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Competências Constitucionais

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Competências Constitucionais 
 
Conforme José Afonso da Silva (op. cit., p. 477), competência: 
É a faculdade juridicamente atribuída a uma entidade, órgão ou agente do 
Poder Público para emitir decisões. Competências são as diversas 
modalidades de poder de que se servem os órgãos ou entidades para 
realizar suas funções. 
A Constituição Federal adotou o princípio da predominância do interesse 
para identificar e repartir as competências aos entes federados. Assim, a 
competência será: 
1. da União, quando as matérias forem de interesse geral; 
2. dos Estados/ Distrito Federal, quando as matérias forem 
preponderantemente de interesse regional; 
3. das Municípios/ Distrito Federal, quando as matérias forem 
preponderantemente de assuntos de interesse local. 
É bem verdade que esse sistema de predominância de interesses em um 
Estado moderno encontra enormes dificuldades, já que se torna cada vez 
mais difícil distinguir o que realmente é de predominância nacional e 
regional, como, por exemplo, a complexa questão da Amazônia. 
 
Sistema de competências adotado pela Constituição Federal de 1988 
As competências atribuídas pela Constituição aos entes federativos 
podem ser entendidas por meio do seguinte método: 
1. União – As competências são enumeradas, tanto administrativa 
quanto legislativamente (arts. 21 e 22). Exemplos: manter relações com 
Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais (art. 21, 
I); declarar a guerra e celebras a paz (art. 21, II); legislar sobre direito civil, 
comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutica, 
espacial e do trabalho (art. 22, I). 
2. Municípios – As competências são enumeradas (art. 30). Exemplos: 
legislar sobre assuntos de interesse local (art. 30, I); suplementar a 
legislação federal e estadual no que couber (art. 30, II); organizar e 
prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os 
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serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que 
tem caráter essencial (art. 30, V). 
3. Estados – As competências são enumeradas, mas remanescentes das 
competências da União e dos Municípios (art. 25, § 1°). No entanto, com 
essa reserva de competência, há possibilidade de delegação (no caso de 
competências privativas) 
4. Distrito Federal – As competências são reservadas aos Estados e 
Municípios. 
 
Classificação das competências 
 
Competência administrativa 
Ligada à prática de atos político-administrativos, subdivide-se em: 
1. Competência exclusiva (arts. 21 e 30, CF) – Matérias atribuídas a um 
único ente, sem possibilidade de delegação. A competência dos Estados é 
reservada ou remanescente, conforme o artigo 25, § 1°, da CF, ou seja, é 
de competência administrativa dos Estados membros o que não lhes for 
vedado pela Constituição – no caso, as competências enumeradas da 
União e dos Municípios. 
 
2. Competência comum (art. 23, CF) – Matérias que competem a todos os 
entes federados, ou seja, são de competência da União, dos Estados, do 
Distrito Federal e dos Municípios. Exemplos: zelar pela guarda da 
Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o 
patrimônio público (inciso I) e proteger o meio ambiente e combater 
poluição em qualquer de suas formas (inciso VI). 
 
Competência Legislativa 
Refere-se à prática de atos legislativo-normativos e é subdividida em: 
1. Competência privativa (art. 22, CF) – Matérias cuja competência para 
legislar é de um único ente – a União –, mas, diferentemente competência 
exclusiva, permite-se a delegação da competência privativa (art. 22, 
parágrafo único, CF), desde que a delegação seja de um ponto específico e 
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objeto de lei complementar aprovada pelo Congresso Nacional por 
maioria absoluta, atendendo à igualdade de condições a todos os Estados. 
2. Competência concorrente (art. 24, CF) – Matérias que competem à 
União, aos Estados e ao Distrito Federal. Nesses casos, a competência da 
União limita-se a estabelecer normas gerais, e a dos Estados e a do Distrito 
Federal, a legislar sobre normas específicas. Inexistindo legislação da 
União sobre tais matérias, os Estados e até os municípios poderão 
exercitar a competência legislativa plena, ou seja, editar normas gerais e 
específicas, mas, com a superveniência da norma geral da União, fica 
suspensa a norma geral editada pelo Estado ou Município, naquilo que lhe 
for contrário. 
3. Competência reservada (ou remanescente) do Estado (art. 25, § 1°, da 
CF) – Matérias cuja competência para legislar não são reservadas pela 
Constituição aos Municípios e à União. Excepcionalmente, a Constituição 
estabelece certas competências enumeradas aos Estados, como criação, 
incorporação, fusão e desmembramento de Municípios por meio de lei 
estadual (art. 18, § 4°), exploração direta ou mediante concessão dos 
serviços locais de gás canalizado, na forma da lei (art. 25, § 2°) e 
instituição, mediante lei complementar estadual, de regiões 
metropolitanas, aglomerados urbanos e microrregiões (art. 25, § 3°). 
4. Competência exclusiva dos Municípios (art. 30, I, da CF) – Cabe aos 
Municípios, com exclusividade, a competência para legislar sobre 
assuntos de interesse local. Nesse sentido, mais uma vez o legislador 
consagrou o princípio da predominância do interesse. No caso concreto, 
é necessário identificar o fato preponderante para dirimir eventual 
conflito de competência. Caso o assunto seja de predominantemente de 
interesse local, como expedição de alvará e licença para funcionamento 
de comércio, horário e funcionamento de farmácias e lojas, deve ser 
disciplinado por lei municipal. Por se tratar de competência exclusiva, 
diferentemente do que ocorre com a competência privativa, não se 
permite delegação dessa competência. 
5. Competência da Município para aprovação do plano diretor (art. 182, 
CF) – O plano diretor, instrumento básico da política de desenvolvimento 
e expansão urbana, visa a ordenar o desenvolvimento das funções sociais 
da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. Aprovado pela 
Câmara Municipal, é obrigatório para cidades com mais de 20 mil 
habitantes. Só se forem atendidas as exigências fundamentais de 
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ordenação da cidade expressas no plano diretor haverá o cumprimento 
da função social da propriedade. Para áreas inseridas no plano diretor, 
pode o Município, por lei específica, exigir do proprietário do solo urbano 
não edificado, subtilizado ou não utilizado que promova seu adequado 
aproveitamento, sob pena de parcelamento ou edificação compulsórios, 
imposto predial territorial urbano com alíquotas progressivas por cinco 
anos no limite de 15% e, em último caso, desapropriação com pagamento 
em títulos de dívida pública de emissão previamente aprovada pelo 
Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, 
iguais e sucessivas, assegurados o valor da indenização e os juros legais. 
6. Competência suplementar do Município (art. 30, II, CF) – É da 
competência dos Municípios suplementar a legislação federal e a estadual 
no que couber. Portanto, pela regra do artigo 24, que trata da competência 
concorrente, na falta da norma geral federal, poderá o Estado editar 
norma estadual geral e específica e, na falta desta, poderá o Município 
editar norma municipal geral e específica. 
7. Competência reservada do Distrito Federal (art. 32, § 1°, CF) – São 
atribuídas ao Distrito Federal as competências legislativas reservadas aos 
Estados e Municípios. 
 
Outras classificações possíveis quanto às competências 
Além da clássica divisão entre competência administrativa e legislativa, 
existem as seguintes classificações: 
a) Quanto à forma: 
1. Competência expressa ou enumerada – Ocorre quando a Constituição 
Federal estabelece a competência de modo explícito a determinado ente 
(ex.: arts. 21 e 22 CF). 
2. Competência reservada ouremanescente – Compreende as matérias 
não expressas ou enumeradas no rol de competências dos entes 
federados. É a competência que sobra a uma entidade após a enumeração 
das competências das outras (ex.: competências dos Estados – art. 25 § 1° 
CF). 
3. Competência residual – Também não se encontra no rol de 
competências expressas ou enumeradas pela Constituição federal. 
Consiste em um eventual resíduo após a enumeração das competências 
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de todos os entes, como ocorre com a matéria tributária, que, depois de 
enumerar as competências, prevê a possibilidade de um resíduo que 
possa surgir, sendo este de competência da União (art. 154, I, CF). 
4. Competência implícita – Não está expressa, uma vez que decorre da 
prática de atos ou atividades necessários ao exercício dos poderes 
expressos. 
b) Quanto à extensão – Nessa classificação, o traço diferenciador das 
competências está na participação de uma ou mais entidades na esfera da 
criação da norma ou na realização material. 
1. Competência exclusiva – Atribuída a um único ente, com exclusão dos 
outros (art. 21, CF). 
2. Competência privativa – Atribuída a uma entidade, com possibilidade 
de delegação (art. 22 e parágrafo único, CF), como também de 
competência suplementar (art. 24, CF). 
3. Competência comum – Atribuída a todos os entes, com igualdade, tanto 
na esfera administrativa como na legislativa (art. 23, CF). 
4. Competência concorrente – Espécie de competência em que mais de um 
ente pode disciplinar a matéria, tendo a União a primazia para fixar 
normas gerais e normas específicas dos Estados (art. 24 e parágrafo 
único, CF). 
5. Competência suplementar – Desdobramento da competência 
concorrente, com o intuito de suprir a omissão da União em editar 
normas gerais (art. 24 e parágrafos, CF). 
c) Quanto à origem: 
1. Originária – Quando a competência desde o início é atribuída a 
determinado ente federativo. 
2. Delegada – Quando a entidade recebe sua competência por delegação 
daquela que a tem originariamente. 
3. Quanto ao conteúdo – Nessa classificação, a competência pode ser 
econômica, social, político-administrativa, financeira e tributária, e 
internacional.

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