode ser plane- jada de forma bastante flexível, é caracterizada como: a) Exploratória. b) Explicativa. c) Descritiva. d) Bibliográfica. e) Experimental. ?????????? Capítulo ? Métodos e Procedimentos de Pesquisa 1 Possui graduação em Bacharelado Em Informática pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1991) e mestrado em Computação pela Universi- dade Federal do Rio Grande do Sul (1996). Atualmente é professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e professor adjunto com mestrado da Universidade Lute- rana do Brasil. Tem experiência na área de Ciência da Computação, com ênfase em Software Básico, Projeto de Interfaces, educação a distância e metodologia científica. Patrícia Noll de Mattos1 Capítulo 3 Capítulo 3 Métodos e Procedimentos de Pesquisa 39 Introdução Este capítulo abordará as principais técnicas e procedimentos de pesquisa, sua relação com o tipo e a natureza da pesquisa e com os principais métodos de coleta e análise de dados. Abordará também o que é método científico e sua diferença em relação à técnica. 1 O que são técnicas e procedimentos de pesquisa? Os métodos descrevem como você desenvolverá sua pesqui- sa e os procedimentos as ferramentas que você utilizará para desenvolvê-la. Porém, antes de você iniciar a escolha dos mé- todos e procedimentos, é importante o entendimento do que é “metodologia de pesquisa”. O estudo de metodologia de pesquisa nada mais é do que o estudo de como fazer pesquisa. Vamos ver a definição de metodologia de pesquisa segundo Michel Thiollent, na obra Metodologia da pesquisa-ação, 2009: “A metodologia tem como objetivo analisar as características dos vários métodos disponíveis, avaliar suas capacidades, potencialidades, limita- ções ou distorções e criticar os pressupostos ou a implicação de sua utilização.” GIL (2008) define o método como o caminho para se che- gar a determinado fim, e o método científico o conjunto de 40 Ciência, Inovação e Empreendedorismo procedimentos intelectuais e técnicas adotadas para se obter conhecimento. Método pode ser visto como a maneira de proceder, a ma- neira de ordenar a ação de acordo com certos princípios, ou a ordem que se segue na procura da verdade, no estudo da ciência, para procurar um fim determinado. Uma técnica é um procedimento, cujo objetivo é a obten- ção de um determinado resultado, seja na ciência, na tecno- logia, na arte ou em qualquer outra área. Consiste em um conjunto de regras, normas ou protocolos que se utiliza como meio para chegar a certa meta. Na definição da metodologia você deverá definir o método a ser utilizado, de acordo com o tipo de pesquisa e sua nature- za, ou seja, se a pesquisa é pura ou aplicada; quantitativa ou qualitativa; exploratória, descritiva ou explicativa. Além disso, precisa definir o aparato instrumental a ser utilizado, ou seja, as ferramentas e técnicas que serão necessárias para o desen- volvimento da pesquisa. Todas essas definições fazem parte do planejamento da pesquisa, e já devem estar presentes desde a especificação do projeto de pesquisa. As ferramentas a serem utilizadas, ou seja, as estratégias de pesquisa vão ajudar você a definir o plano de ação de sua pesquisa, orientando-o nos processos de coleta e análise de dados. Capítulo 3 Métodos e Procedimentos de Pesquisa 41 2 Técnicas e estratégias de pesquisa Ao escolher a(s) estratégia(s) de pesquisa que você irá utilizar em sua pesquisa, você está delineando um plano de ação para a mesma. Além disso, a escolha da estratégia de pesquisa irá orientar a definição das técnicas de coleta e análise de dados a utilizar. A seguir são apresentadas as principais estratégias de pesquisa. 2.1 Pesquisa bibliográfica A maioria das pesquisas iniciam por ela, pois ela permite ao pesquisador a utilização de uma série de recursos disponíveis sobre um determinado tema. Através da pesquisa bibliográfica, você pode utilizar diver- sos recursos disponíveis sobre determinado tema, recorrendo a pesquisa já realizadas e conteúdos já publicados em revis- tas, livros, jornais, monografias, teses, resumos ou artigos em anais de congressos e simpósios, dentre outros. Ela contempla o referencial teórico já publicado acerca do tema (LAKATOS e MARCONI, 2009). Dependendo da questão de pesquisa, remete à necessida- de da pesquisa bibliográfica, como no caso de estudos históri- cos, por exemplo, muitas vezes não há outra forma de realizar a pesquisa senão através de fontes secundárias. É importante, porém, que os dados obtidos através desse tipo de pesquisa sejam analisados, que sua profundidade seja 42 Ciência, Inovação e Empreendedorismo averiguada e que sejam comparados com os de outras fontes, de forma a garantir sua integridade. A pesquisa bibliográfica requer uma leitura organizada e sistemática dos textos, utilizando-se de técnicas de leitura, como anotações, fichas de leitura e fluxogramas. Assim como qualquer outra estratégia de pesquisa, ela deve ser planejada, definindo-sea classe de fontes que serão utilizados, quais veículos de publicação e palavras-chave de busca. 2.2 Pesquisa documental A Pesquisa documental lhe permite pesquisar em documentos e materiais ainda não analisados e tratados, mas que tenham valor científico para o tema estudado. Como exemplos pode- mos citar os arquivos de órgãos públicos e instituições, cartas, memorandos, diários, gravações, dentre outros. Segundo GIL (2002), o que difere a pesquisa documen- tal da pesquisa bibliográfica é a natureza das fontes. A pes- quisa documental utiliza materiais que ainda não receberam um tratamento analítico. A pesquisa bibliográfica, por sua vez, utiliza-se da contribuição sobre diversos autores sobre deter- minado assunto. Por se utilizar de fontes ainda não tratadas, a pesquisa do- cumental pode tornar-se mais morosa, porém, em muitas situ- ações, é de grande contribuição, pois pode possuir um conte- údo bastante rico. Capítulo 3 Métodos e Procedimentos de Pesquisa 43 2.3 Pesquisa de levantamento Levantamento ou Survey consiste na interrogação direta do comportamento dos sujeitos sob investigação. Esta estratégia permite que você colha as informações de um grupo significa- tivo de pessoas sobre o tema estudado e, em seguida, obtenha conclusões acerca dos dados, através da análise quantitativa dos dados. Segundo GIL (2010), “quando o levantamento recolhe in- formações de todos os integrantes do universo pesquisado, tem-se um censo”. Devido à dificuldade, normalmente não são pesquisados todos os integrantes de uma população estu- dada, realizando-se a pesquisa com uma amostra da popula- ção. Existem técnicas de amostragem que definem parâmetros para escolha do local dos participantes, tamanho da amostra, tipo de amostragem, garantindo a confiabilidade dos dados obtidos para o resultado da pesquisa (GIL, 2010). Como ele é realizado? O pesquisador, por meio de conhecimento prévio, adquirido através de pesquisa bibliográfica ou outra estratégia, esta- belece construtores, variáveis e pressupostos que o guiarão na construção de seus instrumentos de pesquisa. O principal instrumento utilizado é o questionário, podendo ter questões abertas ou fechadas. Com o auxílio da internet, é possível a utilização de uma série de ferramentas que permite a publica- ção de pesquisas online, facilitando sua distribuição, tabula- ção e análise de dados. 44 Ciência, Inovação e Empreendedorismo 2.4 Estudo de campo No estudo de campo, a pesquisa é desenvolvida no próprio local em que ocorrem os fenômenos ou fatos em estudo, é im- portante que o pesquisador tenha contato direto com o objeto de estudo, realizando a maior parte do trabalho pessoalmente. As principais técnicas de coleta de dados utilizadas no estu- do de campo são: observação direta das atividades do grupo estudado, observação participante, entrevistas, análise de do- cumentos, filmagens e fotografias (GIL, 2002). Utiliza-se essa técnica quando se tem o objetivo de obter informações sobre um problema ara o qual se procura uma resposta, comprovação de hipóteses ou descobrir novos fenô- menos e suas relações. Ele focaliza uma comunidade de trabalho, estudo, lazer ou com qualquer outra finalidade. Trata-se de um grupo ou co- munidade que possua uma estrutura social, em que há intera- ção entre seus componentes (GIL, 2002). 2.5 Estudo de caso Trata-se de uma investigação empírica que averigua um fenô- meno dentro de seu contexto real. Tem como objetivo aprofun- dar a descrição de determinada realidade. No estudo de caso, o pesquisador realiza uma investigação prática do compor- tamento do fenômeno estudado dentro de um contexto real, desde que estabelecidos alguns limites. Capítulo 3 Métodos e Procedimentos de Pesquisa 45 Gil (2008) afirma que o estudo de caso tem sido cada vez mais utilizado pelos pesquisadores, uma vez que serve a pes- quisas de diferentes propósitos, tais como:  explorar situações da vida real, cujos limites não estão ainda bem definidos;  descrever a situação do próprio contexto em que se está realizando determinada investigação;  explicar as variáveis que causam, determinado fenôme- no em situações complexas, as quais não possibilitam a utilização de levantamentos e experimentos. Um estudo de caso pode utilizar diversas estratégias para tentar compreender a complexidade de um fenômeno em seu contexto, utilizando-se de diferentes fontes de coletas de da- dos, tais como: documentos, registros em arquivos, entrevistas, observação direta, observação participante, dentre outros. 2.6 Pesquisa-ação Trata-se de uma pesquisa com base empírica que é conce- bida e realizada de forma associada a uma ação ou reso- lução de um problema coletivo, no qual os pesquisadores e os representantes da situação problema estão envolvidos de forma cooperativa e participativa (THIOLLENT, 2009). Para ser classificada como pesquisa-ação, é necessário que haja uma ação por parte dos implicados no problema sob observação, ou seja, que haja uma interferência no contexto tratado. 46 Ciência, Inovação e Empreendedorismo Além da participação, essa estratégia pressupõe uma for- ma de ação planejada por parte do pesquisador e dos partici- pantes, de cunho social, educacional, técnico ou outro. São características da pesquisa-ação:  possuir caráter participativo e cooperativo entre pesqui- sadores e participantes da situação problema;  ter caráter de pesquisa, em que a situação problema necessita de investigação para ser elaborada;  ter caráter de ação, através da resolução planejada de um problema coletivo.  A pesquisa-ação pode ser construída em quatro fases, a saber:  fase exploratória, em que se realiza um diagnóstico para identificar problemas e as capacidade de ação e inter- venção;  fase de pesquisa profundado, a qual ocorre por meio de coleta de dados;  fase de ação, a qual corresponde ao planejamento e execução das ações, estabelecidas a partir das discus- sões com os participantes do estudo;  fase de avaliação, em que se obtém o resgate do conhe- cimento obtido e redirecionam-se as ações. Diferentes técnicas podem ser utilizadas para coleta de da- dos como documentação, questionário, entrevistas, dentre ou- Capítulo 3 Métodos e Procedimentos de Pesquisa 47 tras. A análise de dados pode envolver, tantas técnicas quanti- tativas, como qualitativas (THIOLLENT, 2009). 2.7 Pesquisa experimental A pesquisa experimental opera com a manipulação, observa- ção e controle direto sobre os elementos em experimentação. Ela consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar variáveis capazes de influenciá-las e definir formas de observar e controlar o efeito que elas produzem no objeto. A pesquisa experimental se relaciona diretamente às ciên- cias naturais e seus avanços científicos. Uma das suas características é que seu experimento pode ser realizado de diversas formas e pode ser repetido, se tiver a intenção de se obter o mesmo resultado. 2.8 Pesquisa ex-post facto Este tipo de pesquisa estuda fenômenos ou fatos que já aconte- ceram, com a intenção de entendê-los melhor, descobrir como e por que ocorreram. Esses fatos ou fenômenos podem estar associados a catástrofes, atentados, epidemias, crises econô- micas, atos de violência, dentre outros. A coleta de dados pode ocorrer por meio de experimentos, manipulando variáveis, muitas vezes reproduzindo situações que já aconteceram. 48 Ciência, Inovação e Empreendedorismo 3 Técnicas de coleta de dados Após você ter delineado sua pesquisa, definindo o método, o tipo e a estratégia de pesquisa), é necessário definir a(s) técnica(s) que será(ão) usada(s) para a coleta dos dados. Inde- pendente do método empregado, toda pesquisa necessita do levantamento de dados de diversas fontes. É importante que, ao definir a(s) técnica(s) a utilizar, que você a conceitue, justifique e a descreva. Caso você opte, por exemplo, por aplicar questionários, é importante que você o conceitue,justifique sua escolha de acordo com a natureza da pesquisa a ser desenvolvida, descreva o público-alvo da pesquisa, forma de distribuição, análise dos dados e construa o instrumento. Todas essas etapas consistem no planejamento dos instrumentos a serem utilizados para a coleta dos dados da pesquisa. A seguir serão apresentadas algumas técnicas bastante uti- lizadas. 3.1 Bibliográfica Esta técnica permite ao pesquisador acessar a uma vasta fonte de informações sobre o tema pesquisado, através de diversas fontes e autores. Esta técnica proporciona acesso a toda bi- bliografia já tornada púbica relacionada ao tema, agregando publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, relatórios de pesquisa, monográficas, teses, dentre outros (LAKATOS; MARCONI, 2009). Capítulo 3 Métodos e Procedimentos de Pesquisa 49 A escolha das fontes depende dos objetivos da pesquisa, do tema e natureza da pesquisa. Hoje em dia, muitas fontes de pesquisa possuem versão digital e estão disponíveis na in- ternet. O portal da CAPES é o padrão brasileiro para acesso a periódicos científicos, teses e dissertações, acessível através do endereço www.periódicos.capes.gov.br. 3.2 Documental Os documentos constituem em uma importante fonte de pes- quisa histórica, permite ao pesquisador comprovar documen- talmente, embasando informações abordadas sobre o tema da pesquisa. A principal característica desta técnica é que a fonte de dados consiste em documentos que podem ser obtidos nos momentos em que o fato ocorre, podendo ser escrito ou não. Esses materiais ainda não receberam tratamento analítico, di- ferenciando-os das fontes bibliográficas. Os documentos podem ser escritos, tais como: documen- tos oficiais, publicações parlamentares, documentos jurídicos, documentos administrativos, fontes estatísticas, dentre outros. Contudo, os documentos podem ser de outras naturezas, tais como fotografias, gravações, vídeos, folclore, dentre outros (LAKATOS; MARCONI, 2009). 3.3 Observação A observação é utilizada para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realida- http://www.periódicos 50 Ciência, Inovação e Empreendedorismo de. Algumas estratégias de pesquisa a utilizam com frequência para a coleta de dados, dentre elas, o estudo de campo. A observação pode ser realizada de diferentes formas, são elas: Observação não estruturada: consiste em recolher e re- gistrar fatos da realidade sem que o pesquisador utilize meios técnicos sistematizadas (estudos exploratórios sobre o campo a ser pesquisado). Observação estruturada: utiliza instrumentos para a co- leta de dados ou fenômenos observados. O observador sabe o que procura e o que carece de importância (quadros, ano- tações, escalas). Observação não participante: o pesquisador presencia o fato, mas não participa dele, faz mais o papel de espectador. Observação participante: o observador se incorpora ao grupo, passa a fazer parte ativa do grupo pesquisado. Observação individual: observação realizada por um pesquisador, pode ocorrer inferências ou distorções, mas pode intensificar a objetividade. Observação em equipe: observação em equipe, em al- guns casos pode ser mais aconselhável do que a individual, pois o grupo pode observar a ocorrência por diferentes ângu- los. Observação na vida real: observações efetuadas no âm- bito real, registrando-se os dados à medida que forem ocor- rendo. Realizar os registros no local. Capítulo 3 Métodos e Procedimentos de Pesquisa 51 Observação em laboratório: tenta descobrir a ação e a conduta que obteve em condições cuidadosamente dispostas e controladas. 3.4 Entrevista A entrevista é uma técnica de coleta de dados utilizada em vá- rias estratégias de pesquisa, tais como, levantamento e estudo de caso. Trata-se de uma excelente técnica para obtenção de dados subjetivos, tais como comportamentos, atitudes, opini- ões etc. A preparação da entrevista é uma das etapas mais impor- tantes do seu processo, requer tempo e exige alguns cuidados, tais como (LAKATOS; MARCONI, 2009):  o planejamento da entrevista deve ter em vista o objetivo a ser alcançado;  a escolha do entrevistado deve ser alguém que tenha familiaridade com o tema pesquisado;  a oportunidade da entrevista, ou seja, a disponibilidade do entrevistado em fornecer a entrevista, que deverá ser marcada com antecedência para que o pesquisador se assegure de que será recebido;  as condições favoráveis que possam garantir ao entre- vistado o segredo de suas confidências e de sua identi- dade;  a preparação específica que consiste em organizar o ro- teiro ou formulário com as questões importantes; 52 Ciência, Inovação e Empreendedorismo  Preparar com antecedência as perguntas a serem feitas ao entrevistado e a ordem em que elas devem aconte- cer;  Submeter a entrevista a um pré-teste, ou seja, procurar realizar uma entrevista com alguém que poderá fazer críticas;  Não elaborar perguntas absurdas, arbitrárias, ambí- guas, deslocadas ou tendenciosas;  As perguntas devem ser feitas levando em conta a sequ- ência do pensamento do pesquisado. Além de todos os aspectos apresentados acima, é impor- tante definir o tipo de entrevista que melhor irá atender as necessidades do tema, do entrevistador ou entrevistado, que pode ser: Entrevista estruturada: é elaborada mediante questioná- rio totalmente estruturado, todos os entrevistados respondem às mesmas perguntas, permitindo a comparação posterior de suas respostas. Como exemplo é possível citar os censos, pes- quisa de opinião, intenção de votos etc. Entrevista não estruturada: atende principalmente fina- lidades exploratórias. O entrevistador introduz o tema e o en- trevistado tem liberdade para discorrer sobre o tema sugerido. Entrevista semiestruturada: constitui-se em uma mescla entre a entrevista estruturada e a entrevista não estruturada, pois combina perguntas abertas e fechadas. Os entrevistados devem seguir um conjunto de questões previamente definidas Capítulo 3 Métodos e Procedimentos de Pesquisa 53 no sentido de dirigir a discussão, porém, possuem liberdade de discorrer sobre elas. 3.5 Questionário Os questionários são constituídos por uma série de perguntas ordenadas que devem ser respondidas por escrito. Por ser pos- sível sua distribuição digital, possibilitam atingir um grande nú- mero de pessoas. Podem ser preenchidos, no próprio local da pesquisa, em formulários digitais, cujo link é fornecido, pode ser enviado por meio digital ou correio físico. Junto com o questionário deve-se enviar uma nota ou carta explicando a natureza da pesquisa, sua importância, necessi- dade de obter respostas para o sucesso da pesquisa e o tempo que o respondente terá que dispender para respondê-lo. Pos- sui um índice de retorno bem menor do que as entrevistas, por isso, é muito importante chamar a atenção do respondente seja no título utilizado da mensagem enviada, como no conte- údo da carta explicativa (LAKATOS; MARCONI, 2009). É importante, assim como nas entrevistas, que seja subme- tido a um pré-teste, ou seja, antes de entregar aos responden- tes, deve-se aplicar o questionário com algumas pessoas que possam fazer uma análise crítica. Deve-se levar em conta os tipos, a ordem, os agrupamen- tos de perguntas em sua formulação. 54 Ciência, Inovação e Empreendedorismo 3.5.1 Tipos de questões Um questionário pode ser construído com base em vários tipos de questões, tais como: questões abertas, questões fechadas e questões mistas; quanto ao relacionamento entre as questões, podem ser independentes ou dependentes (LAKATOS; MAR- CONI, 2009). Questões abertas: permitem ao informante responder li- vremente, com suas palavras e com a possibilidade de emitir opinião. Uma pergunta ou questionamento é apresentado e deixa-se um espaço em branco para a resposta, sem qualquer tipo de restrição. Questões fechadas: apresenta-se um questionamento e alternativasde resposta, dentre as quais o informante deve es- colher. Esse tipo de questão facilita o processo de tabulação, embora restrinja a liberdade de resposta. Questões fechadas de escolha simples categórica: o respondente deve escolher entre uma das alternativas de res- posta, que exclui as demais. É importante garantir que qual- quer que seja a situação ou opinião do informante, tenha uma alternativa que se enquadre, mesmo que essa seja “outro”, “prefiro não informar” ou “não se aplica”. Questões fechadas de escolha simples forçada: o in- formante deve escolher uma das alternativas, sendo a que mais se encaixe com sua percepção, escolha ou opinião. As alternativas não precisam ser excludentes, mas o informante deve escolher uma apenas. Pode ser informado no enunciado que apenas uma alternativa deve ser escolhida. Capítulo 3 Métodos e Procedimentos de Pesquisa 55 Questões fechadas de escolha simples a partir de uma escala: o informante deve escolher uma das alternativas, sen- do a que mais se encaixe com sua percepção, escolha ou opinião. O informante deve emitir sua percepção por meio de uma escala de intensidade. As respostas sugeridas apresentam um grau de intensidade crescente ou decrescente (exemplo: concordo plenamente, concordo, não concordo nem discor- do, discordo e discordo plenamente). Questões fechadas de múltipla escolha: o informante pode selecionar mais de uma das alternativas de resposta for- necidas. Questões fechadas de classificação: o informante deve classificar as sugestões de resposta com base em um critério preestabelecido (exemplo, “Classifique de 1 a 6, da mais im- portante para a menos importante...”). Questões mistas: são questões de escolha simples ou múl- tipla que apresentam, dentre as alternativas de resposta, uma questão aberta (exemplo de alternativas: jornal, revista, tele- visão, indicação de um amigo e outro: indique qual:______). Quanto à relação de dependência entre as questões, é in- dependente caso o ato de respondê-la independa da respos- ta de outras questões. Uma questão é dependente quando sua resposta depende de uma ou mais respostas fornecidas anteriormente. 56 Ciência, Inovação e Empreendedorismo 3.6 Escala Escalas são instrumentos construídos com o objetivo de medir a intensidade das percepções, opiniões e atitudes dos respon- dentes, da forma mais objetiva possível (GIL, 2008). O objeti- vo das escalas é permitir que se quantifique as respostas, dan- do uma relação de distância padronizada entre as respostas a as análises estatísticas. Existe mais de um tipo de escala, a saber: Escala de intensidade: as perguntas são organizadas na forma de um mostruário, onde, para cada pergunta, existem respostas que variam de três a cinco graus. O mais indica- do é a utilização de respostas com cinco graus de intensida- de, evitando a tendência de se escolher o grau intermediário (exemplo: aprovo totalmente, aprovo com restrições, não te- nho opinião definida, desaprova em certos aspectos, desapro- va totalmente). Escala de Likert: apresentam cinco níveis de concordância em relação às afirmações acerca do assunto. Sua construção segue os seguintes passos: Seleciona-se um grande número de enunciados ou afir- mações que manifestem opinião ou atitude com relação ao objeto de estudo; Solicita-se a um número específico de pessoas que mani- festem sua concordância ou discordância sobre cada um dos enunciados, de acordo com a graduação: concordo plena- mente (5), concordo (4), indiferente (3), discordo (2) e discordo plenamente (1). Capítulo 3 Métodos e Procedimentos de Pesquisa 57 3.7 Experimentação A técnica de experimentação consiste em determinar um ob- jeto de estudo, selecionar as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definir as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto. Se processa por tentativa e erro, e pode ser realizada em qualquer ambiente. Trata-se do processo de investigação de pesquisa empírica que têm como principal finalidade testar hipóteses que dizem respeito a relações de causa e efeito. Ela envolve variáveis independentes e dependentes, conforme apresentado a seguir: Variáveis independentes: consiste em diversas condições antecedentes tomadas como relevantes para a ocorrência de detemindo evento. Variável dependente: representa o fato, o efeito, produzi- do, suspenso ou afetado pela presença, ausência ou variações das variáveis independentes. Técnica por excelencia adotada na pesquisa experimental, mas pode ser realizada também no laboratório e na pesquisa de campo. Ela normalmente exige a execução de seis passos, a saber:  observação - acumula informações sobre os aconteci- mentos;  organização - das informações recolhidas;  procura - de regularidades; 58 Ciência, Inovação e Empreendedorismo  hipótese - tentativa de explicação das regularidades en- contradas;  experimentação - verifica a hipótese colocada; e  conclusão. A experimentação poder ser aplica tanto às manifestações quantitativas e qualitativas, através das quais os indivíduos e seus comportamentos se revelam. Contudo, os aspectos quan- titativos são mais relevantes, predominando o caráter de me- dição do método. 4 Técnicas de análise de dados Nesta seção, trabalharemos com as principais técnicas de aná- lise de dados de pesquisa. Os dados, após serem coletados, devem ser organizados e analisados. Essas técnicas podem ser agrupadas de acordo com o tipo de dados a analisar. As téc- nicas de análise de conteúdo, análise de discurso e análise do- cumental são específicas para tratamento de dados em texto. As técnicas destinadas à análise de dados numéricos tomam como base matemática e estatística. 4.1 Análise de Conteúdo Trata-se de um conjunto de técnicas de análise de comuni- cações, as quais utilizam procedimentos sistemáticos e objeti- vos de descrição do conteúdo das mensagens. Elas atuam na busca e geração de indicadores, tanto quantitativos quanto Capítulo 3 Métodos e Procedimentos de Pesquisa 59 qualitativos, que permitam a inferência dos conhecimentos re- lativos às condições de produção e recepção da mensagem (AZEVEDO; MACHADO; SILVA, 2011). A análise de conteúdo é realiza em três etapas, conforme apresentado a seguir (BARDIN, 1995).: pré-análise: consiste na fase de organização das informa- ções, com objetivo de sistematizar ideias iniciais, de forma a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento de ope- rações sucessivas. É a fase em que se inicia o contato com os documentos a serem analizados, a formulação das hipóteses e dos objetivos, além da elaboração de indicadores necessários para a interpretação final. análise do material: compreende a transformação dos dados brutos almejando a compreensão do texto. A organiza- ção da codificação encolve o recorte (escolha das unidades), a enumeração (escolha das regras de contagem) e a classifi- cação (escolha das categorias. Permite atingir uma representa- ção do contrúdo ou sua expressão, sucetível a esclarecimentos sobre as características do texto, podendo servir de índices; tratamento de dados: os resultados são submetidos a operações que destacaram as informações obtidas. Nessa fase, são realizadas as interpretações e propostas as interfe- rências. Corresponde a tratar os resultados brutos de forma a torná-los válidos e significativos. São utilizados procedimentos estatísticos com a intenção de produzir quadros de resultados, diagramas, figuras, modelos que sintetizam as informações fornecidas pela análise, além de conduzir à elaboração de conclusões finais. 60 Ciência, Inovação e Empreendedorismo 4.2 Análise de discurso Esta técnica reúne a linguagem, o indivíduo e uma situação e/ ou contexto. Pressupõe-se que, através da linguagem, os par- ticipantes da pesquisa comunicam-se e produzem um objeto (discurso) carregado de construções ideológicas. Ela focaliza a linguagem na forma como é utilizada em textos sociais, es- critos
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