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O Fim da Babel Contábil nas Empresas

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O FIM DA BABEL CONTÁBIL NA EMPRESAS 
Nesta primeira década do Século XXI, a contabilidade das empresas brasileiras passou por 
mudanças significativas, o que gerou inúmeras dúvidas não só entre os contadores e técnicos em 
contabilidade, mas também entre demais os usuários da informação contábil, em especial os 
pequenos investidores, os quais, na maioria dos casos, não possuem o conhecimento necessário para 
prever os impactos tributários, fiscais, econômicos e financeiros que essas alterações irão gerar nos 
Balanços Patrimoniais e nas demais demonstrações contábeis. 
A lei nº 11.638/07 e o seu recente “epílogo”, a lei nº 11.941/09, modificaram uma parte 
significativa da estrutura normativa que rege a contabilidade brasileira, no entanto, a redação legal 
vaga e, por muitas vezes, tecnicamente equivocada, fez com que fosse necessária em vários 
momentos a intervenção de órgãos regulamentadores como o Conselho Federal de Contabilidade 
(CFC) e o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) que, através de resoluções e 
pronunciamentos, buscaram (e, diga-se de passagem, ainda buscam) “tapar os buracos” deixados 
pelos legisladores. 
O presente artigo não tem por objetivo enumerar as alterações trazidas pelo novo padrão 
contábil, o que o tornaria extremamente técnico e de confuso entendimento aos leitores que não 
fossem graduados em ciências contábeis. Visa, pois, apresentar ao público em geral quais foram os 
impactos, tanto positivos quanto negativos, deste novo conjunto de regras que, desde o início do ano 
passado, vem alterando a estrutura das demonstrações contábeis elaboradas pelas empresas 
brasileiras. 
A Contabilidade, como linguagem dos negócios, é responsável por, através de signos e 
métodos próprios, traduzir a situação patrimonial e econômico-financeira das entidades aos seus 
usuários, os quais podem ser internos ou externos. 
Os relatórios e as demonstrações contábeis são, ou pelo menos deveriam ser, a principal 
fonte de informação dos stakeholders (conceito que engloba os empregados, acionistas, clientes, 
governo, bancos, investidores e quaisquer outros elementos que afetem e sejam afetados por uma 
empresa). Para os acionistas ou os investidores, por exemplo, a Contabilidade irá gerar, dentre 
outras informações, índices referentes à rentabilidade e liquidez, aspectos de fundamental 
importância para avaliação da viabilidade de um investimento, assim como o Fisco e as entidades 
governamentais, por sua vez, utilizam as demonstrações contábeis para analisar aspectos como o 
lucro tributável, a produtividade e o valor agregado. 
É, deste modo, importante que as práticas contábeis sejam voltadas para que se alcance o 
máximo de fidegnidade possível, evitando o subjetivismo e, conseqüentemente, a obscuridade. 
A “nova contabilidade” brasileira 
Segundo a maior parte dos pesquisadores e profissionais da área, a contabilidade em todas 
as empresas brasileiras, independentemente do tipo societário, deve seguir os padrões estabelecidos 
pela lei 6.404/76, a lei das sociedades por ações (linha de pensamento que é claramente defendida 
pelo Conselho Federal de Contabilidade, mas que ainda deixa enormes dúvidas quanto à sua 
legalidade, uma vez que vários ilustres autores apresentam fortes argumentos que defendem a 
aplicabilidade dos padrões contábeis estabelecidos pelo referido instrumento legal somente às S/A, 
sendo prerrogativa das outras formas de sociedade obedecer apenas às determinações para 
escrituração presentes no Código Civil). 
Assim, ao buscar padronizar a Contabilidade brasileira com as normas instituídas pelo 
Internacional Accounting Standards Board (IASB), entidade privada sediada em Londres que 
tomou para si a missão de instituir as Internacional Financial Reporting Standards (IFRS), ou, 
como são conhecidas no Brasil, as Normas Internacionais de Contabilidade (NIC), foi aprovada, em 
28 de dezembro de 2007, a lei 11.638, a qual alterou consideravelmente a redação dos artigos da lei 
6.404/76 referentes às práticas contábeis. 
Mesmo que sem detalhar minuciosamente os aspectos técnicos alterados pelo referido 
instrumento legal, por não ser esse o objetivo deste trabalho, pode-se destacar alguns pontos 
positivos trazidos pelos novos padrões contábeis das S/A, tais como: a própria harmonização das 
práticas contábeis brasileiras com os padrões internacionais, o que, segundo o Comitê de 
Pronunciamento Contábil (CPC) reduz custos nos investimentos estrangeiros, facilita a 
comunicação global com uma linguagem contábil mais homogênea e reduz os custos do capital; e a 
criação da figura das Sociedades de Grande Porte, representada pelas sociedades que tiverem, no 
exercício social anterior ao fechamento do Balanço Patrimonial, Ativo total superior a R$ 
240.000.000,00 (duzentos e quarenta milhões de reais) ou Receita bruta anual superior a R$ 
300.000.000,00 (trezentos milhões de reais). 
A partir da entrada em vigor da lei 11.638/07, estas sociedades tidas como de grande porte 
passaram a ser obrigadas a auditar suas demonstrações contábeis, obrigatoriedade que antes era 
exclusiva das Sociedades Anônimas de capital aberto. Com isso, o Fisco e a própria sociedade 
passam a ter uma maior segurança quanto à veracidade das informações prestadas por essas 
entidades. 
Várias empresas de grande porte se instalavam no Brasil sob o “disfarce” de Sociedades 
Limitadas apenas para usufruir dos privilégios concedidos a este tipo de pessoa jurídica pela 
legislação societária. A partir da referida lei, no entanto, estas entidades passam a receber, no que se 
refere à elaboração e divulgação de suas demonstrações contábeis, tratamento semelhante às 
Sociedades Anônimas. 
Outro ponto de avanço deste novo instrumento legal foi a “substituição” da Demonstração 
das Origens e Aplicações de Recurso (DOAR) pela Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC). 
Embora possuíssem estruturas similares, a DFC é considerada de entendimento muito mais fácil 
para os usuários sem uma maior grau de conhecimento contábil. Por esse mesmo motivo, ainda 
antes da lei 11.638/07 entrar em vigor, muitas empresas já publicavam a DFC concomitantemente 
com a DOAR. 
A elaboração da Demonstração do Valor Adicionado (DVA) também passou a ser exigida 
para as Sociedades Anônimas de capital aberto. Este demonstrativo, muito popular nos países da 
Europa Ocidental, evidencia o total da riqueza produzida pela companhia, assim como a sua 
distribuição entre os agentes que contribuíram para a sua geração, tais como financiadores, 
empregados, acionistas, governo, dentre outros. 
Em 3 de dezembro de 2008, foi adotada a Medida Provisória 449, a qual foi considerada 
por alguns estudiosos como o “epílogo” da lei 11.638/07, uma vez que, dentre outros assuntos, 
trazia novas alterações no parâmetro contábil brasileiro, aproximando-o ainda mais dos padrões 
internacionais. Em 27 de maio de 2009, a referido instrumento legal foi convertido na lei 11.941. 
Impactos tributários 
Em um primeiro momento, houveram grandes questionamentos quanto ao impacto que 
alterações tão significativas no padrão contábil das empresas trariam na tributação destas entidades, 
especialmente se tributadas pelo regime de apuração do Imposto de Renda (IR) e Contribuição 
Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) com base no Lucro Real. 
Evidentemente,a adoção de novos padrões poderia causar um impacto significativo no 
resultado do exercício, o que, conseqüentemente, afetaria também o valor do IR e da CSLL das 
empresas tributadas pelo lucro real. Assim, visando minimizar, ou até mesmo anular, os impactos 
fiscais gerados pela adoção dos novos critérios contábeis instituídos a partir da lei 11.638/07 e de 
outras normas posteriores, o Governo instituiu, por meio da MP 449/08, hoje convertida na lei 
11.941/09, o chamado Regime Tributário de Transação (RTT), uma vez que as mudanças nos 
padrões contábeis não foram acompanhadasdas alterações pertinentes na legislação tributária. 
Deste modo, em seu artigo 17, a lei 11.941 garante, até a elaboração de instrumento legal 
específico para regulamentar seus aspectos tributários, a “neutralidade” na adoção das novas 
normas contábeis ao determinar que não tenham efeitos para fins de apuração do lucro real 
quaisquer alterações instituídas pela lei 11.638 e pelos artigos 37 e 38 da própria lei 11.941 que 
modifiquem o critério de reconhecimento de receitas, custos e despesas computadas na apuração do 
resultado líquido do exercício. Assim, os critérios contábeis a serem utilizados para que se apure a 
base de cálculo sobre a qual incidirá o imposto deverão ser aqueles em vigor até 31 de dezembro de 
2007. 
Com isso, espera-se que extinguir o impacto da adoção do novo padrão contábil sobre o 
planejamento tributário da empresas brasileiras. 
Críticas aos novos padrões contábeis 
No entanto, como tudo na vida possui seu lado negativo, nem tudo são flores nas novas 
práticas contábeis das empresas brasileiras. Críticas severas têm sido feitas quanto à eficácia do 
escopo de todas essas alterações, as normas internacionais instituídas pelo IASB. Enquanto, por um 
lado, a convergência com os padrões internacionais são favoráveis por permitir, como foi 
comentado anteriormente, uma maior visibilidade das empresas brasileiras a nível global, por outro, 
vários estudiosos defendem a superioridade, em alguns aspectos, da contabilidade genuinamente 
brasileira (anterior à lei 11.638) em relação ao atual “plagio normativo”, onde boa parte dos 
regulamentos editados no Brasil são cópias quase que literais daqueles instituídos pelo IASB. 
Apenas para fins ilustrativos, pode-se citar como exemplo o Ativo Diferido, grupo de 
contas que figurava no Balanço Patrimonial das empresas brasileiras como meio de obedecer ao 
Princípio Contábil da Competência, de forma que gastos com potencial de geração de receitas 
futuras por mais de um exercício social eram ativados e, gradativamente, reconhecidos como 
despesa. Como este grupo não existia nas normas internacionais, com a entrada em vigor da lei 
11.941/09, o mesmo deixou de constar no plano de contas das empresas brasileiras obrigadas a 
adotar os padrões estabelecidos pela lei das sociedades por ações. Deste modo, os gastos desta 
natureza deverão ser ativados no grupo Ativo Intangível ou, dependendo do caso, contabilizados 
diretamente como despesa, o que contraria o supracitado princípio contábil. 
A proibição da figuração da conta Lucros Acumulados no Balanço Patrimonial foi outro 
aspecto polêmico do novo padrão contábil brasileiro. Os lucros acumulados representavam a parte 
do resultado sob a qual os sócios, acionistas ou diretores optavam por não dar destinação, ou seja, 
não distribuir em forma de dividendos e não converter em reserva. Com a entrada em vigor da lei 
11.638, ficou vetada a apresentação desta conta no Balanço Patrimonial, ou seja, até o fim do 
exercício social, data em que se encerra a elaboração das demonstrações contábeis, a totalidade dos 
lucros deverá ser destinada. 
A extinção dos chamados lucros acumulados instituiu-se como forma de garantir aos 
acionistas, em especial os minoritários, a não retenção deliberada dos resultados, o que, 
conseqüentemente, causaria uma redução na distribuição de dividendos. Ainda antes da lei 
11.638/07, os legisladores já se demonstravam preocupados com o excesso de lucros retidos, como 
se pode notar em outras instrumentos legais, tal qual a lei nº 10.303/01. 
A principal polêmica da questão, no entanto, referia-se à necessidade da omissão deste 
instrumento contábil nas empresas constituídas sob a forma de sociedade limitada, já que, presume-
se, em uma entidade deste tipo existe uma maior proximidade entre os sócios, podendo os mesmos 
optar facilmente, em comum acordo, por não destinar os lucros. Hoje, apesar de, como já foi 
comentado anteriormente, grande parte dos profissionais de contabilidade acreditarem que o padrão 
utilizado nas Sociedades Anônimas deve ser utilizado por todos os tipos societários (ao contrário do 
que defende este autor que vos escreve), já está pacificado que a proibição da figuração da conta 
lucros acumulados se estende apenas às S/A. O próprio Conselho Federal de Contabilidade, através 
da resolução CFC nº 1.157/09, ratifica esse entendimento. 
No entanto, a maior controvérsia em relação ao novo padrão contábil diz respeito à sua 
própria origem: as Normas Internacionais de Contabilidade (NIC). Grandes estudiosos e 
pesquisadores da ciência contábil em todo o mundo vêm tecendo críticas assustadoramente bem 
fundamentadas acerca não só da eficiência, mas também dos interesses por trás da edição destes 
instrumentos normativos. 
Segundo o emérito membro do Accounting Hall of Fame, o Prof. Stephen A. Zeff, o qual é 
citado em trabalho do ilustríssimo Prof. Dr. Antônio Lopes de Sá, as normas editadas pelo IASB 
estavam sendo adaptadas para atender interesses particulares de especuladores privados, criando 
algo que poderia se chamar de Balanços legalmente maquiados. 
Autores de outras partes do mundo também manifestaram posicionamentos adversos às 
NIC em seus trabalhos, como é o caso de Jorge Tua Pereda, da Universidade Autônoma de Madri 
(já na década de 1960) e dos jornalistas da Alemanha Harald Schumann e Hans-Peter Martin. 
Para diversos outros estudiosos como estes, a demasiada subjetividade concedida pelas 
Normas Internacionais de Contabilidade pode tornar mais fácil iludir o mercado com informações 
inverídicas. Algo que, segundo defendem, pode ter colaborado até mesmo para o agravamento da 
atual crise econômica mundial. 
Independentemente da veracidade das acusações, há de se convir que é no mínimo 
preocupante o Brasil passar a adotar quase que cegamente, como vem fazendo, normas editadas por 
uma entidade cuja credibilidade encontra-se tão abalada como é o caso do IASB. 
O que o futuro reserva? 
Como pode ser observado, o novo padrão contábil brasileiro apresenta vantagens e 
desvantagens, cabendo a todos que atuam no mundo dos negócios (e não somente aos contabilistas) 
não poupar esforços em tentar absorver o máximo de informações possíveis sobre ao assunto, 
preparando-se para novas mudanças que certamente virão, já que , com todos os seus erros e 
acertos, o esforço de convergência da Contabilidade brasileira com a internacional deve continuar 
nos próximos anos. 
Embora a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tenha declarado que o processo de 
mudança estará finalizado em 2010, ainda existem demasiados pontos obscuros e carentes de 
regulamentação, o que, provavelmente, fará com que haja um atraso de pelo menos alguns anos até 
que os padrões contábeis brasileiros consigam ser plenamente adequados de maneira satisfatória. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. 
_______. Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007. 
_______. Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007. 
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução nº 1.157 de 13 de fevereiro de 2009. 
CAVALCANTE, Renata Norberto. Principais aspectos da padronização e harmonização das normas 
contábeis internacionais. Disponível em http://www.classecontabil.com.br. Acesso em 20 jul 
2009. 
FIPECAFI, Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras. Manual de 
contabilidade das sociedades por ações: aplicável também às demais sociedades. 5. ed. São Paulo: 
Atlas, 2000. 
SÁ, Antônio Lopes de. Falseamento informativo contábil e porta aberta pelas leis. Disponível em 
http://jusvi.com/artigos/41027. Acesso em 21 jul 2009. 
SCHMIDT, Paulo. Et al. Teoria da contabilidade: Introdutória, Intermediária e Avançada. 5 edição. 
São Paulo: Atlas, 2007 
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