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azevedolab.net © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Biofísica Modelos de membranas e potencial de membrana Prof. Dr. Walter F. de Azevedo Jr. A principal função da membrana celular é manter, de forma seletiva, moléculas tão diversas como proteínas e pequenos solutos no interior da célula. A membrana funciona de forma eficiente para regular seletivamente sua permeabilidade, ou seja, a facilidade com a qual moléculas e íons atravessam a membrana. A composição da membrana celular tem sido estudada de forma intensa, a partir do uso de diversas técnicas e métodos físicos, discutiremos a seguir os principais modelos da membrana celular. No livro clássico de Oparin, “A Origem da Vida”, esse propôs que para qualquer forma de vida faz-se necessária uma barreira física, que separe a parte viva do meio que a cerca. Esse trabalho destaca a necessidade de uma membrana para isolar, até mesmo as formas de vida mais simples, do meio exterior. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Modelos de membrana celular Modelos de membrana celular O modelo de bicamada lipídica para membrana celular foi proposto originalmente por Gorter & Grendel em 1925, o estudo de eritrócitos indicou que o conteúdo lipídico das membranas ocupava uma área duas vezes maior que a superfície da célula. Neste estudo os autores detalhavam a retirada dos lipídios das membranas dos eritrócitos, usando-se acetona como solvente. A solução contendo lipídio era colocada numa cuba com água. A área total ocupada pelo lipídio foi determinada usando-se uma barreira móvel inserida na cuba, tal barreira juntava toda superfície onde estava o lipídio, como mostrado no diagrama esquemático a seguir. A área total do filme de lipídio, sobre a superfície da água, era aproximadamente igual à duas vezes a área do eritrócito. Tal observação levou à hipótese da bicamada lipídica, com uma parte polar voltada para os meios intra e extra celular e a parte hidrofóbica voltada para o interior da membrana, escondida do solvente. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Água Monocamada lipídica Balança Superfície sem filme Flutuadores Cuba Cuba para experimentos com filmes de monocamada lipídica © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Modelos de membrana celular Modelo de Robertson (1957). Posteriormente Schmitt e colaboradores, a partir de estudos de polarização da luz, propuseram que eritrócitos apresentavam lipídios perpendiculares ao plano da membrana, como espera-se de uma bicamada (Schmitt et al., 1937, 1938). Outros cientistas propuseram a presença de proteínas nas membranas (Danielli & Davson, 1935), com a participação protéica estendendo-se até 60 % da membrana. Baseado nessas informações Robertson (1957, 1981) propôs que as proteínas estivessem distribuídas sobre a superfície da membrana. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Modelos de membrana celular O modelo de Robertson era coerente com a informação sobre a presença de proteínas nas membranas, bem como com a presença da bicamada lipídica, contudo falhava ao colocar proteínas globulares na superfície da membrana. A presença de uma camada de proteína na membrana formava uma blindagem na superfície da membrana, o que impossibilita a comunicação entre os meios intra e extra-celular. Referências: Proteína globular Bicamada lipídica Modelo de Robertson para membrana celular © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Modelos de membrana celular Proteína intrínseca, ou transmembrana Proteína extrínseca Experimentos mais detalhados mostraram deficiências nos diversos modelos de membrana. Em 1972 Singer e Nicolson propuseram um modelo de mosaico fluido, constituído de uma bicamada lipídica, onde encontram-se inseridas proteínas. Neste modelo temos dois tipos de proteínas, uma que atravessa toda a membrana, chamada proteína intrínseca, ou transmembrana. O segundo tipo de proteína localiza-se sobre a membrana, sendo encontrada tanto no exterior como voltada para o citoplasma. Esse segundo tipo de proteína é chamado extrínseca. Modelos de membrana celular O modelo de mosaico fluido indica duas proteína inseridas na bicamada lipídica (elipsóides cinzas). A proteína da esquerda é uma proteína extrínseca e a da direita uma proteína intrínseca. Os fosfolipídios são indicados com a cabeça polar em preto e a cauda hidrofófica pelas linhas que saem da esfera preta. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Referência Singer SJ, Nicolson GL. Science. 1972 ;175(23):720-31. Esse modelo prevê a passagem seletiva de íons pelas proteínas intrínsecas, que são chamadas de canais ou bombas como veremos no estudo do potencial de membrana. Outra característica desse modelo é liberdade de movimentação das proteínas na bicamada. De acordo com características básicas do modelo, mosaicismo e difusão, previu-se a liberdade lateral e rotatória, assim como a distribuição aleatória de componentes moleculares na membrana. Modelos de membrana celular Proteína intrínseca, ou transmembrana Proteína extrínseca © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Referência Singer SJ, Nicolson GL. Science. 1972 ;175(23):720-31. Composição lipídica da membrana CH2 CH CH2 O P O X O O-O C R1 O O C R2 O Biomembranas são baseadas principalmente em lipídios, com predominância de fosfolipídeos. A estrutura química geral de uma molécula de fosfolipídio é mostrada na ao lado (figura a). Essa molécula é basicamente um glicerol (figura b), sobre a qual foram atachadas as cadeias de ácidos graxos (R1 e R2), via ligações do tipo éster, ao fosfato pode- se ligar qualquer molécula, designada na figura a por X. a) b) HO CH2 C CH2 OH OH H Fosfolipídio Glicerol © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Composição lipídica da membrana Um dos ácidos graxos típicos, encontrados nos fosfolipídios, é chamado ácido palmítico. A molécula de ácido palmítico apresenta 16 carbonos e 31 hidrogênios (molécula da direita, sem indicação dos hidrogênios). Esse ácido graxo é dito saturado, pois apresenta o maior número de possível de hidrogênios. A presença de ligações duplas na cadeia de ácido graxo indica que o mesmo é não-saturado. As duas cadeias R1 e R2 não precisam ser homogêneas, ou seja, podem apresentar cadeias de tamanhos distintos. Nos fosfolipídios uma parte da molécula é polar, a cabeça hidrofílica, e a parte não-polar é composta pelas duas cadeias de ácidos graxos. O diagrama esquemático abaixo ilustra uma molécula de fosfolipídio. Moléculas que apresentam parte polar e parte hidrofóbica são chamadas anfipáticas. Na figura da direita temos a representação CPK do fosfolipídio. Cabeça polar Caudas hidrofóbicas © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Caudas hidrofóbicas Cabeça polar Simulação da membrana Referência: Heller, H., Schaefer, M. & Schulten, K. (1993). J. Phys. Chem. 97:8343-8360. Um grande número de modelos computacionais de membranas celulares foram construídos e submetidosà simulação de dinâmica molecular. Esses modelos usam diferentes componentes para a formação da bicamada, no exemplo ao lado foram usadas de moléculas de 1- palmitoil-2-oleoil-sn-glicerol-3- fosfatidilcolina, formando uma caixa retangular onde temos moléculas de água interagindo com a parte polar da bicamada. No modelo computacional ao lado vemos claramente que as caudas hidrofóbicas não interagem com moléculas de água. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. H id ro fí lic a H id ro fó b ic a H id ro fí lic a Interação com a membrana As estruturas de proteínas transmembranares indicaram que átomos da cadeia principal tinham que participar ligações de hidrogênio, protegendo-se do contato com as cadeias polares da membrana. Uma estrutura secundária, com características de proteger os átomos da cadeia principal de participarem de ligações de hidrogênio é a hélice alfa, mostrada ao lado. Peptídeo de 14 resíduos de aminoácidos, destacando as cadeias laterais na figura da esquerda, que estão expostas ao solvente, na direita um diagrama esquemático da hélice alfa do mesmo peptídeo. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Como exemplo de proteína transmembranar temos o complexo protéico, centro de reação fotossintético da bactéria púrpura R. viridis, que é o local da etapa inicial da captura de energia luminosa na fotossíntese. Esse complexo protéico é composto de quatro cadeias polipeptídicas, indicadas na figura ao lado, nas cores azul, vermelha, cinza e dourado. Há também quatorze cofatores de baixo peso molecular, indicados em amarelo. Entres os cofatores temos cromóforos, que absorvem a energia de excitação, que é convertida em potencial eletroquímico, através da membrana. Referência: Deisenhofer, J. & Michel, H. (1989) EMBO J. 8:2149-2170. Interação com a membrana © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Na presente visão a molécula está deslocada aproximadamente 90o em relação à anterior, considerando-se o eixo vertical paralelo à tela. Ambas vistas mostram a estrutura com todos os átomos das proteínas, como esferas. São excluídas desta representação os átomos de hidrogênio. Esse complexo protéico foi a primeira proteína de membrana a ter sua estrutura 3D elucidada, usando-se técnicas de cristalografia em 1989 (Deisenhofer e Michel, 1989), fato esse que foi laureado com o prêmio Nobel. Esse complexo protéico apresenta dimensões aproximadas de 72 Å x 72 Å x 132 Å, sendo 1 Å = 10-10 m. Referência: Deisenhofer, J. & Michel, H. (1989) EMBO J. 8:2149-2170. 132 Å 72 Å Interação com a membrana © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Nessa representação os resíduos de aminoácidos hidrofóbicos estão em cinza, os polares em verde, os ácidos em vermelho e os básicos em azul. Átomos pertencentes aos co-fatores estão em ciano. Vemos claramente uma heterogeneidade na distribuição de cargas na superfície das proteínas. No centro temos uma região hidrofóbica, e nas partes superior e inferior uma concentração de resíduos de aminoácido carregados e polares. Referência: Deisenhofer, J. & Michel, H. (1989) EMBO J. 8:2149-2170. 132 Å 72 Å Interação com a membrana © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. H id ro fí lic a H id ro fó b ic a H id ro fí lic a A cadeia azul é a proteína chamada citocromo, as cadeias vermelha e cinza são chamadas subunidades L (Light) e M (Medium), respectivamente e a cadeia dourada é chamada cadeia H (Heavy). Interação com a membrana © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. A representação à esquerda indica os elementos de estrutura secundária, notadamente: hélices, fitas beta e regiões de coil. As cadeias L e M apresentam preponderantemente hélices, enquanto o citocromo e a cadeia H apresentam outros elementos de estrutura secundária. Observação: As coordenadas atômicas usadas para representar a estrutura do centro de reação fotossintético estão depositadas no banco de dados de estruturas PDB (Protein Data Bank) com código de acesso: 1PRC. O endereço do PDB é www.rcsb.org/pdb . Interação com a membrana © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Hélice alfa é estrutura secundária comumente encontrada em segmentos transmembranares de proteínas de membranas, constituindo-se na grande maioria de proteínas encontradas na membrana plasmática e nas membranas internas das organelas celulares. Normalmente temos a combinação de vários segmentos de hélice, formando feixes de hélices transmembranares, como na estrutura da cadeia M da estrutura do centro de reação fotossintético mostrada ao lado. Cadeias L e M do centro de reação fotossintético. Código PDN: 1PRC © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Interação com a membrana Citoplasma Interação das cadeias L e M do centro de reação fotossintético com a bicamada lipídica. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Interação com a membrana A partir da análise da estrutura do centro de reação fotossintético podemos propor um modelo para interação da proteína com a membrana. Neste modelo temos que a parte hidrofóbica, formada por hélices alfa, interage com a membrana. Meio extracelular Nas estruturas de feixes de hélices alfa transmembranares verifica-se que o lado da hélice, que toca os lipídios, é relativamente mais apolar que o lado que participa do contato hélice-hélice, e uma hélice isolada transmembranar é mais homogeneamente apolar. No diagrama esquemático ao lado temos um feixe de 4 hélices alfa, onde vemos que a região entre as hélices é mais hidrofílica que a região em contato com a bicamada lipídica. Hélice transmembranar Feixe de 4 hélices transmembranares Superfície mais hidrofóbica Superfície mais hidrofílica © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Interação com a membrana Outra estrutura possível, para proteínas transmembranares é a folha beta. Um arranjo onde a folha beta fecha-se sobre si forma um arranjo similar a um barril, sendo denominado barril beta. A estrutura em barril proporciona as características fisico-químicas desejáveis para um proteína transmembranar, tal como blindagem dos átomos da cadeia principal que participam de ligações de hidrogênio. A figura ao lado mostra a estrutura de uma porina. Barril beta da porina de Rhodopseudomonas blastica. Código de acesso PDB: 8PRN Interação com a membrana © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Citoplasma Interação do barril beta da porina de Rhodopseudomonas blastica com a bicamada lipídica. Porina Interação com a membrana © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r.Meio extracelular Toxinas da vespa solitária Anterhynchium flavormarginatum micado. Essa vesta injeta seu veneno em lagartas e deposita seus ovos próximos à vítima. Devido à ação tóxica de seu veneno a lagarta fica paralisada, mas viva. Ao eclodirem, as jovens vespas terão um banquete fresco e vivo. Tal comportamento, indicou que o veneno da A. flavormarginatum micado, poderia ser uma rica fonte de moléculas com atividades antimicrobianas. Podemos imaginar o veneno dessas vespas como um coquetel de moléculas. A questão é: qual ou quais moléculas apresentam as atividades biológicas de interesse? Foto: Cortesia do Dr. K. Konno. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Interação com a membrana Mastoparanos. Essas moléculas são peptídeos isolados em vespas e abelhas, muitos deles apresentam atividade biológicas, tais como, degranulação de mastócitos, atividades antimicrobiana e hemolítica. Essas moléculas atuam principalmente na membrana, provavelmente rompendo a integridade da bicamada lipídica. O mastoparano, identificado no veneno da A. flavormarginatum micado (EMP-AF), apresenta atividade hemolítica e de degranulação de mastócitos (Sforça et al., 2004). Referência: Sforça, M. L., Oyama, S. Jr., Canduri, F., Lorenzi, C. C., Pertinhez, T. A., Konno, K., Souza, B. M., Palma, M. S., Ruggiero Neto, J., Azevedo, W. F. Jr., Spisni, A. (2004). Biochemistry 43:5608-5617. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Foto: Cortesia do Dr. K. Konno. Interação com a membrana Abaixo temos as estruturas primárias (sequência de resíduos de aminoácido) de um mastoparano típico e do EMP-AF, os resíduos Asn, Lys e Ser são polares. Ambos peptídeos apresentam 14 resíduos de aminoácido. Uma das características desses peptídeos que é eles apresentam o C-terminal amidado, como pode ser visto no final da estrutura primária. A numeração acima da sequência indica o número do resíduo de aminoácido. As sequências são indicadas com o código de três letras, com o código de uma letra entre parênteses abaixo do código de três letras. Referência: Sforça, M. L., Oyama, S. Jr., Canduri, F., Lorenzi, C. C., Pertinhez, T. A., Konno, K., Souza, B. M., Palma, M. S., Ruggiero Neto, J., Azevedo, W. F. Jr., Spisni, A. (2004). Biochemistry 43:5608-5617. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r.Mastoparano típico EMP-AF Interação com a membrana Abaixo temos as estruturas secundárias de um mastoparano típico e do EMP-AF, os resíduos de asparagina Asn (N) e serina Ser (S) são indicados em rosa. Os resíduos de lisina Lys (K) indicados em vermelho. Os peptídeos apresentam estrutura em hélice alfa, com o resíduos polares de um lado da hélice e resíduos apolares do lado oposto, o que dá um caráter anfipático ao peptídeo. Referência: Sforça, M. L., Oyama, S. Jr., Canduri, F., Lorenzi, C. C., Pertinhez, T. A., Konno, K., Souza, B. M., Palma, M. S., Ruggiero Neto, J., Azevedo, W. F. Jr., Spisni, A. (2004). Biochemistry 43:5608-5617. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Mastoparano típico EMP-AF Interação com a membrana Toxinas da vespa solitária Anoplius samariensis. Essa vesta injeta seu veneno em aranhas e deposita seus ovos próximos à vítima, da mesma forma que a A. flavormarginatum micado. A ação tóxica de seu veneno paralisa a aranha, que será comida viva pelas vespas ao eclodirem. Referência: Konno, K., Hisada, M., Fontana, R., Lorenzi, C. C., Naoki, H., Itagaki, Y., Miwa, A., Kawai, N., Nakata, Y., Yasuhara, T., Ruggiero Neto, J., de Azevedo, W. F. Jr., Palma, M. S., Nakajima, T. (2001). Bioch. Biophys. Acta. 1550:70-80. Foto: Cortesia do Dr. K. Konno. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Interação com a membrana Anoplin. O veneno da A. samariensis é uma possível fonte de moléculas com atividades biológicas. O peptídeo Anoplin, uma decapeptídeo com o C- terminal amidado e sequência, GLLKRIKTLL, foi identificado no veneno da A. samariensis. Testes de atividade biológica mostraram ação antimicrobiana desse peptídeo, sendo o menor peptídeo que se tem notícia a apresentar tal ação. A versão sem o C-terminal não-amidado apresenta atividade antimicrombiana reduzida, quando comparada com o Anoplin- NH2. Foto: Cortesia do Dr. K. Konno. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Interação com a membrana A membrana celula apresenta uma bicamada lipídica de aproximadamente 60 Å de extensão, o que possibilita que proteínas como os canais iônicos atravessem a membrana, contudo peptídeos pequenos, como os mastoparanos e o anoplin, possuem comprimento de 21 e 15 Å, respectivamente, não permitindo que esses peptídeos atravessem a membrana celular. Resta a questão sobre a forma de ação desses peptídeos, visto que evidências experimentais indicam que os mesmos atuem na membrana, desestabilizando-a. Uma possível forma de ação desses peptídeos, é por meio do desmonte da camada externa da membrana, o que levaria à sua desestruturação e consequente quebra da membrana celular. Interação com a membrana © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. ~ 6 0 Å O anoplin apresenta um comprimento por volta de 15 Å e o mastoparano por volta de 21 Å, ambos são mostrados abaixo e apresentam dimensões menores que a espessura da membrana celular, contudo são capazes de rompê-la. Mastoparano EMP-AF Anoplin 1 5 Å 2 1 Å Interação com a membrana © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Interação com a membrana A interação do peptídeo com a membrana é um fenômeno complexo, que não é possível acessarmos diretamente por técnicas experimentais. Contudo, baseado nas estruturas tridimensionais dos peptídeos e da membrana, foi possível propor diversos modelos para interação do peptídeo mastoparano com a membrana. Um dos modelos propõe que esta interação é um processo de diversas etapas (indicada abaixo e no esquema do slide seguinte). 1) Ancoragem do peptídeo na membrana celular; 2) Início da desestabilização da membrana celular; 3) Início da desmontagem da primeira camada lipídica; 4) Início da desmontagem da segunda camada lipídica; 5) Desmontagem da bicamada lipídica; 6) Fluxo de substâncias para o interior e exterior da célula leva à morte da célula. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. ~ 6 0 Å~ 6 0 Å ~ 6 0 Å ~ 6 0 Å ~ 6 0 Å ~ 6 0 Å © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. 1) 2) 3) 4) 5) 6) Bomba de Na+/K+ A bomba de sódio e potássio é uma proteína intrínseca com atividade enzimática. Ela catalisa a clivagem de ATP (adenosina trifosfato). ATP é uma reserva de energia química para o metabolismo celular. O mecanismo de funcionamento da bomba de Na+/K+ pode ser descrito nas seguintes etapas. 1) A bomba de Na+/K+ , com ATP ligado, liga-se a 3 íons de Na+ intracelulares. 2) ATP é hidrolizado, causando a fosforilação de um resíduo de Asp, da bomba de Na+/K+ com a liberação de ADP. 3) A mudança conformacional, da bomba de Na+/K+ , expõe os íons de Na+, que por apresentarem baixa afinidade pela bomba de Na+/K+, são liberados para o meio extracelular. 4) A bomba de Na+/K+ liga-se a 2 íons de K+ extracelualres, isto causa a desfosforilação da bomba, trazendo-a de volta à sua conformação anterior, transportando K+ para dentro da célula. 5) A forma desfosforilada da bomba de Na+/K+ apresenta afinidade mais alta por íons de Na+, os íons de K+ são liberados, a molécula de ATP liga-se à bomba. 6) O sistema está pronto para um novo ciclo. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Bomba de Na+/K+ ATP PI ADP PI PI PI ATP ATP Na+ Na+ K+ 1 2 3 45 6 © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Canais de K+ são os canais usualmente abertos na membrana plasmática de neurônios em repouso. Assim há saída de íons K+, o que deixa um excesso de carga negativa no interior da célula, e como resultado um potencial negativo. Bomba de Na+/K+ Aproximadamente um terço de todo ATP da célula é usado para o funcionamento da bomba de Na+/K+, o que indica a importância para o metabolismo celular da bomba de Na+/K+. Em 2007 foi elucidada a estrutura tridimensional da Na+/K+, mostrada na figura ao lado (Morth et al., 2007). A análise da estrutura indicou uma divisão clara de regiões hidrofóbicas e hidrofílicas, que sugerem a inserção na Na+/K+ na membrana conforme o modelo mostrado no próximo slide. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Referência: Morth JP, Pedersen BP, Toustrup-Jensen MS, Sørensen TL, Petersen J, Andersen JP, Vilsen B, Nissen P. Nature. 2007;450(7172):1043-9. Bomba de Na+/K+ © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Meio extracelular Citoplasma Referência: Morth JP, Pedersen BP, Toustrup-Jensen MS, Sørensen TL, Petersen J, Andersen JP, Vilsen B, Nissen P. Nature. 2007;450(7172):1043-9. A membrana pode ser aproximada em situação de repouso (sem estímulos externos) a um circuito RC. Vamos rever alguns conceitos simples de eletricidade para modelarmos a membrana. Colocando-se eletrodos dentro e fora de um neurônio temos uma diferença de potencial (ddp) de – 70 mV, ou seja, há um potencial negativo de 70 mV no interior do neurônio em relação ao meio extracelular. O instrumento usado para medir a diferença de potencial é o voltímetro, sua colocação está representada do diagrama esquemático abaixo. V Voltímetro +- I V Eletrodos Neurônio © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Potencial de membrana Corrente elétrica (I): É o movimento de cargas elétricas em meios condutores, é medida em Ampères (A), o que equivale a 1 Coulomb/segundo, uma unidade relativamente grande para os propósitos da biofísica, assim normalmente trabalha-se com submúltiplos desta unidade física, tais como, miliampère (mA, 10-3 A), microampère (A, 10-6), nanoampère (nA, 10-9) e picoampère (pA, 10-12 A). As cargas para os fenômenos elétricos na membrana celular são íons, tais como, Na+,K+, Ca++ e Cl-. A Amperímetro +- I © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Potencial de membrana +++++++++++++++++++++++++ -------------------------------------------- -------------------------------------------- +++++++++++++++++++++++++ Neurônio Axônio Amplificador OscilóscopioEletrodos -70mV Dois eletrodos, inseridos no axônio de um neurônio em repouso, detectam a pequena diferença de potencial, entre os meios extra e intracelular, esse sinal é amplificado e mostrado num osciloscópio. Meio extracelular Meio intracelular © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Potencial de membrana R - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ++++++++++++++++++++++++ Circuito RC Modelo de membrana celular +++++ - - - - - Do ponto de vista elétrico, podemos fazer a analogia da membrana celular com um circuito RC (Resistivo-Capacitivo). O C indica a capacitância, e R a resistência elétrica. Capacitância é a quantidade de carga elétrica (Q) acumulada, dividida pela tensão aplicada. Quanto maior a carga elétrica acumulada (Q), para uma dada tensão (V), maior a capacitância (C). A capacitância é medida em Farads (1 F = 1 C/V). Devido à diferença de potencial nas placas há uma corrente elétrica (I) presente no circuito. Na figura do lado direito vemos o modelo da membrana com a distribuição de cargas elétricas, similar à distribuição de cargas num capacitor. V I Q © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Potencial de membrana A equação abaixo expressa a capacitância (C) em função da tensão aplicada às placas do capacitor (V) e a carga elétrica acumulada em um dado instante (t). A modelagem da membrana celular como um capacitor é suficiente para explicar o surgimento da tensão, bem como a resposta a estímulos elétrico da célula (próximos à situação de repouso). Estímulos elétricos na membrana, abaixo de um valor limiar, levam a membrana a responder de forma análoga ao capacitor. Inicialmente numa situação de carga e posteriormente num sistema em descarga. A carga elétrica (Q) nesta situação fica dependente do tempo, bem como a tensão. C Q V V Q C © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. R +++++ - - - - - V I Q Circuito RC Potencial de membrana Potencial de membrana O resultado líquido da ação conjunta da bomba de Na+/K+ e do canal de K+ é uma diferença de potencial entre o meio extra e intra-celular, com uma tensão característica. Tal tensão é da ordem de algumas dezenas de milivolts negativos. A ação contínua da bomba de Na+/K+ leva a um acúmulo de íons de Na+, no meio extra-celular, e um acúmulo de íons de K+ no meio intra-celular. Tal situação ocorre com o gasto de energia, obtida da molécula de ATP. Concomitante à ação da bomba de Na+/K+ há um canal de K+, que fica aberto, permitindo a saída do excesso de íons de K+. O resultado é uma tensão negativa do meio intra-celular com relação ao meio extra-celular. Tal tensão é chamada de potencial de repouso, pois não é necessário a aplicação de estímulo na célula para que ocorra. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Amplificador -70mV Potencial de repouso Considere uma cuba com água onde foram dissolvidos um íon, indicado pelo círculo vermelho. No instante inicialtemos uma alta concentração iônica do lado esquerdo [Íon]esquerdo , e do lado direito uma baixa concentração [Íon]direito . As duas metades da cuba são separadas por uma membrana semipermeável. Temos duas forças principais atuando no sistema, a força difusional (FD) e uma força elétrica (FE). Potencial de membrana direito esquerdo D Íon Íon RTF ln zeAVF rE Onde R é constante dos gases, T a temperatura absoluta, Vr a diferença de potencial, z a valência do íon, e a carga do elétron e A o número de Avogadro. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Depois de um certo tempo atingimos um equilíbrio entre as duas forças, assim temos: Potencial de membrana direito esquerdo r r direito esquerdo ED Íon Íon zeA RT V zeAV Íon Íon RT FF ln ln Onde R é constante dos gases, T a temperatura absoluta, Vr a diferença de potencial, z a valência do íon, e a carga do elétron e A o número de Avogadro. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Esta equação é chamada de equação de Nernst e determina a diferença de potencial (Vr) devido à diferença de concentração iônica presente num sistema separado por uma membrana semipermeável. Tal sistema é uma aproximação da membrana celular, onde teremos as concentrações extracelular ([Íon]extracelular ) e intracelular ([Íon]intracelular ) na equação, como segue: Potencial de membrana racelular arextracelul r Íon Íon zeA RT V int ln Onde R é constante dos gases, T a temperatura absoluta, Vr a diferença de potencial, z a valência do íon, e a carga do elétron e A o número de Avogadro. © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. [Íon]fora [Íon]dentro Diferença de potencial através da membrana Concentração do íon monovalente dentro da célula Concentração do íon monovalente fora da célula Constante universal dos gases Temperatura absoluta Valência do Íon Vr = RT ln ( ) zeA Carga elétrica do elétron Número de Avogadro © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Potencial de membrana [Íon]fora [Íon]dentro Vr = RT ln ( ) zeA Vr = 8,315 J/mol.K 293 K 1. 1,602.10-19C.6,022.1023 1/mol [Íon]fora [Íon]dentro ln ( ) Vr = 25 mV [Íon]fora [Íon]dentro ln ( ) Potencial de membrana © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Vr = (58 mV) log ( ) [Íon]fora [Íon]dentro Diferença de potencial através da membrana Concentração do íon monovalente dentro da célula Concentração do íon monovalente fora da célula © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Potencial de membrana Vr = (58 mV) log ( ) [K+]fora [K+]dentro Diferença de potencial através da membrana Concentração do íon potássio dentro da célula Concentração do íon potássio fora da célula Potencial de membrana © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. A equação de Nernst é uma idealização, que considera que a membrana celular é permeável a apenas um tipo de íon. Tal idealização leva à expressão simples da equação de Nernst, contudo, a sua aplicação, não consegue prever o valor final do potencial presente na membrana celular, levando-se em consideração a ação dos diversos íons presentes nas regiões intra e extra celular. Outra consideração sobre a forma simplificada da equação de Nernst, da forma apresentada ela é válida para íons monovalentes, para íons de outra valência é necessário dividir pela valência do íon (z), como mostrado na equação abaixo. Vr = (58 mV) log ( ) [Íon]fora [Íon]dentroz © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r. Potencial de membrana Introduzindo dois microeletrodos no neurônio, conforme o esquema na figura ao lado, temos o primeiro eletrodo injetando corrente elétrica e o segundo medindo a tensão. Inicialmente temos um potencial negativo, no interior da membrana (potencial de repouso), sem injeção de corrente pelo eletrodo 1. O eletrodo 1 estimula o axônio com um pulso de corrente de 1 nA e duração de 1 ms. A subida da tensão é da ordem de mV, sem contudo ficar positiva, o neurônio retornará ao potencial de repouso. C o rr e n te n o e le tr o d o 1 T e n s ã o n o e le tr o d o 2 eletrodo 1 eletrodo 2 Potencial de membrana Tempo(ms) Tempo(ms) Potencial de repouso © 2 0 1 0 D r. W a lt e r F . d e A z e v e d o J r.0 C o rr e n te n o e le tr o d o 1 T e n s ã o n o e le tr o d o 2 eletrodo 1 eletrodo 2 Tempo(ms) Tempo(ms) Potencial de repouso Carga do capacitor Como foi destacado anteriormente, a membrana do neurônio tem um comportamento elétrico similar a um circuito resistivo-capacitivo (RC). Vejamos a figura ao lado, ao estimularmos a membrana, a mesma responde com uma subida suave da voltagem (gráfico inferior, seta vermelha), este comportamento é similar a um capacitor em situação de carga. Após algum tempo, a tensão cai suavemente (seta azul), num comportamento similar a um capacitor em descarga elétrica. Potencial de membrana Descarga do capacitor © 2 0 1 0 D r. 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