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i Índice Temático Secção Tema Página 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1 1.1 Estrutura do Sistema Energético de um País ........................................................................ 1 1.2 Redes Eléctricas como Base para o Transporte e Distribuição de Energia ....................... 6 1.3 Evolução Histórica e Perspectivas do Transporte de Energia Eléctrica no Mundo .......... 7 1.3.1 Evolução Histórica ...................................................................................................................... 7 1.3.2 Transporte de Energia a Grandes Distâncias .............................................................................. 8 1.3.2.1 Transporte em Muito Alta Tensão Trifásica.......................................................................................... 8 1.3.2.2 Transporte de energia eléctrica em corrente continua ....................................................................... 9 1.3.3 Perspectivas ............................................................................................................................... 16 1.4 Particularidades tecnológicas da produção, transporte, distribuição e utilização de energia eléctrica ...................................................................................................................... 19 1.4.1 Forte ligação entre a produção, transporte, distribuição e consumo............................19 1.4.2 Dependência do trabalho nos vários sectores da economia do País do fornecimento de energia eléctrica ........................................................................................................................ 19 1.4.3 Impossibilidade de rejeitar um artigo manufacturado defeituoso. ............................................ 20 1.4.4 Rapidez dos processos de produção, transformação e transmissão de energia eléctrica......,20 1.4.5 Ligação de todas as instalações do sistema energético em rede. .......................................... 20 1.4.6 Regime alternado de carga dos consumidores durante o dia, noite, mês, ano. ...................... 20 1.5 Classificação das redes eléctricas ........................................................................................ 22 1.5.1 De acordo com o tipo de corrente ............................................................................................ 22 1.5.2 De acordo com a tensão nominal ............................................................................................. 22 1.6 Princípios de Configuração dos Sistemas Eléctricos ......................................................... 28 1.6.1 Princípios de Formação da Estrutura ....................................................................................... 28 1.6.2 Ligações básicas das redes eléctricas ..................................................................................... 31 1.7 Elementos Constitutivos das Redes, os seus Parâmetros e Regimes de Funcionamento .................................................................................................................. 37 1.8 Características Gerais de Funcionamento das Redes de Distribuição ............................. 40 1.8.1 Redes Urbanas ......................................................................................................................... 40 1.8.2 Redes Industriais ...................................................................................................................... 41 1.8.3 Redes Rurais ............................................................................................................................ 43 1.8.4 Redes de Alimentação .............................................................................................................. 44 1.9 Regime de Tensão na Rede Eléctrica ................................................................................... 46 1.10 Dados de Partida para a Análise de Redes Eléctricas ........................................................ 48 1.11 Problemas de cálculo das redes eléctricas .......................................................................... 52 ii 2. FUNDAMENTOS DA ANÁLISE DE REDES ELÉCTRICAS ..................................... 54 2.1 Fasores ..................................................................................................................................... 54 2.2 Potência Instantânea em Circuitos Monofásicos de Corrente Alternada ..................... 58 2.2.1 Carga Puramente Resistiva ...................................................................................................... 58 2.2.2 Carga Puramente Indutiva ........................................................................................................ 59 2.2.3 Carga Puramente Capacitiva .................................................................................................... 60 2.2.8 Significado Físico de Potência Activa e Reactiva ..................................................................... 64 2.3 Potência Complexa ................................................................................................................. 65 2.4 Elementos da Análise Nodal de Redes Eléctricas ............................................................... 70 2.5 Circuitos Trifásicos Equilibrados .......................................................................................... 76 2.5.1 Circuitos Y Equilibrados ............................................................................................................ 76 2.5.1.1 Tensões de Fase (Linha –Neutro) no Sistema Trifásico Equilibrado ........................................... 77 2.5.1.2 Tensões de linha .................................................................................................................................. 78 2.5.1.3 Correntes de Linha Equilibradas ........................................................................................................ 79 2.5.2 Cargas Equilibradas em Delta ................................................................................................. 81 2.5.3 Conversão ∆-Y para cargas equilibradas................................................................................. 83 2.5.5 Potência em Sistemas Trifásicos Equilibrados ........................................................................ 87 2.5.5.1 Potência instantânea: Geradores trifásicos equilibrados ............................................................... 87 2.5.5.2 Potência instantânea: Motores e impedâncias trifásicas equilibradas ......................................... 89 2.5.5.3 Potência Complexa: Geradores trifásicos equilibrados .................................................................. 90 2.5.5.4 Potência complexa: Motores trifásicos equilibrados ....................................................................... 91 2.5.5.5 Potência complexa: Impedâncias de carga em estrela e triângulo equilibradas ............. ..........91 2.6 Vantagens do Sistema Trifásico Sobre o Monofásico ........................................................ 92 2.7 Valores por Unidade ............................................................................................................... 95 2.7.1 Definição ................................................................................................................................... 95 2.7.2 Valores Base das Grandezas Eléctricas do Sistema de Energia ............................... 96 2.7.3 Sistema Monofásico ..................................................................................................................96 2.7.4 Sistema Trifásico ....................................................................................................................... 97 2.7.5 Mudança de Base de uma Grandeza ........................................................................................ 98 2.8 Problemas não resolvidos .................................................................................................... 101 3. O MÉTODO DAS COMPONENTES SIMÉTRICAS ..................................................... 105 3.1 Teorema de Fortescue para Sistemas Trifásicos .............................................................. 106 3.1.1 O operador λ ......................................................................................................................... 114 3.2 Componentes Simétricas das Impedâncias de Cargas Trifásicas................................... 115 3.2.1 Impedâncias de cargas trifásicas sem acoplamento entre fases ................................ 115 3.2.2 Impedâncias de cargas trifásicas com acoplamento entre fases .......................................... 122 3.3 Componentes Simétricas de Impedâncias Série com Acoplamento entre Fases.......... 126 3.4 Impedâncias de Sequência para Máquinas Eléctricas Rotativas..................................... 130 3.6 Problemas não resolvidos .................................................................................................... 139 iii 4. TRANSFORMADORES DE POTÊNCIA .................................................................. 142 4.1. Transformador Ideal ............................................................................................................... 142 4.1.1 Razão de Transformação Complexa ....................................................................................... 148 4.2. Circuito Equivalente de Transformadores Reais ................................................................ 150 4.3 Valores por Unidade ............................................................................................................. 158 4.4. Ligação de Transformadores Trifásicos e Desfasamento Angular .................................. 169 4.5. Representação em pu de Transformadores Trifásicos de dois Enrolamentos ............... 177 4.6 Transformadores de Três Enrolamentos ............................................................................ 190 4.7 Auto transformadores ........................................................................................................... 199 4.8 Transformadores com Razão de Transformação não Nominal........................................ 202 4.9 Problemas não resolvidos .................................................................................................... 212 5. CARACTÉRISTICAS DAS LINHAS DE TRANSMISSÃO ....................................... 223 5.1 Generalidades ......................................................................................................................... 224 5.1.1 Condutores ............................................................................................................................... 224 5.1.2 Apoios ...................................................................................................................................... 226 5.2. Resistência ............................................................................................................................. 230 5.3. Conductância .......................................................................................................................... 233 5.4. Inductância ............................................................................................................................ 236 5.4.1. Inductância interior de um condutor cilíndrico......................................................................... 236 5.4.2. Fluxo de Acoplamento Entre Dois Pontos Exteriors a Um Condutor Isolado ........................ 239 5.4.3 Inductância de uma linha monofáfica de dois condutores ...................................................... 240 5.4.4 Fluxo de acoplamento de um condutor num grupo ................................................................ 243 5.4.5 Inductância de Linhas Monofásicas de Condutores Múltiplos Agrupados em Feixe ............. 246 5.4.6 Inductância de uma Linha Trifásica com Espaçamento entre Condutores em Triângulo Equilâtero ................................................................................................................................ 251 5.4.7 Indutância de uma Linha Trifásica com Espaçamento entre Condutores Desigual ............... 252 5.4.8 Indutância de Linhas Trifásicas com Condutores Múltiplos ................................................... 257 5.5 Capacitância .......................................................................................................................... 260 5.5.1. Capacitância de Uma Linha Monofásica de Dois Condutores................................................ 261 5.5.2. Capacitância de Uma Linha Trifásica com Espaçamento Equilátero ..................................... 264 5.5.3 Capacitância de uma Linha Trifásica com Espaçamento Entre Condutores Desiguais ........ 266 5.5.4 Efeito da Terra na Capacitância das Linhas de Transporte de Energia Eléctrica Trifásicas . 269 5.5.5 Capacitância de Condutores Múltiplos ................................................................................... 272 5.6 Linhas Trifásicas Paralelas .................................................................................................. 275 5.7 Problemas não resolvidos .................................................................................................... 279 iv 6. PARÂMETROS DE OPERAÇÃO DAS LINHAS DE TRANSMISSÃO NO REGIME ESTACIONÁRIO .............................................................................. 284 6.1 Representação Aproximada de Linhas de Transmissão Curtas e Médias ................ 285 6.1.1 Linhas Curtas .......................................................................................................................... 285 6.1.2 Linhas Médias ......................................................................................................................... 287 6.2. Equações Diferenciais de Linhas de Transmissão ........................................................... 295 6.3. Esquema Equivalente em Π para Linhas Longas .............................................................. 302 6.4 Linhas sem perdas ................................................................................................................ 305 6.4.1. Impedância de onda/surto ....................................................................................................... 305 6.4.2. Constantes Auxiliares DCBA ............................................................................................. 306 6.4.3. Esquema equivalente π .......................................................................................................... 306 6.4.4. Comprimento de onda ............................................................................................................. 307 6.4.5 Capacidade de carga da linha terminada com impedância de onda ...................................... 308 6.4.6 Perfis de tensão ...................................................................................................................... 310 6.4.7 Limite de estabilidade Estática ................................................................................................ 3126.5. Potência máxima teórica ...................................................................................................... 317 6.6. Capacidade de Carga das Linhas de Transporte ............................................................... 319 6.7. Técnicas de Compensação de Potência Reactiva ............................................................. 325 6.8. Problemas não resolvidos................................................................................................... 330 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ..................................................................... 334 1 1. Introdução 1.1 Estrutura do Sistema Energético de um País A energia eléctrica é uma forma de energia universal. Ela pode ser transfornada de uma maneira simples e económica, em outras formas de energia como a térmica, luminosa, mecânica, etc. A energia eléctrica é a base para um considerável número de sistemas como os de electrónica, automação, controle, comunicações que, mesmo nos casos em que consomem pouca energia, são essenciais numa série de equipamentos e técnicas modernas. A electricidade é usada na maioria dos processos tecnológicos industriais e agrícolas, e na vida corrente de toda a população. Hoje pode-se dizer sem dúvidas que o grau de electrificação de um país é uma medida do seu desenvolvimento técnico, económico e social. A energia eléctrica produzida nas centrais, é na realidade um resultado da transformação de outras formas primárias de energia, como a energia térmica dos combustíveis gasosos, líquidos e sólidos, a energia eólica do vento, a energia solar, a energia nuclear. A figura 1.1 apresenta, em forma de diagrama de blocos, a estrutura de um sistema energético. Energia Natural Central Termoeléctrica Transformação de Energia Rede Eléctrica Consumo de Energia Eléctrica Consumo de Energia Térmica Transformação de Energia Rede Térmica Fig.1.1 Diagrama de blocos de um sistema energético As fontes convencionais de energia natural para a produção de energia eléctrica actualmente usadas são : Energia hídrica (através das barragens hidroeléctricas ao longo dos rios e mares); 2 Energia térmica ( através da queima de combustíveis sólidos como o carvão, combustíveis líquidos como o petróleo e seus derivados, combustíveis gasosos como o gás natural); Energia nuclear; Energia geotérmica. A economia energética de um país assenta num sistema bastante complexo, com uma grande diversidade de elementos, desde o processo de extracção dos recursos básicos, a sua transformação em instalações apropriadas, até à utilização pelos consumidores finais. Assim, o sistema energético de um Pais engloba os recursos naturais, as empresas de transformação, os meios de transporte e as empresas de utilização. Para conveniência do estudo, um sistema energético completo pode subdividir-se nos seguintes sub-sistemas: 1) Sub-sistemas de alimentação dos recursos energéticos primários, Englobando as fontes de energia, empresas de extracção e o transporte para as unidades de consumo; 2) Sub-sistema de energia eléctrica, O qual inclui as centrais eléctricas, as redes de transporte e distribuição, as subestações e ainda as diferentes instalações de utilização de energia eléctrica; 3) Sub-sistema de energia térmica, Que inclui as centrais termo-eléctricas, geradores de vapor e outras fontes de energia térmica, redes de distribuição térmica e as respectivas instalações de utilização; 4) Sub-sistema de abastecimento de energia mecânica, Que inclui certos sistemas de produção de ar comprimido, os conversores de energia térmica em mecânica, os utilizadores de energia mecânica. A figura 1.2 mostra um exemplo simplificado de um sistema energético complexo, com alguns dos seus componentes típicos. 3 Abastecimento de Combustivel Forno de Caldeira Caldeira a Vapor Vapor G1 Rede 220 kV Rede 110 kV Rede 33 kV Abastecimento de Agua 400 V G3 6,6 kV G2 Preparação de combustível Serviços auxiliares Interligação Figua 1.2 Esquema simplificado de um sistema electroenergético As centrais eléctricas são instalações responsáveis pela transformação dos recursos energéticos primários em energia eléctrica. Habitualmente, a tensão de produção situa-se entre os 6 e 20KV, mas por razões técnicas e económicas o transporte e a distribuição são feitos com tensões mais elevadas cujos limites actuais se situam nos 1000KV. As estruturas utilizadas no transporte, distribuição e utilização da energia eléctrica chamam-se redes eléctricas. As redes eléctricas manuseiam praticamente toda a energia produzida nas centrais, excluindo a que se consome nos seus serviços auxiliares. A energia eléctrica pode ser transportada para grandes distâncias, recorrendo-se a sucessivas manipulações das suas características nomeadamente corrente e tensão. Os elementos básicos das redes eléctricas são as linhas e as subestações. Nas subestações os transformadores modificam alguns parâmetros de transporte de energia, nomeadamente valores de corrente e tensão. É também nas subestações que se localiza diversa aparelhagem de manobra e protecção como disjuntores, seccionadores, relés, entre outros. 4 Os aparelhos que transformam a energia eléctrica em outras formas de energia são designados receptores eléctricos. Constituem exemplos, os fornos eléctricos que transformam a energia eléctrica em calorífica, aparelhagem de iluminação que converte a energia eléctrica em energia luminosa, bem como os motores eléctricos que transformam-na em energia mecânica. Normalmente, os receptors estão agrupados em áreas, sendo alimentados simultaneamente a partir de um ponto comum da rede. A um conjunto de receptores assim localizados e ligados dá-se o nome genérico de consumidor. Portando um consumidor poderá ser uma residência, uma fábrica, um quarteirão duma cidade, uma empresa agrícola, ou uma região completa abragendo aldeias, vilas, cidades. Como consumidores individuais consideram-se as casas, empresas ou organizações que utilizam a energia eléctrica em actividades laborais, sociais e culturais. Por vezes, considera-se como consumidor individual, uma grande porção de uma rede, por exemplo, uma subestação incluindo todos os consumidores que alimenta. A ligação entre barramentos das centrais ou subestações e os consumidores é feita pelas linhas de transmissão. Esta inclui os transformadores elevadores, as linhas de alta tensão e os transformadores abaixadores. A figura 1.3 apresenta esquematicamente um sistema simples de transmissão de energia eléctrica desde a central aos consumidores. Transformador Elevador Transformador Abaixador Consumidor Central Eléctrica Linha de Alta Tensão Figura 1.3 Sistema de transmissão de energia eléctrica Frequentemente, o fluxo de potência numa rede ou linha de transmissão pode ser invertido. É comum usar-se as designações rede receptora ou subestação receptora ou ainda de carga para as que são essencialmente de consumo e rede ou subestação de alimentação para as que servem de alimentação aos sectores da rede a jusante. Obviamente estas designações são relativas e dependem do contexto de cada caso. Se o objectivo do estudo é uma dada secção de uma rede de alta tensão, a subestação de uma central será uma subestação geradora e um posto de transformação será um nó de carga. Por outro lado, do ponto de vista da rede de baixa tensão que alimenta o posto de transformação será um nó gerador. Entre os vários elementos do sistema energético existem diferentes tiposde ligação nomeadamente eléctricas, mecânicas, electromagnéticas e outras. Por exemplo, 5 todos os elementos de uma rede a um dado nível de tensão se ligam electricamente por meio de canalizações apropriadas; as redes com niveis de tensão diferentes são ligadas electromagneticamente através de transformadores; os rotores e estatores das máquinas eléctricas rotativas são ligados entre sí electromagneticamente; os geradores eléctricos e os motores primarios (turbinas ou motores diesel) e os motores eléctricos e as máquinas ferramentas que accionam são ligados entre sí mecanicamente; a albufeira e as turbinas hidráulicas numa central hidráulica estão ligadas através de condutas forçadas. Os diversos elementos de um sistema energético exercem basicamente uma das seguintes funções: Transmitir energia (linhas aéreas, cabos, disjuntores, barrametros, condutas forçadas); transformar energia (caldeiras, tubinas, geradores, transformadores, máquinas ferramentas); Por exemplo, a água da albufeira é transmitida pelas condutas forçadas até as turbinas hidráulicas. A turbina transforma a energia cinética da água em energia mecânica. O gerador transforma a energia mecânica da turbina em energia eléctrica. Os transformadores alteram as características da energia eléctrica produzida para as mais adequadas para transmissão. As linhas aéreas transportam a energia eléctrica a uma certa distância. Os transformadores abaixadores na rede de distribuição convertem a alta tensão de transporte em baixa ou média tensão convenientes para distribuição e consumo. Os consumidores transformam a energia eléctrica através dos seus aparelhos receptores em energia térmica, mecânica, luminosa, etc. 6 1.2 Redes Eléctricas como Base para o Transporte e Distribuição de Energia Frequentemente, os recursos energéticos necessários para diversas actividades económicas situam-se muito longe das regiões industriais. É o caso de Moçambique em que grandes reservas energéticas estão situadas em Tete, enquanto os potenciais consumidores estão em Sofala e Maputo. Portanto, a energia necessária deve ser transportada para grandes distâncias. O problema que se coloca é encontrar a melhor forma de transporte. Existem várias possibilidades. Pode-se por exemplo, transportar os combustíveis (petróleo, carvão) por via férea. Podem certos tipos de combustíveis (gás, petróleo) serem transportados por condutas (“pipelines”) ou grandes navios (petroleiros). Embora o transporte do petróleo a grandes distâncias já seja enconomicamente viável, o transporte da maioria dos recursos energéticos primários não o é. A solução encontrada é a conversão da energia contida nesses recursos em energia eléctrica e o transporte dessa nova forma de energia para os centros de consumo, a partir das linhas de transmissão. A distribuição de energia eléctrica é mais fácil de expandir, para além de que a sua transformação nos centros de consumo é cómoda e vantajosa. O rendimento de transformação de energia eléctrica em outras formas de energia é muito alto. Assim, na prática, o problema que se coloca é a decisão sobre o local de construção das centrais eléctricas e sobre as distâncias de transporte do combustível para as centrais Estas questões por seu turno estão ligadas a solução de outros aspectos da economia do país tais como existência de vias féreas, desenvolvimento da indústria, nível cultural das populacões da região, entre outros factores. Portanto, a função principal das redes eléctricas de transporte é a transmissão da energia dos lugares remotos de sua produção aos lugares de consumo. Através da interligação, as redes eléctricas permitem agrupar as diversas centrais eléctricas e os consumidores de energia num sistema eléctrico único. A necessidade de interligações por agrupamentos explica-se pela sua grande vantagem técnico-económica. Com o aumento da potência de interligação, surge a possibilidade de construção de grandes potencias dos agrupamentos criados, o que reduz consideravelmente os custos unitários de produção e operação. O aumento do número de ligações das diferentes centrais eléctricas eleva a fiabilidade do sistema para além de aumentar a possibilidade de utilização mais completa e racional de todo o equipamento instalado permitindo assim uma utilizaçao mais económica das fontes de alimentação a partir das reservas locais. 7 1.3 Evolução Histórica e Perspectivas do Transporte de Energia Eléctrica no Mundo 1.3.1 Evolução Histórica Apenas no terceiro quarto do século XIX foi possível a produção de energia eléctrica em quantidades razoáveis para poder ser consumida, graças ao desenvolvimento do dínamo, como resultado dos trabalhos dos cientistas Siemens e Pacinotti. Porém, só a partir de 1879-1880, com a invenção da lâmpada incadescente por Thomas Edison, a energia eléctrica teve o seu grande impulso. Em 1882 foi inaugurada a primeira central eléctrica para fornecer energia para iluminação pública com 400 lâmpadas de 83 watt cada, dentro de uma área com 1,5 km de raio, em Pearl Street, na cidade de Nova York. A partir daí começaram a surgir os primeiros sistemas eléctricos em diversos paises do mundo sendo o de maior destaque a linha de transmissão de 59 km a 2400 V, corrente contínua, na Alemanha, em 1882. A expansão dos sistemas eléctricos foi limitada pelos fenómenos da queda de tensão e perdas por efeito de Joule. Por volta de 1884/1886 foi inventado e desenvolvida a versão comercial do transformador por William Stanley, que permitia elevar e abaixar a tensão, com grande rendimento, desde que a energia fosse em corrente alternada. Nestas condições, o problema de transmissão com tensões mais elevadas, portanto, com menos perdas de energia, estava resolvido. Datam desse período, duas realizações notáveis para a época: A linha de 12KV, trifásica, 180Km em 1891 na Alemanha; A invencão, entre 1885 e 1888, do motor de indução, devido aos trabalhos de Ferraris e Nikola Tesla. Estes feitos deram um novo impulso aos sistemas de corrente alternada, que foram, pouco a pouco, substituindo os de corrente contínua. As vantagens da corrente alternada, seja na geração como no transporte, ou ainda distribuição superaram as da corrente continua e assim cresceram continuamente as redes de corrente alternada. Como resultado cresceram também as potencias das centrais eléctricas e as tensões de transporte. Em 1910, atingia-se o nível de 110KV. Em 1913, estava-se em 130KV. Em 1922 entrou em operação a primeira linha de 230KV e em 1936 uma linha de 287KV. Apenas em 1950, foi suplantada a tensão de 287KV com a entrada em serviço na Suécia de uma linha de 1000Km de cumprimento e uma tensão de 400KV. Na América do Norte, somente em 1955 foram construídas as primeiras linhas de 345KV nos EUA. Entre 1964 e 1967, foram projectadas e construídas as primeiras linhas de 735KV no Canadá. 8 Paralelamente, com o crescimento das redes eléctricas de distribuição foram aparecendo linhas para o transporte de grandes quantidades de energia a distâncias de várias centenas de quilómetros. Este fenómeno verificou-se a partir de início do século XX, quando começou-se a utilizar a energia hidroeléctrica, existente em geral em pontos distantes das zonas de maior intensidade de consumo da energia eléctrica. O desenvolvimento da técnica de transporte de energia eléctrica a grandes distâncias permitiu reduzir o seu custo para valores inferiores aos do transporte de carvão. Além disso, a preocupação crescente em relação a poluição atmosférica pelas centrais térmicas, levou à localização daquelas junto das minas de extracção ou junto do mar para melhor aproveitamento do potencial de refrigeraçãoo que aumentou a distancia entre os pontos de produção e de consumo, e assim, tornou obrigatorias as longas linhas de transmissão entre as centrais e os pontos de consumo. Contudo, hoje atingiu-se um ponto em que a construção de linhas de transporte de energia a grandes distâncias justifica-se mais por razões económicas do que pela simples necessidade de ter as centrais afastadas por imperativos ambientais. Por exemplo, o rendimento e o custo da produção de energia cresce e diminui respectivamente com o aumento da potência unitária dos grupos ou instalações. As interligações entre regiões permitem aos produtores de energia a montagem de grandes centrais aproveitando o grande potencial energético local que não se justificariam caso fossem destinados a servir apenas as áreas vizinhas. Verifica-se ainda que a diversidade de cargas entre duas regiões poder ser melhor servida, com menores potencias instaladas no local, através da interligação dos sistemas prudutores. Este facto é tanto mais importante quanto maior for o afastamento geográfico (no sentido Norte-Sul devido as diferenças climáticas e no sentido Leste- Oeste devido às diferenças horárias). Para o aumento das interligações contribuiram ainda outros aspectos favoráveis, entre os quais a necessidade de uma menor potência de reserva. 1.3.2 Transporte de Energia a Grandes Distâncias 1.3.2.1 Transporte em Muito Alta Tensão Trifásica O nível da tensão de transmissão depende da distância e da potência a transmitir. A utilização de uma tensão maior do que 380 KV(muito alta tensão) tem 3 objectivos: a) Transporte de energia das grandes e afastadas centrais hidroeléctricas aos centros de consumo; b) Interligação para acoplamento de redes distantes; c) Construção de uma rede de coordenação para redes de alta tensão com o fim da interligação de grandes centrais, aumento da fiabilidade do sistema in terligado, limitação das correntes de curto circuito. 9 Algumas das vantagens de interligação são: A construção de redes eléctricas juntando várias centrais eléctricas e consumidores de energia dá a possibilidade de criar sistemas energéticos com uma fiabilidade maior para os consumidores que os sistemas individuais; A criação de sistemas energéticos permite aumentar a potência unitária dos blocos e agregados nas centrais. A potência unitária de um bloco em condições de reserva de potência não deve ser maior do que 8 a 10% da potência total do sistema energético; Para centrais pequenas com potências entre 100 e 1000Kw os custos de produção de energia são 10-15 vezes maiores; a quantidade de pessoal por 1000Kw de potência instalada é de 20-30 vezes maior; o consumo específico de combustível por Kwh é de 2 a 3 vezes maior que nas grandes centrais; Normalização dos tipos de equipamento eléctrico, bem como dos valores de tensão e frequência , resultando assim uma maior economia de construção e operação; Possibilidades mais favoráveis de construção de grandes centrais hidroeléctricas nas condições complexas de utilização dos rios, que não seriam economicamente viáveis para pequenos consumudores isolados; Maiores possibilidades de regulação do regime de funcionamento das centrais o que permite melhorar os diagramas de carga das mesmas. 1.3.2.2 Transporte de energia eléctrica em corrente continua O aumento das distâncias de transporte de enegia eléctrica acompanhado do aumento de potências e tensões de transmissão veio levantar novos problemas nos sistemas de corrente alternada trifásica. Estes problemas estão associados com a estabilidade de marcha dos geradores e perdas de tensão, que resultam da acção da inductância e capacitância das linhas de transporte e, ainda, o elevado custo das instalações. Em corrente continua as reactancias inductiva e capacitiva deixam de ter efeito resultando menores perdas de tensão. Além disso, em iguais condições de isolamento (mesma tensão máxima em relação à terra), as perdas de potência em corrente continua são muito inferiores as do transporte da mesma potência em corrente alternada trifásica. Para melhor ilustração, comparemos, quanto as perdas, uma linha em corrente continua e outra em corrente alternada trifásica, para os mesmos valores de potência transportada, tensão máxima em relação à terra e igual peso de condutores. Para reduzir a tensão dos condutores da linha de corrente continua em relação à terra pode-se ligar o ponto médio entre os geradores à terra como indicado na figura 1.5. 10 U U I I G 1 G 2 I’ I’ Figura 1.5 Sistema de corrente contínua Figura 1.6 Sistema c.a. Trifásico U’ Analisemos primeiro a rede de corrente contínua. Se U for a tensão máxima da rêde em relação a terra, P a potencia a transmitir, o valor da corrente I será dado por: 2U P I (1.3.1) Se a resistência de cada um dos condutores for R, a potência de perdas por efeito de Joule será: 2 2 2 2 2 pc 2U RP 4U P 2R2RIP (1.3.2) Para o sistema trifásico com o ponto neutro ligado a terra, para que se verifiquem as mesmas condições de tensão máxima do caso anterior, cada condutor deverá ficar com a tensão simples dada por: 2 U U' (1.3.3) Pois o isolamento é calculado para a tensão máxima. Por outro lado, para se ter um mesmo peso de condutores, com a mesma distância de transporte, a secção de cada condutor no sistema trifásico será 2/3 de um dado 11 condutor em corrente continua, donde resulta: 3R2R' (1.3.4) ou, R 2 3 R ' (1.3.5) A potência transmitida P será então: cos'I 2 U 3cosI3UP '' (1.3.6) Donde: 3Ucos P2 I' (1.3.7) A potência de perdas será então: 22 2 '2' pa cosU RP I3RP (1.3.8) Comparando as potências de perdas resulta: 2 cos P P 2 pa pc (1.3.9) Portando, nas mesmas condições de transmissão o sistema em correne alternada tem perdas de Joule pelo menos duplas das do sistema de corrente contínua. Estas menores perdas de potência na linha, ou a consequente economia de condutores para perdas iguais, apresenta grandes vantagens para transporte de energia de grandes potências para grandes distâncias. O esquema de princípio da transmissão em corrente continua é mostrado na figura 1.7. A T 1 R I d I T 2 B Figura 1.7 - Esquema de princípio para o transporte de energia em corrente continua 12 A corrente pela linha é dada por: R UU I DIDRd (1.3.10) Resumindo as principais vantagens do transporte em corrente contínuo são: Ausência de reactância; Ausência do efeito pelicular da corrente (skineffect); Ausência de desfasagem entre tensão e corrente; Regulação da tensão mais simples. Contudo, a transmissão em corrente continua apresenta as seguintes desvantagens: Necessidade de energia reactiva para o funcionamento dos conversores; Necessidade de filtros para as ondas harmónicas; Dificuldades de ramificação da rede. Evolução histórica Em 1954 teve início a exploração da linha de transporte de energia eléctrica em corrente continua entre a Suécia continental e a ilha de Gotland. A capacidade de transmissão da linha era de 20 Mw e a tensão de transmissão de 100 Kv. Foi usada para a linha de transporte cabo submarino com retorno por terra. A figura (1.8.) mostra o esquema. Neste esquema foram utilizados dois grupos rectificadores com válvulas de vapor de mercúrio em cada subestação, com uma tensão de 50 Kv por grupo e 200 A por válvula. A potência reactiva é fornecida por condensadores síncronos e estáticos. Este sistema funciona como elemento de ligação das redes de corrente alternada de 130 Kv e 30 Kv situadas nos seus dois extremos. 10 MVAR SUECIA CONTINENTAL SCHWEDEN SUECIA INSULAR GOTLAND ALISAMENTO CABO SUBMARINO ALISAMENTO 50 kV 10 MW U d =100 kV I d =200 A P d =20 MW 10 kV Compensador sincrono 30 MVA x” d =10% 30 kV 28 MVA 130 kV 13 Figura 1.8 a) Esquema de transmissão em corrente continua Suécia- Gotland CABO SUBMARINO 64 km 100 kV 80 MW 225 kV 275 kV 33 kV 63 MVAR Inglaterra Leeds U d =200 kV I d =800 A P d =160 MW P Franca 250/350 Hz 550/650 Hz 50 MVAR Figura 1.18 b) Figura 1.8 b) Esquema de transmissão em corrente continua Inglaterra-França Em 1961 foi realizada a ligação entre a Inglaterra e França através do Canal de Mancha. Um dos motivos principais desta ligação foi a necessidade de explorar a diversidade de demanda de potência nas redes Britânica e Francesa, com capacidade de produção de algumas dezenas de Gw. Uma ligação destas, embora com apenas 160 Mw traria vantagens para ambas as redes. Cada subestação tem dois grupos rectificadores ligados em série, cada um com 100 Kv. As suas válvulas suportam uma corrente continua de 800 A. O transporte utiliza dois cabos(um por polo) com condutores de cobre de 700mm2. Não foi usado o retorno por terra devido às dúvidas que surgiram quanto a possibidade de interferências na navegação maritima. O esquema é mostrado na figura 1.8b. Em 1964 foi construida na URSS uma linha aérea de 475 Km, 750 Mw ligando Volgogrado a Donz K. Cada subestação tem 8 grupos de 6 válvulas. Esta foi a primeira transmissão por linha aérea em corrente continua. 14 Em 1965 entrou em funcionamento uma linha de transmissão em corrente continua entre duas ilhas na Nova Zelândia com uma capacidade de transmissão de 600 Mw. A energia eléctrica é transportada das centrais hidroelectricas da ilha sul para ilha norte através de uma linha aérea de 570 Km e um link submarino de 40Km. O esquema de princípio é mostrado na figura 1.9. Cada subestação tem 4 grupos de 6 rectificadores, 125 Kv por grupo e uma corrente de 1200A. Os cabos utilizados são condutores de cobre de 500mm2. A parte em linha aérea é estabelecida com 2 condutores de Alumínio-Aço com 820mm2 de Al, montagem bipolar em apoios do tipo T, com vãos médios de 355 m. A potência reactiva é fornecida por condensadores sincronos ligados aos enrolamentos terciários dos transformadores. 220 kV 80 MWA Linha aerea 570 km + 250 kV U d = 500 kV I d = 1200 A P d = 500 MW 110 kV - 250 kV 3 G C.S. C.S. C.S. C.S. Cabo submarino 40 km 13 kV 33 kV 100 MVAR 65 MVAR 100 MVAR 3 G 3 G 3 G 3 G 3 G Fig. 1.9. Esquema de transmissão em corrente continua na Nova Zelândia Em 1975 entrou em funcionamento o esquema de Cahora Bassa transportando energia eléctrica produzida em Songo na província Central Moçambicana de Tete a subestação de Apollo na República da África de Sul. O comprimento da linha de transmissão é de 1410 Km e a capacidade de transporte de 1920 Mw a ±533 KV. Foi 15 a primeira experiência mundial na aplicação de válvulas electrónicas de estado sólido. A figura 10 mostra o equema de princípio. 220 kV 12 kV 5x480 MVA f.p.=0,85 282 MVA 400 MVAR 1410 km 133 kV 240 MW + 533 kV - 533 kV U d = 1066 kV I d = 1800 A P d = 1920 MW 275 kV APOLLO RSA 100 MVAR Alisamento 3 G 3 G 3 G 3 G 3 G 3 G 3 G 3 G Linha aérea Songo-Tete Moçambique Figura 1.10 Esquema de transporte em corrente contínua Moçambique (HCB )- RSA 16 1.3.3 Perspectivas A figura 1.11 mostra a evolução da tensão de transmissão de energia eléctrica no mundo. Quer no aspecto técnico, quer no económico, há limites máximos para os valores de tensão com que pode funcionar uma linha aérea. Quando a tensão cresce acima dos valores hoje utilizados (1000 KV) o espaçamento entre os condutores e a distância ao solo crescem mais que proporcionalmente pelo que o custo da linha e das subestações tornam-se exorbitantes. Para as linhas aéreas em corrente alternada o limite de tensão pode ser fixado entre 1000KV e 1500 KV, enquanto em corrente continua pouco mais do que 1500 KV. Quanto aos cabos a única limitação está na tecnologia do seu fabrico. Pensa-se que o uso de cabos supercondutores seja uma solução para a limitação de tensão imposta pelo mecanismo de disrupção témica do isolamento devido as perdas Ohmicas nos cabos. Quanto a novas tecnologias, está ainda em estudo a possibilidade de transporte de potência através de energia electromagnética por microondas. 100 200 300 400 500 600 700 800 190010 20 30 40 50 60 70 80 90 ano U [ kV ] P [ MW ] 60 kV 110 kV 150 kV 230 kV 287 kV 400 kV 735 kV 800 kV [ 750 MW ] 200 kV [160 MW] 100 kV [20 MW ] tensão potência 17 Figura 1.11 Evolução histórica da tensão e potência de transmissão no Mundo O aumento indefinido da tensão de transporte parece necessário face ao crescimento acentuado do consumo de energia eléctrica, com a sua duplicação em cada 10 anos. A figura 1.12, mostra esse facto. 100 1000 10000 100000 1900 10 20 30 40 1950 60 70 80 90 ano 10 ( x 10 9 kWh) 2000 Figura 1.12 Crescimento anual da demanda de energia eléctrica no Mundo As fontes de energia de maior densidade hoje em uso são as centrais nucleares, que devido as grandes quantidades de água de arrefecimento necessárias, são colocadas junto ao mar, rios ou lagos, o que implica a necessidade de transporte de grandes potências para as grandes distâncias de consumo. A utilização dos supercondutores poderá também ser extendida as linhas aéreas de muito alta tensão quer sejam elas trifásicas ou de corrente continua. Também os alternadores e transformadores poderão vir a usar super condutores. O objectivo final é a diminuição das perdas de transmissao. A figura 1.13 mostra uma estrutura possível para o sistema energético do futuro. 18 Luminosa 10 GHz ( 220-1000 kV ) ( 220-380 kV ) 50 Hz 1 2 ( 3-5 GW ) 3 4 5 6 7 8 Transporte 30-0.4 kV 0 Hz Produção Química Mecânica Térmica Utilização de Energia Eléctrica Distribuição Figura 13 Estrutura do sistema energético do futuro 19 1.4 Particularidades tecnológicas da produção, transporte, distribuição e utilização de energia eléctrica A produção,transporte, distribuição e consumo de energia eléctrica nos sistemas eléctricos apresenta uma série de particularidades, nomeadamente: 1.4.1 Forte ligação entre a produção, transporte, distribuição e consumo Na prática é impossível acumular ou armazenar a energia produzida nas centrais eléctricas. Assim, em qualquer instante de tempo, num sistema eléctrico, deve haver um equilíbrio rígido entre a produção e o consumo incluindo as respectivas perdas de potência activa e reactiva. Em contraste nos outros ramos da indústria é possível acumular a produção manufacturada em armazéns ou depósitos, criar reserva de artigos semi- manufaturados e peças sobressalentes nas secções, reduzindo assim o nível de dependência mútua no trabalho das diferentes secções. Como não é possível fazer isso no sistema energético há necessidade de fazer-se uma planifiicação mais rigorosa do consumo de energia eléctrica de modo a evitar a ocorrência de excessos ou défices. Do mesmo modo, as empresas energéticas devem ser capazes de em cada momento abastecer as cargas eléctricas que os consumidores requerem, em particular no que se refere aos máximos e mínimos de carga. A redução da produção de energia eléctrica nas centrais para trabalhos de manutenção ou reparação geral dos equipamentos, conduz a redução da quantidade de energia fornecida aos consumidores no caso em que não se dispõe de uma reserva de potência suficiente. Por outro lado, a redução do tempo de consumo das instalações de reserva, traduz- se em baixa utilização dos equipamentos instalados nas centrais elécticas durante essa anomalia. 1.4.2 Dependência do trabalho nos vários sectores da economia do País do fornecimento de energia eléctrica É sabido que todos os sectores da economia de um país dependem das actividades normais de transporte, comunicações, etc, e que uma interrupção dessas actividades por um curto espaço de tempo não origina a paralização completa e imediata das indústrias. Mas no caso da energia eléctrica, a sua interrupção pode trazer consequências de grande vulto para a economia nacional. Assim, será necessário assegurar a realização das seguintes exigências, nas isntalações de fornecimento de energia eléctrica: Segurança máxima no funcionamento das empresas de electricidade; 20 Existência de reservas de potência suficientes nas centrais eléctricas e ampla assistência mútua entre elas para evitar a interrupção de fornecimento aos consumidores em caso de avaria de qualquer uma delas; Existência de ligações de reserva nas redes eléctricas e reserves de capacidade de transmissão nas linhas para alimentação dos consumidores mais importantes; Máxima automatização das empresas energéticas, em particular a automatização das reservas; Provisão de reservas na produção energética para fazer face ao crescimento do consumo de energia. 1.4.3 Impossibilidade de rejeitar um artigo manufacturado defeituoso (vapor, energia térmica ou eléctrica). Nos casos em que o vapor tem parâmetros mais baixos que os exigidos, ao entrar nas turbinas, poderá levar ao abaixamento da potência e frequência da energia produzida. Esta diminuição da qualidade de energia eléctrica devido a fraca qualidade dos elementos de entrada, p.e, a frequência, pode dar imediatamente um abaixamento da rotação das máquinas ferramentas accionadas pelos motores eléctricos tendo como consequência uma redução da qualidade do produto final manufaturado. 1.4.4 Rapidez dos processos de produção, transformação e transmissão de energia eléctrica. Tal rapidez constitui um factor positivo do ponto de vista de rendimento económico na produção e distribuição nos processos derivados da energia eléctrica. Por outro lado, esta particularidade apresenta altas exigências e aumento da segurança das instalações para além da necessidade de aumento da segurança dos próprios sistemas de automatização para evitar eventuais erros de operação intempestiva. 1.4.5 Ligação de todas as instalações do sistema energético em rede. Esta situação origina o perigo de rápida propagação das avarias o que pode provocar grandes prejuízos económicos e dificuldades nos serviços públicos. Os outros ramos da economia não têm ligação semelhante entre os diversos componentes (empresas). Segue daqui que devem ser mais rígidas as exigências com a segurança máxima de funcionamento de todos os elementos do sistema e de um elevado rigor na selecção dos sistemas de protecção e controlo e reserva de ligações nas redes eléctricas(redundância). 1.4.6 Regime alternado de carga dos consumidores durante o dia, noite, mês, ano. 21 Em todos os ramos da indústria aspira-se este objectivo e a tendência vai para a obtenção de garantia de trabalho ritmico e regular. As empresas energéticas asseguram a alimentação de acordo com o diagrama de carga resultante da estrutura industrial nos diversos sectores incluindo a agricultura. Dada esta particularidade do ramo energético exige-se: Elevada capacidade de manobra dos grupos electrogéneos (turbina-gerador); Economia de funcionamento do equipamento em regimes diferentes; Funcionameto optitimizado das centrais com grupos electrogéneos diferentes de acordo com os diagramas de carga do sistema energético; Funcionamento com segurança máxima dos sistemas de regulação automática para manutenção de qualquer necessidade de energia eléctrica nas condições de regime alternados. 22 1.5 Classificação das redes eléctricas As redes eléctricas são estruturas muito complexas possuíndo uma grande quantidade de elementos que trabalham para um mesmo objectivo geral, o fornecimento de energia eléctrica aos seus utilizadores. As redes eléctricas classificam-se de acordo com as suas caracterícas, nomeadamente: 1.5.1 De acordo com o tipo de corrente Distinguem-se redes de corrente alternada e redes de corrente contínua. A maioria das redes de transmissão de energia eléctrica são sistemas trifásicos de corrente alternada. As linhas de corrente continua são utilizadas actualmente para o transporte de potências elevadas a grandes distâncias. Utiliza-se também corrente continua em redes de utilização especiais como no caso de tracção eléctrica. Também aplica-se por vezes redes monofásicas que utilizam a terra como fio de retorno. 1.5.2 De acordo com a tensão nominal Com o objectivo de normalização de equipamentos, tem sido habitual em cada país, a adopção de certos valores de tensão nominal os quais variam com a finalidade de cada rede. A tensão nominal é aquela para a qual os receptores de energia eléctrica foram dimensionados para trabalharem normalmente e cujo rendimento económico é máximo. Em geral, existem as seguintes aplicações para os diferentes niveis de tensão: a) 110 e 220 V em corrente contínua: aplica-se para a alimentação das bobinas de excitação das máquinas eléctricas; b) 220V e 440 V em corrente continua: aplica-se para a alimentação de motores eléctricos de corrente continua; c) 127/220/380 V corrente alternada a quatro fios: aplica-se para as instalações de motores de pequena potencia e aparelhos de iluminação; d) 500 V: aplica-se em motores com média potência inferior a 75KW; e) 3 kV: aplica-se para motores com potencias superiores a 75KW; Usa-se também para alimentação dos serviços auxiliares das centrais eléctricas de grande potência; 23 f) 6 kV: aplica-se em redes urbanas e em redes industriais com elevados índices de consumo. Também alguns motores de muito grande potencia podem ser alimentados por este nivel de tensão; g) 10 kV: Aplica-se em redes urbanas de grandes cidades;h) 33 kV: Aplica-se em redes urbanas, industriais e em pequenas redes regionais; i) 110, 220 KV e superiores: Aplicam-se em linhas de transporte de energia eléctrica; Por vezes, por comodidade, classificam-se as redes de acordo com as tensões nominais da seguinte maneira: Baixa tensão – Redes com tensões nominais inferiores a 1 kV, por exemplo, 110/220/380/500/660 V; Média tensão – Redes com tensão até 66 kV, por exemplo, 3/6/10/20/33,66 KV; Alta Tensão – Redes com tensão superior a 66 kV e inferior a 300 kV, por exemplo,110/220/275 KV; Muito Alta Tensão – Redes com tensão superior a 300 kV, por exemplo, 330/380/400/500/750/1150KV A consideração de tensões baixas como aquelas com nivel inferior a 1 kV, não diz respeito aos limites de segurança. Conhecem-se casos de morte em instalações com tensões inferiores a 220 V. Nas redes eléctricas, em consequência das quedas de tensão nos diferentes pontos da rede, a tensão nominal é diferente da tensão nos seu extremos. A figura 1.14 mostra o perfil de tensão numa rede eléctrica. U 2 =5.7 kV U n = 6 kV +5% - 5% U 1 =6.3 kV 1 2 Figura 1.14 Perfil de tensão numa rede eléctrica 24 Salvo em algumas redes especiais, em condições de funcionamento normal, a tensão em qualquer ponto da rede não deve sofrer variações superiores a ±5% da tensão nominal, Un. A tensão nominal corresponde ao valor médio entre os valores de tensão do início e fim da linha. A tensão nominal dos receptores deve ser no mínimo igual à tensão nominal da rede. No caso dos geradores, a tensão nominal deve ser superior a da rede em 5%. No caso dos transformadores considera-se como tensões nominais as de ensaio em vazio dos enrolamentos primário, secundário, e, eventualmente, terciário. O enrolamento primário é o que recebe energia eléctrica, sendo portanto para os transformadores elevadores, a tensão nominal igual à tensão do gerador e, para os transformadores abaixadores a tensão da rede. A tensão dos enrolamentos secundários e terciários, porque alimentam redes, devem ser, em carga, superiores a 5% do valor da tensão nominal da rede. Em geral, a tensão em vazio nos enrolamentos secundários deve ser 10% superior à tensão da rede para cobrir as quedas de tensão em carga da rede. Exceptuam-se os transformadores com potência inferior a 56000 VA. Para estes, a tensão nominal nos enrolamentos secundários e terciárioa em vazio é apenas 5% maior que a tensão nominal da rede, pois destinam-se a alimentar pequenas redes. A figura 1.15 mostra algumas definições de tensões nominais numa rede eléctrica. Transformador Elevador Transformador Abaixador Consumidor Uger=10.5 kV U o = 121 kV U 1 = 115.5 kV U 2 = 104.5 kV linha de 110 kV 1 2 U 20 = 6.6 kV U 2 = 6.3 kV Linha de Alta TensãoCentral Eléctrica Figura 1.15 -Tensões nominais numa rede eléctrica. As redes eléctricas também podem ser classificadas de acordo com a distribuição geográfica e tipo de consumidores. Assim temos: Redes urbanas, situadas nas cidades; Redes rurais, localizadas no campo; Redes industriais, nas empresas e fábricas; Sistemas eléctricos, redes que abrangem áreas ou regiões grandes. 25 Distinguem-se também as redes, de acordo com a finalidade, em redes de alimentação e distribuição. As redes de distribuição são as que ligam directamente aos consumidores. Habitualmente, estas redes tem tensões nominais até 20KV. A figura (1.16) mostra um exemplo. l f l Figura 1.16- Exemplo de uma rede de distribuição. f- fonte de alimentação; l-linha/ramal de distribuição As redes de 36 KV ou mais são consideradas redes de alimentação. Contudo, actualmente, devido a grande densidade de carga, as redes de 36, 60 e mesmo 110 KV também podem ser redes de distribuição devido as suas muitas ramificações. A figura 1.17 apresenta um exemplo de rede de alimentação. 220 kV 10.5 kV 20 kV 10 kV 0.4 kV 110 kV 35 kV Figura 1.17 Exemplo de rede de alimentação. 26 As redes de distribuição formam-se das linhas de distribuição e interligam subestações com as instalações dos consumidores. Analogamente, as redes de alimentação formam-se das linhas de alimentação, alimentadas por pontos de distribuição sem derivação de distribuidores ao longo de todo o seu comprimento. Conforme a configuração, as redes podem ser radiais, em anel ou em malha. As redes também se distinguem quanto ao modo de construção podendo ser linhas aéreas, cabos subterraneos, redes interiores e exteriores. Nas linhas aéreas usam- se condutores não isolados, que com a ajuda de isoladores são suspensos no ar através de suportes especiais. As redes exteriores, fora dos edifícios, realizam-se na maioria dos casos a partir de linhas aéreas. Estas são de construção e exploração mais simples e barata que os cabos. O Cabo é um sistema ou conjunto de fios com isolamento próprio e do meio ambiente, instalando-se normalmente debaixo da terra. Entre outras destacam-se as seguintes vantagens: segurança, redução de espaço utilizado. Entretanto, apresenta alguns inconvenientes nomedamente custo superior, dificuldades de exploração e localização de avarias e reparação, complexidade da sua produção. As redes de cabos instalam-se quando não há possibilidade de aplicar as redes aéreas, como por exemplo nas grandes cidades e nas empresas. As instalações interiores realizam-se com fios isolados que se colocam no interior de tubos embutidos em paredes e tectos de edifícios ou em condutas visíveis. Podem- se utilizar para o efeito calhas nos pavimentos e paredes onde se colocam os cabos. As redes eléctricas são também projectadas de acordo com as necessidades de energia e exigências dos consumidores. Quanto as exigências, distinguem-se: Redes de 1ª categoria Redes que alimentam consumidores importantes para os quais pequenas interrupções no fornecimento de energia põem em perigo a vida das pessoas ou provocam defeitos na produção irreversíveis, isto é, com sérias dificuldades no restabelecimento do processo tecnológico; Redes de 2ª categoria Redes que alimentam consumidores para os quais pequenas interrupcões no fornecimento de energia originam uma considerável redução na produção e paragem forçada de mecanismos e transporte industrial, mas sem perigo directo para a vida das pessoas. 27 Resumindo, as redes eléctricas podem-se classificar de acordo com as suas características, a saber: a) Tipo de corrente; b) Tensão nominal; c) Localização geográfica; d) Finalidade da rede; e) Topologia ou configuração da rede; f) Modo de construção; g) Segurança de alimentação dos consumidores. 28 1.6 Princípios de Configuração dos Sistemas Eléctricos 1.6.1 Princípios de Formação da Estrutura A estrutura das redes ou sistemas eléctricos depende em primeiro lugar dos consumidores de energia eléctrica. Para as redes de distribuição devem ser determinadas previamente as potências dos grupos de consumidores, isto é, as potências dos nós e as exigências em relação a segurança do funcionamento. A alimentação de um nó realiza-se segundo as exigências de qualidade da energia eléctrica nomeadamente no que respeita a tensão, potência e segurança de alimentação. Do ponto de vista de configuração de uma rede, existem duas principais possibilidades de alimentação de um nó, nomeadamente: a) Alimentação por uma linha Neste caso, a alimentação do nó A realiza-se só por uma linha a partir do barramentoB. Qualquer perturbação na linha tem como consequência uma interrupção do fornecimento de energia. A figura (1.18) mostra uma estrutura tipica. B A Figura 1.18- Alimentação de uma rede por uma linha b) Alimentação por mais de uma linha O nó A é alimentando por duas ou mais fontes de alimentação. Neste caso, os custos do sistema são maiores. A figura (1.19) mostra um exemplo. 29 B 2 B 1 B 3 A Figura 1.19 Rede alimentada por mais de uma linha Para uma avaliação técnico-económica da estrutura adequada deve também ser considerado o tempo de interrupção do fornecimento de energia. Por outro lado, deve-se ainda tomar-se em consideraração o objectivo do sistema de alimentação de energia eléctrica que comporta: Uma área de alimentação (ver figura 20) e um certo número de nós com ou não interligações entre eles e alimentados por uma fonte de alimentação, em geral, uma rede de alimentação. Consumidores Linhas de alimentação Interligação Rede de alimentação Área de alimentação Nós Figura 1.20 Esquema geral de abastecimento de energia elécrica 30 A coberto desta definição existem três estruturas topológicas de redes, já referidas em pontos anteriores, nomeadamente radial, anelar e malhada. As figuras 1.21 a) a 1.21.c) mostram alguns desses exemplos. As características gerais são apresentadas na tabela (1-2). A B C Figura 1.21- Estruturas principais de alimentação de redes eléctricas A-radial; B-anelar; C- malhada. Tabela 1.2 Características das redes eléctricas Tipo de rede Característica gerais Radial Anelar Malhada Custos de construção baixo Médio Alto Segurança de abasteciemtno Direcção de serviço Perdas de transporte Utilização do material instalado Clareza da estrutura Continuação de serviço baixa muito simples alta muito boa muito boa difícil médio a alta simples baixa mau boa boa muito alta difícil muito baixa boa difícil muito boa Estas características permitem dar indicações gerais em relação a utilização das diferentes estruturas de redes: Rede radial: em casos mais simples, quando a exigência de continuidade de alimentação não é muito grande; Rede em anel: Para abastecimento público e industrial, com um nivel de exigência de continuidade média; Rede em malha: Para redes públicas para todos os níveis de tensão e outras redes, onde a exigência de segurança de alimentação global é muito elevada. 31 1.6.2 Ligações básicas das redes eléctricas. Para as diversos tipos estruturais de rede, como redes radiais, em anel e malha, existem ligações tipicas para: 1. Redes de um nível de tensão; 2. Redes com tensões diferentes; 3. Redes de Alimentação. As ligações para redes de um nível de tensão podem ser: 1.1 Ligações de ponto; 1.2 Ligações de cruz; 1.3 Ligações de suplemento. As figuras (1.22 a), b e c) mostram algumas ligações tipicas para redes radiais, em anel e malha em função do modo de alimentação, e respectivas aplicações,sendo: Redes Radiais R1 - Ligação de ponto simples para a rede radial simples; R2 - Ligação de ponto dupla, para redes radiais simples; R3 - Ligações da cadeia simples, para redes radiais simples (simplificadas); R4 - Ligação de cadeia simples, para rede radial simples; R5 - Ligação de sumplemento em anel para rede radial simples; R6 - Ligação de ponto simples para rede radial dupla; R7 - Ligação de ponto dupla para rede radial dupla; R8 - Ligação de ponto normal para rede radial dupla; R9 - Ligação de cruz simplificada, para rede radial dupla; R10 - Ligação de suplemento de ponto para rede radial dupla; R11 - Ligação de cadeia dupla para rede radial dupla; 32 R 1 R 2 R 3 R 4 R 5 R 6 R 7 R 8 R 9 R10 R11 Figura 22 a)- Ligações de redes radiais para iguais niveis de tensão 33 Redes em Anel A1 - Anel com alimentação simples; A2 - Anel bialimentado; A3 - Anel duplo bialimentado; A 1 A 2 A 3 Figura 22 b)- Ligações de redes para iguais niveis de tensão 34 Redes em Malha M1 - Ligação de ponto para rede em malha; M 1 Figura 22 c)- Ligações de redes para iguais niveis de tensão . Para as ligações entre redes com diferentes níveis de tensão temos: 1. Linha - Instalação de distribuição – Transformador; 2. Linha – Ponto de comutação – Transformador; 3. Linha – Transformador. A figura 1.23 mostra alguns exemplos de ligação de redes de diferentes níveis de tensão: 35 E1.1 E1.2 E2.1 E2.2 E2.3 1 2 3 4 E3.1 E3.2 1 2 3 Figura 1.23 Modos de ligação de redes de diferentes niveis de tensão. Quanto ao modo de alimentação das redes existem as seguintes possibilidades: 1. Alimentação em ponto (figura 1.24a) 2. Alimentação em anel (figura 1.24b) 3. Alimentação por cadeia de transformadores (fig. 1.24c) 36 a) c)b) Figura 1. 24 Modos de alimentação de redes eléctricas. Resumindo o que foi exposto, as redes eléctricas podem se caracterizar de acordo com: 2. Modo de alimentação; 1. Número e distribuição das fontes de alimentação; 3. Topologia (estrutura). A figura (1.25) mostra de uma forma resumida, alguns exemplos. a) b) Rede bialimentada Rede alimentada por uma fonte Figura 1.25 Exemplos tipicos de redes 37 1.7 Elementos Constitutivos das Redes, os seus Parâmetros e Regimes de Funcionamento Já foi referido que as fontes de alimentação de energia eléctrica frequentemente encontram-se a grandes distâncias dos pontos de consumo. Como consequência, as linhas de transmissão de energia eléctrica são longas e complexas. A figura 1.26 mostra um exemplo. A energia é produzida na central geradora (G) à tensão de 18 kV. Para diminuir as perdas na transmissão, a tensão é elevada para 500 kV através do transformador TR1, sendo depois transportada para uma distância de 300 km. A bobina de reacção R destina-se a compensar o efeito capacitivo da linha. Na subestação, através do autotransformador abaixador AT1 a tensão de 500 kV é reduzida para 220kV, para ser transmitida a uma distância de 200 Km. Nas subestações seguintes, a tensão é sucessivamente transformada para 10 KV e finalmente 380 V, que é a tensão da maior parte dos conssumidores. Este esquema é uma ilustração simples de um sistema de transmissão de energia. Para aumento da segurança de alimantação ou melhoramento dos índices técnico-económicos de funcionamento da rede pode-se adicionar outras ligações. Como resultado obtem-se uma rede complexa em malha, com vários niveis de tensão, vários pontos de alimentação e consumo de energia ligados entre si por linhas, transformadores e auto-transformadores. 500 kV 18 kV G TR 1 R 300 km AT1 220 kV 200 km C.S. C.S. AT2 110 kV TR2 TR3 10 kV 3 km TR4 B.C. 0.4 kV 15 km 35 kV B.C. Figura 1.26 Exemplo de um sistema de transmissão de energia eléctrica complexo Em geral, os elementos das redes compreendem, linhas, subestações, geradores, transformadores, e consumidores incluindo equipamentos auxiliares. Por exemplo, uma linha aérea, que por si só constitui um dos elementos mais importantes da rede compreende 3 elementos principais, nomeadamente condutores, isoladores e suportes. As instalações de distribuição das subestaçõese centrais eléctricas compreendem aparelhos de corte e comutação, manobra e protecção. Nas redes também são 38 utilizados diferentes dispositivos de compensação: baterias de condensadores, compensadores síncronos e reactores e actualmente, diversos outros dispositivos de compensação estáticos (FACTS). Estes elementos aplicam-se para melhorar as características de funcionamento das redes. Na análise das redes eléctricas é necessário distinguir parâmetros dos elementos da rede dos parâmentros dos regimes de funcionamento. São parâmetros dos elementos das redes, a resistência, a admitância, relações de transformação dos transformadores, o coeficiente de auto indução, a reactância, a força electromotriz dos geradores. Por regime de funcionamento de uma rede infere-se o seu estado eléctrico o qual determina os parametros de regime nomeadamente a potência activa e reactiva nos elementos do sistema, tensões e correntes em diferentes pontos da rede, frequência da rede. Na prática, o estado da rede está em permanente mutação. Isto explica-se pela ligação ou desligação aleatórias e quase permanente dos consumidores de energia, alternando assim o regime de trabalho da rede. Portanto, os valores das cargas variam constantemente. Em muitos casos a variação do regime de carga dos consumidores assume um carácter de probabilidade, isto é, não é possível conhecer antecipadamente os valores das cargas em todos os consumidores. Deste modo, o estado de uma rede eléctrica apenas pode ser conhecido com um certo grau de probabilidade. Normalmente, examinam-se alguns regimes de funcionamento típicos das redes. Por exemplo, pode-se visualizar o processo de modificação de cargas no tempo, através do gráfico de cargas (diagramas de carga). Podemos distinguir três tipos de regime de funcionamento de uma rede eléctrica: 1. Regime normal permanente - para o qual são projectadas as redes e são determinadas as suas características técnico-económicas; 2. Regime após avaria - que tem lugar após desligação por avaria de qualquer elemento ou série de elementos da rede. Neste regime verificam-se as piores combinações técnico-económicas de funcionamento; 3. Regime transitório - durante o qual a rede passa de um estado de funcionamento para outro. Qualquer regime consiste de diferentes processos. Por outro lado, os parâmetros de regime das redes dependem uns dos outros. Estas dependências são funções das características físicas dos elementos da rede e da forma da sua ligação. Por exemplo, a corrente num troço de uma linha de transmissão é dada por: Z UU I 21 (1.7.1) 39 Onde 1U , 2U e I são parâmetros de regime e Z , a impedância, é uma característica física do troço da linhas. O conjunto dos parâmetros da rede depende do carácter das mutações do regime. Deste modo, a rede eléctrica é um sistema não linear, por causa da não linearidade da relação entre alguns dos seus parâmetros. Por exemplo, força electromotriz do gerador varia sinusoidalmente com o angulo rotórico, a potência varia quadraticamente com a tensão e corrente, etc. No entanto, em muitos casos práticos é possível calcular os parâmetros da rede assumindo uma linearidade nas correlações entre os parâmetros de regime, isto é, um comportamento da rede linear em torno de um ponto de funcionamento. Durante o trabalho das redes, por vezes, deixa de haver simetria de tensões e correntes nas redes trifásicas. A causa desta assimetria está na ampla aplicação de consumidores monofásicos, cujas potências não param de crescer. Este facto deve ser cuidadosamente considerado na análise das redes eléctricas. 40 1.8 Características Gerais de Funcionamento das Redes de Distribuição 1.8.1 Redes Urbanas As redes urbanas servem consumidores específicos como serviços públicos e empresas industriais existentes nas cidades. Uma característica particular das redes urbanas é a existência simultânea de consumidores de 1a categoria e 2a categoria . Nas cidades encontram-se consumidores que pelas suas funções não permitem interrupção no abastecimento de energia como hospitais, correios, estações de rádio, tracção eléctrica. No seu primeiro estágio, o desenvolvimento das redes urbanas confinou-se a iluminação de alguns edifícios públicos e tracção eléctrica. Para alimentação das necessidades das cidades construiram-se centrais especiais e, com o desenvolvimento dos sistemas eléctricos e crescente aplicação da electricidade no uso doméstico e industrial, as redes foram-se interligando a nível de regiões. Actualmente a maior parte das redes urbanas é alimentada a partir de redes regionais do sistema eléctrico. Nas grandes cidades hoje existem não só redes de distribuição de 6 a 20 KV, mas também de 35 a 220 KV. A figura (1.28) mostra um esquema de rede de distribuição de energia eléctrica para um bairro de uma cidade. Neste caso são usados vários níveis de tensão, nomeadamente alta, média e baixa. 35 - 220 kV 10 kV 1 2 3 4 Figura 1.28- Exemplo de uma rede de distribuição urbana- bairro de uma cidade 41 Outra característica importante das redes urbanas são as elevadas densidades de carga. Esta situa-se, de acordo com as categorias de utilização, entre 3000 – 120 000 Kw/Km2 , enquanto nas redes rurais situa-se entre 0,5 e 4 Kw/Km2. É por causa desta elevada densidade que se transporta energia até os centros de consumo com tensões entre 35 e 220 kV, e se usam redes malhadas para uma maior continuidade de serviço. Em muitos centros urbanos observa-se um aumento permanente do consumo específico de energia eléctrica por habitante (per capita), devido a crescente utilização de electricidade na vida quotidiana e na industria. Espera-se, particularmente nas regiões com energia barata, que o fogão a carvão e a gás seja substituido pelo fogão eléctrico. Portanto, os projectos das redes deverão prever a possibilidade das redes acompanharem este permanente crescimento da demanada. Uma característica também importante das redes urbanas são as pontas de carga no diagrama de cargas diário, que resultam da sobreposição dos diagramas de instituições públicas, industriais e domésticas. Em muitos paises, incluindo Moçambique, aplicam-se tarifas por escalões de utilização consoante a hora do dia, sendo mais altas de dia que de noite para encorajar o aplainamento do diagrama de carga.Outro aspecto importante é o factor de potência, que actualmente nas redes urbanas para grandes cargas está entre 0,83 e 0,95 e para pequenas cargas varia entre 0,6 e 0,8. Preve-se para o futuro uma diminuição deses valores nas redes de 6 a 20 Kv. 1.8.2 Redes Industriais As redes industriais têm por objectivo o fornecimento de energia eléctrica às empresas, fábricas e outras instalações industriais. Elas consomem grande parte da energia eléctrica produzida nas centrais. São exemplos de consumidores industriais os motores, fornos eléctricos, instalações de iluminação, etc. O desenvolvimento das instalações eléctricas industriais é consequência do desenvolvimento de accionamentos eléctricos para vários mecanismos. O sistema eléctrico das empresas é constituido por instalações de transmissão, distribuição e utilização de energia. As vezes, as centrais eléctricas são construídas próximo dos utilizadores. Empresas com cargas inferiores a capacidade de transmissão duma rede, são alimentadas em grupos. Grandes empresas, que garantem a utilização completa da capacidade de transmissão, são alimentadas separadamente por linhas individuais. O sistema
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