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DIREITO CONSTITUCIONAL I Prof. Carlos Alberto Lima de Almeida ROTEIRO DE APOIO Advertência: a disponibilização aos alunos do roteiro de apoio utilizado pelo professor para o desenvolvimento do conteúdo programático da disciplina não exclui a leitura do PLANO DE AULA, bem como da legislação, jurisprudência, bibliografia básica e complementar indicadas. Esse é apenas um material de apoio. Logo, antes de cada aula faça a leitura do PLANO DE AULA correspondente e complemente seu estudo realizando a leitura da bibliografia básica e complementar. Se você encontrar algum erro de digitação ou tiver qualquer contribuição para a melhoria desse material ou dúvida sobre a matéria escreva para o professor. Cordialmente, Carlos Alberto Lima de Almeida carlosalberto.limadealmeida@gmail.com HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL A HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL Em nossa última aula tratamos da conceituação e classificação das normas constitucionais. Estas, pelo local que ocupam no ordenamento, necessitam de um tratamento específico no que se refere sua interpretação e aplicação. Assim, em termos objetivos, interpretar uma norma é explicitar seu conteúdo. Assim, é fase obrigatória e necessária na aplicação do Direito. Hermenêutica é a teoria da interpretação das leis, é a teoria científica da arte de interpretar. Podemos então melhorar o conceito de interpretação: este é o processo concreto por meio do qual o intérprete extrai o valor da norma jurídica. Tal processo assim, necessita de uma teoria e um método específico, próprio da ciência do Direito. A hermenêutica é, no estudo do Direito, muito anterior ao estudo do Direito Constitucional. Assim, antes de tratar especificamente da interpretação constitucional, relembraremos os métodos clássicos de interpretação, ainda utilizados no estudo e aplicação do direito. São eles: • Gramatical • Lógico • Sistemático • Histórico-evolutivo • Método gramatical Também conhecido como interpretação textual, literal, verbal ou semântica, cuida dos enunciados linguísticos do texto normativo, da compreensão do sentido das palavras. Para evitar vícios deve-se observar os seguintes parâmetros: Deve ser analisada a colocação da norma no texto de lei, de sorte a ser adequado o sentido ao assunto tratado no título, capítulo ou seção da espécie normativa; Ocorrendo contradição entre o senso gramatical e o lógico, este deve prevalecer; Ante a existência de palavras com diverso significado, cumpre ao intérprete fixar-lhes o verdadeiro; Sendo possível ter a palavra, a um só tempo, significado técnico e comum, deve o intérprete desprezar a acepção comum; Significado vocábulo deve ser tomado em conexão com o da lei e dos outros elementos da expressão/frase; • Método lógico A interpretação lógica intenta chegar ao conhecimento do direito mediante deduções lógicas ou silogismos. Remete ao sistema de dedução lógica sistematizado por Aristóteles. Trata-se do esquema: Premissa maior Premissa menor Conclusão Todo pato é branco Esta ave é amarela. Esta ave não é um pato. O exemplo do pato, ainda que cômico, demonstra o problema do silogismo puro simples, como podemos ver, é que nem sempre uma verdade demonstrável logicamente (formalmente correta) é verdadeira. Voltemos ao exemplo. Pode ser que tal ave seja sim um pato. Pois a premissa maior pode estar incorreta, ou sejam há patos não brancos. Assim, devemos sempre estar atentos ao raciocínio lógico, mas também a veracidade de nossas premissas. Todo pato é branco Esta ave é amarela. Esta ave não é um pato. • Método sistemático A interpretação sistemática nos diz que devemos interpretar a norma não isoladamente, mas no contexto em que está inserida, importando aqui a visão sistêmica do ordenamento jurídico, sua unidade. Esta interpretação toma como parâmetro o sistema onde a norma jurídica está inserida. • Método histórico/histórico-evolutivo A interpretação histórica busca o sentido da lei nos precedentes legislativos, nos trabalhos preparatórios, quais sejam: os relatórios, os debates no plenário, nas discussões das comissões. Pela histórica/evolutiva, o direito é produto de lenta evolução. É preciso ver as condições específicas do tempo em que a norma incide, mas não se pode desconhecer as condições em que ocorreu a sua gênese. Assim dever o jurista interpretar a norma com o pensamento voltado ao presente. Devemos sempre ter em mente que tais métodos são utilizados comumente como argumentos e meios de persuasão. Além disso, todos eles fazem parte do exercício de interpretação e, ainda que um ou outro seja especialmente utilizado em alguns casos, todos fazem parte do processo interpretativo. A DISTINÇÃO ENTRE PRINCÍPIOS E REGRAS Normas jurídicas são o principal objeto do Direito, seu objeto central. São prescrições, determinações que, idealmente, buscam trazer ordem à vida social. Se caracterizam pela imperatividade, pela exigência de seu cumprimento; e pela garantia de que o sistema possui mecanismos de fazê-la ser cumprida. Tanto os princípios quanto as regras são normas jurídicas. Diferenciá-las é vital para que compreendamos o direito constitucional. Princípios expressam decisões políticas fundamentais em que se fundam o pacto político. Além disso os princípios possuem uma estrutura normativa diferente das regras, possuindo um texto “mais aberto”. Barroso coloca que a principal distinção entre regras e princípios é quanto ao modo de aplicação. Regras se aplicam na lógica do tudo ou nada: ou caso se enquadra na especificidade da lei, ou não; já um princípio indica uma direção, um objetivo, podendo adaptar-se a diferentes casos. A IRRADIAÇÃO DOS PRINCÍPIOS A constituição, por meio dos princípios, espalha seu conteúdo material por todo o ordenamento. A noção de supremacia da constituição faz parte deste raciocínio: é justamente pelo seu lugar na hierarquia que a constituição consegue que seus princípios sejam levados a outros pontos do ordenamento. Aliás, é pressuposto de uma ordem constitucional que o conteúdo infraconstitucional esteja de acordo com a constituição: do contrário, sua eficácia estaria comprometida. Chegamos então especificamente a hermenêutica constitucional. A Constituição, por abranger normas de diferentes tipos, dentre regras e princípios, possui pressupostos específicos que devem condicionar sua interpretação. Estes pressupostos, como nos lembra Canotilho, são princípios condicionantes da interpretação constitucional, devendo a eles o interprete se ater a fim de preservar e garantir a eficácia do texto constitucional. • Princípio da unidade; • Princípio da supremacia constitucional; • Princípio da máxima efetividade; • Princípio da harmonização; • Princípio do efeito integrador; • Princípio da força normativa da Constituição; • Princípio do conteúdo implícito; • Princípio da correção funcional; •Princípio da imperatividade das normas constitucionais; • Princípio da simetria; •Princípio da presunção de constitucionalidade das normas infraconstitucionais; • Princípio da unidade: ao interpretar a Constituição devemos levar em conta que ela é um todo coerente e coeso, devendo o intérprete procurar harmonizar todas as suas normas de forma a não estabelecer contradições; O jurista pode desqualificar os conflitos de normas, como meras contradições aparentes, aquelas situações em que duas ou mais normas constitucionais pretendam regular a mesma situação de fato. • Princípio da supremacia constitucional: o intérprete deve levar em conta que a Constituição está no topo do ordenamento jurídico e é o fundamento de validade de todas as outras normas, sendo assim nenhuma lei pode contrariá-la, formal ou materialmente, sob pena de ser considerada inconstitucional;Este princípio está situado no âmbito de controle de constitucionalidade. Recomenda que os aplicadores da CF, em face de normas infraconstitucionais de múltiplos significados, escolham o sentido que as torne constitucionais e não aquele que resulte na sua declaração de inconstitucionalidade. Ou seja, a inconstitucionalidade não deve ser presumida, antes deve ser provada, de modo cabal, irrecusável e incontroverso. • Princípio da máxima efetividade: também conhecido como princípio da eficiência ou da interpretação efetiva, prevê que a Constituição não estabelece normas supérfluas, todo intérprete deve buscar o máximo dos efeitos da Constituição; • Princípio da harmonização: também conhecido como princípio da concordância prática, nos diz que, uma vez que todas as normas constitucionais estão no mesmo patamar hierárquico e devem ter máxima efetividade, ao interpretar a Constituição devemos buscar harmonizar antinomias aparentes de forma proporcional; Exemplo: direito a liberdade de informação X inviolabilidade da vida privada. • Princípio do efeito integrador: a Constituição deve ser interpretada de forma a estabelecer critérios e soluções que reforcem o seu papel de principal norma nas relações sociais. Assim, postula que se procure dar preferência àqueles critérios ou pontos de vista que favoreçam a integração social e a unidade política, porque além de criar uma certa ordem jurídica, toda CF necessita produzir e aumentar a coesão sociopolítica, enquanto pré- requisito ou condição de viabilidade de qualquer sistema jurídico. • Princípio da força normativa da Constituição: a Constituição deve ser interpretada da maneira mais efetiva e atual possível quando diante de um caso concreto, ou seja, a norma quando aplicada deve solucionar o problema real; • Princípio do conteúdo implícito: o intérprete deve atentar que a CF estabelece comandos que não estão expressos explicitamente em seu texto, mas sim na coerência interna de seus objetivos e fundamentos. • Princípio da correção funcional: o intérprete não pode contrariar a distribuição explícita da repartição de funções estatais estabelecidas pelo Constituinte; Tendo o legislador constituinte, instituindo a norma fundamental um sistema coerente e previamente ponderado de repartição de competências, não podem os seus aplicadores chegar a resultados que perturbem o esquema organizatório-funcional nela estabelecido, como é o caso da separação dos poderes, cuja observância é consubstancial à própria ideia de Estado de Direito. • Princípio da imperatividade das normas constitucionais: uma vez que todas as normas constitucionais emanam da vontade popular e são normas cogentes ou imperativas, o intérprete deve sempre lhes dar a maior extensão possível; • Princípio da simetria: princípio de interpretação federativo que busca adequar entre os entes os institutos da Constituição Federal às Constituições e institutos jurídicos dos Estados-Membros. Por exemplo, cabe ao Presidente da República a iniciativa de leis para o aumento do efetivo das forças armadas, caberá por simetria ao Governador os projetos de lei para aumento do efetivo da Polícia Militar (art. 61 da CRFB/88). • Princípio da presunção de constitucionalidade das normas infraconstitucionais/ interpretação conforme a Constituição: o intérprete deve dar às normas hierarquicamente inferiores à Constituição uma interpretação que as coadune com a Lei Maior, visto que foram fruto de um processo legislativo que, em tese, procurou adequá-las aos comandos constitucionais. Este princípio decorre da supremacia formal e material da Constituição e, principalmente, da força normativa da Constituição. A interpretação conforme a Constituição deve ser entendida de duas maneiras: como princípio condicionante da interpretação constitucional e infraconstitucional; e como mecanismo do controle de constitucionalidade. Como princípio de interpretação, vale o já dito, sintetizado por Canotilho: “no caso das normas polissêmicas ou plurisignificativas deve dar-se preferência à interpretação que lhês dê um sentido de conformidade com a constituição” (CANOTILHO, 1993, p. 229). Como instrumento do mecanismo de controle de constitucionalidade, nos diz o constitucionalista: “A interpretação conforme a constituição: i) Necessita que haja um espaço de decisão; ii) no caso de se chegar a um resultado interpretativo em inequívoca contradição com a Constituição, impõe que se deve excluir esta norma por inconstitucionalidade; iii) A interpretação conforme deve afastar-se quando, no lugar do resultado querido pelo legislador, se obtém uma regulação nova e distinta (quando a interpretação conforme leva ao interprete a atuar como legislador positivo)”. (CANOTILHO, 1993). QUESTÕES QUESTÃO DISCURSIVA 1 Ronaldo, militar do exército, estava matriculado no Curso de Direito numa Universidade Particular de Pernambuco, quando foi transferido ex officio da Unidade sediada em Boa Viagem para a Unidade localizada no Município do Rio de Janeiro. Por conta do seu deslocamento e da necessidade de dar continuidade aos estudos na Cidade do Rio de Janeiro, o militar solicitou transferência para a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com base na Lei n° 9.536/97. O pedido do militar foi indeferido pela Sub-reitora da UERJ, com fulcro no ato normativo interno desta Universidade (Deliberação n° 28/2000), o qual regula esta matéria, uma vez que a Universidade de origem do militar era uma instituição de ensino superior particular. O militar impetra mandado de segurança alegando, em sua defesa, os seguintes argumentos: I - que o seu direito está amparado pelo parágrafo único do artigo 49 da Lei Federal n° 9536/97 – dispositivo este que regulamenta o parágrafo único da Lei Federal n° 9.394/96 (estabelece as diretrizes e bases da educação nacional); II - que a norma restritiva do art. 99 da Lei 8.112/90 (entidades congêneres) não se aplica aos militares; III - que o ato normativo n° 28/2000, no qual o sub- reitor se baseou para indeferir o pedido de transferência, “tem vício de ilegalidade a negativa de matrícula”, pois contraria o conteúdo da Lei nº 9536/97, uma vez que a Lei federal não exige o caráter congênere entre instituições de ensino; Diante da situação acima descrita, questiona-se: qual a interpretação constitucional mais adequada para a solução deste conflito? QUESTÃO DISCURSIVA 2 O Estado do Tocantins publicou edital no Diário Oficial do Estado de concurso público para o preenchimento de vagas para o cargo de policial. Uma das provas é a realização de testes físicos e um dos testes exige que os candidatos façam a seguinte atividade: “Flexões abdominais: consiste em o candidato executar exercícios abdominais, por flexão de braços, deitado em decúbito ventral, em um maior número de repetições dentro de suas possibilidade, no período de um minuto, obedecendo à tabela de pontuação abaixo: ...” Em função da redação incoerente do texto desse teste, o Estado publicou uma errata do edital no mesmo órgão oficial de imprensa, duas semanas antes de iniciarem as provas, com a seguinte redação: “Flexões abdominais: consiste em o candidato executar exercícios abdominais, por flexão de tronco, em decúbito dorsal em um maior número de repetições tocando os cotovelos nos joelhos ou coxas, no período de um minuto.” Como os candidatos já haviam se inscrito na prova no momento da percepção do equívoco da referida redação, muitos deles se consideraram surpreendidos, no dia da realização desse teste físico, pois não tomaram conhecimento da errata do edital. Alguns desses, que não conseguiram passar na prova de esforço físico, ingressaram com mandado de segurança com a alegação de que esse teste deve ser desconsiderado como critério de aprovação, pois foi incluído após as inscrições, apenas duas semanas antes do começodas provas e porque não foi publicado num jornal de grande circulação para que todos tivessem a chance de tomar conhecimento da modificação. Assim, alegam que houve ofensa ao princípio da razoabilidade. A quem assiste razão no caso? Dê os fundamentos jurídicos cabíveis. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA NESTA AULA, NA PESQUISA E CONFECÇÃO DO MATERIAL Material didático fornecido pela Universidade Estácio de Sá – Coordenação do Curso de Direito BARROSO, Luís Roberto. Direito Constitucional Contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2011. CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional. Coimbra: Livraria Almedina, 1993. LENZA, PEDRO. Direito Constitucional Esquematizado, São Paulo: Saraiva, 2012. Disciplina: DIREITO CONSTITUCIONAL I Professor: CARLOS ALBERTO LIMA DE ALMEIDA Email: carlosalberto.limadealmeida@gmail.com Facebook: Carlos Lima de Almeida
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