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Economia Institucional I Bibliografia: Costa (2010), cap. 2; Santos (2005), cap.1; Wray (2003), caps. 2 a 4.. Aulas 18 a 20: Macroeconomia Institucionalista: Moeda, Finanças Funcionais e Emprego. 1 Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 2 1. A abordagem cartalista da moeda • Visão tradicional da moeda: – Supõe que o valor do dinheiro em algum momento correspondia à quantidade de metal precioso que ele representa. – Com a moeda fiduciária, seu valor decorre da quantidade de mercadorias que permite comprar. – A política monetária consistiria essencialmente no controle da oferta de moeda. A política fiscal teria a ver com os gastos do governo e com a arrecadação. • Abordagem cartalista da moeda: – Supõe que o dinheiro (no mínimo, o moderno) é uma criação do Estado. – Nessa visão, dinheiro é aquilo que é aceito para o pagamento de impostos. – O governo não tem necessidade de dinheiro para gastar; as pessoas têm essa necessidade para pagar os tributos. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 3 2. A história tradicional da moeda • No começo era o escambo. • Para evitar o problema da dupla coincidência de desejos, descobre-se que algumas mercadorias são aceitas por todos, e portanto serão usadas preferencialmente para as trocas. • Logo, elas viram “meio de troca e medida de valor”. • Pouco a pouco, os metais preciosos ocupam esse lugar. • Um certo peso de algum metal, garantido pelo rei com seu selo, vira padrão de valor. • Como as autoridades começavam a usar menos metais nas moedas, surge o papel (crédito) como mecanismo para substituir as moedas. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 4 3. A história realista da moeda - I • A moeda não teria surgido a partir de um mercado primitivo baseado no escambo, mas da obrigação dos súditos de pagarem tributos a um soberano. • O comércio inicialmente não era feito com moedas, mas com obrigações de crédito e débito (registradas em talhas de madeira, tabuletas de argila, etc.). Elas são encontradas dois mil anos antes de qualquer moeda. • As moedas da versão oficial, inclusive, apresentam o problema do seu valor alto: como fazer para pagar pequenas quantias? • Esses comprovantes de dívidas podiam passar de mão em mão: eu pago uma coisa transferindo a dívida que outrem tem comigo para meu vendedor. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 5 3. A história realista da moeda - II • Isso funcionou por muito tempo, mesmo existindo moedas. As feiras medievais, entre outras, funcionavam desse modo. • Sabe-se, ademais, que nessas feiras circulavam muitos tipos de moedas e instrumentos de crédito. Em grande parte essas feiras funcionavam como grandes câmaras de compensação de dívidas diferentes. • O uso de determinada moeda em uma região normalmente não surgia de um “consenso da mercadoria mais frequentemente usada”; era uma obrigação imposta pela autoridade (moeda de curso forçado), e quem não a aceitasse ou usasse ficava exposto a diversas penalidades. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 6 3. A história realista da moeda - III • Segundo esta interpretação, as primeiras “moedas” eram medalhas de reconhecimento de alguma dívida (particular ou pública). • As primeiras moedas foram usadas na Grécia por volta de 600 AC. • Podem ser entendidas como comprovantes de dívidas emitidas pelos governos, que as aceitavam de volta como pagamento dos tributos que arrecadavam da população. • Isso não impede que, como qualquer instrumento de dívida, circulassem entre a população. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 7 4. Um caso hipotético da origem de uma moeda - I • Um governador de uma colônia vai para uma ilha na qual os habitantes trabalham em uma economia de subsistência, sem moeda, preços nem mercados. • Ele precisa que os moradores façam obras públicas (prédios, caminhos, etc.), e vem com dinheiro da metrópole para pagar por tais serviços. • Para sua surpresa, por mais que ofereça ninguém vem trabalhar. • A maneira de introduzir a moeda é impondo um tributo (p.ex., uma taxa por habitante) que só pode ser pago em moeda. • Dessa maneira, se introduz a necessidade na população de conseguir esse objeto. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 8 4. Um caso hipotético da origem de uma moeda - II • Nesse caso, o governador oferece uma tabela de pagamentos pelos serviços que quer adquirir: trabalhar na estrada é pago em x moedas por dia, na construção do palácio é pago em y, e assim por diante. • Em realidade, o governador poderia notar que nem precisa usar a moeda da metrópole: se ele pagasse com fotos suas autografadas (“govs”), e as aceitasse como pagamento, conseguiria os mesmos resultados. • Esses govs não precisam ter lastro em metal precioso nem em moeda metropolitana. Também não precisa ser forçado seu uso para operações entre particulares: pode ser (normalmente será) conveniente para estes tais tipos de operações, mas não é imprescindível. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 9 4. Um caso hipotético da origem de uma moeda - III • O nível de preços é irrelevante: tanto faz se é um gov por hora ou mil, mas a quantidade de esforço que se consegue adquirir da população. • Se o governador não está conseguindo trabalho suficiente, pode aumentar a exigência tributária ou reduzir o número de govs por tarefa. • Se, ao contrário, a população não tem tempo de se dedicar aos seus afazeres, ele pode tomar as medidas diametralmente opostas. • O que isso mostra é que o governo não tem necessidade dos govs: são os moradores os que precisam deles para pagar os tributos ao governo. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 10 4. Um caso hipotético da origem de uma moeda - IV • O governo não teria problemas se a população tivesse mais govs entesourados, ou os usasse para suas negociações privadas. • O governador pode até emitir um “govtítulo” que paga juros em govs. • Em qualquer caso, o governador não precisaria perder o sono pela dívida crescente com a população. Desde que tenha o monopólio de emissão dos govs, sempre poderá saldar dívidas autografando mais fotos dele. • O governador descobriria que nenhuma informação útil pode ser obtida da taxa de juros que paga, de seus, déficits, de sua dívida, etc. Tudo o que seria relevante seria a quantidade de bens e serviços reais oferecidos pela população. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 11 4. Um caso hipotético da origem de uma moeda - V • As duas situações piores ocorreriam quando o governo visse que muitas pessoas queriam trabalhar para conseguir govs, mas não achavam no que (desemprego), ou quando o pagamento de tributos fosse tão exigente que as pessoas não tivessem tempo para suas atividades. • Nesse caso, o governo regularia a taxa de pagamento em govs de maneira que todo mundo trabalhasse nos serviços públicos o necessário para pagar seus impostos. • Essencialmente, essa seria a maneira de evitar o desemprego. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 12 4. Um caso hipotético da origem de uma moeda - VI • Esta fábula é uma versão estilizada de como funcionaram realmente diversos governos coloniais. • Inclusive, em alguns casos a introdução da exigência de pagamentos em moeda acabou levando à desestruturação das comunidades tradicionais, e ao surgimento de economias monetárias. • Outras maneiras de forçar o trabalho dos povos dascolônias foi proibir algumas atividades de subsistência (ou reduzir as áreas para as mesmas) além de criar a necessidade de bens de luxo importados que só podiam ser conseguidos com dinheiro. • Em qualquer caso, o propósito do tributo não era levantar receitas monetárias, mas proporcionar bens e serviços reais ao governador. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 13 5. A visão tradicional sobre os gastos públicos - I • Segundo a visão convencional, os governos necessitam receita tributária para financiar seu dispêndio. • A única maneira na qual o governo pode gastar mais é emitindo títulos de dívida, desde que alguém se interessar por eles. • A ideia de pagar o déficit emitindo moeda é rejeitada por quase todo mundo por ser vista como inflacionária. • Ao contrário, a emissão de títulos em princípio não seria inflacionária, mas poderia fazer um “crowding-out” dos empréstimos ao setor privado. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 14 5. A visão tradicional sobre os gastos públicos - II • Isso deprimiria a oferta agregada, e poderia causar inflação de custos. • Déficits momentâneos podem ser aceitos, mas recomenda-se evitar déficits permanentes. • Mesmo que não exista um valor “mágico” de relação dívida/PIB ou déficit/PIB, os mercados passariam a duvidar da capacidade de pagamento do governo depois de algum limite. • Se faltarem emprestadores internos, o governo pode ser forçado a colocar títulos no exterior, inclusive denominados em moeda estrangeira. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 15 6. Abba Lerner e a crítica à visão tradicional - I • Em realidade, as economias modernas sempre operam com déficit governamental. – As tentativas de “eliminar os déficits” sempre acabam em recessões → libera forças deflacionárias. • O dispêndio governamental acaba sendo sempre sustentado pela criação de moeda fiduciária. • Títulos são usados para regular a quantidade de moeda na economia e regular as taxas de juros: operações overnight. • A visão que vamos estudar se origina no conceito de finanças funcionais (FF) de Abba Lerner, que diz que as ações do governo nas finanças têm que ser avaliadas por seus resultados, não por princípios gerais pré-existentes. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 16 6. Abba Lerner e a crítica à visão tradicional - II • Lerner fala de duas leis das FF: 1. “A primeira responsabilidade financeira do governo ... é manter a taxa total de dispêndio no país em bens e serviços nem maior nem menor que a taxa que, a preços correntes, compraria todos os bens que é possível produzir”. – Quando o dispêndio for muito alto, o governo deve cortar gastos e aumentar os impostos, se estivermos na situação oposta, a reação também será a oposta. A política do governo deverá ser contracíclica. 2. “A tributação nunca deve ser estabelecida apenas porque o governo precisa fazer pagamentos monetários ... A tributação deveria ser imposta somente quando é desejável que os contribuintes tenham menos moeda para gastar”. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 17 6. Abba Lerner e a crítica à visão tradicional - III • Em consequência, o governo não deve tributar nem vender títulos para gastar. Essas ações têm outras razões. • Para gastar, o governo deve simplesmente emitir moeda. Diz Lerner: • “FF rejeitam completamente doutrinas tradicionais de ‘finanças saudáveis’ e o princípio de tentar equilibrar o orçamento durante um ano...Em seu lugar, prescrevem: 1º) O ajustamento do dispêndio total a fim de eliminar tanto o desemprego quanto a inflação; ...2º) O ajustamento da quantidade de dinheiro e de títulos governamentais em poder do público ... a fim de alcançar a taxa de juros mais desejável para o investimento; 3º) A impressão, armazenamento ou destruição de moeda à medida que isso for necessário para implementar as duas primeiras partes...”. Aulas 19 e 20 - Macroeconomia institucionalista 18 7. As quinze lições - I • As quinze lições de Abba Lerner para as finanças públicas e a política econômica: • Obs.: elas estão essencialmente pensadas para os EUA ou outro país de moeda forte (portanto, de Estado forte). 1. Pleno emprego (PE), estabilidade de preços e um padrão de vida decente para todos são metas macroeconômicas fundamentais, e é responsabilidade do Estado promover sua obtenção. • Isso implica que os mercados não são perfeitos, e que o pleno emprego não está garantido. Para AL, os ganhos do PE, tanto em termos de eficiência quanto a maior estabilidade social, são enormes. 2. As políticas devem ser julgadas por sua capacidade para alcançar os objetivos para as quais foram projetadas, sem se preocupar se são “saudáveis” de acordo com critérios abstratos ou inadequados. • Não há nada intrinsecamente bom ou ruim no volume de déficit, dívida publica, tributação, gastos. Se conflitam com os princípios tradicionais, azar dos princípios. Aulas 19 e 20 - Macroeconomia institucionalista 19 7. As quinze lições – II 3. Dinheiro é uma criatura do Estado. • O déficit público não é a causa da inflação; o governo pode gastar mais do que arrecada sem causar inflação. O governo exige o pagamento de impostos, e escolhe o “aneppi” (aquilo necessário para pagar impostos), que será de fato a moeda. • É também essencial que o dinheiro seja “moeda de conta”, e o Estado determinará o que servirá para tanto. 4. Tributação não é uma operação de financiamento. • Os impostos não são necessários para viabilizar os gastos do governo, mas para remover o excesso de renda do setor privado. Os gastos se financiam com emissão monetária, ou seja, pelo próprio governo. • O déficit do setor público é algo necessário para evitar tendências deflacionárias. Aulas 19 e 20 - Macroeconomia institucionalista 20 7. As quinze lições - III 5. Emissão de dívida pública não é uma operação de financiamento. • O governo só deve tomar empréstimo em moeda quando quer que o público tenha menos moeda e mais títulos. 6. O propósito primário da tributação é influenciar o comportamento do público. • A tributação é feita quando se quer que os contribuintes tenham menos moeda para gastar. Isso é feito para reduzir a demanda agregada sem ter que reduzir os gastos públicos em níveis superiores aos desejados. O contrário ocorre quando se deseja que os contribuintes gastem mais. Aulas 19 e 20 - Macroeconomia institucionalista 21 7. As quinze lições - IV 7. O propósito primário da venda de títulos pelo governo é regular a taxa de juros do overnight. • O governo tem um objetivo de que a taxa de juros de curto prazo seja estável. Essa taxa de juros regula as operações interbancárias, e é através delas que o governo regula a liquidez do sistema financeiro. Para estabilizar essas taxas, o governo compra títulos quando há excesso de demanda por moeda, para que as taxas não subam, e os vende quando há pouca demanda, para que as taxas não caiam. Dessa maneira o governo evita booms e crises de liquidez. • Dentro desta visão não tem sentido a independência do Banco Central. Este deve agir de acordo com o Tesouro para favorecer o conjunto da economia Aulas 19 e 20 - Macroeconomia institucionalista 22 7. As quinze lições - V 8. A venda de títulos segue os gastos do governo, não os precede. • Tanto faz se o governo paga seus gastos com dinheiro arrecadado por impostos, com a venda de títulos ou recém emitido. Se em algum momento a injeção de liquidez na economiaameaçar fazer cair os juros, o governo retira dinheiro da economia. Logo, a emissão de dívida vem depois, e não antes, dos gastos. 9. O ato de “imprimir dinheiro” em si mesmo não tem absolutamente nenhum impacto na economia. • A emissão líquida é apenas uma consequência residual do uso dos outros instrumentos. Para Lerner, o governo dispõe de seis instrumentos fiscais: tributação e transferência, compra e venda de bens, tomar ou emprestar dinheiro. A emissão é um ajuste feito depois dessas operações. Aulas 19 e 20 - Macroeconomia institucionalista 23 7. As quinze lições - VI 10. Sem uma política de pleno emprego, a sociedade não pode se beneficiar do avanço das tecnologias poupadoras de trabalho. Com uma política de pleno emprego, as técnicas poupadoras de trabalho tornam-se verdadeiramente eficientes para a sociedade. • O governo deve impedir que o avanço tecnológico crie desemprego. 11. Sem uma política de pleno emprego, um país pode ser prejudicado por seu saldo comercial. Com uma política de pleno emprego, isso não e relevante. • Esta proposta se aplica a países sem restrição externa. Ajustes no câmbio permitiriam igualar os preços. Aulas 19 e 20 - Macroeconomia institucionalista 24 7. As quinze lições - VII 12.As tentativas de mostrar que o déficit e a dívida pública não são tão grandes quanto parecem são contraprodutivas. • Essas tentativas impedem a compreensão pelo público da visão das finanças funcionais, e só tendem a fazer média com a teoria (errada) das finanças saudáveis. 13.Quando há desemprego, não é que os recursos e os bens sejam escassos. O que é escasso são o trabalho e a moeda. • A falta de dinheiro para gastar é o que faz com que os recursos existentes não sejam devidamente utilizados. Esta proposta se aplica a países sem restrição externa. Ajustes no câmbio permitiriam igualar os preços. Aulas 19 e 20 - Macroeconomia institucionalista 25 7. As quinze lições - VIII 14.As finanças funcionais não são uma política, mas um arcabouço teórico no qual um conjunto de políticas pode ser compreendido. • As FF não defendem uma política específica, mas uma compreensão de como o mundo é. Ou seja, se nós agimos pensando que estamos num mundo de padrão-ouro quando não o estamos, isso terá consequências negativas para todos. 15. Para alcançar o pleno emprego, os gastos de governo podem incluir a criação de trabalho direto. • O governo pode oferecer emprego aos desempregados como variável de ajuste quando não há demanda de trabalho suficiente no restante da economia. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 26 8. O estado como EUI – I • Wray, seguindo Lerner, propõe que o Estado deve empregar todos os que estiverem desejosos e aptos para trabalhar por um salário nominal fixo previamente estabelecido. • Com isso, o Estado passa a ser um Empregador de Última Instância (EUI). • Isso criaria uma demanda infinitamente elástica por trabalho ao piso salarial, que independe da expectativa de lucros. – Esse trabalho pode ser também uma participação em cursos de capacitação, etc. • Seria atingido assim o pleno emprego. Só teria desemprego voluntário e eventualmente friccional, mas o involuntário seria eliminado. • A diferença com um programa assistencial (seguro desemprego) ou com o desemprego simples, é que este emprego adicional cria crescimento econômico. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 27 8. O estado como EUI – II • Para financiar esses empregos, o Estado deverá incorrer inicialmente em um déficit. • Por sua vez, ao impulsionar o crescimento da economia, isso geraria estímulos ao setor privado, que deverá recorrer aos trabalhadores empregados pelo governo. • Por sua vez, as pessoas que estão empregadas no EUI estão em melhores condições de trabalhar que se tivessem ficado paradas o tempo todo. • Isto reduz o déficit público por dois caminhos: a) O governo gasta menos em pagar os salários destes trabalhadores; b) Ele arrecada mais tributos. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 28 9. Déficits e moeda fiduciária - I • Em qualquer país, só um tipo de moeda fiduciária é aceito para pagamento de dívidas (públicas e privadas). • Quando o governo compra algo, crescem suas exigibilidades e seus ativos nesse montante. • Por sua vez, o vendedor terá sua conta creditada com um cheque ou com dinheiro (dado pelo governo ao banco). • Os gastos do governo são independentes do recebimento dos seus impostos. Em realidade, o governo não recebe para gastar depois. Para poder receber, o governo, único fornecedor de moeda, deve conseguir que os agentes privados tenham essa moeda. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 29 9. Déficits e moeda fiduciária - II • Cada vez que a conta de um cliente é creditada pelo banco, isto é um ativo do cliente, mas um passivo do banco. Essa moeda bancária nunca vira um ativo líquido do setor privado. – Pagamentos de moeda bancária entre agentes só mudam a localização da moeda, exceto se: 1) Um empréstimo bancário é pago; 2) Um cheque é apresentado ao caixa; 3) São feitos pagamentos ao governo. Nesses casos, moeda bancária é destruída, e os dois últimos casos requerem moeda governamental. • Uma política de superávits persistentes do setor público deixaria à economia sem moeda: as pessoas recorreriam aos saldos de déficits anteriores do governo, venderiam títulos, mas em algum momento ficariam sem dinheiro. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 30 10. Déficits e poupança – I • As famílias podem desejar realizar uma poupança. • Numa economia simples sem governo, a poupança privada iguala o investimento privado. • Se o investimento privado for menor do que a poupança privada, isto cria pressões deflacionárias até que a renda caia, de modo a igualar S e I. Alternativamente, um aumento do investimento acaba levando a um aumento da poupança. • Se acrescentarmos o governo, seu dispêndio deficitário pode aumentar a renda extra que as famílias não querem gastar. • Se as famílias quiserem poupar mais do que a soma dos investimentos com o déficit do governo, uma redução dos tributos pode permitir alcançar o nível desejado de poupança. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 31 10. Déficits e poupança – II • Se o setor privado numa economia fechada desejar cronicamente poupar mais do que quer investir, o governo pode preencher a “brecha da demanda” pelo dispêndio deficitário. • A poupança efetiva é a soma do déficit mais o investimento. A poupança desejada é o que as famílias gostariam de poupar. • Se o déficit for muito pequeno, a poupança efetiva é menor do que a desejada, gerando deflação; no caso oposto, gera inflação. Em ambos os casos, a renda nominal se ajustará de modo que a poupança desejada iguale à efetiva. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 32 10. Déficits e poupança – III • Se chamamos Sn = S – I de “poupança nominal líquida” do setor privado, composta por moeda fiduciária ou títulos, ela só pode existir se o governo incorrer em déficits. Se o déficit não for suficientemente significativo, pressões deflacionárias existirão. Com orçamento equilibrado, isso vai até onde Sn cair a zero. • A poupança desejada, S, é função positiva da renda. Mas Sn pode não ser assim. P.ex., com déficits pequenos gerando expectativas de recessão (aumento da incerteza) o público pode querer mais moeda, gerando uma espiral deflacionária. Aulas 18 a 20 - Macroeconomia institucionalista 3310. Déficits e poupança – IV • O déficit pode aumentar para que a renda aumente e gere mais poupança líquida, até que o pleno emprego da economia for atingido. • Nesse caso, um dispêndio adicional criará pressões inflacionárias. • O desemprego involuntário só ocorre em economias com moeda cartal, as economias não monetárias não passavam por isso. • O desemprego ocorre porque os gastos do governo são baixos, mantendo escassa a oferta de moeda fiduciária. • O risco seria que o sistema tributário se desestruturasse, pois nesse caso a moeda se tornaria sem valor (hiperinflação). A emissão excessiva é só uma manifestação da falência do sistema tributário.
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